quinta-feira, maio 12, 2016

Pelo telefone, Dilma é alvo de trote de pessoa que se passava por Lula - PAINEL DA FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 12/05





Oi, querida A segurança do Planalto investiga o autor de um trote em Dilma. Ela se preparava para acompanhar a votação quando foi avisada de que Lula estava na linha. Atendeu o telefone, mas era só um gaiato imitando o petista. Dilma ficou furiosa.

Um silêncio enganador - CORA RÓNAI

O GLOBO - 12/04

Dilma caiu, sobretudo, porque é impossível exercer bem qualquer ofício sem ter gosto ou vocação

_ Nunca houve presidente no Brasil que falasse tanto quanto Lula. Dia sim e outro também, lá estava ele no rádio, na televisão e nos jornais, falando sobre tudo e mais alguma coisa. Lula é um bom comunicador, um orador inspirado, mas depois de oito anos seguidos de falação, o silêncio que subitamente se fez no Planalto após a primeira eleição de Dilma foi um bálsamo. Ela transmitia uma sensação de seriedade e de concentração, e dava a todos nós, mesmo os que não votamos nela, a impressão de que lá estava, afinal, uma pessoa que estudava e trabalhava com empenho, e que mais ouvia do que falava.

Aos poucos, porém, a sua política canhestra foi se fazendo conhecida, assim como a sua administração desastrada; aos poucos começaram a circular histórias. E percebemos que o silêncio abençoado era, afinal, pura ilusão, apenas a ponta do iceberg de arrogância e de falta de diálogo que acabaria por afundar o governo.

Dilma não caiu por causa das pedaladas; Dilma caiu pelo conjunto da obra. Mas caiu, sobretudo, porque é impossível exercer bem qualquer ofício sem ter gosto ou vocação para este ofício.

A “presidenta”, que até hoje gosta de dizer que defendia a democracia quando pegou em armas — e que eventualmente até acredita nisso, ao contrário de colegas mais sinceros, que já reconheceram que lutavam para substituir uma ditadura por outra —, nunca teve talento para a convivência democrática. A melhor prova disso talvez seja o seu descaso pela política externa, que abandonou por completo ao descobrir que, no palco mundial, deveria tratar seus interlocutores com tato e diplomacia, ao invés de dar ordens como dava em casa.

Dilma Rousseff não foi, em nenhum momento, a presidente de todos os brasileiros; ela foi a sua própria criatura, incapaz de conversar, de ouvir, de aceitar críticas, de delegar poderes — incapaz, em suma, daquele conjunto de atitudes que é a base de um governo plural. A sua assinatura atravessa a crise de ponta a ponta.

É justo que a conta fique com ela.

De ex-modelo e miss a beldade do Jaburu - UMA GOSTOSA NO PLANALTO!




O GLOBO - 12/05
Marcela chega à vaga desocupada desde 2011 com nome do marido tatuado na nuca e intenção de preservar sua intimidade
Recém-saída da adolescência, quando aceitou a sugestão do tio Geraldo para ir cumprimentar o prefeito de Paulínia na convenção do PMDB, em 2002, a ex-miss Marcela Tedeschi Araújo esperava apenas a chance de um contato que pudesse “dar um up’’ na apagada carreira de modelo do interior. A estudante tinha 19 anos e lá conheceu o deputado “charmosão” 43 anos mais velho que lhe fechou as portas do mundo das passarelas e a transformou na discreta mulher e mãe que assume hoje o posto de primeira-dama do Brasil — desocupado desde a posse de Dilma Rousseff, em 2011.

A única extravagância que a exmodelo e miss esconde está em sua nuca: uma tatuagem com a inscrição “Michel”, nome do novo comandante do Palácio do Planalto e do filho do casal. O então deputado e hoje presidente foi seu primeiro e único namorado.

