terça-feira, abril 10, 2012

País dos gordinhos - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 10/04/12



Pela primeira vez, os obesos são maioria no país. Pesquisa do Ministério da Saúde, a ser divulgada hoje, mostra que, em 2011, 52,6% dos homens brasileiros estavam acima do peso ideal. Em 2006, eram 47,2%.

Joelhos de fora

Domingo, dois rapazes barravam mulheres de short na Igreja de Santa Rita, em Búzios, RJ. A uma menina de 13 anos, acompanhada da mãe, da irmã e da avó, de 90 anos, os moços ofereceram um sobretudo preto para que a fiel ficasse coberta até os joelhos.

Brasil com Chávez

Um parceiro da coluna esteve em Cuba estes dias e assistiu na TV Sur a uma entrevista do nosso João Pedro Stédile, do MST. Stédile dizia que “a Revolução Social começa em Cuba, se irradia para a Venezuela, chega à Bolívia” e... conclui: “O Brasil está com Chávez.” Há controvérsias.

Dinheiro público

A UNE teria de devolver R$ 3.354.371,05 ao Tesouro. É o que concluiu análise feita pelo Ministério da Cultura e pelo TCU nas contas da entidade (ligada ao PCdoB) no período 2005-2007. Enquanto não devolver, fica impedida de obter novos benefícios da União.

No mais

Não dá para dizer que viraram melhores amigos. Mas a conversa reservada entre Dilma e Obama surpreendeu os ministros. Deveria durar meia horinha. Durou 75 minutos. Seria só sobrepontos positivos. Mas incluiu questões espinhosas, como Cuba, câmbio e Oriente Médio.

Cavalo da fortuna 
“Amigo fiel” será o nome do enredo da Beija-Flor no carnaval de 2013. A escola de Nilópolis, que, como se sabe, vai falar de cavalos, será patrocinada pela Associação dos Criadores do Mangalarga Marchador.

QUEM PASSA pela Av. Afrânio de Melo Franco, no Leblon, um dos metros quadrados mais caros do Rio, fica impressionado com esta obra feia de doer. É que não há nem tela para proteger os pedestres. Repare na foto. O contraste é maior porque, bem ao lado, vê-se uma obra do Shopping Leblon, protegida por uma rede. Como a coluna publicou em outubro de 2010, quem comprou o imóvel do antigo Scala, leiloado pelo governo do Rio, foi um revendedor da coreana Hyundai, que teria pago R$ 90 milhões pelo prédio. Alô, Hyundai!

A Record errada
O grupo de hackers ativistas Anonymous errou o alvo. Na madrugada de sábado, tentou invadir o site da Rede Record, o canal da Igreja Universal do Reino de Deus. Mas quem acabou ferido foi o site da Galera Record, selo jovem do Grupo Editorial Record, que nada tem a ver com o bispo Edir Macedo.

Namoro reatado

Jarbas Vasconcelos tem tido intensas conversas políticas com Eduardo Campos depois de um jejum de anos. O que ambos têm em comum: são concorrentes do PT na eleição local e, quem sabe, na nacional.

Ricardo em Roma

Ricardo Neiva Tavares será o novo embaixador em Roma.

Rock em quadrinhos 
Carles Santamaria, do Salão de Comics de Barcelona, lança amanhã na Espanha e em Portugal uma série em quadrinhos do Rock in Rio, chamada “Rock Rivers ” . Um dos personagens é... Roberto Medina (veja a reprodução). Será publicada no espanhol “El País” e no português “Diário de Notícias”.

Revolta da picanha

Os garçons do Porcão Rio’s, revoltados por não receberem as gorjetas deixadas pelos clientes, pararam uma hora, domingo à tarde, com a casa lotada.

Bibi, fonfom

O BarraShopping, no Rio, vai construir no subsolo um estacionamento para uns 800 carros.

Fim de Neves

A Polícia Civil do Rio está prestes a ser a primeira do país a não ter de cuidar de presos. Com a abertura da Casa de Custódia de Magé, serão transferidos os últimos 320 da carceragem de Neves, em São Gonçalo.

Vestiu azul

Marco Antônio Monteiro, conselheiro do Vasco, entrou com pedido de liminar no TJ-RJ para proibir o clube de usar seu terceiro uniforme (azul com uma cruz grande no peito). A audiência foi marcada para 5 de julho. Monteiro, com pressa, recorreu. Mas o desembargador Marco Ibrahim manteve a data.

Hora da verdade - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 10/04/12


O documento divulgado no último domingo pelo Correio mostra que o país precisa da Comissão da Verdade e logo, enquanto alguns personagens ainda estão por aí para contar o que sabem

Se há algo que todos devem persistir quando se trata especialmente da história de um país é a verdade. E, geralmente, só conseguimos chegar a esse estado das coisas quando confrontamos diversas fontes e verdades de cada segmento envolvido num determinado fato. Por isso, ninguém entende por que dentro do governo a demora em instalar a Comissão da Verdade.

Do jeito que a coisa vai, a ela parece ter sido votada apenas para “inglês ver”, como se diz por aí. Houve muita pressa em aprová-la, para que a presidente pudesse chegar à Conferência Anual das Nações Unidas, ainda no ano passado, levando o texto na bagagem. Não foi possível, mas, assim que ela regressou de Nova York, não demorou muito e os congressistas lhe entregaram o que o governo parecia querer tanto: a Comissão da Verdade.

Lá se vão quatro meses da criação da Comissão e ela continua no papel. O golpe de 1964 fez mais um aniversário, completou 48 anos, e aqui estamos nós, esperando... O documento divulgado no último domingo com exclusividade pelo Correio mostra que o país precisa da Comissão da Verdade e logo — enquanto alguns personagens ainda vivem com saúde para contarem o que sabem. A desculpa de que não há mais nada a investigar, ou que os documentos já são todos conhecidos, não cola. Prova disso foi a peça divulgada no último domingo.

Vem a calhar a comissão a ser instalada hoje dentro do Congresso Nacional, com o intuito de começar o trabalho que já deveria estar em curso pela Comissão da Verdade. Assim, quem sabe, ajuda a diluir resistências para que o trabalho seja feito de forma natural, dando a todos a verdadeira história. Pelo menos, não custa nada tentar.

Por falar em Congresso e em verdade...
Entre os parlamentares há quem considere insustentável deixar de instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os negócios e as relações do empresário do jogo do bicho Carlos Cachoeira. Isso porque o Congresso precisa tentar tomar alguma atitude para ficar de bem com o eleitorado, depois da série de reportagens publicadas pelo Correio a respeito dos 14º e 15º salários e, para completar, as notícias que apareceram na tevê sobre as Assembléias Legislativas.

Todas essas notícias, avaliam os políticos, só fazem com que o eleitorado dê razão à presidente Dilma Rousseff na hora de negar nomeações aos partidos. Ou eles entram na onda e buscam a verdade de seus próprios colegas ou continuará como está: apenas Dilma Rousseff brilhando como a estrela do show e os congressistas, de maneira geral, na berlinda.

Há quem, no entanto, não deixe de martelar o passado recente: enquanto Itamar Franco brilhava como o presidente brasileiro mais popular de sua época, os congressistas empreenderam a CPI dos Anões do Orçamento, que cortou cabeças no Congresso. Naquele período, o Plano Real, o carisma do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e a popularidade de Itamar tiraram a oposição da ribalta. À época, o campo oposicionista era representado pelo PT de Lula, que perdeu a eleição para Fernando Henrique no primeiro turno.

Esse raciocínio tem levado um grupo dentro do Congresso a ver na CPI uma jogada de risco. Ninguém se esquece da CPI do Orçamento ou CPI dos Anões, como você preferir. Naquela época, houve uma tentativa de envolver o governo. O então chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, foi chamado a depor. Pediu afastamento do cargo, prestou depoimento, e, pouco tempo depois, estava de volta ao governo. Seu caso é lembrado até hoje como exemplo de conduta política.

Diante disso, há quem conclua, olhando o cenário atual, que, se a CPI passar à margem do governo, a popularidade da presidente continuará colossal e a comissão desgastará apenas os congressistas. O problema é que, pelo andar da carruagem, o Congresso não tem como escapar da CPI como mecanismo de autodefesa. E isso, conforme alguns já concluíram, é uma grande verdade.

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


15h - Werder Bremen x B. M'gladbach, Campeonato Alemão, Bandports

15h45 - Chievo x Milan, Campeonato Italiano, RedeTV! e ESPN Brasil

16h - Barcelona x Getafe, Campeonato Espanhol, ESPN e ESPN HD

18h30 - Deportivo Quito x Defensor, Taça Libertadores, Fox Sports

19h - Brasília x Bauru, NBB, Sportv

20h - Baltimore Orioles x New York Yankees, beisebol, ESPN HD

20h45 - Zamora (VEN) x Arsenal (ARG), Taça Libertadores, Fox Sports

21h - São José x Pinheiros, NBB, Sportv

23h - Nacional de Medellín (COL) x Peñarol (URU), Taça Libertadores, Fox Sports

Queda 2 - SONIA RACY

O ESTADÃO - 10/04/12


Depois da queda dos juros nos bancos estatais, promovida por pressão de Dilma, a presidente retoma um outro problema: o da briga entre Aldemir Bendine, do BB, e Ricardo Flores, da Previ.

