terça-feira, dezembro 25, 2012

O Estado do medo - MARCO ANTONIO VILLA


O GLOBO - 25/12


Em meio ao processo do mensalão, as diversas operações da Polícia Federal ou a turbulenta relação entre os poderes da República, o Brasil esqueceu do Maranhão. Na fase final da guerra contra Canudos, em 1897, os oficiais militares costumavam dizer que não viam a hora de voltar para o Brasil. Quem hoje visita o Maranhão fica com a mesma impressão. É um estado onde o medo está em cada esquina, onde as leis da República são desprezadas. Lá tudo depende de um sobrenome: Sarney. Os três poderes são controlados pela família do, como diria Euclides da Cunha, senhor do baraço e do cutelo. A relação incestuosa dos poderes é considerada como algo absolutamente natural. Tanto que, em 2009, o Tribunal Regional Eleitoral anulou a eleição para o governo estadual. O vencedor foi Jackson Lago, adversário figadal da oligarquia mais nefasta da história do Brasil. O donatário da capitania - lá ainda se mantém informalmente o regime adotado em 1534 por D. João III - ficou indignado com o resultado das urnas. A eleição acabou anulada pelo TRE, que tinha como vice-presidente (depois assumiu a presidência) a tia da beneficiária, Roseana Sarney.

No estado onde o coronel tudo pode, a Constituição Federal é só um enfeite. Lá, diversos artigos que vigoram em todo o Brasil, são considerados nulos, pela jurisprudência da famiglia . O artigo 37 da nossa Constituição, tanto no caput como no §1º, é muito claro. Reza que a administração pública "obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência" e "a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos". Contudo, a Constituição maranhense, no artigo 19, XXI, § 9º determina que "é proibida a denominação de obras e logradouros públicos com o nome de pessoas vivas, excetuando-se da aplicação deste dispositivo as pessoas vivas consagradas notória e internacionalmente como ilustres ou que tenham prestado relevantes serviços à comunidade na qual está localizada a obra ou logradouro".

Note, leitor, especialmente a seguinte passagem: "excetuando-se da aplicação deste dispositivo as pessoas vivas e consagradas notória e internacionalmente como ilustres". Nem preciso dizer quem é o "mais ilustre" daquele estado - e que o provincianismo e o mandonismo imaginam que tenha "consagração internacional." Contudo, a redação original do artigo era bem outra: "É vedada a alteração dos nomes dos próprios públicos estaduais e municipais que contenham nome de pessoas, fatos históricos ou geográficos, salvo para correção ou adequação nos termos da lei; é vedada também a inscrição de símbolos ou nomes de autoridades ou administradores em placas indicadores de obras ou em veículos de propriedade ou a serviço da administração pública direta, indireta ou fundacional do Estado e dos Municípios, inclusive a atribuição de nome de pessoa viva a bem público de qualquer natureza pertencente ao Estado e ao Município". Quando foi feita a mudança? A 24 de janeiro de 2003, com o apoio decisivo de Roseana Sarney. Desta forma foi permitido que centenas - centenas, sem exagero - de logradouros e edifícios públicos recebessem, em todo o estado, denominações de familiares, especialmente do chefe. Para mostrar o desprezo pela ordem legal, em 1997 foi criado o município de Presidente Sarney, isto quando a Constituição Federal proíbe e a estadual ainda proibia. Quem criou o município? Foi a filha, no exercício do governo. Mas a homenagem ficou somente na denominação do município. Pena. Os pobres sarneyenses - é o gentílico - vivem em condições miseráveis: é um dos municípios que detêm os piores índices de desenvolvimento humano no Brasil.

Como o Brasil esqueceu o Maranhão, a família faz o que bem entende. E isto desde 1965! Sabe que adquiriu impunidade pelo silêncio (cúmplice) dos brasileiros. Mas, no estado onde a política se confunde com o realismo fantástico, o maior equívoco é imaginar que todas as mazelas já foram feitas. Não, absolutamente não. A governadora resolveu fazer uma lei própria sobre licitação. Como é sabido, a lei federal 8.666 regulamenta e tenta moralizar as licitações. Mas não no Maranhão. Por medida provisória, Roseana Sarney adotou uma legislação peculiar, que dispensa a "emergência", substituída pela "urgência". Quem determina se é ou não urgente? Bingo, claro, é ela própria. Não satisfeita resolveu eliminar qualquer restrição ao número de aditivos. Ou seja, uma obra pode custar o dobro do que foi contratada. E é tudo legal. Não é um chiste. É algo gravíssimo. E se o Brasil fosse um país sério, certamente teria ocorrido, como dispõe a Constituição, uma intervenção federal. O que lá ocorre horroriza todos aqueles que tem apreço por uma conquista histórica do povo brasileiro: o Estado Democrático de Direito.

O silêncio do Brasil custa caro, muito caro, ao povo do Maranhão. Hoje é o estado mais pobre da Federação. Seus municípios lideram a lista dos que detém os piores índices de desenvolvimento humano. Muitos dos que lá vivem lutam contra os promotores do Estado do medo. Não é tarefa fácil. Os tentáculos da oligarquia estão presentes em toda a sociedade. É como se apresassem para sempre a sociedade civil. Sabemos que o país tem inúmeros problemas, mas temos uma tarefa cívica, a de reincorporar o Maranhão ao Brasil.


Quem arrisca no trem-bala - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADÃO - 25/12


Ao reduzir os ris­cos dos grupos privados interes­sados em ofere­cer tecnologia e operar o trem-bala ligando Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas, garantir- lhes financiamento oficial e, ainda, a eles se associar - com 45% do capital do grupo vence­dor, por meio da estatal Em­presa de Planejamento e Logís­tica (EPL) -, o governo acredi­ta ter afastado o risco de fra­casso no novo leilão, como o que ocorreu no ano passado, quando nenhuma proposta foi apresentada.

Os eventuais interessados têm muito mais vantagens e ga­rantias do que lhes ofereciam as regras apresentadas em 2011 - o que até pode assegurar o êxito do leilão, agora marcado para 19 de setembro de 2013, de acordo com edital divulgado no dia 13/12. Mas nem isso ga­rantirá que o projeto do trem-bala, tão demagogicamente em­balado pelo governo do PT, sai­rá do papel.

Nada ainda está definido so­bre questões essenciais ligadas à construção da ferrovia, como traçado, desapropriações, pro­jetos e técnicas de construção, custos, etc., pois tudo depende da tecnologia a ser utilizada pe­lo grupo que vier a vencer o lei­lão. Por isso, até agora, não há nenhuma certeza de que esse plano será executado. Se for, o trem-bala brasileiro não circu­lará antes de 2020.

A licitação desse projeto bi­lionário, de necessidade ques­tionada por causa de seu alto custo e benefício duvidoso, es­tava inicialmente prevista para 2010. Mesmo diante de críti­cas veementes de eventuais in­teressados no projeto do trem- bala - designado como "servi­ço público de transporte ferro­viário de passageiros por trem de alta velocidade" o gover­no manteve as condições que considerava adequadas e o le­vou a leilão em junho de 2011, O resultado foi o fracasso total do leilão.

Desta vez, o governo dividiu o projeto em duas etapas bem distintas. A primeira, que vai a leilão 110 ano que vem, é o ofe­recimento de tecnologia e de condições de operação do trem- bala. A segunda, que deve ser leiloada no primeiro semestre de 2014, será a construção da ferrovia. Nesta etapa, a empre­sa vencedora será responsável apenas pela construção, e por ela será paga não pelo consór­cio, mas diretamente pelo go­verno, que assumirá os custos, os quais espera poder cobrir com o valor da outorga. Nas contas do governo, as obras ci­vis custarão cerca de R$ 27 bi­lhões, aproximadamente o va­lor mínimo da outorga da ex­ploração do sistema, a ser pago no prazo de 40 anos.

Para as empresas operado­ras, com experiência reconheci­da em operações de trens de al­ta velocidade, as novas condi­ções são bastante atraentes, pois, além de terem de desem­bolsar menos capital próprio, estarão mais protegidas finan­ceiramente. Chegou a ser anun­ciada a participação de 30% da EPL 110 consórcio vencedor da licitação, mas o governo deci­diu ampliá-la para 45%. É essa a fatia dos rendimentos e tam­bém dos riscos do empreendi­mento que o governo assume. Em outras palavras, a empresa privada, que antes teria de assu­mir todo o risco do negócio, agora responderá por pouco mais da metade.

Estima-se que o consórcio responsável pela primeira fase - de outorga da operação e de definição de tecnologia - terá de investir R$ 7,67 bilhões. Des­se valor, porém, a empresa pri­vada desembolsará uma fatia pequena. O edital assegura que o BNDES financiará 70% do in­vestimento, com juros favoreci­dos e prazo de 40 anos, igual ao de concessão do sistema.

Do que sobra, cerca de R$ 2,3 bilhões, 45% serão de responsabilidade da EPL, pois essa será sua participação no consórcio. Resta, portanto, R$ 1,27 bilhão, valor que o grupo privado terá de desembolsar. Com esse montante, deterá 55% do siste­ma, que, se e quando for con­cluído, terá custado R$ 35 bi­lhões nos cálculos oficiais, que costumam ser subestimados. Assim, não parece improvável que apareçam até cinco grupos internacionais interessados no leilão do trem-bala.