— Era um contato profissional que poderia dar um up na carreira de modelo. Mas eu achei ele charmosão — contou Marcela, em entrevista à revista ‘‘TPM’’, logo após a primeira posse de Temer como vice, em 2011.

O próximo passo foi, por sugestão do pai, mandar um e-mail parabenizando Michel pela eleição, com o seu telefone.

— Logo no primeiro momento eu me encantei com ela, e ela teve alguma simpatia por mim — contou, há alguns anos, um orgulhoso Temer, ao lado da mulher, no programa “Amaury Jr.’’


Em 2011, na posse da presidente Dilma Rousseff, a trança desestruturada e o ombro nu revelado pelo modelo de sua blusa atraíram os holofotes para Marcela Temer, a bela e jovem mulher do vice-presidente. Ao longo daquele primeiro dia de janeiro, ela foi o assunto mais comentado nas redes sociais — não só do Brasil —, pela beleza e a diferença de idade para o marido. Tinha 27 anos, e Temer, 70.

A trança de Marcela voltou às redes nos últimos dias, após internautas terem usado a foto da posse para ilustrar uma contagem regressiva para a saída de cena da presidente Dilma Rousseff e a mudança de cara do governo em Brasília.

A primeira-dama é não apenas reservada, mas também protegida pelo séquito de Temer. Raramente concede entrevistas — há uma extensa lista de veículos de imprensa, inclusive estrangeiros, esperando um bate-papo. Nas poucas conversas com que concordou, Marcela rejeita rótulos. Como a comparação com a ex-primeira dama da França Marcela Temer acumula fila de pedido de entrevistas, até do exterior Carla Bruni, cantora e igualmente ex-modelo, casada com Nicolas Sarkozy. A única semelhança, costuma dizer, é o último sobrenome, Tedeschi.

Descendente de italianos, Marcela queria ser jornalista e apresentadora de TV. Chegou a trabalhar como recepcionista no jornal “O momento”, já extinto. Mas acabou seguindo o marido advogado e constitucionalista, e se formou em Direito. Depois que se mudou para o Palácio do Jaburu, que passou por reformas para se adaptar à vida cotidiana de Michelzinho, Marcela continuou longe dos holofotes e, mais recentemente, das intensas reuniões e maratonas políticas que precederam o afastamento de Dilma e a ascensão de seu marido à Presidência.

Seu protagonismo é imenso, porém, na atividade artística de Michel Temer. A primeira-dama foi a musa inspiradora do agora presidente nos poemas mais pessoais do livro “Anônima intimidade”, lançado por ele há três anos. No poema “Embarque”, Michel se revela: “Embarquei na tua nau Sem rumo. Eu e tu. Tu, porque não sabias Para onde querias ir. Eu, porque já tomei muitos rumos Sem chegar a lugar nenhum’’.

O pit-bull de Temer - MARIA CRISTINA FERNANDES

VALOR ECONÔMICO - 12/05

Foi na condição de quase ministro da Justiça que o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, reagiu às manifestações contra o impeachment que bloquearam avenidas e rodovias na manhã de terça-feira na capital paulista: "Não configuram uma manifestação porque não tinham nada a pleitear. Tinham, sim, a atrapalhar a cidade. Eles agiram como atos de guerrilha. Nós vamos identificar [as pessoas], porque há atitude criminosa".

Professor de direito constitucional da Universidade de São Paulo, autor de best-sellers jurídicos, Moraes não foi a primeira opção do vice-presidente, mas tem tudo para dar ao cargo a feição que o governo que está para se iniciar precisa. Moraes reuniu seus comandantes policiais ontem para preparar a transição na secretaria. Aos 48 anos, deve ser a estrela da constelação de direita que começará a governar o país a partir de hoje.

Com Guilherme Boulos (MTST) e João Pedro Stédile (MST) a queimar pneus país afora, Moraes encarnará o vozeirão da ordem. Vai respaldar a atuação de secretários estaduais de segurança na repressão a movimentos sociais. O paradigma é sua própria gestão, que avalizou, na semana passada, a entrada de policiais militares, sem mandado judicial, numa escola ocupada por estudantes.

