quarta-feira, dezembro 18, 2013

Obesidade mórbida - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 18/12

Na lista de autores a quem sou fiel, encontra-se a norte-americana Lionel Shriver, que se destacou no mundo literário com seu perturbador Precisamos Falar sobre Kevin e desde então vem lançando livros que de água com açúcar não têm nada: a mulher é craque em colocar o dedo nas nossas feridas – e inclusive nas dela.

Desta vez, a escritora inspirou-se num caso real. Em 2009, seu irmão faleceu por problemas decorrentes da obesidade mórbida. E é sobre esse assunto que trata o recém-lançado Grande Irmão, um convite a dar uma espiadinha num “Big Brother” literal e incômodo: Shriver mostra como vive alguém que está bem acima do peso ideal, e as implicações para os que estão ao seu redor.

No livro, a personagem Pandora é uma empresária de Iowa, casada e com dois enteados adolescentes, que um dia resolve hospedar seu irmão Edison, que mora em Nova York e que ela não vê há quatro anos. Ao buscá-lo no aeroporto, não o reconhece: ele, outrora um pianista de jazz bem-sucedido e boa-pinta, hoje carrega 175 quilos de sedentarismo e fracasso.

Em tempos politicamente corretos, ai de quem falar dos gordos. Mas sendo um assunto de saúde pública, e com a obesidade aumentando em níveis alarmantes não só nos Estados Unidos, mas em todos os cantos do planeta, não dá mesmo para fingir que, dos problemas, esse é o menor. Até porque nada é pequeno quando se trata de obesidade.

As consequências de se estar muito fora de um padrão saudável são conhecidas: dificuldade de realizar movimentos banais, preconceito, riscos de desenvolver doenças cardiovasculares e diabetes, sensação de estar fora do mercado amoroso e até mesmo profissional. É tudo dissecado no livro, mas a autora vai além e se dedica a duas outras questões.

Uma delas é que engordar não está relacionado apenas a comida, e sim a outras fomes não saciadas. É quando a autora revela as compensações que algumas pessoas se concedem a fim de sublimar os outros alimentos que a vida está lhes negando.

A outra questão diz respeito a todos nós: se sabemos que alguém está fazendo mal a si próprio e não consegue mudar seus hábitos, até que ponto os que estão de fora podem e devem se intrometer? É possível socorrer alguém que está visivelmente doente e que desistiu de se curar? Aliás, por onde começaria essa cura? Por alguma dieta milagrosa? Ou por uma tomada de consciência mais profunda?

Certamente, a cura não virá de uma convocação para participar do “Medida Certa”, do Fantástico. Lionel Shriver, com esse livro, faz um acerto de contas com o irmão que partiu, tentando dar outro final à sua história particular, ainda que de forma fictícia. No fim das contas, todas as histórias poderiam ser diferentes. Uma angústia que permeia toda a obra da autora, e as nossas vidas também.

Para salvar a face - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 18/12

RIO DE JANEIRO - Em toda essa triste melódia envolvendo a Portuguesa de Desportos, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva e o rebaixamento (ainda dependendo de recurso) do clube à segunda divisão, o nome mais citado nos artigos e reportagens --e sem o qual não é possível entender a história-- é o do meia Héverton. Aquele que, expulso no jogo da Lusa contra o Bahia e suspenso por dois jogos, cumpriu um e foi escalado irregularmente contra o Grêmio.

Um argumento repisado pela Portuguesa para caracterizar que não fez por mal foi o de que não tirou partido da presença de Héverton no jogo. Come e dorme crônico, ele só entrou aos 32 minutos do segundo tempo. Atuou por 13 minutos e, segundo a própria Lusa, mal pegou na bola. Não driblou, não passou, não chutou a gol nem fez cócegas no adversário. Talvez por isso, seus torcedores nem se lembrem dele no gramado. É como se, tendo entrado ou não, isso não fizesse diferença. "Ele não é nenhum Pelé", decretou o advogado da Portuguesa.

Que Héverton não é Pelé, sabe-se. Mas qual jogador é Pelé? E houve momentos, na sua vida profissional, em que nem Pelé foi Pelé. Donde ninguém pode ser apedrejado por não ser Pelé. Mas o que se fez com Héverton nos últimos dias foi pior. Não lhe deram nem o direito de ser Héverton.

Para salvar sua face de ingênuos e amadores, os dirigentes da Lusa preferiram diminuir o profissional, taxando-o de cabeça de bagre aos olhos e ouvidos de milhões.

Afinal, Héverton é bom jogador ou não? Não sei. Nunca o vi em ação e, se vi, não me lembro. Mas garanto que, para si mesmo, Héverton é um craque. Enxerga o jogo como ninguém, faz lançamentos de 40 metros, dribla no espaço de um lenço e surge como elemento surpresa para fulminar o goleiro. Talvez só faça isto em sonho. Mas o massacre a que o submeteram já não lhe dá nem o direito de sonhar.

Ueba! Fluminense vira Tapetense! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 18/12

E se o Fluminense fizer três gols, já pode pedir música no Medalhão Persa! Aquele programa que leiloa tapete!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Hoje! Atlético Mineiro x Raja de Casablanca! No estádio Ben Ali! Estádio de mineiro: ben ali! Onde fica o estádio? Bem ali! Umas 24 horas de viagem! Rarará!

E o babado do século: "STJD rebaixa a Portuguesa e mantém o Fluminense na série A". Lusa rebaixada! Sacanagem! Padarias em pé de guerra! Pão, agora, só pão Pullman e no supermercado! E STJD quer dizer Sou Fluminense, Já Decidi!

E essa do Twiteiro: "Guido Mantega veste camiseta do Fluminense e PIB sobe quatro pontos na tabela". Ueba! Agora vai! Rarará!

E o Fluminense é que nem ácaro, vive no tapetão. Ácaro Futebol Clube! O Fluminense vai mudar de nome pra Tapetense! Fluminense vira Tapetense! Rarará!

E se o Fluminense fizer três gols, já pode pedir música no Medalhão Persa! Aquele programa que leiloa tapete! Rarará!

E diz que já tem muita gostosa, muita maria chuteira, tatuando o escudo do Fluminense no peito! Pra não cair. Não cair nunca!

E como anuncia o chargista Duke: "Você está mal, pra baixo, caído, mas quer virar a mesa? Tome FLU-VIRAL!". "Fluviral/Fluviral/ Vira a mesa/ E não faz mal!". Rarará!

E agora em todos os estádios o Fluminense terá tratamento VIP: estende o tapete! No lugar da grama, um tapetão!

"Olha o Fluminense chegando, estende o tapete". Rarará!

Vão trocar o gramado por um tapetão persa! Fluminense, patrocínio Phenicia Tapetes!

E o grito duma torcedora da Portuguesa: "Portuguesa, não entregue os pontos. O STJD entrega por você". Olha, o Fluminense ganhou, mas perdeu. Foi a pior vitória da história do futebol! Como disse um amigo no Twitter: "O Fluminense hoje tem o nome mais sujo que eu. A diferença é que eu posso pagar as minhas dívidas". Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E um outro veio com essa: "Se um torcedor do Flu deixar cair um pão no chão, ele cai com a manteiga virada pra cima ou pra baixo? Resposta: NÃO CAI!". Rarará!

E repito o cartaz na padaria: "Se alguém vier aqui zoar com o rebaixamento da Portuguesa, lembre-se, posso passar a piroca no pão que você vai comprar. Assinado: dono da padaria". Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Hoje, só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno

E a culpa é do médico? - GIOVANNI GUIDO CERRI

FOLHA DE SP - 18/12

É fundamental que a autorização concedida para médicos estrangeiros trabalharem sem o Revalida seja uma medida transitória


JR, 32 anos, médico nascido em Pernambuco, veio fazer residência médica em São Paulo e aqui se radicou, trabalhando em dois hospitais da periferia da região metropolitana. Atende, em média, a 60 pacientes por dia do SUS (Sistema Único de Saúde), nos dois empregos que tem e no plantão noturno semanal. Trabalha 12 horas por dia, muitas vezes mais, raríssimas vezes menos.

Como a maioria dos médicos, JR estudou por 21 anos para entrar no mercado de trabalho, incluindo os seis anos de curso de medicina e três de residência médica.

Foram mais de 8.400 horas que JR passou apenas nas salas de aula da faculdade e em seus laboratórios e outras horas incontáveis em casa estudando. Tudo para se formar um bom médico, o melhor que pudesse ser, e reunir as melhores condições para ajudar os pacientes. A dedicação de JR é a regra entre os médicos brasileiros.

Com origem em diferentes classes sociais, os jovens que entram no mercado de trabalho possuem em comum o esforço necessário para chegar à faculdade. Depois disso, precisarão superar outro desafio: o sempre disputado concurso para a residência médica. E deverão continuar estudando pelo resto da vida.

A saúde está diante de uma grave crise, provocada pela falta de financiamento adequado, pelo excesso de trabalho, pela judicialização excessiva, pelas dificuldades que enfrentam as instituições filantrópicas. E, com todas as dificuldades, há a necessidade de atender à justa demanda da população por saúde de qualidade.

O Brasil chegou a ser o sexto maior PIB no ranking internacional em 2012, mas ocupa a constrangedora 72ª posição, segundo a Organização Mundial da Saúde, de gasto per capita em saúde. Argentina, Uruguai e Chile se saem melhor. Cuba gasta mais do que o dobro em despesa pública por habitante. A falta de recursos é o nosso grande problema: países desenvolvidos chegam a gastar 20 vezes mais por habitante do que o Brasil.

E a pergunta que fica, em meio às recentes polêmicas, é: a culpa por esse quadro é de JR? É o médico brasileiro o responsável pela falência do sistema de saúde?