Mesmo que o leilão tenha êxi­to, haverá a dúvida sobre a exe­cução e conclusão da obra pro­priamente dita. Se algo sair erra­do, como é provável que saia, já se sabe quem pagará a conta. O risco é do contribuinte.

Crime e castigo - CARLOS HEITOR CONY


FOLHA DE SP - 25/12


RIO DE JANEIRO - Admirei, com algumas restrições, a atuação do ministro Joaquim Barbosa durante as sessões do Supremo Tribunal Federal que julgaram os réus do mensalão. Em alguns momentos, ele me pareceu severo ou radical, lembrando o grande inquisidor, um Fouquier-Tinville da época do terror que marcou a Revolução Francesa.

Mas louvo integralmente sua decisão de poupar os culpados da prisão imediata, exigida por aqueles que gostariam de ver os réus atrás das grades, sobretudo neste Natal que, hoje, comemoramos.

Pessoalmente, acredito que a maioria dos crimes julgados não deviam merecer prisão, mas ressarcimento das quantias roubadas ou desviadas, de acordo com o patrimônio ou os rendimentos gerais de cada um, em parcelas ou no todo, tal como a Receita Federal cobra os impostos sonegados, chegando, em alguns casos, a dívida fiscal a 10 ou 20 anos.

Do ponto de vista moral, e até segundo julgamento, se houver, todos já foram severamente punidos e tiveram a reputação manchada. Vale dizer: serão fichas-sujas para sempre.

Não houve, até agora, aquilo que os italianos chamam de "fatto di sangue". Os réus devem ser punidos no mesmo território em que os crimes foram praticados. Nenhum deles oferece ameaça à paz social. A punição seria adequada à natureza do crime praticado: dinheiro.

Preso no dia 13 de dezembro de 1968 (edição do AI-5), passei o Natal daquele ano numa cela do Batalhão de Guardas. O que mais doeu foi que minhas filhas, então menores, esperaram até o último instante que eu armasse a árvore de Natal que elas julgavam mágica, pois, em determinada noite, enquanto elas dormiam, eu fazia o único milagre de que era capaz. Quando acordavam e viam a árvore cheia de presentes, o mundo para elas ficava maravilhoso. E para mim também.

Assina, Dilma! - JOSÉ CARLOS RIBEIRO FILHO E RODRIGO MARCUSSI FIATIKOSKI

O GLOBO - 25/12


Parlamentares precisam se informar sobre a nova fronteira petrolífera da margem equatorial, localizada na região Norte-Nordeste



O setor petrolífero vive período de estagnação decorrente não da falta de recursos financeiros, mas de vontade política. Lá se vão quase cinco anos desde a última rodada de concessões e as áreas exploratórias existentes atingiram os mais baixos níveis históricos em razão da falta de novos blocos destinados à busca de reservatórios de petróleo e gás natural. O anúncio da descoberta de vastos recursos na camada pré-sal em 2007 levou o governo federal a suspender as bem-sucedidas rodadas anuais realizadas desde a quebra do monopólio e a apresentar a proposta de um novo marco regulatório.

Superado tal obstáculo sem que houvesse a retomada dos leilões, passou-se a nova pendência: a insegurança jurídica criada pela disputa
por um novo modelo de distribuição dos royalties e participações especiais entre estados e municípios produtores e não produtores.

Vivemos um quadro curioso, onde o arcabouço jurídico-regulatório em vigor oferece perfeita condição para a realização da 11? Rodada. Todavia, permanece em alguma gaveta palaciana a Resolução CNPE n° 02/

2011. Tal instrumento foi aprovado por unanimidade em abril de 2011 pelo Conselho Nacional de Política Energética e encaminhado à Presidência da República para assinatura e publicação. Apenas após tal etapa a Agência Nacional do Petróleo estará de fato autorizada a licitar os 174 blocos anunciados solenemente pelo ministro Edson Lobão no ano passado e reanunci-ados pela presidente este ano, no último dia da
Rio Oil & Gas.

O Brasil está perdendo grandes oportunidades de atrair investimentos diretos para o setor. Inúmeras empresas brasileiras e estrangeiras aguardam ansiosas a oportunidade de realizar investimentos e gerar empregos no país. Mas, a depender do ritmo em que as decisões políticas são tomadas, o Brasil pode perder investimentos para outros locais de prospectividade iguais ou superiores à nacional. Basta olhar o sucesso de campanhas exploratórias na costa oeste da África e a revolução do gás de xisto nos EUA para perceber que nosso país não está sozinho na corrida pelo desenvolvimento energético.

Do ponto de vista jurídico, o novo marco está em vigor, a distribuição de participações gover-
namentais como se encontra é constitucional e, caso o Congresso venha a cometer o erro de alterá-la, oSupremo Tribunal Federal saberá zelar pela Constituição.

Estados e municípios não produtores, que hoje ameaçam o pacto federativo por uma distribuição inconstitucional dos royalties, deveriam parar de pensar a curtíssimo prazo. Seus parlamentares no Congresso precisam fazer o dever de casa e se informar sobre a nova fronteira petrolífera da margem equatorial, localizada justamente na Região Norte/Nordeste, foco da 11^ Rodada.

O país só tem a ganhar com a autorização do leilão. Por isso, aconselha-se: assina, Dilma!

Capitalismo de espoliação - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SP - 25/12


Durante anos, o Brasil chamou a atenção do mundo graças a seu novo ciclo de crescimento. No entanto seria interessante perguntar-se sobre o tipo de capitalismo que tal ciclo gerou, sobre qual a especificidade da experiência brasileira e seus limites.

Colocar tal questão é importante porque, se há algo que chama a atenção no caso brasileiro, é a maneira como aprofundamos um modelo econômico oligopolista, de baixa concorrência e alta concentração. No Brasil, o capitalismo mostrou uma de suas faces mais brutais. Pois não ocorreu aqui fenômenos de pulverização de atores econômicos por meio de ciclos de abertura de start-ups e de defesa estatal de ambientes de multiplicação de grupos de empreendedores.

Na verdade, tivemos, muitas vezes, uma diminuição no número de tais atores através de políticas estatais que produziram ou incentivaram involuntariamente a oligopolização da economia em nome da criação de "grandes players globais".

Setores como os frigoríficos e a produção de etanol são exemplares, nesse sentido. Em tais casos, em vez de lutar contra a tendência oligopolista, o governo subvencionou a criação de grandes grupos exportadores que usaram, em várias ocasiões, dinheiro público para comprar concorrentes e concentrar o mercado.

O resultado foi aberrações em que oligopólios controlam serviços e produtos, oferecendo-os a preços exorbitantes e com baixa qualidade. A recente pesquisa sobre os preços da indústria automobilística nacional, por exemplo, demonstrou o que qualquer pessoa sensata já imaginava: nossos carros estão entre os mais caros do mundo não devido aos impostos ou ao custo Brasil, reclamações clássicas de empresários acostumados com a exploração de seus empregados.

Na verdade, eles estão entre os mais caros simplesmente porque a margem de lucro é uma das mais altas do mundo. Algo só possível em um mercado totalmente oligopolizado, sem concorrência real. Mercado onde a regra é a espoliação dos consumidores.

Durante certo tempo, ouvimos a pregação de que a abertura da economia nacional a empresas estrangeiras quebraria o ciclo de relações incestuosas entre poder público e burguesia nacional de baixa competividade. No entanto o que vimos nesses casos foi um primeiro momento virtuoso que logo dava lugar a um novo monopólio, só que agora com sotaque estrangeiro.

Ou seja, o Brasil tinha à sua frente o desafio de criar um sistema econômico no qual a intervenção estatal fosse organizada tendo em vista a quebra da natureza monopolista do capitalismo atual. Mas ele fez exatamente o contrário. Há de perguntar se isso não colabora para o atual estágio de baixo crescimento econômico.

Desejos de Natal - VALDO CRUZ

FOLHA DE SP - 25/12


BRASÍLIA - Não quero dar uma de estraga prazeres, longe disso, até prefiro estar errado, mas a presidente Dilma corre o risco de ficar frustrada quando abrir um dos presentes que deseja ganhar neste Natal, mas cujo conteúdo conhecerá apenas no fim de 2013.

Ela revelou que um de seus desejos é ganhar "um PIBão grandão" no próximo ano. Não adiantou de quanto seria, mas, pelo que falou recentemente, ficaria na casa dos 4,5%, bem maior do que o "PIBinho" previsto para 2012, de 1%.

Em sua equipe, porém, a avaliação de alguns assessores é que um crescimento de 3,5% no ano que vem já será uma "senhora aceleração" -previsão dos analistas de mercado, com a qual parte do governo Dilma concorda.

A chave das avaliações está na inflação ainda elevada. Mesmo com o país andando quase de lado neste ano, com um PIB pífio de 1%, a inflação oficial ficará em 5,8%. Deveria ter ficado muito menor.

