segunda-feira, dezembro 17, 2012

Valério e o país dos surdos - GUILHERME FIUZA

Revista Época 


Collor deve estar um pouco zangado. Passou à história como o presidente corrupto, derrubado após um processo de impeachment que uniu o país inteiro contra ele. A CPI do PC revelara o esquema de uso do poder para montar um caixa particular no topo da República. Hoje em dia, esse tipo de método não derruba mais presidente - muito pelo contrário, serve para vitaminar o partido dominante. Após sete anos de silêncio, Marcos Valério abriu o bico. Disse que despesas pessoais de Lula foram pagas pelo esquema do mensalão. Diante dessa notícia, o Congresso não consegue nem sequer convocar Valério para depor. Está tudo dominado.

A queda de Collor se iniciou no momento em que foi descoberto um cheque do esquema PC usado para comprar um carro para o presidente. Um dos famosos fantasmas de Paulo César Farias, Manoel Bonfim, assinava o cheque usado para pagar o Fiat Elba que abalou a República, conforme revelou o jornalista Jorge Bastos Moreno. Desde que Pedro Collor entregou o irmão, numa entrevista em que denunciava o conluio com PC, o país tremeu e as instituições se jogaram de cabeça na investigação. Quando Valério diz que abasteceu Lula, a reação geral é bem diferente. Sobressai a pergunta de sempre: onde estão as provas?

Será difícil encontrar o Fiat Elba de Lula. A hegemonia petista inverteu esse princípio do Direito. Não se investiga para encontrar provas, só se investiga se houver provas. E mesmo quando há, como no caso Rosemary, a investigação pode parar também. O enésimo esquema de tráfico de influência descoberto no governo popular se transformará, provavelmente, em mais uma façanha da faxineira - porque, na hora de ligar os aloprados ao chefe, a linha cai.

Por que Rosemary não foi grampeada pela Polícia Federal? Uma mulher que falava em nome de Lula, que se dizia “namorada” de Lula — e ninguém a considerou louca por isso -, uma mulher, enfim, que andava com Lula para cima e para baixo e conseguia milagres no terreno das nomeações de parasitas, não foi nem sequer objeto de escuta telefônica. Ou foi - e esse áudio virou um arquivo milionário para quem o guardou.

Pobre Collor. Imaginem se ele tivesse uma Rosemary, Talvez fosse criada uma CPI só para ela. A Rosemary de Lula não vai nem ao Congresso prestar esclarecimentos, porque a convocação dela é derrubada no próprio Congresso.

Como o Brasil aceita um escárnio desses? Como pode uma quadrilheira protegida de Lula, nomeada pela ministra Dilma e mantida pela presidente Dilma, após um flagrante esfregado na cara dos contribuintes lesados por mais essa ação entre companheiros, permanecer a salvo de uma investigação clara e urgente?

É muito simples, e os culpados estão na cara: são os brasileiros. Quem protege o triângulo Lula-Rosemary-Dilma são os brasileiros. Na época de Collor, não haveria a menor possibilidade de os parlamentares barrarem a convocação de uma Rosemary, pelo simples fato de que estariam fritos. O Brasil de hoje não faz questão de nada. Sente-se altamente consciente e cidadão apoiando a Lei da Ficha Limpa, enquanto a ficha suja se esbalda a sua frente, protegendo Rosemary, Valério, Cachoeira, Delta e seus sócios palacianos, numa boa. Se aparecer o Fiat Elba de Lula, é capaz de ser doado com pompa ao Brasil Sem Miséria ou ao Brasil Carinhoso com aplausos pela solidariedade companheira.

O julgamento do mensalão ficará como uma página quase cômica da história brasileira. O país que explode de orgulho com o fim da impunidade é governado, candidamente, pelo mesmo grupo político que pariu o esquema. O governo Dilma se esvai em pus, com sete ministros derrubados na ciranda das negociatas fisiológicas - a mesma tecnologia mensaleira de sustentação política -, e o povo lhe dá aprovação recorde. O poder impressionante de uma Erenice, de um Valério, de uma Rosemary continua sendo, neste país de todos, mera coincidência.

Marcos Valério falou ao Ministério Público sobre Paulo Okamotto, o conhecido personal patrocinador de Lula, como uma pessoa que o teria ameaçado. De novo, se estivéssemos na era Collor, isso seria uma bomba.

O erro de Collor, pelo visto, foi não ser filiado ao PT. Mas até ele, o defenestrado, já se reciclou, abrigando-se no império dos oprimidos - onde a impunidade emana do povo.

Afinal, quem é Valério? - RUTH DE AQUINO

Revista Época 


Se não fosse pela vitória do Corinthians no Japão, garantindo a final contra o Chelsea... Se nâo fosse pela excursão a Paris e Barcelona no papel de estadista e conselheiro de uma Europa em crise, a semana teria sido um inferno astral para Lula.

A um oceano de distância, ele viu sua ex-secretária íntima Rosemary Rose Rosa ser indiciada por formação de quadrilha. Lula também leu trechos do depoimento dado em setembro por Marcos Valério à Procuradoria-Geral da República, revelados pelo jornal O Estado de S. Paulo. As acusações, graves, passam a ser diretas a ele.

Valério agora diz que Lula pessoalmente deu “ok” para bancar o mensalão. Que ele, Valério, providenciou o pagamento de despesas pessoais de Lula. Que Lula negociou um repasse de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT. Que o PT pagou milhões para calar chantagistas. Que o PT desembolsou milhões para pagar o advogado dele, Valério, no julgamento do STF. E que o assessor de Lula, Paulo Okamotto, o ameaçou: “Ou você se comporta ou morre”. Se Valério inventou tudo isso para reduzir sua pena, é louco varrido.

Pode ser.

No lugar de Lula, eu processaria Valério por calúnia e difamação. Exigiria uma profunda investigação. É ou não uma injustiça o que estão fazendo com o ex-presidente? A reação de Lula foi monos-silábica na Europa. “Não vou responder a mentiras.” “Perguntem a ele (Valério) ”

Nenhum sinal público de indignação. Se Lula for inocente, por que deveria se preocupar, não é mesmo? Afinal, Valério, que tantos serviços prestou ao PT, hoje é carta fora do baralho. Nenhum dos réus teve pena tão alta quanto ele: mais de 40 anos de prisão.

Quem é o publicitário condenado como operador do mensalão - um crime que não existiu e foi uma farsa, segundo o “PR” Lula e o “JD” Zé Dirceu? Ele é o mentor e chefão do Mal? Quem é Marcos Valério? “Um delinqüente”, segundo Marco Aurélio Garcia, assessor de Dilma. “Um criminoso” disse o presidente da Câmara, Marco Maia. “Um canalha”, nas palavras do ex-deputado que denunciou o esquema, Roberto Jefferson, condenado a sete anos de prisão. “Um oportunista”, afirmou o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência. “Um desesperado”, disse o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. “Sem credibilidade”, segundo o líder do governo no Senado, Eduardo Braga.

Duas procuradoras da República já afirmaram que o testemunho de Valério é cheio de contradições e inconsistências.

E o PT não quer desmascarar esse “delinquente-criminoso-canalha-oportunista-desesperado”? Não, o PT está preocupado com a “imprensa”, que investiga escândalos e divulga aspas. O partido já voltou a falar em “marco regulatório” - em português corrente, controle do conteúdo da mídia.

A nota do PT elege a mídia como alvo. “A Direção Nacional lamenta o espaço dado pela imprensa para as supostas denúncias assacadas pelo empresário Marcos Valério. (...) Uma sucessão de mentiras envelhecidas, todas elas já claramente desmentidas.” Segundo o PT, Valério se coloca “a serviço do processo de criminalização movido por setores da mídia e do Ministério Público contra o PT e seus dirigentes”.

Existe uma turma que demoniza Lula e não consegue enxergar os avanços sociais e econômicos de seu governo. Existe outra turma que santifica Lula e não admite sequer a hipótese de levantar suspeitas contra ele. É evidente que a verdade está no meio do caminho. Há uma minoria que não nega a contribuição de Lula para a redução da pobreza e para o desenvolvimento do país, mas quer uma investigação cautelosa e profunda sobre seu papel no mensalão.

O homem Lula não é demônio nem santo. Dilma entrou na onda da Inquisição ao reclamar de uma “caça às bruxas” Ou seria ao bruxo?

Em Paris, Lula cometeu gafe dupla ao dizer: “Quando político é denunciado (no Brasil), a cara dele sai nos jornais. Sabe por que banqueiro não aparece? Porque é quem paga a publicidade dos jornais”. Ai, ai, ai, Lula... Isso não é verdade. Vários banqueiros foram presos e algemados em tempos recentes no Brasil. E para que criar problema com os bancos, que tiveram um lucro líquido recorde em seus dois mandatos?

Guerra de palavras não leva a lugar nenhum. Sem provas, tudo é balela e falácia. Só não entendo quem desqualifica Valério com a pergunta: “Por que não falou antes?” Ora, se era bandido - como até o PT admite agora por que denunciaria todos os que tinham o compromisso de protegê-lo? Quem, em 2005, poderia prever o julgamento que aconteceu neste histórico ano de 2012?

Com amigos como Valério, Jefferson, Rosemary e Cachoeira - e vários políticos da base aliada -, o PT não precisa mesmo de inimigos. O PSDB que se cuide. Vem mais moralização por aí. Quem protege bandido, bandido é...

Tudo ao avesso - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA



O que aconteceria se um belo dia, de passagem por São Paulo, o dr. Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, recebesse um grupo de voluntários empenhados em alguma causa com méritos indiscutíveis — uma entidade que luta contra o câncer infantil, por exemplo — e ouvisse deles o seguinte pedido: o banco poderia nos ceder, por caridade, um conjunto de salas no 17° andar do prédio que tem na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta? Precisamos com urgência de espaço nessa área da cidade, e, se a gente pudesse economizar com o pagamento de aluguel, sobraria mais dinheiro para salvar a vida de nossas crianças. "Não pode", diria na hora o dr. Bendine. "Isso aqui é uma empresa do estado brasileiro. Sabem quanto está valendo o aluguel de um imóvel por aqui? Não se acha nada por menos de 120 reais o metro quadrado. Não dá para ceder de graça uma área assim." O presidente do BB poderia acrescentar um outro argumento: mesmo que concordasse com o pedido, a Advocacia-Geral da União, que tem por obrigação defender o patrimônio público, jamais aprovaria uma coisa dessas. Fim da conversa.

