sexta-feira, novembro 04, 2011

ANCELMO GOIS - Sem preconceito


Sem preconceito
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 04/11/11

A Vara de Registro Público do Rio negou a Carlos Tufvesson e a André Piva, companheiros há 16 anos, o direito de transformar sua união estável em casamento, o que contraria decisão do STF.
O casal manteve a festa para dia 14, no MAM, e recorre.

Gates e a Embrapa
Convidado especial da reunião do G-20, o multimilionário Bill Gates tem falado em Cannes que o fim da fome na África passa pela nossa Embrapa.

Grace e Cary...
Em Cannes, Dilma e Obama estão hospedados no Hotel Carlton, o do filme “Ladrão de casaca” (Grace Kelly e Cary Grant).
No longa, como se sabe, Grant é um ladrão de joias que anda como um gato pelos tetos da Cote d’Azur. Mas, ontem, os telhados estavam cheios de... agentes do serviço secreto americano.

Dilma e Lula...
Assim que pisar no Brasil, depois do G-20, Dilma vai direto a São Bernardo visitar Lula.

Receita tucana
FH, pouco modesto, numa entrevista ontem a uma rádio portuguesa, deu a receita para a Europa sair da crise.
Segundo o ex-presidente, os europeus têm de ter uma Lei de Responsabilidade Fiscal igual à que ele fez no Brasil, para impor limite de gastos aos governos.

Além disso...
FH receitou outro remédio tucano: um Proer, também de seu governo, que “fechou bancos, puniu banqueiros e salvou a economia dos poupadores”.

Tem culpa eu?
De Eri Johnson, nosso ator, terça, na pré-estreia do monólogo “Eri pinta, Johnson borda”, no Teatro Fashion Mall, no Rio, ao ver que a imprensa tirava fotos:
— É sempre assim! Fotos e tal, e, depois, sai um 3x4! Em 30 anos de carreira, nunca fui capa!...

Copa da paz
O tema social da Copa de 2014 (na África do Sul foi o combate à Aids) deve ser “Por um mundo sem armas”.
A proposta, do ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, já está na Comissão Especial da Lei da Copa, na Câmara dos Deputados.

EUA são um perigo
Deu ontem no “New York Times”: sete policiais da cidade foram condenados por forjarem flagrante de drogas em cidadãos para cumprirem sua cota de capturas. Outros três estão em cana por roubarem... perfumes.
Deve ser terrível viver num lugar assim.

Suíça também é...
Deu no jornal “Le Matin”, da Suíça: desde o início do ano, 9,25 milhões de francos suíços já foram roubados em caixas eletrônicos no país.
Deve ser terrível... você sabe.


Romário 2012
Romário, o ex-craque e agora deputado pelo PSB, diz que cedeu a “dezenas de pedidos de vereadores” e deve disputar a eleição para prefeito do Rio.
Vai consultar seu partido.

Calma, gente
Terça, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, no Rio, um diretor da grife Reserva avistou um vendedor com uma blusa supostamente falsa de sua marca e exigiu que o rapaz a tirasse.
O vendedor se recusou e, barraco armado, veio o gerente, que defendeu o funcionário. O diretor da grife saiu irado.

Vida dura
Deu ontem no DO da Câmara do Rio: estão criados na cidade a Segunda Sem Carne (todas as segundas) e o Dia do Clamor de Jejum e Oração (primeiro sábado de outubro).

Inflação de maiô
Dona Inflação esticou sua toalha nas praias do Rio.
O sorvete Moleka, que custava R$ 1, pulou para R$ 1,25.

Réveillon dos ricos
A dois meses do réveillon, 90% dos quartos do Copacabana Palace já estão reservados para o fim de ano.

Ursinho Blau-Blau
Hoje, o Cabaré Kalesa, a boate, digamos, danadinha da Praça Mauá, no Rio, vai receber a festa “Bear Nation” (“Nação Urso”), para “gays parrudos, peludos e gordinhos”, conhecidos no mundo LGBT como... “ursos”.
A atração será Sylvinho BlauBlau, que vai cantar seu maior sucesso, “Ursinho Blau-Blau”.

AS PEQUENAS CLARA, com Ingrid Guimarães, e Júlia, com Mônica Martelli, posam fagueiras ao lado das mamães em evento beneficente no Copacabana Palace

ALICE CAYMMI, filha de Danilo e neta do grande Dorival, brinca com os cabos de som coloridos nos bastidores da gravação de seu primeiro CD, num estúdio de Santa Teresa. Não é fofa?

PONTO FINAL 
Um vândalo destruiu os equipamentos de ginástica, alegria de vovôs e vovós, que a prefeitura pôs no Recreio. É pena.
COM ANA CLÁUDIA GUIMARÃES E DANIEL BRUNET

MARCO MACIEL - Por uma federação de fato


Por uma federação de fato
MARCO MACIEL
JORNAL DO COMMÉRCIO - 04/11/11
Malgrado o Estado brasileiro ser, como é notório, uma República Federativa, ainda sofre de grande centralismo em torno da União e elevado grau de competitividade entre os Estados, Distrito Federal e municípios. 
Sem querer penetrar no DNA de nossa federação, poderia afirmar que ela padece de "debilidade congênita". Diversamente do que ocorreu nos Estados Unidos da América do Norte, cuja Constituição inspirou, e muito, aos homens públicos brasileiros, nossa federação não é filha de um genuíno "pacto federativo", para usar expressão tão em voga. Fácil é concluir: possuímos uma federação legal, não uma federação real. 
Convém não deslembrar, talvez por constituirmos País de grande expressão territorial, que a descentralização, leia-se a organização do Brasil sob a forma federativa, foi aspiração que permeou muitos dos movimentos significativos de nossa história, da qual são exemplos a Inconfidência Mineira e os de 1817 e 1824 ocorridos em Pernambuco. 
Ao longo de nossa vida republicana, tisnada por tensos períodos de instabilidade política, todas as nossas constituições prescreveram ser a Federação cláusula pétrea - insuscetível de alteração, portanto -, embora a Carta 1937, outorgada por Getúlio Vargas no bojo do golpe por ele desfechado, haja limitado a autonomia político-administrativa dos Estados. 
É evidente, pois, existir no Brasil um denso e profundo sentimento federativo. Todavia, a sociedade percebe agora a erupção de conflitos distributivos - partilha dos royalties provenientes da exploração do petróleo na camada pré-sal, critérios de rateio das transferências federais, indexador das dívidas dos Estados com a União, e a guerra fiscal do ICMS - aluindo as bases do Estado Federal, apesar de a Constituição de 1988 haver buscado robustecer os Estados e erigido os municípios à condição de entes federados. Portanto, promover a reengenharia do Estado Federal é contribuir para consolidar as práticas democráticas, vez que a descentralização é mecanismo essencial para assegurar a plena cidadania. Precisamos construir no Brasil um modelo federativo que seja compatível ao mesmo tempo com a igualdade jurídica dos Estados, a superação das assimetrias econômicas e desigualdades sociais e a preservação da diversidade cultural. 
Falta ao Estado brasileiro um embasamento político, uma doutrina estabilizadora dos interesses sobre a qual possa assentar-se o edifício de instituições que reflitam o equilíbrio federativo reclamado pelas exigências dos avanços já alcançados a partir da consolidação da democracia (Constituição de 1988) e da higidez da economia (Plano Real). 
Assim, ao Senado, que na República cumpre a função de ser a "Casa da Federação", cabe a ingente tarefa de aprimorá-la e desenvolvê-la em parceria com os demais Poderes da República e entes federados. 
Marco Maciel é membro da Academia Brasileira de Letras. Foi vice-presidente da República, Senador e governador de Pernambuco

GOSTOSA


ALON FEUERWERKER - "Mas qual é a proposta?"