O fato é que, por fatores externos e internos, nossa inflação tem mostrado certa resistência em cair diante de um receituário expansionista no campo fiscal do governo Dilma. Fica difícil garantir um "PIBão" no ano que vem e evitar que a inflação suba mais, em vez de cair.

Principalmente levando em conta que o Banco Central não deseja subir os juros em 2013 e quer mantê-los estáveis por um "período suficientemente prolongado".

Não por outro motivo, as palavras de ordem no governo são "sangue frio" e "paciência". Nada de exagerar na mão nos próximos meses e colocar em risco o controle da inflação, pois o crescimento do próximo ano já estaria contratado.

Não deve ser os 4,5% sonhados pelo governo, mas os 3,5% mais realistas do mercado e de parte da equipe. Se o desemprego seguir baixo, e a renda, alta, ainda assim será um bom crescimento. Além de ser mais prudente para pavimentar o caminho da reeleição, em 2014.

Natal tropical - XICO GRAZIANO


O Estado de S.Paulo - 25/12


Pense na ceia de Natal. Tente descobrir a origem das maravilhas que saciam a família reunida. De onde surgiu o delicioso peru, ave de peitoril inigualável? Qual a diferença entre o leitão e a leitoa? Chester é mesmo um cruzamento de peru com frango? E as castanhas que se beliscam de entrada, como se explica o costume de degustá-las nesta época? Curiosidades e mistérios se escondem na mesa natalina.

Peru, o bicho, acredite, não é nativo do Peru, o país andino. Nem ninguém sabe ao certo por que o nosso vizinho recebeu o nome dessa grande ave. Sobre sua verdadeira origem também há controvérsias. Sabe-se, com certeza, terem sido os astecas, na era pré-colombiana, quem primeiro a domesticou, utilizando-a em rituais religiosos e na alimentação festiva. O México, assim, seria a sua pátria. Há, porém, quem considere que o peru selvagem inicialmente habitava as florestas da América do Norte. Estudos recentes, utilizando a técnica do mapeamento genético, comprovaram serem ambas as versões corretas. Existiram, na verdade, duas variedades ancestrais de peru.

Durante a colonização - ou rapinagem - espanhola, o peru acabou levado do México para a Europa, fazendo sucesso no banquete. Mas somente por volta de 1850 o penoso impôs sua supremacia, destronando o cisne como ave preferida da comilança de Natal. A seu favor, mais do que o paladar, contava o avantajado tamanho, favorável para ostentar a fartura, e o poder, da nobreza reunida. Antes, na Idade Média, nessas ceias era o guisado de caça que ocupava o lugar central à mesa; o prato cozido, por sua vez, representava o segundo escalão na gastronomia medieval. A pompa culinária varou os séculos.

Afamado na França e na Inglaterra, o peru percorreu uma espécie de retorno às origens, impondo-se igualmente no jantar religioso dos norte-americanos. Há tempos o bicho por lá se popularizou, tornando-se regra de consumo. Hoje os Estados Unidos lideram tanto a produção como o consumo mundial de perus. Os gringos consomem, per capita, oito vezes mais carne de peru que os brasileiros. E para aproveitar as carnes fora do nobre peito inventaram o blanquet, uma espécie de presunto avícola. Assim, coxas e sobrecoxas, que do peru inteiro ninguém come, se transformam em sanduíches e que tais.

Com o tempo, o melhoramento genético, a alimentação com rações e o manejo das granjas transformaram a ave selvagem, dura de comer, em apreciada e tenra carne. Um peru comercial se abate jovem, a partir dos 3 meses de idade, dependendo da precocidade da raça e do sistema de criação. Muito diferente da criação nas fazendas de antigamente, quando o peru era não apenas raro, mas abatido adulto, grande e rijo. Por esse motivo, aliás, surgiu o hábito de dar pinga, na marra, para o coitado do bicho beber antes de ser sacrificado, visando a amolecer sua carne. Ninguém jamais provou que essa técnica da cachaça funcionasse. Sabe-se, isso sim, que muita gente andou se embebedando juntamente com o glu-glu nessa traquinagem caipira.

O peru, pelo menos, jamais mudou de nome. Diferentemente do que, curiosamente, acontece com o suíno de Natal. O mesmo bicho aparece na mesa com três nomes diferentes: leitão, leitoa e pernil. Depende da idade. Ainda pequenino, ao redor dos 30 dias de vida, o porquinho é abatido e assado inteiro: um leitão. Maiorzinho, com dois a três meses de idade, é preparado em pedaços da carcaça, um quarto dianteiro ou traseiro e, seja qual for o sexo dele, macho ou fêmea, vira leitoa. Quando adulto, pesando acima de 90 quilos, aos 6 meses, tem seu pernil apreciado, no forno. Cada era, um apelido.

Esqueça: o chester não se originou de um cruzamento de espécies. Nada disso. O galináceo grandão deriva de uma linhagem de frango descoberta na Escócia e aprimorada nos Estados Unidos. Sua vantagem reside em concentrar 70% do volume da carne no peito e nas coxas, bem mais que o frango (45%). Introduzida no mercado brasileiro em 1982, a ave fez cartaz: nem tão grande, e cara, como o peru, nem tão comum como o frango assado.

Em decorrência da acelerada urbanização, nessa época, há cerca de 30 anos, a ceia de Natal começou a se diversificar, contando com o auxílio dos produtos importados. Foi quando as castanhas se popularizaram. À mesa nos preliminares do convescote, seu sabor amargo, seco, harmoniza o paladar com o champanhe, o uísque e a cerveja, principalmente, ajudando a soltar a conversa até chegar a hora principal, a da esperada ceia. Aqui se esconde um mistério alimentar.

Acontece que nos países temperados, quando o Natal rola debaixo de neve, ingerir nozes, avelãs, amêndoas se justifica por causa do elevado valor calórico das castanhas, ajudando a aquecer o corpo. Em média, essas sementes oleaginosas contêm 700 quilocalorias em cada 100 gramas, quatro vezes mais que o ovo de galinha, ou sete vezes acima da carne do peito de peru. Mesmo no calorento Natal tropical, porém, o costume europeu vingou. Vá entender.

Certo patriotismo induz, por aqui, a consumir a castanha-do-pará, a melhor brasileira delas. Nativa da Amazônia, sua produção advém, ainda, da rudimentar coleta florestal. Além de verde-amarela, sua vantagem é conter uma grande quantidade de selênio, um mineral importante para a saúde humana, auxiliar no bom funcionamento do cérebro. Apenas uma castanha-do-pará por dia é suficiente para suprir a inteligência do organismo. Nada de se empanturrar.

É interessante a história da alimentação. Sua viagem pelos tempos indica as constantes mudanças na sociedade. No Natal dos Grazianos, em Araras (SP), entretanto, uma tradição culinária nunca mudou: o prato principal da ceia continua sendo o cabrito na caçarola. Mania de calabrês.

Bom Natal e feliz ano-novo!

Presente de Natal - RODRIGO CONSTANTINO

O GLOBO - 25/12


Prezado Papai Noel, começo pedindo desculpas, pois essa carta não chegará a tempo. É que os Correios aqui no Brasil ainda são administrados pelo governo, e sabemos como as estatais costumam ser ineficientes.

Gostaria de dizer que me comportei bem este ano. Não pratiquei nenhum “malfeito”, não usei “amizades íntimas” para conseguir privilégios, enfim, fiz tudo diferente da cúpula petista. Sei que isso é pouco para seus rigorosos critérios de julgamento, mas creio que já mereço algum presente por isso, não?

É que meus vizinhos estão cada vez mais flexíveis na ética, pois o exemplo que vem de cima não é dos melhores. Caso o senhor não tenha visto, a última pesquisa mostra elevada aprovação ao governo Dilma. Parece que a turma por aqui não liga para a quantidade infindável de escândalos de corrupção envolvendo gente importante do governo. Você acredita que ainda tem quem veja a presidente como uma “faxineira” da ética?

Se há emprego e renda, ninguém quer saber detalhes da Operação Porto Seguro. Alguns acreditam até se tratar de um esquema de compra de abadás para o carnaval. O ex-presidente Lula virou um mito intocável. Isso aqui é uma festa, Papai Noel. Deve ser o clima tropical. Será que você poderia fazer nevar por aqui?

O pior é que até mesmo quando o assunto é economia os dados jogam contra o governo, mas ninguém acusou o golpe ainda. Lembra o ministro Mantega, que prometeu crescimento de 4,5% este ano? Pois é, se chegar a 1% é muito. E isso com a inflação perto de 6%. Combinação terrível essa de baixo crescimento com inflação alta. Quem pode ficar surpreso com a revista “The Economist” pedindo a cabeça dele?

Mas o governo coloca a culpa no resto do mundo, como sempre, ignorando que os demais países latino-americanos crescem muito mais que a gente, sem falar dos asiáticos. E não é que o povo acredita? Será que você mandaria alguns milhões de óculos para cá? Deve ser algum problema de visão dos meus compatriotas.

