sexta-feira, janeiro 27, 2012

Por que alguns malfeitos tornam-se escândalos? - MARCUS ANDRÉ MELO

VALOR ECONÔMICO - 27/01/12

As afinidades eletivas entre corrupção e política não são novidade. Após deparar-se com notícias sobre corrupção, um personagem de Lima Barreto, em "O Único assassinato de Cazuza" (1911) conclui: "Penso, de mim para mim, ao ler tais notícias, que a fortuna dessa gente que está na Câmara, no Senado, nos Ministérios, até na Presidência da República se alicerça no crime... Que acha você"?

Embora a corrupção pareça ubíqua para muitos, como Cazuza, a questão instigante é por que alguns delitos e malfeitos tornam-se escândalos e outros não. A visão corrente é que estes últimos são construções midiáticas. Decerto a mídia cumpre papel fundamental neste processo, mas a competição política, ao fim e ao cabo, é que será o fator determinante. Em contextos caracterizados por forte hegemonia ou "monopólio político", o padrão mais comum é muita corrupção e pouco escândalo. E isto por três razões. Uma oposição débil não consegue mobilizar recursos políticos efetivamente para converter denúncia em escândalo. Por outro lado, as instituições de controle não são independentes e são manipuladas pelo Executivo. O mesmo acontece com a mídia. A estrutura de incentivos também milita contra "a oferta" de denúncias uma vez que a probabilidade destas surtirem efeito em ambientes pouco competitivos é pequena.

Por outro lado, em ambientes competitivos em que forças políticas equiparam-se, a geração de escândalos torna-se um imperativo de sobrevivência eleitoral. Afinal um escândalo pode "tip the balance" em uma eleição. E assim os incentivos para a geração de escândalos são fortes. Além do mais a probabilidade da denúncia gerar efeitos e serem publicizadas é alta. Como nestes contextos a mídia é mais pluralista e as instituições de controle são mais independentes, estes incentivos tornam-se ainda mais robustos.

É a competição política e não a mídia que explica os escândalos

A competição política influencia não só os incentivos para a denúncia mas também para o acobertamento dos escândalos. Onde existe acirrada competição política, os incentivos para a "oferta" de denúncias são grandes. A probabilidade de defecção estratégica de membros da base de sustentação do governo é grande e por isso mesmo as denúncias costumam ter desdobramentos (processos investigativos, CPIs). Da mesma forma, há mais incentivos por parte das instituições de "checks and balances" e auditorias para ir a fundo nas suas diligências e auditorias porque os custos políticos de interferência do executivo sobre as mesmas são altos. Os membros destas instituições têm também maior probabilidade de terem sido indicados por forças políticas distintas devido a alternância no poder. Mas por outro lado, os partidos e grupos políticos que dão sustentação à coalizão de governo tendem a unir forças para acobertar malfeitos já que estes podem por em risco suas chances políticas.

Em contextos de ampla dominância política por uma coalizão ou partido, o padrão muda radicalmente. Diminuem os incentivos e escopo dos controles sobre o Executivo por parte da oposição. Mas em compensação crescem os incentivos para as denúncias intracoalizão - o "fogo amigo". Isto porque a própria coalizão de governo ou partido já não teme que ele possa resultar em derrota eleitoral. A expectativa para seus membros é que o "fogo amigo" resulte em mera reacomodação na alocação de ministérios e cargos no Executivo.

Nos países parlamentaristas, onde há fusão dos Poderes Executivo e Legislativo, o Legislativo vê sua capacidade de fiscalizar e controlar o Poder Executivo diminuir. No caso de investigação pelo Legislativo de denúncia de corrupção este estaria dando um tiro no pé. O contrário ocorre sob o presidencialismo, porque os incentivos de sobrevivência eleitoral do Poder Executivo e dos parlamentares são distintos. Por isso, como conclui Kaare Strom, há mais "accountability" e responsabilização no regime presidencialista do que no parlamentarista. Incentivos institucionais para o "acobertamento" e padrão de competição política explicam assim a efetividade dos controles sobre governos, e o saldo é indeterminado. No chamado presidencialismo multipartidário, o modelo constitucional adotado no Brasil, a lógica potencial que prevalece é semelhante à existente no parlamentarismo, a do conluio institucional. Mas quando os "custos reputacionais" dos escândalos tornam-se proibitivamente altos para o Executivo, o conluio se debilita.

Atualmente a base de sustentação parlamentar do governo é avassaladora e não é à toa que o padrão de denúncias tem sido marcado mais pelo "fogo amigo" do que pela artilharia da oposição. (modelo que poderia ser chamado de "argentino": os escândalos são produzidos internamente pela disputa entre facções peronistas rivais).

A despeito do protagonismo da mídia nas denúncias, a fritura de ocupantes de ministérios no governo Dilma foi alimentada pelos partidos da base. Mas o padrão competitivo recente do sistema político brasileiro engendrou instituições robustas. A mídia é bastante autônoma e as instituições de controle mantêm-se relativamente independentes, embora crescentemente sob ameaça. Mas a dominância governista já começou a fazer mal. E o padrão argentino de "fogo amigo" é indicador de uma certa degeneração institucional.

O inimigo do controle sobre governos é a falta de competição política (e o consequente enfraquecimento das instituições de "checks and balances"). No limite, o "efeito-competição" tende a superar o "efeito-acobertamento", e mais episódios de corrupção se converterão em escândalo. Há um limiar quando o controle externo passa a andar sozinho. Mas ainda falta muito para ele ser alcançado.

Marcus André Melo é professor da UFPE, foi professor visitante da Yale University, é "Fellow" da John Simon Guggenheim Foundation

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 27/01/12
Bancos de desenvolvimento criam clube com o BNDES

Único representante de peso da equipe econômica do governo presente no Fórum Econômico Mundial, Luciano Coutinho, presidente do BNDES, disse ontem que foi criado um clube internacional de bancos de desenvolvimento de diversos países.

A associação, denominada IDFC, reunirá 19 instituições financeiras de países em desenvolvimento, como China e Rússia, e desenvolvidos, entre os quais Alemanha e Japão.

"Nos fóruns internacionais, há sempre canais de manifestação da banca privada, de organismos multilaterais, mas bancos em desenvolvimento não tinham esse canal", disse Coutinho.

O clube pretende ter algumas definições antes da Rio + 20, marcada para junho.

Até lá, terá reuniões preparatórias para discutir apoio ao desenvolvimento sustentável e adoção de políticas, não só contábeis como também de informação.

Com a agenda bem apertada, Coutinho foi com alguma frequência abordado por estrangeiros interessados no BNDES. "O interesse no Brasil está até maior neste ano. Não é só para pedir crédito. Alguns querem apenas conhecer, fazer contato ou parcerias. Grandes empresas estrangeiras não precisam do crédito do BNDES."

Coutinho disse que investimentos em infraestrutura, incluindo saneamento, portos, ferrovias, transporte urbano, telecom, devem crescer pelo menos de 10% a 15% neste ano. Com relação a aeroportos, disse apenas que "eles vão bombar".

DA 'MONTANHA MÁGICA'

Banqueiros... Outro banqueiro brasileiro chegou ontem a Davos, na Suíça. André Esteves (BTG Pactual) veio com seu sócio, responsável pelo escritório de Londres. Comentou que o problema da Grécia está mais do que precificado. "Mas nunca se sabe como o mercado reagiria se ocorresse uma saída do bloco."

...nos Alpes Luis Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, por sua vez, já partiu de volta para o Brasil.

Insegurança... A América Latina nunca atraiu tanto interesse, mas alguns latinos estão exagerando. Chamou atenção certa arrogância do presidente do México, Felipe Calderón.

...professoral Fez severas observações aos europeus, como se fosse um mestre. Descontentou principalmente brasileiros ao afirmar que o México é muito mais seguro que o Brasil. Uma deselegância vinda do país que presidirá o G20 neste ano.

BMW espera definição de novo regime automotivo para fevereiro

A indefinição do governo sobre o novo regime automotivo brasileiro, que se arrasta há meses, deve acabar no mês que vem.

A data foi um sinal dado por diversas autoridades, entre elas, o Ministério do Desenvolvimento, após conversas com o setor, de acordo com o presidente da BMW no Brasil, Henning Dornbusch.

"Esperamos uma resolução em fevereiro. Assim nos foi dito pelo ministério", diz.

A BMW faz parte de um grupo de montadoras que têm a intenção de construir fábrica de veículos no Brasil e, com isso, conseguir redução no IPI (Imposto sobre Produtos Importados) sobre seus carros.

Dornbusch diz que os planos de se instalar aqui são firmes, mas que ainda "há muitas dúvidas no ar". A empresa já estuda a localização da fábrica e tem definidos os modelos que seriam produzidos.

"Temos o plano efetivo, mas queremos que o governo resolva logo. A política para os novos entrantes está indefinida", afirma.

Para atingir a meta de conteúdo nacional acima de 65%, que daria direito ao desconto no IPI, a BMW levaria três anos, a partir do início da operação de sua planta no Brasil, segundo o executivo.

A elevação do tributo para importados deve ter um impacto negativo de 30% sobre as vendas da empresa no país neste ano, na comparação com o ano passado.

CHAMADA PARA RECALL

A BMW do Brasil anunciou ontem o recall de cinco modelos do Mini por problemas em uma bomba de água.

Segundo a empresa, há possibilidade de superaquecimento na placa de circuitos da peça, que pode derreter os conectores e, nos casos mais extremos, provocar incêndio.

O recall afeta as unidades fabricadas entre março de 2006 e janeiro de 2011. Os proprietários devem procurar, a partir de 6 de fevereiro, uma concessionária autorizada para fazer o reparo.