É claro que, como em outras profissões, existem exceções à regra. Profissionais que não têm uma conduta ética adequada ou não são cumpridores de suas responsabilidades. Hoje, em razão da pressão emocional, responsabilidades e excesso de trabalho, mais de 50% dos médicos se queixam da qualidade de vida e apresentam sinais de estresse, depressão e fadiga.

Sou favorável à vinda de médicos estrangeiros, desde que adequadamente formados, para ajudar a atender a nossa população. Aliás, essa sempre foi característica de nosso país: acolher com generosidade os imigrantes que ajudaram a construir o Brasil.

Os médicos que se formam no exterior necessitam, para ter sua formação avaliada e para proteger a população que será por eles atendida, passar por um exame criado pelo governo federal chamado Revalida, essencial para o registro definitivo do diploma. É fundamental que a autorização, concedida recentemente para médicos estrangeiros exercerem medicina sem esse exame, seja uma medida transitória e emergencial.

Não é aceitável ignorar ou menosprezar a maioria dos médicos brasileiros, que atende seus pacientes com empenho, em milhares de cidades, sem muitas vezes contar com a estrutura adequada.

Não são as categorias de profissionais as grandes responsáveis pelos problemas de saúde, transporte, educação e infraestrutura do Brasil. Os nossos problemas crônicos, reflexo de um país com renda per capita e IDH ainda baixos, têm que ser combatidos com muito trabalho, dedicação e gestão.

O país precisa de investimentos e de programas de longo prazo, voltados à educação e à qualificação profissional. Sem desculpas.

Breve história do caixa dois - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 18/12

Como estrila o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), segundo a Constituição (artigo 22, I), o Congresso tem "competência privativa" - indelegável, portanto - para legislar sobre direito eleitoral



Desde o restabelecimento das eleições diretas para a Presidência da República, o caixa dois de campanha eleitoral é um fantasma que assombra a política nacional, pois sempre foi uma prática dos nossos políticos, cuja honestidade era medida pelo fato ou não de destinarem o dinheiro exclusivamente para a campanha e se aproveitarem dele para aumentar o patrimônio familiar. A origem do dinheiro muitas vezes era o superfaturamento de contratos ou o desvio de verbas públicas, num conluio entre agentes públicos e empresários. Não por acaso, nossos empreiteiros se tornaram os maiores financiadores de campanha do país.

Era a tradição, mas não havia vala comum entre políticos honestos e desonestos. Ulysses Guimarães, por exemplo, o líder da oposição, era um homem honesto. Dependia dos amigos para ter algumas mordomias, como viajar de helicóptero. Morreu num voo para Angra dos Reis, em companhia do amigo Severo Gomes, o político e empresário que mais o ajudava nas campanhas. Já o governador paulista Ademar de Barros notabilizou-se por meter a mão no dinheiro público com a maior cara de pau, a ponto de adotar o slogan “Rouba, mas faz!”. Durante o regime militar, militantes da Var-Palmares, organização à qual pertenceu a presidente Dilma Rousseff, assaltaram a casa da amante de Ademar, em 18 de julho de 1969, e roubaram US$ 2,5 milhões para financiar a luta armada.

Com a volta das eleições diretas, as campanhas presidenciais se tornaram um negócio milionário. A campanha de Fernando Collor de Mello, em 1989 — no segundo turno, principalmente —, arrecadou milhões de empresários assustados com a possibilidade de o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser eleito. Foi nesse ambiente que o pequeno empresário alagoano Paulo Cesar Farias emergiu da campanha como o todo-poderoso dos negócios envolvendo o governo. Até que um irmão enciumado, Pedro Collor de Mello, pôs a boca no trombone. O resultado foi a CPI mista do PC Farias e a campanha de impeachment de Collor de Mello.

Assim, partiu do Congresso, e não de outra instituição, a iniciativa de pôr ordem nas campanhas eleitorais. O relatório da CPI mista dizia: “Abandonemos a hipocrisia, não contudo para permitir o domínio indiscriminado do poder econômico na formação da vontade política. Devemos impor parâmetros realistas, porém controle severo, para os que infringirem a lei. Assim estaremos não acabando a corrupção eleitoral, mas contribuindo para que a sociedade e a Justiça possam combatê-la”. A inspiração veio do ex-presidente socialista francês François Mitterrand, autor do projeto de lei que regulamentou, na França, em 1988, o financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais.

É que a Lei Eleitoral herdada do regime militar proibia a doação de empresas às campanhas eleitorais. O Congresso, porém, mudou as regras e tornou obrigatória a “publicização” das doações. A Lei Eleitoral de 1997 estabeleceu também limites para as doações de pessoas físicas (10% da renda no ano anterior) e de pessoa jurídica (2% do faturamento no ano anterior). Não se chegou a uma situação perfeita, mas a legislação atual tornou mais transparentes as relações entre os candidatos e os principais doadores: bancos, empreiteiras, siderúrgicas, empresas do setor elétrico, etc.

A celeuma sobre a Ação Penal 470, o chamado processo do mensalão, levou à pauta do Supremo Tribunal Federal (STF) a ação direta de inconstitucionalidade (Adin) apresentada pela OAB que questiona as doações feitas por pessoas jurídicas às campanhas eleitorais. A tese vai ao encontro dos advogados de defesa dos réus, que negam a existência de desvios de recursos públicos no escândalo e atribuem a origem do dinheiro a empréstimos privados. Ou seja, o crime seria a existência de caixa dois, uma prática que seria ainda corriqueira. A tese foi rejeitada pela maioria dos ministros do STF, mas permanece no ar.

Eis que o presidente do STF, Joaquim Barbosa, decide pôr o assunto em pauta e a Corte ameaça jogar a criança fora com a água da bacia. O julgamento já está 4 a 0 a favor de acabar com doações de pessoas jurídicas, quiçá até de pessoas físicas, com adoção do financiamento público exclusivo, velha bandeira do PT. O problema, porém, não é apenas de mérito. Como estrila o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), segundo a Constituição (artigo 22, I), o Congresso tem “competência privativa” — indelegável, portanto — para legislar sobre direito eleitoral. Essa competência obedece ao princípio da anualidade, pelo qual a lei que alterar a regra do jogo da eleição deve estar em vigor um ano antes do pleito. Isso se aplicaria também ao Judiciário quando “invade” a competência legislativa do Congresso? Segundo o ex-presidente do STF Sepúlveda Pertence, “o princípio da anualidade deve proteger o sistema eleitoral — os partidos, os candidatos e principalmente o cidadão, eleitor — de ‘viradas jurisprudenciais’, que alteram a regra do jogo da eleição a menos de um ano do pleito.”

Dos três na disputa, um saiu-se melhor - CLAUDIA SAFATLE

Valor Econômico - 18/12

Campanha antecipada, todos fazem. Quem está montado na máquina do governo faz mais fácil, mais forte, mais em tempo integral, com mais apoio e adesão automática, com mais dinheiro, inclusive público. O esforço é mínimo, e a transgressão legal permitida por multas irrisórias. Estão em campanha aberta à sucessão presidencial Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

Dilma postula a reeleição e tem todas as condições expostas acima porque está no exercício do cargo, o apoio reforçado do ex-presidente hiper popular que a elegeu na primeira vez e está muito à frente dos demais nas pesquisas. Curioso, porém, como numa medição de resultados da corrida, em 2013, em ensaio de políticos sobre quem foi melhor ou pior durante o ano, as vantagens do cargo não foram capazes de dar-lhe o diploma antecipado de campeã.

A presidente Dilma fez campanha em período integral, visitou todas as regiões, entregou benefícios, inaugurou obras, diplomou alunos, foi a personagem do programa de TV do seu partido, convocou redes obrigatórias de emissoras de televisão para falar como presidente em várias oportunidades. Sempre com sua campanha reforçada pelo padrinho e alavancando outras candidaturas, como a do postulante do PT ao governo de São Paulo, ministro do seu time em duplo palanque, na máquina federal e nos eventos do Estado onde disputará. Campanha em 2013 como se a eleição fosse amanhã.

Sofreu um forte revés em junho, quando as manifestações populares contra a deficiência de serviços a identificaram com os problemas de má gestão dos programas e verbas públicos. Sua queda nas pesquisas de opinião foi vertiginosa, mas à época o seu publicitário, João Santana, anunciou que até dezembro ela teria recuperado os pontos perdidos. Não recuperou tudo, mas está acima de 40% na pesquisa induzida, o que é considerado ótimo para quem caiu tanto há tão pouco tempo.

O nó de sua candidatura, entretanto, continua sendo a sua vantagem: estar no cargo e fazer um mau governo, não conseguir superar os graves problemas da Saúde, da Educação e da Segurança, ainda em primeiro lugar nas queixas da população sobre os serviços públicos, agravados pelos dramas dos transportes coletivos que viraram símbolo das manifestações. Temor dos temores: a ação de vândalos acabar criando um clima negativo na Copa do Mundo, a ponto de dificultar a realização dos jogos.

A candidata reverteu a queda na intenção de voto, apesar da gestão, e ajudou seus ministros candidatos, como o que administra o setor pior avaliado, pela força da propaganda. Interessante será observar se só com tal recurso vai sustentar o crescimento de sua popularidade a ponto de vencer no primeiro turno. A última pesquisa Ibope, feita para a CNI aponta mais um contrassenso, o reflexo positivo da (má) gestão do governo sobre as intenções de voto na presidente, um efeito que ainda carece de investigação tendo em vista a insatisfação declarada com serviços cruciais para as famílias. Dilma fez um ano de discursos e de consolidação da aliança que lhe dá tempo recorde de propaganda gratuita na TV.