E se o mesmo pedido fosse feito pelo presidente da República, interessado em instalar nesse 17° andar uma espécie de sucursal paulista do seu gabinete no Palácio do Planalto? O local, como ficou comprovado há pouco, servia como escritório particular de uma quadrilha de delinqüentes, segundo a definição da Polícia Federal, do Ministério Público e do próprio ministro da Justiça. O dr. Bendine, diga-se logo, não tem nada a ver com isso; nem era presidente do Banco do Brasil na ocasião em que o espaço foi entregue a uma amiga pessoal do ex-presidente Lula e seus associados, que no momento se preparam para responder a uma ação penal por diversas modalidades de ladroagem. Sorte dele. Seu antecessor, que recebeu a ordem de "disponibilizar" a área, disse "sim, senhor". E o que poderia ter feito de diferente? Se tivesse, como no caso dos bons samaritanos imaginado acima, a mesma valentia para defender o interesse estatal, seria posto na rua antes de se encerrar o expediente do dia. Ou seja: dez anos de convívio com a moral que Lula e o PT trouxeram para o governo ensinam que o patrimônio público é uma coisa muito relativa no Brasil de hoje. Não pode ser usado em benefício próprio por uns, mas pode por outros — e quem não souber a diferença vai ter uma carreira muito curta neste governo dedicado à causa popular.

Eis aí o que Lula, a presidente Dilma Rousseff e o PT criaram de realmente original com sua conduta à frente do governo — um país ao avesso, onde o triângulo não tem três lados, mas quantos lados eles acharem que lhes convém. É um mundo onde não existem fatos; só é verdade aquilo que o governo diz que é verdade. No caso da amiga de Lula e dos escroques associados a ela, o ministro da Justiça admitiu no Congresso que havia, sim, uma "quadrilha", mas decretou que sua existência nos galhos mais altos do governo não tem a menor importância, pois não há provas de que Lula tenha sido beneficiado pela gangue. Sua única participação no caso foi ter nomeado a diretora do tal gabinete. "Só" isso? Sim, só isso; qual é o problema? Além do mais, segundo o ministro, os envolvidos no bando tinham um "papel secundário" na administração pública. Como assim? A chefe do escritório paulista acompanhou Lula em trinta viagens internacionais. Os funcionários "menores" mandavam em agências-chave na máquina federal; um outro era nada menos que o braço-direito do responsável pela Advocacia-Geral da União, onde se dedicava a advogar contra os interesses da União. Seu chefe declarou-se "magoado" com ele, e a presidente Dilma decidiu que essa declaração era uma esplêndida solução para o contratempo todo. O secretário-geral da Presidência, enfim, completou a verdade petista dizendo que só "um ou outro" gângster faz, de vez em quando, alguma coisinha errada no governo.

Deve-se ao sr. secretário, também, a melhor definição do pensamento oficial diante da corrupção no Brasil de 2012: seja lá o que acontecer, nada tem importância, porque "Lula é endeusado por onde passa". Eis aí uma teoria realmente revolucionária para o direito penal moderno: "Estão previamente absolvidos de qualquer acusação, por mais que baseada em fatos, todos os cidadãos que tiverem índices de popularidade superiores a X%". O resultado prático de tudo isso só pode ser um: a bandalheira vai continuar a toda, e promete ocupar um espaço cada vez maior na biografia de Lula e de todos os que sobrevivem à sua custa.


Só desmentidos é pouco - CARTA AO LEITOR - REVISTA VEJA


Revista Veja 


Popularidade não confere imunidade a ninguém em um regime aberto, democrático, que se organiza sob o domínio das leis. Pelo menos por essa razão, são inúteis as tentativas de criar uma blindagem em torno do ex-presidente Lula de modo a livrá-lo de dar satisfação à sociedade a respeito de fatos vindos à luz recentemente. São fatos que, por sua gravidade e origem na vizinhança de Lula, não vão simplesmente sumir no ar por mágica ou ser levados pelo riacho ao cabo de doses industriais de cinismo. A veracidade deles precisa ser verificada pelo Ministério Público. Aliás, no interesse direto do ex-presidente, uma vez que as investigações podem concluir por sua total inocência nos episódios. O que não se pode a esta altura é pôr uma pedra sobre os fatos antes mesmo que eles sejam apurados.

Lula está espremido entre dois escândalos.

O primeiro deriva da descoberta feita pela Polícia Federal de que uma pessoa de sua maior intimidade e confiança por quase duas décadas, Rosemary Nóvoa de Noronha, integrava uma quadrilha especializada em lesar os cofres públicos. Rosemary era chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo e companhia de Lula nas viagens internacionais das quais sua mulher, Marisa Letícia, não participava, Essa combinação é explosiva em qualquer nação civilizada.

Simplesmente não é tolerável que se deixem passar sem apuração as atividades de uma senhora cuja força para corromper derivava de sua grande intimidade com o ex-presidente da República.

Que sorte de argumentos pode exonerar Lula de não se explicar nesse caso? Certamente não os que estão sendo alardeados por seus correligionários, todos calcados na tese de que ele foi um grande presidente e desfruta enorme popularidade entre o povo brasileiro. Ora, esse discurso serviria até para embasar sua tão sonhada candidatura ao Prêmio Nobel da Paz, mas, no âmbito da Justiça, é apenas um conjunto de palavras ao vento.

O segundo escândalo que cerca Lula é também potencialmente ruinoso. São verossímeis as acusações que lhe faz o publicitário Marcos Valério, operador do mensalão e, durante muitos anos, fonte de recursos ilícitos para o partido e para a campanha eleitoral de Lula. Depois de condenado à prisão pelos favores financeiros ilícitos que fez ao PT, Marcos Valério prestou à Procuradoria-Geral da República um longo depoimento envolvendo o ex-presidente. A mais indelével dás acusações a Lula feitas por Valério é a de receber dinheiro do esquema do mensalão para custear despesas pessoais. Dinheiro deixa rastro. Não adianta dizer que é tudo mentira, como fez Lula na semana passada. A incriminação é direta, clara e grave demais para ser desprezada. Ela requer uma investigação.


Isso não se faz - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 17/12


Um ladrão desalmado carregou a caixinha de Natal do Bar do Quinha, boteco miúdo que ocupa uma das lojas do térreo do edifício 336 da Rua das Laranjeiras, no Rio.
A turma de funcionários que dá duro no balcão está inconsolável.

O real e o aparente
De Frei Betto, filosofando sobre a política brasileira:
— Esta frase de José Martí (herói da independência cubana) se aplica, infelizmente, à política brasileira: “O real é o que importa, não o que aparenta.
Em política, o real é o que não se vê.”

Dia de emoções
Lula vibrou muito com a vitória do seu Corinthians, ontem, mas suspendeu as comemorações quando soube que sua amiga dona Canô, 105 anos, mãe de Caetano e Bethânia, havia sido internada.

Menino do Rio
Sarney planeja passar longa temporada no Rio quando deixar a presidência do Senado, em fevereiro.

Última taça
O INPI pôs fim a uma disputa de mais de 50 anos: agora, também no Brasil, o nome “champanhe” só pode ser usado para vinhos da famosa região francesa de Champagne.
O registro foi outorgado ao Comité Interprofessionnel du Vin de Champagne, representado aqui pelo escritório Luiz Leonardos & Cia.

No mais
O tuitaço “Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”, corrente de petistas na internet contra acusações de Marcos Valério, repete movimento de 2005, quando o mesmo bordão foi usado para defender Zé Dirceu.
Como se sabe, não adiantou: Dirceu foi cassado e acabou condenado pelo STF. Ou seja, isto quer dizer... nada.

Peso é o cacete
O serviço Google Play, da gigante Google, de compra de livros, mandou a seus usuários no Brasil um e-mail com o anúncio de que, agora, os produtos daqui poderão ser vendidos na nossa própria moeda.
Só que os gringos dizem no e-mail que nosso dinheiro é o... “brazilian peso” (peso brasileiro). Fala sério.

Deve ser terrível
Em tempo de aplausos no Brasil para o STF, em Honduras, três anos e meio depois do golpe contra o presidente Manuel Zelaya, quatro magistrados da Suprema Corte de Justiça foram destituídos pelo Parlamento.
Antonio Navas, Francisco Ruiz, Rosalinda Cruz e Gustavo Bustillo foram retirados do cargos por “sua conduta contrária ao interesse do Estado”. A Rede Latino-Americana de Juízes (Redlaj), com representação em 19 países, inclusive aqui, rechaçou a medida.

O jumento sedutor
Ariano Suassuna, o grande escritor, 85 anos, concluiu seu novo romance, “O jumento sedutor”.
Deve sair em 2013.

Restauração do Laranjeiras
O Palácio Laranjeiras, tombado pelo Iphan em 1983, vai passar por grande restauração em 2013.
Serão recuperados telhados, fachadas, os sistemas elétrico e hidráulico, realizadas obras de acessibilidade e de instalação de dispositivos contra incêndio e de segurança. A restauração incluirá mobiliário e objetos de arte.

Eu apoio
Levantamento do movimento Rio Como Vamos mostra que, desde o início da Lei Seca, em 2009, o número de acidentes com mortes na cidade se estabilizou em 11 por 100 mil habitantes.

Segue...
Segundo o estudo, há 42 vezes mais acidentes nos bairros campeões de ocorrências (Rio Comprido, Guaratiba, Inhaúma, São Cristóvão, Ramos, Zona Portuária e Centro) que nas áreas de menor incidência (Complexo do Alemão, Paquetá, Santa Teresa, Rocinha, Maré, Jacarezinho e Vila Isabel).

Mãe é mãe
Sábado, no show de Roberto Carlos, no Maracanãzinho, no Rio, as primeiras fileiras já estavam ocupadas por celebridades quando a coleguinha Glória Maria, da TV Globo, chegou com a mãe — que, coitada, ficou sem lugar.
Todos os vips fingiram que não viram. Até que um mero mortal, gentil, cedeu o lugar à senhorinha e foi sentar lá atrás.

Curto-circuito político - MARCUS PESTANA

O Globo - 17/12


O rebaixamento do chamado Custo Brasil é objetivo comum de todos aqueles que identificam a melhoria do ambiente de competitividade como elemento essencial na conquista de um crescimento econômico mais vigoroso e sustentado.

