terça-feira, dezembro 15, 2009

NELSON VASCONCELOS

O sócio

O Globo - 15/12/2009


Ontem, por volta de meio-dia, batemos a marca de R$ 1 trilhão pagos em impostos este ano, de acordo com cálculos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Tudo a ver com o que andei conversando semana passada com executivos de tecnologia. Como todos sabemos, pagamos impostos demais - e o pior é não haver retorno visível.

A mordida é cruel. E o governo acaba sendo considerado uma espécie de sócio das empresas. Mas daquele sócio que só passa na firma uma vez por mês, para recolher a parte boa, sem fazer qualquer esforço produtivo, digamos assim. Faz isso com salários também, ora se não...

Mas voltemos à tecnologia.

Aqui no nosso mundinho, pouca gente sabe que, no preço final de um modem importado, por exemplo, estão embutidos nada menos que 77,95% de impostos. Em protesto, tratemos então de comprar um modem nacional - e, com isso, pagaremos apenas 53,39% de tributos.

Nada animador.

Evidentemente, impostos vão pesando sobre o que quer que pensemos: computadores, celulares, software, acesso à internet, acessórios etc. etc. Resultado: - A carga tributária sobre o setor de tecnologia fica em 45%. É uma das mais altas que temos (quando comparamos os diversos setores da economia) - alerta Gilberto Luiz do Amaral, presidente do IBPT.

Os exemplos dos investimentos oficiais vão se sucedendo.

Para uma fabricante de celulares, somente o IPI sobre um aparelho importado, por exemplo, chega a 15%.

- Mas a lei diz o seguinte: se você montar o celular aqui, esse IPI cai pra 3%. No entanto, tem que dar uma contrapartida para o país, que é investir cerca de 4% em pesquisa e desenvolvimento (P&D) - conta o executivo de uma multinacional. - E será que essa renúncia fiscal está valendo a pena em termos de patentes para o Brasil? As regras são muito complicadas.

De fato, a ideia de criar contrapartidas para a indústria nacional poderia parecer interessante. Só que há um detalhe: os projetos de P&D ainda devem ser aprovados pelo Ministério do Desenvolvimento, num jogo que está longe de ser ágil. Como se sabe, a burocracia atravanca o progresso.

Além do mais, até que ponto o ministério tem o direito de se meter nos segredos que envolvem as pesquisas e os projetos desenvolvidos pelas empresas de tecnologia? Obviamente, as empresas cuidam com muito carinho das suas patentes próprias, que são a base da indústria. Temos grande dificuldade para explicar essas regras quando temos que nos reportar para o pessoal da matriz... - diz o executivo.

Pense aí: para quem você abriria seus projetos estratégicos? São bastante criativos, pois, os burocratas que determinam o futuro da nação...

O rolo não se dá pela simples cobrança dos impostos.

O problema é que se tributa tecnologia como se essas coisinhas fossem luxo, apenas uns brinquedinhos modernos para deleite de poucos privilegiados.

Não são. São instrumentos fundamentais para produtividade e crescimento de todos os setores, inclusive educação e cultura (onde estão nossas maiores deficiências). Ninguém, afinal, vive sem tecnologia - e não investir nisso é miopia, ignorância ou má-fé.

E com tudo o que vemos, e o que não vemos, o governo (desde sempre, de qualquer partido) percebe a indústria de tecnologia não como instrumento produtivo, mas como uma ótima fonte de renda - através dos impostos, naturalmente.

Agir dessa maneira não é a opção mais inteligente para quem pretende trilhar o caminho do Primeiro Mundo.

Pelo contrário. Abaixar tributos talvez seja mais útil. Como lembra Amaral, o mercado de PCs era dominado pelos produtos piratas.

O quadro se inverteu somente nos últimos anos, depois da desoneração de impostos (PIS, Cofins, ICMS etc.). Foi bom para a importação legal e para os fabricantes nacionais. Por que não incrementar essas medidas e adotá-las em outros setores? Mistérios.

- Diferentemente de outros países em desenvolvimento, nós tributamos fortemente a produção e o consumo - diz Amaral. - Basta ver que, no desenvolvimento da tecnologia nacional há também uma alta carga tributária sobre emprego e sobre as vendas.


No fim das contas, o recado é um só: encarecer tecnologia é burrice.

Jogo perigoso

Está rendendo muita discussão o projeto de lei que quer proibir importação e venda de games violentos no país. Leitores do GLOBO, pelo jeito, não embarcaram na conversa. Alguém sugeriu a criação do jogo "One day in Brasília", que gira em torno de muita corrupção. Inspirado em fatos reais. Confira em .

De olho

Chegou a 3.470 o número de chineses presos por alimentarem sites pornográficos, somente este ano. De acordo com a agência oficial de notícias do país, o governo conseguiu apagar da rede mundial cerca de sete mil sites pornográficos.
O mais difícil, no entanto, é detonar a pirataria, diz o site Info.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Brasileiras fecham acordo com dinamarquesa

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/09



As empresas brasileiras Braskem e Cetrel anunciaram ontem em Copenhague, em evento paralelo à COP-15, parcerias com a dinamarquesa Novozymes para produção de energia limpa e o início de pesquisas para desenvolvimento de polipropileno, ambos a partir da cana-de-açúcar.
As empresas irão partilhar conhecimentos técnicos e científicos com a Novozymes, que é a maior fabricante de enzimas industriais do mundo.
No caso da Cetrel, que é especialista em reaproveitamento de resíduos industriais, a intenção é usar a biotecnologia da companhia nórdica para produzir biogás, que, por sua vez, deverá gerar energia elétrica para indústrias.
"Há um impacto na geração de energia do bagaço, que pode aumentar em 50% o potencial, com custo mais baixo e menor emissão de gases de efeito estufa", segundo Denis Cidreira, diretor da Cetrel.
Com a Braskem, a ideia é desenvolver a partir do etanol uma alternativa verde para produzir polipropileno, plástico utilizado em vários produtos, de recipientes a carros.
"Já há plástico verde, mas estamos desenvolvendo uma tecnologia diferente e mais eficiente do que a que existe", disse Marcelo Lyra, vice-presidente da Braskem.
Em Copenhague, lembrou Marcos Jank, da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), há vários anúncios da Coca-Cola em nova garrafa em plástico "verde". Com a nova tecnologia, o material dessas embalagens poderá vir a ser importado do Brasil, segundo Pedro Luis Fernandes, presidente regional da Novozymes.
Os primeiros resultados devem sair em, no mínimo, cinco anos.

RASTREAMENTO ESTRATÉGICO
A Tracker do Brasil irá relançar no próximo ano o sistema de rastreamento para motos, agora voltado para as de baixa cilindrada, mais visadas nos roubos e furtos. Segundo o vice-presidente da companhia, Diego Insignares, o produto será direcionado aos motoboys, que encontram dificuldade em fazer seguro. Além das motos, os laptops, alvo de furtos principalmente em aeroportos, também poderão ser rastreados a partir de 2010. Paralelamente, a companhia está exportando a sua metodologia de desenvolvimento de novos produtos para empresas do grupo na América Central e na América do Sul. O planejamento estratégico tem como foco as necessidades do cliente, diz o vice-presidente.

CENÁRIO POSITIVO
Os empresários brasileiros esperam cenário positivo nos próximos três anos, segundo estudo da Deloitte, que será divulgado hoje. A maioria (88%) acredita que o investimento estrangeiro deva subir. O acesso ao crédito crescerá, segundo uma fatia menor dos empresários (66%). "Com a necessidade de investimentos para PAC, pré-sal e eventos esportivos, o país vai viver forte demanda por crédito e capital. Com tudo isso, o custo do crédito deve cair, mas não em proporção tão alta", diz José Paulo Rocha, sócio da Deloitte. A pesquisa abordou 573 empresas.