Aécio Neves demorou a entrar na disputa e, portanto, a reagir, mas não ficou de todo estacionado. Sua candidatura apareceu e assumiu lugar privilegiado no PSDB depois de patinar alguns meses enredado no ser ou não ser da indefinição interna, provocada pela pressão da candidatura do ex-governador José Serra. Muitos gostaram de seus programas partidários de TV, embora tenha demitido o marqueteiro no fim do ano. Visitou os Estados e recebeu o apoio do economista e ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, terminando o ano com a candidatura consolidada e com um provável chefe da economia, já com lançamento de diretrizes que sinalizam por que quer a Presidência.

Não é pouca coisa, inclusive porque é o único candidato que já apontou, neste ano, para quem precisa ver com segurança o que será da economia brasileira, quem vai comandá-la. No finalzinho de 2013 ainda pode comemorar o afastamento de Serra da disputa e a unidade partidária em torno do seu nome.

Faz-se obrigatório o registro: foi a candidatura Eduardo Campos que mais evoluiu politicamente em 2013. Desde a ação das bancadas do PSB no Senado e na Câmara nas votações às filiações mais importantes do ano, o partido de Campos atuou bem.

Logo no início a bancada de senadores votou unida contra Renan Calheiros para a presidência da Casa, marcando posição a favor da candidatura de Pedro Taques (PDT) e indicando que sua atuação política seria firme e clara.

Houve o enfrentamento da questão do projeto de lei que procurava atrapalhar o partido de Marina Silva, quando o senador Rodrigo Rollemberg entrou com mandato de segurança no Supremo Tribunal Federal. Foi derrotado juridicamente mas obteve vitória política que impediu o projeto de ser votado até o prazo final das filiações.

Eduardo passou um período terrível tendo que enfrentar o duríssimo assédio da máquina do governo federal e da cúpula do PT sobre os governadores do PSB, para que desistisse. A avaliação que se faz hoje é que as manifestações de junho demonstraram aos governadores que a avaliação de Eduardo estava certa, o que fortaleceu a candidatura própria. Nesse processo apenas o governador Cid Gomes (CE) desertou, mas sem causar nem sofrer traumas. Campos conduziu a saída do PSB do governo e promoveu o rompimento com o PT, com críticas à administração da qual participou, também sem conflitos.

As duas principais filiações do ano foram feitas pelo PSB, a da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, e, agora, na próxima quinta, a filiação da ex-corregedora de Justiça e ministra do STJ, Eliana Calmon, uma filiação expressiva que vai viabilizar um palanque importante na Bahia.

Dos partidos que não estavam previamente definidos, o que se posicionou formalmente em apoio a uma candidatura foi o PPS a Eduardo Campos.

O candidato do PSB chega ao fim do ano com 11, 13 ou 15 pontos, dependendo da pesquisa e da forma como se pergunta a preferência do eleitor, mas partiu de um patamar muito baixo: partido pequeno, desconhecido do Brasil, pressionado pelo lado mais forte da política, o governo, para desistir do projeto. Avançou, tornando-se um candidato competitivo e irreversível.

Brasileiro bonzinho - ASTOR WARTCHOW

ZERO HORA - 18/12

Recente pesquisa de opinião pública apontou expressiva aprovação do governo Dilma. Números expressivos e pró-governo já haviam ocorrido nas gestões Lula, Fernando Henrique e de outros governantes. Invariavelmente, institutos de pesquisa apontam elevados índices de aprovação.

Claro que, espertamente, as pesquisas de opinião sempre são realizadas imediatamente após algum anúncio de benefício popular, em rede obrigatória de televisão, seja governamental ou partidária.

Entretanto, as mesmas pesquisas apontam índices negativos nas áreas de educação (58%), segurança pública (70%) e saúde (72%), principalmente. E nem falamos de taxa de juros e impostos. Ironicamente, os brasileiros aprovam os governantes - presidente e governadores, especialmente, mas reclamam de tudo. Com razão. Afinal, o que funciona, o que está bem?

Trata-se, pois, de uma profunda contradição. Aprovam alguns atos de governo e a presidente, mas reclamam (repito, com razão!) da saúde, da educação, da segurança, da situação das estradas, da crescente inflação, dos níveis de corrupção governamental etc., entre outras queixas. E nem falei do crescimento medíocre do Produto Interno Bruto nacional, o pior disparado entre os países ditos emergentes.

Ora, se reclamam de tudo, não há responsabilidade do chefe e sua equipe? É como se os sócios de uma empresa com indicadores econômico-financeiros ruins, queda de faturamento e lucros, trabalhadores insatisfeitos, salários atrasados, dívidas em crescimento, consumidores reclamando, continuassem elogiando e mantendo seu gerente, com altos índices de reconhecimento e expressivos salários.

Se o quadro geral de precariedades dos serviços públicos e as denúncias de corrupção não sensibilizam a opinião pública e a popularidade da presidente continua subindo, talvez a explicação possa estar na falta de qualidade da oposição e na prática do denuncismo, na judicialização da política e na falta de projeto alternativo (agenda positiva) de governo.

Mesmo assim, suponho que a melhor explicação para a contradição que as pesquisas apontam ainda é o conformismo e a condescendência do brasileiro bonzinho, temperado com o culto ao personalismo e voluntarismo presidencial.

É quase Natal - RODRIGO CRAVEIRO

CORREIO BRAZILIENSE - 18/12
Muitos de nós deixaremos a soberba, o egoísmo e a vaidade de lado por pelo menos uma semana. Seremos bem mais flexíveis com o próximo, reataremos amizades há muito esquecidas, colocaremos em nosso dicionário a palavra "caridade", seremos capazes de perdoar e teremos a exata medida do valor da família. Daremos mais importância ao espiritual, ao ser, em detrimento do material, o ter. Pelos próximos dias, nossos corações serão tomados por uma chama inexplicável de paz e de harmonia. Mesmo quem não é religioso consegue sentir essa força, ainda mais intensa na noite de Natal.
Quem dera esse sentimento inundasse os nossos políticos durante os 365 dias do ano. Alguns engravatados, que se julgam acima do bem e do mal, olhariam para os eleitores com respeito e, sobretudo, com gratidão, por terem conquistado deles, seus verdadeiros patrões, um voto de confiança. Tomados pelo espírito natalino, cumpririam suas agendas no Congresso Nacional com a dedicação de um ourives que lapida um diamante. Proporiam projetos de lei que valorizassem o bem-estar social e não a própria conta bancária, ante interesses escusos e mesquinhos de empreiteiras e de lobistas. Teriam a noção de que uma sociedade que tem assegurados os direitos à saúde, à educação e à moradia conhece o valor real da democracia legítima e não se perde no antro da corrupção.

Do conforto de seus gabinetes nos palácios, os governantes perceberiam que nosso Brasil está à beira de uma guerra civil - na qual criminosos impõem a sentença de morte a muitos cidadãos inocentes, trabalhadores e dignos. E fariam valer a Constituição, tantas vezes tratada como um punhado de leis utópicas e inalcançáveis. Muitos deles teriam vergonha dos altos salários que recebem ante a péssima produtividade. Com o país ameaçado por uma possível recessão econômica, com os juros galopantes e a inflação em curva ascendente, e a despeito da publicidade positiva do governo federal, talvez precisemos nos apegar à esperança, outro sentimento bem presente no Natal. Vale acreditar que seremos agraciados com dias melhores e que sobreviveremos, mesmo perdidos em uma selva de ganância, cobiça e desprezo pela vida humana. Um feliz Natal.

Pedidos de Natal - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 18/12

Que o prefeito e o governador deixem como legado um pacto. Que assumam com a população o compromisso de que nunca mais se repetirá o caos das chuvas



Como está na hora de fazer os pedidos a Papai Noel, mando aqui minha lista, na esperança de ser atendido. Vocês verão que não há interesse pessoal em jogo.

1. Que o prefeito e o governador deixem como legado um pacto histórico. Que assumam com a população o compromisso de que nunca mais se repetirá o caos provocado pelas recentes chuvas, mostrado por imagens de cortar o coração: casas submersas, móveis boiando, famílias tendo que abandonar o que construíram com sacrifício sem saber para onde ir. Que prometam: o Rio não será mais um rio. Não é possível que a engenharia e a vontade política não descubram medidas capazes de evitar esse drama que se repete a cada ano. Utopia? Nem tanto. Já cantamos: “Rio de Janeiro, cidade que me seduz, de dia falta água, de noite falta luz.” Era também uma rotina que parecia não ter fim, e teve.

2. Que no próximo ano, a exemplo do último e glorioso campeonato, o meu tricolor não ganhe no tapetão o que deveria ter conseguido no tapete verde. Para permanecer na primeira divisão não por mérito seu, mas por capricho do regulamento, ele não precisava ser rebaixado em sua autoestima. Se essa moda pega, a de decidir partidas no tribunal e não no campo, os clubes podem achar que, em vez de contratar craques, é melhor investir em bons advogados.

3. Que o Brasil consiga coibir de uma vez a violência nos estádios de futebol. Só este ano, além da selvageria de Joinville, que escandalizou o país e repercutiu no exterior, houve até mortes em conflitos entre torcedores de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Goiânia. A solução não é tão difícil quanto parece. Numa entrevista, o técnico Carlos Alberto Parreira indicou como caminho a seguir o modelo já vitorioso na Inglaterra, que é simples: investigar, identificar e prender os criminosos. Punir sem contemplação.