Passou a tormenta, mas nada ficou esquecido. Pelo que se apurou, se depender da vontade dela, nenhum dos dois permanece nos atuais cargos.

Agora vai?
A bitributação de produtos no comércio entre EUA e Brasil pode estar com os dias contados – depois de 40 anos.

Para Gabriel Rico, CEO da Amcham brasileira, que participou da reunião de Antonio Patriota com Hillary Clinton em Washington, ontem, o “tom foi muito positivo”.

Alquimistas
Os alckmistas estão preocupados. Se o PSD não tiver tempo de TV – e Serra insistir em um nome da legenda de Kassab para vice –, o Democratas pode apoiar Gabriel Chalita.

A assessoria de Rodrigo Garcia, pré-candidato do DEM, garante que sua candidatura à Prefeitura, hoje, está mantida.

Tradição
Michel Temer desembarca esta semana em Sampa – durante interinidade na presidência – para compromisso inadiável. Comandar aula inaugural da Faculdade de Direito de Itu, da qual foi mestre.

Canteiro de obras
Parafraseando Alckmin, Andrea Calabi contabiliza os investimento do Estado de SP – de 2012 a 2015 – em R$ 100 bilhões. Sendo que R$ 86 bilhões virão da administração direta.

Múltipla escolha
Corre entre professores da Columbia que a universidade americana, que terá braço instalado no Rio, tinha São Paulo como primeira opção.

Mas não teria encontrado receptividade por aqui.

Sem lenço…
O que farão os milhares de angolanos no Brasil quando a ONU anunciar, no meio do ano, que eles não são mais refugiados de guerra? Como a maciça maioria desses imigrantes vive em SP, a Secretaria de Justiça está editando cartilha para orientá-los na regularização de suas situações.

A princípio, há dois caminhos: pedido de naturalização brasileira ou de visto permanente.

Tipo exportação
Gilberto Gil ataca de curador. Está à frente da organização de festival de música latina que acontece no fim do ano – no Carnegie Hall, em NY.

Entre os nomes que representam o Brasil estarão Paulinho da Viola, Orquestra Imperial e Arnaldo Antunes. Além de, claro, o próprio Gil.

Oficial
O que conversaram José Eduardo Cardozo e Márcio Thomaz Bastos, advogado de Carlinhos Cachoeira, semana passada? “Sobre a implantação do Prêmio Innovare”, contou, ontem, o atual ministro da Justiça.

Avec elégance
O mercado de luxo não está nem aí para a crise. Dados da consultoria global Michael Page indicam que a contratação de profissionais especializados no segmento aumentou 58% entre 2010 e 2011.

Quem vem
Os ucranianos do Kazaky, queridinhos de Madonna, apresentam seu som pop em maio.

No clube Infinity – novo projeto de Rodrigo Zanardi.

Óleo quente
No Mercadão de SP, Rubens Barrichello virou nome de bolinho de bacalhau e pastel.

Parte do marketing da Fórmula Indy, que acontece dia 29.

Na frente
Márcio Elias Rosa, novo procurador-geral da Justiça, convidou Arnaldo Hossepian para assumir o cargo de subprocurador geral de Relações Externas.

Paôla Mansur Flecha de Lima e Ana Paula Gaz recebem hoje para almoço, com desfile de Vanessa Montoro. Na agência Selections.

Patricia Lunardelli e Flavia Mezzavilla pilotam inauguração da loja Areaoito. Quinta-feira, nos Jardins.

Roberto Paz, da Gucci América Latina, ganha homenagem na casa de Ana e Sergio Magalhães. Dia 16, no Parque Cidade Jardim.

Cristina Canale lança livro hoje. Na Casa do Saber.

Lilian Pacce comemora nova fase de seu site, o canal Moda do MSN. Com festa, hoje, no Club Yacht.

Paula Martins abre seu apartamento para jantar em torno de Suzanne Clements e Inácio Ribeiro. Em conjunto com Vogue Brasil. Hoje.

A Espaço Arte MM promove leilão com 150 0bras. Hoje, no Hotel Quality.

O canal Discovery faz pré-estreia da nova produção Planeta Gelado. Hoje, no MuBE.

E a Rio+20 ganha apelido nada animador: Rio-20…

Pra boi dormir! - TUTTY VASQUES

O ESTADÃO - 10/04/12
Raúl Castro está confuso! Tirado da cama na madrugada de ontem para saudar Hugo Chávez em Havana, o presidente cubano foi para o aeroporto sem saber ao certo se o colega bolivariano estava chegando ou partindo da ilha. "É para dizer oi ou tchau?" - perguntou a seu ajudante de ordens.
Com a frequência dos encontros - Chávez vai mais a Cuba do que Lula ao Sírio-Libanês -, o sucessor de Fidel já não tem mais assunto com o companheiro, tantas foram as vezes que recebeu ou se despediu dele neste ano ao pé da escada do avião presidencial venezuelano.
"E o Bolívar, hein?!" - saiu-se com essa para quebrar o gelo no desembarque de ontem.
Se entre velhos camaradas é assim, imagina como devem ser sem graça encontros formais de chefes de Estado com menos intimidade, tipo Dilma e Obama no Salão Oval da Casa Branca.
O papo pra boi dormir de ontem em Washington foi o terceiro tête-à-tête entre os atuais presidentes do Brasil e dos EUA, mas imagina a dificuldade do anfitrião em tabular uma conversa sobre "política monetária expansionista dos países ricos", tema predileto da visitante quando está no exterior.
Restou a Obama mudar de assunto: "E o Lula, hein?!"

Começa assimCusta R$ 500 o ingresso mais barato para o show de Bob Dylan no Rio. Por muito menos, João Gilberto pegou aquela gripe que suspendeu sua turnê!

Louras demaisDilma Rousseff ainda não bateu o martelo da nomeação de Marta Suplicy embaixadora do Brasil nos EUA. Teme que Washington seja pequena demais para a senadora brasileira e a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.

Cabe mais umSe é mesmo verdade que Ricardo Teixeira pode voltar à CBF como presidente de honra da entidade, francamente, deve ter um cantinho honorário pro Demóstenes por lá, né não?

Aguinaldo é nosso rei!Embarcado com Dilma Rousseff na viagem aos EUA, oministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, ganhou status de rainha da Inglaterra na comitiva presidencial em Washington. Não apita nada, mas está prestigiadíssimo!

Agora vai!Quem já esteve com José Serra após a cirurgia dentária que o deixou de molho na Semana Santa garante: o candidato está com um sorriso lindo!

Sonho ruimAinda marcada pela vilania de sua personagemem Fina Estampa, Christiane Torloni virou pesadelo de orfanato fazendo campanha pela adoção de crianças na TV. A garotada prefere não ter mãe a viver sob o mesmo teto de Teresa Cristina.

Futebol arteA criatividade continua sendo marca registrada do futebol brasileiro. Emque outro lugar do mundo um time só se livra da segunda divisão se for campeão? Émais ou menos esta a situação do Bangu no campeonato carioca. Acredite se quiser!

Suplências - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 10/04/12

Uma das normas seguidas por articulistas de algum talento e outro tanto de experiência determina que caprichem na variedade dos assuntos que abordam. Profissionais de uma nota só cansam a paciência do leitor - e leitor cansado logo deixará de ser freguês de seus textos. O que representa sério risco para a carreira profissional dos cronistas de um tema só.
Como é óbvio, este prudente introito tem apenas uma razão de ser: este articulista, com algumas décadas de ofício, mas de rarefeito talento, vai mais uma vez comentar hábitos e costumes comuns nos Senadores da República. Uma vez só, prometo.
Lá vai: discutamos - a partir de revelações do jornal de domingo - as peculiares relações entre esses legisladores e seus suplentes. Diferentemente do que acontece na Câmara dos Deputados, os substitutos eventuais não são candidatos menos votados do que os titulares: fazem parte de suas chapas. Ninguém vota neles. A escolha do suplente obedece a um leque de critérios interessantes. Muitas vezes são cônjuges ou filhos dos titulares; mas também podem ser ricos cavalheiros que - com certeza por dever cívico - contribuíram financeiramente para a eleição do Senador.
A escolha do parente foi explicada, pelo menos num caso, com um argumento bastante compreensível: ela evitaria que o suplente torcesse - ou, sabe-se lá, tomasse alguma providência mais substantiva - pelo fim súbito da carreira legislativa do titular. É claro que essa hipótese existe apenas teoricamente: não há qualquer registro disso.
Os suplentes sem laço de parentesco são, quase todos, financeiramente muito bem dotados para ajudar a eleição do titular. Curiosamente, são escassos os registros de suas contribuições em dinheiro para a vitória nas urnas. É o caso, por exemplo, do segundo suplente do líder do governo no Senado - empresário com fortuna estimada em 1,52 bilhão e uns trocados. Não há registro na Justiça Eleitoral de que tenha doado um tostão furado para ajudar a eleição da chapa que levava o seu nome. Vai-se ver, ajudou apenas com conselhos e sugestões.
Há o caso de um suplente que assumiu o mandato do filho por quatro meses. 
Gastou mais de R$ 90 mil de dinheiro do Senado para divulgar a sua atuação na Casa. E fez um discurso no plenário defendendo surras de chicote em presos que se recusam a trabalhar.
Sejamos justos: nem todos são assim. Mas é óbvio que os mecanismos da suplência de mandatos legislativos merecem alguma revisão.