PARCERIA
Os governadores José Serra e Arnold Schwarzenegger, da Califórnia, se encontram amanhã e poderão estabelecer cooperação entre os dois maiores Estados dos seus países na área de bioenergia, com ênfase no etanol. A Califórnia é um grande mercado para o Brasil pois consome quase 6 bilhões de litros de etanol por ano -10% do consumo de gasolina do Estado americano. "A COP-15 é revolucionária para nós. Deve produzir um acordo global, mesmo que seja fraco. Vender para a Califórnia já será muito bom, mas a COP deverá provocar aumento de escala", disse Marcos Jank, da Unica. Independentemente da Conferência das Nações Unidas, EUA e Europa já criam legislação rigorosa e o caminho para atendê-la será aumentar o álcool na gasolina, como o Brasil já fez, diz Jank.

HOTELARIA 1
As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste começam a receber apoio do governo para reformar e ampliar o parque hoteleiro com foco na Copa de 2014. No início do mês, a Sudene ampliou de 15 para 20 anos o prazo para pagamento de empréstimos de recursos do Fundo Constitucional do Nordeste para o setor. Sudam e Secretaria de Desenvolvimento do Centro-Oeste também acabam de ampliar os prazos.

HOTELARIA 2
Na última sexta, em reunião do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste, foram aprovados R$ 364 milhões para a região em 2010. Os recursos serão operacionalizados pelo Banco do Brasil. Para o Nordeste, serão destinados R$ 520 milhões. O Norte terá R$ 164 milhões.

FLORESTA
A Amazônia está adaptada para receber 3 milhões de visitantes ao ano e movimentar US$ 5 bilhões, segundo o Proecotur (Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal), desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente. A região possui uma permanência média de turistas de 14 dias. No restante do Brasil, a média é de nove dias. Cada visitante gasta, em média, US$ 112,86 por dia.

NO PRATO
O consumo de macarrão no Brasil deve crescer neste ano, mas em menor proporção que nos EUA, segundo a Abima (Associação Brasileira das Indústrias de Massas). Com a crise econômica, as vendas de macarrão, alternativa de baixo custo, subiram 12% neste ano no mercado norte-americano.

com JOANA CUNHA e ALESSANDRA KIANEK

GOSTOSA

DIRETO DA FONTE

McTone?

Sonia Racy

O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/12/09


Antônio Carlos Rodrigues, presidente da Câmara paulistana, fechou o Parque da Xuxa, sábado.
Decidiu alegrar os tristes tempos de "panetonegate" e comemorar o aniversário de seus dois netos. Com direito a livre acesso ao McDonald"s.

Pensar médio
Depois de bombardeamento de mais de três horas, domingo, com ONGs diversas, Serra fala hoje "treinado" durante palestra que dá em Copenhague ao lado de outros governadores, como Arnold Schwarzenegger.
Ouviu de Luiz Pinguelli Rosa, por exemplo, que Estados e municípios devem ter papel decisivo. Na ótica do físico, planos em ampla escala tendem a funcionar mal.

Chic, o clima
Deu no Daily Telegraph, de Londres. Em 11 dias de cúpula, chegarão a Copenhague nada menos que 140 jatos particulares mais boa parte das 1.200 limusines alugadas pelas delegações.

Plumas e paetês
A Lei Rouanet caiu no samba. A escola Acadêmicos da Rocinha foi autorizada a captar R$ 2 milhões para botar seu bloco na avenida.

Vale ouro
Cesar Cielo enquadrou o maiô que usou ao ganhar ouro no Mundial de Roma para dar a... Gustavo Borges. Uma retribuição a presente idêntico que ele recebeu do veterano.

Drug story
Marcos Prado vai se debruçar sobre novo longa.
De nome Paraísos Artificiais, no qual pretende explorar o drama da "geração ecstasy".

Réquiem
Na mira do "projeto tratorada" do governo, que quer encerrar o ano sem deixar bodes na sala, Heráclito Fortes já se prepara para ver sepultada a CPI das ONGs. O enterro será precedido de pequeno teatro do relator Inácio Arruda - que, antes de baixar o caixão, vai propor a criação de um... marco regulatório.
Seja lá o que isso for.

Réquiem 2
A base aliada deve fazer ouvidos de... "mercadante."

Pontapé
Conforme antecipado pela coluna em agosto, Ricardo Lacerda montou seu próprio banco de investimentos, o BR Partners. Começou capturando uma sócia, a ex-BMC Andrea Pinheiro, e uma operação gigante de R$ 1,5 bilhão, a da Hypermarcas e Neoquímica.
Outros sócios estão a caminho. "Nosso projeto é bem mais ambicioso do que apenas uma butique de investimentos", diz o ex-Citi.

Invasão chinesa
Ao lado de dois dirigentes chineses da JAC Motors, David Zhan e Michael Yang, Sérgio Habib, do Grupo SHC, fecha oficialmente hoje uma parceria com a montadora chinesa.
Começam com a importação de três novos modelos.

Livro no parque
Magda Maciel Montenegro, bibliotecária, foi escolhida por João Sayad para dirigir a mais nova biblioteca do Estado. A Poiesis cuidará da administração.
O espaço abre em janeiro no Parque da Juventude.

Tá na hora, tá na hora
O Procon afrouxou e bares da rua Augusta e dos Jardins estão fazendo festa na cobrança de consumação mínima, coisa proibida por lei. Tem gente cobrando até R$ 20, como o Z Carniceria, ou R$ 15, como o restaurante Tostex.
Pudera. A última fiscalização foi em agosto, quando vistoriaram 31 estabelecimentos e multaram seis.

Na Frente

Ao voltar para o segundo bis, na sexta, Maria Bethânia quis cantar uma canção cuja letra estava nas mãos de... Cássio. Bethânia gritou, chamou e o moço, nada. Acabou cantando Ronda. Ninguém ficou sabendo onde foi parar Cássio.

No ano em que completa cem anos, o Bar Vesúvio - o de Jorge Amado, em Gabriela - tenta emplacar projeto cultural no Ministério da Cultura e também na Secretaria da Bahia.

Araquém Alcântara lança Sertão sem Fim, hoje, na Livraria da Vila da Lorena.

Fernanda Marques comemora seus 20 anos de carreira com lançamento de livro. Hoje, na Casa do Saber.

Vistos sábado em sessão garimpo no Santa Luzia, Charlô Whately e Philippe Marc, do Plaza Athénée. Preparando o cardápio para o jantar a quatro mãos que farão hoje no bistrô?

Minutos depois da agressão contra Berlusconi, o Facebook recebeu 20 novas comunidades exaltando Maximo Tartaglia, autor da aclamada "façanha".

Roberto Justus e Marcos Quintela pilotam jantar, hoje, na Y&R. Com direito a brinde à promoção de Quintela.

O Pacotão, grupo carnavalesco de Brasília, definiu tema para 2010. Pedirá... a troca de José Roberto Arruda por Zelaya.

