terça-feira, agosto 06, 2013

Uma chance para o Maracanã - MARCIO BRAGA

O GLOBO - 06/08

Pé de laranja não dá limão. Como um rio que corre para o mar, o Maracanã pode reafirmar sua vocação para ser a casa do futebol do Rio de Janeiro.

A privatização que impediu a participação dos clubes de futebol na administração do estádio e desconsiderou toda tradição e relevância esportiva do Parque Aquático Julio de Lamare e do Estádio de Atletismo Célio de Barros realmente precisa ser revista imediatamente.

Assim como não se pode demolir a história da natação e do atletismo brasileiro, o futebol é a razão de ser do Maracanã, e os clubes não podem ficar reféns de interesses empresariais que não levam em consideração aspectos humanos e sociais do esporte.

A união dos clubes pode resultar num modelo de gestão compartilhada que preserve a essência esportiva de todo complexo do Maracanã e não sacrifique empreendimentos singulares e complementares como Engenhão, São Januário, Laranjeiras e Gávea.

Inclusive, boa parte dos estudos de viabilidade, projeções econômico-financeiras e pesquisas de mercado para isso já foram feitos por Flamengo, Fluminense, CBF e ISG, em 2008, quando se trabalhava com a ideia de os clubes administrarem o estádio.

Á época, por exigência do Flamengo, este grupo buscou a participação da AEG, maior empresa de conteúdo para estádios e arenas dos Estados Unidos, que pode viabilizar uma quantidade considerável de eventos no Maracanãzinho, transformando-o no grande diferencial para a geração incremental de receitas permanentes de todo complexo.

Hoje, ISG, braço da IMG, sócia de Eike Batista na IMX, se apresenta com 5% do Consórcio que pretende administrar o Maracanã, AEG com mais 5% e Odebrecht, que já recebeu mais de R$ 1 bilhão para fazer as obras, com 90%, sendo que, no modelo atual, ainda haveria obras no entorno com valor estimado em mais de R$ 500 milhões.

Com a manutenção do Célio de Barros e do Julio de Lamare, diminui consideravelmente a necessidade de aportes adicionais no entorno do estádio e, sem obras, a Odebrecht, empreiteira que faz obras, pode não ter tanto interesse em permanecer no negócio.

Então, surge aí uma grande oportunidade para que o Maracanã volte a ser a casa do futebol carioca.

Os clubes podem assumir este espaço deixado pela Odebrecht. O desafio é construir a unidade, preservando as diferenças. E se isso cabe em algum lugar, é no Maracanã.

O foco é outro - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 06/08

As informações obtidas pelo Cade no processo que apura formação de cartel na venda de trens nas gestões do PSDB no governo de São Paulo são só o começo da investigação. A Polícia Federal acredita que o maior volume de informações não virá dos depoimentos dos diretores da Siemens, mas sim dos arquivos de computador apreendidos na empresa e na casa dos denunciantes. É nesse material que a PF espera encontrar pistas sobre eventual corrupção de servidores do Estado.

Dois pesos... Ministros do STF devem divergir em plenário da tese de Joaquim Barbosa de que os embargos infringentes não estão previstos na lei 8.038/90 e, portanto, não devem ser aceitos no julgamento do mensalão. Dirão que a lei também não prevê embargos de declaração, e ainda assim eles são aceitos.

... e duas medidas De acordo com esses ministros, ambos os recursos estão previsto no Código de Processo Penal e no regimento interno. "Dizer que os sempre utilizados embargos infringentes agora não valem mais soaria casuístico ao mundo jurídico", opina um ministro.

Vai indo... Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Marta Suplicy (Cultura) entraram em campo para convencer Dilma Rousseff a não vetar o limite de 40% de ingressos de meia-entrada no Estatuto da Juventude, como defendia Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral).

...que eu já vou A pressão do PT para o veto foi tanta que até a relatora Manuela D'Ávila (PC do B-RS) ameaçou não comparecer ao evento ontem no Planalto. Só no final da tarde de domingo, diante da confirmação de que o ponto não seria vetado, ela confirmou presença.

No trilho Até agora, três grupos têm manifestado interesse na licitação do trem-bala, cuja apresentação de propostas será na semana que vem. Franceses, espanhóis e alemães têm feito consultas sobre o processo. A expectativa de setores do governo é que franceses e espanhóis apresentem propostas.

Composição Espanhóis e alemães estão na expectativa de que investidores brasileiros declarem interesse em participar em consórcios. O BNDES e os Correios se manifestaram neste sentido.

Contra o relógio A equipe de Dilma Rousseff trabalha para que a presidente volte do G-20 a tempo para o desfile de 7 de Setembro. Auxiliares da petista se dividem sobre sua presença na comemoração da Independência.

Em casa O governo dá como certo que as manifestações da data serão engrossadas pelos funcionários dos Correios, que deverão entrar em greve no fim do mês.

Bússola Petistas estarão atentos ao discurso de Lula no encontro do partido em Bauru, no fim de semana, com Alexandre Padilha (Saúde). Eles apostam que o ex-presidente não deve fazer menção explícita à possível candidatura do ministro ao governo paulista, mas esperam acenos que corroborem seu aval à empreitada.

Tradução A OAB divulga hoje pesquisa do Ibope que aponta que a maioria dos brasileiros prefere votar em "plataformas", e não em "nomes", nas eleições para deputado e vereador. Para dirigentes da entidade, o resultado chancela a proposta de voto em lista, reduzindo o "personalismo" na disputa.

Herança Pelos próximos dez dias, quem responde pela Secretaria do Meio Ambiente de Fernando Haddad (PT) é o adjunto da pasta, Manoel de Azevedo Neto. Ele atuou na gestão de Gilberto Kassab (PSD) e foi um dos coordenadores do programa de governo de José Serra (PSDB) em 2012.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Com plano de saúde ilimitado e vitalício, senadores usam Sírio como ambulatório. Moralização real seria cortar no macro."
DO SENADOR RANDOLFE RODRIGUES (PSOL-AP), sobre aumento de gasto da Casa com o hospital Sírio-Libanês após anúncio de corte de despesa pela Mesa.

contraponto


Top of mind
Em discurso durante o evento em que foi sancionado o Estatuto da Juventude, ontem, a presidente Dilma Rousseff apresentava o Participatório, portal lançado pelo governo para promover uma interação entre o governo e a população jovem. À plateia, a petista confessou:

--Eu acho feiíssimo esse nome Participatório!

Diante da gargalhada dos convidados, ela arrematou, dirigindo-se a Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), responsável pelo projeto:

--E não sou só eu, várias pessoas acham feio! Mas ele insistiu. Como somos um governo democrático, ele pôs.

Padilha fortalecido - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 06/08

O ministro Alexandre Padilha (Saúde) foi muito elogiado ontem na reunião de três horas entre a presidente Dilma e os líderes aliados. Eles registraram a postura do ministro, que conversou com todos antes do anúncio e do envio do programa “Mais Médicos” ao Congresso. O governo saiu do encontro convencido que terá apoio para aprovar um ano de residência no SUS.

Necessidade e cautela
Mesmo precisando que o governador Eduardo Campos (PSB) seja candidato a presidente, o esporte preferido dos tucanos tem sido colocar em dúvida sua candidatura. Os integrantes da campanha de Aécio Neves dizem que o tucano irá para o segundo turno se chegar aos 25% dos votos. Calculam que Eduardo deve fazer 10% e o senador Randolfe Rodrigues (PSOL) uns 4%. Eles ainda não têm prognóstico sobre Marina Silva (Rede). Para os tucanos, é importante deixar a candidatura de Eduardo em suspenso, pois isso evita, por exemplo, que alguns de seus aliados, como o PPS e o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), fechem com o socialista.


Tem que consultar o Diretório Nacional do partido. Tem que consultar o Lula e a presidente Dilma. Não é assim!

Rui Falcão
Presidente do PT, sobre o partido do Rio abandonar o governador Sérgio Cabral (PMDB)



Alto clero petista
Com o objetivo de reforçar a principal tendência, a Construindo um Novo Brasil, na executiva nacional do PT, tem petista defendendo que sejam escalados para o comando partidário Gilberto Carvalho e Marco Aurélio Garcia.


Com a bola cheia
O Atlético mineiro nem bem chegou a Belo Horizonte, depois de se sagrar Campeão da Copa Libertadores, e seu presidente, Alexandre Kalil, recebeu um convite do deputado Julio Delgado, presidente regional do PSB: filiar-se ao partido e concorrer como vice na chapa do prefeito Márcio Lacerda, candidato a reeleição no ano que vem.

A missão de Ideli
A presidente Dilma, em resposta ao líder do PTB, Jovair Arantes (GO), afirmou que já foram empenhadas 87% das emendas da base aliada e que a ministra Ideli Salvatti tem como tarefa zerar os restos a pagar até dezembro.

PMDB x CNA 
A bancada do PMDB está em guerra com a presidente da CNA, senador Kátia Abreu (PSD-TO). O motivo é a nomeação do Secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura. A bancada indicou Rogério Figueiredo para o cargo depois do veto à sua primeira indicação. Reclama que a senadora quer manter no cargo Enio Marques Pereira.

O outro lado
O ministro Aloizio Mercadante (Educação) liga para dizer que não está tentando enquadrar os ministros aliados e que não trata de votações no Congresso. Diz que sua intervenção política no Congresso se restringe à Lei dos Royalties.


Situação delicada da esquerda
Os preferidos dos eleitores de Brasília, na eleição para o governo, são os ex-governadores Joaquim Roriz, 34%; e José Arruda, 24% (pesquisa O&P). Os analistas dizem que estes números tornam competitivo o vice Tadeu Filippelli (PMDB).


Os líderes governistas elogiaram a reunião promovida pela presidente Dilma. Dizem que ela sinalizou uma mudança de método de trabalho.

O herege viajante - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 06/08

O turismo de massas é o inferno na Terra e a água canalizada, uma das grandes conquistas do homem


Tempos atrás, as Nações Unidas deixaram uma sugestão para acabar com a fome no mundo: comer insetos. Segundo a ONU, gafanhotos, formigas ou besouros são altamente nutritivos, combatem a obesidade e têm a vantagem de existir em quantidades apreciáveis.

Aliás, com o tempero certo, esses pitéus são indistinguíveis dos vulgares camarões, das sofisticadas ostras ou dos repugnantes caracóis que os meus compatriotas gostam de comer nos meses de verão pelas esplanadas de Portugal.

Não sei o que pensou o leitor dessa sugestão gastronômica e assaz ecológica da ONU. Provavelmente, escutou com respeito e, em nome do Ambiente (com maiúscula), não fez comentários.

