segunda-feira, março 11, 2013

"A suspeita sobre Lula vai acompanhá-lo a vida toda" - ENTREVISTA COM FRANCISCO WEFFOR

REVISTA ÉPOCA 

O ex-ministro da Cultura e fundador do PT diz que a oposição facilitou a vida do ex-presidente no caso do mensalão e que a democracia brasileira, apesar do avanço, não está consolidada

JOSÉ FUCS


POUCOS INTELECTUAIS BRASILEIROS SÃO TÃO CREDENCIADOS A FALAR SOBRE LULA E O PT quanto o cientista político Francisco Weffort. Fundador e secretário-geral do partido de 1984 a 1988, WefFort conheceu de perto as entranhas da máquina petista, a personalidade de seus líderes e seus projetos políticos. Em 1995, ele se desligou do PT e aceitou o convite do então presidente, Fernando Henrique Cardoso, seu amigo e ex-professor, para ser ministro da Cultura. Não se filiou ao PSDB ou a qualquer outro partido desde então. Preferiu preservar sua independência. Autor de uma tese clássica sobre o populismo no Brasil, publicada em 1978, e ainda hoje uma referência na área, Weffort, aos 75 anos, voltou à vida acadêmica, como professor colaborador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e continua a produzir livros em profusão. Em sua obra mais recente - Espada, cobiça e fé (Editora Civilização Brasileira) -, lançada em 2012, ele mergulha nas raízes históricas da violência no Brasil e analisa seus traços na sociedade atual. Na semana passada, Weffort recebeu ÉPOCA em seu apartamento na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, onde mora com a mulher, Helena Severo, ex-secretária de Cultura do Estado. "Não tenho nenhuma indicação de que o Lula teve alguma participação no mensalão", diz. "Agora, tenho suspeitas, porque não é possível que um líder forte como o Lula não soubesse de tudo aquilo."

ÉPOCA- O senhor foi um dos fundadores do PT, em 1980. Qual sua vi?são sobre o envolvimento do PT no mensalão e a condenação de lide?ranças importantes do partido pelo Supremo Tribunal Federal (STF)? Francisco Weffort- O mensalão foi uma traição à democracia. Baseava-se na lógica antidemocrática de que os fins justificam os meios. Isso aparecia com frequência no discurso stalinista.

Havia a idéia de que você pode matar 50 mil pessoas para chegar ao comunismo. Só que, no final, você não chega ao céu, mas ao inferno. Na verdade, os meios é que antecipam os fins. Se você pratica meios criminosos, seus fins também serão criminosos. O mensalão também partia do princípio de que "todos fazem". Numa célebre entrevista que deu na França, Lula afirmou: "Meu pessoal acabou fazendo o que todo mundo faz no Brasil". Não é porque todo mundo faz que eles tinham de fazer. Depois, isso desembocou na tese da farsa do mensalão. O ex-ministro da Justiça (Márcio Thomaz Bastos) chegou ao absurdo de dizer que o caixa dois era habitual no país. Agora, um aspecto muito positivo foi a atuação do Supremo. Se levarmos em conta que quase todos os ministros haviam sido indicados pelo Lula, foi algo surpreendente. Foi uma coisa muito boa, porque eles estabeleceram critérios jurídicos para a significação transcendental da democracia. Isso mostrou que o Brasil é mais complicado do que se imagina, para o bem e para o mal. Neste caso, surpreendentemente, foi para o bem.

ÉPOCA - O senhor, que conhece bem Lula e o PT, acredita que seria possível haver o mensalão sem a participação direta dele?

Weffort- Não tenho nenhuma indicação de que ele teve alguma participação no mensalão. Nenhuma. Agora, tenho suspeitas, porque não é possível que um líder forte como o Lula, por mais que ele aparente ser tão ignorante, e de fato seja, não soubesse de tudo aquilo. A suspeita sobre Lula vai acompanhá-lo por toda a vida. Lula foi beneficiado por seu prestígio eleitoral. Não podemos esquecer que, no ano do mensalão, em 2005, ele era um alvo. Depois, deixou de ser, por uma vacilação da oposição. Por que não insistiram nas investigações contra ele? Isso tem raiz na convicção errada de que a situação poderia degringolar, como talvez o próprio Lula achasse, ou na idéia de que não dava para brigar com Lula, porque ele tinha um estoque eleitoral grande e ninguém ousava afrontá-lo. Houve um momento em que se podia falar mal de qualquer um no país, menos do Lula. Então, por uma razão ou por outra, ele ficou um pouco à margem desse processo.

"TENHO MEDO DE QUE. DIANTE DA FRAQUEZA DA ESQUERDA PARA OFERECER SOLUÇÕES AO PAÍS, VOLTEMOS A UM REGIME DE FORÇA"

ÉPOCA - Como o senhor vê a resistência do PT em assimilar a condenação de alguns de seus líderes no mensalão? Weffort - Em nome da democracia, a atitude correta seria dizer publicamente que eles devem ser condenados mesmo e pagar pelo que fizeram. O PT não faz isso. Passa a mão na cabeça deles, mas não os defende. O que me espanta é como um sujeito como Delúbio (Soares, ex- tesoureiro do PT), que será preso mesmo, aguenta tudo o que já aguentou sem dizer uma palavra para ninguém. De onde esse fulano tira essa fé? No caso do Zé Dirceu, ele construiu de si próprio a imagem de um garoto que nunca envelhece. É um líder estudantil de 60 e tantos anos de idade. Não tem cantor de rock com mais de 60 anos? Então, não é de espantar que um líder revolucionário como o Zé Dirceu, que nunca fez revolução nenhuma, tenha dificuldade de engolir isso. Porém é preciso admitir que ele é o que aceita de forma mais clara o fato, não o direito, de que será condenado, de que será preso.

ÉPOCA - O PT tem sido acusado pela oposição de ser um partido com sede de poder, apegado aos cargos, e de ter promovido o aparelhamento do Estado. Como o senhor analisa isso?

Weffort - Todos os partidos são assim. Nossa democracia, que tem aspectos muito interessantes de desenvolvimento social, apesar dos problemas, segue o padrão americano. Quem ganha leva tudo. Isso, com o PT, ficou mais claro do que com qualquer outro partido. Mas já era assim. As alianças partidárias nunca foram discutidas em torno de programas. O principal sempre foram os cargos. A "base aliada" não faz outra coisa senão discutir emprego. Não emprego para o povo, mas para eles. O PT só radicalizou o que já era a tradição da política cliente- lista brasileira. O PT não inventou o clientelismo no Brasil. Eles diziam é que não fariam isso. A questão da transparência também era muito importante para o PT. O PT se inspirava em certos conceitos de democracia radical, controle da base. Isso acabou. De adversário do clientelismo, o PT se tornou um radical clientelista.

ÉPOCA- O PT fez oposição sistemática antes de assumir o governo, em 2003. Mas não lida bem com criticas. O que acontece?

Weffort- Isso é resultado do uso do cachimbo por muito tempo. O cachimbo deixou a boca torta demais. Essa intolerância é uma coisa peculiar do PT, que vem da herança stalinista, marxista, leninista, que embute na cabeça do sujeito a idéia de que ele sabe tudo. A isso se deve somar a capacidade que tem a "marquetagem" de construir um discurso comum dos políticos, de manipular a opinião pública. Antes, os políticos faziam isso pelo contato pessoal. Eles se reuniam, conversavam e acertavam os ponteiros. Hoje, nos partidos que têm um mínimo de articulação, quem articula o discurso é o marqueteiro. Ele inventa certas fórmulas e vai tocando. Isso dá uma idéia que não sei se é real.

ÉPOCA - Como o senhor avalia o quadro político hoje, a antecipação da campanha eleitoral de 2014?

Weffort - Se a campanha eleitoral começou, começou bem antes do que deveria. Isso não é normal. Na verdade, foi um acerto do Lula com a Dilma. A meu ver, o que se fez foi lançar a candidatura da Dilma à reeleição porque Lula estava querendo ocupar espaço. Agora, há uma novidade na área do PT, do Lula: o Eduardo Campos (governador de Pernambuco), do PSB (Partido Socialista Brasileiro), está se lançando na disputa. Eduardo teve uma bela vitória em seu Estado, e o PSB cresceu em todo o país. Aécio é um líder importante, bem diferente de Serra, muito diferente de Dilma, que governou com êxito um dos Estados mais importantes do Brasil, mas deveria estar marchando com mais firmeza, como disse o Fernando Henrique. A vontade de poder do grupo do PT, seja Lula, Dilma ou Eduardo, é muito maior que a vontade de poder do PSDB, apesar do esforço do Fernando Henrique. O PSDB é um agrupamento disperso, com muito mais cacique do que índio para se unir em torno de uma candidatura. E Eduardo deveria perceber que o cenário na área dele exige mais cuidado. É só ver o que já ocorre no PSB no Ceará, com as declarações de Ciro Gomes (ex-ministro e ex-governador do Ceará) e de Cid Gomes (atual governador do Estado, irmão de Ciro) contra sua candidatura. Essa política de lideranças no Brasil é complicada.

ÉPOCA - Em 2013, a Constituição de 1988 completará 25 anos. Como o senhor analisa a evolução da democracia brasileira nesse período?

