sexta-feira, dezembro 14, 2012

Pão russo - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 14/12


Dilma passou por uma situação inusitada na chegada a Moscou. Ao entrar no hotel, foi recebida por uma bela russa que pôs em seus braços um enorme pão e a guiou numa tradição: pegar um pedaço, pôr sal e comer.
Depois de beliscar um pedacinho, a presidente ficou alguns segundos com os dois braços esticados, segurando o pão gigante. Sem saber o que fazer, pediu ajuda à delegação: “E agora? O que faço com isso? Levo ou deixo?”

Noque...
O chanceler Patriota a socorreu: — Não! Deixe. Só experimente. — Só experimento? repetiu a presidente.

Presidenta...
Dilma, que insiste tanto em ser chamada de “presidenta”, como Cristina Kirchner, cometeu um ato falho, em Moscou, ao discursar:
— É a primeira vez que visito a Rússia como... presidente (assim mesmo, com “e”).

A carne e o samba...
Aliás, Dilma não conseguiu um acordo para pôr fim a um ano e meio de embargo dos russos às importações de carne do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Mato Grosso.

Mas obteve um acordo no...
samba. É que o primeiro-ministro Dimitri Medvedev concordou em esticar sua visita ao Brasil, em fevereiro, para ver o carnaval.

Venda de habilitação
O juiz Alcides da Fonseca Neto, da 11ª Vara Criminal do Rio, condenou e decretou a perda de cargo de servidores do Detran-RJ acusados de integrar uma quadrilha que cobrava propinas para emissão de carteira de motorista e exclusão de multas.
O grupo, diz a sentença, “cobrava de R$ 200 a R$ 800”. Entre os réus, além de sete funcionários, há um PM com função gratificada no órgão.

Caso médico
Quarta à noite, em São Paulo, uma moto desgovernada tombou sobre a perna da escritora francesa Fred Vargas, que entrava num restaurante.
A autora de “Exército furioso” não quebrou nada, ufa, mas os ligamentos do pé tiveram um estiramento e inflamaram. Passa bem, mas terá de passear pela cidade em cadeira de rodas.

Colegas“Colegas”, o filme de Marcelo Galvão que vem emocionando com a atuação dos protagonistas portadores de síndrome de Down, acaba de ganhar seu primeiro troféu internacional.
Levou o Prêmio de Público do 27º Festival del Cinema Latino-Americano di Trieste, na Itália.

Racha na MPB
A batalha entre o senador Randolfe Rodrigues e artistas favoráveis e contrários a mudanças na política de direitos autorais no país esconderia uma guerra pelo controle do Ecad, órgão que arrecada e distribui uma bolada de meio bilhão de reais.
É mais que toda a indústria fonográfica nacional. O governo está de olho comprido no segmento, que pode dobrar de tamanho nos próximos anos.

O preço de um iPhone
Aqueles dois bombeiros militares do Rio acusados de furto de um iPhone num incêndio no Leblon, em outubro, foram excluídos ontem da corporação, depois de submetidos a um conselho de disciplina.

Secretário dos bichos
Cláudio Cavalcante, o ator, vai assumir a Secretaria de Proteção e Defesa dos Animais de Eduardo Paes.

Yes no Rio
Depois de 14 anos, a banda britânica Yes, considerada ícone do rock progressivo, vem ao Brasil em 2013.
Tocará dia 25 de maio, no Vivo Rio, o repertório inteiro de três discos clássicos — “The Yes album” (1971), “Close to the edge” (1972) e “Going for the one” (1977).

‘The voice’ em Copa
O campeão do programa “The Voice Brasil”, da TV Globo, será uma das atrações do réveillon de Copacabana.
A Riotur vai anunciar hoje a novidade com toda a programação de fogos pela cidade.

O outro lado
Sobre nota aqui ontem, a Unimed-Rio diz que “não há atraso nos pagamentos” a hospitais, mas “eventuais alterações de datas de pagamento” ( ... ), “fruto de negociação consensual”.

Lan, o filme
Domingo, o grupo Choro na Praça, que toca na feirinha da Rua General Glicério, em Laranjeiras, no Rio, vai homenagear Lan, nosso querido cartunista.
O mestre do traço virá de Pedro do Rio, onde vive, na serra fluminense, especialmente para a festa. A equipe da Doc Doc, produtora carioca de documentários, vai filmar tudo. Desde março, a Doc Doc prepara um longa sobre Lan, para ser lançado em 2014, quando o grande artista faz 90 anos.

BENÇÃO DO PAI E DO ‘TIO’Lenine e João Bosco, craques da MPB, prestigiam o show de Júlia Bosco (filha do nosso João), na Miranda 

Ponto Final
Um brasileiro que acordasse de um sono de muitos anos, quarta, 12/12/12, talvez achasse mesmo que o mundo estava no fim. Em Paris, Lula disse que, em seus dois governos, proporcionou um lucro recorde de R$199 bi aos... bancos. Em Brasília, Collor articulou com o Planalto a convocação de FH para depor na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, que preside. No mesmo dia, Delfim Netto, o ex-czar da economia, publicou artigo na “Folha”, no qual defendeu a petista Dilma e chamou a “The Economist” de “deselegante” por ter acusado a presidente de “intrometida-chefe”. Tire o tubo!

Nunca mais vou dançar - DAVID COIMBRA

ZERO HORA - 14/12


Virei um moloide, depois que meu filho nasceu. Não foi de uma hora para outra. Um analista amigo meu, certa feita, disse-me que o ser humano “é muito lento”. Bom. Sou ainda mais lento. A mudança vai acontecendo, acontecendo e, de repente, acontece quase que sem que eu perceba. Aí se transforma em crise. Que se transforma em dor. Por que não mudei racionalmente, inteligentemente, ponderadamente, para evitar todo esse processo doloroso?

Maldição.

Mas, como dizia, fui me amolentando aos poucos, após me tornar pai. Hoje sou um molenga completo, sobretudo no que se refere a crianças. Aqueles meninos de cabecinha redonda e grandes olhos tristes que passam fome no Chifre da África, basta vê-los por 10 segundos na TV e já me marejam os olhos. As crianças de países árabes que fogem de bombardeios puxadas pela mão da mãe, assistir a essas cenas me deixa com uma bola na garganta.

Mas não precisa ser uma tragédia internacional. Pode ser uma decepção arrabaldina. Agora mesmo, 462 crianças de creches e escolinhas iam se apresentar no Araújo Vianna, e não puderam. Ensaiaram desde outubro para o grande dia, vibrantes de expectativa.

Chegado o grande dia, a Secretaria de Educação cancelou a apresentação porque faltaram “parceiros” para bancar os gastos com limpeza, segurança e transporte. Na página 42 da Zero de ontem há uma foto das meninas de cinco anos de idade sentadas no chão, com asinhas coloridas coladas às costas, elas que seriam borboletas no teatro. Uma delas, Sara, está com os bracinhos cruzados em frente à barriga, fitando o vazio. Com olhos rasos d’água, ela disse para a mãe:

– Nunca mais vou dançar.

Uma história trivial, mas me comoveu. Suponho que a Secretaria de Educação tenha coisas mais importantes com que se ocupar. Orçamentos. Calendários. Folhas de pagamento. A desilusão de quatrocentas e tantas crianças não entra nesses cálculos, nem pode ser medida. A despesa não havia sido prevista? Não foram encontrados patrocinadores? Paciência, cancele-se a apresentação, o choro das crianças não vai tirar a secretaria do prumo.

Muito racional. Eu, se fosse secretário ou prefeito, não conseguiria agir assim. Eu suspenderia todas as minhas tarefas do dia e daria um jeito de manter o espetáculo e não decepcionar as crianças. Sei que não é impossível. Quando se quer, é possível, e eu quereria. Seria uma tolice, talvez. Seria uma ação motivada pela emoção, não pela razão. Que fazer?

Virei, realmente, um moloide.

O crime da leitura labial - TUTTY VASQUES


O Estado de S.Paulo - 14/12


"Apertar unzinho", no caso de Ronaldo Fenômeno, pode ser tão somente diminuir um furo no cinto nesta reta final do Medida Certa, do Fantástico, mas, a rigor, não importa que diabos ele quis dizer com isso a Edmundo no final da partida de despedida do goleiro Marcos, no Pacaembu.

Leitura labial é a pior forma de invasão de privacidade de que se tem notícia.

Uma prática que, como toda escuta telefônica, deveria depender de autorização judicial para ser levada a cabo. A não ser na condição de investigado, todo ser humano tem o direito de dizer o que lhe der na telha entre amigos, sem se preocupar com a possibilidade de interpretações ao 'pé da boca' das bobagens típicas da intimidade humana.

Ronaldo poderia ter dito a Edmundo, por exemplo, "e aí, boneca, já tem programa pra hoje?", sem correr riscos de ter os lábios flagrados em falsa proposição de uma noite de sexo com o Animal.

Muito provavelmente, cá pra nós, aquele "e aí, vamos apertar unzinho?" também não quis dizer droga nenhuma que dois parceiros não possam experimentar em suas brincadeiras de moleque.

Criminoso, no caso, é a leitura labial!


Muito Hazard

Entreouvido em papo dos jogadores do Corinthians após Chelsea 3x1 Monterrey, sobre a tarefa de Alessandro de marcar o ponta esquerda Hazard no domingo: "Azar o dele!"