ESTALEIRO PARA ASIÁTICOS

O grupo carioca Oxcorp, de consultoria e gestão empresarial, que atua principalmente no setor de saúde, vai entrar em um novo mercado e construir um estaleiro em Pelotas (RS).

O investimento será de R$ 35 milhões e o empreendimento atenderá embarcações de pequeno e médio porte.

"Nossa principal atividade será a manutenção dos barcos pesqueiros asiáticos que costumam operar na região das Ilhas Malvinas", afirma Giuseppe Miraglia, sócio da empresa.

O grupo já negocia com a companhia coreana Insung. Empresas japonesas, chinesas e espanholas também operam na região. "São cerca de 2.000 embarcações que precisam de manutenção anual", diz Miraglia.

A empresa irá criar uma unidade para cuidar da nova área de atuação. "Mas acho que não teremos muita dificuldade. Nós já fazemos gestão empresarial para diferentes setores."

As obras começaram neste mês e os trabalhos de manutenção de barcos devem ser iniciados em junho. Em dois anos, o grupo passará também a construir embarcações, segundo o empresário.

IMÓVEL CARIOCA

O escritório EJJB fechou contrato com três executivos brasileiros para estruturar um investimento de R$ 800 milhões no mercado imobiliário do Rio de Janeiro.

Os dois primeiros projetos que receberão aportes do grupo serão definidos até fevereiro, de acordo com Jardson Bezerra, sócio do escritório.

"A ideia é investir em construtoras e incorporadoras que já tenham projetos aprovados para a Copa de 2014, a Olimpíada de 2016, na exploração do pré-sal ou do programa Minha Casa, Minha Vida."

Em alguns casos, os três investidores estudam a possibilidade de não atuar em conjunto, segundo o advogado.

Folia... Os preços dos pacotes de hospedagem para o carnaval carioca estão em média 17,6% mais caros do que em 2011, segundo o SindRio (Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro). As altas são justificadas pelos investimentos em modernização e ampliação.

...inflacionada De acordo com o SindRio, a ocupação média atual para o carnaval na zona sul da cidade está em 71%, com expectativa de alcançar 98%, dois pontos percentuais acima de 2011. A pesquisa também registra alta na proporção de hóspedes brasileiros no período.

CAMA, MESA E BANHO

A Teka, fabricante de artigos de cama, mesa e banho, que só vendia seus produtos em multimarcas, vai se lançar no varejo, com uma loja própria.

A primeira unidade no modelo será inaugurada em Blumenau (SC).

A localização foi escolhida com base em critérios logísticos, devido à proximidade às instalações da fábrica da companhia.

A investida no varejo deverá ser, neste ano, um dos novos focos da empresa.

A companhia contratou recentemente uma consultoria para definir novo plano de negócios, que será divulgado em março.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

Colesterol e desigualdade - MOISÉS NAÍM

FOLHA DE SP - 27/01/12

Existe "desigualdade boa" e "ruim", e o truque consiste em conter a segunda no nível mais baixo possível

O principal tema político de 2012 será a desigualdade. Neste ano, haverá eleições em países que concentram 50% da economia mundial. E, em todos eles, os protestos contra a desigualdade e as promessas de reduzi-la fizeram parte do debate.

A desigualdade não é nova. O que é novo é a intolerância em relação a ela. As grandes maiorias nos países mais ricos, alquebradas por desemprego e austeridade, começaram a interessar-se pela distribuição de renda e pela riqueza. E o interesse pelo tema se globalizou. Por muito tempo o mundo viveu em coexistência pacífica com a desigualdade (com ocasionais revoluções que interromperam a coexistência).

Isso está mudando. Em todo lugar, a ideia de que a luta contra a desigualdade é inútil ou desnecessária tornou-se indefensável. Aceita-se que será certamente difícil alterar a distribuição desigual da riqueza, mas já não está tão fácil quanto antes ignorar o assunto ou defender a ideia de que não é preciso fazer nada a respeito disso.

A atenção voltada aos "1%" mais ricos tornou-se obsessiva. Manchetes como a do "Los Angeles Times", "os seis herdeiros da Wal-Mart são mais ricos que a soma dos 30% dos americanos com renda mais baixa", são bom exemplo dessa tendência, assim como o fato de os mais acirrados expoentes da direita radical dos EUA atacarem Mitt Romney por ser rico e pagar poucos impostos.

Nem todos criticam a riqueza. Jamie Dimon, presidente do JPMorgan Chase, declarou exasperado: "Não entendo nem aceito essa coisa de criticar o sucesso ou agir como se todos os bem-sucedidos fossem maus". A perplexidade de Dimon é baseada na suposição de que riqueza é o modo como a sociedade estimula e premia inovação, talento e esforço. Quem é rico merece sê-lo.

Mas nem sempre. Grandes riquezas também podem ser fruto de corrupção, discriminação ou monopólios. Na lista dos mais ricos do mundo, há muitos milhares de milionários que chegaram a isso mais graças ao Estado do que ao mercado.

Por isso os estudiosos da desigualdade costumam compará-la ao colesterol: existe desigualdade boa e ruim, e o truque consiste em incentivar a boa enquanto a ruim é contida no nível mais baixo possível.

E aí está o risco: como reduzir a desigualdade sem desestimular outros objetivos (investimento, inovação, tomada de riscos, esforços, produtividade). Sabemos que alcançar uma sociedade mais igualitária foi o objetivo de inúmeros experimentos que causaram mais desigualdade, pobreza, atraso, perda de liberdades e até mesmo genocídios.

Mas a desigualdade econômica em alto grau é prejudicial à saúde de um país: acarreta instabilidade política maior, mais violência e também prejudica a competitividade e, no longo prazo, o crescimento.

Neste ano veremos inúmeras propostas para corrigir as disparidades econômicas. Algumas serão velhas -e provavelmente más- ideias apresentadas como novas. Mas com certeza aparecerão algumas novas e muito boas. Para os eleitores e outros que possam influir sobre quais são adotadas e quais são rejeitadas, o desafio será aprender com a história. E, como sabemos, não repetir os erros do passado costuma ser mais difícil do que parece.

Tão perto, tão longe - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 27/01/12


SÃO PAULO - O sujeito passa mal na rua diante de um pronto-socorro, mas não consegue atendimento porque não está nem perto o bastante para ser carregado pelos enfermeiros nem longe o suficiente para que se acione o serviço de ambulância.

Se fosse no cinema, o roteirista seria tachado de mirabolante e inverossímil, mas, na vida real, o fenômeno não só acontece como se repete com alguma frequência.

A porta de um hospital é terra de ninguém. As rotinas de atendimento não antecipam que se apanhe o paciente na rua, e algumas chefias interpretam a ausência de previsão como proibição, que pode ser implementada a ferro e fogo, em especial se o paciente é um mendigo.

Dizem, não sem uma pontinha de fundamento, que, se algo acontecer no trajeto entre a rua e o pronto-socorro, o funcionário que faz o transporte é que seria responsabilizado.

Pelo manual, caberia ao Samu

realizar a transferência do paciente, mas este serviço muitas vezes alega -e com razão- que tem coisas mais importantes para fazer do que carregar para as dependências do hospital alguém que já está à sua porta.

No fundo, temos aqui o dilema essencial da burocracia. Se, de um lado, sistemas dependem de rotinas e padronizações para funcionar bem, de outro, a aplicação mecânica e

irrefletida de regras (ainda que ra-

zoáveis) pode engendrar verdadeiros absurdos, como deixar um paciente grave sem atendimento.

O problema não se limita a hospitais. Uma boa receita para produzir o pior dos mundos é aplicar com máximo zelo todas as leis vigentes.

A solução para evitar esses paradoxos, além de rever e aprimorar continuamente os protocolos, é deixar que as pessoas usem o seu bom-senso. Na média, ele mais acerta do que erra.

Essa ao menos foi a aposta da natureza, ao dotar os humanos de cérebros capazes de comportamento flexível, isto é, de responder de forma diferente a diferentes situações.

República pela metade - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 27/01/12

No furor da disputa por cargos, líder peemedebista eleva o tom com a presidente Dilma Rousseff e perde a parada -mas não a vaga

A classe política vai aprendendo que desafios públicos à autoridade da presidente Dilma Rousseff não costumam ter bom desfecho. A mandatária ganhou aprovação com a fama de inflexível e parece determinada a mantê-la.

Em novembro do ano passado, o então ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), negou com audácia sua iminente demissão: "Para me tirar, só abatido a bala". Pouco depois, saiu do ministério, sem que se registrassem estampidos na base governista do Congresso. É a vez do líder da bancada peemedebista na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN), elevar o tom diante das denúncias contra o ocupante de um dos postos cedidos pelo PT ao seu partido.

Segundo a Controladoria-Geral da União, R$ 192 milhões foram desviados do Departamento Nacional de Obras contra as Secas. Legendário ponto de encontro entre coronelismo, ineficiência e corrupção, o Dnocs estava sob a direção de um afilhado de Alves.

O líder peemedebista toma, então, a defesa do feudo que lhe querem arrebatar. "O governo vai brigar com metade da República, com o maior partido do Brasil?"

A declaração de Alves revela o cerne da mentalidade dominante nos partidos brasileiros. "Metade da República", disse ele, referindo-se aos peemedebistas enquistados nos centros do poder.

Se algo merece ser chamado de República, não é a colcha de retalhos que, por indicações personalistas e fidelidades clandestinas, recobre a máquina federal. Excluí-das as raras nomeações que se fazem por critérios técnicos, sobe a bem mais da metade a extensão daquilo que valeria chamar de "setor antirrepublicano", ou "banda podre", dos governos que se sucedem em Brasília.

