sexta-feira, maio 27, 2011

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - A presidente ''ultrapassada''


A presidente ''ultrapassada''
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 27/05/11

Nos primeiros tempos do novo governo, a presidente Dilma Rousseff era aplaudida por duas características que representavam um bem-vindo contraste com o estilo de seu mentor Lula. Para os ouvidos fartos da verborragia do então presidente e para as vistas cansadas das suas incessantes aparições, a economia de palavras e a concentração da sucessora nos seus afazeres foram recebidas com um misto de alívio e otimismo. Assim também os relatos do exame minucioso que dedicava aos assuntos de sua alçada e do rigor com que cobrava da equipe a correção das lacunas ou imperfeições identificadas nos documentos que pousavam na sua mesa de trabalho - a antítese da aversão de Lula pelos textos levados à sua leitura que excedessem um par de páginas.

Mas a política é impiedosa. Bastaram os primeiros sintomas de incerteza nas decisões do Planalto (sobre o reconhecimento de que a inflação começara a voltar e a escolha dos instrumentos para contê-la, por exemplo) e as primeiras rusgas com a balofa base parlamentar governista (sobre cargos e verbas, como sempre) para que as avaliações da conduta presidencial passassem a produzir conclusões diferentes. As suas aparentes virtudes seriam, na realidade, limitações. Se ela fala pouco, é porque, além da inaptidão para se expressar em público, pouco tem a dizer. Se ela dedica tempo e energia a perscrutar com lupa os calhamaços da administração, é porque padece do vício do detalhismo e do gosto tecnocrático pela microgestão, em detrimento do diálogo com as suas forças no Congresso. Foi em meio a essa mudança de louvores para reparos que Dilma sofreu dois golpes.

O primeiro, a pneumonia que não só a obrigou a se recolher ao Palácio da Alvorada, a sua residência oficial, e a reduzir o ritmo de sua atividade, como evidenciou, com o passar do tempo, que o Planalto mentiu sobre a gravidade da doença que a acometeu. O segundo golpe, naturalmente, foi a revelação do enriquecimento, em meros 4 anos, do principal coordenador de sua campanha, o então deputado Antonio Palocci, que ela promoveu a personagem central do governo, como titular da Casa Civil e seu interlocutor com as elites nacionais. O silêncio - só ontem rompido - e a aparente inexistência de qualquer iniciativa de Dilma em face do escândalo deram azo a uma fuzilaria de críticas: procedentes, as da opinião pública; oportunistas, as dos políticos da base aliada, descontentes com o pouco-caso de Dilma e Palocci.

O comando da base vinha bloqueando, até por meios truculentos, as tentativas da oposição de convidar o ministro a se explicar. Mas o confronto entre a presidente e o PMDB a propósito da vitoriosa emenda ao projeto do Código Florestal, que anistia os cultivos feitos até 2008 em áreas de proteção permanente, instalou um clima de mala sangre entre o governo e sua base parlamentar de que a oposição, sobretudo no Senado, poderia tirar proveito para trazer Palocci às falas, no âmbito de uma CPI. Não se sabe se a presidente e o ministro já tinham se dado conta da erosão do seu patrimônio político no Congresso - e, em caso positivo, o que pretendiam fazer para recuperá-lo. O fato é que, com a sua proverbial intuição, Lula se abalou a Brasília e chamou a si o controle da crise. O resultado de sua intervenção é incerto, mas, com a sua entrada em cena, Dilma foi "ultrapassada", como se diz na caserna quando um comandante tem diminuída a sua autoridade.

Sob a batuta de Lula, que a instou a "abrir mais" o seu governo, ela marcou sucessivos encontros com políticos petistas e aliados. Ao mesmo tempo, para dissuadir as bancadas religiosas na Câmara de abandonar Palocci à própria sorte, mandou para o arquivo morto o polêmico kit anti-homofobia - uma cartilha e cinco vídeos que o Ministério da Educação pretendia distribuir nas escolas públicas de nível médio a pretexto de promover a tolerância entre os alunos. Decerto ainda é pouco para aplacar a irritação dos políticos, a julgar pela pilha de reclamações que deixaram com Lula sobre a "indiferença" de Dilma e a "arrogância" de Palocci. Guiada pelo antecessor, ela tem o telefone e a caneta para ir ajeitando as coisas. Mas ele continua tendo de fazer o que até agora evitou: dar satisfações dos seus negócios. Do contrário, também será ultrapassado.

TUTTY VASQUES - A bola da vez



A bola da vez

TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/05/11


Se bem conheço o Lula, logo, logo ele vai argumentar que "nem o Pelé jogava sempre bem" para justificar a comparação que fez entre o Palocci e o Rei. Para o ministro, a ressalva foi transmitida à beira do campo: "Até com o Pelé, que é o Pelé, aconteceu de ser substituído no meio do jogo!"
Pelo que deu para entender nas entrelinhas da metáfora, o ex-presidente Lula voltou à cena no papel de técnico cabeça-dura que não dá ouvidos à torcida, mas acaba perdendo a paciência com a própria teimosia.
"Se apresenta pro jogo, Palocci!" - repassou a insatisfação da base aliada. Chegou a ultrapassar os limites de sua área técnica para cobrar, basicamente, empenho: se esconder em campo é pior que jogar mal.
Para muitos, a culpa é do próprio Lula: Palocci teria ficado assim, com o rei na barriga, depois que foi chamado de "Pelé da Economia".
Em sua especialidade, cá pra nós, o ministro não é sequer melhor que Maradona no futebol, embora para los hermanos isso não elimine a possibilidade de comparação do chefe da Casa Civil com o que os brasileiros chamam, "equivocadamente", de "lo mejor del mundo". E, como diz o Milton Leite, "segue o jogo"!
Devasso
Traficantes canadenses batizaram uma variedade de maconha vendida em Toronto com o nome "J.B. Kush", em homenagem ao ídolo "teen" Justin Bieber. Pois é, depois que a Sandy posou de garota-propaganda de cerveja, virou bagunça, mano!
Em busca do ouro
A atuação de cambistas vendendo ingresso a R$ 16 mil para a final da Liga dos Campeões, amanhã, no lendário Wembley, está atraindo para Londres um batalhão de flanelinhas brasileiros. Calcula-se que o preço da vaga nas imediações do estádio compense os custos da viagem.
Ração de peixe
Tem gente em Belgrado lamentando a prisão de Ratko Mladic, o homem mais procurado do mundo depois que afundaram o Bin Laden, responsável pela morte de 8 mil muçulmanos em Srebrenica. Era grande a torcida para que o ex-general bósnio sérvio gozasse do mesmo fim do ex-líder da Al-Qaeda.
Messi do futuro
Foi só a ultrassonografia confirmar que Neymar vai ser pai de um menino e pronto: o Barcelona já está querendo contratá-lo antes do nascimento.
Mal na foto
Nicolas Sarkozy tem cortado um dobrado para evitar fotos ombro a ombro com Barack Obama na reunião do G-8. Sempre que pode, puxa o russo Dmitry Medvedev para posar entre os dois. Tem pelo menos um bom motivo para isso: o presidente francês parece anão ao lado do colega americano.
Imperdível
Quem perdeu a Marcha da Maconha em São Paulo terá nova chance de apanhar da polícia amanhã, em Campinas. A pancadaria está marcada para começar às 13 horas, no Largo do Rosário, centro. 

