sábado, março 09, 2013

Política miúda - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 09/03

As más línguas do Vaticano dizem que o cardeal brasileiro Odilo Scherer está sendo inflado por gente da Cúria Ele seria, para esses cardeais, mais facilmente manobrável.
Os que querem cortar as asas da Cúria estariam alinhados com o poderoso arcebispo de Milão, Angelo Scola. A conferir.

De casa nova
A Rádio Corredor diz que o destino de Daniel Wainstein, de 43 anos, que deixou o comando do Goldman Sachs no Brasil levando bônus de uns 22 milhões de dólares, será o grupo Eike Batista.

Parquinho da Patrícia
Está com os dias contados o parquinho da sede do Flamengo, reformado por Patrícia Amorim e motivo de chacota da oposição, que dizia ter sido a maior obra da gestão da ex-presidente.
O restaurante que o McDonald’s vai erguer na Gávea ficará no espaço hoje ocupado pelos brinquedos.

Corrente positiva
Zezé Motta fez um pedido especial ontem, em seu Facebook, pela saúde de Emílio Santiago: “Uma corrente com muito pensamento positivo, energia e boas vibrações pela recuperação do Nat King Cole da música brasileira. Meu querido amigo, Emílio Santiago!”
É que...
O cantor teve um AVC e estáinternado no Samaritano, no Rio.

Salve, Glória
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil homenageou ontem
Glória Perez.A autora de “Salve Jorge” virou capa da página do perfil da instituição, no Facebook, no Dia Internacional da Mulher.

Medalha Duguay -Trouin
O consultor Adriano Pires, gaiato, sugere a Eduardo Paes investigar os parlamentares de outros estados que têm casa no Rio.
E os que votaram a favor da tunga do petróleo teriam... o IPTU aumentado.

Novos corsários...
Como ia dizendo, esta turma merece a Medalha René Duguay-Trouin, o francês que no começo do século XVIII tungou o Rio em 610 mil cruzados, cem caixas de açúcar e 200 bois.

Giane, o astro
Reynaldo Gianecchini será o protagonista do filme “Diminuta”, do cineasta Bruno Saglia.
O longa, com produção da B.O.X.X. Filmes, será rodado no Brasil e na Itália e terá no elenco, entre outros, Deborah Evelyn, Carlos Vereza e Daniela Escobar.

Niskier
No Museu Mário Mendonça, na cidade mineira de Tiradentes, será inaugurado, hoje, o “Espaço Arnaldo Niskier”.

Grande Portinari
O Instituto Chico Mendes doou para o MNBA, no Rio, apropriedade de cinco quadros do mestre Portinari que estavam na Capela Mayrink, na Floresta da Tijuca.

Os quadros (como este ao lado), que serão expostos no dia 26 agora, já estavam sob a guarda do museu.
Bianco e o maestro Aliás, este pintor Enrico Bianco, 94 anos, que o Brasil perdeu ontem, tinha verdadeira adoração por Portinari. No livro “Bianco”, editado por Léo Christiano, ele conta que testemunhou a morte de seu “maestro” em 1962, intoxicado pelo chumbo de suas tintas:
— Portinari explodiu. Paredes e teto ficaram pintados de vermelho-sangue.

Troca-troca
Botafogo, no Rio, ganha hoje uma casa de swing, a Two Lounge.

Tô fora
O secretário Indio da Costa convidou Zico para se candidatar a deputado nas próximas eleições. O craque recusou: “Tô fora de política.”

Tudo acaba em samba
A turma do Rio é gozadora até com suas mazelas. As imagens do Maracanã encharcado pelas chuvas levaram o mineiro-carioca João Bosco a brincar: “Se não ficar pronto pra Copa, agente vai pra cozinha.”
Outro gaiato propõe que o nome do
estádio seja “Arena Jacuzzi”. Calma, gente.

A derrota dos royalties - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 09/03

A presidente Dilma está irritada com a tática de confronto do governador Sérgio Cabral. Avalia que essa foi uma das causas da derrota e ficou decepcionada com a acusação de que “lavou as mãos”. Diz que sempre esteve com o Rio. Acha que a estratégia tem de mudar no STF. Além disso, Cabral, 14 anos após o ex-governador Itamar Franco (MG) declarar moratória, foi na mesma linha e anunciou a suspensão dos pagamentos.

A vida como ela é
O DEM convocou protesto contra a presidente Dilma por conta da seca no Nordeste e do atraso nas obras da transposição do Rio São Francisco. Foi no dia 1º de março, quando a presidente esteve em João Pessoa (PB). O líder do partido na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), viajou para lá. Aí entrou em campo a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Ela chegou antes,dissolveu o protesto e levou os manifestantes para o palanque da presidente. Caiado não saiu do hotel, e um dos organizadores, o deputado Efraim Filho (DEM-PB), até se reuniu com Dilma.

“Temos que chegar no ano que vem com real expectativa de poder, pois é isso que vai aglutinar forças em torno
da nossa candidatura”

Aécio Neves Senador (MG) e provável candidato do PSDB à Presidência

‘IRopstar’
Acompanhante da presidente Dilma no velório de Chávez, o ex-presidente Lula foi o centro das atenções nas rodas de conversa. Ele passou o tempo todo cercado por Evo Morales (Bolívia), Rafael Corrêa (Equador) e Raúl Castro (Cuba).

Show da Xuxa
A apresentadora Xuxa, foto, engrossou o coro contra a nomeação do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. “Que Deus nos ajude! Gente, socorro! Vamos fazer alguma coisa. Todo mundo sabe que eu respeito as religiões, mas este homem não é um religioso, é um monstro”, desabafou, no Facebook.

Quem tem a força
Os tucanos não estão preocupados com contatos do PPS e do DEM com as candidaturas Marina Silva (REDE) e Eduardo Campos (PSB). Avaliam que, sem o PSDB, esses dois partidos não elegem as atuais bancadas na Câmara dos Deputados.

O tamanho do estrago
Com a mudança da Lei dos Royalties, a cidade de Macaé (RJ), principal base logística de Petrobras, perderá este ano R$ 193 milhões de receita. O prefeito Aluízio Junior (PV) decidiu “auditar a folha de pagamento, reduzir a assessoria e limitar investimentos”. Serão cortadas “a construção de novas escolas, obras de saneamento e dos arcos rodoviários e a criação de leitos hospitalares”.



Sistematizando a dor de cabeça
Todos os presidentes estaduais do PT estão sendo convocados para uma reunião em 25 de março. O partido pretende fazer o primeiro mapa das eleições regionais de 2014, sistematizando as pretensões petistas e os planos dos aliados.

As luzes da ribalta
Afastado das principais campanhas desde o julgamento do mensalão, o marqueteiro Duda Mendonça se associou ao cientista político Antônio Lavareda e faz intenso lobby para assumir a campanha de Eduardo Campos em 2014.
O novo secretário de comunicação do Distrito Federal, Ugo Braga, já definiu seu adjunto. A função será exercida pelo jornalista Rudolfo Lago.

Reforma política - SONIA RACY

O ESTADÃO - 09/03

Geraldo Alckmin está preocupado com o destino da reforma política. “Se nada for votado neste semestre, não se vota mais antes de 2014. Não há democracia que funcione com 30 partidos atuando.”
A atual legislação, segundo o governador paulista, é “uma máquina de fazer partidos”.

Reforma 2
Alckmin espera que pelo menos dois itens sejam referendados. O que dita a proibição de coligação proporcional e as novas normas sobre tempo de TV. “Não pode mais existir a soma dos tempos na televisão de todos os partidos da coligação. Gera aberrações.”
Acabaria com o vale-tudo pelo minuto na telinha.

Arrecadação
São Paulo entrou no STF por causa dos royalties do petróleo. Mas não pensa em retaliar, como fez Sérgio Cabral.

Dá para entender. Segundo Andrea Calabi, dos R$ 173 bilhões do orçamento previsto para 2013, somente R$ 150 milhões são originários dos royalties. “Mas na projeção para 2016, receberemos R$ 4 bilhões. Não dá para abrir mão.”

Fogo…
Promotor que investiga Chalita– em 2 dos 11 inquéritos por suspeita de corrupção – sustenta ser “inútil e inócua” a discussão de que houve prescrição no caso. Diz que delitos de lesão ao patrimônio público e danos morais são imprescritíveis. E acrescenta: há elementos suficientes para que a apuração prossiga.

…cruzado
O deputado solicitou ao MP de São Paulo o trancamento das investigações contra ele. O Conselho Superior do órgão analisa. Já negou dois pedidos.

Haja linha
E a Receita Federal aperta a fiscalização sobre importação de… botões. Motivo? Indício de subfaturamento.
Das cerca de mil toneladas do produto que desembarcaram nos portos brasileiros em 2012, 82% vieram da China.