Aproveito para reclamar contigo do excesso de chatice politicamente correta por aqui. Está ficando insuportável isso. Uma turma fascista pensa lutar pelo nosso bem, e não enxerga limites para invadir nossas liberdades de escolha. Querem controlar tudo em nome da saúde perfeita.

Você acredita que a Anvisa proíbe até bronzeamento artificial? Não ria, bom velhinho, pois é sério. É questão de tempo até o Dráuzio Varella, esbanjando saúde, te usar como mau exemplo em alguma campanha. Essa sua pança não é nada politicamente correta, e as crianças podem ter uma influência negativa. Olha o nível da situação!

Papai Noel, agora eu preciso ser sincero e te fazer uma crítica. Desde muito desconfio que você seja marxista. Não é apenas pela cor vermelha de sua roupa ou essa barba comprida. É algo muito pior. Você distribui todos os presentes, fica com a fama de legal, mas quem paga a conta mesmo são os pais das crianças!

Essa é exatamente a postura dos esquerdistas em geral. Eles querem fazer caridade com o esforço alheio. Eles gostam de posar de altruístas jogando a fatura para os outros. Que vergonha você agir conforme essa turma. Eu confesso que esperava mais do senhor...

Bom, estou chegando ao fim da carta, e gostaria de fazer meus últimos pedidos. Espero que em 2013 a ficha possa cair no Palácio do Planalto, pois ela já caiu para todos os economistas sérios: os rumos da economia precisam mudar. Não é mais possível estimular consumo com base em crédito público. Isso vai acabar produzindo uma bolha por aqui.

O governo também precisa parar com essa mania de intervir o tempo todo na economia de forma arbitrária. O que permite crescimento sustentável é um arcabouço institucional simples e claro, que garanta a propriedade privada e ampla liberdade econômica. Empresários gostam de segurança nas regras do jogo.

Os gastos públicos precisam ser drasticamente cortados também, para permitir a redução dos impostos. Mas com esses “desenvolvimentistas” no poder fica difícil sonhar com isso.

A “oposição” precisa acordar. Ela está hibernando há tempo demais. Sei como deve ser difícil para os tucanos, de esquerda, criticarem de forma mais dura o modelo econômico do PT. Por isso precisamos urgentemente de uma opção liberal, sem medo de defender uma alternativa a essa social-democracia engessada.

Por fim, um último pedido. Que o livro “Privatize Já” seja distribuído entre a população. Quem sabe assim o pessoal acorda e deixa de cair nessa ladainha de slogans eleitoreiros, tal como “o petróleo é nosso” e outras besteiras do tipo.

Atenciosamente, R.C.

Exemplos e contraexemplos - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 25/12


SÃO PAULO - "Se o STF acha que o Congresso deve seguir a ordem cronológica, pode dar exemplo com seus mais de 60 mil processos em estoque." A frase do senador Pedro Simon (PMDB-RS), estampada no Painel de ontem, é uma resposta à liminar concedida pelo ministro Luiz Fux que obriga o Congresso a analisar cerca de 3.000 vetos presidenciais antes de votar a tão cobiçada repartição dos royalties do petróleo.

Embora a reação do combativo senador tenha algo de corporativo, ele levanta um ponto importante. O Supremo, como qualquer Poder, não é lá muito rigoroso na aplicação de suas regras de funcionamento interno.

Um caso emblemático é o dos pedidos de vistas, que respondem por parte do suntuoso acúmulo de ações. A resolução nº 278/2003, do STF, fixou um período máximo de 30 dias (10 dias prorrogáveis duas vezes) para a análise dos autos. Não obstante, ministros às vezes passam anos sentados sobre um processo. O próprio Fux não é uma exceção. Em junho, ele pediu vista no julgamento sobre o poder de investigação do Ministério Público. Só devolveu a papelada em dezembro, quase cinco meses além do prazo legal.

Longe de mim afirmar que não precisamos seguir normas. Um dos grandes problemas do Brasil é que o fazemos pouco. Daí não decorre, entretanto, que devamos aplicar com zelo máximo todas as leis vigentes. Fazê-lo significaria criar o inferno na terra, além de paralisar as instituições. Um exemplo: para obter um mínimo de eficiência, a polícia precisa estabelecer prioridades, o que implica fechar os olhos para violações tidas por menores.

A decisão sobre quais normas devem ser seguidas e em que situação é algo que depende da familiaridade do agente com um amplo conjunto de regras não escritas de sociabilidade que chamamos de bom-senso. É impossível fixá-las no papel, daí que precisamos de juízes e policiais de carne e osso para aplicá-las.

Querido Papai Noel - ANTONIO M. BUAINAIN

O Estado de S.Paulo - 25/12



Durante anos lhe enviei cartas com longas listas de pedidos, que o sr. filtrava com sabedoria e atendia de acordo com meus méritos. O sr. também me escrevia, estimulando-me a estudar mais para conquistar os presentes desejados no ano seguinte. Algumas vezes fiquei revoltado, mas sei que o sr. tinha razão, arrependo-me por ter feito vista grossa aos seus conselhos e lhe sou grato por ter vinculado a satisfação dos meus desejos ao meu próprio esforço.

Talvez não seja possível responder a esta cartinha apressada, enviada tão em cima da hora, mas não custa tentar. Este ano coisas inusitadas têm acontecido! Para começar, o Supremo Tribunal Federal julgou o mensalão e escreveu uma das páginas mais republicanas em nossa distorcida República, na qual os poderosos se acostumaram a levitar acima das leis e a usar as instituições democráticas para benefício próprio e de grupos políticos, transformando a res publica em coisa privada, por meio de métodos espúrios e criminosos.

E o mundo não acabou, como previam os maias. É certo que a crise internacional não arredou o pé e que passamos o ano sob ameaças de vaticínios mais tenebrosos do mercado que o fim do mundo. No frigir dos ovos, 2012 foi muito melhor do que se imaginava: a China retomou o passo e está crescendo a quase 8% este ano, a economia americana manteve a lenta retomada e vários dos nossos "hermanos" latinos esbanjaram um vigor de dar inveja. O chato é que o Brasil ficou bem para trás, com um "pibinho" de 1% que está tirando o brilho e o orgulho que ostentamos em 2007, 2008 e, principalmente, em 2010, quando crescemos 7,5% e nos colocamos como uma das locomotivas da economia mundial.

Mas em vários quesitos não estivemos nada mal. A taxa de desemprego manteve-se baixa, a renda domiciliar e o consumo cresceram e as famílias brasileiras parecem mais felizes e, certamente, vivem um nível inédito de bem-estar material. Mesmo sabendo que o PIB é um indicador imperfeito de desenvolvimento, quero reforçar o desejo da presidente Dilma e pedir-lhe que nos ajude a produzir um "pibão", pois sem isso não será possível manter esses indicadores positivos. Como 2013 já foi plantado em 2012, talvez não dê para esperar muita coisa. Mas tenho certeza de que, com a sua ajuda, é possível melhorar bastante o quadro.

O crescimento da economia depende do investimento, e gargalos de infraestrutura oferecem muitas oportunidades para investimentos e podem se transformar em poderosa alavanca de crescimento. Nesse sentido, o Brasil é "o" país das oportunidades, pois o que não falta é déficit de infraestrutura. Está claro que o Estado não tem cacife, competência e muito menos condições institucionais para enfrentar os desafios nesta área. A flexibilização da política fiscal já está se esgotando e o crescimento do pibinho é cada vez menor. Em compensação, o setor privado tem caixa e gana para investir. Faltam só um marco regulatório adequado e uma definição clara sobre o papel do setor privado no desenvolvimento econômico do País, sem rodeios e preconceitos ideológicos.

Querido Papai Noel, não lhe quero incomodar com pedidos mais difíceis, como o de nos ajudar a levar a sério a educação, fazendo-nos entender que sem ela não há desenvolvimento e que ela não pode estar submetida aos ciclos eleitorais e ao populismo social que hoje orientam boa parte das políticas públicas. Nem quero lhe pedir para dar uma mãozinha no sentido de fortalecer o mérito e esforço pessoal em substituição ao jeitinho e ao culto das relações privilegiadas como forma de "se dar bem". Ou, ainda, para difundir o empreendedorismo entre os jovens talentosos, que hoje pensam mais em fazer concurso público do que em criar riqueza para a sociedade. E também deixo de lado a redução da violência, a reforma política, o corte geral dos impostos e a melhoria dos serviços públicos. Após tantos anos sem lhe escrever, não seria justo lhe incomodar muito. Mas veja lá o que o sr. pode fazer para nos ajudar a conseguir o pibão de que o País precisa para progredir. E, se quiser, encaminhe a mensagem a São Judas, o das causas impossíveis.

O atraso do trenó - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 25/12


Já é o dia 25, mas quem sabe o trenó se atrasou. Com a dificuldade de mobilidade urbana — e até aérea — que anda por aí, pode ser que Papai Noel ainda tenha tempo de receber uma cartinha da coluna. Pedidos mil. Lucidez para os políticos em momentos importantes da transição institucional do país encabeça a lista. O combate à corrupção precisa ter novos avanços.