"Mas qual é a proposta?"
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 04/11/11

Se Lula tem plano de saúde e fontes de recursos para tratar-se no Sírio, fez bem em ir para lá. Pois deixou de ocupar no Icesp uma vaga, que agora irá servir a alguém que não pode pagar o Sírio
O piadismo na internet sobre o câncer de Luiz Inácio Lula da Silva e o SUS teve pelo menos um efeito positivo. Atraiu o olhar jornalístico para as estruturas da rede pública que atendem pacientes de câncer. 
Repórteres foram a hospitais e puderam notar, e depois reportar: o atendimento é defensável e o povo não está desassistido. 
Há problemas? É evidente. Poderia melhorar muito? É claro. Mas daí a dizer que o tratamento de câncer no SUS é uma droga vai uma diferença e tanto. 
E conforme a realidade se impõe o foco da crítica sofre um ajuste: o problema não seria a má qualidade do serviço, mas a oferta insuficiente e as filas de espera. 
Sim, de fato é um problema, e os governos deveriam investir mais. E estão investindo. Em todos os níveis. Aliás, estão de língua de fora, desesperados para encontrar novas fontes de financiamento. 
O piadismo sobre o câncer de Lula e o SUS alimenta-se também de preconceito social. Digo e provo. Na longa luta contra a doença, José Alencar nunca foi alvo de nada parecido. Talvez por ser sabidamente rico, por ter dinheiro para pagar o dispendiosíssimo tratamento privado. 
Não houve campanhas tipo #ZeAlencarnoSUS. Não houve tampouco qualquer episódio de jornalismo especulativo na linha “o que acontece se ele morrer”. 
Mas o nó górdio está em outro canto. Como naquelas peças engajadas na universidade nos anos 1960 e 1970, uma hora o teatro acaba, alguém levanta na plateia e lança a pergunta: “Legal, gostei, mas qual é a proposta?”. 
Ando mesmo meio saudosista, então vou explicar. À encenação da peça precisava seguir-se uma proposta de abordagem revolucionária da realidade injusta e opressiva. 
Uns diziam que só a luta armada resolveria, já outros preferiam apostar na organização das massas e na luta político-eleitoral. 
Vou fazer como naqueles bons tempos. Depois que se cansarem do teatro, das piadas e da desopilação hepática, gastem um tempinho para raciocinar e esclareçam: qual é, afinal, a proposta? 
Há três soluções possíveis. Uma saúde 100% estatal, uma 100% privada e uma mista. 
Duvido que algum, unzinho só dos piadistas do câncer alheio defenda a primeira opção. Mas deveriam. Seria lógico, coerente. 
Pois não há como financiar pelo Estado um sistema que ofereça a cada brasileiro tratamento e serviço de hotelaria no nível, por exemplo, do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo. 
Se a saúde brasileira fosse completamente estatal, talvez com sorte ela atingisse em toda a extensão o nível de excelência hoje observado nos equipamentos de ponta da área pública. Com muita sorte. 
E muito, mas muito dinheiro mesmo. Dinheiro que aparentemente a sociedade não está disposta a entregar ao governo. 
Já uma saúde 100% privada seria impensável, social e politicamente inviável. De novo, apontem-me um, unzinho só dos críticos do SUS que proponha, em campanha eleitoral, acabar com o sistema. 
Simplesmente não há. É uma ideia mais apropriada ao mundo da lua. 
Sobra então tentar aperfeiçoar o SUS. E para isso é preciso mais dinheiro. Trazendo recursos de outras áreas. 
Ou aumentando impostos. E fazendo os planos de saúde pagarem pelo atendimento que seus pacientes recebem na rede pública. Isso daria uma bela mão. 
Não sei quem está pagando o tratamento de Lula. É assunto privado dele, dos médicos dele e do hospital que o atende. Talvez o plano de saúde do ex-presidente cubra. 
E certamente não lhe faltarão recursos privados para tratar-se, se for necessário, se quiser fazer coisas que o plano não cobre.
Escrevi outro dia que Lula poderia ter optado pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, o Icesp. Uma boa herança dos governos do PSDB. Mas se Lula tem plano de saúde e fontes de recursos para tratar-se no Sírio, fez bem em ir para lá. 
Pois deixou de ocupar no Icesp uma vaga, que agora irá servir a alguém que não pode pagar o Sírio. 

ViagemNos próximos dias estarei em viagem à Antártida, a convite da Marinha. Até a volta.

ILIMAR FRANCO - Drama adiado


Drama adiado
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 04/11/11

Com a criação da comissão especial pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a pedido da presidente Dilma, dificilmente será votada neste ano a nova Lei dos Royalties do petróleo. A prioridade do governo nas próximas três semanas é aprovar a prorrogação da DRU. Por isso, o debate dos royalties ficará congelado. Nos 17 dias úteis anteriores ao recesso, os aliados vão se concentrar na liberação das emendas ao Orçamento deste ano e na votação do Orçamento para 2012.

Desenvolvimentista
As novas regras para o licenciamento ambiental foram feitas por meio de portarias ministeriais, e não por decreto presidencial, porque a Casa Civil avaliou que essa era uma agenda negativa e quis preservar a presidente Dilma de eventual desgaste. A Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) está elogiando as medidas, mas ao mesmo tempo preocupa-se com sua fragilidade jurídica, já que as portarias são "procedimentos administrativos de hierarquia inferior no arcabouço legal". O objetivo do pacote é acelerar o licenciamento de obras de infraestrutura e foi criticado por entidades ambientalistas.

"Quem segurou a liberação das emendas foi o Palácio (do Planalto). Não foi nenhum Ministério” — Walter Pinheiro, senador (PT-BA)

COMANDANTE. Vice-presidente da Câmara, a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) assumiu a coordenação de um grupo de trabalho intitulado "Instrumentos Regimentais", formado por deputados fluminenses e capixabas com o objetivo de obstruir a votação do projeto que redistribui os royalties do petróleo. Ela também colocou a assessoria da vice-presidência à disposição, para "entupir" de emendas o texto enviado pelo Senado.

Saga
Depois de ter sua posse no Senado adiada 12 dias, por manobra do presidente José Sarney (PMDB-AP), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) vai ter que esperar mais um dia, porque a data coincidia com um seminário do PSDB.

De castigo
Com a diplomação dos senadores Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e João Capiberibe (PSB-AP) autorizada pelo STF, agora só falta a análise do caso do senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Eles tinham sido barrados pela Lei da Ficha Limpa.

O PT vai insistir na reforma política
Os petistas não vão desistir de tentar aprovar a reforma política para as eleições de 2014. Eles não conseguiram votá-la a tempo de valer para as eleições municipais do ano que vem. O alvo principal da reforma é o fim do financiamento privado. O PT e seus aliados à esquerda vão insistir na adoção do financiamento público. Ele vai custar aos cofres públicos cerca de R$ 1 bilhão a cada dois anos. Além do Fundo Partidário, que custa aos cofres públicos R$ 200 milhões a cada ano.

Me dê motivo
Por motivos eleitorais, a direção do PSDB está orientando seus parlamentares a subirem às tribunas do Congresso nas próximas semanas para criticar o ministro Fernando Haddad (Educação), virtual candidato à prefeitura de São Paulo.

Burocracia
O Brasil e a Argentina vão desburocratizar o trânsito de pessoas na fronteira. Os brasileiros e os argentinos passarão por apenas um posto de controle conjunto. Acordo para isso foi assinado em setembro, mas só será implementado em 2012.

A BANCADA do Rio está dividida quanto a forma de enfrentar o debate dos royalties. Cresce na bancada os que consideram a radicalização um tiro no pé.

APESAR das pressões petistas, o líder do PMDB, Henrique Alves (RN), definiu que o partido não ficará de jeito nenhum com a relatoria da lei dos royalties.

A EMBRATUR vai preparar uma feira expositiva do Brasil nos países sul americanos que se classificarem para a Copa. Pela proximidade, eles são o público preferencial estrangeiro para os jogos.

NELSON MOTTA - Música, tecnologia e bananas



Música, tecnologia e bananas
NELSON MOTTA 
O Estado de S.Paulo - 04/11/11

Já vai longe o tempo em que a música popular ambicionava, e tinha, uma certa transcendência. Quando marcava e comentava momentos históricos e sociais importantes, era a trilha sonora de um mundo em transformação. Na era digital tudo mudou, a música se banalizou, está em toda parte, a todo momento, acessível a todos.

Hoje, todo mundo pode até fazer música, mesmo sem saber música. Com programas como o Garage Band qualquer um faz uma orquestração com cordas, metais, palhetas e percussões, com incontáveis ritmos e timbres e múltiplas escolhas de fraseados, tudo pré-gravado e programado para se harmonizar entre si. Nada garante que saiam bons arranjos, mas não ficam longe do que se ouve na música comercial de hoje...