Em memória
Chorão será homenageado por Negra Liem show beneficente, dia 9 de abril. Com a Orquestra Jovem do Lar das Crianças da CIP, no Teatro Cultura Artística Itaim.
Regência? A cargo do maestro Claudio Weizmann.

Monopoly
No mercado imobiliário, fala-se que Joesley Batista pagou por sua nova casa, em Angra dos Reis – vendida por um casal de apresentadores da televisão –, nada menos que R$ 24 milhões. E pelo apartamento de conhecido publicitário, em Nova York, algo como US$ 15 milhões.
Somados aos quatro imóveis que comprou na região dos Jardins, em SP, avaliados em cerca de R$ 100 milhões, o empresário está fazendo uma bela carteira.

Citius, altius, fortius
A Olimpíada do Rio chegará primeiro… a São Paulo. O COB está trazendo 400 peças do Museu Olímpico, de Lausanne, para exposição na Fiesp. Entre os itens selecionados, cópia do discurso do Barão de Coubertincom a proposta de recriação dos Jogos, em 1892; sapatilha e medalhas de Adhemar Ferreira da Silva(das competições de 1952 e 1956); além de tochas e mascotes.
A mostra será aberta em abril e seguirá para o Rio em agosto.

Sem pressa
Muito se fala sobre Patricia Abravanel estar à procura de um programa para chamar de seu. Pessoas próximas, entretanto, atestam ser apenas especulação.

A moça tem olhado novos projetos, mas sem pressa. Está feliz com o que vem fazendo hoje. E o pai, todo orgulhoso com o desempenho da filha.

Eu acuso: Cunha foi honesto! - JORGE BASTOS MORENO

O GLOBO - 09/03

Cabral entrou no cheque especial da credibilidade para apoiar o trio Renan-Henrique Alves-Eduardo Cunha, achando que, na votação dos royalties, teria o apoio do comando do Congresso.

- Cá pra nós, o Henriquinho é muito fraco. Comigo na liderança, não teria acontecido o que aconteceu - foi assim que o famigerado (Não me processe, é no sentido de célebre e notável!) apresentou-se candidato a líder a Cabral.

Ninguém do outro lado contou ao governador que o discurso de Cunha foi este:

- Não posso ficar contra o Rio, mas também não posso ficar contra a bancada. Serei imparcial.

Pela primeira vez na vida, Eduardo Cunha agiu com correção. Traiu Cabral, mas é líder de uma bancada e não de um estado. E, como deputado do Rio, retirou-se do plenário junto com seus colegas do estado.

(Nunca pensei que, um dia, tivesse que elogiar um gesto do famigerado. Eu deveria ser processado por isso.)

"Mui amigo"

Falar em Cunha, sabe esses voluntariosos que tentam fazer as pazes entre as pessoas, à revelia delas?

Pois um desses pacificadores chegou ao célebre deputado:

- O senhor precisa fazer as pazes com o "Nhenhenhém" e parar de mandá-lo sair do armário.

- Mas ele vive me chamado de ladrão! Quem tem razão?

- Os dois!

Deputado, com um amigo comum desses, a gente nem precisa mais ser inimigos.

Fato

Para Jandira Feghali servir de pacificadora, imaginem o tamanho da briga entre o secretário municipal Pedro Paulo e o senador Lindbergh Farias.

- Não tenho medo das máquinas municipal e estadual! - gritou o senador.

Pedro Paulo, de chofre:

- De máquina você entende. Ela te trouxe para cá.

Versão

Lindinho, que diz gostar muito do secretário, nega a segunda parte, a de que Pedro Paulo o tivesse acusado de ter usado a prefeitura de Nova Iguaçu:

- Se pensou, esqueceu de dizer.

Que medo!

Serra avisa que não vai deixar barato a candidatura de Aécio Neves à presidência do PSDB:

- Vou contestá-la!

Como se o partido estivesse podendo e esse tema fosse relevante para os destinos do país.

Eu só estou registrando essa ameaça porque estou sem assunto para fechar a coluna.

Cena

Com todo respeito, existe cena mais falsa do que a do "parabéns pra você", cantado para Tarso Genro no Palácio do Planalto?

Sincera mesmo foi a reação dele:

- Estou envaretado!

A arte da Dilma

Na inauguração do Museu de Arte do Rio (MAR), Dilma encantou-se com os quadros de propriedade do colecionador Sérgio Fadel, na casa de quem jantaria mais tarde.

- Que gentleman! Que fofo! Poucos fariam o que ele fez.

Alertada de que não eram doações, mas estavam ali apenas emprestados, a presidente mudou imediatamente o discurso:

- Que homem mais pão-duro! Ele não perde por esperar!

Durante o jantar, para a surpresa geral, Dilma falou:

- Fadel, estou encantada com a sua generosidade. Nem todos teriam esse gesto de doar aquelas raridades para o museu. Parabéns!

Com um sorriso pálido nos lábios, Fadel não teve outra alternativa, a não ser confirmar o discurso da presidente. E mal conseguiu gaguejar:

- Eu sabia que a senhora iria gostar!

Tudo azul

Eduardo Campos, anotou um assessor presidencial, foi o único a não bater palmas para Dilma quando a presidente anunciou mudanças na MP dos Portos.

E, na rápida conversa, Dilma dedicou-se a perguntar por " Dona Renata" (imitando o jeito de o marido referir-se à primeira-dama).

As duas fingem que são amigas. E o governador finge que acredita.

Pouco tempo

Na antessala da presidência do Senado, duas senhoras esperavam a vez de serem recebidas, quando viram entrar por outra porta Dom Orani Tempesta.

- Deve ter vindo ouvir confissão! - arriscou uma delas.

- Acho que não. Ele volta para o Rio ainda hoje - informou um senhor, com cara de assessor do bispo.

A variável paulista - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 09/03

Com desembarque em São Paulo marcado para o dia 25, Aécio Neves deve intensificar nas próximas semanas os acenos para José Serra, que ainda não confirmou presença na palestra do mineiro no congresso estadual do PSDB. "Serra vai estar conosco. Ele é detentor de um patrimônio extraordinário, e terá um papel fundamental em 2014", afirma o senador. Enquanto a ala serrista ainda hesita, Aécio dá como certo o aval de Geraldo Alckmin, além do já público apoio de FHC.

Bolo de rolo Em reuniões no interior paulista, o PPS começa a discutir a aproximação com o PSB de Eduardo Campos. As caravanas, que chegam neste fim de semana a Votuporanga e Ribeirão Preto, são lideradas por deputados da sigla, tradicional aliada do PSDB no Estado.

Na real O partido de Marina Silva lançará cartilha para os 6.000 ativistas cadastrados. Como a meta é atingir 500 mil assinaturas até outubro, um texto alerta: "Não perca tempo com ações secundárias. Nosso objetivo prioritário é coleta de assinaturas, e o tempo é curto. Tenha isso sempre em mente."

Esse cara... Dilma Rousseff e Lula se reuniram durante quatro horas em Caracas com o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arveláiz. Discutiram o cenário pós-Hugo Chávez e ofereceram ajuda ao futuro governo.

... sou eu Segundo interlocutores, Max, como é conhecido, será a principal ponte do governo brasileiro com Nicolás Maduro. Além de ter a simpatia do marqueteiro João Santana, o embaixador é amigo de José Dirceu.

Pela... Advogado de Duda Mendonça, Antonio Carlos de Almeida Castro contestou no STF (Supremo Tribunal Federal) parecer de Roberto Gurgel contrário à liberação de seus bens. O publicitário foi absolvido no mensalão, mas a corte só deve desbloquear seu patrimônio após a publicação do acórdão.

... ordem No texto, Kakay afirma que o procurador-geral da República, ao citar a possibilidade de mudança do julgamento para manter o bloqueio, "ousa atentar contra o direito à liberdade e contra uma declaração de inocência subscrita pela mais alta Corte de Justiça do país".

Antídoto 1 O tom do pronunciamento de Dilma ontem em rede nacional de TV foi calibrado à tensão do governo federal com a perspectiva de inflação acima da meta e corrosão do poder de compra dos salários em 2014.

Antídoto 2 A presidente havia dito a empresários que anunciaria a desoneração da cesta básica em maio, no Dia do Trabalho. O pico de preços do IPCA, contudo, levou o governo a antecipar a medida.

50 tons A petista trocou o vermelho, contestado pelo PSDB em representação ao Ministério Público, pelo cinza em seu figurino televisivo.

Continua lindo Ministros do governo apostam que o plenário do STF repetirá a divisão geográfica do Congresso ao analisar a polêmica dos royalties do petróleo. Luiz Fux, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio Mello, que têm laços com o Rio de Janeiro, são tidos como contrários à redistribuição dos recursos.

Escalação Fernando Haddad instalará seu "Conselhão" no dia 26, data em que pretende apresentar o repaginado Plano de Metas do mandato. O colegiado, composto por 100 integrantes, fará quatro plenárias anuais.