Eu, confesso, também não fiz nenhum. Preferi correr para o vaso sanitário e despejar os três últimos jantares só com a ideia de transformar as baratas da cozinha em guisado. Estarei sozinho no meu vergonhoso eurocentrismo?

Pelos vistos, não estou. Os comediantes Ricky Gervais e Stephen Merchant, criadores do brilhantíssimo "The Office", produziram uma série para a Sky que só agora assisti.

E assisti por conselho de uma amiga que, depois de provar primeiro, disse que o prato tinha a minha cara. O nome do produto é "An Idiot Abroad" (um idiota no estrangeiro) e ainda hoje não sei se o comentário dela era um elogio ou um insulto.

Tomo como um elogio. Até porque não me lembro de ter rido tanto e tão alto nos últimos tempos com uma premissa tão simples: Ricky Gervais e Stephen Merchant enviam um amigo para viajar pelo mundo com uma reduzida equipe de filmagens.

O amigo chama-se Karl Pilkington e é o típico "Little Englander" para quem a civilização só existe no nosso bairro e o resto do planeta é a mais pura barbárie. O lado brilhante do documentário é que Pilkington não é um ator; viajar para ele é mesmo uma forma de tortura; e as opiniões sobre o mundo que ele visita são genuínas e hilariantes.

Essa autenticidade começa logo no primeiro episódio, quando o destino é a China e a gastronomia local é apresentada ao viajante Pilkington.

O viajante confronta-se com o cardápio --uma longa lista de seres rastejantes-- e depois filosofa: "O problema da China é não haver uma separação rigorosa entre comida e bichos". Continua: "Na Inglaterra, quando se descobre uma coisa dessas na cozinha, as autoridades sanitárias fecham o restaurante; na China, servem de aperitivo". E conclui: "Se uma chinesa acorda e vê uma aranha no banheiro, não é de excluir que ela pense para si própria: O croissant fica para amanhã, vou comer já isso'".

"An Idiot Abroad" é esse estranho paradoxo: um documentário sobre viagens apresentado por alguém que detesta viajar e para quem o exotismo do Outro é uma fonte constante de suplícios.

Não interessa se o cenário é milenar ou, para usar a palavra cafona da indústria do turismo, "paradisíaco". Viajando pela muralha da China, pelas pirâmides do Egito ou até pelo Rio de Janeiro em pleno Carnaval, Pilkington tem um talento único para encontrar o aberrante e o assustador. Para dissertar sobre o assunto com graça natural. E para suspirar constantemente pelo regresso a casa.

Escusado será dizer que o programa teve um sucesso imediato e que Pilkington virou uma das maiores estrelas televisivas no Reino Unido. Já existem livros sobre o assunto. A série já teve três temporadas. E ainda ninguém conseguiu explicar ao certo como é que alguém sem "superego" consegue conquistar não só o gosto do público, mas também da crítica.

Arrisco uma hipótese: porque a crítica tem "superego" a mais. E, afogada pelas cartilhas que gostam de impor um único código de pensamentos e comportamentos sobre o Outro, talvez ela sinta uma secreta admiração por alguém que destrói todos os códigos.

Porque, contas feitas, é indiferente saber se concordamos ou discordamos do viajante, embora eu concorde que o turismo de massas é o inferno na Terra e a água canalizada, uma das grandes conquistas do homem.

O que interessa é ver Karl Pilkington em ação (e em sofrimento) para recordarmos apenas como era a liberdade e mesmo a idiotia antes da fogueira das inquisições laicas.

Justiça divina - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 06/08

SÃO PAULO - Fez muito bem a presidente Dilma Rousseff em sancionar sem vetos a lei nº 12.845, apesar dos apelos das bancadas religiosas para suprimir o dispositivo que obriga hospitais ligados ao SUS a oferecer a vítimas de violência sexual a tal da "profilaxia da gravidez".

Na papelada do Ministério da Saúde, a expressão designa apenas a chamada "contracepção de emergência", que é feita com a pílula do dia seguinte --basicamente uma dose alta de hormônios, que não é considerada abortiva. Os religiosos, porém, receiam que o termo possa estimular a interrupção voluntária da gravidez, que veem como pecado.

É um caso escrachado de falsa polêmica, pela simples razão de que mulheres estupradas que engravidem já têm direito de abortar legalmente, se assim desejarem. E essa não é nenhuma invencionice recente de esquerdistas contrários à família, mas uma regra que consta do ordenamento jurídico brasileiro desde 1940. Se há um escândalo aqui, é que, apesar de a norma estar em vigor há décadas e assegurar um direito líquido e certo, muitas mulheres, por causa da resistência velada de instituições e médicos, não tenham acesso ao procedimento, tornando necessárias peças como a 12.845.

Se as igrejas realmente creem que o aborto não deve ser autorizado nem nas condições previstas em lei, deveriam vir a público e propor claramente que ele seja proibido mesmo em caso de estupro e de risco de vida para a mãe. Aproveitando o ensejo, os católicos deveriam pedir também que pílulas anticoncepcionais e camisinhas sejam banidas do país.

Outra alternativa é que as igrejas se mirem no que o papa Francisco disse dos homossexuais --"Quem sou eu para julgar os gays?"-- e deixem pecados e pecadores sob a jurisdição de Deus. Se existe de fato um ser onisciente, onipotente e que tem horror ao aborto, ele decerto não precisa da ajuda de meros mortais para exercer a justiça cósmica.

Ueba! Neymar tem lombriga! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 06/08

Pichação num muro em São Paulo: 'Maconha é natural! Fazer chapinha no cabelo é que faz mal'


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Pensamento do dia do tuiteiro Tio Dino: "Quem acha que rico e político não usam o metrô, tá enganado. Em SP, usaram pra desviar 500 milhões!" Rarará!

E essa: "Neymar foi diagnosticado com anemia pelo Barcelona". Anemia, lombriga, cobreiro, bicho-de-pé e amarelão.

É a Bruna Marquezine que tá chupando o sangue do menino! Rarará! Eu acho que o Neymar tá é com lombriga!

E o São Paulo já tá no Japão pra Copa Suruba! E suruba foi o jogo Barcelona X Santos.

O goleiro do Barcelona se chamava Pinto e o goleiro do Santos se chamava Aranha!

E já querem trocar o nome da alameda Santos por alameda Barcelona! Rarará!

E atenção! Escândalo do Metrô! O PSDB tá dando uma de Lula: ninguém sabia de nada! Lulite contagiosa! Tucano não anda de metrô, usa o Metrô!

E eu já sei como vai terminar: a culpa é do Cade ou do Covas, que já morreu! E libera o Alcksiemens e o Serralstom! Rarará!

Pior, deu no UOL que tá faltando professor de matemática no Estado de São Paulo! É de propósito: pros alunos não terem ideia de quanto é 500 milhões! Rarará!

Babado! A bicha mala saiu do armário: "Fim do segredo de Félix rende recorde para Amor à Vida'".

Segredo?! Mas novela é sempre assim: tem um segredo que todo telespectador sabe e o elenco não sabe. Ou um segredo que o todo o elenco sabe, mas o telespectador não sabe.

E a tuiteira Samara7days postou um diálogo emblemático: "Pai, eu joguei a filha da Paloma no lixo". "Isso é irrelevante, Félix. Mas ser gay eu não aceito." Rarará!

O Feliciano, o Malafaia e o Bolsonaro devem estar tendo um chilique com o Walcyr Carrasco! Carrasco dos homofóbicos! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Pichação num muro em São Paulo: "Maconha é natural! Fazer chapinha no cabelo é que faz mal".

Ou seja: Viva a maconha! Abaixo a chapinha!

E olha a placa que um amigo meu viu na estrada, de São Paulo a Curitiba: "Vendo faisões e PAIVÕES!". Adorei! O cara é um poeta! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Agora, bancos de madeira - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 06/08

Louve-se a justiça, sempre que ela é aplicada com a necessária — mas nunca excessiva — severidade. Não apenas pelo seu caráter punitivo, mas também, e, talvez principalmente, pela advertência que representa para aqueles possuídos pela tentação do delito.

O poder da advertência, como se sabe, é relativo. O infrator em potencial, como estamos exaustos de saber, sempre acredita que com ele será diferente, simplesmente por ser mais esperto que os idiotas que se deixam apanhar com a mão no bolso alheio — ou coisa pior.

E a lentidão da justiça, especialmente em relação aos espertalhões de terno e gravata, sempre parece ser comparável à de uma idosa tartaruga de pernas curtas. Mesmo assim, ou por isso mesmo, agora podemos festejar e sair dançando pela rua em face da notícia de que chegou praticamente ao fim um dos episódios mais escandalosos dos últimos tempos: o do mensalão.

Para quem não se lembra ou não leu o jornal de sábado: oito anos depois, o Banco Central acaba de fechar o Banco Rural. É o castigo pela sua participação num audacioso pagamento de dinheiro sujo a políticos aliados do governo Lula, durante pelo menos dois anos.

O castigo é obviamente justo, mas pode-se lamentar a falta de agilidade no processo que levou a ele. As provas do crime eram óbvias. Os responsáveis já foram condenados há algum tempo. Três diretores do Rural receberam penas de prisão: Kátia Rabello e José Roberto Salgado, 16 anos e 8 meses; e Vinicius Samarane, oito anos e 9 meses. E todos também tiveram penas financeiras.

Parece justo — como castigo para a trinca e como exemplo para outros cidadãos espertos do mundo financeiro.

E o próprio Banco Rural recebeu multas pesadas que, sozinhas, tornaram impossível a sua sobrevivência. Pode recorrer à Justiça, mas praticamente sem chance de êxito: em casos semelhantes, o Banco Central tem ganho 98% dos casos. Os infelizes clientes honestos do Rural terão seus depósitos garantidos, num limite de R$ 250 mil para cada um. São vítimas inocentes, mas não havia outra saída.

Em suma, um final adequado para uma sinistra conspiração financeira. E uma enfática palavra de alerta para outros espertinhos, ou candidatos a isso, da praça bancária.

Não se esqueçam: ao contrário do que muita gente pensa, banqueiro também pode ir para a cadeia — onde os únicos bancos são de madeira dura.

Até onde vai o dólar? - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 06/08

O governo Dilma mantém um discurso e uma política ambíguos em relação ao câmbio. O resultado é mais insegurança que, por sua vez, tende a elevar mais as cotações do dólar.