Os embates com movimentos sociais poderão disputar as manchetes com a Lava-jato, operação que gravita em torno de vários dos integrantes do primeiro escalão deste governo. Promotor de carreira, Moraes vem da mesma linhagem do ex-governador Luiz Antonio ´Carandiru´ Fleury e de Saulo ´Pinheirinho´ de Castro, atual secretário de Governo da gestão Geraldo Alckmin. Com a violência policial, esses promotores de carreira produziram um ibope suficiente alto para sustentar o fracasso de audiência do combate à corrupção no Estado.

Conhecido por dar a cara a bater, o secretário paulista pode ser de grande utilidade num governo dominado pelo PMDB. Duro com seus policiais, Moraes faz defesas impetuosas de ações que lhe trouxeram revezes emblemáticos. Em meio a uma cruzada para divulgar números positivos sobre a redução da letalidade de ações policiais, Moraes abraçou a versão de um delegado sobre a chacina de quatro adolescentes em Carapicuíba, periferia oeste de São Paulo. No relato oficial, os garotos haviam furtado a bolsa da esposa de um policial, mas o objeto do furto acabaria sendo encontrado a mais de quatro quilômetros da casa dos adolescentes mortos.

Antes de Alckmin se decidir pela candidatura do empresário João Dória Jr. à Prefeitura de São Paulo, Moraes postulou a vaga com um grande ativismo na divulgação dos indicadores da segurança pública. Os paulistas estão menos expostos ao homicídio do que quaisquer outros brasileiros. Em grande parte porque a polícia estadual, de acordo com os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é uma das que mais mata no país. No afã de contar apenas metade da história, Moraes acumulou sucessivos embates com a imprensa paulista.

O vice-presidente Michel Temer pretende criar uma secretaria de transparência e combate à corrupção para demonstrar o compromisso com o tema de um governo coalhado de investigados da Lava-jato. Espera-se que a secretaria seja diretamente subordinada à Presidência da República porque o quase ministro da Justiça protagonizou controvérsias no primeiro quesito e se mostrou pouco operante no segundo.

Revogou decreto do governador que mandava a secretaria de segurança pública divulgar os efetivos policiais de cada bairro e cidade do Estado. As informações eram estratégias, alegou-se, mas a razão, de fato, é que os dados expuseram a lacuna de investigadores e escrivães em muitos lugares e levou a representações do ministério público.

A linha dura de Moraes não entrou em conflito aberto com as máfias que há décadas subsistem nas polícias e já derrubaram vários secretários. Quando entrou na secretaria encontrou policiais que há décadas ganham por fora tanto para cumprir suas obrigações quanto para descumpri-las. Quase todos sobreviverão ao seu mandato.

O secretário que Temer está prestes a levar para seu ministério tem duas ambições, disputar o governo de São Paulo e integrar o Supremo Tribunal Federal. Pemedebistas deixam correr a notícia de que Moraes chega na cota do governador Geraldo Alckmin, mas, a despeito de ser tucano e filiado ao PSDB, Moraes foi pinçado pelo vice-presidente.

Um amigo de ambos diz que comungam das mesmas ideias, mas o impetuoso Alexandre de Moraes é útil a Temer precisamente pelo contraste que pode vir a oferecer à placidez do virtual titular do Palácio do Planalto, um dia definida pelo senador Antônio Carlos Magalhães como a de um mordomo em casa de terror.

Moraes foi secretário de Justiça do Estado de São Paulo no último ano da primeira gestão Geraldo Alckmin (2002), depois foi presidente da Fundação Casa, antiga Febem, e integrou a primeira composição do Conselho Nacional de Justiça. Suas ambições políticas ficaram mais claras quando entrou na prefeitura de São Paulo sob a gestão de Gilberto Kassab. Filiado ao DEM, acumulou a pasta de Transportes e de Serviços. Quis fazer do cargo trampolim para a disputa municipal e saiu aos gritos com o então prefeito. Temer o levou para o PMDB, mas Moraes migraria para o PSDB ao desembarcar de volta na gestão Alckmin em 2014.