Weffort - A democracia brasileira tem crescido de forma extraordinária desde os anos 1980. Houve um progresso muito importante, com a participação do povo nas eleições. Por outro lado, custo a acreditar que seja uma democracia consolidada. Porque, no próprio crescimento de massa da democracia, surgem os venenos do autoritarismo. Hitler foi muito bem votado. Mussolini também. Na democracia majoritária, a democracia que temos, há, como disse, esta regra: quem vence leva tudo. Há chance de ocorrerem essas coisas. Se você consegue emprego para uma grande massa ou o Bolsa-Família, vira deus. Isso é o gérmen do autoritarismo, dentro da democracia. Sou otimista em relação ao desenvolvimento da democracia brasileira, mas os democratas precisam se mexer. A democracia não cresce espontaneamente.
Uma velha frase, que os jornais liberais repetiam no Brasil, era que "o preço da liberdade é a eterna vigilância". Só que a eterna vigilância não é só ficar denunciando os outros. É construir instituições para ampliar e preservar a democracia.

ÉPOCA- Por que, no Brasil, não surgiu um partido forte de centro-direita ou de direita liberal após a redemocratização? Weffort - Na história das democracias e das ditaduras, há um momento fatal em que os conservadores desistem de participar. Eles se habituam a resolver os problemas pelas mãos dos outros, a tirar a castanha com a mão do gato. Só que chega uma hora em que o gato come a castanha e o conservador. E eles somem. No Brasil pré-64, havia um pensamento conservador atuante. No governo militar, também. Mas não havia democracia. Com a redemocratização, todos os conservadores quiseram dar a impressão de que são de esquerda. O conservadorismo na política, algo muito importante, desapareceu. Talvez num jornal ou outro, em algum jornalista, ele ainda sobreviva. Mas, entre os partidos, não. Está cheio de gente defendendo bandeira de esquerda.

ÉPOCA- Há espaço para um partido conservador hoje no Brasil? Weffort- O Brasil precisa ter um partido conservador respeitável, como o PSD (Partido Social Democrata) da época de Ge- túlio, ou a UDN (União Democrática Nacional). Tenho medo de que esse partido não surja e de que, diante da fraqueza da esquerda para oferecer soluções ao país, voltemos a um regime de força, autoritário. Meu medo maior é do autoritarismo. Não sei de onde pode vir, mas ele não está excluído do cenário, embora a democracia no país esteja se ampliando.

A tortura que dá certo, na verdade dá errado - EUGÊNIO BUCCI

REVISTA ÉPOCA
De quando em quando, aparece alguém dizendo que, em situações extremas, a tortura de um prisioneiro pode estancar o mal e promover o bem. Os defensores desse sadismo de resultados costumam usar como argumento a hipótese da bomba-relógio. A historinha que eles contam é mais ou menos a seguinte: a polícia prende um terrorista que instalou uma bomba-relógio numa grande cidade; em questão de quatro ou cinco horas, milhões de pessoas morrerão e, como não há tempo de deslocar a população para fora do alcance da bomba, o único jeito é torturar o sujeito até ele dizer onde escondeu o explosivo, que, aí sim, será desativado pelos agentes de segurança. Nesse caso, concluem, a tortura seria justificada.

Mais recentemente, têm aparecido até filmes para nos convencer disso. Um deles, Ameaça terrorista (Unthinkable, 2010), se baseia precisamente na hipótese da bomba-relógio: um torturador (interpretado por Samuel L. Jackson) se encarrega de arrancar de um terrorista fanático a localização de artefatos nucleares instalados em metrópoles americanas. Como o torturador do filme esbanja competência fria - e como Samuel L. Jackson é um ator de carisma quente, adorado pelo público -, seus métodos levam a melhor. Moral da história: a tortura pode estar do lado dos mocinhos. Em outras palavras, existe a "tortura do bem".

O pano de fundo da intensa propaganda hollywoodiana é a tal Guerra ao Terror, movida pelo governo americano contra organizações extremistas, como a al-Qaeda. Desde os atentados de 11 de setembro de 2001, a mentalidade de Hollywood mudou bastante. Nos filmes mais antigos, torturadores eram apenas um signo do mal, gente baixa, um tipo de verme cinematográfico. Agora, o seviciador de vítimas algemadas pode ser um pai de família altivo, sóbrio e amoroso - tão abnegado e generoso que, pelo bem de sua pátria, é até mesmo capaz de fazer sangrar e padecer um ser humano indefeso. Vide Samuel L. Jackson em Ameaça terrorista. Ele não tortura por gosto, mas por heroísmo e abnegação.

No contexto da Guerra ao Terror, esse deslocamento do signo da tortura - que migra do polo do mal para o polo do bem - foi essencial para a Doutrina Bush. Agora, se tornou a menina dos olhos de fãs de cinema e também de intelectuais. Na semana passada, ÉPOCA publicou uma entrevista providencial e esclarecedora com Mark Bowden, autor do livro A caçada, sobre a operação de captura de Osama bin Laden por soldados americanos - tema que também virou filme (A hora mais escura). Lá pelas tantas, o entrevistador, o jornalista Rodrigo Turrer, pergunta se os interrogatórios violentos da CIA ajudaram na caçada. Bowden responde: "Foram eficazes para localizar terroristas e prendê-los. Isso, porém, não justifica o uso dessas técnicas". Ele argumenta que, muitas vezes, a brutalidade nos interrogatórios gera "erros, mentiras e desinformação". E completa: "Os dados para a arrancada final que encontrou Bin Laden não foram obtidos pela tortura, mas por investigação minuciosa".

Bowden tem razão. Essa história de que a tortura seria mais eficaz do que a investigação policial bem-feita é apenas um mito tecnocrático. Fora isso, atentar contra a integridade física de um prisioneiro constitui um ato incompatível com a civilização, seja qual for a situação hipotética, imaginada pelos entusiastas do pau de arara. Cenários extremos não valem como argumento. São ilógicos, irracionais. Matar é crime grave em qualquer sociedade, em qualquer código de conduta - não obstante, numa situação extrema, um cidadão de bem pode se ver impelido a esganar seu semelhante. Um pai que, dentro de sua própria casa, vê um filho ser agredido, humilhado ou barbarizado por um assaltante pode ter impulso de matar o agressor. Se fizer isso, terá de responder depois, nos tribunais, por seu ato, pois matar é crime e continuará sendo crime. Por mais que compreendamos as razões desse pai, o assassinato não deixará de ser crime. Se escrevêssemos as leis da civilização de acordo com hipóteses de urgência absurda ou de pressão psicológica total, a lei autorizaria o homicídio, as infrações de trânsito (todas elas) e os safanões de delegados em ladrões de galinha.

Dizer que a tortura é um crime não significa dizer que ela deixará de acontecer para sempre. Significa apenas que, quando ela acontecer, o torturador será devidamente julgado e punido. Pretender dar a ele uma carta branca, por antecipação, eqüivaleria a fazer de Sérgio Paranhos Fleury nosso ministro da Justiça. Seria o mesmo que transformar o crime na única lei verdadeiramente eficaz.

Por debaixo do pano - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 11/03

Na conta da Associaçao Brasileira da Indústria de Hotéis-RJ, a rede hoteleira do Rio recebeu 1,7 milhao de turistas ano passado, 100 mil a menos que em 2011.

Na verdade, esta estatística oficial nao pega a proliferaçao da chamada hospedagem alternativa, como albergues e hostels.

‘Barracô ’...
Aliás, uns empresários franceses estao comprando vários barracos no Vidigal com vista para o mar.

Vao transformá-los em hostels.

Em tempo...
Hostel é o cacete.

Nada muda
A renúncia de Gerhard Cromme da presidência do ThyssenKrupp, na Alemanha, nao deve afetar o processo de venda da Companhia Siderúrgica do Atlântico, no Rio.

‘Eh, Eh’
Veja que legal. Zeca Pagodinho (letra) e Djavan (melodia) fizeram o samba romântico “Eh, Eh”.

Vida dura
O troca-troca de diretores no grupo Eike Batista deve render alguns processos trabalhistas. Tem um ex-diretor, por exemplo, que veio com a família de Sao Paulo e, dias depois de comprar um apartamento no Rio, perdeu o emprego.

Mas isto acontece nas melhores famílias.

Águas de março
Eduardo Paes negocia uma parceria com o serviço de meteorologia americano, em Washington.

O prefeito pretende reforçar ainda mais o sistema municipal de previsao do tempo. Retrato da escravidão Antônio Pitanga, o ator, vai estrear como diretor. Fará um filme sobre a Revolta dos Malês, uma das primeiras sublevações de negros da história do país.

No elenco, devem estar a filha, Camila, além de Lázaro Ramos e Patrícia Pillar.

Segue...
A revolta, em 1835, em Salvador, é um fato marcante na história dos negros. Os líderes eram escravos de origem muçulmana.

O principal objetivo da revolta era acabar com a escravidao e a imposiçao do catolicismo. Um dos sonhos era implantar uma república islâmica. Foram reprimidos, e os líderes condenados à pena de morte.

Táxi, táxi
Pegar táxi na saída de um jogo de futebol nao é fácil. Marcelo Barreto, o intrépido repórter da SporTV, passou pela experiência na Inglaterra, terça, após o jogo entre Manchester United e Real Madrid.

Os motoristas recusavam corridas para perto ou cobravam preços absurdos. Outros só aceitavam viajar com o taxímetro desligado, cobrando o triplo do preço. Deve ser terrível... você sabe.

Zona Franca
O professor de educação física Andrei Britto abre, quarta agora, a CrossFit Leblon, inspirada no programa de condicionamento físico que faz sucesso em muitas academias de polícia nos EUA.

Leonardo Berenger dá curso sobre Shakespeare, no Departamento de Letras da PUC. Estão abertas as inscrições para curso de teatro para adolescentes, com Luisa Thiré, no Sesc Casa da Gávea.