ANCELMO GÓIS - Mídia no Rio


Mídia no Rio
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 27/05/11

Será no Rio, mais precisamente no Riocentro, o International Broadcast Center (IBC) da Copa do Mundo de 14. O lugar deve receber cerca de 5.000 profissionais da imprensa em dias de jogos. 

Viva Fernanda!
Fernanda Montenegro é a mais nova vítima da internet. Circula na rede um suposto texto da grande atriz, com o título “Uma mulher inteligente”. É falso. Como também são fajutos os twitters @fmontenegrotrue e @fernandamontenegroreal. Fernanda avisa que não
está em qualquer rede social. 

Perfil falso... 
Aliás, o Google foi condenado pela 18a- Câmara Cível do Rio a indenizar em R$ 30 mil Viviane Thebas Boia. Ela mantinha um perfil no
Orkut com fotos e dados pessoais que foi copiado, gerando um perfil falso, onde era ofendida com palavrões. 

Não há vagas
Não há a menor intenção da Finep de abrigar Luiz Azevedo em qualquer função, como andou sendo cogitado. Vem a ser aquele ex-assessor de Palocci, demitido depois de tornar pública a nota em que o milionário ministro justificava seu patrimônio, citando outros ex-ministros. 

Canto de esperança
Uma constelação da MPB — Ivete Sangalo, Fagner, Zélia Duncan, Luíza Possi, Tony Garrido, Lenine... — vai gravar, dia 7 de junho, no Rio, um clipe para uma campanha do Sesi contra a prostituição infantil. 

A escolhida do Rei
Paula Fernandes, a mineira bonita que cantou com Roberto Carlos no show de Copacabana, no Natal, lembra?, é, até agora, o fenômeno musical de 2011. Acredite. Seu CD/DVD ao vivo, lançado dia 27 de janeiro, já chegou a 700 mil cópias vendidas.

Poder jovem
A “Época” elegeu os 40 brasileiros com menos de 40 anos mais influentes do Brasil. Na lista, Luciano Huck, Thalita Rebouças, Bruno Mazzeo, Alexandre Padilha, Gisele Bündchen, Carlos Jereissati Jr., Lázaro Ramos e Manuela D’Avila. 

Reage, deputado
Em tempo de debates acalorados no Congresso sobre a causa gay, a TV Câmara cometeu uma gafe, ontem à tarde, ao identificar no rodapé da telinha o deputado mineiro Carlaile Pedrosa, que é espada, como... “deputada Carlaile”. O erro permaneceu na tela uns dez minutos. 

Faz sentido 
Frase emblemática de Paulo Maluf em audiência sobre o trem-bala, quarta, na Câmara: — Deus me deu a oportunidade de ter uma experiência rara no setor de transportes. E que experiência!

Vinicius, 100 anos
A família de Vinicius de Moraes já começou a preparar as comemorações do centenário do Poetinha, em 2013. Serão shows, exposições e leituras de poesia que vão percorrer 12 cidades país afora. Contratou até uma empresa para isso, a GEO Eventos. 

Meu, seu, nosso
A OAB entra hoje com ação direta de inconstitucionalidade no STF contra a aposentadoria dos ex-governadores do Rio. Entre os beneficiados, Marcello Alencar e Moreira Franco. 

Buraco pela metade
A prefeitura do Rio atingiu ontem 1.100 metros de escavação no Túnel da Grota Funda, trecho importante da Transoeste. É metade da extensão. 

Culto à personalidade 
A nova sala multifuncional da escolinha da Associação de Moradores do Morro da Babilônia, no Rio, que será
inaugurada hoje, vai se chamar Francisco Paes Beltrame, filho de José Beltrame. A ideia foi de moradores.

Rumo à Tijuca
A Calvin Klein, com cinco lojas no Rio, chega à Zona Norte. Será no Shopping Tijuca. Capital da pesquisa Dia 17 de junho, no Palácio
Guanabara, a americana EMC2, gigante da tecnologia que atua em 80 países, anunciará uma unidade de pesquisas no Rio, na área de óleo e gás. Ficará na Ilha do Fundão. Investimento: US$ 150 milhões.

ILIMAR FRANCO - Sem acordo


Sem acordo
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 27/05/11

Alertada pelos senadores do PT, a presidente Dilma desautorizou ontem acordo firmado pelo líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), com a oposição para mudar a tramitação das medidas provisórias. “Não tem acordo comigo. Não estou sabendo de nada. Na minha época vão engessar? Não vou ter um instrumento de governo?”, reclamou Dilma, em almoço com a bancada. Pela proposta, aprovada na CCJ, uma comissão pode derrubar as MPs antes de elas chegarem ao plenário.

BNB: segunda tentativa

Diante da forte reação da bancada nordestina, o ministro Guido Mantega (Fazenda) desistiu de colocar Miguel Terra Lima na presidência do Banco do Nordeste. Em conversa com o governador Cid Gomes (CE), Mantega colocououtro nome na mesa: Eduardo de Oliveira Martins, funcionário da área internacional do Banco do Brasil. Pelo menos ele cumpre um dos requisitos exigidos pela bancada: ser nordestino. Martins é cearense, enquanto Terra Lima é de Santa Catarina. O martelo, no entanto, ainda não foi batido. O atual presidente
do BNB, Roberto Smith, deve cumprir seu mandato até o final, em julho. 

"Estamos fazendo um esforço para não compartimentar a Executiva para A, B ou C” — Duarte Nogueira, deputado federal (SP) e líder do PSDB, sobre a queda de braço entre José Serra e Aécio Neves

NEGOCIAÇÃO. O senador Clésio Andrade (PR-MG) (foto) retirou ontem sua assinatura do requerimento de criação da CPI para investigar o ministro Antonio Palocci (Casa Civil). “Ele disse que estava sofrendo muita pressão do governo”, afirmou o líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR). Quanto aos dissidentes do PMDB, o Palácio do Planalto já jogou a toalha em relação ao senador Roberto Requião (PR). Ele ficou contrariado com a indicação do exgovernador Orlando Pessuti para o conselho do BNDES.