GOSTOSA


Pé no cadafalso - CAROLINA BAHIA

ZERO HORA - 10/04/12

Diante da pressão da opinião pública, o Conselho de Ética do Senado não terá outra saída e deverá acatar o pedido de quebra de decoro contra Demóstenes Torres. Até o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), agiu mais rápido do que gostaria na escolha do novo presidente do colegiado. Demóstenes é um político sem partido e tão enrolado, que ninguém tem coragem de defendê-lo oficialmente. A única esperança de escapar da cassação seria que os colegas o absolvessem na votação em plenário. Se isso ocorresse, no entanto, seria a total desmoralização do Senado. Na Casa, já se fala até em CPI. Por isso é que aumenta o movimento para que Demóstenes renuncie o mais rápido possível, acabando com o mal-estar generalizado.

Do começo
Vice-procuradora-geral eleitoral, a gaúcha Sandra Cureau espera concluir ainda nesta semana o seu parecer sobre o direito do PSD ao fundo partidário e ao tempo de TV. A avaliação foi solicitada pelo relator do caso no TSE, Marcelo Ribeiro. Sandra, que já havia se manifestado contra a criação da legenda, garante que a decisão não será contaminada pelo entendimento anterior:
- Daqui pra frente, zerou. Não tenho nada contra o PSD.

Alto risco
Porto Alegre lidera o ranking do número de fumantes no país. Dados inéditos do Ministério da Saúde revelam que cerca de um quarto dos homens (24,6%) e um quinto das mulheres (20,9%) da Capital têm o hábito de fumar. A cidade também está na frente em relação à quantidade de pessoas que consomem 20 ou mais cigarros por dia (10,7%). Os dados serão divulgados hoje pelo ministro Alexandre Padilha (foto).

Obesidade
Outro dado preocupante: Porto Alegre é a capital com maior índice de pessoas acima do peso ideal (55,4%). Além disso, de cada 10 mulheres, duas são obesas. Os dados são do Vigitel 2011, pesquisa que monitora os fatores de risco para prevenir o desenvolvimento de doenças crônicas.

Bota-fora
Ronaldo Teixeira se despede hoje da Representação do Estado em Brasília, em um jantar com a bancada gaúcha em homenagem ao novo coordenador, Renato Molling (PP). Em seguida, retorna a São Leopoldo com planos de disputar a prefeitura ou uma vaga na Câmara. Contrariados, líderes do PT gaúcho ameaçam não disponibilizar a legenda nem mesmo para sua candidatura a vereador.

JOGO RÁPIDO
Apesar dos padrinhos de peso, Cajar Nardes avisa que pediu exoneração do Dnit. Ele diz que não compactuava com a paralisia dos trabalhos. A cúpula do Ministério dos Transportes, porém, vinha tentando afastá-lo há tempo.
O ex-prefeito José Fogaça quer voltar a Brasília. A peemedebistas mais chegados, confessou disposição para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados em 2014.

As listas tríplices - HÉLIO SCHWARTSMAN

Folha de S. Paulo - 10/04/12


SÃO PAULO - O governador Geraldo Alckmin agiu democraticamente ao deixar de escolher o nome mais votado pelos procuradores para chefiar o Ministério Público, preferindo o que ficou em segundo lugar?

A questão é capciosa. Nosso primeiro impulso é o de considerar que os vitoriosos em eleições devam sempre ser entronizados. Esse é certamente o caso de pleitos gerais, mas não necessariamente os de instituições públicas. Em São Paulo, além do procurador-geral, são escolhidos por meio de lista tríplice elaborada a partir de eleições internas os reitores das três universidades estaduais.

O primeiro ponto a destacar é que essas instituições não são órgãos de classe, mas têm uma missão pública. Ainda que se admita que os procuradores e a comunidade universitária devem ter voz privilegiada na escolha de suas lideranças, não dá para excluir do processo o conjunto da população. É ela, afinal, que mantém as universidades e é em seu nome que os procuradores atuam.

Se a sociedade não pudesse palpitar, estaríamos incentivando o pior corporativismo. Reitores poderiam ser eleitos prometendo aumentar salários e acabar com as provas para alunos, mesmo que à custa de investimentos em pesquisa e da qualidade dos profissionais formados.

A questão, portanto, não é definir se a população tem o direito de interferir, mas se deve fazê-lo diretamente ou por representantes. A primeira opção, além de custosa, me parece ruim. Trocaríamos o corporativismo pelo populismo. Nos EUA, vários Estados fazem eleições diretas para procurador-geral e o resultado é uma Justiça com tintas mais sanguinárias do que técnicas.

Dar a escolha final para o governador, como no atual modelo, é legítimo, mas tende a ser politicamente desgastante. Uma opção no meio do caminho seria transferir a tarefa para a Assembleia Legislativa. Ela, afinal, existe para representar os interesses dos cidadãos.

Patrimônio da desumanidade - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 10/04/12


Sob gentil silêncio, a capital da República entrou nos destaques da lista de cidades mais violentas do país, e hoje comemora tal feito completando 55 dias de "operação tartaruga" da sua polícia.

Sem que o país chegasse a sabê-lo, a criminalidade avançou no Distrito Federal, solo do Patrimônio da Humanidade que é Brasília, até alcançar as assustadoras médias atuais de três homicídios por dia e de três sequestros-relâmpago diários, entre outros crimes de calibre semelhante.

Dois meses, praticamente, de "operação tartaruga" da polícia levam, em via direta, a uma pergunta óbvia: como é possível tamanho descontrole no território da própria capital do país?

A resposta é simples, apesar do inconveniente de forçar outra pergunta: o seu governador é Agnelo Queiroz -e o que mais faltaria para Agnelo Queiroz confirmar sua rara incapacidade?

Mas, sede do governo federal, Brasília tem, portanto, o convívio de dois governos. E aquele segundo, sobre ter autoridade e responsabilidade extensivas a todo o país, deve tê-las com mais facilidade em sua própria sede, nada menos do que centro da vida nacional.

Brasília está sob as vistas e os pés dos Poderes federais -Executivo, Judiciário, Legislativo- e, portanto, de numerosos braços do poder em condições funcionais e legais de iniciativas contra o crescimento alucinado da criminalidade. Seja ela, ou não, decorrente da "operação tartaruga". E, ao menos em parte, é (consta até que policiais comemoram por internet a ocorrência de mais um crime).

O remédio firme proposto pela legislação seria a intervenção federal no governo do Distrito Federal. Mas Agnelo Queiroz saltou para o PT, o que basta para refrear o remédio, e intervenção em ano eleitoral é problemática.

Intermediações, mobilização da Polícia Federal ou da Força Nacional, condições mais rigorosas sobre Agnelo Queiroz, no entanto, compõem as muitas possibilidades de providência.

Entende-se o descaso, no fundo. A Comissão Pastoral da Terra, ao fechar seu balanço de 2011, constata que houve, em relação a 2010, aumento de mais de 100% dos listados para serem assassinados no campo: são agora 172. Neste ano já foram 30 os mortos.

O relatório do Conselho Indigenista Missionário à ONU relata a morte de 300 índios no Javari (Amazonas), por doenças de branco não tratadas, e mais 250 guarani-kaiowá (Mato Grosso do Sul).

As execuções de integrantes do MST e de outros movimentos seguem com regularidade. Do final de março para cá, ao menos cinco, incluída a trabalhadora rural Dinhana Nink, de 27 anos, morta com um tiro no rosto diante do filho.

É, porém, como se nada houvesse acontecido. Três sequestros-relâmpago e três homicídios por dia no DF da capital do país, da capital Patrimônio da Humanidade?

Não é na enorme São Paulo, não é no Rio dos complexos comunitários. Mas, para os dois governos comprometidos e para os Poderes institucionais, nada aconteceu mesmo. A imprensa, por sinal, também está mal nessa ladainha.

A Unesco criou o belo título de Patrimônio da Humanidade. Nenhum outro componente da ONU teve a ideia de criar o título de Patrimônio da Desumanidade. Ainda bem.

Jogando verde para colher maduro - ROBERTO LUIS TROSTER

O Estado de S. Paulo - 10/04/12


É meritória a preocupação do governo com as margens de crédito. São as segundas mais altas do mundo, dez vezes superiores às praticadas no Chile. Para isso, a Caixa Econômica Federal, seguindo o Banco do Brasil, anunciou um plano agressivo de redução de taxas.

