terça-feira, março 29, 2011

Viciados na bondade de estranhos - Revista Veja

Viciados na bondade de estranhos
O blog milionário de Bethânia
Revista Veja

Ou, mais precisamente, na caridade do contribuinte: os artistas consagrados que pedem
dinheiro público estão dentro da lei, mas fora dos limites da ética


Maria Bethânia e Gal Costa são duas das maiores intérpretes brasileiras. Nando Reis,
Ex-integrante do grupo de rock Titãs, teve suas composições-solo gravadas por cantoras
como Marisa Monte e Cássia Eller. O grupo Tchakabum não tem esse tipo de prestígio
(Kleber Bambam, vencedor do primeiro Big Brother, era louco por suas canções), mas
vende discos e lota shows. Nas últimas semanas, entretanto, esses artistas estiveram em
evidência não por suas eventuais qualidades, e sim pela indignação que provocaram quando
veio a público que estão entre os vários contemplados pelo Ministério da Cultura com
autorização para captar verbas acima de 1 milhão de reais por meio dos benefícios fiscais
previstos na Lei Rouanet (veja o quadro abaixo). Do pomo de vista legal. nada impede
que artistas consagrados busquem esse recurso. Nem que o Minc aprove seus projetos;
todos os processos citados correram dentro do escopo da lei. A questão que se apresenta é outra se é ético que os artistas peçam o que na prática não passa de subsídio estatal para sua carreira, e legítimo que o Minc acolha propostas como a que beneficia Maria Bethânia, para um blog em que a cada dia será postado um novo vídeo com ela declamando poesia. Até prova em contrário, a única coisa que o pÚblico de Bethânia espera dela é que cante. E esse público, aliás, é apenas uma fração de um conjunto bem maior, o dos contribuintes que a financiarão compulsória e involuntariam ente – muitos dos quais não têm interesse em ouvi-Ia cantar, muito menos declamar. Isso é, como bem definiu o músico Zé Rodrix, "usar o dinheiro de muitos para financiar a aventura pessoal de poucos".

A Lei Rouanet foi criada em dezembro de 1991 para estimular as empresas do país a
investir na área cultural e retirar parte desse ônus do estado. Como contrapartida, ela
permite abater até 4% do imposto devido. Ou seja, o dinheiro não sai dos cofres do
Ministério da Cultura - mas é, sim, dinheiro público que poderia ser aplicado tanto em
projetos culturais merecedores como em saúde, educação ou qualquer outro setor. Os
nomes mais conhecidos costumam sair ganhando com a Lei Rouanet porque, além do
desconto no Fisco, a vantagem para as empresas está em associar sua marca a um artista
que lhes dê projeção. Muito mais dificuldade encontram os projetos de música erudita e de
artistas iniciantes ou experimentais. De instrumento para movimentar a cultura, então, a Lei
Rouanet muitas vezes é brandida como ferramenta para o assistencialismo de privilegiados.
Poderia ser pior: certas correntes usam essas distorções na aplicação da lei como argumento
para pregar sua reformulação - segundo a qual o Minc seria empossado como distribuidor
de verbas, o que transformaria a pasta naquele vergonhoso balcão de negócios que era, por
exemplo, a extinta Embrafilme.

VEJA teve acesso aos requerimentos dos quatro artistas citados, bem como aos de Erasmo
Carlos, Zizi Possi e da filha de Elis Regina. São de causar espanto os valores pedidos por
alguns deles. Maria Bethânia, por exemplo, achou que merecia ganhar 600 000 reais para
ser diretora artística de seu próprio projeto, e pretendia remunerar o moderador do blog
com rendimentos finais de 120000 reais. Ga1 Costa, que vai realizar 25 ensaios e oito
shows para um tributo ao compositor Tom Jobim (já revisitado por ela em um passado
não tão distante), classificou como "populares" ingressos no valor de 50 a 100 reais. Já o
Tchakabum, em sua cruzada para divulgar o gênero neopagode, vai gastar 162000 reais em
cada um de seus dez shows gratuitos nas praias do Rio. Se não barraram essa festa toda,
os avaliadores do MinC ao menos corrigiram alguns valores. Os 600000 reais de Maria
Bethânia viraram 302500 e os 120000 do moderador do blog, 72000. Os ingressos de Gal
Costa baixaram para a faixa de 30 a 60 reais - que continua nada tendo de popular.

Em países como os Estados Unidos, é comum que os artistas retribuam um pouco do
carinho recebido nos primeiros anos de carreira. O ator Brad Pitt e o saxofonista Branford
Marsalis ajudam na construção de casas para os desabrigados em Nova Orleans. O ator
Jack Black, famoso por suas comédias escatológicas, contribui financeiramente com a
Filarmônica de Los Angeles. Tony Bennett, talvez o último grande cantor de jazz, criou
programas musicais em sete escolas de Nova York e fundou a Escola de Artes Frank
Sinarta na mesma cidade. Parti LuPone, artista que reina nos palcos da Broadway mas está
longe de ser milionária, é uma das principais colaboradoras da Juilliard School, emérita
formadora de músicos e atores do primeiro time. O artista brasileiro, por sua vez, sempre
dependeu da bondade de estranhos. Foi mimado nos tempos gordos da indústria fonográfica, ganhou fama e dinheiro com shows e ocasionais vendas de discos. E hoje, quando as transformações no mercado não o favorecem, acha que o estado lhe deve o favor de bancar seus sonhos. Mesmo que a cortesia seja feita com chapéu alheio - o de seu público. Em meio a essa guerra de vaidades e vontades, o Tchakabum até que faz menos feio: seus shows pelo menos serão gratuitos. O prejuízo do contribuinte, no caso, se concentrará mais no aparelho auditivo que no bolso.

Revolta impactante - Revista Veja

Revolta impactante
Revista Veja 

Omissão do estado, visão arcaica de alguns empresários e peleguismo de sindicatos provocam greves e vandalismo em grandes obras do Programa de Aceleração do Crescimento

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é o mais ambicioso projeto de infraestrurnra elaborado no Brasil desde o fim do regime militar. Lançado em 2007, com previsão de investimentos de 650 bilhões de reais, concentra mais de 13000 obras que serviriam para atenuar os gargalos que o país tem em transporte, logística, energia e saneamento. Nesses quatro anos, porém, o plano serviu muito mais como peça publicitária do governo anterior e como bandeira da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Falhas em licitações, dificuldades operacionais, corrupção e ineficiência fizeram com que menos
de 30% das obras estejam dentro do prazo previsto. Nas duas últimas semanas, um novo problema voltou a pôr o programa na berlinda. Greves e manifestações de trabalhadores paralisaram seis de suas principais obras. No total, 78000 operários cruzaram os braços, reclamando de baixos salários e más condições de trabalho. Há o temor de que a onda de protestos se espalhe ainda mais, pondo em risco as obras da Copa do Mundo de 2014 e da
Olimpíada de 2016.

O estopim de cada confronto varia, mas os motivos de fundo são os mesmos: a omissão do estado, a visão arcaica de parte do empresariado, a dificuldade logística. Acrescente-se a isso um fato novo: o peleguismo de sindicatos que, antes de o PT assumir o poder, eram aguerridíssimos na confrontação com o estado e os patrões. O caso mais emblemático é o da Usina de Jirau, a . 130 quilômetros de PortoVelho, em Rondônia. Descontentes, os operários depredaram e incendiaram 79 dos 148 alojamentos, além de pane da
infraestrutura da obra. O prejuízo é estimado em 500 milhões de reais. Além das queixas trabalhistas de praxe, os operários reclamam da truculência dos seguranças, da falta de transporte e do livre comércio de crack e cocaína no canteiro - o que só é possível porque o estado não está cumprindo seu papel de oferecer segurança. Está certo que é uma empreitada hercúlea erguer uma hidrelétrica no meio da Amazônia, numa região distante dos principais centros de abastecimento e serviços. Para se ter uma ideia, apenas para alimentar
22000 operários de Jirau, são servidas diariamente 18,5 toneladas de arroz, feijão e carne. Mas é inaceitável que as empresas não se preparem adequadamente para enfrentar os desafios de logística e que o estado abra mão de cumprir suas obrigações. O motim em Jirau estendeu-se à Usina de Santo Antônio, também em Rondônia, cuja construção ficou paralisada durante toda a semana.