Troco 
Ao votar contra a emenda do PMDB ao Código Florestal, a líder do PSB, deputada Ana Arraes (PE), implodiu sua candidatura ao TCU. A indicação para a vaga que será aberta no tribunal tem que ser aprovada pelo plenário da Câmara. 

Mui amigo
Em tom de brincadeira, o ex-presidente Lula disse, no almoço com os senadores do PT, que a presidente Dilma Rousseff está tão sumida que até o presidente dos EUA, Barack Obama, tem aparecido mais do que ela no noticiário nacional.

CLT nos hospitais universitários
A Câmara dos Deputados aprovou anteontem o regimeceletista para funcionários de hospitais universitários e correlatos. Esse era o cerne da proposta das fundações estatais, briga perdida pelo ex-ministro da Saúde José Temporão. A atual negociação foi costurada pelo ministro Alexandre Padilha (Saúde) e pelo relator da medida provisória, deputado Danilo Forte (PMDB-CE). A matéria ainda será votada pelo Senado.

Banda larga

O TCU encontrou sobrepreço de R$ 53 milhões em obras do Programa Nacional de Banda Larga. O tribunal mandou a Telebrás renegociar contratos com as empresas contratadas, sob risco de cancelamento de novas ordens de serviço.

Ficha limpa 
Após o governo de Minas proibir a nomeação de fichas sujas para cargos em comissão, a Câmara de BH votará projeto que adota a regra na prefeitura, e estende a restrição a funcionários de empresas que prestam serviços ao município.

 A PRESIDENTE Dilma tem reunião terça-feira com governadores e prefeitos de capitais que serão sede da Copa, para discutir o andamento das obras. 
 A BANCADA do PT no Senado vai se reunir com a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente), na segundafeira, para discutir o Código Florestal. 
● O EX-DEPUTADO Rocha Loures (PMDB-PR) foi nomeado chefe da assessoria parlamentar da Vice-Presidência da República.

GOSTOSA

ANNA RAMALHO - O vôo do(a) urubu...


O vôo do(a) urubu...
ANNA RAMALHO
JORNAL DO BRASIL - 27/04/11

Em intervenção no plenário da Câmara Municipal, ontem, a vereadora e dublê de presidente do Flamengo, Patricia Amorim, desmentiu sua saída do PSDB, onde, como disse, “está bem”.

Lançou a ideiaMas, em seguida, abriu o jogo: se recebesse convite para candidata a vice-prefeita de Eduardo Paes, “avaliaria com carinho”.

Fidelidade partidária, teu nome é traição...

Primeiro passo 
A invasão da Polícia ontem, nas casas do projeto Minha Casa Minha Vida, que foram ocupadas por milicianos, não surpreendeu o deputado Marcelo Freixo (PSOL). Há duas semanas, ele havia denunciado em plenário a situação do condomínio Livorno, na zona oeste. A partir daí, a Polícia começou a preparar a retomada daqueles locais.

DetalheQuando a PM chegou as casas tomadas pelos milicianos em Campo Grande e Kosmos, encontrou pintado nos muros o símbolo do Batman. As marcas haviam sido cobertas com tinta branca, mas que não foi suficiente para esconder o domínio do local.

A grande percepção
Para Freixo, grande parte da população do Rio está sendo removida de locais que começam a receber obras para a Copa do Mundo e Olimpíadas, em direção a áreas dominadas por milicianos.

Aviso aos navegantes
Em 2005 foi extinta a Artilharia de Costa do Exército Brasileiro. A grita dos milicos desta arma não foi ouvida na época. Agora, acaba de sair um livro, pela Bibliex, no qual o general Geraldo Nery bota a boca no trombone.

Boa pergunta
Com 8.500 km de costa, o Pré-Sal bombando, a IV Frota americana navegando pela nossa costa, como é que fica?

Será que vamos terceirizar nossa defesa?

Perdeu o lugar

O jornalista André Motta Lima, diretor da Rio TV Câmara, perdeu o posto, a pedido do vereador Paulo Messina (PV).

Motta Lima passou por quatro diferentes presidentes da CMRJ, mas não resistiu à pressão do vereador. Que, aliás, é oficialmente verde, mas está cada vez mais afinado com a base governista da Casa.

Tudo certinho
Quem garante é o senador Francisco Dornelles: até o final de agosto, o PP que preside, estará organizado em todos os municípios do Rio de Janeiro para não fazer feio nas eleições municipais de 2012.

Lixo na pauta

As comissões de Saneamento Ambiental, de Meio Ambiente e de Saúde da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) promovem hoje audiência pública sobre o Aterro Sanitário de Seropédica. O aterro, já em funcionamento, recebe 9 mil toneladas de lixo/dia do município do Rio, além de resíduos de pelo menos outras duas cidades.

Noite de degustação
Foi concorrida a noite, anteontem, no Atelier Troisgros, que funciona no segundo andar do 66 Bistrô, no Jardim Botânico, zona sul do Rio. Nada menos do que 40 rótulos de vinhos franceses foram expostos e degustados por enólogos e amantes do vinho.

O sommelier do grupo Troisgros, Alecsander Oliveira, que organizou a noite, orientava e recebia ao lado do chef da casa, Christiano Ramalho. As importadoras que participaram do evento foram Casa Flora, Mistral, Enoteca Fasano, Zahil, Tastevin e Wine Brands.

*

Este foi o primeiro de uma série de eventos do grupo CT.

Raspadinhas


Na próxima quarta-feira, a Avanti Tapetes lança a coleção Art Déco, no Casa Shopping, com palestra de Marcio Roiter, presidente do Instituto Brasil Art Déco. O tema, aliás, está em alta na cidade este ano. Isso porque o Rio sedia, em agosto, o 11º Congresso Mundial de Art Déco. 

Mari Fê e Apavoramento Sound Sistem comandam os shows do projeto Geração Eletrônica 2011, hoje e amanhã, no Oi Futuro Ipanema.

SANDRO VAIA - Com qual presidente eu vou?


Com qual presidente eu vou?
SANDRO VAIA
BOLG DO NOBLAT

Depois de um descanso de cinco meses, o presidente Lula reassumiu seu cargo na quarta-feira passada, foi almoçar com algumas eminências pardas na casa do sábio conselheiro Sarney, colocou ordem na casa da Mãe Joana em que se tornou o governo, deu um pito em alguns ministros, puxou as orelhas de Palocci e de Dilma Roussef por estarem maltrando a base aliada e foi embora para casa.

Não sem antes, claro, posar para as fotos com ar de Eisenhower pronto para comandar o desembarque na Normandia.

