terça-feira, novembro 19, 2013

Escritores e pedófilos - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 19/11

Julgar qualquer obra com as falhas de conduta do criador seria inaugurar uma 'caça às bruxas'


Um dia perguntaram a Gore Vidal se ele gostaria de mudar alguma coisa na sua biografia. O escritor respondeu: "A minha mãe".

Em três palavras, Vidal "vintage": uma mistura de ironia e crueldade. E de presciência, talvez: se é verdade que todas as famílias felizes são iguais, então cada família ressentida é ressentida à sua maneira.

O verniz da família Vidal estalou recentemente depois de o escritor, morto em 2012, ter deixado o seu patrimônio (tradução: US$ 37 milhões, cerca de R$ 84 milhões) à Universidade Harvard.

A família respondeu com um livro no qual alega que Vidal teria vivido anos de terror com a possibilidade de William Buckley, seu fiel inimigo, o denunciar como pedófilo. Buckley teria provas de vários crimes sobre menores. Infelizmente, os descendentes de Buckley confessam que o "dossiê Vidal" foi jogado fora depois da morte do patrono. Como quem joga uma roupa velha.

Perfeito. Não há provas. Apenas uma mancha: Vidal era pedófilo e não se fala mais do assunto.

Uma mancha dessas não é apenas destrutiva de uma reputação. É destrutiva e macabra porque Vidal já não está entre os vivos para responder. Se bater em gente indefesa é sinal de covardia, o que será bater em gente morta?

Mas o "caso Vidal", que agitou as águas literárias, coloca uma questão mais séria: será que o comportamento pessoal de um artista, e mesmo o comportamento alegadamente criminal dele, diminui ou altera a qualidade da sua obra?

O jornalista Mark Lawson, que analisou o caso no jornal "The Guardian", diz que não. E relembra vários exemplos de condutas privadas reprováveis que nem por isso desqualificam o autor. O antissemitismo de Richard Wagner não deve ser um impedimento para apreciar a sua música.

E, claro, convém não esquecer Roman Polanski, que abusou de uma menor nos Estados Unidos e, por causa disso, nunca mais lá regressou. O crime de Polanski desqualifica os filmes que ele fez?

A minha resposta também é negativa: existe uma autonomia na criação estética que não se confunde com a biografia ética. Admito apenas uma exceção a essa regra (já irei a ela), mas pretender julgar qualquer obra com as falhas de conduta do criador seria inaugurar uma "caça às bruxas" que deixaria os nossos museus e as nossas bibliotecas irremediavelmente mais pobres.

O antissemitismo de Céline não retira uma vírgula à grandeza romanesca da sua obra. Martin Heidegger merece ser lido, e bem lido, independentemente dos entusiasmos pelo nazismo.

E, para recuarmos na história, não passa pela cabeça de ninguém condenar a pintura de Caravaggio simplesmente porque ele era um delinquente e um provável homicida.

Exceções à regra? Apenas uma: quando o próprio autor não respeita a separação entre a ética e a estética, usando a segunda para esconder a primeira. A misantropia de Evelyn Waugh não me incomoda porque os seus romances não procuram sublimar ou ocultar o ser intratável que ele era.

Mas confesso algumas dificuldades em levar a sério o humanismo moralista de Arthur Miller quando sei que esse humanismo não era praticado pelo próprio em relação ao filho com síndrome de Down, que ele abandonou no asilo e conscientemente rasurou da sua biografia.

Repito: não espero que um artista seja um santo. Mas também não tolero que ele se faça passar por santo. E, sobretudo, que faça sermões aos outros exigindo essa santidade.

Finalmente, a separação entre a conduta ética e a autonomia estética funciona para ambos os lados. A violação de Polanski não retira qualidade aos seus filmes. Mas a qualidade dos filmes não o absolve da violação (e da fuga), mesmo sabendo que a vítima já o perdoou publicamente.

Acreditar que a vida estética está cima da lei é apenas repetir o mesmo tipo de "diletantismo ético" que produziu horrores mil na história moderna. Se Polanski regressar aos Estados Unidos, a Justiça que trate do que é da Justiça. Os filmes bastam-se e bastam-me.

E Gore Vidal? Começo e acabo com o óbvio: no século 20 americano, não encontro maior ensaísta. Nem melhor escola de estilo para qualquer candidato ao "métier".

O que Vidal fazia nas horas livres não é da minha conta. E, perante a ausência de provas (e de vítimas), não é da conta de ninguém.

Cem anos de Marcel Proust - ARNALDO JABOR

O Estado de S.Paulo - 19/11

Há cem anos, saiu o primeiro livro de Tempo Perdido de Proust, comemorou outro dia o proustiano fita azul Mario Sergio Conti. Também já escrevi aqui sobre esse gênio raro e volto hoje, citando-me, apesar de "citação em boca própria ser vitupério".

Sim, eu confesso que custei a ler Proust, e até 2007 só conhecia No Caminho de Swann, como muita gente. Depois, me decidi, tranquei-me por quatro meses e não fiz outra coisa se não ler a obra completa de mais de 3 mil paginas. Quando acabei, tive vontade de começar de novo. Fechei o livro como se perdesse um amigo. Como pude viver tanto tempo sem conhecer este grande herói da solidão da arte, que nos ofertou sua própria vida, uma vida que ele viveu "fora" da vida mesma, solitário observador da malta de mundanos, quando frequentava os salões da Terceira República francesa, ainda com os ecos do Segundo Império?

Aquela sociedade era a perfeita lente de aumento sobre paixões e vaidades rasteiras em sua aparente sofisticação, ali, antes e durante a Primeira Guerra, uma sociedade oscilante entre a aristocracia decadente e a burguesia afluente, ali, no começo do antissemitismo do século 20 e das tragédias que iam culminar em Hitler e que deixou rastros até hoje. Como nós, ele viveu à beira de catástrofes anunciadas - qual serão as nossas? Ele se trancou no quarto e partiu para a epopeia de "irrelevâncias" que guardassem verdades profundas sobre a sociedade francesa (e humana). No turbilhão de acontecimentos terríveis, ele se refugiou para escrever e salvar-se pela beleza e pela arte.

Proust ilumina o momento mais fecundo do modernismo, ele, um cubista dos sentimentos, sob o mesmo vento que batia em Joyce, Picasso, Freud, Einstein, vergado sob a relatividade do espaço-tempo, sofrendo a explosão do Sentido, a irrupção do Inconsciente. Mais que Joyce (perto de Proust, ele parece um frio fazedor de trocadilhos), ele inventa a literatura moderna.

Na vida que levo, comentando a vergonha de nossa política, tive a sensação de ter lido-vivido uma coisa muito relevante, que entrevia o mistério inalcançável da existência, emoção que, em literatura, só tive com Shakespeare e com a Ilíada.

O leitor vai torcer o nariz e perguntar, irritado com meu entusiasmo: "Mas, afinal, por quê? Qual é a dele, desse tal de Proust, que dizem que era veado?".

Não quero fazer filosofia barata, mas acho que "a dele" era a seguinte: Proust encetou uma tarefa impossível - atingir o real. E a beleza dessa impossibilidade acendeu a luz irradiante da obra. Ele busca a dissecação dos sentimentos na poética, assim como Freud, na tradição cientifica. Proust fez a geometria das emoções, descrevendo amores, inveja ou medo com a nitidez de um teorema, com a limpidez de um mapa de geógrafo. Irritava-se quando diziam que ele era um microscópio dos detalhes, pois ele queria descobrir leis, regras fixas que resumissem o diagrama dos comportamentos.

Que imensa coragem a sua marginalização escolhida! Que solidão! O que fez esse homem ficar à margem da vida, vivendo-a "dentro", no sofrimento de tudo ver sobre a feliz insanidade dos homens comuns, ele, uma bicha solitária em pleno preconceito dos anos 10, ele, com uma sensibilidade que doía a cada ridículo, ele que transformou a própria anomalia em arte total, ele que escreveu uma Ilíada interior, um Homero de aparentes irrelevâncias, sem fim nem começo, indo da infância até a morte num trajeto circular e recorrente, indo da natureza que examinava em detalhes até os salões de duques e príncipes, ele que se detinha nos irisados matizes de uma corola das flores nos bosques até os tremores de cílios da vaidade, os lábios vorazes da glória mundana, a dentadura brutal do rancor, o esgar da inveja, o desespero da solidão sexual nos bordéis para masoquistas, a crueldade dos amores egoístas, o ciúme como tortura desejada, tudo em uma sociedade se contorcendo sob a luz negra da Primeira Guerra, Paris trêmula, com viciados se comendo no breu dos túneis do metrô, sob as bombas dos aviões alemães, a bravura sem prêmio de soldados, a covardia de duques arrogantes, o horror do caso Dreyfus, dividindo a sociedade em antissemitas e democratas, o ridículo profundo que ele analisava com compaixão e sem dele se excluir, ele, que tudo via com uma mente épica e com o olho feminino atento tanto para as nuances do vermelho Carpaccio das sedas da duquesa e dos azuis Veronese de um robe de Fortuny, como para a morte latejando nas artérias de velhos príncipes nos salões, e sempre imolando a vida à arte, querendo deixar algum vestígio no Tempo, pensando não em leitores que o aprovassem, mas generoso para criar "leitores de si mesmos", (como ele escreveu), para ser uma espécie de lupa que lhes desse meios de se lerem. Esta é a sensação de vazio que me toma. Enquanto eu o lia, eu me lia, estava perto de verdades profundas, aparentemente tão rasas e mundanas. E agora que acabei, penso: "Que será de mim sem ele?". A mediocridade geral da República volta como uma maré suja, as notícias do erro nacional, as imagens da feiura, a morte da beleza batem à porta.

