segunda-feira, setembro 10, 2012

Ratos e homens - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA


Quando o ex-presidente Lula indicou o nome do procurador Joaquim Barbosa para o Supremo Tribunal Federal, em 2003, aplaudiu a si mesmo por mais esse lance da genialidade política que lhe é atribuída. Tornava-se, com isso, “o primeiro presidente deste país” a levar um negro à mais alta corte de Justiça do Brasil — o que não é bem assim, pois antes de Barbosa o STF teve dois ministros mulatos, já esquecidos na bruma dos tempos. Mas o que vale nas coisas da política, em geral, é o que se diz — e o que se disse é que havia ali um plano magistral. O novo ministro, agradecido pela honra recebida, seria um belo amigo do governo nas horas difíceis. Acontece que os melhores planos, muitas vezes, não acabam em bons resultados; o que decide tudo, no fim das contas, são os azares da vida. O grande problema para Lula foi que o único negro disponível para ocupar o cargo era Joaquim Barbosa — e ali estava, possivelmente, uma das pessoas menos indicadas para fazer o que esperavam dele.

Para começo de conversa, Barbosa dá a impressão de detestar, positivamente, o rótulo de primeiro "ministro negro” do STF. Não quer que pensem que está lá para preencher alguma espécie de “cota”; a única razão de sua presença no STF, julga o ministro, são seus méritos de jurista, adquiridos em anos de trabalho duríssimo e sem a ajuda de ninguém. Nunca precisou do apoio da “comunidade negra”, nem da Secretaria da Igualdade Racial, ou coisa que o valha. Também não parece se impressionar, nem um pouco, com gente de origem humilde. É filho de um pedreiro do interior de Minas Gerais, tornou-se arrimo de família na adolescência e ao contrário de Lula, que não bate ponto desde que virou líder sindical, em 1975, Barbosa começou a trabalhar aos 16 anos de idade e não parou até hoje.

O ministro, além disso, é homem de personalidade notoriamente difícil, sujeita a ásperas mudanças de humor e estoques perigosamente baixos de paciência. É atormentado por uma hérnia de disco que lhe causa dores cruéis e o obriga muitas vezes a ficar de pé durante as sessões do STF. É, em suma, o tipo de pessoa que se deve tratar com cuidado. Lula e o PT fizeram justamente o contrário. Quando Barbosa se tornou relator no processo do mensalão, em 2006, continuaram apostando todas as fichas na histórica impunidade com que são premiados no Brasil réus poderosos e capazes de pagar advogados caros. Descobriram, agora, que o trabalho de Barbosa puxou as condenações em massa no julgamento do mensalão — e jogou uma banana de dinamite no sistema de corrupção que há dez anos envenena a vida pública no Brasil.

A primeira trovoada séria veio quando o ministro aceitou a denúncia da procuradoria contra os quarenta do mensalão. Na época, o único deles com cabeça foi o ex-secretário-geral do PT Silvio ‘"Land Rover” Pereira; não contestou a acusação, foi punido com prestação de “serviços comunitários” e acabou resolvendo seu caso a preço de custo. Os demais, guiados pelo farol de Lula, preferiram ficar debochando. Durante o tempo todo, ele sustentou que o mensalão “nunca existiu”. Quando o julgamento começou, disse que não iria acompanhar nada: “Tenho mais o que fazer”. Delúbio Soares, operador-mor do guichê de pagamento do esquema, afirmou que tudo iria acabar em “piada de salão”. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, garantiu que o povo estava interessado, mesmo, é na novela das 9. O que queriam com isso? Imaginavam que Joaquim Barbosa, trabalhando como um burro de carga, com a tortura da dor nos quadris e seu temperamento de porco-espinho, estava achando engraçado ouvir que o seu esforço era uma palhaçada inútil? Lula e sua tropa tinham certeza de que o processo iria se arrastar até o Dia do Juízo Final. O ministro Barbosa, hoje, poderia dizer: “Não contavam com a minha astúcia”. No caso, sua astúcia foi entender a diferença entre “muito tempo” e “nunca”. Tudo seria demorado, claro. Mas ele tinha certeza de que terminaria o seu trabalho — e que os 80% de popularidade de Lula, aí, não iriam servir para nada.

Em sua curta obra-prima Ratos e Homens, um dos clássicos da literatura populista americana, John Steinbeck se inspira num antigo poema escocês para nos dizer que os mais bem cuidados planos deste mundo, sejam feitos por ratos ou por homens, são coisas frágeis; podem ser desfeitos pela roda do acaso, que é indiferente tanto aos projetos mais humildes quanto aos mais ambiciosos, e só acabam deixando mágoa e dor. Joaquim Barbosa talvez faça com que os mensaleiros se lembrem disso por muito tempo.

Por que somos tão pouco ambiciosos? - GUSTAVO IOSCHPE

REVISTA VEJA


Fui fazer faculdade nos Estados Unidos em 1995 e depois voltei para mais dois anos de mestrado lá. Saí mais otimista em relação ao Brasil do que quando cheguei. Até aquela época, o contato com os EUA se resumia a férias, filmes e encomendas trazidas de viagem. Sob esse prisma, o país parecia uma Terra Prometida, onde tudo era bom e barato e as pessoas, ricas e civilizadas. Se era assim na média, imaginei que depararia com verdadeiros super-homens nas universidades Ivy League para as quais me dirigia. Felizmente, eu me decepcionei. Meus colegas americanos eram muito mais ignorantes e superficiais do que eu imaginara. E, fora as questões intelectuais, me chamou a atenção seu desajuste emocional. Parecia que todo mundo estava ou brigado com os pais, ou tomando antidepressivos ou indo a festas para beber até cair. Muitas pessoas se encaixavam nas três categorias. Se esse pessoal conseguiu construir a potência hegemônica do planeta, pensei eu, nós também podemos. Yes, we can!

A volta ao Brasil depois de oito anos foi. porém. surpreendente. Porque era (e segue sendo) claro que o país se divide em dois grupos. Um é cosmopolita, aguerrido, preparado e ambicioso. Gente que tem fome, que quer competir com o que há de melhor no mundo. Ayrton Senna. O outro é provinciano, malemolente. com baixa instrução, acomodado. Um pessoal que está satisfeito com o que a vida lhe deu. Macunaíma. Impossível quantificar construtos tão subjetivos, mas diria sem medo de errar que o segundo grupo é muito mais numeroso do que o primeiro.

Prova indireta disso é que os slogans dos presidentes democraticamente eleitos nas últimas décadas - portanto, afinados com a mentalidade coletiva - pertencem quase todos ao segundo grupo. Sarney: "Tudo pelo social". Itamar: "Brasil, união de todos". Lula I: "O melhor do Brasil é o brasileiro". Lula II: "Brasil, país de todos". Dilma: "País rico é país sem pobreza". Todos esses olham para dentro e para trás: o foco é sanar desigualdades, incluir. corrigir os erros do passado, glorificar o que temos. Com exceção do "Avança, Brasil" de FHC, Ninguém faz menção ao mundo exterior ou ao futuro. Ninguém almeja tomar o Brasil aquilo que, até por suas dimensões e riquezas naturais, ele deveria naturalmente querer ser: uma potência mundial.

Compreender e explicar essa acomodação está além deste espaço e deste colunista, mas as consequências desse espirito são claras: ficamos muito abaixo do que poderíamos ser. Tanto a literatura acadêmica (disponível em twitter.com/gioschpe) quanto a minha experiência de vida têm me mostrado que a gana individual - perseverança, resiliência. ambição - é fator fundamental no sucesso de uma pessoa, aliada à qualidade de sua formação. Não faltam inventividade e persistência ao brasileiro: o problema é que os sonhos de muitos compatriotas são bem mais acanhados do que poderiam ser. Alguém já disse que o homem prudente é como o bom arqueiro: mira sempre um pouco acima do alvo. O Brasil já mira abaixo do que deveria, e portanto acaba alcançando ainda menos do que ambiciona.

Em nenhum lugar esse rasgo da nossa psique está mais aparente e imbricado com uma complexa relação de causalidade do que em nosso sistema educacional. Se a nossa pouca ambição já vem de família, certamente ela é muito reforçada em nossas escolas. Em um perfil do professorado brasileiro traçado pela Unesco e pelo MEC. 75% dos professores declararam preferir a igualdade à liberdade. O objetivo da nossa escola é homogeneizar, não desenvolver talentos. Um levantamento de 2007 do Inep. O órgão de pesquisas do MEC. Identificou 2 553 alunos superdotados na educação brasileira. Para identificar menos de 3000 superdotados em uma rede de mais de 50 milhões de alunos é preciso um esforço consciente de cegueira. Eis aí uma diferença básica entre o que vivi em escolas brasileiras e universidades americanas: aqui. o bacana era o cara que não estudava, baladeiro. safo. O aluno aplicado é "nerd", otário. Lá. assim como em outros sistemas educacionais de ponta, valorizado é o aluno que estuda muito e tira ótimas notas. Nos EUA, os melhores alunos entram para honors lists: na Alemanha, há sistemas educacionais diferentes para aqueles com ambições acadêmicas mais altas: na China, os alunos são ranqueados e precisam de boas notas para adentrar as melhores escolas e. depois, as universidades. Aqui. o histórico escolar da pessoa não importa. O jogo é zerado no momento da entrada para a universidade, decidido por meio de um único teste (vestibular ou Enem). No Brasil, há uma estranha percepção de que recompensar os melhores e mais aplicados seria romper o ethos republicano. Nossos professores descreem de seus pupilos: só 7% deles acreditam que quase todos os seus alunos chegarão à universidade, segundo questionário da Prova Brasil 2009. Nosso desastre educacional também desestimula ambições ao tirar do brasileiro o preparo intelectual que é o pré-requisito para voos mais altos. Pesquisa do Inaf mostra que 74% dos adultos brasileiros não são plenamente alfabetizados. Com esse despreparo, sonhar muito alto pode ser sinal de doença psiquiátrica.