Yedda Maria Teixeira, de 98, foi homenageada por amigos, ontem, pelo Dia Internacional da Mulher. PianuraStudio lançou coleção em Ipanema. Sara Sarres, a atriz, participará do show de Daniel Boaventura, quarta, no Vivo Rio. Rafael Lacaz venceu na categoria Trademarks de PI, no Client Choice Award 2013.

Infância perdida
Lembra o caso de uma adolescente de 14 anos, que teria sido estuprada por três policiais militares, em maio de 2012, em Teresópolis, RJ? A Promotoria da Auditoria Militar pedirá o arquivamento da acusaçao de estupro e denunciará os policiais por abandono de posto.

Em depoimento, ela disse que os PMs ofereceram carona em troca de sexo. Contou que nao queria, mas ceitou “para nao ficar a pé no meio do mato”.

Varredura no teatro
Policiais civis do Esquadrao Antibombas do Rio, com ajuda de um cao farejador, farao uma varredura, às 7h de hoje, no Teatro Municipal, que receberá, à noite, o Prêmio Laureus.

A açao é uma prévia do que acontecerá nos grandes eventos. 

Pente-fino
O Tribunal de Justiça do Rio prepara um grupo de trabalho para atuar na 4ª Vara Empresarial.

As cariocas
O jornal alemao “Frankfurter Allgemeine” publicou, ontem, matéria de página inteira com o escritor brasileiro Rafael Cardoso.

É que seu livro “Entre as mulheres”, está sendo lançado lá, pela Fischer.

Segue...
A ediçao alema é intitulada “Sechzen Fraune: Geschichcten aus Rio” (Dezesseis mulheres: histórias do Rio). Sao contos sobre mulheres de 16 bairros cariocas.

O jornalao disse que o livro é “um poderoso retrato de uma cidade”.

País de ‘concurseiro’
Da ministra Eliana Calmon, do STJ, ex-corregedora de Justiça, na Casa do Saber, no Rio:
— No meu tempo, os jovens sonhavam em seguir a carreira de juiz, ou de promotor, ou de procurador. Hoje, eles querem passar em concurso. Em qualquer um. É a moda dos concurseiros.

Um bolo sem fatias - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 11/03

O que têm em comum a Cadeira DRM e a canção Happy Birthday To You (Parabéns a Você)? Ambas ilustram o estranho mundo da posse de produtos e ideias neste século.

Um grupo de designers criou a DRM Chair - as iniciais se referem a Digital Rights Management - a tecnologia de códigos eletrônicos que limita o uso de produtos digitais. Por exemplo, um livro eletrônico com um código DRM, numa biblioteca, só poderia ser lido um número limitado de vezes pelo público.

A Cadeira DRM, criada pelo grupo Deconstructing (Descontruindo), tem um sensor. Depois de você ter plantado suas nádegas no assento 8 vezes, os encaixes das pernas da cadeira derretem e ela despenca. O grupo Deconstructing usou a cadeira como metáfora para sua proposta de repensar o mundo que conhecemos.

Já a canção dos aniversariantes, publicada em 1893, rende anualmente US $2 milhões à Warner Chappell, braço editorial da Warner Music. A canção foi composta pelas irmãs Mildred e Patty Hill como uma saudação matinal para as crianças da escola onde ensinavam, no Kentucky. Depois é que foi acrescentada a letra de Happy Birthday To You. Mas, alegam historiadores, há poucas provas de que as irmãs foram autoras da letra. 6 notas musicais, 5 palavras em inglês. O especialista americano em direito autoral Robert Brauneis insiste que o copyright da melodia expirou em 1949. Mas quem quer apagar as velas do bolo cantarolando hum hum hum hum hum hum? O cofre da Warner Chappell continua enchendo mas as duas irmãs Hill nunca receberam nada comparável à renda da canção que registraram no século 19. No Brasil, graças a um concurso para escolher a letra, promovido nos anos 40 pela gravadora Continental, hoje propriedade da Warner Music, Parabéns A Você, ganhou letra da poeta paulista Bertha Celeste Homem de Mello, falecida em 1999.

Se você, como eu, acha mais do que ridículo, moralmente questionável, uma corporação cobrar direito autoral por uma melodia que tecnicamente caiu em domínio público há 65 anos e é cantada milhões de vezes por dia no planeta, ofereço uma pausa para advocacia do diabo. Sabe quanto a Apple está oferecendo a gravadoras pela execução de músicas para o serviço de streaming que pretende lançar, o iRadio? 6 centavos de dólar por 100 execuções. Quem descobriu o valor foi o tabloide nova-iorquino New York Post. Para dar uma ideia da desfaçatez da Apple, o Pandora, um popular serviço de streaming, paga 12 centavos e o Spotify paga 35 centavos de dólar.

Mais de uma vez, ouvi músicos americanos dizerem que estão com saudades das gravadoras. Toda a euforia em torno do crowd sourcing, o sistema de arrecadação de fundos entre os fãs na Internet, popularizados por sites como Kickstarter, não se traduz em sustento para criadores de conteúdo como músicos e escritores. Além disso, como um compositor e autor desconhecido pode convencer milhares de pessoas a apostar em seu talento? Ou se manter em constante contato com os fãs, que têm alta expectativa de interação pela mídia digital? O risco da inovação era tradicionalmente assumido pela gravadora ou a editora.

É engraçado assistir à autodestruição da Cadeira DRM. Mas a autodestruição das avenidas de produção e distribuição de conteúdo não tem graça nenhuma. Quando você compra uma canção pelo iTunes, está, mais propriamente, alugando uma canção. Por isso uma nova companhia que criou uma tecnologia de bazar digital enfrenta processo num tribunal nova-iorquino por tentar promover a compra e venda de canções do iTunes entre usuários. Ponto para o consumidor, dirá o leitor. Não se anime. A Amazon e a Apple acabam de patentear tecnologias de comércio de "segunda mão" digital. É como disse o romancista bestseller Scott Turow ao New York Times: a revenda de livros eletrônicos vai provocar um colapso do preço do livro, já reduzido em boa parte pelo gigante onipresente Amazon. Quem vai querer comprar um livro eletrônico novo se pode comprar por alguns centavos? Afinal, só o livro físico dá sinais de uso. A tecnologia é boa para o consumidor? Sim, concorda Turow, que é presidente da união americana de escritores, o Authors Guild. "Até que os autores sejam extintos."

Existe uma cura para a doença brasileira? - EDMAR BACHA

Valor Econômico - 11/03

Há tempos o Brasil é conhecido como a terra dos contrastes. Hoje em dia, o contraste maior é entre uma economia que exibe pleno emprego e rápida ampliação da classe média, o que gera sensação de bem-estar na população e explica a popularidade do governo e uma outra economia, que padece de baixo crescimento e inflação elevada, o que sugere descontinuidade e crise num futuro não distante. Como romper com esse contraste e colocar o país na rota do desenvolvimento pleno?

No fim da década passada o Brasil parecia haver entrado numa fase de crescimento sustentado com inflação sob controle. Era o que sugeria tanto a trajetória favorável da economia desde 2004 como sua rápida superação da crise mundial de 2008-09. Entretanto, os "pibinhos" e a alta inflação a partir de 2011 nos indicam que a euforia econômica do período 2004-2010 teve caráter temporário, sendo explicada por fatores de natureza cíclica que se teriam esgotado em 2011.

De fato, entre 2004 e 2011, o país foi beneficiado por uma bonança externa de dimensões talvez únicas em nossa experiência histórica. Essa bonança, de quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB), foi gerada por uma explosão dos preços das commodities que exportamos e por um extraordinário influxo de capitais estrangeiros. Ela não somente gestou mas também financiou um enorme aumento da demanda interna, que se materializou num maior crescimento do investimento e do PIB. Esse crescimento pôde se manifestar sem pressões inflacionárias devido à apreciação do câmbio e à maciça incorporação de mão de obra ao processo produtivo.

Desde 2011, houve um arrefecimento do impulso externo: os preços das commodities pararam de crescer e em alguns casos se reduziram; o influxo de capital externo reduziu-se em função do maior risco do cenário internacional e também das barreiras à entrada criadas pelo governo brasileiro. A disponibilidade de mão de obra diminuiu e o câmbio se depreciou. Voltamos então aos "pibinhos" e à inflação elevada do período anterior a 2004.

Os diagnósticos correntes sobre a doença brasileira de elevada inflação e baixo crescimento enfatizam corretamente o baixo investimento e a alta carga tributária. Menor presença no debate tem tido um terceiro fator tão ou mais importante que esses: a reduzidíssima participação do comércio exterior na atividade econômica do país. Trata-se de uma questão de natureza estatística, pois o Brasil destoa dos demais países do mundo mais nesse quesito do que na taxa de investimento ou na carga tributária. É também uma questão de economia política: uma maior integração do país no comércio internacional induziria uma redução da carga tributária e uma maior taxa de investimento. Consideremos os argumentos a respeito.

De acordo com o World FactBook da CIA, o PIB brasileiro em 2012 foi o 8º maior do mundo. Entretanto, o valor de nossas exportações de mercadorias ocupou apenas a 24ª posição. Essa discrepância entre PIB e exportações é uma anomalia brasileira, pois a Comunidade Europeia ocupou o 1º lugar tanto em termos de PIB como de exportações. Os EUA ocuparam o 2º lugar em termos de PIB e o 3º em exportações. A China ocupou o 3º lugar em termos de PIB e o 2º em exportações. O 8º maior exportador do mundo é a Coreia do Sul, cujo PIB ocupa a 13ª posição no ranking mundial. Ou seja, países ricos ou bem-sucedidos em fazer a transição para o primeiro mundo são grandes exportadores. O que não acontece com o Brasil.