Escrevo este artigo com sentimento de culpa (vejam vocês), pois estou falando de Proust em vez dos presos do mensalão. Que vão pensar de mim? Imagino o leitor: "Será que ele está querendo se exibir, bancar o culto? Como ousa falar de alguém 'artístico', neste mundo em que a superficialidade, a mediocridade da arte está na razão direta da profundidade crescente da tecnociência?".

É verdade. Talvez seja um pecado falar essas coisas. Proust viveu em um mundo acabado, no inicio do século 20, quando ainda havia a extraordinária importância da arte, da pintura, música, literatura. E havia alguma esperança de Sentido, quando este "sentido" já se esvaía e os grandes artistas do modernismo tentavam salvar o afogado. Talvez o maior êxtase de ler Proust resida em nos lembrarmos de como era a beleza, como era a esperança na arte.

E tem mais: nós não estamos no futuro desse tempo passado, não. Nós somos sua decadência.

Questão complexa, abordagem ampla - VERA REGINA FONSECA

FOLHA DE SP -19/11

A psicanálise não pretende ser a única abordagem para o autismo. Mas não é admissível que seja excluída de um campo no qual atua há 90 anos


Em resposta ao artigo de Nilde Franch ("Autismo e psicanálise", 13/9), presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, os autores Del Rey, Vilas Boas e Ilo ("Análise do comportamento e autismo", 25/10) afirmam que há um desconhecimento em relação à terapia comportamental. Se isso ocorre, vale para ambos os lados.

A psicanálise não nega que o autismo seja um problema de desenvolvimento, no qual fatores genéticos estão envolvidos. Concebemos o desenvolvimento como um processo não-linear complexo. Ainda que os genes tenham um papel, a sua expressão se dá na interação com o ambiente, como bem ilustram os estudos de epigenética.

No autista, o resultado é uma dificuldade básica em se relacionar com as pessoas, o que o impede de usar a ligação com os pais para a regulação emocional e de se desenvolver no formato relacional, adquirindo um "radar social" como baliza.

Um dos argumentos da réplica é que as estereotipias do autismo se devem à falta de repertório e de integração. Existe tal deficit, mas ele é secundário ao prejuízo central na capacidade de se relacionar. Ainda não se conseguiu demonstrar um defeito genético específico que cause os sintomas: o deficit social é o cerne, e várias das sintomatologias são consequentes ao mesmo.

Por meio de recursos técnicos próprios, o trabalho psicanalítico objetiva reativar os caminhos do desenvolvimento relacional e compartilhar estratégias com os pais. Elas são obtidas a partir de uma compreensão da mente específica da psicanálise: a mente como um "órgão" que evoluiu, ao longo de nossa história filogenética, para permitir sobrevivência em nosso nicho ecológico, o grupo social --que é, para a criança pequena, seus pais.

Uma das tarefas centrais de tal órgão-mente, o gerador de nosso comportamento, é processar emoções. E as emoções são, basicamente, relacionais. Para ajudar os pacientes no processamento de tais emoções, buscamos conhecer, em cada um, o estado de mente que gera seu comportamento, o que envolve descobrir como ele lida com, ou evita, as emoções relacionais.

O texto também critica que patologias sérias sejam abordadas por tratamentos não comprovados cientificamente. Há certamente dificuldades metodológicas para desenhar pesquisas longitudinais que comprovem o resultado de psicoterapias. Mas elas não são insuperáveis, o que é mostrado por vários estudos em curso, um deles conduzido na própria Sociedade de Psicanálise.

Além disso, o método do estudo de caso foi e continua sendo de extrema importância nas ciências médicas; há mais de 230 artigos nesse molde na base de dados do "Psychoanalytic Electronic Publishing".

A dificuldade na realização de pesquisas de resultado não afligem só a psicanálise; mesmo as que avaliam outros tratamentos sofrem com problemas e insuficiências metodológicas, como amostras muito pequenas e outros vieses.

Não se trata de um ensaio clínico em que serão comparadas medicações e seus efeitos, mas de um transtorno complexo, de enorme diversidade e que, provavelmente, abriga quadros com origens diferentes.

A psicanálise não pretende ser o único caminho para a abordagem dos transtornos autísticos; tal postura seria religiosa e contrária à sua natureza científica. Mas também não é admissível uma "religião" que determine a exclusão da psicanálise de um campo no qual ela tem 90 anos de experiência, já que Melanie Klein trabalhou com sucesso uma criança autista na década de 20, antes até da descrição feita por Leo Kanner.

Sejamos humildes e entendamos que pouco sabemos ainda. A psicanálise admite que o paciente é uma pessoa desconhecida que tentaremos compreender, usando nossa mente humana e nossa experiência científica, para trazê-lo para o grupo social, com a ajuda da família e de outros profissionais.

O ciclo cachaça-aspirina - FRANCO IACOMINI

GAZETA DO POVO - PR - 19/11

Se o leitor é assalariado, provavelmente irá receber na semana que vem a primeira parcela do décimo-terceiro salário – trêzimo, como dizem alguns. O que vai fazer com ele?

Quando chega esta época, é comum aparecerem pesquisas sobre esse tema. As opções, óbvias, são três: gastar, poupar, pagar dívidas. Com frequência o último item é o mais mencionado, porque muita gente conta com o valor que irá receber no fim do ano e gasta por conta nos meses anteriores. Usa o dinheiro, portanto, para cobrir rombos já feitos no seu orçamento doméstico.

É como alguém que exagera habitualmente na bebida e sabe que a ressaca trará uma enorme dor de cabeça, mas tem certeza de que o analgésico que tomará na manhã seguinte resolverá todos os seus problemas. A promessa de alívio faz com que ele se entregue à satisfação do prazer imediato da bebida. Assim, se estabelece na vida desse hipotético beberrão compulsivo um ciclo cachaça-aspirina que pode até afastar a cefaleia, mas faz muito mal ao indivíduo. Quando perde o controle, ele sofre outras consequências, em seus relacionamentos e em sua saúde física.

O gastador compulsivo age de forma bem semelhante, e recebe igualmente as consequências em seus relacionamentos e em sua vida financeira.

É bom saber que você vai ter um recurso garantido para pagar alguma conta. Mas melhor ainda seria programar as compras para pagar quando o dinheiro estivesse, efetivamente, disponível.

As empresas vão bem

Um levantamento da empresa de informações de mercado Economatica apontou um dado interessante a respeito dos resultados das empresas brasileiras de capital aberto. Analisando 320 companhias, a empresa descobriu que o lucro líquido cresceu 10,2% no período de julho a setembro (o terceiro trimestre), na comparação com o mesmo período do ano passado. O lucro combinado dessas empresas chegou a R$ 39 bilhões, contra R$ 35,3 bilhões no terceiro trimestre de 2012.

Há setores melhores e outros nem tanto. O de óleo e gás teve queda de 47,4% – a Petrobras, de muito longe a maior empresa nessa área, teve lucros 39% abaixo do ano passado. Já a Vale, outro gigante, elevou seus ganhos em 138,9%. Em conjunto, os bancos lucraram R$ 12,5 bilhões, 11,1% de crescimento.

O que isso significa para o brasileiro comum? É um alento para quem está preocupado com os sinais de desaceleração ou mesmo de retração que outros segmentos da economia têm dado. No mínimo, essa percepção não vale para as grandes empresas. Como se vê, elas vão muito bem, obrigado. Na verdade, se o PIB brasileiro crescesse na mesma toada, estaríamos todos muito bem. Observe-se que esses 10,2% são nominais, enquanto que os números do PIB são “tratados” para eliminar o efeito da inflação. Mesmo deflacionando os números da Economatica, sobraria um crescimento perto de 4%.