O sonho acabou

Os velhos hippies estão arrasados! Também, pudera! Depois da aprovação de lei contra a nudez em espaços públicos de São Francisco da Califórnia, morreu Ravi Shankar e a prefeitura de Amsterdã proibiu o uso de maconha nas escolas na cidade.

Novo rei no trono

Desde as histórias mais cabeludas de Michael Jackson, o submundo pop star não produzia notícia tão esquisita quanto este plano descoberto pela polícia americana e divulgado pelo jornal britânico The Independent para capturar, castrar e assassinar o cantor canadense Justin Bieber em troca de uma recompensa de US$ 2.500 por testículo do artista teen.

Pior sem ele

Hugo Chávez escolheu a dedo seu sucessor. O mundo está só esperando Nicolás Maduro tomar posse para morrer de saudades do grande líder bolivariano da Venezuela.

'Bambicitos'

Os jogadores do Tigre perderam a noção do perigo quando chamaram os seguranças do São Paulo de "bambis".

21/12/2012

Enfim, uma boa notícia: faltam 
apenas sete dias para o recesso parlamentar de fim de ano. Melhor que isso, só se o mundo não acabar na data!

Alto lá!

Tem gente na Suíça achando que está na hora de Marcos Valério calar a boca! Se o operador do mensalão resolver contar tudo que ficou sabendo sobre figurões da República, vai acabar entregando por que Paulo Coelho (foto) não vem mais ao Brasil! Já ouviu falar nisso?

Ueba! A Copa Surra Americana! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 14/12


Errar é humano e arregar é hermano! E reviravolta no mundo animal: o Tigre fugiu do Bambi. Rarará!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! O Brasil é Lúdico!

Olha este cartaz numa lan house: "Proibido entrar fedendo! Respeite o nariz dos outros! Tome banho antes de vir!". Válido pra transporte público também! E em Arembepe, na Bahia, tem lan house com música ao vivo!

O Brasil é Lúdico: E o Sarney é presidente interino! Interino ou inteirinho? Ainda inteirinho! O Sarney é presidente em exercício. Agora, pede pra ele fazer um exercício pra ver se ele consegue. Se ele levantar os braços, Deus puxa pra cima! O presidente do Brasil é uma coruja empalhada! Rarará!

E a Copa Sul-Americana? Ops, COPA SURRA AMERICANA! São Paulo X Tigre! Pancada, sangue e taça! São Paulo Campeão! Tigre Arregão! Diz que errar é humano e arregar é hermano! E reviravolta no mundo animal: o Tigre fugiu do Bambi. Reviravolta no mundo comercial: o Tigre entrou pelo cano!

Para entender o caso: os tigres tavam perdendo, quebraram o vestiário e aí os seguranças e a PM quebraram os tigres. E os tigres não voltaram pro segundo tempo. Em jogo de tigre e bambi quem ganha é o leão de chácara!

E agora tão dizendo que o São Paulo é meio campeão, levou meia taça, estourou meio rojão e adorei a meia despedida do Lucas!

E como disse um amigo no Twitter: "Argentino tá tão perdido que não sabe mais nem arrumar confusão!". Moral da final: errar é humano e arregar é humano! E o São Paulo disse que "queria ganhar de qualquer jeito". E ganhou de qualquer jeito! Rarará!

E a culpada de tudo é a Madonna. Que estragou o gramado! E adorei a declaração do técnico argentino ao jornal "Olé": "Nos cagaron a palos, com bancos y hasta con bastones de la policia". Adorei o "nos cagaron a palos". Baixaria: tigre, bambi, pistola e nos cagaron a palos! Rarará!

E o Tigre fugiu até em Portugal. Olha esta: "Tigre fugiu de circo na Régua, mas já foi encontrado". E eu fui pro shopping pensando: "Vou voltar pra casa pra pegar o segundo tempo". Rarará! Teve o primeiro tempo e o tempo fechou! Rarará!

E eu sou do tempo em que todo jogo de brasileiro com argentino terminava numa enorme pancadaria. E com os uruguaios também! Surra Americana! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Encontros não marcados - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO


O Estado de S.Paulo - 14/12



Estava na sala de espera do consultório, pouco depois de ter assistido a uma edição do SPTV, em que o Cesar Tralli, um bom repórter, foi enganado pelo texto do teleprompter. Só pode ser isso, porque afirmou: "Os Sertões, um romance de Euclides da Cunha". Poderia ser um romance, não é. Nunca foi. Romance é A Guerra do Fim do Mundo, de Vargas Llosa, que usou o mesmo tema e o mesmo livro para reescrever a guerra de Canudos. A menos que nas faculdades, nas última semanas, tenham sido mudados os gêneros literários.

A vida traça caminhos curiosos, é um clichê que me persegue. Pois estava ali para uma entrevista médica em virtude de um novo plano de saúde. Entrei no consultório na Avenida Faria Lima apreensivo. Testes e exames me deixam ansioso. Havia um mundo de gente à espera.

Abriu-se a porta do consultório, um senhor saiu e se aproximou:

- Sem querer perturbar, posso cumprimentá-lo? Sou seu leitor a cada duas semanas.

Estendi a mão. Confesso que gosto disso, é quando conhecemos quem nos lê, uma vez que leitores são faces anônimas. E ele:

- Já nos encontramos uma vez.

- Sim? Quando?

- No Líbano, em 1963.

- Minha nossa, lá se vão 49 anos. No Líbano?

- Em Beirute, você estava no Hotel Fenícia.

Nos letreiros estava escrito Phoenicia. Então, ele realmente tinha me visto lá. Como ia saber em que hotel me hospedei com a equipe da Rhodia, comandada pelo Lívio Rangan, o pioneiro de tudo o que há hoje em eventos de moda no Brasil, inclusive o São Paulo Fashion Show. Eu tinha 27 anos, morava em Roma por aventura. Fernando de Barros, que estava por lá com uma equipe de cinema, me colocou na caravana de moda, me contratando para fazer o texto de um documentário. Esse texto foi feito a quatro mãos com Jô Soares, ele se encarregou das graças, éramos companheiros de jornal.

Aquele senhor, Roberto Nicola Jeha, falou das manequins (naquele tempo ainda não se dizia modelos) e da banda do Sérgio Mendes. Lívio produzia um show incrível, colorido, agitado, vendeu bem nossa moda.

O senhor era magro, tinha cabelos negros.

Também tinha 27 anos... Hotel Fenícia. Sofisticadérrimo. Como faziam sucesso na piscina e na passarela modelos estrelíssimas, como Mila Moreira (hoje atriz da Globo), Lucía (o acento era no í) Curia, depois braço direito de Coco Chanel, falecida há poucos anos, viúva de Walter Moreira Salles, Darcy (também já partiu), Lilian, Mailu, Paula Peixoto.

- O Hotel Fenícia foi destruído na Guerra do Líbano de 1982. Reconstruíram acho que em 2000.

Era lindo o Líbano. Fomos a Biblos e a Baalbek. Hoje moro em um edifício chamado Biblos e há anos procuro fotos daquela cidade, para emoldurar no hall entrada. E não consigo. Tentei até o consulado, nada. Biblos, ou seja, a Fenícia, foi o grande porto da Antiguidade. Baalbek, celeiro do império romano, tem ruínas grandiosas. Roberto e eu trocamos mais umas palavras, fui chamado.

Incrível. No meio de uma tarde abafada, meio século depois, dou com uma pessoa que esteve à minha frente, guardou meu rosto, me acompanhou pelos livros e jornais. Há algo misterioso nesses reencontros. Dedo do destino ou de uma entidade? Como saber?

Por essa razão, entrei no consultório do médico Francisco Napoli tranquilo. Passaria ou não pela bateria de perguntas? Teria um seguro? Estava entregue... ao destino. E eis que o doutor Francisco, ou melhor, Kiko, como ele prefere ser chamado, me disse:

- Te conheço dos tempos da Atlética Osvaldo Cruz nos anos 80.

- Do Caoc?

- Nós, estudantes de Medicina, chamávamos de Atlética, porque era o clube. Caoc, como vocês chamavam, era, e é, o Centro Acadêmico. Você estava sempre na piscina e no bar.

Verdade. Jornalistas ali se reuniam aos sábados e domingos. Edmar Pereira, do Jornal da Tarde, um belíssimo texto, Sergio Leopoldo (também poeta, onde estará?), Lyginha Sanchez, da Folha, a psicóloga Ignez, de lindas pernas, as atrizes Ileana Kwasinski e Regina Braga, a escritora Maria Adelaide Amaral. Era chope e cerveja até o meio da tarde, depois, partíamos em busca de restaurantes descolados. No centro, no Hotel Normandie, havia um ótimo filé com ostras. Pouca gente conhece essa "preciosidade" que é a Atlética. Uma reserva florestal atrás do Hospital das Clínicas, com piscina, quadras, campo de futebol, bosque com trilha para os caminhantes. Maria Lenk, mito da natação brasileira, treinava ali.

- Digo que estive mais no bar do que na piscina. Nosso grupo ia olhar, bater papo, dissolver o tédio das manhãs de sábado. Antes que o chope (ou as cervejas) subisse, eram altas conversas, principalmente sobre cinema.