PIB Já o Conselhão de Geraldo Alckmin, com cinco câmaras temáticas, terá sua reunião inaugural na segunda-feira. Participarão 90 personalidades entre empresários -como Paulo Skaf e Marcelo Odebrecht- e sindicalistas. Na ocasião será lançado o Plano Paulista de Incentivo à Competitividade.

Tucanocídio Em clima nada amistoso, três tucanos disputam a vice-presidência da Assembleia paulista: Fernando Capez, Maria Lúcia Amary e Roberto Engler. A eleição ocorre na sexta-feira.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"Devemos mudar o nome da Comissão de Direitos Humanos. O certo agora é chamá-la de Omissão. Caiu o 'C', de credibilidade."
DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre a eleição de Marco Feliciano (PSC), acusado de homofobia e racismo, para o colegiado da Câmara.

contraponto



Medida certa
José Eduardo Cardozo deixava o Senado após audiência quando foi abordado por jornalistas para uma entrevista coletiva. Em dado momento, um cinegrafista observou que o ministro da Justiça usava pulseira preta e quis saber se era luto pela morte de Hugo Chávez.

Cardozo, então, explicou:

-Não. Estou usando é para emagrecer mesmo! Ela marca e controla meus passos.

As armadilhas dos macropreços - PAULO R.HADDAD

 O Estado de S.Paulo - 09/03

O governo federal vai encontrar imensas dificuldades para realizar o seu objetivo de crescimento da economia em torno de 4% em 2013. Há, no horizonte de curto prazo, a convergência do processo de exaustão de três ciclos que impulsionaram a expansão de nossa economia após a consolidação da estabilidade monetária pós-Plano Real.

Em primeiro lugar, o bom desempenho dos preços e das quantidades de nossas exportações começou a se exaurir a partir da crise econômico-financeira que vem se prolongando desde 2008. Um novo ciclo de expansão da economia mundial poderá ocorrer apenas após 2015.

Em segundo lugar, os ganhos das reformas institucionais dos processos de privatização e de desregulamentação que ampliaram significativamente os investimentos, a produtividade e a eficiência microeconômica de muitas das antigas empresas estatais e de suas poderosas cadeias produtivas se estabilizaram, ainda que em patamares elevados. Mas as ambiguidades político-ideológicas da aliança interpartidária que governa o País fazem dos novos processos de privatizações, de concessões e de desregulamentações um campo de incertezas.

Finalmente, o ciclo das mudanças redistributivas da renda e da riqueza nacional, codificado na Constituição de 1988, está se exaurindo sob as restrições orçamentárias do governo federal, pressionado ainda mais para realocar as receitas adicionais na direção dos investimentos em infraestrutura econômica. A contribuição das políticas sociais compensatórias foi fundamental para impulsionar o mercado interno de algumas regiões do País, embaladas pelo crescimento real expressivo do salário mínimo.

O que fazer? Nestes momentos históricos em que tendem a se esgotar as fontes prevalecentes de crescimento sustentado, a sociedade brasileira sempre soube arquitetar politicamente grandes transformações, como ocorreu na primeira metade dos anos 50 com o presidente JK, no ciclo do milagre econômico dos anos de 1967 a 1975 ou no primeiro mandato do presidente FHC. Não me parece que a atual administração do governo federal esteja preparada para identificar, estruturar e implementar um processo de construção de um novo paradigma de desenvolvimento para o Brasil. Na verdade, a opção da atual equipe econômica é por uma abordagem incrementalista para enfrentar os problemas de baixo crescimento econômico, da persistência das desigualdades sociais e do uso predatório dos nossos ecossistemas.

Seguindo o incrementalismo sempre que um hiato é percebido pelos formuladores das políticas econômicas entre uma realidade observada e uma situação ideal, medidas são tomadas para preencher esse hiato. Ao se fechar um hiato, contudo, sempre se abrem outros; ao se resolver um problema, criam-se outros; e então estes passam, num momento seguinte, a ser percebidos como problemas, e tentativas são feitas com o objetivo de fechar os hiatos entre as situações ideais e a realidade nesses outros casos.

Esse processo pode se ramificar quase indefinidamente e há muitas situações em que ele se torna razoavelmente bem-sucedido (ao longo de um ciclo de expansão, por exemplo) como padrão de resolver os problemas das políticas econômicas. Mas nem sempre. É o caso da situação atual, em que a equipe econômica busca administrar as mazelas e os desencontros induzidos por suas ações entre os macropreços dos salários, do câmbio, da taxa de juros ou dos preços relativos de bens energéticos, resultando ora na aceleração da inflação ora na perda de competitividade dos bens exportáveis ou, até mesmo, na descapitalização de instituições e setores estratégicos da economia brasileira.

Assim, de intervenção ad hoc a intervenção ad hoc nos macropreços, formam-se armadilhas de efeitos inesperados que aguçam as incertezas para os agentes econômicos que desejam um mínimo de racionalidade e de previsibilidade nas suas decisões de médio e de longo prazos.

Colapso e caos - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 09/03

É preciso reconhecer: o Brasil está vivendo o caos na prestação dos serviços públicos e um colapso regulatório. Isso é resultado direto da falta de compreensão do que faz o Estado no seu papel de regulador. O governo desprezou as agências como se fosse "terceirização" dos seus poderes, tirou delas autonomia, nomeou apadrinhados, desvirtuou processos.

Hoje, as agências, seja em que área for - água, transporte aéreo de passageiro, energia elétrica, petróleo, telecomunicação -, alternam períodos longos de inação e omissão com fases de fúria arrecadatória. Multam as empresas e ameaçam. Mas o dinheiro acaba virando um novo imposto, que enche os cofres do governo e não resolve o problema de quem consome os serviços.

No domingo à noite, dia 24 de fevereiro, o aeroporto de Brasília viveu uma situação bizarra. Todo o sistema caiu. Os cartões de embarque foram preenchidos à mão. As televisões estavam apagadas e ninguém sabia onde era seu portão. Na sala de embarque, os passageiros tinham que conferir em cartazes pregados em cada portão os números dos voos. Nos dias seguintes, houve mais três quedas de energia no mesmo aeroporto.

No começo, era só equívoco ideológico. O PT achava que o PSDB quando criou novos marcos regulatórios para setores privatizados queria acabar com o Estado. O Estado moderno precisa ter agências que regulem setores. A não regulação é perigosa porque entrega às empresas o mercado como sesmaria. A regulação só governamental já criou muita distorção no passado.

As agências precisam ser independentes, não podem ter diretores nomeados pela chefe da regional paulista do gabinete da Presidência, com poderes que exorbitavam as suas funções. Há empresas privadas dividindo mercado com empresas públicas, autonomia e neutralidade das agências é fundamental.

Há momentos que a gente sente é que o país parou de funcionar. Falo de casos reais: uma conversa precisou de cinco ligações e mesmo assim terminou inconclusa. Uma empresa provedora de internet não consegue há dias explicar aos usuários - que pagam o maior preço para terem a maior velocidade - porque não entrega a mínima estabilidade de conexão. A luz acaba a qualquer chuva e demora tempo inexplicável para voltar. Quem nunca viveu situação kafkiana com as prestadoras de serviço tem muita sorte. A sucursal do GLOBO em São Paulo, ontem, antecipou fechamento porque corria risco de ficar sem luz depois do temporal que caiu à tarde. Só seria possível trabalhar enquanto houvesse diesel nos geradores do prédio. À noite, ainda não chegava energia da concessionária.

As empresas aéreas estão extorquindo viajantes. Trocar passagem mesmo que seja para voo em data futura tem custo tão alto quanto um novo bilhete. O passageiro é induzido a comprar outra passagem e pedir reembolso. As companhias só devolvem quando querem. Pode chegar a 90 dias. Pode levar um ano. Como se chama ficar com o dinheiro alheio sem autorização e sem remunerá-lo? Minha sugestão é que seja usada a palavra furto. Vende-se tarifa a um preço altíssimo para quem tem uma emergência, mas o consumidor pode ser surpreendido com o cancelamento do seu voo.

O Rio - mais de 40 graus - sofreu dias com falta de água em alguns bairros porque a estatal de água culpou a empresa de energia pelos picos de falta de luz que desorganizaram o fornecimento. E não apareceu governo que avisasse às duas litigantes que concessionário tem que prestar o serviço. E ponto final.

A nós consumidores cabe pagar as contas, e isso temos feito. Mas estamos todos fartos dos maus serviços e da completa omissão das agências reguladoras aparelhadas que viraram caixa registradoras do governo. Ou coisa pior. Esqueçamos Copa e Olimpíada, o problema é urgente: a incompetência está se espalhando como metástase pelos serviços públicos.