Quadro igualmente deprimente se revela quando olhamos os valores das importações. Nos dados do Banco Mundial, a parcela das importações de bens e serviços no PIB do Brasil é de apenas 13%, o menor valor entre todos 176 países considerados pelo banco. Na Coreia do Sul, a parcela das importações no PIB é 54%. Na Alemanha, 45%. Na China, 27%. Mesmo os EUA com sua economia gigantesca importa 18% do PIB, quase 40% a mais do que o Brasil.

Ou seja, vivemos no país mais fechado do mundo, embora a Coreia do Norte seja um concorrente. Segundo a CIA, a participação das exportações no PIB da Coreia do Norte é mais ou menos equivalente à do Brasil.

A evidência mundial é contundente: não há caminho para o primeiro mundo que não passe pela integração econômica com o resto da comunidade internacional. Esse é o grande desafio que o país enfrenta. Para ultrapassarmos a armadilha dos países de renda média que fracassaram na travessia para o desenvolvimento pleno (como a Argentina), é imperativo formular uma estratégia para que a indústria brasileira participe das cadeias produtivas globalizadas.

Essa estratégia terá diversas dimensões, inclusive na área dos acordos comerciais. Internamente, a principal medida será o abandono do protecionismo sobre insumos ao processo produtivo, o qual se manifesta em altas tarifas às importações, elevados requisitos de conteúdo nacional e normas técnicas absurdas (como a adoção de um padrão para os vergalhões de aço distinto daquele adotado nos principais países industriais). Trata-se de implantar, de forma pré-anunciada, uma progressiva mas substancial redução das tarifas de importação, dos requisitos de conteúdo nacional e das normas técnicas e burocráticas protecionistas.

O anúncio dessas medidas deverá por em marcha três outros processos. Primeiro, haverá uma antecipação de aumento das importações, o que provocará uma depreciação da taxa de câmbio. A proteção diferenciada que antes se exercia pelas tarifas às importações e outros mecanismos transformar-se-á numa "proteção cambial" horizontal, beneficiando os setores e atividades com maior vocação exportadora. Em segundo lugar, o governo se verá pressionado a efetivamente reduzir a carga tributária sobre as empresas, de forma a dar-lhes melhores condições de competir com os produtos estrangeiros. Em terceiro lugar, a perspectiva de poder importar bens de capital e insumos mais baratos e de integrar as indústrias brasileiras às cadeias produtivas internacionais levará a uma expansão do investimento privado para adaptar as empresas brasileiras a essa nova realidade econômica.


O Congresso deve respeito - RENATO JANINE RIBEIRO

Valor Econômico - 11/03

Num regime baseado no equilíbrio entre os Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - teoricamente o mais democrático dos três deveria ser o Legislativo. Sobre a Constituição norte-americana, diziam alguns teóricos da época que nela o presidente seria o elemento monárquico, por ser um só, embora eleito; o Judiciário, o aristocrático, composto que é pelos mais capazes e formado por cooptação; e o Poder Legislativo, o democrático, representando a diversidade de ideias do povo. Não é por acaso que o Legislativo é o único Poder que, por natureza, precisa ter representantes da oposição. Mas tudo isso, teoricamente.

Na prática, basta colocar uma questão: Blairo Maggi se sustentaria como ministro do Meio Ambiente num governo do PT ou do PSDB? Improvável. E Marcos Feliciano chegaria a ministro dos Direitos Humanos, sob qualquer um desses partidos? Impossível. Então, como é que o Senado e a Câmara, que - sempre teoricamente - deveriam escutar de perto a opinião pública, elegem para dirigir essas áreas pessoas que jamais ocupariam, no Executivo, posto correspondente?

O Legislativo se importa pouco com a opinião pública. Tivemos um sinal disso quando o Senado elegeu Renan Calheiros seu presidente, apesar de contestado pela sociedade: um abaixo-assinado contra ele alcançou, em poucos dias, 1,6 milhão de assinaturas.

Por que o Poder em tese mais democrático se interessa tão pouco pelo que o povo pensa?

Vemos um esvaziamento do Legislativo. Mas minha tese é que é sobretudo um auto-esvaziamento. É comum se denunciar a invasão, pelo Executivo e agora pelo Judiciário, das prerrogativas das Casas de leis. É fato que as medidas provisórias assinadas pela presidência da República dominam a agenda legislativa, pelo menos em relevância. Mas isso não aconteceria se as duas Casas mostrassem que estão fazendo coisas importantes pelo País.

A principal responsabilidade para que o Legislativo tenha o peso que precisa ter é dele próprio. Não adianta culpar o Executivo, porque chamou para si a atividade de legislar - ou o Judiciário, porque se mete em questões interna corporis - quando o próprio Legislativo descuida de sua importante missão. Esse descaso consigo, e com os votos dos brasileiros que o elegeram para representar sua diversidade, suas divergências, se expressa quando ele indica para cargos de direção pessoas que conseguem rejeição significativa logo nas áreas que estariam dirigindo.

O pior é que as comissões em questão são justamente as de maior conteúdo ético, meio ambiente e direitos humanos. (Poderíamos acrescentar as da igualdade racial e dos direitos da mulher - mas a missão delas, que é assegurar a igualdade étnica e de gênero, é temporária, deve se completar em alguns anos). Já o meio ambiente e os direitos humanos definem lutas sem fim, e a finalidade dessas lutas. Definem o centro do que pode ser a ética pública. Não seria exagero dizer que são elas que dão sentido global à ação de governo. Nosso mundo entrou para valer nos direitos humanos. As relações entre nós são cada vez mais discutidas nos termos deles. Incluem direitos políticos, civis e cada vez outros novos, inclusive o de ser respeitado até na vida privada. As grandes questões sociais da atualidade se expressam na linguagem dos direitos do homem. A redução da miséria, querida da esquerda, é um exemplo cabal disso. O combate à corrupção, bordão da direita, outro. Se o parlamento amesquinha as comissões que tratam dos fins da ação política, deixa os meios sem rumo, sem sentido.

O meio ambiente trata das relações que mantemos com a esfera da vida, da qual fazemos parte. A vida se tornou valor importante. Vejam dois exemplos sem nexo entre si: primeiro, o declínio da pena de morte no mundo; segundo, a valorização da biodiversidade como fator científico, cultural e econômico. Assim, o "bios" ou vida é o eixo para desenvolver a economia futura, e os direitos, o fundamento para tornar justas as relações humanas. E tudo isso anda junto.

Eis o que foi desdenhado pelos senadores, ao escolherem o presidente da comissão do Meio Ambiente, e pelos deputados, ao elegerem o presidente da comissão de Direitos Humanos. Colocaram-se frontalmente contra o que é mais carregado de futuro em nosso tempo. Optaram decididamente pelo retrocesso.

Então, não é o Congresso que nos protege de desmandos do Executivo, como sucedeu por exemplo na era Collor. É mais frequente o Executivo nos proteger de erros do Legislativo. No ano passado, foi o caso do Código Florestal, outra escolha do Congresso pela vantagem imediata de poucos, contra o bem comum a longo prazo. Isso tudo é, obviamente, muito ruim. Não desconheço a legitimidade de quem é eleito para a presidência da República. É a única eleição em que o voto de cada brasileiro tem o mesmo peso. Mas lastimo que uma única pessoa, investida já de tantos poderes, tenha que corrigir erros do poder que deveria ser o mais nobre segundo a Constituição. O certo seria o inverso.

Quem responde por isso? Antes de mais nada, parece ser o PMDB. Foi ele quem impôs Calheiros e, agora, o pastor Feliciano. O PT, embora seus deputados se recusassem a votar em Feliciano, aceitou - enquanto partido - a entrega dos direitos humanos a alguém com seu histórico. Já o PSDB não quis, quando pôde, enfrentar essas escolhas; basta ver que não votou, para a presidência do Senado, contra Calheiros, no senador Pedro Taques, homem que tem forte biografia no combate ético. Mas, só para concluir: ninguém sonhe com o parlamentarismo no Brasil, enquanto o Congresso não mostrar que merece ter mais poder do que já tem.


Resgate de reféns - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 11/03

A indústria do petróleo está apreensiva, porque certamente também seria afetada por uma guerra federativa

Abola voltou para o Palácio do Planalto, na polêmica dos royalties. Do jeito que está, o quadro é insustentável. Os ministros do Supremo Tribunal Federal certamente não querem se indispor com o Congresso, mas também não podem atropelar a doutrina tributária, desfigurando o princípio dos royalties. Entes federativos não produtores de petróleo fizeram o Rio de Janeiro e o Espírito Santo de reféns, e quem pode pagar o resgate, nesse caso, é somente a União, negociando uma redistribuição transitória de receitas pelos próximos cinco ou seis anos, até que se estabeleça novo equilíbrio entre contratos antigos e novos nos termos definidos pela lei votada no Congresso, já aceitos pelos estados produtores e que não foram vetados pela presidente Dilma.

A indústria do petróleo está apreensiva porque sabe que, nessa guerra federativa, pode sobrar para ela.

Acuado, o Estado do Rio tem na mão o estopim dessa guerra, em que todos sairão perdendo. Então, quanto mais rápido se negociar uma solução, melhor.

Bolsa tem futuro?

Em tempos de juros baixos, a Bolsa de Valores é apontada como caminho para os que buscam mais rentabilidade para o dinheiro poupado. No entanto, o desempenho das ações mais negociadas tem sido terrível.

