sábado, fevereiro 13, 2010

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Empresários querem "Minha Casa, Minha Vida 2"

FOLHA DE SÃO DE PAULO - 13/02/10


Os empresários da habitação negociam com o governo federal a criação de uma segunda versão do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
O Secovi-SP (sindicato da habitação) começou a negociar com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) os principais pontos de aprimoramento do que já chama de "Minha Casa, Minha Vida 2".
"Até o começo de 2011, o Minha Casa, Minha Vida irá alcançar 1 milhão de habitações. O deficit habitacional no Brasil, porém, ainda é de 7 milhões a 8 milhões", afirma João Crestana, presidente do Secovi-SP.
A avaliação do sindicato é que a primeira fase do programa teve resultados positivos.
As dificuldades operacionais estão sendo solucionadas, mas os entraves urbanísticos ainda são muito grandes em cidades como São Paulo, onde os resultados estão abaixo do esperado, de acordo com Crestana.
A continuidade do Minha Casa, Minha Vida depende, na opinião do presidente do Secovi-SP, de quatro pontos: mais recursos disponíveis; segurança jurídica para as incorporadoras; maior qualidade dos produtos, incluindo aspectos de sustentabilidade; e melhorias do urbanismo para resolver incompatibilidades, como a distância entre a habitação e local de trabalho.
O desenvolvimento dessa segunda etapa do programa precisa levar em conta uma questão delicada, principalmente em São Paulo, de acordo com Crestana. "No centro da cidade, existem 40 empregos para cada moradia, enquanto no bairro de Itaquera a relação é de 20 moradias para cada emprego."

COM CIMENTO
A relação da Camargo Corrêa com a Cimpor não é nova. Em 2001, a Camargo comprou 2,5% das ações da cimenteira portuguesa. A ideia do grupo brasileiro era adquirir uma fatia maior, mas acabou desistindo dos planos quando a francesa Lafarge entrou na sociedade com participação maior.

"CIMBRA"
A CSN mostrou ontem que está disposta a lutar por sua parte na cimenteira portuguesa. Se a CSN for bem-sucedida, a Cimpor será majoritariamente brasileira, com capital dividido entre CSN, Votorantim e Camargo. Já há articulistas na imprensa portuguesa apelidando a Cimpor de "Cimbra".

BB e Caixa estudam acordo em tecnologia

O Banco do Brasil fez um memorando de entendimentos com a Caixa Participações e a Caixa Econômica Federal para permitir a realização de estudos sobre a viabilidade de parceria operacional ou societária das instituições na Cobra Tecnologia.
A empresa é 100% controlada pelo Banco do Brasil.
O documento foi publicado como fato relevante na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ontem.
A associação na Cobra terá por objetivo o fornecimento de soluções de tecnologia e informática para os dois maiores bancos públicos.
A Cobra Tecnologia teve problemas anos atrás, mas, segundo fontes do banco, atingiu equilíbrio financeiro.

ÁGUA E SABÃO

O dinheiro ainda é o meio de pagamento mais usado pelos consumidores nas lavanderias da cidade de São Paulo. Uma fatia de 70% dos usuários ainda paga os serviços em dinheiro, segundo pesquisa realizada com 705 entrevistados pela consultoria GS&MD (Gouvêa de Souza), encomendada pelo Sindilav (sindicato de lavanderias do município de São Paulo). "Já notamos crescimento do uso dos cartões de crédito e de débito, mas o dinheiro ainda prevalece", diz José Carlos Larocca, presidente do Sindilav.

LEITURA DINÂMICA

A Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que neste ano vai chegar à 21ª edição, terá um novo organizador. A Reed Exhibitions Alcantara Machado assume neste ano o evento, que acontecerá de 12 a 22 de agosto, no pavilhão de exposições do Anhembi. "A ideia é colocar o evento no circuito internacional, do qual fazem parte as feiras de Tóquio, Paris, Londres e Nova York, também organizados pela Reed Exhibitions", afirma Juan Pablo De Vera, presidente da empresa no Brasil. A bienal brasileira difere da americana no público alvo, segundo Rosely Boschini, presidente da Câmara Brasileira do Livro, realizadora da feira. "Recebemos cerca de 700 mil pessoas, sendo 180 mil crianças. A americana é mais voltada ao mercado livreiro", afirma Boschini. Neste ano, o evento terá um dia reservado aos profissionais do mercado editorial. A edição deve envolver investimentos de cerca de R$ 10 milhões, de acordo com De Vera. Haverá cerca de 350 expositores e a expectativa é que sejam representados 900 selos editoriais.

TÊNIS NO TRABALHO. SIM OU NÃO

Os tênis podem ser usados com roupa social, mesmo no trabalho, sim. Essa é a opinião da grife do designer de acessórios francês Christian Louboutin, que chegou a criar um modelo que sai por R$ 3.800. A condição é que sejam acompanhados de um figurino jovial. A marca, conhecida pelo solado vermelho, resolveu manter sua linha casual de tênis masculinos, que, mesmo para homens, trouxe tachas, detalhes dourados e estampa de onça na coleção primavera-verão 2010. As primeiras criações de calçados esportivos do estilista surgiram na coleção outono-inverno de 2009. O ideal para acompanhar os modelos mais arrojados no trabalho são blazers e calças mais justos e gravata estreita, que dão aparência moderna. O modelo dourado deve chegar ao Brasil em março. O de tachas (R$1.950) ainda não tem previsão. A única loja da grife na América Latina fica no shopping Iguatemi em SP. Para acompanhar um terno, a marca italiana Salvatore Ferragamo sugere um calçado que apelidou de "sapatênis", o sapato Mille, que custa R$ 1.390.


com JOANA CUNHA e ALESSANDRA KIANEK

O ABILOLADO E A VAGABUNDA

REGINA ALVAREZ

Crédito farto

O GLOBO - 13/02/10


O ano começa com previsões muito otimistas para a expansão do crédito imobiliário no Brasil. Estudo elaborado pela consultoria Austin Rating prevê crescimento de 21% no volume de crédito concedido a pessoas físicas e jurídicas, excluindo os empréstimos da Caixa. Em dois anos, a expansão do crédito imobiliário seria de 47,5%, com o volume de empréstimos chegando a R$ 10 bilhões.

Confirmadas as projeções, o crédito imobiliário, sem contabilizar a Caixa, terá crescido 550% em seis anos, já que em 2005 essas operações somavam R$ 1,5 bilhão.