Se confirmado amanhã como ministro da Justiça, o secretário de Segurança paulista terá como missão mais espinhosa a chefia da Polícia Federal. A autarquia ganhou grande autonomia depois da descentralização promovida ao longo da era petista. Subordinada ao Executivo, a PF se transformou, de fato, numa polícia judicial. É ao juiz Sérgio Moro, e não ao chefe da PF, que o delegado da Lava-jato, Márcio Anselmo, de fato, responde. Ao longo de seus dois anos como secretário de segurança, Moraes aproximou-se de delegados que conduziram as investigações mais espinhosas de sua pasta. Não é do tipo que aceita ser informado de uma operação horas antes de sua deflagração.

Foi hábil o suficiente para não assinar o manifesto dos advogados que criticaram a Lava-jato e derrubou o último dos cotados para o cargo. Seu escritório já defendeu um dos principais réus da operação, o deputado Eduardo Cunha. Em 2014 Moraes conseguiu absolver o então líder do PMDB da acusação de uso de documento falso. Foi um de seus últimos casos como advogado.

Maldita, recessão é 'melhor' herança de Dilma - FERNANDO CANZIAN

Folha de São Paulo - 12/05

Sem nada melhor para mostrar e de saída, Dilma Rousseff deixa a recessão atual talvez como melhor herança maldita da desgraça em que nos meteu a partir de 2012, quando iniciou sua Nova Matriz Econômica.

A atual crise e o ajuste em curso foram criados pela presidente afastada e por sua equipe econômica, que aprofundou medidas de correção no ano passado com o ex-ministro Joaquim Levy na Fazenda.

Justiça seja feita, tudo estaria bem mais tenebroso se Dilma tivesse pisado no acelerador do populismo em 2015, gastando mais e evitando o ajuste e a recessão que, ironicamente, foram determinantes em sua queda.

A mudança de comando e os efeitos da atual crise abriram algumas brechas para uma melhora futura, como a inflação em queda, a possibilidade de corte nos juros mais à frente e a boa evolução das contas externas (leia Otimismo com Temer? ).

Segundo o IBGE, março foi o melhor mês para a indústria desde junho de 2014, com a produção crescendo em 10 das 14 regiões. O setor opera hoje a menos de 80% da capacidade, o que abre a chance de uma recuperação sem pressões inflacionárias.

Entre consumidores, o índice de expectativas da Fecomercio-SP subiu ao maior patamar também desde 2014. E as previsões do mercado (pesquisa Focus) para inflação e PIB deste ano e do próximo são cada vez menos terríveis.

A esperança de melhora se dá sobre terra arrasada, com famílias endividadas em níveis recordes, o desemprego em alta ainda por muito tempo e as contas públicas arruinadas.

Mas ela é um fato. E Michel Temer se livra do ônus da responsabilidade pela recessão. A cobrança sobre ele será pela volta do crescimento e da distribuição de renda sustentáveis.

Algo que o PT conseguiu, de forma até surpreendente, antes das invencionices econômicas e mentiras de Dilma Rousseff.

Blogs sem verbas estatais

O Antagonista - 12/05


O Antagonista comemorou a escolha de Márcio Freitas para a SECOM.

O motivo está nesta nota de Lauro Jardim:

“A área de publicidade do governo Michel Temer não só vai cortar verbas de publicidade para os blogs alinhados ao governo como também não irá mais anunciar em nenhum blog de opinião — nem de direita nem de esquerda.

Agora, a exemplo das outras mídias, a promessa é que os critérios para distribuição de verba de publicidade sejam apenas técnicos”.