No fim do século 20, David Bowie previa que, no futuro, o comércio de música digital seria como a energia elétrica, o gás, e a TV a cabo. O cliente teria uma assinatura e pagaria pelo seu consumo mensal. A música seria uma commodity, vendida a preço de banana. Tantos watts de eletricidade, tantos canais de TV, tantos quilos? Litros? Metros? Bites? de música.

Hoje, além de novos modelos de negócio que florescem em países com a cultura de pagar pelo que se consome, a comercialização globalizada de música, legal e pirata, acabou com o que restava das antigas ilusões de relevância, transcendência e glamour da música popular, que a velha indústria do disco desenvolveu, e sugou, à exaustão. A vulgaridade se tornou um valor indispensável ao sucesso de massa. Em compensação fazer e consumir arte musical se tornou mais fácil e acessível, bastam talento e um laptop. Há gosto para tudo.

Hoje, a música popular, a melhor e a pior, se tornou irreversivelmente banal, como uma banana. O contraponto da 'bananização' da música gravada é a valorização da música ao vivo, quando se cria entre o artista e o público uma relação pessoal e intransferível, muito além do contato virtual.

Há 20 anos, Caetano Veloso falava sobre fazer, ou não, novas músicas e dizia que já havia música demais em toda parte. E eu concordava com ele. Imagine agora.

BARBARA GANCIA - O que há entre o Sírio e o SUS



O que há entre o Sírio e o SUS
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 04/11/11 

Lula certamente não é nenhum são Francisco de Assis, mas será que nós não estamos falando de inveja?

O ex (futuro?) presidente Lula é um sujeito cheio de defeitos. Até o mais fanático corintiano ou o mais abnegado petista sabe que o companheiro vive dando mancadas. Não parece muito oportuno entrar nisso agora, mas só para citar alguns vacilos notórios, todos sabemos que Lula escancarou a porteira da aparelhagem nas estatais, que perdeu a oportunidade dourada de fazer as reformas e que empreendeu uma política externa de quinta categoria. Por essas e outras, ele merece o escárnio público, o exílio na ilha de Elba, que se vire a cara para ele na rua, você escolhe.

Mas, peraí, Lula não é Berlusconi. Com ou sem câncer, é ridículo que se tenha por ele o grau de ressentimento exibido nos últimos dias nas redes sociais. Você pode até achar que o ex-presidente avacalhou a política e esculhambou a ética e que mentiu sobre o mensalão, mas levante a mão para ser contado se você está pior agora ou antes do início do primeiro mandato do petista.

Aliás, Lula não é Berlusconi nem tampouco Gaddafi, não existem justificativas para que ele seja tratado com o ódio exibido logo após o anúncio de seu câncer na laringe. Que falta de humanidade é essa?

Em agosto passado, quando o técnico do Vasco (e ex-jogador da seleção brasileira) Ricardo Gomes sofreu um AVC na beira do campo, no estádio do Maracanã, parte da torcida do Flamengo desembestou numa série de impropérios que culminou em um coro de: "Morre! Morre! Morre!" Quem pariu essa canalha e a embalou? É gente que come com garfo e faca? Só quando andam em bando ou estão amparados pelo anonimato da internet eles agem assim? Eu realmente não faço ideia do que é isso. Porque só pode se tratar de um "isso", um treco, um "coiso", não chegamos nem mesmo ao status de fenômeno.

No fundo do âmago do ser íntimo, ninguém desejou discutir se Lula deve ou não se tratar no SUS. Se a conversa realmente fosse essa, seria de se perguntar onde estavam os que agora mandam Lula ir se tratar no SUS com tamanha inclemência na hora em que Maluf ficou doente da próstata, quando Roseana Sarney entrou e saiu dezenas de vezes do hospital ou na época em que ACM pai e filho deram entrada no hospital.

O babado é pessoal e a raiva, desproporcional. Eu sei que ele não é exatamente um são Francisco de Assis, mas será que nós não estamos falando de um assunto outro?

Algo me diz que as mesmas pessoas que estão no Facebook ordenando que Lula saia do Sírio-Libanês jamais passaram na porta de uma unidade de saúde e pouco se comovem quando a empregada reclama sobre o exame marcado para dali a três meses.

Em vez de prestar atenção nos motivos que estão levando o país a ser a sexta economia do mundo, um certo tipo funéreo de paulista (sim, de paulista) fica perdendo tempo com picuinha e com "essa gente" que não quer mais trabalhar de empregada e "essa gente" que está entupindo o avião e "essa gente", vê se pode, que está fazendo exames clínicos no Fleury e "essa gente" que está tomando o Einstein e o Sírio de assalto e "essa gente" que até estádio para abrir a Copa do Mundo conseguiu fazer. Melhor tomar cuidado. De tanta inveja, capaz de os hidrofóbicos pegarem um câncer na ponta do focinho. Sabe como são essas coisas...

GOSTOSA


MICHELE BORGES DA COSTA - Yo hablo portuñol


Yo hablo portuñol
MICHELE BORGES DA COSTA
O TEMPO - 04/11/11

Fui praticante empenhada da língua que, desconfio, deu origem ao resto, justamente por ser filha legítima da necessidade com a generosidade
Não foram necessárias as pouco mais de quatro horas instalada estrategicamente em uma das poltronas verdes em frente ao portão mais movimentado do pedaço para entender que, também ali, já no continente vizinho, o portuñol era um dos protagonistas.

Mutante e anárquico, o idioma desfilou por mim de tantas formas quanto o número de turistas que passaram pelo aeroporto internacional do Panamá na manhã daquela terça-feira. A maioria indo ou vindo, pouca gente ficando, mas cada um se esforçando em se tornar legível.

Nos sete dias seguintes, fui praticante empenhada da língua que, desconfio, deu origem ao resto, justamente por ser filha legítima da necessidade com a generosidade. Tem encontro mais bonito? El portuñol foi meu companheiro dedicado e cômico na tentativa de experimentar outro país, outra cultura, de me conectar com as pessoas de boa vontade. E voltei para a casa certa de que é a língua do futuro.

O Brasil tem quase 17 mil quilômetros de fronteiras com nove países da América Latina. É muita gente exercitando e reinventando um jeito de falar. Idioma sem gramática, sem dicionário, sem regras ortográficas, é tão democrático, que cada um tem o seu. Espécie de vocabulário pessoal e intransferível.

Esse incomparável poder criativo, sua identidade bissexual e a gigante tolerância diante do erro o deixam irresistível.

Li outro dia uma frase que me acompanhou pela viagem à Colômbia e ao Panamá: "El portuñol es un transex de la fronteira. Algo que si adapta como las identidades si adaptando en el mundo contemporâneo". O autor é Joca Reiners Térron, poeta, prosador, artista gráfico e editor nascido em Cuiabá, que já defendeu que o idioma híbrido pode ser um instrumento para que os brasileiros reflitam sobre como veem os hermanos latino-americanos.

Para além dessa proposta fisiológica, ainda é preciso levar em conta a dianteira tomada pelos países da parte de baixo do continente. Uma passadinha nas páginas de economia de qualquer jornal deixa claro que o dinheiro tem adotado outros sotaques, deslocado as forças, comprado novas mercadorias. O fim do tempo do dólar e do chicote está logo ali na esquina, desde que as chacoalhadas recentes da ordem mundial colocaram o portuñol, seus signos e representações, em outro patamar.

Não só é a língua falada por turistas, técnicos de futebol, políticos, jornalistas e brasileños fazendo compras em Miami e Orlando ou tomando sol nas praias do Caribe. Ahora, está submetida ao cálculo do valor agregado.

Se depender de nosotros, estamos decididos a divulgar o dialeto pelos quatro cantos e torná-lo a língua oficial dos viajantes. Além de sua incontestável utilidade, o portuñol és muy encantador.

Para entrar nesta buena onda, é só seguir a maré: inclua as letras "u" e "i" no meio de um tanto de palavras - puede, nuevo, pierde, también -, pegue um outro tanto e coloque no diminutivo - amorzito, hombrecito, cafezito, bocadito - e, finalmente, espalhe alguns "el" pela frase. Pronto, estará hablando portuñol fluentemente.

E assim, portuñolando, conquistaremos o mundo!