O pedido acima é o chamado dois em um: mais lucidez para políticos pode levar à menos corrupção. Se forem lúcidos, descobrirão que o nível a que o problema chegou no país ameaça as instituições. A corrupção teve um duro golpe em 2012, que novos desabem sobre a cabeça desse mal no ano que vem, e no outro, e no outro. Assim, quem sabe um dia... não custa sonhar.

Que as boas intenções do governo deem certo e o índice de erros caia. Um desses objetivos louváveis é a eliminação da extrema pobreza brasileira. Tomara que o país se apresse na busca desse objetivo porque já estamos chegando ao meio da segunda década do milênio.

A educação de qualidade é um presentão, desses que se desdobram em vários outros presentes como se fosse uma matrioska russa. Torna mais garantido o pedido anterior, de redução da miséria, aumenta a força da economia, porque estamos em plena era do conhecimento, fortalece a democracia. Se o velhinho de vermelho garantisse que daria esse regalo ao país, a gente poderia esquecer o resto da lista porque muitos dos pedidos seriam automaticamente atendidos.

Como não há, nem de longe, essa certeza, continuemos aqui sonhando, porque se não for hoje, dia de Natal, quando será o tempo do devaneio?

O pedido inclui também eficientes administradores públicos, principalmente das cidades. Quem vem de trenó tem visão panorâmica e sabe, portanto, que aqui embaixo está uma bagunça horrorosa. O trânsito deu um nó cego no país. Não se vai para a frente nem para trás. Chega-se ao trabalho exausto e com baixa produtividade; chega-se em casa incapaz de aproveitar os momentos em família. Melhor mobilidade urbana elevaria a eficiência profissional, a qualidade de vida, o humor, o amor.

Se fizessem só isso, os administradores públicos já poderiam ser aplaudidos. Ficaria faltando apenas que eles vissem tudo o mais, como a falta de área verde, de planejamento urbano, segurança, tratamento do lixo, saneamento... enfim, essa lista acaba de entrar num atalho ou criar uma sublista que pode ficar interminável. Voltemos para o eixo central da missiva.

Caro Papai Noel, que esta e todas as cartas sejam escritas em papel reciclável ou de florestas plantadas. E que o país tenho o juízo de reduzir o número de árvores abatidas em 2013. Este ano foram 232,8 milhões, segundo o cálculo do especialista Paulo Barreto, do Imazon. E isso foi no ano de menor taxa de desmatamento. É bom lembrar que esse número de arboricídio é apenas o da nossa maior floresta, mas elas tombam em todos os biomas brasileiros pelos mais desatinados motivos.

Na economia, uma bondade pode levar a outras. Menos impostos e menos gastos públicos podem levar a mais poupança, que permitirá mais investimentos, que, se forem bem feitos, podem aumentar a eficiência, e tudo com mais emprego e renda. E, claro, mais crescimento do PIB. Nem todo gasto público pode ser cortado, por isso, que a tesoura fique nos desperdícios. Já terá muito trabalho. Que as agências agenciem menos os interesses particulares e regulem melhor os serviços públicos, para que as concessionárias nos irritem menos em 2013.

Um pedido em causa própria, se me derem licença: que os leitores leiam mais jornais em qualquer formato. E livros. O Brasil lê pouco, mas isso tem mudado. Quem sabe a gente vira essa página?

Operação Portugal - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 25/12


A Polícia Federal deve concluir em janeiro investigação preliminar aberta para apurar a procedência de denúncia, feita pelo deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), de que Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, teria levado 25 milhões de euros para Portugal na mala diplomática. Por meio de acordos de cooperação, a PF pediu informações à alfândega portuguesa e ao Banco Espírito Santo, para onde teria sido levado o dinheiro, segundo o deputado.

No pé Garotinho formalizou o pedido de averiguação à PF no dia 6, depois de publicar a acusação em seu blog. Ele também encaminhou ofício ao Ministério das Relações Exteriores pedindo informações sobre todas as viagens a Portugal realizadas durante o governo Lula.

Negócio em... A escola de inglês na qual Rosemary Noronha e o ex-diretor da ANA Paulo Vieira, ambos denunciados no âmbito da Porto Seguro, pretendiam se associar seria registrada no nomes das filhas da ex-assessora da Presidência, Meline e Mirelle, esta última exonerada do governo federal após o escândalo da Porto Seguro.

... família A instituição teria um capital inicial de R$ 100 mil reais e seria sediada no escritório do ex-marido de Rosemary, José Cláudio de Noronha, mas ainda não tinha nome escolhido.

Segurança 1 Advogados dos réus do mensalão condenados a regime fechado planejam se reunir no início do ano para discutir uma preocupação em comum: o risco de que, se ficarem em celas com outros presos, seus clientes sejam vítimas de violência ou de extorsão.

Segurança 2 O temor dos advogados é que, ainda que sejam poupados de ficar presos em celas superlotadas, os condenados do mensalão -dada a exposição do caso e o alto poder aquisitivo de muitos deles- sejam ameaçados de morte se não transferirem dinheiro para contas ligadas a organizações criminosas que agem nos presídios.

Vetado Nos últimos meses do que deve ser sua última gestão como presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) tenta barrar o juiz maranhense Ney Bello na disputa por uma vaga de desembargador no Tribunal Federal da 1ª Região.

Onde pega Bello determinou investigação sobre o empresário Fernando Sarney, filho do senador, e suas empresas em um desdobramento da Operação Faktor. A nomeação para o tribunal deve ocorrer no início de 2013.

Bancada... A primeira-vice-presidente da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES), relatou à bancada feminina da Casa ter recebido na semana passada um telefonema do vice-presidente da República, Michel Temer, pedindo que ela retirasse sua candidatura à presidência da Casa.

... do batom Segundo o relato de Rose, Temer argumentou que a manutenção de uma candidatura alternativa no próprio PMDB poderia colocar em risco a postulação do líder, Henrique Alves (RN), ao cargo. As deputadas pediram para Rose manter a candidatura.

Só love O PT planeja instalar Arselino Tatto, vereador da sigla mais próximo de Gilberto Kassab, na liderança do governo de Fernando Haddad na Câmara paulistana. Alfredinho Alves foi escalado para chefiar a bancada petista, a maior do Legislativo.

Tráfego... Depois do pacote de concessões de Dilma Rousseff, lançado na semana passada, Geraldo Alckmin anunciará amanhã a transferência da administração de 4 dos 31 aeroportos do paulistas para prefeituras.

... aéreo Hoje sob controle do Daesp (Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo), os terminais regionais de Botucatu, Barretos, Lins e Piracicaba passarão a ser geridos pelos municípios.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI


TIROTEIO

"O único presente de Natal de Dilma foram os estádios construídos pelos governadores de Minas e do Ceará. Isso explica o PIBinho."
DO DEPUTADO FEDERAL RODRIGO MAIA (DEM-RJ), sobre o resultado abaixo do esperado pelo governo registrado pela economia brasileira em 2012.


CONTRAPONTO

Tem que malhar


O ministro Aldo Rebelo (Esportes) participou na semana passada de reunião do COB no Rio com todas as confederações esportivas do país. Fazia um discurso sobre a importância da prática de esportes, ao lado do secretário-executivo da pasta, Luís Fernandes, e do secretário de Alto Rendimento, Ricardo Laiser.

-Eu mesmo pratico cavalgada. E você, Fernandes?

-Eu corro todos dias! -, respondeu o secretário.

Aldo quis saber o mesmo de Laiser, que respondeu:

-Nada...

-Nada? Mas é nada do verbo "nadar", né? -, socorreu o ministro, arrancando uma gargalhada geral da plateia.

Saudades do Natal - ARNALDO JABOR


O Estado de S.Paulo - 25/12


Eu já tive carnavais felizes, "sãos joões" felizes, mas não me lembro de uma grande "noite feliz, noite de paz"... O Natal perdeu a delicadeza antiga. Não temos mais chaminés nem ceias opulentas. Em vez do saco de presentes, temos as calamidades coloridas dos shopping centers. Hoje, no presépio de Belém, perto da manjedoura onde o menino Jesus recebeu os reis magos, nos lugares sagrados de Jerusalém, explodem os homens-bomba berrando "Feliz Natal, cães infiéis!"

Que estranho destino é esse da humanidade se fechando como uma cobra mordendo o próprio rabo, a morte no mesmo lugar no nascimento, o fim da civilização no mesmo lugar onde começou, ali entre o Tigre e o Eufrates, na Mesopotâmia.

Uma vez, Rubem Braga fez uma lista dos lugares-comuns jornalísticos que justificariam demissões sumárias. O sujeito que escrevesse que o "trem ficara reduzido a um monte de ferros retorcidos" ou que o "incêndio era o 'belo-horrível' estava despedido. Havia outras banalidades imperdoáveis, como: "Natal Natal, bimbalham os sinos!"...