VINICIUS TORRES FREIRE

O leilão de vento deu certo

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/09



LEILÃO DE ENERGIA EÓLICA MOSTRA QUE SETOR DEIXA DE SER EXÓTICO E MARGINAL E QUE PREÇO DE SUA ELETRICIDADE PODE SER VIÁVEL

A ENERGIA dos ventos deixou ontem de ser um exotismo marginal na produção de eletricidade no Brasil. O governo contratou em leilão projetos de usinas eólicas com capacidade de gerar 1.805 MW, pouco mais de um quarto da potência instalada de uma usina do rio Madeira, em Rondônia. A energia estará disponível a partir de 2012. Hoje, todas as usinas de eletricidade movidas a vento no país são capazes de produzir cerca de 600 MW.
Para começar pelas boas notícias, o preço médio da energia do leilão foi muito competitivo, R$ 148,39 por MWh. O governo havia fixado um teto de R$ 189 por MWh (megawatt-hora). No mercado, que sempre chora, dizia-se que alguns projetos seriam capazes de se sujeitar ao limite de preço do governo, mas que não haveria propostas próximas de R$ 140 por MWh. Mas houve até propostas entre R$ 130 e R$ 140, embora algumas empresas gigantes, como a portuguesa EDP, tenham desistido do leilão (a EDP tem um parque eólico de 2.500 MW nos EUA). O teto do preço para o leilão "normal" de energia elétrica marcado para este mês era de R$ 144 MWh (o leilão foi cancelado, pois a oferta majoritária era de energia "suja" e, porque, por ora, sobra energia devido à crise).
A energia eólica ainda é tida como cara. Tanto que a associação do setor, Abeeólica, insiste em que a energia dos ventos seja leiloada apenas em certames "especiais", sem concorrer com outras fontes. Mas, pelo leilão de ontem, talvez a energia eólica não precise tanto de disputas "café com leite". "Talvez", ressalte-se.
Apesar de racional e simpático, no médio e longo prazos, a adesão aos ventos tem problemas. Há grande potencial de energia eólica em locais remotos do Nordeste, isolados das redes de transmissão. Custa caro fazer rede de transmissão. Faltam coisas simples como boas estradas. Sim, é preciso transportar pás de 30 metros e torres de 90 metros dos geradores, que demandam carretas e guindastes especiais. Faltam engenheiros e técnicos especializados.
Investidores estrangeiros que ontem acompanhavam o leilão observam ainda que se sentiriam mais seguros em investir no país (em parques eólicos e fábricas de equipamentos) se houvesse uma espécie de "programa de metas" para o setor, infraestrutura melhor e leis mais claras (no caso, incentivos fiscais garantidos por mais tempo, pelo que se pôde depreender das conversas).
Na sexta-feira passada, o setor se irritou com a decisão do Confaz que prorrogou apenas até o final de janeiro de 2010 a isenção de ICMS para equipamentos de energia eólica e solar, desconto que já dura 12 anos. Mas na quarta-feira da semana passada o governo federal desonerou os aerogeradores do IPI.
Há ainda gente no governo de má vontade com o projeto de eólicas, pois a produção de energia pelos ventos é instável e não pode ser estocada. Mas as novas hidrelétricas do país também padecem desse defeito. São usinas de "fio d'água" (que, grosso modo, geram energia na proporção da vazão do rio, não podendo estocar a água para tempos mais secos). Mas o pessoal da EPE, estatal de pesquisa e planejamento energético, argumenta que, no caso brasileiro, as eólicas têm um papel complementar importante -venta mais quando chove menos.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

FERNANDO RODRIGUES

Partido faz espuma para negociar melhor

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/09



Há hoje sete pessoas filiadas ao PMDB ocupando assentos na Esplanada dos Ministérios. No Congresso, a Câmara e o Senado também estão sob o comando de peemedebistas.
Nunca o partido foi tão bem tratado em Brasília. O benfeitor maior do PMDB é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nomeou para ministro da Integração Nacional o deputado Geddel Vieira Lima (BA), que no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) nunca foi cogitado para cargo tão alto.
A moeda de troca que Lula e o PT esperam do PMDB é o tempo da sigla no horário eleitoral no rádio e na TV durante a campanha presidencial de 2010. A ideia é inundar a campanha com os comerciais da provável candidata petista ao Planalto, Dilma Rousseff.
Trata-se de uma aposta de risco de Lula, sobretudo porque o grupo hoje mais forte na cúpula do PMDB só tem um nome para oferecer como candidato a vice: Michel Temer, deputado por São Paulo e atual presidente da Câmara.
Quando Lula falou na possível lista tríplice do PMDB com opções de vice, a reação não poderia ser boa porque não existem três nomes no condomínio peemedebista. Michel, Geddel e o líder na Câmara, Henrique Alves (RN), soltam gargalhadas ao ouvir a hipótese de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, ser indicado.
Cristão-novo no PMDB, Meirelles não representa nenhum grupo relevante nas diversas sesmarias do partido pelo país. A cúpula apostará até o fim em Temer. Só em condições muito especiais mudará de ideia, cobrando mais cargos.
Os muxoxos e resmungos dos peemedebistas diante da proposta de Lula fazem parte do jogo político. É espuma para simular um tsunami e negociar melhor mais adiante. Afinal, se o PMDB ficasse quieto, em breve Lula diria que o partido talvez nem devesse indicar um vice, pois já tem muitos cargos.
A rigor, o combustível dessa aliança não dependerá dos humores de Lula, de exigências de listas tríplices nem de Michel Temer se ofender com o tratamento público oferecido pelo Planalto. Sem perspectiva real de chegar sozinho à Presidência da República, o PMDB mira num único alvo: permanecer no poder pelas mãos de aliados.
Se em abril ou maio do ano que vem Dilma disparar nas pesquisas -algo ainda longe de acontecer-, o PMDB produzirá um consenso e embarcará no projeto de Lula oficialmente.
Mas se a candidata petista empacar e suas chances de vitórias forem pequenas, o PMDB fará o que sempre mais soube: ficará sem apoiar ninguém e totalmente disponível para entrar no governo seguinte, não importando qual seja.

ARI CUNHA

Fim do ano


Correio Braziliense - 15/12/2009

História que vem do Nordeste lembra que quando começam os meses dos be-rê-ó-bró é sinal de que o ano acaba. Primeiro de setembro indica que está na hora de mandar cartões de boas-festas, e os presentes que as pessoas “mais de perto” merecem receber. A expectativa vem dos tempos das vacas gordas, quando a cera de carnaúba virou ouro na Segunda Guerra. E das vacas magras, quando a seca destruía plantações. Andando de automóvel nos anos 1970, era desoladora a paisagem. A caçula Circe via a natureza. “Aquela casinha está de olhos fechados.” Era grande o número. Aparecia uma casinha distante com janela aberta. Aquela está vendo com um olho só. Eram casinhas abandonadas pelas famílias que procuravam vida melhor no Sul.

A frase que não foi pronunciada


“Como as pedras preciosas, as palavras possuem também seus quilates e seu grau de pureza.”
» Francisco Sadeck, geólogo, pensando nos últimos acontecimentos da cidade.


Popular

»
Os baianos sempre foram fiéis às origens. A fonética do seu beabá funciona assim: “a, bê, cê, dê, ê, fê, guê, agah, i, ji, ka, lê, mê, nê, o, pê, que, rê, si, tê, u, vê, xis, pisilone, zê”.

Reverso

»
Barão de Itararé podia perder o amigo, mas a piada era segura. Pensando nas pessoas que não valem nada, costumava dizer: de onde muito se espera é sinal de que nada virá. Era comum quando falava de alguém pobre que ficou rico e abandonou as origens.

Deserto

»
Clima de Brasília mostra que estamos a mais mil metros de altura. Nos desertos, durante a madrugada, é frio de rachar. Não há pedras e a areia congela. Depois vem o calor. Meio-dia é comum usar turbante e roupa longa. A saia mantém temperatura não muito quente.