VINICIUS TORRES FREIRE - Prejuízos públicos e privados



Prejuízos públicos e privados
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 04/11/11

FAZ algum tempo deixou de haver discussões renhidas a respeito do avanço dos bancos públicos. O relativo sucesso do aumento do crédito nos estatais (emprestaram mais e não perderam dinheiro) ajudou a calar críticos mais rudimentares. As evidências do relativo sucesso recente da banca aparecem em alguns dados Relatório de Economia Bancária e Crédito de 2010, divulgado ontem pelo Banco Central.
O "Relatório" mostra também como tem caído o "spread" bancário -a diferença entre a taxa de aplicação dos bancos e o custo de captação de recursos: a diferença entre comprar e vender dinheiro.
A queda dos juros básicos e a redução de custos administrativos dos bancos ajudaram a baratear o custo do dinheiro, assim como a redução de alguns custos regulatórios. Impostos e alta margem de lucro dos bancos ainda são um problema.
Dados do "Relatório" mostram equívocos dos cacarejos mais ideológicos a respeito da expansão do crédito nos bancos estatais entre 2008 e 2010. Entre meados de 2009 e de 2010, a banca pública chegou a ser responsável por 80% do aumento do estoque de crédito. Como se recorda, diante da seca de crédito global e da ameaça de recessão feia no Brasil, o governo Lula fez com que os bancos públicos emprestassem mais. De quebra, fez dívida pública de centenas de bilhões de reais a fim de reforçar o caixa do BNDES e, assim, expandir os empréstimos do bancão.
A crítica ao ativismo da banca pública baseava-se no péssimo histórico dos estatais, que no passado emprestavam de qualquer jeito a qualquer um, muita vez a amigos do poder, levando prejuízos colossais que, enfim, eram cobertos pelo dinheiro dos impostos. Ainda nos anos FHC, o governo federal, nós, cobríamos bilhões desses rombos. Ainda se empresta aos amigos. As perdas com calotes é que são menores.
Os dados mostram que a inadimplência não cresceu nos estatais. Aliás, dado o aumento do peso do BNDES no bolo dos empréstimos, a inadimplência média até caiu (o calote no BNDES é baixíssimo).
Os críticos da ação da banca estatal diziam também que: 1) como são impulsionados pelo governo, empréstimos da banca estatal tendem a ser menos eficientes: não são decisões de mercado, pautadas pelo cálculo de risco e retorno; 2) os bancos estatais tendem a ser menos cautelosos, pois a propriedade do banco não é privada e as perdas podem ser cobertas pelo governo; 3) enfim, a expansão da banca estatal coloca mais dinheiro subsidiado à disposição de empresas privadas; 4) houve excesso nos estatais, o que ajudou a turbinar a inflação: é fato.
Parece quase tudo verdade, mas:
1) a banca estatal foi bem-sucedida, até porque melhoraram os controles internos, os bancos se tornaram mais profissionais e há mais controles democráticos de possíveis lambanças estatais;
2) se os bancos estatais tivessem se retraído tanto quando os privados, é possível que a recessão tivesse sido bem mais feia no Brasil. Assim, as perdas dos bancos privados com inadimplência seriam maiores;
3) como já ocorreu muita vez no Brasil e tem ocorrido de forma torrencial no mundo, os prejuízos e os erros da banca privada também são cobertos pelos governos, isso quando não arrebentam indiretamente todo o sistema econômico.

WASHINGTON NOVAES - O Código Florestal no mundo da escassez



O Código Florestal no mundo da escassez
WASHINGTON NOVAES
O Estado de S. Paulo - 04/11/2011

Aproxima-se a hora de votações decisivas no Senado do controvertido projeto de lei sobre um novo Código Florestal. E aumentam as preocupações, tantos são os pontos problemáticos que vêm sendo apontados por instituições respeitáveis como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciência, o Ministério Público Federal, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o Museu da Amazônia, os comitês de bacias hidrográficas e numerosas entidades que trabalham na área, entre elas o Instituto SocioAmbiental e a SOS Mata Atlântica.

Não faltam motivos para preocupações graves. Entre eles, a possibilidade de transferir licenciamentos ambientais para as esferas estadual e municipal, mais suscetíveis a pressões políticas e econômicas; a anistia para ocupações ilegais, até 2008, de áreas de proteção permanente (reconhecidas desde 1998 como crime ambiental); a redução de 30 para 15 metros das áreas obrigatórias de preservação às margens de rios com até 10 metros de largura (a proposta atinge mais de 50% da malha hídrica, segundo a SBPC); a isenção da obrigação de recompor a reserva legal desmatada em todas as propriedades com até 4 módulos fiscais (estas são cerca de 4,8 milhões num total de 5,2 milhões; em alguns lugares o módulo pode chegar a 400 hectares); a possibilidade de recompor com espécies exóticas, e não do próprio bioma desmatado; nova definição para "topo de morro" que pode reduzir em 90% o que é considerado área de preservação permanente.

São apenas alguns exemplos. Há muitos. Para que se tenha ideia da abrangência dos problemas: o professor Ennio Candotti (ex-presidente da SBPC), outros cientistas e o Museu da Amazônia lembram que naquele bioma há uma grande variedade de áreas úmidas, áreas alagadas, de diferentes qualidades (pretas, claras, brancas), baixios ao longo de igarapés, áreas úmidas de estuários etc.; cerca de 30% da Amazônia pode ser incluída entre as áreas úmidas e cada tipo exige uma regulamentação específica, não a regra proposta no projeto. No Pantanal, são 160 mil quilômetros quadrados.

Mas não bastassem todas essas questões, recentes portarias ministeriais (Estado, 29/10) e do Ministério do Meio Ambiente mudaram - para facilitar - os procedimentos obrigatórios para licenciamento de obras de infraestrutura e logística, com o argumento de que há 55 mil quilômetros de rodovias, 35 portos e 12 mil quilômetros de linhas de transmissão de energia sem licenciamento - como se o problema estivesse nos órgãos ambientais, e não nos empreendedores/construtores.

E tudo isso ocorre no momento em que as últimas estatísticas dizem que o desmatamento na Amazônia permanece em níveis inaceitáveis: em sete meses deste ano foram mais de 1.800 km2, número quase idêntico ao de igual período do ano passado (Folha de S.Paulo, 1.º/11). E no momento em que se reduz a área de vários parques nacionais na Amazônia para facilitar a construção de hidrelétricas questionáveis (já discutidas várias vezes neste espaço). Esquecendo a advertência do consagrado biólogo Thomas Lovejoy: o desmatamento no bioma já chegou a 18%; se for a 20%, poderá atingir o turning point irreversível, com consequências muito graves na temperatura e nos recursos hídricos, ali e estendidas para quase todo o País. É uma advertência reforçada por estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Escritório Meteorológico do Hadley Centre, da Grã-Bretanha. Já o professor Gerd Sparovek, da USP (Estado, 26/10), adverte: o passivo com o desmatamento no País já é de 870 mil km2.

E ainda se pode perguntar: mesmo admitindo a hipótese otimista de o Congresso rejeitar todas as mudanças indesejáveis - hipótese difícil, dado o desejo de grande parte dos congressistas de "agradar" ao eleitorado ruralista e a parte do amazônico (que vê no desmatamento oportunidade de empregos e renda) -, mudará o quadro, lembrando que o Ministério do Meio Ambiente (e, por decorrência, o Ibama) tem apenas cerca de 0,5% do Orçamento da União? Não esquecendo que o Ibama só tem conseguido receber cerca de 1% das multas que aplica a desmatadores.

Estamos numa encruzilhada histórica, reforçada pelo fato de a população do planeta ter chegado a 7 bilhões de pessoas e caminhar para pelo menos 9 bilhões neste século - o que exigirá o aumento da oferta de alimentos em 70%, quando o desperdício, hoje, nos países industrializados chega a um terço dos produtos postos à disposição; quando nas discussões do ano passado na Convenção da Diversidade Biológica se demonstrou que o mundo perda entre US$ 2,5 trilhões e US$ 4,5 trilhões anuais com a "destruição de ecossistemas vitais"; quando a "pegada ecológica" da humanidade, medida pela ONU, indica que estamos consumindo mais de 30% além do que a biosfera planetária pode repor.

