segunda-feira, dezembro 14, 2009

FERNANDO ABRUCIO

Nossa Política
Revista Época


Salvem Brasília da máfia que a governa


Fernando Abrucio é doutor em Ciência Política pela USP, professor da Fundação Getúlio Vargas (SP) e escreve quinzenalmente em ÉPOCA

A discussão sobre o “escândalo do panetone” não tem tocado na verdadeira causa da tragédia política brasiliense. Todos aqueles vídeos não podem ser explicados apenas por falhas das instituições brasileiras. Brasília, com exceção da gestão de Cristovam Buarque, tem sido governada por uma máfia que a domina desde que a capital ganhou independência política. O pior é que esses “donos do poder” local têm sua força ligada a três fortes instrumentos de poder.

O primeiro diz respeito à enorme parcela de recursos federais que o Distrito Federal recebe. Com esse acréscimo substancial em seu orçamento, o governador pode fazer os gastos básicos sem se preocupar muito com o desgaste de cobrar mais tributos dos brasilienses. Também tem condições de aumentar a política clientelista para as cidades satélites e, mais recentemente, elevar as despesas com obras viárias para o conforto das pessoas do Plano Piloto. É o melhor dos cenários para qualquer governante: não há restrição orçamentária forte e é possível conseguir mais dinheiro de outro nível de governo.

Nessa situação, o governo federal fica numa posição muito difícil. Isso porque as principais instituições nacionais estão em Brasília, e o bom funcionamento do Plano Piloto é uma salvaguarda à governabilidade. Paradoxalmente, conseguiu-se isolar tanto o território brasiliense daquilo que é efetivamente o Brasil – inclusive até do entorno da cidade – que se produziu uma verdadeira “bolha de plástico”, um mundo político autista em relação à sociedade.

A situação financeira privilegiada garantida pela União é acompanhada por uma enorme autonomia político-administrativa. Novamente, é o melhor dos mundos para um governante, porque ele aumenta seus instrumentos de poder sem precisar ser mais responsável perante as fontes dos recursos. O governador de Brasília é um chefe do Executivo quase sem a obrigação de prestar contas a quem lhe sustenta. É um cenário perfeito para máfias e caçadores de renda pública dominarem o Estado.

Pode parecer impossível, mas há oito anos o Espírito Santo estava na mesma situação – e hoje prospera O segundo fator que favorece os “donos do poder” brasiliense refere-se à formação do eleitorado local. Esse aspecto envolve dois processos. Um deles é que, em Brasília, o Estado não só veio antes da comunidade politicamente organizada, como grande parte da sociedade depende do governo para sobreviver. Isso enfraquece a ideia de cidadania. Tal situação também aparece noutras capitais pelo mundo, que enfrentam dificuldades semelhantes do ponto de vista democrático. Mas nenhuma delas tem a autonomia do Distrito Federal.

O grande diferencial da capital brasileira em termos eleitorais está noutro aspecto. A maior parte do eleitorado vive nas cidades-satélites, em regiões que cresceram incentivadas pela distribuição de terras e outras prebendas para a população local, formada por gente que migrou para fugir da pobreza. A construção desse rebanho eleitoral foi feita por políticos que têm dominado a política brasiliense. O governo Arruda está repleto de lideranças vinculadas a esse grupo, e a Câmara Distrital mais ainda. Novos líderes têm surgido com outras vinculações sociais, mas eles não são hegemônicos. Quem quiser ganhar a eleição de 2010 terá de conquistar a clientela criada pela máfia de Roriz e companhia.

Para completar o quadro do poder, o grupo que domina Brasília é ligado às principais atividades econômicas mercantis da cidade. Mais particularmente à área da construção civil, em aliança com setores cujo maior cliente é o Estado. A importância deles começa no quase monopólio do financiamento de campanha e termina nas obras e serviços públicos. Completa-se aí o ciclo que vai gerar a corrupção e o jogo de chantagens que vigora na relação entre os Poderes.

A alteração desse quadro passa por mudanças profundas no sistema político brasiliense. Pode parecer impossível, mas cabe lembrar que o Espírito Santo estava, há oito anos, na mesma situação. O governador Paulo Hartung teve coragem de enfrentar a máfia que estava incrustada no Estado e encontrou apoio para isso. Quem pode, em Brasília, como regente e com apoio político-social, cumprir esse papel?

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS

MERCADO ABERTO

Banco quer individualizar culpa por quebra

Termina na próxima sexta-feira, dia 18, a audiência pública realizada pelo Banco Central para o projeto da lei que vai estabelecer novas regras para a liquidação e a falência de instituições financeiras no país. Tal norma substituirá leis de 1974, 1987 e 1997 e representa um pleito antigo do setor.
Segundo fontes familiares com o assunto, entidades de classe como a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) têm como principal sugestão a acrescentar à proposta inicial divulgada pelo BC uma melhor divisão de responsabilidades entre os dirigentes das instituições no caso de intervenção.
Atualmente, quando um banco enfrenta problemas e precisa ser fechado, os seus gestores acabam assumindo parcelas iguais de culpa nas esferas judiciais. Porém, na opinião de executivos da área financeira, cada um deve responder individualmente pelas operações que levaram às dificuldades da instituição. Nenhuma das duas entidades quis fazer comentários a respeito.
"A ideia do BC é atualizar os procedimentos repetindo o sucesso da nova Lei de Falências para empresas de outros segmentos, a qual faz cinco anos em 2010 e facilitou sobremaneira a recuperação judicial", diz Augusto Carneiro de Oliveira Filho, sócio do escritório de advocacia Siqueira Castro. "Outro objetivo é dar mais agilidade para a autoridade identificar dificuldades e agir. E também para acelerar os trâmites no caso de uma liquidação."
Começar uma intervenção, hoje, é decretar a morte do banco em questão. No entanto, com o novo mecanismo, seria até possível sanear a instituição sem precisar fechá-la, de acordo com especialistas.

"A ideia do novo projeto de lei é atualizar os procedimentos repetindo o sucesso da lei de falências para empresas de outros segmentos"
AUGUSTO CARNEIRO DE OLIVEIRA FILHO
sócio do escritório de advocacia Siqueira Castro

YES, NÓS TEMOS DESIGN
Em 2010, o badalado circuito Fuori Salone terá um espaço todo dedicado aos fabricantes brasileiros durante o Salão do Móvel de Milão. Quem leva os expositores são as empresas de eventos e marketing de relacionamento Connect 360 e Moreira do Valle. "Nosso endereço será a Via Tortona, onde se concentram os produtos mais bacanas e conceituais. Queremos mostrar que o Brasil também possui um design criativo", diz Sandra Sobral, da Connect 360. "E que é inovador em tecnologias, como a de acabamento, por exemplo. Muitas tendências são criadas no país e só depois aparecem na Europa", completa Ricardo Caminada, seu sócio. Empresas de outros setores que queiram mostrar produtos que divulguem a cultura brasileira também são bem-vindas.

CABIDE
A grife carioca Animale vai na contramão de marcas famosas da moda brasileira que foram vendidas a grandes companhias do setor e quer construir, ela mesma, o seu grupo. A empresa lançou a marca A.Brand, com investimentos de R$ 4 milhões para a primeira loja, e planeja abrir outras cinco no próximo ano. A expectativa é vender 20.000 peças em 2010 e alcançar faturamento de R$ 15 milhões no primeiro ano, segundo Roberto Jatahy, presidente da empresa. "Pensamos em criar outra marca em 2011. Paralelamente, estamos conversando com três marcas em busca de associação ou compra", diz.