Cavalo longo

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Drusos, que habitam o oriente ao lado de Síria e Israel, usam calças com braguilha longa. Acreditam que o salvador virá de um homem. Sempre preparados para receber o salvador da humanidade. Trazem entre as pernas algo como se fosse um saco para receber o nascido.

Cinema

»
Amanhã, às 15h, no auditório da reitoria, a comissão UnB 50 anos de Brasília fará mesa redonda para discutir o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em Questão. Vladimir Carvalho apresentará o tema. Participam o reitor José Geraldo de Sousa Junior e o professor Marcos de Souza Mendes, especialista em cinema brasileiro e documentários. O evento é aberto a estudantes e personalidades da mídia e da cultura da cidade.

Interessante

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Vale a divulgação maciça do Observatório da Juventude, feito pelo Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da UnB, dirigido por Ana Maria Nogales. Professores, estatísticos, pesquisadores fazem trabalho com a população pobre do DF e do Entorno. Jovens sem emprego ou sem estudos são o alvo da pesquisadora Martita Ghirlanda. Eles participam ativamente do projeto, auxiliando no trabalho de captação de dados e elaboração de programas que venham a desenvolver a comunidade.

Memória

»
Jaime Cohen lembra à coluna a beleza da Ponte das Garças. O nome oficial é Ponte Presidente Médici, mas todos preferem usar o apelido. Ela leva à QI 5 do Lago Sul ou à L2 Sul. Mesmo com 4.700m³ de concreto e 460 toneladas de aço, a ponte toca a água em dois pontos estreitos, dando leveza à obra. São 300m de comprimento e 18m de largura, com duas pistas de cada lado. Foi construída em sete meses, com 24 horas de trabalho por dia. A inauguração foi em 14 de janeiro de 1974.

Prêmio

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É comum ver, ao nascer do sol, um pontinho escorregando pelo lago. São os remadores do Minas Brasília Tênis Clube Pedro Pizarro e Célio Amorim. O esforço valeu o Troféu Brasil Unificado de Remo. O torneio foi na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. As próximas remadas serão no Pan e na Olimpíada.

Expressão

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Até a expressão em português pegar em flagrante é amena. Não quer dizer muita coisa. A mesma expressão em inglês é red-handed. Indica que quem foi pego em flagrante estava com as mãos sujas de sangue.

História de Brasília


A Praça Municipal está sendo depósito de lixo, entulho e terra. Os caminhões chegam e, sorrateiramente, despejam a carga incômoda, desaparecendo em seguida. (Publicado em 19/2/1961)

JAPA GOSTOSA

TODA MÍDIA

Ranking

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/09


No alto de UOL e outros portais brasileiros no fim do dia, "Brasil lidera ranking" ou "encabeça combate ao aquecimento".
Na BBC Brasil, "pela primeira vez um emergente passou para trás desenvolvidos como a Suécia", em índice da Germanwatch e da CAN, Climate Action Network. Na alemã Deutsche Welle, "Brasil e Suécia, seguidos por Reino Unido e Alemanha, são os que mais fazem pela proteção ao meio ambiente". A China vem em 52º lugar, os EUA, em 53º. No final da lista, Canadá e Arábia Saudita.
Mas "os três primeiros lugares estão vagos", porque "nenhum está se esforçando o suficiente para evitar a perigosa mudança no clima".

EUA VS. CHINA
A conferência de Copenhague parou no meio do dia, "brevemente", segundo o relato do "New York Times". Ou "incendiou tensões", destacou o "Wall Street Journal", entre ricos e emergentes.
Mais precisamente, analisava o mesmo "WSJ" antes ainda dos problemas, entre EUA e China. No enunciado original, "U.S. Versus China". Em longo texto, o jornal diz que "o roteiro tinha Obama e outros líderes mundiais voando para abençoar uma nova era de cooperação global. Na realidade, o encontro vai tomando a forma de duelo essencial entre EUA e China".

BRASIL VS. CHINA?
Um colunista do "Washington Post", Sebastian Mallaby, diretor no Council on Foreign Relations, escreveu ontem que o Brasil segue "vulnerável" devido à valorização do real frente ao dólar, desvalorizado pelos juros baixos nos EUA, e ao chinês yuan, desvalorizado para seguir o dólar. Diz ele que não adianta "pedir aos EUA" que mudem e só "resta a opção de falar com a China", o que o Brasil não faz por "solidariedade Bric".

IMPRESSIONADO
Depois que a secretária de Estado ameaçou o Brasil pela visita do Irã, o subsecretário Arturo Valenzuela esteve em Brasília para ver o assessor Marco Aurélio Garcia e se dizer "impressionado" com a concordância em "aspectos fundamentais". Sobre o Irã, "o Brasil tem relações com quem quiser, é soberano".

ALGUMA COISA
Da parte do Brasil, pelas agências, Garcia buscou algo substantivo. "Concordamos em alguma coisa: para os governos do Brasil e dos EUA, a eleição é insuficiente para" a normalização da democracia em Honduras. E "realmente concordamos nos aspectos fundamentais de nossas relações".

AGORA, OS BRINKS
O "WSJ" destacou ontem a chamada "Petróleo no Brink", trocadilho com beira de abismo e o mais novo acrônimo do mercado financeiro global. Brink, expressão lançada pela consultoria PFC Energy, une Brasil, Rússia, Iraque, Nigéria e Cazaquistão, com K em inglês. São os cinco países dos quais se espera produção crescente para as próximas décadas.
O "WSJ" avisa que, apesar da concessão de campos às companhias ocidentais nas últimas semanas, "o Iraque é a incógnita na equação".

AO VIVO, DO RIO
O principal canal financeiro dos EUA transmitiu no fim de semana uma entrevista do Rio, destacando a nova classe média etc. E sugeriu investir em imóveis, argumentando com o programa Minha Casa, Minha Vida

MEGA
Nos portais financeiros daqui, o destaque ontem foi para o célebre "megainvestidor" americano Sam Zell, que anunciou sua associação com a Brazilian Finance & Real State, empresa "líder do mercado brasileiro de produtos financeiro-imobiliários". No Brasil, o americano já aplica na Gafisa e outras, do setor.

"ESTÁ CAINDO COISA DEMAIS"
Foi manchete da Folha Online ao portal G1, mas a Globo mal registrou. Locução da Band: "É impressionante o que cai de obra em São Paulo. Ou é azar ou está caindo viga demais. Alô, Serra, está caindo viga demais. Um operário morreu. Está caindo coisa demais aqui em São Paulo