Obras com a magnitude de Jirau e Santo Amônio provocam uma migração em massa que. se não for acompanhada de ações efetivas do poder público, pode criar cenários caóticos. E o que acontece em Jaci-Paraná, distrito de Porto Velho, próximo a Jirau. Antes do início da obra, em 2008, a população era de 9700 pessoas. Agora, é de 21000. Entre os forasteiros, há traficantes e. obviamente, prostitutas: O distrito, em que existia apenas um prostíbulo,
hoje tem mais de quarenta. Com a presença dos peões nos fins de semana, o consumo de álcool e droga explode e a criminal idade atinge picos "Todas as ocorrências - furto, tráfico ê homicídios - triplicaram desde que : usina começou a ser construída", diz o policial Rivaldo Ramos. Jaci-Paraná tem apenas seis ruas asfaltadas, não é abastecida com água encanada e só dispõe de um posto de saúde. "O movimento aumentou em seis vezes. Ames, eu atendia no máximo duas adolescentes grávidas por mês. Hoje, atendo seis", conta Eliane Faial, técnica em enfermagem do posto de saúde, evidenciando mais um problema que chegou com a obra: a prostituição infantil. O estado simplesmente se omite diante desse quadro.

O Brasil, com suas dimensões vastas, áreas remotas e histórica falta de planejamento, é marcado por grandes projetos que, invariavelmente, resultam em conflitos - inclusive por questões culturais. Nos anos 1920, o industrial americano Henry Ford criou a cidade de Fordlândia, na Amazônia, com a intenção de produzir borracha. Logo de início, decretou a lei seca e demoliu bordéis. Os moradores se rebelaram e destruíram as instalações da
empresa. Na construção de Brasília, no fim da década de 50, um protesto de candangos por causa da alimentação resultou em dez mortes. Atualmente, com a melhor qualificação dos operários, o nível de exigência de condições mais satisfatórias de trabalho é ainda maior. "Os operários não se limitam às mesmas reivindicações do século passado. Hoje, eles têm mais acesso à informação e sabem que, neste bom momento econômico, dificilmente faltará emprego", afirma o historiador Marco Antonio Villa.

Esse nível mais alto de exigência pode ser verificado também nos protestos em três grandes obras no Nordeste: a refinaria e a petroquímica de Suape, em Pernambuco, e a usina termelétrica de Pecém, no Ceará. Os operários iniciaram as paralisações para reivindicar participação nos lucros e aumento no valor das horas extras - exigências impensáveis há uma década. No caso de Pernambuco, o sindicato foi contrário ao movimento, o que motivou uma baralha campal. Um operário foi baleado e o canteiro virou terra arrasada.
Esse é outro ponto comum nos conflitos. Os sindicatos têm como única preocupação defender o governo do PT, do qual recebem uma dinheirama, e recolher em dia as contribuições do imposto sindical. Só nas obras de Rondônia, o valor da contribuição compulsória gira em tomo de I milhão de reais por ano. As empresas responsáveis pelas obras negam que os canteiros sejam precários, mas dizem estar dispostas a negociar. Com o início do diálogo, a situação começou a voltar ao normal. Que as desordens sirvam de lição para projetos futuros.

CLÓVIS ROSSI

Tudo pronto, só falta combinar com Gaddafi
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO ONLINE

A ampla coalizão anti-Gaddafi que se reuniu em Londres nesta terça-feira deixou perfeitamente delineado o que fazer agora: o ditador líbio renuncia; estabelece-se um diálogo nacional, a princípio sem excluir os partidários do regime, exceto, claro, os da primeira fila; e em um prazo incerto e não sabido a Líbia terá eleições justas e livres, o selo com que a comunidade internacional avaliza pleitos em países problemáticos.

Seria, pois, a menos suja de todas as guerras recentes e não tão recentes.

Só falta combinar com os russos, ops, com Gaddafi.

Até agora, o ditador não deu o mais leve sinal de que vai abandonar o poder. Em todo o caso, a Itália parece estar negociando uma saída que envolva asilo em algum país africano, no qual estaria fora do alcance do Tribunal Penal Internacional, que vai investigar se Gaddafi cometeu crimes de guerra.

É inimaginável que o ditador se decida a abandonar o poder se houver algum risco de que seja entregue ao TPI.

Por isso, Franco Frattini, o ministro italiano do Exterior, diz que "Gaddafi deve compreender que seria um ato de coragem dele dizer que entende que deve sair". Acrescentou Frattini: "Esperamos que a União Africana possa apresentar uma proposta válida" [para o asilo do tirano].

É bom ressaltar que a Itália, por ter sido o poder colonial lá atrás e, mais recentemente, o mais íntimo aliado de Gaddafi, é o país ocidental mais bem informado a respeito do que acontece na Líbia.

Messiânico como se mostra, é pouco provável que Gaddafi aceite que uma renúncia possa ser rotulada como "ato de coragem".

Por isso, o "script" da coalizão anti-Gaddafi, por mais bonitinho e asséptico que seja, corre o risco de descarrilar no primeiro passo, que é justamente a saída do ditador, o que, em tese, traria o fim da guerra.

Criar-se-ia, nesse caso, a situação assim descrita por Tarak Barkawi, do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Cambridge, em artigo para o 'site' da rede Al Jazeera, a melhor fonte de informação sobre o quadro no Oriente Médio:

"O Ocidente agora se arrisca a criar uma situação em que nem autoriza nem cria as condições para que os rebeldes derrubem Gaddafi nem pode fazê-lo ele próprio".

O único problema com essa frase é a palavra "Ocidente". Da reunião de Londres participaram países que não são ocidentais, casos de Jordânia, Kuait, Líbano, Marrocos, Qatar, Tunísia, Turquia e Emirados Árabes Unidos, para não mencionar o secretário-geral da Organização da Conferência Islâmica, o embaixador da Liga Árabe em Londres e um observador da Indonésia, o país com a maior população muçulmana no planeta.

Ou seja, a coalizão anti-Gaddafi tem uma representatividade bastante grande. O Qatar, aliás, ofereceu-se para sede da próxima reunião do que passou a ser chamado de 'grupo de contato', ou seja, o diretório que vai cuidar de trabalhar a Líbia pós-Gaddafi.

O problema, no entanto, não é o "pós" mas o agora.

BRUNO E BRENO

Bruno e Breno...

Bruno e Breno eram um casal gay apaixonadíssimo.Eles se adoravam, tinham bons empregos, viviam juntos em um belo apartamento... Enfim, eram muito felizes. Certo dia, Breno estava de folga e ficou em casa, enquanto Bruno foi trabalhar.
Breno, então, resolver fazer uma linda surpresa para o seu amado.Enquanto Bruno estava no trabalho, Breno foi a uma clínica de tatuagens e mandou tatuar duas letras bês (B) enormes, uma em cada nádega. No lado esquerdo, a letra inicial de Breno; no lado direito, a letra inicial de Bruno.
Breno achou que isso seria uma prova inequívoca de seu amor por Bruno, pois as iniciais do casal ficariam para sempre gravadas em sua bunda. Feliz, com as duas letras 'B' tatuadas na bunda, uma em cada lado, Breno voltou pra casa no final da tarde, com a intenção de fazer a surpresa para Bruno.
Breno então foi para o quarto, tirou a roupa, e, na hora em que ouviu o barulho de Bruno entrando em casa, ficou de quatro em cima da cama, com a bunda tatuada voltada para a porta do quarto, numa posição quase que ginecológica.
Bruno então entrou no quarto, viu aquela bunda tatuada virada pra ele e parou, estupefato, mal acreditando no que via. Breno, sorrindo, perguntou?
- E aí, amor, gostou?
E Bruno, sem conseguir conter uma lágrima que descia pelo seu rosto,soluçando, limitou-se a perguntar:
- QUEM É BOB?*

PEDRO WERNECK

Como gastar seu bilhão?
PEDRO WERNECK
O Globo - 29/03/2011

Em agosto do ano passado, 40 milionários dos Estados Unidos aceitaram doar a metade de suas fortunas para obras de caridade, em resposta a um pedido de Bill Gates e Warren Buffett, dois dos homens mais ricos do mundo. David Rockefeller, Ted Turner e Michael Bloomberg estão entre os ricaços que se juntaram à iniciativa.