COBRE
Cerca de 35% dos empresários da indústria do cobre afirmam que o faturamento líquido cresceu mais que 10% no terceiro trimestre de 2009 ante o mesmo período de 2008, segundo estudo da Associação Brasileira do Cobre. Alta de até 10% foi registrada por 40% das empresas.

NA ÁREA
A Dimension Data, sul-africana de serviços de TI, vai ampliar sua presença no Brasil em 2010. Com faturamento global de U$ 4 bilhões, a empresa deve abrir escritórios em Belo Horizonte, Rio e Porto Alegre.

INFÂNCIA
O Nobel de Economia James Heckman vai dar palestra no "Meeting On Early Childhood Education", evento organizado pela Academia Brasileira de Ciências, nos dias 17 e 18, na FGV do Rio. Heckman é um dos maiores estudiosos da economia na infância.

MOBILIDADE O Banco do Brasil, em parceria com a Samsung, vai lançar um leitor de código de barras pelo celular. O aplicativo captura o código de barras de boletos e contas de água, luz, telefone e outros pela câmera do aparelho.

com JOANA CUNHA e DENYSE GODOY

RAUL VELLOSO

Euforia arriscada


O Estado de S. Paulo - 14/12/2009

Reina total euforia sobre o estado e as perspectivas da economia brasileira. É um grande contraste com o que ocorria há bem pouco tempo. Em fins de 2002, chegávamos a uma encruzilhada. Mesmo tendo feito progressos importantes (inflação baixa, superávits fiscais recordes e câmbio flutuante), a dívida pública crescia mais que o PIB desde muito. Ali, era imperioso aumentar ainda mais os superávits fiscais. Só que as armas de sempre (aumento de impostos e corte de investimentos) estavam esgotadas. E predominava uma espécie de modelo de expansão dos gastos públicos correntes, que ainda hoje está de pé. Só se evitaria a volta da inflação se os juros caíssem por alguma razão que não um maior ajuste fiscal.

Sorte nossa. Sob a bonança 2002-2008, houve uma inédita inundação de dinheiro externo no País. Em parte, veio de presente (via aumento do valor médio de nossas exportações), em parte sob a forma de financiamentos e aportes de capital. O câmbio desabou, os juros caíram, a economia passou a crescer mais, e a razão entre a dívida e o PIB passou a decrescer celeremente. Pasmem: os resultados fiscais até aumentaram, mesmo sem precisar fazer qualquer esforço adicional.

Antes de a crise estourar, no final de 2008, ficava claro, contudo, que, mesmo o setor público tendo melhorado sua situação de solvência, ele ainda prejudicava o equilíbrio macroeconômico do Brasil. Com os gastos correntes crescendo sempre (e muito), bastava os investimentos privados começarem a subir para valer (como já está de novo acontecendo em nossas plagas), que os gastos totais passariam a superar o produto doméstico global, criando pressões inflacionárias e sobre as contas externas (de novo, exatamente como está acontecendo agora).

Agora, diante da volta à situação pré-crise no Brasil, os analistas se intercalam entre os que aceitam a inevitabilidade da apreciação cambial e dos crescentes déficits externos em conta corrente (déficits esses viabilizados pela brutal entrada de recursos na conta de capital, que permitem inclusive mais aumento de reservas) e os que condenam o suposto modelo de desindustrialização do País que resulta disso tudo.

Aos eufóricos, devagar com o andor. É bom lembrar que parte relevante dos ingressos de dólares não deve se sustentar quando, em breve, a política expansionista nos Estados Unidos começar a ser revertida. Aí a coisa se inverte. Felizmente, teremos um inédito estoque de reservas para aguentar o tranco por uns tempos.

É preciso também não esquecer que o governo aumentou o ritmo de crescimento dos cada vez mais rígidos gastos públicos correntes, como parte da resposta à crise, e há uma enorme bomba de efeito retardado para estourar nos próximos anos. Só por conta de aumento de salários concedidos recentemente estimam-se gastos adicionais totais de R$ 121 bilhões entre 2008 e 2012. No lado do INSS, somente uma medida em exame no Congresso (que o governo felizmente sinalizou vetar) implica aumento de R$ 76 bilhões, de saída. Outras medidas na área da Previdência têm efeito adicional total sobre o gasto de R$ 14,8 bilhões por ano. Isso vai estreitar ainda mais o espaço para o setor privado gastar e - especialmente - investir, ao tempo que diminui a já reduzida taxa de poupança pública.

Finalmente, é erro achar que dá para financiar gastos públicos de peso como os relacionados à Copa e à Olimpíada automaticamente com empréstimos e capitais externos. Primeiro, porque, enquanto os problemas de insolvência voltam a bater à porta dos governos, estamos cada vez mais estatizantes (como se houvesse dinheiro suficiente para isso). Não quisemos implementar parcerias com o setor privado, além de titubearmos nas concessões de serviços públicos. Mesmo a Petrobrás precisa de novos aportes de capital de seu acionista-controlador para poder entrar mais firme no pré-sal. Cadê a poupança pública adicional para isso? Faz sentido o BNDES expandir tanto suas operações?

Aí está o "x" da questão. Para escolher o modelo econômico que queremos implementar (como, por exemplo, uma ênfase em determinados ramos do setor industrial), é preciso nos qualificarmos, apresentando ao mundo uma razoável taxa de poupança interna. É por isso que a China cresce o que cresce, e com a ênfase que quer dar. Ela poupa mais de 50% do PIB e nós nem sequer chegamos a 20%. Não que os meios tenham de ser os mesmos dos chineses, mas o lugar para fazer isso é no setor público, ou seja, é ali que a taxa de poupança interna tem de aumentar (ou começar a crescer).

Nesse sentido, essa acusação de que o modelo atual leva à desindustrialização do País perde bastante sentido, pelo simples motivo de que já abrimos mão do direito de escolher o modelo que queremos para o País quando priorizamos esse processo de crescimento exagerado e contínuo dos gastos correntes do setor público. Resta surfar na onda externa. Com cenário favorável, crescemos mais. Desfavorável, encolhemos. E a onda boa de agora pode transformar em espuma os empregos dos nossos descendentes.

GOSTOSA

PAULO GUEDES

O sertão vai virar mar

O GLOBO - 14/12/09


A Expo Management é um dos maiores eventos mundiais dedicados ao conhecimento da gestão empresarial. Neste início de dezembro, no encerramento do encontro anual de três dias realizado em São Paulo, tive a oportunidade de debater com Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, sua análise do panorama global.

O desalento de Krugman ante a contundência da crise nos Estados Unidos era indisfarçável. Sua perplexidade trouxe-me a inevitável lembrança de Alan Greenspan em uma conferência há cerca de um ano em Washington. Em minha palestra na ocasião, imediatamente anterior à sua fala, atribuí importante papel na construção da crise ao banco central americano. Greenspan parecia atordoado, suas explicações, pífias, seu espírito, alquebrado.

Para Krugman, a crise começou em 2008 tão mal quanto a Grande Depressão. A produção industrial caiu com a mesma intensidade, e o comércio mundial desabou ainda mais rapidamente do que em 1929. Mas, ao contrário do agravamento então ocorrido naquela crise, tivemos desta vez uma estabilização da produção e do comércio. O ano de 2009 trouxe certo alívio, ensaiando-se até mesmo uma recuperação econômica para 2010. E aqui chegamos a uma bifurcação: o possível descolamento entre as economias avançadas e os mercados emergentes.

Para os países mais ricos, Krugman teme uma recuperação apenas transitória, com sérios riscos de retrocesso. Considera mais provável uma desaceleração do crescimento em 2010, frustrando as projeções favoráveis de recuperação sustentável.