Nesta hora, em que o até ex-ministro Delfim Netto, que admite nunca haver se preocupado antes com a questão, manifesta (no livro O que os Economistas Pensam da Sustentabilidade, de Ricardo Arnt) seu desassossego com a escassez de recursos naturais no mundo e a possibilidade de esgotamento, é preciso mudar nossas visões. Admitir que tudo terá de mudar - matrizes energética, de transportes, de construção, de urbanização, nível de uso de terra, água, minérios, tudo. Relembrar o que diz há décadas o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud): se todas as pessoas tiverem o nível de consumo do mundo industrializado, precisaremos de mais dois ou três planetas para supri-lo.

A atual crise econômico-financeira está mostrando o quanto nos descolamos da realidade, com um giro financeiro anual (em torno de US$ 600 trilhões) dez vezes maior que todo o produto bruto no mundo no mesmo espaço de tempo (pouco mais de US$ 60 trilhões). Se não nos dermos conta dessa insustentabilidade, razão terá o índio Marcos Terena quando diz: "Vocês (os não índios) são uma cultura que não deu certo".

GOSTOSA


EDITORIAL FOLHA DE SP - Fantasia minoritária


 Fantasia minoritária
EDITORIAL 
FOLHA DE SP - 04/11/11

Presença de policiais militares no campus da USP é necessária e não ameaça em nada a liberdade de ensino e de pesquisa

Se, em alguma região ou bairro específico da cidade, registram-se vários casos de assalto, estupro e homicídio, não parece disparatada a conclusão de que é preciso aumentar o policiamento no local.

Frequentado por milhares de estudantes, com atividades que se prolongam pela noite, e permeando-se de áreas ermas e descampadas, o campus da Universidade de São Paulo não tem por que constituir exceção a esse raciocínio.

A presença de policiais militares na USP, para manter condições mínimas de segurança, serve, entretanto, de pretexto para atos pseudorrevolucionários de uma ínfima minoria de estudantes.

Ligados a grupelhos situados na mais extrema franja da esquerda universitária, cerca de 200 alunos ocuparam, primeiramente, a sede da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. A façanha teve pouco impacto. Depois de quatro horas de debate, numa assembleia a que compareceram aproximadamente mil pessoas, decidiu-se suspender a ocupação.

Mesmo assim, um grupo de 50 estudantes -pode-se dizer que a minoria de uma minoria- resolveu dar um passo além, invadindo a reitoria da universidade.

Diante dessa provocação evidente, na qual nem sequer as instâncias e organizações representativas dos próprios estudantes foram respeitadas, tomou-se a única atitude correta: pedir, judicialmente, a reintegração de posse do local, desalojando os ocupantes -pela força, se necessário.

Por timidez, excesso de suscetibilidade ideológica ou mera confusão, ainda há quem associe a presença da PM no campus com os traumas advindos da ditadura.

Uma coisa, entretanto, era o emprego de forças policiais para prender professores e estudantes suspeitos de fazer oposição a um regime antidemocrático. Totalmente diversas são ações de policiamento que em nada impedem a liberdade de cátedra, o ensino, a pesquisa e a própria realização de atos políticos dentro do campus.

Identificada abstratamente com "a repressão", segundo o antigo vocabulário da oposição ao regime militar, a PM hoje está na USP não para reprimir estudantes, e sim estupradores, ladrões e assassinos.

Vale assinalar, num rodapé tão curioso quanto deprimente, que o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior (Andes-SN) quis rememorar a antiga terminologia -e condenou, na internet, a "repreensão da PM" aos estudantes da USP...

"Repressão" ou "repreensão", não é disso que se trata, e não é a presença da PM que ameaça as atividades universitárias. Quem agride a democracia, o ensino e a pesquisa na USP é a paranoica minoria que invadiu a reitoria, no intuito de provocar um confronto que só atende às suas pueris fantasias de contestação.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Mão única
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 04/11/11

Embora seja visível o ressentimento de Marta Suplicy (PT-SP) diante da maneira pela qual se viu obrigada a abdicar da disputa pela Prefeitura de São Paulo, correligionários não acreditam que isso venha prejudicar a campanha de Fernando Haddad. Não restaria alternativa a Marta: o PT sair vitorioso da eleição é o melhor dos cenários para o partido, independentemente do candidato; a hipótese de Haddad triunfar sem o empenho da senadora seria ruinosa para ela.
Por fim, mesmo aliados admitem que o "martismo" não tem mais o mesmo vigor. E que só haveria estrago de fato se ela, magoada, deixasse a sigla.

Melhor idade 1 No bloco dos adversários do PT em São Paulo, há quem duvide seriamente do mantra suprapartidário segundo o qual a vitória na capital estaria destinada a uma "cara nova". Segundo esses céticos, nada melhor do que um nome "com experiência", de preferência respaldado em ampla aliança, para derrotar o ministro Fernando Haddad (Educação).

Melhor idade 2 Na seara de Geraldo Alckmin, esse pensamento se traduz na esperança de que José Serra ainda possa ser convencido a concorrer. No entorno de Gilberto Kassab, o figurino é preenchido por Guilherme Afif.

Cada um por si Os deputados petistas Cândido Vaccarezza, João Paulo Cunha e José Mentor, "os três mosqueteiros" da finada campanha da ex-prefeita, agora enviam recados para deixar claro que não vão se comportar como "viúvos da Marta".

Boletim De Zapatero a Hu Jintao, de Medvedev a Jacob Zuma, todos os chefes de Estado e de governo que estiveram com Dilma Rousseff em Cannes indagaram sobre a saúde de Lula.

Cortesia Sem visitas há três dias, o ex-presidente recebe hoje à tarde em seu apartamento o prefeito Luiz Marinho e a ministra Miriam Belchior (Planejamento).

Te espero lá Dilma aproveitou a cúpula do G20 para convidar os colegas a participar do Rio+20, encontro global sobre meio ambiente marcado para janeiro.

Aquecimento Antes da sabatina a que será submetido na Câmara, Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, deve se reunir na segunda-feira com o relator da Lei Geral da Copa, Vicente Cândido (PT-SP), em São Paulo. No mesmo dia, deputados que lideram o motim contra itens polêmicos do projeto visitarão o Itaquerão e Cumbica.

Protocolo Do novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PC do B-SP), sobre Valcke ter dito, em entrevista, que "o Brasil não vai vencer a Fifa", referindo-se aos pontos controversos da lei como a meia-entrada e a venda de bebida alcoólica em estádios: "Não queremos confronto com a Fifa, mas também não queremos submissão".

Antídoto Para reduzir a pressão de prefeitos no "governo itinerante" de Campinas, marcado para o dia 11, Geraldo Alckmin anuncia hoje medidas que vão de ações judiciais contra concessionárias à criação de fundo para absorver cobrança extra de pedágio. O pacote atinge as praças de Jaguariúna, Indaiatuba e Itatiba, hostis ao tucano na campanha.

Outro lado Altemir Gregolin (PT) diz que, embora atue como consultor, não presta serviços ao Ministério da Pesca, que já ocupou. Afirma ainda se declarar agradecido a Dilma não por contratos obtidos, e sim pelo "apoio à criação" da pasta e pelo "reconhecimento ao meu trabalho no governo".

tiroteio
"Ao dizer que Marta é 'importante no Senado', a presidente Dilma resolveu dois problemas de uma só vez: tirou-a da eleição em SP e se livrou de lhe oferecer um ministério."
DO DEPUTADO VANDERLEI MACRIS (PSDB-SP), sobre os termos da conversa entre a presidente e a senadora, que ontem anunciou a decisão de não disputar a vaga do PT na sucessão de Gilberto Kassab.

contraponto
Não é comigo

No recém-lançado "Dissenso de Washington", livro de memórias sobre seu período como embaixador na capital americana, Rubens Barbosa conta que no primeiro encontro FHC-Bush, em março de 2001, o brasileiro pediu apoio à aprovação de empréstimo do FMI para a Argentina. O anfitrião não gostou da ideia.
Ao encerrar a troca de informações sobre a situação de diversos países na América Latina, FHC introduziu o assunto Paraguai, e Bush retrucou, com ar malicioso:
-O Paraguai é com você. É problema seu, não meu.