4. Que num único caso seja seguido o exemplo dos traficantes. Assim como eles não desistem de voltar às favelas pacificadas e retomar seus pontos de venda, o Rio não pode desistir das UPPs. Como a democracia, elas são a pior solução, com exceção de todas as outras.

5. Que as autoridades consigam fazer valer no trânsito carioca a ordem natural das coisas: bicicletas nas ciclovias, carros nas ruas e pedestres nas calçadas. Não o contrário.

6. Que seja apenas um surto passageiro essa nova praga urbana que está assustando São Paulo: milhares de jovens desordeiros invadindo em massa shopping centers para atacar frequentadores, saquear lojas e estabelecer o pânico. As ações são convocadas pela internet, e numa das vezes chegaram a reunir seis mil invasores.

7. Eu disse que não ia pedir nada de pessoal, mas não resisto: que Papai Noel faça de minha neta Alice uma pessoa menos ciumenta. A última dela em resposta a quem perguntava por que o irmãozinho estava chorando tanto: “Ele é estranho mesmo.”

Doações e presentes - ROBERTO DAMATTA

O Estado de S.Paulo - 18/12

As chuvas torrenciais; a morte de Mandela, um herói dos nossos tempos, que hoje é um novo ancestral do panteão dos anciãos africanos, tiraram a atenção do inopinado debate sobre o fim das doações de empresas para candidatos e partidos.

Trata-se de um tema importante, mesmo nas chamadas "democracias avançadas", uma expressão duvidosa porque todas as democracias são sistemas marcados por crises, debates e impasses. Fundadas em princípios obviamente contrários (como equilibrar igualdade com justiça e liberdade?), as democracias são conjuntos dependentes de bom senso cuja coerência é uma paradoxal incoerência. A alma da democracia jaz no paradoxal direito tanto à diferença quanto consentimento de ser governado por múltiplas instituições e leis que valem para todos - sobretudo para os "diferentes". Democratizar é orquestrar contradições.

A linha que divide a pessoa física da jurídica leva para o radicalismo dos utilitaristas que fundaram o mundo moderno. Para eles, os seres humanos seriam movidos pelo egoísmo. O egoísmo seria a base de instituições e regras de mediação entre os interesses humanos cuja busca e controle produzem uma inesgotável instabilidade.

Não tenho a pretensão de ensinar missa a vigário. Mas garanto que o debate é complexo. Por exemplo, o argumento de que o voto é um momento igualitário do cidadão que "escolhe" o seu candidato e não deve ser influenciado por "pessoa jurídica" porque elas não votam, não se sustenta uma vez que sabemos que ninguém nasce com 18 anos e preparado para realizar escolhas. Todos entramos no mundo por "pessoas jurídicas" e, nele, fomos obrigados a aprender uma língua, a conhecer mandamentos e leis e, em paralelo, a amar e a detestar certas pessoas. Com a ressalva de que odiamos e amamos em momentos diversos as mesmas pessoas e amamos e odiamos num mesmo momento pessoas diferentes. Estamos sempre pisando em ovos.

As discussões do Supremo não fundamentais para qualquer antropologista porque mesmo quando são técnicas, elas falam de questões fundamentais. O tema das doações das empresas abre a o debate sobre os níveis de influência a que estamos implícita ou explicitamente sujeitos.

O ministro Barroso situou bem a questão, tal como li no Globo do dia 13: "É legítimo que uma empresa financie um candidato ou partido (que eventualmente, digo eu, é uma pessoa jurídica maior do que muitas empresas) por representar seus ideais. Mas muitos doam para dois partidos. Que ideologia é essa em que você apoia de um lado e apoia do outro? Faz-se isso por medo, ou por interesse?".

Eis uma questão crucial para o funcionamento de uma democracia e para a compreensão do poder no Brasil. O ministro denuncia um absurdo: como apoiar simultaneamente partidos opostos? Já o antropologista lembraria que num sistema de éticas múltiplas, como é o caso do Brasil, os atores contemplam valores e ideais públicos impessoais que nivelam e levam ao risco e à impessoalidade; mas não esquecem os laços de amizade e a crua e nua realidade do poder e do lucro. Daí a aposta nos dois times. Ademais, há os casos nos quais se doa politicamente sem deixar de presentear um amigo. Nesse sentido, o não escolher é uma escolha.

E eu digo mais. Trata-se, até agora, de uma norma porque o "ficar em cima do muro" é um valor que antecede a formação da própria República. É, para o bem ou para o mal, uma dimensão implícita do nosso modo gradual e sovina de distribuir o poder. Como não doar para os dois lados se em todas as disputas existem casos claros de conflitos de interesses jamais politizados justamente porque não somos uma sociedade fabricada por disputas, discordâncias e debates?

Alguém conhece uma "pessoa" que se declarou impedida de decidir em virtude de "conflito de interesse"? Ademais, como não dar dinheiro para os dois se nenhum deles vai mudar coisa alguma no que diz respeito ao uso criterioso do dinheiro público e as empresas que crescem à sombra dos partidos? O problema não é a doação, é a lógica (ingovernável e não politizada) do doar como um presentear que eventualmente conduz à ladroagem.

As empresas não podem doar, mas os seus donos doam? Haverá limites para as doações, certamente. Mas a partir de que critérios? Penso que esse debate é crítico. Ele nos leva ao velho problema de a reforma política só poder se realizar quando os atores tiverem plena consciência dos seus papéis. Pode um ex-presidente da República, ao lado da presidenta, defender os mensaleiros condenados, desafiando o STF num congresso do seu partido? Como ter democracia sem ter plena consciência dos papéis públicos que ocupamos e sem aceitar a ideia de ganhar e perder?

Este governo não me representa - CLÁUDIO SLAVIERO

GAZETA DO POVO - PR - 18/12

Não aceito a Dilma Rousseff como minha presidente, nem do meu país, e muito menos os componentes desse Congresso Nacional como meus representantes. Aliás, apenas uma vez na vida o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse algo aproveitável: “No Congresso existem 300 picaretas”. Além de picaretas, corruptos condenados. A maioria dos congressistas não merece outra denominação.

Não aceito este governo e digo os porquês com alguns lembretes apenas.

A chefe deste governo que não é meu sempre estendeu o tapete a países como a Bolívia, mesmo com este estatizando as refinarias da Petrobras; ou a Argentina, mesmo aceitando absurdas imposições comerciais; ou Cuba, mandando dinheiro e apoiando a sua decadente revolução, quando, entre outras coisas, sem argumentos claros, importa 4 mil médicos; ou o Paraguai, quando o seu grupo cedeu a Fernando Lugo em todas as questões de Itaipu, sempre prejudiciais ao Brasil.

Aliás, esta senhora, em quem não acredito, cedeu inúmeras vezes ao falecido ditador Hugo Chávez e ao seu aprendiz no Equador, Rafael Correa, entre outros – todos integrantes do Foro de São Paulo, composto por partidos de esquerda, organizações terroristas e de narcotraficantes vindos de 16 países; uma entidade criada por Lula e Fidel nos anos 90 para ressuscitar na América Latina o que ruiu na União Soviética.

Não aceito que sejam perdoadas dívidas de países africanos ou de outros considerados pobres quando não temos dinheiro nem para investir no nosso sistema público de saúde. Não aceito que, de 2008 a 2012, R$ 500 milhões tenham sido desviados do SUS. E que este mesmo governo celebre contratos com empresas de pesquisas de opinião pública, gastando R$ 6,4 milhões até as vésperas das eleições de 2014, cuja campanha começou faz tempo. E que não haja recursos para construir escolas, hospitais, estradas, aeroportos, portos etc.

Não aceito que o leme deste país esteja entregue a uma pessoa cuja teimosia em errar parece sina. Uma presidente de liderança questionada não só pelas respostas dadas aos desafios econômicos, políticos e sociais, mas até por seus companheiros de partido e por suas dezenas de figurantes ministros que ajudaram a empacar o Brasil nos últimos oito anos no ranking de incentivo a empreendimentos, segundo o Banco Mundial, e a empacar o PIB do país nos últimos três anos.

Sua teimosia na área econômica, de braços dados com o ministro Mantega, é alarmante. Sempre que podem, os dois culpam a crise externa por qualquer desequilíbrio interno, sem mencionar fatores e erros do próprio governo: máquina pública onerosa (o grupo do qual ela faz parte triplicou o gasto com pessoal de R$ 75 bilhões em 2003 para R$ 213 bilhões em 2013), gestão ineficiente, aparelhamento e uso político do Estado, baixo nível de investimento, sistema tributário arcaico e deformado, ausência de reformas, fisiologismo em todas as áreas, “custo Brasil” enorme. Há insegurança no país e é preciso ser muito teimoso para não reconhecer isso. Com insegurança, o país não sai do lugar, enquanto a inflação aumenta, pioram as contas externas, as previsões entram em turbulência.

Não aceito esta senhora que tem o topete de dizer que “no Brasil tem uma coisa muito triste, torcem para dar errado”. Não, senhora. Torcem para que dê certo. A senhora é que faz tudo errado.

Uma pesquisa da agência de classificação de risco Bloomberg mostra que investidores estrangeiros estão pessimistas em relação às oportunidades de investimentos no país, de que há deterioração da economia brasileira e a nota de classificação de risco de crédito poderá ser rebaixada, ou seja, “o barco está afundando”. Será que o Brasil será a OGX de Eike Batista?

Aliás, como posso ser representado por um governo que cria o cargo de “substituto eventual do coordenador-geral da Coordenação-Geral de Produção Associada e Desenvolvimento Local do De­par­ta­mento de Qualificação e Certificação e de Produção Associada ao Turismo da Secretaria Nacional de Programas de Desen­vol­vimento do Turismo do Minis­tério do Turismo”? De jeito nenhum! Portanto, sou um cidadão que nada tem a ver com este governo.