“A nossa munição acabou. As taxas de juros já estão próximas de zero, o impacto dos estímulos fiscais está passando e não haverá apoio político para as medidas ainda mais drásticas que seriam necessárias”, reclama em desespero ante o buraco negro que ameaça engolir a economia americana.

Aliás, o oportuno alerta de Ariano Suassuna de que à volta de um buraco tudo é beira foi a síntese que fiz das expectativas de Krugman para a economia americana nos próximos anos. Afirmando que só após a Segunda Guerra Mundial foram superados os efeitos da Grande Depressão, estimou uma recessão prolongada para os EUA.

A situação é bastante distinta para os emergentes, particularmente o Brasil. A perspectiva de gradual descolamento em relação à crise americana é real.

Os preços das commodities permanecem favoráveis, o contágio financeiro foi superado e são melhores os fundamentos fiscais e monetários. Teremos um agradável desafio: evitar a Bolha Brasil, uma imensa onda de liquidez capaz de derrubar o câmbio, ampliar o crédito e inflar as bolsas em excesso graças a nosso favoritismo nos mercados de capitais globais.

Como se vê, pelo menos para o futuro próximo, a visão de Krugman quanto ao desempenho assimétrico entre avançados e emergentes se assemelha à profecia de Antônio Conselheiro no clássico de Euclides da Cunha: o sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão...

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Cinismo hediondo

Folha de S. Paulo - 14/12/2009

Projeto do Executivo para agravar penas em casos de corrupção é inócuo, pois não enfrenta o problema da impunidade

O ANÚNCIO do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que encaminhará ao Congresso projeto de lei para agravar as penas previstas em casos de crimes de corrupção só pode ser recebido como mais um lance de marketing do primeiro mandatário.
A proposta é a um só tempo redundante e demagógica. Redundante por já existir na Câmara iniciativa para tornar "hedionda" a malversação de dinheiro público; demagógica por tentar fazer crer que o combate aos desvios dependeria do aumento das punições fixadas na legislação.
A atuação do presidente da República, no mensalão do PT, é exemplo de tergiversação e falta de rigor. Preferiu passar a mão na cabeça de apaniguados e, assim, alimentar a verdadeira causa da proliferação desses crimes: a expectativa de impunidade.
É a certeza de que haverá punição -mais que o tamanho da pena- o fator de desestímulo a práticas criminosas. Quem conta com a ausência de penalidades não está preocupado se está sujeito pela lei a cumprir dois anos de prisão a mais ou a menos.
A perspectiva de que o tema da corrupção seja esquecido nas próximas eleições, pelo fato de todas as facções terem sido flagradas em irregularidades, só aumenta o temor de que a vida pública continue a ser um caminho para o enriquecimento ilícito.
A tamanho descontrole, o eleitor reage com indiferença ou com tentativas de impor algum crivo ético. É o caso do projeto que pretende vetar a candidatura de políticos com "ficha suja", uma iniciativa popular, com cerca de 1,5 milhão de assinaturas, encaminhada ao Congresso.
Embora o intuito seja elogiável, é controvertido impedir que alguém se candidate antes de ser condenado em definitivo, após esgotadas todas as possibilidades de recurso. A iniciativa em tela, porém, pretende cassar os direitos de políticos condenados em primeira instância ou cuja denúncia criminal tenha sido aceita por um tribunal de segunda ou terceira instâncias.
Não seria difícil a um rival mal-intencionado promover a abertura de processos contra adversários e obter sua condenação em varas locais. Tribunais de Justiça -a cúpula do Judiciário estadual- seriam isentos ao julgarem adversários do grupo político que nomeou a maioria dos desembargadores? No caso de políticos com passagem pelo Executivo, é comum que sejam alvo de muitas ações judiciais. Não há saída a não ser aguardar o trânsito em julgado das ações.
O dilema é que, à luz de um sistema judicial moroso, a presunção de inocência pode tornar-se proteção de longo prazo para presumíveis culpados. Nesses casos, mais uma vez, a sensação de impunidade prevalecerá.
É preciso acelerar o trâmite dos processos sem tisnar a garantia fundamental da presunção de inocência. Acabar com a miríade de recursos protelatórios de defesa e impedir que casos simples tenham sempre de subir ao Supremo são iniciativas que apontam nessa direção.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

GEORGE VIDOR

Precipitados

O GLOBO - 14/12/09


A economia brasileira já está crescendo a um ritmo de 5% ao ano. Para sustentar essa expansão, sem depender de financiamentos externos em proporção que possa deixar o país mais vulnerável a crises vindas lá de fora, a economia precisa investir o equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB), pelo menos. O IBGE mostrou que devemos estar próximos a isso, no momento.

No terceiro trimestre do ano houve uma boa recuperação do investimento e tudo indica que a formação bruta de capital fixo continua se acelerando, impulsionada tanto pela compra de máquinas e equipamentos como pela construção civil. O ano pode fechar até com uma taxa de investimento em torno de 19% do PIB. Nesse caso, a torcida para que as taxas básicas de juros voltem a subir o quanto antes parece precipitada.

Alguns índices de preços, como os da Fundação Getulio Vargas, continuam registrando deflação. Pode-se até discutir a metodologia adotada pela FGV, mas o comportamento desses índices não merece ser desprezado.

Como o sistema financeiro brasileiro se habituou a juros excessivamente altos, taxas básicas abaixo de 10% ao ano é que são vistas como aberração.

No entanto, a aberração é exatamente essa perpetuação dos juros altos. A economia brasileira nunca esteve diante de uma oportunidade tão grande para se livrar de tal anomalia. E não pode deixar que ela escape.

Agora este mês será instalada a peça (um tipo de comporta) que controlará o enchimento e o esvaziamento do dique seco do estaleiro Atlântico Sul, em Suape. Com isso, foi mantida a previsão de lançamento ao mar, em fevereiro de 2010, do primeiro navio petroleiro encomendado pela Transpetro no seu programa de renovação e ampliação da frota. O segundo navio a ser lançado ao mar está previsto para abril, no Estaleiro Mauá, em Niterói.

Ao todo, em 2010, serão lançados ao mar seis navios (quatro no Atlântico Sul e dois no Mauá), dos quais quatro ou cinco serão imediatamente incorporados à frota da Transpetro depois de concluídos e testados — geralmente de dois a três meses após o lançamento da embarcação.

A extensa área onde está instalada a siderúrgica ThyssenKrupp CSA (equivalente aos bairros de Ipanema e Leblon juntos), em Santa Cruz, está preparada para a companhia duplicar sua capacidade de produção de placas de aço, chegando, um dia, a dez milhões de toneladas anuais.

Não existe definição de quando isso acontecerá, até porque o mercado mundial de aço foi um dos mais atingidos pela crise financeira que abalou o planeta no fim do ano passado. No entanto, a duplicação custará bem menos do que os C 5 bilhões previstos para o investimento inicial, pois parte da infraestrutura e algumas instalações (o terminal portuário, os descarregadores de minérios, o virador de vagões e o centro administrativo, por exemplo) atenderão também à expansão. A macrodrenagem foi feita e a ThyssenKrupp aprendeu muito com a obra, de modo que poderá encurtar etapas e obter ganhos de produtividade.

Mas, antes da duplicação, ou até juntamente com ela, faz sentido que a siderúrgica venha a ter um laminador que utilize uma parcela de suas placas de aço, cuja produção hoje está prevista para ser totalmente exportada.