O objetivo da ação é forçar as demais instituições a emprestarem mais barato. Com isso, haveria uma diminuição na inadimplência e um aumento na oferta de crédito com impactos positivos no consumo, no investimento e no crescimento do país. Lamentavelmente, o anúncio terá um efeito pífio. Sem subsídios não é possível. A estrutura de custos das duas instituições não suporta reduções expressivas nas taxas cobradas, vão continuar cobrando caro pelo crédito. Já foi tentado no passado e também não deu certo.

Há outras medidas complementares sendo estudadas para estreitar as margens de crédito como reduções de custos e melhorias nas garantias oferecidas. Estão na direção correta, mas não vão mudar de forma expressiva o quadro de crédito caro e instável. Entretanto, o fato de que os anúncios e as ações tomadas não derem certo não é necessariamente ruim. É a oportunidade para que a sociedade e o governo notem que é preciso ir além e enfrentar a raiz do problema que é a falta de política consistente para o setor.

O conjunto de regras para a intermediação financeira é uma colcha de retalhos da época da inflação alta. É imperativo substituí-la por uma política que objetive a eficiência e a estabilidade da oferta de crédito e que inclua regras de precificação apropriadas, uma agência de proteção ao consumidor financeiro, tributação adequada, custos de observância baixos, uma transparência maior e um Banco Central mais focado em fazer acontecer.

Mais de uma centena de países têm taxas menores que as brasileiras, o que prova que é possível reduzir as taxas praticadas de maneira expressiva. Há benefícios consideráveis eliminando as distorções existentes; aos bancos que podem emprestar mais, a taxas menores e com menos riscos e ao país que pode se desenvolver melhor.

Consequências dos cortes de juros podem ser imprevisíveis - GILBERTO BRAGA

Folha de S. Paulo - 10/04/12


A concorrência está estabelecida, e os clientes só têm a ganhar com essa cruzada contra os juros; Não será surpresa se taxas mais baratas passem a estimular um aquecimento excessivo do mercado interno

O pacote de redução de juros anunciado pelo Banco do Brasil e pela Caixa colocou finalmente os juros praticados no Brasil dentro de padrões econômicos razoáveis e sustentáveis no longo prazo?

Com a intervenção da presidente Dilma Rousseff, os bancos públicos promovem um drástico corte em diversas linhas de produtos financeiros. No Banco do Brasil, por exemplo, a taxa do cheque especial caiu para o equivalente a um quinto em relação à taxa antes praticada.

A primeira consequência é que os bancos privados estão preparando reações e devem propor um pacote de medidas de redução de suas margens de juros, além, obviamente, de clamarem por estímulos fiscais e regulatórios. A concorrência está estabelecida, e os clientes bancários só têm a ganhar com essa cruzada contra os juros. Não será surpresa se, em pouco tempo, taxas mais baratas passem a estimular um superaquecimento do mercado interno brasileiro.

Além de jogar álcool na fogueira do consumo, as medidas do pacote promovem um momento único para os endividados renegociarem as suas dívidas, fazerem acordos em condições aceitáveis e limparem o nome nos serviços de proteção ao crédito.

Até porque, entre os especialistas, há dúvidas se esse patamar de juros será sustentado por muito tempo.

Para que esse cenário de juros módicos se mantenha e se afirme como um novo padrão real da economia, é necessário que a diminuição das margens praticadas seja compensada por um crescimento expressivo do volume das transações efetuadas, de modo a garantir os lucros das instituições financeiras.

Ao mesmo tempo, o governo deve manejar para que uma eventual explosão de consumo não ameace ainda mais as metas de inflação.

O jogo ficou pesado e, se comparado a uma partida de pôquer, todas as fichas na mesa estão sendo apostadas numa única rodada.

O governo está comandando o baralho e distribuindo as cartas entre os apostadores do mercado financeiro, que por sua vez pagarão para ver o resultado.

Se o consumidor interno crescer apoiado na redução dos juros, com a inflação razoavelmente controlada, o governo ganhará o jogo e dividirá a vitória com os bancos públicos e privados. Se o governo tiver errado a mão, as consequências serão imprevisíveis e podem comprometer o ano. A aposta foi alta e jogo está feito, só nos resta torcer pelo resultado.

Somos todos diferentes - ROSELY SAYÃO

FOLHA DE SP - 10/04/12


Voltar a juntar alunos com necessidades próprias em "escolas especializadas" é um grande retrocesso



O mundo contemporâneo é o mundo que celebra a diversidade. Construímos famílias com diferentes configurações, educamos filhos e alunos de todas as maneiras, temos escolas que praticam quase todos os métodos conhecidos (e outros nem tanto), a moda atende a todo o tipo de corpo e gosto etc.

Mas a diversidade nos incomoda tanto que acabamos escolhendo o semelhante. Mesmo sem perceber, nós procuramos o semelhante, o conhecido, o mediano. Evitamos o que escapa à média. Queremos ser diferentes, mas como a maioria.

Os mais novos, que já nasceram no mundo da diversidade, sabem conviver melhor com ela. Mas são impregnados com nossos preconceitos e estereótipos.

O fenômeno do Bullying, que tem destaque enorme e por isso mesmo foi banalizado, é uma evidência da recusa da diferença. Intimidar aquele que escancara uma diferença é uma maneira de recusá-la, não é verdade?

No dia 28 de março a Folha publicou o depoimento de uma mãe que tem um filho de 16 anos com necessidades especiais. Um filho diferente da maioria. O depoimento dela deveria tocar a todos nós.

Ela nos conta sobre sua dificuldade em encontrar uma escola que aceite o seu filho como aluno.

Já conversei com várias mães que vivem a mesma situação. Seja porque o filho apresenta comportamentos que a escola não sabe como trabalhar, seja por ter um estilo de aprendizagem que exige um ensino diferente, essas mães são orientadas a procurar o que chamam de "escola especializada".

Isso quer dizer que vamos juntar os diferentes para que eles não incomodem os que aparentemente -e só aparentemente- são iguais?

E ainda temos a coragem de afirmar que praticamos uma educação que é para todos e que nossas escolas educam para a cidadania?

Em pleno século 21, estamos retrocedendo no que diz respeito à educação escolar. Voltamos a uma prática que existiu pelo menos até os anos 1960. Até aquela época, alunos diferentes eram, obrigatoriamente, encaminhados para as consideradas escolas especializadas.

Você pode ver uma bela narrativa a esse respeito no filme "Vermelho Como o Céu". Esse filme conta a vida de um garoto que ficou cego aos 10 anos e, por isso, foi encaminhado a uma escola que só atendia alunos com deficiências visuais.

Munido de muita indignação e coragem, o garoto recusou a segregação e construiu uma trajetória nessa escola que a obrigou a ver o que o garoto, cego, conseguia enxergar. Quando olhamos para o diferente e só conseguimos localizar a diferença, acabamos por anular todo um potencial. De convivência, inclusive.

Esse filme foi baseado na história real de vida de uma pessoa que se tornou um renomado profissional de som do cinema italiano. Imaginem o que teria sido a vida dele se ele tivesse se conformado com a escola especializada...

Precisamos ter a mesma indignação e a mesma coragem mostrada pelo protagonista do filme para que nossas crianças e nossos jovens que são diferentes, ou melhor, que mostram de imediato uma diferença, possam ter a mesma oportunidade que seus pares.

Eles precisam viver no mundo como ele é, viver nos mesmos espaços públicos que todos, inclusive o espaço escolar, e conviver com todo tipo de pessoa, não apenas com aqueles que também portam diferenças aparentes.

Todos somos diferentes. Se não respeitarmos as diferenças, se não aprendermos a conviver com a diferença, isso recairá, uma hora ou outra, contra nós e contra nossos filhos.

O que fará Khamenei? - KARIM SADJADPOUR


O Estado de S.Paulo  - 10/04/12


Nenhum acordo nuclear pode ser fechado sem o líder supremo, mas é quase impossível alcançar um com ele



O aiatolá Ali Khamenei nunca foi afeito ao jogo. Depois de se tornar líder supremo do Irã, em 1989, ele buscou preservar o status quo evitando decisões transformadoras. Mas conforme pressões políticas e econômicas sem precedentes o deixam cada vez mais cercado, Khamenei parece ter diante de si dois rumos para a salvação: uma concessão nuclear ou uma arma nuclear. Cada uma das opções pode trazer perigos para ele; ambas seriam transformadoras para o Irã.

Todos conhecem a aversão de Khamenei às concessões. Faz tempo que ele diz que o verdadeiro objetivo de Washington para Teerã não é uma mudança de comportamento, e sim uma mudança de regime. Assim como a perestroika acelerou a queda da União Soviética, Khamenei acredita que fazer concessões nos ideais revolucionários pode levar à desestabilização dos alicerces da República Islâmica.

Em comparação, os testes nucleares realizados pelo Paquistão, em 1998, ajudaram a transformar a pressão estrangeira e as sanções contra o país em disposição de negociar e incentivos oferecidos pelo exterior.