- Frequentávamos grupos separados, mas todos se conheciam ao menos de nome. Ainda vai à Atlética?

- Não, fui mudando, morei na Alemanha, voltei, estava sempre longe. Agora, passaram-se 30 anos. E esta é uma tarde de reencontros. Agora, por incrível que pareça, estou em Pinheiros, a quatro quadras do Caoc. Basta subir a Rua Artur Azevedo. E nunca mais frequentei, foi toda uma época.

Por um momento ouvi o barulho de pessoas se atirando na água, vi o chopinho gelado, os estudantes jogando futebol. Vi Mila, jovem estreante, sensual, e Paula Peixoto, que girava os braços alucinada. Cada uma tinha um estilo na passarela. Mas precisava responder às perguntas do doutor Kiko.

Que medicamentos toma?

Alguma cirurgia?

Alguém na família teve problemas de coração?

E eu vendo sentada, à beira da água, a Ileana, alta, sorridente, e o velho professor de natação, um japonês com mais de 80 anos, patrimônio da Atlética, e alunos e alunas de uniformes brancos, indo para os vestiários se trocar. E Mariana Ramos, filho do escritor Ricardo Ramos, musa da Atlética.

Pergunto agora: Kiko, respondi a tudo? Passei?

Tudo ao mesmo tempo agora - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 14/12


Tsunamis, avalanches e furacões coincidem com a época do ano em que o governo Dilma vai às favas


Chame a polícia! Solte os cães farejadores! Roger Abdelmassih está na cidade! Isso mesmo. Sumido há quase dois anos, depois de condenado por submeter mulheres anestesiadas a atos que não iremos relembrar aqui a fim de não contaminar nossas festas de fim de ano por imagens bestiais, o doutor Roger teria sido flagrado por câmeras de segurança de uma padaria no bairro de Moe­ma, em São Paulo.

Está certo então. Um cidadão careca e de fartos bigodes brancos e traços mediterrâneos iguais aos do dr. Moreau tapuia surge em ima­gens mal-ajambradas e se conclui que só pode ser o dr. Roger Abdelmassih. Sei. Não há dúvida de que a possibilidade existe, seria palpável. Chega uma hora no périplo do fugitivo em que ele não tem mais para onde correr ou até deseja ser preso. Seu dinheiro começa a minguar e sua resistência cede. Mas, veja bem. No caso do nosso Mengele do Vale do Beka, ao brincar de Deus mani­pulando material reprodutivo alheio ele pode ter arruinado a exis­tência de centenas de famílias, muitas delas vivendo bem ali, nos arredores do bairro de Moema. Será que arriscaria tomar um caco de xícara no meio do olho?

Não podemos provar que Abdelmassih esteve em Moema, mas permanece a percepção de que ele passou por lá.

Se amanhã, durante minhas compras na 25 de Março, eu vir um gordo de óculos e cabelos e barbas brancas andando com um saco nas costas, minha percepção me dirá que estou diante do Papai Noel. Mas e se for o procurador-geral, Roberto Gurgel, carregando as de­núncias e evidências de que Mar­cos Valério tanto fala e que, aparen­temente, são de conhecimento do procurador desde setembro?

A distorção entre o que nos diz nossa percepção e o que ocorre de fato é um tópico de que Hélio Schwartsman trataria com gran­de naturalidade e talento calçado por dados científicos.

Já eu prefiro deixar os livros de la­do e usar exemplos colhidos na ga­veta de minha multicolorida vivên­cia pessoal. Dá muito menos traba­lho, convenhamos.

Veja: dirijo muito bem, sou filha de dois pilotos e cresci em Interlagos. Mesmo assim, tomo uma multa de trânsito atrás da outra. Pois sempre tive a percepção, especialmente por notar o quanto o motorista se porta mal no trânsito da cidade, de que a maioria leva tantas multas quanto eu. A realidade é bem diversa: mais de 50% das pes­soas que conduz automóveis nunca tomaram uma multa sequer.

Outra falsa impressão que guardei até parar de beber era a de que a bala­da inteira em que eu me encontra­va estaria tão pra lá de Bagdá quanto eu. Engano. Só entre 1O% a 15% dos bebedores, aqueles considerados problemáticos, extrapolam.

Mas percepções acabam virando grandes verdades. Rosemary Noronha, nossa marquesa dos Santos da Vila Mandioquinha, pagava em dinheiro vivo. Mas toda amiga do rei não paga? Tinha a belíssima amante do prefeito paulistano que tirava notas crocantes de dólar da bolsa. E quem não lembra da aman­te que transformou o haras cons­truído para abrigar os cavalos do presidente em spa?

Ora, a natureza tem andado inquieta. Vimos o tsunami Rosemary, a avalanche de declarações do apenado já sem esperanças de trocar a sentença por uma delação premiada e o furacão do bicheiro que ameaça virar Linda Lovelace. Tudo ao mesmo tempo agora e bem na mesma estação em que o governo Dilma vai indo às favas. Só faltam vir à tona as fotos confidenciais do Eike e do Chitãozinho Miranda ex­perimentando os novos modelos da linha interlace. Aguardemos.

Uma tragédia e uma esperança - MOISÉS NAÍM

FOLHA DE SP - 14/12


O que explica a propensão da América Latina ao assassinato? As razões propostas são muitas


A tragédia é que a América Latina é a região do planeta onde mais humanos assassinam seus semelhantes. A esperança é que em 2013 os latino-americanos comecemos a fazer algo para deixarmos de ser os campeões mundiais do homicídio.

Neste ano, a guerra no Afeganistão terá cobrado um total de 3.238 vidas. No ano passado, houve 41 mil homicídios no Brasil. O conflito entre palestinos e israelenses no mês passado gerou mais ou menos o mesmo total de mortes que um fim de semana "quente" em Caracas.

Em todo o mundo, os índices de homicídio ou vêm declinando ou não aumentaram. Na América Latina, vêm crescendo em ritmo acelerado.

El Salvador, Guatemala e Honduras têm os maiores índices de homicídio dos cinco continentes. E a morte também está amplamente presente em outros países da região. Em 2011, foram assassinadas 112 pessoas por dia no Brasil. No México, 71 por dia.

O que explica essa propensão da América Latina ao assassinato? As razões propostas pelos especialistas são muitas e variadas. E insuficientes. A pobreza é uma causa frequentemente citada. Mas, se fosse assim, a China deveria ter mais homicídios que o México.

Outros mencionam a democracia e o fato de que os governos autoritários podem reprimir os criminosos com mais impunidade. Mas a Índia -a maior democracia do mundo, e também um dos países mais pobres do mundo- tem um índice de homicídios comparativamente mais baixo que o das democracias pobres da América Latina.

O consumo e tráfico de drogas também são assinalados como razões por trás da alta taxa de homicídios latino-americana. Mas nenhum país consome mais drogas que os Estados Unidos. E, se a razão é o narcotráfico, Marrocos é para a Europa o que o México é para os EUA: um país pobre que vende drogas a seu vizinho rico. Contudo, a taxa de homicídios do Marrocos é muito inferior à do México.

Isso não quer dizer que as drogas, a pobreza, a desigualdade ou a fraqueza dos governos não sejam fatores importantes. São, com certeza.

Mas há outros fatores menos evidentes e que não entendemos bem que influem sobre a sangrenta criminalidade latino-americana. Não sei quais são, mas sei que precisamos fazer algo para entendê-los melhor e combatê-los.

Minha esperança para 2013 é que a América Latina decida acabar com sua convivência pacífica com o homicídio. Não existe outra prioridade mais urgente nem, com certeza, mais complexa e difícil.

Não é um objetivo que compita apenas ao governo ou aos políticos. A igreja, os sindicatos, os meios de comunicação e os empresários, os jovens, as universidades -enfim, o leque mais amplo possível de grupos e setores institucionais poderia mobilizar-se para se comprometer a reduzir o número de homicídios nos próximos anos. Talvez esta seja uma esperança ingênua. Mas mais ingênuo seria não fazer nada.

Esta é minha última coluna deste ano. Retorno em janeiro. Feliz 2013!


Tradução de CLARA ALLAIN

A privatização tardia do PT - ROBERTO FREIRE

Brasil Econômico - 14/12


Após passar uma década demonizando as privatizações realizadas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o PT anunciou na semana passada o que chamou, pomposamente, de “Programa de Investimentos em Logística” destinado ao setor portuário do Brasil. O pacote, que prevê investimentos de R$ 54,2 bilhões até 2017, nada mais é do que a continuidade do programa de privatizações levado a cabo pela presidente Dilma Rousseff, que já havia repassado três aeroportos à iniciativa privada e anunciado leilões de rodovias e ferrovias. O resultado da incompetência reinante em todas as esferas da administração petista é a escandalosa ineficiência que atinge especialmente o setor portuário do país, que se transformou em um dos gargalos da economia brasileira. Estudos do próprio governo indicam que, até o início de 2014, toda a capacidade instalada nos portos do Sudeste estará ocupada, assim como 90% dos terminais do Sul e 70% dos portos no Nordeste. O PT, mais uma vez, perdeu tempo com discursos vazios e ataques descabidos aos adversários “privatistas”, ao invés de trabalhar pela modernização de setores importantes de nossa economia. Retardatário, o governo agora age de forma atabalhoada. Para se ter uma idéia da lentidão do PT para assumir a importância das privatizações, é bom lembrar que a tese de que o Estado dava sinais de esgotamento para dar conta de todo o investimento em infraestrutura foi lançada pelo economista maranhense Ignácio Rangel, militante comunista, ainda nos anos 1960, quando se falou pela primeira vez na possibilidade de parcerias coma iniciativa privada.