Lembro-me que no Natal, enquanto os sinos 'bimbalhavam', eu via as ceias do meu canto de menino: as ligações frágeis entre parentes, entre tios e primos, as antipatias disfarçadas pelos abraços frios e os votos de felicidades. Eu olhava as famílias viajando no tempo como um cortejo trôpego, eu via a solidão de primos medíocres, das tias malucas, dos avós já calados e ausentes, o eterno presunto caramelado, o peru com apito. O destino das famílias ficava evidente no Natal. Os pobres se conformando com o tosco prazer dos presentes baratos e os ricos querendo provar que seriam felizes a qualquer preço - egoístas o ano inteiro, esfalfavam-se para viver uma alegria compulsiva entre gargalhadas, beijos molhados de vinho e uísque, terminando nas tristes saídas na madrugada, com crianças chorando e presentes carregados com tédio por pais de porre, aos berros de "feliz Natal".

Papai Noel sempre me intrigou. Quem era aquele sujeito que começava a aparecer no fim do ano, nas lojas, no rádio, na TV? Papai Noel tem muitas conotações desde que foi inventado na Noruega, por causa de São Nicolau, que ajudava as pessoas carentes nos fins de ano.

Soube que, no fim do Estado Novo, lançaram uma campanha nacionalista para substituir o Papai Noel por um outro símbolo: o "Vovô Índio" - um velho silvícola seminu, com peninha na cabeça, que traria presentes para os "curumins" de verde e amarelo. Foi um tremendo fracasso, claro, numa época em que o cinema americano já mandava o Bing Crosby cantando White Christmas sem parar.

Papai Noel era invencível, se bem que eu nunca gostei dele. Papai Noel sempre foi uma imagem de perdão e carinho.

Mas, não para mim. Já contei isso uma vez, aqui. E o repito porque nos Natais e carnavais nada muda. Nada mais parecido com um Natal do que outro.

Papai Noel me dava presentes sim, mas sempre acompanhados de uma carta (escrita à mão, em tinta roxa) em que me fazia repreensões dolorosas: "Por que você desobedeceu à sua mãe e matou a aula de piano? Por que você bateu na sua irmã com o espanador? Se fizer de novo... ano que vem tem castigo..." Para mim, Papai Noel era assustador, por causa desse estratagema educativo de meu pai, que usava o Natal para me dar lições de moral. Cada presente aberto me dava um sentimento de culpa. Daí, a conclusão infantil: Papai Noel gostava de todo mundo, menos de mim. Papai Noel foi meu superego de barbas brancas.

Talvez por isso, comecei a criticar o mundo desde pequeno. Deu no que deu... hoje sou esta pobre cabeça falante se esgoelando no rádio e TV. Eu fui o primeiro de minha turminha de subúrbio a desconfiar que Papai Noel era uma fraude; comecei com ele e hoje tenho os mensaleiros e pizzas de CPI, neste país farto de mentirosos. "Papai Noel não existe!" - foi meu grito revolucionário. "Existe sim! Ele me deu um velocípede!" - bradavam os meninos obstinados em sua fé. "Ah, é? Então, fica acordado para ver se não é teu pai botando os presentes na árvore!" Mas, meus amigos lutavam contra essa desilusão, mais ou menos como velhos petistas que não desistem do paraíso comunista. Recorri a meu avô, conselheiro e aliado, e ele apoiou meu agnosticismo natalino: "Não existe não... Você não é mais neném..."

Daí para a frente, não parei mais. Entrei de sola na lenda da cegonha e do bebê que "papai do céu mandou"...

"Vocês pensam o quê? As mães de vocês ficam nuas e o pai de vocês bota uma coisa dentro da barriga delas pelo umbigo...!" "A minha mãe, não!" - berravam os jovens édipos, partindo para a porrada de rua comigo. Daí para descrer de Deus foi um pulo, para o horror escandalizado dos colegas do colégio jesuíta. "Deus é bom, padre?" "Infinitamente bom..." "Ele sabe de tudo?" "Sim..." - respondiam os padres já desconfiados. "Então, por que ele cria um cara que depois vai para o inferno?" Até hoje ninguém me respondeu a isso.

E assim fui, até começar meu ódio ao "imperialismo norte-americano" dos anos 60. Hoje, não tenho mais medo do Papai Noel; tenho até uma certa pena dele... e de nós.

Hoje, Papai Noel vem com as renas canibais de um Polo Norte que está derretendo pelo efeito estufa que os líderes mundiais se recusam a combater. O Natal é uma saudade do Natal. E hoje, com o futuro cada vez mais ralo, tenho saudades da precariedade de nossa vida antiga, da ingenuidade dos comportamentos, de um mundo com menos gente louca e má. "Ah! Você por acaso quer a volta do atraso?" - dirão alguns. Não; mas sonho com uma vida delicada que sumiu, dos lugares-comuns, dos chorinhos e chorões, de tudo que era baldio, dos valores toscos da classe média. E quando chega o Natal, tenho nostalgia das tristes ceias de minhas tias, sinto ainda o gosto dos panetones e rabanadas transcendentais do passado.

Objeto de desejo - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 25/12


O governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) está de olho no Ministério de Minas e Energia. Quer um aliado na pasta para o segundo tempo da luta pelos royalties do petróleo. Com o fim do mandato de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado, o ministro Edison Lobão fica sem seu maior aliado. Por hora, a disposição da presidente Dilma é a de manter o ministro no cargo.

No horizonte dos tucanosA cúpula do PSDB está na expectativa de ter a mesma sorte do PT: não pagar nas urnas pelo julgamento do mensalão. Acontece que o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, quer julgar o quanto antes o chamado mensalão mineiro, que tem como réu o deputado e ex-governador mineiro Eduardo Azeredo. O processo está na fase final de instrução. Tudo indica que o relator do processo será o jurista que for indicado pela presidente Dilma para substituir o ex-presidente do STF, Ayres Brito. Os tucanos estão apreensivos com a possibilidade do julgamento, do que poderia se chamar “o pai do mensalão” ocorrer em 2014, ano da sucessão. 

É constitucional! É regimental, votar o Orçamento da União (para 2013) na Comissão Representativa do Congresso
Eduardo Braga 
Líder do Governo no Senado (PMDB-AM)


Inspiração
Nem só dos autos e do julagamento do mensalão vive o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa. No domingo ele foi ao cinema, em Brasília. Ele assistiu ao filme “A Negociação”. Na tela, Richard Gere e Susan Sarandon. A história é de um magnata que protege sua imagem escondendo sua responsabilidade em um crime. 

O critério
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), já teria decidido o critério para definir qual partido indicará o primeiro-secretário da Mesa. O PSDB e o PSD tem 51 deputados cada. A preferência seria pelos tucanos, o partido mais antigo.

Administrando a própria crise
Três marqueteiros, que se apresentam no mercado como “gestores de crise”, estão a procura de emprego. Apesar do êxito na CPI do Cachoeira, eles teriam levado um calote do cliente, o empresário Fernando Cavendish. 

Os estados à beira da falência
Os governadores de mais de uma dezena de estados estão com dificuldades de fechar as contas e devem iniciar o ano com a perspectiva de investimento zero em 2013. Alguns estados estão raspando o tacho para pagar o 13º salário. A choradeira é geral e todos acusam a política de isenções e redução de impostos do governo Dilma pelo que está ocorrendo em suas contas.

Afinando a viola
O presidente do PSD, prefeito Gilberto Kassab, e a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (PSD-TO) jantaram na quinta-feira (20). Depois dos atritos nas eleições, eles foram convencidos que o melhor é somar, ao invés de competir. 

Nos bastidores 
Especialistas em campanha eleitoral, que já fizeram várias campanhas presidenciais do PSDB, garantem que o ex-governador José Serra se movimentando para fazer o governador Geraldo Alckmin (SP) candidato ao Palácio do Planalto.

A presidente Dilma não quer ouvir falar de mudanças na Petrobrás. Maria das Graças Foster ainda não concluiu sua tarefa na presidência da estatal.


Os 18 (%) do Forte - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 25/12


Com Lula andando pelo Brasil afora, não está descartado que ele e Dilma mobilizem as atenções, tirando mais visibilidade da oposição e de aliados empenhados em aproveitar o ano de 2013 para construir as bases rumo a 2014



Daqui a sete dias, na mesma velocidade que o calendário virará para 2013, os políticos vão ajustar o foco e os cálculos estatísticos em torno de alguns ilustres personagens. A principal a ser observada, entretanto, não mudará: a presidente Dilma Rousseff. Ela tem um ano e meio para fazer valer o discurso de boa gestora, capaz de manter o país no rumo do desenvolvimento sustentável e do crescimento econômico. Como até agora essas premissas são incertas, outros vão lhe fazer companhia no telescópio da política, a depender dos movimentos de cada um deles.

A contar pelas últimas pesquisas de intenção de voto, o próximo nome a ser observado depois de Dilma é o de Lula. Essa despedida de 2012 indica que o PT dominará a cena de 2013, por coincidência, o número do partido na urna. Com mensalão e tudo, o partido tem a preferência do eleitor. Aliás, o brasileiro, nesse ponto, costuma ser pragmático: se a vida está boa, a história mostra que dificilmente muda. Haja vista a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994, ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco.