De um lado, o governo vem defendendo uma desvalorização do real (alta do dólar) relativamente forte para blindar a indústria contra a competição, em muitos casos, predatória por parte do produto importado. De outro, teme os efeitos inflacionários e seu impacto sobre o custo das empresas que hoje estão muito dependentes de suprimento externo pago em dólares. O resultado é uma política destituída de escolhas claras.

Oficialmente, o Banco Central só atua para neutralizar a excessiva volatilidade das cotações, embora nem sempre seja coerente com esse princípio. Nas últimas semanas, quanto mais promove leilões de venda de dólares para entrega futura, mais aguça a demanda. E as cotações sobem (veja o gráfico).

É difícil que um banco central de país emergente consiga reverter uma tendência firme do câmbio. Durante os últimos oito anos (até 2012), por mais que amontoasse reservas, o Banco Central do Brasil não conseguiu reverter a tendência à entrada maciça de dólares e, portanto, a certa valorização do real. Depois disso, o jogo virou e isso, em parte, tem a ver com o que ocorre no mercado global e, com as distorções internas.

A conjuntura é de revoada de dólares para os Estados Unidos. Por duas razões: primeira, porque o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) começa a manobrar para reverter sua política de maciça emissão de moeda. O resultado será a valorização do dólar e a fuga de capitais de áreas de maior risco, sobretudo dos emergentes. A segunda razão é a revolução do gás de xisto, ofertado a preços tão baixos que deverá atrair mais investimentos para o país.

Afora isso, há o esgotamento do boom das commodities e das matérias-primas, seja porque a China entrou num ciclo de desaceleração do crescimento, seja porque a própria valorização do dólar tende a baixar as cotações. Como o Brasil é grande exportador de commodities, será inevitável o impacto sobre as receitas em moeda estrangeira. Essa tendência ao escape de dólares para fora do Brasil é acentuada pelo manejo inadequado da economia para enfrentar as mudanças.

A política consumista da presidente Dilma produziu a disparada do rombo externo (déficit em Conta Corrente) que foi de US$ 54 bilhões em 2012 e se projeta para perto dos US$ 80 bilhões em 2013. E rebaixou artificialmente os preços dos combustíveis, o que estimulou o consumo, corroeu o caixa da Petrobrás, tirou-lhe capacidade de investimento, ajudou a deteriorar a conta petróleo e a alargar o déficit externo.

Como a prioridade do governo Dilma é garantir a reeleição, não há sinal de que os ajustes necessários serão feitos neste e no próximo ano. Mas o governo está cada vez mais sensível ao impacto da inflação, porque teme perder votos. Sem disposição para conter as despesas públicas e dados os limites da política monetária (alta dos juros), cabe perguntar até que ponto o governo estaria disposto a queimar reservas (veja o Confira) para evitar a excessiva desvalorização do real.

Guerra do Fed - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 06/08

Agosto será uma pausa na briga entre o Congresso e o governo de Barack Obama sobre quem será o próximo presidente do Federal Reserve. Obama disse que tomará a decisão depois do recesso de verão. Os sinais que emitiu é que se dependesse dele seria Lawrence Summers, e os sinais dos democratas no Congresso são favoráveis à Janet Yellen. Pode acabar sendo um terceiro.

Summers é polêmico e controvertido e sempre será. Ele foi secretário do Tesouro americano e presidente de Harvard. Desse último cargo saiu, como todos se lembram, após uma declaração considerada ofensiva pelas feministas. Foi tirado do ostracismo por Barack Obama, que o colocou no Conselho Econômico da Casa Branca nos primeiros anos de mandato. Num encontro com líderes políticos, Obama defendeu seu ex-assessor quando ele foi criticado.

A velha declaração politicamente incorreta de Summers - desconfiando das aptidões das mulheres para as ciências - ajuda a fortalecer o clima de guerra dos sexos. Janet Yellen seria a primeira mulher a comandar o Fed, invadindo o que algumas parlamentares estão chamando de "clube dos meninos".

Ela recebeu o apoio, oficializado em carta a Obama, de 37 mulheres democratas da Câmara dos Deputados, e de 20 dos 54 integrantes democratas no Senado.

Evidentemente que a briga não é apenas de gênero. Yellen é a mulher que foi mais longe dentro do Fed, hoje é vice-presidente. Tem a experiência de estar lá dentro acompanhando um dos momentos mais difíceis da vida do Banco Central americano. Ela teria feito, segundo seus defensores, um alerta de que a crise viria. Já Summers, pelos críticos, é um dos responsáveis pela formação da bolha que levou à crise, por ter participado ativamente do trabalho de desregulamentação financeira. Ela é favorável à maior regulação do sistema.

No Partido Democrata ficou mais forte a ideia de que os bancos devem ter uma regulação mais detalhada, até porque, quando eles entraram em colapso, foram salvos por generosos resgates com dinheiro público, e afundaram o país, e o mundo, na crise da qual não se saiu até hoje. O único banco a quebrar foi o Lehman Brothers, apenas para reforçar o mito do "grande demais para quebrar" que protege os bancos nos Estados Unidos e na Europa.

O mais importante seria, nessa escolha, olhar para a frente e pensar nas características de cada um dos candidatos. Ben Bernanke, desde seus tempos de acadêmico, se dedicou a estudar como se evita uma depressão. Ele teve a chance de aplicar isso. Inundou o mercado financeiro de liquidez e assim evitou o pior, e está colhendo os louros de um período de retomada de atividade com queda do desemprego. Os indicadores não são maravilhosos, mas ele sempre poderá dizer que evitou um novo episódio de recessão profunda, que é o grande trauma americano.

O problema é que agora vem o mais difícil: como retirar a liquidez para evitar a formação de novas bolhas e a alta da inflação? Nesse ponto, os defensores de Summers dizem que ele "pensa fora da caixa", ou seja, é inovador e teria mais possibilidade de enfrentar os inesperados que podem ocorrer nos próximos anos. Os defensores de Yellen dizem que ela seria a pessoa ideal para evitar os excessos, que podem ocorrer se o cenário para a economia americana for positivo.

O "Financial Times" de ontem disse que a briga mostra que as divergências no Partido Democrata sobre a crise financeira continuam vivas. O que seria ruim avivar em um momento em que Obama já enfrenta outros impasses com o Congresso. A pergunta que tem que ser respondida agora é que nome poderia ser o terceiro, se o impasse continuar.

O trem-fantasma avança - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 06/08

Apesar de rumores de adiamento em sua própria pasta, ministro confirma leilão do trem-bala


O LEILÃO DO TREM-BALA está mantido, disse ontem o ministro dos Transportes, César Borges. As empresas talvez interessadas então entregariam suas propostas para construir o trem na semana que vem, uma rima sem solução. Nas internas do governo, faz uma semana corre o rumor de que o negócio está encruado e pode ficar para 2014 ou até 2015.

Mesmo negócios úteis e viáveis que fazem parte do plano de infraestrutura lançado pelo governo no ano passado estão encrencados, tais como ferrovias de cargas no interior e rodovias, que dirá essa fantasia do Trem de Alta Velocidade entre Campinas, São Paulo e Rio.

Ontem saiu o modelo básico para as concessões de ferrovias do Plano de Investimentos em Logística do governo federal, o planão de Dilma Rousseff. O pessoal das empresas, das grandes em especial, fez muxoxo, entre outros motivos porque o critério de vitória ainda é, grosso modo, o preço da tarifa. A verificação da qualidade técnica dos vencedores vem depois. Isso favorece preço menor e empresas menores.

Parece bom. No entanto, uma vez vitoriosa uma empresa juvenil demais ou com um preço aventureiro, fica difícil o governo voltar atrás.

Então, fazem-se favores, aceitam-se atrasos em obras etc. Esse é o argumento das empresonas, que têm feito um lobby brabo, mas o fato é que temos visto tais problemas ocorrerem. Goste-se ou não, elas podem não aparecer no leilão, o que daria em desmoralização, mais investimentos adiados, infra ainda precária e menos crescimento.

Isto posto, o governo insiste no trem-bala, cuja primeira licitação micou em julho de 2011. O governo agora vem com a conversa de que "vai haver pouco dinheiro público na obra", que os críticos do trem estão errados, que os fundos estatais serão (quase todos) empréstimos.

Para começar, vai haver dinheiro público, muito subsídio, empréstimo a juro de pai para filho, prazos de avô para neto, carências e garantias. Para continuar, não se sabe quanto vai custar o trem (ainda não há projeto). Enfim, o argumento demonstra outra vez o escasso conhecimento de economia do pessoal do governo.

Além de subsídio, o trem da presidente terá outra mãozona oficial.

BNDES e Correios ontem "formalizaram" seu interesse em se associar ao negócio. Isto é, vão dividir ainda mais o risco de que esse trem dê prejuízo. Ao dar dinheiro, direta e indiretamente, para empresas privadas, o governo está induzindo um investimento economicamente inviável (se fosse viável, as empresas estariam correndo para fazê-lo).

Quer dizer, o governo está distorcendo a alocação de capital (uso do dinheiro) com incentivos indevidos, sem motivo social relevante.

Para juntar insulto à injúria, o governo usa seus escassos recursos administrativos e políticos no trem-fantasma.

Parece ninharia falar em desperdício de recursos administrativos.

Mas estamos tratando de um governo que atrasa concessões sérias, que não consegue instalar postes e fios para usar a energia de parques eólicos prontos, que não consegue deitar um trilho de uma ferrovia essencial para o progresso de uma região que vai dos Matos Grossos à Bahia, passando por Goiás e Tocantins: de um governo que não consegue fazer nem o básico.

A desaceleração do Brasil é global? - ILAN GOLDFAJN

O GLOBO - 06/08

É, sim. Faltaram reformas que aumentassem a produtividade, que elevassem o investimento, principalmente em infraestrutura e educação


“O sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é órfão”, nada mais sucinto para entender o atual debate de política econômica no Brasil. O baixo crescimento, a alta inflação e a baixa qualidade do serviço público no Brasil têm provocado várias críticas de diversos segmentos da sociedade. Mas há outro comportamento comum que merece atenção: “O sucesso foi nosso, o fracasso é global.” A tendência (não só no Brasil) é abraçar as conquistas como resultado das políticas locais, mas atribuir as dificuldades a um choque global. O comportamento surge porque não é fácil distinguir as razões locais das globais no que se refere ao sucesso/fracasso. Por exemplo: quanto da atual desaceleração da economia brasileira é um fenômeno global e quanto é resultado das escolhas de política?

A pergunta hoje faz sentido porque várias economias emergentes estão desacelerando. A China, que crescia acima de 10%, está com dificuldade de manter o seu crescimento acima de 7% neste e nos próximos anos. Mesmo os países da América Latina, que cresciam forte até o ano passado, em contraste com a desaceleração do Brasil já em curso, estão com perspectivas piores.