A má educação causa a falta de ambição e é também causada por ela. Nos países que deram grandes saltos, a educação não foi percebida como um fim. mas como parte de um projeto nacional. China do século XXI. Coreia da década de 70. Estados Unidos dos anos 30. Japão do pós-guerra: nesses e em outros casos, os países perseguiam um sonho de grandeza. A educação não era o ponto de chegada, mas pane da ponte até o futuro glorioso. Pane do nosso problema é que. ao não termos um projeto nacional inspirador, a educação deixou de ser uma questão dos brasileiros e se tomou propriedade dos professores e funcionários. Alguns deles têm espírito público e generosidade e fazem o melhor que podem para os seus alunos e. consequentemente, o país. Mas a maioria acaba se acomodando em um sistema que não incentiva o mérito, nem pune o demérito; as únicas causas que defendem são as suas próprias.

Mas será que precisamos ser mais ambiciosos?

O Brasil já apareceu nas primeiras posições em levantamentos internacionais de felicidade. Os céticos dirão que optamos por menos ambição e desenvolvimento em troca de mais bem-estar, sociabilidade e alegria. Acho essa uma falsa dicotomia. É possível ser simultaneamente desenvolvido e alegre. Na última pesquisa Gallup sobre felicidade mundial, realizada de 2005 a 2011. os dez primeiros colocados eram todos do Primeiro Mundo e os dez últimos, subdesenvolvidos. Sou cético quanto à qualidade de uma escolha tomada em situação de pobreza intelectual como a que temos no Brasil. Longe de mim sugerir que analfabetos não devam poder decidir sobre a vida deles. Democracia e liberdade são valores supremos. Mas seria demagógico supor que a qualidade das decisões que uma pessoa toma não muda com melhorias radicais de instrução. Pesquisas mostram que pessoas mais instruídas fumam menos e são mais saudáveis. Finalmente, não creio que seja lógico ou ético optar pelo nosso atual patamar de desenvolvimento, quando ele significa que tantos milhões de pessoas estariam condenadas a uma vida indigna, da mais absoluta privação. Eu não teria problema de viver em um Brasil que. a exemplo da França, optou por reduzir a semana laborai. trocando riqueza por lazer e família - desde que o Brasil chegue ao patamar da França, em que há riquezas acumuladas para bancar a ""preguiça"" e validar a decisão de pegar leve. O Brasil ainda não chegou lá. Temos um caminho longo. Convém mirar mais alto do que vimos fazendo.

Batman e Robin em ação no Supremo - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA


Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli são a prova viva de que a revolução companheira triunfará. Dois advogados medíocres, cultivados à sombra do poder petista para chegar aonde chegaram, eles ainda poderão render a Luiz Inácio Lula da Silva o Nobel de Química: possivelmente seja o primeiro caso comprovado de juízes de laboratório. No julgamento do mensalão, a atuação das duas criaturas do PT vem provar, ao vivo, que o Brasil não precisa ter a menor inveja do chavismo.

Alguns inocentes chegaram a acreditar que Toffoli se declararia impedido de votar no processo do mensalão, por ter advogado para o PT durante anos a fio. Participar do julgamento seria muita cara de pau, dizia-se nos bastidores. Ora, essa é justamente a especialidade da casa. Como um sujeito que só chegou à corte suprema para obedecer a um partido iria, na hora H, abandonar sua missão fisiológica?

A desinibição do companheiro não é pouca. Quando se deu o escândalo do mensalão, Toffoli era nada menos que subchefe da assessoria jurídica de José Dirceu na Casa Civil. Os empréstimos fictícios e contratos-fantasmas pilotados por Marcos Valério - que, segundo o processo, eram coordenados exatamente da Casa Civil - estavam, portanto, sob as barbas bolivarianas de Toffoli. Ele está julgando um processo em que poderia até ser réu.

A desenvoltura da dupla Lewandowski-Toffoli, com seus cochichos em plenário e votos certeiros, como na absolvição ao companheiro condenado João Paulo Cunha, deixaria Hugo Chávez babando de inveja. O ditador democrata da Venezuela nem precisa disso, mas quem não gostaria de ter em casa juízes de estimação? A cena dos dois ministros teleguiados conchavando na corte pela causa petista, como super-heróis partidários debaixo de suas capas pretas, não deixa dúvidas: é a dupla Batman e Robin do fisiologismo. Santa desfaçatez!

Já que o aparelhamento das instituições é inevitável, e que um dia seremos todos julgados por juízes de estrelinha na lapela, será que não dava para o estado-maior petista dar uma caprichada na escolha dos interventores? Seria coincidência, ou esses funcionários da revolução têm como pré-requisito a mediocridade?

Como se sabe, antes da varinha de condão de Dirceu, Toffoli tentou ser juiz duas vezes em São Paulo. Foi reprovado em ambas. Aí sua veia revolucionária foi descoberta, e ele não precisou mais entrar em concursos - essa instituição pequeno-burguesa que só serve para atrasar os visionários. Graças ao petismo, Toffoli foi ser procurador no Amapá e, depois de advogar em campanhas eleitorais do partido, alçou voo à Advocacia-Geral da União - porque lealdade não tem preço, e o Estado são eles. Claro que uma carreira brilhante dessas tinha de acabar no Supremo Tribunal Federal.

O advogado Lewandowski vivia de empregos na máquina municipal de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Aqui, um parêntese: está provado que as máquinas administrativas loteadas politicamente têm o poder de transformar militantes medíocres em grandes personalidades nacionais - como comprova a carreira igualmente impressionante de Dilma Rousseff. Lewandowski virou juiz com uma mãozinha do doutor Márcio Thomaz Bastos, ex-advogado de Carlinhos Cachoeira, que enxergou o potencial do amigo da família de Marisa Letícia, mulher do bacharel Luiz Inácio.

Desembargador obscuro, sem nenhum acórdão digno de citação em processos relevantes, Lewandowski reuniu, portanto, as credenciais exatas para ocupar uma cadeira na mais alta esfera da Justiça brasileira.

Suas diversas manobras para tumultuar o julgamento do mensalão enchem de orgulho seus padrinhos. A estratégia de fuzilar o cachorro morto Marcos Valério, para depois parecer independente ao inocentar o mensaleiro João Paulo, certamente passará à antologia do Supremo - como um marco da nova Justiça com prótese partidária.

O julgamento prossegue, e os juízes do PT no STF sabem que está em jogo é a integridade (sic) do esquema de revezamento Lula-Dilma no Planalto. Dependendo da quantidade de cabeças cortadas, a plateia pode começar a sentir o cheiro dos subterrâneos da hegemonia petista. Batman e Robin darão o melhor de si. Olho neles.

O futuro chegou, Dilma - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA


A fofoca da semana envolve o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a presidenta (assim mesmo, com "a") Dilma Rousseff - pois é assim que FHC se referiu a ela, e é assim que o Palácio e os apparatchiks a tratam. Digo "fofoca" porque não vai mudar o país.

São esgrimas boas de ler e comentar no bar, são saias justas positivas para o jogo democrático porque revelam divergências em alto nível. Mas seu efeito colateral na baixa política, em tempo de eleição, é pernicioso. Cada lado puxa para sua sardinha (ou o inverso, tanto faz) - e, nos cardumes à margem, as interpretações costumam ser menos inteligentes que os argumentos.

FHC e Dilma se comportaram como manda o figurino político, especialmente em época de eleição, quando o PT está fragilizado pelo mensalão e o PSDB está fragilizado por seu candidato pangaré em São Paulo, José Serra, que já deveria ter-se aposentado de disputas eleitorais. Quanto mais Serra promete que não sairá da prefeitura para disputar a Presidência, mais ele mostra sua distância da realidade paulistana. Ninguém está preocupado com isso - talvez só o próprio PSDB, que não imagina Serra querendo ser presidente mais uma vez. O candidato é o maior inimigo de si mesmo.

O artigo de FHC contém verdades incômodas sobre a herança de Lula. Cita o ministério-bomba, o mensalão-bomba, o sindicalismo-bomba, a Previdência-bomba, o populismo-bomba, tudo pronto a explodir no colo da companheira. Dilma é produto do governo passado. Mas já agiu em diversas situações de maneira oposta à de seu criador.

Dilma se sentiu obrigada a responder em nota oficial. Natural. Ela trocou bicadas amigáveis e cordiais com seu tucano favorito em eventos públicos. Mandou uma carta elogiosa a FHC nos seus 80 anos. É evidente que ficaria pessoalmente incomodada com um texto que a coloca como mera vítima das circunstâncias. Se existe uma herança de Lula, Dilma participou dela, para o bem e para o mal.

A nota de Dilma, bem mais curta, também contém verdades. Ela diz ter recebido "um país menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média". Verdade. Afirma que Lula "não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse", na busca de um terceiro mandato. Verdade. Pode-se contrapor que Lula achava melhor descansar por quatro anos, colocando no Palácio uma técnica de sua confiança. Dilma lidaria sem rabo preso com as bombas prestes a explodir. E ele voltaria logo depois, para eternizar o PT no poder.

As maiores bobagens da semana ficaram a cargo dos correligionários. É demais ouvir do presidente do PSDB, Sérgio Guerra - logo ele, que sempre falou mais do que devia -, que "teria sido melhor para Dilma se ela tivesse ficado calada". Ou o tom paternalista de Guerra: "Entendemos a presidente". Como se Dilma tivesse sido torturada psicologicamente para responder. Ou, ainda, os militantes petistas comemorando "o fim da lua de mel" entre Dilma e FHC. Até parece.