Na quinta, as prerrogativas do cargo voltaram às mãos de sua alter-ego eleita, que mandou arquivar os filmetes de propaganda anti-homofóbica que o ministro da Educação ia distribuir nas escolas públicas, dizendo que não cabe ao governo fazer propaganda de opções sexuais e nem interferir na vida privada das pessoas.

É certo que os filmetes só foram interditados depois que a bancada evangélica, com a sutileza elefantíaca de um Anthony Garotinho, ameaçou votar a favor da convocação de Palocci para depor na Câmara se os filminhos homoafetivos de Haddad não fossem retirados de circulação.

Ficou a impressão de que a presidente decidiu certo por linhas tortas, mas esses também são ossos do ofício presidencial.

Ao retomar seu cargo, a presidente ainda criticou aqueles que estão “politizando” o caso Palocci, como se a acusação de descomedido e rápido enriquecimento do ministro não fosse uma questão política, como se ela própria não fosse política , como se o acusado não fosse político, como se governo e oposição não estivessem aqui ou em qualquer lugar do mundo tratando de política e em qualquer hora do dia ou da noite travando um embate político, pois é de política que a política trata.

A República viveu uma semana divertida em sua primeira experiência multipresidencial desde que 3 militares dividiram a presidência, quando o marechal Costa e Silva sofreu uma trombose que o impediu de continuar governando.

Já na segunda-feira o governo sofrerá uma estrondosa derrota na votação da lei do Código Florestal, principalmente na votação da emenda que transfere aos estados a regulamentação de alguns artigos controvertidos do Código.

O PMDB, esteio numérico da base aliada, votou em peso na emenda, que a presidente Dilma chamou de “vergonhosa”, segundo o sutil aviso de Cândido Vaccarezza, o líder do governo na Câmara Federal, que foi atropelado em plenário e aplastado como um gato de desenho animado pelos seus próprios liderados.

Para completar a noite gloriosa, Vaccarezza deixou no ar uma advertência que horrorizou os deputados de almas mais sensíveis e que os distraídos jornalistas políticos deixaram passar batido como se fosse apenas uma banalidade: “Esta Casa corre risco quando o governo é derrotado”.

O que quis dizer Vaccarezza com isso? Ele estaria com um AI-5 no bolso ou foi apenas uma boquirrotice de um goleiro abalado pela bola que tinha acabado de passar por baixo de suas pernas?

Alguns deputados esbravejaram da tribuna, mas nenhum jornalista se deu ao trabalho de perguntar ao líder o que ele quis dizer com aquilo.

A semana agitada parece se encaminhar para um final menos turbulento, ainda que com uma dúvida pairando no ar: qual presidente governará na semana que vem?

NELSON MOTTA - O fino da grossura


O fino da grossura
NELSON MOTTA
O Estado de S.Paulo - 27/05/11

Pornopopéia, de Reinaldo Moraes, é o melhor romance brasileiro que li - às gargalhadas - nos últimos anos. Um diretor de comerciais decadente e louco por sexo, drogas e encrencas, se envolve com uma seita de surubrâmanes e mergulha em uma epopeia tragicomicossexual de 480 páginas em que a invenção literária, a cultura pop e o rigor da linguagem estão a serviço do humor e da crítica social com uma graça e uma grossura raramente vistas juntas em nossas letras. É o fino do grosso.

É como se Henry Miller e Bukowski tivessem fumado, bebido, cheirado e viajado de ácido com o devasso Zeca pelo submundo de drogados, bebuns, putas, travecos e traficas da noite paulistana.

Como um Ulisses doidão, priápico e bagaceiro, Pornopopéia é movido por uma sucessão vertiginosa de acontecimentos e narrado em monólogos interiores elaborados com linguagem forte, ágil e precisa, em que Zeca relata sua epopeia pornoescatológica debochando de suas próprias metáforas e hipérboles, avacalhando o seu relato aparentemente caótico, mas baseado em uma sólida estrutura e em personagens tão sórdidos e patéticos quanto divertidos e sedutores. Poucas vezes tanta baixaria foi elevada a tais alturas.

Sem ser um livro de humor ou de sacanagem para excitar o leitor, o guia de autodestruição de Zeca dá alta ajuda para risos e gargalhadas ao evocar as forças selvagens da sexualidade e do desejo com crueza e sofisticação, oferecendo diversos níveis de leitura, entremeando a narrativa com haikais sensacionais, jogos de linguagem de pura bobagem e pensatas baratas que o próprio narrador tem prazer em desmoralizar, só para dar uma alegria extra ao leitor - além da trama eletrizante e dos personagens movidos a sexo, drogas e imaginação em doses cavalares.

Politicamente incorreto, o Ulisses bagaceiro de Pornopopéia é existencialmente incorretíssimo, química e sexualmente insaciável e literariamente inesquecível, proporcionando um prazer intelectual só comparável aos êxtases que o sexo bandalho e as substâncias proibidas dão a Zeca na epopeia que vive dentro de si mesmo e da cabeça do leitor.

VINÍCIUS TORRES FREIRE - Melhor que roubar bancos


Melhor que roubar bancos
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/05/11 

Surgem mais histórias de como "socorros" para a crise de 2008 acabaram favorecendo a banca global

AS BANDALHEIRAS legais e ilegais da grande finança nos anos em torno do crítico 2008 aos poucos viram poeira de história. Mas, a bem da justiça e em nome de tanta gente esfolada pela crise, convém recordar quão grande foi o descaramento.
Acaba de vir à luz, por exemplo, como mais uma operação de emergência do banco central dos EUA (Fed) tornou-se enfim um programa de subsídios para bancões.
O que nos importa o Fed dar dinheiro à banca euroamericana?
A grande banca mundial agora já se enche de ares e dá pitos em governos quebrados (dos quais são cúmplices em irresponsabilidade). Conseguiu repelir muito da modesta ofensiva regulatória de 2009. Os financistas voltaram a fazer dinheiro. A fortuna que ganharam inventando dinheiro fictício para negócios inviáveis ficou nos seus bolsos.
Ainda vai levar anos para que a conta da esbórnia seja paga, conta que de início foi bancada por governos, os quais tiveram de agir a fim de evitar colapso terminal da economia. Os governos, premidos pelos credores, agora repassam a conta para a população bestificada.
Imediatamente, há cortes de benefícios sociais por quase todo o mundo rico, em especial no sul da Europa. Mas os programas de contenção da crise têm efeitos colaterais pelo mundo. A grande expansão monetária americana causa desequilíbrios econômicos, entre eles um empurrão adicional no preço já em alta de combustíveis e comida, conta que pinga na tigela de comida de pobres da África e do sul da Ásia.
O que acabamos de saber? Meios de comunicação dos EUA, em especial a agência de notícias Bloomberg, têm se batido na Justiça contra o Fed, demandando a abertura de informações sobre os programas de socorro à banca que datam de 2008.
Premido mesmo pelo temor de paralisia e colapso gerais do sistema financeiro, o Fed abriu linhas várias de financiamento de curto prazo para a banca e pares. Dadas, ademais, a simpatia e a promiscuidade entre integrantes da autoridade monetária e a banca (o Fed é, de certo modo, "privado"), alguns arranjos terminaram em subsídio mesmo.
A partir de 2008, conta a Bloomberg, bancos como Credit Suisse, Goldman Sachs, Deutsche Bank, os quase quebrados Barclays e RBS e o UBS tomaram empréstimos a taxas de juros ainda inferiores à taxa de redesconto do Fed (taxa de empréstimos de socorro para bancos com problemas transitórios de liquidez).
Tratava-se de "repos", em suma uma troca temporária de dinheiro barato (do Fed) por (no caso) títulos lastreados em hipotecas, aqueles mesmos, que deram origem à crise e que na época ninguém trocava nem por banana passada, muito menos por empréstimo a juro real negativo.
Não foi a única farra da finança, que cometeu a alocação de capital mais estúpida e cinicamente incompetente da história (o papelório imobiliário), levou empréstimos baratinhos, viu o Fed comprar ou garantir seus papéis podres, quando não cometeu crimes, relacionados ou não à grande bolha dos derivativos.
Pois é essa gente responsável que vive a fazer a política nos corredores do G20, do G8, do FMI, de BCs etc. Ou que faz pose mesmo quando ainda pede, como agora, que o Banco Central Europeu e a União Europeia os salve de uma quebradeira que eles também ajudaram a armar, como a do governo da Grécia e cia.