Do otimismo à decepção - OSIAS WURMAN

O GLOBO - 18/12

Nos 65 anos de existência do Estado de Israel, nenhum líder árabe aceitou considerá-lo como o Estado Judeu



Em março de 2005, o então vice-primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, visitou o Brasil. Recepcionado no Rio de Janeiro, Olmert proferiu um histórico discurso que, passados oito anos, tornou-se uma peça ímpar de retórica míope de como alcançar a paz entre israelenses e palestinos.

Falando em nome do governo da época, liderado por Ariel Sharon, o vice defendeu a retirada israelense da Faixa de Gaza, o que foi concretizado em agosto do mesmo ano. Na defesa desta iniciativa, Olmert disse que o governo de Sharon, um general herói de guerra e considerado como inimigo radical pelos árabes, tinha a intenção de estender a mão aos palestinos, buscando um gesto pela paz. “É preciso arriscar”, disse Olmert em 2005.

Os anos que se seguiram trouxeram mais conflitos e menos entendimentos do que o preconizado pelo governo Sharon. Gaza virou uma base de terror e agressões anti-israelenses e, nas eleições palestinas de 2006, o Hamas venceu, vendendo a ilusão aos eleitores de que a retirada israelense tinha sido fruto das atividades belicosas do grupo contrário a Israel.

O Hamas se opunha ferrenhamente ao partido Fatah, de Mahmoud Abbas, sucessor de Yasser Arafat na presidência da Autoridade Palestina (AP). Já em 2007, o Hamas expulsou de Gaza o presidente da AP e todos os seguidores do Fatah, que fugiram para a Cisjordânia.

Estes episódios servem como exemplo para lembrar que o Oriente Médio é uma floresta de mata fechada. Para trilhar a região, é preciso conhecer bem o terreno e as armadilhas ocultas em seus caminhos.

Nestes dias, o presidente americano Barack Obama está aprofundando o seu envolvimento em dois tópicos que atingem o Oriente Médio, com possíveis reflexos em todo o mundo. Refiro-me ao acordo protelatório do Grupo dos 5+1 com o Irã, e as negociações de paz entre Israel e a Autoridade Palestina.

Nos últimos dias, o presidente Obama e o secretario de Estado, John Kerry, têm feito declarações que nos lembram o otimismo errático de Ehud Olmert, em 2005.

Obama fez a seguinte declaração no Saban Center for Middle East Policy, quando perguntado sobre as chances de sucesso do acordo com o Irã para cessar a corrida nuclear: “Eu não diria que é mais do que 50-50. Mas nós temos que tentar.”

Enquanto isso, Kerry acaba de fazer a sua nona viagem a Israel e Cisjordânia, como secretário de Estado. O prazo dado, de nove meses de negociações entre as partes, estabelecido em julho passado, num acordo liderado por Kerry, vai escoando sem qualquer sinal de progresso.

Nesta última viagem, o secretário americano tentou flexibilizar os israelenses, oferecendo garantias americanas à segurança do país, baseadas em dilatada presença militar na Cisjordânia, além de maior respaldo em caso de futuras necessidades militares.

Mas como aceitar promessas hegemônicas, num momento em que o genocídio praticado por Assad na vizinha Síria continua, apesar dos prazos e limites anunciados para uma intervenção internacional, e não efetivados por travas políticas no Conselho de Segurança da ONU?

Kerry parece ignorar que o problema entre palestinos e israelenses é muito mais de reconhecimento nacional do que de territórios e assentamentos. É preciso deixar claro que, nos 65 anos de existência do Estado de Israel, nenhum líder árabe aceitou considerá-lo como o Estado Judeu.

Enquanto persistir o enriquecimento de urânio pelo Irã e a negação palestina ao direito milenar de existência de uma nação judaica, qualquer otimismo precipitado pode ser a decepção e o desastre do amanhã. No Oriente Médio, nem sempre o mais lógico, ou o mais racional, prevalece.

VITRINE NACIONAL - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 18/12

O PT já faz o levantamento dos horários disponíveis às seções estaduais do partido em 2014. A ideia é inundar as telas com pronunciamentos de Lula e da presidente Dilma Rousseff entre fevereiro e maio, quando os programas gratuitos da legenda vão ao ar.

VITRINE 2
Pelo levantamento inicial, praticamente todos os 27 diretórios do PT no país poderão exibir seus programas. Poucos sofreram punição da Justiça Eleitoral por propaganda antecipada em anos anteriores.

TIJOLO
A ideia é que Dilma fale de obras e realizações, evitando pedir voto, o que é vedado pela lei.

PAPO FIRME
O presidente do PT, Rui Falcão, e o deputado Campos Machado (PTB-SP) jantaram anteontem. "Vamos apoiar a Dilma no ano que vem", diz o líder petebista. "Para o governo de São Paulo, o apoio está indefinido."

PASTA
Campos está citado no processo que apura o pagamento de propina no cartel do metrô, escândalo denunciado inicialmente por um parlamentar do PT. Ele nega participação no esquema.

TÁ DIFÍCIL
E um levantamento feito por integrante da cúpula do PSDB mostra que os nomes de tucanos como Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin foram citados cerca de 150 vezes na TV nos últimos meses, ligados ao escândalo do cartel do metrô.

TÁ DIFÍCIL 2
A prefeitura recebeu anteontem informação de que mais de cem integrantes de movimentos dos sem-teto em SP estavam dispostos a acampar por vários dias na frente da casa do prefeito Fernando Haddad (PT-SP).

CONSELHO
Dilma Rousseff deveria fazer suspense em relação à possibilidade de dar asilo ao agente Edward Snowden, na opinião de interlocutores da presidente. Para deixar Barack Obama preocupado.

ARERÊ
O show para gravação do novo DVD de Ivete Sangalo ajudou a rede hoteleira a alcançar 90% de ocupação em Salvador no fim de semana, segundo estimativa do setor. "Foi atípico", diz Luiz Blanc, superintendente da ABIH-BA, a associação que reúne os hotéis da Bahia.

ARERÊ 2
"Esta é uma época de entressafra' turística. Os eventos de negócios acabaram e ainda não começou a temporada de verão", completa o representante do setor. A cantora se apresentou para 40 mil pessoas na Arena Fonte Nova, no sábado.

PARA GRINGO VER
O produtor e diretor J.J. Abrams, da série "Lost" e do filme "Star Trek", pediu à Globo cópia do episódio completo do especial "Doce de Mãe", com legendas em inglês.

O americano assistiu ao clipe durante o Emmy Internacional, em Nova York, que garantiu a Fernanda Montenegro o prêmio de melhor atriz. Ele teria ficado bem impressionado com a performance da brasileira.

LOUSA
As matrículas em cursos de formação profissional e tecnológica cresceram 83% em relação a 2012. De janeiro a novembro deste ano, 556.650 estudantes e trabalhadores brasileiros passaram pelas salas de aulas e oficinas do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), dentro do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). No ano anterior, foram 304.207 matriculados.

BRANCO TOTAL
O governador Geraldo Alckmin e a primeira-dama, Lu, estiveram anteontem no evento beneficente Natal do Bem, no hotel Grand Hyatt. Xuxa e o namorado, Junno Andrade, o apresentador Rodrigo Faro e os atores Carlos Casagrande, com a mulher, Marcelly Anselmé, e Luigi Baricelli, com Andréia, também compareceram. O estilista Ricardo Almeida foi com a namorada, a modelo Daiane Meurer.

FESTA DAS NAÇÕES
Mafalda Lourenço, mulher do cônsul de Portugal em São Paulo, ofereceu almoço de confraternização para consulesas, na residência oficial, no Jardim Europa. Maria Tereza Matarazzo, Patricia Ragasol, a dermatologista Ligia Kogos e a ex-embaixadora do Panamá, Maria Estella Donatti, foram recebidas pela anfitriã.

CURTO-CIRCUITO
Angela Maria e Cauby Peixoto fazem show hoje no Theatro São Pedro, na Barra Funda, às 21h, para lançamento de CD. Livre.

Jussara Romão autografa hoje "Arquivo Urbano", hoje, a partir das 19h, na Livraria Cultura do shopping Iguatemi.

Cris Maradei, da Central de Designers, lançou o livro "Apaixone-se", com joias criadas por designers nos mais variados estilos.

Os documentários "Eu vos Declaro..." e "Olhe pra Mim de Novo" serão exibidos hoje, a partir das 20h, no Playground, na rua Augusta. 18 anos.

O esquecimento - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 18/12

O maior líder da Força Sindical e presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), não gostou do documento com as 12 prioridades do PSDB para a sucessão presidencial. Pouco antes do seu anúncio, Paulinho leu o texto e reclamou para Aécio Neves: "O documento não trata do mundo do trabalho." O tema foi incluído às pressas para rechear o discurso do candidato tucano.

As estocadas
A presidente Dilma e o governador Eduardo Campos (PE) trocaram dardos ontem. O cerimonial da presidente Dilma, candidata à reeleição, não previu dar a palavra para o governador na visita à Refinaria Abreu e Lima. A presidente falou e depois partiu para o contato direto com os operários. No estaleiro Atlântico Sul, no ato de entrega da plataforma de petróleo P62, quando o governador pôde se pronunciar, chamaram a atenção os rasgados elogios que fez ao ex-presidente Lula pelo estímulo à retomada da indústria naval brasileira. E também a frase: "O dinheiro (do investimento) não é do governo federal nem do governo estadual, é dos cidadãos."