É saudável ler, na nota da presidente, que "o passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, mas não de ressentimento". Ela disse mais: "Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam. Mas governo com os olhos no futuro". Se for sincera, melhor para o Brasil.

Porque, no mundo real, as favelas continuarão a queimar em São Paulo, deixando milhares de famílias desabrigadas, dormindo ao relento em seus terrenos tostados, com medo de invasão de outros pobres sem-teto. Milhões de alunos continuarão a não aprender português nem matemática. Pacientes continuarão morrendo em filas de hospitais. Deputados e senadores continuarão a faltar ao trabalho e a mamar nas tetas dos eleitores.

Você lembra o Wilder Morais, ex da mulher do Cachoeira? Aquele que substituiu Demóstenes Torres no Senado? O que faz esse cidadão que ganhou R$ 16.300 por um dia de trabalho em julho? Interrompeu as férias, assinou o termo de posse, fez o juramento, viu a plaquinha com seu nome no gabinete número 13... e se mandou com a família em férias novamente. Ele terá mais seis anos e meio de mandato. Ninguém mais comenta que Wilder teria de explicar melhor a relação com o bicheiro-lobista, que deve transcender a cessão de Andressa. O que faz Wilder hoje, além de tentar ser esquecido?

Nem tucanos nem petistas fizeram até hoje a revolução profunda e necessária na educação, na saúde e na habitação. E tampouco as reformas trabalhista e previdenciária, essenciais para desarmar uma superbomba. Não fizeram a reforma política para moralizar o Congresso, obrigar parlamentares a prestar contas e nos dar, enfim, gosto de votar. O futuro já chegou, Dilma.

Futuro do Engenhão - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 10/09


Enquanto o Fla e o Flu tentam com dificuldades se apossar do Maracanã, o Botafogo está feliz da vida por ter arrendado o Engenhão. Em 2011, o estádio deu um lucro de uns R$ 7 milhões ao alvinegro.
"Em 2007, teve quem achasse que o clube tinha assumido um elefante branco’^ lembra o presidente Maurício Assumpção.

Show continua
Assumpção reconhece que o fechamento do Maracanã ajudou no faturamento ao Engenhão:
— Quando o Maracanã reabrir investiremos no aluguel do espaço para eventos. Só com o show de Paul McCartney recebemos R$ 1 milhão, bem mais do que alugar para jogos.

Vende-se

Veja como os preços dos imóveis desembestaram. A conta é do economista José Roberto Afonso.
Em 1.905 cidades, um terço das prefeituras brasileiras, se arrecada mais imposto sobre a transmissão do imóvel do que IPTU, algo impensável.

Negócio é negócio
O Brasil disputa com a China a influência econômica em Angola.
Por isso há uma forte articulação para que Dilma assista no fim do mês à posse de José Eduardo dos Santos, reeleito presidente do país africano.

Cena carioca
Quem observou foi o advogado-repórter Jorge Beja.
Sábado, na banca de jornal do italiano Carlo, na Tijuca, Amarildo, 72 anos, o craque que ajudou o Brasil a ganhar a Copa de 62 no Chile, soltava a voz cantando o velho sucesso "Estrela do Mar’, de Marino Pinto e Paulo Soledade: "Um pequenino grão de areia/Que era um pobre sonhador/Olhando o céu viu uma estrela/E imaginou coisas de amor... ’

A PRIMAVERA CHEGOU MAIS CEDOOficialmente o inverno acaba dentro de duas semanas com a chegada da primavera. A estação do frio vai deixar saudades, acho. O Rio, por exemplo, viveu dias de temperatura agradável, mas sem perder a claridade do sol jamais. A entrada num período mais quente foi antecipada neste último fim de semana. As praias cariocas estavam cheias, mesmo com parte da população fora da cidade para aproveitar o feriado do dia 7. E como praia cheia é sinônimo de modismo, a coleguinha Rejane Guerra flagrou mais um: esta turma levou colchonete de ar para a Praia de Ipanema. Que sejam felizes! •

Wolfe em Miami

A editora Rocco vai lançar no Brasil em 2013 o romance "Back to blood” o novo de Tom Wolfe que sairá nos EUA no dia 24 do próximo mês.
Autor de clássicos contemporâneos como "A fogueira das vaidades” Wolfe está de volta a temas como conflito de classes, segregação racial e brigas de poder numa Miami repleta de imigrantes.

Ex-casal juntos
Paulo Betti e Eliane Giardini, ex-casal, vão fazer um filme juntos. "Fera na selva’ é uma adaptação para o teatro de uma novela do escritor inglês Henry James, que Betti e Giardini já encenaram nos palcos em 1993.
Trata-se do diálogo de um casal, um acerto de contas. Terá direção de Walter Carvalho.

Pequeno burguês

O Sambabook dedicado a Martinho da Vila, que chega depois do sucesso do projeto inaugural dedicado a João Nogueira, começa a ser gravado em novembro.
Já estão confirmadas três participações de peso: Maria Bethânia em "Roda ciranda”;Paulinho da Viola, em "Quem é do mar não enjoa”;Zeca Baleiro, em "Pequeno burguês”

Fuga de professor

Pesquisa feita pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) do Rio revela que em julho e agosto cinco professores por dia pediram exoneração da rede pública estadual. Além disso, 398 professores se aposentaram nesse período.
Somados pedidos de exoneração e aposentadorias, foram 14 professores por dia que saíram das escolas estaduais.

Segue
O sindicato culpa o piso salarial de R$ 1.080 como a principal causa desse abandono das salas de aula.

Grande hotel
A Praia de Botafogo vai ganhar dois hotéis: um quatro estrelas business com 135 apartamentos, e outro três estrelas com 261 apartamentos.
Estão sendo construídos pela Performance Empreendimentos Imobiliários num terreno de 2,6 mil m2.

De volta
A Krishna, a famosa grife carioca que foi lançada nos anos 70 e fechou por uns anos, reabriu ano passado como ateliê na Gávea e, agora, volta a shopping.
A loja reabre em outubro no São Conrado Fashion Mall.

Populismo volta a rondar São Paulo - ANDRÉ SINGER

Folha de S. Paulo - 10/09

Classe C quer chamar o xerife

Completando-se hoje a primeira metade da propaganda eleitoral gratuita, a surpresa da disputa paulistana é a persistência de Celso Russomanno na ponta, com 35% das intenções de voto. Mesmo que venha a cair a partir de agora, o candidato do PRB parece ter-se consolidado como opção para cerca de um quarto do eleitorado, habilitando-o a disputar vaga no segundo turno.

Sem estrutura partidária (mas com uma rede religiosa), aparentemente sem dinheiro e pouco tempo de TV, a ascensão de Russomanno, que esteve no PP de Maluf até recentemente, lembra outros fenômenos de populismo conservador.

Misturado no meio da massa, o líder não propõe programas de governo, mas sim a confiança na sua capacidade individual de impor aos poderosos a vontade legítima dos pequenos.

Assim como Jânio era o tostão contra o milhão, e Collor, o caçador solitário de marajás, o patrulheiro do consumidor se apresenta como o defensor dos humildes compradores em um mundo dominado pela impessoalidade do capital e da grande política.

A chave do sucesso populista é a ideia de resolução direta dos problemas, por meio da intervenção de um personagem que vem do alto em socorro da massa desvalida.

A organização de movimentos democráticos de baixo para cima inexiste nesse esquema.

É, também, próprio do populismo bagunçar os parâmetros estabelecidos. Por isso, tudo pode acontecer, tanto no primeiro quanto no segundo turno paulistano.

Seja como for, vale reter o recado do momento:

parcela da classe C, habitando entre a última periferia, que deverá caminhar com Haddad, e os bairros da classe média tradicional, que se inclinam por Serra, anseia pela presença de um xerife amigo na prefeitura.

Preservar o Ipea - EDITORIAL FOLHA DE SP


Folha de S. Paulo - 10/09


Algo vai muito errado quando a sucessão no comando de uma repartição pública chamada Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada frequenta o noticiário da imprensa sobre negociações de cargos e verbas do varejo político.

Menos mal que o economista Marcelo Neri, escolhido para presidir o órgão, não seja militante partidário e tenha uma reputação acadêmica a defender. Mas há um caminho a ser percorrido para reverter o retrocesso institucional dos últimos anos.

Em 2007, o órgão foi incorporado à estrutura da Presidência da República e à cota do PT na administração federal, embora abrigado na Secretaria de Assuntos Estratégicos, agora nas mãos do PMDB.

A mudança respondeu antes a interesses do partido que do Estado. Próximo ao núcleo do governo, o Ipea poderia, nessa reconfiguração de organograma, ser monitorado com mais atenção a fim de evitar desencontros.

No primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, economistas do instituto participaram da elaboração de um programa de ajuste fiscal de longo prazo. O plano incomodou e foi abortado pelas alas do governo defensoras da expansão do gasto público.

Não foi coincidência, assim, que, na gestão de Marcio Pochmann, hoje candidato a prefeito de Campinas pelo PT, as pautas do Ipea tenham acompanhado a agenda do segundo mandato de Lula.

Tampouco foi por acaso que a corrente mais estatista, a que se filia Pochmann, tenha experimentado particular prestígio no instituto. Pesquisadores mais próximos da doutrina liberal, por outro lado, acabaram marginalizados.

É nessa chave que devem ser lidas teses promovidas pelo Ipea nesse período, como a expansão do funcionalismo público e a adoção de cotas raciais.

A guinada ideológica rendeu mais danos à credibilidade do Ipea do que influência sobre o pensamento e a agenda nacionais. A reputação de autonomia e excelência técnica que o órgão havia conquistado precisa agora ser restaurada.