Muitos se questionam por que as economias emergentes estão desacelerando agora, após se recuperarem tão rapidamente da crise internacional em 2008. Afinal, após um ou dois trimestres de queda em 2009, voltaram a crescer fortemente, parecia que nada poderia abalá-las.

Ocorre que o crescimento mundial é mais sincronizado do que se pensava. Mas a sincronização tem defasagens. Enxergo o crescimento mundial como um filme em câmera lenta. A crise financeira atingiu, em primeiro lugar, seu epicentro, os EUA, que foram os primeiros a ver sua economia desacelerar. Na sequência, a desaceleração atingiu a Europa e se propagou para os países periféricos (Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal), que estavam mais vulneráveis a uma mudança de curso, o que quase levou à quebra do sistema do euro no ano passado. As economias da China e dos emergentes desaceleraram apenas anos depois, algumas somente neste ano. A capacidade de reação dos emergentes com políticas expansionistas diversas (estímulos creditícios, fiscais e monetários) adiou o impacto. Quando essa capacidade e sua eficácia se esgotaram, a desaceleração finalmente ocorreu. Estamos diante do mesmo filme que começou em 2008, mas com capítulos e atores novos.

Nessa linha de raciocínio, a retomada do crescimento global pode já estar na sua fase inicial. Caso a retomada do crescimento nos EUA seja confirmada, acredito que, a seu tempo, as outras economias do mundo também se recuperem (na Europa, a partir do ano que vem, e mesmo nos emergentes, a partir de um par de anos). É o mesmo filme, na outra direção.

E qual tem sido o papel do Brasil nesse filme? O Brasil desacelerou antes dos outros emergentes, quando o crescimento caiu de 7,5%, em 2010, para 2,7%, em 2011, e para 0,9%, em 2012. A frágil recuperação em 2013 deve levar o crescimento para algo em torno de 2%. Pode-se argumentar que a desaceleração do Brasil, em linha com os outros emergentes, já estava encomendada e que apenas ocorreu dois anos antes. Mas não acredito completamente nessa tese.

Em geral, acredito que haja um papel tanto para o impacto global quanto para as políticas locais. Boas políticas econômicas locais deixam as economias menos vulneráveis e permitem um crescimento maior (menos baixas), mesmo em épocas difíceis. Políticas focadas no curto prazo aumentam a vulnerabilidade das economias a mudanças de rumo na economia global. O problema é que as consequências dessas políticas só são claramente percebidas quando há um choque mundial negativo e a desaceleração é mais pronunciada. Ao longo do tempo, o crescimento médio será maior naqueles países que adotaram políticas que permitiram mais investimentos e também aumentaram a produtividade da economia.

A desaceleração no Brasil insere-se, sim, no contexto da atual desaceleração global. Mas a extensão da desaceleração e as perspectivas adiante sugerem que, apesar de todos os avanços nas últimas décadas, as políticas (ou a falta delas) contribuíram negativamente. A fase de desaceleração trouxe de volta dúvidas sobre a disposição de manter o arcabouço macroeconômico (e microeconômico) promotor de crescimento no longo prazo. E faltaram reformas que aumentassem a produtividade, que elevassem o investimento, principalmente em infraestrutura e educação. É o momento de aprender as lições antes da próxima fase da economia mundial.

Cego em tiroteio - RODRIGO CONSTANTINO

O GLOBO - 06/08

Os mesmos que plantaram as sementes podres olham aturdidos para a colheita maldita


Nunca antes na história deste país se viu tantas medidas de governo serem desfeitas em tão pouco tempo. O governo Dilma está perdido, sem rumo, sem saber como reagir ao desabamento de sua popularidade, ao risco inflacionário, ao pífio crescimento. Falta um plano de voo, um mapa correto do território. E falta, naturalmente, conhecimento básico de economia.

O principal problema, creio eu, está na visão equivocada que a presidente e sua equipe têm acerca do funcionamento da economia. Eles são reféns de uma ideologia desenvolvimentista que simplesmente não funciona. Eles erram o diagnóstico dos males que assolam o país, não tendo como acertar na receita. Ficam, assim, ao sabor do vento, do marqueteiro, tateando no escuro, tratando o país como um rato de laboratório.

E qual seria essa visão equivocada? Em resumo, é a crença arrogante de que o governo pode, de cima, controlar os dados econômicos nos mínimos detalhes. Esse tipo de mentalidade denota incrível soberba, pois nem o mais sábio dos sábios seria capaz de substituir milhões de agentes autônomos tomando decisões independentes no livre mercado.

Prêmio Nobel de Economia, o austríaco Hayek mostrou como as informações relevantes para as tomadas de decisão estão dispersas. Cada um, exercendo seu poder de escolha em sua determinada área, acaba levando uma minúscula parcela de informação que irá influenciar os demais. E o mecanismo de transmissão dessa informação toda são os preços.

Mas o governo Dilma desconfia do mercado, desdenha desse poderoso mecanismo “caótico”, sem um controlador no leme, direcionando cada parte importante do todo. Por isso ele pensa ser viável controlar esses preços, com base em decretos estatais. Por isso tanta intervenção na taxa de juros e de câmbio, no preço da energia, no retorno das concessões.

Nada disso é novo, naturalmente. A União Soviética contava com um órgão, a Gosplan, cuja missão hercúlea — e impossível — era justamente administrar milhares de preços da economia. O resultado, como sabemos, foi o lançamento do Sputinik, enquanto faltava papel higiênico para a população. Fantástico!

Essa “arrogância fatal”, para usar expressão cunhada por Hayek, está no cerne de nossos problemas. O governo distribuiu crédito público sem se dar conta da falta de lastro na poupança, mexeu na taxa de juros sem calcular seu impacto na inflação, congelou a gasolina, usou o BNDES para selecionar os “campeões nacionais” (entre eles a EBX, de Eike Batista) etc. O governo seria o mestre do universo!

Só que não, isso não funciona. Mesmo assumindo uma premissa um tanto agressiva, de que Dilma é de fato uma excepcional gestora e que Guido Mantega é o mais inteligente dos economistas, o modelo não entregaria o resultado desejado. Agora vamos relaxar essa hipótese e aceitar premissas mais, digamos, realistas, de que Dilma não foi capaz nem de sustentar uma pequena loja na iniciativa privada e que Mantega é somente um economista medíocre, e teremos a gravidade do quadro.

Foi poder demais concentrado em gente de menos. Não tem como dar certo. E, agora, os mesmos que plantaram as sementes podres olham aturdidos para a colheita maldita. Coçam suas cabeças, buscam bodes expiatórios em todo lugar, e nada. Partem, então, para malabarismos medonhos, no afã de enganar o público, ou para medidas desesperadas e erráticas, gerando enorme insegurança no mercado.

Sem credibilidade alguma, o governo ainda sonha em atrair as dezenas de bilhões que o país precisa para investimento em infraestrutura, um dos nossos maiores gargalos de produtividade. Mas como, meu Deus!, esses investidores vão alocar seus recursos se o governo mexe nas regras do jogo o tempo todo, quer determinar a taxa de retorno abaixo do mercado, altera as tarifas e tudo mais?

A farra toda durou porque leva tempo até o problema emergir. O modelo, que começou ainda na gestão de Lula, foi baseado nos três Cs: Consumo, Crédito e Commodities. Estas pararam de subir, pois a China não tem mais a mesma pujança. E aqueles bateram no limite de crescimento artificial, pois as famílias já se encontram bastante endividadas.

O que fazer? Como reagir? Revertendo essa absurda concentração de poder no Estado. Parando de manipular preços. Cortando gastos públicos. Fazendo as reformas trabalhista, previdenciária e tributária. Adotando, enfim, uma agenda liberal. E esse governo vai seguir nessa direção? Nem nos meus sonhos! Logo, só nos resta torcer que o cego no meio do tiroteio não leve uma bala perdida. Somos dependentes, hoje, da sorte.

De salto baixo - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 06/08

Muito comum na linguagem do Executivo na relação cotidiana com o Legislativo - a parcela formada por sua base de apoio, bem entendido - o verbo "enquadrar" sumiu do dicionário do Planalto.

Qualquer encontro, manifestação, ação ou reação do governo no sentido de fazer valer suas posições no Parlamento recebia a imediata tradução de "enquadramento". Isso prevaleceu até mesmo quando já era mais evidente a rebeldia dos aliados, como se viu na duríssima aprovação da MP dos Portos em maio.

Depois de três dias e três noites de uma batalha pela conquista de quórum numa base que em tese era integrada por cerca de 80% do Parlamento, o governo ainda via o episódio como exceção, fruto de interesses econômicos contrariados e da ação de lobbies escusos.

As dificuldades eram atribuídas ao líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, considerado um inimigo com quem o governo não tinha sequer interesse de dialogar diretamente. Nos bastidores logo após o embate dos portos falava-se em cobrar uma definição dos pemedebistas, incluindo a hipótese do afastamento da liderança. Algo do tipo: ou ele ou o governo.

O choque de realidade imposto pela quebra de cerimônia devido à queda na popularidade de Dilma, se não fez ainda o governo calçar por sandálias da humildade, ao menos já reduziu a altura dos saltos dos sapatos. Cunha, por exemplo, agora recebe tratamento de interlocutor autorizado.

Não tanto por causa dos protestos cuja conta a presidente tentou transferir para o Legislativo. O receio vem mesmo dos números divulgados recentemente sobre a taxa de fidelidade dos aliados em votações de interesse do governo. Levantamento do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento mostra uma redução de 90%, em 2011, para 70% em 2013 daqueles que seguiram a orientação do Planalto.

O Basômetro - ferramenta online do Estadão Dados - mediu o índice de fidelidade incondicional entre os aliados na Câmara e chegou aos seguintes números em relação àqueles que votam quase 100% das vezes com o governo: eram 306 entre os 513 deputados em 2011; hoje são 101. Dos 17 partidos que integravam a aliança governista, nove não mais obedecem cegamente ao "comando".

Não formam fileiras na oposição digamos oficial, que continua pequena. Mas passaram a engrossar as categorias chamadas na pesquisa de "governistas, mas nem sempre" e "oscilantes" em contraposição aos integrantes do chamado "núcleo duro".

Diante da situação, a classe antes dominante baixa o tom a fim de evitar que o Planalto acabe por se ver totalmente dominado. As próximas semanas dirão se há tempo ou se é tarde demais para uma reconciliação.