O americano Gates e o mexicano Carlos Slim, sempre no topo da lista mundial dos abastados, anunciaram doações de US$150 milhões para combater desnutrição, dengue, malária e outros problemas de saúde no México e na América Central. A iniciativa deve favorecer até 10 milhões de pessoas.

Agora, sete meses depois, a revista americana "Forbes" acaba de anunciar a nova lista de bilionários do mundo. Entre eles, estão 30 brasileiros, sendo que 12 figuram no ranking pela primeira vez. Na prática, mais de 60 bilhões de dólares estão nas mãos de menos de 20 brasileiros.

Sem querer colocar o dedo na cara de ninguém, as perguntas inevitáveis que ficam para nós, brasileiros, são: qual o destino que nossos conterrâneos darão às suas fortunas? Em outras palavras: qual o compromisso de nossos bilionários com o desenvolvimento social do Brasil e do mundo?

Infelizmente, os brasileiros - especialmente os mais favorecidos financeiramente - ainda são muito retraídos quando o assunto é doação para ações sociais. Há poucas semanas, por exemplo, um grande jantar beneficente reuniu os melhores chefs de cozinha do país em prol das vítimas das chuvas na Região Serrana. Os organizadores tiveram dificuldades em juntar 100 pagantes para arrecadar R$250 mil. Paralelo a isto, nossos ricos de plantão não se furtam em estampar as capas das revistas e jornais com suas novas bolsas de R$40 mil. Onde estão nossos bilionários na hora de cumprirem com suas responsabilidades sociais?

Contraditoriamente, o brasileiro tem grande prazer em ajudar; seja um turista perdido na rua, seja em momentos de grande calamidade nacional, como nas já citadas chuvas fluminenses. Está na nossa cultura o comportamento colaborativo. Mas isso precisa se tornar uma prática mais extensiva e, acima de tudo, constante, para que as centenas de projetos sociais importantíssimos deste país tenham continuidade.

Participar é muito mais simples do que se supõe. A Receita Federal, por exemplo, permite que parte do seu Imposto de Renda se destine ao Fundo da Infância e da Adolescência, cuja arrecadação permanece no Estado do Rio de Janeiro e é investida em projetos que beneficiam crianças e adolescentes de baixa renda. Basta querer. Que fique claro: para ajudar, não é preciso ter bilhões. 

PEDRO WERNECK é empreendedor social e presidente do Instituto da Criança.

JANIO DE FREITAS

Direitos mortais
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/03/11

É IMPOSSÍVEL CRER QUE A INTERVENÇÃO NA LÍBIA NÃO TENHA PASSADO DE PROTETORA A CAUSADORA DE MORTES

Durou pouco a impressão de que se tornavam válidas as regras da ONU para regular situações de emergência violenta, como a irrompida na Líbia. Os Estados Unidos de George Bush ocuparam o Iraque por decisão própria, encandeceram o Afeganistão da mesma maneira, e a ONU foi incapaz de uma atitude, por mínima que fosse, em defesa das regras que representa.
A situação líbia trouxe de volta a intervenção só efetivada depois de sua aprovação, por voto, pelo Conselho de Segurança.
Uma qualidade adicional desse retorno às regras foi observado, de passagem, pelo veterano jornalista Enrique Müller, chileno radicado na Alemanha: pela primeira vez, o Conselho de Segurança aprovara uma intervenção invocando a defesa de direitos humanos.
Tratava-se de proteger a população civil dos ataques de Gaddafi aos rebeldes. E assim ficou claro mesmo na imprecisa resolução do conselho, que autorizou, para tanto, a criação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia e o embargo de armas para Gaddafi.
A queda do ditador pode justificar-se já por evitar a feroz represália que adviria de sua permanência. Mas, do modo como é buscada, invalidou a resolução do Conselho de Segurança. Franceses e ingleses, e em menor proporção os americanos, abrem a fogo o caminho para o avanço dos rebeldes.
Incluíram-se como partes da guerra, não mais agentes de inquietações humanitárias com a vitimação de civis.
Antes do passo além, França, Inglaterra e Estados Unidos poderiam submetê-lo ao Conselho de Segurança com certeza quase absoluta de aprovação. Tanto por serem fáceis os seus argumentos quanto por estar já o conselho comprometido com a empreitada, sendo-lhe conveniente apressar o fim. Preferiram voltar a Bush do que à ONU.
Além disso, e principalmente, a própria secretária de Estado americano, Hillary Clinton, reconheceu haver sinais da disposição de Gaddafi para negociar sua saída. Não haverá como justificar que essa, sem ter sido a prioridade antes da intervenção bélica, continue não o sendo.
É impossível crer que a intervenção não tenha passado, ao exceder a resolução 1973, de protetora a causadora de mortes de civis, talvez tantas quanto fazem as tropas de Gaddafi. Nunca se saberá.
E já que os direitos humanos ficaram no papel, qual é o plano para depois de Gaddafi? Uma intervenção não seria má ideia para os interesses franceses, ingleses, italianos e, como sempre, americanos.

DEVAGAR
O governo tarda em dar palavras práticas, além das policiais, sobre as insurgências nas obras das hidrelétricas. Parece esperar que a eclosão se estenda a obras de outro tipo, onde os motivos de fermentação são os mesmos de todas as atividades das grandes empreiteiras.
Já era tempo de ouvir-se uma série de obrigações a serem cumpridas, a partir de agora, por esses maus empregadores. A legislação do trabalho já sugere boa quantidade. E completá-la não exige esforço, tão grosseiras são as carências nesse gênero de trabalho, próximo de uma escravidão em tempos modernos.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Dilma, a Vale e a sombra de Lula

EDITORIAL

O Estado de S.Paulo - 29/03/11

O governo venceu, depois de quase dois anos e meio de campanha contra o presidente da Vale, maior empresa privada do Brasil, segunda maior mineradora do mundo e líder mundial na extração de minério de ferro. Roger Agnelli deixará o posto, afinal, porque o Bradesco desistiu de enfrentar a pressão do Palácio do Planalto. Sem a rendição do banco, o governo federal não teria os votos necessários para forçar a mudança na cúpula da empresa. O acordo foi concluído em reunião do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com o presidente do conselho de administração do Bradesco, Lázaro Brandão, na sexta-feira. O resultado já era dado como certo por fontes do governo e, portanto, não surpreendeu. Mas a disputa em torno da presidência da mineradora foi muito mais que um embate entre dois grandes acionistas. Este é o ponto mais importante, não só para os diretamente envolvidos nesse confronto, mas, principalmente, para o País.

Se houve algo surpreendente, não foi a rendição do Bradesco, na semana passada, mas sua longa resistência. Há uma enorme desproporção de forças entre o governo federal e uma instituição financeira privada, mesmo grande. Os dirigentes do banco acabaram levando em conta seus interesses empresariais e os possíveis custos de um longo confronto com as autoridades. A pressão exercida a partir do Palácio do Planalto foi "massacrante", segundo uma fonte do banco citada pelo jornal O Globo.