São números impressionantes.

E decorrem de um conjunto de fatores que refletem o amadurecimento da economia. A estabilização monetária, a partir de 1994, abriu caminho para a previsibilidade e um ciclo de crescimento, mas uma série de outras conquistas foram necessárias para que os bancos se voltassem para o setor, considerado de risco.

Dados do Banco Central mostram uma radiografia do financiamento total destinado à habitação e reforçam as previsões da Austin. O crédito saltou de R$ 22 bilhões, em janeiro de 2003, para R$ 84 bilhões, em dezembro passado.

Quase quadruplicou.

Neste caso, com a participação da Caixa, líder absoluta do segmento, embora a presença mais forte dos bancos privados e do Banco do Brasil já se destaque (vejam nos gráficos).

Na visão de Luis Santacreu, economista da Austin, foi preciso ir muito além do controle da inflação para destravar esse mercado: — É interessante lembrar que o mercado de crédito só começou a decolar em 2006. Muita coisa teve que acontecer para que o sistema financeiro ganhasse confiança para emprestar.

O crescimento da economia, o aumento da renda das famílias, a queda dos juros, a formalização do mercado de trabalho e o grau de investimento obtido pelo Brasil são fatores que contribuíram de forma decisiva para aumentar a confiança do sistema financeiro, fazendo com que se voltasse para o crédito imobiliário.

— No Brasil, temos um déficit de oito milhões de moradias.

Assim, além da melhora do quadro macroeconômico, existe uma demanda em potencial muito forte — destaca Alex Agostini, economistachefe da Austin.

Esse potencial já foi percebido pelo mercado financeiro.

O setor Imobiliário e de Construção é quem lidera o ranking de variação da Bovespa nos últimos 12 meses, com alta de 179%, batendo inclusive setores como o de Consumo e Varejo (158,1%); Transportes (118%) e Petróleo e Sal (97%).

Parte da alta é motivada pelo programa Minha Casa, Minha Vida e pela orientação do governo para que os bancos públicos sejam mais agressivos na concessão de crédito imobiliário: — O mercado gosta de antecipar os ciclos de crescimento, para poder surfar o maior tempo possível. A alta mostra a avaliação positiva que o setor está recebendo — explica Agostini

Aqui é diferente

O crescimento forte do crédito imobiliário no país não representa, por enquanto, risco de uma bolha como a que detonou a crise nos EUA. Alex Agostini diz que não há motivo para preocupação.

Primeiro, porque o crescimento vem de uma base muita baixa e também porque as condições para a concessão desse crédito ainda são muito rígidas: — Aqui, a hipoteca não é transacionada no mercado financeiro, como nos EUA, onde as regras eram, e ainda são, muito mais frouxas. Por aqui, mesmo que haja aumento da inadimplência, não teremos o mesmo estrago.

Outro dado que nos difere é a representação que o setor tem na economia, algo em torno de 10%, no Brasil, contra 60%, nos EUA.

Ganhos de escala

O processo de internacionalização do Banco do Brasil abrangerá a área de tecnologia. O banco decidiu centralizar no Brasil as plataformas de processamento de dados das operações realizadas nas agências e escritórios no exterior.

O objetivo é gerar ganhos de escala, já que com essa estratégia não precisará manter grandes bases lá fora, como existem hoje em Londres, Tóquio e Nova York. Apesar do processamento centralizado, o BB seguirá as regras do país onde estiver instalada a agência. O bancão está investindo fortemente no projeto de internacionalização. Planeja a compra de instituições na Argentina, em outros países da América Latina e nos Estados Unidos.

COM ALVARO GRIBEL

RUY CASTRO

Ex-túmulo do samba

13/02/10


Nos últimos anos, em que o carnaval retomou as ruas do Rio e dezenas de novos blocos e bandas vieram juntar-se aos veteranos Simpatia É Quase Amor, Carmelitas, Boitatá, Barbas e aos veteraníssimos Bola Preta e Banda de Ipanema, um único bairro parecia avesso à folia: o Leblon.

Era incompreensível. Enquanto Ipanema, Copacabana, Botafogo, Laranjeiras, Jardim Botânico, Santa Teresa, o Centro e toda a zona norte se entregavam à alegria, concentrando multidões eufóricas em torno de sambas e marchinhas, o Leblon, onde moro, era chamado, e com justiça, de 'túmulo do samba'. Certo, aqui abundam empresários, banqueiros, escritores e outros depressivos e doentes do pé, mas onde estavam os rapazes e moças de que o Leblon também é cheio? Abrilhantando o carnaval dos bairros vizinhos, claro.

Apenas duas vozes, muito tímidas, tentaram quebrar o silêncio do sepulcro nesses anos todos: a do Empurra Que Pega – o próprio nome já era uma súplica a adesões –, um pequeno bloco dedicado a ensaiar com grande empenho todas as noites ao pé da avenida Niemeyer, mas que nunca vi nas ruas; e a da querida e modesta banda Azeitona Sem Caroço, da Rua Dias Ferreira.

Mas nada é para sempre, e estava escrito que este tríduo nos traria duas surpresas inacreditáveis: a prisão de um político, o governador do DF, José Roberto Arruda, acusado de corrupção em último grau, e a triunfal conversão do Leblon ao carnaval – com os novos blocos Maginô Agora Amassa (cujo enredo homenageia Nelson Rodrigues), Areia e Me Esquece sacudindo o bairro e abrindo alas para o Empurra e o Azeitona. Evoé: não somos mais o túmulo do samba!

Pelo menos um desses blocos, inconformado com o fim do carnaval, dará um jeito de desfilar na Quarta de Cinzas. Mas duvido que Arruda ainda esteja na cadeia até lá.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

O samba do vendedor

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/02/10


Carnaval é pra pular, cantar... e vender. A Apex, que reúne os exportadores brasileiros, montou um pré-desfile com nada menos que 150 empresários estrangeiros animadíssimos. Antes de curtir o desfile na Sapucaí, foram aquecer os tamborins visitando lojas e indústrias e fechando contratos de até US$ 20 milhões.

Exemplos? As redes de alimentação Al Motahed, do Egito, e El Fogoncio, do México, que vão comerciar várias marcas brasileiras em franquias do exterior.

Outro feito: Tim Branscome, do Las Vegas Market Show, maior feira de móveis do mundo, decidiu montar bancada brasileira no evento, em agosto.