Cortador na garupa

Há alguns dias, naquele sábado ensolarado da Corrente Cultural, eu estava com a família em uma praça da cidade, assistindo a uma apresentação. Era por volta do meio-dia e não havia muita gente no local. Um senhor de uns 60 anos, magro, cabelo e barba totalmente brancos, passou por nós e pediu que tomássemos conta de sua bicicleta enquanto ele ia a um dos banheiros químicos instalados no local.

Não demorou muito e ele retornou. “Ninguém mexeu na bicicleta”, garantimos. O homem deu um sorriso e disparou: “Sabe por que ninguém mexeu? É que tem um cortador de grama atrás, e ninguém quer trabalhar!”

Todos rimos. Mas quando eu soube que alguns restaurantes passaram sufoco no feriadão por causa de funcionários que não apareceram para trabalhar, dei alguma razão a ele.

Literatura de celular 1 - MARCUS FAUSTINI

O GLOBO - 19/11
‘Vou copiar todos os SMS que mandei para você ao longo dos anos, imprimir tudo e sair vendendo na rua’


1. Faltam poucas horas para chegar a barca de volta ao litoral. Fiz esta fuga para sair fora, ficar longe, ir além. Mas minha cabeça, fora de cobertura, você conhece, impossível. Se aqui na ilha tivesse sinal de celular te mandava uma mensagem falando dessa saudade do teu cheiro. Engraçado... Escapo e penso mais. A parada é que a ilha disparou a cabeça e cansou o corpo, jogou essa minha mania de lembrar das coisas direto para o nosso primeiro mês. Aquele teu riso de final de boca depois que revelei que ensaiava as frases das primeiras conversas ao telefone pra ser mais certeiro, por não ter créditos suficientes. Esse nosso amor tá marcado em todos os celulares que tive.

2. Comprei um cordão de uma hippie, ela tinha a cor dos teus olhos, extrato de própolis com gengibre, deve ter sido isso que me fez colocar você na ilha inteira. Que merda que eu fiz. Vou ter que voltar para o Rio e trabalhar em dobro no táxi para pagar os custos dessa viagem e nem tirei você da cabeça, nem aquela menina do forró, suor perfumado no quadril, conseguiu fazer eu ficar 24 horas sem pensar no passado. Queria mesmo era mandar uma mensagem agora, falando isso tudo. Vai ficar tudo a salvo na tela de mensagens pra você.

3. Estou preocupado com esse meu esquecimento das palavras, essa dor no corpo, essa secura na língua. Sei que não estou doente, com defeito no corpo. É a tua ausência, é saber que vai ser assim a partir da minha volta para a cidade. Será que ainda tenho espaço livre no cérebro para me ensinar que posso começar a sentir tudo outra vez? Vai ser foda ter que precisar de uns três anos para esquecer completamente você. Vou copiar todos os SMS que mandei para você ao longo dos anos, imprimir tudo e sair vendendo na rua. Fazer de cada mensagem um pedaço. Vou oferecer, contando a nossa história. Pra ver melhor, com a reação deles, pra entender mais o que aconteceu comigo. Preciso voltar e usar essas coisas antigas, porque eu não consigo achar uma palavra, uma frase que acalme essa secura na língua. Vão me chamar de hippie que fica vendendo SMS e contando a história de um amor. Pra eu estar tendo esse tipo de pensamento é porque devo estar muito doente. A barca que não chega. Ausência dela é anúncio da tua.

4. Printei no meu celular a tua postagem no Facebook: “como entender minha existência se o outro não é mais espelho?”. Não entendi nada! Você desaparece e escreve um lance desses. Sei que sou lento de entender as coisas, mas esta frase deveria ser minha. Passando a digital na tela do telefone vi que estou chegando a quase mil imagens que tenho sobre você. Fotos, posts printados, mensagens salvas, gravações. Tenho uma enciclopédia sobre você. Agora entendo por que me deu de presente este maldito celular e no mesmo dia me ensinou a usar. Era uma armadilha para monitorar o meu modo de ver, de estar com você. Um pedaço teu comigo. Um espelho!!! A merda do espelho que você escreveu. Eu deveria jogar este bagulho no mar, parado na proa da barca para Mangaratiba. E imaginar os teus gritos de socorro no afogamento dos restos teus que carrego comigo.

5. Hoje não peguei nenhum passageiro no táxi. Ninguém. Nem o americano que levei até a escadaria do Selarón, que não parava de perguntar sobre a morte dele; nem a menina-GPS que não parava de falar os nomes das ruas que eu deveria seguir; nem aqueles olhos fixos na minha nuca, que não me lembro se eram de homem ou mulher; nem a vontade de largar o carro na Praça das Nações e pegar o teleférico do Alemão para almoçar no quilo da estação do Adeus. Não existiu ninguém. Nenhuma vontade. Era como estar só. Passei o dia perguntando “qual o destino?” — e depois me danava em pensar numa forma de entender o teu desaparecimento. Joguei o celular no banco do carona. Ele foi meu único passageiro durante a noite. Ele era você. Era o efeito do meu esforço de atenção esperando o toque personalizado que você carimbou na minha cabeça. Nada aconteceu, nem passageiro, nem toque. Mais um dia, desde que eu cheguei da ilha, mais um dia que o tempo nem sei se anda ou não anda.

6. Desconfio, ao apagar uma foto sua, que aquele movimento da imagem sendo sugada em direção ao ícone da lixeira do meu celular é um exercício necessário de repetição. Todo esse amor-conteúdo deve ser derretido. Nada deve ficar. Mas vou deixar essa foto tua, de corpo cortado pela metade on-line. Ela contém um espelho, essa metade que falta. Se você encontrar, a outra metade tá comigo. Volta! http://instagram.com/p/g2lOoaH6X4/.

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Na terceira terça do próximo mês, mais um pedaço desta ficção. As imagens dela sumirão do celular dele.

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Na próxima terça, os novos “baixos” inventados pela juventude popular na metrópole. Maré, Nova Iguaçu, Bar da Cachaça etc.

Educação sem fronteiras - LILIANA AYALDE

O GLOBO - 19/11

Meu pai foi para os EUA para estudar saúde pública, e isso contribuiu imensamente para a percepção que eu, como diplomata americana, tenho do mundo



Na semana passada, comemoramos a Semana Internacional da Educação 2013, uma oportunidade de reconhecer os benefícios proporcionados pela educação global e pelos intercâmbios em todo o mundo. Acreditamos que o ensino internacional construa e sustente um mundo mais democrático, seguro e próspero, beneficiando toda a comunidade internacional.

O Brasil tem sido um líder na promoção da educação internacional e das oportunidades de intercâmbio, e os EUA têm sido privilegiados em serem parceiros do governo brasileiro nesses esforços. Os Estados Unidos seguem como o principal destino dos estudantes do programa Ciência sem Fronteiras do governo Dilma Rousseff, enquanto o programa 100 Mil Unidos pelas Américas, do presidente Obama, traz para o Brasil um grande número de alunos americanos.

Segundo o relatório anual Open Doors, divulgado semana passada, o número de estudantes brasileiros nos EUA cresceu 20,4%, totalizando 10.868 no ano acadêmico americano 2012/2013 — tornando o Brasil o 11º país que mais envia alunos para os Estados Unidos em todo o mundo — e 4.060 estudantes americanos estudaram no Brasil no ano acadêmico 2011/2012, um aumento de 16,5% frente ao ano anterior. Espero que continuemos vendo mais alunos brasileiros indo para os EUA. Por mais impressionantes que esses dados sejam, sabemos que educação internacional não se trata apenas de números, mas de construir relações.

Os laços criados durante experiências educacionais no exterior ficam para sempre. Estudantes internacionais enriquecem as salas de aula, os campus e as comunidades, e o efeito dessa experiência perdura por muitos anos após o retorno desses alunos aos seus países de origem.

Além disso, eles desenvolvem uma compreensão dos valores e perspectivas de pessoas de outras nacionalidades que dura pelo resto da vida. Eu mesma sou resultado de um intercâmbio educacional. Foi por meio de um programa de intercâmbio que meu pai foi para os EUA para estudar saúde pública, e isso contribuiu imensamente para a percepção que eu, como diplomata americana, tenho do mundo.

A educação internacional desenvolve as relações entre pessoas e comunidades em todo o mundo, que são importantes para resolver desafios globais. Ela capacita as pessoas para colaborar na resolução de questões de nosso tempo, como o desenvolvimento da força de trabalho, mudança climática e saúde global. Ao conectar nossas universidades e comunidades de pesquisas, estudantes e professores, escolas e líderes educacionais, Brasil e Estados Unidos preparam seus jovens e sociedades para serem líderes mundiais e inovadores criativos para os desafios do século XXI.