Depois de sinalizar uma presidência mais atenta à "liturgia do cargo"; após posar de faxineira da corrupção, imagem transformada em pó pelo "Rosegate"; depois de tentar reafirmar a figura da "gerentona" mais preocupada com gestão e resultados, o que não resistiu ao baixo desempenho do PAC ou ao PIB raquítico de 2012; Dilma nos patrocina um fim de ano recheado de trapalhadas em torno dos royalties do petróleo e do novo marco legal do setor elétrico.

A máscara caiu. Como inadvertidamente confessou a ministra encarregada da articulação política do governo: "Dilma nunca desceu do palanque." E isto ficou claro na desastrosa condução da MP 579 do setor elétrico.

A ação do Governo, neste caso, é uma mistura explosiva de irresponsabilidade, demagogia, autoritarismo, incompetência e manipulação da verdade.

Numa única tacada, o Governo federal conseguiu que o conjunto do setor elétrico perdesse mais de 30 bilhões de reais em valor de mercado; que movimentos especulativos na bolsa promovessem brutais transferências de renda; que investidores ficassem assustados e reavaliassem sua intenção de investir no Brasil, comprometendo o programa de concessões e parcerias tão necessário; que se cristalizasse a percepção de que o Governo não respeita a economia de mercado, acionistas minoritários, CVM, nem nada. Haja irresponsabilidade!

O lado demagógico transparece quando se tenta esconder a incapacidade política do governo atrás de uma falsa contradição entre os que supostamente estariam defendendo as empresas e aqueles que estariam ao lado do consumidor. Como distribuir ovos de ouro, matando a galinha dos ovos de ouro? Já disse certa vez JK: "Energia cara é a que não se tem."

O autoritarismo fica patente na falta de diálogo com os governadores, com as direções de operadoras de energia, com o Congresso e com a sociedade. O próprio uso de uma MP é absurdo. O Governo está transformando em rotina a mania de acenar com chapéu alheio, de forma unilateral, no mais apurado estilo do "presidencialismo imperial de cooptação". Porque antes não reverteu a incidência do PIS e do Cofins ou eliminou encargos como RGR, CDE e CCC. É mais fácil transferir o ônus para os estados já tão estrangulados.

A incompetência vem à tona na construção de um nebuloso e preocupante horizonte de médio e longo prazo em setores essenciais. No crescimento, nosso voo de galinha se deve principalmente à baixa taxa de investimento (18,7% do PIB). Precisamos de investimentos privados, já que a poupança pública é limitada. Mas estamos fazendo gols contra ao exalar insegurança jurídica, brincar com a estabilidade regulatória e zombar da dinâmica de mercado. O desabastecimento e os apagões serão o preço. E quem alerta é o insuspeito professor Luiz Pinguelli Rosa.

Por último, a mentira como método. Não esclarecer que o cidadão-contribuinte vai ter que subsidiar o cidadão-consumidor de energia ou tentar partidarizar a questão aproveitando-se de uma mera coincidência de todo o potencial hidrelétrico estar concentrados em Minas, São Paulo e Paraná, eventualmente governados por tucanos, não é boa prática. O PSDB quer a queda das tarifas de energia. Mas deseja também atrair investimentos, fortalecer a capacidade produtiva, respeitar a Federação, a sociedade e o mercado, defender a democracia e o diálogo como caminho e a verdade como valor.

O maior ativo de um governo é sua credibilidade. A confiança em Dilma sai gravemente arranhada neste episódio.

Gestão de resultados - JOSÉ ANÍBAL

BRASIL ECONÔMICO - 17/12


No ano de 2012 foram semeadas iniciativas no setor energético paulista que terão impacto direto na vida das famílias e das empresas no curto prazo. Ainda em janeiro foram inauguradas as subestações Salto, Jandira, Atibaia e Piratininga II.

Esta última reforçou a segurança do suprimento de energia para 600 mil famílias na zona sul da capital. Todas as obras foram adiantadas. R$ 400 milhões foram investidos.

Em fevereiro, assinamos protocolo de instalação na Baixada Santista da 1a grande fornecedora da Petrobras, num total de R$ 117 milhões em investimentos e mil empregos diretos.

No mês seguinte, a Secretaria de Energia apresentou o plano de ação para o Programa de Melhoria da Gasto Público.

Até agora, só com a revisão de 311 contratos de energia do setor público serão poupados R$ 7,5 milhões por ano.

Ainda em março firmamos parceria com o Centro Paula Souza para incluir a disciplina Eficiência Energética no currículo das Etecs e Fatecs. Os cursos começaram em agosto nas unidades de Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Limeira, Rio Claro, Araras, Ilha Solteira, Itapeva e Tatuí.

Em maio, anunciamos a maior vitória desta gestão na área energética até aqui: a queda de 22,8% no tempo médio sem energia durante o verão. O número de interrupções também recuou 11,6%.

O mês de junho foi quase todo tomado pela Rio+20. Com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e sendo o "laboratório mundial das tecnologias em bioenergia", como definiu o ministro italiano no Meio Ambiente, o estado de São Paulo foi protagonista nos debates sobre energia limpa, bem como em cooperação técnica em soluções sustentáveis para uma economia de baixo carbono.

No segundo semestre, a agenda não foi menos intensa. Em agosto lançamos um programa, em parceria com a Santa Casa de São Paulo, que permite à instituição receber doações por meio da conta de luz.

Publicamos também novas edições do Anuário Estatístico por Município e do Balanço Energético, e finalizamos o manual do empreendedor para o aproveitamento do potencial hidrelétrico remanescente no estado (a ser lançado em breve).

Também foi aprovado no Conselho Estadual de Política Energética (Cepe) o Plano Paulista de Energia, que prevê aumentar a participação das fontes renováveis de 55% para 69% da matriz energética até o ano de 2020.

Foram iniciados o Ordenamento Geomineiro e o Sistema de Informações Minerárias de São Paulo, e anunciamos a primeira usina solar ligada à rede elétrica, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e com a USP, a ser instalada no parque Villa Lobos.

Por fim, chegamos ao final do ano envolvidos em debates institucionais sobre os royalties do petróleo e contra as imposições da MP 579, que transfere o ônus da redução das tarifas de energia para os cofres dos estados e das empresas.

Também lançamos o Atlas Eólico de São Paulo e criamos o Plano Paulista de Biogás. A 1ª unidade geradora de energia elétrica movida a biogás será inaugurada ainda este ano.

Em suma, trabalhamos muito. Mas ainda há muito o que fazer.

Juros x mínimo - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 17/12


A trajetória dos juros agora depende de fatores como o impacto que o novo salário mínimo terá sobre os preços


Os juros básicos no Brasil continuam entre os mais altos entre as principais economias do planeta, porém como a inflação por aqui, devido a diversas razões, resiste na faixa de 5,5% ao ano, precisaremos de um pouco mais de paciência e esperar por uma conjuntura que possibilite novo ajuste. A política de valorização do salário mínimo foi necessária, com vários aspectos positivos, mas sem dúvida também contribuiu para encarecer os serviços, segmento que mais vem pressionando a inflação. Em 2013, a fórmula usada para indexação do mínimo fará com que o aumento real do salário não seja tão significativo. Na prática, será possível avaliar o quanto desse reajuste tem sido responsável por manter a inflação brasileira acima dos indesejáveis 5% ao ano.

Oscar Niemeyer

Tive o privilégio de ser convidado, há poucos anos, para um almoço, em pequeno grupo, no escritório de Oscar Niemeyer. A aproximação foi feita por José Carlos Sussekind, o calculista que transpôs para a engenharia as criações do genial arquiteto nas últimas três décadas. Embora se falassem assiduamente, Sussekind e Niemeyer tinham o hábito de trocar cartas nas quais comentavam diversos assuntos (algumas dessas cartas estão imortalizadas em um livro). E foi nesse período de correspondência mais intensa entre os dois que nos reunimos no célebre escritório da avenida Atlântica, onde Niemeyer trabalhou quase até seus derradeiros dias. Além do próprio Sussekind, esse pequeno grupo era formado pelo presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, e a mulher, Cristina, Heloisa Magalhães (com quem tenho compartilhado várias coisas nos últimos 30 anos, inclusive os mesmos endereços), do Valor Econômico,acompanhada deste colunista - não lembro se fomos convidados como casal ou como jornalistas independentes um do outro.

Durante o almoço a conversa girou sobre generalidades, mas sempre que havia uma brecha derivávamos para matar curiosidades sobre as obras e a vida de Niemeyer. Ele gostava de falar de política (e num desses preâmbulos lembro que se referiu a Gorbachev, sem citar o nome dele, como "aquele que traiu" , talvez responsabilizando-o pelo fim da União Soviética e a derrocada do comunismo; creio que como a maioria dos seus interlocutores, preferíamos não entrar nesse campo sabidamente esdrúxulo das opiniões do arquiteto). Indaguei dele o que tinha achado da nova ponte de Brasília, e a resposta foi : "um horror". Niemeyer gostava de servir comida bem caseira aos que ele convidava para almoçar no escritório (e que vista, da praia e do Pão de Açúcar, ele podia desfrutar de lá!). Vera, que ainda não estava formalmente casada com Niemeyer, cuidava para que lhe fossem servidos alimentos em porções e pedaços muito pequenos, atenção com a saúde bem compreensível para alguém na idade dele.

Além da conversa super agradável, o mais sensacional do almoço foi quando ele desenhou no quadro branco de uma das paredes do escritório a concepção das futura catedral de Niterói (ele projetou também outra para a igreja protestante na mesma cidade). Pena que esse testemunho só esteja gravado na minha memória e não posso reproduzi-lo além dessas palavras. Saímos de lá com livros autografados por ele, agradecidos a Sussekind pelo privilégio do encontro, e com a sensação que Niemeyer, embora enxergando com dificuldade, ainda tinha muito o que fazer na vida. Tempos depois, visitei o interior da igrejinha da Pampulha, em Belo Horizonte, o que me deixou mais curioso em relação ao enigma Niemeyer: por que um ateu, declaradamente admirador de Lenin, Stalin, Fidel Castro et caterva , dedicou o melhor de sua genialidade para projetar templos religiosos? Pura coincidência?