Vendedor 2

O camarote da Câmara de Comércio França-Brasil não fez negócios mas também vai ter o que mostrar.

Vincent Cassel, com Monica Bellucci.


Causa própria

Nizan Guanaes saiu-se bem como advogado. Foi defender, no Conar, seu anúncio para a Brahma que identifica os consumidores como guerreiros, acusado de incitar à violência.

A denúncia acabou arquivada, por 10 votos a 7.


Bússola

João Carlos Siqueira, líder do PT na Assembleia mineira, ganhou de presente, de um amigo, um GPS com o mapa do Estado.

Para dar a Dilma Rousseff, que chamou Governador Valadares de Juiz de Fora.


Fifis

Depois de Carolina Dieckmann como jornalista, Marília Pêra e Cláudia Jimenez vêm como fofoqueiras de uma revista de celebridades.
As duas estão em Vida Alheia, de Miguel Falabella. Em abril, na Globo.


Como o original

Nelson Xavier, que vai viver Chico Xavier no cinema - o sobrenome é só coincidência - usa no filme seu terno, seu perfume, e ainda passou temporada em Uberaba, capital do espiritismo.

A estreia, em circuito nacional, será a 2 de abril - quando se comemora o centenário do líder espírita.


Vida leva eu


Quem vai ganhar biografia completa é o sambista-símbolo de Vila Isabel.

Martinho da Vila: Tradição e Ruptura será escrita por João Baptista Vargens.


O caso da barba

Quis o destino que Gerard Butler marcasse, ao mesmo tempo, filmagens de um personagem barbudo, nos EUA, e uma campanha para a Gillette, no Brasil. De quebra, a empresa convidou o ator para seu camarote na Sapucaí.

Deu 50% certo. A produção do filme, com Jennifer Aniston, vetou o corte da barba. A Gillette mantém o convite.


Isopor é vice

Um folião "atropelou" concorrentes no baile de fantasia da Trapiche da Gamboa, no Rio. Saiu de bermuda, máscara de Lula e isopor na cabeça.

No fim, perdeu para uma concorrente que veio de Marge, mulher de Homer Simpson.


Simples assim

Morten Harket, vocalista da banda A-Ha, pegou leve.

Para o show de 10 de março, em São Paulo, mandou tirar da mesa qualquer indício de carne, batata ou massa. Quer salada, frutas e água.

A poderosa

Chega ao Brasil pela Ediouro, ainda este mês, a 1ª biografia de Angelina Jolie.

Escrita por Rhona Mercer, Angelina Jolie - A História Jamais Contada da Superstar que Ousou Ter Tudo, fala desde sua relação com drogas até a rotina na ONU.

Na Frente

Os paulistanos não pareciam, até quinta à noite, muito animados com o Carnaval. O sambódromo do Anhembi tinha vendidos, até então, só metade dos 112 mil ingressos.
Saul Galvão é figura central, hoje, no tradicional desfile de Jaú, sua terra natal. O bloco da Bocada põe na rua 400 foliões vestidos no estilo do crítico do Estado.
Campanha para ajudar Drica Moraes, internada no Rio, com leucemia, está sendo organizada por amigos, no Twitter.

Paloma Duarte e Sérgio Abreu trazem para o Teatro Vivo, em julho, a peça Olhe Para Trás com Raiva.

Pedro Luiz Ribeiro de Santi ministra curso sobre psicanálise, segunda, na Casa do Saber do Cidade Jardim.

Que carnaval, que nada. A Big Time Orchestra é a grande atração, semana que vem, no Festival de Jazz de Garanhuns e no Jazz & Blues de Guaramiranga, no Ceará.

O poeta e a mãe

Ao juntar coisas velhas de Carlos Drummond de Andrade para um acervo digital, seu neto Pedro deparou com uma preciosidade. Um papelzinho que ele guardou na carteira, até o fim de seus dias, trazia "Recomendações da Mamãe. Julieta Drummond - havia morrido em 1948 - 39 anos antes dele. "Não guardes ódio de ninguém" dizia um dos conselhos. "Os dois tinham uma relação muito forte. Ele sempre dizia que ela era muito carinhosa", conta Pedro.

Assim, o poeta confirmou os versos que fez para ela: "Mãe não morre nunca". E, diante dela, o filho, "velho embora, será pequenino feito grão de milho."

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA

Roberto Pompeu de Toledo

No encalço de Chiu-Fang Kao

"Tudo o que um escritor quer é publicar. Escrever, assim
como falar, implica quase necessariamente ter alguém
na outra ponta. Quase - uma exceção foi Salinger"

O americano J.D. Salinger filiava-se à seleta família dos escritores que marcam fundo o leitor. Publicou quatro livros, só quatro - o célebre O Apanhador no Campo de Centeio e os melhores ainda Nove Histórias, Franny e Zooey e Carpinteiros, Levantem Bem Alto a Cumeeira & Seymour, uma Apresentação. Viraram todos objetos de culto. A mensagem suprema de Salinger, falecido no fim do mês passado, aos 91 anos, está contida no entanto menos nos livros do que no rumo que deu à sua vida. "Mensagem" é palavra rombuda. Quem se aplica em procurá-la nos livros, nos filmes ou nas biografias deveria lembrar-se de que especialistas mesmo em trazê-la são o carteiro e o e-mail. Mas desta vez passa. Alguma mensagem devem conter as opções radicais que Salinger tomou na vida, e das boas - ambígua, escorregadia.

Ele publicou seus livros entre 1951, aos 32 anos, e 1963, aos 44. Depois, descontado um conto publicado na revista New Yorker em 1965, calou-se. Mas não ficou nisso. Também disse adeus a este mundo, embora continuasse vivo. Até então um típico nova-iorquino, trancou-se em sua propriedade de Cornish, New Hampshire, e tornou-se o mais cioso dos seres humanos de seu isolamento. Que quis ele dizer com tais atitudes? Sobre a primeira delas - a decisão de não mais publicar -, deu uma espantosa explicação, em 1974, na única manifestação pública que se permitiu nestes anos todos: "Há uma enorme paz em não publicar. Publicar é uma terrível invasão de privacidade. Gosto de escrever. Mas escrevo para mim mesmo e para meu prazer".