Décadas mais tarde, o governo Itamar Franco, do qual orgulhosamente fui líder no Congresso, realizou efetivamente as primeiras grandes privatizações, como as da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), ambas completamente sucateadas e fontes de grande prejuízo ao Tesouro na época. Graças à privatização, o Brasil hoje compete com muito vigor no mercado mundial de siderurgia e vê as exportações do setor fortalecerem sua balança comercial. Como se não bastasse ter hesitado para fazer o que deveria ter sido feito há anos, o governo Dilma impõe riscos ao país em seu pacote de privatização dos portos. O texto da MP 595 é vago ao tratar de questões importantes e abre brechas a inúmeros questionamentos de ordem legal que criariam um conturbado processo de judicialização do tema.Outro aspecto nebuloso envolve a modernização das Companhias Docas, empresas de economia mista que administram os portos brasileiros.O governo diz que elas serão profissionalizadas e terão de cumprir metas de desempenho, mas não especifica de que forma será feita essa fiscalização. Todos esses riscos parecem não ter sido calculados pelo governo Dilma, que demorou a agir e, agora, o faz às pressas. OPT, que antes demonizava as privatizações e hoje depende delas para salvar o país da absoluta mediocridade de sua gestão, finalmente se rendeu ao óbvio. O problema é que agora corre contra o tempo. E os prejuízos ao país, infelizmente, já não serão compensados.

Petróleo desafia teoria da gravidade - PAULO RABELO DE CASTRO

Brasil Econômico - 14/12


A demanda mundial por petróleo está rigorosamente estagnada. A recessão nos principais países consumidores não é inteiramente compensada pelos avanços de consumo nos Brics e noutros mercados emergentes. Por enquanto, a renda per capita decrescente em vários países avançados faz o consumidor controlar sua despesa de combustível. Contribui para isso um fator que extrapola as forças de um mercado livre: a OPEP, organização de países produtores de petróleo, que há muitas décadas funciona como um cartel bem organizado para controlar e insuflar o preço do barril para os produtores do óleo bruto. Desde as duas elevações brutais de preço na década de 1970 a OPEP segue desafiando com sucesso a teoria da gravidade, pois consegue sustentar os preços do barril muito acima dos custos de produção. Com isso, centenas de bilhões de dólares — quiçá alguns trilhões! — têm sido desviados dos bolsos dos consumidores para os cofres dos fornecedores ao longo das últimas quatro décadas, à exceção dos anos 1990. Estamos vivendo quase uma estagnação produtiva planetária e, no entanto, os preços não cederam significativamente. Vieram abaixo de 50 dólares, sim, por um curto período no começo de 2009, mas rapidamente as cotações do tipo Brent voltaram a níveis acima de 100 dólares, assim permanecendo por estes anos de crise. Os fundos de hedge têm ajudado a OPEP, ao usar parte da liquidez das reservas ociosa dos bancos para especular na posição comprada e, assim, manter a impressão de que falta óleo no mundo.

Recentemente, os mercados têm se dado conta de um dado novo, o aumento da oferta de petróleo propiciada pela entrada em operação de vastos campos de xisto, cuja tecnologia de exploração comercial só ficou viável com novos métodos de extração por injeção hidráulica (“fracking”) até então desconhecidos. A dura rocha do xisto, em Montana, North Dakota e Texas, vai alterar a paisagem e a geografia econômica do petróleo no mundo. A produção americana passou de 7 milhões de barris/dia, após muitos anos estagnada, num avanço percentual sem paralelo na história petrolífera dos EUA. Há otimismo de que venha a passar a produção da Arábia Saudita, de 10 milhões/dia, em poucos anos. O cartel, que hoje controla o jogo geopolítico e obriga os EUA a uma dispendiosa presença militar no Oriente Médio, vai ter seu poder moderado e, eventualmente, desmantelado pela nova realidade do xisto. A extensão do impacto de uma autossuficiência dos EUA no petróleo ainda não está bem medida. Sabemos que é enorme, já deslocando para o mercado americano companhias petroquímicas brasileiras antes engajadas no programa brasileiro de novas refina-rias e complexos petroquímicos, por exemplo. Este é um cenário que a própria Petrobras não demonstra manejar com conforto. Nem o pré-sal brasileiro estaria a salvo de uma forte revisão da rentabilidade projetada de sua futura exploração, a depender da força da gravidade atuando sobre os preços do petróleo no futuro não distante. Nenhum ente público, ávido por uma parcela desse pré-sal deveria contar com a receita extraordinária dele advinda como favas contadas. Mas é o oposto disso que ocorre agora.

A armadilha do crédito - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 14/12



Atraídas pela oferta de crédito fácil, dezenas de milhares de famílias entraram na armadilha do endividamento e da inadimplência, quase sempre sem ter uma ideia clara de como chegaram a esse ponto. Na semana passada, em quatro dias, 60 mil endividados foram ao Memorial da América Latina, em São Paulo, para um mutirão de renegociação. Até sexta-feira, 35 mil haviam conseguido renegociar suas dívidas. Mutirões desse tipo ocorreram nos últimos 7 meses em 15 cidades de 7 Estados. Cerca de 50 mil dívidas foram reescalonadas. Esse drama é um dos subprodutos de uma política de crescimento baseada em grande parte no estímulo ao consumo por meio da expansão dos empréstimos e da redução dos juros. A partir da crise de 2008 essa estratégia foi reforçada com redução temporária de impostos para compras de veículos e de outros bens duráveis. O incentivo fiscal teria produzido resultados muito menos sensíveis sem a expansão dos empréstimos e a indução ao endividamento.

A ampliação do crédito facilitou o ingresso de milhões de pessoas - a chamada nova classe C - no mercado de consumo. Esse movimento elevou o padrão de vida desses brasileiros, mas a maior parte desses consumidores nunca foi preparada para usar com prudência os novos instrumentos financeiros colocados a seu alcance. Limites de endividamento foram ignorados por tomadores e fornecedores de empréstimos. Clientes recém-chegados ao mundo dos serviços bancários perderam-se no uso do cheque especial e do cartão de crédito e afundaram no atoleiro dos juros mais escorchantes do mercado. Mesmo na classe média tradicional muita gente entrou na festa do endividamento sem calcular as consequências. Uma dessas pessoas, uma professora citada em reportagem do Estado, acumulou compromissos de R$ 120 mil, muito acima de sua capacidade financeira, e foi aconselhada, no mutirão, a declarar insolvência civil.

Enquanto estimulava o consumo com uma política monetária frouxa e pressões para redução dos juros, o governo procurou estimular o investimento em habitações, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida. A participação do crédito habitacional no total dos empréstimos tem crescido. Chegou a 24,6% em outubro, ainda abaixo do crédito pessoal (25,9%), e deve continuar em expansão. No fim do próximo ano, será provavelmente o item mais importante da carteira geral de crédito, segundo projeção da Serasa Experian. O panorama dos financiamentos ficará mais parecido com o dos países desenvolvidos. Mas a formação de uma bolha imobiliária parecida com a dos países avançados é um risco remoto, segundo especialistas.

A mensagem seria mais tranquilizadora se as condições atuais do mercado de crédito fossem mais saudáveis. A expansão do financiamento imobiliário ocorre num universo de consumidores já muito endividados. Segundo o Banco Central, as famílias já comprometeram com dívidas 44,4% de sua renda anual. Indicadores de inadimplência melhoraram nos últimos doze meses, mas o quadro continua preocupante. De janeiro a outubro do ano passado, o saldo de novos inadimplentes no cadastro da Serasa Experian foi de 5,9 milhões. Neste ano, o saldo ficou em 5,5 milhões, um número ainda muito alto. Metade dos devedores pertence a famílias com renda entre R$ 1.376 e R$ 3.825 - de 2,2 a 6,1 salários mínimos.

O crédito concedido ao setor privado - pessoas e empresas - correspondeu em outubro a 51,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa proporção é menor que a encontrada em muitos outros países, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento. O ponto que mais preocupa é outro: a relação entre crédito e PIB dobrou em dez anos, isto é, avançou muito mais rapidamente do que na maior parte do mundo. Como os financiamentos foram dirigidos muito mais ao consumo do que ao investimento produtivo, a política de crédito tem sido um importante fator inflacionário. Neste ano e em 2011, mesmo com um crescimento econômico pífio, o Brasil enfrentou taxas de inflação bem superiores às de economias muito mais prósperas. Também isso comprova a urgência de buscar uma nova estratégia de crescimento.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 14/12


Carrefour enfrenta crise no frete de venda on-line
Após o anúncio da suspensão das vendas on-line do Carrefour neste mês, a relação da empresa com seus prestadores de serviços de frete se deteriorou.

Fornecedores da companhia reclamam da falta de pagamento, que se agravou às vésperas do Natal, quando o custo de entrega costuma ser elevado devido à necessidade de reforço.

