sábado, fevereiro 18, 2012

Rafael Correa, ditador - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 18/02/12
Existem diversas maneiras de aferir se existe democracia num país. A mais infalível é verificar se ali o governante se sujeita a críticas públicas -ainda que veementes, mesmo se injustas- sem que o autor seja punido por expressá-las.
Essa possibilidade não existe mais no Equador. Na quinta-feira, a Corte Nacional de Justiça daquele país confirmou sentença que condenava três diretores e um colunista do jornal "El Universo" a três anos de prisão e ao pagamento de multas que totalizam nada menos que US$ 40 milhões.
A condenação se deveu a artigo publicado em fevereiro de 2011 no qual o presidente do país, Rafael Correa, era qualificado de "ditador". O texto dizia que o autocrata incidira em crime de lesa-humanidade, por ter ordenado ataque militar a um hospital onde ele próprio se achava sitiado. Referia-se ao rocambolesco episódio da greve de policiais em Quito, que deixou dez mortos, em setembro de 2010.
Desde que se elegeu, em 2007, Correa deflagrou uma escalada de ataques à democracia. Segue os passos de outros dois presidentes populistas com quem tem afinidade ideológica, Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia.
Trata-se de instalar uma democracia plebiscitária, com base nos amplos recursos de intimidação e corrupção do Executivo, destinada a eternizar o dirigente no poder. Forjam-se reformas constitucionais, coloca-se o Judiciário sob a tutela do governo, suprime-se, na prática, o direito de divergir.
Milícias organizadas pelo governo tratam de hostilizar a oposição e instalar um ambiente cada vez mais polarizado. Vultosas verbas são destinadas à assistência populista, com o propósito de comprar apoio nas parcelas mais dependentes da população.
Tudo é apresentado como revolução que libertaria o povo do jugo das elites locais e dos Estados Unidos, cuja imagem é invariavelmente usada como bode expiatório na estratégia de aglutinar adesões em torno do governo.
Mas, sob a retórica saturada de clichês passadistas e apelos emocionais, o que mal se disfarça é o empenho do presidente e de sua facção de exercer a ditadura em nome de ideais democráticos, de oprimir para "libertar".
A verdadeira sustentação desses regimes repousa nos preços do gás (Bolívia) e do petróleo (Venezuela e Equador), itens que dominam suas economias e cuja riqueza é apropriada pelo governo. Dotadas de sociedades civis débeis e pouco complexas, são nações que não se livrarão com facilidade dos algozes que elegeram.

Um comentário:

Anônimo disse...

é interessante a última parte do comentario, em referência a uma sociedade pouco complexa e fraca que não consegue se liberar de seus algozes, ..... porém, se o povo do Equador decidir colocar ele fora do poder mesmo a chutes, porque não acredita mais em impeachments, a mesma sociedade que critica-os hoje, vai faze-lo também amanhã. Não é fácil entender o que acontece em cada país se você não mora nele.