O primeiro motivo de espanto é a afirmação de que não deixou de escrever. Seu caso não é o de Rimbaud. O do poeta francês é mais compreensível - ele cansou de escrever e foi viver outra vida. Já Salinger, escritor famoso e adorado, no auge do domínio de sua arte, continuou produzindo, segundo afirmou, mas ao amparo da resolução de não entregar o produto. Tudo o que um escritor quer é publicar. O ato de escrever, assim como o de falar, implica quase necessariamente ter alguém na outra ponta. Quase - uma exceção foi Salinger. Também digna de nota é a afirmação segundo a qual "publicar é uma terrível invasão de privacidade". Ora, o escritor é que invade a privacidade do leitor. É ele o agente, nessa relação; o leitor é o paciente, ainda que consentido. O escritor é que avança com suas fantasias, truques e verdadezinhas em direção ao leitor. Salinger inverte a equação. O leitor é que invadiria a privacidade do autor. Mas quem deixa isso acontecer? O próprio escritor, claro. Trata-se, portanto, de um invasor de si mesmo.

Isso nos conduz à segunda decisão de Salinger - a de isolar-se. Ele sentia-se invasor de si mesmo não só como escritor. Também se sentia gastar-se, ou malversar-se, ou dispersar-se, com a simples presença em sociedade. Um lado da decisão pode explicar-se pela recusa em deixar-se perverter por este mundo idiota entre os mais idiotas que é o das "celebridades". Mas pode-se apostar que havia outro lado, mais profundo, a puxá-lo para o isolamento - e este lado tem a ver com o mesmo tormento que sacode seus principais personagens, atazanados pelo desconforto de viver, intrigados com o mistério do mundo, à procura de algo… O quê? O quê? …Deus, ao fim e ao cabo .- presença que percorre o centro da obra deste autor zen-budista/hinduísta/cristão.

No livro Carpinteiros..., Salinger conta a história da procura do duque Mu, da China, por alguém capaz de comprar-lhe um cavalo excepcional - não um bom, mas um excepcional, "aquele que não levanta pó nem deixa rastro". Foi-lhe indicado o mercador Chiu-Fang Kao. Chiu-Fang Kao buscou, buscou, e afinal anunciou que havia encontrado um animal excepcional. "Como ele é?", perguntou o duque Mu. "É uma égua meio baia", respondeu Chiu-Fang Kao. Quando o animal finalmente chegou, o duque sentiu-se traído. Era um macho, e negro. Como pode conhecer cavalos quem não sabe distinguir-lhes nem a cor nem o sexo? Mas - surpresa! - o animal provou ser realmente excepcional. A pessoa que lhe tinha recomendado o mercador explicou: "O que Chiu-Fang Kao tem em mente é o desempenho espiritual. Pensando no essencial, ele se esquece dos detalhes corriqueiros; atento às qualidades interiores, perde de vista o exterior". Suponhamos, e talvez não estejamos longe da verdade, que Salinger se isolou do mundo para, sem interferência do exterior, melhor procurar as qualidades interiores dos seres e das coisas. Livre das contingências deste mundo, ele estaria, como Chiu-Fang Kao, mais bem situado para buscar o essencial.

Achou?

ARI CUNHA

Velhinha aos 50 anos

CORREIO BRAZILIENSE - 13/02/10


Fim melancólico de José Roberto Arruda no governo do Distrito Federal. Preso por ordem do Tribunal Superior de Justiça viu o sol nascer quadrado no cubículo da Polícia Federal.

Considerou-se vítima de armações. O povo nas ruas desmentiu com os protestos da cidade. Por outro lado, em cada casa há uma história sobre os feitos do ex-governador.

Estranhava um homem aparentar tanta dedicação à cidade que governava. Obras espalhadas denotavam que eram malfeitas e, pior ainda, malconservadas. O bolo foi crescendo. O povo começou a abrir os olhos. Era obra demais para tão pouco tempo. Ideal seria mesmo que fosse investigado o que acontecia no Distrito Federal.

Reação do povo veio na hora exata. O que havia de maldade, pretensão, orgulho e avanço no dinheiro público, ruiu por terra como um castelo, dessa vez de baralho.

As investigações eram feitas pela Polícia Federal. Passo a passo foram chegando mazelas que José Roberto Arruda engrenava. Era coisa muita, mas a medida do ter nunca se enche. A ganância é fraqueza dos que pensam mais em dinheiro do que no país, na vida, na família.

José Roberto Arruda, quando governador de Brasília, desenvolveu muitas obras em direções várias. O veículo leve sobre trilhos por indicação do destino chegou à porta da Polícia Federal. Fim da linha para o governo. Arruda não teve o cuidado de fazer pistas para liberar o trânsito. Em todo o DF faltavam acabamento e coletor de águas pluviais.

Durante muito tempo a população da capital federal acusava “os de fora” de todas as maldades que a imprensa anunciava. A coisa era corroída por dentro. Quando o escândalo chegou ao Tribunal Superior de Justiça a água cobriu a cidade de acanhamento e vergonha.

Não fica nisso. O plano não pode nem deve ficar circunscrito a pouca gente. Brasília está com o cofre furado.

Em se procurando detalhes, voltamos a dizer que melhor seria a Comissão do Distrito Federal do Congresso. Todos os senadores trabalhavam com ideal de dar à cidade condições habitáveis e de trabalho. Senadores queriam vida na cidade com lisura.

A Câmara Distrital carrega a culpa por tornar a cidade impraticável. Distritais recebem dinheiro na meia, na cueca, no sapato. Aquele dinheiro era suborno para se comportarem quando o fornecedor exigisse.

Cenas do inferno de Dante foram filmadas com distritais orando pelo roubo feito, bolsa grande para caber muito mais dinheiro, pacotes enchendo os bolsos, meias e cuecas.

Houve época em que os moradores da cidade acusavam os legisladores federais e ministros de se excederem, e a população levar a culpa. Não vale a pena falar que se mora em Brasília. Os olhos se abrem e a situação piora. Ninguém quer acreditar mais nos moradores da cidade, que sempre defenderam a paz e a cordialidade. A placa tectônica estava fendida. E os escândalos brotaram como devastadores tsunamis e terremoto.

O escândalo poderá adiar até as eleições presidenciais deste ano. Tudo é possível a partir do que estamos vivendo. Há carne noutros angus.

No estado de Goiás, que o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, tinha o gosto de dirigir, a situação está de mal a pior. Cidadão universal, Meireles desistiu. Seu passado ia ser manchado se eleito. E talvez nem sequer chegasse ao poder. O ponto de corrupção em Goiás se propaga por todo o Brasil.