IGNÁCIO LOYOLA BRANDÃO - Sabendo francês podemos ser mais felizes


Sabendo francês podemos ser mais felizes
IGNÁCIO LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 04/11/11

Não me considerem esnobe, exibido. Mascarado, como se dizia na minha infância. Não usam mais a palavra? Tão atual. O que há de gente mascarada no mundo. Vou dizer o óbvio. Para desfrutar melhor Paris, a Provence celebrada, e outros, sabendo francês, os prazeres multiplicam-se por cem, o desfrute por duzentos, a alegria por quinhentos. Mesmo que você tenha ido apenas para fazer compras, como a maioria dos brasileiros, que pedem descontos em português mesmo e em altos brados (ou em brado retumbante), vale a pena aprender francês.



O parisiense muda quando você se dirige a ele na sua língua, ainda que precariamente, como eu. Quem não gosta de uma pessoa que chega e você percebe o esforço que ela faz para se expressar em sua língua natal? Assim, vale a pena aprender francês para poder caminhar à vontade em Paris deixando-se envolver por ela, sabendo um pouco mais.

Claro, o francês não é importante apenas por isso. Mas já é um enorme handicap. Há as revistas, os milhares de livros traduzidos do mundo inteiro, o cinema, a música, até a facilidade nas compras. Só poder ler a gigantesca coleção La Pléiade (projeto de uma vida) no original é uma bênção, raras vezes igualada. Ou os fólios, delicados, sensuais? Hoje estamos aprendendo apenas o que o mercado chama de línguas úteis, como o inglês, o japonês, o mandarim. Mandarim? (Eu lá quero falar chinês?) Para vencermos na vida? Nos tornarmos empreendedores? Sermos alguém? Mas o que é ser alguém? Tudo tem de ter aplicação prática? Se é assim, acabemos com o ensino brasileiro, ele não leva a nada, do jeito que está estruturado.

Há na nossa vida algo que é preciso preencher. Uma necessidade interior de espírito, contemplação do mundo, da vida, avaliação das coisas. Encarar a existência como algo que precisa de alimento. Foram eliminando as línguas de todos os cursos, a não ser alguns muito especializados. Tive no ginásio português, inglês, francês, latim e espanhol e posso dizer que isso me ajudou. Mas vieram deletando tudo, como se diz. E o francês se foi por meio de ministros que só pensam em política. O atual quer a Prefeitura de São Paulo, imaginem. Nem administrou direito o Enem.

A primeira palavra que aprendi em francês foi: nous. Estava no primeiro ano do ginásio. Tínhamos aulas de francês desde o primeiro dia com mademoiselle Fanny, uma graça de pessoa. Perguntamos: "Por que a senhora começou com o nous, que significa nós, e não com o je, que quer dizer eu?" Ela sacudiu o dedo: "O nous somos todos, é o coletivo, a classe. O je é muito individualista." Esses eram os professores que tínhamos. Jamais dona Fanny falou em português na aula. Nos virávamos para saber o que ela queria dizer. Ela sabia conduzir a lição, de maneira que descobríamos os significados e as pronúncias às vezes sutis do francês, língua tão poética, sensível, cheia de nuances, e ao mesmo tempo incisiva. Dificuldades terríveis para diferenciar Anne (Ana) de âne (asno). A professora insistia, queria a perfeição. Nesta minha idade, penso, dia desses entrar para a Aliança Francesa a fim de aperfeiçoar minha precariedade.

Donna Fanny ainda está lá em Araraquara. Até algum tempo atrás, quando eu a encontrava na rua, ela me dizia, como sempre disse ao entrar na classe:

- Bonjour, mon enfant!

- Bonjour, madame.

- Mademoiselle, mademoiselle...

Ria, afetuosa. Aos 14 anos estávamos lendo Alexandre Dumas no original. Não era fácil, mas a gente acabava gostando, se imaginava na França. Também Victor Hugo, Lamartine, Chateaubriand, depois Balzac, Flaubert, Stendhal. Hoje chegaríamos a Le Clézio, Houellebecq, Jonathan Littell, Georges Perec. Aos 16 tivemos acesso a Jaques Prévert, que deslumbramento! A poesia entrava em nós por meio de Aragon, Paul Valéry, Verlaine, e, claro Rimbaud e Baudelaire, o maldito. Também Céline, complicado, Camus, os romances de Sartre, um pouco de Proust (eu mantinha a tradução do Quintana do lado). Toda semana, nos anos 50, havia um filme francês no cinema. Fanny insistia para que fôssemos. Não era exigir muito, sabíamos que algumas estrelas francesas como Martine Carol, Claudine Dupuis e Françoise Arnoul mostravam os peitinhos, era um avanço na nossa vida sexual. Mas havia Arlety, Edwige Feuillère, Maria Casarés, soberbas. E Gerard Philippe, jamais substituído. Hoje minhas paixões são Juliette Binoche, Irene Jacob, Marion Cotillard. Por outro lado, descobrimos os filmes de Marcel Carné, de René Clair, André Cayatte, Jean Delannoy, Robert Bresson, clássicos. Depois, digerimos toda nouvelle vague, que mudou a linguagem do cinema.

Nós, que aprendemos francês, tivemos sempre algo mais dentro de nós. De coisas pequenas e grandes. Não estou aqui para fazer lista e apenas para insistir numa coisa muito simples: sabendo francês, sempre me senti um pouco mais feliz na vida. Uma delas foi ouvir, recentemente, do garçom de um bistrô; "Monsieur, vous êtes du quartier?" (O senhor é do bairro?) Que, como Eros Grau diz em um livrinho delicioso sobre Paris, é um sinal de que você está sendo aceito. Coisa nada fácil para um estrangeiro. Que volte o francês às escolas!

CELSO MING - O preço do abandono


O preço do abandono
 CELSO MING 
O ESTADÃO - 04/11/11

A Grécia nunca esteve tão perto como agora de abandonar a área do euro, admitiu nesta quinta-feira até mesmo seu primeiro-ministro, George Papandreou.

Se o referendo for mesmo convocado e das urnas vier um não ao pacote de socorro, não sobrará a opção de arrancar ainda mais concessões. A Grécia terá de sair do bloco, alertam o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.

É um rumo já fartamente avaliado pelo próprio governo grego e por analistas. Em entrevista ao Estadão, Kenneth Rogoff, dos mais respeitados economistas do mundo, avisou ser altamente provável que, mais cedo ou mais tarde, a Grécia tenha mesmo de abandonar o barco.

Uma corrente cada vez mais forte na Grécia também pensa assim - embora 60% da população descarte uma saída desse tipo. Mas, enfim, se sacrifícios pedidos aos gregos para continuar na comunidade do euro são tão insuportáveis, qual seria o preço de eventual retirada?

O descarte do euro implicaria a volta da dracma, a um câmbio fortemente desvalorizado. Se não fosse para relançar uma moeda substancialmente desvalorizada, melhor seria ficar. Uma dracma valendo cerca de 50% do euro, por exemplo, ajudaria a dar competitividade aos produtos de exportação, o que, em princípio, colaboraria para reativar a economia e o emprego.

Também não haveria sentido largar o euro sem a aplicação de enorme calote sobre a dívida, como fez a Argentina em 2001. Sem um passivo para lidar, a vida econômica poderia ser retomada em outras bases, sem espremer tanto o povo grego, com redução de salários e aposentadorias e aumento de impostos.

Mas essa não é a medalha inteira. O calote fecharia as portas do crédito por anos. A Grécia enfrentaria despesas públicas sem ajuda externa, só com o que arrecadasse. O precedente da Argentina não serve de parâmetro, por se tratar de grande exportador de commodities (grãos e carne), com fartas receitas em moeda estrangeira. O PIB grego equivale a só 80% do argentino, sem uma economia pujante. As maiores receitas provêm do turismo, da indústria naval e algo da agricultura.

A atual dívida grega está denominada em euros, nada menos que 350 bilhões. Um bom pedaço desse crédito está com os bancos do país. O calote provocaria a quebra imediata de vários deles.

A população tem seus depósitos e aplicações financeiras em euros nos bancos gregos. Teria de trocá-los por dracmas. Mas é improvável que tenha à sua disposição os resgates que fossem buscar na rede bancária. Como também foi na Argentina, em 2002, quando se abandonou o plano de conversibilidade, autoridades gregas terão de organizar um corralito, isto é, racionar a devolução de depósitos.