Com orçamento de R$ 305 milhões no ano passado (cerca de 25% do que tem a Universidade de Brasília, com seus 24 mil alunos), o instituto tem 256 pesquisadores. A remuneração oferecida, de R$ 13 mil a R$ 18,5 mil, é suficiente para atrair quadros da elite acadêmica.

Órgão de Estado, não de governo, o Ipea precisa ter a independência inerente à sua função.

Um alerta sobre os licitantes "oportunistas" - EDITORIAL VALOR ECONÔMICO


Valor Econômico - 10/09


Criaram-se no país dois consensos entre economistas de dentro e fora do governo. O primeiro deles é que a ampliação dos investimentos em infraestrutura é fundamental para aumentar a produtividade geral da economia brasileira. A redução dos investimentos públicos e privados em infraestrutura ao longo das últimas três décadas, principalmente na área de transporte, resultou em grandes gargalos logísticos que elevam os custos das empresas, reduzem a competividade dos produtos brasileiros e inibem os negócios.

O outro consenso é que o setor público não dispõe dos recursos necessários para, sozinho, enfrentar o desafio de ampliar os serviços de infraestrutura com a rapidez que a situação atual requer, e que tenham a qualidade necessária para impulsionar a produtividade da economia. É importante, portanto, incorporar o setor privado nesse esforço de investimento e isso deve ser feito por meio da concessão desses serviços. Recentemente, a presidente Dilma Rousseff deu um passo importante nessa direção ao anunciar a que o governo fará concessões de 7,5 mil quilômetros de rodovias e mais de 10 mil quilômetros de ferrovias.

A disposição de fazer as concessões é fundamental, mas não é suficiente, pois é necessário estabelecer regras que induzam os concessionários a atuar de forma eficiente, a realizar os investimentos no prazo acordado e a oferecer serviços de qualidade aos consumidores. Para que isso aconteça, o debate em torno das concessões precisa amadurecer no Brasil. Não se deve trilhar um caminho de riscos apenas com o objetivo de se diferenciar do que foi feito por governos anteriores. Não se pode também deixar de observar as experiências dos demais países nessa área, pois elas ensinam muito e evitam a repetição de erros graves. Uma concessão mal regulada produz serviços de infraestrutura ruins, deficientes, que não contribuirão para o salto de produtividade que o Brasil precisa dar.

Recentemente, o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso presenteou a presidente Dilma Rousseff com um pequeno livro, de 136 páginas, que avalia em profundidade o que foi feito até agora no Brasil na área de concessões de serviços de infraestrutura. O livro, que será lançado no próximo dia 21, durante o Fórum Nacional, mostra que o Estado concedente procura sempre incentivar a empresa concessionária a ofertar um serviço de qualidade a um custo mais baixo possível.

Mas para "fazer mais e melhor, pelo menor custo" o empresário regulado precisa receber uma parte relevante dos excedentes gerados pela redução de custos decorrente de seu esforço, ensina o estudo. Dito de uma forma mais direta: para que a empresa aumente sua produtividade, amplie os investimentos e melhore a qualidade do serviço, ela precisa ser remunerada pelo esforço realizado.

Essa lição parece óbvia, mas é frequentemente desrespeitada pelos reguladores. Quando se força a fixação de tarifas irrealistas ou se aceita preços exorbitantes pela outorga de um serviço, o resultado certamente será uma infraestrutura deficiente, pois a empresa regulada não terá estímulo para aumentar sua produtividade e investir na ampliação e na qualidade do serviço. O consumidor pode ter uma tarifa baixa, mas não terá um bom serviço.

O livro que Reis Velloso entregou à presidente Dilma mostra que tarifas irrealistas e a expectativa de elevados ganhos do governo pela outorga do serviço costumam atrair licitantes "oportunistas". Esses concorrentes aceitam as condições exigidas porque acreditam ser possível, no futuro, pressionar a agência reguladora por reajustes de preços acima do contratado e/ou pela alteração no cronograma dos investimentos. Alterações dessa natureza já ocorreram no Brasil, informa o livro, nas concessões de rodovias realizadas entre 2007 e 2009 e provavelmente acontecerão nas recentes concessões dos aeroportos.

Para evitar que esses licitantes "oportunistas" participem dos leilões, o livro - escrito pelos economistas Raul Velloso, César Mattos, Marcos Mendes e Paulo Springer de Freitas - sugere que o órgão regulador aprimore os critérios de pré-qualificação, evite inversão de fases e exija a explicitação de plano de negócios e metodologia de execução, além, é claro, de abrir mão de fixar tarifas irrealistas.

Sons da Terra - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 10/09


RIO DE JANEIRO - Quando foi lançada pela Nasa em 1977, a sonda Voyager 1 era o fino em viagem espacial. Saía cantando pneus, fazia curvas em duas rodas e voava a 50 mil km/h. Levava um disco -o que chamávamos de LP (long playing) e hoje chamam de vinil-, só que de cobre folheado a ouro, contendo "mensagens" gravadas para hipotéticos extraterrestres que o achassem e o botassem para tocar.

Intitulava-se "The Sounds of Earth" e está lá até hoje, esperando ser escutado. A ideia era mostrar aos alienígenas aonde tínhamos chegado em cultura e civilização, e começar um futuro diálogo. Como tendemos a esquecer o passado e achamos que nosso tempo é que importa e ficará para sempre, o disco é todo sobre 1977. E, por ter sido gravado pelos EUA, concentra suas informações na vida americana, com poucas concessões a nós, os macacos.

Em 1977, pelos sons que a Terra gravou, os terráqueos não faziam outra coisa a não ser dançar -ao som de Donna Summer, Bee Gees, John Travolta, Olívia Newton-John e de um grupo brasileiro, as Frenéticas. Dançar era uma nova filosofia de vida, e seus templos de recolhimento e meditação chamavam-se discotecas. Elvis Presley, avô de tudo aquilo, tinha acabado de morrer, levando consigo suas camisas tacheadas e de golas estratosféricas, inspiradas nas de seu amigo, o pianista Liberace.

O disco certamente continha trechos de áudio do filme "Guerra nas Estrelas", que converteu as plateias à súbita menoridade; da novela da Globo, "A Escrava Isaura", que seria a paixão do comandante Fidel Castro; e passagens dos livros de memórias fictícias de Lillian Hellman, lidas por Jane Fonda. Era o que havia. Não admira que, até hoje, nenhum E.T. tenha acusado recebimento.

Os EUA não se emendam. Vão mandar outro disco para o espaço, contendo os sons de 2012. Deverá abrir com Michel Teló.

O drama de Dirceu - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 10/09


Politicamente, há quem diga que o mensalão se resume a dois réus, José Dirceu e o resto. Por isso, o barco do PT pende hoje para o pessimismo quanto à perspectiva de absolvição do ex-ministro

Há 40 dias, os Diários Associados fizeram circular um caderno especial sobre o tão esperado julgamento da Ação Penal 470, o mensalão. De todo o caderno, uma das reportagens que mais chamou a atenção do PT e dos advogados de um modo geral foi aquela que trouxe a percepção do cidadão comum sobre o processo. Durante vários dias, a repórter Helena Mader, autora do texto, percorreu as ruas da capital da República perguntando o que as pessoas achavam do julgamento, especialmente, o que era o tal do “mensalão”, apelido jocoso da Ação Penal que pegou e agora ninguém tasca. O resultado da amostragem de Helena deixou alguns petistas preocupadíssimos com o que poderia vir.

Das pessoas ouvidas, a maioria resumiu o processo numa “mutreta”, “desvio”, “roubalheira” que tinha o “Zé Dirceu” no meio. Ninguém tinha muitos detalhes se era empréstimo, se era gestão fraudulenta, temerária, qual era o banco envolvido, os funcionários. Mas sabia de Zé Dirceu, citado de forma espontânea. Alguns poucos, lembravam ainda do publicitário Marcos Valério, do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, mas as referências eram poucas.

A percepção massiva de José Dirceu transformou o início do julgamento num suspense total. Havia naquele momento — hoje não dá para dizer que é assim — a sensação de que o tal mensalão tinha apenas dois réus: José Dirceu e o resto. O “resto” se fosse condenado pouco importava. O importante era o José Dirceu, ex-presidente do PT, principal cabeça política do partido na eleição que levou Lula à presidência da República pela primeira vez, o poderoso chefe da Casa Civil.

O próprio “Zé” reforçou essa imagem no momento em que, fora do governo e com a tarja de réu sobre a testa, continuou se reunindo com ministros de Lula e, depois, de Dilma Rousseff. Andava tanto que foi objeto de uma reportagem exibindo as pessoas com ele se encontrava, inclusive o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, afastado logo depois. Volta e meia, lá estava o Zé Dirceu, dizendo que ninguém tinha provas contra ele, que não havia apenas um ato de ofício que o incluísse naquela confusão. Dentro do PT, continua recebido com todos os aplausos e as honras. Mas na cabeça do cidadão comum…

Por falar em cabeça…

Agora, que o julgamento vai quase chegando à metade e há um rol de condenados — entre eles, apenas dois mais conhecidos, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha e o publicitário Marcos Valério —, o PT se divide em relação ao desfecho. Há uma maioria pessimista. O próprio Dirceu tem dito a alguns amigos que o caminhar dos votos até agora não lhe dá razões para otimismo. Esses amigos dizem ainda que Dirceu errou ao, antes de ser julgado, fazer aquela cruzada pela absolvição. Agora, que ele se calou, talvez seja tarde demais.