Por causa do atraso no pagamento, que se estende desde novembro, as transportadoras suspenderam as entregas das encomendas aos clientes, segundo um executivo de uma das empresas.

Na tentativa de evitar problemas com seus consumidores finais, o Carrefour chegou a oferecer o pagamento de um bônus de 50% às transportadoras que entregarem todos os pedidos pré-Natal até a próxima quarta-feira.

Há, porém, entre as distribuidoras, o receio de que, retomadas as entregas, o trabalho continue sem pagamento.

Procurado, o Carrefour responde que "honra com o pagamento de seus fornecedores. No entanto, eventuais débitos podem estar relacionados ao extravio de mercadorias, cujo custo é de responsabilidade do operador logístico, prática comum".

"Neste momento, a empresa direciona seus esforços para realizar as entregas dos pedidos em andamento, com o objetivo de garantir que seus clientes recebam suas compras dentro do prazo", diz o Carrefour e confirma que ofereceu adicional de 50%.

ENTRE O RIO E A ESTRADA
Com R$ 30 milhões, o grupo de transporte Ouro e Prata, do Rio Grande do Sul, está renovando parte de sua frota de ônibus. Ao todo, 50 veículos foram comprados (25% do total da empresa).

"Costumamos renovar cerca de 15% da frota anualmente. Este ano, aceleramos um pouco", diz Hugo Fleck, presidente do grupo.

A idade média dos veículos da empresa passou de 5,2 anos para 3,8.

Hoje o transporte rodoviário é responsável pela maior parte do faturamento da companhia (entre 65% e 70%). Em cinco anos, porém, deve representar 50%.

A Ouro e Prata está investindo na construção de embarcações. Em 2013, quatro deverão ser produzidas, o que demandará aporte de cerca de R$ 15 milhões.

O grupo importa a tecnologia, mas tem um estaleiro onde fabrica os próprios barcos. Atualmente, tem 12 embarcações que transportam passageiros entre Guaíba e Porto Alegre e na região de Santarém (PA).

R$ 200 milhões será o faturamento do grupo neste ano

5,2 milhões de passageiros utilizam os transportes rodo e hidroviário da empresa por ano

BALÉ RUSSO
O B-20, grupo das maiores organizações empresariais do G-20, fez um documento com sugestões para facilitar o comércio internacional na próxima cúpula das principais economias, em 2013, em São Petersburgo (Rússia).

Participaram 120 executivos, entre eles Paulo Godoy, presidente da Abdib, Jackson Schneider, vice-presidente da Embraer, João Nogueira, diretor da Odebrecht.

Hoje eles se unem a outros 50 empresários em Moscou. A presidente Dilma Rousseff encerrará o encontro.

Além de Robson de Andrade, presidente da CNI, estarão presentes Flávio Gomes Machado Filho, vice-presidente da Andrade Gutierrez, e Carlos Roberto Wizard Martins, presidente do Multi.

SUBIDA DO VAREJO
A rede de lojas de departamento Havan, de Santa Catarina, pretende dobrar o número de lojas até 2015 -de 50 para cem.

Cada unidade da empresa costuma receber entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões em investimentos, dependendo do tamanho.

Neste ano, a empresa investiu cerca de R$ 250 milhões em seu projeto de expansão. Ela passou a atuar no Estado de São Paulo, com lojas em São José do Rio Preto e São Carlos, entre outras cidades.

A companhia também entrou no mercado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde a unidade ainda não foi inaugurada.

A rede deve faturar R$ 2 bilhões neste ano. Em 2011, foi R$ 1,5 bilhão.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 14/12


Vai dar samba
Nos galpões da Cidade do Samba, o comentário é que a Nike estará no carnaval carioca em 2014, ano da Copa. O alto escalão da Grande Rio já se reuniu com executivos da empresa no Brasil. Mangueira e Unidos da Tijuca estão na fila.

França-Brasil
Pode chegar a mil o número de companhias francesas no Brasil até 2017. Hoje são 500. A previsão é de Sérgio Malta, da Câmara de Comércio França-Brasil. Ele se animou com a reunião de Dilma e François Hollande, em Paris. Os presidentes discutiram saídas para a crise.

Turismo
A Imaginadora, de eventos turísticos e marketing de destinos, terá representações em Rio, Recife e Orlando (EUA) até meados de 2013. E fechou contrato para representar o Chile e a GMCVB, organização sem fins lucrativos de Miami.

Voo direto
A Valetur, operadora do Rio Quente Resorts (GO), quer repetir no verão 2012-13 a marca de 50 voos fretados de São Paulo e Rio em 2011-12. Já fechou 32; quatro deles sairão do Santos Dumont.

Zona Sul
O Rio Poupa Tempo vai abrir a primeira unidade na Zona Sul. Chega a Ipanema em fevereiro de 2013. O serviço da Jucerja bateu este mês a marca de 20 milhões de atendimentos em dois anos.

COMÉRCIO DEVE CRESCER MAIS ESTE ANO QUE EM 2011
Até outubro, vendas do setor já cresceram 8,9%. Mantido o patamar, será o quinto melhor resultado em 12 anos

É certo que o varejo brasi- leiro terá em 2012 desempenho melhor que no ano passado. Até outubro, divulgou ontem o IBGE, o varejo cresceu 8,9%, na conta que não considera automóveis e material de construção. Mantido o patamar, no tradicionalmente aquecido último bimestre do ano, o setor registrará o quinto melhor desempenho desde 2001. Nada mau para um ano em que o PIB periga não crescer 1%, e a indústria vai amargar queda de produção. Sem fazer previsões, Reinaldo Pereira, responsável pela PMC/ IBGE, diz que a renda em alta, o desemprego baixo, os juros em queda, a oferta de crédito e os incentivos fiscais do governo ajudaram o varejo. “Foi esse conjunto de fatores macroeconômicos que deu consistência às vendas do setor”, resume.

QUATRO EM UM
A Brookfield lança no fim de semana o complexo Linion Square, no Centro Metropolitano (Barra). Projeto de R$ 410 milhões em valor de vendas, terá mall, edifício residencial, prédio comercial e apart-hotel administrado pelo grupo Promenade. Leva a assinatura do arquiteto Paulo Casé.

EM JF
A carioca João Fortes Engenharia estreia em Juiz de Fora (MG) com complexo arquitetônico. Vai lançar, no início do ano que vem, o Le Quartier Granbery. O projeto terá 240 apartamentos, 186 salas comerciais e nove lojas no térreo. A estimativa é de R$165 milhões em valor geral de vendas.

Com crédito
A Arcelor Mittal Tubarão registrou o segundo projeto de crédito de carbono na ONU. Deve gerar até 2,5 milhões de toneladas em dez anos. O primeiro tinha potencial de geração de 430 mil toneladas na década.

Sem desperdício
A CSN vai economizar R$ 3 milhões com a adoção de sistema de alta pressão para limpeza de pátios e veículos nas fábricas. Os equipamentos começam a ser usados mês que vem. Vão reduzir em 95% o consumo de água.

Tem energia
O setor de comercialização da Bolt Energias faturou R$ 460 milhões este ano. Criada em setembro de 2011, a empresa espera lucrar R$ 5,5 milhões no segmento.

Livre Mercado
A Kpinha comprou cinco mil capas para iPhone 5, de olho na chegada do aparelho no Brasil. Espera vender todo o lote em três meses.

A Spoleto e a Dominós inauguram hoje loja compartilhada em Três Rios (RJ). Investiram R$1 milhão.

A Pathisa Notte abre hoje no Città América. É aporte de R$ 400 mil. Prevê crescimento de 50% nas vendas da linha de festas.

O Miguel Neto Advogados, de SP, se uniu ao Herrera Advogados, do Rio. A meta é faturar 50% mais.

É a Chocolates Brasil Cacau que abre loja hoje no ShoppingTijuca. A Cacau Showjá está lá.

SPA DE CINEMA
A Downtown Filmes fará, de hoje a domingo, ação para divulgar “De pernas para o ar 2”, que estreia dia 28. Um spa móvel circulará por bairros do Rio e de Niterói. Quem entrar assistirá ao trailer do filme recebendo massagem. É parceria com a agência Kindle.

Ano novo
A SRCom criou a logo (à direita) e assina a festa do réveillon de Copacabana. A colorida marca traz cartões-postais do Rio.

Natal
Turquia, Peru e África inspiraram o Natal da Fiszpan. A rede produziu 14 mil peças. Quer vender 20% mais.

Do bem
O Instituto-E, da Osklen, e o CDI, ONG de Rodrigo Baggio, firmaram parceria. Semana que vem, lojas da rede no Rio e em São Paulo venderão camisetas em prol do movimento Tech4Good, pelo bom uso da tecnologia. Os salões Werner estão recolhendo fraldas e leite para o Pró-Criança Cardíaca. Espera arrecadar uma tonelada até dia 23.

Inglês da Rússia
A LinguaLeo, russa de ensino on-line de inglês, vai investir US$ 1 milhão no Brasil até 2014. É o primeiro negócio internacional da start up. Quer bater um milhão de usuários no país em um ano. Entrou no ar em português em novembro.