As perdas com Petrobras nos dois últimos anos foram altíssimas. Quem subscreveu ações na última capitalização está ultra arrependido. A Vale também foi mal das pernas assim como outras blue chips. Restaram as ações de empresas de varejo e algumas outras com pouco movimento no pregão. Mas há apostas de recuperação este ano. A Apogeo Investimentos, do grupo DaVinci Partners (leia-se Gilberto Sayão, ex-Pactual, e outros sócios), que administra recursos de clientes no chamado segmento "prime", ainda projeta uma valorização de 15% nos seus fundos de ações (no ano passado a valorização foi de 26%).

A Bolsa brasileira conseguiu ser mais pessimista que suas congêneres lá fora. As europeias já chegaram a recuperar este ano o patamar pré-crise. A de Nova York bateu recordes seguidos. Mas aqui o mercado não para de andar de lado, com soluços de alta.

Mesmo assim há quem esteja de olho no futuro. O grupo que deve assumir em breve o controle da Bolsa de Nova York quer se instalar no Brasil. Associado à brasileira ATG, companhia criada anos atrás por exsócios da Ágora, e que hoje está na retaguarda de todo o suporte tecnológico que conecta a maior parte das corretoras aos clientes, o grupo americano criou a ATS pretendendo criar uma plataforma eletrônica de negociação de ações, complementar e ao mesmo tempo concorrente da Bovespa. Alan Gandelman, também oriundo do mundo da corretagem de valores, é que está encarregado de tocar o projeto. Existe uma discussão sobre se há espaço para mais de uma Bolsa no Brasil, tal qual nos Estados Unidos, onde funcionam pelo menos cinquenta. De fato, além das companhias tradicionais, o mercado de ações brasileiro não dá espaço para estreantes, o que limita o número de empresas negociadas a 400. Gandelman acha que o país já poderia ter mil empresas com ações sendo transacionadas, mas trabalha com metas bem conservadoras, no início. Depois de devidamente autorizada a funcionar, a ATS espera ter um movimento equivalente a 10% ou 15% do mercado em 2015, com um custo operacional que promete ser competitivo em relação à Bovespa, cujas ações são negociadas nela própria (está entre as companhias abertas mais lucrativas).

Da teoria à prática

É possível incorporar a ideia de felicidade ao conceito de sustentabilidade? Essa é uma pergunta que o Cebds, instituição que reúne um grupo de grandes empresas no Brasil em torno desse objetivo, agora se faz. A indagação envolve uma revisão dos antigos critérios para se medir desenvolvimento e que o Cebds teve a oportunidade de testar em um projeto nos morros da Babilônia e do Chapéu Mangueira, no Leme, após a pacificação. Pesquisa feita junto aos moradores, sobre o que eles mais ansiavam nesse esforço de tornar a comunidade sustentável (geração de renda, qualificação profissional, melhoria de infraestrutura, etc), encontrou uma resposta singela: eles gostariam de deixar o local mais bonito. De fato, por que não transformar esses morros, com vista espetacular do Rio, em uma área igualmente bonita? Embora seja um conselho empresarial mais voltado para estratégias, o Cebds sentiu a necessidade de passar da teoria à prática em experiências pontuais. E a do Morro da Babilônia/Chapéu Mangueira certamente foi bemsucedida pois já está rendendo frutos. O grupo, que aprendeu a cuidar de hortas domésticas e comunitárias, tem "vendido" essa tecnologia em outras áreas pacificadas, como a do Complexo do Alemão.

Perdido em 2043 - LULI RADFAHRER

FOLHA DE SP - 11/03

Nada mudou tanto quanto a medicina; sangue, ossos e até órgãos artificiais crescem em laboratórios


Da janela tudo parecia igual. Na rua, a mudança era grande. Os carros não tinham pilotos. O ar parece limpo. As pessoas, sujas. E magérrimas. Dava para confundi-las com moradores de rua.

Elas aparentam ter uns 30 anos, me surpreendi ao saber que tinham mais de 70. Estavam na flor da idade, pois a expectativa de vida ultrapassava os 120.

Meu intérprete diz que a magreza contribuía para a longevidade e que a "sujeira" era biotecnologia, explorando micro-organismos na pele e cabelo e protegendo-os de agentes nocivos como álcool e sabões. Ele é um robô, tem a forma de um papagaio. Pousado no ombro, me faz parecer um pirata.

Apesar de ridículo, não me deixariam sair sem ele -por segurança, disseram, mesmo que o crime físico estivesse quase erradicado por ali.

"Come-se muito pouco, alguns nem dormem", continua ele, enquanto eu comia um prato com cheiro e gosto estranhos, que parecia lasanha de micro-ondas.

Era carne sintética, tecnologia que multiplicou a produção de alimentos para atender os 9 bilhões. Boa parte da comida era geneticamente modificada, reciclada ou criada em laboratório.

Disseram que era nutritiva e livre de toxinas, o que pareceu bom demais para ser verdade.

É difícil descrever o impacto de tantas máquinas inteligentes, onipresentes, no cotidiano. De roupas climatizadas e sempre limpas a fachadas de prédios mutantes, tudo parece piscar e pular.

Não há computadores, celulares ou óculos. O software acompanha seu usuário na forma de "foglets", névoas de nanomáquinas que se configuram conforme a necessidade das pessoas. Não me acostumei com elas, por isso o papagaio.

Ele me conta das mudanças ocorridas nas três últimas décadas. Quase toda instituição teve de se reformular depois que surgiram a energia gratuita e a nanotecnologia, limpando o ar, reciclando o lixo e gerando um volume quase infinito de recursos.

Nada mudou tanto quanto a medicina. Sangue, ossos e órgãos artificiais crescem nos laboratórios, são adaptados ao DNA de seus usuários e trocados desapegadamente em funilarias humanas. Privadas identificam doenças e previnem cânceres. Neurocosméticos rejuvenescem a pele. Teme-se a eugenia, armas e drogas perigosas.

O papagaio, fui descobrir, me vigiava. Visitante de outra época, sem histórico, eu era imprevisível.

Em 2043 boa parte da vida pessoal é monitorada, não se fala em privacidade. Os espaços comuns são de propriedade privada, toda comunicação é registrada e interpretada.

Muito do que chamam de memória é só armazenamento sem reflexão. Infraestruturas lembram de tudo, e como não esquecem, não perdoam. Perdidas, muitas pessoas parecem sós, frágeis, infantilizadas, formatadas por mecanismos de busca e objetos de consumo.

Alguns, cansados das inconsistências humanas, recorrem a relações artificiais com máquinas. Do sexo enriquecido aos bebês que nunca crescem, tudo é artificialmente sereno.

O Mundo Novo parece tão Admirável quanto assustador. No "Tec", que tem 60 anos, continuamos a analisar o impacto da tecnologia no que teimamos em chamar de natureza humana.

REFORMA PARADA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 11/03

A venda de cimento no Brasil parou de crescer desde o segundo trimestre do ano passado -e apresenta até ligeira queda. Em fevereiro, a retração no volume comercializado caiu 2,2% em relação ao mesmo período de 2012. O índice indica esfriamento na construção civil.

NA ESTRADA
O governador Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, faz nesta semana tour em gabinetes estrelados do país para dar visibilidade à sua pré-candidatura. Deve se encontrar com jornalistas e empresários de Rio e SP.

ESPETO DE PAU
Dom Odilo Scherer pode até ter chance de virar papa -mas não entusiasma os que deveriam ser seus eleitores mais próximos: os outros cardeais brasileiros que votam a partir de amanhã no conclave do Vaticano.

SEGUNDO CAPÍTULO
Edir Macedo em nova editora: "Nada a Perder", do jornalista Douglas Tavolaro, que narra a vida do líder religioso, pode ser lançado pela Random House, que se fundiu recentemente com a Penguim Group e se tornou a maior editora do mundo. O primeiro volume da série, uma trilogia, foi publicado pela Planeta, que ainda detém seus direitos.

ÚLTIMO CAPÍTULO
Na semana passada, Tavolaro esteve em Barcelona e em Londres, na sede das duas gigantes do mercado mundial. O resultado da disputa em torno do livro deve ser conhecido nesta semana, quando ele decidirá com qual das duas editoras fechará negócio. A obra está há meses na lista dos livros mais vendidos do Brasil.

MUNDO LIVRE
Quando a Random House e a Penguim anunciaram a fusão, disseram ter como meta uma ofensiva no mercado mundial que inclui países como Índia, China e Brasil.

REDE MUU
Seguindo os passos do serviço de vídeo online Netflix, a Globosat, empresa que reúne os canais a cabo da Globo, vai produzir séries exclusivas para a sua plataforma digital, o Muu. Em fevereiro, o Netflix lançou o seriado "House of Cards", com o ator Kevin Spacey e o diretor David Fincher.

FORA DE CASA
Um roteiro será escolhido entre projetos elaborados por produtores independentes em palestras que a empresa tem realizado.

FORA DE ÉPOCA
Os deputados Luiza Erundina (PSB-SP) e Paulo Teixeira (PT-SP) e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) vão à USP hoje pedir ao reitor João Grandino Rodas que modifique o regimento da universidade. Especialmente os artigos que proíbem alunos de fazer manifestação política e partidária e de "promover ou apoiar" greves. Eles têm respaldado punições a estudantes e "são inconstitucionais", diz Teixeira.

TRATADO
O médico Paulo Hoff lança hoje livro sobre câncer que contou com a colaboração dos principais oncologistas, cirurgiões e pesquisadores do país. Serão abordados temas como prevenção, tipos de tumores, tratamentos e investigação molecular. Os direitos autorais serão cedidos para o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira.