"Por que", pergunta o líder da bancada peemedebista, a presidente iria "brigar com isso?"

É certo que parte da popularidade da presidente pode ser atribuí-da à mística da "faxina" que, esporadicamente, tem sido compelida pelas evidências a empreender. Uma visão menos providencialista e ingênua apontaria que a relação entre governo e PMDB, apesar dos atritos ocasionais com o PT, é marcada pela acomodação.

Ungida no cargo por seu antecessor, Dilma procura afirmar sua autoridade própria. Para cada assessor acusado de corrupção que venha a demitir, como o recém-defenestrado do Dnocs, novos aspirantes ao cargo, e às benesses correlatas, estão prontos a jurar-lhe fidelidade. Dentro de partidos como o PMDB e o PT, lutas internas constantes dão margem ampla para as escolhas presidenciais.

A verdadeira República, que não é composta de metades peemedebistas ou petistas, acompanha não sem algum prazer a ronda de ciúmes e amuos entre um e outro dia de faxina. Satisfação completa, no entanto, virá no dia em que a presidente confrontar também os padrinhos, não só a legião de apadrinhados sob suspeita.

Darth Vaders de toga - NELSON MOTTA


O Globo - 27/01/12


Formar-se em Direito, passar nos exames da OAB em que menos de 10% são aprovados, disputar os concursos para a magistratura em que apenas 1% passa, é duríssima a carreira de um juiz, pelas responsabilidades da função pública que exerce. Mas nada justifica que tantos juízes do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ganhem mais de 50 mil reais por mês, mais que o dobro do salário da presidente de República e do teto legal, e alguns recebam até quatro vezes mais. Sim, os benefícios não são ilegais - ninguém conhece as leis melhor do que os juízes -, e vigoram por decisões judiciais e administrativas dos próprios beneficiários.

Todos os juízes sabem que nem tudo que não é proibido pela lei é permitido pela ética, e a grande maioria, principalmente das novas gerações, não aceita mais a cultura de privilégios das velhas elites judiciárias encasteladas no poder. Sim, a carreira é muito difícil para todos, e alguns, às vezes entre os mais brilhantes, acabam se desviando pelo caminho, corrompidos pela vaidade, a ambição e a onipotência, como Darth Vaders de toga que passam para o lado escuro da Força. Raros são denunciados ou punidos e continuam reagindo indignados contra qualquer investigação, denunciando as críticas na imprensa como conspiração para desmoralizar toda a corporação, quando querem apenas impedir que se faça ? justiça.

É verdade que não há justiça na natureza, muito pelo contrário, nem no cosmos, nem nas religiões (pelo menos na vida terrena ), nem nos deuses que permitem injustos e cruéis sofrimentos, a morte de inocentes e a salvação de assassinos. A ideia de justiça é uma invenção humana, baseada na ética e na moral, como parte fundamental do processo civilizatório, mas existe apenas como tentativa de fazer justiça, nem sempre realizada, pelas precariedades da condição humana.

O que não é justo é a imensa maioria de juízes honestos, que cumprem todos os deveres que sua nobre função exige, ser usada como escudo por elites corporativas que não querem justiça, mas privilégios abusivos pagos pelo trabalho e os impostos de todos nós, inclusive os juízes honestos.

Dutra na Petrobras - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 27/01/12


O ex-presidente do PT José Eduardo Dutra está voltando para o governo federal. Em processo final de recuperação de um câncer de pele, Dutra vai ocupar uma nova diretoria da Petrobras, a Corporativa, que será criada pela nova presidente, Graça Foster. Na década de 80, Dutra trabalhou como geólogo numa subsidiária da estatal. No governo Lula, ele presidiu a Petrobras (2003 a 2005) e também a BR Distribuidora (2007 a 2009).

A presidente surfa na popularidade
O PT e o PMDB estão irritados com as recentes atitudes da presidente Dilma. Ela ignorou os petistas ao indicar o novo ministro de Ciência e Tecnologia. Passou por cima do PMDB na queda do diretor-geral do Dnocs. Até no PSB há ressentimento pelo fato de o ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração) ter ido se explicar no Congresso, enquanto o Planalto fez uma operação para blindar o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento). A impressão dos políticos é que ela mira a opinião pública e não dá satisfação aos partidos. É grande o ressentimento e alguns aliados dizem que um dia chegará a hora do troco.

"O que aconteceu em Pinheirinho foi uma barbárie” — Dilma Rousseff, presidente da República, ontem, em reunião com os movimentos sociais, no Fórum Social Mundial Temático de Porto Alegre (RS)

SANGRIA ESTANCADA. O vice-presidente Michel Temer, na foto com a presidente Dilma, teve participação decisiva na demissão do diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes Neto. Ele aconselhou o líder do PMDB, deputado Henrique Alves (RN), a baixar a bola e recuar. A presidente Dilma não gostou de ser desafiada por Alves, e este ficou com medo de comprometer seu projeto prioritário, que é o de se eleger presidente da Câmara.

Direitos humanos
O Itamaraty, por recomendação da presidente Dilma, avisou ao governo de Cuba que daria o visto pedido pela blogueira Yoani Sánchez, e recebeu a sinalização da administração Raúl Castro de que ela será autorizada a deixar a ilha.

Abusados
O governo brasileiro não vai assumir qualquer risco na Copa do Mundo relativo a catástrofes naturais, como quer a Fifa. O Brasil não fará concessões como as aceitas pela África do Sul. O nosso parâmetro é igual ao que a Alemanha ofereceu.

Geddel diz que não lutará pela Sudene
Vice-presidente da CEF, Geddel Vieira Lima diz que não pretende fazer qualquer movimento para tentar manter no cargo o atual presidente da Sudene, Paulo Sérgio Fontana. Ele nega uma eventual crise, como a ocorrida no Dnocs. "Afilhados, só os da pia batismal. Eu era ministro e nomeei quadros qualificados. Já não sou mais ministro, podem substituir todos que quiserem. Nunca pedi a permanência de ninguém no governo", afirma.

Vai que é tua
Egresso de uma turbulência em sua pasta, o ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração) conseguiu não se contaminar com a crise no Dnocs. Ele a jogou no colo do líder do PMDB, Henrique Alves (RN), que a abraçou com vontade.

Na arquibancada
Promovido a virtual candidato a presidente em 2014 pelo ex-presidente Fernando Henrique, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) está parado, esperando para colher os frutos políticos provocados pelo desarranjo do governo Dilma.

O LÍDER do PSOL, Chico Alencar (RJ), vai a São José dos Campos (SP), dia 2, para discursar contra a violência e pelo direito à moradia. "Será a abertura "solene" do ano legislativo do Brasil real", diz ele.

O MINISTRO Gastão Vieira (Turismo) apresentou anteontem para a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) o sistema de monitoramento online de sua pasta, em funcionamento desde o dia 12.

OS SERVIDORES da Presidência da República estão revoltados. Os dois restaurantes self-service do Palácio do Planalto aumentaram 25% o preço do quilo. Muito acima da inflação, que em 2011 foi 6,5%.

GOSTOSA


Em busca do caminho - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 27/01/12