Mais ainda, a dracma desvalorizada provocaria a derrubada de salários e aposentadorias em euros. Dependentes das importações do resto da Europa, gregos enfrentariam considerável alta do custo de vida.

Alguém poderia alegar que, sem mais uma grande dívida, não haveria mais despesas financeiras. Não é verdade. O governo da Grécia nunca pagou suas dívidas. Rolou vencimentos e incorporou juros ao principal. Mesmo assim, enfrenta rombo orçamentário (déficit equivalente a 9% do PIB, ou 19,2 bilhões de euros por ano). Viver sem crédito e só de arrecadação exigiria sacrifícios provavelmente maiores.

É sobre a perspectiva de uma paisagem assim que o eleitor grego teria de decidir se engole ou não o pacote da área do euro.

CONFIRA

Primeira surpresa. A primeira reunião do Banco Central Europeu comandada por seu novo presidente, Mario Draghi, produziu uma surpresa: um corte de 0,25 ponto porcentual ao ano nos juros básicos, agora baixados para 1,25% ao ano. Embora a inflação na Europa esteja em alta (para cerca de 3% ao ano) e isso tenha sido levado em conta por Draghi, a decisão foi derrubar os juros para enfrentar uma conjuntura de crescimento do desemprego e marasmo econômico.

Pombo romano. É cedo para dizer que o romano Draghi se proponha a ser mais pombo (mais latino?) e menos falcão (menos alemão?) na condução da política monetária (política de juros) da área do euro. Mas a decisão de estreia reforça essa aposta.

Blindar a Itália. Não há muito o que os líderes da Europa possam fazer pela Grécia. A bola está com eles e o que será, será. A prioridade agora é evitar que a contaminação das finanças da Itália seja irreversível.

MARIA CRISTINA FERNANDES - O dono da voz


O dono da voz
MARIA CRISTINA FERNANDES
Valor Econômico - 04/11/2011

Com uma voz mais rouca e fraca que a habitual, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva surgiu de preto no quarto do hospital Sírio-Libanês em vídeo divulgado na terça-feira pelo instituto que leva seu nome (www.icidadania.org). Ao lado da mulher, agradeceu, durante dois minutos, as mensagens de solidariedade que vem recebendo.

Desde que foi anunciado, no sábado, que o ex-presidente tem um tumor maligno na laringe a reação popular adquiriu vários matizes. A grande maioria, e não é preciso uma pesquisa de opinião para constatá-lo, solidarizou-se com Lula. Uma parcela pequena, mas ruidosa, de brasileiros exorcizou a pequenez de sua própria índole e a incivilidade de suas convicções com regojizo estridente.

É à luz da solidariedade de milhões com o maior líder popular da história brasileira que sua fala merece ser revisitada. Difícil imaginar que Lula pudesse vir a se despir da política mesmo num momento de fragilidade física e emocional. Se o apego à política lhe aumenta o apetite pela vida, é de se esperar até que seus médicos acolham o efeito terapêutico de uma relação estreitada entre o líder e o povo que governou.

"Temos que lutar; foi para isso que vim à terra"

O vídeo, no entanto, extrapolou o agradecimento. Mostrou que está em curso, capitaneada pelo próprio enfermo, a sacralização do mito. Lula se disse portador de uma missão na terra: "Nenhum ser humano pode se deixar vencer por uma dor ou por um câncer. Temos que lutar. Foi para isso que vim à terra. Para lutar e para melhorar a vida de todo mundo".

A autoridade moral de quem enfrenta um tratamento de câncer decorre com naturalidade. Em Lula, a biografia lhe autoriza em acréscimo dizer que não será a primeira nem a última batalha de sua vida, muitas das quais travadas nos corredores de hospitais públicos.

O ex-presidente incorporou de tal maneira a autoridade moral da enfermidade que, no vídeo, era o telespectador que parecia estar sob tratamento. Olhando sério para a câmera, disse: "Preste atenção numa coisa, sem perseverança, sem muita persistência e sem muita garra a gente não consegue nada".

Lula foi além. Naquele momento, depois de suas primeiras 24 horas de quimioterapia, levantou-se para pedir que os brasileiros apoiem e ajudem a presidente Dilma Rousseff: "É inexorável que o Brasil se transforme num grande país".

Estava ali para agradecer e foi da gratidão como moeda política que tratou. Em seu primeiro pronunciamento depois da notícia do câncer, o líder enfermo e redentor pede apoio à sucessora que elegeu. Se alguma dúvida havia sobre o compromisso entre criador e criatura, a doença o torna cada vez mais indissolúvel.

Ao final da gravação, Lula dirige-se aos petistas: "Tô doido para falar uns companheiros e companheiras mais fortes. Até a primeira assembleia, até o primeiro comício, até o primeiro ato público".

Antes de ter o tumor diagnosticado, Lula vinha operando ativamente na montagem dos palanques municipais governistas. Como se sabe agora, poucas horas antes de gravar a mensagem havia incumbido Dilma de negociar a desistência da pré-candidatura da senadora Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo.

A postulação de Marta vinha sendo desidratada há muito tempo. Com base em pesquisas que demonstravam um teto para a prefeita no eleitorado paulistano, seus ex-secretários municipais já tinham abandonado seu barco e os petistas que permaneciam ao seu lado pareciam estar ali com a missão de barganhar espaço na campanha do ministro da Educação, Fernando Haddad.

Não estava, portanto, descartada a possibilidade de desistência, a despeito do tumor de Lula. Mas a doença revestiu o pedido, feito 48 horas depois do diagnóstico do presidente, de outros significados. O primeiro é de que não há como o partido se recusar a atender ao seu líder enfermo. O outro é revelado pela escolha da mensageira.

Lula não incumbiu um dirigente do PT, nem José Dirceu, eterno herói da militância petista, para negociar com Marta, mas a própria presidente da República.

Além da possibilidade de a senadora petista poder vir a ser incorporada no primeiro escalão do governo, a missão de Dilma revela, para quem, no PT, ainda não havia percebido, que a presidente é, de fato e de direito, sua sucessora. É um recado claro e direto para os petistas de São Paulo, generais de brigada da luta interna.

No meio médico de São Paulo há pouca discordância sobre as chances de cura do ex-presidente, ainda que grassem divergências sobre eventuais impactos sobre sua voz decorrentes da decisão de se adiar a cirurgia com o recurso à quimio e à radioterapia.

É com essas indefinições que Lula joga ao se reposicionar, dentro e fora do PT, em função da doença.

A decisão de tornar público o câncer marca notável diferença em relação aos subterfúgios do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao lidar com o seu e usá-lo para se perpetuar no poder.

Lula já deu demonstrações suficientes de apego à democracia para ser comparado com Chávez. Já transferiu a faixa, mas ainda é o dono da voz. Ninguém se comunica melhor que ele. Mas o risco, ainda que remoto, de que esse poder de comunicação venha a ser afetado, não autoriza a mistificação.

Não dá para esperar que Lula deixe de fazer política enquanto durar seu tratamento. O ex-presidente teria tudo para sair da doença como o cabo eleitoral de uma grande campanha nacional pela melhoria da saúde pública brasileira. Seria a melhor resposta à vilania do "Lula no SUS", além de retribuição à altura da solidariedade popular.

Enquanto presidente, Lula não investiu na saúde pública como deveria, como tampouco o fizeram todos os que o antecederam e que também continuam a se tratar nos melhores hospitais do país. A oportunidade que se abre para sua liderança é que, curado pelo Sírio-Libanês, Lula ponha sua voz a serviço do SUS.

MÔNICA BERGAMO - LOTAÇÃO ESGOTADA


LOTAÇÃO ESGOTADA
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SP - 04/11/11

A JHSF prepara nova expansão do condomínio Cidade Jardim, na marginal Pinheiros. Quer erguer mais duas torres de escritórios no lugar, ao lado do shopping. O empreendimento já tem seis prédios.

PÉ FORA
Setores do PT temiam ontem que Marta Suplicy se licenciasse do partido ou até mesmo deixasse a legenda.
Sem perspectiva de se candidatar para cargos majoritários, ela poderia optar por outro caminho político.