ROBERTO LUIS TROSTER

Muvuca no câmbio

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/09


Estamos fazendo a pergunta errada. A indagação correta é: Como tirar mais proveito do novo cenário e alavancar o desenvolvimento?
O REAL é a moeda que mais se valorizou em 2009 e foi uma das mais voláteis. Sua trajetória é motivo de preocupação para operadores no mercado financeiro, que podem abrir e fechar posições em segundos. Para alguns setores da indústria e da agricultura, uma taxa de câmbio desfavorável significa prejuízos que em algumas ocasiões inviabilizam a continuidade da produção.
Os números do PIB divulgados na última quinta-feira mostram um produto agropecuário no último trimestre 9% inferior ao de um ano atrás, e o da indústria, 6,9% menor. Parte expressiva dessa queda é efeito da valorização do câmbio. Enquanto o consumo já superou o nível de 2008, a recuperação de alguns desses setores só ocorrerá em 2011. Há sobras de motivos para desespero.
Há também efeitos positivos na apreciação da moeda nacional, como o barateamento das importações, o controle da inflação, juros mais baixos e maiores possibilidades de consumo. Em vésperas de uma eleição, uma desvalorização pode ter sequelas. Entretanto, o governo está sinalizando, com o aumento do IOF e as propostas de autorizar mais investimentos fora, o propósito de conter a valorização do real.
O diagnóstico das autoridades brasileiras está correto, mas as terapias usadas e as sugeridas não curam a doença que aflige os produtores locais, apenas alguns dos sintomas -e com efeitos secundários.
Sua capacidade de influenciar a taxa de câmbio é restrita, pois, numa economia aberta, o preço do dólar é determinado por fatores externos, como a evolução da economia nos EUA e os preços internacionais das commodities, e internos, como as expectativas de fluxos comercial e financeiro e a taxa de juros local.
O IOF sobre câmbio foi uma tentativa de conter a valorização do real, mas indicou para os investidores que o Brasil não quer investimentos externos. Para crescer, o país não pode prescindir desses recursos. Há um deficit de poupança, e aumentos de investimento interno só são viáveis com fluxos maiores do resto do mundo.
Uma proposta em pauta é permitir maiores aplicações fora do país. Com a compra de ativos estrangeiros, haveria uma demanda maior por dólares e isso contribuiria para desvalorizar o real. Também transferiria problemas dos setores afetados para o setor de fundos, pois atividades realizadas por instituições financeiras locais seriam feitas por empresas no exterior, ao deslocar seus ativos para lá.
A bem da verdade, o quadro conjuntural atual é uma oportunidade.
Poder-se-ia catalisar a vocação de São Paulo como centro financeiro internacional e porta de investimentos para a América do Sul, à semelhança do que Londres é na Europa e Hong Kong na Ásia. Em vez de trasladar empregos para fora, seriam criados mais postos de trabalho aqui dentro.
A concretização desse projeto depende apenas de mudar o tratamento dado a ativos financeiros estrangeiros. As restrições existentes são da época que o Brasil tinha escassez crônica de divisas. Hoje, o problema é o oposto. Atualmente, uma empresa não tem limites para estocar carros americanos, vinhos argentinos e perfumes franceses, mas tem restrições para guardar dólares, pesos e euros.
É um anacronismo com efeitos adversos na taxa de câmbio e, o que é pior, no produto e no emprego.
O que é um problema, o excesso de dólares, é uma oportunidade. O sistema financeiro nacional é sofisticado e seguro e tem capacidade de absorver mais do fluxo externo oferecendo ativos em divisas para clientes no país e no exterior. Essa medida, a liberação do câmbio, enalteceria seu papel de canalizador de investimentos para os setores produtivos da economia e diminuiria a volatilidade cambial. Fazer de São Paulo o centro bancário da América do Sul é viável e favorável.
Há mais a ser feito, pois, enquanto no mercado financeiro as idas e vindas da cotação do dólar resultam em lucros e prejuízos, nos setores mais afetados são um risco à sobrevivência.
Medidas para aumentar sua produtividade estão na ordem do dia: eliminação de gargalos da infraestrutura, elevação da segurança física e institucional, realização de reformas microeconômicas e racionalização maior de gastos e tributos do governo.
O ponto do artigo é que está se fazendo a pergunta errada: o que fazer para voltar ao passado? Ou seja, desvalorizar o câmbio e pressionar a inflação e, dessa forma, auxiliar a indústria e a agropecuária.
A indagação correta é: como tirar mais proveito do novo cenário e alavancar o desenvolvimento?

ROBERTO LUIS TROSTER , 59, doutor em economia pela USP, é sócio da Delta. Foi economista-chefe da Febraban, da ABBC e do Banco Itamarati.

O ESGOTO DO BRASIL

MERVAL PEREIRA

Machismo na política

O GLOBO - 15/12/09


A pesquisa do Latinobarômetro, uma ONG sediada no Chile que faz consultas regularmente, desde 1995, sobre valores e opiniões na América Latina, tem uma parte dedicada à análise da discriminação da mulher que pode ser muito útil para entender a relação do eleitorado com as mulheres, numa região em que Argentina e Chile elegeram mulheres para a Presidência da República e, no Brasil, surge como potencial favorita a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do PT à sucessão de Lula, e onde poderemos ainda ter a senadora Marina Silva candidata pelo PV.

O resultado da pesquisa mostra a sociedade latinoamericana ainda fortemente agarrada a preconceitos contra as mulheres. O Brasil não chega a ter o mesmo nível de preconceito de um país da América Central, os mais discriminatórios contra as mulheres, mas também não é nenhum Uruguai, considerado o país mais democrático da região.

O Brasil está na média regional, não estando em nenhum dos casos pesquisados entre aqueles países com menor índice de preconceito.

Na região como um todo, nada menos que 1\/3 dos pesquisados acham, por exemplo, que os homens são melhores do que as mulheres na política, e o Brasil está justamente na média regional.

Segundo o instituto, a discriminação de gênero é um dos indicadores mais potentes para prever o grau de tolerância e de democracia que existe nos países.

Três temas fundamentais para medir a discriminação que as mulheres sofrem nas sociedades latino-americanas foram abordados: o trabalho, o dinheiro e a política.

Repetindo as mesmas perguntas feitas anos atrás, a pesquisa constatou que não há evolução com relação ao trabalho e à política, mas em relação ao dinheiro se observa mudança para melhor no espaço de cinco anos.

Sobre o papel da mulher, a afirmação feita foi: "É melhor que a mulher se concentre no lar, e o homem, no trabalho".

Ou, em bom português, "lugar de mulher é em casa".

Desde 1997, cerca de 36% dos latino-americanos concordam com a afirmação, o que o instituto considera "desalentador", mostrando uma sociedade que não muda no aspecto central do papel da mulher na sociedade.

Há, no entanto, diferenças significativas em alguns países, e até mesmo regiões.

Nos países da América Central estão os maiores índices de discriminação contra as mulheres, com exceção da Costa Rica (31%). Honduras (60%), Guatemala (51%), República Dominicana (46%), Nicarágua (44%), El Salvador (42%) e Panamá (41%) são os países de mais altas taxas.

Há, no entanto, um grupo de países onde é menor a aprovação do papel preponderante da mulher no lar: Uruguai (23%), Chile (25%) e Peru e Venezuela (26%). O Brasil não está entre os países de maior índice, mas também não está entre os de menor: 33% dos pesquisados concordam que lugar de mulher é em casa.

A segunda questão, em relação ao dinheiro, foi pesquisada com a seguinte afirmação: "Se a mulher ganha mais dinheiro que o homem, é certo que terá problemas". Embora nada menos que 48% dos cidadãos na região estejam de acordo com essa afirmação, temos aí um avanço na percepção dos direitos da mulher, já que na pesquisa de 2004 eram 52%.

Argentina (40%) e Uruguai (41%) são os países onde há menor quantidade de pessoas de acordo com essa afirmação, enquanto no México (58%) e na República Dominicana (55%) estão os maiores índices de resposta positiva, que denota discriminação. No Brasil, o índice de concordância com a afirmação machista é de 46%, bem na média da região.

A participação das mulheres na política foi avaliada com uma afirmação: "Os homens são melhores líderes políticos que as mulheres". Segundo o Latinobarômetro, apesar de a América Latina ter dois países presididos por mulheres, esse fato não mudou favoravelmente a percepção dos cidadãos e, sobretudo, Chile e Argentina não são os países que mais aceitam mulheres na política.