Mas, por mais que Khamenei seja avesso às concessões, o rumo que leva à bomba seria perigoso. É muito provável que sinais claros do desenvolvimento de armas - a expulsão dos inspetores internacionais ou o enriquecimento de urânio ao nível necessário para a fabricação de armas - desencadeiem uma ação militar por parte dos EUA ou de Israel.

A não ser que Khamenei queira provocar um ataque militar ao Irã para atender a finalidades domésticas - uma possibilidade improvável, mas plausível -, o líder supremo vai seguir favorecendo uma abordagem para ganhar tempo. Neste ritmo, o Irã ainda está a pelo menos dois anos da obtenção de uma bomba.

Mas o tempo pode não ser mais o aliado de Khamenei. Ele deve calcular se o seu regime será capaz de suportar uma pressão econômica aguda e crescente durante o período necessário à obtenção da bomba. Ele deve calcular se seu regime será capaz de suportar uma pressão econômica aguda e crescente durante o período necessário para a obtenção da bomba. E o avanço no rumo da arma nuclear não seguiria uma linha reta.

As poucas vezes nas quais o Irã cedeu de maneira significativa - como no fim da guerra contra o Iraque em 1988 ou a suspensão do enriquecimento de urânio em 2003 - ocorreram quando o regime temeu pela própria existência. Por mais que o país se veja hoje sob intensa pressão, dois fatores são diferentes. Primeiro, quando o Irã sentiu a necessidade de fazer concessões no passado, o barril de petróleo custava menos de US$ 25. Hoje, este preço é cerca de quatro vezes superior, aliviando o impacto das sanções.

Segundo, as situações em que o Irã cedeu foram lideradas pelo astuto ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani.

E aí que jaz o enigma político que Washington precisa decifrar: nenhum acordo nuclear com Teerã pode ser fechado sem Khamenei, mas é quase impossível que um acordo do tipo possa ser feito com ele. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Responsabilidades e borboletas - JAIRO MARQUES


FOLHA DE SP - 10/04/12

Meu grande amigo Luizão, que em janeiro do ano que vem vai completar 65 Carnavais e poderá pagar menos Imposto de Renda, está sem dormir direito há duas semanas.
Não, ele não está com aquela insônia típica de alguns vovôs. Ele acorda mesmo é para ajudar na troca de fraldas e para fazer um mimo em Luizinho, seu bebê recém-nascido.
Antes do desabrochar do pequeno, o fotógrafo mais safo que já conheci na vida -não só seduz qualquer um a posar para um retrato como ajuda o repórter a fazer as melhores perguntas- era a cara da preocupação mais pura (e legítima).
Iria conseguir dar educação ao moleque? Iria acompanhar o ritmo dele? Iria ter paciência com os choramingos diuturnos? Iria saber manejar com ele o "iPad ad infinitum"?
No momento em que a vida acenava ao meu amigo com a sedução mansa de um bonezinho e uma vara de pescar, um vento bateu mais forte e jogou em sua cacunda uma nova responsabilidade.
Obviamente, um bebê que chega também é uma alegria, uma realização, um "ai, que gracinha". É um aceno de novas possibilidades para os velhos problemas, para transformar a alma desacorçoada com a raça humana em pura esperança de um futuro melhor.
Ser pai com mais de 60 anos tem se tornado comum. O acesso à pilulazinha que leva felicidade para debaixo dos lençóis é amplo, as relações entre pessoas com diferentes faixas etárias não é algo tão lazarento como no passado, a expectativa de chegar aos cem anos todo pimpão é real.
O que ainda não é assim, totalmente resolvido e deslumbrante, é ter de assumir novos e desafiadores comprometimentos para o dia a dia em um momento em que muita gente já quer mesmo é descer a ladeira e estirar o corpo na sombra de uma prainha qualquer.
O cineasta italiano Nanni Moretti põe o bode na sala diante dessa questão -e de outras- com seu formidável "Habemus Papam", ainda em cartaz em algumas salas pelo país.
"Que Deus me livre, nesta altura da jornada terrestre, ter de encarar a 'roubada' de ser o sumo pontífice", refletiam os cardeais da película, todos bem velhinhos, momentos antes da votação para a escolha de um novo líder máximo dos católicos, que poderia ser qualquer um dos votantes.
E o filme é engraçadíssimo do começo ao fim. Todo ele em torno do enrosco papal um tanto inusitado. Ao mesmo tempo, a história me despertou a cuca para pensar e ir longe em um debate muito atual por bandas latinas: os mais velhos assumindo ou reassumindo a labuta de tocar o rumo da prosa da humanidade adiante.
Cada vez mais, são os ditos velhos que proveem famílias, que administram empresas, que comandam países, que curam doenças. Muitos com a mesma presteza com que meu amigo Luizão há de cuidar de Luizinho.
Mas, por trás dessa realidade, há o ônus de não poder jogar dominó, deitar na rede por longas horas, ler um livro chato até acabar, ficar por dias imaginando, igual ao poeta Manoel de Barros, "que o mundo visto de uma borboleta seria, com certeza, um mundo livre aos poemas.

Fraco desempenho de Haddad inquieta o PT - RAYMUNDO COSTA


Valor Econômico - 10/04/12


Bate nos nervos do PT a falta de resposta da candidatura Fernando Haddad nas pesquisas de opinião. Por esta época, nas eleições de 2010, a candidata Dilma Rousseff já estava com 30% nas sondagens eleitorais, muito embora tenha entrado na corrida presidencial assim como Haddad entrou agora na eleição para prefeito de São Paulo: desconhecida e sem nunca antes ter participado de uma disputa eleitoral.

São situações diferentes, é claro. Em março de 2010, o ex-presidente Lula já estava há quase dois anos trabalhando ativamente pela candidatura de Dilma. Na realidade, em setembro de 2009 Dilma tinha 15% das intenções de voto, foi a 17% em dezembro e alcançou os 30% em março, segundo pesquisa Ibope.

Outra preocupação do PT é a falta de garra do candidato, o que Dilma demonstrou ter de sobra nos debates da sucessão presidencial. À época, os tucanos contavam que José Serra, mais experiente, daria um baile nos debates, o que não ocorreu. As manifestações de Haddad, nesta pré-campanha, parecem o que efetivamente são: respostas prontas redigidas por marqueteiros.

Troca de candidato agora seria uma derrota para Lula

É alta a carga de ansiedade no PT, mas tanto no partido quanto no Palácio do Planalto não se cogita até agora substituir o candidato, como se especula entre deputados e senadores, mesmo se o ex-ministro da Educação continuar patinando nas pesquisas. Na cúpula petista o limite para Haddad se mexer nas pesquisas é junho. Limite no sentido de viabilização eleitoral, nunca de mudança do candidato.

No Palácio do Planalto não se espera que Haddad, até agosto, dê grandes saltos na pesquisa, como aconteceu com Dilma entre setembro de 2009 e março de 2010 (o ano da eleição presidencial). Entre auxiliares próximos da presidente também afirma-se que não há risco de Haddad ser substituído por outro candidato. Os dirigentes petistas não abririam o jogo se Haddad tivesse prazo de prescrição. Mas tudo indica que essa é realmente a posição do PT: a retirada do ex-ministro seria uma "grande" derrota de Lula, num momento pessoal difícil para o ex-presidente da República.

Haddad é uma aposta pessoal de Lula que o PT encampou, apesar de o partido não ter a mesma visão de Lula sobre o poder de fogo do ex-presidente para eleger o prefeito da cidade de São Paulo. Ao contrário das outras grandes capitais, o governo federal é praticamente invisível em São Paulo. As principais universidades, por exemplo, são USP e Unicamp. Não há hospital federal que se sobressaia ao cenário local. Desde 1985, São Paulo nunca elegeu um prefeito alinhado pessoal e partidariamente com o presidente da República.

Há uma "inquietação natural", reconhece a cúpula do PT, e até julho Haddad deve ficar no sereno. O partido perdeu na Justiça Eleitoral o tempo de televisão a que tinha direito neste semestre, inserções e um programa que pretendia usar para tornar mais conhecido o candidato. A ideia é apressar as negociações com os aliados e começar a apresentar boas notícias, para ver se Haddad reage nas pesquisas até junho.

Está em curso uma diligência para apressar o anúncio da aliança com o PSB. Mais que o apoio do partido vale o tempo de televisão que ele pode agregar a Fernando Haddad na propaganda eleitoral. Qualquer 15 segundos é mais importante para o ex-ministro do que o apoio formal de partidos sem peso eleitoral em São Paulo. Eles não significam votos, apenas tempo no horário gratuito para tornar mais conhecido o candidato do partido.

Apesar da ansiedade de parlamentares e militantes, na cúpula há certa tranquilidade porque avalia-se que o candidato do PT terá o desempenho histórico do partido na cidade, em torno dos 30%. Ou seja, seu candidato provavelmente estará no segundo turno, o que já poderá ser considerado uma vitória de Lula. Se Haddad for para o segundo turno contra José Serra e perder, o PT não perde com o antigo, perde com o novo e sai da eleição com uma nova alternativa para as eleições seguintes. A incógnita, nos cálculos do PT, é o candidato do PMDB, Gabriel Chalita.