Outros estados sofrem dos mesmos males. Há uma onda de corrupção cobrindo o Tesouro Nacional. O governo cobra impostos altíssimos para atender ao que os gulosos chamam de necessidades. Dinheiro roda pelo Brasil como se fosse apenas coisa de papel. O governo federal tira do bolso do trabalhador.

Impossível previsão para 2010. Está muito curto o tempo para se resolver mais coisa no país. Nada se resolverá num dia, porém a precaução exige prudência.

Na República e nos estados, dinheiro público é rolo compressor, dominando a pobreza com favores pequenos. Os grandes abocanham o maior bocado. Mesmo assim pagam menos impostos que o povão.

O Brasil não será consertado num abrir e fechar de olhos.O presidente Lula da Silva usou seu chavão de sempre: não há nada que não se possa negociar.

O país não pode parar, nem mudar de governo sem raios X que mostre quem é, de onde veio, qual a profissão.

A permanência de Paulo Octávio no governo é dificuldade para resolver o assunto. Trata-se de um cúmplice do complô.

Qualquer candidato está na obrigação de dizer o que fez para merecer qualquer posto. Sem isso, estaremos caminhando para tapar o sol com a peneira e favorecer aos que não merecem.

“Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”, como ensina o filósofo de Mondubim. Muito menos à cidade cinquentona.



História de Brasília

Está sobrando mão de obra em Brasília. A oferta está superior à procura, e o problema já começa a se agravar. Diariamente, é enorme a fila de gente pedindo emprego em todas as empresas empreiteiras. Alguns empreiteiros, por má-fé, mandam os candangos para o Ministério do Trabalho, que está transformado numa hospedaria.(Publicado em 24/2/1961)

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
Por que tanto homem se fantasia de mulher?
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Eles são héteros, muito machos, mas no Carnaval soltam a franga. Essa expressão significa “desinibir-se, geralmente assumindo um lado feminino, alegre”. Não é novidade, e acontece no Brasil inteiro. Eles não se fantasiam de mulher discreta. Precisa ser vulgar e desejável. Salto alto, seios pontudos, maquiagem pesada, decotes... e rebolation. No Bloco das Piranhas ou no Bloco das Virgens, nosso vizinho circunspecto fica irreconhecível até a Quarta-Feira de Cinzas. É tão divertido assim ser mulher?

Não existem blocos de mulheres fantasiadas de homens. Se a mulher quiser se desreprimir, a última fantasia será a de homem. “Mulher já pode se vestir de homem no dia a dia, usar calça comprida, camisa social, mocassim...e ninguém põe em dúvida sua sexualidade. Já o homem...”, diz o psiquiatra Luiz Alberto Py. “Quando Gilberto Gil e Caetano Veloso apareceram de pareô, a reação foi supernegativa. Em 1956, um artista plástico, Flávio de Carvalho, fez um desfile com homem de saia no Viaduto do Chá, em São Paulo, e foi vaiadíssimo.”

Minissaia, vestido de alcinha, frente única, tomara que caia, sandália, shortinho. É tudo ótimo no calor. Mulher tem um enorme leque de variações no vestuário. Homem é mais conservador. As novidades na roupa masculina desde os anos 60 foram a bermuda, a bata e a camiseta regata. Mesmo assim... Vários lugares noturnos e restaurantes admitem mulher de sandália, mas homem não. Mulher de short sim, mas homem de bermuda não.

Mas a roupa é só o visível. A fantasia de piranha desnuda outras fantasias. “O Carnaval é um rito profano e sagrado. O homem se veste de mulher porque quer ser mais afetivo de maneira escancarada, sair beijando todos, de qualquer sexo. Homem afetivo, nos outros dias do ano, é coisa de gay”, afirma o psicoterapeuta Sócrates Nolasco. “É um contraponto. Um momento do ano em que ele não precisa afirmar sua masculinidade. Mulher pode ser afetiva, carinhosa, extrovertida, dada, e nem por isso será tachada de ‘piranha’.”

É como se vestir peruca e salto alto no Carnaval
servisse para exorcizar a fragilidade do dia a dia

Não se duvida de que uma mulher seja mulher. Ela pode até ter relações amorosas ou conjugais com outra. Continua sendo mulher, caso não imite machos. Ela pode beijar amigos e amigas, abraçar, fazer carinho publicamente. Isso não fará dela “piranha” ou lésbica. A mulher pode, no trabalho, assumir atitudes estereotipadas masculinas – isso não fará dela um homem. O inverso é mais complicado.

É como se esses homens que se equilibram com pernas cabeludas sobre saltos altíssimos aproveitassem o Carnaval para exorcizar sua dificuldade de mostrar afeto ou fragilidade no dia a dia. Tudo é permitido porque é fingimento. No filmeSe eu fosse você, em que Tony Ramos e Gloria Pires trocam de alma e papéis, as plateias o acham muito mais engraçado que ela. Porque Tony Ramos não se comporta exatamente como a sua mulher no filme. “A compulsão por futilidades e os trejeitos exagerados lembram mais o comportamento de um gay afeminado”, diz Nolasco. Para virar homem, Gloria Pires fala grosso, não abaixa a tampa do vaso e faz embaixadinhas – ela muda bem menos.

Os homens que se fantasiam de mulher para zoar à vontade fazem do Carnaval uma catarse de seus fetiches. Claro que só saem em bando. Coisa de macho mesmo. Porque sair sozinho vestido de mulher pode dar origem a outras interpretações.

“Todos, homens e mulheres, temos um lado homossexual”, diz Py. “A sexualidade é uma limitação brutal. A percepção de que a gente pertence a um sexo significa não pertencer ao outro, o que de certa forma nos rouba uma parte da humanidade. A mulher tem uma versatilidade comportamental muito maior. O homem não pode nem fazer carinho em outro homem. O Carnaval é a transgressão inocente, o liberou geral para desfrutar seu lado feminino sem perigo.”

Simpatizo com esses bandos de homens fantasiados de mulheres fálicas em tantos blocos espalhados pelo Brasil. Por um instante, eu me lembro de Freud. O pai da psicanálise dizia que a mulher sentia inveja do pênis. Não seria o contrário?