Corujão e Galo da Madrugada

Os nomes poderiam batizar blocos de carnaval, mas assim chamados os cursos que o Senai de São Gonçalo passou a ministrar para trabalhadores da indústria da construção naval. Os horários habituais não davam conta da demanda e então foram abertas vagas à noite (cursos que ganharam o apelido de Corujão). Mesmo assim, o próprio Senai percebeu que havia necessidade de estender esses cursos para um horário que antecedesse o primeiro turno de trabalho nos estaleiros. Foram criados então os cursos que começam antes do alvorecer, apelidados de "Galo da Madrugada".

A construção naval continuará empregando muita gente nos próximos anos. As mulheres estão tendo participação crescente no setor, antes um reduto masculino. A equipe de soldas do Estaleiro Atlântico Sul, em Suape, hoje é chefiada por uma mulher, que começou lá no quadro de iniciantes.

Perspectivas para 2013 - AMIR KHAIR

O Estado de S. Paulo - 17/12


Chegando o fim do ano, as análises começam a fazer previsões sobre a economia para o próximo ano. Elas se encontram marcadas pelo impacto do PIB deste terceiro trimestre de parcos 0,6% em relação ao anterior, frustrando as expectativas do governo e da maioria dos analistas que previam crescimento de 1%.

Segundo o ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes, o IBGE errou ao não considerar devidamente a expansão do crédito. Esse erro levou ao 0,6%. Se corrigido, o crescimento seria de 1,2%.

Há que avaliar em detalhe a metodologia do IBGE para esclarecer essa importante questão. Caso se confirme o 0,6%, vamos iniciar 2013 devagar. Caso contrário, a economia já estaria rumando para crescimento em 4%.

Enfim, haja o que houver, é necessário continuar pilotando a economia em ambiente internacional hostil, que dificulta crescer em níveis próximos a 4%. Falta potencial na economia brasileira para objetivar expansões desse nível? Não creio.

Refuto o diagnóstico de que o consumo atingiu seu limite em razão do que consideram excesso de endividamento das famílias. Daí o motor do crescimento deixaria de ser o consumo e passaria a ser o investimento.

Esse tipo de análise é perigoso, pois se o consumidor não vai comprar, o comércio não vai vender e a indústria não vai produzir e, muito menos investir.

É interessante notar que, em autêntico efeito manada, a maior parte dos economistas passou a defender que a chave do deslanche é o investimento, e o Brasil não cresce o que deveria pois o índice de 18% do PIB nos investimentos está aquém do nível necessário de 22%.

Como ressaltei em artigo anterior, não existe evidência empírica que justifique esses 22%, pois na década de 50, o País cresceu em média 7,4% por ano e a taxa de investimento média nesse período foi de 16,4% (!). Na década de 60, cresceu 6,2% ao ano com taxa de 18,2% (!); na década de 80, cresceu, apenas 1,7% ao ano com taxa de 21,8% (!). Na década de 90, o crescimento foi de 2,5% e a taxa 18,6% e na última década 3,6% e taxa de 17,7%.

O perigo dessa "tese" é que enquanto não atingir os tais 22% não vamos crescer os 4% ao ano. Isso é paralisante e enganoso e, se o governo comprar isso vai fracassar de novo, pois o investimento não é a causa, mas a consequência da expansão do consumo.

Para sair desse imbróglio é importante verificar qual tem sido o motor do crescimento. A consulta às contas nacionais revela que antes da crise, considerando o melhor período (2004/2008), o País cresceu em média por ano 4,8%. O consumo das famílias foi responsável por 56% deste crescimento, o governo por 21%, os investimentos por 25% e o setor externo (exportação menos importação) por menos 2%.

Após a crise do fim de 2008, nos últimos três anos (2009/2011), o fio condutor do crescimento continuou sendo o consumo das famílias, só que aumentou sua participação, sendo responsável por 70% desse crescimento, seguido por 24% por causa das despesas do governo, ficando 8% para os investimentos e menos 2% devido ao fator externo.

Assim, em primeiro lugar, cabe dar a devida importância à força que tem o consumo como principal indutor do crescimento. Em segundo lugar, o papel importante do governo, que face a redução da atividade empresarial cumpre seu papel em ação contracíclica ao injetar recursos na economia. Em terceiro lugar, uma observação interessante é que o setor externo não reduziu praticamente nada do crescimento do País, nem antes nem após a crise.

Os investimentos foram importantes na época de vacas gordas e se justificavam, pois as empresas precisavam correr atrás da expansão do consumo. Ao contrário do que é hoje em todo o mundo. O empresário face a crise que não passa e que pode de uma hora para a outra trazer mais problemas do que já enfrenta é cauteloso face aos riscos de encerramento de atividades.

Assim, não creio que esteja na hora de abandonar o fio condutor do crescimento, trocando-o pelo difícil caminho do investimento. Se o governo for trilhar esse caminho tem tudo por amargar nova derrota como a que ocorreu neste ano, quanto fez política dupla (consumo e produção), ambas frágeis. Vejamos.

Trava ao consumo. O governo procurou estimular o consumo ao iniciar a cruzada pela redução das taxas de juros bancárias, pondo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal na frente dessa luta para induzir o sistema bancário privado a fazer o mesmo.

Funcionou um pouco no começo, mas depois, como os bancos privados quase não se mexeram, o governo deixou de pressioná-los. A Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) que acompanha as taxas de juros bancárias em todas as suas modalidades, mostra que antes da ofensiva do governo essas taxas ao ano para o consumidor estavam em 107%. Atingiram o mínimo em outubro indo para 90% e subiram em novembro para 93%.

Se olharmos duas modalidades muito usadas pelas pessoas, o cartão de crédito e o cheque especial as taxas de juros foram de 193% e 150% respectivamente! Nos países emergentes ela é de 10%! .

Essa é a principal trava ao consumo. Quem quer comprar um bem financiado em 12 meses vai pagar, no mínimo, o valor do bem, mais o mesmo valor em juros.

Estímulo às empresas. Mas o que mais fez o governo neste ano foi tentar estimular as empresas. Para isso reduziu o IPI para automóveis, linha branca e construção civil e acabou com a quota patronal de 20% sobre a folha de pagamento trocando-a para 1% a 2% sobre o faturamento para 40 setores. Essa desoneração está sendo paga pela Previdência Social (?) que até agora não foi ressarcida pelo Tesouro Nacional.

Essas desonerações são limitadas, pois o governo não tem fôlego maior para abrir mão de receita em época de queda de arrecadação devido ao baixo crescimento econômico. Se reduzisse mais a Selic, teria esse fôlego, mas não parece que vai fazer isso, pois ainda é dominado pela crença de que a Selic controla a inflação.

Proposta. As perspectivas para 2013 vão depender da política que o governo adotar. Caso não mude o que vem fazendo, especialmente apostando que às desonerações vão fazer as empresas voltarem a produzir, não irá além do pífio 1% de crescimento previsto para este ano.

Caso tire o pé do freio, reduzindo as taxas de juros bancárias, destrava a expansão do consumo e todos saem ganhando: o consumidor por melhorar seu poder de compra sem alterar seu salário, o produtor por ter maior chance de ampliar venda e produção e a sociedade pelos frutos gerados pelo crescimento econômico.

Para não vazar a expansão do consumo para o produto importado torna-se necessário desvalorizar o real em 20%, levando-o a R$ 2,50, que é o nível necessário para equilibrar as contas externas. Não creio que vá ter problemas com a inflação, pois de agosto de 2011 para cá, o real foi desvalorizado em 31% e a inflação continuou no nível atual. O governo precisa perder o medo da inflação e tirar o pé do freio se quiser crescer.

Fado na cozinha - JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS


O GLOBO - 17/12


A coisa mais antiga de que eu me lembro, fui dizendo para o cineasta português Ivan Dias, que me entrevistava para um filme de memórias brasileiras de suas famílias lusitanas - a coisa mais antiga que recordo de Portugal - meu avozinho eram as cartas que chegavam de lá, principalmente aquelas com uma tarja de fumo preta nas bordas anunciando, já na capa, que alguém tinha morrido lá longe. E, em seguida, meu pai, minha mãe, meus primos, um deles estaria chorando a morte de um portuga que eles deixaram lá atrás dos montes, lá atrás das oliveiras e das pataniscas de bacalhau.

Eu me lembro que eram todos dados a rompantes dramáticos, continuei dizendo para o gajo cineasta, as portas se batiam com violência quando alguma coisa era de desagrado, se as sardinhas não ficavam fritas a contento ou o Belenenses perdia para o Benfica, e esse quadro de emoções em bruto, desavergonhadas de dizerem seus nomes, era sublinhado pela voz de Amália Rodrigues, uma cantora que eu detestava pela gritaria, pela absoluta incapacidade de entender o que ela dizia, pela tristeza daquelas guitarradas ao fundo, e que hoje, homem carente e sofrido, hoje, se me pedirem a lista com as maiores de todos os tempos, eu a encabeçaria com Amália e sua infinita beleza em dizer "Foi Deus quem deu voz ao vento".

Eu me lembro de ter ido no ombro do meu pai ver a passagem do presidente Craveiro Lopes pela Avenida Rio Branco, de ter subido no colo do meu avô para ver a passagem da imagem de Nossa Senhora de Fátima no Largo de Vaz Lobo e me lembro muito mais ainda, fui narrando ao jovem cineasta português, me lembro do galo de Évora registrando a passagem da temperatura em cima da cristaleira da sala de jantar, dos xales que todas as mulheres traziam quando voltavam do Porto, do programa do Francisco José, o cantor de "Teus olhos castanhos" na TV Tupi, e também que comíamos coisas muito diferentes das outras famílias, como aquela linguiça chamada morcela, feita de sangue e gorduras de porco - e nesse momento eu pedi licença ao Ivan Dias para me lembrar da história de uma querida namorada e sua relação de estranhamento à primeira vista e depois eterno entranhamento com a assaz dita morcela.

Eu me lembro, e disso não há qualquer vantagem pois foi há pouco tempo, que estando em Lisboa, mais precisamente numa tasca do Bairro Alto, fiz questão de apresentar à namorada, moça da mais fina família carioca da Zona Sul, aquela patativa nostálgica da minha infância portuguesa rural, a morcela de porco. Fiz a apologia do acepipe, de seu paladar exótico, perfeito para quem tinha trafegado por outras gastronomias e sabia apreciar essas delícias da cozinha rústica, feita com muita história e tradição. Eu me lembro que a moça fez menção de se levantar da mesa quando lhe foi posta a morcela no prato, uma linguiça de aspecto medonho, escura, que ameaçava explodir com todos aqueles derivados de porco espremidos dentro dela. Eu impus a autoridade lusitana, pedi com carinho que ela a experimentasse - e hoje, separados, sempre que nos encontramos, ela suspira, "hum, e a morcela, hein?", e eu nunca sei se ela gostou mesmo como disse em Lisboa, depois da primeira dentada, ou se comemora maliciosa, satisfeita de estar enfrentando gastronomias mais estreladas na mesa de outros gajos.