O Antagonista espera também que haja um corte nas despesas de publicidade.

'Breve história de uma queda' - DEMÉTRIO MAGNOLI

O GLOBO - 12/05

Uma fracassada operação de obstrução da Justiça, gesto final atestado de desespero, precipitou uma queda já quase inevitável


Dilma Rousseff desistiu de descer a rampa do Planalto. É pena: se o fizesse, teria a chance de olhar quatro vezes para trás — e entender o que deu errado.

A primeira mirada, em direção à fachada envidraçada, rememoraria o triunfo eleitoral de Lula em 2002, que já parece tão distante. O lulopetismo alcançou o poder prometendo ao povo que, dali em diante, tudo seria leite e mel, mas ofertando às elites o sacrifício de seus dogmas mais sagrados: na Carta ao Povo Brasileiro, o metalúrgico converteu-se em estadista, ajoelhando-se diante das tábuas da ortodoxia econômica.

Durante o primeiro mandato, Lula cumpriu o roteiro — e ganhou um beijo de Fortuna, a deusa da sorte. Velas enfunadas pela ascensão chinesa, singrando o mar do superciclo de commodities, o PIB expandiu-se 5,7% em 2004, 3,5% em 2005 e 4,5% no ano eleitoral de 2006. O crescimento do emprego, dos salários e da renda dos mais pobres (esta dopada pelo Bolsa Família), ergueu o presidente ao estatuto de mito. “Nunca antes na História” — nascia o refrão de um verde-amarelismo satisfeito, balofo e autocomplacente. A imagem daquela idade de ouro ainda deve estar refletida lá, na superfície de vidro do Palácio.

A segunda mirada iria para as colunas sinuosas traçadas por Niemeyer, que deixam entrever o monstro da incerteza. Na hora da glória, emergiam as sementes do fracasso. Uma chama-se “mensalão”; a outra, pré-sal.

O “mensalão” brotou no outono de 2005, expondo as entranhas de um projeto criminoso de perenização da hegemonia e iluminando uma encruzilhada. Diante dela, o lulopetismo rejeitou a estrada da “refundação”, preferindo trilhar a da reiteração, que conduziria ao abismo do “petrolão”. O Pré-Sal ingressou no palco político em 2006, como “a segunda independência do Brasil”, “uma dádiva de Deus” e um “bilhete premiado”, nas expressões de um Lula hipnotizado por sonhos desmedidos. Dali em diante, a política econômica seria contaminada pela ideologia.

Numa terceira mirada, ela olharia o parlatório, um lugar adequado para proclamações vazias. Guido Mantega sucedeu Palocci na Fazenda — e a Carta ao Povo Brasileiro foi silenciosamente incinerada. O “espetáculo do crescimento” interrompeu-se no final de 2008, sob o peso da crise global. Pressionando o acelerador anticíclico do crédito, do subsídio e da dívida, o governo propiciou uma rápida recuperação. Então, face ao ano eleitoral, dobrou a aposta, fabricando um crescimento do PIB de 7,8% em 2010 — e conduzindo uma fraude até a poltrona presidencial.

Lula é um pragmático amoral; Dilma, uma doutrinária obtusa. O giro tático lulista converteu-se em estandarte da economia política dilmista. A “nova matriz”, uma corrosiva mistura de populismo, ignorância e irresponsabilidade, destruiria o equilíbrio fiscal do país, devastaria as finanças da Petrobras e implodiria as contas do setor elétrico. Tudo isso sem produzir um novo ciclo de crescimento: depois dos 4% inerciais de 2011, o PIB ainda saltou 2% e 3,5%, até encostar-se nos 0,2% de 2014, que sinalizavam o túnel escuro da depressão. O lulopetismo esgotava-se junto com os soluços derradeiros da “globalização chinesa”.