Eu incentivo a todos que se empenhem em investir na própria educação global ou de seus familiares. O mundo será um lugar melhor com isso. Para mais informações sobre a Semana Internacional da Educação e sobre as atividades que ocorrem no Brasil, visite o site http://educationusa.org.br.

Ueba! Pizzolato vira pizzaiolo! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 19/11

O Dirceu não fugiu porque, com aquele sotaque de Mazzaropi, seria reconhecido em qualquer lugar do mundo


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Predestinado do mensalão: Jacinto Lamas. Fizeram o mapa astral dele antes de batizar. A mãe deve ter gritado na maternidade: Jacinto Lamas! Rarará!

Piada Pronta do mensalão: "Pizzolato fugiu pra Itália". Fugiu não, voltou pro habitat. Deve tá em Nápoles! Disfarçado de meia calabresa, meia margherita!

E a sacanagem do mensalão, Lula pros mensaleiros: "Estamos juntos". Ele aproveitando o feriadão e os três sentadinhos, putos da vida, num banco de cimento da cela! Rarará!

E diz que o Zé Dirceu é dez. Pegou dez anos, dez meses e dez dias. Tirou dez em tudo! Rarará!

E um leitor me disse: "Tô com dó dos presos. Dos OUTROS presos". Rarará!

E o Delúbio tá com a cara do Saddam Hussein quando saiu do buraco! E o Genoino? Com o braço levantado e capa de lençol! É o Superman...salão! O Supermensalão! E isso é surreal: o Genoino é um dos políticos mais pobres do Brasil e tá preso!

Eu acho que o Genoino entrou de gaiato no navio! Transfere a pena dele pro Zé Dirceu! Acrescenta! E o Dirceu? O Papudo na Papuda.

O Dirceu não fugiu porque, com aquele sotaque de Mazzaropi, seria reconhecido em qualquer lugar do mundo: "Fecha a poooorrrrrta". "Close the dooorrrr."

E eu já disse que o culpado de tudo é o Gabeira, que trocou o embaixador americano pelo Zé Dirceu! Rarará!

E o mensalão virou esculhambação: os condenados andaram de avião, van, ônibus, só faltou lancha!

Loucademia de Polícia: prenderam, mas não sabiam onde colocar os presos! Sabe avião quando não tem teto no aeroporto e fica rodando, rodando? Parecia isso!

E agora só falta julgar o mensalão mineiro dos tucanos, o metrozão paulista e o kassabão dos fiscais! Tem que pegar todo mundo! Não tem virgem na zona! E o Joaquim Barbosa parece a minha sogra: ranzinza, não deixa ninguém falar e os outros estão sempre errados! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é lúdico! Olha essa placa no supermercado Mambo: "Contrafilé FRIBOY". FRIBOY? Chama o Tony Ramos! Rarará!

E o feriadão? A Engarrafolia! Feriadão: parado na estrada tomando banho de sol no braço. Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã.

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Na terra do Zumbi - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 19/11

Amanhã, celebram-se 318 anos que Zumbi morreu na Serra da Barriga, em Alagoas.
O Ipea divulga hoje uma espécie de mapa do racismo no Brasil, realizado por Daniel Cerqueira e Rodrigo Moura. Nele, a terra de Zumbi aparece mal na foto.

Veja só...
Alagoas é o estado em que há maior perda de expectativa de vida para os negros devido a causas violentas (homicídios, suicídios e acidentes). Em média, os de pele escura deixam de viver 49 meses.
Já entre os brancos, a perda é infinitamente menor: 3,5 meses.

Neymar x Messi
Neymar e Messi programam um jogo no Brasil. Reunirá os amigos do craque brasileiro contra os amigos do craque argentino.
Será até o fim do ano em Goiânia.

Acabou em samba
Dori Caymmi estava com a corda toda no show pelos seus 70 anos no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, sexta, dia da prisão dos mensaleiros:
— Eu ouvi dizer que tem gente aí na prisão domiciliar. Eu já estou com úlcera de tanto comer pizza.

Outra...
No dia seguinte, Zeca do Trombone alterou um trechinho de “Estatuto da gafieira”, do saudoso Billy Blanco, no seu show no Cariocando, no Catete.
Num dos trechos da música, cantou assim: “o Joaquim era faixa-preta simplesmente/ e fez Zé Dirceu rebolar sem bambolê”. Foi aplaudido.

A família aumentou
A querida Regina Casé e o marido Estevão Ciavatta estão felizes da vida. Adotaram Roque, um menino de cinco meses.

Turnê dos milhões
A produtora Rannavi prepara a turnê “Maestro João Carlos Martins in concert” para 2014. O grande maestro vai passar por seis capitais brasileiras, regendo a Orquestra Bachiana Filarmônica.
O Ministério da Cultura permitiu a arrecadação de R$ 19.957.292,98 pela Lei Rouanet.

Cultura estrangeira...
Aliás, o MinC também autorizou que a carioca Texas Produções arrecade R$ 4.657.800, pela Lei Rouanet, para produzir o espetáculo “Alice no país das maravilhas”, do britânico Charles Lutwidge Dodgson.
Vai ficar em cartaz durante quatro meses, no Oi Casa Grande, no Rio.

Que coisa feia!
Um cantor brasileiro, louco por futebol, deu vexame durante o amistoso do Brasil com Honduras, sábado, em Miami, nos EUA.
Alterado pelo álcool, queria de qualquer maneira entrar no vestiário da seleção e tirar fotos com os craques.
Barrado, xingou geral.

Mundo moderno
O prefeito Eduardo High Tech Paes está adorando fazer “hangout” — ferramenta do Google para transmissões ao vivo de vídeo pela internet. Pela segunda vez, o alcaide vai dar esse tipo de entrevista, quinta, sobre mobilidade urbana.
Um dos entrevistadores será o professor Fernando Mac Dowell, da PUC-Rio. O encontro será mediado por Rodolfo Schneider.
Outro que adora um “hangout” é Barack Obama.

Hollywood é aqui
Veja como o Rio entrou no roteiro do cinema mundial.
“Rio heat”, produzido por Jon Cassar, o diretor da série “24 horas”, vai reunir Andy Garcia (“O poderoso chefão”) e Laurence Fishburne (“Contágio”), além de atores brasileiros. As filmagens serão no Rio no início de 2014. A direção será de TJ Scott, da série “Spartacus”. Antonio Andrade, da Biscoito Filmes, será o diretor assistente.

Viva Quelé!
De Hermínio Bello de Carvalho sobre o musical “Clementina, cadê você?”, com Ana Carbatti, em cartaz na Casa Laura Alvim, em Ipanema:
— É o musical mais bonito dos últimos tempos. Belíssimo! Paulinho da Viola e eu assistimos à estreia, e nos abraçamos chorando.

Boletim médico
Lourdes Catão, autora de “Sociedade brasileira”, foi internada ontem, às pressas, no Hospital Samaritano, no Rio.
Estava com apendicite aguda.

Palmas pra lua
Aplaudir o sol já é rotina no verão no Rio. Mas, no sábado à noite, Paulo Jobim, filho do mestre Tom Jobim, inovou.
Durante show no Parque dos Patins, na Lagoa, Paulo alertou a plateia: “Olhem só a lua que está surgindo atrás de vocês.”
E a lua foi ovacionada.

MOMENTO ELEITORAL - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP  - 19/11

Marco Aurélio Mello, que assume hoje a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), deixará fora de seu discurso de posse a prisão dos réus do mensalão. "Não devemos tripudiar de quem já está numa condição inferior. E eles estão, porque foram presos", diz. O também ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), que pretende exaltar em sua fala o papel do eleitor, discorda da forma como a corte determinou as detenções.

FREIO
Para Mello, foi um erro a expedição dos mandados sem as cartas de sentença, que determinam o regime ao qual o condenado está designado. A decisão foi do presidente do STF, Joaquim Barbosa. A medida, diz, deu um caráter provisório às prisões até ontem. Mello também revela "perplexidade" com o transporte dos condenados para Brasília, já que a lei determina o cumprimento da pena próximo ao domicílio. "Não entendo essa pressa toda. Não havia nenhum tipo de risco."

CONEXÃO PARAGUAIA
Enquanto eram cumpridos os 12 primeiros mandados de prisão do mensalão, Emerson Palmieri, ex-tesoureiro do PTB condenado a pena alternativa no processo, participava de um evento de motoqueiros em Curitiba. Há um ano, ele se divide entre a capital paranaense e Assunção, no Paraguai, onde abriu loja de produtos para motos. Palmieri é apaixonado por motocicletas e já percorreu a América do Sul sob duas rodas.

NA BAGAGEM
Forçada a tirar da mala sutiãs com armação de metal ao se apresentar à polícia, Simone Vasconcelos pôde ficar com três livros (um romance e outros de apoio espiritual), antidepressivos, remédios para reposição hormonal e produtos de higiene pessoal. Seu advogado, Leonardo Yarochewsky, critica as transferências para Brasília. "Não entendo a necessidade de humilhar e de impor um suplício aos condenados, levados para longe da família."