"Viva a democracia! Vamos ganhar a Copa do Mundo!"
Dilma Rousseff
Presidente da República, no coquetel para deputados, senadores, ministros do governo e do STF, na noite de segunda-feira, no Palácio da Alvorada

Deslocado
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, ficou sem ambiente anteontem na recepção no Alvorada. Quando a presidente Dilma fez uma breve saudação, o ministro Luís Adams (AGU) o levou pelo braço para ficar ao lado da anfitriã.

Trombada?
Os líderes aliados presentes ao Alvorada na noite de segunda-feira descreveram um clima estranho entre o ministro Guido Mantega I (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Para traduzir o distanciamento, alguns líderes afirmaram que os dois não se falaram durante o coquetel, e há os que garantem que não os viram trocar cumprimentos.

Aliados, mas não muito
A ministra do STJ Eliana Calmon, que se filiará amanhã ao PSB para concorrer ao Senado pela Bahia, quer presidir o partido em Salvador. Mas os socialistas resistem e a acusam de estar de passagem rumo à Rede, de Marina Silva.

Sossega, leão
Os petistas estão fazendo gestões para que a presidente Dilma promova o líder do, PMDB no Senado, Eunício Oliveira, a líder do governo na Casa. Esperam tirá-lo do jogo no Ceará. Nessa arquitetura, Izolda Cela (PROS) concorreria ao | governo, com o apoio dos Gomes, e o líder do PT na Câmara, José Guimarães, iria para o Senado.

Aliança mortal
O líder do PR, Anthony Garotinho (RJ), dispara em direção ao ministro Marcelo Crivella (Pesca): "Vamos conversar. Nós dois juntos fechamos a tampa do caixão no primeiro turno" Crivella diz: "Vamos, mas vou concorrer ao governo do Rio"

Sem maquiagem
De passagem por Brasília, o secretário no governo do Paraná Ricardo Barros (PP) diz que as coisas não andam bem na gestão do tucanò Beto Richa: "Não fosse um empréstimo do Banco Mundial, ele não teria como pagar o 13s dos funcionários"


DIANTE DE RECLAMAÇÃO, o ex-presidente Lula emendou: O chefe de gabinete da Dilma, Giles Azevedo, também me tira da agenda às vezes"


Sondando o mercado - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 18/12

Antes mesmo que viesse a público o rompimento da parceria entre Aécio Neves e o publicitário Renato Pereira, pessoas próximas ao presidenciável tucano procuraram Duda Mendonça, há cerca de 15 dias. O senador mineiro deve ter em breve uma conversa com o marqueteiro, responsável pela campanha de Lula em 2002. No Palácio do Planalto, o desembarque de Pereira foi comemorado. Para membros do governo, o publicitário dava um tom mais "moderado" ao discurso do PSDB.

Culatra Por outro lado, setores do PT temem que Renato Pereira se aproxime de Eduardo Campos (PSB), que ainda não bateu o martelo sobre sua equipe de marketing.

Significa? Causou perplexidade no governo de Pernambuco o fato de o Cerimonial da Presidência acomodar Campos atrás de Dilma Rousseff em evento ontem. A praxe é governador e presidente ficarem lado a lado.

Adeus O presidenciável do PSB aproveitou sua fala diante da presidente para, na leitura de aliados, admitir pela primeira vez que será adversário da petista em 2014. Ele disse que, provavelmente, era a última vez que recebia Dilma como governador.

Recado Campos também respondeu, de forma polida, à insinuação de que o crescimento do Estado depende só da União. Disse que parcerias são feitas com quem tem projeto e sabe planejar.

Modo avião Na hora em que Dilma iniciou sua fala na festa de Natal no Palácio da Alvorada, o celular de Joaquim Barbosa tocou e o presidente do STF demorou até conseguir desligá-lo. "Se fosse um de nós, estava exonerado", brinca um ministro.

Novos rumos No último fim de semana, José Serra (PSDB) demonstrou a aliados que cogita disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. O tucano sondou correligionários sobre um possível apoio a essa empreitada.

Sem freio 1 O ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) agiu para que fosse mantida a exigência de que 100% dos carros novos tenham freio ABS e airbag frontal duplo a partir de 2014. Ele convenceu Dilma a manter a norma e discutiu o assunto com a Anfavea e o Sindipeças.

Sem freio 2 Ribeiro teve uma conversa dura com Luiz Moan, da Anfavea, na sexta-feira passada. Chamou a pressão do setor para adiar a exigência de "indevida" e disse que o governo não voltaria atrás. Ele chegou a cogitar soltar uma nota pública contrapondo Guido Mantega (Fazenda), que defendeu o adiamento, mas desistiu.

Fim... No fim de sua gestão no Ministério Público Federal, em junho, Roberto Gurgel e sua mulher, a subprocuradora Claudia Sampaio, pediram o arquivamento de dois inquéritos que tramitavam no STF contra Alfredo Nascimento e Valdemar Costa Neto, ambos do PR.

... de caso Ontem, o relator do caso no STF, Ricardo Lewandowski, acolheu o pedido do MP. Os inquéritos visavam apurar o suposto envolvimento de ambos em irregularidades no Ministério do Trabalho durante a gestão de Nascimento. A decisão deve ser divulgada hoje.

Solução Walter Feldman (PSB-SP) esteve ontem com Gilmar Mendes, relator no TSE do processo de perda de mandato aberto contra ele pelo Ministério Público Eleitoral por infidelidade partidária. O deputado consultou o ministro em busca de uma saída para devolver o mandato ao PSDB, partido pelo qual foi eleito, sem renunciar.

Mídia O jornalista Gilberto Dimenstein deixou o Conselho Editorial da Folha, em comum acordo com o jornal.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Os discursos amigáveis de Dilma e Campos revelam: há poucas diferenças nas práticas políticas da presidente e do governador."

DO DEPUTADO ESTADUAL DANIEL COELHO (PSDB-PE), aliado de Aécio Neves, sobre o encontro de Dilma Rousseff e Eduardo Campos ontem, em Pernambuco.

contraponto


Dentro das quatro linhas
Em discurso durante evento do governo paulista na manhã de ontem, o secretário José Anibal (Energia) cumprimentou os vereadores Floriano Pesaro (PSDB) e Antonio Goulart (PSD), que estavam a seu lado no palco.

--Os dois jogam no mesmo time --disse Anibal.

Diante de protestos de Pesaro, Anibal sorriu e esclareceu que cada vereador torcia para um time: um para o Corinthians e outro para o Palmeiras. Goulart não quis deixar dúvidas sobre suas preferências:

--Saudações corintianas! --disse ao iniciar seu discurso, arrancando aplausos da plateia.

O trator - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 18/12

Três promessas não cumpridas pela presidente Dilma Rousseff ameaçavam a aprovação do orçamento da União dentro do prazo estipulado pelo vice-presidente Renan Calheiros. Primeiro, o governo não vai liberar as emendas de bancada. Em segundo lugar, não dará mais recursos para atender aos integrantes da Comissão Mista de Orçamento (CMO). Para completar, graças aos acordos que não foram honrados no passado, ninguém confia que o governo fará o orçamento impositivo.

Diante de tanto entrave, o presidente da CMO, senador Lobão Filho (PMDB-MA), combinou o seguinte: “se não votarem, farei a remessa ao plenário do Congresso por ofício. Como presidente, tenho essa prerrogativa. Daí pra frente, não é mais problema meu”, promete. E ele fará mesmo. Na semana passada, Lobão Filho votou todos os relatórios setoriais em 30 minutos. A média da comissão é de 10 horas.

Jango, a prova
A família do ex-presidente João Goulart acredita ter em mãos documentos que comprovam o envolvimento dos regimes ditatoriais do Brasil e da Argentina no assassinato de Jango. Os papéis serão entregues sexta-feira à Comissão da Verdade. São relatórios da Operação Condor e trocas de correspondência entre o Exército Brasileiro e o argentino. Está o maior suspense entre os que tiveram acesso a informação.

Serra, a decisão
Engana-se quem pensa que o anúncio de que José Serra não pleiteará a vaga de candidato a presidente pelo PSDB tenha tirado São Paulo da chapa tucana ao Planalto. O nome mais forte para vice continua sendo o do senador Aloysio Nunes Ferreira e só mudará se o DEM quiser a vaga e apresentar alguém que tenha mais votos numa chapa.

Carreira solo
O PV fará do ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo Eduardo Jorge candidato a presidente da República. O partido se convenceu de que é o melhor caminho para garantir um segundo turno na sucessão presidencial.

Parceria remota
Depois do ato do último fim de semana em Belo Horizonte, o PMDB de Minas Gerais fecha o ano distante do PT e rumando para a candidatura própria ao governo estadual.

Menos um
Está explicado por que a presidente Dilma Rousseff e Lula deram tanta atenção ao PP, presidido pelo senador Ciro Nogueira (PI). É que, feitas as contas, os petistas descobriram que podem perder mais aliados na sucessão presidencial. Agora, é o PDT que ensaia seguir a trilha aberta pelo PSB e buscar novos rumos para a sucessão presidencial em 2014.

O “cara” I/ Depois dos 12 pontos, só em março é que o PSDB fará uma nova grande reunião com seu pré-candidato a presidente e, desta vez, terá a presença de todo o alto comando. Ontem, os paulistas não compareceram para evitar dividir atenções e deixar Aécio como dono absoluto da festa.

O “cara” II/ Na reunião fechada da executiva tucana, a ex-deputada Rita Camata, do Espírito Santo, foi direta: “Se solta! Depois da mensagem do Serra, você tem que deixar de timidez e mostrar que é o cara!”

Ministros em suspense/ Quem tiver a curiosidade de conversar com os ministros sobre reforma ministerial, perceberá que a maioria está torcendo para que a presidente adie tudo para março. Inclusive aqueles que têm dito que querem sair.