Uma quarta e melancólica mirada seria dirigida ao fim da rampa, onde pretendiam se aglomerar militantes do PT, da CUT, do MST, do MTST e da UNE. A mentira grossa da campanha de 2014, “estelionato eleitoral”, na qualificação adotada até por Lula, é culpa de Dilma — e valeu-lhe um desprezo oceânico que removeu o chão no qual se erguia o governo. Já as revelações da Lava-Jato, uma narrativa judicial que remonta a 2005, derivam primariamente de Lula. O impeachment é o produto dessa soma: Dilma + Lula.

Epílogo poético, Dilma e Lula se reencontraram numa fracassada operação bufa de obstrução da Justiça. O gesto final, atestado de desespero travestido de prova de lealdade, precipitou uma queda já quase inevitável. Restam os punhos cerrados, os gritos de guerra, as palavras de ordem. Rituais de passagem.

Lindão, Lindinho e democracia - ELIANE CANTANHÊDE

O ESTADO DE S. PAULO - 12/05
Tanto se falou em golpe, guerra e confrontos de rua com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, mas se houve uma surpresa na sessão história de ontem no plenário do Senado foi que tudo, dentro e fora do Congresso, transcorreu em paz, com episódios isolados para confirmar a regra.

No impeachment de Fernando Collor, o País viveu uma grande e alegre festa cívica. Na decisão sobre o afastamento de Dilma, houve uma surpreendente normalidade, como se o mundo real estivesse tão conformado quanto o mundo político. O PT exerceu o justo direito de espernear, mas nada próximo do que muitos ameaçavam.

O Brasil e o Congresso respondem com atos e rotina à versão alardeada no exterior de que temos aqui uma República de Bananas e um golpe de Estado, ou constitucional, ou parlamentar ou qualquer coisa semelhante. Na realidade, o Brasil vive uma democracia ainda tensa e bem animada, mas uma democracia, com a cidadania mobilizada como há muito não se via.

Crises, votações históricas e transmissões pela TV acabam servindo como aulas de política e oportunidades para que as pessoas aprendam. Aprenderam o que são a Câmara e os deputados, como agora descobrem como é o Senado e quem é quem no Senado.

Magno Malta (PR), para o bem e para o mal, virou uma estrela nas redes sociais, nas mesas das famílias e até em rodinhas de jornalistas. Ana Amélia (PP) consolidou uma imagem firme, afirmativa. Os telespectadores descobriram a estreante Simone Tebet (PMDB). Jorge Viana (PT) fez uma defesa consistente do PT, de Lula e de Dilma – mais do PT e de Lula do que de Dilma. E a classe média urbana começou a perder o preconceito contra Ronaldo Caiado (DEM).

Afora a ameaça ridícula de Caiado de trocar sopapos com Lindberg Faria (PT), os embates entre o líder ruralista e o ex-cara-pintada mostraram, ao vivo e em cores, o quanto o País está mudando e qual o estrago que o poder fez à imagem do PT e à esquerda.

Dez, 20 anos atrás, seria uma heresia elogiar Caiado fora de Goiás e era politicamente correto elogiar Lindberg. Hoje, ambos tiveram papel de destaque na comissão e no plenário e ambos podem igualmente ser elogiados ou criticados. Caiado, médico e aplicado, pelo raciocínio claro e pela argumentação bem construída. Lindberg, o “Lindinho”, por manter o ímpeto juvenil, a capacidade de luta e de provocação.

A opinião pública torceu o nariz para aquele festival da Câmara de elogios à mãe, aos filhos, a divindades e aos cachorrinhos. Agora, porém, tem motivos para elogiar o Senado, onde os discursos foram esclarecedores. Afinal, pessoas e governos não são deuses ou diabos, nem céus e infernos.

Se Jorge Viana foi consistente e nada histriônico ao defender o governo, o seu melhor contraponto foi o líder do DEM, Agripino Maia, didático ao historiar a Lei de Responsabilidade até explicar, ponto a ponto, o que foram as pedaladas fiscais e por que caracterizam crime de responsabilidade.