Como o cenário do mercado mundial mudou, oportunidades na demanda interna de aço no Brasil se tornaram atraentes (exemplo: chapas para a construção de navios e plataformas de petróleo). Tais encomendas têm sido atendidas majoritariamente por importações, e um pouco pela Usiminas.

A hipótese de instalação desse laminador surgiu por aqui, mas os executivos da CSA desconhecem o projeto.

Só tomaram conhecimento do assunto pela imprensa.

Países de economia emergente, como o Brasil, optaram por assumir metas voluntárias de redução de emissão de gases apontados como causadores do efeito estufa porque assim não ficarão sujeitos a sanções se não conseguirem alcançar os objetivos. As metas compulsórias de redução, nos moldes que foram assumidas pelo Japão e por países europeus no Acordo de Kioto, envolvem sanções. Esses compromissos de redução são redistribuídos por setores econômicos, chegando-se a estipular quotas por empresa.

Na Alemanha, para cada tonelada de CO2, ou outro gás poluente, emitida além da quota, a empresa que não cumpre o objetivo tem de pagar o correspondente a US$ 100. Nesse caso, para a companhia é preferível comprar no mercado — por cerca de US$ 20 a tonelada — um crédito de carbono em igual volume, em projetos com certificados de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL).

Embora as metas de Kioto tenham sido definidas até 2012, é bem provável que de Copenhague saia a decisão de se estimular a troca de créditos de carbono.

E o Brasil, que só terá metas voluntárias, espera que o esforço para manter florestas em pé e projetos de reflorestamento sejam recompensados com um novo tipo de MDL, conhecido pela sigla em inglês REDD.

Em boa hora foi suspenso o leilão de energia nova programado para dezembro.

Futuras hidrelétricas ficariam de fora.

VINICIUS TORRES FREIRE

Samuelson, morto ontem, foi mentor da economia moderna

Nobel fez síntese da economia moderna

Folha de S. Paulo - 14/12/2009

OS MAIORES economistas da segunda metade do século 20, os americanos pelo menos, consideram Paul Samuelson um grande mentor disso que é hoje a economia moderna, na sua vertente dominante, "mainstream". Samuelson, é claro, não inventou as ideias básicas do que veio a ser a economia depois dos anos 1930. A partir de 1939, com 25 anos, deu "contribuições fundamentais a praticamente todos os ramos da teoria econômica", como escreveu Stanley Fischer. Mas quem inventou isso que se chama hoje de macroeconomia foi o britânico John Maynard Keynes. Samuelson foi na verdade um dos grandes elos da cadeia que liga as primeiras tentativas de formalizar o pensamento keynesiano ao que viria a ser a corrente principal do pensamento econômico. Esse elo foi a chamada "síntese neoclássica".
Nos trabalhos de Samuelson, o instrumento maior dessa transformação foi o emprego de modelos econômicos (explicações esquemáticas da realidade) fundamentados e desenvolvidos por meio de análise matemática, como em seu "Fundamentos da Análise Econômica".
Em 1948, Samuelson publicaria "Economia", o livro-texto ("manual") que dominaria o ensino de macroeconomia, em nível de graduação, até os anos 1970. Foi a obra que ensinou o keynesianismo algo mitigado dos neoclássicos aos estudantes por mais de 30 anos.
O grande livro de Keynes foi publicado em 1936, quando a teoria econômica e a economia mundial estavam em ruínas. A economia "clássica" não dava conta de explicar e resolver o problema do grande e prolongado desemprego de meios de produção (trabalho e capital). Era dominante a ideia de que, num mercado competitivo, os preços ajustavam oferta e demanda e mantinham e economia próxima de seu nível de equilíbrio e em pleno emprego. Com Keynes surgiram as ideias de que, em casos de crises longas de demanda e emprego, é preciso que governos estimulem consumo e investimento de modo a tirar o mercado de sua catatonia. Entre suas contribuições, Keynes mostrou que uma queda na demanda pode produzir uma queda ainda maior, "multiplicada", no produto, indicou como a política monetária afeta juros e demanda, e enfatizou a importância das expectativas de empresários e consumidores na determinação do consumo e do investimento. Os neoclássicos não jogaram no lixo a ideia de mercados livres, com demanda e oferta orientadas por preços. Mas integraram Keynes e os "clássicos".
Samuelson publicou trabalhos que formalizaram e desenvolveram a ideia de multiplicador de Keynes e do ciclo econômico, elaborou fundamentos do que viria a ser a teoria de precificação de ativos (de aplicações financeiras), criou métodos para estudar a transferência de riqueza entre gerações (o que baseou estudos sobre a Previdência Social). Deu contribuições à teoria do comércio -dizia que o comércio livre pode fazer perdedores mesmo em países avançados, embora fosse a favor do livre comércio (os benefícios seriam bastantes até para compensar os "perdedores").
Ensinou a vida toda no MIT. Dizem que não foi contratado em Harvard por causa de antissemitismo, em 1940. Recusou o cargo de principal assessor econômico de John Kennedy, em 1960, para, dizia, poder escrever e dizer o que lhe desse na telha. Apesar de ter ajudado a "matematizar" a economia e de seu rigor, era tido como eclético em teoria e de modo algum dogmático em questões de política econômica.

"A maioria dos economistas adoraria escrever um estudo seminal -um trabalho que mudasse profundamente o modo como as pessoas pensam sobre algum assunto. Samuelson escreveu dezenas"
PAUL KRUGMAN
prêmio Nobel de Economia

O ABILOLADO TRABALHANDO

FERNANDO RODRIGUES

Como nasce um coronel

FOLHA DE SÃO PAULO - 14/12/09

BRASÍLIA - Há um elo entre os escândalos recentes e alguns personagens no Congresso. São os especialistas em minimizar danos de crises produzidas pela impostura própria ou de aliados.
O epítome desse agrupamento atende pelo nome de Antonio Carlos Magalhães Neto, o deputado ACM Neto, do Democratas (ex-PFL, ex-Arena) da Bahia.
Aos 30 anos, neto de ACM (1927-2007) e sobrinho de Luís Eduardo Magalhães (1955-1998), o jovem deputado descende de uma oligarquia de raiz antidemocrática. Honra seu passado como pode. Neto, como é chamado, trabalhou neste ano na operação-abafa de três grandes casos: o do deputado do castelo, o das verbas indenizatórias e o do mensalão do DEM.
Eleito corregedor da Câmara em fevereiro, sua primeira obra foi adotar medidas protelatórias para esfriar o caso Edmar Moreira (à época no DEM), cujo nome ficou atrelado a um castelo kitsch no interior de Minas Gerais. Acusado de usar dinheiro público de forma irregular, Moreira foi absolvido.
Mais adiante, Neto viu-se diante de dezenas de deputados usando verbas indenizatórias (R$ 15 mil mensais) de forma criminosa. Deram notas fiscais frias, pagaram serviços de suas próprias empresas ou torraram os recursos em campanhas eleitorais.Tudo ilegal.
Quando já ia fazendo o que mais aprecia -ou seja, nada-, o corregedor da Câmara beneficiou-se com o estouro do mensalão do DEM. Nada como um novo escândalo para encobrir o anterior. Neto mudou o foco. Passou a defender a não punição imediata do governador de Brasília, José Roberto Arruda, acusado de comandar um esquema de distribuição de propinas.
Arruda está rumo à salvação. Saiu do DEM sem ser expulso. E as verbas indenizatórias gastas de maneira ilegal? Esses crimes Neto engavetará no ano que vem.