INVASÃO BRASILEIRA
Museus e centros culturais de Frankfurt, na Alemanha, terão programação dedicada ao Brasil entre agosto e outubro, antes da Feira de Frankfurt. O país é convidado de honra do evento. E grafiteiros daqui vão fazer pinturas em locais públicos.

DATA VENIA
Sérgio Rosenthal, que acaba de assumir a presidência da Associação dos Advogados de São Paulo, ganhou jantar em sua homenagem na casa de Denise e Lionel Zaclis. Os advogados Fernando Lottenberg e José Diogo Bastos e o empresário Jorge Yunes com a mulher, Cintia, foram à reunião no Morumbi.

DE PARAR O SHOPPING
As modelos Cintia Dicker, Talytha Pugliesi e Giuliana Masiviero foram ao shopping Iguatemi conferir o lançamento de coleção de jeans na loja 7 For All Mankind.

CURTO-CIRCUITO
A revista "Âyné" será lançada no Espaço Itaú de Cinema Augusta, às 19h30.

O filme "Vai que Dá Certo" tem pré-estreia para convidados no Cinemark Iguatemi, às 21h. 12 anos.

A marca Oma Tees mostra coleção nas lojas da Oscar Freire e Cidade Jardim.

A rede internacional Nikkei Osaka abre restaurante no Itaim Bibi, às 21h.

Ciência sem Fronteiras... e sem critérios - ALEXANDRE BARROS

O ESTADO DE S. PAULO - 11/03
Começam a pipocar alertas sobre o programa Ciência sem Fronteiras, mais uma das soluções de burocratas para renderem muita notícia e depois serem esquecidas. Há um casamento de conveniência entre a ânsia da burocracia brasileira e a das burocracias universitárias num mundo em crise. Estudantes estrangeiros com bolsas governamentais são uma verdadeira bênção para qualquer universidade: governos pagam em dia e os alunos não dão muito trabalho. A maioria deles volta para o país de origem e as instituições de ensino superior evitam a má fama de graduados menos competentes rodando no mercado. 

Os vendedores de admissões nas universidades estrangeiras vêm mais aqui, agora. É fácil recrutar gente que dá lucro, incomoda pouco e não deixa rastros. 

Não é acidental que muitos estudantes brasileiros escolham Portugal: lá a língua é parecida com a daqui, embora as universidades nem sempre sejam melhores (Estado,5/3). Em outros países, porém, a porca torce o rabo. É difícil ter a proficiência desejada para estudar em outro idioma. E há também muitos choques na chegada: adaptação cultural, língua diferente, sistema mais "puxado" que o nosso (mas nem sempre)... 

O Ministério da Educação (MEC) diz que vai afrouxar os critérios de proficiência em língua estrangeira para acomodar mais estudantes. (Atenção: há uma grande diferença entre estudar numa boa universidade estrangeira e visitar a Disney!) Ora, aceitando tal afrouxamento, as universidades participantes com pactuarão comum sistema em que o governo brasileiro cobrirá prejuízos com o seu, o meu, o nosso dinheirinho. 

O Financial Times publicou a notícia de que a ministra do Interior da Inglaterra quer dificultar os vistos para brasileiros, por preocupações de sua pasta com a avalanche verde-amarela(incidentalmente, nossos conterrâneos vão lá para comprar de tudo e agora... educação). Praticamente todos os seus colegas de Gabinete estão contra ela, porque isso reduziria a produção de ovos de ouro que a galinha tupiniquim anda botando na Britânia. E eles são muito bem-vindos, sobretudo agora. 

Minha experiência pode ajudar. Fui admitido na Universidade de Chicago em 1968. Não era enturmado nem tinha bolsa. Corri atrás dela em 12 lugares possíveis. No fim, voltei ao início do jogo e fui conversar como representante da Fundação Ford, que eu conhecia porque havia trabalhado com um jovem brasilianista, dos muitos que andaram por aqui na época. Trabalhei, em inglês, com ele durante quase dois anos. Tinha seis anos de Cultura Inglesa. 

Com o atraso da bolsa perdi o prazo de chegada para o trimestre do outono. Fui então orientado por uma senhora de nome Cassandra, daquela universidade, a fazer o teste de inglês de Michigan, para dar tempo de começar os estudos em janeiro. 

Marchei. Fiz tudo: tirei passaporte, visto e a Ford deu-me a bolsa. Fui instruído a viajar em 25 de dezembro. No dia 26 haveria uma reunião de bolsistas da fundação em Nova York. 

Dez dias antes do embarque chegou uma carta da dona Cassandra dizendo que eu não poderia ir porque, embora tivesse boa nota em todos os itens do teste de inglês, na redação havia tirado 90 e o mínimo era 94. Ruiu o castelo de cartas. 

Fui falar com um amigo bolsista americano que estava aqui, mostrei-lhe a carta e, com um muxoxo,lamentei:"Acabou o sonho". Ele a leu, olhou firme nos meus olhos e disse: "Você vai! Você nunca recebeu essa carta!". Surpreso, retruquei: "Mas não posso! A carta está aí". 

"Você vai!", insistiu ele. "Você sabe inglês mais do que suficiente. Essa senhora tem um título pomposo, mas é apenas uma burocrata. Ela deve assinar umas 30 cartas dessas por dia. 
Você vai porque, senão for, você terá um problema; se for, ela terá um problemão. Terá de se ver livre de um corpo e engatar uma marcha à ré para reverter os movimentos de todas as máquinas burocráticas já acionadas: a Fundação Ford, os administradores da bolsa, o seguro de saúde e tudo o mais. Vá que não haverá problema.Você entrará na universidade direitinho." 

Fui. Apresentei-me à dona Cassandra. Depois do bom-dia, ela me perguntou se eu não havia recebido sua carta. Respondi firme: "Carta? Que carta?".   Lá estava eu, o "cadáver" a que ela teria de dar um destino, exatamente como o meu amigo americano previra. 

Primeiro choque: os americanos têm "jeitinho", sim, só que, como eles não têm complexo de vira-lata, não admitem isso. Fui posto numa "pena condicional de língua"depois que ela conversou com meu orientador pelo telefone. Ele lhe disse que eu sabia falar inglês muito bem, pois havia trabalhado com ele quase dois anos.Elá professor mandava mais que burocrata. 

Os primeiros meses foram de choques culturais diários: acostumar-me a viver no inverno, entender o que os americanos diziam, como funcionavam os seminários, aprender a operar as máquinas de venda, usar o sistema de reservas da biblioteca. E entender toda aquela engrenagem complexíssima da universidade (depois descobri, conversando com amigos americanos, que eles também haviam ficado confusos quando chegaram a uma universidade pela primeira vez). Finalmente, o grande choque: conheci, em 15 dias, a maior parte dos brasileiros do câmpus e o meu inglês era melhor que o de todos eles, sem exceção. 

Passado o primeiro trimestre o choque se foi elá passei os três melhores anos da minha vida. Agora pergunto: se o governo brasileiro está baixando os requisitos de língua em 20 pontos ou mais, como vão se virar os estudantes brasileiros sem a proficiência necessária? 

Aqui fica um depoimento de quem viveu situação um pouco parecida, somente como advertência para os responsáveis pelo programa. Se era difícil mandar o Alexandre "cadáver" de volta, como fará a burocracia brasileira para repatriar esses milhares de "cadáveres" herdeiros do Ciência sem Fronteiras? O nosso dinheiro já terá sido gasto.

Mudar sem mudar - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 11/03
"Acho que o governo não está nos iludindo . É mais grave: ele está iludido"
Cristovam Buarque, senador do PDT-DF

Começa amanhã a mais misteriosa das eleições, que atrai de tempos em tempos a atenção do planeta. Dela emergirá um rei. É pouco chamar o papa de rei. Antigamente, o poder dos reis era absoluto. Hoje, eles reinam, mas não governam. O Papa reina e governa. Com uma diferença que ainda o torna mais poderoso: ele é infalível. Sempre está certo quando delibera e define algo em matéria de fé ou costumes

SEU REINO NÃO se limita aos 0,44 quilômetros qua-drados da Cidade do Vaticano, onde moram cerca de 800 pessoas. Estende-se a qualquer lugar onde viva um único dos 1,142 bilhão de católicos romanos dispostos a escutá-lo. E a seguir sua orientação. O reino do Papa é deste mundo, sim. Mas também não é. Está conectado a outro reino de onde sua for ça verdadeiramente emana. Questão de fé , meu caro .

SE A ELEIÇÃO obedecesse à lógica dos números, o sucessor de Bento XVI seria um europeu. Porque o contingente de cardeais europeus é o maior . E seria italiano - pela mesma razão . Bento XVI, o papa emérito , é alemão . João Paulo II era polonês. Para reforçar a ideia de que o reino do Papa está ligado ao reino de Deus, a Igreja atribui a última palavra ao Espírito Santo.

NÃO É BEM ASSIM. "O Espírito Santo não escolhe o Papa. Não toma o controle do processo. Age como se fosse um bom educador , nos deixa muito espaço, sem jamais nos abandonar inteiramente", ensinou Joseph Ratzinger quando ainda não era Bento XVI. "O Espírito Santo não vai ditar o nome do candidato em que se deve votar . Há muitos exemplos de papas que ele, obviamente, não teria escolhido".

A DEUS O QUE é de Deus. Aos 115 cardeais aptos a votarem, a tarefa que lhes cabe. E que a essa altura foi cumprida em parte. Não se sabe - nem mesmo os próprios cardeais - qual deles acenará para a multidão reunida na praça de São Pedro depois que o aviso tiver sido dado: "Habemus Papam". Sabe-se, porém, que os cardeais tiveram tempo de sobra para traçar o perfil do futuro Papa.