Eu fui dizendo assim como me vinha à cabeça, sem muitos pontos, deixando a memória num fluxo contínuo que meu terapeuta do Cosme Velho muito apreciaria, e fui falando com esse vício de linguagem de começar todas as frases com "eu me lembro", tipo, eu me lembro dos jogadores Eusébio, do Coluna, do guarda-valas Costa Pereira, eu me lembro que a única assinatura de jornal que abastecia de informações o nosso sacrossanto lar era o da Voz de Portugal, sempre com a cara do Salazar na capa, e me lembro também, como esquecer, que eu disputava o dial do rádio, querendo ouvir Cely Campello, com os primos que queriam ouvir Ester de Abreu na rádio Vera Cruz, uma emissora que irradiava de algum ponto do Rio exclusivamente programas para a colônia portuguesa.

Eu me lembro que a minha era uma casa portuguesa com certeza, que eu espremia a casca dos tremoços para eles me explodirem no céu da boca, que havia lembranças de Fátima por todos os lados, que de uma caixinha com a imagem dela saía a música "A três pastorinhos, cercada de luz, visita Maria a Mãe de Jesus", e eu me lembro que aquilo também era muito triste.

Era regado com muito azeite Gallo, saudade da terrinha e outro tanto de mais tristeza saramaga, com a exceção das festas de Natal, quando a mais velha de todos, a avó que carregava um Rosário até no nome, assumia o meio da sala, segurava a saia na altura dos joelhos e pedia a todos que estalassem o dedo para marcar o ritmo, quando então ela começava a rodar e cantar "lá em cima tinha o tiro-liro-liro, cá embaixo tinha o tiro-liro-lá", e mais não lembro, e mais na verdade preferi não lembrar ao simpático gajo cineasta, porque me veio uma doçura de fio de ovos, toucinhos do céu em cascata, uma saudade pungente de toda aquela gente, e resolvi colocar um ponto final no meu fado quase triste.
* JORNALISTA E ESCRITOR

Branca de neve azeda - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 17/12


Contos de fadas como Branca de Neve são objetos de atenção dos "oppression studies"


Fazer a cabeça das crianças sempre foi um dos pratos prediletos do fascismo. Agora, nem a Branca de Neve escapa, coitada, do ódio dos fascistas. O conjunto de "estudos" que se dedica a fazer a cabeça das crianças é parte do que podemos chamar de "oppression studies". Você não sabe o que é?

"Oppression studies" é uma expressão usada pelo jornalista americano Billy O'Reilly, da Fox News, para se referir às "ciências humanas engajadas no controle das mentes". Explico.

Reprovou um aluno? Opressão. É preguiçoso? Não, a sociedade te oprimiu e fez você ficar assim. Um ladrão te assaltou? Ele é o oprimido, você o opressor. Aliás, sobre isso, vale dizer que, com a violência em São Paulo, devemos reescrever a famosa frase do Che: "Hay que enfiar la faca em la cavera, pero sin perder la ternura jamás".

A frase dele, assinatura de camisetas revolucionárias, é: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás". Essa camiseta é a verdadeira arma contra gente como ele. Os americanos deveriam afogar o Irã em Coca-Colas, Big Macs e pílulas anticoncepcionais para as iranianas transarem adoidado com seus amantes.

Convidou uma colega de trabalho para jantar? Opressão! Você é um opressor por excelência, deveria ter vergonha disso. Não é um amante espiritual do Obama? Opressor! Come picanha? Opressor! Não acha que a África é pobre por culpa sua? Opressor! Suspeita de que o sistema de cotas vai destruir a universidade pública criando um novo espaço de corrupção via reserva tribal de mercado e compra de diplomas de escolas públicas? Se você suspeita disso, é um opressor! Acha que uma pessoa deve ser julgada pelos seus méritos e não pelo que o tataravô do vizinho fez? Opressor! Anda de carro? Opressor! Ganhou dinheiro porque trabalha mais do que os outros? Opressor!

Os "oppression studies" sonham em fazer leis. Por exemplo, recentemente, um comitê de gênero (isto é, o povo que diz que sexo não existe e que tudo é uma "construção social", claro, opressora) desses países em que o "mundo é perfeito" teve uma nova ideia. Esses caras (ou seriam car@s?) querem proibir qualquer propaganda ou programação infantil que reproduza imagens de mulher sendo mulher e homem sendo homem. Não entendeu? É meio confuso mesmo. Vamos lá.

Imagine uma propaganda na qual existe uma família. Segundo os especialistas em "oppression studies", para a marca não ser opressora, a família não pode ser heterossexual, porque se assim o for, o "espelho social" (a imagem que a mídia reproduz de algo) fará os não heterossexuais se sentirem oprimidos.

O problema aqui não é que as pessoas devem ser isso ou aquilo (melhor esclarecer, se não eu viro objeto de estudo dos "oppression studies"), mas sim por qual razão esses cem car@s (não são muito mais do que isso), que não têm o que fazer na vida a não ser se meter na vida, na família e na escola dos outros, têm o direito de dizer o que meus filhos ou os seus devem ver na TV? Até quando vamos aturar essa invasão da vida alheia em nome dos "oppression studies"?

Contos de fadas como Branca de Neve, Cinderela e Gata Borralheira são grandes objetos de atenção dos "oppression studies". Claro, as três são oprimidas, por isso gostam dos príncipes. Se fossem livres, a Branca de Neve pegaria a Cinderela. Humm... não seria uma má ideia....

Veja o lixo que ficou a releitura da Branca de Neve no filme que tem a atriz da série "Crepúsculo", a bela Kristen Stewart, como a Branca de Neve. Coitada...

A coitada tem que terminar sozinha para sustentar sua posição de rainha "empoderada", apesar de amar o caçador (passo essencial para libertar nossa heroína da opressão de amar alguém da nobreza, o que seria ainda mais opressor).

Os "oppression studies", na sua face feminista, revelam aqui o ridículo de sua intenção: fazer de toda mulher uma mulher sem homem porque ela mesma é o homem. Todo mundo sabe que isto é a prova mais banal da chamada inveja do falo da qual falam os freudianos. Fizeram da pobre Branca de Neve uma futura rainha velha e sem homem. Ficará azeda como todas que envelhecem assim.

A bença! - JOSÉ DE SOUZA MARTINS


O Estado de S.Paulo - 17/12


"A bença, mãe! A bença, pai! A bença, vó!" E ia por aí a ladainha de saudação das crianças aos mais velhos no meu tempo de menino. Mesmo os adultos pediam a bênção aos pais, avós, padrinhos e madrinhas, que com sorridente alegria abençoavam os descendentes carnais e simbólicos. O pedido de bênção era o mais significativo ato litúrgico do que, então, apropriadamente, se chamava de laços de família. Já septuagenário, eu pedia a bênção à última pessoa de minha família a ter direito a esse tributo ritual: minha tia Sebastiana, quase centenária, quando a visitava no Pinhá, lá para os lados de Socorro. E isso fazia um bem enorme a ela e a mim. Dava-lhe, e dava-me, a certeza de que o abismo do tempo que nos separava - ela, quase do tempo da escravidão e do trabalho do eito, e eu, do tempo do computador - continuávamos unidos pelo mesmo afeto de quando eu era criança.

Para mim foi um susto quando, já bem adulto, pedi a bênção ao abençoado dom Antonio Fragoso, que mais de uma vez me acolheu em sua hospitaleira casa de Crateús, no Ceará, e ele, sorrindo, disse-me que eu já não precisava disso. "Que é isso, dom Fragoso? Se alguém precisa de bênção, sou eu!"

O costume da bênção parental se foi pelo ralo da secularização e da modernidade, nesta sociedade de seres tão cheios de certezas e de seguranças e tão inseguros em relação a tudo. As crianças já nascem na moldura educativa do super-homem. Num certo sentido, condenadas à privação da poesia que há nos prosaicos gestos rituais que em outros tempos diziam aos imaturos que estavam sob o abrigo do manto diáfano e invisível, mas eficaz, do acalanto de mãos protetoras estendidas sobre a cabeça.

A bênção entre nós é antiga e sagrada. Sua forma ritual varia segundo a região. No subúrbio, eu pedia a bênção a quem devia esse gesto de respeito, beijando-lhe a mão direita. Pedia "a bênção!", mas agarrava-lhe logo a mão, por sim ou por não, para assegurar-me a bênção carecida. Na roça, lá no Pinhalzinho, na Bragantina, meus primos pediam a bênção juntando as mãos em gesto de louvado em direção à pessoa que, esperavam, os abençoasse. "A bença!" rogavam. "Deus abençoe!" vinha a confirmação sacramental do parentesco que se renovava ao menos uma vez por dia. Ou duas! Pedia-se a bênção, também, na hora de dormir. No Arriá, havia quem, juntando as mãos, dissesse "São Cristo!" Tudo indica, fora o modo como os índios administrados, antecessores dos escravos negros, confirmavam cotidianamente a dimensão patriarcal de seu cativeiro.

Num povoado da Amazônia, em que estava fazendo pesquisa sobre violência fundiária, várias crianças vieram visitar-me no rancho em que armara minha rede para pedir-me "a bença", de mãos juntas. Da resposta, ficavam sabendo se eu era amigo ou inimigo, do bem ou do mal, de dentro ou de fora.

Os novos velhos vícios - LULI RADFAHRER

FOLHA DE SP - 17/12


Camufladas sob nomes usados há mais de meio século, novas ameaças se aproveitam de velhos termos


HOJE EM dia é comum entre pais de adolescentes uma grande preocupação quanto aos hábitos de seus filhos. As queixas quanto a maconha, pornografia, jogos e consumismo parecem saídas da década de 1960.

Será que depois de anos de conquistas e liberdades estaríamos frente a uma nova geração de reacionários, repetindo as críticas de que tanto reclamavam quando vindas de seus pais? Ou será que, camufladas sob nomes usados há mais de meio século, novas ameaças se aproveitam de velhos termos?