Numa semana em que foi particularmente feliz em suas decisões e na condução dos trabalhos, Renan Calheiros fez bem em querer acelerar os trabalhos, mas permitir que o regimento fosse cumprido e cada um tivesse seus 15 minutos não só de fama, mas de exposição.

A opinião pública, o eleitorado, a história e, portanto, a democracia, agradecem. O afastamento de um ou uma presidente é sempre traumático, mas o Brasil chega ao de Dilma tranquilo, com as instituições funcionando plenamente, o PT se organizando para ser uma oposição efetiva (tomara que responsável) e com uma expectativa positiva em relação à transição com Michel Temer. Ele tem 180 dias para mostrar a que veio. Se não mostrar, o risco não é a volta de Dilma, é a tese das “diretas, já” que ronda o TSE e boa parte do Congresso.

Retorno à irrelevância - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 12/05

Dilma Vana Rousseff não apareceu por um acaso na Presidência da República. Sem nenhuma qualidade que a credenciasse para tão relevante função pública, ela não teria subido a rampa do Palácio do Planalto, há cinco anos, se não fosse pela vontade do capo petista Luiz Inácio Lula da Silva. Julgando-se um semideus da política, Lula criou Dilma do nada e empenhou seu capital político para conduzi-la ao cargo mais alto da administração do País, apenas para provar que podia. Portanto, é na descomunal vaidade de Lula que se deve procurar a origem da profunda crise que o País ora enfrenta – e foi em reação a essa irresponsabilidade que o País se levantou, em apoio ao impeachment de Dilma e em repúdio a Lula.

O impeachment de Dilma tornou-se imperativo. Tratava-se de colocar um ponto final em uma trajetória que arruinava o Brasil e os brasileiros e ameaçava a democracia. E essa trajetória não pode ser compreendida sem que se recapitulem os momentos mais significativos da farsa conduzida por Lula há 14 anos e que, felizmente, caminha para seu desfecho.

O chefão do PT elegeu-se em 2002 e, forçado pela crise causada pelo receio de que ele fosse adotar a perniciosa agenda petista, governou em princípio conforme a cartilha do bom senso. Infenso, porém, à divisão do poder inerente ao presidencialismo de coalizão, construiu sua maioria parlamentar comprando deputados. Reelegeu-se em 2006 já em meio a grossos escândalos de corrupção – o mensalão – e aderiu de vez à irresponsabilidade, franqueando os cofres públicos a abutres variados e alimentando seus empresários de estimação com generosos subsídios. Em troca, o PT e os demais partidos da base cobraram pedágio sobre a roubalheira e com isso sustentaram seu projeto de poder.

Inebriado pelo sucesso dessa fórmula, Lula permitiu que os aloprados de seu partido alimentassem a ideia de que ele poderia pleitear um terceiro mandato. Era conveniente, pois o PT, em consequência do mensalão, não tinha nomes competitivos para disputar a sucessão.

A ideia da re-reeleição acabou abandonada, pois era excessiva até para os padrões do lulopetismo, mas eis que Lula encontrou a solução perfeita: inventaria um candidato, desconhecido o bastante para que pudesse controlá-lo, e, uma vez eleito, esse dublê se limitaria a guardar lugar para a volta triunfal de Lula em 2014.

Foi assim que Lula tirou Dilma Rousseff da cartola. A máquina de propaganda petista criou para a candidata a imagem de competente administradora. Nada tinha correspondência com a realidade – por onde havia passado, seja no Conselho de Administração da Petrobrás, seja no Ministério de Minas e Energia, seja na Casa Civil, Dilma havia deixado um rastro de negligência, omissão e decisões voluntariosas e equivocadas.