Educação infantil
A rede Pensi, de colégios e cursos, abriu unidade no Moneró (Ilha do Governador). É a 1º no sistema creche escola, para crianças de 4 meses a 6 anos. Planeja investir R$ 3 milhões na educação infantil nos próximos cinco anos.

O "lucro Brasil" das montadoras - JOEL SILVEIRA LEITE

FOLHA DE SP - 14/12


Não é só imposto: montadoras têm margem alta aqui. Paga-se R$ 65 mil por carro que custa R$ 30 mil no exterior. Chineses reduziriam isso? Então mais IPI


Os dirigentes das montadoras disseminam há décadas a tese de que a causa do alto preço do carro no Brasil é o imposto. O mantra pegou e é quase senso comum que a carga tributária é que faz o brasileiro pagar o carro mais caro do mundo.

Outro fator que costuma ser citado é o custo Brasil, um conjunto de dificuldades estruturais e burocráticas, destacando-se a falta de qualificação profissional e uma estrutura logística cara, insuficiente e arcaica.

As enormes dificuldades que o empresário enfrenta para produzir no Brasil explicam, em parte, o alto preço praticado -não apenas do carro, mas de em qualquer produto.

Mas impostos nem o custo Brasil justificam os US$ 37.636 que o brasileiro para por um Corolla, enquanto o seu colega americano paga US$ 15.450. Na Argentina, país mais próximo tanto geograficamente quanto em relação às dificuldades e problemas, o Corolla também custa mais barato: US$ 21.658.

No Paraguai, o consumidor paga pelo Kia Soul US$ 18 mil, metade do preço no Brasil. Ambos vêm da Coreia. Não há imposto que justifique tamanha diferença. O Volkswagen Jetta custa R$ 65 mil no Brasil, menos de R$ 40 mil no México e R$ 30 mil nos EUA -a propaganda do carro, aliás, tem como protagonista não um executivo, mas um... universitário sofrido (youtu.be/gqDUV-rHQe4).

Há vários outros exemplos. Cito mais um: o Hyundai ix35 é vendido na Argentina por R$ 56 mil. O consumidor brasileiro paga R$ 88 mil.

Se o custo Brasil fosse um fardo pesado nas costas do empresariado, seria impraticável a redução da margem operacional. A crise de 2008 revelou, porém, que havia gordura pra queimar: os preços despencaram.

O índice AutoInforme/Molicar indicou queda média de preço de 10,1% desde a crise de 2008. Carros de algumas marcas tiveram queda de preço de 20%. Não se tem notícia de que essas empresas tenham entrado em colapso por causa disso.

O Hyundai Azera, que era vendido por R$ 100 mil, passou a custar R$ 80 mil após a crise de 2008. Descontos de R$ 5.000, até R$ 10.000, foram comuns no auge da crise, revelando a enorme margem com que algumas montadoras trabalham: em 2010 a GM vendeu um lote do Corsa Classic com desconto de 35% para uma locadora paulista, conforme um ex-executivo da própria locadora.

A chegada dos chineses desvendou o mistério. Equipados e baratos, ameaçaram as marcas tradicionais.

O QQ, da Chery, chegou recheado de equipamentos, alguns inexistentes mesmo em carros de categoria superior, como airbags, freio ABS, sistema de som e sensor de estacionamento. Preço: R$ 22.990. Mas daria pra vender por R$ 19,9 mil, segundo uma fonte da importadora, não fosse a pressão dos concessionários por uma margem maior.

Em março de 2011, a também chinesa JAC Motors começou a vender no Brasil o J3 por R$ 37,9 mil. Reação imediata: a Ford reposicionou o Fiesta hatch, passou a vender o carro pelos mesmos R$ 37,9 mil e instalou nele alguns dos equipamentos que o chinês trazia de série, mas apenas em São Paulo, Rio e Brasília -onde o J3 ameaçava o concorrente.

Mesmo assim, as montadoras instaladas no Brasil se sentiram ameaçadas e, argumentando a defesa do emprego na indústria nacional, pediram socorro ao governo, sendo prontamente atendidas: medida editada em setembro de 2011 impôs super IPI às empresas que não têm fábrica no país. Pela primeira vez, a Anfavea (associação das montadoras), cujos associados não foram atingidos pelo imposto extra, não se rebelou contra nova carga tributária.

A maioria das importadoras absorveu parte dos impostos adicionais e praticou um aumento inferior ao que seria necessário para manter a margem de lucro, indicando que havia muita gordura.

A grande diferença de preço do carro vendido no Brasil em relação a outros países chamou a atenção do Senado. A pedido da senadora Ana Amélia (PP-RS), a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado convocou audiência pública para "discutir e esclarecer as razões para os altos preços dos veículos automotores no país e discutir medidas para a solução do problema".

Realizada na semana passada, com a presença de representantes do Ministério da Fazenda, do Ministério do Desenvolvimento, do Ministério Público Federal, do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) e deste jornalista. Lamentada ausência da Anfavea, a audiência revelou (por um estudo apresentado pelo Sindipeças) que a margem de lucro das montadoras instaladas no Brasil é três vezes maior que nos EUA: no Brasil é de 10%, nos EUA é 3% e a média mundial é de 5%.

A discussão deve continuar, enquanto houver tanta gordura pra queimar!

A viagem horizontal brasileira - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE


O Estado de S.Paulo - 14/12

"A descida seduz / como seduziu a subida. Nunca a derrota é só derrota, pois / o mundo que ela abre é sempre uma parada / antes / insuspeitada."

O fragmento é de um poema de William Carlos Williams (1883-1963) intitulado A descida, perfeito para as reflexões sobre o PIB brasileiro. Afinal, fomos do céu ao inferno em dois anos. Do PIBão de 2010 ao PIBinho de 2012, passando pelo PIB sem graça de 2011.

A descida seduz. Mas, mais que tudo, intriga. Por isso a profusão de teses e especulações sobre a viagem vertical brasileira. O governo insiste em que o problema é só a crise internacional. Mas o desempenho de outros países emergentes, inclusive na América Latina, desmente essa visão. Claro que os problemas externos repercutiram por aqui. Porém há mais mistérios entre o quadro lamuriento externo e nosso PIB modorrento do que sugere essa vã filosofia.

Algumas teses são muito conhecidas. Há o bordão repetitivo do esgotamento do consumo, que confunde o ímpeto consumista das famílias, um pouco abalado pelo endividamento, mas ainda forte diante do aumento da renda e do bom desempenho do mercado de trabalho, com a capacidade de que isso baste para gerar um crescimento de 4%. Não basta. Precisamos do investimento.

Cadê o investimento? Eis o enigma. Não há uma história única que explique a queda dele no País depois de 2010. O que há são elucubrações. Vejamos. Há, por exemplo, a conhecida tese dos problemas de oferta - do custo Brasil, que onera excessivamente as empresas. Existe, ainda, uma corrente que acredita que o problema foi, e talvez ainda seja, o câmbio valorizado, que desvia a demanda do mercado interno para produtos estrangeiros mais baratos. Alguns acham que o ativismo errático do governo, o anúncio sequencial e quase ininterrupto de medidas desconjuntadas, as tentativas de extrair a fórceps uma melhora da atividade por meio de um intervencionismo desorganizador prejudicam o planejamento do setor privado. As interferências na Petrobrás, no setor elétrico, no sistema bancário, além do protecionismo, são exemplos disso.

Há aqueles que acham que os erros de política econômica, como a confusão em torno da política monetária, com as alegações de abandono do regime de metas de inflação e as dúvidas sobre o papel das medidas macroprudenciais, teriam danificado a atividade. Decerto, a incerteza recente sobre o regime cambial em nada ajuda o empresário que precisa importar para investir. Enquanto a presidente e o ministro da Fazenda dizem que o real precisa se desvalorizar mais, os dirigentes do Banco Central afirmam o contrário. E, para acrescentar ofensa à injúria, todos insistem em que o câmbio é flutuante.

É provável que a explicação para as mazelas do crescimento brasileiro contenha elementos de todas essas teses. E, talvez, o fio narrativo que as una seja a falsa percepção, nascida nos últimos anos do governo Lula e exacerbada em 2010, de que o País se tornara, se não um tigre asiático, ao menos um jaguar latino-americano. A ilusão de que o forte ritmo de expansão seria mantido desorganizou o planejamento das empresas, que se posicionaram para vender muito mais do que a economia seria capaz de absorver. O resultado foi um brutal ajuste de estoques na indústria que ainda não se esgotou - é possível que o alongamento e as oscilações do ciclo de estoques tenham sido exacerbados pelo gosto das autoridades em acionar botões e puxar manivelas desenfreadamente, enquanto desequilibravam o tripé da política econômica. A percepção equivocada de que o Brasil virara jaguar foi desfeita na primeira metade de 2011, quando o eterno termômetro dos nossos erros, a inflação, subiu vertiginosamente, impulsionada, também, pelos choques de preços das commodities.

Fiquemos, pois, com o mundo novo da derrota, do reconhecimento de que não temos capacidade de crescer acima de uns 3,5%, quiçá nem sequer isso. A inflação que não cede comprova a tese de que nosso espírito é inercial. A verdadeira viagem brasileira, quando muito, é apenas horizontal.