Outros petistas, entretanto, torcem para que o relator Joaquim Barbosa tenha começado pela parte mais fácil no que se refere a provas. A torcida desse grupo mais otimista, no qual estão vários deputados do partido em São Paulo, é a de que a maioria dos ministros termine concordando com os advogados de Dirceu quanto à ausência de provas. O problema é que o resumo da ópera até agora indica justamente o inverso, ou seja, não é necessário um ato de ofício para condenação. Isso, associado ao imaginário popular de que os réus do processo são “José Dirceu e o resto” fazem o barco partidário pender para o pessimismo. E, para completar, não faltam reportagens indicando o poder que Zé Dirceu sempre exerceu no PT.

Por essas e outras, a maioria dos petistas está hoje de coração apertado, porque sabe que Dirceu não voltará brilhar na política nacional, tampouco em governos. Se for absolvido, terá, no máximo, um mandato de deputado federal. Talvez não lhe reste sequer essa válvula de escape.

Por falar em escape…

A redução da tarifa de energia a ser anunciada na terça-feira pela presidente Dilma Rousseff é vista hoje como um alento pelos petistas que correm atrás de votos nas eleições municipais. Com o mensalão na ordem do dia, resta o governo federal para trazer boas notícias ao eleitor.

Decisão em vários tempos - DIEGO WERNECK ARGUELHES


O Globo - 10/09


Muitas analogias podem ser feitas sobre o julgamento do mensalão. Como na novela, saímos do plenário com flashes dos capítulos seguintes - que já estão escritos na cabeça do autor, ainda que a opinião pública possa ter influência. Em uma semana, personagens tornam-se mais importantes. Em outra, o protagonista parece ser outro.

Assim como no xadrez, há interdependência dos lances, com estratégias que podem ser alteradas e melhoradas após um movimento da outra parte. Como no boxe, porém, cada round pode ser um recomeço. Quem estava por baixo pode dar a volta por cima. Sabemos que irá acabar, mas não temos certeza de quantos rounds assistiremos.

Essas comparações são imagens imperfeitas. Mas expressam um ponto importante. O tempo é decisivo. Todo processo judicial leva tempo, mas é incerto em relação ao resultado. O mensalão é atípico, mas não por sua longa duração. A novidade está na longa duração da decisão em si.

O inédito desdobramento temporal abre novas oportunidades de se influenciar o resultado. Para vários atores. A defesa, por exemplo, tem apresentado memoriais durante o voto dos ministros - recurso que não caberia em julgamento típico, esgotado em uma ou duas sessões. Os ministros têm tempo de pensar nos argumentos uns dos outros entre as sessões. Podem até mudar de posição. Aliás, foi o que ocorreu com Lewandowski ao ouvir argumentos de Joaquim Barbosa sobre "bônus de volume" nos contratos de publicidade do Banco do Brasil. Abre-se imenso leque para reconsiderações, estratégicas ou sinceras.

Nesse cenário, a opinião pública e a mídia têm tempo de se informar, avaliar e criticar cada passo. É oportunidade única. Muitas vezes, esse tempo é gasto com especulações sobre os capítulos seguintes. Haverá empate? O julgamento entrará no período eleitoral? Haverá troca de presidentes do STF? Ansiedades naturais de quem acompanha um evento fragmentado no tempo - seja novela, partida, luta ou processo.

Mas essa decisão prolongada também tem permitido maior compreensão do processo. Temos tempo de entender minimamente o que cada ministro está dizendo, bem como o sentido de seus silêncios. Fazendo isso, transformamos intervalos em oportunidades. Round após round, quem ganha somos nós.

Estamos muito melhor, mas ainda vulneráveis - MARCO ANTONIO ROCHA


O Estado de S.Paulo - 10/09


Comemorou-se na semana passada a Independência do Brasil, ao mesmo tempo que a imprensa rememorava "o dia em que o Brasil quebrou", há 30 anos, um fato bastante ilustrativo, então, de que a independência política não é suficiente para blindar a nossa soberania contra sérios arranhões.

Como ficou evidente no trabalho rememorativo sobre a crise da dívida, em vários jornais, o Brasil teve de engolir sapos para sair do sufoco - o governo brasileiro, suas ilustres e fanfarrônicas autoridades da época, a Nação enfim. E sobrou para o povo. O aperto de cinto de quase 25 anos para pagamento da dívida em prestações, afinal negociado, prejudicou o crescimento econômico, a criação de empregos e o desenvolvimento em geral, durante décadas.

A famosa "década perdida", dos anos 80, de baixo crescimento econômico, seguiu-se a um longo período em que o Brasil foi uma das economias mais dinâmicas do mundo: quase seis décadas com 6% a 7% de crescimento anual do PIB. Só para comparar, hoje o País luta para cumprir uma meta de 4,5% de crescimento, e já perdeu essa batalha neste ano.

O que foi que aconteceu? Perdemos o bonde da História? Ainda não se pode afirmar. Mas quase. E, de qualquer forma, ficamos para trás numa corrida em que, durante muito tempo, estavam atrás de nós, por exemplo, a China, a Índia, a Coreia, a África do Sul, o México e, aqui pertinho, a Argentina. Todos passaram à nossa frente, até a Argentina. China, Índia e Coreia, disparados.

A pergunta retorna: o que foi que aconteceu? Boi na estrada? Tênis pesados? Sim, houve essas duas coisas: as duas crises do petróleo, em 1972/1973, e a dos juros em 1979 foram os bois na estrada. Os tênis continuam pesados. E o peso é do governo: seus encargos, seus impostos, sua burocracia, seus desperdícios, sua roubalheira, sua inépcia, sua permanente má gestão.

Mas naquela crise, naquele dia em que o País não só quebrou, como começou a ficar para trás na economia mundial, pesou muito uma questão de más escolhas... De quem? E por quê?

Tínhamos um governo militar, não tínhamos? Imposto com um programa de combater o comunismo, fortalecer a democracia e acabar com a corrupção. A pretexto de cumprir o primeiro objetivo, implantou uma ditadura onde o que mais prosperou foi a corrupção. Mas isso é sabido. O que não é tão sabido, nem tão falado, é que o governo militar também precisava mostrar serviço na prática: construir o Brasil Grande. Para isso havia um Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) grandioso. A um custo muito acima da capacidade do governo e da iniciativa privada brasileira.

Todavia, havia um tsunami de petrodólares no mundo - dinheiro à beça, e barato, porque quase não encontrava tomador. Na maioria dos países os investimentos se retraíam. No Brasil, ao contrário, se expandiam à custa de endividamento externo. Mas não na direção da melhoria tecnológica da produção nacional, da melhoria da administração pública, da melhoria da infraestrutura em geral, do aumento da qualidade e da competitividade internacional dos nossos produtos. Tomava-se empréstimo externo simplesmente porque ele estava em oferta, e era barato.

Um uso judicioso desses recursos para dar músculos à economia brasileira chegou a ser cogitado, quando se falou, no II PND, em dar mais atenção à qualidade dos empréstimos externos, em lugar da quantidade. Mas não chegou a ser posto em prática. E quando eles escassearam e os juros subiram às alturas, a partir de 1979, o Brasil quebrou, como se diz.

Hoje estamos muito melhor, vê-se nas comparações com o cenário negro de 1982. Sem dúvida estamos, em números frios - mais reservas e menos dívidas, ou uma relação melhor dívidas/reservas. Temos também menos inflação. E orçamentos públicos mais disciplinados.

Estamos melhor em números, na comparação com 1982 e na comparação com os países em crise da Europa atual. Já foi dito que a crise financeira na Europa é semelhante à do Brasil, e eles até podem se inspirar nas nossas soluções. Soluções?

Solucionamos um problema de caixa, mas temos vulnerabilidades. Temos vulnerabilidade na conta de transações correntes do balanço de pagamentos, cujo superávit se contrai e é sustentado mais por ingressos externos (de capital e de empréstimos) do que por saldos positivos efetivos da conta comercial e de serviços. Nosso saldo comercial se origina demais nas vendas de produtos primários, cujas cotações internacionais não oferecem segurança e podem se tornar desfavoráveis de uma hora para outra.

Temos vulnerabilidade na questão mais importante da economia mundial moderna: a da competitividade internacional. Nossa indústria não só não consegue competir no mercado externo, como está perdendo terreno no mercado interno para produtos que importamos dos nossos concorrentes. O pacotaço de elevação do imposto de importação de mais de 100 itens, baixado na semana passada, mostra que afinal o governo está percebendo o rumo do problema: o de termos de voltar à situação de economia fechada que já tivemos e que tanto inibiu nosso desenvolvimento. E nem com isso nos livraremos do risco de uma nova crise de dívida externa.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 10/09


Após queda de juros, boa parte dos tomadores de crédito é estreante

Qual o perfil do tomador de crédito após o corte de juros?

No Banco do Brasil, aproximadamente 60% dos créditos nas linhas que tiveram forte redução de juros (de 30% em média) foram para clientes que nunca haviam feito financiamento no banco, segundo Alexandre Abreu, vice-presidente de negócios de varejo do BB.

De abril para cá, houve queda de 37% nos juros do financiamento de veículos do banco, de 25% no crédito pessoal (CDC, crédito direto ao consumidor, e consignado), e de cerca de 20% no financiamento imobiliário.

"Antes, muitas pessoas não tomavam crédito porque o juro era alto. E os que tomavam, tinham risco maior."

Com a taxa menor, mais clientes entraram na faixa que permite maior comprometimento de renda.

"À medida que ingressam pessoas que não tomavam crédito, que eram mais conservadoras, cai o risco da carteira. Reduziram-se os juros e o atraso nos pagamentos."

A inadimplência caiu de 2,5% em abril para 1,15% hoje. Antes da redução de juros, em abril, o banco liberava R$ 11 milhões de crédito por dia. Atualmente, são R$ 66 milhões, de acordo com Abreu.

O financiamento de veículos é a linha de crédito que mais cresceu, impulsionada pela redução do IPI.

Octavio de Lazari, diretor-executivo do Bradesco, também observa mudança no perfil dos clientes de crédito do banco, mas atribui menor influência à queda dos juros.