A tarefa de Dilma seria apenas não fazer bobagens e cumprir rigorosamente as ordens de Lula. Na campanha de 2010, ele avisou aos eleitores que Dilma seria apenas um nome na cédula. “Eu mudei de nome e vou colocar a Dilma lá”, disse Lula, humilhando publicamente sua criatura.

Mas eis que, como acontece em todo conto de terror, a criatura resolveu pensar por conta própria. Passou a acreditar que era presidente de verdade, com direito até a governar e a reivindicar a reeleição. A desconjuntada mandatária começou assim a assombrar o País, tomando decisões baseadas em suas convicções pré-históricas, de linhagem stalinista enxertada com brizolismo, que arruinaram os frágeis avanços das classes mais baixas e atrasaram em ao menos uma década o desenvolvimento brasileiro. Como isso não bastasse, Dilma, que nunca suportou a política, alienou sua base de apoio e afastou de si até o PT.

E foi em seu governo – na verdade, desde que ocupou cargos ministeriais – que prosperou e eclodiu o maior caso de corrupção da história do Brasil. Não inventou o petrolão – apenas nada fez para interromper a festa com dinheiro público.

Nesse cenário, a queda de Dilma era questão de tempo. Mas Dilma só se tornou importante por ter arruinado o País. Começa a voltar, agora, para sua irrelevância. O mesmo ainda acontece com Lula, o todo-poderoso que concebeu Dilma e foi o grande responsável por tão infausto momento na história brasileira – e nutre esperanças de voltar a morar no Palácio da Alvorada a partir de 2018. Isso, definitivamente, o País não merece.

Provisório, mas definitivo - DORA KRAMER

O ESTADO DE S. PAULO - 12/05
O presidente em exercício, Michel Temer, na teoria fará de conta que assume em regime provisório pelos 180 dias que o Senado tem para dar o veredito final sobre o afastamento de Dilma Rousseff. Na prática, contudo, atuará em consonância com a realidade, com a ciência de que a decisão dos senadores compõe uma solução definitiva.

Dilma não volta, sabe ela, sabe ele, sabemos todos os brasileiros. Portanto, prestemos atenção e voltemos nossas cobranças para a equipe que, com Temer, vai substituir o PT pelos dois anos e meio restantes ao mandato que os petistas não souberam honrar nem preservar.

Subiram a rampa do Palácio do Planalto com o capital da maioria eleitoral que depositou no partido a grande esperança do País, mas agora eles descem de mãos atadas ao deputado Waldir Maranhão.

Uma tristeza para quem acreditou no conto da terna abundância, do Estado provedor a qualquer custo, das fantasias marqueteiras, na equivocada tese de que política se faz com mãos sujas, na visão distorcida de que o PT apenas fazia uso dos instrumentos de sempre para governar. Não foi assim, o partido e seus dirigentes exorbitaram.

À exorbitância, as instituições e a sociedade reagiram com força. Ao ponto fora da curva que representou o governo do PT, foram assentados outros tantos “pontos fora da curva” para enfrentar a excepcionalidade do modo petista de governar. E – por que não dizer? – de enganar as pessoas em geral e capturar o pensamento dos incautos no particular.

Quanto mais atenta estiver a sociedade, menos o mundo político poderá ignorar as suas demandas. Neste aspecto, o pé atrás da opinião pública em relação a Temer não deixa de ser positivo para manter os peemedebistas dentro dos limites que, em sua soberba, o PT insistiu em ultrapassar.

Muita gente pergunta como chegamos a essa situação. Foi uma trajetória longa e compartilhada com a complacência do eleitorado e a cumplicidade do mundo político.

Nenhum dos dois viu problema em reeleger Luiz Inácio da Silva no auge do escândalo do mensalão, o fio da meada que ora se desenrola e pode levá-lo a condenações semelhantes às já sofridas por seus companheiros de partido.

O governo do PT, saudado como a grande esperança do Brasil, desce agora a rampa do Planalto de mãos dadas a Waldir Maranhão, num triste, melancólico, mas merecido fim.