Hierarquia/ Os deputados do PMDB só se referem a Lúcio Vieira Lima (foto), como “cardeal” da bancada. Ele é hoje um dos mais próximos do atual líder, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 18/12

Grupo investe R$ 180 mi para ampliar shopping
O Shopping Uberaba, no Triângulo Mineiro, vai investir R$ 180 milhões em um projeto de expansão para ampliar o número de lojas voltadas ao público A e B.

"Vamos trazer grifes de alto padrão que hoje ainda não possuem unidades na cidade", afirma o empresário Luciano Borges Ribeiro, um dos sócios do centro de compras.

"Hoje, 70% dos clientes do shopping já são desse segmento com alto poder aquisitivo. Queremos nos especializar cada vez mais nesse perfil de consumidor", diz o superintendente, Guilherme Vilela Castro e Silva.

Essa será a quarta expansão do local desde que ele foi inaugurado, em 1999. Com a ampliação, o número de pontos de venda passará dos atuais 200 para 284.

A previsão é que as obras sejam iniciadas em abril de 2014. Na primeira fase, será construído um edifício-garagem de quatro pisos com capacidade para 1.548 veículos.

Em seguida, será erguida a nova ala para as lojas, incluindo uma praça com 900 metros quadrados de área verde. A construção será finalizada em maio de 2016.

Além dos consumidores locais, o alvo do shopping é a região, embora haja concorrência direta exercida pelos comércios de Uberlândia, ao norte, e de Ribeirão Preto, ao sul, já em São Paulo.

"Uberaba está mais próxima de alguns municípios paulistas [do que Ribeirão Preto], por isso conseguimos captar clientes mesmo fora do Estado", diz Silva.

O empreendimento tem como sócios quatro empresas locais --Tangará Participações, Construtora RCG, Integral Engenharia e Sociedade Educacional Uberabense.

O faturamento bruto anual do centro de compras é estimado em R$ 450 milhões.

ELETRICIDADE EM ESCALA
O consumo de energia no mercado livre --que inclui a venda de eletricidade para indústrias e grandes empreendimentos comerciais-- avançou 2,49% em novembro na comparação com o mesmo mês de 2012.

No acumulado do ano, a alta é de 0,56%, segundo índice da comercializadora de energia Comerc.

O crescimento mais intenso no mês passado ocorreu principalmente porque o consumo havia sido bastante baixo em novembro de 2012, diz o presidente da empresa, Cristopher Vlavianos.

"A compra de energia pela indústria teve um incremento muito pequeno em 2013. O preço está alto, por causa do nível dos reservatórios, e prejudicando o setor", afirma.

O valor médio no curto prazo ficou em R$ 300 por megawatt-hora.

"Este foi o ano em que o preço ficou mais elevado, com exceção de 2001, quando houve o racionamento de energia", diz.

A expectativa é que os valores diminuam em 2014, já que os reservatórios estão mais cheios que no final do ano passado.

Hoje, eles operam em 42% da capacidade na região Sudeste. No mesmo período de 2012, estavam em 29%. "Mas tudo dependerá das chuvas entre janeiro e março."

Expansão... A Comerc fechará este ano com um faturamento ao redor de R$ 1 bilhão, o que representará um crescimento de 65% na comparação com 2012. Para 2014, a companhia projeta alta de 20%.

...rápida A carteira de clientes registrou expansão de 35%, saindo de 160 empresas em 2012 para 216 neste ano, e o número de funcionários avançou 15% com a abertura de uma unidade em Florianópolis.

Transporte de cargas cresce 5,9% nos portos no 3º trimestre
O total de cargas movimentadas nos portos organizados do país chegou a 92 milhões de toneladas no terceiro trimestre deste ano, um avanço de 5,9% em relação ao mesmo período de 2012, segundo a Antaq (agência do setor).

De julho a setembro de 2012, o volume transportado havia sido de 86,9 milhões.

Em percentuais, o maior crescimento foi registrado pelo porto de Suape, em Pernambuco, onde o volume de cargas avançou 26%.

"Os granéis líquidos, sobretudo os combustíveis, foram os principais responsáveis por essa expansão", afirma Caio Ramos, vice-presidente de Suape.

O porto recebeu neste ano dois novos píeres para o transporte de líquidos. Eles serão utilizados para atender a demanda da refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, que está em obras no complexo.

"Enquanto a usina não fica pronta, essa infraestrutura está em uso para transferências de produtos entre embarcações", diz Ramos.

O segundo maior aumento percentual no período ocorreu no porto de Rio Grande (RS), com alta de 24,5%.

TRANSAÇÕES GLOBAIS
Enquanto as exportações globais aumentaram cerca de 260% nas últimas duas décadas, os embarques feitos apenas pelos países em desenvolvimento avançaram aproximadamente 470%.

Os dados são de publicação lançada ontem pela Unctad (braço da Organização das Nações Unidas para o comércio e desenvolvimento).

As exportações dos emergentes alcançaram, no ano passado, 45% do total, somando US$ 8,2 bilhões (cerca de R$ 19 bilhões).

A participação dos países do hemisfério Sul nas transações globais dobrou no período analisado e corresponde hoje a cerca de 25% do volume mundial.

Combustíveis e produtos manufaturados são responsáveis pela maior parte do comércio sulista, com 25% e 58% respectivamente, aponta a publicação.

Processo... Após parceria com escritórios de França e Portugal, a banca de advocacia Siqueira Castro firmou sociedade com o Deheng, escritório de direito da China.

...chinês O objetivo da associação é facilitar o atendimento da carteira de clientes de ambos os escritórios e o intercâmbio jurídico entre os dois países.

Sem estresse A rede de spas Buddha planeja abrir 30 unidades nos próximos três anos, sobretudo no Sul e no Nordeste. Hoje, são 17 pontos em São Paulo, Rio e Goiás.

Comércio... A Rádio Rock pretende inaugurar em 2014 mais oito lojas físicas para a venda de produtos inspirados em música. Hoje, são duas unidades na cidade de São Paulo.

...musical A expansão é uma parceria entre a rádio e a bandUP!, empresa que vende produtos assinados por artistas e que é responsável pelo comércio eletrônico da rádio.

De rodinha A Sestini, empresa de lojas de malas e mochilas, acaba de abrir sua terceira unidade. A companhia pretende inaugurar dez lojas no próximo ano.

As mancadas do ministro - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 18/12

A presença do ministro alegra minh'alma com a certeza de que, graças a ele, não me faltará assunto


Parece que pego no pé (ou seria na "perna manca"?) do ministro da Fazenda, mas, asseguro, trata-se da mais pura verdade. Penso às vezes que não deveria ser assim, até por gratidão. Eu começo a me torturar sobre o tema de uma coluna assim que termino de escrever a anterior; é apenas a presença do ministro que alegra minh'alma com a certeza de que, graças a ele, não me faltará assunto.

No caso, a contribuição ministerial para a análise desta semana é uma gema em estado bruto. Segundo ele, o desempenho sofrível da economia (aquele mesmo que ele não previu, contaminado por um otimismo de fazer o Dr. Pangloss enverdecer de inveja) se deve a "duas pernas mancas": o escasso financiamento ao consumo e a fraqueza da economia internacional.

Isto mostra que, conforme o esperado, ele ainda não compreendeu a natureza da desaceleração da economia brasileira e que, portanto, continua tratando a doença com remédios errados. Diga-se, aliás, que esse deve ser o principal motivo de sua internacionalmente reconhecida falta de pontaria nas previsões. Se o diagnóstico está equivocado, só com muita sorte a previsão poderia dar certo.

As ações de política econômica revelam --até mais do que as inúmeras entrevistas do ministro-- que o governo atribui à insuficiência de demanda os números medíocres de crescimento observados desde 2011. De fato, medida após medida, o que observamos são novos estímulos ao consumo, restrições às importações e tentativas canhestras de ressuscitar o investimento com doses maciças de créditos subsidiados. Pouco, em contraste, tem sido feito no sentido de buscar aumentar a capacidade produti- va da economia, em particular no que se refere ao crescimento da produtividade.

No entanto, a um observador mais atento não hão de ter escapado os sinais crescentes de dificuldades pelo lado da produção. A taxa de desemprego, por exemplo, segue nos níveis mais baixos de sua (curta) história, pouco abaixo de 5,5%, e o ritmo anual de geração de empregos, em que pese alguma desaceleração nos últimos meses, ainda supera a expansão da população em idade ativa.

Mais importante, as estimativas de aumento da produtividade permanecem muito baixas. Considerando, por exemplo, que nos quatro trimestres terminados em setembro deste ano o PIB aumentou 2,3%, ante aumento de 1,6% do emprego, segundo a Pesquisa Mensal do Emprego, a produtividade, tomada ao pé da letra, teria crescido apenas 0,6% naquele período.

Uma estimativa mais caridosa, cujo foco é na tendência mais do que na observação de alguns poucos trimestres, sugere números um pouco maiores, na casa de 1% ao ano, mas, ainda assim, insuficientes para sustentar um ritmo de crescimento mais vigoroso do que o hoje observado.

Na verdade, visto que tanto a população em idade ativa quanto a produtividade parecem crescer em torno de 1% ao ano cada uma, qualquer crescimento muito superior a 2% ao ano requer queda adicional do desemprego, o que não era problema há alguns anos, mas hoje, em face da baixa taxa acima mencionada, passa a ser uma limitação relevante.

Ao perder isso de vista e insistir nas "pernas mancas" como motivos para nosso crescimento medíocre, o governo produz uma política econômica, agora sim, capenga.