PÉ FORA 2

O teatro montado para que Dilma Rousseff fizesse um "apelo" para que Marta permanecesse no Senado foi considerado um desastre por alguns dirigentes. A assessoria da presidente não teria sido enfática o suficiente, deixando claro que a senadora foi pura e simplesmente afastada por Lula da disputa.

PELO BRAÇO

Amigos próximos de Lula dizem que a ex-primeira-dama Marisa Letícia exagerou na dor de cabeça que sentiu no sábado apenas para convencer o marido a ir para o hospital Sírio-Libanês.

Dona Marisa faz acompanhamento neurológico há tempos, com o médico Milberto Scaff, professor titular de neurologia da USP. Ela tem um pequeno aneurisma que precisa ser controlado.

BALADINHA

O ator americano John Malkovich decidiu comemorar a estreia paulistana de seu espetáculo, "The Infernal Comedy - Confissões de um Serial Killer", hoje, logo após a apresentação no Theatro Municipal. Ele reunirá um grupo de amigos no Bar Secreto. Theodoro Cochrane, filho de Marilia Gabriela, será um dos DJs.

BANQUETE
Milena Toscano, a Vanessa de "Fina Estampa", se diz "solteira e feliz" na "Status" deste mês. "Não é na night, na balada, que você vai encontrar o homem de sua vida." A atriz, que afirma ser boa cozinheira, diz que, para conquistá-la, o parceiro deve ser um "Cordon Bleu", em referência à escola de gastronomia francesa.

BOAS PARCERIAS
A atriz Denise Fraga, a roteirista Carolina Kotscho e o fotógrafo Walter Carvalho foram, anteontem, à exibição de "Mundo Invisível", produzido por Leon Cakoff, Renata de Almeida, Caio Gullane e outros. Entre os diretores do filme, estão Maria de Medeiros e Atom Egoyan, que foi à sessão, no Unibanco Frei Caneca, com a mulher, Arsinée Khanjian.

BENDITA DOSE
Veva e Guto Quintella lançaram a Edição Única 2011 da Cachaça da Tulha no bar Ilha das Flores. O rótulo é criação do artista plástico Juarez Fagundes. Yaya Quintella e Chico Lima participaram do evento.

GAMBI DISCO

A festa Gambiarra, uma das mais famosas de SP, lança no próximo dia 14, na The Week, seu primeiro CD pela gravadora Warner.

A seleção feita pelo DJ Miro Rizzo tem sucessos que vão de "Coisinha do Pai", de Jorge Aragão, a "Prefixo de Verão", da Banda Mel.

ROCK NACIONAL, BEBÊ

Mais um musical à vista: "Rock 80" será baseado nas canções brasileiras que fizeram sucesso nos anos 80.

O projeto conseguiu autorização para captar R$ 6,5 milhões via Lei Rouanet.

DRAG QUEENS

E o ator André Torquato vai interpretar Felícia, uma das drag queens do musical "Priscilla - A Rainha do Deserto", que a GEO Eventos deve montar no Brasil no próximo ano.

Simone Gutierrez, de "Hairspray", também estará no elenco.

1,2,3 ENSAIO!

A banda Strokes, do vocalista Julian Casablancas, quer um miniestúdio em seu camarim no Planeta Terra para poder ensaiar antes do show. Eles se apresentam amanhã no Playcenter. É a primeira vez em cinco anos de festival que um grupo faz esse pedido.

VISÃO DE MUNDO

Zeca Camargo falará hoje sobre "Uma Visão do Brasil em 2022" em um encontro da revista "The Economist", no hotel Unique. Usará experiência de suas viagens internacionais para apontar perspectivas e avaliar como está a imagem do país no exterior, especialmente entre os jovens. O apresentador acaba de chegar de Nova York.

QUATRO MÃOS

A artista plástica Mônica Nador está montando exposição na galeria Luciana Brito sobre seu trabalho no Jardim Miriam, o Jamac. As intervenções nas ruas do bairro feitas por ela e pelos moradores serão transpostas para as paredes e fachadas da galeria na mostra "Cubo Cor", que abre no dia 19.

CURTO-CIRCUITO
A Fundação Dorina Nowill faz liquidação em seu bazar na Vila Clementino.

Steve Ross se apresenta no Club A nos dias 11 e 12, às 21h. 18 anos.

O clube Mokaï abre filial em Guarulhos no dia 25.

A festa Garotas do Roque acontece hoje no Container, na rua Bela Cintra, às 23h. Classificação: 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

DORA KRAMER - Governadores em ação


Governadores em ação
DORA KRAMER 
O Estado de S.Paulo

Governadores de Estados não produtores de petróleo, politicamente próximos ao governo e que estiveram incumbidos de negociar a nova partilha de royalties de forma a amenizar as perdas dos produtores, notadamente o Rio de Janeiro, se ainda não procuraram vão procurar a presidente Dilma Rousseff para aconselhá-la a não vetar o texto que for aprovado pela Câmara.

Na análise deles, o governador do Rio, Sérgio Cabral, faz uma aposta arriscada quando investe na pressão para que Dilma faça como o então presidente Lula e vete o projeto.

Primeiro, porque transfere todo o problema para a presidente - "põe a bomba no colo dela" é a expressão usada - e, segundo, porque deixa Dilma na desconfortável situação de se contrapor pela segunda vez em um ano a uma decisão majoritária do Legislativo.

Esses governadores acham que Sérgio Cabral investe no impasse, esquecendo-se de que - bem ou mal colocada a questão - há os eleitores de outros 24 Estados (ao lado do Rio estão São Paulo e Espírito Santo) com os quais a presidente, os senadores e os deputados não pretendem comprar briga.

A ideia, na semana anterior à eclosão do escândalo no Ministério do Esporte, era procurar a presidente e aconselhá-la a ter "extrema cautela" na condução do problema e de forma alguma repetir o gesto de Lula.

Se o veto dele seria derrubado caso fosse votado (para evitar foi apresentado um novo projeto no Senado), o dela teria o mesmo destino. Um desgaste.

Os governadores reconhecem que as perdas do Rio serão realmente grandes, mas eles atribuem a responsabilidade à opção feita pelo governador Sérgio Cabral, que preferiu radicalizar, ignorando tentativas de acordo sem ceder nada a não ser que a União "assinasse o cheque" do prejuízo.

Confiou na força de Lula e agora na pressão das ruas (há uma manifestação marcada para o próximo dia 10 no centro do Rio). O mais provável é que a história acabe no Supremo, pois os governadores apontam: quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, lava as mãos e diz que o governo já cedeu o que tinha de ceder, fala obviamente por delegação da presidente.

O resultado, até os "não produtores" reconhecem, é o pior possível: o Rio perde muito e os que ganham poderão contar com uma fonte de receita fácil para gastar à vontade, sem vinculação de destinação específica.

No mínimo, uma desvirtuação de propósitos.

Linha justa. 
Depois de o Supremo Tribunal Federal decidir que é crime dirigir embriagado, mesmo que não haja vítima, falta encontrar um jeito de enquadrar as pessoas que se recusam a fazer o teste do bafômetro escorando-se no princípio legal de que ninguém é obrigado a produzir provas contra si.

A esse respeito Eugênio Bucci e Maria Paula Dallari Bucci assinaram artigo ontem no Estado em que apresentam argumento irretocável: "Se prevalecesse (sempre) esse hiperindividualismo, estaríamos até hoje sem cinto de segurança, pois não caberia interferir na liberdade dos passageiros dentro de seus automóveis e também não haveria obrigação do uso de capacetes para os motociclistas, pois cada um seria dono do direito de esborrachar a sua cabeça onde bem entendesse".

Assim como nesses casos e no da proibição do fumo, o que está em jogo é a vida dos outros. Um bem maior que o direito individual ao que quer que seja.

Inabalável. 
No que depender da opinião de José Serra sobre Fernando Haddad, a pressão dos tucanos paulistas para que ele venha a se candidatar à prefeitura da capital não abalará a decisão do ex-governador de se guardar para quando 2014 chegar.

Há dez dias Serra comentou com um dos pré-candidatos do PSDB que achava Marta Suplicy um osso eleitoral bem mais duro de roer.

Centralismo. Primeiro com Dilma e agora com Fernando Haddad, Lula vem mostrando com quantos paus se faz uma democracia interna no PT.