O preço da omissão - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 14/12

De novo, houve falha geral da liderança em relação aos royalties do petróleo. Líderes lavaram as mãos e não assumiram funções indelegáveis. Desde o começo, a Presidência da República não fez o papel de defender o pacto federativo. Na noite de quarta-feira, o senador José Sarney se omitiu, e uma deputada fraca e sem liderança achou que poderia mais do que pode.

O governo tomou a iniciativa de provocar o conflito em torno do dinheiro do petróleo, quando propôs a mudança do marco regulatório sem dizer exatamente como faria a redistribuição dos impostos. Era necessário rediscutir a divisão do bolo, diante do fato de que a perspectiva de arrecadação havia subido muito com o pré-sal, mas o então presidente Lula tinha que saber que isso atiçaria a cobiça sobre todos os recursos do petróleo. E que Rio de Janeiro e Espírito Santo são minoria e seriam esmagados pela união dos outros.

Ao incentivar a cobiça e abdicar do papel de comandar o processo, o presidente Lula e, depois, a presidente Dilma abriram mão de uma função que é unicamente da Presidência da República: a de salvaguardar o pacto entre os entes federados.

Dilma vetou, mas não comandou sequer o seu partido; uma dubiedade que só aumenta a confusão. Vetou o que era mais absurdo, como a mudança de contratos já em vigor, mas o PT liberou sua bancada, e o presidente da Câmara, Marco Maia, sempre trabalhou pela manutenção da lei como ela foi aprovada no Congresso. Ao vetar, ela agradou a dois estados; ao se omitir e não liderar a base governista, ela agradou a todos os outros.

O senador José Sarney aproveitou a oportunidade perfeita e fugiu da área da confusão. Com a desculpa de que à noite ocuparia a Presidência da República, ele abandonou o tema e assim atendeu ao pedido da sua filha, Roseana Sarney, para ajudar a manter o projeto aprovado no Congresso. Típico de Sarney: não se comprometer, não escolher, fingir estar com um lado estando, de fato, com o outro.

A deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) achou que era uma boa oportunidade para pavimentar sua ambição de presidir a Câmara. Fracassou. A balbúrdia que não conseguiu controlar mostra que ela não tem a liderança que imaginava ter. É uma temeridade deixar que um assunto que fratura a federação seja conduzido com todos se omitindo e com as ambições falando mais alto do que o bom senso.

O Rio, o Espírito Santo e os municípios que hoje recebem as partes maiores dos royalties teriam mesmo que ceder em relação à arrecadação futura dos impostos que incidem sobre o petróleo, mas o que está para ser consagrado pelo Congresso é mais grave e tem repercussões para além do petróleo. Fica estabelecido que na Federação brasileira vale a lei do mais forte, em qualquer tema, porque os líderes não liderarão e usarão a ambiguidade para fugir de suas responsabilidades quando houver bolas divididas.

Há assuntos que o Congresso deve comandar, mas sempre que estiver em questão o equilíbrio federativo a Presidência da República tem o dever de presidir todas as etapas do processo.

Não há uma boa solução agora. A saída de brigar na Justiça cria mais insegurança e mais tensão. A declaração da presidente Dilma, que já não há mais nada que possa fazer, só confirma que foi isso: ela se omitiu quando deveria liderar, vetou e não trabalhou pela aceitação do veto, e deixará que os estados briguem. Estados que estão submetidos à União que ela preside. Conflitos federativos devem ser evitados antes de serem iniciados. Depois, é sempre mais difícil resolver.

No caso do petróleo nós estamos no pior dos mundos. A mudança do marco regulatório e a demora na decisão sobre a redivisão do bolo tributário paralisaram as novas rodadas de licitação. O Brasil tem produzido menos e está esgotando o que foi licitado em outras rodadas. Nesse vazio, a perspectiva é de produção cada vez menor. O Brasil vive uma séria crise federativa em torno de recursos que estão ficando mais incertos. Não estamos garantindo a riqueza do petróleo, mas já estamos vivendo sua maldição. O Brasil está em conflito em torno de recursos que nem sabe se conseguirá.

O que esperar de 2013 - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 14/12


Creio que vamos replicar o comportamento dos EUA, com o investimento voltando a crescer


Como escrevi na coluna passada, o ano de 2012 não será esquecido com facilidade pelo analista das coisas da economia. Foi um período de grande complexidade e, principalmente, da queda de paradigmas importantes na política econômica nas maiores economias do mundo.

Na última quarta-feira, em sua reunião mensal do comitê de política monetária, o poderoso Banco Central dos Estados Unidos deu uma última e extraordinária contribuição a essa negação de símbolos da ortodoxia econômica: a partir de agora, a política de juros próximos de zero será modificada apenas se o desemprego vier abaixo do índice de 6,5% da população ativa.

Nunca foi tão transparente como agora a existência de um duplo mandato para o Banco Central americano. Está clara a busca de uma queda dos atuais níveis de desemprego como foco principal da política de juros, pelo menos até que a inflação supere os 2,5% ao ano.

Esse limite da inflação certamente foi a azeitona na empada para reduzir as críticas -que certamente virão- de que o Fed está inflacionando deliberadamente a economia com o objetivo de acelerar a saída da crise de crescimento.

Outra observação que se impõe depois dessa decisão do Fed é o reconhecimento de que nunca foi tão presente o pensamento do economista Lord Keynes como agora.

Mas vamos deixar o ano de 2012 para trás e olhar para os próximos 12 meses.

O leitor da Folha já sabe que sou otimista para o próximo ano. Há algumas semanas escrevi uma coluna -o alinhamento dos astros- em que procurei explicitar as principais razões para essa minha visão.

De lá para cá os astros continuaram nesse processo de alinhamento. Os dados de crescimento da China mostram mais força, apesar de uma queda expressiva de suas exportações de produtos industriais.

Os investimentos do governo na infraestrutura voltaram a crescer e, junto com uma aceleração na expansão do consumo das famílias, mais que compensaram a queda do setor externo.

Na Europa, consolida-se -e cada vez com mais força- a percepção de que os governos conseguiram reverter o medo de um colapso do euro que os mercados vinham precificando desde o começo do ano.

No momento em que escrevo esta coluna, as agências de notícias trazem em suas manchetes a decisão dos ministros das finanças da zona do euro de liberar -FINALMENTE- mais de € 40 bilhões para a combalida Grécia.

Nem mesmo as declarações espalhafatosas do bufão Berlusconi de que vai novamente se candidatar ao governo da Itália nas eleições do início do próximo ano conseguiram trazer de volta a especulação contra o euro.

Nos Estados Unidos, as negociações políticas para evitar o chamado precipício fiscal na virada do próximo ano também estão sendo vistas com otimismo pelos mercados. Também os preços das ações em Wall Street devem terminar o ano com valorizações expressivas e em níveis que já superam o que existia antes do colapso do mercado de hipotecas em 2008.

Para 2013, o crescimento pode superar -não em muito- os 2% ao ano e o desemprego pode aproximar-se ainda mais de níveis históricos. Mas a questão mais importante para acompanhar na terra do tio Sam será a volta do espírito animal dos empresários e, com isso, uma normalização dos investimentos.

Aqui no Brasil também a variável mais importante -e que deve definir a intensidade da recuperação do crescimento econômico- será o investimento. Creio que vamos replicar o comportamento dos Estados Unidos, com o investimento voltando a crescer, mas com um atraso de dois trimestres. Por isso, o PIB, em 2013, apresentará taxas crescentes de expansão ao longo do ano.

O consumo das famílias -que representa 2/3 do PIB no Brasil- continua na sua marcha de crescimento de 3,5% ao ano e deve replicar esse comportamento no próximo ano. Com o crescimento do investimento chegando a 6% ao ano no último trimestre do ano poderemos exibir no fechamento do ano próximo um crescimento da ordem de 3%. Mas existem alguns riscos que precisam ser monitorados.

Volto a eles em nosso próximo encontro.

O Brasil na encruzilhada - IVES GANDRA DA SILVA MARTINS


O ESTADÃO - 14/12


A economia não é uma ciência ideológica, como quer certa corrente política, nem uma ciência matemática, como pretendem os econometristas. É evidente que a matemática é um bom instrumental auxiliar, não mais que isso, enquanto a ideologia é um excelente complicador. A economia é, fundamentalmente, uma ciência psicossocial, que evolui de acordo com os impulsos dos interesses da sociedade, cabendo ao Estado garantir o desenvolvimento e o equilíbrio social, e não conduzi-la, pois, quando o faz, atrapalha.

Por outro lado, o interesse público, em todos os tempos históricos e períodos geográficos, se confunde, principalmente, com o interesse dos detentores do poder, políticos e burocratas, que, enquistados no aparato do Estado, querem estabilidade e bons proventos, sendo o serviço à sociedade mero efeito colateral (vide meu Uma Breve Teoria do Poder, Ed. RT). Por essa razão o tributo é o maior instrumento de domínio, sendo uma norma de rejeição social, porque todos sabem que o pagam mais para manter os privilégios dos governantes do que para o Estado prestar serviços públicos. A carga tributária é, pois, sempre desmedida, para atender aos dois objetivos.