GOSTOSA

BARBARA GANCIA - Um presente para Marcelo Coelho


Um presente para Marcelo Coelho
BARBARA GANCIA 
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/05/11

Está na cara que Marcelo Coelho não assiste ao filme "O Povo Contra Larry Flynt" faz tempo


DEPOIS DO quiproquó armado no Festival de Cannes com a piadinha sobre Hitler que acabou levando meio mundo a tachá-lo de simpatizante do nazismo, antissemita e outras amenidades igualmente abonadoras, o diretor dinamarquês Lars von Trier ainda teve de responder a um jornalista que persistia na falsa polêmica sobre como iria explicar o episódio aos seus filhos.
Sem enrolar, ele disse: "Aos meus filhos eu não devo explicações, eles sabem que não sou antissemita nem nazista". Ponto, parágrafo.

Estou totalmente de acordo com a expulsão de Lars von Trier de Cannes por ser o pior piadista que a Côte D'Azur já recebeu. Mas a organização do festival soa-me um pouco aos "talibikers" com quem me indispus aqui e na coluna da revista sãopaulo meses atrás.

Eu não gostaria de me ver alinhada ao humor gelado de Herr von Trier. Mas parece-me que as placas tectônicas do mundo estão em movimento e que as pessoas estão se redistribuindo sobre elas na criação de uma nova ordem mundial.

Olha o Danilo Gentili aqui do meu lado! E lá vem um oceano a nos separar da intolerância irritadiça que quer impor a sua verdade.

Você já reparou como os ecologistas estão cada dia mais parecidos com a turma anti-imigração do Le Pen e com os radicais religiosos do Wyoming a Kandahar, todos querendo que a gente viva como eles, coma como eles e disponha de nossos dejetos como eles? A impressão que dá é a de que os pregadores estão se reunindo em grupo.

Tenho a maior admiração pelo Marcelo Coelho. Ele é o tipo de pessoa a quem eu entregaria tranquilamente meus dois cães para passar o mês de julho fazendo trekking nos Andes. Sei bem de sua integridade, ouço tudo o que ele tem a dizer sobre cinema, livros, arte, urbanismo, o impacto da tecnologia nos bebês, nas mães lactantes e na terceira idade, enfim, para mim ele pode abordar uma miríade infinita de assuntos a que eu presto atenção e ainda anoto e sublinho.

Mas, nestes últimos 28 anos na Folha, não me lembro de uma só vez que a coluna do Marcelo Coelho me tenha feito rir. Donde concluo que senso de humor não seja exatamente a sua especialidade.
Por isso ficou-me atravessado na goela o revide furioso que ele fez à piada de Danilo Gentili sobre judeus de Higienópolis (por conta daquela história da estação do metrô).

Não vejo porque ofender Gentili tamanha bobeira. Ontem fui olhar na internet e tinha lá gente propondo que se gravasse na testa do humorista o "nazi scalp" de "Bastardos Inglórios". Mais grave ainda é usar de impugnação estilística para formalizar o ataque.

Coelho termina sua coluna confundindo o vagão do metrô com o trem que leva a Auschwitz, uma imagem eficiente. Mas mentirosa. Não é verdade que uma piada possa desencadear um processo que termine em um campo de concentração. Não foi isso que aconteceu no nazismo nem existem outros exemplos na história.
Mais fácil que o heroico caminho que Gentili esteja trilhando nesta nossa jovem democracia se assemelhe ao que fizeram os mais ousados comediantes da história Lenny Bruce, George Carlin e Andy Kaufman. E que os absurdos que ele diz -ache graça ou não- sirvam para amaciar nossos ouvidos e exercitar a liberdade de expressão.

Creio que vou dar ao Marcelo Coelho o DVD "O Povo Contra Larry Flynt", de Milos Forman. Pelo que disse, está na cara que faz tempo que ele não vê o filme.

Entrevista - Aldo Rebelo


Entrevista - Aldo Rebelo
Mauro Zanatta
Valor Econômico - 27/05/2011

"Lobby ambientalista faz propaganda falsa sobre o relatório"

A seguir os principais trechos da entrevista do relator do Código Florestal na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ao Valor:

Valor: O projeto aprovado pela Câmara anistia desmatadores?

Aldo Rebelo: A anistia que existe no Brasil, que eu não concordo que seja anistia porque não é perdão, é a adotada pelo governo. Está em vigor, assinada pelo presidente Lula e o ministro Carlos Minc. É o Decreto 7.029, que suspende as multas e as autuações por desmatamento em reserva legal e em APPs. O governo suspendeu essas multas e, na prática, suspendeu a legislação que exige reserva legal e recomposição de APP, porque sabe que 100% das propriedades não têm como atender essas exigências. O que faço é copiar esse decreto, suspendendo as multas, mas suspendendo o prazo de prescrição dessas multas para que o agricultor tenha condições de ter reserva legal e APP e, depois disso, tenha suas multas convertidas em serviços ambientais. Se ele não atender à legislação, as multas com os respectivos prazos passam a correr normalmente.

Valor: Mas, comparando aos crimes comuns, isso não é trocar uma pena de regime fechado por serviços comunitários?