A inflação, o BC e os lírios do campo - ROLF KUNTZ

O ESTADÃO - 09/03

Olhai os lírios do campo. Essa bela exortação, a mais poética do Sermão da Montanha, bem poderia abrir a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando os dirigentes do Banco Central (BC) decidiram, de novo, depender da Providência, em vez de atacar a inflação. Nada altera esse fato, nem mesmo a nova linguagem da nota oficial distribuída na quarta-feira à noite. O comitê, segundo o comunicado, vai "acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos".
Acompanhar os fatos para definir a política é seu papel, com ou sem a intenção - ou a esperança - de manter a taxa por um período prolongado. Os fatos foram acompanhados e nada se fez, por mais de um ano, para atenuar as pressões inflacioná- rias. Agora uma nova pergunta é inevitável: para tomar suas próximas decisões, o pessoal do Copom levará em conta as pressões efetivas, visíveis no dia a dia, ou olhará simplesmente os índices de preços administrados pela intervenção do governo? Sem essa intervenção, os indicadores acumulados até fevereiro já teriam estourado o limite superior da banda ou estariam muito perto disso. Não há sequer, nessa história, a contrapartida do crescimento econômico facilitado pela política monetária. A inflação elevada é pura perda.
Toda a política seguida a partir do fim de agosto de 2011 foi baseada em apostas erradas. Erros de previsão são paite do jogo. A insistência no erro é outra história. Pode ser uma demonstração de fé: em algum instante a intervenção divina resolverá os problemas. Nos mercados, a interpretação foi mais prosaica: a presidente da República mandou baixar os juros, sua ordem foi seguida e a autonomia operacional do BC foi pelo ralo.
Os erros das apostas são bem conhecidos. Primeiro, esperava- se uma acomodação dos preços agrícolas, num cenário de estagnação internacional. As cotações oscilaram, de fato, mas voltaram a subir, por mais de um motivo, e as pressões se intensificaram no segundo semestre de 2012. Esse fato foi reconhecido pelo BC. Segundo, a redução de juros foi justificada também com a expectativa de austeridade fiscal. Esse foi um ato de fé especialmente notável. Sem surpresa para as pessoas razoavelmente informadas, essa expectativa foi igualmente desmoraliza- da pelos fatos. Desmoralizada parece uma palavra perfeitamente justificável, quando se considera a escandalosa maquiagem das contas federais. Quem apostai- em gestão financeira mais cautelosa e responsável em 2013 também perderá, mas, neste caso, ninguém poderá sequer fingir surpresa.
Curiosamente, o pessoal do Copom há muito tempo identifica sinais de risco no mercado de mão de obra, com desemprego baixo e aumento constante da massa de rendimentos. Mas a expansão do crédito, visível a olho nu e comprovada oficialmente, mês a mês, em relatórios do próprio BC, tem merecido menor preocupação.
De toda forma, os responsáveis nominais pela política monetária agiram por longo tempo como se nada preocupante ocorresse nos mercados. Isso reforçou a suspeita, para dizer o mini - mo, de serem outros os responsáveis reais. Como pensar de outra forma, quando se apresenta o corte de juros como conquista política e quando o Executivo interfere repetidamente na formação de preços - da gasolina, da eletricidade e de tantos bens de consumo?
A mais recente façanha desse tipo foi a redução da conta de energia elétrica. Não se pode atribuir o barateamento da eletricidade a um aumento da oferta ou a uma elevação da produtividade do setor. Todo o efeito foi produzido por uma decisão fiscal tomada no Palácio do Planalto. O resultado começou a aparecer há algumas semanas e já foi bem visível no IPCA-15, divulgado em 22 de fevereiro, e no índice de Preços ao Consumidor da Fipe-USP, publicado nesta segunda-feira.
Com a redução da conta de energia, o IPC-Fipe subiu 0,22% em fevereiro. Teria subido praticamente o dobro, 043%, sem o efeito da eletricidade mais barata. A medida oficial de inflação, o IPCA, também foi afetada pelo corte da conta de eletricidade. O índice aumentou 0,60% no mês passado, bem menos que em janeiro (0,86%), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As contas de energia ficaram 15,17% menores em fevereiro, "refletindo boa parte da redução de 18% do valo das tarifas em vigor a partir de 24 de janeiro", segundo o relatório divulgado. Só essa redução tirou 048 ponto do IPCA Mesmo assim, a alta acumulada em 12 meses chegou a 6,31%, bem perto do limite superior da margem de tolerância.
Energia mais barata é um benefício para o consumidor, principalmente se for sustentável, mas política anti-inflacionária é assunto muito diferente. Desonerações, mesmo quando bem executadas, afetam os índices de forma temporária, porque deixam intactos os fatores de pressão (como o aumento do crédito e o gasto público excessivo, por exemplo).
A Fundação Getúlio Vargas já advertiu: está-se esgotando, nos indicadores, o efeito da redução da conta de energia. Isso já se nota no IPC-S, atualizado semanalmente e sempre relativo a um período de quatro semanas. Na primeira quadrissemana de março, o aumento geral foi de 0,52%. Havia ficado em 0,33% no fechamento de fevereiro. A deflação registrada no item "habitação", onde se inclui o custo da energia, diminuiu de 1,28% para o,58% entre os dois períodos. Outras desonerações (da cesta básica, por exemplo) poderão frear a alta dos índices, nos próximos meses, mas sempre de forma temporária e sem mudar as condições propícias à inflação. Alguns preços poderão cair, mas a tendência geral, sem outras ações, será mantida. O pessoal do BC sabe disso e seria injustiça imaginar o contrário. Resta ver se a próximas decisões serão baseadas nas condições efetivas do mercado, na evolução mais ou menos benigna de índices administrados ou, mais uma vez, na preferência pela contemplação dos lírios do campo.

Chávez e as lições de Lula - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 09/03
As cenas de histeria e culto à personalidade, de idolatria e fanatismo provocadas pela morte de Hugo Chávez lembram sentimentos experimentados aqui por ocasião do suicídio de Getúlio Vargas em 1954: o mesmo espanto e o mesmo medo de uma multidão enfurecida pela dor da perda do timoneiro e capaz de explodir numa convulsão social a qualquer momento e por qualquer coisa. As personalidades e o momento histórico são distintos, claro, mas há qualquer coisa em comum nessas duas figuras, que pertencem à fauna dos que na história mundial se especializaram em manipular a vontade de seus comandados - os "déspotas esclarecidos". Os dois tiveram como inimigos o "imperialismo americano", mas a forma de enfrentá-lo foi oposta. Hábil, Getúlio negociou e tirou vantagens do antagonismo, como fez para entrar na II Guerra ao lado dos Aliados. Já Chávez, impulsivo, preferiu o confronto, aliando-se a países como Irã, Síria, Líbia, Coreia do Norte, ou seja, o que Bush chamou de "Eixo do Mal".

A inspiração brasileira de Chávez, porém, não foi Getúlio, mas Lula, que teria funcionado como bombeiro para debelar as chamas do explosivo líder venezuelano. Segundo contou em uma entrevista, nove meses depois de deixar a prisão em 1994, por causa de uma tentativa de golpe, ele visitou Fidel Castro, que o aconselhou: "Se você quer fazer política, siga Lula. Esse é o homem" (ou "o cara", como diria mais tarde Barack Obama). Dois anos depois, Chávez encontrou-se pela primeira vez com o ainda não presidente do Brasil e não precisou de muito tempo para concluir: "Fidel tinha razão. Lula era o homem."

Não sei se ainda não é cedo para avaliar o quanto Hugo Chávez fez de mal e de bem à Venezuela e, principalmente, ao povo venezuelano. Uma parte de mim sempre rejeitou seus métodos salvacionistas, seu sebastianismo, sua vocação autoritária, seu apego ao poder, seu desprezo pela liberdade de expressão. A outra parte se sente desafiada a entender o fenômeno, que não se explica apenas pelo carisma do personagem. O sucesso responde também a uma necessidade ou anseio coletivo. Por isso é que, em meio às tentativas de explicação, a do ex-ministro Rubens Ricupero, sem maniqueísmo, talvez seja a mais esclarecedora. "Hugo Chávez", ele escreveu, "foi um dos primeiros a intuir que as periferias da América Latina não se sentiam representadas pelos partidos tradicionais". Sem entrar no mérito da representação, a hipótese pode ser usada também para ajudar a explicar a popularidade de seu mestre Lula junto às classes menos favorecidas.