Entre os anos de 2004 e 2009 aumentou de 31% a 32% a quantidade de pessoas que está de acordo com a afirmação de que homens são mais eficientes na política do que mulheres.

Na avaliação dos analistas do Latinobarômetro, em vez de ser positiva, a permanência nos mesmos níveis em cinco anos mostra uma resistência à ação das mulheres por parte de 1\/3 da região.

O país em que há o menor grau de aprovação a essa atitude é o Uruguai (19%), considerado o mais democrático da região. Em seguida vêm Peru e México (21%), Chile (22%), Costa Rica (23%), Argentina (26%).

No outro extremo, diz o relatório do Latinobarômetro, estão países da América Central como República Dominicana (51%) e Honduras (46%).

Mais uma vez o Brasil está no meio termo, na média da região com 31% que consideram que homens são melhores que mulheres na política.

Comparando-se as respostas no Chile e na Argentina dadas em pesquisas realizadas antes e depois das eleições de Michelle Bachelet e Cristina Kirchner, constata-se que as mudanças foram diferentes em cada um dos países.

Desde 2004, no Chile houve uma pequena evolução a partir da eleição de Bachelet, com uma queda de 26% para 22% nos que consideram que o homem é melhor do que a mulher na política. Já na Argentina esse índice aumentou de 25% para 26%.

É possível que essa mudança positiva no Chile tenha a ver com o sucesso de Bachelet na Presidência, cujo mandato se encerra com a maior aprovação de todos os presidentes em exercício (85%), o que poderá ajudar a reduzir o machismo na política do Chile.

A sugestão feita por Lula para que o PMDB indique o vice da chapa oficial através de uma lista tríplice está fazendo com que os políticos lembrem um caso de Getulio Vargas, que pediu ao PSD lista tríplice para indicar o interventor de Minas Gerais. Ao recebê-la, fez um comentário casual: "Não estou vendo o nome do dr. Benedito Valladares". Que acabou sendo nomeado. Há quem aposte que a ideia de Lula é colocar na lista tríplice do PMDB o nome do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

ELIANE CANTANHÊDE

O "ponto G" na era Obama

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/09


BRASÍLIA - Diplomacia se faz por sinais, imprensa, cartas. Depois, vem o sub; mais adiante, o ministro; por fim, o encontro dos presidentes, com tudo acertado para dizer, assinar, sorrir. Só foge desse script se Lula decide falar em "ponto G", como na entrevista com Bush, com os tradutores engasgados e o mundo boquiaberto.
Amorim marcou a inflexão brasileira na relação com Obama em agosto, elencando para a Folha os pontos de discórdia: tropas nas bases colombianas, fiasco da Rodada Doha de comércio, recuo na revisão de tarifas do etanol. Depois, voltou à carga, cobrando "franqueza" e falando de "frustração", e Marco Aurélio Garcia tascou uma "decepção". A lista engrossou: Honduras, Copenhague e Irã.
No caso Honduras, o Brasil correu para os EUA ("toma que o filho é teu"), mas querendo ensinar a embalar a criança. Agora, o acordo: interlocução com o eleito, Porfírio Lobo, só com salvo-conduto para Zelaya sair do país.
No de Copenhague, Lula se uniu a Sarkozy e foi buscar os desmobilizados países amazônicos para tomar a dianteira e confrontar os EUA. Mas Obama se mexeu e também jogou metas na mesa. E o Irã? Nem os EUA, a maior potência, nem a França, o maior aliado brasileiro, acreditam que o Brasil vá sensibilizar Ahmadinejad, e ambos rejeitam um "flerte". Mas o fato é que, na carta para Lula, Obama respalda o esforço brasileiro.
Em vez de condenação, há sugestões, até estímulo. Voltando à vaca fria, diplomacia se faz assim: o sub para a região, Arturo Valenzuela, estava ontem em Brasília; a chanceler Hillary Clinton está chegando; Obama vem aí no primeiro trimestre. No fundo, Lula, Amorim, Jobim, Garcia e Samuel latem, mas não mordem. E o "pitbull" sabe a força que tem.

Virtual e real: o PMDB do Congresso fecha com Dilma, mas o PMDB de Minas e São Paulo não.

お子さんを2人以上育てているママ・パパへ5回目の質問です!

今回のピックアップテーマも、みなさんから頂いた情報をへ掲載させていただきますので、ぜひ、ご参加ください!

みなさんから、たくさんの投稿をお待ちしています!
どうも一日振り さて「サマーウォーズ」のDVD化が決まった様ですね 2010年3月3日発売予定だそうです。 やっとですね~ 勿論、ブルーレイ盤も同時発売 ただ値段に物凄い差が… この差はDVDとブルーレイの値段の差だけではなく、特典での差...
声の出演:神木隆之介・桜庭ななみ・谷村美月、細田守監督作品『サマーウォーズ』で、3/3に発売決定『サマーウォーズ』七夕完成披露試写会@新宿バルト9『サマーウォーズ』大ヒット御礼舞台挨拶@新宿バルト9サマーウォーズ 出演:神木 隆之介...

LUIZ GARCIA

Ler modernamente

O GLOBO - 15/12/09


Livros têm seu lado diabólico. Ele se manifesta quando a gente acaba de lêlos.

Em princípio, tudo é muito simples: leitura terminada, estante com ele. Nada mais bonito do que fileiras de lombadas avançando pelas paredes.

Até quem não lê pode tê-las: lembro-me de um sujeito, e já contei essa história uma vez, que enfeitou seu apartamento na Vieira Souto com fileiras de estantes repletas. Não eram livros, mas lombadas de madeira pintada. Parece que o moço queria apenas dar uma impressão de cultura, sem correr o menor risco de ser exposto a ela.

Mas esse não é o seu problema, nem o meu.

Como é que a gente faz, quando se esgota o espaço nas paredes, mas o vício da leitura não tem fim? Especialmente no caso de um alienado viciado em literatura de segunda classe, quase tudo em inglês? Já cheguei ao ponto de oferecer doações, com frete por minha conta, a uma quantidade de sebos. Ninguém se interessou. Mas parece que há luz no fim do túnel: é o tal do Kindle, uma maquininha inventada pelos países civilizados. Parece um caderno de capa dura, fininho mas com uma tela do tamanho da página de um livro de bolso. Funciona parecido com um computador: você compra o livro pela internet na Amazon Books, e as páginas vão se sucedendo na telinha. Tem uma desvantagem: não dá para fazer anotações na margem nem sublinhar trechos notáveis.

Para mim, nenhum problema: não tenho qualquer necessidade de conversar com o que leio, como diversos amigos mais sábios do que eu. Sei que essa confissão liquida qualquer pretensão minha de ser confundido com um intelectual desses que vão para a cama com dois ou três volumes e passam a noite discutindo com os autores.

Mesmo assim, imagino que parte do prazer da leitura pode sumir. A relação tradicional com o livro não tem também um lado táctil, um gostinho de sopesar e folhear? O Kindle certamente preserva o prazer intelectual e emocional da leitura em si — mas não sentiremos falta de virar as páginas, de sentir seu peso? Tenho medo que seja meio parecido com sexo sem carícias inesperadas.

Tolos medos, com certeza. O que importa mesmo é a gente aprender a ler modernamente.

E dar por terminada a guerra das estantes aqui em casa — por falta de combatentes.