BLITZ
A lei que proíbe bares, restaurantes e supermercados de vender bebida alcoólica a menores de idade resulta em duas multas por dia no Estado, em média. Levantamento da secretaria da Saúde de SP aponta 1.540 autuações por descumprimento da Lei Antiálcool aplicadas desde novembro de 2011, quando ela entrou em vigor. Foram 487 mil inspeções no período.

FINA ESTAMPA
A artista gráfica Joana Lira vai mover ação contra a cerâmica Portobello. Segundo ela, a marca usou ilustrações suas sem autorização, em convites e sacolas de um evento em Porto de Galinhas (PE). A empresa alega que o material é de responsabilidade da produtora que organizou o encontro. Houve tentativa de acordo. "Esse trabalho tem valor sentimental pra mim. A questão não é só dinheiro", diz a artista.

BOLO NO PALCO
Reynaldo Gianecchini foi surpreendido com homenagem pelo aniversário de 41 anos após a sessão de sexta da peça "A Toca do Coelho". Cláudia Gianecchini, irmã do ator, entrou no palco do teatro Faap com um bolo. A plateia cantou parabéns. A surpresa foi ideia de Simone Zucato, atriz do espetáculo, que também tem no elenco Maria Fernanda Cândido e Selma Egrei.

PÉ NO CHÃO
Aos 13 anos, Klara Castanho, a Paulinha de "Amor à Vida", não teme ter o mesmo destino de artistas mirins de Hollywood. "Nunca vou surtar como a Miley Cyrus", diz a atriz, que atua desde os 6 anos.
"Mas é uma profissão difícil e instável", reconhece Klara. A adolescente posou no clima dos anos 1960 para o site Ego.

LÁ VÊM OS NOIVOS
Trinta casais foram selecionados para o casamento coletivo entre pessoas do mesmo sexo que ocorre no CTN (Centro de Tradições Nordestinas) no dia 29, em SP. Gays e lésbicas vão oficializar a união no civil e no religioso. "Fizemos parceria com a secretaria estadual de Justiça, que vai providenciar a documentação", explica Renata Abreu, presidente do CTN. Um padre e um pastor evangélico vão abençoar os casais. Daniela Mercury foi convidada para ser madrinha.

PAPO RETO
Antes de cantar no Troféu Raça Negra, Leny Andrade desabafou: "Esta é a primeira homenagem que vejo ser feita ao Emílio Santiago. Mas para o Chorão [do Charlie Brown Jr.] já houve cinco. Talvez seja preciso que os grandes cantores tenham que morrer de overdose para serem lembrados". Ambos faleceram em março.

TAPETE VERMELHO
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, e a atriz Zezeh Barbosa receberam anteontem o Troféu Raça Negra, no Memorial da América Latina. Netinho de Paula, secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial, representou o prefeito Fernando Haddad, também premiado. A cantora Leny Andrade se apresentou, homenageando Emílio Santiago.

CURTO-CIRCUITO
Zeca Baleiro faz show hoje, às 21h30, no teatro Bradesco. 12 anos.

A Zipper Galeria inaugura hoje a mostra "Filigranas", de Carolina Ponte, às 19h.

Vanessa da Mata lança hoje o livro "A Filha das Flores", na Livraria Cultura da avenida Paulista, às 19h.

A aposta da oposição - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 19/11

A prisão dos condenados pelo mensalão já é peça da sucessão presidencial. Quando o escândalo ocorreu (2005), a oposição apostou que o ex-presidente Lula cairia de maduro. Mas ele se recuperou e venceu a eleição. Agora, avaliam seus integrantes, vai ser diferente, pois a presidente Dilma não tem o carisma do antecessor. Os petistas também se preocupam, pois, nas eleições de 2006, sua bancada na Câmara diminuiu.

A nova batalha dos Guararapes
Quem é mais forte eleitoralmente em Pernambuco? A resposta a essa pergunta virá na eleição presidencial. Desde já, o governo Dilma e o ex-presidente Lula estão batendo de frente com o candidato do PSB, o governador Eduardo Campos. A coordenação da campanha petista acredita que Lula vai acampar em seu estado natal. Avaliam que a ação do governo federal no Porto de Suape, na duplicação da BR-101, na Transposição do São Francisco, na Transnordestina, na refinaria Abreu e Lima, na fábrica da Fiat e no Polo Petroquímico vai pesar. Essa avaliação também é compartilhada por tucanos.


“Eu estou aqui no interior. Indo para Porto Alegre. Para voltar para o hospício” 
Beto Albuquerque líder do PSB na Câmara, sobre o Congresso 

Guinada para o Sul
A expectativa do Itamaraty é que, uma vez eleita presidente do Chile, Michelle Bachelet afaste seu país da Aliança do Pacífico e se volte em direção ao Mercosul.

Jogo de corpo
O ministro José Eduardo Cardozo faz um esforço para deixar claro que nem ele nem a cúpula da Polícia Federal tiveram qualquer participação na transferência dos condenados do mensalão de suas cidades para Brasília. Que apenas cumpriu ordem de Joaquim Barbosa.

Promessa é dívida?
Não foi uma vez só. O senador Mário Couto (PSDB-PA) anunciou várias vezes, algumas em discurso no plenário, que renunciaria a seu mandato se o ex-poderoso da Casa Civil José Dirceu ficasse ao menos um dia na cadeia. Aguarda-se.

Mil e uma utilidades 
Curinga do governo Dilma, o ministro Aloizio Mercadante é cogitado para diversas tarefas. Seu nome é um dos que podem ocupar a coordenação da campanha de reeleição de Dilma. Ele está em todas as cogitações para ocupar a Casa Civil quando Gleisi Hoffmann sair para concorrer no Paraná. Mercadante diz sobre isso: “Não temos mais direito de ter projeto pessoal a esta altura da vida.”

José Dirceu fora da Ordem
Foi protocolado ontem na OAB pedido de suspensão do registro de advogado de José Dirceu. O argumento é que, com a prisão, ele perdeu a idoneidade moral, pré-requisito para a concessão da carteira da OAB. Quando cassado, em 2005, a OAB negou. Ele ainda não tinha sido julgado no STF.

Efeito Marina
Depois do ex-presidente Lula, agora será o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves. Os tucanos organizam ainda para este mês uma reunião com o setor do agronegócio em São Paulo.

O JORNALISTA CHICO DE GOIS lança nesta quinta-feira, em Brasília, seu livro: “Os ben$ que os políticos fazem”. Será na livraria Saraiva do shopping Pátio Brasil.

Gosto pelo precipício - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 19/11

Eduardo Campos fez ontem em São Paulo as mais pesadas críticas a Dilma Rousseff desde que o PSB deixou o governo. Ecoando as principais queixas do empresariado, disse que a petista "assustou" o mercado ao tentar "tabelar os ganhos nas concessões" e foi "refém dos próprios erros". Afirmou que "a presidente da República não pode querer ser presidente do Banco Central". "O governo tem um gosto pelo precipício que eu não tenho", disse a cerca de 50 espectadores.

Seleto Entre os presentes estavam o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, João Carlos Saad, do grupo Bandeirantes, e Carlos Alberto Oliveira Andrade, da Caoa.

Vai levando Na reunião de ontem do Diretório Nacional, o PT decidiu estender seu Congresso até 2015. Ele será aberto no ano que vem, mas o debate dos temas polêmicos ficará para depois das eleições. A intenção é não contaminar a campanha de Dilma com temas delicados.

Ponta do lápis O desempenho de Dilma na pesquisa Ibope de ontem agradou a aliados, que viram a presidente "consolidada" em patamar próximo de 40%, sem crescimento dos adversários.

Contrapartida Com o anúncio de apoio à reeleição de Dilma amanhã, dirigentes do PSD passarão a aguardar gesto de retribuição da petista. Antes avessa a uma participação robusta no atual governo, a sigla agora julga que pode ganhar espaço na Esplanada na próxima reforma.

No páreo 1 Aécio Neves resolveu dobrar a aposta para ter o PPS em sua coligação em 2014. Para se contrapor à preferência de Roberto Freire por Campos, o tucano se dedica a obter o apoio de diretórios importantes.

No páreo 2 Na sexta-feira, o senador vai ao congresso do PPS do Rio, que deve declarar preferência por sua candidatura. Ele já tem aval do diretório de Minas e negocia o de Pernambuco.

Oremos Alexandre Padilha (Saúde) recebeu apoio da Assembleia de Deus Madureira a sua candidatura ao governo paulista. O pastor Samuel Ferreira desistiu de apoiar Geraldo Alckmin (PSDB) e criticou o governador pela falta de parcerias.