Desde janeiro de 2009, sob o impacto da crise econômica que estourara em setembro do ano anterior, o Fórum Econômico Mundial encontrava-se em uma situação de paralisia, como se deglutisse com dificuldade seus próprios erros, culpando-se por não ter entendido que a crise estava já instalada.
Os debates tornaram-se, no mais das vezes, infrutíferos, com a busca de culpados ocupando mais tempo do que a de soluções.
Pois neste Fórum de 2012 parece que os "senhores do Universo", já um tanto abalados por seus insucessos, acordaram para a necessidade de introduzir mudanças profundas no sistema capitalista.
O que se procura é fazer com que o capitalismo volte a ser percebido pelas populações como um sistema econômico que produz riqueza e bem-estar, em vez de ser um sistema que fomenta a ganância e permite o lucro fácil, alimentando- se da desigualdade e aproveitando-se dos mais pobres para favorecer os mais ricos.
Ainda não chegamos a propostas concretas, mas já há um sentimento generalizado que levará certamente a tomadas de decisões importantes, inclusive porque, se isso não acontecer, aí sim teremos consequências concretas no dia a dia.
O megainvestidor George Soros deu uma entrevista à "Newsweek" prevendo rebeliões nas ruas das principais cidades do mundo.
A democracia, que surge como uma vaga promessa com a Primavera Árabe, paradoxalmente já é contestada em diversos países ocidentais como incapaz de fazer frente às necessidades do mundo moderno de representatividade e inclusão social.
Os paradoxos não param de causar perplexidade. Os movimentos dos cidadãos "indignados" que pretendem ocupar Wall Street ou o Fórum Econômico para protestar contra a iniquidade são reflexos dessa mesma democracia que criticam, enquanto os países que viveram sob a ditadura buscam na utopia democrática sua redenção.
Ontem, aqui em Davos, um painel discutindo justamente a eficiência da democracia mostrou bem essa distância.
Enquanto Rached Ghannoushi, um dos fundadores do Ennahda, partido político que está no poder na Tunísia, tecia loas à democracia, houve quem ressalvasse que democracia não se resume à realização de eleições periódicas, mas principalmente ao funcionamento das instituições políticas.
O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, que participou do debate, saiu em defesa da tese de que eleições, por si só, representam muito em países como a Tunísia ou o Egito, que não as realizavam há décadas.
Só o fato de os novos governos serem escolhidos pelo voto popular direto, disse Patriota, já significa um salto grande na cidadania desses países.
Todos esses movimentos, às vezes contraditórios, são consequências das mudanças que estão ocorrendo no mundo, levando ao fim da hegemonia e à divisão dos poderes geopolíticos, antes concentrados nos países desenvolvidos do Ocidente.
Hoje, em meio a uma crise que parece não ter fim, esses mesmos países até dependem de outros, emergentes, para um equilíbrio na economia mundial.
Em um dos painéis, houve quem afirmasse que a crise econômica ficará por bons dez anos, e só restou uma pergunta: essa conta começa em que ano? Na verdade, hoje já há uma definição oficial de quando começou a crise: no dia 18 de setembro de 2007, quando o Federal Reserve (o Banco Central americano) reduziu a taxa de juro pela primeira vez em quatro anos, atendendo ao setor bancário, que estava em dificuldades com créditos imobiliários.
A partir daí, o sistema econômico mundial tal como o conhecemos até hoje foi se deteriorando sem que as medidas necessárias fossem tomadas.
O ex-presidente do México Ernesto Zedillo, diretor do Centro de Estudos da Globalização da Universidade Yale, lembrou que já em 1997 — dez anos antes, portanto, de a crise começar — o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, dizia que era preciso reestruturar o sistema financeiro.
Esse sentimento de culpa e expiação que domina hoje os debates aqui no Fórum Econômico foi definido com maestria em um artigo escrito uma semana antes do início do encontro pelo economista Jeffrey Sachs, publicado pelo "Financial Times", que, aliás, aproveitou a realização do encontro para publicar uma série de reportagens sobre os problemas do capitalismo.
Também o "New York Times" publicou grande reportagem denunciando o uso de trabalho escravo por parte de empresas americanas de tecnologia na China, principalmente a Apple, o que seria exemplar do capitalismo selvagem.
Nada define melhor o que está acontecendo aqui em Davos do que um recente artigo do economista Jeffrey Sachs no "Financial Times".
O professor da Universidade Columbia, em Nova York, sintetiza em seu artigo o que está no ar aqui no Fórum Econômico Mundial: "O capitalismo está arriscado a falhar nos dias de hoje não porque lhe falte inovações, ou porque os mercados não estejam conseguindo inspirar ações particulares, mas porque perdemos a visão das falhas operacionais da gula desenfreada.
"Estamos negligenciando uma torrente de falhas do mercado em infraestrutura, finanças e meio ambiente.
Estamos dando as costas a uma grotesca piora da desigualdade de renda e intencionalmente continuando a cortar benefícios sociais.
"Estamos destruindo a Terra como se de fato fôssemos a última geração. Estamos envenenando nossos próprios apetites através dos vícios de bens de luxo, cirurgias cosméticas, gorduras e açúcar, assistindo à TV, e outras automedicações de escolha ou persuasão.
"E nossas políticas são cada vez mais perniciosas, já que alteramos completamente decisões políticas no maior lance dos lobbies, e permitimos que os grandes interesses financeiros passassem por cima dos controles reguladores".

Os estranhos caminhos de um pedaço do Brasil - WASHINGTON NOVAES


O Estado de S.Paulo - 27/01/12


O documento inicial da ONU para a conferência Rio+20, a realizar-se em junho - comentado neste espaço na semana passada (20/1) -, menciona a necessidade de, na busca de um novo modelo de governança para o planeta, respeitar os direitos de comunidades indígenas, "que têm seus modos sustentáveis de uso de recursos naturais frequentemente marginalizados", levando-as a "altas taxas de pobreza". Não é uma afirmação gratuita. Vários estudos internacionais e brasileiros - inclusive do nosso Ministério do Meio Ambiente - mostram que os formatos mais adequados para a conservação da biodiversidade está nas áreas indígenas, mais eficazes até que os de áreas protegidas por lei. E isso é vital num momento em que vivemos uma crise global de recursos naturais, com mais de 30% das áreas da biodiversidade já perdidas, num caminho que só avança. E ainda com ameaças permanentes às áreas indígenas - já demarcadas ou não -, quando se deveria pensar em ampliar a proteção.

É questão de muitos séculos, que vem desde a época do "descobrimento". E que levou o antropólogo Lévi-Strauss, num de seus livros, a perguntar por que os "índios" brasileiros, que eram milhões, não massacraram os portugueses recém-chegados, que eram umas poucas centenas. Mas, ao contrário - como já foi lembrado aqui -, eles os trataram como fidalgos. Porque, diz Lévi-Strauss, na cosmogonia desses povos, a chegada do outro está sempre prevista. E esse outro é o limite da liberdade de cada indivíduo, porque tem os mesmos direitos que ele. Precisa ser respeitado.

Um forte exemplo das consequências dessa relação entre colonizadores e "índios" está no recém-lançado livro Rio Doce - A Espantosa Evolução de um Vale (Editora Autêntica), no qual o jornalista Marco Antônio Tavares Coelho decifra o aparente enigma de essa vasta parte de Minas Gerais haver permanecido durante séculos à margem da evolução que ocorreu no restante do território. Basicamente, porque a Coroa portuguesa quis deixar isolada essa porção, para não ser alvo da cobiça de outros colonizadores (a rainha Maria, a Louca, chegou a decretar a extinção ali das fábricas de tecidos). E porque, para manter o quadro que a beneficiava, bem como aos senhores de vastas extensões de terra, classificava como "botocudos" e "antropófagos" os "índios", por isso quase exterminados ao longo do tempo. Além de entender que a Mata Atlântica era fonte de "pestes" terríveis.

O panorama, mostra o livro, só começou a mudar no final do século 18, quando se pensou que a mineração estava esgotada em outras áreas do País e as migrações internas passaram a se concentrar no vale. A ocupação acentuou-se a partir da segunda década do século 20, com a forte concentração de poderosas empresas mineradoras e siderúrgicas nacionais e transnacionais. O modelo energético escolhido para a siderurgia - carvão - levou ao rápido avanço da derrubada da Mata Atlântica e do Cerrado, para o qual contribuiria também a transformação do Porto de Vitória no maior ponto de exportação de madeira no mundo.

Mas cerca de 200 municípios à margem da BR-040 (direção Rio-Brasília) permaneceram com altas taxas de pobreza, semelhantes às do Nordeste, e desertificação progressiva, enquanto do outro lado da rodovia pareciam seguir o modelo paulista. O modelo agropecuário, já observava Saint-Hilaire - que viajou pela região da Serra da Canastra na segunda década do século 19 -, "é baseado na destruição das florestas". E, acrescenta o autor do livro, no "genocídio dos botocudos", que "ocupavam um imenso território dos chamados sertões do Leste, nos vales dos Rios Mucuri, Doce e Jequitinhonha", que permaneceu intocado "até o início do século 19 por ser considerado 'zona proibida' pela Coroa portuguesa", que não podia "ser franqueada aos civilizados". Para a dizimação dos indígenas contribuiu fortemente a transmissão, pelos "civilizados", de doenças para as quais os antigos moradores não tinham defesas orgânicas. Há notícias até da inoculação proposital de sarampo em índios.

É útil e esclarecedor o histórico que o livro traz sobre a evolução da siderurgia no vale e os problemas dos modelos utilizados, até com subsídios oficiais para o reflorestamento com eucaliptos pós-derrubada da vegetação originária. Assim como os problemas gerados pelo modelo na área "ambiental", inclusive nos recursos hídricos, largamente utilizados - modelo que se repetiria depois na Amazônia. E que na parte de Minas retratada inclui áreas em desertificação, lagoas eutrofizadas, nascentes desprotegidas, retirada de mais de 90% da cobertura vegetal, poluição gerada pela deposição de resíduos industriais e domésticos, uso descontrolado de agrotóxicos, desequilíbrios causados pela implantação de barragens, inundações, escassez de água em alguns municípios. E tudo resultando em índices de desenvolvimento humano abaixo da média nacional. As águas na região, diz um relatório de 2007 do Instituto Mineiro de Gestão das Águas, têm altos índices de contaminação por alumínio, fósforo, manganês, ferro, óleo e graxas, cobre, arsênio, além de coliformes fecais (parte dos esgotos de estações de tratamento).

Nestes tempos de hoje, caracterizados pela escassez progressiva de recursos naturais - reconhecida agora mesmo pelos economistas mais conservadores -, é decisiva uma reflexão mais aprofundada, como propõe o livro, sobre essa extensa região brasileira, com seus recursos minerais e seus remanescentes de Mata Atlântica e Cerrado. O futuro passa por aí, têm dito muitos estudiosos ao discorrerem sobre a privilegiada situação brasileira. Lembrando, como propõe Marco Antônio Tavares Coelho, que é preciso pensar no importante papel das nações indígenas e de seus modos de viver - que, como diz no livro o competente Ailton Krenak, "estão sendo jogados num liquidificador", por nossas políticas que induzem uma aculturação disfarçada.

Técnico de futebol, só me faltava essa! - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO


O Estado de S.Paulo - 27/01/12


A chuva caía forte, ficamos na padaria, jogando conversa fora. Os tolos assuntos da atualidade, o capitão que gritava "Vada a bordo, cazzo!" Ou aquele ator americano de quinta, que insistem em trazer para o SPFW, cujo currículo diz: ex-marido de Demi Moore. Ou o estupro não estupro do programa mais estúpido da tevê brasileira. Sabem quem é, não? Tudo vazio, inútil. Superficialidades. Feriado, entediado, volto da padaria abrigado por um guarda-chuva que ameaça desmontar. Era o da portaria do prédio. Rua deserta, como gosto. Um carro passa, o sujeito abre o vidro, me cumprimenta:

- Tudo bem, Beto?

- Tudo bem!

- Deu tudo certo lá?

- Tudo certo.

- Cuidado com aquele Eugênio. Justifica o apelido Eugênio perverso. O sujeito é ruim, mas simpático, bonitinho, engana.