Antes daquele pleito, na virada de 1992 para 1993, pós-escândalo do governo Collor e das primeiras reportagens sobre problemas no Orçamento, Lula era considerado favorito. Mas a vida ficou boa para a população e a onda Lula virou marolinha. Vingou apenas oito anos depois, quando o modelo de FHC demonstrou sinais de cansaço. Lula embalou a população com programas sociais e a vida do brasileiro, de uma maneira geral e na avaliação da maioria, ficou boa de novo. Não houve motivos para mudança. Para completar, Lula ainda buscou para representá-lo, oito anos depois, uma continuidade com ar de “novidade”, pelo fato de ser a primeira mulher a concorrer com chances de vitória. E vale lembrar que Dilma foi uma personagem a ser observada a partir de janeiro de 2009, quando o PT começou a construir a candidatura. Ou seja, é o ano pré-eleitoral a hora certa para observar quem vai virar onda e quem será simplesmente “marolinha”.

Até agora, nada indica que a população vai querer trocar de presidente em 2014, uma vez que Dilma tem o direito de concorrer. E com Lula andando pelo Brasil afora, os dois correm o risco de mobilizar as atenções, tirando mais visibilidade da oposição. Mas quem já fez as contas garante que não é preciso muito para levar uma eleição contra o PT ao segundo turno, uma vez que as três eleições que o partido venceu foram disputadas em dois turnos. Portanto, ao avaliar os números das últimas pesquisas, os cálculos dos oposicionistas indicam que a briga será por 18% do eleitorado, o que dará o passaporte para a final contra o PT.

E, na avaliação dos oposicionistas, será neste ano de 2013 que serão dadas as condições para viabilizar essa fatia. Seja nas administrações, seja nos discursos. Nos bastidores da política, há quem se refira a essa briga como a guerra dos 18 do Forte — obviamente, nada tem a ver com a revolta do Forte de Copacabana, em 1922, contra as oligarquias do poder. O nome foi tomado “emprestado”, digamos assim, apenas por conta do número 18, e a indignação de partidos oposicionistas com a temporada de poder petista.

Por enquanto, a ex-senadora Marina Silva, atualmente sem partido, é quem carrega esse percentual. Apareceu no último Datafolha com 18% das intenções de voto, reflexo da campanha presidencial de 2010. Ela terá seus holofotes em janeiro, se criar um partido. O senador Aécio Neves, do PSDB-MG, embora não tenha encontrado ainda um vento capaz de fazer empinar a sua pré-candidatura, se apresenta bem estruturado no Sudeste. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), aparece com 4% e nem é citado na espontânea, quando o eleitor diz em quem vai votar sem que lhe apresente uma lista de candidatos.

Além desses nomes, virão outros, especialmente, um do PSol, que sempre lança candidato. E, dentro da oposição, há quem defenda ainda o teste de mais alguns ainda em 2013, de forma a criar um clima mais seguro em direção a dois turnos. Portanto, leitor, não se surpreenda se algum partido insuflar ainda mais uma pré-candidatura do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, o brasileiro que obteve 120 dias de exibição da imagem com um viés favorável.

Apesar dos grandes números de Dilma e Lula, os oposicionistas acreditam que nem tudo está perdido, do ponto de vista eleitoral, baseados exatamente nas incertezas do mundo da política e no cenário de há 20 anos. Entre 1992 e 1993, Lula era imbatível e o país não tinha sequer o Plano Real à mesa. Em 1994, tudo mudou. Mas ali, os tucanos tinham o governo para alavancar a estratégia. Agora, não têm. Portanto, terão que apostar nas confusões geradas a partir da política para tentar balançar a árvore dos petistas perante o eleitorado. Se vão repetir a história, o tempo dirá. A seguir, entretanto, pelo pronunciamento de Dilma no último domingo, dificilmente conseguirão. Mas essa é outra história. Façam suas apostas.

Tendência à esquizofrenia - RUBENS BARBOSA

O GLOBO- 25/12


Como o Paraguai será convencido a suspender o veto à Venezuela e também à Bolívia?



As recentes reuniões do Mercosul em nível presidencial e do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) apontam novos rumos para o processo de integração regional.

Os resultados da reunião de cúpula do Mercosul confirmaram a tendência esquizofrênica do processo de integração regional. Se, sob a ótica do governo brasileiro, o encontro pode ser apresentado como positivo, do ponto de vista do interesse nacional as dúvidas são crescentes.

O Itamaraty celebrou avanços no tocante à negociação para a incorporação da Venezuela e da Bolívia. De surpresa e sem maiores negociações, foi assinado Protocolo de Adesão, que, uma vez aprovado pelos Congressos dos demais países membros, fará da Bolívia o sexto membro pleno do Mercosul.

Por outro lado, pouco antes da Cúpula de Brasília, foi realizada em Lima, no Peru, a IV Reunião do CDS. No encontro, foi aprovado Plano de Ação para 2013, que incluiu todas as propostas apresentadas pela delegação brasileira, em especial:

1) a instituição de um fórum com o intuito de estabelecer mecanismos e normas especiais para compras e desenvolvimento de produtos e sistemas militares na região, com o objetivo de fortalecer a indústria regional de defesa e de se discutir o estabelecimento de um regime preferencial para a aquisição de material militar entre as nações da Unasul.

2) a criação da Escola Sul Americana de Defesa

Enquanto no Conselho de Defesa as propostas brasileiras demonstram capacidade de liderança com objetivo de gradual ocupação do espaço sul-americano para a indústria de defesa nacional e a influência para a formulação de um pensamento estratégico independente, desvinculado do Colégio Interamericano de Defesa, de Washington, no referente ao Mercosul, a força das dimensões políticas e sociais, dificultam a identificação dos reais objetivos brasileiros.

O ingresso da Venezuela e, agora de forma inesperada, da Bolívia e proximamente, quem sabe, do Equador, colocam dificuldades técnicas que terão de ser superadas. Do ângulo político, até aqui, o Brasil não deu indicações de como vai tratar os problemas bilaterais que surgiram com a precipitada suspensão do Paraguai do Mercosul, nem de que forma, o Paraguai vai ser convencido a suspender o veto à Venezuela e, segundo já transpirou, também à Bolívia. Como aceitar a dupla participação da Bolívia no Mercosul e na Comunidade Andina de Nações (CAN), com duas tarifas externas, embora a da CAN não esteja operativa? Como enfrentar a insegurança jurídica na Bolívia contra empresas brasileiras? Como enfrentar a crescente instabilidade política e de restrições comerciais argentinas, com prejuízos concretos aos exportadores brasileiros? Qual a estratégia brasileira? Qual a visão prospectiva?

São perguntas que precisam ser respondidas de modo a que o interesse nacional na região seja redefinido e para que melhor se possa respaldar a ação empresarial brasileira no continente.

As marcas de Dilma - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 25/12


De "mãe do PAC" a gerente do governo e comandante da "faxina", a imagem da presidente sofre desgaste pela hesitação diante de reformas


Mantiveram-se inalterados, neste segundo semestre, os altos níveis de aprovação popular ao governo Dilma Rousseff. Surgem, porém, alguns sinais de alerta.

Com 62% de entrevistados qualificando-o como "ótimo" ou "bom", a última pesquisa Datafolha voltou a assinalar níveis idênticos aos de agosto, além de colocar uma eventual candidatura Dilma em posição comparável à de Lula.

Se as eleições presidenciais fossem hoje, Dilma Rousseff teria entre 57% e 53% dos votos. Já um terceiro mandato para Lula seria sufragado por 56% dos entrevistados.

Aumentou, no entanto, ainda que só ligeiramente, a percepção de que há casos de corrupção no governo Dilma. Eram 64% dos entrevistados em agosto; agora, são 69% (a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais).

Seria difícil encontrar, num mesmo partido político, duas personalidades de estilo tão diverso quanto Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. As explicações baseadas no "carisma pessoal", tantas vezes invocadas para o sucesso lulista, mostram suas limitações.

Sem dúvida Dilma se beneficia ainda dos expressivos avanços sociais e econômicos que marcaram o período do antecessor. O fato de ter sido ungida por Lula à Presidência contou decisivamente para que sua imagem ganhasse crédito.

Por outro lado, quase imperceptivelmente, o marketing em torno de sua figura se altera e adapta. Apresentada como "mãe do PAC", não conseguiu fazer o rebento crescer como ela decerto gostaria.

O PAC é, hoje, uma sigla quase esquecida. A aposta numa imagem maternal foi substituída -não sem a hesitante recidiva do Brasil Carinhoso, novo programa de assistencialismo- por outras estratégias de comunicação.

Houve o tema da "faxina", mas o combate à corrupção se limitou a alguns ajustes na mobília ministerial. Promoveu-se a marca da "gerente", mas a suposta eficiência de Dilma se vê desmentida pela incapacidade de acelerar os investimentos em infraestrutura.

Incapacidade que compromete, a olhos vistos, as expectativas de crescimento do PIB no curto prazo. É duvidoso que, com índices de atividade entre os mais baixos da América Latina, a presidente possa desfrutar indefinidamente da popularidade que ostenta.

O marketing político aposta numa nova marca -a de uma soberana, uma rainha da Inglaterra, que paira acima do ambiente nada vitoriano que a cerca.