"Nos últimos cinco anos empréstimos foram aumentando no banco e no sistema financeiro. Houve crescimento da mobilidade social e da bancarização", afirma.

Lazari, porém, registra novos clientes de crédito nos últimos 12 meses.

"Cerca de 12% são clientes estreantes que não tomaram crédito no passado", diz.

"Dentre os novos clientes de financiamento de veículos, mais de 22% não haviam feito empréstimos antes."

Procurado, o Itaú Unibanco afirmou considerar cedo para fazer considerações acerca de mudanças na demanda por crédito.

Despensa de supermercado

O Walmart vai passar a utilizar com exclusividade o centro de distribuição do Grupo TPC de logística em Barueri para operação de e-commerce, segundo Luis Eduardo Chamadoiro, vice-presidente do grupo.

A parceria vai render R$ 15 milhões anuais para a TPC pelo uso do espaço de 12 mil metros quadrados.

Os produtos armazenados nesse centro serão distribuídos para todo o país.

"O centro armazenará mercadorias como geladeiras e eletroeletrônicos", diz ele.

Cozinha no nordeste

O grupo Bertolini, que produz cozinhas e sistemas de armazenagem (como porta-bobinas e estantes), irá transferir duas unidades de produção do Rio Grande do Sul para o Espírito Santo.

Com aporte de R$ 80 milhões, serão construídas uma planta para produzir móveis de aço e outra para peças de armazenamento.

O principal motivo que levou à mudança foi a logística.

"O maior mercado de móveis de aço é o Nordeste. Estando no Espírito Santo, já é metade do caminho. De sistemas de armazenagem, nossos consumidores se concentram também no Nordeste, no Sudeste e no Centro-Oeste", diz Alcides Pasquali Filho, sócio da empresa.

A capacidade de produção capixaba de móveis será 30% maior que a atual. A de peças de armazenagem chegará a dobrar.

As fábricas do Rio Grande do Sul serão desativadas por ora. "Iremos colocar ali no futuro uma nova linha de produtos do ramo metalúrgico", diz Pasquali Filho, sem revelar a mercadoria.

R$ 322 milhões

foi o faturamento da empresa em 2011

R$ 370 milhões

é o faturamento esperado para este ano

R$ 600 milhões

é a expectativa de faturamento para 2014, com as novas plantas

1.300

é o número de funcionários

Além da América

A PJ Clarke's, rede americana de restaurantes, vai se expandir no Brasil.

A primeira unidade da empresa fora dos Estados Unidos foi inaugurada em São Paulo em 2008.

A segunda da capital paulista abre em novembro. A expansão inclui mais duas lojas em 2013 (uma no Rio).

"Queremos transformar o que temos, que é um restaurante, em um negócio. Estudamos bairros como Moema, Pinheiros ou Higienópolis, em São Paulo, e Ipanema ou Leblon, no Rio," diz Cristiano Almeida, sócio da rede de restaurantes.

Made in Camaçari

Ficará centrada no Brasil a comunicação global do novo EcoSport, carro compacto da Ford desenvolvido no país. "Já finalizamos as filmagens na China, Índia e Tailândia", diz Ricardo John, diretor de criação da JWT.

"Cada país terá um filme específico, mas todos com o mesmo argumento."

Fabricado na Bahia (Camaçari) e, a partir de 2013, nas três nações asiáticas, o carro será vendido em mais de cem países. O local de produção para abastecer o mercado europeu ainda não foi divulgado. Como líder do projeto, o Brasil será responsável pela supervisão da manufatura nos demais países.

País poderia crescer mais - EDITORIAL O GLOBO

O Globo - 10/09


Para retomar o caminho do crescimento sustentável, de longa duração, o Brasil precisa aumentar progressivamente os investimentos, especialmente na infraestrutura, na qual já se observam sérios gargalos em quase todos os segmentos. Parte desses investimentos depende do setor público porque eles funcionam como indutores de desenvolvimento. No caso em que não existe uma demanda capaz de viabilizar financeiramente uma antecipação na oferta de serviços, são justificáveis as parcerias público-privadas.

Mas há diversas outras situações nas quais o investimento privado é não só factível como atrativo, dispensando a participação de escassos recursos públicos. Tais investimentos não se concretizam porque esbarram no preconceito contra a presença de grupos privados nos chamados serviços públicos. Um exemplo disso está no saneamento básico. O Brasil continua a registrar índices vexaminosos nesse campo da infraestrutura, embora já acumule muitas experiências consagradas de sucesso em cidades onde o poder concedente municipal transferiu a responsabilidade da concessão para empreendedores privados.

Outro exemplo exitoso é o das telecomunicações. As metas, cada vez mais ousadas, têm sido antecipadas, e os usuários já não se satisfazem mais com serviços de qualidade sofrível. Antes sob égide estatal, o usuário nem se dava ao trabalho de reclamar, pois seria uma iniciativa inócua, até porque a oferta de serviços sequer existia. Nos sistemas de transporte, é impossível comparar os tempos da extinta Rede Ferroviária Federal com o volume de carga hoje transportado pelos trens sob concessão. Nos portos, sem os terminais públicos sob administração privada, os mistos e os exclusivos, o comércio exterior brasileiro teria estagnado. Na energia elétrica, foi a abertura para a participação privada que possibilitou a retomada de empreendimentos tanto nas hidrelétricas e usinas térmicas como em novas fontes de geração (eólica e biomassa), além de propiciar avanços na transmissão e na universalização do atendimento pelas distribuidoras.

No petróleo, ainda que a estatal Petrobras responda por 95% da produção, a presença de 25 outras companhias operadoras, distribuídas por 700 concessões, movimentou o mercado e tornou o setor bem mais eficiente que no longo período de monopólio.

Esse resultado prático fez com que o governo Dilma abandonasse o impasse e anunciasse recentemente um programa de investimentos em rodovias e ferrovias que contará com participação expressiva de empreendedores privados. E o mesmo espera-se que venha a ocorrer em um programa que está sendo concebido para portos e aeroportos. Não importa se têm ojeriza ao termo "privatização", contanto que recorram a grupos particulares. Insistir no preconceito contra a presença de capitais privados na infraestrutura é condenar a economia brasileira ao baixo crescimento. E sem crescimento não há geração de renda e postos de trabalho suficientes para o país enfrentar seus ainda graves problemas sociais.

Fogo cruzado - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 10/09


Primeiras condenações no julgamento do mensalão levam o STF a reafirmar sua independência frente a pressões contraditórias

Conforme prosseguem as sessões de julgamento do mensalão, que serão retomadas hoje, vai sendo contrariado o prognóstico -frequente em alguns setores- de que seria diminuta a disposição condenatória dos magistrados.

Não se trata apenas do que já se decidiu quanto aos crimes de peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, pelos quais foi condenado o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP).

O ex-presidente da Câmara era, do ponto de vista político, o réu mais importante dos primeiros núcleos do julgamento.

Foi a atitude geral dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), sobretudo ao analisar as provas dos autos, o principal fator a sugerir que não se mostram sorridentes as perspectivas dos advogados de defesa.

Complexo e polêmico, o mensalão põe o STF sob fogo cruzado. À tradicional -e até aqui frustrada- previsão de que a impunidade venceria acrescenta-se a crítica inversa, de que uma predisposição a condenar ditaria os votos dos ministros.

Foi para refutar essa impressão que, no final da última sessão da semana passada, alguns ministros estenderam-se em comentários exteriores à matéria em julgamento.

Não estamos -esta é a essência de seus pronunciamentos- desconsiderando os direitos dos réus, a necessidade de devido processo legal e o princípio da presunção de inocência. Não estamos, sublinharam, desconsiderando a necessidade de provas concretas para condenar os acusados.

"Não nos cabe dar satisfações a ninguém", observou, em nota algo destoante, o relator do processo, Joaquim Barbosa. Mas estavam -e o próprio Barbosa achou importante lembrar que aceitou, ao longo do processo, muitas reivindicações feitas pela defesa.

De um ponto de vista democrático e republicano, na verdade, é bom que estejam. Numa prática adotada por pouquíssimos países, transmite-se ao vivo o julgamento pela TV. Ao público leigo escapa, naturalmente, o histórico doutrinário por trás das decisões em curso.

Insistem os ministros na tese de que provas indiciais, por exemplo, podem ser conclusivas quando a sofisticação do crime -e de seus autores- ultrapassa em muito a rotina do processo penal.

A consideração do "status" dos réus seria fator de corrosão do princípio de que todos são iguais perante a lei? Faz-se justiça levando esse fator em conta ou ignorando-o? As convicções de cada juiz, assim como as de cada cidadão, podem variar conforme o contexto.

Os julgadores também estão sendo julgados pelas suas atitudes. O veredito de uma sociedade democrática jamais será unânime -mas é uma garantia a mais para que o Supremo se fortaleça na independência de suas decisões.