- Fique tranquilo.

- Estava preocupado, quanto te vi, decidi avisar. Bom feriado!

Partiu. A chuva aumentava. Caminhei pensando quem seria o Beto. Nessa hora, explicar demora, deixo para lá, assumo a personalidade que veem em mim. Só estou preocupado agora com o verdadeiro Beto. O que o Eugênio perverso vai aprontar para ele? Não sei se acontece com tudo mundo, mas penso às vezes que sou o rei desses desencontros. Anos atrás, eu assumia a personalidade do Flávio Rangel, o diretor teatral, magro como eu, de cabelos encaracolados (naquele época eu tinha cabelos vastos). Um dia entrei no táxi, o sujeito cumprimentou:

- Adorei o show da Maria Bethânia. O senhor é craque e como ela não tem igual.

O show tinha sido dirigido pelo Flávio, um daqueles sujeitos que fazem falta na cultura brasileira. O taxista era não só bem informado, como ia a shows. Bem, foi aquela época difícil em que muitos abandonavam a profissão e se ocupavam de outras coisas que nada tinham a ver. Por sorte, o homem havia gostado do show.

Coisa comum, o que me enobrece é me pararem na rua, ou quando entro em uma faculdade, ou escola.

- Affonso de Romano Sant'Anna, que prazer! É um privilégio. Valeu meu dia. O que veio fazer aqui? Recitar umas poesias?

Não conto isso ao Affonso, não sei se ele gostaria de saber que o esperam para recitar poesias. Mas ele não gostaria de ver o "de" em seu nome fora do lugar. Comigo também acontece, torno-me Ignácio Loyola de Brandão. Quanto ao Affonso, nem é declamar, é recitar, coisa antiga do interior, quando, para júbilo dos pais, jovens prendadas recitavam para os parentes na sala de visita, numa festinha. Não adianta ele ser um dos melhores palestrantes deste país, faz uma fala que vale por um ensaio poético.

Em Paraty, numa Flip, anos atrás, o garçom me tratava maravilhosamente. Eu pensava numa caipirosca de limão siciliano, ela estava à minha frente em dois minutos, enquanto nas outras meses as reclamações do serviço eram uma só, lentidão. Paraty tem esse problema, na época dos livros, bares e restaurantes arregimentam quem podem e não podem e o serviço é atroz. Eu pedia bolinho da bacalhau e ele se materializava na mesa. No final, o jovem veio.

- Foi um prazer servi-lo Ivan Ângelo. Reconheci pelos cabelos brancos e pelo bom humor. O senhor é muito divertido. Pode autografar seu livro para mim?

- Posso, cadê o livro?

- Não tenho, mas espero que o senhor me dê um!

- Volto já!

Corri à Livraria da Vila, consegui um exemplar de Pode Me Beijar se Quiser, do Ivan, voltei ao bar, assinei, o garotão ficou feliz. O que eu podia fazer? Tratar mal? Dizer não tenho o livro, não sou o Ivan? Não, comportei-me como Ivan faria, com delicadeza. Assim ele teve um fã confirmado. Aliás, com exceção de um, assinaria com prazer livros de todos os meus colegas.

Uma vez, em uma cidade mineira, o secretário de Cultura ao me apresentar dizia a todo momento: Ignácio Brandão de Loyola, para constrangimento de professoras de letras presentes. Outros dizem: Iguinácio, pronunciando o "g". Coisa comum em telemarketing. Quando digo que é apenas Inácio, retrucam: e o que faço com o "g"? Não respondo, sou gentil.

Agora, a coisa mais comum, iniciada com a época do Lula é, ao me entrevistarem em televisão ou rádio, me apresentarem:

- Vamos agora conversar com o escritor Luís Ignácio de Loyola...

Até mesmo numa recente Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa, sobre os desmandos e a corrupção na Bancop, um deputado do PT, José Mentor, de quem nunca tinha ouvido falar, caiu na armadilha, tanto preza o chefe, e me chamou de Luís Ignácio. Todo mundo riu, ele desconcertou, se calou. Antes eu corrigia. Agora, fico quieto, com o entrevistador insistindo:

- Fiz uma pergunta...

- Você fez ao Luís Ignácio, que é o Lula. Ele que responda!

Constrangedor? Pode ser, mas informe-se, respeite, trabalhe direito. Porém, ganhou a taça aquele senhor, um advogado conhecido, que me cumprimentou numa caixa de conveniência:

- Então, parabéns! Só o senhor vai consertar aquele time. Imponha respeito! São uns sem-vergonha.

Espero que o time vá bem, seja qual for, se não, minha reputação vai por água abaixo. Juca Kfouri, Antero Greco, PVC, me ajudem, que time me espera?

Alta ansiedade - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 27/01/12


A demissão do diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes, não é um fato que em si vá contribuir ou influir no desgaste das relações entre o PMDB, o governo e o PT.

Inclusive porque o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, só faltou pedir que a presidente Dilma Rousseff apressasse a demissão ao se referir a ela em tom de desafio para defender o apadrinhado, abraçar uma causa ruim e resguardar interesses paroquiais.

Ontem de manhã a avaliação era a de que o deputado cometera um erro estratégico ao duvidar que Dilma bancasse a demissão ao custo de arrumar briga "com metade da República, com o maior partido do Brasil".

No tom, no método e no mérito do caso, Henrique Alves não contou com o respaldo do partido. Mas expressou a insatisfação crescente não só no PMDB, mas também em legendas com menos poder de vocalizar descontentamentos, como PR e PP, com a adoção de pesos e medidas diferenciados no trato dos partidos aliados.

O problema é mais amplo: diz respeito ao que é visto como a execução de um plano para fortalecer a hegemonia do PT, proteger quem atenda aos interesses desse projeto e enfraquecer os que possam representar alguma ameaça ou almejem algo mais que o papel de meros coadjuvantes.

Isso tanto no cotidiano do governo como nas disputas eleitorais que se avizinham. Com exceções aqui e ali, o PMDB e adjacências enxergam nos movimentos do PT a intenção de coagir os partidos da base governista a marchar com os candidatos do partido em detrimento das postulações dos aliados.

O sentimento é o seguinte: fortalecida pela popularidade, Dilma trata os parceiros com pragmático desdém. Recorre a eles quando precisa "blindar" ministros considerados intocáveis sob a ótica do Planalto, mas não age da mesma forma na contrapartida. Ao contrário. Aproveita ocasiões em que as suspeitas recaem sobre o lado mais fraco para firmar imagem de austeridade.

E avança no terreno político eleitoral, onde teoricamente não transitaria por temperamento e falta de vocação.

O PMDB ainda está engasgado com a ação de Dilma em favor da candidatura de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo na inauguração de uma creche em Angra dos Reis (RJ). Por dois motivos: fez a saudação em Estado governado pelo partido e simplesmente ignorou que o PMDB tem candidato (Gabriel Chalita) na capital paulista.

O estresse cresce, mas o governo ainda conta com larga margem de vantagem porque os insatisfeitos não têm saída.

Se alguém nessa altura já estivesse se movimentando de forma clara como alternativa de poder - citados Eduardo Campos e Aécio Neves, como exemplos - a história da ruptura entre PT e PMDB estaria hoje em andamento.

Não sendo o caso, existe apenas como hipótese remota, mas existe.

Petrobrás. A gerência de imprensa e comunicação social da Petrobrás envia mensagem para apontar "um erro grave", uma "mentira inadmissível" em nota sobre a intenção do ex-presidente Sérgio Gabrielli de deixar a empresa só depois do carnaval, quando poderia tirar proveito dos patrocínios dados a blocos e trios de Salvador como postulante a candidato ao governo da Bahia.

E qual o erro grave, a mentira inadmissível? A afirmação de que equipe da sucessora de Gabrielli na Petrobrás tenha feito levantamento daqueles patrocínios. Pois bem: não há equipe de transição nem trabalho de apuração de financiamentos.

No mais, a gerência confirma o patrocínio de blocos e trios de Salvador, mediante "análises técnicas e jurídicas", com o objetivo de "valorizar e ampliar o conhecimento sobre o carnaval baiano, além de expor a marca, reforçando a imagem da Petrobrás como maior patrocinadora da cultura brasileira".

A nota não discutia a metodologia da Petrobrás. Apenas indicava que Gabrielli poderia tirar dividendos políticos se circulasse no carnaval na dupla condição de presidente da empresa patrocinadora e aspirante aos votos baianos. E sobre esse ponto a gerência nada comenta.

A grande rave italiana - BARBARA GANCIA


FOLHA DE SP - 27/01/12

O Argentario é um piteuzinho de península na Toscana que compreende Porto Santo Stefano, Ortebello, Porto Ercole e Capalbio. A região é rica em termas, daquelas em que os romanos se divertiam jogando tortas de lama na cara uns dos outros e está, sem exagero, entre as duas ou três paisagens mais espetaculares que esta velha caduca, porém distinta, já experimentou na vida.
Imediatamente diante da orla do Argentario surge uma gema na forma do arquipélago do Parque Nacional Toscano, composto pelas pequenas ilhas rochosas Capraia, Giannutri, Montecristo (sim, tudo a ver com o conde), Giglio e, a maior delas, Elba, feita famosa por obra do tampinha que amava Josefina.
Já mergulhei no santuário da encosta de Giglio, Capraia e Giannutri (Montecristo é um pouco mais afastada, não vale a pena visitar em passeios de barco com a duração de um dia a partir de Porto Santo Stefano) à cata de moreias inúmeras vezes em férias de verão passadas com a família.
Bem, corrigindo, digamos que eu tenha pensado à época que estava caçando moreias enfiadas dentro de fendas nas pedras. Nunca encontrei nenhuma e, provavelmente, teria engolido o tubo de ar do snorkel de susto se tivesse dado de cara com aquela espécie de monstro pré-histórico enfezado.
Mas meu tio Roberto, que até hoje consegue despertar grande interesse tanto em crianças quanto em atrizes cinematográficas de fartas pepônias, fazia tudo parecer eletrizante. Gela-me a espinha quando lembro da expectativa de ser surpreendida pela enguia.