As incertezas do pós-Chávez - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 09/03
O fato de a liderança do chavismo ter feito da Constituição Bolivariana letra morta em duas oportunidades, na agonia e na morte do caudilho, diz bem da natureza do regime. Em primeiro lugar, ela deu o caráter de mera formalidade ao dispositivo que marcava para 10 de janeiro a posse do reeleito em outubro de 2012. Com Chávez já muito grave, internado em Havana, era impossível cumprir a lei, e a posse foi adiada sine die. Mas Chávez continuava "governando", assegurava o vice-presidente e herdeiro ungido, Nicolás Maduro. Morto o presidente, deveria tomar posse na Presidência Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional, para convocar eleições em 30 dias, segundo a Carta Magna. Mas quem continuou no comando foi Maduro, que começou a assinar decretos como "presidente delegado". Ainda assim, o que se espera é que Maduro de fato convoque um novo pleito no prazo constitucional. O contrário equivale a um golpe de Estado.
Maduro ganhou os primeiros rounds na disputa com Cabello e outros possíveis interessados no espólio chavista. O ministro da Defesa, almirante Diego Molero, declarou que as Forças Armadas e a população venezuelana têm "a missão", encomendada por Chávez, de atuar pela eleição de Maduro. A mensagem tem por destino a oposição venezuelana, cujo candidato deve ser, mais uma vez, Henrique Capriles. Em outubro, Capriles perdeu para Chávez por apenas 11 pontos percentuais. Mas ela pode ser entendida também como um recado a forças chavistas descontentes com o rumo dos acontecimentos. Maduro tem o apoio dos irmãos Castro, solidificado ao longo das frequentes visitas do vice-presidente ao caudilho internado em Havana. É de se supor que o tenha também das Milícias Bolivarianas, criadas por Chávez à margem das Forças Armadas para responder diretamente a ele, com 125 mil homens armados. Mas não pode se afastar a hipótese de uma luta interna pelo poder; Cabello também tem seus trunfos.

Se Maduro consolidar a liderança, terá pela frente uma tarefa duríssima. Chávez, com sua empatia com a população e domínio total do país, podia pairar acima dos problemas sem sair arranhado. Maduro precisará de enorme habilidade pelo simples fato de não ser Chávez. Haverá menos paciência com ele diante da inflação de 28%, da falta de produtos nos supermercados e armazéns estatais, apagões, descalabro da petrolífera PDVSA, ruína da infraestrutura.

A péssima conjuntura econômica testará a capacidade de Maduro, favorito nas eleições diante da comoção pela morte de Chávez. Não lhe parece restar outro caminho senão radicalizar o chavismo, para compensar a falta do líder maior. Mas foi a própria revolução bolivariana que levou a Venezuela à atual situação de penúria. A transformação de Chávez em mito, com o adiamento do enterro e a decisão de embalsamar o corpo, não resolve os problemas reais.

O luto como arma política - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 09/03
No mundo ideal do chavismo, as coisas se passariam assim: depois de enfrentar filas quilométricas sob o sol equatorial para contemplar o corpo do caudilho exposto em câmara-ardente na capela da Academia Militar de Caracas, a massa de adeptos do regime bolivariano seguiria diretamente para os postos eleitorais, onde completaria essa jornada de arrebatadoras emoções sufragando o sucessor ungido por Hugo Chávez, o vice confirmado como presidente interino, Nicolás Maduro. Foi para aproximar o máximo possível esse cenário mágico da realidade que ele anunciou a decisão de estender pelo menos por sete dias os ritos fúnebres que deveriam terminar ontem, com o sepultamento do caudilho.

Aliás, ele não será sepultado jamais, a depender dos chavistas: terá o destino dos históricos líderes comunistas, Lenin, Ho Chi Minh e Mao Tsé-tung, cujos cadáveres mumificados podem ser vistos em Moscou, Hanói e Pequim. Ao citá-los, Maduro omitiu o nome do ditador soviético Josef Stalin. Isso porque, em 1961, os seus sucessores entenderam que o antigo "guia genial dos povos" não merecia, por seus crimes, estar de corpo presente no panteão dos construtores do socialismo. Chávez, o inventor do "socialismo do século 21" ficará no sarcófago de cristal que o espera no Museu Histórico da Revolução, em Caracas.

Enquanto lá ficar, o culto póstumo à sua personalidade bem poderá incluir, incentivada pelos dirigentes de turno, a imitação de um hábito que ainda persiste na capital russa, onde recém-casados fazem o rápido giro litúrgico pela urna que contém a múmia de Lenin. Não será surpresa se o regime for ainda além: assim como Stalin deu o seu nome à cidade de Tsarytsin e rebatizou Petrogrado de Leningrado, e ainda como os comunistas transformaram Saigon, a antiga capital do Vietnã do Sul, em Cidade de Ho Chi Minh, Caracas talvez se passe a chamar Ciudad Chávez.

Uma coisa é certa: os herdeiros do autocrata não deixarão escapar nenhuma oportunidade de se amparar no mito para se legitimar no poder.

O passo inicial, naturalmente, é derrotar fragorosamente o candidato oposicionista Henrique Capriles na eleição de abril. Uma série de movimentos concatenados aponta nessa direção. Primeiro, a enormidade proclamada por Maduro de que os "inimigos históricos" de Chávez foram os responsáveis pelo câncer que o mataria 20 meses depois de diagnosticada a doença. Segundo, a promoção do vice a presidente provisório. Pela Constituição venezuelana, tendo o chefe do governo morrido antes de ser empossado, caberia ao titular da Assembléia Nacional, no caso Diosdado Cabello, substituí-lo até a eleição do sucessor, em até 30 dias. Mas a lógica da consolidação do regime, na pessoa do número dois de Chávez, passa ao largo desse detalhe. É Maduro quem precisa ficar no Palácio Miraflores para sair consagrado das urnas.

Em terceiro lugar, mas não necessariamente por fim, vem a prorrogação por decreto do velório de Chávez, para impedir que arrefeça o clima de transbordamento emocional destes dias; retardar o início oficial da campanha, em óbvio prejuízo de Capriles; e obrigar o opositor a moderar, a ponto de liquefazer, as suas críticas ao regime. É vital para Maduro que o adversário não volte a ter os respeitáveis 45% de votos da disputa de outubro com o caudilho. Nas eleições regionais de dezembro no país, apenas seis dias depois do que viria a ser a última internação de Chávez em Cuba, os sentimentos desatados com a revelação de sua quarta recaída despojaram a oposição de quatro dos sete Estados sob o seu controle. Em um deles, o de Miranda, o governador Capriles conseguiu se reeleger, mas quase a metade do eleitorado não foi votar - incluindo decerto expressiva parcela de antichavistas desalentados.

Se a vitória de Maduro é certa, isso não significa que a transição para o pós-Chavez será tranquila. A recriação, na Venezuela, da antiga "ditadura perfeita" mexicana dependerá da coesão e da coragem do novo governo diante da crise econômica do país. Não está claro se terá uma coisa ou outra.

As chances da vida - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA

O barulho desta semana em torno da morte de Eliza Samudio me faz pensar. Antes do assassinato, Eliza já estava condenada. Eliza teve uma vida sórdida. Seu pai, Luiz Carlos Samudio, que a criou, está foragido nalgum país do Cone Sul, depois de ter sido condenado a oito anos por estupro. A vítima, no caso, foi a própria irmã de Eliza, por parte de pai, aos 10 anos de idade, em 2003. Segundo se comenta, atualmente ele montou um bordel no Paraguai. Também se falou muito, embora não tenha sido provado, que o próprio pai manteve relações sexuais com Eliza, ainda adolescente. E também a teria oferecido a amigos.

Mais tarde, Eliza veio para São Paulo. Fez programas. Atuou no cinema pornô, onde protagonizou Violação anal 4. O título já diz o suficiente. Pode parecer surpreendente, mas já tive contato com quem fez cinema pornô. Um amigo, autor de teatro infantil, a certa altura da vida, dedicou-se a dirigir filmes pornôs. Quando a pornochanchada – inocentíssima para os padrões de hoje em dia – entrou em decadência, vários diretores importantes fizeram filmes de sexo explícito. Recentemente, um amigo quis produzir um filme sobre a vida de um astro pornô, considerado o maior “garanhão” do Brasil. Só desistiu quando, ao fazer o roteiro, o rapaz tentou convencê-lo de que nunca fez programas e que só era um bom “profissional”. Só faltou dizer que ia à missa todos os dias.

Ao longo de anos, tracei um perfil de quem atua em filme pornô. Algumas pessoas ainda acreditam – pasmem – que atuar em filmes de sexo explícito abrirá as portas de uma carreira na televisão. Outras contentam-se em ganhar a vida. Para os rapazes, pode ser até motivo de orgulho “trabalhar” dessa maneira. Contam para a família. Muitos pais ufanam-se com a “performance” dos filhos. Para as mulheres, é mais complicado. Fazer sexo explícito é pregar na testa um letreiro que diz: prostituta. É um mundo sombrio. A maioria dos profissionais do filme pornô afirma que é “uma profissão como outra qualquer”. Não acredito nisso. Simular amor e prazer mexe com os sentimentos e a personalidade. Ninguém sai ileso dessa experiência.