É aqui Joaquim Barbosa mandou transferir todos os presos do mensalão para Brasília, o que provocou grita dos advogados, por entender que a capital federal é o foro das ações do STF.

Nosso lar O presidente da corte considera que o cumprimento da pena no domicílio dos condenados não é prerrogativa automática: depende de decisão do juiz da Vara de Execuções Penais.

Classificados Auxiliares e aliados dos petistas presos em regime semiaberto começaram a buscar empregos para os condenados em suas cidades de residência. Os presos precisam comprovar um trabalho formal para poder deixar a prisão durante o dia.

Sem fio Dilma telefonou ontem para Michelle Bachelet para parabenizá-la pela votação que teve no primeiro turno da eleição chilena. As duas são amigas e se aproximaram durante a gestão de Bachelet na ONU Mulheres.

Passo... O promotor responsável pelo caso da bióloga brasileira Ana Paula Maciel, presa na Rússia, recomendou que ela seja libertada mediante fiança para responder em liberdade ao processo de vandalismo por participar de ato do Greenpeace.

... a passo Um juiz vai decidir se acata o parecer. A prisão da brasileira será tema de conversa entre o chanceler russo, Sergey Lavrov, e o ministro Luiz Alberto Figueiredo (Relações Exteriores), que chega hoje a Moscou.

Visita à Folha Elizabeth Ballantine, presidente da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), visitou ontem a Folha. Estava acompanhada de Gustavo Mohme, vice-presidente, Edward Seaton, ex-presidente, e Amelie Ferro, consultora.

TIROTEIO
"Se continuar imitando Haddad em iniciativas como o bilhete mensal, o tucano Alckmin pode tomar o lugar do papagaio Louro José."

DE PAULO FIORILO, presidente eleito do PT municipal, sobre adesão do governo estadual ao Bilhete Único mensal e mudança na progressão continuada em SP.

CONTRAPONTO


O nó da questão federativa
Os governadores do PSDB aproveitaram debate sobre a federação, ontem, para enaltecer seus Estados.

--Todo mundo diz que o Brasil vai do Oiapoque ao Chuí, mas o monte Roraima é que faz a tríplice fronteira do país --alardeou Anchieta Filho.

Siqueira Campos (TO) chegou atrasado e teve de se desenroscar da gravata ao tentar tirá-la, já que era o único com o adereço. Refeito, não deixou por menos:

--O centro do Brasil é Palmas! --proclamou.

Crtl C, Crtl V - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 19/11

A reunião do PSD amanhã para fechar oficialmente o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff coloca na parede, antes da hora, todos os partidos médios que desfrutam de cargos de primeiro escalão. Dentro do governo, há quem veja esse tipo de encontro como um modelo a ser seguido por aqueles que pretendem continuar confortáveis no Executivo federal a partir de janeiro de 2014.

Obviamente, diante das denúncias que envolvem a prefeitura de São Paulo, o ex-prefeito Gilberto Kassab precisa fazer mais esforço que os demais para tentar estancar o clima de hostilidade que reina entre ele e os petistas na província. Mas, ainda assim, um pouco de apoio à presidente, em especial nesse momento de prisão dos réus do mensalão, será entendido como um gesto muito forte de “estamos juntos” em 2014. Tanto é que não está descartada a presença de Dilma no evento.

O tempo de Aécio I
A solenidade Poços de Caldas+ 30, para marcar o trigésimo aniversário do primeiro documento em favor das Diretas Já assinado por Tancredo Neves e Franco Montoro, foi apenas um pano de fundo. O presidente do PSDB, Aécio Neves saiu de lá com a candidatura presidencial consolidada.

O tempo de Aécio II
A maciça presença de representantes do diretório de São Paulo no evento em Minas Gerais foi lida no partido como uma prova de que o ex-governador José Serra, a única estrela ausente, não é o nome que os tucanos paulistas desejam para concorrer à Presidência da República.

Cobrou geral
A presidente Dilma Rousseff não gostou de saber que os senadores pretendem segurar a nomeação de João Resende para presidente da Anatel. Ela até aceita acolher algumas alterações no Marco Civil da Internet, mas tem dito que base aliada tem que ser... aliada! Os senadores prometem agilizar nesta semana.

Nem tanto
O “estamos juntos” de Lula incomodou a parcela do PT que deseja tocar a vida diante do inevitável desgaste com as prisões. Afinal, muita gente no partido considera melhor prender agora do que no ano eleitoral. Os petistas torcem para que, até lá, o calor desse momento esteja diluído.

Dilma e o mensalão I/ Em público, a presidente silenciou, mas em conversa com os líderes no Senado comentou o mensalão. Segundo relato de alguns, ela, apesar de reiterar que não deseja se pronunciar abertamente sobre o tema, ela citou o caso de José Genoino e lembrou que já foi presa política. Mencionou ainda que seus advogados sempre ficavam de plantão nas transferências dela.

Dilma e o mensalão II/ A presidente inclusive teria dito que é muito ruim o que estão fazendo com o ex-presidente do partido. Os líderes saíram de lá com a impressão de que ela acha os advogados de Genoino meio “moles”.

Apostas/ Enquanto um grupo do PT defende o confronto com o STF, os comunistas do PCdoB têm certeza de que as fortes declarações das últimas 48 horas não passam de “emoção do momento” e “choque” por causa das imagens dos réus se entregando à Polícia Federal. A nota do PT, com ênfase aos programas de governo, mostra que os comunistas estão certos.

Serraglio viu/ “As prisões viriam mais dia, menos dia. O problema é que as pessoas se acostumaram com a impunidade e não pode ser assim. A CPI trabalhou bem. Se não tivesse investigado de forma correta, nada disso teria acontecido”, disse à coluna o deputado Osmar Serraglio, o peemedebista que relatou a CPI dos Correios.

Prolongaram legal…/ Quem passou pelos plenários da Câmara e do Senado ontem à tarde ficou com sensação de que o feriadão não havia terminado.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 19/11

PPP irá ampliar sistema de esgoto em Maceió
A Casal (Companhia de Saneamento de Alagoas) vai lançar uma PPP (parceria público-privada) para ampliar o sistema de captação e tratamento de esgoto de Maceió.

Hoje, há redes de coleta em apenas 36% da capital.

O projeto prevê um contrato de R$ 290 milhões, dos quais R$ 130 milhões terão de ser investidos pela empresa vencedora da licitação nos primeiros quatro anos.

Serão aportes em obras como as de duas novas estações de tratamento, 12 pontos de bombeamento e 166 quilômetros de redes coletoras, entre outras construções.

As estruturas vão beneficiar os bairros do norte da capital alagoana.

"É uma região que tem cerca de 300 mil moradores e que se transformou no principal vetor de expansão do município", diz Álvaro José Menezes da Costa, presidente da companhia estatal.

A consulta pública para a PPP será aberta na próxima semana. O edital da licitação sairá até janeiro.

Além das obras, a vencedora do contrato deverá gerenciar o novo sistema por um período de 30 anos.

Também irá assumir serviços que hoje são terceirizados, como cobrança de contas atrasadas e fiscalização.

"A empresa será remunerada por meio de uma contraprestação ligada à arrecadação na área de influência do projeto", afirma Costa.

Com a PPP e outras obras planejadas, a meta é elevar a 80% até 2018 o sistema de redes coletoras de esgoto.

Essa é a segunda parceria da Casal com o setor privado.

A primeira foi assinada em 2012 para ampliar o fornecimento de água a Arapiraca e outras nove cidades do agreste alagoano. O contrato, de R$ 143 milhões, foi firmado com a CAB Ambiental.

SAPATO PARADO
A participação da Venezuela nas exportações da Piccadilly cairá dos 10% registrados em 2012 para menos de 1% neste ano.

A posição do país entre os principais mercados da fabricante de calçados passará do 3º para o 56º lugar, segundo a diretora de exportação, Micheline Grings.

"Desde fevereiro, está tudo parado. Os compradores de lá não tem acesso ao dólar para finalizar as compras", afirma.

Além de atuar em multimarcas, a empresa tem oito lojas no país. "Todas praticamente vazias."

As dificuldades para vender para a Venezuela e para a Argentina foram as principais responsáveis por diminuir os embarques da marca de 30% do total produzido para 25%.

A companhia, no entanto, tem avançado em outras regiões. Neste ano, abriu franquias na Nova Zelândia e no Bahrein. Há negociações para a entrada em mais seis países, entre eles Colômbia, México e Equador.

"Estamos buscando [formas para contornar o problema argentino e venezuelano], mas eram dois mercados grandes. Vamos ter de encontrar muitos países para compensar", diz o presidente, Paulo Grings.