GOSTOSA

PAINEL DA FOLHA

Missão cumprida

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO


Lula deixou claro para mais de um auxiliar que não pretende dar satisfações a Michel Temer sobre sua sugestão de que o PMDB apresente uma "lista tríplice" de candidatos a vice de Dilma Rousseff. Pode vir a afagá-lo em público, mas não se enredará numa conversa privada que implique conceder ao presidente da Câmara algum favoritismo na disputa pela vaga.
Isso porque, na contramão da leitura contemporizadora de alguns petistas, houve pouco ou nenhum improviso na fala de Lula no Maranhão. Ele de fato não quer Temer como vice e parece disposto a peitar o comando do PMDB. A poeira do incidente da semana passada vai baixar, mas o recado já foi dado.




Gangorra. As cabeças mais frias do PMDB avaliam que a possibilidade de resistir à vontade de Lula será inversamente proporcional ao desempenho de Dilma nas pesquisas. Quanto mais rapidamente ela subir, menor a chance de o partido impor o nome do vice. Mas, se ela patinar, a coisa muda de figura.

Serial. Quem conhece Lula aposta que o episódio da "lista tríplice" será seguido de outras estocadas no PMDB mais adiante. O presidente poderia, por exemplo, não nomear o secretário-executivo João Reis Santana Filho para o Ministério da Integração Nacional quando Geddel Vieira Lima deixar a pasta para disputar o governo da Bahia.

A favorita. O "eleitorado" em Copenhage nem de longe reflete as pesquisas de intenção de voto no Brasil. Na conferência do clima, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) lutam para conseguir alguma visibilidade, enquanto Marina Silva (PV) é reconhecida e paparicada por todos.

Sem legendas. Do Twitter do deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), direto de Copenhague, minutos antes do discurso de Dilma: "Está sendo exibido um vídeo (em português) sobre a realidade do Brasil segundo o governo". E na sequência: "Vídeo bem feito. Imagens maravilhosas. Mas quem não é brasileiro, naturalmente, não está entendendo nada...".

De olho. A Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), que anunciou em agosto a disposição de não participar da Confecom (Conferência Nacional de Comunicação), enviou vários de seus integrantes ao evento, iniciado ontem em Brasília. Eles foram credenciados como "observadores".

Indigesto. Ainda sob o impacto do Arrudagate, os presidentes dos três partidos de oposição, Rodrigo Maia (DEM), Sérgio Guerra (PSDB) e Roberto Freire (PPS), promovem confraternização hoje em Brasília.

Pano rápido. Durante os dois minutos em que fotógrafos tiveram acesso à reunião de Arruda com o secretariado, o governador suou para tentar demonstrar normalidade. O único assunto permitido foi o andamento de obras.

Pede pra sair. Uma ala do PR dá sinais de insatisfação com a permanência de Izalci Lucas Ferreira, presidente do partido no Distrito Federal, na Secretaria de Ciência e Tecnologia de Arruda. Atribuem ao mensaleiro Valdemar Costa Neto a decisão de não entregar a cadeira.

Tática. Recém-indicado para cargo na Secretaria do Futebol, a ser criada pelo Ministério do Esporte para cuidar de assuntos relativos à Copa de 2014, o delegado Protógenes Queiroz (PC do B) já foi consultor da CBF e teve viagens pagas pela entidade.

Cidade-sede. Ao participar em Veneza de um fórum de cortes europeias, o presidente do STF, Gilmar Mendes, acertou a realização no Rio, em janeiro de 2011, da 2ª Conferência Mundial de Cortes Constitucionais. Mais de cem delegações devem participar.

com SÍLVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

No debate sobre a divisão dos royalties do pré-sal, é preciso cuidar para que a pressão dos Estado produtores não vire um "preção".

Do deputado JOSÉ MENTOR (PT-SP), sobre o projeto que ainda aguarda a votação de destaques na Câmara para depois ir ao Senado.

Contraponto

Lanterninha Na noite de domingo, um grupo de tucanos foi ao Cine Academia, em Brasília, assistir a "Abraços Partidos". Antes do novo filme de Pedro Almodóvar, surgiu na tela o trailer de "Lula, o Filho do Brasil", em imagem tão desfocada que a sessão teve de ser interrompida.
Feito o ajuste necessário, retomou-se a exibição dos trechos da cinebiografia do presidente, só que desta vez sem som. Quando a sessão foi novamente interrompida e as luzes se acenderam, um governista que estava no fundo da sala apontou e gritou, para riso geral:
-É tudo culpa da oposição ali na frente!

SANDRA CAVALCANTI

Caras de anjo enganam caras de pau


O Estado de S. Paulo - 15/12/2009

Tinha de acontecer! Estava escrito e só não viu quem não quis ver... Os três Poderes, instalados em Brasília, estão sendo afogados pelo tsunami das ilegalidades consentidas. São caras de anjo enganando caras de pau. E vice-versa!

A História ensina que a democracia só dá bons frutos quando funciona sob a eterna e atenta vigilância de um povo livre e consciente. Do contrário, tudo apodrece.

Infelizmente, a capital do Brasil não produz vigilantes... Uma epidemia de cumplicidades tomou conta daquele silencioso e distante planalto. Ali só se ouvem murmúrios e sussurros. Conversas sempre cifradas. Personagens que se empenham em esconder o que pensam e o que fazem. Caras de anjo que enganam caras de pau e caras de pau que fingem estar sendo enganados...

Primeiro veio o mensalão do PT. Foi um susto, pois o partido era o porta estandarte da moralidade política. Depois apareceu o mensalinho mineiro, exatamente dentro do mesmo modelo. Agora, o mensalão brasiliense, sempre dentro do mesmo modelo.

Por conta deles, várias informações sobre mensalinhos anteriores, só agora descobertos e identificados. Todos seguindo o mesmo modelo: o que o Marcos Valério tornou famoso, que o Dirceu aprovou e para o qual o Delúbio criou toda uma logística.

Podem escrever: ainda vão surgir outros por aí, porque, na verdade, como sentenciou o grande pajé, "tudo isso é caixa 2 e todo mundo sempre fez..."

Muitos sociólogos (!) e cientistas políticos (!) estão oferecendo análises profundas, explicando que a corrupção mora na alma do brasileiro e que todo mundo, em nosso país, por meio do famoso jeitinho ou do sabe-com-quem-está-falando, age assim. Daí a leniência de nossas autoridades e daí a impunidade geral!

O fato é que esse presidencialismo caudilhesco, pelego, sindical, oligárquico e imperial, vigorando há tantos anos, é que cria todas as condições e fornece todas as ocasiões. Depois, providencia as desculpas.

Neste nosso sistema, quando o presidente da República se elege sem que, na mesma eleição e juntamente com ele, fique formada uma segura e legítima base majoritária no Legislativo, o resultado é sempre o mesmo: ou ele compra os aliados, para fingir que governa com o Legislativo, ou dá um golpe.

Tem sido assim ao longo de toda a nossa História republicana. No período da monarquia parlamentar, durante quase sete décadas, o Brasil não viveu um só dia de desobediência às normas constitucionais. Nunca houve estado de sítio nem censura à imprensa. Sem maioria eleita pelo povo, o Gabinete caía e o povo era, de novo, chamado a escolher. Democracia.

Após a implantação da República, durante quase cem anos tivemos dezenas de golpes, quarteladas, revoluções, insurreições e mudanças de Constituição. Sempre por falta de maioria no Congresso. Essa foi a origem do voto proporcional, imposto por Vargas, quando todos os poderes vigilantes dos eleitores do Brasil foram retirados. Esse tipo de voto, além disso, ainda conseguiu ser piorado com a diabólica invenção do coeficiente eleitoral, no governo Geisel. O povo dançou de vez.