BENTO XVI REINOU por menos de oito anos. Dono de vasta cultura religiosa, era o mais importante teólogo da Igreja quando sucedeu a João Paulo II. Foi um governante fraco, o que pouco teve a ver com seu estado de saúde. Não promoveu reformas. Acabou engolido pela Cúria, o aparelho administrativo da Igreja, minado por escândalos. Abdicou por lhe faltarem gosto e energia para exercer sua função.

HÁ MAIS DE um ano que os cardeais discutem o que fazer com a Igreja diante dos desafios que ela enfrenta e das sucessivas crises que a atropelam. Nada mais natural que tenham se perguntado: que ti-po de Papa necessitamos? A discussão ganhou velocidade com a renúncia de Bento XVI e a chegada em massa dos cardeais a Roma. Tudo indica que este será um conclave sem candidatos favoritos.

EUGENIO PACELLI entrou como favorito no conclave de 1939 e saiu como Pio XII. Paulo VI, também, em 1963. Joseph Ratzinger , idem , em 2005. Os demais Papas do século XX para cá viram suas eleições se desenharem quando estavam trancados e incomunicáveis na Capela Sistina. Ali ganharam nomes um ou mais perfis de papa esboçados com antecedência . Um dos perfis finalmente se impôs . E ganhou um rosto .

QUASE 70 DOS 115 cardeais-eleitores devem a Bento XVI sua condição de príncipes da Igreja. Os demais, a João Paulo II. O conclave será uma reunião de conservadores para entronizar um conservador simpático e mais jovem. Pois os progressistas foram extintos. E os moderados, quase isso.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 11/03

Empresa hoteleira do Paraná vai instalar segunda unidade no exterior
A rede de hotéis Bourbon deve instalar pelo menos cinco hotéis no país neste ano e um no exterior.

Três deles, que terão a bandeira Rio Hotel, receberão aporte de cerca de R$ 100 milhões juntos -não foi informado o valor para os outros.

A empresa ainda não divulga o país em que o novo empreendimento será instalado, mas estão sendo analisados Cuba, Chile, Uruguai e Argentina. Hoje, ela administra uma unidade no Paraguai.

No Brasil, a companhia atua no Rio, em São Paulo, no Paraná e em Santa Catarina. Há possibilidades de expansão para Minas, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.

"Estamos buscando ampliar a cadeia em todo o país. Há até conversas para o Nordeste, mas, por enquanto, esse não é o nosso foco", afirma Alceu Vezozzo Filho, sócio da empresa.

Sobre a possível superoferta de leitos no setor após os eventos esportivos de 2014 e 2016, Vezozzo Filho diz não se preocupar.

"Em algumas praças, como Belo Horizonte, a perspectiva é realmente de uma maior oferta em relação à demanda. Nossa política, nessas cidades, é entrar com apenas uma unidade."

Em Barueri (SP), a rede tem um hotel e está instalando um segundo, cujas obras consumirão R$ 150 milhões.

"São unidades com perfis diferentes, uma executiva e outra de luxo", diz.

Confiança do brasileiro cai no segundo mês do ano
A expectativa do consumidor piorou em fevereiro em relação a janeiro deste ano, segundo um balanço da Associação Comercial de São Paulo (Acsp) com a FGV.

O índice nacional de confiança (que vai de zero a 200 pontos) atingiu 152 pontos em fevereiro de 2013, ante 161 do mês anterior.

No mesmo mês de 2012, a pontuação foi 176.

Indivíduos pertencentes às classes D e E são os menos otimistas, com 137 pontos.

Em seguida, vêm as classes A e B, com 146 pontos, e a classe C, com 154 pontos no segundo mês de 2013.

"Ainda é muito cedo para fazermos um prognóstico do ano inteiro", diz Rogério Amato, presidente da associação comercial.

"Mesmo caindo, o índice está em um bom patamar."

A região Sul foi a mais confiante do levantamento.

"A boa safra de grãos deu ânimo à região, diz Amato.

Tijolo... O nível de emprego na construção civil do país cresceu 1,07% com mais 36 mil vagas em janeiro na comparação com dezembro, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon).

...com tijolo No acumulado dos últimos 12 meses, o número de pessoas empregadas subiu 2,44%, com a criação de 82 mil postos de trabalho. Com o aumento, a quantidade de trabalhadores superou a marca de 3,4 milhões.

Negócios O primeiro ministro da Nova Zelândia, John Key, reúne-se hoje com executivos brasileiros na Fiesp. O comércio entre os países é de cerca de US$ 125,5 milhões. Ele terá também um encontro com a presidente Dilma, em Brasília.

Hambúrguer... O Brasil respondeu por 47,3% das receitas totais da Arcos Dorados em 2012, maior franquia do McDonald's e a representante da companhia na América Latina. O faturamento no país somou US$ 1,8 bilhão, um aumento de 11% sobre 2011.

...lucrativo O lucro operacional da franquia em todo o mundo em 2012 foi de

US$ 237 milhões. No Brasil, onde estão 37,5% da unidades da Arcos Dorados em toda a América Latina, a companhia registrou um lucro operacional de US$ 193 milhões.

PONTOS PARA A CLASSE C
A Netpoints, plataforma de programas de fidelidade, aprovou um investimento de R$ 100 milhões para a expansão da marca em 15 metrópoles brasileiras até 2015.

O montante será aplicado na integração da plataforma da empresa com a dos varejistas (10% do valor), em anúncios e ações de marketing (70%) e em equipe de atendimento no suporte aos parceiros (20%).

"Os pontos não expiram e trabalhamos com marcas ligadas ao cotidiano das pessoas", afirma Carlos Formigari, presidente da Netpoints.

A estratégia, segundo Formigari, é fechar acordos com redes de supermercado e postos de gasolina líderes em suas regiões para depois firmar novas parcerias.

Juros mais leves no ir
Os bancos brasileiros reduziram neste ano os juros cobrados nas linhas de crédito que adiantam a restituição do Imposto de Renda.

Entre as quatro instituições financeiras consultadas, o Banco do Brasil e o Santander estão com as taxas mais baixas na modalidade.

No banco espanhol os juros caíram de 2,99% ao mês em 2012 para 1,59% mensais neste ano.

O Banco do Brasil já tinha a taxa mais competitiva (2,06%) entre os grandes concorrentes no ano passado.

No Itaú, no Bradesco, no Banco do Brasil e no Santander, o montante financiado deve ser pago em uma parcela única depois da devolução do tributo pelo governo.

A linha de crédito atende os correntistas dos bancos, que podem financiar de 80% a 100% da restituição.


'Queridos', pero no mucho - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

O Estado de S.Paulo - 11/03

"Queridos e queridas" é o novo "companheiros e companheiras". Dilma Rousseff voltou a soar seu bordão ao conjurar eleitores na sexta-feira à noite, no seu pronunciamento em rede de rádio e TV. "Meus queridos brasileiros e, muito especialmente, minhas queridas brasileiras" - começou a presidente, antes de anunciar a desoneração da cesta básica, no Dia Internacional da Mulher. Não foi por acaso.

"Queridos e queridas" são a chave para identificar quando Dilma está em campanha. Ao contrário de Lula, que conclamava os "companheiros" em qualquer discurso, ela faz uso seletivo do bordão. Parece até que a evocação depende de quem escreve o texto, se o ghost-writer palaciano ou o marqueteiro da reeleição. Mas importa menos o "quem" do que o "quando".

Em quase 400 manifestações públicas desde que tomou posse da Presidência, Dilma fez uso de "queridos" (no plural) em apenas 58 ocasiões. A referência a "queridas" foi duas vezes mais rara: só em 31 vezes. Juntos, "queridos" e "queridas" só saíram da boca de Dilma em 6% de suas falas. Foram poucas e boas, porém.

Os pronunciamentos presidenciais em rede de TV, quando a audiência é potencialmente de dezenas de milhões de pessoas, começam invariavelmente por "Queridas e queridos". Foram cinco vezes em 2011, quatro em 2012 e duas até agora em 2013. Dilma tem usado efemérides para monopolizar a TV: Natal, Dia do Trabalho, 7 de Setembro. Vale observar se a regra se repetirá até 2014 ou se o calendário eleitoral se imporá ao cronológico.

Na sexta-feira, as brasileiras foram "queridas" duas vezes e as mães, uma. Foi uma rara - senão única - demonstração de afetividade. Dilma costuma ser econômica nos adjetivos que dirige ao público. Fala uma vez "queridos e queridas" na abertura - ou quando se dirige diretamente à audiência - e basta. A repetição adjetiva de sexta-feira sugere um esforço extra para criar empatia.

O bordão é pouco espontâneo, mas maleável. Pode ser adaptado ao alvo, como em "queridas prefeitas e queridos prefeitos", usado por Dilma durante seu encontro com os novos chefes do Executivo municipal - e potenciais cabos eleitorais - em janeiro passado. Pode virar "queridos formandos" (formatura do Instituto Rio Branco) ou "queridos mineiros" (entrega do Mineirão).

Mas "queridos brasileiros" Dilma usa apenas nos pronunciamentos em rede de TV e rádio - ou em ocasiões solenes, como durante seu discurso de posse no Congresso Nacional.

O "querido" perde a solenidade, porém, se é dirigido a repórteres. Quando a presidente ouve uma pergunta de que não gosta, o interlocutor logo descobre porque a resposta vem precedida de um enfático e irônico "Meu querido...". Por exemplo, em "Meu querido, não respondo a essa pergunta" ou em "Meu querido, eu não vou ficar me atendo à pauta do adversário".