Ao insistir no afastamento de Roger Agnelli, a presidente Dilma Rousseff seguiu no caminho aberto por seu antecessor. Derrubar o presidente da Vale foi um dos grandes objetivos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Desde o agravamento da crise internacional, em 2008, quando a Vale anunciou a demissão de cerca de 1.300 funcionários, as pressões contra os dirigentes da empresa foram abertas. Além de se opor às dispensas, o presidente da República passou a exigir da Vale maiores investimentos em siderurgia.

Seria preciso, segundo ele, dar menos ênfase à exportação de minério e realizar um maior esforço de venda de produtos processados. Em sua simplicidade, o presidente Lula nem sequer levou em conta a enorme capacidade excedente da indústria siderúrgica, não só no Brasil, mas em escala mundial.

Mas nem é o caso de examinar o mérito das ações defendidas pelo presidente da República e por seus estrategistas. Se essa discussão valesse a pena, os argumentos teriam ocupado espaço na imprensa e os principais dirigentes da Vale com certeza os teriam examinado, com a mesma competência demonstrada ao promover o crescimento da empresa desde sua privatização. O ponto importante é outro.

O presidente Lula agiu como se fosse atribuição de seu gabinete administrar tanto as estatais quanto as grandes companhias privadas. Deu ordens a diretores da Petrobrás e censurou-os publicamente. A imprudente associação da Petrobrás com a PDVSA para construir a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. é fruto do cumprimento de uma dessas ordens. Aliás, nem sempre os dirigentes da estatal conseguiram seguir as determinações de Lula - a preferência a fornecedores nacionais, por exemplo - porque isso comprometeria seu trabalho.

Um presidente sensato não se meteria sequer na administração de uma estatal grande e complexa. Muito menos se atreveria a ditar políticas para empresas privadas também grandes, complexas e bem-sucedidas como a Vale e a Embraer, mas a autocrítica e o sentido de proporção nunca foram grandes atributos do presidente Lula. Além do mais, sentimentos como esses acabariam facilmente sufocados pelo objetivo maior: comandar de seu gabinete várias da maiores empresas brasileiras. Se bancos federais se meteram onde não deveriam, comprando, por exemplo, participação no Banco Panamericano, foi para atender a essa concepção de poder.

A presidente Dilma Rousseff já mostrou, em mais de uma ocasião, diferenças importantes em relação a seu antecessor e grande eleitor. Neste caso, no entanto, quando se trata da fome de poder e da ambição centralizadora, a continuidade da política anterior parece garantida.

JAIRO NICOLAU

Entre Brasília e Vanuatu 
JAIRO NICOLAU
O GLOBO - 29/03/11

Convido o leitor a fazer um teste: pergunte a um amigo se ele conhece a regra para a eleição de deputados e vereadores no Brasil. Sei que a pergunta pode soar tão estranha para alguns como se lhes fosse pedido para explicar como os pontos são computados em uma partida de beisebol.
Até onde eu sei, nenhuma pesquisa avaliou o conhecimento que os eleitores têm sobre o sistema eleitoral em vigor no Brasil. Mas, pela minha experiência em fazer esta pergunta em diversas audiências, imagino que o seu interlocutor dirá que não sabe ou, alternativamente, dirá que os mais votados são eleitos; ou seja, numa eleição para deputado federal no Rio de Janeiro, elegem-se os 46 nomes mais votados do estado. Quase ninguém responderá que temos um sistema de representação proporcional e que o mais importante é saber quantos votos cada partido obteve nas eleições. 
Sei que é um tema muito específico, mas a desinformação sobre ele é muito grande. Minha sugestão é que a forma de votação no Brasil contribui para essa confusão. No dia da eleição somos convidados a votar em uma lista de nomes para diversos cargos. Se os cargos mais importantes para os eleitores (presidente, governador, prefeito e Senador) são eleitos pelo voto majoritário, por que não aconteceria o mesmo com vereadores e deputados? Daí a surpresa de um eleitor do Tiririca, ao saber que seus votos ajudaram a eleger deputados do PT e do PCdoB, partidos que concorreram coligados. 
A representação proporcional, na versão que conhecemos, está em vigor no Brasil desde 1945. A meu juízo ela foi fundamental para a democratização do país, pois deu espaço no Legislativo a vozes emergentes (do PT às novas lideranças pentecostais), serviu para renovar a política brasileira e conferiu aos partidos representação aproximada a seu peso eleitoral. Claro que a representação proporcional deve ser aperfeiçoada e existem excelentes ideias em debate no Congresso para fazê-la. 
A visão predominante entre os eleitores, de que os deputados são eleitos por um sistema de maioria, recebeu recentemente um nome prosaico: distritão. Além disso, passou a ser defendida por alguns políticos como opção para o Brasil. O principal argumento é que ele é simples e mais democrático, pois garante a eleição dos mais votados no estado, independentemente dos partidos. 
O deputado tem razão em um aspecto: o sistema é simples. Mas está longe de ser o mais democrático. Entre os 88 países considerados livres (Freedom House, 2010), o distritão está em vigor em apenas um: Vanuatu. Uma ilha do Pacífico, com apenas 208 mil e que utiliza este sistema há poucas eleições. 
Se a experiência de Vanuatu com o distritão não nos ajuda muito, temos bons estudos sobre o Japão - país que utilizou este sistema por mais tempo (1948- 1993). O antigo sistema eleitoral do Japão foi responsabilizado por muitos dos problemas que afetaram o sistema político e levaram a uma grave crise institucional em 1992: clientelismo extremo, dificuldade de os partidos coordenarem os candidatos nas campanhas e corrupção eleitoral. 
É sempre difícil antever efeitos de novas regras eleitorais. Mas dois parecem inevitáveis, caso este sistema seja adotado no Brasil: enfraquecimento dos partidos e aumento do custo das campanhas. 
Os partidos passariam a servir como organizações apenas para selecionar nomes para a disputa, e as eleições passariam a ser uma corrida entre centenas de candidatos; é interessante lembrar que um candidato com votação expressiva não transfere seus votos para outro nome do partido. Em uma disputa tão personalizada e competitiva entre nomes é bastante provável que as campanhas se tornem muito mais caras do que as que são feitas hoje em dia. 
Boa parte do debate sobre reforma eleitoral feito no Brasil nos últimos anos se concentrou na discussão de como tornar os partidos mais fortes e as eleições mais baratas. Se me perguntassem a respeito de um sistema eleitoral no qual eu teria certeza de que isso não aconteceria, não teria dúvida nenhuma em dizer: distritão. 