TODA MÍDIA

Comissão da Verdade

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 14/12/09


Em destaque no UOL, ontem, "Brasil terá Comissão da Verdade sobre ditadura". Em entrevista a Haroldo Ceravolo Sereza, o ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, adiantou que o projeto de lei vai para o Congresso até abril, criando um órgão "como Chile, Argentina e Uruguai já tiveram". Vanucchi cita frase da chilena Michele Bachelet:
"Não queremos sangrar feridas antigas. Queremos que cicatrizem. E só feridas bem lavadas cicatrizam".
Ecoou já ontem por Associated Press, sob o título "Brasil investigará tortura durante ditadura", Efe, Ansa e outras agências.


"CÍNICO"
Tony Blair diz à BBC que, sem as "armas de destruição em massa", buscaria outro motivo para derrubar Saddam Hussein. A oposição diz que já é sua defesa no inquérito da guerra


GUERRA JUSTA
Ao longo da última semana, a britânica Shell fechou acordo de exploração de petróleo no Iraque, bem como a francesa Total e várias outras. Antes haviam fechado acordos a americana ExxonMobil e a também britânica BP. E assim, no título do "Financial Times", "Iraque está prestes a se tornar o segundo na liga do petróleo", com produção inferior à da Arábia Saudita e superior à do Irã.
A "Time" da última semana, em reportagem sobre os novos contratos, destacou que nas manifestações contra a invasão, em 2003 na Europa e nos Estados Unidos, a "acusação" era de que "a guerra servirá meramente à apropriação das vastas reservas de petróleo do país pelas companhias ocidentais".

DILMA E CHINA VS. EUA
Em destaque por Folha Online e outros no meio do dia, "Dilma diz que proposta dos EUA é decepcionante". Foi uma expressão da ministra em artigo no jornal "O Estado de S. Paulo", pouco antes de desembarcar em Copenhague para as negociações sobre mudança climática. "A proposta dos EUA equivale a cortar meros 4% de suas emissões. É decepcionante, para um país que responde por 29% das emissões globais."
Também por Folha Online e "China Daily", o enviado da China a Copenhague se declarou "chocado" com os EUA, contrário ao uso de recursos dos ricos no apoio ao corte de emissões dos emergentes.

AS USINAS
No alto das buscas de Brasil por Yahoo News, "Projetos na Amazônia enfraquecem novo caminho ambiental do Brasil", reportagem especial de Raymond Colitt para a Reuters, desde Porto Velho. Na foto, já com obras em andamento, a usina de Santo Antônio

"Para isso, ela tem de falar com a alma."
Do rapper MANO BROWN, que "diz ter vontade que Dilma Rousseff seja escolhida" em 2010, em entrevista à "Rolling Stone". Ele "admite votar em Dilma, mas não descarta Marina Silva".

"EU MESMA"
A nova edição da "Veja" informa que Lula avisou que, "se na reta final a parada estiver muito complicada para Dilma, ele pedirá licença do cargo e rasgará o Brasil de ponta a ponta em campanha".
De outro lado, passado o programa do PT, a peruca fica, mas, "apesar de ceder no caso, Dilma anda sem paciência para cuidar da imagem" e diz:
"Desisti de mudar, agora serei eu mesma."

QUÉRCIA & SERRA
Na submanchete da Folha Online, "Orestes Quércia é reeleito presidente do PMDB de São Paulo e fortalece José Serra para 2010". Também no portal UOL, "Aliado de Serra, Quércia é reeleito".
E o presidente do PMDB nacional, Michel Temer, insinuou retirar seu apoio à candidata de Lula.

"SOLIDARIEDADE"
Os recados começaram quando seu nome surgiu em lista da construtora Camargo Corrêa, "citado 21 vezes como tendo recebido US$ 345 mil", e em uma das gravações do "mensalão do DEM".
No enunciado do Radar, com o primeiro recado, dia 4, "Temer: Serra ligou, Lula e Dilma, não".

NA ERA DIGITAL
O site Teletime fechou a semana com a programação da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, Confecom, que Lula abre hoje em Brasília com o tema "Meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital". Nos painéis, entre outros, a deputada Luiza Erundina fala pela "sociedade civil" e o superintendente da Telebrasil, César Rômulo, fala sobre "sociedade civil empresarial".

GOSTOSA

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Aos tucanos, as batatas

FOLHA DE SÃO PAULO - 14/12/09


SÃO PAULO - Faltando 17 dias para acabar o ano, PT e PSDB esperam as últimas pesquisas de 2009 para conhecer o impacto eleitoral dos programas que ambos exibiram recentemente na TV. É possível que a dianteira de José Serra, até hoje uma constante, não tenha sido abalada, mas os tucanos devem ter muito com que se preocupar. Consolida-se no meio político a percepção de que o governo entra em 2010 muito fortalecido -como favorito?
São três, em resumo, os fatores que projetam uma sombra de dúvidas sobre a liderança tucana: a alta popularidade de Lula, as previsões de crescimento substantivo para o próximo ano e as realizações do governo na área social, contra as quais a oposição não terá muito o que dizer sem passar vexame.
No PT, as interrogações se voltam para a capacidade que terá a candidata Dilma Rousseff de associar sua imagem à do Papai Noel que Lula se tornou. Já entre os tucanos, a dúvida é de outra ordem: o que dizer? O que defender? Como enfrentar o lulismo?
Ao PSDB não falta candidato -aliás, há dois, o que a essa altura já se tornou um problema. Falta, antes, uma candidatura com pauta convincente. A troca de elogios entre Serra e Aécio no jogral da TV pode ser interpretada (psicanaliticamente) como sintoma de algo assim: toma, que essa batata é sua.
O que resta à oposição? Além de aplaudir Lula e repetir que Dilma não é Lula, talvez restem as bandeiras da direita: o medo da violência urbana, a grita contra os impostos, a defesa da eficiência administrativa, a crítica ao gasto público e ao aparelhamento do Estado e por aí vai. Não parece muito animador.
Em 2006, quando o mensalão ainda estava fresco, Alckmin iniciou cheio de energia, prometendo decência e choque de gestão. Acabou humilhado, vestindo uma jaqueta coalhada de símbolos de estatais. Agora, com o DEM nu, ficou ainda mais difícil encontrar um modelito udenista para vestir a oposição no baile de 2010.

CLÁUDIO HUMBERTO

NO DF, LOBBY FAZ DE LOJISTAS FISCAIS DE CARTÕES


Suspeita de vender leis distritais, a Câmara Legislativa do DF faz qualquer negócio, até legisla sobre questões federais: agora, uma nova lei, obtida pelo lobby das administradoras de cartões de crédito, obriga os lojistas do DF a cadastrar a clientela, com fotografia. A lei condiciona pagamentos com cartões de crédito e débito à existência do cadastro. E o lojista só recebe o dinheiro se o cliente reconhecer a compra.

RISCO ZERO
A lei distrital, tão generosa com as administradoras, transfere ao lojista os riscos do negócio. O risco agora é zero para os cartões, no DF

RELAÇÃO LEONINA
Lojistas pagam no mínimo 4% do valor da venda às administradoras a pretexto de "compensar o risco" de inadimplência e de cartão roubado.

PAGOU, LEVOU

Empresas de ônibus do DF compraram uma lei que obriga o governo a transferir R$ 8 milhões por mês ao setor pelo "passe-livre estudantil".

DENUNCIA
Quem denunciou a compra da "lei do passe-livre" foi o ex-senador Valmir Amaral, dono de uma empresa de ônibus em Brasília.