Vice-versa. O PT reclama que o PSB articula candidatura presidencial de oposição a Dilma Rousseff, mas não deixa os cargos que ocupa no governo federal. Faz sentido.

Mas faria mais ainda se os petistas não hesitassem também em deixar os cargos que ocupam no governo do Rio, decididos que estão em concorrer à eleição estadual em oposição ao candidato do governador Sérgio Cabral.

Fava contada. Difícil não estabelecer ligação direta entre a liquidação do Banco Rural e a retomada para conclusão do julgamento do mensalão. O Banco Central esperou até os 45 do segundo tempo quando pareceu ter concluído que o jogo está decidido: não há modificação possível nas sentenças em decorrência dos recursos a serem examinados a partir do próximo dia 14.

Nem dos responsáveis pela alimentação do esquema de financiamento do PT a campanhas de correligionários e partidos aliados nem dos políticos beneficiados. Posição compartilhada por ministros do Supremo e advogados dos condenados.

Bomba relógio - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 06/08

BRASÍLIA - Nesses tempos de instabilidade e de insubordinação, todo mundo tem algo a dizer, principalmente empresários, base aliada e manifestantes que estão na rua contra tudo e qualquer coisa. Mas há um segmento caladinho.

Trata-se dos escritórios de advocacia especializados em causas contra a União. Eles acompanham sofregamente o desenrolar do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal para botar as manguinhas de fora e os bolsos à vista.

A intenção é acompanhar cada passo do julgamento, que recomeça na semana que vem, para ver como ficam os embargos declaratórios, depois os infringentes e, por fim, as conclusões tramitadas em julgado, quando não houver mais nenhuma possibilidade de recurso e o resultado estará condensado numa única peça, inquestionável.

O foco dos advogados é a emenda constitucional número 41, de dezembro de 2003, final do primeiro ano do governo Lula, que mudou o sistema de previdência dos servidores públicos, acabando a aposentadoria com salário integral e os reajustes paritários entre os aposentados e os da ativa. Milhares, talvez milhões, de aposentados adorariam dar o dito pelo não dito, o votado pelo não votado.

Ao condenar políticos, publicitários e banqueiros por compra e venda de votos no Congresso, inclusive na mudança do sistema previdenciário dos servidores, o Supremo automaticamente admite que houve vício de origem na decisão.

Isso pode suscitar uma ou várias ações de inconstitucionalidade formal contra a emenda 41, questionando judicialmente não o mérito, mas sim a forma como foi votada e promulgada. E aí é que a porca torce o rabo. Se o próprio Supremo admite que houve compra e venda de votos, como vai dizer que a votação da emenda foi dentro dos conformes?

A emenda 41, porém, não pode cair pois seria o caos, com custo incomensurável. É melhor o governo prevenir do que remediar. Como? Sei lá!


A mãe de todas as bombas - ARNALDO JABOR

O Estado de S.Paulo - 06/08

Você está andando pela rua e de repente uma imensa tempestade de luz cai sobre sua cabeça, como o sol despencando do céu. Você não sabe o que é, nem vai saber nunca porque você derreteu como um sorvete em 2 segundos. Fica um lago de seu corpo em volta de seus sapatos, enquanto a cidade inteira vira um deserto fervente, povoado por cadáveres que vagam como zumbis pelas ruas em fogo.

Falo assim para ver se sentimos no corpo o intenso horror do segundo holocausto: as bombas atômicas no Japão.

Há 68 anos, em 6 de agosto de 1945 (hoje), os americanos destruíram Hiroshima.

Enola Gay foi o nome dado ao bombardeiro B-29, que lançou a bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945. Foi pilotado pelo coronel Paul Tibbets Jr., então com 30 anos, comandante do 509.º Grupamento Aéreo dos Estados Unidos, que, desde fevereiro de 1945, se preparava para a missão. A fim de realizá-la, Tibbets escolheu pessoalmente um quadrimotor B-29, batizando-o com o nome Enola Gay em homenagem à sua mãe. "Enola Gay" - esse gesto de carinho filial derreteu no fogo 150 mil pessoas. Essa foi a mãe de todas as bombas, parindo um feto do demônio. Daqui a dois dias, será a vez de Nagasaki.

Todo ano escrevo sobre a bomba nessa data. Escrevo não para condenar um dos maiores crimes da humanidade, mas para lembrar que o impensável pode acontecer a qualquer momento, hoje em dia. A situação no Oriente Médio tende a um conflito entre Irã e Israel, com o corrupto Paquistão atômico ao lado da Índia, também atômica. Sem falar no chiqueiro da Coreia do Norte.

Em Hiroshima e Nagasaki, inaugurou-se a "guerra preventiva" como chamamos hoje.

Enquanto o holocausto dos judeus na Segunda Guerra fecha o século 20, o espetáculo luminoso de Hiroshima prefigura o início da guerra do século 21. O horror se moderniza, mas não acaba. Auschwitz e Treblinka ainda eram "fornos" da Revolução Industrial, eram massacres "fordistas", mas Hiroshima inventou a guerra tecnológica, virtual, asséptica. O que impressiona na destruição de Hiroshima é a morte "on delivery", "de pronta entrega", sem trens de gado humano, morte "clean", "americana". A extinção em massa dos japoneses no furacão de fogo fez em 1 minuto o trabalho de meses e meses do nazismo.

Os nazistas matavam em nome do ideal psicótico e "estético" de "reformar" a humanidade para o milênio ariano. As bombas americanas foram lançadas em nome da "Razão". Na luta pela democracia, rasparam da face da Terra os "japorongas", seres oblíquos que, como dizia Truman em seu diário:

"São animais cruéis, obstinados, traidores". Seres inferiores de olhinho puxado podiam ser fritos como "shitakes"...

A bomba A agiu como um detergente, um mata-baratas. A guerra como "limpeza", o típico viés americano de tudo resolver, rápida e implacavelmente... A bomba americana foi considerada uma "vitória da ciência".

A destruição de Hiroshima foi "desnecessária" militarmente. O Japão estava de joelhos. Diziam que Hitler estava perto de conseguir a bomba - o que é mentira. Uma das razões reais era que o presidente e os falcões da época queriam testar o brinquedo novo. Truman fala dele como um garoto: "Uau! É o mais fantástico aparelho de destruição jamais inventado! Uau! No teste, fez uma torre de aço de 60 metros virar um sorvete quente!...".

Os americanos queriam vingar Pearl Harbour, pela surpresa de fogo, exatamente como o ataque japonês três anos antes. Queriam também intimidar a União Soviética, pois começava a Guerra Fria; além, claro, de exibir para o mundo um show "maravilhoso", a superprodução em cores de um novo poder.

Na época, a bomba explodiu como um alívio e a opinião pública celebrou tontamente. Nesses dias, longe da Ásia e Europa, só havia os papéis brancos caindo na Quinta Avenida, sobre os beijos de amor da vitória. Naquele contexto, não havia conceitos disponíveis para condenar esse crime hediondo. A época estava morta para palavras, na vala comum dos detritos humanistas.

Hoje, já há uma máquina de guerra se programando sozinha e nos preparando para um confronto inevitável no Oriente Médio. Estamos num momento histórico em que já se ouvem os trovões de uma tempestade que virá. Os mecanismos de controle pela "razão", sensatez, pelas "soft powers" da diplomacia perdem a eficácia. Instala-se um progressivo irracionalismo num "choque de civilizações"; sim, sei do simplismo da análise do Huntington em 93, mas estamos diante do simplismo da realidade, formando uma equação com mil incógnitas impossíveis de solucionar. Como dar conta da alucinação islâmica religiosa com amor à morte, do Paquistão, Índia, Israel, do Irã dominado por ratos nucleares em breve, da invencibilidade dos talebans do Afeganistão, com a hiperdireita de Israel com Bibi, com o Hamas ou o Hezbollah que querem impedir o "perigo da paz"?

Agora, não temos mais a guerra fria; ficamos com a guerra quente do deserto - a mais perigosa combinação: fanatismo religioso e poder atômico. Vivemos dois campos de batalha sem chão; de um lado, a cruzada errada do Ocidente; do outro lado, temos os homens-bomba multiplicados por mil. E eles amam a morte.

"There is a shit-storm coming" - disse Norman Mailer uma vez.

A crença na razão ocidental foi ferida por dois desastres: o 11 de Setembro e a era Bush-Cheney. A caixa de Pandora que Bush abriu nunca mais se fechará.

Sente-se no ar o desejo inconsciente por tragédias que pareçam uma "revelação". Historicamente, sempre que uma situação fica insolúvel, prosperam as ideias mais irracionais, mais boçais para "resolver" o problema. Mesmo uma catástrofe sangrenta parecerá uma "verdade" nova. Como escreveu Yeats, na Segunda Vinda: "Tudo se desmancha no ar. O centro não segura a imensa anarquia solta sobre o mundo. Os homens melhores não têm convicção; e os piores estão tomados pela intensa paixão do mal".

Agenda eleitoral - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 06/08

A denúncia de formação de um cartel nas licitações de obras do metrô em São Paulo desde a gestão do governador Mario Covas colocou na agenda eleitoral um obstáculo importante para o PSDB. Os principais caciques do partido estão sendo atingidos pelas denúncias, que cobririam os governos Covas, Alckmin e José Serra.

As duas principais seções regionais do partido terão que enfrentar acusações de corrupção no decorrer da campanha, com o provável julgamento da atuação do lobista Marcos Valério na eleição para governador de Minas Gerais em 1998, que atinge diretamente o então presidente do partido, hoje deputado federal Eduardo Azeredo, no que ficou conhecido como o mensalão tucano .

A denúncia de cartel partiu da multinacional alemã Siemens, que teria apresentado provas às autoridades do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), num acordo de leniência que preservaria a empresa de punições. Por enquanto, a investigação se limita a manobras ilegais de diversas empresas para evitar concorrências nas licitações, sem que o aspecto criminal esteja em pauta, pois essa não é a função do Cade.

Mas o Ministério Público de São Paulo estaria oferecendo o benefício da delação premiada para que funcionários da empresa alemã denunciem as autoridades que teriam recebido propinas nesse período. É muito provável que não tenha havido apenas combinações entre as empresas, como o governador Geraldo Alckmin trata o assunto, mas corrupção envolvendo secretários de Estado, presidentes e diretores de estatais.

O secretário de Transportes do governo Covas, Cláudio de Senna Frederico, diz que não soube do cartel, mas fez um adendo preocupante: Não me lembro de ter acontecido uma licitação, de fato, competitiva. Ele tentou explicar que essas licitações envolvendo grandes obras e empresas multinacionais geralmente são combinadas no mundo inteiro, mas essa não é uma desculpa aceitável de uma autoridade pública.