JAIRO NICOLAU é cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

BRAZIU: O PUTEIRO

ALON FEUERWERKE

Difícil de torcer
ALON FEUERWERKE

CORREIO BRAZILIENSE - 29/03/11

A fila andou e a turma percebeu que a onda revolucionária árabe, esperada para pôr fim à influência neocolonial, pode bem transformar-se num ativo do chamado Ocidente, para derrubar regimes despóticos que estejam a desafiá-lo
Não é bem politicamente correto escrever sobre diversão numa guerra. Mas que é divertido é observar o contorcionismo dos premidos a tomar posição em cada um dos conflitos no mundo árabe e islâmico.
Alguns exultaram quando a coisa começou na Tunísia e propagou para o Egito. Eram, para esses alguns, as massas árabes despertando do sono, para pôr termo à dominação imperialista e à opressão de elites políticas, econômicas e militares aliadas aos Estados Unidos.
Eram os tempos de uma Praça Tahrir intocável. E a esperança desses alguns cresceu quando o tsunami chegou ao Barein, estrategicamente posto entre a sunita Arábia Saudita e o xiita Irã.
Ali coabitam uma grande base militar americana e um abacaxi político: a minoria sunita oprime a maioria xiita. Mais ou menos como era o Iraque antes da invasão americana.
Derrubado e enforcado Sadam Hussein, veio um sistema eleitoral que transferiu o governo à coligação majoritária curdo-xiita.
Para esses alguns tudo ia bem no tsunami árabe, inclusive com focos de perturbação na ultrapetrolífera Arábia Saudita, até que começou a ir mal. A convulsão propagou-se para a Líbia do aliado Muamar Kadafi e deu um salto de qualidade.
Virou guerra civil, facilitada pelo fato de a Líbia não ser propriamente um país. É (ou era) uma aglomeração de tribos mantida pela força da ditadura. Como o Iraque de Hussein antes do desembarque americano.
E vieram a reunião do Conselho de Segurança que autorizou a intervenção externa contra Kadafi, a intervenção em si e a propagação do tsunami para a Síria, coisa que nove entre dez analistas consideravam altamente improvável.
Na Síria, quem controla o poder ditatorial é uma minoria alauíta xiita, que oprime a maioria sunita.
Depois da Líbia e da Síria, esses alguns não estão mais tão felizes assim com as revoltas no mundo árabe e islâmico.
No caso líbio, aliás, houve quem tentasse bloquear no CS a autorização para a guerra contra Kadafi, mas não acharam sócios. Ninguém quis ser fiador do genocídio da oposição líbia.
Os candidatos a espertos, incluído o Brasil, lavaram as mãos e reservaram-se o direito de reclamar depois, para emitir as conhecidas declarações de princípio cujo efeito prático é nenhum.
O Brasil superou-se quando pediu um cessar-fogo “no mais breve prazo possível”. Cessar-fogo ou é imediato ou não faz sentido. Quem vai definir, a cada momento, se já é “possível”?
A fila andou e esses alguns perceberam que a onda revolucionária árabe, esperada para pôr fim à influência neocolonial, pode bem transformar-se num ativo do chamado Ocidente para derrubar regimes despóticos que estejam a desafiá-lo.
No fim, quem vai poder mais chorará menos. Na Líbia, Kadafi, sua ditadura cleptocrático-familiar e seu Livro Verde já carimbaram o passaporte. A dúvida é como vai ser o desfecho.
A Síria entrou na alça de mira e outros já pegaram o papel na maquininha que distribui senhas. Não é mesmo fácil achar um jeito de torcer sem sustos nessa confusão levantina.

Falta algo
Muito barulho pela substituição no comando da Vale. Mas se a maioria do capital votante quer trocar o presidente, que troque.
O governo acha que a Vale se preocupa demais com a lucratividade e de menos com agregar valor ao produto. Está mais voltada para os acionistas do que para as vontades do governo.
Mas se o governo e agregados têm poder de fogo para trocar o presidente da companhia têm também para definir os rumos dela. Quem pode o mais pode o menos.
O que falta no debate é isso. O governo esclarecer o que deseja mudar na condução da empresa. 

ANCELMO GÓIS

Multi da bola
ANCELMO GÓIS
 O GLOBO - 29/03/11

A Traffic, empresa de marketing esportivo de J. Hawilla, vai criar uma nova liga de futebol profissional nos EUA. Trata-se da NASL (North American Soccer Ligue), nome da liga na qual Pelé jogou nos anos 1970. O primeiro campeonato será já este ano, com oito clubes. A Traffic controla 70% do capital. 

Mesa de amigos 

Antônio Patriota e Celso Amorim, o atual chanceler e o ex, almoçaram semana passada no Itamaraty. O clima era de velhos amigos, 
embora fique cada vez mais claro que Dilma difere de Lula na política externa, ao defender, com mais ênfase, os direitos humanos. 

Fator Lessa
A compra pelo BNDES, na gestão de Carlos Lessa, de 8,5% do capital da Valepar, que ampliou o controle estatal da Vale, foi um dos melhores negócios da história do banco. A fatia, que custou ao BNDES R$ 1,5 bilhão em 2003, hoje vale uns R$ 35 bilhões.

Calma, gente 
Alguns moradores do Santa Mônica Jardins, condomínio de bacanas da Barra da Tijuca, no Rio, têm implicado com Ronaldinho Gaúcho, seu mais novo vizinho. Reclamam de festas com grupos de pagode, tocando a todo volume até tarde.

O mesmo sapato

A Rádio Sapataria diz que Arezzo e Santa Lolla Calçados estão em processo de fusão, a segunda comprada pela primeira.

Debret & Cia.
Romaric Büel, francês apaixonado pelo Rio, vai escrever um livro sobre a Missão Artística Francesa ao Brasil, em 1816, que impulsionou as belas artes por aqui. Fechou contrato com a editora Civilização Brasileira.

Casal 20 da música
Pela primeira vez em “48 anos de namoro”, como definiu Francis Hime, ele e a mulher, Olívia, vão gravar um CD só dos dois. No repertório, “Paciência”, de Lenine, e a “A ostra e o vento”, de Francis e Chico Buarque. O disco chega às lojas no Dia dos Namorados. Faz sentido. 

Amor no trabalho 

Veja como é grande a demanda por saliência no ambiente de trabalho. Numa pesquisa da consultora Waleska Farias, que presta erviços para graúdas como Pão de Açúcar, Habib’s, Globosat etc., o veto a relações afetivas aparece entre as dez razões mais citadas para os pedidos de demissão. Opinaram 42 gestores, homens e mulheres, de 28 a 53 anos. 

Aliás...
Como se diz em Frei Paulo, “onde se ganha o pão... não se come a carne”. Mas há controvérsias.

Cabral
O governo do Rio vai lançar um programa de erradicação da miséria no estado. A Secretaria de Assistência Social prepara um projeto nos moldes do Bolsa Família. Deve começar por São Gonçalo e pela Baixada Fluminense. 

Via Dutra

O badalado restaurante paulista Due Cuochi procura espaço na Barra para abrir filial no Rio. 

N@o me toque 

Amanhã, às 19h, na praça do Bairro Peixoto, em Copacabana, uma turma que faz blogs vai promover um ato de repúdio à tentativa de assassinar o blogueiro
Ricardo Gama, conhecido pelas denúncias contra políticos. A manifestação foi batizada de “Não toque nos blogueiros”. Beira-Mar.com
O juiz Erik Navarro Wolkart, da 7a- Vara Criminal do Rio, marcou para 2 de maio o julgamento de Fernandinho Beira-Mar por tráfico internacional de drogas. O bandido será ouvido por videoconferência, da prisão onde está, no Rio Grande do Norte. 

Ele merece
O Conselho da UFRJ aprovou por aclamação um título de doutor honoris causa para o grande pianista Nelson Freire. 

Maresia
Uns homens na faixa dos 30 anos tumultuaram a plateia lotada do show de Seu Jorge, sábado, no Circo Voador, no Rio. Fizeram uma roda e empurravam quem estivesse perto para cercar uma famosa atriz que queria fumar maconha em paz. 

ZONA FRANCA
 As instalações do Centro de Controle Operacional de Abastecimento de Água da Barra, Recreio e Jacarepaguá foram viabilizadas pelo Termo de Cooperação Técnica firmado entre Cedae e Ademi.
 José Antônio Teixeira Marcondes, oficial do 5o- RI do Rio, recebe amanhã comenda do STM. 
 O poeta Joilson Pinheiro concorre no Edital Novos Autores com o romance “Amor e traição no Calabar”.
 Moacyr Luz toca hoje no Ginástico. 
 A Unisuam patrocina concurso Comida di Buteco.
 O convênio Petrobras/Guapimirim, hoje, terá coquetel Arte dos Sabores.
 Osmar Milito apresenta Mauro Senise no happy hour do Novo Mundo.
 Martinho da Vila recebe prêmio Melhor Cantor 2010 da APCA, amanhã.