CAMARA CONTRATA FOTOGRAFO POR R$560 MIL
A Câmara dos Deputados contratou por R$560 mil uma micro empresa para serviços de "foto documentação jomalística" durante um ano. A assessoria da Casa enrolou· primeiro disse que o contrato não existia e depois explicou que o valor "será dividido entre dez profissionais". Ah, bom. Mas é assinado por um único pofissional que atua como micro-empresa". O piso salarial para fotógrafos é R$ 1.600 mensais no DE

ESTRANHO, é
A contratada pela Câmara vai ganhar R$560 mil para tirar fotografias, mas a lei limita o faturamento de microempresa em R$240 mil.

NÃO TÁ COMIGO
A Câmara dos Deputados fez questão de informar que o contrato com a micro empresa de fotógrafos "foi baseado na Lei de Licitações".

CONGESTIONADO
O Ministério Público Federal do Maranhão deve ser o mais operoso do País: quando desocupa, o telefone não atende ou cai no fax. Afe.

SUBSTITUTO

O presidente da Conab, Wagner Rossi, é o mais cotado para ser nomeado como o substituto de Reinhold Stephanes, no Ministério da Agricultura. O ministro já anunciou que deixa a pasta em março.

DIA D
O Tribunal de Justiça da Paraíba decide amanhã (15) se o ex-deputado federal e ex-governador Ronaldo Cunha Lima (PSDB) vai a júri popular pela tentativa de homicídio do também ex-governador Tarcísio Burity, em 1993. Ronaldo renunciou ao mandato em 2007.

BLOG DO BIGODE
O site do Senado virou uma espécie de diário oficial. Informação, só se for positiva, além de contestação de antigas notícias, agenda sem agenda" de quem está de licença, artigos de José Sarney etc.

NADA PRUDENTE
Pura maldade. Entre os democratas, o deputado da meia cheia de dinheiro, Leonardo Prudente (DF), é chamado de Delúbio. E aquele que todo mumdo tem coragem de expulsar do partido.

MAO DE VACA
Projeto na Câmara descriminaliza o "pendura" em hotéis, restaurantes e meios de transporte. Levará em conta a "presunção de inocência" de se descobrir "liso" na hora H. Só não dá para pedir carona na FAB...

DEVO, NAO NEGO
A Secretaria de Cultura do DF deve quase R$ 1 milhão para a Câmara do Livro. A verba iria para a Feira do Livro de Brasília, que foi realizada em novembro, mas até hoje os organizadores não viram sequer R$1.

MENSAGEM PARA VOCE
Rodapé nos e-mails do engenheiro paranaense Thomas Fendel, que luta para implantar no Brasil o carro movido a óleo vegetal, que criou sem qualquer ajuda:'trabalhe com vontade. Lembre-se: milhões de pessoas vivem de Bolsas-Voto-Familia e dependem de voce."

PENSAN DO BEM...
...a residência oficial do governador do DF é conhecida por Aguas Claras, mas pode chamá-la de Aguas Turvas.
"Só uma radical reforma será capaz de conter a corrupção"
Líder do PSDB na Câmara dos Deputados, José Aníbal, criticando a classe política

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO

Mais engenheiros para o brasil

FOLHA DE SÃO PAULO 14/12/09


Seria importante que o governo adotasse política agressiva para incentivar a formação de engenheiros pelo setor privado


QUEM VIU o presidente Luiz Inácio Lula da Silva posar ao lado de grandes líderes mundiais em encontros do G10 e outros fóruns globais pode ter sido levado à falsa conclusão de que apenas esse movimento na mídia internacional pode ser suficiente para projetar o Brasil para a fase de desenvolvimento que o incluiu no Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Criada quase dez anos atrás pela equipe do economista-chefe do banco Goldman Sachs, Jim O'Neill, a sigla refere-se aos quatro maiores mercados emergentes e seu potencial de crescimento.
No mundo real, há indicadores de sobra que nos colocam abaixo da média dos demais países do Bric. Entre eles, o número de novos engenheiros formados por ano.
Inegável dizer que a força da engenharia num país está estreitamente ligada à capacidade de inovação tecnológica e à competitividade industrial. Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o número de engenheiros formados no Brasil em 2008, em todas as especialidades, é de 30 mil, quase 50% dos quais formados em instituições de ensino superior (IES) públicas -em outras áreas, dois terços se formam em particulares.
Os demais países do Bric formam muito mais engenheiros do que nós: a Rússia forma 120 mil, a Índia, 200 mil, e a China, 300 mil. Esses números, embora aproximados e condicionados ao conceito da formação profissional, à duração e à pertinência das especialidades, indicam nossa defasagem na formação de engenheiros.
Ainda que as populações desses países sejam diferentes, as discrepâncias aparecem claramente ao se comparar a vocação e o incentivo que cada país dá para a inovação tecnológica, sendo um bom indicador o percentual de engenheiros formados em relação ao total de concluintes no ensino superior. No Japão, 19% dos formados estão nas áreas de engenharia; na Coreia, 25%; na Rússia, 18%; no Brasil, só 5% (dados de 2007 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico -OCDE). A média da OCDE é de 14%, e dela não constam os números da China.
Outra informação relevante é a produção científica brasileira na área de engenharia, que se coloca em patamar bastante inferior ao dos demais Brics -em parte como consequência dessa defasagem no número de formados, como demonstra a estatística sobre trabalhos publicados em 2007.
Enquanto o Brasil publicou menos de 2.000 trabalhos, a Índia produziu 4.000, a Rússia, cerca de 3.500, a Coreia, 6.500, e a China, o número impressionante de 50 mil trabalhos. A disparidade é ainda mais gritante se observarmos que o Brasil está entre os países mais produtivos em trabalhos científicos na área de medicina.
O mesmo problema ocorre no Brasil em relação às patentes. Os principais centros internacionais apontam os registros de patentes brasileiras em patamares muito inferiores aos dos demais Brics.
Como explicar esse fenômeno? É simples. O custo da mensalidade é elevado por causa dos laboratórios e estágios, o que reduz a demanda do setor privado e tem levado ao fechamento de vários cursos.
Por isso, entendo que seria importante que o governo adotasse uma política agressiva para incentivar a formação de engenheiros pelo setor privado, utilizando o mecanismo de compra de vagas em bons cursos, desonerando IES e estudantes.
As instituições com bom desempenho em exames nacionais, como o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), seriam boas candidatas iniciais. Se houver dificuldade em financiar instituições com fins lucrativos, as instituições comunitárias poderiam ser escolhidas para dar início ao programa. O custo disso seria muito menor do que a alternativa de o próprio governo criar vagas de engenharia no setor público.
Uma solução assim nos faria diminuir um pouco a distância que nos separa, nesse item, de nossos parceiros no Bric, que formam muito mais engenheiros por ano do que o Brasil.
Calcula-se que, para cada milhão de dólares empregados em novos investimentos, é preciso agregar um novo engenheiro. Diante dos planos e das perspectivas de crescimento do país, milhares de novos engenheiros e técnicos serão necessários (cerca de 500 mil para a concretização do PAC).
Como vários outros educadores, temos procurado alertar as autoridades educacionais sobre essa situação, e é com esperança que vemos que o Ministério da Educação e outras instâncias estão se mobilizando para enfrentar esse problema com a prioridade que ele merece.

ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO, 71, professor titular aposentado e ex-reitor da USP (1990-1993) e da Universidade de Mogi das Cruzes (1996-1999), foi diretor do CNPq e é presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia.

ANCELMO GÓIS

Luta de bilhões

O GLOBO - 14/12/09

Terça passada, o Conselho Nacional de Política Energética já ia sepultar o sonho das empresas vencedoras do leilão da ANP na frustrada oitava rodada quando o ministro Edison Lobão sugeriu que o assunto ficasse para uma próxima reunião. Em 2006, quando foi suspensa pela Justiça, a oitava rodada havia leiloado 38 dos 58 blocos.