A maconha, por exemplo, não é a mesma ganja do Bob Marley. Anabolizada pela engenharia genética, a cannabis tem hoje um princípio ativo mais potente e atordoante, estimulando a dependência.

Sua forma de ação, mais eficaz entre usuários frequentes do que entre iniciantes, dá à droga uma aura inofensiva, enquanto seus efeitos bestificantes só acabam percebidos a médio prazo.

Por mais que eventuais marchas e passeatas deem a impressão de que a erva é injustamente maldita, é bom lembrar que o verdadeiro maconheiro não marcha, mas fica sentado na arquibancada com o olhar meio perdido e o sorriso fácil.

A luta pela descriminalização de uma droga cuja potência cresce a cada apreensão pode levar a uma discussão quanto a eventuais interesses em sua legalização, mas isso fugiria ao tema desta coluna.

Outro mal subestimado é a pornografia. Ela não remete mais à liberdade de expressão ou ao erotismo. Pelo contrário, é uma indústria pioneira e obscura, uma das primeiras a testar comércio eletrônico, streaming de vídeo, webcams, geolocalização e tantas outras novidades. Hoje atende a cerca de 30 mil pessoas por segundo e compõe mais de 12% do conteúdo da rede, acessado com a mesma facilidade que se pirateiam filmes e músicas.

Quando comparada às revistas de sacanagem e filmes de inferninhos, o voyeurismo sexual de hoje é tão intenso e fácil que entorpece e compromete relações com pessoas normais, difíceis e monótonas quando comparadas às ferramentas à disposição do sexo individual.

Até mesmo os games, com efeitos especiais e roteiros detalhados, podem ser nocivos se usados sem moderação. Muito distantes de "Tetris" e "Pac-Man", os jogos de hoje são superproduções que utilizam todo tipo de pesquisa para gerar recompensas psicológicas e podem, principalmente entre aqueles cujas emoções estão em desenvolvimento, criar uma forte dependência.

Por último, o comércio se transformou. Estimulado pela publicidade onipresente e pela cultura do consumo para diminuir frustrações e buscar compensações, ele se manifesta em lojas que nunca fecham, ofertas em todo lugar, compras em um clique e débitos infinitos.

O mundo está mais complexo, é preciso uma mudança de atitude. Largado à própria sorte o pobre adolescente pode ser mimado por uma propaganda mentirosa e se tornar frustrado com o mundo que não se rende às suas expectativas.

Em casos extremos, a situação pode levar ao isolamento social e à depressão. É um problema grande o suficiente para chamar a atenção dos pais. A solução, rápida e indolor, pode estar no estímulo a boas conversas. Se isso, é claro, não for pedir demais.

Por que o Brasil não investe? - GIL CASTELLO BRANCO


O ESTADÃO - 17/12

O jornalista e historiador Ronaldo Costa Couto cunhou há vários anos frase curiosa: "O primeiro economista da história foi Cristóvão Colombo, que quando partiu não sabia para onde ia e quando chegou não sabia onde estava. Tudo por conta do governo". A fábula voltou à tona no anúncio do PIB brasileiro do terceiro trimestre, ocasião em que as previsões dos economistas revelaram-se um autêntico fiasco.

Palpites à parte, ficou claro que os pacotes homeopáticos do governo para elevar os investimentos privados e públicos foram insuficientes, o que impediu o crescimento sustentável da economia brasileira e o desempenho mais robusto do PIB. E por que os investimentos não acontecem?

Quanto aos investimentos privados, a retração pode ser explicada, entre outros fatores, pelo cenário internacional nebuloso, pela desindustrialização do País (de corrente da valorização do real, da concorrência chinesa, da infraestrutura precária e dos custos dos salários e bens de produção), pela falta das reformas tributária, trabalhista e previdenciária e pela instabilidade das regras do jogo. A demais, o governo anuncia parcerias, mas desconfia dos empresários.

Nos investimentos públicos, são inúmeros os nós a desatar. Em primeiro lugar, é preciso que os vários agentes aprendam a conciliar investimento com democracia. Não por acaso, as maiores taxas de crescimento do PIB nas últimas décadas aconteceram durante as ditaduras. De fato, nas épocas do "cumpra-se", não havia as preocupações de hoje com o meio ambiente, com o patrimônio público ecom os direitos trabalhistas, indígenas, sociais, entre outros. Atualmente, existem emaranhados de leis, decretos e portarias que afetam questões diretamente relacionadas aos empreendimentos. As obras passam necessariamente pelas exigências, prazos e fiscalizações do Ministério Público, IBAMA, Funai, Iphan, CGU e TCU, além das ONGs e da imprensa. Diga-se de passagem, melhor assim.

O crescimento da burocracia e do formalismo dos órgãos de controle foi agravado pela formação inadequada dos gestores públicos, pela desvalorização dos funcionários de carreira e pelo excesso das funções comissionadas. Na prática, a "estrutura de fiscalização" cresceu muito mais do que a "máquina de execução".

A corrupção endêmica também influi no ritmo dasobras. A inevitável "faxina" do ano passado, por exemplo, afetou significativamente os investimentos do Ministério dos Transportes neste ano. Diante dos escândalos, os novos gestores cercaram-se de cuidados, até para não se verem envolvidos nas falcatruas que demitiram seus antecessores. Assim.de janeiro a novembro de 2011, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) investiu R$ 9,5 bilhões, enquanto em 2012, no mesmo período, as aplicações foram de apenas R$ 7,7 bilhões. Na Valec, nos 11 primeiros meses de 2010, os investimentos foram de RS 2 bilhões. Em 2011 e 2012, caíram para R$ 1,3 bilhão e R$ 890 milhões, respectivamente.

Todos os fatores mencionados - dentre outros que poderiam ser elencados - levam à morosidade dos empreendimentos públicos. Nos últimos 17 anos, o porcentual médio de execução dos investimentos da União foi de apenas 60%. De cada R$ 10 autorizados pelo Congresso Nacional, somente RS 6 foram utilizados. Em 2012, não está sendo diferente. Embora o Orçamento-Geral da União (OGU) contenha dotação de RS 904búhões, faltando 20 dias para o encerramento do exercício, apenas RS 40,6 bilhões foram desembolsados, incluindo os restos a pagar. Em algumas empresas estatais, os resultados também são pífios. Na Infraero, de 2007 a 2011, foram investidos apenas 47,7% dos valores previstos. Em 2012, dos R$ 2 bilhões prometidos, somente 39% foram realizados até outubro. E ainda querem que grupos internacionais se associem à empresa brasileira.

No PAC, osanúncios oficiais registram, entre 2007 e setembro de 2012, "aplicações gerais" de R$ 1 trilhão e "ações concluídas" de R$ 716,6 bilhões. Mas, se excluirmos das "ações concluídas" os empréstimos habitacionais às pessoas físicas, restarão R$ 370 bilhões, o que significa pouco mais de R$ 60 bilhões ao ano. Esse montante médio anual de "ações concluídas" envolve as estatais, o setor privado, o OGU, as contrapartidas dos Estados e municípios, os financiamentos ao setor público e os subsídios do Minha Casa, Minha Vida. No frigir dos ovos, é muito pouco.

Na verdade, temos no PAC um grande canteiro de obras inacabadas. No último balanço, a Ministra Miriam Belchior disse que os atrasos em obras são "regra do jogo". E a regra é clara, como diria o árbitro Arnaldo Cezar Coelho. Entre as maiores obras.os prazos de conclusão vêm sendo postergados, apesar de o governo conservar sempre em seus balanços a informação "adequado". A Refinaria Abreu e Lima, por exemplo, segundo os balanços de 2007, ficaria pronta no 4º trimestre de 2010. Na nova estimativa, ficará pronta em 30/11/2014. A Usina de Belo Monte, que seria concluída em janeiro de 2014, agora entrará em atividade em janeiro de 2019. Acredite quem quiser.

O governo tem tentado contornar os entraves. Para despertar o "espírito animal" dos empresários, desonerou folhas de pagamento, baixou os juros, lançou o pacote dos portos e vai baratear a energia. Em relação aos investimentos públicos, criou o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para as obras do PAC e isentou-as do cálculo do superávit primário. Aproximou-se também do TCU e do IBAMA para reduzir as paralisações e agilizar as licenças ambientais e, ainda, lançou editais para contratar centenas de funcionários para o Dnit e para a Valec. Afinal, investir é preciso.

Se os efeitos serão rápidos, são outros quinhentos. Como dezembro é época de previsões, quem quiser saber com precisão quanto crescerá o PIB em 2013 deve ouvir os economistas, mas, também, consultar os astros, ler as cartas e jogar os búzios...

O ano em que Keynes voltou - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS


Valor Econômico - 17/12


A intensidade da crise econômica que, apesar de estar entrando em seu sexto ano, ainda domina a maior parte do planeta tem consolidado as chamadas terapias monetárias heterodoxas por parte dos bancos centrais de vários países. Ainda agora o Federal Reserve nos Estados Unidos (Fed) alterou - mais uma vez - os parâmetros para sua atuação ao vincular sua política de juros à recuperação na taxa do desemprego. Foi mais longe ainda ao elevar a meta para a inflação limite - agora 2,5% ao ano - que, se atingida, forçaria uma reversão na política monetária acomodatícia que prevalece há alguns anos.

O leitor pode imaginar os murmúrios e imprecações que devem estar sendo ouvidos nos corredores das instituições financeiras de Wall Street depois dessas decisões. Os marcos mais importantes que orientavam a atuação do Fed foram abandonados progressivamente nos últimos anos. A elevação da meta da inflação decidida agora representa um verdadeiro tapa na face dos conservadores.

No lugar das formas tradicionais de intervenção o Fed criou novos instrumentos de ação. Juros próximos de zero, recompras maciças de títulos públicos, linha de tempo para marcar compromissos com mudança de políticas foram os meios usados recentemente para enfrentar a recessão que se instalou na maior economia do mundo. Agora, a mais heterodoxa das medidas de combate ao elevado desemprego - que é a vinculação da política monetária a um nível mínimo de ocupação no mercado de trabalho - surpreendeu.