O; senador Lindbergh Farias (PT-RJ) é uma alternativa real para a disputa do governo do Rio de Janeiro, em 2014. Em princípio, o candidato da aliança PT-PMDB é o vice-governador Luiz Fernando Pezão. A quase dois anos da eleição, Pezão dá sinais de que é candidato de um dígito, tanto que já se fala no PMDB e no Palácio do Planalto em outra opção no campo do governador Sérgio Cabral: José Mariano Beltrame, o secretário de Segurança Pública que carrega no currículo as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Ocorre que há dúvidas sobre a intenção do secretário de seguir carreira política.

Atualmente, o ex-governador Anthony Garotinho lidera as pesquisas de opinião para o governo do Rio de Janeiro, com algo em torno dos 30%. Lindbergh aparece na faixa dos 20% e Pezão, dos 2%. A avaliação no PT é que não há possibilidade de Pezão chegar à frente de Lindbergh em 2014. O PT acha que chegou a hora de ter um candidato competitivo ao governo do Rio, Estado onde o partido perdeu o rumo após a intervenção do diretório nacional, em 1988, para deletar a candidatura do ex-deputado Vladimir Palmeira e apoiar Garotinho na eleição para o governo estadual. Lindbergh, nas eleições municipais, ameaçou sair candidato, mas se engajou na reeleição de Eduardo Paes (PMDB). O prefeito não deve deixar o cargo para concorrer em 2014 - seu projeto é fazer bonito na Olimpíada de 2016 e chegar como candidato franco favorito nas eleições seguintes. O próprio Lindberg acha que Paes "será um foguete em 2018". Sua chance, portanto, seria agora, em 2014.

O ex-presidente da UNE já abriu mão de ser candidato, na eleição passada, a pedido do ex-presidente Lula. Num momento de renovação política do PT nacional, ele trabalha para chegar a 2014 como candidato do próprio Cabral e de Lula, seu padrinho político, que tem compromisso com o candidato de Cabral. Esse candidato, por enquanto, é Pezão.

O trio mortal - YOSHIAKI NAKANO


Valor Econômico - 10/04/12


Em qualquer análise comparativa da macroeconomia brasileira com os demais países do mundo, três fatos colocam o Brasil como um "outlier". O Brasil tem mantido, nas últimas duas décadas, a maior taxa real de juros entre todos os países do mundo e a maior carga tributária entre países de renda per capita similar. Nos últimos dez anos foi o país que mais apreciou a sua moeda. Esse trio está destruindo a industria brasileira, colocando a nossa estrutura produtiva numa rota de especialização regressiva e, aos poucos, vamos estrangular a nossa "galinha de ovos de ouro": o dinâmico mercado doméstico.

Os dois preços fundamentais da macroeconomia, taxa de câmbio e taxa de juros, estão completamente fora do lugar e o governo apropria quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB) entre impostos e outras receitas. Com o governo gastando mal e investindo uma parcela ínfima, crescemos 2,7% no ano passado e o nosso desempenho no futuro não poderá ser melhor. Ou seria muito pior, não fora o grande prêmio de loteria que recebemos do exterior, com grande ganho em termos de troca a partir de 2003.

O mais contrastante é que o Brasil havia se tornado "a bola da vez". É óbvio que para o especulador financeiro nosso país se tornou o paraíso: a conjugação da maior taxa de juros com a maior apreciação do real, resulta em retornos recordes. O problema é que esse fantástico afluxo de capitais do exterior não moveu nenhum milímetro a nossa taxa de investimento produtivo, que se mantém oscilando abaixo dos 20% do PIB.

Corremos o risco de regredir para a economia primário-exportadora, como fomos durante o século XIX

Mas não foi só isso que tornou o Brasil a "bola da vez". Muitos investidores mais de longo prazo passaram a acreditar no "grande potencial de crescimento da economia brasileira". Uma economia de dimensão continental em pleno "bônus demográfico", com mercado doméstico em forte expansão com a incorporação de mais de 40 milhões de pessoas para a classe média nos últimos dez anos, com complexa e moderna estrutura produtiva manufatureira e agropecuária, dotado de riqueza natural de fazer inveja frente a um mundo voraz, tornando os termos de troca extremamente favoráveis e ainda com potencial imenso de produção de energia verde e grande reserva de petróleo no pré-sal.

Diante desse potencial, qualquer analista que acreditasse que o Brasil teria um mínimo de competência para fazer políticas racionais voltadas para o crescimento econômico, apostaria mais em nós do que na China, India ou Rússia. Infelizmente, quando olhamos para a nossa triste realidade, nos deparamos com o trio mortal, (taxa real de câmbio apreciada, taxa de juros estratosférica e carga tributária crescendo ano após ano), arrastando o país para o limite inferior do seu potencial de crescimento.

Se o Brasil praticasse taxa de câmbio, taxa de juros e carga tributária próximas às da China e India, com certeza, poderíamos crescer, no mínimo, tanto quanto esses países, pois temos um potencial maior e um mercado doméstico mais dinâmico.

O trio mortal é persistente há muitos anos e um alimenta o outro. No passado, podíamos culpar o grande déficit público e o excessivo endividamento publico como os responsáveis pela elevada taxa de juros praticada no Brasil. Mas isso não é mais verdade, a situação fiscal melhorou muito. A taxa real de juros sofreu queda ao longo dos anos, mas encontra um piso que a mantém num nível recorde mundial. A explicação para isso é óbvia e muito simples: o Banco Central utiliza, inacreditavelmente, a taxa de juros paga pelos títulos públicos de longo prazo no "overnight", deslocando toda a curva de juros para cima. Se as nossas taxas de juros fossem equivalentes às internacionais, poderíamos reduzir a despesa pública e a carga tributária, em pelo menos, 4 a 5 pontos percentuais do PIB. Os investimentos, por sua vez, poderiam aumentar os mesmos pontos percentuais do PIB, o que aceleraria o crescimento da economia brasileira para 5%. Como o governo, ao longo dos anos, aumenta a carga tributária e realoca recursos de setores mais produtivos (indústria de transformação) para setores com menor produtividade e, menor dinamismo (serviços públicos etc), compromete o aumento de produtividade total da economia brasileira, isto é, o crescimento econômico.

A elevada carga tributária (não recuperável) e a elevada taxa de juros comprometem a competitividade da indústria brasileira, fazendo com ela perca participação, tanto no mercado doméstico (com invasão das importações), como no externo (nossas exportações perdendo espaço para países com política cambial mais agressiva). O diferencial de taxa de juros torna atrativo investir em reais, atrai um influxo de capitais especulativos de curto prazo tão grande do exterior que torna uma missão quase impossível administrá-los para controlar a taxa de câmbio.

Some-se a isso, o grande salto nos termos de troca e daí a tendência persistente à apreciação da taxa de câmbio no Brasil. O que agrava definitivamente a competividade da indústria de transformação brasileira. Com isso, ela está praticamente estagnada desde 2006, enquanto a demanda doméstica vem crescendo em torno de 6%. Como o setor com maior potencial de crescimento da produtividade - a indústria de transformação - não cresce, a produtividade média também não cresce e perdemos a maior arma para contrabalançar a tendência de apreciação da taxa de câmbio, em função do aumento de preços das commodities. Hoje a indústria de transformação representa apenas 15% do PIB.

Se mantivermos o trio mortal, o nosso futuro será regredirmos para uma economia primário-exportadora, como fomos no século XIX, conjugado com um imenso e inchado setor de serviços à la Grécia, Portugal ou Espanha.. Até que uma crise maior nos acorde.

Dívida estadual e guerra fiscal - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 10/04/12


Por vias tortas, governadores conseguiram envolver a presidente Dilma Rousseff em sua campanha para baratear as dívidas estaduais refinanciadas pelo Tesouro Nacional nos anos 90. A maior parte dos Estados estava quebrada, naquela época, depois de muitos anos de farra financeira. Empenhado em reorganizar as contas públicas, o governo federal refinanciou aquelas dívidas por 30 anos. Os governos pagariam correção monetária com base no IGP-DI, o indicador tradicional calculado pela Fundação Getúlio Vargas, e juros anuais de 6% ou 9%, segundo o caso. O esquema aliviou as finanças estaduais por algum tempo, mas o custo acabou sendo muito alto, o saldo devedor cresceu e há alguns anos os governadores vêm tentando uma revisão do acordo. A pretensão é justificável. Mantido o acerto original, as dívidas serão impagáveis e as políticas estaduais continuarão, por tempo indefinido, sujeitas a uma restrição financeira sem propósito.

O assunto, complexo e delicado, estava em estudo no Ministério da Fazenda havia algum tempo, mas os governadores cobravam mais pressa na solução do problema. A questão era muito mais urgente para eles do que para o governo central. A situação mudou com o problema gerado pela guerra dos portos. Diante dos danos causados à indústria pelos incentivos à importação concedidos em alguns Estados, o poder federal foi forçado a agir.