Eliza usou a única arma que tinha para sobreviver: seu corpo. Quando conheceu Bruno, parecia a chance de sua vida. Teve Bruninho. Não vou negar: ela deve ter infernizado a vida do ex-goleiro do Flamengo com pedidos. Sei de casos, atualmente, em que as garotas de programa filmam, com o celular, o encontro com o executivo. Para depois fazer chantagem. Eis o que quero dizer: Eliza não era santa. Quis usar o filho. Atirou-se no que parecia a única oportunidade de deixar a vida que tinha. Deixo claro: em nenhum momento isso justifica o que aconteceu. Pelo contrário. Tenho duplamente pena de Eliza. Por sua morte, e pelo que viveu.Mas, o que restava a Eliza? Se sofreu abuso sexual, como tudo indica, onde estavam seus professores, que não notaram diferença no comportamento da menina? O juiz, que deu a guarda ao pai? E a mãe, Sônia Moura, que se debulhou no julgamento? Como ex-mulher, dona Sônia deveria ter uma boa ideia de quem era o pai de sua filha. Mas Eliza mal via a mãe, quando viva. A quem essa moça podia apelar, onde se hospedar em São Paulo? Tantas moças e moços, como Eliza, só têm a si próprios. Não há uma casa de apoio onde possam morar. Um convento, como nos séculos passados, onde poderiam bater e pedir abrigo. Nada. Enfrentam o mundo sozinhos. Hoje mesmo, vários jovens solitários no mundo estão sendo postos na rua. Crianças sem pai nem mãe têm direito a permanecer nos abrigos públicos até os 18 anos. Nessa idade, a não ser que haja um projeto específico de algum juiz de menores bem-intencionado, perdem o teto. O que alguém de 18 anos pode fazer? A não ser aceitar a primeira grana que aparece, seja como for?

Há um batalhão de pequenas Elizas vivendo na miséria, abusadas, vendidas por pais e mães, dispostas a qualquer negócio para sobreviver. Desde já, estão condenadas a uma vida sórdida. E nós, onde estamos? O que a sociedade e o Estado brasileiro oferecem em termos de centros de recuperação, casas de apoio? Ou de um acompanhamento psicológico para crianças em escolas públicas, para detectar problemas? Somos todos omissos. Ficamos perplexos diante do escândalo do ex-goleiro Bruno. Eliza logo será esquecida. Mas todos nós, que estamos bem e felizes, temos a ver com a tragédia de sua vida e sua morte.

Em memória de Eliza - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

É um tapa na cara das mulheres a punição de mentirinha imposta ao goleiro Bruno. Antes capitão adorado do Flamengo, hoje Bruno é mais um ídolo dos assassinos covardes e cínicos. A condenação esperada para o homicídio, sequestro e cárcere privado de Eliza Samudio era de 28 a 30 anos de prisão. A sentença final, de 22 anos e três meses, seria condizente com o crime hediondo se fosse toda cumprida. Mas a lei brasileira – ah, a lei... – pode deixar Bruno livre, leve e solto para churrascos e peladas daqui a menos de três anos. Quem sabe um contrato com um clube?

A confissão tardia reduziu a pena. O trabalho e o bom comportamento na cela livrarão Bruno do cárcere com pouco mais de 30 anos de idade. Ele, que deu festão no dia seguinte ao homicídio, posou de triste e acabrunhado para o país no julgamento desta semana. Durante anos, repetiu que não havia crime: “Torço para que ela possa aparecer viva”. Agora, orientado pela defesa, confirmou que sabia de tudo: “Eu sabia e imaginava”. Bruno “imaginava” que a ex-amante e mãe de seu filho Bruninho seria sequestrada, enforcada, esquartejada e jogada aos cães?

A sentença foi proferida na madrugada do Dia Internacional da Mulher. Não sou fã de datas especiais para “minorias” – ainda mais porque somos maioria. Mas admito que o 8 de março seja um bom pretexto para examinar estatísticas globais de emprego, salário, jornada dupla e violência contra a mulher, como agressões, espancamentos, estupros e assassinatos.

Segundo a ONU, sete em cada dez mulheres no mundo sofrerão algum tipo de violência física ou sexual ao longo da vida. É um número espantoso, amedrontador. Eliza, ao engravidar de Bruno e exigir reconhecimento e pensão, candidatou-se a engrossar as estatísticas da ONU. O Brasil é, no ranking mundial, o sétimo país em assassinatos de mulheres. E ainda há quem ache que garota de programa merece castigos assim: “Ela estava pedindo”.

Bruno, hoje com 28 anos, tem uma conexão estranha com o Dia Internacional da Mulher. Na véspera do 8 de março de 2010, o então supergoleiro do Flamengo, ídolo do time com 33 milhões de torcedores, cotado para a Seleção, defendeu desastradamente seu colega Adriano, que batera na namorada: “Qual de vocês nunca saiu na mão com a mulher? Não tem jeito: em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Depois, pressionado pela família e pelo clube, voltou atrás: “Peço desculpas a todos pelo que foi dito. Tenho filhas e as amo muito. Todas as mulheres merecem carinho”.

Quase um ano depois, Eliza foi levada para o sítio de Bruno, ficou em cativeiro e foi morta com requintes de crueldade – o bebê escapou do mesmo fim por sorte ou compaixão. Bruno foi para o campo do clube treinar e deu entrevista, riu. Disse que Eliza sumira “para resolver questões pessoais”. Ainda se mostrou religioso: “Deixei nas mãos de Deus, Deus sabe o que faz”.O “carinho” que o goleiro de 1,91 metro dispensou a Eliza teve vários capítulos. Primeiro, ele tentou obrigá-la a abortar. Ameaçou-a. Eliza, grávida de cinco meses, foi à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher no Rio, denunciou Bruno, pediu proteção e foi gravada pelo jornal carioca Extra. “Ele me deu dois bofetões... Enfiou uma arma na minha cabeça... E me disse: ‘Sou frio e calculista. Vou deixar a poeira baixar e vou atrás de você. Se eu te matar e te jogar em qualquer lugar, as pessoas nunca vão descobrir que fui eu’.”


Bruno tinha certeza da impunidade. Estava errado. Não contava que seria traído por primos e pelo amigo e cúmplice Macarrão. O comentário nas ruas era: “Como um cara pode ser tão burro como o Bruno e jogar a vida no lixo?”. Burro é pouco, muito pouco, para defini-lo. A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues considera Bruno “frio, violento e dissimulado”. Para ela, o crime foi “uma trama diabólica meticulosamente calculada”. O maior exemplo disso foi o sumiço do corpo: “A supressão do corpo humano é a verdadeira violência (...), um ato de desprezo e vilipêndio”.

A mãe de Eliza, dona Sônia, que hoje cuida do neto Bruninho, teme por sua vida e pela do garoto, quando Bruno sair da prisão. Insiste em perguntar algo que ninguém respondeu: “Onde está o que restou do corpo da minha filha? Meu neto vai crescer e também vai querer saber”. Ela não acredita que os pedaços do corpo de Eliza tenham sido consumidos por cães sem deixar vestígios. Ela quer ver e enterrar o que sobrou da filha. Dona Sônia e Bruninho têm o direito de saber.

A sociedade tem o direito de não gostar de que Bruno seja solto após sete anos de prisão, como aconteceu com o ator Guilherme de Pádua. Ele matou a golpes de tesoura a atriz Daniella Perez, filha de Gloria Perez, em 1992. Consolou a família no enterro, mas saiu livre em 1999. Tudo de acordo com a nossa branda lei para crimes tão perversos.


O canto dos pássaros - CACÁ DIEGUES

O GLOBO -  09/03

A verdade não é uma bastarda pagã. Ela é filha da natureza com as circunstâncias, e afilhada de nossos interesses e opiniões. Nenhuma imagem, por mais concreta que seja, terá sempre o mesmo significado em diferentes circunstâncias.

Presente do governo francês ao povo americano, a Estátua da Liberdade, na entrada do porto de Nova York, é um belo e nobre símbolo de princípio consagrado pela cultura ocidental. Mas idêntica Estátua da Liberdade, diante de shopping na Barra da Tijuca, é apenas ridícula manifestação de mimetismo e arrogância sub-culturais, que nos quer fazer crer que ali estamos em Nova York.

Na história política do continente, Simon Bolívar foi tratado como aventureiro oportunista pelo insuspeito Karl Marx. E, no entanto, por seus feitos nas guerras pela independência da América hispânica, tornou-se símbolo do anti-imperialismo contemporâneo e pai da pátria venezuelana, assim consagrado por Hugo Chávez.

Assim também, o próprio Hugo Chávez não pode ser tratado como mero e tradicional caudilho populista, imagem que nos vem à mente quando lembramos de seus gestos demagógicos, de sua carnavalização do poder e sobretudo de seus atos autoritários (embora confirmados pelo voto popular).