Bebês e imigrantes - VINICIUS MOTA

Folha de SP - 10/09


SÃO PAULO - O Brasil melhorou muito nos últimos 20 anos. Uma sociedade antes obcecada por tablitas, gatilhos e rendimento diário da poupança hoje discute e age para ampliar e melhorar a infraestrutura dos próximos 30 anos.
Enquanto essa transformação ocorria na superfície visível das relações econômicas, um outro fenômeno alterava a configuração de nossa população -a queda acentuada nos nascimentos de bebês.
Cada 100 brasileiras concebem, na média, 170 filhos durante a vida. A fertilidade aqui ficou menor que no Reino Unido (190), na França (200) e nos EUA (200).
Taxas abaixo de 200 filhos por 100 mulheres são vetores de declínio populacional à frente. Preconizam, antes disso, a queda da população em idade de trabalhar.
Nesse ritmo, é provável que a massa de trabalhadores brasileiros comece a cair, em termos absolutos, em meados da próxima década -enquanto os EUA devem registrar expansão até o meio do século. Num cenário otimista, em 15 anos o Brasil terá tempo de elevar a renda per capita dos atuais US$ 12 mil para o nível de hoje dos gregos em crise (US$ 24 mil).
Ainda muito distante do americano (US$ 50 mil), do japonês (US$ 47 mil) e do alemão (US$ 43 mil) de hoje, o trabalhador brasileiro da próxima década terá de ser obsessivamente produtivo para contrariar a tendência histórica e preservar um ritmo razoável de alta na renda nacional.
A impressão é a de que o Brasil se converte, cedo demais, numa sociedade fria em desenvolvimento demográfico. Uma das vantagens dos EUA, no cotejo com as outras nações ricas, é terem se mantido ativos no crescimento populacional, em razão da fertilidade das mulheres e da imigração.
Mais imigrantes e mais bebês para o Brasil. Eis um bom debate, a ser travado já, numa sociedade que aos poucos reaprende a olhar para o futuro.

O aparelhamento da AGU - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 10/09


Criada pela Constituição de 88 para defender o Executivo nos tribunais e assessorar juridicamente o presidente da República, a Advocacia-Geral da União (AGU) está vivendo a maior crise de sua história. Instalado em 1993, o órgão tem 7.481 integrantes, entre advogados da União, procuradores federais e procuradores da Fazenda Nacional - todos selecionados por concurso público. Mas, numa decisão tomada sem consulta a esses profissionais, o chefe do órgão, Luís Inácio Adams, elaborou um projeto de lei complementar que prevê a nomeação, como advogados federais, de pessoas de fora da carreira e sem concurso.

O projeto foi encaminhado ao Congresso no dia 29 de agosto pela presidente Dilma Rousseff. O Fórum Nacional da Advocacia Pública Federal - integrado por sete entidades de procuradores da Fazenda, Previdência Social, do Banco Central e de procuradores lotados em autarquias e ministérios - acusa Dilma e Adams de tentar aparelhar politicamente a AGU, colocando-a a serviço do Partido dos Trabalhadores (PT). Para os dirigentes do Fórum, a partir do momento em que Adams assumiu a AGU, em outubro de 2009, ela deixou de ser um órgão de Estado, convertendo-se em órgão de assessoria jurídica e política dos ocupantes do Palácio do Planalto e dos líderes da base aliada na Câmara e no Senado.

Os dirigentes do Fórum também alegam que a gestão de Adams é "caótica", do ponto de vista do interesse público, e afirmam que o polêmico projeto de lei foi elaborado na surdina, para criar um fato consumado. Pela legislação em vigor, apenas o advogado-geral da União pode ser de fora do quadro de profissionais do órgão. Todos os demais cargos são exclusivos de servidores concursados. Pelo projeto de lei complementar enviado por Dilma ao Congresso, os postos de procurador-geral da União, procurador-geral da Fazenda Nacional, procurador-geral federal, procurador-chefe do Banco Central, consultor-geral e consultores jurídicos dos Ministérios são de livre indicação do chefe da AGU - que, por sua vez, exerce um cargo de confiança do chefe do Executivo.

O projeto de Adams tem outros pontos polêmicos. Ao redefinir as atribuições do chefe da AGU, ele aumenta significativamente seus poderes decisórios, esvaziando parte das competências dos advogados públicos concursados. E também tipifica como infração funcional o parecer do advogado público que contrariar as ordens de seus superiores hierárquicos. Assim, a vontade dos procuradores-chefes, indicados com base em conveniências políticas, prevaleceria sobre o entendimento técnico dos advogados de carreira.

Hoje, mesmo não sendo aprovados pelos chefes, os pareceres dos advogados e procuradores são anexados aos processos administrativos e judiciais - o que permite à população conhecer as discussões jurídicas travadas dentro de órgãos e autarquias. "Vai ser falta grave o profissional concursado da AGU contrariar a orientação administrativa de seu chefe. É o outro lado do aparelhamento, ao tirar a independência funcional dos advogados de carreira", diz Marcos Luiz Silva, presidente da Associação Nacional dos Advogados da União. "A possibilidade de eliminação de pareceres contrários ao entendimento do superior hierárquico fulmina a independência que se exige para o exercício de uma advocacia de Estado, possibilitando intervenção política em diversas matérias sensíveis à sociedade, como os pareceres em licitações e convênios. O projeto é um atentado ao Estado Democrático de Direito e põe em risco a existência da própria AGU", afirmam os dirigentes do Fórum Nacional da Advocacia Pública Federal.

Após a condenação do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) pelo Supremo Tribunal Federal, por crimes de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro, o presidente do PT, Rui Falcão, afirmou que o mensalão foi um "golpe da elite", que recorreu a "setores conservadores da Justiça para derrotar o partido".

O projeto de lei complementar que abre caminho para o aparelhamento da AGU é a primeira tentativa efetiva do PT de interferir no universo jurídico, esvaziando sua independência e atrelando-o aos interesses do partido.

A inveja infantil improdutiva - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 10/09

A base da crítica aos Estados Unidos é a simples inveja primitiva de que eles são mais ricos 

A relação de grande parte da nossa mídia e dos intelectuais locais com os Estados Unidos continua sendo a de uma inveja infantil improdutiva, uma síndrome que podemos chamar de "I. I. I. Adição". Psiquiatras brasileiros poderão descrevê-la no futuro, caso eles mesmos não sofram da síndrome de inveja infantil improdutiva. E, como toda síndrome infantil, é primitiva e quase incurável.
Agora, com a eleição nos EUA, de novo, a síndrome se mostra na ridícula parcialidade da maior parte da cobertura e análises (se podemos chamar "gritos da torcida" de análise). A torcida grita: Obama é a prova de que homens criados por mulheres fortes e independentes produzem homens melhores (na realidade, homens com medo das mulheres...), Obama é a cura para a doença (a crise econômica) que assolou os EUA porque ele não representa os milionários e esses são malvados... risadas...
As "cheerleaders" gritam: os republicanos são obviamente idiotas que representam velhos caquéticos brancos que não representam a população americana (apesar de os republicanos terem o controle da Câmara de Deputados e de vários Estados). Pesquisas apontam que, em anos, o partido estará morto porque esses caquéticos terão morrido (pouco importa se grande parte dessas pesquisas são feitas pelos próprios liberais, "esquerda americana", e de existirem mulheres, negros e hispânicos mesmo entre candidatos no Partido Republicano).
Não acredito em causas ideológicas para as ideias políticas, mas sim em causas mais primitivas e da ordem da tara: a base da crítica aos EUA é a simples inveja de que eles são mais ricos.
A figura do Obama (fraco, populista e marqueteiro) é tudo a que a inveja nacional para com os Estados Unidos precisa: um negro, portanto vítima, que queria que os Estados Unidos fossem a Suécia.
Exagero. Obama não queria isso, mas nossos invejosos é que queriam que ele quisesse. Ele apenas discursa para liberais americanos (que nunca tiveram que lidar com uma folha de pagamento) que desdenham o fato de que os EUA são o único país do mundo com enorme população e de história bastante "jovem" a ser rico devido a própria capacidade de sua população produzir riqueza.
A Europa ocidental, com seu Estado de bem-estar social, está falida, inclusive por causa desse. Países como Suécia têm uma população de mil habitantes (trata-se de uma ironia, aviso aos especialistas em população da Suécia). Mas, ainda assim falida, essa Europa claudicante é o modelo que os invejosos tupis têm na cabeça e adoram o Obama porque pensam que ele seja um paladino de fazer os Estados Unidos virar a Suécia.
Ele inchou a máquina de impostos americana com sua versão INSS do Medicare. Os americanos não gostam de pagar a conta alheia, e têm razão de não gostarem. E perdeu de cara seu primeiro teste quando perdeu a maioria na Câmara de Deputados dois anos depois de eleito.
Prometeu fechar Guantánamo (a base americana em Cuba na qual são "interrogados" suspeitos de terrorismo) quando sabia que a segurança americana não podia se dar ao luxo de fazer isso.
Coitado, mas grande parte de sua torcida tupi pensa como membros de centro acadêmico, ou seja, tem uma visão infantil da política e da geopolítica de segurança, ainda que passem por humilhações contínuas nos aeroportos por conta da segurança dos voos, inclusive quando vão para os EUA comprar tênis e iPads baratos, ainda que falem mal dos Estados Unidos.
A Fox News é acusada de ser descaradamente pró-Partido Republicano. O que é verdade. Mas até aí, como chamarmos a torcida desvairada do restante da mídia pelos democratas? Sempre que se fala do Partido Republicano, logo após vem expressões como "homens brancos", "velhos", "milionários", "não havia mulheres, afro-americanos ou hispânicos". As "cheerleaders" tupis se referem ao elefante branco do Medicare do Obama como "avanço nos direitos sociais" destruído pelos republicanos.
Os americanos fizeram o país mais rico do mundo num curto espaço de tempo sem ficar gemendo ou culpando os outros ou pedindo "Bolsa Família". Em vez de babar de inveja dos Estados Unidos, deveríamos aprender com eles.

Aviõezinhos de antanho - JOSÉ DE SOUZA MARTINS


O Estado de S.Paulo - 10/09


Nos começos da aviação, foi nos amplos terrenos baldios de São Paulo que se improvisaram campos de decolagem e pouso. Voar parecia fácil. Mimados e abonados da Pauliceia voavam, correndo riscos. Avião se chamava aeroplano, pouco mais do que um brinquedo. Montava-se avião no fundo do quintal. Havia passado a era romântica dos poetas que morriam de tuberculose, um triste verso final coroando métricas e rimas. O romantismo, agora, ia para os ares. Para os poetas do firmamento, morrer era parte da aventura da vida; a busca da morte era um passatempo. Eles teatralizavam os riscos, despertavam a admiração das mocinhas e a inveja dos marmanjos. Em pouco tempo, havia aviõezinhos nos parques de diversões, quase do mesmo tamanho das latas voadoras.