E preciso esperar um pouco para ver minha tese de recuperação mais sólida em 2013 e 2014 ser comprovada

Mas o mais difícil para os conservadores aceitarem - e que certamente está criando uma profunda melancolia dos velhos tempos - é que a inflação continua se reduzindo e não se acelerando. Afinal, já se vão quatro anos de política de juros baixos e crescimento soviético da quantidade de dólares em circulação nos mercados financeiros e a inflação não aparece. Tomemos o índice de preços ligados ao consumo dos americanos - chamado de PCE - e que é o indicador preferido do Fed para acompanhar a inflação. A taxa anual de variação dessa cesta de preços foi 1,5% em outubro de 2010, 1,6% em outubro de 2011 e 1,4% em outubro passado. Nessa última sexta-feira foram divulgados os índices de inflação relativos ao mês de novembro: apenas 1,8% superior ao do ano passado.

Claramente o Fed é hoje uma instituição totalmente controlada pelos seus membros mais heterodoxos, sob a liderança de Ben Bernanke. Os sucessos obtidos nos últimos anos - recuperação do crescimento e a ausência da inflação tão cantada pelos conservadores - têm aumentado a confiança da equipe na busca de uma vitória final e duradoura sobre a crise econômica que se seguiu à ruptura da bolha imobiliária em 2008. E tenho certeza de que, se o bom senso prevalecer nos partidos Republicano e Democrata, isto será conseguido ao longo de 2013.

Mas a grande vitoriosa, se isso ocorrer, será uma escola de pensamento econômico que tem por tradição uma leitura mais realista e livre das economias de mercado. Ao trocar dogmas rígidos, quase de fundo religioso, por uma metodologia aberta, os keynesianos se encontram em condição mais favorável para exercer sua profissão principalmente em duas situações: no início de períodos dominados pela euforia e durante os momentos em que os sentimentos que prevalecem são o medo futuro e de suas incertezas. Como vem ocorrendo nos últimos três anos.

A partir das primeiras batalhas teóricas de Lord Keynes contra os membros da chamada escola clássica, no início do século XX, essa forma de entender os fenômenos econômicos de mercado foi evoluindo. Depois de décadas no ostracismo, foi resgatada pela crise criada pela febre liberal, que atacou o mundo a partir de 2004. O dramático desses eventos é que foi o próprio Fed, com uma leitura radicalmente oposta à da direção atual, que funcionou como acelerador da crise instalada nas economias mais importantes do mundo. A crença na racionalidade intrínseca dos mercados e na necessidade de deixá-los com suas mãos livres para que o potencial de crescimento das sociedades seja atingido foi a marca dos quatro anos que antecederam a crise imobiliária americana.

Minha formação como economista sempre foi feita seguindo os conceitos e, principalmente, a metodologia de análise dessa escola de pensamento. Mas nunca fui dogmático e sempre procurei raciocinar com liberdade. E neste ano que se encerra, por seguir esses princípios, provei o gosto de muito acertos. O leitor do Valor pode acompanhar essas minhas "vitórias" no caso do colapso do euro, que eu nunca comprei, do "hard landing" na China, que nunca esperei, e da decadência final da economia americana, que nunca enxerguei. No caso do Brasil será preciso esperar um pouco mais para ver minha tese de uma recuperação mais sólida em 2013 e 2014 ser comprovada. Neste caso dependo ainda de que o governo deixe de lado alguns pontos de sua agenda econômica, principalmente o tabu das concessões de serviços públicos.

A crise de energia e suas causas - JOSÉ GOLDEMBERG


O ESTADÃO - 17/12


O sistema energético brasileiro foi montado ao longo dos últimos cem anos e funcionou relativamente bem até recentemente: o País gera quase toda a sua eletricidade em usinas hidrelétricas, uma fonte limpa e renovável de energia, e se tornou também quase autossuficiente na produção de petróleo.

A eletricidade foi introduzida no Brasil por empresas estrangeiras (e uns poucos empreendedores nacionais) no fim do século 19 e só começou a dar problemas quando, em meados do século 20, o governo federal impediu reajustes das tarifas que compensassem os investimentos. Investir em eletricidade deixou, então, de ser atraente para o setor privado.

A solução foi a criação da Eletrobrás e empresas estatais nos Estados, verdadeiras agências de desenvolvimento regional que - com recursos públicos - construíram usinas hidrelétricas. As empresas estatais do setor elétrico revelaram, no início, grande dinamismo, mas se tornaram burocráticas e pesadas. A tentativa do governo Fernando Henrique Cardoso de privatizá-las só funcionou parcialmente em razão de interesses das corporações que se formaram dentro e em torno delas. As distribuidoras, como a Light, foram privatizadas, mas a transmissão e a geração, de modo geral, permaneceram em empresas estatais.

No caso do petróleo, o País era totalmente dependente de importações até meados do século 20, mas a Petrobrás conseguiu nos levar quase à autossuficiência, o que foi um grande avanço. Contudo a euforia nacionalista criada pela descoberta de petróleo a grandes profundidades e no pré-sal levou a empresa a um programa gigantesco de obras que não era capaz de realizar sozinha, o que nos levou de volta à importação de combustíveis, a obras atrasadas e a uma queda do valor das ações da Petrobrás. Como o governo se recusa a reajustar os preços dos combustíveis desde 2007, a situação atual é que a empresa importa gasolina a preços internacionais - que subiram muito nos últimos anos - e vende essa mesma gasolina a preços congelados no nível de 2007, perdendo dinheiro e pondo-a no vermelho.

Uma consequência imediata dessa situação é a asfixia e morte lenta do Programa Brasileiro de Álcool, produzido a partir da cana-de-açúcar. Esse é o melhor programa de energia renovável que surgiu no mundo nos últimos 20 anos. Sucede que, como o petróleo e derivados subiram de preço internacionalmente, os insumos utilizados na produção de álcool - como fertilizantes - subiram também. Hoje é mais caro produzir um litro de etanol do que cinco anos atrás. Impedir o reajuste do preço do álcool, de forma que ele possa competir favoravelmente com a gasolina, torna inviável a sua produção, que já caiu de 27 bilhões de litros por ano para 22 bilhões em 2012. Com a atual política de preços dos derivados de petróleo sofre a Petrobrás, com prejuízos crescentes, e sofrem os produtores de etanol, pondo em risco mais de 1 milhão de empregos que essa atividade agroindustrial privada criou.

Os três pilares da política energética do País - eletricidade, petróleo e etanol - estão, portanto, em crise, causada por políticas equivocadas do governo da União adotadas nos últimos anos.

Como pôde isso acontecer depois de um século de relativo sucesso?

A resposta é relativamente simples: uma mistura de política e incompetência.

A influência política revela-se de duas formas:

Um nacionalismo exacerbado na exploração do petróleo, afastando parcerias com empresas internacionais com competência na área de pesquisa e produção em águas profundas;

e uma obsessão pela ideia da "modicidade tarifária" no custo da eletricidade, que tenta baixar as tarifas quando esses custos são crescentes e diferenciados. Os leilões para contratação de energia elétrica são sempre realizados pelo menor preço, independentemente de onde e da forma como ela é produzida, o que é um contrassenso, da mesma forma que seria exigir que qualquer tipo de carne (filé mignon ou costela) tivesse o mesmo preço no mercado.

As demandas por modicidade tarifária originam-se nos setores industriais eletrointensivos, como o de alumínio, que desejam tarifas mais baixas, e em setores populistas do governo, que tentam tratar a energia elétrica como se fosse uma "Bolsa-Família".

Essa política levou o governo a baixar uma medida provisória fixando exigências para a prorrogação por mais 30 anos das concessões de exploração das usinas hidrelétricas como um meio de baixar as tarifas. Tal medida se propunha a eliminar o custo exagerado - na visão do governo - da geração, uma vez que os investimentos feitos pelas concessionárias já foram pagos. Todas as questões relativas a acertos de contas e compensações pela extinção das atuais concessões parecem ter sido levadas a efeito por técnicos alheios aos problemas reais do setor, como se pode ver, por exemplo, quando a Eletrobrás reivindica compensações de cerca de R$ 30 bilhões e o governo estima que ela só tem direito a R$ 13 bilhões.

Ao que tudo indica, enfrentamos no setor de energia uma situação parecida com a que levou o presidente da França Georges Benjamin Clemenceau, durante a 1.ª Guerra Mundial, a declarar que a guerra "é uma coisa demasiadamente grave para se deixar nas mãos dos militares" - no caso presente, dos tecnocratas do setor energético.

Seria preciso que setores mais amplos da sociedade fossem ouvidos a respeito dessas questões, um dos quais é o Conselho Superior de Política Energética - praticamente desativado nos últimos dez anos e que se tornou, na prática, um órgão de homologação de decisões do governo.

Viés, cada um tem o seu - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO


O Estado de S.Paulo - 17/12


O dinheiro está trocando de mãos como raramente ocorreu. No Brasil e no exterior, o rentismo deixou de ser uma opção para multiplicar o patrimônio. Ao contrário, nos países desenvolvidos a remuneração do capital financeiro é negativa. Quem vive de renda fica mais pobre. O jeito de fazer o dinheiro dar cria é investir em novos e velhos negócios, ou seja, arriscar.

O risco é a justificativa moral do capitalismo quando acelera a redistribuição do patrimônio. Alguns novos negócios vão dar certo, mas muitos vão dar errado. E o dinheiro vai trocar de mãos ainda mais rapidamente. Tudo isso provoca desconforto. Rompe estruturas seculares, desconstrói estilos de vida, revoluciona a sedimentação social.

Com juro baixo ou negativo, é mais fácil ter dívida do que patrimônio. No Brasil, esse rearranjo provoca dores de parto e reações proporcionais às perdas. O impacto varia de setor a setor. Empresas voltadas para o mercado de consumo interno estão geralmente melhor do que as dependentes da economia chinesa, que por sua vez estão melhor do que concessionárias de serviços públicos ou aquelas reguladas diretamente pelo governo.

O intervencionismo pontual do Estado faz aumentar desigualdades. Beneficiários e prejudicados não são produzidos apenas pela aleatoriedade do mercado, mas pela caneta da burocracia. A grita aumenta não só por reação às injustiças, mas por ficar claro aos atores econômicos que quem não chora não mama.

No meio desse vendaval, alguns setores têm dose extra de drama. Estão sendo batidos pela revolução digital e experimentam a rápida agonia de suas fontes tradicionais de faturamento. Para esses setores, à perda das receitas financeiras soma-se o risco de perda do próprio negócio.