Quando Chávez vai a Cuba e elogia os Castro, não está abraçando uma ditadura hereditária que não implantou em seu país. Ele sabe que Cuba não tem mais nenhuma importância no jogo de poder internacional, mas precisa saudar o velho símbolo do anti-americanismo, ficar do lado que provoca a fúria do lado de lá. O ódio às vezes pode ser uma moeda de troca nos negócios internacionais.

O regime chavista manteve no país uma inflação alta, quase dobrou o valor da dívida pública, criou condições para o aumento da violência urbana, pôs a Venezuela na dependência exclusiva do petróleo, tentou controlar a imprensa. Mas também quase triplicou seu PIB per capita, diminuiu a pobreza extrema de 20 para 7% da população, baixou a taxa de desemprego pela metade, não fez nenhum preso político. E não se tem notícia de corrupção, roubalheiras praticadas pelo líder do regime.

Nenhum caudilho populista, apenas inescrupuloso ou demente, se interessaria tanto por seu povo, sobretudo pelos mais pobres. Nem seria tão amado por ele, do jeito que Chávez foi.

No fundo, Hugo Chávez foi uma caricatura do que poderia ser a reação às evidentes frustrações causadas pela democracia representativa em nossos países, com seus Congressos de espertos e insensíveis legisladores, quase sempre corruptos, desinteressados da população. Em quase toda a América Latina, os Executivos nacionais têm merecido muito mais respeito do que seus Legislativos. E portanto mais poder.

Farto de tanta teoria sobre seu trabalho, Pablo Picasso disse um dia que "todo mundo fala em ‘compreender a pintura’, mas ninguém fala em ‘compreender o canto dos pássaros’". Foi a observação dos homens que fez o canto dos pássaros ser belo. Talvez tenhamos que desvencilhar a política de todas essas teorias ideológicas, para apreciar o que de verdade está por trás dela, em benefício da população.

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Há dez anos os cineastas brasileiros lutam pela criação do Vale Cultura, mecanismo público em que o trabalhador de carteira ganha o direito de gastar, sem custo para ele, 50 reais mensais em consumo cultural, indo ao cinema, ao teatro, à livraria, aos concertos que bem entender. O centro das políticas públicas para o setor passaria a ser o interesse do consumidor e não mais, como sempre foi, o do produtor.

Com a notícia de que a ministra Martha Suplicy está incluindo, nesse consumo incentivado, o direito de uso do Vale Cultura para a assinatura de televisão paga, nossos esforços de dez anos foram frustrados. Mais uma vez, acordamos de um sonho para a dura realidade em que os mais poderosos acabam sempre levando tudo, mesmo que não precisem de nada.

Em pouco tempo, a televisão paga no Brasil passou de 8 para as atuais 20 milhões de assinaturas. E só tende a crescer, como signo de mobilidade social e ascensão de classe. Um crescimento que, por enquanto, só favorece a produção audiovisual estrangeira, a maioria absoluta de sua programação.

No mundo inteiro, a televisão compensa seu poder tecnológico na oferta de consumo cultural sendo a principal fonte de financiamento de filmes. Isso acontece dos Estados Unidos à Ásia (incluindo a China), da Europa a grande parte da América Latina (como Chile e Argentina). Sendo o primeiro país do mundo em que o cinema vai ajudar a financiar a televisão, o Brasil será certamente objeto de gargalhadas nos próximos encontros internacionais do audiovisual.

Conhecendo o passado político de Martha Suplicy, temos esperança de que essa notícia seja um boato e que o Vale Cultura vá beneficiar apenas os produtores brasileiros de cinema, teatro, música, literatura, etc. Os que de fato precisam dele.

Dia da Mulher! Perereca's Day! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 09/03

Todo pitbull é uma Lassie enrustida! E a Vigilância Sanitária tem que interditar esse pastor Feliciano!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Pensamento do dia do tuiteiro Elton Pacheco: "Moro em um país em que o presidente de Comissão de Direitos Humanos é racista, homofóbico e fundamentalista. E faz chapinha no cabelo". E faz sobrancelha também que eu vi na foto. É o pastor Marcos Feliciano!

E eu sempre digo dos homofóbicos: todo pitbull é uma Lassie enrustida! E a Vigilância Sanitária tem que interditar esse pastor Feliciano! Que reclamou que um fiel entregou o cartão, mas não deu a senha.

Aí ele ficou muito INFELICIANO! Rarará!

E as comemorações do Dia da Mulher? Como diz uma amiga minha: "Foi uma COMEmoração, comi uns dez". Rarará! E uma outra foi ao supermercado ontem, no Dia da Mulher, estacionou no meio de duas vagas, bem em cima daquela faixa branca, e quando voltou encontrou um recado no para-brisas: "Hoje você está perdoada". Ueba!

E como diz um amigo meu: "Dia da Mulher devia ser à noite. Sexta à noite". Esse é masculinista! E sabe qual a definição de feminista? Perereca de óculos! Rarará!

E agora, no Brasil do "BBB", o importante não é ser mulher, o importante é ter bunda! E eu sou a favor do matriarcado, sou mesmo! E no governo Dilma todo dia é Dia da Mulher! Homem no governo Dilma é cota! Rarará!

E tem aquela piada antiga do Golias: "Deus criou o mundo em seis dias, no domingo descansou, na segunda criou a mulher. E aí ninguém mais descansou"!

E o homem sem a mulher não é nada, nem corno! Até pra ser corno o homem precisa da mulher! E veja a diferença nos anúncios do Classline. Homem: "Procuro gata para satisfazer as fantasias sexuais". Mulher: "Procuro quarentão charmoso e carinhoso para dividir espaço e transar energias". É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Mais uma para a minha série Os Predestinados! É que em Porto Alegre tem um escritório de advocacia: Crescente e Pinto Associados! Esses só têm graça se forem associados! E adivinha o nome da rua do escritório? Sacadura Cabral! Então é assim: Crescente e Pinto na rua Sacadura! O Cabral aí entrou de gaiato. Rarará!

E uma amiga minha dermatologista tá namorando um cara chamado Roberto Couceira. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Politização do pré-sal - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 09/03
A perda, pelos estados produtores, dos royalties do petróleo decretada por revolução congressual provocada por uma ganância desmedida, que não vai resolver problema algum dos estados não produtores, mas provocará prejuízos graves a Rio de Janeiro, Espírito Santo e, em menor medida, São Paulo, foi causada pela politização da descoberta do pré-sal levada a cabo pelo ex-presidente Lula.

O especialista Adriano Pires, da consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), diz que o ex-presidente, ao anunciar a descoberta do pré-sal, politizou todas as decisões que foram tomadas no setor de petróleo dali para a frente, e, com isso, surgiram várias vítimas dessa atitude populista. As principais foram a Petrobras, os produtores de etanol e o Estado.

Do anúncio do pré-sal para cá, ele lembra, congelaram o preço da gasolina, enterraram o projeto Arábia Saudita Verde, que levaria o país a ser o maior produtor de biocombustíveis do mundo, e criaram uma guerra federativa com a discussão da distribuição dos royalties. Ou seja, o pré-sal que, segundo Lula, só produziria vencedores, até agora só criou vítimas.

O governador Sérgio Cabral me enviou uma mensagem, a propósito da coluna de ontem, em que o critiquei por ter acreditado demais em Lula e não ter notado que, na mudança do marco regulatório, estava a semente para a alteração da distribuição dos royalties que agora se consumou, lembrando que sempre foi contra essa mudança.

Ele tem razão, embora sua luta contra a adoção do modelo de partilha em substituição ao sistema de concessão não tenha sido vitoriosa. Melhor seria dizer que não teve força política para evitar o novo modelo, que ele mesmo chamou de "patriotada", criticando-o duramente. Eu mesmo aqui na coluna relatei uma reunião no Palácio da Alvorada em que o governador Cabral foi acalmado várias vezes por Lula e teve uma discussão com o então ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, que defendia a mudança para o sistema de partilha dando como exemplo de sucesso do modelo a Líbia, então chefiada por Kadafi, arrancando uma risada de Cabral.

Cabral defendeu em várias oportunidades o modelo de concessão, que permitiu ao Brasil sair da produção de 500 mil barris no fim da década de 90 para cerca de dois milhões, além de estimular o desenvolvimento da tecnologia para exploração em águas profundas para tornar o país referência mundial hoje.

O governador do Rio ficou em situação constrangedora durante essa disputa, pois era um aliado fiel ao governo Lula e, ao mesmo tempo, não tinha força para fazê-lo mudar de ideia num projeto político petista que Cabral classificou de "um erro pelo qual o Brasil vai pagar caro".