Se não faltam imagens disponíveis para o governo Dilma, falta-lhe, entretanto, um projeto de reformas que pudesse, graças ao inegável respaldo popular de que dispõe, destravar os problemas tributários, ambientais, previdenciários e institucionais na raiz da relativa paralisia econômica do país.

Enquanto a modorra não se faz perceber no que afeta a maioria -o emprego e o nível dos preços-, é possível imaginar a persistência da popularidade presidencial. Seu tempo de duração é incerto, todavia, na medida em que, do ponto de vista administrativo e político, a atual gestão ainda deixa a desejar.

Experimentalismo - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 25/12


Ao longo de 2012, sobrou para os grandes bancos centrais do mundo a tarefa de apagar focos de incêndio que os próprios governos atearam ou foram incapazes de debelar.

Em tempos de prostração econômica, como os de agora, o mais respeitado economista do século 20, John Maynard Keynes, recomendava que os governos aumentem as despesas. Precisam promover obras públicas para criar renda, gerar demanda e reativar a atividade econômica. Mas os Tesouros não estão somente quebrados; estão incapacitados de expandir suas dívidas. Assim, diante do buraco negro fiscal, os bancos centrais assumiram a tarefa de fomentar a salvação do seu país ou do seu bloco monetário.

Em consequência disso, as políticas monetárias (políticas de juros) enveredaram para os limites da irresponsabilidade especialmente nos Estados Unidos - onde o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), conduzido pelo economista Ben Bernanke (foto), passou a navegar por águas nunca dantes navegadas por bancos centrais.

Como, nos Estados Unidos, estão à altura de quase zero por cento ao ano, os juros não podem cair mais. Depois de ter injetado nada menos do que US$ 2,8 trilhões na economia em apenas cinco anos por meio da recompra de títulos públicos e de ativos privados, e de já ter anunciado que, antes de meados de 2014, não se deve esperar por alta dos juros, na segunda semana de dezembro o Fed anunciou radicalização também jamais vista de sua política monetária. Além dos US$ 40 bilhões de dólares mensais em ativos hipotecários que começou a comprar em setembro, anunciou a aquisição, também mensal, de US$ 45 bilhões em títulos do Tesouro. Explicou que, enquanto o nível de desemprego estiver acima de 6,5% da força de trabalho e as projeções de inflação indicarem, para os próximos dois anos, índice abaixo de 2,5%, os juros se manterão rastejantes.

Ao longo de 2012, a presidente Dilma Rousseff condenou o comportamento do Fed e de outros bancos centrais. Acusou-os de provocar tsunamis monetários nos países em desenvolvimento, por meio da entrada maciça de moeda estrangeira que valoriza as moedas nacionais (baixa do dólar) - fator que tira competitividade do setor produtivo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por sua vez, preferiu chamar esse mesmo efeito de guerra cambial, cuja principal consequência é o enfraquecimento da indústria brasileira pela quebra de sua capacidade de competir.

Até agora não ficaram claros os efeitos predatórios sobre a economia nacional. O governo conseguiu com certa facilidade desvalorizar o real em cerca de 20% mediante compra diretas de moeda estrangeira ou de operações no mercado de derivativos. Mas, neste final de ano, quando as emissões de moeda dos grandes bancos centrais se acentuou, em vez de comprar dólares, o Banco Central do Brasil fez o contrário - desta vez, para não permitir uma desvalorização ainda maior do real que elevasse a inflação.

Ninguém sabe quais os limites e as consequências dessa atuação experimentalista do Fed. E tampouco está claro qual o procedimento que prevalecerá caso a inflação volte com força e se, ao mesmo tempo, não se tiver reativado o emprego. Ou seja, não está nítido se o Fed dedicará prioridade ao combate à inflação, por meio da retirada de dinheiro da economia, ou se ao combate à estagnação, com injeção de recursos. Mas a presidente Dilma parou de combater o tsunami monetário.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“É preciso dar uma demonstração de força”
Ex-ministro José Dirceu sobre o PT fazer manifestações pró-mensa-leiros, em fevereiro


DILMA AVALIA MUDANÇA DE COMANDANTES MILITARES

Nem mesmo o almoço de confraternização, semana passada, fez a presidente Dilma mudar de ideia. Ela examina mudar os comandantes militares, que estariam muito desgastados nas respectivas forças. Segundo fonte do Ministério da Defesa, trata-se de “fadiga de material” ou de imagem. Cada vez mais solados, os chefes das três forças se mantêm distantes até mesmo dos respectivos alto comandos.

SÃO IGUAIS

Assim como FHC ofendeu um grupo de aposentados, Lula usou a mesma expressão – “vagabundos” – para insultar seus críticos.

EM DEFESA DO MP

Já tem 7,5 mil assinaturas a petição do senador Pedro Taques (PDT-MT), no site Avaaz, contra proibição de o Ministério Público investigar.

JÁ VIU COMO É

O palhaço e deputado Tiririca (PR-SP) não planeja a reeleição em 2014: “A Câmara toma muito tempo, e estou com saudade dos palcos”.

MERECE CPI

A estatal Infraero gastou R$ 219 mil na instalação de lonas de terceira no aeroporto de Palmas (TO).

CADE REFERENDA O CARTEL DAS EMPRESAS AÉREAS

Tem algo errado no mundo do Cade, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, do Ministério da Justiça. Encarregada de combater cartéis, por ser prejudicial à livre concorrência, o Cade tem aprovado fusões de empresas aéreas. A Gol absorveu a Webjet e a Azul, a Trip. E nós, consumidores, absorvemos os custos absurdos das passagens aéreas, reféns de um cartel paradoxalmente referendado pelo Cade.

NEM AÍ

Como não precisa comprar passagens aéreas, a presidente Dilma parece ignorar a imparável e crescente exploração das empresas áreas.

MÃOS AO ALTO

Além de esfolar a clientela, cobrando tarifas siderais, as empresas aéreas exigem até R$ 1 mil por reagendamento de viagens marcadas.

PAU A PAU

PSD e PSDB disputam a primeira secretaria, considerada prefeitura da Câmara. Cada partido tem 51 deputados.

‘IDELIODUTO’

O deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) denuncia criação do ‘mensalão oficial’, com a utilização de verba pública das emendas parlamentares para comprar votos: “Agora não é mais Valerioduto, é Idelioduto”.

EMBARAÇO POLÍTICO

Para o presidente do PSDB de Minas, Marcus Pestana, o governo “deu mais uma prova de inaptidão e incompetência” no embaraço sobre a votação dos royalties: “Ser presidente é saber gerenciar conflitos”.

QUALQUER SEMELHANÇA...

“A presidenta sente especial aversão pelos diplomatas de carreira. Confia apenas num grupelho, os únicos que fazem sua vontade sem discutir, seja ela qual for”. A frase não é de brasileiro, mas de Joaquin Morales Solá, do jornal La Nación, sobre a agentina Cristina Kirchner.

PETRÓLEO LOTÉRICO

O deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) ironiza a posição do Rio de Janeiro e do Espírito Santo quanto aos royalties de petróleo: “O cidadão ganha parte da loteria por morar na frente da lotérica...”

AS CONDIÇÕES

A bancada do PDT anunciou apoio ao líder do PMDB, Henrique Alves (RN), ao comando da Câmara. Em troca, quer orçamento impositivo, votação obrigatória dos vetos e distribuição proporcional de relatorias.

PRERROGATIVA DO STF

Para o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, a decisão do Supremo de cassar o mandato dos réus do mensalão não invade as prerrogativas da Câmara: “Se há divergência na Constituição, cabe ao STF decidir”.

VAI DANÇAR

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) acredita que o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), precisa mudar urgentemente a estratégia de governo, sob pena de “dançar novamente em 2014”.

AÇÃO, REAÇÃO

Novo líder do bloco da Minoria, Nilson Leitão (PSDB-MT) planeja turbinar a atuação da oposição: “O governo não é nem um pouco bonzinho com a gente, por que precisamos ser com eles?”, questiona.

NOME É DESTINO

No mundo da fantasia de Guido Mantega, só podia se chamar Walter Disney o superintendente de administração do seu ministério, no DF.


PODER SEM PUDOR

A PAZ DAS GREVES

No começo dos anos 1980, um repórter encontrou Magalhães Pinto, velha raposa, e foi logo puxando conversa:

- Tudo bem em Minas, deputado?

- Minas está calma, em paz.

- E as greves de motoristas, comerciários, funcionários, todo mundo?...

- Pois é, meu filho, por isso mesmo. Minas está calma. Está tudo parado, tudo fechado. Tudo em paz.

TERÇA NOS JORNAIS


Globo: O SUS em xeque- Irregularidades reduzem equipes do Saúde da Família
Folha: Salário mínimo será de R$ 678 a partir de janeiro
Estadão: Indústria banca R$ 7,5 bi anuais em serviços públicos
Correio: #Jesusnasceu
Estado de Minas: Se eu fosse Papai Noel…
Jornal do Commercio: Novo salário mínimo é fixado em R$ 678