O pior dos mundos para a democracia seria ficar provado o que os petistas chapas-brancas já dão como certo nos blogs e noticiários oficiais: que o esquema seria uma espécie de irrigação permanente de dinheiro ilegal para as campanhas eleitorais dos tucanos desde o governo Covas.

A reação do PSDB paulista, de acusar o Cade de estar atuando como polícia política do governo petista, fazendo vazamentos seletivos do processo para prejudicá-lo, é comum a todos os partidos denunciados, que costumam posar de vítimas para acusar adversários de perseguição política.

É evidente que as investigações contra os governos do PSDB são prejudiciais ao partido, assim como o processo do mensalão prejudica o PT. Não há dúvidas de que os vazamentos são ataques perversos, pois não dão a ideia de um quadro geral e jogam a suspeita sem que seja possível uma defesa coerente. Mas fazem parte do jogo democrático da livre informação.

Os dois partidos disputarão as eleições de 2014 tendo que se defender de acusações de corrupção, restando ao eleitor relativizar a importância de cada um dos escândalos ou escolher uma alternativa. A ex-ministra Marina Silva é quem mais uma vez se sairá melhor nesse quesito, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tem contra si apenas escândalos regionais.

Nosferatu A respeito da coluna de domingo, O Estado-babá , o diretor da Anvisa José Agenor Álvares da Silva esclarece que não se referiu com a designação de Nosferatu a nenhum dos presentes à reunião da Diretoria Colegiada realizada no dia 30 de julho passado , mas sim à indústria do tabaco, que é o vetor da maior causa de mortes evitáveis no mundo e responsável por mais de seis milhões de mortes por ano . O texto de seu voto, na parte em questão, é o seguinte: Como enfrentar esse ´Nosferatu´ que sobrevive cada vez mais forte e viaja através dos tempos para aportar no século XXI mais resoluto, mais pujante e com os caninos afiados para enterrar na garganta da sociedade mundial e sugar a vida de pessoas jovens e cheias de esperança por um futuro melhor?

Polícia e bandido - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SP - 06/08

Um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento das manifestações de junho foi a revolta da população contra a Polícia Militar. Foi depois de a PM ter fechado a avenida Paulista e demonstrado toda a sua covardia e brutalidade contra quem estivesse à sua frente que a população brasileira ocupou massivamente as ruas.

Já no ano passado, ficamos sabendo, graças a estudos do Ipea, que 62% da população não confiava na PM, enquanto 63,5% afirmava que tais policiais tratavam pessoas com preconceito. No entanto, governadores como os senhores Sérgio Cabral e Geraldo Alckmin continuavam a se vangloriar das barbáries cometidas por suas polícias, sem ao menos ter a dignidade de se perguntarem porque elas eram tão rejeitadas pelo povo.

Não passou pelas suas cabeças perguntar-se se há espaço para uma polícia militar em sociedades democráticas. Talvez haja uma razão para país democrático algum ter uma polícia militar ocupando as ruas. Nesses países, ela se restringe à segurança de áreas militares. Pois ninguém aceita uma força que procura, entre outras coisas, mediar conflitos internos à sociedade civil através da lógica militar da distinção amigo/inimigo, algo próprio a situações de guerra.

Quem é o inimigo quando estamos falando das tensões presentes nos combates da sociedade civil? Quem é o inimigo quando é questão de desapropriações de famílias miseráveis e jovens que ocupam as ruas para protestar contra a ausência de prioridade social dos governos?

Mas como se não bastasse um certo "problema de concepção" na estrutura de segurança interna brasileira, ainda somos obrigados a aceitar algo mais intolerável. No Brasil, não é evidente conseguir distinguir polícia e bandido, dado o comportamento criminoso de vários "agentes da ordem", como ficou mais uma vez evidente com o caso Amarildo. No entanto, nada disso parece tirar o sono de nossos governadores.

Mas é interessante perceber como, desta vez, algo diferente ocorreu. Há algumas semanas, Peter Pelbart lembrou, nesta Folha, como um verdadeiro acontecimento exige compreender como pessoas se transformam. Ele lembrava uma frase inspirada de Deleuze, que reclamava daqueles que falam muito sobre revoluções, mas esquecem de tentar compreender o devir revolucionário das pessoas.

Pois desta vez a população mostrou sua indignação concreta diante do que parece ser mais uma manifestação da brutalidade criminosa da polícia contra as classes sociais mais vulneráveis. Esta solidariedade é nova e mostra como estamos diante de uma transformação real.

Nesta sociedade em transformação, não há mais lugar para a Polícia Militar.

O País sem o MST - XICO GRAZIANO

ESTADÃO - 06/08

Noutro dia, em seminário do PT na Bahia, Lula alisava seu ego político quando lançou um enigma: "Eu fico pensando o que seria o Brasil se não fosse o MST". A resposta me brotou fácil: haveria mais prosperidade e paz no campo. Explico o porquê.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) originou-se em 1979, motivado pela luta agrária dos colonos gaúchos nos municípios de Ronda Alta e Sarandi. O regime militar, que comandava o País na época, tentou desmantelar, pelas mãos do famigerado coronel Curió, aquela inquietação camponesa. Ao contrário, porém, sustentado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e apoiado por líderes da oposição democrática, o episódio prosperou, agigantando-se o acampamento de sem-terra.

Cinco anos depois, 8 mil pessoas invadiram a Fazenda Annoni, demonstrando uma ousadia que, de pronto, ganhou a simpatia da opinião pública. O sucesso da empreitada guindou a nova organização à liderança da ação "antilatifundiária" no campo. Seu antípoda, criado no debate da Constituinte, era a União Democrática Ruralista (UDR). Seu rival "interno", de quem procurou sempre se diferenciar, era a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), considerada "pelega" pela esquerda de então. A sociedade em mudança adotou o MST.

Assim, no estrebuchar da ditadura, renascia no País a tese da reforma agrária. Agora, porém, a causa vinha despida de sua lógica econômica, conforme fora idealizada nos anos 1960, para se carregar de conteúdo social. Com a bênção da Teologia da Libertação, um pedaço de terra redimiria os excluídos do campo. Nascia uma utopia agrária.

Ruíra em 1989 o Muro de Berlim. Por aqui, findos os anos de chumbo, avançava a redemocratização. Simultaneamente, avançava a modernização capitalista da agricultura, modificando a dinâmica do agro; antigos latifúndios viravam empresas rurais. Mais à frente, o Plano Real retirou da terra ociosa seu ganho especulativo, empurrando-a para a produção. Começava o império da tecnologia na agropecuária brasileira.

Nesse caminhar da História, a bandeira revolucionária do MST começou a perder seu brilho. Foi então que a organização decidiu, em 1995, mudar sua estratégia, partindo para o confronto direto com os fazendeiros do País: invadiu a Fazenda Aliança, situada em Pedra Preta (MT). Pertencente a um conceituado líder ruralista, a propriedade mantinha excelente rebanho, elevado rendimento, 29 casas de alvenaria, 160 quilômetros de cercas, 21 empregados registrados, reserva florestal intacta. Um brinco produtivo.

Acabou nesse momento o MST "do bem". Inaugurando a fase ulterior da crise agrária, as invasões de propriedades tomaram conta do Brasil, avançando especialmente contra as pastagens de gado. Incontáveis "movimentos" surgiram alhures, arrebentando cercas, roubando gado, fazendo "justiça" com as próprias mãos. Verdadeiras quadrilhas disfarçaram-se de pobres coitados e saquearam regiões, como no sul do Pará. Banditismo rural.

O MST militarizou-se. Seus quadros passaram a fazer treinamento centralizado, o comando definiu regras de comportamento e seleção. Centros passaram a oferecer cursos de capacitação, baseados na cartilha básica intitulada Como Organizar a Massa. Doutrinação pura. Nascido como "movimento social", o MST transformou-se em rígida organização, adentrando a cidade. Recrutando miseráveis urbanos, montou uma "fábrica de sem-terra" no País. Nunca mais a reforma agrária encontrou seu eixo.

Como teria sido a reforma agrária sem o terrorismo das invasões de terras?

Primeiro, seria certamente um programa mais bem planejado, articulado, e não um remendo açodado para resolver conflitos. Não trombaria com a agronomia nem com a ecologia, projetando assentamentos tecnicamente viáveis. Não faria da reforma agrária um foco de devastação ambiental, conforme se verifica em toda a Amazônia. Não confundiria remanescentes florestais com terra inculta, promovendo uma infeliz união da miséria com a depredação ecológica, como, entre tantos exemplos, provam a Fazenda Zabelê, no litoral de Touros (RN), ou a Fazenda Araupel, em Rio Bonito do Iguaçu (PR).

Segundo, os beneficiários da reforma teriam aptidão reconhecida para a lide rural, jovens habilitados, filhos de agricultores familiares, jamais viriam dos excluídos da cidade. O vestibular da terra seria a capacitação, nunca a invasão. Os assentamentos rurais estariam baseados na produção tecnológica, integrada ao circuito de mercado, nunca firmada na roça de subsistência, isolada. Os novos produtores se emancipariam, seriam titulados, e não, como ocorre hoje, se tornariam subservientes ao poder.

Terceiro, e em decorrência dos anteriores, a reforma agrária seria menor em tamanho, porém muito maior em qualidade. Geraria produção e renda. Daria à sociedade retorno do investimento público. Hoje, acreditem, nem se avalia o custo-benefício dos assentamentos. Nunca se mediu sequer a produção agropecuária advinda das áreas reformadas no Brasil, que atingem 90 milhões de hectares, envolvendo 1,2 milhão de assentados. Ninguém sabe quanto nem o que produzem.

Conclusão: o distributivismo agrário resultou na mais onerosa e fracassada política social da História brasileira. Para se ter uma ideia, o custo médio de cada assentado beira os R$ 100 mil, valor que manteria uma família durante 13 anos recebendo um salário mínimo mensal. Com uma agravante: pelas mãos raivosas dos invasores de terra se criou no País um foco contínuo de encrenca, antipatias, inimizades. Cizânia agrária.

O que seria do Brasil se não fosse o MST? Respondo ao Lula, tranquilamente: mais produtivo e fraterno no campo.