Mas é claro que, graças ao gesto de um grande homem, por muito tempo ninguém mais vai caçar outra coisa nas águas turquesas do Parco Nazionale dell'Arcipelago Toscanosenão a honra perdida de um país já suficientemente massacrado.
Puxa, eu vinha vindo tão bem até aqui, não? Pretendia manter um certo distanciamento de achados passionais para culminar na conclusão mais óbvia possível. De que anos e anos de tentativas de dobrar as leis em favor de um ser que passa o dia preocupado com sua masculinidade só poderia dar nisto.
A farra de Berlusconi emendou na grande noitada do capitão Francesco Schettino. Uma é a continuação da outra, a grande rave que erodiu o caráter italiano. Cadê o Michel Teló para compor a trilha: "Ai, se eu te pego, ui, ui!" Cadê a extracomunitária sem permissão de residência para dançar agarradinho? "Champagne per brindare a un incontro",( aqui ) bora sacudir!
Não estava na cara que ia degringolar? Agora eu e outros mamíferos aquáticos iguais a mim não poderemos voltar a nadar naquelas águas límpidas tão cedo.
Compreendo que os dois menores livros do mundo sejam o livro de culinária inglesa e o livro de heróis italianos. Mas não sou obrigada a aguentar desculpas psicodélicas apresentadas pelos advogados dessa espécie de bicheiro da Beija-Flor de Sorrento. Prefiro as inventadas: "Não abandonei o navio, fui sequestrado por piratas"; "Não piquei a mula, estava indo buscar 'finger foods' para a equipe de resgate"; "Não fugi, fui renovar minha licença náutica"!
Já pensou se Francesco Schettino se inspira em Cesare Battisti e resolve pedir asilo político no Brasil? E, como homem de uniforme sempre faz sucesso -nem que seja para trazer uma empada sobre uma bandeja-, já antevejo minhas amigas que estão a perigo em fila na porta da cabine. Ai, se eu te pego, ai...

Sampa! Kassab ovacionado! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 28/01/12

E a polícia de SP tucanou a borrachada. Agora diz que são "técnicas de controle de distúrbios civis"

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Sampa Urgente! Kassab ovacionado. Literalmente. Tacaram ovo nele na praça da Sé! Temperado com spray de pimenta!
E como disse o outro no meu Twitter: "Que desperdício e que puta sacanagem com a galinha que fez a maior força pra botar".
Pior, subiu o colesterol do ovo! Aliás, se você fosse um ovo, como gostaria de ter o seu triste fim: frito, cozido ou estourado no Kassab? Estourado no Kassab! Atirado pela Narciza. E temperado com spray de pimenta!
Ou como respondeu aquela menina: "NDA! Nenhuma das alternativas. Preferia ficar no fiofó da galinha!". Rarará! E sabe o que uma amiga minha gritou quando viu o ovo estourando? "Um pinto a menos!" Rarará!
E a polícia tucanou a borrachada. Agora diz que são "técnicas de controle de distúrbios civis". Tucanaram a borrachada.
Avisa ao Alckmin que a polícia de São Paulo parece polícia de ditador árabe! São Paulo tá esborrachada.
Neste mês, paulista levou borrachada, viu!? Borrachada na cracolândia, borrachada em Pinheirinho, borrachada na praça da Sé.
E quem protestou contra as borrachadas de Pinheirinho levou borrachada também! Tá protestando contra borrachada? Tô! Então, borrachada! Pá! Pum!
Como disse uma amiga minha que foi pra Ilhabela: "Escapei das borrachadas e caí nos borrachudos! Rarará! Verão de paulista: borrachada e borrachudo".
E eu adoro novela porque o cara rasga o vestido da periguete, e a periguete rasga a camisa do cara, e eles transam alucinadamente. Dão aquele show de intertrepação!
Mas não pode falar "porra". Porra é piiiii! A porra apita! E esse povo da novela tá cada dia intertrepando melhor. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse o outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
O Brasil é lúdico! Em Palmas de Montes Altos, na Bahia, tem a pousada Camarada. "Dormitório e namoratório". Adorei o namoratório.
E o brasileiro é cordial! Olha o cartaz num hotel em Arinos, Minas: "O hotel não permite hóspedes acompanhados de mulheres da cidade. Grato. A gerência". Imagine o que a gerência pensa das mulheres da cidade! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

O BONDE DOS CORRUPTOS


Meta de juros - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 27/01/12


O Banco Central nunca foi tão claro quanto na ata divulgada ontem. Vai continuar derrubando os juros até ficarem abaixo de 10%. Já sobre a inflação, ele é menos preciso: diz que a trajetória será em direção à meta. Parece que está dizendo que desistiu de chegar aos 4,5% em dezembro. O BC diz que dólar barato vai continuar vindo para o Brasil.

Normalmente, o trabalho que se tem com a ata do Copom é ler nas entrelinhas. Desta vez, não precisou. O mais importante estava nas linhas. Mais precisamente nas linhas do parágrafo 35: "o Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares de um dígito." Tirando as palavras do estilo tortuoso do Banco Central, há a informação direta de que o BC explicitou um desejo em relação à taxa de juros. Já sobre a inflação, que deveria ser seu objetivo principal, o texto é bem menos direto: "A estratégia adotada pelo Copom visa assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas."

Sobre o câmbio, pode-se inferir que o real continuará mais valorizado. Na ata, está dito que haverá "aumento da oferta de poupança externa e a redução do seu custo de captação". A tradução disso é que haverá mais investimentos externos, entrada de capital, captação no exterior de empresas brasileiras a um custo menor. Mais entrada de dólar significa mais apreciação do real. Isso resulta em mais dificuldade para a indústria brasileira.

No programa de ontem da Globonews, conversei com as economistas Monica da Bolle, da Galanto Consultoria, e Silvia Matos, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). As duas apontam para esse dilema: o mesmo dólar que afaga, reduzindo a inflação, é o dólar que fustiga a indústria. Ela terá mais dificuldade de competir com o produto importado. Isso porque o Brasil, alerta Silvia, não está tendo nenhum ganho de produtividade. E não está tendo, lembra Monica, porque não enfrenta os problemas estruturais que tiram a competitividade da economia: infraestrutura deficiente, alta carga tributária, baixa qualidade da educação.

Na conjuntura, o Brasil parece bem, mas, se a gente tenta ver um pouco além do horizonte, esbarra sempre com as mesmas nuvens. Silvia lembrou que o Brasil já fez o esforço da quantidade, ao incluir mais brasileiros em diversos níveis educacionais, mas ainda falta a qualidade.

Enquanto ninguém pensa no longo prazo, o que resta é comemorar os ganhos de curto prazo: a taxa de juros de volta ao caminho do um dígito, onde esteve em 2008, quando chegou a 8,75%. Em queda também o desemprego, que ficou em 4,7% em dezembro, a menor taxa mensal da atual série. A inflação ficará na trajetória declinante.

Segundo o Banco Central, a situação internacional continuará incerta, porque permanece o quadro de deterioração nas economias maduras, com riscos elevados para a estabilidade financeira mundial . Com a crise externa, pode haver menos elevação de preços de commodities, o que reduzirá a inflação aqui dentro. Essa é a boa notícia. A má notícia é que o Brasil precisa de preços das commodities em alta para manter seu superávit comercial.

O Banco Central trabalha com a hipótese de que a gasolina e o gás terão reajuste zero este ano. Os reajustes das tarifas públicas ficarão entre 1,5% e 2,3%, os preços administrados vão subir 4,0%, e o governo cumprirá a meta de 3,1% de superávit primário.

Na verdade, não há muita certeza sobre nenhuma das premissas que o Banco Central espalhou ao longo da ata. A gasolina está abaixo do preço internacional e a demanda em alta está impondo sobre a Petrobras um prejuízo cada vez maior. Só na gasolina importada a empresa perdeu meio bilhão de reais no ano passado. Se nada for alterado, confirma-se a premissa do BC e eleva-se o prejuízo da Petrobras. A meta fiscal só foi cumprida no ano passado porque o governo cortou investimentos - o que promete que não fará este ano - e houve aumento forte de arrecadação. O ajuste continua sendo na boca do caixa e não resultado de reformas que alterem a estrutura das despesas públicas.

O Banco Central diz na ata que a economia brasileira passou por transformações que permitem juros mais baixos. "Ocorreram mudanças estruturais significativas na economia, as quais determinaram recuo nas taxas de juros em geral e, em particular, na taxa neutra." Taxa neutra é também chamada de taxa de equilibro, ou juros que garantam a manutenção da inflação estável. Ao mesmo tempo, o Banco Central diz que a Selic pode voltar a subir, "em virtude dos próprios ciclos econômicos, reversões pontuais e temporárias podem ocorrer".

O que é melhor: ter a meta de juros de um dígito, para agradar a quem no governo pressiona o Banco Central, ou derrubar mais a inflação para que a queda dos juros seja mais permanente?

O mais sensato seria perseguir o segundo objetivo. No Brasil, os juros são altos demais, e a taxa tem ficado nessa gangorra de sobe um pouco, derruba a inflação, aí reduz os juros, e a inflação volta a subir. Melhor seria trabalhar para quedas mais duradouras. Isso se consegue mais facilmente se o Banco Central não se distrair da sua função principal: garantir a inflação na meta. O resto será consequência.