QUADRILHA FORA DA PRISÃO

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Arcaico e pós-moderno

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/02/10


SÃO PAULO - Para a sorte do PT, nunca antes na história deste país um escândalo foi tão bem documentado. Meias, cuecas, bolsas recheadas com maços de dinheiro -as imagens do mensalão do DEM são devastadoras. Seria difícil para a gangue do panetone resistir à exposição televisiva de cenas de descalabro tão didáticas e autoexplicativas.
A prisão preventiva do governador José Roberto Arruda atende a um clamor da opinião pública. Tem sido essa, na prática, a punição de alguns ladrões notórios nos últimos tempos: humilhação e mais algumas (ou várias) noites no xilindró funcionam como atalho e compensação simbólica a um processo legal que é interminável e quase sempre passa a sensação de impunidade.
Arruda já era carta fora do baralho antes de ser preso. Em pouco tempo, se viu reduzido a um pilantra de província, um pária sem partido e conexão com a política nacional. Mas isso não era assim.
Dez dias antes da eclosão do escândalo, um sorridente Arruda aparece com o pé quebrado, numa cadeira de rodas, cercado pela cúpula demista, numa imagem histórica. Jorge Bornhausen, Gilberto Kassab, Rodrigo Maia, Ronaldo Caiado, Agripino Maia e mais dezenas de ilustres democratas estão ao redor do anfitrião, num evento destinado a discutir os termos do apoio aos tucanos nas eleições (veja a foto em www.folha.com.br/100435).
O DEM definha e Arruda acabou. Mas é uma ilusão pensar que na sua ausência o faroeste caboclo irá melhorar. A história política do Distrito Federal tem muito menos a ver com a república vislumbrada por Niemeyer do que com o patrimonialismo dos grotões e o vale-tudo típico das regiões de fronteira.
Terra de Arruda e de seu padrinho, o coronel do cerrado Joaquim Roriz, mas também do vice-governador, Paulo Octávio, de Luiz Estevão, o senador cassado, e de Gim Argello, o senador neolulista em ascensão, o DF é uma terra de bravos e de oportunidades. Ali, o arcaico e o pós-moderno se juntaram para desafiar a modernidade do Brasil.

PAINEL DA FOLHA

Crise "demo", o retorno

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/02/10


A prisão de José Roberto Arruda ressuscitou um pesadelo que o DEM acreditava ter superado e deu novo fôlego aos questionamentos sobre a atuação do presidente do partido, deputado Rodrigo Maia.
A cúpula sabia desde a véspera que seria pedida a prisão do governador do DF, mas, a despeito de pressões para agir preventivamente, só pediu a entrega dos cargos de seus filiados depois do fato consumado. Novas divergências serão postas à mesa logo depois do Carnaval, quando o senador Demóstenes Torres (GO) promete levar à Executiva do partido pedido de expulsão de Paulo Octávio, ao qual, até ontem, a direção não planejava dispensar tratamento tão radical.




Romaria. Paulo Octávio disparou telefonemas a senadores e deputados do DEM pedindo apoio. A receptividade não foi das melhores.

Os mesmos 1. Com a saída de Paulo Octávio, que assumiu o governo, a direção do DEM-DF passou às mãos de Osório Adriano, um dos deputados mais próximos de Arruda. Empresário, Adriano herdou em 2007 o mandato do amigo na Câmara.

Os mesmos 2. Adriano é dono da chamada "Casa dos Artistas", QG da campanha de Arruda e depois da transição de governo em 2006. Segundo as investigações da Operação Caixa de Pandora, a reforma de R$ 12 mi no local foi bancada com dinheiro público.

Moita. Paulo Octávio foi aconselhado a não comparecer à reunião convocada ontem pela Câmara Legislativa para discutir o futuro. A hora é "de luto", sugeriram aliados. Para eles, a única chance de "PO" fechar o ano como governador é evitar demonstrar "apetite pelo poder".

Bolsa de apostas. Por mais que Lula não queira nem ouvir falar em intervenção federal no DF, prosperam especulações de nomes para o caso de a hipótese se concretizar. Os mais mencionados são o ex-presidente do STF Sepúlveda Pertence e o ministro Nelson Jobim (Defesa).

Segue o jogo. A prisão de Arruda ficou fora da manchete da "Tribuna do Brasil, cujo dono foi flagrado pondo dinheiro na cueca: "Paulo Octávio assume o GDF".

Casquinha. A menção às denúncias de corrupção no Rio Grande do Sul na carta divulgada por Arruda irritou a governadora tucana Yeda Crusius: "É um homem desesperado. Não tem ideia do rigor com que eu fui tratada aqui".

Confete. O site do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) trazia ontem uma marchinha de Carnaval, acompanhada de imagens da dupla Lula-Dilma, com o refrão: "Depois do cara, a gente vota é na coroa; a gente quer é gente boa".

Pré-aprovada. A ministra da Casa Civil consultou Lula antes de aceitar o convite para assistir, em Recife, ao desfile do tradicional bloco carnavalesco Galo da Madrugada.

Despertador. Conhecido notívago, José Serra prometeu estar hoje às 10h na capital pernambucana para acompanhar o desfile. Um aliado do tucano faz graça: "Para ele será de fato na madrugada".

Na cédula 1. A ex-atriz global Myrian Rios, hoje missionária do grupo católico Canção Nova, deve sair candidata a deputada estadual pelo PDT no Rio. Ela diz ter tomado a decisão após trabalhar como voluntária com menores infratores em Bangu.

Na cédula 2. Além de Marcelo Yuka, ex-O Rappa, o PSOL lançará à Câmara pelo Rio o ex-campeão do BBB Jean Wyllys. Ambos dividirão votos com Chico Alencar.

Magoei. Da petista gaúcha Maria do Rosário, integrante do grupo que elabora o programa de governo do partido, sobre a polêmica instaurada em torno do conteúdo do texto: "Tem gente que nem leu e não gostou", diz a deputada.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

O partido não tem mais como contemporizar. Ou está com os corruptos, ou está contra eles.

Do senador por Goiás DEMÓSTENES TORRES, sobre a atitude hesitante do partido em relação ao escândalo de corrupção no DF.

Contraponto

Como um patinho Wellington Salgado recebeu na semana passada o telefonema de um rapaz que convidou o senador peemedebista a ser patrono de uma turma de formandos em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.
O jovem contou que ele e os colegas, residentes no interior, gostariam de ir pessoalmente a BH levar o convite. Para tanto, precisavam de ajuda financeira. Lisonjeado, Salgado prontamente fez um depósito na conta sugerida.
Como os dias passaram e ninguém apareceu, Salgado ligou para a UFMG e viu que fora vítima de trote. Acionou a polícia, mas também riu um pouco de si próprio:
-Depois dizem que todo político é esperto...