JAPA GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

PLANILHA AÉREA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/03/11

O aeroporto de Viracopos, em Campinas, também poderá ser ampliado por meio de uma PPP (Parceria Público-Privada). A ideia do novo presidente da Infraero, Gustavo do Vale, é avançar com os estudos depois que parceria semelhante já estiver sendo implantada para a construção do terceiro terminal do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Vale anunciou esta primeira PPP na semana passada, ao tomar posse.

NA MESMA
Já o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, deve seguir administrado exclusivamente pela Infraero. O diagnóstico é que ele opera com 70% da capacidade e que as obras já em curso são suficientes até 2018.

NA ESPERA

A presidente Dilma Rousseff recebeu "algumas informações" de que um grupo de empresários brasileiros poderia patrocinar a volta definitiva do quadro "Abaporu", de Tarsila do Amaral, ao Brasil. Eles comprariam a obra do Malba, museu da Argentina que, em 1995, adquiriu o quadro. "São apenas informações, não confirmadas. Mas nós gostaríamos muito", disse Dilma à coluna.

A COPA DOS PEQUENOS

O Sebrae e a FGV estão realizando um mapeamento das oportunidades que a Copa de 2014 pode gerar para as pequenas empresas. Divulgam hoje resultados para construção civil, teconologia da informação, turismo e atividades relacionadas (como artesanato e gastronomia). Foram identificadas até agora 452 oportunidades.

DE VIDRO A ROUPA SUJA
Na construção civil, o Sebrae espera capacitar, por exemplo, pequenos fabricantes de vidro, para abastecer obras nas mesmas regiões dessas empresas. Calcula que, por ser um material frágil, seu transporte para longas distâncias é mais caro e difícil, favorecendo os empreendedores locais. As empresas de TI poderiam desenvolver softwares de gestão hoteleira ou de serviços de saúde. Também são previstas oportunidades para lavanderias e para produtores de alimentos regionais.

NARDONI DE CASTIGO
Alexandre Nardoni, condenado a 31 anos de prisão pela morte de sua filha Isabella, foi posto no "castigo" (isolamento total) por dez dias no fim de fevereiro no presídio de Tremembé (SP). Segundo um colega de cela que escreveu carta para seu advogado, Nardoni e mais de 20 detentos estavam conversando sobre futebol na "Comissão de Esporte", grupo de penitenciários que organiza campeonatos internos. Eram supervisionados por um funcionário. Começaram a reclamar de problemas que enfrentam durante as visitas -e acabaram punidos.

REGALIAS
Roberto Podval, advogado de Nardoni, marcou uma reunião com o secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, para entender o que aconteceu. De acordo com o presidiário que escreveu a carta, Nardoni teve "todas as regalias cortadas". Podval diz que não há "regalias", porque isso poderia gerar problemas de segurança para seu cliente.

FALA, FENÔMENO
Ronaldo continua lotando a agenda como ex-jogador. Marcou palestra motivacional na Feira Internacional de Negócios de Supermercados, no dia 12 de maio, no Expo Center Norte. Falará sobre carreira, superação e contará histórias dos gramados.

CAMISA SOCIAL
E o ex-zagueiro Roque Júnior se matriculou no MBA de Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan Escola de Negócios. Ele administra um time, o Primeira Camisa.

NO AR
Rogério Flausino, do Jota Quest, fez uma participação especial no show da banda Del Rey na festa de estreia da nova programação da MTV. A VJ Titi Müller circulou pelo Terraço Itália.

BOA AÇÃO

Patrícia Rollo e Cláudia Saad organizaram o evento beneficente Dia do Bem, em prol do projeto Velho Amigo. Convidadas como Luciane Malta puderam conferir o lançamento de camisetas da grife Oma Tees e de joias de Emar Batalha, que abrigou o encontro em sua loja, nos Jardins.

CURTO-CIRCUITO
O ministro do Turismo, Pedro Novais, lança hoje o Programa Nacional Senac na Copa, com 1 milhão de oportunidades, em teleconferência para 300 pontos do serviço.

Reinaldo Lourenço faz coquetel de lançamento da coleção Inverno 2011, em sua loja da rua Bela Cintra.

Agata Parisella e Romeo Caraccio, do restaurante Agata & Romeo, de Roma, assinam jantares hoje e amanhã no Dona Carmela.

Antonio Prata e Humberto Werneck participam hoje, às 20h, do sarau "34 Leituras Íntimas", na Casa de Francisca.

A galeria Nara Roesler inaugura hoje, às 20h, exposição de obras de Alice Miceli.

Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco, falará hoje, no Fórum Panrotas, sobre perspectivas da economia para o turismo.

O livro "Diário da Queda" será lançado hoje na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

JOSÉ SIMÃO

Paredão! Hoje o Bial surta!
JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/03/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E eu tenho uma foto de dois elefantes içados por um guindaste. Qual a legenda da foto? "Ronaldo e Adriano voltando da balada". IÇADOS! Rarará!
E domingo eu acordei com o grito rouco do Galvão! Aquele grito de foca da Disney! O Galvão de manhã tem cara de pão na chapa! Rarará!
Atenção! Fechou o açougue! Hoje acaba o "Big Bagaça Brasil"! Dia de Paredão! Hoje é dia de dar um tiro de calmante no Bial. Sabe aquele que bota leão pra dormir no Discovery Channel?
Vou ficar com saudades dos discursos do Bial: aqueles textos chineses de cabeça pra baixo. Letra de tango escrita por um gago. E as poesias do Bial: "O menino e o trem...a bola e o trem...a bola atropelou o trem". Rarará! Tem um amigo meu que queria ser vizinho do Bial. Pra tomar aulas de poesia!
E quem vai ganhar? A periguete com voz de Pato Donald, a biba hilária pernambucana ou o médico mongo? E adorei os comentários sobre a saída da Diana: "Ela vai sair e pegar mais mulher que eu". Ah, vai!
E uma amiga minha assiste ao "Big Bródi" por higiene mental e uma outra assiste porque é um deserto mental! Relaxa! Rarará!
E o centésimo gol do Rogério Ceni? Ceni não, Senil: 38 de idade e 62 de goleiro. Ele vai comemorar cem anos no São Paulo!
E oba! Hoje é dia de zoar com o Corinthians. Já deu risada do Timão hoje? Rarará! O Corinthians é como nota de R$ 100, só dá alegria.
Finalmente conquistou alguma coisa no centenário: o centésimo gol do Ceni! Comemorou mais uma conquista no Centenada.
E o Corinthians não quer perder peso. O Ronaldo se aposenta e eles contratam o Adriano! Ronaldo e Adriano, o bicentenário do Corinthians, 200 quilos!
E o Adriano já fez duas exigências: dois descansos por ano com duração de seis meses, uma laje pra fazer balada e uma árvore pra amarrar a namorada.
E o único lance que eu admirei no Adriano: empurrou um jogador argentino pra dentro do túnel. Empurrar argentino pra dentro do túnel não é falta, é desejo coletivo.
E o Felipão na coletiva: "Já avisei! Vou buscar no inferno o jornalista mequetrefe que se atrever a divulgar meu salário na imprensa". O Felipão é mais estressado que o Gaddafi! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! 