Aldo: Não. Nesse caso, não há perdão da multa. Apenas, como no decreto do governo, que deve ser reeditado, há a suspensão da prescrição dessa multa para que o agricultor possa se regularizar e atender à legislação.

Valor: Mas o produtor pagará a multa do próprio bolso?

Aldo: O pagamento dele será a recomposição da área de reserva legal que ele não tenha ou de APP que ocupou fora da legislação. Então, vai ter que pagar por recompor a área que precisa reflorestar ou a área de APP. Mesmo levando em conta que, em muitos casos, quando ele ocupou essas áreas, não cometeu nenhuma ilegalidade e, às vezes, ocupou mediante estímulo do próprio governo.

Valor: É um prêmio a desmatamentos passados?

Aldo: Não. A data de 2008 é a do primeiro decreto. Ele é mais amplo do que meu projeto de lei. O segundo decreto traz a data para dezembro de 2009. Portanto, estamos usando uma data anterior. E assumimos um compromisso, e recuei na moratória a pedido do governo, de vedar qualquer tipo de novo desmatamento a partir dessa legislação.

Valor: E estimula novas derrubadas?

Aldo: É impossível. Vedamos a possibilidade de novos desmatamentos, a não ser os já previstos.

Valor: Mas não há manutenção automática das atividades em APPs?

Aldo: Não há porque o Artigo 8º condiciona a manutenção dessas atividades a desde que não estejam em área de risco, ou seja, não ofereçam risco ambiental, e sejam observados critérios técnicos de conservação de solo e de água. Onde o órgão ambiental achar que há risco, a APP será recomposta na medida recomendada. Portanto, não consolida nada até que o órgão ambiental decida qual o topo de morro ou a margem de rio que precisa ser recomposta.

Valor: O texto dá mais poderes aos Estados?

Aldo: Seria inócuo um projeto de lei tratar disso. Essa questão já é definida no Artigo 24º da Constituição que diz que a União e os Estados podem legislar sobre proteção da natureza, do meio ambiente, recursos hídricos, fauna, flora. Ou seja, não há como uma lei impedir que União e Estados legislem sobre o tema. Esse artigo avança e diz que o Estado preencherá a omissão da União e não poderá legislar sobre o que a União já estabeleceu. Embora diga que a União tratará de princípios gerais e os Estados, de temas específicos.

Valor: Critica-se o projeto por delegar funções da União aos Estados. É isso mesmo?

Aldo: O projeto não pode delegar aquilo que a Constituição nega e não pode negar aos Estados aquilo que a Constituição autoriza. O que é prerrogativa está definido na Constituição.

Valor: O senhor retirou do texto as referências à Lei de Crimes Ambientais?

Aldo: Algumas coisas da Lei de Crimes Ambientais que têm relação com a matéria estão no texto. Outras não estão exatamente por não haver necessidade.

Valor: Há, no texto, permissão para reduzir a área de reserva legal na Amazônia?

Aldo: Não há redução. A reserva legal continuará sendo, na área de floresta, 80% da propriedade. O que houve é que estendemos a possibilidade de compensar a reserva legal no mesmo bioma e fora do Estado. E esse princípio não poderia ser negado aos agricultores da Amazônia. Não há por quê um agricultor de São Paulo poder compensar sua reserva legal no Piauí ou no Tocantins e um agricultor de Rondônia ter que arrancar milho, café ou cacau para plantar floresta exatamente no bioma onde existe a maior reserva florestal do país. Ele pode compensar sua área e não haverá novo desmatamento. Mas a área que ele ocupou pode ser compensada fora da propriedade como permitido aos agricultores de todo o Brasil.

Valor: Isso pode ser um "liberou geral", estimular o desmatamento?

Aldo: Pelo contrário. Não haveria um "liberou geral" aprovado por 410 votos na Câmara. O que o lobby ambientalista não admite é perder o monopólio do ato de legislar sobre esse assunto. Se os ruralistas tivessem 410 votos na Câmara, nem eu seria o relator e nem esse seria o relatório. Seguramente, não haveria 80% de reserva legal na Amazônia nem APP de 500 metros que não existe em nenhum lugar do mundo. O que ocorreu foi que os ruralistas aceitaram a mediação da maioria da Câmara e da maioria dos partidos. O lobby ambientalista não aceitou e fica fazendo propaganda falsa de que o relatório admite desmatamento e anistia. Espalha criminosamente pela mídia internacional essa versão e consegue "plantar" isso numa parte da mídia brasileira. Isso não passa de farsa, de mentira. O que aconteceu foi a capacidade da imensa maioria, que não é ruralista nem ambientalista, de impor uma solução intermediária, que é a solução dos 410 deputados a favor do meu relatório.

Valor: A aprovação, nas condições em que ocorreu, foi uma derrota do governo para sua própria coalizão?

Aldo: Não houve derrota nenhuma. Não era uma matéria administrativa. Não votamos reforma fiscal, tributária ou previdenciária. Votamos a adequação de uma regulação entre meio ambiente e agricultura que o próprio governo tinha interesse em aprovar. Como é que um líder do governo encaminharia a favor do meu relatório? E o PCdoB, o PT, PDT, PMDB, PSB, DEM, PSDB, PSC? O governo encaminhou a favor. A polêmica foi em torno da Emenda 164.

Valor: Essa emenda não acabou por modificar o espírito do projeto?

Aldo: Não creio. A emenda veio para resolver um impasse: se deixaríamos na ilegalidade 2 milhões de agricultores que estão em APPs ou se daríamos a eles um tempo para que os órgãos técnicos, considerando a proteção do solo, da água e da natureza, estabelecessem qual a atividade possível nas áreas que eles já estão ocupando.

Valor: Um veto da presidente Dilma Rousseff seria uma desfeita?

Aldo: Não considero. Acredito que a presidente Dilma não foi suficientemente informada por seus assessores sobre o que está em curso. Talvez, quando ela se deparar com a necessidade de reeditar o decreto da anistia e da suspensão da legislação que deveria estar em vigor, ela se dê conta da situação de fato e possa refletir mais sobre essa situação.