Ufa!...

O gesto de Lobão deu, perto do Natal, esperança a empresas como a italiana Eni e a norueguesa Statoil, que arremataram, no leilão, blocos na franja ou até no pré-sal, ainda dentro do marco regulatório antigo, mais vantajoso para as multinacionais. A ANP quer anular o leilão. Na época, a Justiça considerou que algumas regras limitavam a participação da Petrobras.

Apagão político

Veja como político muda de opinião como quem muda de camisa. Eduardo Paes diz que agora sancionará a taxa de luz, embora tenha prometido, na posse, não aumentar impostos. Mas veja só. Esta contribuição resulta da Emenda Constitucional 39/2002, que contou na Câmara com o apoio de Paes, então deputado do PFL.

Segue...

Outro que votou a favor da emenda foi o deputado Fernando Gabeira, na época do PT. Mas aí é outra história.

No mais

Ponto para a polícia do governador Requião, que, com inteligência, prendeu os vândalos que barbarizaram no estádio do Coritiba no jogo contra o Flu.

"Monsieur Villá"

A Rádio France homenageia hoje o maestro Villa-Lobos pelos 50 anos de sua morte. Será um concerto, com o nosso Quinteto Villa-Lobos, que, após 23 anos, volta a Paris, onde o genial brasileiro iniciou sua carreira internacional.

MSC (MOVIMENTO dos Sem Calçada) flagrou esta cena, sexta, em frente ao restaurante Outback de Botafogo, no Rio. Mostra dois carros oficiais do Poder Judiciário estacionados sobre o sagrado espaço do pedestre. Abordados por um segurança, os motoristas se recusaram a retirar os veículos, sob a alegação de que cumpriam ordens. Uma grande pena

Eu sou feia?

Sábado, no Teatro Rival, no Rio, no show de Maria Gadu, revelação da MPB, um dos músicos que a acompanhavam, querendo elogiar a jovem chefe, comparou a cantora com... Ronaldo Fenômeno! Maria reagiu na hora: - E eu sou feia assim?!...

De Copenhague

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) anunciou nesta reunião do clima em Copenhague que vai ajudar os países africanos a monitorar o ambiente via satélite. O Gabão será o primeiro a ser monitorado.

Favela exportação

Veja como as favelas brasileiras, em especial as cariocas, atraem a curiosidade dos estrangeiros. Uma maquete de favela do artista plástico Sérgio Cezar, autor daquela da abertura da novela "Duas caras", da TV Globo, ficará um ano em turnê pelo Canadá.

ZONA FRANCA

Como faz há 59 anos, a Turma Gilda da Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil (atual UFRJ) festejou na Sociedade Germânia seus 60 anos de formatura.

O Shopping Tijuca diz que não foi segurança seu que constrangeu um atleta paraolímpico africano, mas PMs.

Bocayuva, Joel Birman e Vera Malaguti lançam amanhã livro na Argumento do Leblon, às 20h.

inscrições dos cursos de férias no Centro Musical Antonio Adolfo.

receberá a Medalha Pedro Ernesto de Clarissa Garotinho.

Sá dará moções de louvor a 100 pastores pelo Dia da Bíblia.

O presidente do TCM, Thiers Montebello, recebe hoje o Colar do Mérito do Ministério Público.

Beyoncé no Maraca

Sérgio Cabral fecha neste início de semana o show de Beyoncé no Maracanã para dia 7 de fevereiro. A ideia é que seja a comemoração antecipada dos 60 anos do estádio (dia 16 de junho).

A favor da morte

Quarta, numa reunião do conselho comunitário de segurança do Leblon, no 23oBPM, um representante da associação de moradores deu parabéns à polícia pela pesquisa de uma ONG gringa, segundo a qual os tiras do Rio são os que mais matam.

Pediu palmas e, sério, desejou que em 2010 "matem o dobro".

Segue...

Quando lembraram que muitos mortos são inocentes, o sujeito comentou: - É uma minoria. Em qualquer confronto, sempre alguém tem de pagar o preço. Meu Deus...

Mal-agradecido

A Cedae fez uma grande peça publicitária nos jornais do fim de semana para divulgar os resultados da despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Mas, que feio, não citou a EBX, empresa de Eike Sempre Ele Batista, que está dando uma mãozinha de alguns milhões para o projeto Lagoa Limpa.

Viva a Saara!

A Investe Rio, agência de fomento do governo do estado, vai criar uma linha de crédito só para financiar a revitalização da Saara, o shopping popular a céu aberto no Centro carioca. Serão R$ 20 milhões destinados para a reforma das lojas.

MARTINHO DA VILA dá um colinho à filha Mart"nália no camarim de show na Vila Isabel em tributo a Noel Rosa. Não é fofo?

NOSSO LEO Gandelman (direita) e o gaitista José Staneck abraçam o regente prodígio Gustavo Dudamel, 28 anos, em concerto em Caracas

O ESGOTO DO BRASIL

CARLOS ALBERTO DI FRANCO

Pornopolítica

O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/12/09


A História mundial está repleta de exemplos inspiradores. E a saga brasileira, também. Os defeitos pessoais e as limitações humanas dos homens públicos, inevitáveis e recorrentes como as chuvas de verão, não matavam a política. Hoje, no entanto, assistimos ao advento da pornopolítica. A vida pública, com raras e contadas exceções, transformou-se num espaço mafioso, numa avenida transitada por governantes corruptos, políticos cínicos e gangues especializadas no assalto ao dinheiro público.

Quando se pensava que as denúncias de corrupção no Distrito Federal (DF) tinham alcançado um patamar intransponível nos governos de Joaquim Roriz, a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), revela um dos mais bem documentados e abjetos escândalos do gênero no País. O governador José Roberto Arruda, o mesmo que derramou lágrimas de crocodilo ao jurar inocência no caso da violação do sigilo do painel de votações do Senado, volta à cena em grande estilo. Arruda é acusado de chefiar um esquema sistemático de propinas a auxiliares diretos, membros do seu secretariado e deputado distritais.

A sociedade assiste, atônita, ao nascimento do mensalão do DEM. O filme lembra em tudo, até mesmo no uso de cuecas e meias como esconderijo da dinheirama, o até agora impune mensalão do PT. O PSDB, por outro lado, vive assombrado com o fantasma do seu próprio mensalão. Recentemente, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ex-governador de Minas, virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) e vai responder penalmente pela sua suposta participação no valerioduto mineiro.

Alguns, equivocadamente, minimizam a gravidade da corrupção. O Brasil está bombando. O desenvolvimento absolve todos os pecados. O crescimento da economia é uma viseira que impede um olhar mais profundo sobre o País que queremos construir. O custo humano e social da corrupção brasileira é assustador. O dinheiro que desaparece no ralo da corrupção é uma tremenda injustiça, uma bofetada na cidadania, um câncer que, aos poucos e insidiosamente, vai minando a República. As instituições perdem credibilidade numa velocidade assustadora. O fantasma do caudilhismo está aí. A imagem do presidente da República, construída numa impressionante operação de comunicação, não tem precedentes na História das democracias. Lembra, sim, esquemas clássicos de comunicação em regimes ditatoriais. E não se trata, por óbvio, de um plano de comunicação para quem está saindo, mas de uma estratégia de perpetuação no poder. O perigo não é o Lula, mas o lulismo. O culto ao presidente da República não combina com a democracia.