Ele criticou o governador paulista, Geraldo Alckmin, que não se engajou na luta com a necessária firmeza, e também ficou sem alternativas, pois os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, e de Minas, Aécio Neves, seus amigos de mesma geração política, tinham interesse na mudança das regras. Os dois ainda fizeram um gesto de conciliação, propondo que os contratos já firmados fossem preservados, mas não houve força política para aplacar a ganância despertada pelo anúncio do pré-sal.

Cabral chamou a atenção para o fato de que "não se sabe quanto tempo o petróleo vai dominar o mundo", lembrando que a Califórnia tinha forte subsídio sobre carro elétrico e que o salto das tecnologias alternativas ao petróleo poderia inviabilizá-lo no futuro. Cabral também criticou a concentração de investimentos na Petrobras, que acabou atrasando a exploração do pré-sal.

Diante da reação de Cabral, suspendendo os pagamentos aos fornecedores do estado, Adriano Pires torce para que "o governo do Rio não crie outra vítima, desta vez, as empresas. Será um erro grave, caso o governo do Rio transfira as perdas dos royalties para as petrolíferas. É bom não esquecer que os investimentos dessas empresas geram renda e emprego para a população fluminense. Foi o que restou de bônus para o estado".

Resultado: Cabral confiou muito em Lula, pois não tinha força política para enfrentá-lo nessa disputa nem aliados de peso com que pudesse se contrapor ao PT. Agora, está nas mãos do Supremo.

No horizonte, apagões - ADRIANO PIRES

O GLOBO - 09/03
Nos dez anos de governo do PT a política energética pode ser dividida em dois períodos. O primeiro vigorou até a crise econômica mundial de 2008 e foi caracterizado pelo incentivo a novos investimentos e pela preocupação com a garantia de suprimento. No setor de petróleo o governo manteve o marco regulatório, dando continuidade aos leilões de petróleo, e a defasagem dos preços da gasolina e do diesel, como era pequena, penalizava pouco o caixa da Petrobras. Os biocombustíveis viveram seu melhor momento nesse período.

Todos lembram que o presidente Lula anunciava aos quatro cantos do mundo que o Brasil seria a Arábia Saudita verde. É nesse período que o governo lança o Programa do Biodiesel e os investimentos, a produção e o consumo de etanol batem recordes. No biodiesel o governo estabelece a meta da mistura com o diesel em 5% e assim dá previsibilidade, o que levará à construção de várias unidades de produção. No etanol a política de preços da gasolina permite competitividade ao etanol, fazendo com que autoridades do governo afirmassem que a gasolina no Brasil passaria a ser o combustível alternativo.

No setor elétrico, o governo, preocupado em evitar novo racionamento, de uma forma inteligente promoveu leilões de oferta de energia para o mercado cativo e manteve o mercado livre. As regras dos leilões beneficiavam a vitoria das térmicas, dentro da ideia de garantir o abastecimento. Nesse período, o governo acreditava que a melhor maneira de aumentar a oferta de energia elétrica seria através da concorrência.

Com a chegada da crise econômica e com o anúncio da descoberta do pré-sal, a política energética brasileira muda de rota. A nova rota será caracterizada pelo maior intervencionismo do Estado, pelo populismo dos preços. O primeiro setor vítima da nova política energética foi o do petróleo. A descoberta do pré-sal foi o álibi que os nacionalistas xiitas do PT precisavam para fechar o mercado do petróleo no país. Desde 2008 não foram realizados mais leilões e foi aprovado um novo marco regulatório, que dá um tratamento diferencial para a Petrobras. Ao mesmo tempo, o governo, tentando evitar que a crise econômica causasse maiores impactos no país, incentivou a venda de automóveis.

Uma das políticas adotadas para aumentar a venda de automóveis foi congelar o preço da gasolina. A política de congelamento incentivou o crescimento do consumo e das importações de gasolina, ferindo de morte o caixa da Petrobras. Ou seja, o governo deu mais deveres e retirou os direitos da empresa de ter liberdade de fixar os preços dos seus produtos. Nesse período os biocombustíveis viveram e vivem seu inferno astral. O projeto Arábia Saudita verde morreu. Não existe mais marco regulatório, com o congelamento do preço da gasolina o etanol perdeu inteiramente sua competitividade, levando a uma quebradeira de inúmeras usinas, e o biodiesel está com uma enorme capacidade ociosa e sem nenhuma previsibilidade do que vai ocorrer com o percentual de mistura.

No setor de energia elétrica o governo abandonou a preocupação com a garantia de abastecimento e passou a ter uma política dedicada, exclusivamente, à modicidade, ou melhor, ao populismo tarifário. O clímax dessa política foi a publicação no ano passado da MP 579, que ignorou a necessidade de novos investimentos e promoveu um subsídio nas tarifas num momento de escassez de energia.

A escassez de energia, causada pela falta de chuvas, tem obrigado o governo a ligar as térmicas a gás, a carvão e a óleo, todas mais caras que as hidrelétricas. Isso deverá anular a maior parte da redução de energia, principalmente, no setor industrial. E o que é pior: deverá obrigar o governo a dar soluções mais atrapalhadas e completamente fora da lógica de mercado para preservar a artificialidade da redução dos preços vindos por Lei.

A atual política energética confunde energia barata com energia competitiva e isso no curto prazo destruiu a Petrobras e a Eletrobras e, no longo prazo, promoverá apagões.

Alta e espalhada - CELSO MING

O ESTADÃO - 09/03

A inflação de fevereiro ficou dentro do esperado - ou seja, continua alta demais e espalhada demais. Em 12 meses, chegou aos 6,31%, muito perto do topo da meta (os 4,5% mais a margem de escape tolerada, de 2 pontos porcentuais). Nada menos que 72,3% dos itens que compõem a cesta do custo de vida (índice de difusão) apresentaram alta no mês passado.
Seria bom poder dizer que o pior já passou e que a partir de agora a inflação perderá força - como aponta o discurso oficial. Mas alguns fatores ainda pesam sobre os preços.
O primeiro é que a alta somente não foi mais grave em fevereiro por causa do impacto da queda das tarifas de energia elétrica, de nada menos que 15,17%. Esse elemento atua com força baixista somente uma vez. Seu efeito residual não será relevante.
Outro fator é a contundência altista do setor de serviços. Em fevereiro, a alta foi de 1,3%, acima do nível de janeiro (0,92%).
O terceiro colaborador da alta dos preços é o já mencionado índice de difusão. A inflação não se concentra em dois ou três itens; está muito disseminada, o que pode acentuar as remarcações. A estes, podem ser acrescentados outros focos de alta de preços: o último reajuste do óleo diesel, de 5,0%; e outro represamentos, como o das tarifas de transporte público.
Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avisou que avaliará o comportamento dos preços, para depois definir a nova estratégia de contra-ataque. Os dados de fevereiro reforçam a expectativa de que, já em abril, o Copom se verá obrigado a voltar a elevar os juros básicos (Selic).
Caso se confirmem as projeções colhidas pela pesquisa Focus, do Banco Central, uma inflação de 0,43% em março atirará a inflação em 12 meses para 6,55%, perfurando assim o teto da meta. Esse número tende a acirrar os mecanismos de indexação (reajustes de preços) e a realimentar a inflação. Em todo o caso, a expectativa do governo (e do mercado) é de que, no segundo semestre, a inflação comece a cair. As últimas projeções das cerca de 100 consultorias abordadas pelo Banco Central apontam, para 2013, inflação de 5,7%. A previsão da instituição, no entanto, segue bem abaixo disso, nos 4,8%. É sinal de que não vem conseguindo liderar as expectativas.
Além de corroer o poder aquisitivo, a força da inflação gera importante efeito sobre o câmbio, que, por sua vez, reduz a competitividade do setor produtivo. Explicando melhor: a desvalorização do real ao longo de 2012, de cerca de 20%, deveria encarecer os preços dos importados e melhorar as condições de mercado para o produto nacional. Uma inflação superior a 6,0% em 12 meses encareceu o produto brasileiro e baixou a desvalorização real da moeda nacional em torno de 14%.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito que um dos fatores macroeconômicos que concorreram para a alta de preços foi a escalada dos salários. Mas esse processo ainda está sujeito a comprovação. Se há pleno emprego mesmo com a produção crescendo a 0,9%, como no ano passado, não dá para esperar por desaquecimento do mercado de trabalho caso a economia cresça a 3,0% ou 3,5%, como pretende o governo.
Também não se pode contar com maior contribuição do setor externo, onde até agora a inflação persistiu em níveis muito baixos. Alguma recuperação na maior economia do mundo, a dos Estados Unidos, já parece contratada. Isso leva a crer que a inflação por lá poderá se mexer.
O melhor que o governo Dilma faria para controlar a inflação sem ter de elevar demais os juros seria impor disciplina mais firme na condução das contas públicas. Mas essa providência o governo federal não gostaria de tomar num quadro de baixa expansão do PIB - como o de agora.