CARLOS HEITOR CONY - Política é o diabo


Política é o diabo
CARLOS HEITOR CONY 
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/05/11

Milhares de vítimas da luta ideológica foram mortas, física e moralmente, pelos próprios companheiros


FRANCO ZEFFIRELLI passou temporadas no Rio e numa delas montou uma ópera no Municipal. Convivi com ele, naquela ocasião. A ideia original era uma apresentação de "Tosca", mas ele preferiu "A Traviata", que é uma adaptação da "Dama das Camélias". Insisti pela ópera de Puccini, embora nada tivesse contra a obra de Verdi.
Ele não apreciava o drama de Victorien Sardou, no qual Puccini buscou a história de "Tosca", um quadro bastante amplo das lutas políticas do "ottocento", quando Napoleão invadiu a Itália, libertando-a do absolutismo e da tirania.
O amor entre a cantora Floria Tosca e o pintor Mario Cavaradossi foi um pretexto para Sardou colocar em cena a luta contra a tirania -quando, por mais que pareça absurdo, Napoleão, o invasor, era também o libertador.
Puccini havia assistido ao drama de Sardou em Paris e ficara impressionado não com o "background" histórico da peça, mas com a interpretação de Sarah Bernhardt. Até hoje, todas as Toscas do mundo copiam a sua atuação. Foi assistindo Sarah Bernhardt que Puccini decidiu-se pela obra de Sardou, dando-lhe a eternidade de uma das óperas mais populares.
Bem, o diretor Franco Zeffirelli que aprecia o Puccini de "Turandot" (é famosa a sua versão no Scala) e adora "La Bohème", simplesmente não se entusiasmava com uma ópera em que um preso político é torturado em cena aberta e morre fuzilado, porque se recusou a delatar um subversivo (em tempo: aqui no Brasil, já vimos esse filme, ou melhor, essa ópera). Zeffirelli acabou explicando a razão do seu repúdio: "A política é o Diabo!" Ele falou assim mesmo, como se a palavra "Diabo" começasse com letra maiúscula.
E não precisou falar mais: entendi o que ele quis dizer. Se o Diabo deixasse de existir, ou se nunca existiu realmente, tanto faz. Existe a política e todas as funções do Diabo podem ser exemplarmente cumpridas pela política.
Associar Zeffirelli, Puccini, Tosca e o Diabo pode parecer gratuidade, mas nem tanto. No dia a dia da luta ideológica, no fogo cruzado e nem sempre leal das posições e contestações, o homem transformado em animal político coloca a ideologia acima de qualquer outro valor. Daí ser justo e meritório, em nome da Causa (e não importa que causa seja), mentir, matar, roubar, difamar, torturar, aniquilar o adversário. Que muitas vezes nem chega a ser adversário, mas um amigo e aliado que, em algum momento, pensa com a própria cabeça e discorda da tese adotada pelo partido, pelo grupo, pela maioria eventual que domina a ala que detém o poder.
A luta ideológica do nosso tempo -como a de qualquer outro tempo- custou milhares de vítimas que foram assassinadas pela repressão. Mas milhares de vítimas também foram mortas, física e moralmente, pelos próprios companheiros, fanatizados pela verdade ocasional, pela estratégia ou pela tática da situação. Daí a constatação de que a revolução devora os seus filhos.
Exemplo: os comunistas condenavam à ignomínia os companheiros que acidentalmente discordavam da linha do partido. O chão ideológico está coberto de cadáveres mutilados pela Causa. Jorge Amado, que felizmente naquela época não chegou à condição de cadáver, sofreu discriminação e até mesmo boicote, porque, sem nunca abandonar o socialismo, não dizia amém aos donos da verdade gerada pelo Comintern.
Lembro também Agildo Barata, que foi acusado de roubar a caixa do partido (o velho PCB não tinha imaginação, e qualquer desvio ideológico terminava com a acusação de roubo da caixa).
Agildo foi um herói de 1930, podia ter sido um dos poderosos de sua época desde que acompanhasse os colegas militares que se bandearam para o grupo que colocou Getúlio Vargas à frente do movimento que derrubou a República Velha.
Ele preferiu continuar a revolução na qual acreditava, liderando a revolta de 1935. Preso, caluniado, odiado e perseguido pelo governo, manteve-se fiel ao partido até que, depois do primeiro terremoto na versão soviética do comunismo, passou a ser odiado, perseguido e caluniado pelos companheiros da véspera.
A política, como "la donna" da ópera de Verdi, é "mobile". Por meio dela, o Diabo não se dá por vencido, aliás, nunca se deu, desde que foi expulso do céu, na primeira rebelião que para sempre infernizaria, literalmente, demônios e homens.

FERNANDO GABEIRA - Palocci e o jogo do futuro


Palocci e o jogo do futuro
FERNANDO GABEIRA 
O Estado de S. Paulo - 27/05/2011

A multiplicação do patrimônio do ministro Antônio Palocci por 20 inspirou um game na internet. Elementos para novos games existem no desenrolar do caso. Um deles poderia ser chamado de psicodrama nacional.

O governo decidiu blindar Palocci no Congresso, mobilizando os aliados para evitar investigações. O governo está acostumado a reagir com esse reflexo. Não parou para constatar que o tema agora é diferente. Perdeu algumas casas. Se há dúvida em torno da multiplicação do patrimônio, a única saída é uma explicação transparente. O movimento do governo e seus aliados fortaleceu a dúvida.

No livro sobre a China, Henry Kissinger cita um mestre oriental que dizia: a última palavra em excelência não é vencer as batalhas, mas derrotar o adversário sem luta. O governo colocou a oposição numa situação quase tão favorável ao nível de excelência proposto pelo sábio chinês. A oposição, neste caso particular, derrota o governo mesmo perdendo. Cada requerimento negado, cada CPI sepultada é um tijolo a mais no edifício da suspeita.

Quantas casas atrás não representa o apoio de José Sarney, Romero Jucá e Paulo Maluf, garantindo a integridade do ministro? A única saída no horizonte é contar com o esquecimento, resistir à pressão, esperar que outro escândalo se apresente na pipeline. Mas será que a fórmula de Sarney e Renan, ambos treinados a atravessar o vendaval, se aplica a este caso? Nenhum dos dois depende, nem eleitoralmente, da opinião pública.

Terá o escândalo das licitações fraudadas em Campinas o potencial de substituir o escândalo da multiplicação dos bens do ministro? Embora mencione amigo do ex-presidente Lula e tenha atraído José Dirceu para gerir a crise, o processo em Campinas tem potencial mais de agravar do que atenuar a pressão sobre Palocci.

O mundo vive momentos em que a indignação, com todas as suas limitações políticas, desempenha um grande papel. Esteve presente nos países árabes, na crise da Islândia e agora reaparece com força no M-15, movimento espanhol que encheu as praças de jovens no 15 de maio. Na Europa, a crise econômica e o modo conservador de superá-la são um pano de fundo para a inquietação. O índice de desemprego é de 21% na Espanha e quase dobra quando se avalia apenas a força de trabalho mais jovem. Nos países árabes, não só a luta pela democracia, mas os preços cada vez mais altos dos alimentos foram decisivos para encher as praças.

A maioria desses fatores de frustração não está presente no Brasil. Isso dá certo fôlego à gestão dos escândalos. Mas a soma deles, entretanto, funciona como um detonador no futuro.

