quarta-feira, abril 08, 2009

ÉLIO GASPARI

Depois do ipod no som,o kindle no texto


O GLOBO


Saiu nos Estados Unidos uma engenhoca que fará a alegria de quem quer atravessar a fronteira dos meios de comunicação impressos, como os livros, jornais e revistas. Chama-se Kindle e está na sua segunda versão. É uma tabuleta do tamanho de uma caixa de charutos e a espessura de um lápis, com uma tela pouco menor que um cartão postal.

Custa 359 dólares e permite uma leitura confortável. Armazena até 1.500 livros, documentos e correspondência eletrônica. Assim como o iPod fixou um padrão para a música, o Kindle indica o futuro da recepção de textos e imagens sem a necessidade de se estar conectado a um computador.

O Kindle e os próximos produtos do gênero serão o complemento eletrônico dos impressos em papel. O jornal e o livro continuarão por aí, mas parte de sua freguesia migrará para o armazenamento eletrônico. Só um excêntrico lerá seu jornal na tabuleta enquanto toma café da manhã, mas será muito mais prático usá-la num avião, ou numa sala de espera. Por US$ 42 pode-se receber o “New York Times” na tabuleta durante três meses, contra US$ 150 na banca ou US$ 64 na assinatura. Isso tudo, só nos Estados Unidos, pois o equipamento funciona dentro de uma rede sem fio que ainda não tem data para chegar a Pindorama.

Se nos próximos anos o Kindle evoluir com a versatilidade do iPod, pode-se esperar que terá uma tela maior, dobrável, receberá imagens a cores e multiplicará sua capacidade de armazenamento, custando a metade do preço de hoje. O Kindle facilitou e barateou o acesso ao mundo editorial americano.

Imagine-se o caso do livro “The Lost city of Z” (“A Cidade Perdida de Z”), que conta a história do coronel inglês Percy Fawcett, desaparecido em 1924, enquanto procurava na Amazônia a cidade perdida de uma civilização extinta. Faz cinco semanas que ele está na lista de mais vendidos do “The New York Times”.

Uma edição brasileira poderá demorar um ano para chegar às livrarias. Quem quiser comprá-lo (em inglês) pelo supermercado eletrônico da Amazon pagará US$ 16,50 pelo volume e US$ 10,00 pelo frete, para uma espera de até um mês. Se tiver pressa, o correio sobe para US$ 37, para uma entrega prometida em seis dias úteis.

Com o Kindle o freguês conecta a tabuleta ao seu computador e, em dois minutos, baixa as 339 páginas da “Cidade Perdida”, por apenas US$ 10. A engenhoca aceita anotações, sublinha trechos, acha qualquer palavra e dobra o canto da página.

Agora a má notícia: para que um brasileiro possa operar o Kindle deverá ter uma conta na Amazon associada a um endereço físico nos Estados Unidos e um cartão de crédito americano. Com algum trabalho e a boa vontade de um amigo, é possível contornar o obstáculo. A melhor explicação possível para essa gambiarra está no blog de Antonio Carlos Silveira, sob o título “Amazon Kindle, como usar no Brasil”.

Para que o Kindle possa ser considerado uma tecnologia vencedora será preciso esperar um sinal do professor Delfim Netto, que tem a maior e melhor biblioteca particular privada do Brasil (270 mil títulos). Em Nova York, quando ele vai à livraria Strand faz-se acompanhar por uma van. Freguês compulsivo do supermercado da Amazon, no dia em que ele ligar um Kindle terá conquistado o mundo.

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