COM O MEU DINDIN

JAIRO MARQUES

É proibido envelhecer
JAIRO MARQUES

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/03/11

DONA MARIQUITA foi uma das minhas melhores amigas de infância. Na época, ela desfilava com 86 anos de pura sabedoria. Morava em Brasília, cidade onde fiquei por meses fazendo a reabilitação daquilo que a paralisia infantil deixou sobrar no corpo.
Tive muitas amizades com pessoas mais velhas ao longo da vida. Aprendi com elas um bocado de novas palavras e expressões, a jogar xadrez, a exercitar a paciência -lição que ainda reprovo, admito-, a curtir o silêncio, a pensar na morte da bezerra, o que é uma delícia.
Com dona Mariquita, tomei gosto por escrever cartas e, sobretudo, por firmar o pensamento que toda aquela reforma que eu padecia no hospital Sarah era para ter um futuro melhor, menos torto, mais confortável. Ela me passava uma segurança de que daria "tudo certo no final".
Atualmente, parece que estão proibindo as pessoas de envelhecer, de se manifestar como velhos, de agir como velhos. Sem falar que pouco se pensa e faz para um mundo com condições adequadas àqueles de "idade avançada", seja lá o que isso for.
Os idosos de hoje têm de dar selinho, têm de fazer maratona, têm de saber "mexer" no computador -oxalá não tenha de jogar o raio do Playstation- e estar sempre disposto, com "visage" jovial. Ser velho é coisa do passado. Tem de agitar.
Por esses dias, minha mãe mesma, que foi criada com o pé no barro, longe das modernidades e dos recursos que transformam qualquer pelanca em bumbum de neném, reclamava da pele muxibenta, da falta de equilíbrio, da chateação por estar perto dos 70.
A ciência ajudou, a realidade social mudou e, de fato, parece que o tempo está passando mais devagarinho. Há uma série de pilulinhas mágicas que podem recompor a boa saúde do "shape" e o dominó deixou de ser a única opção de lazer do povo mais vivido.
Acontece, porém, que a velhice existe, os limites biológicos existem. Por mais que se passe reboco, massa corrida na cara, o tempo traz a nova fase da vida, que pode, evidentemente, ser bem aproveitada, ter suas peculiaridades, seu charme. O que não dá para negar é que ser velho pode significar ter mais fragilidade física e, com isso, maior necessidade de sensibilidade a seu redor.
Fiquei comovido com os resgates dos idosos no Japão. Um trabalho lascado e delicado para dar aos mais vulneráveis, pelo menos na aparência, a chance de continuar vivendo, ensinando, cuidando dos netos, plantando horta, sendo executivo em empresas, ajudando a cuidar da família ou jogando conversa fora na praça, por que não?
Em uma das ações, os socorristas tiraram do meio dos escombros uma senhora de 80 anos junto com o neto. Agiram com cuidado respeitando os limites do corpo da "batchan", como ela merecia ser tratada, ainda mais após tamanho choque. Era mais um tesouro de sabedoria, de experiência que estava sendo salvo.
Por mais sarado, penteado e caramelado que seja o idoso, não dá para carregá-lo como um saco de batatas. É preciso pensar em cuidados diferentes, em condições diferentes de acesso, de prioridade, de serviços, de atenção. Aqui pelo Brasil, por enquanto, o "esquecimento" desses detalhes é flagrante. Querem mesmo é proibir o envelhecer. 

JOÃO PEREIRA COUTINHO

O futuro promete 
JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/03/11

A HISTÓRIA muda quando ninguém repara. Poderia ser um aforismo. Ou a lei científica que Marx (1818-1883) não profetizou.
Quem diria que uma mera questão fiscal levaria as colônias americanas a lutarem pela independência contra a Inglaterra do século 18? E quem diria que um gesto de autoimolação na Tunísia daria início às "revoltas árabes" do século 21?
Repito: a história muda quando ninguém repara. Domingo passado, a Europa teve duas eleições "menores": na Alemanha, eleições regionais; na França, eleições locais. E os resultados das duas são um bom presságio sobre o futuro da Europa. Futuro próximo, não distante.
Na Alemanha, os democratas-cristãos de Angela Merkel perderam a riquíssima região de Baden-Württemberg para os verdes e sociais-democratas. Isso não é uma derrota. É uma hecatombe: os democratas-cristãos governavam o reduto há seis décadas.
Causa principal do "débâcle"? Sim, os alemães não ficaram convencidos com a inusitada postura antienergia nuclear de Merkel, um oportunismo eleitoralista depois da tragédia japonesa.
Mas o problema é mais fundo e lida com a forma como a sra. Merkel tem socorrido, timidamente que seja, os países endividados da periferia da Europa. Os eleitores alemães não querem pagar as contas de estranhos. Esperam-se mudanças drásticas da chanceler alemã.
Na França, nas eleições locais, a Frente Nacional consegue um terceiro lugar honroso. E as pesquisas avisam que Marine Le Pen, líder do partido e filha de Jean-Marie Le Pen, poderia ter mais votos do que Nicolas Sarkozy na eleição presidencial.
Espanto? Nenhum. Lembro que, nas presidenciais de 2002, Le Pen já disputara um segundo turno com Jacques Chirac. Foi um aviso.
Agora, chegou a confirmação: a extrema-direita francesa cavalga a onda xenófoba (leia-se: anti-islâmica) e os franceses gostam disso.
Duas eleições, dois sinais: a Europa de hoje tem problemas sérios. O primeiro é a crise dos países endividados que pode destroçar o euro e a própria União Europeia. O segundo é o crescimento da xenofobia anti-islâmica. Poderá o fascismo regressar à Europa?
Ian Kershaw diz que não. Kershaw, historiador incontornável do nazismo, escreveu recentemente na revista "The National Interest" que a Europa de 2011 não tem os problemas da Europa da década de 1930.
Nesses tempos sombrios, os europeus viviam com a herança da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), um conflito que dizimara 10 milhões de vidas e, com elas, a própria confiança no ideal democrático.
Se juntarmos a isso a revolução bolchevique de 1917, que aterrorizou os Estados com a "ameaça vermelha", e a grande depressão iniciada em 1929, vemos um mundo pronto para o massacre.
Em 2011, o cenário é mais bondoso. Exceto, avisa Kershaw, se duas hipóteses se confirmarem no horizonte.
Para começar, uma nova crise financeira que poderia arrasar de vez com as frágeis economias do continente. A agonia do capitalismo seria também um réquiem pela democracia liberal que lhe é indissociável.
E, para acabar, um atentado terrorista com armas de destruição maciça numa qualquer capital europeia, com assinatura de fundamentalistas islâmicos, que faria transbordar a tolerância multiculturalista dos europeus.
Deixemos de lado essa última hipótese. Mais por razões caridosas que realistas: se o Irã atingir capacidade bélica nuclear e se as "revoltas árabes" determinarem o triunfo dos movimentos islamitas radicais, não ponho as mãos no fogo pela segurança da Europa.
Mais tangível, porém, é a desagregação do euro e, quem sabe, da União Europeia.
O filme é conhecido: com a crise financeira de 2008, os Estados europeus endividaram-se brutalmente para socorrer suas economias.
Alguns voltaram à tona. Outros ficaram no fundo e os pacotes de resgate impostos por Bruxelas e pelo FMI à Grécia e à Irlanda, com Portugal aguardando na fila, prometem mantê-los por lá num ciclo infinito de austeridade econômica e mais endividamento.
Haveria forma de sair desse processo? Talvez: se a União Europeia desse um passo em frente e se assumisse como uma real união política e federal, dispondo de mecanismos de transferência financeira entre Estados e emitindo dívida conjunta para os membros do euro.
Mas o eleitorado dos países excedentários do norte, como o da Alemanha, não está disponível para bancar a preguiça e a irresponsabilidade orçamental dos vizinhos do sul. E quem os pode censurar?
Eu, não. E desconfio que a sra. Merkel, daqui para a frente, será da mesma opinião.
O futuro promete.

GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Não venda
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 29/03/11

Quem acompanhou de perto a entrada de João Alves de Queiroz Filho ou Júnior, da Hypermarcas, como sócio da TV Alphaville, de Silvio Santos e Guilherme Stoliar, desconfia: o empresário estaria também interessado em ter participação acionária na Jequiti Cosméticos.

Procurado pela coluna, Lázaro Carmo Jr, da Jequiti, nega ter recebido qualquer proposta. E frisa que a ordem de SS é não vender a empresa.