Poucas palavras revelam mais o estado de espírito presidencial do que "querido" - seja pela pronúncia ou pela omissão.

Em 2011, Eduardo Campos ouviu vários "querido", ditos em público pela presidente durante cerimônias em Brasília e no Nordeste. Em 2012 e 2013, nenhum (mesmo quando sua mulher, Renata, foi saudada com um "querida" por Dilma em dezembro, no Ceará). Ao contrário, desde o ano passado que os repasses federais para Pernambuco, o Estado governado por Campos, diminuíram a patamares não de "querido", mas de oposicionista.

Levantamento feito pelos repórteres Julia Duailibi e Bruno Boghossian, do Estado, mostra que a proporção de repasses voluntários da União a Pernambuco caíram quase pela metade entre o primeiro e o segundo anos do governo Dilma - indo na direção oposta do que ocorreu no governo Lula, quando só cresceram.

Não terá sido coincidência a escassez tanto de investimentos quanto de "queridos" no relacionamento de Dilma com Campos desde que o governador se tornou presidenciável. Daqui até 2014, "queridos" devem sair cada vez com mais frequência da boca de Dilma. Se forem incluídos nas referências ao governador pernambucano, será sinal de que o PSB e seu presidente decidiram adiar para 2018 o projeto de concorrer à Presidência.

'Queridos' e 'palhaços'. Antes "querido" do que "palhaço". Quando mandou um repórter "chafurdar" no lixo e o chamou de "palhaço", o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, demonstrou o seu equilíbrio.

Ao não pedir desculpas de viva voz e usar o texto de um subalterno para tentar se redimir, o ministro provou o seu caráter.

Bigelow na linha de sombra - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 11/03

O filme mostra tudo que existe para você e eu tomarmos vinho sem sermos explodidos


Vejo você escrevendo em seu gabinete. Você mora num bairro de classe média alta de São Paulo.

Pessoa sofisticada, você tem aquele sentimento que os outros são menos inteligentes do que você, sem deixar ninguém perceber porque está treinado a fingir modéstia.

Agora, imagine que você toma vinho, dá aulas e vê o olhar apaixonado das alunas brilhando ou o olhar convertido dos alunos acreditando piamente nos absurdos que você fala.

Mas você fala apenas absurdos simpáticos à sua própria vaidade ou à vaidade de quem ouve você. Quando ouvimos você falar ou lemos o que você escreve, temos certeza de que você é "ético".

A razão para existir esses intelectuais "para um mundo melhor" é fazer o mundo servir à vaidade deles e de quem se acha tão "ético" quanto eles.

A ética é a baixa escolástica contemporânea: todo mundo fala, mas todos sabem que é "papo furado". Dizer-se ético é "self-marketing".

Você viaja a Paris ou a destinos semelhantes e frequenta universidades, galerias de arte, concertos de música erudita (desculpe, sei que a palavra "erudita" trai meu preconceito contra músicas horrorosas "do povo").

Você recebe inclusive financiamentos públicos para algumas dessas viagens e para escrever livros. E, com isso, espalha pelo mundo as ideias delirantes que tem em seu gabinete.

Basicamente, essas ideias se caracterizam por não terem nada a ver com a realidade, mas portam aquele tipo de aparência que encanta: você é a favor de um mundo melhor e condena todo mundo que sabe que você mente.

Projetando a imagem de um coração puro indignado com a injustiça no mundo, às vezes você até esquece que, talvez, esteja processando alguém da família por um quarto e sala na Praia Grande ou em Higienópolis. Ou que trama contra inimigos ideológicos ou institucionais.

Claro, este fato concreto nada tem a ver com suas firmes ideias de que, se o mundo fosse como você acha, todos seriam felizes e não seriam necessários Exércitos, polícia, advogados, e, principalmente, pessoas que discordam de você.

As guerras acabariam, porque, óbvio, elas existem desde sempre apenas porque você ainda não tinha nascido no passado para iluminar a todos com sua "boa nova".

Ou, quem sabe, conseguiria calar a todos que não acreditam em você, aliás, como acontece normalmente com mimados e vaidosos como você.

Sim, vi o filme "A Hora Mais Escura", de Kathryn Bigelow. Brilhante. Há muito que desconfio que o cinema americano depende de cineastas mulheres para sobreviver à pobreza de espírito, pois grande parte dos homens ficou covarde.

O filme mostra tudo que existe para você e eu tomarmos vinho e viajarmos a Paris sem sermos explodidos por aí. Quem acha que o filme louva os "métodos" da CIA é porque não ainda atravessou aquela "linha de sombra" da qual faz referência o escritor Joseph Conrad: a linha que separa a infância da maturidade, ou, diria eu, que separa a vaidade da verdade.

O filme trata de pessoas que vivem na escuridão e com as mãos sujas, enquanto você posa de limpinho.

Compare este filme com o "Munique", de Steven Spielberg. "Munique" narra um suposto plano para matar os terroristas envolvidos na chacina dos atletas israelenses nas Olimpíadas alemãs.

Spielberg é um dos cineastas frouxos dos quais esperamos que Bigelow nos salve.

Em "Munique" o protagonista (líder do grupo) tem uma crise de consciência ao final e abandona "o barco" da espionagem israelense, se refugiando em Nova York. Muito típico de gente como você.

Compare esse final com o final da protagonista de "A Hora Mais Escura" (a ruiva deliciosa Jessica Chastain). Sozinha, "the girl" (como seus colegas da CIA se referem a ela ao longo do filme) tem um avião só pra ela.

O piloto do avião militar diz: "Você deve ser importante para mandarem um avião só pra você! Disseram para levar você para onde você quiser. Onde você quer ir?". Nossa deliciosa heroína não responde. Olha o vazio e derrama duas lágrimas. Um rosto sem vaidade.

Um filme para gente grande que sabe que o vinho nosso de cada dia custa mais do que o preço que pagamos.

Algo de podre no reino do petróleo - PAULO BROSSARD

ZERO HORA - 11/03

Repito a sentença do Padre Vieira, "a omissão é um pecado que se faz não fazendo"


No início de 2005 a refinaria Pasadena Refining System, de Pasadena, no Texas, foi adquirida pela empresa belga Astra Oil Company, pela quantia de US$ 42,5 milhões; em setembro de 2006 a Astra alienou à Petrobras 50% da refinaria mediante o pagamento de US$ 360 milhões, ou seja, vendeu metade da refinaria por mais de oito vezes o que pagara pela refinaria inteira, um ano e meio antes. Não seria de estranhar, por conseguinte, que a Astra Oil Co. pretendesse vender os 50% que permaneciam no seu patrimônio. Ocorre que, por desentendimentos cuja natureza ignoro, a Astra ajuizou ação contra a Petrobras e nela a Petrobras teria sido condenada e, mercê de acordo extrajudicial, pagou à Astra US$ 820 milhões, pondo fim ao litígio.
Somadas as duas parcelas, US$ 360 milhões em setembro de 2006 e US$ 820 milhões em junho de 2009, a Astra Oil Co. embolsou da Petrobras US$ 1,180 bilhão por uma refinaria que em 2005 lhe custara US$ 42,5 milhões.
Este o resumo do caso, do começo ao fim, havido entre a Astra Oil Co. e a Petrobras. Inépcia? Leviandade? Gestão temerária? Prevaricação? Outras causas? Não sei, o que sei é que o insólito fenômeno rompe todos os critérios atinentes a qualquer negócio e particularmente em relação a uma empresa que, embora de natureza privada pertence à nação, sua maior acionista.
Ora, não é de supor-se que o representante de uma das maiores empresas do país, afeita a lidar com milhões e bilhões, pudesse ser um parvo, um bonifrate, um pateta. No entanto, os números são constrangedores. De uma refinaria adquirida por US$ 42,5 milhões, em 2005, 50% dela no ano seguinte foi alienada por US$ 360 milhões e os outros 50% também transferida à Petrobras mediante o pagamento de US$ 820 milhões; somados os dois pagamentos, vale a repetição, atingem a US$ 1,180 bilhão. Dir-se-á que para zerar todos os litígios, teria entrado o "valor estratégico"... capaz de assegurar a duplicação da capacidade da refinaria, e revelar os segredos do fundo do mar no Golfo do México, mas sabe a chacota. Não surpreende que quando se conheceram os números do negócio, estes como o valor "estratégico" passavam a ser contestados.
Este o caso até onde sei e o que sei é o que tem sido divulgado. Com efeito, ele vem sendo abordado pelos meios de comunicação e até agora não se sabe de nenhuma providência que tivesse sido tomada. O assunto não é agradável, mas nem por isso pode ser mantido sob o comodismo do silêncio. Repito a sentença do Padre Vieira, "a omissão é um pecado que se faz não fazendo". É evidente que a senhora presidente da República tem todas as condições para o cabal esclarecimento da singular operação. Entre nós quando se fala em comissão esta terá de ser de "alto nível" e quando se trata de inquérito ele há de ser "rigoroso". Ora, quando o substantivo precisa da bengala do adjetivo o remédio é outro. Sempre entendi que os inquéritos não podem nem devem ser "rigorosos", nem flácidos; respeitadas as garantias de defesa, a diligência, a isenção, a tempestividade e a obediência aos prazos legais, substituem com vantagem o rigor. Nada de rigorismo ou lassidão, bastam legalidade e pontualidade; em uma palavra: a exação.

PS.: Estava a escrever este artigo, quando fui lembrado da passagem dos 60 anos da morte de Stalin, fato que mereceria uma reflexão.