R$ 412 milhões
foi o faturamento da empresa no ano passado

15 milhões
de pares de calçados foram produzidos em 2012

25%
do total fabricado neste ano será exportado

4.200
são os funcionários

6
é o número de fábricas, todas no Rio Grande do Sul

SEM FUNDOS
O número de cheques devolvidos no país aumentou 16,5% em outubro em relação ao mês anterior, segundo a Boa Vista Serviços, que administra o SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).

Foram recusados pelos bancos 1,44 milhão de cheques em outubro, o que representou 1,93% do montante de folhas movimentadas.

Em setembro, o total de títulos sem fundos havia sido de 1,23 milhão --1,78% dos documentos emitidos.

Apesar do crescimento neste mês, os números seguem em baixa em relação a 2012. Em outubro do ano passado, o volume de cheques devolvidos foi de 1,63 milhão (1,97% das movimentações).

"A alta de outubro foi uma oscilação pontual. De forma geral, ao menos em relação à inadimplência, o ano tem sido melhor na comparação com 2012", diz Flávio Calife, economista da entidade.

Casa... O Consórcio Embracon lança uma estratégia para se expandir. Belo Horizonte e Itajaí (SC) serão as primeiras cidades a ter franquias no novo modelo de negócio, que visa municípios com população entre 100 mil e 200 mil habitantes.

...e carro O plano é fechar dois contratos por mês em 2014 e encerrar o próximo ano com 35 franqueados. A expansão corresponderá a um aumento de 25% na área de atuação da empresa.

Cama... A VestCasa, rede de varejo especializada no segmento de cama, mesa, banho e decoração, vai inaugurar sua primeira loja em Paraisópolis, em São Paulo. A empresa tem hoje 120 unidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

...e mesa Com foco nas classes C e D, a companhia pretende fechar o ano com 130 lojas. O plano de expansão da empresa prevê a inauguração de mais 270 franquias até o final de 2015.

ROUPA DE MARCA
As vendas para o Natal devem crescer 5% neste ano, na comparação com o ano anterior, segundo projeção que será divulgada hoje pelo SPC Brasil, vinculado à Câmara de Dirigentes Lojistas.

O segmento de vestuários lidera a lista das intenções de compra, com 37%.

Em seguida, estão calçados (38%) e cosméticos (33%).

"Com o aumento da renda e do 13º salário, a propensão de gastos está maior, principalmente nas classes C e D, que dão mais ênfase à marca e ao preço do produto", afirma Flávio Borges, gerente financeiro do SPC Brasil.

As classes A e B consideram mais o perfil e o desejo do presenteado no momento da compra.

Os entrevistados das classes C e D, entretanto, são os que mais valorizam os descontos no ato da compra.

As mulheres são as mais propensas a gastar. Entre as entrevistadas, 76% pretendem presentear alguém, contra 58% dos homens.

Estatísticas sem pés nem cabeça - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 19/11

Em reação a críticas, presidente amputa números ruins para que eles pareçam saudáveis


A PRESIDENTE está em campanha contra o que julga ser a difamação de sua política econômica. Recheia a agenda de encontros com empresários, manda ministros se entrevistarem com outros e com jornalistas, dá safanões verbais em críticos.

Talvez mais preocupante, amputa algumas estatísticas de braços e pernas a fim de dizer que elas estão mais magras.

Dilma Rousseff acredita mesmo no que diz?

O governo do Brasil é um dos poucos, meia dúzia, daqueles dentre as grandes economias do mundo que apresenta superavit primário, diz a presidente. É. E daí?

Superavit primário é aquela parte da receita de impostos que o governo deixa de gastar; usa tais dinheiros a fim de evitar que a dívida cresça. Mesmo com essa "poupança" (o superavit primário), a dívida pública cresce. Cresce muito porque o governo do Brasil paga taxas de juros altíssimas, as maiores do mundo (e, em parte, porque o Brasil cresce pouco). Nosso caso é desgraçadamente especial.

Parte do descrédito de Dilma se deve à redução da "poupança" do governo. Não era para tanto mau humor, mas pode vir a ser.

Dados os estrambóticos juros brasileiros, o governo precisa não só fazer uma "poupança" grande (para conter o crescimento da dívida) como deveria começar a pagar parte dela, a fim de renegociar em termos mais favoráveis o resto do débito.

Isto é, para refinanciar o resto da dívida a juros menores, seria preciso um superavit maior. Tanto faz o superavit em outros países. Estamos pendurados no cheque especial; o resto do mundo está no consignado ou pega dinheiro a juro zero.

A presidente diz que a inflação vai ficar abaixo do teto da meta (abaixo de 6,5%) pelo enésimo ano. Vai. E daí?

A inflação encarece os produtos brasileiros, bidu. É bem maior aqui do que na maioria dos países com quem comerciamos (no mundo rico, está perto de zero). É fácil ver que, dada essa disparidade, vai ficando mais barato comprar importados do que produto nacional (nosso deficit externo cresce para consumirmos mais, a indústria vai à breca etc.).

Ou, então, o produtor nacional tem de segurar seus preços; dada a alta de custos, cai o seu lucro. Se lucra menos, tem menos incentivo para investir. Se a inflação não causasse outros problemas, esses já seriam bem chatinhos.

A gente pode atenuar esse problema da inflação relativamente mais alta com desvalorização da moeda. Desvalorizações constantes realimentam a inflação e, no fim das contas, achatam o poder de compra do salário, entre outros problemas.

A fim de evitar esse ciclo, é preciso elevar os juros (e/ou cortar gasto do governo), o que tolhe investimentos etc.

A presidente diz que a crise mundial afetou o Brasil. É verdade. Os excessos do final do governo Lula 2 também afetaram a economia. Críticos de Dilma diziam, desde 2010, que a tarefa da presidente seria dura. Ela é que não acreditou nisso.

Achou que o Brasil cresceria 5,9% ao ano durante seu governo. Bastava mandar pau na máquina: gastar mais, baixar imposto, soltar mais crédito. Foi o que fez.

O Brasil cresceu até agora uns 2% ao ano. Com menos superavit, mais inflação, mais deficit externo e, agora, juros em alta.

Entenda a deflação - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 19/11

A inflação aleija e pode matar; a deflação, também. Depois de passar meses a fio temendo os efeitos da inflação sobre a economia, os europeus agora temem o contrário (veja o gráfico).

Primeiro, o conceito. Muita gente no Brasil acha que deflação é uma queda geral de preços apenas episódica que não dura mais que dois meses. Isso não é deflação, é inflação negativa. A deflação acontece quando os preços caem de maneira constante durante um período relativamente longo.

Os efeitos da deflação são tão ou mais perniciosos do que os produzidos pela inflação. E é mais fácil compreender a deflação pelos seus efeitos do que pelo seu conceito.

Para começar, é difícil de saber onde está a ponta do rolo, mas causas e efeitos acabam se misturando.

Uma deflação é uma tragédia para grandes devedores, porque os compromissos permanecem os mesmos enquanto preços e renda caem. Ou seja, na prática, a dívida fica mais alta. Quem, por exemplo, comprou uma casa e tem muitos anos para pagar prestações mais ou menos fixas, em caso de deflação acabará pagando mais do que vale a casa - se sobreviver financeiramente até lá. Por aí já se vê que, em tempo de deflação, a regra geral é evitar levantamento de empréstimos e a atividade bancária é prejudicada.

Numa situação de deflação, empresas e consumidores adiam compras, porque apostam em que, mais à frente, serão beneficiados pela rebaixa de preços. Menos compras e menos investimentos tendem a puxar para baixo a atividade econômica e a contratação de pessoal. É também o que vai derrubar os salários e as rendas e, por sua vez, contrair ainda mais o consumo. Em países cuja população está mais insegura em relação ao futuro, o consumo cai por uma razão adicional: pelo aumento da poupança. As pessoas economizam mais porque imaginam que, lá na frente, vão precisar de mais dinheiro. Esse é, por exemplo, um fenômeno particularmente grave no Japão.

Como a arrecadação do setor público está quase inteiramente baseada nos preços e nos valores, uma queda persistente dos preços tende a derrubar a arrecadação. O efeito seguinte é menos despesa pública, mais recessão, mais vida dura.

O risco de deflação foi o principal fator que levou e continua levando grandes bancos centrais a emitir trilhões em moeda nacional. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) inventou o quantitative easing, que é a recompra de títulos no mercado à proporção de US$ 85 bilhões por mês que despeja dólares no mercado. O Banco Central Europeu (zona do euro) adotou o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM) para socorrer os bancos e acaba de derrubar os juros básicos para 0,25% ao ano. O Banco do Japão, orientado pelo primeiro-ministro Shinzo Abe, também está emitindo moeda, experiência que hoje está sendo chamada Abenomics.