Plano contra a saúde - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 06/08

O tal Elano Rodrigues Figueiredo, antes de içado à ANS, advogava em causas contra pagadores de planos


Até que não fica mal, se considerados os desserviços da ANS aos pagadores de planos de saúde, que sua presidência seja entregue a alguém com histórico de ligação profissional às empresas de planos. Mas, para ganhar o cargo na Agência Nacional de Saúde Suplementar, o tal Elano Rodrigues Figueiredo não precisava tapear os senadores que o sabatinaram, surripiando do currículo pessoal o dado mais significativo, aquela ligação. Mesmo para a ANS sua deficiência moral tornou urgente a demissão pelo governo ou a anulação da sabatina no Senado, para salvar as caras nos dois lugares, já que a sua não o conseguiria.

Os 45 milhões de trouxas pendentes de um plano de saúde sabemos que, agora mesmo, a ANS concedeu às empresas de planos o aumento de 9% nas nossas mensalidades. Ou 50% acima do pico em que a inflação está. E, concomitante com uma coisa e outra, o Fluminense trocou de técnico.

Os planos, vê-se, estavam mesmo precisando que a ANS lhe dessem mais um aumento acima da inflação e, claro, do aumento dos salários e dos vencimentos no serviço público. Necessidade, por exemplo, da Unimed. Como o presidente da Unimed é apaixonado pelo Fluminense, os mais caros jogadores do time não custam ao Fluminense, custam aos cofres da Unimed. Nem o técnico pôde ser o preferido do presidente do clube, foi contratado quem o presidente da Unimed há tempos desejava. O elenco de jogadores é dividido entre os que ganham salários fortunosos e os recebem em dia --o chamado "time da Unimed"-- e os que vivem no pendura dos salários atrasados.

Não por acaso, o tal Elano Rodrigues Figueiredo, antes de içado à presidência da ANS, já era diretor da agência, partícipe nas decisões sobre aumentos das mensalidades. E, antes desse cargo, advogava em causas contra pagadores de planos e contra a ANS mesma. Na condição de advogado da Unimed.

Mas como alguém com um histórico desses se torna diretor da agência que deveria regular os planos de saúde, para proteger quem os paga? E como alguém assim é indicado pela Presidência da República à aprovação do Senado e, aí aprovado por unanimidade, é nomeado presidente da agência? E como a Casa Civil da Presidência da República encaminha ao exame do Senado um currículo ilusório? E de onde surgiu ou de quem surgiu a indicação de tal tipo à Presidência da República?

A Agência Nacional de Saúde Suplementar é um caso de polícia, mas para investigar não só a ela: a seu respeito, é evidente que o caso de polícia se estende até à Presidência da República. Para descobrir, também, e informar aos pagadores de planos de saúde, qual é a moralidade administrativa existente em uma agência com metade dos diretores historicamente ligados ao que devem vigiar e controlar.

Brasil ajuda cleptocracia africana - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 06/08

Transferir dinheiro do contribuinte brasileiro para ditadores corruptos — uma redundância — é mais um resultado deletério da “diplomacia companheira”



Ao chegar ao poder em 2003, o lulopetismo teve a sensatez de manter linhas gerais da política econômica da Era FH, pelo menos durante a maior parte do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, em contrapartida, cedeu à sua base ideológica a política externa.

A chamada “diplomacia companheira”, inspirada no terceiro-mundismo do pós-guerra, significou — e significa — sério recuo numa política externa que já foi considerada das mais profissionais e coerentes.

Um dos resultados desta mudança foi mostrada nas edições de domingo e ontem do GLOBO: depois de se aproximar de algumas das mais obscuras ditaduras do planeta, o Brasil, no governo Dilma, tem anistiado dívidas de conhecidas cleptocracias africanas. Na prática, cessão de dinheiro do contribuinte brasileiro para o patrimônio de déspotas, donos, no sentido literal da palavra, de países em que o povo sobrevive na miséria enquanto seus ditadores ostentam poder e riqueza em Paris, Mônaco e outras cidades preferidas do “jet-set” internacional.

Congo-Brazzaville, Sudão, Gabão e Guiné Equatorial respondem, somados, pela maior parte de uma dívida de R$ 1,9 bilhão com o Brasil, proveniente da compra de mercadorias e serviços não pagos por uma dúzia de países africanos. Dilma tem conseguido que o Congresso perdoe cerca de 80% deste débito.

Alega-se que isto manterá mercados com portas abertas a exportadores e empreiteiras nacionais. Balela, pois quem aceita um calote receberá vários outros.

Por trás de tudo existe uma geleia geral ideológica curtida nos ares de um pensamento das décadas de 60 e 70 — pulverizado pelo avanço da globalização —, pelo qual o mundo estaria dividido entre os hemisférios Norte (rico) e Sul (pobre). A diplomacia companheira entrou na máquina do tempo e levou o Itamaraty a fazer a opção por liderar o “bloco” dos pobres, contra o “imperialismo” do norte.

Uma tragédia para os próprios interesses nacionais concretos, muitos deles expressos na projeção comercial do país no mundo. Deriva deste terceiro-mundismo fora de moda que o país, atolado num Mercosul encharcado de ideologia populista, fechado a novos e amplos acordos com grandes mercados, volta depois de muito tempo a acumular déficits na balança comercial e mantém uma participação irrisória, pouco mais de 1%, no total das transações mundiais.

Senadores da oposição e independentes conseguiram adiar a votação do pedido de perdão de dívidas para a Tanzânia, Costa do Marfim e República Democrática do Congo. Agem tardiamente. Deveriam ter demonstrado o mesmo zelo com os cleptocratas da primeira rodada de benemerências a ditadores com dinheiro do Tesouro Nacional.

Concessões por tentativa e erro - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 06/08

Investir pesadamente em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e outros projetos de infraestrutura é indispensável para a economia voltar a crescer de forma consistente, mas o governo continua com dificuldade para executar o programa de obras lançado em agosto do ano passado. Para garantir a realização desses investimentos, o governo precisará envolver o setor privado, por meio de concessões e de parcerias. Isso dependerá, no entanto, de uma revisão dos critérios anunciados até agora, especialmente da taxa interna de retorno oferecida aos participantes. Diante da resistência dos investidores, a administração federal agora se dispõe a rever a modelagem das concessões, segundo noticiou o Estado nas edições de sábado e domingo. Foi, em muito tempo, a primeira informação positiva sobre o assunto. Depois de perder quase um ano, as autoridades parecem dispostas a cuidar do plano com um pouco mais de realismo.

Empresários mostraram ao governo seu descontentamento em relação às regras previstas para os contratos. As taxas internas de retorno, 7,2% para os investimentos em rodovias e entre 7,5% e 8,5% para os empreendimentos ferroviários, têm sido avaliadas por possíveis investidores como insuficientes para compensar os riscos. Para os terminais portuários, fontes do governo indicam taxas prováveis entre 7% e 7,5%, também qualificadas como insuficientes.

Oficialmente, ministros e outros altos funcionários continuam apostando no sucesso das licitações, mas a confiança manifestada em conversas reservadas é bem menor. Já receberam demonstrações de insatisfação mais que suficientes para convencê-los a levar a sério as críticas do setor privado. Além da remuneração prevista para o capital investido, fontes empresariais criticam também as estimativas de custos. Exemplo: para o primeiro trecho ferroviário a ser leiloado - entre Açailândia, no Maranhão, e o porto paraense de Vila do Conde - foram estimados oficialmente investimentos de R$ 3,1 bilhões. Mas dificilmente o custo será inferior a R$ 4,5 bilhões, pelos cálculos privados.

Segundo a reportagem, o diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Carlos Fernando do Nascimento, defendeu o cálculo fixado para o trecho Açailândia-Vila do Conde. Os valores, argumentou, foram discutidos com o Tribunal de Contas da União (TCU). Pode ser, mas a prova final, se os representantes do governo mantiverem sua opinião, ainda vai depender de um ou dois testes. O primeiro será a licitação. O segundo, se ocorrer, será a repetição de um ritual bem conhecido no Brasil. Se, apesar de tudo, algum grupo se dispuser a realizar a obra, restará verificar o ritmo de execução e as revisões contratuais para a elevação de valores.

Sem um choque de realismo, dificilmente a administração federal conseguirá destravar o Programa de Investimentos em Logística. Só a parte de rodovias e ferrovias foi estimada em R$ 79,5 bilhões para os primeiros cinco anos. Outros R$ 53,5 bilhões estão previstos para outros 20 a 25 anos. Segundo o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, todos os editais de concessão devem ser publicados neste ano. Em média, disse ele, as licitações deverão ocorrer 60 dias depois do lançamento dos editais.

O irrealismo no tratamento de concessões e parcerias tem caracterizado principalmente a administração federal, mas erros semelhantes podem ocorrer em outros níveis. O governo de São Paulo terá de relançar a concorrência para a construção e operação da Linha 6-Laranja do Metrô, entre Vila Brasilândia, na zona norte, e a Estação São Joaquim, na Liberdade.

Nenhuma empresa se apresentou para disputar a obra, estimada em cerca de R$ 8 bilhões e considerada a maior parceria público-privada do País. Segundo o governador Geraldo Alckmin, alguns interessados manifestaram dúvidas, especialmente sobre financiamentos e custos das desapropriações.

Descuido e irrealismo custam tempo. Tempo perdido é um dos grandes fatores de encarecimento de obras públicas.

A falência de Detroit - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 06/08

É perigoso construir uma cidade na dependência excessiva de apenas um setor econômico ou apenas um ramo de atividade


O século 20, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, viu emergir duas organizações gigantescas no tamanho e lentas na burocracia: os governos e as empresas multinacionais. Assumindo a dianteira na pesquisa científica e se tornando, de longe, o primeiro país do mundo em patentes de inventos, os Estados Unidos tiveram, em seu território, a maior proliferação de corporações de grande porte, cujos produtos o mundo inteiro passou a comprar. Entre essas grandes corporações, merecem destaque especial as empresas fabricantes de automóveis, cuja cidade-símbolo era Detroit – lá fincaram sede várias organizações desse setor, e foi onde Henry Ford abriu a primeira fábrica de carros, em 1903.

As corporações automobilísticas norte-americanas espalharam pelo mundo suas fábricas e seus produtos, inclusive no Brasil. Tudo caminhou mais ou menos bem até o início dos anos 80, quando a concorrência dos carros japoneses, mais econômicos e mais baratos, começou a ferir de morte as empresas dos EUA, inclusive dentro de seu próprio território. A partir daí, o que se constatou foi que as maiores corporações do setor já vinham padecendo de três doenças que poderiam ser sua sentença de morte.

A primeira doença de empresas como Ford e General Motors foi uma espécie de relaxamento em relação à inovação rumo a veículos mais leves, mais baratos e mais econômicos, necessários para enfrentar as duas grandes crises do petróleo, a de 1973 e a de 1979. Confiantes demais em sua soberania, não cuidaram de inovar e somente acordaram quando os japoneses começaram a tomar seus clientes no mundo e nos EUA.