Por isso as percepções são muito díspares e dois observadores podem ter compreensões muito distintas do mesmo fenômeno. Depende de onde estão situados, do seu ângulo de visão do problema. Todo observador tem seu viés. O desafio é estar ciente dele e tentar compensá-lo reconhecendo outros pontos de vista.

Em novembro, o índice de confiança do consumidor alcançou seu patamar mais alto nos dois anos de governo Dilma Rousseff. Os confiantes acham que sua renda aumentou e vai continuar aumentando, não temem perder o emprego e planejam consumir mais. Estreitamente correlacionada ao INEC da CNI/Ibope, a popularidade da presidente também bateu recorde em dezembro.

Os 78% de aprovação presidencial são difíceis de compreender pelos 17% que desaprovam seu governo. Eles estão concentrados no Sul/Sudeste, nas periferias das metrópoles e entre quem tem diploma de faculdade, mas renda proporcionalmente mais baixa. As diferenças são pequenas, porém, tornando difícil isolar um fator que explique a desaprovação.

Os consumidores confiantes não estão sozinhos no seu otimismo. Os empresários do setor de serviços também estão mais confiantes do que nos meses anteriores, segundo a FGV. Entre eles, não por coincidência, destacam-se os prestadores de serviços para as famílias. Servidores e servidos têm a mesma percepção.

Entre os empresários da indústria, a confiança cresceu pouco no mês passado, segundo a CNI. O índice continua abaixo da sua média histórica. Entre os industriais, as diferenças de percepção são grandes. A confiança é 13 pontos maior no setor farmacêutico do que no de manutenção e reparação. É 10 pontos mais alta na indústria de limpeza do que na de extração mineral.

Quando há reacomodação traumática do dinheiro, a política é um canal de desafogo. Perdedores vão tentar cavar compensações com o governo ou se entrincheirar junto à oposição. As tensões aumentam, a corda estica. Posições se radicalizam e adversários se distanciam. Nesse cenário, as visões se estreitam e é mais difícil encontrar um campo comum. Diminuem os consensos e aumentam os conflitos. É o cenário para 2014.

'Unbrazilian'. "They are quite 'unbrazilian', very difficult to break!" A repórter da TV inglesa buscava uma explicação para a derrota do milionário Chelsea para um "pouco brasileiro" e "difícil de quebrar" Corinthians, na final do mundial de clubes. O time corredor, disciplinado e sem malabarismos não encaixa no estereótipo do futebol brasileiro de exportação.

O Corinthians chegou ao Japão graças à melhor campanha defensiva da história da Libertadores. Sem um Neymar, seu astro foi o goleiro. Nem por isso o time é menos brasileiro. No meio dos 20 mil torcedores corintianos em Yokohama, a faixa "the favela is here" (a favela está aqui) mostrava que o Brasil não cabe em um lugar-comum apenas.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 17/12

Rodada da ANP beneficiará os grandes, dizem entidades
Apesar de a 11ª rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estar agendada para o próximo ano, pequenos produtores de petróleo não estão satisfeitos.

A rodada beneficiará apenas as grandes empresas, diz Álvaro Teixeira, do IBP (instituto brasileiro de óleo e gás).

A entidade e a ABPIP ( associação dos produtores independentes) reuniram 12 associações vinculadas ao setor para enviar um documento à presidente Dilma Rousseff, a ministros e a autoridades do Legislativo.

Na carta, pedem a regulamentação da política para as pequenas e médias empresas.

"Essa política aguarda sanção presidencial", diz Alessandro Novaes, presidente da ABPIP. "Deveria ter sido publicada até abril de 2011."

Pequenos e médios produtores atuam em áreas terrestres, onde já há exploração de petróleo, que demandam menos tecnologia e recursos.

"Centenas de companhias poderiam estar investindo nessas áreas, desenvolvendo e interiorizando os recursos."

Hoje, menos de 20 empresas representam 1% da produção nacional. Nos EUA, 30 mil correspondem a 40% do total.

"Vemos extinção dos pequenos do setor em cinco anos, se nada for feito."

O setor de máquinas também se diz prejudicado pela demora na regulamentação da política. "Isso afeta toda uma cadeia", afirma o vice-presidente da Abimaq (de máquinas e equipamentos), José Velloso Dias Cardoso.

As compras de equipamentos para exploração de petróleo, afirma Cardoso, costumam ocorrer apenas cinco anos depois da licitação.

Ele lembra que o trabalho de exploração do combustível em terra não depende das regras de distribuição dos royalties e, por isso, a regulamentação já poderia ter sido feita.

A Abinee (da indústria elétrica e eletrônica) também assinou o documento. Paulo Sérgio Galvão, da entidade, diz que o atraso não tem atrapalhado o setor. "Mas é uma oportunidade de fornecimento que poderíamos ter."

"Vemos extinção dos pequenos do setor em cinco anos, se nada for feito"

ALESSANDRO NOVAES
presidente da ABPIP

"Isso [a demora na regulamentação da política] afeta toda uma cadeia"

JOSÉ VELLOSO DIAS CARDOSO
vice-presidente da Abimaq

NO VALE DO SILÍCIO LONDRINO
O consulado britânico em São Paulo vai lançar em janeiro o projeto Start-up Games Brazil, uma olimpíada para empresas inovadoras de cinco Estados brasileiros.

Duas start-ups de cada região que apresentarem os melhores planos de negócios serão levadas a Londres.

A primeira seleção será em janeiro. Algumas etapas e premiações ocorrerão até março e em maio as dez escolhidas vão concorrer com outras do mundo todo no Shoreditch Festival, na Tech City, onde farão workshops e encontrarão investidores. A Tech City fica no centro de Londres, uma área em que prédios antigos foram restaurados para abrigar empresas inovadoras.

"É o nosso Vale do Silício", diz John Doddrell, cônsul-geral britânico e diretor do UK Trade & Investment (UKTI) no país.

"Nossa ideia é estimular essas start-ups a se instalarem na Tech City. Lá podem compartilhar escritórios, o que facilita a troca de experiências, mas isso não será obrigatório", afirma.

O regulamento ainda está sendo elaborado, de acordo com Fabrício Mazzari, do UKTI Brazil.

EM SERVIÇO
No total, 883 empresas britânicas foram apoiadas pelo consulado em São Paulo no ano fiscal 2011-2012 -alta de 158% na comparação com o período anterior.

Outras 2.519 contrataram serviços dele. O número é 14% maior que o registrado nos 12 meses anteriores.

DECOLAGEM
A situação dos aeroportos preocupa os empresários brasileiros, segundo levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Para mais da metade deles, a reforma do sistema aeroportuário deve ser prioridade.

Entre as opções mais citadas aparecem também os portos, com aproximadamente 75%. A redução do custo de energia elétrica (73%), o transporte ferroviário (58%) e o licenciamento ambiental (53%) também ficaram entre os mais citados.

Transporte rodoviário (49%) e saneamento básico de água e esgoto (24%) são áreas menos lembradas entre as preocupações, de acordo com a pesquisa

O Brasil possui o pior sistema de infraestrutura de transporte aéreo dentre uma lista que compara 14 países com desenvolvimento semelhante ao brasileiro, segundo a CNI.

A má qualidade do sistema aeroportuário torna o Brasil o menos competitivo nesse quesito, atrás dos outros países dos Brics e também de alguns vizinhos como Argentina, Chile e outros, conforme a entidade.

Contrato vencido 
O processo de licitação para contratar agências publicitárias é tema de "A Publicidade na Administração Pública", do administrador de empresas Oscar Luiz Kita. O livro conta casos de companhias em suas tentativas de vencer um edital público.

Irrigar as prefeituras - ONIX LORENZONI

O GLOBO - 17/12


Não existe tipo algum de revanchismo histórico na proposta de nova distribuição de royalties pela exploração do petróleo. Os estados produtores, que por muito tempo foram beneficiados com a exclusividade, não terão que retornar retroativamente o que já receberam, ou se adaptar da noite para o dia a uma nova realidade orçamentária sem que haja uma transição responsável.

Relatório da AIE, Agência Internacional de Energia, com sede em Londres, projeta que o volume diário da produção petrolífera brasileira sairá dos atuais 2 milhões de barris/dia e alcançará 2,8 milhões em 2015; 4 milhões em 2020; 5 milhões em 2025; e 5,5 milhões em 2030. Se o bolo está crescendo, ele pode e deve, por uma questão de justiça, ser dividido em mais partes sem que ninguém seja prejudicado.

Uma das maiores campanhas de todos os tempos foi "O petróleo é nosso". Esta frase faz parte da cultura política brasileira desde os tempos do presidente Getúlio Vargas, ou seja, o governo federal há décadas já acena aos brasileiros com promessas de benefício econômico pela posse nacional das reservas de petróleo. Mais de 60 anos depois da perfuração do primeiro poço, em 1941 na Bahia, continuamos discutindo o significado de "nosso"; quem pode explorar, a quem podem ser distribuídos os royalties da exploração, quem fica com muito e quem não leva nada. De norte a sul do Brasil é necessário que se irriguem as prefeituras com os recursos dos royalties. Chegou o momento de se cumprir a promessa histórica que definiu a pluralidade sobre o benefício trazido pela riqueza do petróleo com o pronome "nosso".

A justiça que se tenta fazer aos municípios de todo o Brasil compensaria a inversão do nosso pacto federativo, que, em lei, lhes atribui muitas responsabilidades - obrigações como a educação, o saneamento básico, a limpeza urbana, a saúde.

A distribuição dos royalties amenizaria a carência das cidades e estados. O que incomoda a presidente Dilma, e motivou seu veto, é justamente o fato de que esses recursos seriam utilizados de forma autônoma, ou seja, a partir dos governos municipais e estaduais, sem fazer prefeitos e governadores reféns das práticas que obedecem à lei do "é dando que se recebe".

A lei vetada não cria nenhum tipo de insegurança jurídica. Os royalties são pagos de qualquer maneira pela empresa que explora petróleo. Alegar que o projeto vetado gera insegurança para investidores é um desses sofismas usados para impor posições políticas. Os acordos eleitorais de Lula com Cabral não são mais importantes que o interesse de toda a nação.

Ou fazemos justiça e escrevemos uma nova história, ou seremos mais uma vez vítimas de embates partidários e conchavos palacianos. Prefiro a primeira opção.