O senador Romero Jucá, então líder do governo, apresentou a Resolução n.º 72 para mudar a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nas operações interestaduais. Com a redução da alíquota interestadual para 4%, os governos responsáveis pela guerra fiscal perdem boa parte das vantagens obtidas com a formação de núcleos importadores. Mas, como essa guerra foi movida por 10 Estados, seria complicado obter o apoio necessário para aprovar a resolução.

A revisão dos termos do acordo sobre as dívidas estaduais foi uma das moedas oferecidas pelo governo federal. Essa moeda interessa a todos os Estados, tanto aos agressores quanto aos agredidos na guerra dos portos. A solução de um velho problema - o das dívidas muito caras - passou a ser uma condição política para a solução do outro - o da guerra fiscal entre Estados.

A mera troca do IGP-DI por qualquer outro indexador seria uma solução precária. Uma alteração importante na evolução das várias categorias de preços poderia mudar todo o cenário, em pouco tempo, e anular as possíveis vantagens obtidas com a troca. Uma nova hipótese, discutida na semana passada, parece muito mais promissora. Em vez de se trocar apenas o indexador, muda-se diretamente o encargo total da dívida: os Estados passam a pagar a Selic, a taxa básica de juros definida pelo Banco Central, a mesma adotada para o pagamento dos títulos federais. A solução pode ser imperfeita e talvez valha a pena discuti-la mais longamente, mas é, à primeira vista, bastante razoável.

Muito menos razoável é a barganha política montada para a eliminação da guerra dos portos. O governo federal se dispõe a pagar por isso como se os governos culpados por essa guerra tivessem algum direito. Não têm - nem esses nem outros governos envolvidos em outros episódios de conflito fiscal. Pela lei, incentivos dependem de aprovação do Conselho de Política Fazendária (Confaz). Muitos benefícios foram concedidos por muitos Estados, durante décadas, em evidente violação desse preceito. No caso da guerra dos portos, houve um fator agravante: a política fiscal foi usada para impor uma concorrência desleal à indústria brasileira, com grave prejuízo para a criação de empregos no Brasil.

Para reforçar sua oferta, o governo federal ainda se comprometeu a apoiar uma redistribuição do ICMS cobrado nas operações interestaduais de comércio eletrônico. A mudança depende de um projeto de reforma constitucional em exame no Congresso. A aprovação da Resolução n.º 72 pode ser um pequeno passo para a ampla alteração necessária à modernização do sistema de impostos e contribuições. Mas uma reforma feita aos pedacinhos dificilmente terá o alcance e a coerência indispensáveis a um sistema equilibrado e funcional.

Tragado na cachoeira - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 10/04/12

O amplo leque de relações do contraventor Carlinhos Cachoeira fez sua primeira vítima no Planalto. O subchefe de Assuntos Federativos da Presidência da República, Olavo Noleto, vai deixar o cargo. Orientada pela presidente Dilma, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) vai afastar o auxiliar. Mesmo Noleto não sendo integrante da organização de Carlinhos Cachoeira, há registro de um contato, por telefone, entre Noleto e o número dois de Cachoeira, Wladimir Garcez. As aparências falam mais alto.

O PSDB não quer saber de CPI
A exemplo dos petistas e contrariando suas declarações públicas, os tucanos também não têm simpatia por uma CPI sobre a Operação Monte Carlo. Um integrante da Executiva Nacional revelou que não interessa a eles submeter o governo de Goiás a uma investigação, pois isso poderia paralisar seu governo. Na semana passada, Perillo leu um relatório reservado da Polícia Federal, para integrantes da direção nacional, que diz: "Não há elementos mínimos que demonstrem a participação da autoridade supracitada na organização...". Mas as bancadas estão inquietas e temem a contaminação da sigla, em ano de eleição municipal.

"A investigação até agora só mostrou uma ponta do iceberg. Falta a ponta privada e a do Poder Judiciário” — Jilmar Tatto, líder do PT na Câmara (SP)

SENAI TURBINADO. O presidente da CNI, Robson Andrade, vai anunciar na sexta-feira, em solenidade com a presença da presidente Dilma, o novo Senai. A entidade investirá R$ 1,9 bilhão na construção, até 2014, de 53 centros de formação profissional, na instalação de 23 institutos de inovação e 38 institutos de tecnologia. O objetivo do Senai é chegar a 2014 com 4 milhões de alunos matriculados em seus cursos profissionalizantes. No ano passado eram 2,4 milhões de estudantes.

Ele tem a força
Há duas CPIs para serem instaladas na Câmara: a da Privataria e a do Carlinhos Cachoeira. Ambas do deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP). O presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), vai decidir se há ou não fato determinado.

Ufa!
O PSDB comemora. O decreto que legaliza os caça-níqueis, assinado pelo governador Marconi Perillo, era de renovação. O decreto original foi editado pelo ex-governador Maguito Vilela (PMDB). O fato ocorreu em outros estados.

Responsabilidade compartilhada
Os ministérios do Meio Ambiente e da Saúde e a Anvisa preparam nova legislação sobre resíduos sólidos. O governo quer que as empresas industriais e comerciais assumam a tarefa de recolher embalagens usadas (em postos de gasolina) e remédios vencidos (nas farmácias). Os consumidores também seriam chamados a devolver o que foi descartado. Há resistências no setor produtivo às mudanças, devido ao custo operacional

A promessa
A presidente Dilma se comprometeu com a área da Educação a destinar 10% do PIB para o setor. Mas relatório de comissão da Câmara fixou em 7,5%. A bancada do setor vai hoje tratar do tema com o ministro Guido Mantega (Fazenda).

No olho do dragão
Ex-conselheiro do Cade, Fernando Furlan está voltando ao país. Na quarentena, fez um pós-doutorado em Direito do Comércio Internacional na Universidade de Macau. Ele diz: "Os chineses vão (se já não estão) dominar o comércio".

O DEPUTADO Reguffe (PDT-DF) está apostando nos seus eleitores. Apresentou projeto reduzindo o número de deputados para 300. Hoje são 513. Ele diz que a Câmara está "inchada".

PROTESTO do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) com a proposta do governo Dilma de mudar o indexador da dívida dos estados de IGP para Selic: "O devedor não pode aceitar taxa fixada pelo credor".

PARLAMENTARES experientes advertem: qualquer CPI que for criada agora só funcionará um mês. Em junho, o mundo político entra em ritmo de eleições. 

Ganhadores e perdedores - ANTONIO DELFIM NETTO


Valor Econômico - 10/04/12


A teoria do comércio internacional e o mundo mudaram muito desde quando Adam Smith (1776) demoliu o mercantilismo nacionalista, que acreditava que uma balança comercial favorável traria para o país ouro e prata, que poderiam ser utilizados para fazer "a guerra e sustentar a armada e os exércitos em países distantes".

Quando olhamos mais atentamente, a mudança parece ser menor. Com o "dollar standard" e o "privilégio excessivo" do Estado emissor, a coisa na segunda metade do século XX não parece ter sido muito diferente... Baseado naquela doutrina, a política econômica dos mais importantes países do século XVI impunha restrições às importações e encorajava as exportações. O comércio exterior seria um jogo de soma zero: o que um país ganhava o outro perdia.

Usando as horas de trabalho como unidade de medida, o velho Smith mostrou o equívoco embutido nessa proposição. Da mesma forma "que o alfaiate não faz o seu sapato, mas compra-o do sapateiro" (a divisão do trabalho aumenta a produtividade pela especialização), as nações poderiam beneficiar-se desse princípio. O comércio exterior não seria, necessariamente, de soma nula: o que não se podia determinar é como se dividiriam os resultados da vantagem absoluta entre os países.

Quem decide se vale à pena perder ou ganhar é a urna

O primeiro avanço revolucionário sobre essa proposição foi a observação de David Ricardo (1817), que não era preciso a vantagem absoluta. Bastava uma vantagem relativa dentro de cada país. Mas continuaram ainda sérias dúvidas de como se dividiriam entre os dois países os ganhos do comércio que saltavam à vista nos exemplos aritméticos cuidadosamente preparados, nos quais a especialização é completa. De fato, não estava excluída a possibilidade de que eles fossem muito desiguais.

Uma tentativa razoável para "explicar quais os fatores que determinam o comportamento do que é exportado e importado" por um país veio só um século depois. Conhecida como teoria Heckscher-Ohlin, ela afirma que os bens que requerem, na sua produção, muito dos fatores abundantes no país e pouco dos fatores escassos são exportados em troca dos que requerem o oposto. Assim, os fatores de produção com oferta abundante são indiretamente exportados e os com oferta pequena são importados. As conclusões da teoria são interessantes no curto e no longo prazo.

Pensemos num país A, onde os preços relativos dos bens agrícolas com relação aos industriais são menores do que no país B. Quando se inicia o comércio, os preços respondem imediatamente. Em A, os preços agrícolas sobem e os industriais caem e, portanto, aumenta a produção de bens agrícolas e diminui a de bens industriais.