LYA LUFT

REVISTA VEJA
Lya Luft

Bruxos, vampiros e avatares

"A tecnologia abre territórios fascinantes, e ameaça nos
controlar: se pensarmos um pouco, sentiremos medo"

Cibernéticos e virtuais, nadamos num rio de novidades e nos consideramos moderníssimos. Um turbilhão de recursos trazidos pela ciência, pela tecnologia, nos atrai ou confunde. Se somos mais velhos, nos faz crer que jamais pegaremos esse bonde - embora ele seja para todos os que se dispuserem a nele subir, não necessariamente para ser campeões ou heróis.

A tecnologia abre territórios fascinantes, e ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco, sentiremos medo. O que mais vem por aí, quanto podemos lidar com essas novidades, sem saber direito quais são as positivas, quanto servem para promover progresso ou para nos exterminar ao toque do botão de algum demente no poder? Exageradamente entregues a esses jogos cada dia inovados, vamos nos perder da nossa natureza real, o instinto? Viramos homens e mulheres pós-modernos, sem saber o que isso significa; somos cibernéticos, somos twitteiros e blogueiros, mas não passamos disso. E, se não formos muito equilibrados, vamos nos transformar em hackers, e o mundo que exploda.

Ilustração Atômica Studio


Sobre a sensação de onipotência que esse mundo novo nos confere, lembro a história deliciosa do aborígine que, contratado para guiar o cientista carregado de instrumentos refinados, lhe disse: "Você e sua gente não são muito espertos, porque precisam de todas essas ferramentas simplesmente para andar no mato e observar os animais".

Não vamos regredir: a civilização anda segundo seu próprio arbítrio. Mas, como quase todas as coisas, seus produtos criam ambiguidade pelo excesso de aberturas e pelo receio diante do novo, que precisa ser domesticado, para se tornar nosso servo útil. As possibilidades do mundo virtual são quase infinitas. Sua sedução é intensa. Tão enganador quanto fascinante, no que tange à comunicação. Imenso, variado, assustador, rumoroso, ameaçador, e frio, porque impessoal. Nesse mundo difuso somos quase onipotentes, sem maior responsabilidade, pois cada ação nem sempre corresponde a uma consequência - e ainda podemos nos esconder no anonimato. Criam-se sérias questões morais e éticas não resolvidas nesse território: através da mesma ferramenta que nos abre universos e nos comunica com o outro, caluniamos e somos caluniados, ameaçamos e somos ameaçados, nos despersonalizamos, nos entregamos a atividades estranhas, algumas perversas; espiamos, espreitamos, maldizemos amigos e desconhecidos, odiamos celebridades, cortamos a cabeça de quem se destaca porque se torna objeto de inveja e ressentimento, escutamos mensagens sombrias e cumprimos, talvez, ordens sinistras.

Relacionamentos pessoais começam e terminam, bem ou mal, nesse campo virtual - não muito diferente do mundo dito real, dos bares, festas e trabalho, faculdade e escola. Para as crianças, esse universo extenso e invasivo pode ser uma grande escola, um mestre inesgotável, um salão de jogos divertido em que elas imediatamente se sentem à vontade, sem os limites dos adultos. Mas pode ser a estrada dos pedófilos, a alcova dos doentes, ou a passagem sobre o limite do natural e lúdico para o obsessivo e perverso.

Como quase tudo neste mundo nosso, duplo é o gume: comunicar-se é positivo, mas sinais feitos na sombra, sem verdadeiro nome nem rosto, podem acabar em fantasmáticas perseguições e males. Singularmente, mas de maneira muito significativa, enquanto estamos velozes e espertos no computador, criando mundos virtuais, e jogando jogos cada vez mais complexos, buscamos o nevoeiro desse anonimato e, na época das maiores inovações, curtimos voar com bruxos em suas vassouras, namorar vampiros e inventar avatares que vão de engraçados a sinistros.

Estimulante, múltiplo, tão rico, resta saber o que vamos fazer nesse novo mundo - ou o que ele vai fazer de nós. Quando soubermos, estaremos afixados nele como borboletas presas com alfinete debaixo da tampa de vidro ou vaga-lumes em potes de geleia vazios, naquelas noites de verão quando a infância era apenas aquela, inocente, que ainda espia sobre nossos ombros.

ANCELMO GÓIS

MULATO DO GOIS

O GLOBO - 13/02/10


O centenário da Revolta da Chibata, a dos marinheiros, quase todos negros e mulatos, contra o uso de castigos físicos, será lembrado neste carnaval.
Hoje, às 16 horas, o Cordão da Prata Preta sai da Rua Sacadura Cabral, no Rio, para saudar o marinheiro João Cândido, o Almirante Negro, líder dos rebeldes.
SEGUE...
Segunda, será a vez de a Vila Isabel lembrar os insurgentes na Sapucaí, no enredo sobre Noel Rosa, nascido no mesmo ano da Revolta da Chibata.
Aliás, Martinho da Vila, autor do samba-enredo, vai desfilar fantasiado de Almirante Negro.
A VIDA É BELA
Foi visto desembarcando ontem em Lisboa o empresário Alcir Collaço, dono do jornal brasiliense Tribuna do Brasil.
É aquele flagrado num vídeo quando guardava na cueca a grana que recebeu de Durval Barbosa, o homem que denunciou o mensalão do DEM.
CRAVO E FERRADURA
Serra vai segunda à Sapucaí a convite de Sérgio Cabral, que, domingo, recebe Dilma.
PRÍNCIPE NA FOLIA
Desembarcou ontem no Rio o príncipe herdeiro do Qatar, Tamim Bin Hamad Al Thani.
Veio com comitiva de 29 pessoas para curtir o carnaval.
O ENJOO DE MADONNA
Madonna andou enjoada. Mas não de Jesus. Foi num voo de helicóptero, quarta, até São Paulo.
SONHO OU PESADELO?
Paulo Octávio Alves Pereira, o vice de Arruda, faz aniversário hoje e realiza um antigo desejo. É que, há alguns meses, revelou a amigos o sonho de se tornar governador de Brasília. Tudo bem. Mas é preciso tomar cuidado para o sonho não virar pesadelo.
SEDE DE CARNAVAL
O grupo Pão de Açúcar registrou, na última semana, um aumento de 75% na venda de cerveja, por causa da chegada do carnaval.
HACKER TUCANO?
“Problemas técnicos” tiraram do ar o dia todo, ontem, o site da Agência Brasil (agenciabrasil.gov.br), notícias on-line do governo Lula.
INVASÃO DE GAMBÁS
Um trecho da Vila da Penha, terra de Romário, no subúrbio do Rio, conhecido como Mão Santa, sofre uma invasão de... Gambás.
O que se diz é que, há um tempo, um morador trouxe um casal para casa, a mulher reclamou, e o marido soltou os dois bichos numa mata próxima. O resultado seria a proliferação.
SOBROU PARA LULA
O bloco Acorda Peão, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, SP, desfila hoje na cidade com um abre-alas no formato de cadeia. Na cela, estará um folião fantasiado de Arruda, cheio de dólares.
Numa outra alegoria, num desenho, Lula, Dilma Rousseff e alguns políticos pegam notas que caem do céu.
CRIME E CASTIGO
A 14ª Câmara Cível do TJ do Rio determinou que o Estado pague R$ 400 mil de indenização a Sidnei Vieira.
Ele teve o carro metralhado por PMs quando levava sua mulher, em trabalho de parto, ao hospital. O incidente causou a morte dela e da filha.