A segunda doença das grandes corporações – não só de automóveis, mas também de outros setores – veio dos sistemas de pensão e aposentadoria de seus funcionários, fundos constituídos pelas empresas com base na filosofia do emprego para a vida toda. Tais sistemas previdenciários começaram a ruir quando as corporações tiveram de demitir parte de seus quadros e bancar os pagamentos dos benefícios. Os déficits se revelaram muito altos e passaram a sugar bilhões de dólares do caixa das empresas, o que só piorou uma situação que já era ruim.

A terceira doença das grandes corporações está no fato de que elas se transformaram em verdadeiros “Estados”, com toda sorte de jogo político, conchavos, burocracia sufocante, lentidão dos processos, custos elevados e pouca inovação. Tudo o que se vê nas estruturas gigantescas estatais passou a ser visto nas megaempresas; elas começaram a ser tachadas de “grandes demais para quebrar” e sempre socorridas com dinheiro público – como aconteceu recentemente com a General Motors, que só não foi à falência porque o governo dos EUA a socorreu com dinheiro do contribuinte norte-americano.

O resultado desse quadro complicado nas megaempresas do setor automobilístico é que, sobretudo nos EUA, houve redução no tamanho das fábricas, redução dos empregos e perda de receitas, realidade que levou junto as cidades cuja economia dependia pesadamente de tais corporações. O exemplo mais notório é justamente Detroit. Devastada pela crise financeira de 2008, a prefeitura da cidade anunciou oficialmente que está quebrada e pediu concordata por causa de uma dívida beirando os US$ 20 bilhões. Detroit não acabou – tem setores em progresso –, mas perdeu a condição de cidade pujante que já foi no passado.

Os que veem a cidade com olhar pessimista falam de Detroit realçando seu lado ruim, como o mais alto índice de criminalidade do país, a transferência de famílias da classe média para os subúrbios, os espaços centrais vazios e o grande porcentual de famílias vivendo na pobreza. Os otimistas lembram que a indústria de automóveis está se recuperando e se reinventando, que a cidade sempre pareceu vazia em razão de seus largos espaços e ausência de congestionamentos, e que a cidade ensaia sua recuperação.

Polêmicas à parte, a crise da Detroit e a falência de sua prefeitura deixam uma lição importante: é perigoso construir uma cidade na dependência excessiva de apenas um setor econômico ou apenas um ramo de atividade. A economia municipal deve diversificar-se tanto mais quanto puder, a fim de sobreviver sem excessivo sofrimento quando algumas megacorporações ou algumas atividades perdem pujança e retrocedem. Eis aí uma boa lição para os administradores públicos.


República da ignorância - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 06/08


Formar bons professores implica atrair os melhores talentos e usar ferramentas de eficácia baseada em evidências, não só em teorias


Vinte anos atrás, esta Folha traçou diagnóstico alarmante sobre a educação nacional numa série de reportagens com o título acima.

O ensino no país mudou muito desde então, mas ainda não se pode dizer que a invectiva seja desmerecida --como transparece das deficiências da carreira docente retratadas no caderno especial "Quem Educa os Educadores?", publicado domingo pelo jornal.

Cerca de 460 mil dos 2,1 milhões de professores de educação básica nem sequer têm o diploma de nível superior requerido por lei (pedagogia ou licenciatura). Para satisfazer a exigência, proliferaram os cursos a distância.

Predominam as críticas ao caráter teórico das escolas de pedagogia, mas 68% dos formandos consideram que elas os capacitam amplamente para o exercício profissional. Entre coordenadores dos cursos, 61% discordam de que o currículo poderia ser melhorado.

Os avanços da educação, até aqui, se deram no acesso. Com 98,2% da população de 6 a 14 anos na escola, a frequência no ensino fundamental foi virtualmente universalizada. No aspecto da qualidade, contudo, o país fica bem aquém do necessário para que cada brasileiro se torne um cidadão autônomo e um trabalhador capaz.

No fim do ensino fundamental (escolaridade obrigatória), só 27% dos alunos alcançam o nível de aprendizado desejável em português e meros 17% em matemática.

Muito se discutiu e tergiversou, já, sobre as causas desse fracasso. Passou da hora de focalizar a atenção na peça-chave do aprendizado --o professor. Profissionais preparados e bem remunerados são condição "sine qua non" para o aluno aprender o que deve.

Isso não implica responsabilizar só os professores pela má qualidade do ensino. Assim como os alunos, eles são herdeiros da incúria que assola o setor há decênios.

Não será fácil romper o ciclo vicioso. A criação do piso nacional (R$ 1.567) foi um progresso, mas ele ainda é desrespeitado por prefeitos e governadores e fica abaixo do salário médio no país.

Como o Estado brasileiro perdeu a capacidade de investir até no essencial, não haverá melhoras significativas no curto e médio prazos. Os melhores talentos seguirão refratários ao magistério.

É possível, todavia, aperfeiçoar os cursos de formação de docentes e capacitar os que já se diplomaram. Para isso, será imprescindível romper a noção de que a ênfase em resultados e eficácia não passa de um "estratagema neoliberal".

Não é. A solidariedade com as crianças e os jovens, hoje, impõe reconhecer que o sistema está fracassando e que as faculdades não formam os educadores de que o país necessita, pois dedicam somente 10% de seus cursos para ensinar o que comprovadamente funciona em sala de aula.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Eu tenho a impressão que a base só é brava com você”
Presidente Dilma, em resposta a pergunta de repórter sobre suas relações com aliados


VEXAME: DILMA BARRA IRMÃO DE PATRIOTA NA OMC

Amigos e familiares do ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) não entendem seu extremado apego ao cargo, submetendo-se a humilhações quase diárias e aos sinais frequentes de desprestígio da presidente da República. A mais recente foi a recusa de Dilma de atender a indicação que ele fez do irmão Guilherme para a missão do Brasil junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra.

AREIA DEMAIS...

O cargo pretendido por Patriota para o irmãozinho é hoje ocupado pelo embaixador Roberto Azevedo, recém-eleito diretor-geral da OMC.

COM QUEM ANDAS

Guilherme Patriota está lotado no Planalto: é assessor do aspone para Assuntos Internacionais Aleatórios, Marco Aurélio Top-Top Garcia.

O ESCOLHIDO

Para chefiar a missão brasileira na OMC, Dilma escolheu um embaixador respeitado na carreira: Marcos Galvão, hoje em Tóquio.

GOSTO AMARGO

O baiano Jacques Wagner é um dos petistas que não entendem por que Dilma mantém Guido Mantega, apesar dos fracassos na economia.

PSDB COMPARA DESGASTE DE DILMA COM FIM DE FHC

Após dez anos de governo petista, o PSDB está animado com a baixa da presidente Dilma nas pesquisas eleitorais. A cúpula da sigla acredita que já viu este filme antes, no fim do governo FHC, que sofreu queda brusca de popularidade após a desvalorização do real, em 2000, e nunca a recuperou. Na avaliação do tucanato, as pesquisas também revelaram que a tentativa do governo de conter a crise não surtiu efeito.

NÃO SE SUSTENTA

Para o tucano João Almeida (BA), as medidas anunciadas por Dilma seguem receita do publicitário João Santana: “São 60 dias de ilusão”.

LAVANDO AS MÃOS

Do deputado Júlio Delgado (MG), sobre propostas em elaboração no PSB para a presidente Dilma: “É para salvar a economia do governo”.

LAÇOS DE FAMÍLIA

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem articulado com o primo, Francisco Dornelles (RJ), o apoio do PP nas presidenciais de 2014.

ARROGÂNCIA NA CRISE

Mesmo em chamas, o governador Sergio Cabral não perde a soberba: aplicou chá de cadeira de 50 minutos na ministra Doris Leuthard (Meio Ambiente, Transporte e Energia), uma das mais importantes da Suíça, que lhe trazia projetos e boas notícias. Apertou-lhe a mão e foi embora.

ENGOLINDO SAPO

Com avaliação em queda, Dilma engoliu a repulsa pelo líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e o aceitou ontem na reunião com aliados. Ele só esteve com ela em duas ocasiões. Nunca a sós.

PT QUE SE CUIDE

O deputado Vieira da Cunha (RS) não faz rodeios quando tema é 2014. Segundo ele, o PDT não fechou compromisso pela reeleição de Dilma e poderá apoiar Eduardo Campos: “Temos relação histórica com PSB”.

MÚMIA SE MEXE

Alvo de denúncias, o ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) comprou guerra com a bancada da Paraíba. Os deputados reclamam que o ministro tem usado programas do governo para cooptar prefeitos. E no Palácio do Planalto continua sendo chamado de “Múmia Paralítica”.

PREJUÍZO

Suplente do deputado preso Natan Donadon (RO), Amir Lando (PMDB) chega a Brasília nesta terça, mas não recorrerá à Justiça para assumir. E reclama que Rondônia tem um deputado a menos, na Câmara.

RESISTÊNCIA

Após enfrentar tumor no cérebro, Mendes Ribeiro (PMDB-RS) agora trava batalha contra as sequelas do tratamento. Ele faz fisioterapia e musculação todos os dias a fim de voltar a caminhar sem dificuldade.

BRASIL DO ATRASO

O desembarque internacional em Guarulhos (SP) segue vergonhoso. Em vez de placas indicativas, duas funcionárias (com raiva de quem viaja ao exterior) para onde brasileiros devem se dirigir: longas filas diante de poucos guichês ocupados por sonolentos carimbadores.

DÁ NA MESMA

Para o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), a presidente Dilma “está fazendo todos os favores” para não ser reeleita em 2014: “Ela se nega a reduzir o número de ministérios, mas reduz o Orçamento de todos”.

PENSANDO BEM...

...os políticos retornaram, mas as manifestações nas ruas continuam de recesso.


PODER SEM PUDOR

MAGIA NEGRA NO PODER

José Sarney era presidente interino quando certa noite telefonou-lhe o ministro da Justiça, Fernando Lyra, pedindo um encontro urgente para contar como a Polícia Federal desvendara as razões da enfermidade de Tancredo Neves, ainda lutando pela vida no hospital. Sarney recebeu Lyra e seu chefe de gabinete, Cristovam Buarque, quase às 2h da madrugada. Os dois exibiram um boneco espetado por agulhas, suposto "trabalho de vudu" encontrado nas imediações da Granja do Torto. Sarney perguntou-lhes pelas providências. Lyra reagiu orgulhoso:

- Já procuramos um terreiro e o "trabalho" foi desfeito, presidente!