No país B, há um movimento simétrico e de sinal contrário. E depois? No país A (e no B), a utilização dos fatores vai se alterando até que os preços dos fatores e dos produtos se igualem no longo prazo. Há um ganho geral no comércio, cuja distribuição continua incerta.

Mas há, também, cidadãos ganhadores e perdedores dentro dos países. A teoria é impotente para explicar boa parte do comércio mundial atual, onde a indústria exporta e importa os mesmos produtos e é dominada por imensos conglomerados internacionais, que fragmentam a sua produção por dezenas de países na procura de uma minimização de custos através do comércio intraempresas.

Desde o fim da década de 70 do século passado, desenvolveram-se novas teorias que introduzem as "economias de escala" internas e externas e reconhecem o regime de competição monopolística. A incorporação dessas novas realidades melhorou a qualidade do nosso conhecimento, mas não aumentou nossa capacidade de extrair recomendações "normativas" de modelos abstratos. O que ainda resta de incerteza induz a maioria dos economistas a reconhecer as vantagens da liberdade de comércio "cum grano salis".

Aqueles que recomendam a "absoluta liberdade de comércio", supondo que ela é produto de um teorema bem demonstrado com hipóteses realistas, devem saber que não há dúvida sobre o ganho geral. A incerteza é sobre quem ganha e quem perde (no nível dos países e no nível dos seus cidadãos), o que sugere que tenham mais cuidado.

Aventuram-se sem bússola num mar revolto, quando afirmam que a intervenção do governo viola as regras do mercado e introduz "distorções", como aconteceu há poucos dias num respeitado programa de televisão. O que os entrevistadores não lhe perguntaram foi: "Distorções com relação a que? " A um modelo teórico em vias de construção e aperfeiçoamento há dois séculos e meio, e que ainda continua envolvido nas maiores duvidas?

Uma pequena observação para terminar. Quem decide se vale à pena perder ou ganhar, no nível macroeconômico e no do cidadão, é a urna. Não nós, os economistas, nos laptops. Esta é, claramente, e ainda que não gostemos disso, uma questão política. Podemos, modestamente, usar os nossos conhecimentos para ajudar a sociedade a escolher o que consideramos o melhor caminho, mas é imoral sugeri-lo em nome da "ciência econômica".

GOSTOSA


Liderar e influir - RUBENS BARBOSA


O GLOBO - 10/04/12

Vinte anos atrás, o Brasil lutava para sobreviver às fortes crises internacionais e à grande instabilidade econômica interna. Ainda está na memória coletiva o impacto das crises mexicana, asiática, russa e argentina, dos desmandos do estado empresário, da crise fiscal, e dos efeitos nefastos da inflação para o trabalhador.

Respaldada pelo fortalecimento e crescimento da economia brasileira e pela estabilidade política e institucional, a percepção externa sobre o Brasil mudou gradualmente, ao mesmo tempo em que, no cenário internacional, aumentou a visibilidade e a atuação brasileira, agora como a 6 economia global.

O cenário internacional experimentou mudanças de natureza tectônica, aceleradas pela crise financeira e econômica que abalaram os fundamentos da globalização e do mercado. O novo cenário eliminou o unilateralismo bushiano e trouxe a multipolaridade dos centros de poder econômico e político, tendo como elemento principal o surgimento dos países emergentes como, em especial, a China, a Rússia, a Índia e o Brasil.

Dentro desse novo quadro, esboçado de forma sumária, quais os grandes desafios que o Brasil passou a enfrentar?

Quando combinados os dois aspectos mencionados (as transformações globais e a projeção externa), surgem pelo menos dois desafios para os formuladores de políticas econômica e externa: como ajustar a política econômica interna a essas mudanças e como adaptar a política externa ao novo papel que o Brasil passou a desempenhar no concerto das nações.

De maneira bastante simplificada, os desafios da economia interna são a manutenção e a ampliação das taxas de crescimento, a manutenção do controle da inflação, a perda da competitividade, a desindustrialização e os problemas que cercam o comércio exterior. O Brasil crescentemente integrado na economia global está vulnerável à crise econômica europeia e à desaceleração da economia dos EUA, pela redução das exportações, dos fluxos e das linhas de crédito à exportação, pela avalanche de produtos chineses.

Na política externa, ajustes começam a ser feitos, mas deverão ser incrementados em função do novo papel desempenhado pelo Brasil. Temos de enfrentar o desafio de ter de assumir a liderança em nossa região e repensar o processo de integração e o Mercosul. Ademais, o Brasil terá de aceitar novas responsabilidades perante a comunidade internacional nos temas globais e nas áreas de conflito, onde manifestamos interesse em ter um papel mais preeminente, como na África e no Oriente Médio. Temos de enfrentar a contradição entre interesses e valores que também confronta países que já ocupam posição de visibilidade e influência no contexto das nações. Sem perder de vista nossos interesses políticos, econômicos ou comerciais, não podemos deixar de defender valores que respeitamos internamente como democracia e direitos humanos.

Para exercer efetiva liderança e passar a influir de forma concreta, o Brasil tem de ser propositivo, como ocorreu corretamente em dois exemplos recentes: a proposta de discutir-se não só a responsabilidade de intervir, mas também a responsabilidade ao intervir, tendo em mente o desastre ocorrido na Líbia, e a proposta feita ao secretário-geral das Nações Unidas para se examinar a legalidade, perante as normas internacionais, do direito de intervir preventivamente em terceiros estados, como ocorre agora nas ameaças ao Irã. O Brasil já está sendo propositivo em relação à África, mas poderia ser mais explícito em relação aos EUA e ao Brics, novo e importante instrumento da política externa brasileira para projetar nossos interesses além dos limites territoriais sul-americanos. Os resultados da visita presidencial a Washington e do encontro do Brics na Índia são exemplos recentes dessa atitude.

Em conclusão, o Brasil enfrenta hoje um grande desafio geopolítico e geoeconômico. Temos de sair de uma posição defensiva nas políticas econômica e externa e decidir que país queremos ser. A ausência de debate sobre essas questões mostra uma falta de visão estratégica de médio e longo prazo do governo, dos trabalhadores e do setor empresarial.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 10/04/12



Normas da Fifa dificultam retorno para investidores

Além de inflar os orçamentos dos estádios da Copa, as novas exigências da Fifa dificultam a viabilidade financeira para manutenção dos projetos após 2014.

O valor de parte das arenas foi definido a partir da quarta versão da cartilha de recomendações da Fifa, adotada para a Copa de 2010.

Em 2011, os organizadores receberam o quinto manual com outras determinações para os estádios. Os itens mais contestados são a necessidade de a grama ser semeada no próprio campo e a utilização de drenagem a vácuo.

No caso da drenagem, os envolvidos nos projetos argumentam que a Fifa pede uma tecnologia nova.

"Os custos de manutenção serão elevados, pois poucas empresas realizam o serviço. Temos argumentado que, com nosso índice pluviométrico, não há necessidade desse sistema", diz Nilton Vasconcelos, secretário da Bahia.

A obrigatoriedade da grama ser semeada no campo preocupa os organizadores de Recife. "Pretendíamos usar grama em placas para a Copa das Confederações. Se mantivéssemos a ideia e depois a substituíssemos, teria um aditivo de R$ 5 milhões", afirma o secretário Ricardo Leitão.

A coordenadora do Comitê Paulista, Raquel Verdenacci, diz que o estádio em Itaquera foi planejado com requisitos claros. "Quando os projetos são mal feitos, pode-se colocar na conta da Fifa. Já começamos com a edição cinco."

Para Mário Celso Petraglia, que assumiu a gestão do Atlético-PR quando as obras já haviam sido iniciadas, o projeto não encareceu. "Não sabemos como foi feito o orçamento pela antiga gestão."

Em Minas, um dos primeiros Estados a iniciar as obras, o secretário para a Copa, Sérgio Barroso, diz que o custo ficará dentro do previsto. "Fixamos um valor [de R$ 666,3 milhões] e temos dito à Fifa que não ultrapassaremos."

CIDADES ESPERAVAM MUDANÇAS

A possibilidade de inclusão de novas alterações nos projetos já era conhecida pelos organizadores.

Segundo Nilton Vasconcelos, secretário estadual na Bahia, "quando aprovaram nossa proposta, disseram que era um projeto vivo e que poderia sofrer mudanças. Nós aceitamos, desde que não representassem novos aditivos contratuais".

"É um clima de terrorismo. Pelo contrato assinado, a Fifa pode tirar os melhores jogos de certos estádios" diz outra pessoa a par das negociações.

No caso dos vestiários, eles deverão ser maiores e cada divisão tem uma área mínima, o que não havia em 2010.

As salas de massagem, por exemplo, terão 40m2.

De acordo com a Fifa, "as mudanças nas normas são resultado de desafios operacionais de 2010" e têm o objetivo de "satisfazer às recomendações de técnicos, jogadores e chefes de delegações".