Sob controle da oligarquia nordestina, Dnocs pouco ajudou nas grandes secas - MARCO ANTONIO VILLA


FOLHA DE SP - 27/01/12


O Dnocs tem uma longa história. Foi criado em 1909, inspirado no sucesso obtido pelo "Reclamation Service", criado pelo presidente Theodore Roosevelt para áreas desérticas dos Estados Unidos.

Neste século de vida, tem muito pouco para mostrar. As obras realizadas pouco efeito tiveram nas grande secas, como as de 1915, 1919, 1932, 1942, 1951-1953, 1958, 1970 e 1979-1983.

A autarquia foi mantida sob controle absoluto da oligarquia nordestina, dos "industriais da seca", expressão popularizada por Joaquim Nabuco nos anos 1880.

O Dnocs ficou notabilizado pela construção de grandes açudes, que envolveram vultosos recursos federais. A maior parte deles está abandonada, sem canais para irrigar terras, salinizados e sem qualquer uso efetivamente econômico. E pior: sem conservação, correndo o risco de as barragens se romperem.

A criação do Dnocs fez parte de um momento da história brasileira em que o Nordeste -à época chamado de Norte- passou a ser considerado uma região problema.

Sem condições de gerar suas próprias fontes de renda, passou a depender do governo central. Esse processo começou após a trágica seca dos três setes, de 1877-1879, e seus 600 mil mortos, 4% da população brasileira de então.

Imaginava-se que o problema central da agricultura e da pecuária da região era a falta de água, daí a construção de açudes. A solução hidráulica, capitaneada pelo Dnocs, foi um fracasso.

Porém, serviu como uma luva para os interesses políticos coronelistas, principalmente quando seca e eleição coincidiam, como em 1958, 1970 ou 1982.

Turismo na balança - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 27/01/12
Depois do deficit de US$ 14,5 bilhões da balança comercial do setor em 2011, o ministro do Turismo, Gastão Vieira, estuda medidas que estimulem o aumento dos gastos dos visitantes estrangeiros no Brasil. Uma delas é instituir a devolução dos impostos pagos por esses turistas nas compras no país, como já ocorre, por exemplo, na Europa e na África do Sul.

NA BALANÇA 2

Vieira deve levar a ideia aos ministérios da Casa Civil e da Fazenda. No ano passado, os brasileiros gastaram US$ 21,2 bilhões no exterior, e os estrangeiros deixaram US$ 6,7 bilhões por aqui.

NO COFRE DO HOTEL

Ainda sobre turismo e tributos: a arrecadação de ISS (Imposto sobre Serviços) no setor, na cidade de São Paulo, aumentou 25,7% em 2011. Fechou o ano em R$ 199,6 milhões, contra R$ 158,7 milhões em 2010. Acompanhou o crescimento do setor, que teve alta de 69,2% na ocupação hoteleira.

A OLHO NU

O ex-governador José Maria Marin, filmado colocando no bolso uma das medalhas destinadas aos campeões da Copa São Paulo, anteontem, justifica o ato dizendo que ele ocorreu "na frente de todo mundo". "Enrolei e guardei. Se eu ponho no pescoço, iriam falar: 'Esse cara não disputou [a final] e não é dirigente do Corinthians nem do Fluminense'." Ele afirma que recebeu a medalha por "cortesia" da Federação Paulista de Futebol.

REPAGINADO

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO), de repouso no hotel Maksoud Plaza, em SP, espera ser liberado hoje para voltar a Goiânia. Há dez dias, fez cirurgias plásticas no hospital Albert Einstein para retirar o excesso de pele na papada e na barriga. "Fiz redução de estômago há dois anos e sobrou muita pele. Agora tô bem."

Jogo de arte

A artista Guga Szabzon, 25, vai brincar com a especulação do mercado da arte em sua primeira individual. "Raspadinha" abre no dia 11, na galeria Transversal, com 184 quadros que parecem iguais -só 5% trazem uma pintura coberta por material a ser raspado pelo comprador.

Vão Livre

A cantora Mariana Aydar se apresentou na abertura da exposição "Luz e Movimento - com Arte e Moda Brasileiras", anteontem. O músico Filipe Catto, Yael Steiner, do Centro da Cultura Judaica, e a modelo Andréa Coimbra circularam pelo vernissage, no Masp.

TEM BOI NA LINHA

O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) está organizando com outras entidades uma mobilização para pressionar a Anatel a manter os regulamentos de qualidade das operadoras de internet banda larga aprovados em 2011. Também fará uma reclamação pública da Oi. Segundo Veridiana Alimonte, advogada do Idec, a empresa pediu à agência "a anulação de alguns artigos do novo regulamento. O consumidor tem que saber que uma operadora é contra oferecer internet de qualidade".

TEM BOI NA LINHA 2

Entre as medidas, que passam a valer em novembro, a Anatel medirá a variação da velocidade das operadoras. E estabeleceu que elas não podem oferecer menos de 60% da quantidade contratada pelo consumidor. A Oi diz ser a favor da criação de um sistema de medição de qualidade divulgado por entidade independente, "como medida de transparência" com os usuários. E que o regulamento da Anatel pode ser aprimorado "seguindo os padrões internacionais".

SEU JORGE MAUTNER

A produtora Paula Lavigne fotografou e colocou em seu Twitter a foto do site de uma revista de celebridades que identificou seu ex-marido Caetano Veloso como Chico Buarque. E Jorge Mautner como Seu Jorge, durante a pré-estreia do filme "Reis e Ratos", no Rio, nesta semana.

CURTO-CIRCUITO

O Babel Fest, com Manu Chao, China, Mombojó e DJ Criolina, acontece no dia 4, no Via Funchal. 16 anos.

Karina Buhr faz show no dia 4, às 21h, no Auditório Ibirapuera. Livre.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Quem "protege" o consumidor? - IVAN RAMALHO

O ESTADÃO - 27/01/12


O forte crescimento do comércio exterior nos últimos anos tem motivado diversas iniciativas protecionistas de setores da indústria brasileira.

Esses segmentos, em geral, ignoramos interesses dos consumidores.

É consenso entre os analistas que as medidas de proteção aplicadas pelo governo na importação provocam aumento do preço do produto nacional. E quem acaba pagando é o consumidor brasileiro, especialmente o de baixa renda.

Essa foi a principal razão que levou a Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece) a sugerir ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) a inclusão obrigatória e permanente, na atual revisão do decreto de defesa comercial, de entidades que respondam pelos interesses dos consumidores.

Uma adequada proteção da produção nacional já existe por meio do Imposto de Importação, que para determinados setores chega até ao máximo permitido em acordos internacionais: 35%. Isso significa que o produto importado paga um imposto que estabelece margem de proteção elevada já na entrada do produto. Como os demais impostos incidem em "cascata", serão sempre maiores sobre o produto importado.

Com o frete internacional e os altos custos portuários brasileiros, a proteção tarifária existente no País implica, na prática, encarecimento de cerca de 50% ou mais do produto importado em relação ao nacional.

Isso não parece ser suficiente, na opinião de alguns segmentos, que pedem a adoção de outras medidas para dificultar ainda mais a importação. As sugestões vão de controles burocráticos até o encarecimento tributário das importações, como a licença não automática, controle de preços, alteração da forma da cobrança de impostos e adoção de barreiras técnicas.

Um dos objetivos não declarados dessas iniciativas é o de degradar o ambiente de negócios.

As dificuldades passam a ser tantas que o importador acaba por abandonar operações contratadas com fornecedores de outros países.

São medidas que contrariam acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário. Contrariam, inclusive, os tratados do Mercosul, que já têm sido afetados em razão de medidas protecionistas.

E prejudicam a imagem do Brasil no exterior. Não é fácil se livrar do viés protecionista, que tem profundas raízes históricas, decorrentes de décadas do esforço de substituição de importações - programa que, como se sabe, produziu excelentes frutos, mas esgotou-seapartirdacrisedosanos80 e da inserção competitiva da economia brasileira no mercado mundial.

O exemplo mais recente do estágio protecionista é a possível modificação na forma de cobrança do Imposto de Importação do vestuário. No governo Lula foi feito grande esforço para convencer os parceiros do Mercosul a aprovar a elevação da alíquota desse imposto para 35%. A alíquota protege produtos de menor e de maior valor unitário. Os consumidores das diferentes faixas de renda estão sujeitos ao mesmo tratamento.

A Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), que representa as grandes redes do varejo têxtil e vestuário nacionais, demonstrou recentemente que, caso seja adotado o sistema ad rem (valor fixo por quilo do vestuário), o principal prejudicado será o consumidor de baixa renda. Ao comprar um vestuário importado, esse consumidor passará a pagar um imposto proporcionalmente bem mais alto do que o consumidor que adquire uma roupa de grife. O consumidor de maior poder aquisitivo passará a pagar um imposto menor.

Haverá estímulo à importação de vestuário de grife, destinado a classes de maior poder aquisitivo.

A indústria brasileira não necessita de processos tão contundentes de proteção adicional, especialmente setores que já contam com elevado Imposto de Importação.

A ampliação das medidas protecionistas pode acentuar um processo de acomodação, tornando dispensável o desafio de novos investimentos na inovação e na busca de maior eficiência.