Estímulos à demanda, em particular pelo aumento do gasto público, quando a oferta se encontra restrita, agravam nossos desequilíbrios. Do lado doméstico aceleram a inflação, contida apenas a golpes de controle de preços. Do lado externo se traduzem em elevação do deficit em conta-corrente, que neste ano deve ultrapassar US$ 80 bilhões (pouco menos do que 4% do PIB).

A política econômica hoje em vigor é perfeita para quem precisa escrever semanalmente sobre o assunto, mas incapaz de recolocar o país na rota do crescimento acelerado e sustentável. A mudança de rumos é imperativa, ainda que possa atrapalhar minha vida como colunista, sacrifício que encararia com satisfação.

Tempo de espera - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 18/12

À espera dos bárbaros é um dos mais notáveis poemas do século 20. Seu autor, Konstantínos Kaváfis, viveu em Alexandria, norte do Egito. Se você não conhece essa pequena joia literária, puxe no Google a tradução em português. Vale a pena. Diz muito a respeito deste tempo de espera angustiante dos nossos tempos, de que alguma coisa, eventualmente dolorosa, pode acontecer e que, no fundo, queremos que aconteça logo, para que comece tudo de novo.

De um jeito diferente, parte desse clima de um exército de bárbaros acampado às portas da cidade também prevalece hoje no mercado financeiro internacional. É a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) comece logo a produzir os estragos há meses programados. Hoje é dia de reunião do Fed e algum anúncio do que virá pode acontecer. Trata-se do início da reversão da política de forte emissão de dólares.

No imaginário de tanta gente do mercado financeiro, quase sempre carregado de laivos paranoicos, a reversão dessa política provocará turbulências, porque a perspectiva passa a ser a de relativa escassez de dólares, desvalorização das outras moedas, certa desova de títulos públicos e de ativos de risco e alta dos juros (hoje próximos do zero) nos Estados Unidos e daí no mundo (veja o Entenda).

A aflição dos mercados já foi maior em maio e junho, quando a manobra, anunciada pelo Fed, criou a percepção generalizada de que a reversão da política (o tal tapering - afunilamento) começaria em setembro. Provavelmente não começará antes de março, mas alguma indicação disso poderá ser antecipada hoje.

Ninguém espera a suspensão abrupta da emissão de US$ 85 bilhões por mês, destinada a oxigenar a economia em crise, nem a revenda imediata da imensa carteira de títulos em poder do Fed. Não há nenhum interesse das autoridades da área em pôr tudo a perder com uma reversão precipitada. A indicação da traquejada economista Janet Yellen à presidência do Fed, e a do renomado economista Stanley Fischer, ex-presidente do banco central de Israel, à vice-presidência, é uma garantia do cuidado com que essa operação será realizada. Assim, a angústia da espera dos bárbaros pode acabar por ser mais dolorosa do que seus efeitos. De mais a mais, a retirada das muletas monetárias seria o sinal de que a economia americana começa a recuperar-se, o que é bom para o mundo.

O governo brasileiro vem mantendo uma relação ambígua diante dessa situação. O despejo de dólares pelo Fed foi objeto de muitas críticas tanto da presidente Dilma quanto do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ambos se queixaram de que provocou inundação de moeda estrangeira nos mercados, revalorização das moedas nacionais e perda de competitividade em dólares das empresas brasileiras. Mas agora temem o oposto, temem a excessiva desvalorização do real, que produz inflação e perda do poder aquisitivo do consumidor brasileiro. O impacto sobre a inflação é um dos principais fatores que mantêm o Banco Central "especialmente vigilante" em relação ao futuro dos preços.

Os desafios do Banco Central em 2014 - CRISTIANO ROMERO

VALOR ECONÔMICO - 18/12

O Banco Central (BC) está preocupado com o cenário inflacionário de 2014. Além da defasagem dos preços administrados, que deverão subir, na média, quase o triplo do que aumentaram em 2013, há dúvidas relacionadas à taxa de câmbio. Há muita incerteza em relação ao câmbio. Poderia melhorar mais a expectativa do que já melhorou, mas tem a expectativa do tapering (a redução gradual dos estímulos monetários nos Estados Unidos) , diz uma fonte oficial.

O início do processo de normalização monetária dos EUA pode começar hoje, quando o Fomc, o comitê de política monetária do banco central americano, se reúne. Mesmo que não anuncie uma mudança imediata, o comitê pode dar indícios de seus próximos passos. Em grande medida, os efeitos do movimento foram antecipados pelos mercados. Esta é uma opinião que já virou consenso no mercado: o tapering não vai ser o fim do mundo , atesta um economista de uma grande casa de investimento em Nova York.

Ainda assim, resta a incerteza. Desde os primeiros sinais de mudança da política monetária americana, emitidos em maio pelo presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, o Brasil passou a ser percebido, ao lado de nações como Indonésia, Índia, Turquia e África do Sul, como uma das economias mais afetadas pelo reposicionamento global do dólar.

Essa percepção obrigou o BC a adotar um programa de oferta de proteção cambial (hedge) ao mercado, que vigoraria até este mês, mas será prorrogado a partir de janeiro. O Banco Central argumenta que o programa não foi feito para diminuir o ritmo de desvalorização do real frente ao dólar, com o objetivo de controlar seus efeitos sobre a inflação. Mas é certo que um dos impactos foi justamente esse.

O programa é outra coisa. Foi adotado para evitar essas dinâmicas endógenas do mercado de câmbio , explica uma fonte para, em seguida, afirmar que o câmbio volátil e com forte tendência de depreciação afeta a confiança [de empresas e consumidores] na margem . Para o BC, o que realmente abala a confiança na economia é a inflação alta.

Isso foi particularmente observado no primeiro semestre do ano, quando o IPCA em 12 meses acelerou, atingindo 6,70% em junho, maior marca desde outubro de 2011. Com a alta dos preços mesmo diante de alquimias adotadas pelo governo, como a redução da conta de luz e o congelamento do preço da gasolina, os agentes econômicos perderam a fé.

A postura do BC tem sido a de mitigar o repasse do câmbio, além de trazer a inflação para baixo , sustenta uma fonte qualificada. O repasse da perda de valor do real para a inflação está dentro do esperado - algo em torno de 5% do total em 12 meses.

O Banco Central acredita que sua política - de aumento da taxa básica de juros (Selic) desde abril - está produzindo resultados. O IPCA em 12 meses recuou de 6,70% em junho para 5,77% em novembro. O mercado, segundo a mediana das opiniões captadas pelo Boletim Focus, espera 5,70% em dezembro, queda de um ponto percentual em relação ao pico de seis meses atrás. Trata-se de uma inflação elevada para padrões internacionais e quando comparada à meta oficial (4,5%), mas é menor que os 5,84% do ano passado.

Nossa meta é 4,5% e isso não é igual a 6,5%. Mas temos que lembrar que, por uma razão ou outra, o Brasil viu nos últimos 24 meses uma desvalorização de 20% do real. Foi um ajuste relativamente significativo , justifica uma fonte. Esse flanco [do combate à inflação] está indo bem. O BC se mantém atento.

Nas últimas quatro semanas, as expectativas de inflação para 2013 melhoraram - de 5,84% para 5,70% -, mas, para 2014, pioraram - de 5,91% para 5,95%. O BC atribui isso à incerteza na área cambial e aos preços administrados. É possível que o mercado ponha alguma coisa de reajuste da gasolina nas projeções para 2014 , observa uma fonte.

Todo esse quadro leva à taxa de juros. O que fará o Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião de 15 de janeiro? Depois de aumentar a taxa Selic de 7,25% para 10% ao ano, o Comitê decidiu adotar postura de cautela em relação às próximas decisões. Não definimos nem passo nem tamanho , assegura uma fonte, confirmando que, neste momento, a política é uma questão em aberto: tudo dependerá do que vai ocorrer na economia nas próximas semanas e meses.

É bem provável que o Copom eleve a Selic para 10,25% ao ano em janeiro, mas não indique o fim do ciclo de aperto. Os participantes do mercado, em sua maioria, têm opinião diferente. Eles não acreditam que, em pleno ano eleitoral, o Comitê eleve o juro muito além disso. É bom lembrar, entretanto, que há alguns meses poucos no mercado achavam que o BC fosse levar a taxa de juros de volta a dois dígitos.

Fontes do governo dão a entender que o Copom já fez o suficiente em termos de juros dentro do mandato informal , vigente desde o início do mandato da presidente Dilma Rousseff, de se aceitar uma inflação por volta de 5,5% a 6,5% ao ano. Para levar o índice à meta de 4,5%, seria preciso produzir uma recessão, algo que está absolutamente fora de cogitação em Brasília.

Um cenário possível é o seguinte: o Copom eleva a Selic para 10,25% ao ano; se a taxa de câmbio continuar girando em torno de R$ 2,20 e R$ 2,30, o Comitê encerra o ciclo; mas, se o câmbio deslizar acima disso por causa do tapering ou de outra razão, o juro volta a subir.

Por razões óbvias, a margem de manobra do BC é apertada. O IPCA tem ficado, desde a segunda metade de 2012, mais próximo da parte de cima do que da de baixo dos limites de tolerância do regime de metas. Não há espaço, portanto, para absorção de choques fora do controle das autoridades. Além disso, a política fiscal expansionista continua sendo um dos principais fatores de pressão da demanda agregada.

O BC ainda espera uma sinalização fiscal mais forte do governo para 2014. Por enquanto, não há nada certo, afinal, será ano eleitoral e a história mostra que, nesses momentos, nenhum governo controla as despesas. Segue o desafio [de segurar a inflação] , desabafa uma fonte.