CLÁUDIO HUMBERTO

“As investigações não inibiram nem paralisaram ação criminosa”
MINISTRO FERNANDO GONÇALVES, DO STJ, EXPLICANDO A PRISÃO DE ARRUDA E AUXILIARES

STJ TEMIA QUE STF ANULASSE PRISÃO DE ARRUDA
Um dos fatores que contribuíram para a demora em decretar a prisão preventiva do governador do DF, José Roberto Arruda, foi o temor do ministro-relator do caso no Superior Tribunal de Justiça, Fernando Gonçalves, de que o Supremo Tribunal Federal revertesse a decisão. Mas encontrou apoio no presidente da Corte, ministro Cesar Asfor Rocha, para quem o STJ deveria simplesmente cumprir seu dever.
FUNDAMENTO
O ministro Fernando Gonçalves fundamentou a prisão de Arruda em decisão do STF que não considera governador imune a prisão cautelar.
GANHOU ELOGIO
Ao contrário de reverter a prisão de Arruda, como temia o STJ, o ministro Marco Aurélio (STF) elogiou a decisão: “irrepreensível”.
BOBEOU, DANÇOU
Para Henrique Maués, do Instituto dos Advogados Brasileiros, “o STJ aplica a lei indistintamente para ricos, governantes e pessoas do povo”.
PERGUNTA FANTASMA
Por que, em casos de corrupção, há sempre um “Sombra”, como Sérgio Gomes, do PT de Lula, e no caso do DEM de Arruda?
MILITARES REAGEM À DEMISSÃO DE GENERAL
O general Torres de Melo, coordenador do Grupo Guararapes, divulga manifesto na internet dos seus 2.236 integrantes, da ativa e da reserva, elogiando o general Santa Rosa, por “não aceitar que as Forças Armadas sejam humilhadas perante a Nação”. Santa Rosa foi exonerado pelo ministro Nelson Jobim (Defesa) do Departamento Pessoal do Exército, por texto criticando a ‘Comissão da Verdade’”.
RECADO
Para o Grupo Guararapes, “o Exército de hoje é o mesmo de ontem” e abomina os “chefes sem caráter, falsificadores de Constituições”.
NOTÍCIA QUENTE
“Aquecimento global”, urgente! Para tristeza dos ecopicaretas, profetas do derretimento, nevou em Roma pela primeira vez em 20 anos.
MASSA DE PÉ-FRIO
Cariocas, que há 15 dias vivem a 43 graus num ciclo do inferno de Dante, torcem para que Lula vá ao Sambódromo, para gelar um pouco.
A LETRA DA LEI
O ministro Marco Aurélio fez muita gente perder apostas em Brasília. Apostava-se alto que ele iria livrar o governador, só para afirmar seu temperamento polêmico. Mas ele optou pela a letra da lei.
HORÓSCOPO DESMORALIZADO
Os ministros do Superior Tribunal de Justiça Nilson Naves e Fernando Gonçalves nasceram em 28 de abril, e são mineiros. Mas são muito diferentes: um discordou da prisão de Arruda, o outro a decretou.
COM O TERRORISTA
Os assessores do governador Arruda com nível superior foram recolhidos a celas do Centro de Internamento e Reeducação, na Papuda, em Brasília. É onde está preso o terrorista Cesare Batisti.
AGENDA IMPLACÁVEL
O deputado Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que ontem celebrou a prisão de Arruda, visitou o governador em 26 de novembro, véspera da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.
AMIGO DA ONÇA
Em 1998, o então candidato ao governo do DF, José Roberto Arruda, mandou carta a meia Brasília pedindo voto. Uma leitora guardou-a. Parte dela dizia: “Minha amiga, eu quero botar ordem na cidade”.
DESAFINADOS
Será um carnaval estranho em Brasília. O mestra-sala está preso e o abre-alas sob a ameaça de impeachment. A escola Unidos do Buritinga, sede do governo, pode não sair. Nem com habeas-corpus.
DESFILE
Ninguém confirma se na “sala do estado-maior”, onde Arruda está preso na Polícia Federal, existe TV para o governador assistir ao desfile da Beija-Flor, neste domingo, patrocinado por seu governo.
BABOU-SE
O cabeludo ex-deputado federal Babá não tem chance (de novo) na corrida à Presidência. Numa enquete on-line com simpatizantes do PSOL, ganhava, até ontem, Plínio de Arruda Sampaio. Todos ex-PT.
PENSANDO BEM...
... O Brasil entra neste sábado na mais absoluta normalidade. É carnaval.

PODER SEM PUDOR
AJUDA DESNECESSÁRIA
Em 1989, estudantes universitários que moravam em Orleans, no sul de Santa Catarina, procuraram o prefeito, Plínio Galvane, para pedir que a municipalidade custeasse o ônibus que os levava diariamente à universidade, em Tubarão. Com brutal franqueza, o prefeito negou a ajuda por considerá-la desnecessária, citando o próprio exemplo:
– Estudei até a 3ª série primária e hoje sou um empresário bem-sucedido e prefeito. Se eu cheguei até onde cheguei sem estudo, pra quê gastar com isso?