O que representa o Obelisco - JOÃO MELLÃO NETO


O Estado de S.Paulo - 27/01/12


Trata-se de uma homenagem tardia a São Paulo, mas, no meu entender, ela deve ser feita. Um povo não é um povo se não guarda na memória os seus valores, a sua história e os seus heróis. Heróis, sim, porque em todos os lugares existem heróis. Pouco importa se sua glória nasceu de um único momento de bravura ou de toda uma vida de trabalho honesto e extenuante. A biografia de um herói não mais pertence a ele ou aos seus familiares. Ele se transformou num símbolo e, assim, depositário de todas as virtudes cívicas que cada um dos cidadãos se esforça por ter. Um povo que ignora a sua história não é um povo, é uma massa amoldável aos interesses de seus governantes.

Neste último 25 de janeiro - dia do aniversário desta capital e também do Estado -, de tudo o que li e ouvi, muito pouco se disse sobre a Revolução de 32. Ainda é tempo para reparar.

O tráfego é intenso nas imediações do Parque do Ibirapuera, de modo a que ninguém preste atenção ao Obelisco que lá existe. O Monumento às Bandeiras - ao qual Vitor Brecheret dedicou mais de 30 anos - encontra-se logo adiante e tem destaque muito maior.

Mesmo dos que observam de mais perto o Obelisco, poucos sabem o que ele representa. Ora, obeliscos existem em todas as grandes cidades do mundo, dirão alguns. Outros sabem que o monumento é uma homenagem à Revolução Constitucionalista de 1932, mas mesmo assim não lhe dão maior valor: "Afinal, essa foi uma guerra que São Paulo perdeu, não é verdade?".

As crianças em outros Estados são ensinadas sobre o episódio como a "Guerra Paulista", na qual as elites paulistas teriam instigado a população a um confronto suicida com as tropas federais. Segundo essa versão, as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais - que tinham em suas mãos o domínio do governo federal - estavam inconformadas por tê-lo perdido para um gaúcho, Getúlio Vargas, "o qual governava pensando no País inteiro".

"O que São Paulo pretendia era separar o Estado do restante do Brasil", dizem outros. Eu, como paulista, tenho outra visão.

A Revolução Constitucionalista representou, de forma inquestionável, o momento mais heroico de toda a História do povo de São Paulo. Ela merecia aquele Obelisco e muito mais.

Mas São Paulo perdeu a guerra, alegarão alguns. Pouco importa. O fenômeno a ser ressaltado aqui é o de que nunca um movimento político obteve tanto engajamento, apoio e ardor de toda a população quanto a Revolução Constitucionalista paulista. Tanto os partidos e facções da política local como também os agricultores, os industriais e os comerciantes do Estado se uniram pela causa comum. Na campanha "doe ouro para o bem de São Paulo", nem mesmo a população mais humilde deixou de contribuir. Desde grandes colares até alianças de casamento, cada cidadão contribuiu de acordo com as suas posses.

De todos os cantos do Estado, centenas de milhares de paulistas se apresentaram para o alistamento. Ninguém tinha experiência anterior de combate. Depois de feita a seleção, restaram 40 mil homens aptos para os campos de batalha.

Nosso exército não era composto por soldados profissionais, mas por voluntários. De militar, realmente, só havia o apoio da Força Pública - que, muitos anos depois, viria a se transformar na Polícia Militar do Estado de São Paulo. A corporação tem todos os motivos para se vangloriar de seu passado: ela foi criada nos tempos em que o padre Feijó era regente, durante a menoridade de dom Pedro II.

As tropas federais contavam com um número muito maior de soldados, mais preparados para um teatro de operações de guerra. Acabamos por ser militarmente derrotados. O sangue de pelo menos 800 paulistas foi derramado nos campos de batalha. Milhares foram presos e deportados.

Pergunta-se aos de fora: nós nos arrependemos disso? A resposta é um resoluto não!

Getúlio Vargas atendeu a praticamente todas as nossas reivindicações. E isso não aconteceu por acaso, nem por uma suposta benevolência dos vencedores. São Paulo já era, então, o principal polo de criação de riquezas no Brasil. Grande parte do café e da incipiente indústria brasileira provinha daqui.

Mas se cuidou de enfraquecer o nosso poder político. A nossa cota de deputados federais é pouco maior que metade da que deveríamos ter se o critério fosse realmente o de proporcionalidade da população nacional. E dos impostos federais que são recolhido aqui, não mais que um décimo retorna em nosso benefício.

Quem melhor definiu o problema foi o general Golbery do Couto e Silva, ideólogo do movimento de 1964: "Quem tem o poder econômico não pode também pretender ter o poder político". Ou seja, São Paulo está até hoje pagando "indenizações de guerra" aos vencedores...

Mas não nos arrependemos de nada. Continuamos a acreditar nas mesmas causas e persistiremos em ostentar as mesmas bandeiras. Defendemos o que tinha de ser defendido e é só.

Hoje, oito décadas passadas, são poucas as pessoas com idade bastante para terem presenciado o fervor revolucionário daquela época, o suficiente para terem vivido e vibrado com a causa paulista. A verdade, todavia, é que nunca antes - e nunca mais depois de 1932 - os paulistanos e os paulistas vibraram de forma tão unida pelos mesmos ideais. Perdemos a batalha, mas, ao mesmo tempo, vencemos uma guerra: o Obelisco do Ibirapuera, como um sentinela, em pé, significa que nunca mais ninguém se atreverá a confrontar São Paulo.

Em homenagem aos nossos heróis de 32, estão gravados nas paredes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco estes versos de Tobias Barreto, que resumem em poucas palavras o espírito e a disposição dos paulistas: "Quando se sente bater / No peito, uma heroica pancada/ Deixa-se a folha dobrada/ Enquanto se vai morrer".

Efeito bumerangue - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 27/01/12


FÁBIO ZAMBELI (interino) 


Desafiada pelo líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), Dilma Rousseff não só antecipou a demissão de seu apadrinhado Elias Fernandes (ex-Dnocs) como sinalizou que a crise com o principal partido da base aliada pode se alastrar para o Senado. Ontem, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) teve de entrar em campo para acalmar peemedebistas, informados de que o próximo da lista de degola seria Sérgio Machado (Transpetro), da cota de Renan Calheiros (AL).
Em conversas reservadas no Planalto, a presidente expressou indignação com a incontinência verbal de Alves, um dos capitães do time do vice, Michel Temer.

Segue o jogo Henrique Alves brigou por uma saída honrosa para o aliado. Temia que sua candidatura à presidência da Câmara em 2013 fosse abalada com a suspeita de desvios na autarquia. Ainda assim, o líder deve indicar o substituto de Fernandes.

Coração Em resposta ao desfecho do escândalo no Dnocs, ala do PMDB defende a convocação de Fernando Pimentel (Desenvolvimento), um dos ministros mais próximos de Dilma, para explicar, na volta do recesso, suas polêmicas consultorias.

Me dê motivo Jorge Hage procurou Fernando Bezerra (Integração Nacional) para saber as razões das restrições do ministro ao explosivo relatório da CGU sobre o Dnocs.

Hiperativo Quem acompanha de perto a transição no MEC enxerga perfil mais político nas primeiras decisões de Aloizio Mercadante, contrastando com o antecessor, Fernando Haddad. Ao receber denúncia de falha no ProUni na Bahia, o novo ministro fez contato imediato com deputados e senadores.

Compra direta Nomeado secretário de Grandes Eventos do Ministério da Justiça, Valdinho Caetano tem sua passagem na superintendência da PF no Rio contestada no MPF. Em dois anos, dispensou 371 licitações. A corporação diz que o TCU considerou os contratos legais.

Puro veneno Depois do Senado, é a vez de a Presidência desinfetar alguns de seus prédios: por R$ 3.430, o Planalto contratou empresa para "descupinização, desinsetização e desratização" do escritório regional em SP.

Ovação Petistas refratários à aliança com Gilberto Kassab já ensaiaram o discurso para a reunião do conselho político de Fernando Haddad amanhã. Vão explorar a manifestação de anteontem na qual ativistas lançaram ovos contra o prefeito para exemplificar sua rejeição nos movimentos sociais, base tradicional do PT.

Pelas bordas Entusiasta do acordo PSD-PT e um dos nomes de Lula para a sucessão estadual em 2014, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, teve longa conversa com Kassab na prefeitura da capital. Costuram amplo pacto entre as siglas para a Região Metropolitana.

Onde pega Aliados de Geraldo Alckmin consideram que o equívoco maior do governo na reintegração de posse no Pinheirinho foi incluí-la no rol de operações policiais tecnicamente bem-sucedidas como as da USP e da cracolândia. "O eleitor não se identifica com minorias. Já criança e casa todo mundo tem", diz um tucano perito em gerenciamento de crise.

Novo front A PM paulista está de prontidão para nova operação de desocupação de área invadida: desta vez, o alvo é Carapicuíba, cidade administrada pelo PT. A Justiça determinou a retirada de 600 famílias de terreno particular no Jardim Ana Estela.

com ANDRÉIA SADI e DANIELA LIMA

tiroteio

A ausência de Cabral em mais uma tragédia já não pode ser tomada como indiferença, mas como irresponsabilidade, que requer o questionamento de sua autoridade política.

DO EX-PREFEITO DO RIO CESAR MAIA (DEM), sobre o governador fluminense ter evitado a área do desabamento de três prédios no centro da capital, repetindo roteiro de outros acidentes de grande proporção no Estado.

contraponto

Índice pluviométrico

Durante evento na prefeitura paulistana, Guilherme Afif (PSD) presenteou Dilma Rousseff com coletânea de cartas enviadas por José de Anchieta a seus superiores. Nas correspondências, o vice-governador grifou trechos em que o jesuíta narrava, com alarde e preocupação, as fortes chuvas que atingiam São Paulo em 1554. Ao entregar o presente, Afif disse, limpando a barra do prefeito aliado Gilberto Kassab (PSD):
-Veja, presidente, que desde a fundação da cidade as enchentes causam problema...