Na superelite nacional, representada pelos governantes, o déficit previdenciário gerado para atender menos de 1 milhão de servidores aposentados foi superior a R$ 50 bilhões em 2011, enquanto para os cidadãos de segunda categoria - o povo - foi de pouco mais de R$ 40 bilhões, para atender 24 milhões de brasileiros! Numa arrecadação de quase R$ 1,5 trilhão - 35% do produto interno bruto (PIB) brasileiro -, foram destinados à decantada Bolsa-Família menos de R$ 20 bilhões! Em torno de 1% de toda a arrecadação! O grande eleitor do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff não custou praticamente nada aos erários da República.

O poder fascina! No Brasil há 29 partidos políticos. Mesmo consultando os grandes filósofos políticos desde a Antiguidade até o presente, não consegui encontrar 29 ideologias políticas diferentes, capazes de criar 29 sistemas políticos autênticos e diversos. Desde Sun Tzu, passando por indianos, pré-socráticos, pela trindade áurea da filosofia grega (Sócrates, Platão e Aristóteles), pelos árabes Alfarabi, Avicena e Averrois e pelos patrísticos e autores medievais, entre eles Agostinho e São Tomás, e entrando por Hobbes, Locke, Montesquieu, Hegel até Proudhon, Marx, Hannah Arendt, Rawls, Lijphart, Schmitt e muitos outros, não encontrei 29 sistemas políticos distintos.

Ora, 29 partidos políticos exigem de qualquer governo a acomodação de aliados e tal acomodação implica a criação de ministérios e encargos burocráticos e tributários para o contribuinte. O Brasil tem muito mais ministérios que os Estados Unidos. Por essa razão suporta uma carga tributária indecente e uma carga burocrática caótica para tentar sustentar um Estado em que a presidente Dilma não conseguiu reduzir o peso da administração sobre o sofrido cidadão. E os detentores do poder, num festival permanente de auto-outorga de benesses, insistem em aumentar seus privilégios, como ocorre neste fim de ano, com a pretendida contratação de mais 10 mil servidores e aumentos em cascata de seus vencimentos.

Acresce-se a esse quadro a ideológica postura de que os investidores no Brasil não devem ter lucro, ou devem tê-lo em níveis bem reduzidos. Resultado: México e Colômbia têm recebido investidores que viriam para o Brasil, pois tal preconceito ideológico inexiste nesses países.

A consequência é que, no governo Dilma, jamais os prognósticos deram certo. Têm seus ministros econômicos a notável especialidade de sempre errarem os seus prognósticos, o que dá insegurança aos agentes econômicos e desfigura o governo. Os 4,5% de crescimento do PIB para 2011 ficaram em torno de 2,5%. Os 4% prometidos para 2012 ficarão ainda pior, ou seja, pouco acima de 1%.

A política energética - em que o governo pretende que seja reduzido o preço da energia pelo sacrifício das empresas, e não pela redução de sua esclerosadíssima máquina pública - poderá levar à má qualidade de serviços e à desistência de algumas concessionárias de continuarem a prestá-los. A Petrobrás, por exemplo, para combater a inflação, provocada principalmente pela máquina pública, tem seus preços comprimidos. Nem mesmo a baixa de juros está permitindo combater a inflação, com o que terminaremos o ano com baixo PIB e inflação acima da meta.

Finalmente, a opção ideológica pelo alinhamento com governos como os da Venezuela, da Bolívia, do Equador e da Argentina tem feito o Brasil tornar-se o alvo preferencial dos descumprimentos de acordos e tratados por parte desses países, saindo sempre na posição de perdedor.

Muitas vezes tenho sido questionado em palestras por que o Brasil, com a dimensão continental que tem, em vez de se relacionar, em pé de igualdade, com as nações desenvolvidas, prefere relacionar-se com os países de menor desenvolvimento, tornando-se presa fácil de políticas estreitas, nas quais raramente leva a melhor. Tenho sugerido que perguntem à presidente Dilma.

Como a crise europeia não será solucionada em 2013, como os investidores estão se desinteressando pelo País, por força dessa aversão dos governantes brasileiros ao lucro, e como investimos em consumo, beneficiando, inclusive, a importação, e não a produção e o desenvolvimento de tecnologias próprias, chegamos a uma encruzilhada.

Bom seria se os ministros da área econômica deixassem de fazer previsões sempre equivocadas e a presidente Dilma procurasse saber por que os outros países estão recebendo investimentos e o Brasil, não. Como dizia Roberto Campos, no prefácio de meu livro Desenvolvimento Econômico e Segurança Nacional - Teoria do Limite Crítico, "a melhor forma de evitar a fatalidade é conhecer os fatos".

BOCA DO CAIXA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 14/12

A CEF (Caixa Econômica Federal) foi condenada em um caso raro: terá de pagar R$ 100 mil de indenização a um funcionário que sofreu assédio moral e sexual de sua chefe, gerente de uma unidade da instituição.

BOCA 2

Modelo fotográfico, ele relatou à Justiça que a chefe sempre elogiava a sua beleza usando "termos lascivos". Diariamente, insistiria para que saíssem juntos depois do trabalho. Rejeitada, a mulher teria passado a chamá-lo de "incompetente, inútil e imbecil". Depois, cortou uma gratificação especial que o modelo recebia como caixa-executivo.

BOCA 3

Além do depoimento do funcionário, testemunhas relataram que a vida dele virou "um inferno" com as cantadas da chefe. A CEF recorreu, mas acabou derrotada.

INTERCÂMBIO, ORA POIS

A cantora Mallu Magalhães passará três meses em Lisboa para compor novas músicas. Viaja no dia 24 com o marido, o músico Marcelo Camelo.

NUNCA PENSEI

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, concedeu longa entrevista a Ellis Cose, da Bloomberg. Questionado sobre a possibilidade de concorrer à Presidência, respondeu: "Eu nunca me vi sendo presidente do Brasil. Em primeiro lugar, não sou político. Nunca fui e penso que sou uma pessoa improvável para esse tipo de atividade por causa da minha franqueza. Nunca lidei nem tenho conexões com partidos", diz o magistrado. Portanto, a resposta é não.

TESTE

Em pesquisa recente feita pelo Ipespe, 24% dos eleitores disseram que votariam "com certeza" em Barbosa para presidente e 26% admitiram que poderiam votar.

NOSSA VEZ

Na mesma entrevista, a Bloomberg perguntou se o ministro não achava irônico que o Brasil estivesse adotando políticas afirmativas em relação aos negros no momento em que os Estados Unidos parecem estar se distanciando delas. "Não é irônico porque os EUA já fizeram muito. O Brasil está começando a fazer alguma coisa", afirma Barbosa.

BEATRIZ EM ALEMÃO

Um livro sobre Beatriz Milhazes sairá pela editora alemã Taschen em 2013. Recentemente, um quadro dela foi vendido por US$ 2 milhões.

PRÓXIMA PARADA

O cineasta Cao Hamburger, de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" e "Xingu", trabalha no roteiro de um novo longa. Com produção da Gullane, o filme se baseará no livro "De Repente, nas Profundezas do Bosque", do israelense Amos Oz.

FORÇA, KARAMS

O ator Guilherme Karam, que sofre com uma doença que degenera o sistema nervoso, ficou sem seu pai, Alfredo Karam, nesta semana. Alfredo, com quem Guilherme mora, está hospitalizado desde domingo. Teve um coágulo e passou pela UTI, mas já se recupera.

RONNIE PAZ E AMOR

"Vão achar que é mentira, mas nunca queimei um 'baseado'. De medo. Tive um amigo que começou na maconha, passou para a heroína e acabou se jogando do décimo andar dizendo que era o Super-Homem."

A frase é do cantor e apresentador da TV Gazeta Ronnie Von, 68, para a revista "Billboard" deste mês.

RONALPUNZEL

O jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho foi a show de Seu Jorge anteontem, em São Paulo, usando as tranças jogadas para o lado, presas por um elástico. Uma das pessoas que estava no grupo com ele o chamava de "Rapunzel".

TOP ATIVISTA
Rogério Mesquita

A paulista Carol Bittencourt é a capa da revista "Status" deste mês; a modelo, que vive em Nova York, tem uma ONG que ajuda crianças do Haiti

SALVE SEU JORGE

A apresentadora Kika Martinez foi a show do cantor Seu Jorge na Estação Júlio Prestes, no centro de São Paulo, anteontem. O cantor Fernando Badauí assistiu à apresentação do rapper Emicida, que tocou antes de Seu Jorge. O jogador Ronaldinho Gaúcho também esteve presente na festa, realizada pela Nike brasileira.

É UMA CASA PORTUGUESA

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, foi à comemoração dos cem anos da Câmara Portuguesa na Sociedade Hípica Paulista, no Brooklin. O empresário Antonio Pargana passou pelo evento, que teve show da sambista Mart'nália.

CURTO-CIRCUITO

A festa Javali homenageia o fim do mundo hoje, às 23h, na Liberdade. 18 anos.

A centésima edição da Talco Bells é hoje, no Estúdio Emme. Em 2013, a festa migra para o Cine Joia. 18.

A boate Outlaws reverterá para o Grendacc todo o lucro obtido hoje com a venda de Veuve Clicquot.

O criminalista Sérgio Rosenthal é o novo presidente da Associação dos Advogados de São Paulo.

O livro "Ciclo de Debates Pensando São Paulo" será lançado hoje, na Câmara Municipal, às 20h.

O deputado Fernando Capez oferece almoço para 300 prefeitos na segunda.