A corrupção, independentemente do seu colorido partidário, precisa ser duramente combatida. É ela que alimenta a fome que o presidente da República pretendeu, certamente com boa intenção, combater na alvorada idealista do seu governo. É ela que abandona os idosos que são maltratados nas filas da saúde pública. É ela que empurra a juventude desempregada para o consumo e o tráfico de drogas.

No ano passado, matéria da revista Megazine, suplemento para jovens do jornal O Globo, radiografou a imensa frustração da juventude com a política. Desencanto com política era uma das razões apontadas por jovens de 16 e 17 anos que optaram por não votar nas eleições de 2008. O voto aos 16 anos foi uma conquista do movimento estudantil, incorporada à Constituição de 1988. A renúncia ao exercício de um direito, tão imprópria do idealismo juvenil, mostra o grau da frustração adolescente. É um tiro na democracia e uma vitória dos demagogos, dos desonestos, dos oportunistas e dos que vivem de costas para a ética.

"Não quero sujar as mãos. Depois de eleito, o político só faz besteira e o povo se culpa por ter votado nele. Como posso escolher, vou tirar meu título quando for obrigado (aos 18)", dizia João Gabriel de Souza, então com 17 anos.

Há cinco anos havia no País 3,6 milhões de eleitores de 16 e 17 anos. Em 2008 o número chegou a 2,9 milhões, redução de 19%. No mesmo período, o eleitorado geral brasileiro aumentou de 121 milhões para 130,6 milhões. Quer dizer: a esperança juvenil encolheu. São dados preocupantes.

A imprensa, sem as mordaças que alguns defendem e livre de quaisquer tentativas de cooptação, tem um papel decisivo no processo de recuperação da ética. Denunciar a corrupção é um dever. Mas, ao mesmo tempo, devemos construir uma agenda positiva e apoiar ações afirmativas no campo da ética na política. A Conferência Nacional dos Bispo do Brasil (CNBB) e outras 40 entidades da sociedade civil se empenharam na coleta de mais de 1,3 milhão de assinaturas para apresentar no Congresso um projeto de lei de iniciativa popular que veta a candidatura às eleições de pessoas com ficha suja.

O projeto foi protocolado na Câmara dos Deputados no passado dia 29. Pelo texto, não poderão concorrer pessoas condenadas em primeira instância, ou com denúncia recebida por um tribunal, por crimes de racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas, além dos candidatos condenados por compra de votos ou uso eleitoral da máquina. Ficam ainda impedidos de concorrer os parlamentares que renunciaram ao cargo para evitar abertura de processo por quebra de decoro - caso, por exemplo, de alguns deputados envolvidos no escândalo do mensalão.

Tais iniciativas merecem destaque e apoio. O veto aos candidatos com ficha suja e o fim do foro privilegiado podem mudar o Brasil.

Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com) E-mail: difranco@iics.org.br

NAS ENTRELINHAS

As minas do PMDB

Denise Rothenburg

CORREIO BRAZILIENSE - 14/12/09



Enquanto a candidata Dilma Rousseff não tiver um percentual nas pesquisas que dê segurança aos aliados, é bom o PT ficar pianinho nas exigências quanto ao vice. Até porque, dizem alguns, quanto mais o presidente e o PT tentam se impor ao PMDB, mais os peemedebistas cobram a fatura. E têm tamanho suficiente para isso.

A cobrança de uma lista tríplice de peemedebistas para que a ministra Dilma Rousseff escolha quem melhor se encaixa no papel de candidato a vice na sua chapa à Presidência da República vai sair mais caro para Lula do que o palavrão que ele soltou num discurso no Maranhão. Desde quinta-feira à noite, quando os peemedebistas souberam da declaração do presidente, eles começaram a montar um verdadeiro campo minado para que Lula, sua candidata e o PT atravessem até a convenção em que o PMDB decidirá o que fazer na sucessão presidencial, em junho de 2010.

A primeira mina contra a aliança foi colocada ontem, quando os filiados ao PMDB paulista mantiveram o partido sob o comando de Orestes Quércia. Ele derrotou a chapa alternativa composta por Francisco Rossi. Quércia já declarou que seu candidato a presidente da República em 2010 é o governador de São Paulo, José Serra. Ontem, Quércia chegou a dizer que, se Roberto Requião vencer a convenção nacional de junho, terá o seu apoio. Mas nem de longe falou em se somar ao PT.

A próxima bomba que o PMDB pretende colocar na trilha da união com o PT também está bem pertinho no calendário: é atrasar a votação do projeto que prevê a partilha do petróleo extraído da camada pré-sal. O texto-base foi aprovado, mas faltaram algumas emendas que podem comprometer, por exemplo, a repartição dos royalties. Basta o PMDB fazer corpo mole — e ontem a disposição era essa — que a votação final fica para fevereiro.

Quanto mais minas políticas, o PMDB colocar no sentido de mostrar ao PT que os peemedebistas são independentes e necessários, mais força ganha a ala petista contrária à composição da chapa com o presidente da Câmara, Michel Temer, buzina outros nomes no ouvido de Lula. Já falaram, por exemplo, no governador do Rio, Sérgio Cabral, que traria à chapa a leveza do samba do avião. Essa semana, o grupo de petistas contrários a Temer já tem mais um argumento do tipo, se Temer não manda nem no seu quintal — o PMDB de São Paulo — como vai querer ampliar os votos nacionais para a campanha presidencial?

Esses petistas, no entanto, esquecem que a força do PMDB na aliança não está na relação de Temer com o povo. Essa quem tem é o presidente Lula — hoje, nem a ministra Dilma tem essa afinidade com a população. A força de Temer está no diretório nacional do partido. E se a ministra quiser mesmo o PMDB, terá que confiar nos grupos do Pará, capitaneado por Jader Barbalho; da Bahia, comandado por Geddel Vieira Lima; do Rio de Janeiro, do deputado Eduardo Cunha; do Ceará, de Eunício Oliveira, e, ainda dos grupos de Temer, Henrique Eduardo Alves e, os dos senadores Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá.

Esses nomes são hoje os baluartes da aliança nacional, quer a maioria do PT goste ou não. O PT pode até tentar usar o prestígio de Lula, como ocorreu com a declaração da semana passada, para forçar esse grupo a escolher o nome que os petistas quiserem para a vaga de vice. O problema é que, neste caso, o caldo da aliança vai ficando ralo como café aguado e o da desconfiança grosso como o de um feijão bem feito. Todos os peemedebistas que apoiam Lula hoje já estiveram em outros governos no passado e nada vai impedir que, insatisfeitos com o tratamento recebido, busquem outra hospedagem diferente daquela comandada pelo PT.

Enquanto a candidata Dilma Rousseff não tiver um percentual nas pesquisas que dê segurança aos aliados, é com o PT ficar pianinho nas exigências quanto ao vice. Até porque, dizem alguns, quanto mais o presidente e o PT tentam se impor ao PMDB, mais os peemedebistas cobram a fatura. E têm tamanho suficiente para isso.

O tamanho do PMDB referido aqui não é apenas na seara parlamentar. É também eleitoral. A história mostra que o PMDB é expert em deixar seus candidatos a presidente pelo caminho. Fez isso com Ulysses Guimarães, em 1989, em 1994, com Quércia. Em 2002, uma parte abandonou José Serra e ficou com Lula. Sempre para pegar a canoa vencedora. Isso só mostra que, daqui para frente, o PT tem que agir com o PMDB como diz a música: Pra satisfazer essa mulher/eu faço das tripas coração/para ela sempre digo sim/pra ela nunca digo não… Pelo menos, até Dilma ganhar — se é que vai ganhar — voo próprio nas pesquisas, é esse o embalo da aliança.