Também é a principal razão pela qual, nos países em que vigora o regime de metas, os bancos centrais nunca perseguem uma inflação inferior a 2,0% ao ano. Se errassem para menos, poderiam atolar a economia na deflação, de saída difícil.

Mas, decididamente, dessa doença o Brasil está longe.

Queda da poupança privada - ANTÔNIO DELFIM NETO

VALOR ECONÔMICO - 19/11

Dois competentes economistas, Carlos Antonio Rocca e Lauro Santos Jr., acabam de publicar um importante trabalho ("Redução da Taxa de Poupança e o Financiamento dos Investimentos no Brasil", Centro de Estudos do Ibmec, novembro de 2013), no qual procuram atualizar alguns dados sobre a economia brasileira.

Comparam o ano de 2011 com uma espécie de média de 2012 e 2013, recolhendo informações para um período de 12 meses terminado em junho de 2013 (tabela 1). Surpreendente é a queda da taxa de poupança interna, 2,8% do PIB, acompanhada de aumento do déficit em conta corrente de 1,2% do PIB, que reduzem em 1,6% a relação investimento/PIB.

A poupança interna é a soma da poupança do setor privado, que em média foi 18,7% do PIB em 2000-2013, e da "despoupança" do setor público, que foi de 2,4% no mesmo período. Isso produziu em média uma taxa de poupança bruta de 16,3% do PIB. Em 2011, a "despoupança" do setor público foi igual à de 2012/13 (1,4% do PIB), o que sugere que a queda da poupança bruta foi gerada pela enorme queda da poupança privada (tabela 2).

Como afirmam os autores, "os dados das contas nacionais revelam um acentuado crescimento do déficit em contas correntes nos últimos dois anos, de 2,5% do PIB em 2011 para 3,7% no período de 12 meses terminado em junho de 2013. Esse desempenho não resulta do aumento da taxa de investimentos. No período, a taxa de investimento caiu 2,6 pontos percentuais, para 18,1% do PIB. A diferença se explica pela forte redução da taxa doméstica de poupança, de 2,8 pontos percentuais, de 17,2% do PIB em 2011, para 14,4% no ultimo período, nível que é o menor dos últimos anos".

Uma forma alternativa de apreciar o fenômeno é analisar a poupança de cada setor com relação à "renda disponível" de cada um, que é elaborada pelo Ibmec, com dados do IBGE, do BC e do Ipea: 1) poupança do setor público em porcentagem da carga tributária; e 2) poupança do setor privado em porcentagem do PIB menos a carga tributária, que se vê no gráfico abaixo. Ele revela dois fatos: 1) a redução sistemática e significativa da "despoupança" do governo com relação à carga tributária, principalmente a partir de 2003 e hoje estabilizada em torno de 4%; e 2) a relativa estabilidade da poupança privada, cuja média no período 2000-2013 foi de 28,2%. Em 2011, atingiu 28,9% e estava em 24,8% no período de 12 meses terminado em junho de 2013.

O enigma é entender por que isso ocorreu. Os dados de 2005 a 2009 mostram que a poupança das famílias tem se mantido em torno de 4,5% do PIB. É pouco provável que tenha se alterado muito de 2010 a 2013, de forma que a queda deve concentrar-se no setor produtivo não financeiro.

Uma característica do período foi a redução dos recursos próprios das empresas nacionais e estrangeiras no financiamento dos seus investimentos, que caiu de 63% em 2011 para 52% em 2013. Nas empresas nacionais, vieram de 47% para 34%, recuo de 14%. Como a queda dos investimentos foi muito menor, subiu a participação dos recursos provindos de dívidas: 5 pontos percentuais do BNDES (de 14,7% para 19,7%); 3,9 pontos percentuais de emissões no mercado de dívida corporativa (de 9,1% para 13%) e 2,6 pontos de recursos tomados no exterior (de 5,5% para 8,1%).

As projeções do Ibmec, com números dos balanços das companhias abertas (exceto Petrobras) e das maiores empresas fechadas não financeiras sugerem queda da taxa de poupança dessas empresas da ordem de 2% do PIB, com os lucros retidos caindo de 3% do PIB em 2011 para apenas 1,9% em 2012, contra a média de retenção anual (mais aumento de capital) no período 2005- 2011 de 3,6% do PIB.

Em outras palavras, a queda da poupança (a queda do lucro) foi substituída por maior alavancagem de dívidas, para sustentar nível menor de investimento e manter os dividendos dos acionistas no padrão histórico. Como é evidente, a hipótese levanta dúvidas sobre a eficácia da política de empréstimos a taxas de juros subsidiadas.


As 'fraudes' do seguro-desemprego - JOSÉ PASTORE

O Estado de S.Paulo - 19/11

De repente o Brasil se assustou com a explosão das despesas do abono salarial e do seguro-desemprego em 2013: cerca de R$ 47 bilhões. As explicações têm sido desencontradas. O ministro da Fazenda atribui os gastos às fraudes praticadas por empregados e empregadores. As centrais sindicais acham que tudo decorre da alta rotatividade do emprego brasileiro. O ministro do Trabalho minimiza o papel das fraudes, aceita a ideia da rotatividade e acrescenta o forte aumento do salário mínimo e da formalização do emprego ocorrido nos últimos anos, pois o valor dos dois benefícios está atrelado a esses fatores.

Esses fatos não são isolados e, somados, têm certamente um forte impacto nas despesas públicas. A formalização e o valor do salário mínimo são o lado bom da história. Nada a fazer. Mas e a rotatividade? O que determina esse fenômeno? Vejo nela dois componentes. Primeiro, a baixa remuneração do FGTS e, segundo, a sazonalidade de muitas atividades econômicas.

No primeiro aspecto, convém lembrar que, em 2013, o FGTS deve render pouco mais de 3%, para uma inflação de quase 6%. Ao longo dos últimos dez anos, a inflação acumulada foi de 125%, enquanto o rendimento acumulado daquele fundo não passou de 85%. Com isso, os trabalhadores perderam cerca de 30% do seu patrimônio. Um absurdo! Por isso, querem sacar seu dinheiro para usar de forma mais racional. Essa é uma poderosa fonte de pressão que está por trás dos que buscam ser demitidos sem justa causa.

Essa demissão permite, ainda, receber mais dinheiro. Exemplo: um empregado que trabalha há um ano em determinada empresa com um salário mensal de R$ 1 mil terá acumulado R$ 1.040 na sua conta do FGTS (inclusive a parcela do 13.º salário). Na demissão, ele sacará esse montante e receberá R$ 400 a título de indenização de dispensa. Além do salário do mês, ele terá direito a R$ 1 mil de 13.º salário e a R$ 1.333 referentes a férias e abono. Como desempregado, receberá quatro parcelas no valor de R$ 800 do seguro-desemprego. Em resumo: para viver nestes quatro meses, ele disporá de R$ 7.973, o que dá uma média mensal de quase R$ 2 mil, ou seja, o dobro do que ganhava quando empregado.

Até aqui foi tudo legal. Se ele fraudar a lei do seguro-desemprego e passar a trabalhar no mercado informal por quatro meses, com um salário de R$ 1 mil por mês, terá mais R$ 4 mil. O ganho total no período subirá para cerca de R$ 12 mil, que dá uma média de R$ 3 mil mensais. Uma tentação. Além disso, receberá um salário mínimo de abono salarial.

Com uma remuneração tão baixa do FGTS e uma tentação tão alta, não é à toa que muitos trabalhadores usem esses expedientes.

O segundo determinante da rotatividade decorre da natureza das atividades econômicas. A sazonalidade eleva a rotatividade em vários setores, como é o caso da construção civil, agricultura, comércio, turismo e pequenos serviços. Nesses setores o entra e sai é a regra, ao contrário das atividades não sujeitas à sazonalidade que apresentam baixa rotatividade, como é o caso da administração pública, saúde, educação, empresas públicas, setor financeiro e outros. Em todos os setores, muitas empresas usam o trabalho temporário nos termos da Lei n.º 6.019/1974, que instiga a rotatividade. Assim sendo, o que fazer?

A ideia de exigir a matrícula em cursos a partir do primeiro pedido de seguro-desemprego pode reduzir os gastos do governo - desde que haja cursos para os desempregados. A proposta de elevar para seis meses o mínimo de trabalho para pagamento do abono salarial também ajuda (hoje são apenas 30 dias). A anunciada possibilidade de aplicar 30% dos recursos do FGTS em infraestrutura com rendimento de 12,5% é igualmente positiva.

Mais decisivo do que tudo seria colocar os rendimentos do FGTS no nível de mercado. Isso reduziria a pressão por saque e a própria rotatividade. Há muitos projetos de lei nesse sentido. Por que não aprová-los?