Era desse tipo o aeroplano utilizado pelo tenente Eduardo Gomes, na Revolução de 1924, para ir do Campo de Marte ao Rio de Janeiro jogar panfletos sobre a cidade, contra o governo, e uma bomba sobre o Palácio do Catete. O aparelho caiu num brejo em Cunha por falta d'água no radiador!

Um desses aviõezinhos caiu na Estrada da Boiada, hoje Avenida São Guálter, em Pinheiros. O piloto se salvou. Por aquela época, aeroplanos voavam por perto de onde é hoje a Cidade Universitária. Pousavam numa pista onde seria depois a raia olímpica e a Marginal. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) fazia pesquisas sobre madeiras brasileiras para fabricação de hélices. Ali começou a nascer o Paulistinha, célebre aeroplano de treinamento, que acabaria fabricado em Utinga, na Laminação Nacional de Metais, de Baby Pignatari. Nos anos 1940, ainda era comum ouvir seu zumbido de mamangava, nos domingos, sobrevoando romanticamente o subúrbio e os arrabaldes.

Pousos e decolagens de jovens pilotos, na segunda década do século 20, eram realizados ou no Parque Antártica ou no Hipódromo da Mooca para audiências nervosas, com direito a gritinhos e aplausos. Foi um desses jovens, o francês Dimitri Sensaud de Lavaud, que fez em Osasco, no dia 7 de janeiro de 1910, o primeiro voo de um aparelho mais pesado que o ar na América do Sul. Lavaud e a família moravam no chalé que fora do banqueiro Giovanni Bricola, hoje museu. Ali tinha o pai uma fábrica de manilhas, em cuja oficina mecânica Lavaud ia montando seu aeroplano. Fez uma rampa de madeira no campo que ia do chalé na direção da estação de Osasco, onde fez naquele dia um voo de 103 metros, oscilando entre uma altura de 2 e 4 metros, até cair e quebrar a hélice. Por uma foto se vê que era uma gaiola de arame com um motor. E voava!

Como voou e caiu, nos campos do Ipiranga, o planador do engenheiro Guido Aliberti e do seu irmão Aldo. Eram donos de uma fábrica de botões em São Caetano. Na queda, em setembro de 1930, Guido morreu. Assunto da página esportiva dos jornais.

TAXÍMETRO LIGADO - MÔNICA BERGAMO


O GLOBO - 10/09

A Prefeitura de SP já gastou quase R$ 10 milhões, em oito anos, pagando advogados no exterior para tentar recuperar recursos que teriam sido desviados pelo ex-prefeito Paulo Maluf (PP-SP) para o paraíso fiscal das ilhas Cayman. Ou, mais exatamente, R$ 9.729.000.

TAXÍMETRO 2

Deste total, a maior parte, R$ 9.149.000, foi destinada a honorários; R$ 580 mil pagaram viagens e outras despesas. Os advogados foram contratados em 2005. Até agora, R$ 44,4 milhões foram congelados e esperam decisão da Justiça para serem repatriados. Maluf nega as acusações e diz que não tem dinheiro no exterior.

TAXÍMETRO 3

A prefeitura informa que os gastos devem ser parcialmente recuperados: caso derrotado nos tribunais, Maluf terá que pagar custas dos processos. Em uma das ações, em 2009, a administração diz já ter recebido de volta cerca de R$ 1 milhão.

O AVÔ DO 'STAND-UP'

Ary Toledo vai gravar seu primeiro DVD no mês que vem, aos 75 anos. "Acabei de decidir, agora é só escolher um teatro no interior."

RIO QUE CRUZA NAÇÕES

O longa "Xingu", do cineasta brasileiro Cao Hamburger, já foi vendido para ser lançado no cinema em mais de 15 países. Entre eles, Índia, Turquia, Israel, Nova Zelândia e Hungria.

BOTA UM GÁS

Pesquisa do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) mostra que só 11 tipos de carro vêm, no momento da compra, com uma etiqueta informando o quanto consomem de combustível. A diferença de gastos com álcool e gasolina entre modelos diferentes de veículos pode variar, por ano, de R$ 2.300 a R$ 4.700.

BOTA UM GÁS 2

Em 2008, montadoras aderiram ao Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, criado pelo Inmetro. A previsão era de que pelo menos um terço do mercado (107 modelos) saísse da fábrica com as etiquetas. A medida, no entanto, não é obrigatória. Por causa do fracasso, o Idec defende que ela se torne compulsória.

SUAVE

O cabelo de Lula está "maravilhoso", segundo seu cabeleireiro, Wanderley Nunes.

"Como ele seguiu raspando a cabeça, mesmo depois do tratamento [contra o câncer], os fios estão crescendo agora mais macios." Nunes, que cortou o cabelo e fez a barba do ex-presidente antes do feriado, diz que as pessoas perguntam se Lula está usando tintura. "Não está! O tom escureceu sozinho."

ROCK'N'RÚCULA

Priscilla Presley, ex-mulher de Elvis, foi a homenageada de um jantar feito por Alex Atala na semana passada. Ganhou do chef uma salada que leva o nome de uma canção gravada pelo rei do rock: "Polk Salad Annie".

DESEMBARQUE

O best-seller "1Q84", de Haruki Murakami, chega ao Brasil em novembro, pelo selo Alfaguara (editora Objetiva). Aposta para vencer o Nobel de Literatura deste ano, o escritor japonês já vendeu mais de 4 milhões de cópias desse livro em seu país.

FESTA DE FIRMAS
Francisco Fortes, vice-presidente da Gerdau, Fábio Coelho, presidente do Google no Brasil, Marcio Henrique Fernandes, presidente da Elektro, e Henk de Jong, presidente da Philips na América Latina, foram à premiação da revista "Você S/A", no clube Atlético Monte Líbano.

Curto-circuito

Emerson Fittipaldi e Paulo Skaf promovem, em jantar na Fiesp amanhã, a etapa brasileira do FIA WEC. Bruna Lombardi é mestre de cerimônias, e Toquinho faz show.

No evento da Fiesp, acontece leilão em prol do instituto Arte de Viver Bem.

O violinista André Rieu encontra jovens do Projeto Guri. Hoje, no Ibirapuera.

Erika dos Mares Guia lança sua coleção de verão hoje, na loja nos Jardins.

Deixem o Brasil produzir e preservar - HOMERO PEREIRA


FOLHA DE SP - 10/09

O Brasil aumentou muito a sua produção rural preservando 60% do território. Nenhum país tem lições a nos dar, ainda mais os que financiam certas ONGs

O Brasil está prestes a ter uma das leis mais importantes para o futuro do seu desenvolvimento socioeconômico. O novo texto do código florestal é resultado de anos e anos de trabalho no Congresso e preenche lacunas na legislação, com regras mais claras para o uso dos recursos naturais e garantias para a produção e a preservação ambiental.

O produtor rural tem sentido no dia a dia de sua labuta o gosto amargo da insegurança jurídica que ameaça a agropecuária, uma das principais atividades econômicas do país.

A proposta dessa nova legislação ambiental reflete os intensos debates mantidos nas comissões da Câmara e do Senado em mais de 60 audiências públicas com a sociedade, com o governo e a academia.

Nesses debates, foram analisados de maneira democrática e transparente os aspectos relacionados a todos os biomas, sempre com a preocupação de evitar que o elo mais fraco da cadeia alimentar -pequenos produtores- fosse prejudicado.

É importante realçar aqui que o aumento da produção de alimentos decorre muito mais por ganhos de produtividade do que por aumento da área plantada. Basta examinar os dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para comprovar.

Em 35 anos, (entre as safras 1976/77 e 2011/12), o aumento da área cultivada cresceu apenas 36,2%, de 37,3 para 50,8 milhões de hectares. A produção registrou crescimento de 253%, de 46,9 para 166 milhões de toneladas. Além disso, o agronegócio representa 37% das exportações, 37% dos empregos e 23% do PIB, mantendo mais de 60% do território preservado. Que nação deste planeta apresenta números tão positivos?

O país ostenta posições destacadas no ranking global da agropecuária. É o maior exportador e produtor mundial de açúcar, café e suco de laranja, o segundo maior produtor e exportador do complexo soja, o maior exportador de carne bovina, tabaco e de frango. É ainda o quarto em embarques de carne suína e o primeiro em exportações de álcool.

Esses números refletem o acerto da agricultura brasileira em investir no aumento da produtividade, na inovação, em pesquisas, em novas tecnologias e na adoção de sistema de produção ambientalmente corretos, além do emprego de técnicas de uso racional dos recursos hídricos e da adoção de práticas conservacionistas do solo.

Neste aspecto, nenhum outro país do mundo tem lições a nos dar, principalmente aqueles que financiam as ONGs que andam por aí a nos ofender, promovendo campanhas contra o setor mais exitoso da nossa economia, que é o segmento produtivo rural.

A aprovação do novo código florestal também é uma oportunidade de mostrarmos ao mundo que o Brasil elaborou uma legislação moderna para fazer com que a produção agrícola e a preservação ambiental caminhem lado a lado, numa justa e perfeita harmonia.

Por tudo isso, o Brasil precisa de uma legislação ambiental condizente com os avanços do nosso desenvolvimento agrícola sustentável. Não aprová-la agora representa um risco de retrocesso, com consequências desastrosas para toda a nação. Diante desse cenário, resta-nos um apelo: deixem o Brasil produzir e preservar.