O movimento dos jovens espanhóis ao sair às ruas não apontava um caso específico, mas a falência dos partidos políticos e alto nível de corrupção. O Brasil já vive essa clima nas redes sociais, que são um instrumento novo de debate. Mas os fatores econômicos negativos estão ausentes.

Às vezes, temos tendência a subestimar a inteligência do governo e seus formuladores. Pode ser que nesta crise a margem de manobra seja tão pequena que o force a uma reação, aparentemente irracional. Nesse caso, a conclusão lógica é que os fatos revelados teriam uma consequência mais catastrófica do que a recusa à transparência.

Ainda que tenha gasto muitos milhões na campanha presidencial, Dilma Rousseff atraiu eleitores idealistas que ainda veem no governo do PT uma luta dos pobres contra os ricos, da esquerda contra a direita, do futuro contra o passado. Esses resíduos de idealismo devem ir pelos ares, confrontados com o vigoroso enriquecimento de Palocci e com as fraudes nas licitações em Campinas. Lá as fraudes se deram no setor de saneamento básico. O vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT) teve sua prisão decretada. A coalizão que governa Campinas intitula-se um governo popular. Desviar dinheiro de saneamento básico desconstrói qualquer imagem de um governo popular.

Alguém terá de salvar Dilma do impulso de resistir, por reflexo, com a tática, até certo ponto vitoriosa, de Maluf, Sarney, Renan e Jucá. Não que o escândalo Palocci tenha o potencial de indignar a população a ponto de jogá-la em manifestações de rua. Esse processo, como já vimos, só acontece combinado com fatores econômicos. Mas é preciso salvar o governo dos próprios aliados. Se a manobra de preservação de Palocci for feita nos moldes tradicionais, o sinal para todos os outros escalões estará dado. Nada vai segurar a voracidade de quem está nisso para enriquecer.

Jornalistas amigos do governo poderão argumentar que faltava uma lei, que Palocci não pode ser culpado de uma lacuna na estrutura legal brasileira. Mas não faltam razões morais e legais para respeitar o dinheiro do saneamento. E o esquema de Campinas nem isso perdoou. Será preciso inventar outra desculpa. Essa está esgotada, como está esgotada a tendência a escapar da responsabilidade afirmando que outros fizeram a mesma coisa. Se esse argumento tivesse alguma validade, pobres das camareiras de Nova York e dos hotéis do mundo inteiro. Um precedente ilustre absolveria todos os outros.

Não basta ao governo o talento para vencer eleições consecutivas e compor uma ampla base de apoio. Quando chegar o momento e as condições necessárias forem dadas, um cantor de rock, como na Islândia, pode acampar diante do Congresso e abrir seu microfone para o público. Aí começa, como na Islândia, uma profunda reforma, que alguns chamam de revolução, mas é apenas mudança radical no modo de fazer política no País.

Essas coisas não acontecem no Brasil - é uma frase que temos na ponta da língua para terremotos, desastres nucleares, tudo o queremos manter a distância. Mas em política as placas tectônicas são similares. Às vezes se acomodam ruidosamente. A solução para a crise da multiplicação do patrimônio e o escândalo das fraudes em saneamento terá papel decisivo no desenho do futuro político do País.

A longo prazo estaremos todos mortos. Mas, e se o prazo for mais curto do que prevemos?

GOSTOSA

CELSO MING - Devagar demais


Devagar demais
CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 27/05/2011

Mais uma vez, o avanço da locomotiva do mundo decepcionou. A evolução da atividade econômica dos Estados Unidos no primeiro trimestre deste ano foi de apenas 1,8% em termos anuais. Os analistas esperavam alguma coisa em torno dos 2,2%. E não há o que apareça com força para mudar essa marcha.

Um dos fatores que mais contiveram o avanço do PIB americano foi a alta dos preços dos combustíveis (mais 26%) e dos alimentos (mais 15%) no primeiro trimestre. Explica-se: nada menos que 70% do PIB dos Estados Unidos corresponde ao consumo das famílias. Como a alta dos combustíveis e dos alimentos estreitou o orçamento doméstico e derrubou o consumo, a atividade econômica ficou nesse nível aí.

Mas, então, por que a alta do petróleo e das commodities? Uma importante parcela de analistas entende que ela se deve principalmente à própria política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos). Há mais de dois anos, o Fed opera a juros zero e, além disso, colocou em andamento duas rodadas de afrouxamento quantitativo, operação de recompra de títulos privados e públicos que hoje alcança algo próximo do US$ 1,9 trilhão. Essa recompra vem injetando na economia americana volume equivalente de moeda, a mesma que é entregue em pagamento dos títulos.

Essa dinheirama apareceu do nada. Não é outra coisa senão impressão de moeda e se destina a desenroscar o crédito, o consumo e o emprego nos Estados Unidos. Mas seu efeito colateral, apontam os analistas, é a nunca vista abundância de recursos monetários em circulação no Planeta que, por sua vez, concorre para a alta dos preços do petróleo e dos alimentos.

Ainda ontem, no Rio de Janeiro, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Olivier Blanchard, avisou que ninguém deve esperar para tão cedo o enxugamento dessa enorme liquidez. Ou seja, a política monetária dos Estados Unidos continuará sendo essa aí e concorrerá para seguir puxando para cima as cotações do petróleo e dos alimentos e, portanto, para o relativamente baixo crescimento da atividade econômica e da renda no país.

O outro diagnóstico para a alta das commodities se fixa no aumento da demanda dos países emergentes, especialmente dos asiáticos. Como esse aumento da demanda deve continuar, também prevalecerá por mais tempo o fator que concorre para a contenção do consumo dos países ricos, especialmente dos Estados Unidos.

Ou seja, não importa qual a causa mais relevante para a puxada dos preços das commodities. Se ela é um freio do consumo americano, a recuperação poderá ser bem mais lenta do que a admitida hoje, por concorrer para o achatamento do poder aquisitivo das classes médias dos Estados Unidos.

Blanchard não consegue injetar otimismo. "A economia dos Estados Unidos está fraca por razões que não vão desaparecer. (...) O investimento continuará baixo, particularmente em moradia, setor que está morto e continuará morto por um tempo."

CONFIRA

O nível de desemprego no Brasil em abril baixou para 6,4% da população ativa (veja gráfico). É mais um indicador de que o mercado de trabalho continua aquecido.

Perda de renda.

Os mecanismos de ajuste começaram a funcionar. Em abril, o salário médio real caiu 1,7% em relação ao de março. É a inflação se encarregando de cortar o poder aquisitivo que não cabe na economia. Há hoje, no Brasil, 1,5 milhão de pessoas sem emprego. O mercado escasso não consegue absorver essa mão de obra pela falta de qualificação.