Segura peão

Rogério Ceni manteve a discrição depois do jogo contra o Corinthians, anteontem. Chamou amigos e a família para comemorar seu centésimo gol em um restaurante japonês. Tudo para se concentrar para o jogo contra o Santa Cruz, quarta, no Recife.

Deus ajuda...

Antonio Patriota se reuniu sábado com Evo Morales no Palácio Quemado, em La Paz. O horário marcado, 9 horas, foi interpretado como deferência.

Morales gosta de receber visitas às... 5 da manhã.

SOS Japão

Jun Sakamoto e Shin Koike, do Aizomê, vão juntar os hashis em prol das vítimas do tsunami que varreu parte do Japão.

Serão anfitriões do chef japonês Toshio Tanahashi em dois jantares beneficentes. Preços? R$ 1 mil por cabeça. Dias 1º e 2 no restaurante do Jun.

Tempo

Ritual da família Ohtake foi quebrado domingo. A família não se reuniu em torno da matriarca, Tomie, em sua casa no Campo Belo, como faz há décadas. Internada por causa de uma pneumonia, ela ganhou piquenique de sashimis dos filhos, Ruy e Ricardo, no Sírio-Libanês.

Espera-se que ela receba alta médica durante o dia de hoje.

Vapt vupt

Foi uma curta interrupção na preparação de novo vernissage. O instituto que leva seu nome abrigará, a partir do dia 12, 30 obras produzidas entre 1959 e 1961, algumas resgatadas ao redor do mundo.

Batizada de Pinturas Cegas, a série leva esse nome por ter sido concebida por ela com olhos vendados.

Cardozo é homenageado


Congresso Brasileiro de Direito Comercial encerrado sexta, José Eduardo Cardozo foi centro de jantar na casa de Fábio Ulhoa Coelho. Chegou às 22h15 e não negou atenção aos presidentes de tribunais, conselheiros do Cade e juristas presentes, enquanto devorava minissanduíches de carne seca intercalados com goles de vinho francês. "Vou fazer uma endoscopia. Preciso comer bastante porque entro em jejum depois da meia-noite", justificou. O ministro da Justiça está fazendo um check-up. "Detectada, até agora, só a pressão alta. Normal, sou hipertenso".

O exame deve ter corrido bem. Sábado, o ministro foi visto no Rodeio, almoçando "pesado" com o médico Roberto Kalil.

Sob sua gestão, o que mudou no Ministério da Justiça em relação ao governo Lula?

A linha é a mesma, o que pode haver é mudança de estilo. As prioridades são segurança pública, combate à violência, ao crime organizado e ao uso de drogas. E tenho, por orientação da Presidência, uma preocupação muito grande com a gestão. Temos que utilizar muito bem o dinheiro público, multiplicando por dez cada centavo que recebemos.

E na PF, muda algo?

Não. Continuamos a aprofundar o foco no crime organizado. Fazendo o trabalho sem espetacularização de situações, sem holofotes, dentro da estrita legalidade, que é o seu papel.

No mandato de Tarso Genro houve um primeiro momento da PF muito politizada, grandes operações e depois uma segunda etapa mais discreta. Como o senhor avalia a gestão anterior?

O governo Lula deu uma dimensão republicana para a atuação da PF. Mas antes passou por estágios e níveis de aprendizado. Houve um momento de espetacularização sim, mas os ministros tomaram ciência de que isso não era correto, cabível. Sem shows, a PF é mais eficiente.

Há quem afirme que a PF parece inativa neste início de governo. O senhor concorda?

Não. Temos feito operações pesadíssimas, entre elas uma no Rio com a prisão de dezenas de policiais que participavam do crime organizado. Em Goiás, prendemos policiais pertencentes a grupos de extermínio. E na última quinta-feira, realizamos uma operação com a prisão de vários policiais rodoviários federais que também participavam de esquema de propina.

Em Manaus, policiais atiraram à queima-roupa em um rapaz de 14 anos. Em SP, relatório da Polícia Civil aponta envolvimento da PM também em grupos de extermínio, que teriam cometido 150 assassinatos. O que o Ministério pode fazer sobre isso?

O Ministério da Justiça não tem papel corregedor sobre as policias estaduais. Só sobre as suas forças policiais, às quais tem que cobrar rigorosamente para não haver abuso de poder. Ajudamos os Estados, quando solicitados. E também oferecemos a eles alternativas de formação, cursos e treinamentos.

Como relator do projeto de lei da Ficha Limpa, como vê a efetivação dela somente para as próximas eleições?

Defendi a aplicação para as últimas eleições. Não deu. O STF votou e tem que ser respeitado e acatado. Cabe à Suprema Corte definir a matéria.

Foi por uma questão de coerência que o Brasil votou na ONU a favor de se investigar os crimes contra os direitos humanos no Irã para, assim, avançarmos internamente no tema?

Foi um sinal de que a questão é importante, sim, para o governo. E que sua violação deve ser objeto de um tratamento rigoroso em todas as nossas frentes de ação, sejam elas internas ou externas, seguindo premissas da nossa presidente, seu entendimento do que é correto e justo.

E São Paulo? O senhor será candidato a prefeito?

Olha, não tenho a menor intenção. Estou no Ministério da Justiça. Fico lá enquanto a presidente quiser e estou gostando do meu trabalho.

VLADIMIR SAFATLE

Casa de horrores
VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/03/11

Há momentos em que o STF mais parece uma casa de horrores. Como se não bastasse ter se notabilizado nos últimos anos por tirar da cadeia banqueiros corruptores e proteger torturadores da ditadura militar, ele agora conseguiu colocar em xeque a aplicação de uma lei que visava impedir políticos em julgamento de se apresentar em eleições.
Se levarmos em conta as argumentações de certos juízes do STF, nem sequer a aplicação da lei a partir de 2012 está realmente garantida.
Alguns defensores da decisão afirmaram que a lei quebrava o conceito de inocência presumida. No entanto, ela era principalmente um dispositivo de segurança social contra políticos que já haviam sido condenados em alguma instância, isso ao criar uma suspensão da possibilidade de concorrer a novas eleições enquanto durar o processo.
Não se trata de julgamento consumado, mas parte de um procedimento de julgamento em curso. Pessoas já julgadas em primeira instância devem se afastar de cargos públicos até ficar claro que não representam risco ao funcionamento do processo político.
Não se pode dizer que a lei quebre a vontade popular. Aquele que recorre sistematicamente à compra de votos, ao abuso do poder econômico, ao monopólio de mídias locais, produz distorções profundas no processo eleitoral.
Eles calam as vozes dissonantes, aproveitam-se de situações de vulnerabilidade, como a miséria e a necessidade de amparo social, criando relações forçadas de dependência. Por isso, tais distorções impedem que a vontade popular se expresse.
Da mesma forma, dizer que a mera leitura do artigo 16 da Constituição Federal resolvia a questão é, no mínimo, considerar a quase metade do STF, que votou a favor da aplicação da Lei Ficha Limpa para a eleição de 2010, como inapta.
Pode-se sempre argumentar que o espírito da lei visava impedir mudanças casuístas de regras no meio do processo eleitoral, isso a fim de privilegiar partidos ou grupos. A Lei da Ficha Limpa estava longe de ser algo dessa natureza.
Por fim, é aterrador ouvir juízes afirmarem que a opinião pública não deve ser levada em conta ao se interpretar a lei. Isso revela o caráter monárquico do Judiciário.
Trata-se de um poder sem participação popular em nenhuma de suas instâncias. No Brasil, nem sequer promotores públicos são eleitos.
Amparados num positivismo jurídico equivocado, eles se esquecem de se perguntar sobre qual vontade popular está por trás da letra da lei.
O que não é estranho para alguém que nunca precisará prestar contas ao povo (como é o caso do Executivo e do Legislativo). Por isso, as discussões sobre reformas do Judiciário deveriam partir da necessidade de sanar o deficit democrático desse poder.