O eleitor, no Brasil, é um simples coadjuvante. Nunca tem papel principal e nem sabe o que é voto proporcional... O coitado vota no seu candidato, crente que escolheu alguém. Mal sabe que o voto dele vai servir para eleger outro, que ele talvez nem conheça. Trata-se de uma manobra perversa.

O voto proporcional acabou com o distrito eleitoral. O distrito eleitoral do cidadão passou a ser o seu Estado e o seu município. Para presidente o distrito eleitoral é o País inteiro. E ainda dizem que somos uma República Federativa!

Por conta dessa perversidade política, o eleitor fica a anos-luz de distância dos candidatos. Para estes, o território a ser trabalhado fica imenso. Por isso as campanhas ficaram tão caras, tão dependentes de rádio, televisão, seitas, ONGs e "contribuições generosas de grandes empresas"...

Fica fácil entender a origem do caixa 2. Sujeitas às leis fiscais, as empresas são levadas a encontrar caminhos para financiar os candidatos que lhes parecem ser úteis para seus municípios ou Estados. Mesmo com a ajuda da chamada "propaganda gratuita" no rádio e na TV, os partidos ficam na dependência desses grandes arranjos.

Não é fácil ser candidato a deputado federal num Estado grande ou populoso. Onde, para ir da capital a outra cidade, ele vai levar três dias de embarcação. Ou quatro horas de avião. Ou enfrentar 12 horas de estradas caindo aos pedaços. Daí a importância das telecomunicações. Daí a importância dos minutos de TV e de rádio. Daí essas coligações espúrias, feitas apenas para somar segundos.

Quem provoca caixa 2 é o nosso processo eleitoral! Só quem tem como manobrar caixa 2 faz maioria legislativa. Fica com os representantes do povo em suas rédeas. Faz o que bem entende com o Legislativo, com o orçamento e com a opinião pública.

Isso explica por que jamais será feita uma reforma política neste país. Os donos do poder não querem. Não interessa a eles. E essa história de o atual presidente dizer que enviou uma proposta ao Congresso é um escárnio! Ao contrário, Lula e o PT acabaram com a cláusula de barreira assim que puderam. Montaram um esquema de facilidades para infidelidades. Inventaram tortuosos caminhos para um tal de financiamento público, que é uma vergonha. E agora, quando o último mensalão foi praticado por políticos fora do PT, o chefão estufa o peito e acha que está na hora de tomar providências. Que providências? As que ele tomou com a sua gente? Tirando o autor da denúncia e o líder que foi apanhado com a boca na botija, quem sofreu alguma coisa?

Conversa. Conversa de cara de pau querendo enganar cara de anjo. Ou vice-versa...

Sandra Cavalcanti, professora, jornalista, foi deputada federal
constituinte, secretária de Serviços Sociais no governo Carlos Lacerda, fundou e presidiu o BNH no governo Castelo Branco.

ARNALDO JABOR

Vou ter saudades de tudo

O GLOBO - 15/12/09


Eu andava pela rua São Francisco Xavier. Eram os anos 30. Tudo em preto e branco, como num filme mudo. Nas calçadas, passavam homens de chapéu, mulheres de luvas e saias compridas. Eu ia em direção a casa de minha avó. Toquei a sineta da porta e ela surgiu. Cabeça toda branca, minha avó desceu até o portão: “Que o senhor deseja”– perguntou, sorrindo, mas desconfiada.

“Bem, dona Lucilia, é o seguinte: a senhora não me conhece, mas eu sou seu neto. Só que eu ainda não nasci, mas resolvi passar por aqui e pedir sua benção...” Minha avó me olhou com medo, a sineta disparou a tocar sozinha como um alarme, e eu acordei, sentindo uma infinita saudade dessa época em que eu não existia.

Acho que foi um típico sonho de fim de ano, que é festejado para esquecermos o tempo. A solidariedade natalina, as castanhas e panetones, os brindes felizes, tudo serve para banir a morte de nossas cabeças. “Como morrer num dia assim, com um sol assim?”, cantou Olavo Bilac.

Uma vez li um texto do Nabokov em que ele conta que vira umas fotografias de família, tiradas antes de seu nascimento. Sentiu-se numa pré-morte, abandonado antes de viver, traído por seus parentes, rindo, felizes sem ele. É impossível entender a não existência.

Li um texto incrível do Martis Amis sobre os últimos momentos do Muhamad Atta, o comandante do ataque as torres do WTC, no 11 de setembro. Ele afirma que Atta não era religioso, nem político, nem revolucionário. Não acreditava em Alá; apenas queria conhecer o inominável, o segundo em que a vida acaba contra a muralha.

O grande terror é sabermos que, mortos, ficaremos desatualizados logo, logo. As notícias vão rolar e eu de nada saberei. Haverá crises mundiais, filmes que estreiam, músicas lindas, e eu lá embaixo, sem saber das novidades? Quem ganhou a Copa? É insuportável a desinformação dos falecidos.

Meu avô disse uma vez: “Acho triste morrer, seu Arnaldinho, porque nunca mais vou ver a avenida Rio Branco...” Isso me emocionou.
Há um menu de mortes, vividas de mil maneiras, ou melhor, não se vive a morte, óbvio, pois estamos no furo da tragédia, no olho do fim. A morte não está nem aí para nós; ela tem “vida própria”.

A morte ignora nossos méritos, nossas obras. Ela é uma simples mutação da matéria que se cansa de resistir à vida. Às vezes, quando tenho vontade de morrer, imagino, por exemplo, o mar da Bahia: vou deixar esse céu azul colado no grande oceano que bate em pedras negras com o sol afogado no horizonte? Vou sair daqui para ir aonde? Ao encontro de Deus? Não é que Deus esteja em tudo; tudo é Deus, como o grande gênio Espinosa sacou. Viver é ver Deus, ali, na galáxia e no orgasmo, no buraco negro e no coração batendo – tudo a mesma coisa.

Desculpem o papo-cabeça, mas final de ano me faz “filosófico”...
Por isso, quando penso que não irei ao meu enterro, tremo de pena de mim mesmo. Vou ter saudades de tudo. Acho triste a lagoa azul e roxa no fim da tarde do Rio e eu sem ver nada.

Debaixo da terra, terei saudades apenas de irrelevâncias: algumas tardes nubladas de domingo, quando o ar fica parado, com urubus dormindo na perna do vento; terei saudades do cafezinho, de beiras de botequins, do uisquinho ao cair da tarde em Ipanema. Não terei saudades deste mundo febril; só de quietudes.

Terei saudades de alguns raros instantes sem medo ou culpa, de momentos de felicidade sem motivo ao ouvir, digamos, “Sophisticated Lady” no sax de Ben Webster e Billy Holliday, João Gilberto, Matisse, Rimbaud, João Cabral, “Cantando na Chuva”, terei saudades de Fred Astaire dançando “Begin the Beguine” com Eleanor Powell.

Nada de grandes prazeres globais, só calmarias: o silêncio entre amigos na paz de um bar, risos e camaradagem de subúrbio, Noel Rosa, pernas cruzadas de mulheres lindas e inatingíveis, Paris (claro), o tremor de medo e desejo da mulher na hora do amor, a timidez, a delicadeza, a súbita alegria de uma vitória, o prazer da arte, Fellini, Chaplin, Shakespeare, terei saudades do desejo e, claro, do meu Brasil.

Há mortes súbitas e lentas. Você, frágil leitor, qual prefere? Eu queria morrer como o velho Zorba, o grego, em pé, na janela, olhando a paisagem iluminada. E, como ele, dando um berro de despedida. Mas não tenho sua grandeza épica.