quinta-feira, outubro 13, 2011

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


A mãe da floresta 
SONIA RACY
 O Estado de S.Paulo - 12/10/2011

Vera Lúuia Feresin de Abreu, mãe da senadora Kátia Abreu, deve ter se enganado. Assinou documento contra o atual modelo de reforma do Código Florestal, a PLC 30/2011. O texto do abaixo-assinado vai contra bandeiras da líder ruralista no Senado. A adesão à campanha Floresta Faz a Diferença aconteceu durante ação de ambientalistas na Parada Gay do Rio, domingo.

Indagada, a senadora respondeu: "Falaram que era a favor da floresta. Minha mãe perguntou se eu apoiava e disseram que sim. Por isso assinou. Você acha que, no meio da Parada, alguém vai ler alguma coisa?". O ativista que a abordou nega o diálogo. /DB

Barril de pólvora
Roquinho Barbiere está sondando partidos da oposição sobre a possibilidade de ir de mala e cuia para outra legenda.

Indagada, a assessoria de Campos Machado, presidente do PTB, nega qualquer movimentação do deputado neste sentido. E afirma não haver motivo para que o pivô do escândalo das emendas deixe a sigla.

Memórias póstumas
Jorge Hereda, da CEF, pilotou pessoalmente pedido de desculpas pelo Machado de Assis branco que estrelou a campanha dos 150 anos do banco.

A nova versão do filme, com ator negro – não mulato, como o bruxo do Cosme Velho –, ficou no ar por... dois dias.

Eu fui...
José Dirceu trocou gracejos com Angela Guadani no lançamento de seu livro, anteontem, no Conjunto Nacional. Depois de encarar a fila, a deputada, que ficou famosa pela dança da pizza, foi recebida com "ô, meu amor" e "olha o meu dedo como está inchado".

Luiz Gushiken e Antonio Donato também apareceram... no apagar das luzes.

Ricardo Zarattini chegou cedo e, inspirado com a candidatura do filho à Prefeitura, anunciou: "Ele tem uma nova proposta, vai mostrar o quanto esta cidade foi penalizada pelas gestões Serra e Kassab".

... e eu não
José Dirceu encontrou Maria do Rosário à entrada do Conjunto Nacional. A ministra, que o prestigiou em Brasília, desta vez nem sequer entrou na livraria. Estava na região por causa de uma mostra de Direitos Humanos.

CARLOS HEITOR CONY - O Senhor de todos


O Senhor de todos
CARLOS HEITOR CONY 
FOLHA DE SP - 13/10/11

RIO DE JANEIRO - Foi feito pela mão do homem, ao contrário da Lagoa, que foi feita pela mão de Deus. É Senhor do Rio. Não chega a ser um objeto de culto, não pertence a nenhuma religião específica, embora tenha o visual e o nome do fundador de uma delas.

Na verdade, é um bloco de cimento rude revestido de pequenas escamas, como as naves espaciais. É um gigante de muitos metros de altura, com os braços abertos: apesar do gesto, não lembra uma cruz, mas um abraço.

De tal maneira integrou-se ao pedestal -um penhasco negro e formidável- que o conjunto é, de longe, o maior monumento jamais criado pelo homem, mesmo o homem que não tenha Deus.
O carioca se habituou a ele e ele se habituou ao carioca. Em todos os sentidos, é um carioca, incorporou-se à sua persona e ao seu anedotário. Judeus, ateus, comunistas, umbandistas -todos concordam que ele é a cara do Rio.

É o primeiro a enfrentar nossos temporais, o primeiro a ouvir os tamborins dos nossos morros nas vésperas do Carnaval, o primeiro a se espantar com nossas enchentes e misérias, o primeiro a amanhecer em seu posto de trabalho, pontual e breve. Se for do nosso destino ser um dia destruídos por uma catástrofe, natural ou provocada, ele será a primeira vítima, o primeiro a morrer, com os seus imensos braços abraçando todos nós.

Não é só da cidade, é de todos que aqui chegam, venham de onde vieram. Mas é da Lagoa que se tem a visão fantástica de seu assombroso pedestal de granito. É na Lagoa que ele se reflete durante o dia e, fosforescente, sereia iluminada, fica boiando nas águas escurecidas pela noite.
Todos o sabem ali, inarredável, sempre o mesmo, altar doméstico, âncora às avessas, jogada contra o céu (trecho de "A Lagoa", Relume Dumará, 2ª edição, 2000).

CHRISTINE TESSELE NODARI - A sibutramina e os congestionamentos


A sibutramina e os congestionamentos
 CHRISTINE TESSELE NODARI
ZERO HORA - 13/12/11

Perder peso! Essa é uma batalha que faz parte da vida de muitas pessoas. De modo geral, a receita para vencer essa batalha é simples: dieta moderada e exercícios físicos. Porém, ser simples não é o mesmo que ser fácil. Não é fácil seguir uma dieta moderada e fazer exercícios, pois isso exige de nós uma mudança de hábitos. Hábitos muitas vezes gostosos, como comer ambrosia depois do almoço; e muitas vezes confortáveis, como se jogar no sofá após chegar do trabalho.

E o que isso tem a ver com o congestionamento? Parte da solução para congestionamento também passa pela mudança de hábitos das pessoas que circulam na cidade. Hábitos gostosos e confortáveis, como fazer deslocamentos em um modo de transporte “porta a porta” e a privacidade, entre outros confortos proporcionados pelo carro.

Assim como nos parece mais fácil perder peso tomando uma medicação ao invés de mudar hábitos de alimentação e manter atividade física, também é mais fácil pensar em solucionar os congestionamentos usando apenas obras de engenharia e gestão da capacidade viária. Porém, assim como a sibutramina, as obras de engenharia e a gestão da capacidade viária, sozinhas, não resolvem o problema dos congestionamentos.

É imprescindível que haja também a mudança de hábitos. Essa mudança de hábitos não significa, necessariamente, uma mudança total de estilo de vida. É possível adotar novas maneiras de transitar pela cidade em apenas alguns dias da semana ou em apenas alguns deslocamentos do nosso dia a dia.

Realmente, deixar de usar o carro pode ser algo inviável para muitos de nós. Porém, novos hábitos como: usar o transporte coletivo uma ou duas vezes por semana, levar o filho à escola a pé às quartas-feiras, ir de bicicleta para o trabalho toda segunda, ir ao mercado do bairro a pé, podem ser, não apenas viáveis, como hábitos muito bem-vindos a nossa rotina.

A ideia é questionar se precisamos mesmo usar o carro todos os dias e em todos os deslocamentos que realizamos. No início, essa mudança de hábito pode parecer difícil, mas não é tão complicada assim. Pensado bem, caminhar, pedalar, andar até a parada de ônibus e lotação podem ser uma boa atividade física, e, assim, dá até para comer uma ambrosia, desde que não seja todos os dias.

PAULO SANT’ANA - As rodas da vida


As rodas da vida
 PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 13/10/11

Sou humano nos meus defeitos e divino nas minhas virtudes.

Eu gosto tanto de um amigo meu, que não tenho dúvida de que, fôssemos os dois de sexos opostos, eu me casaria com ele.

Recordo com saudade aquela coluna que escrevi certa vez: eu vinha passando pelo Bois de Boulogne, em Paris, durante a Copa do Mundo de 1998, quando vi num banco conversando Sócrates e Platão.

Quando me viu, Sócrates gritou: “Que bom que apareceste para conversar conosco, Pablo, o papo aqui jáestava ficando maçnte”.

E conversamos toda a tarde os trê, atéo sol se esconder atrá dos edifíios baixos de Paris.

E eu me despedi dos dois notáeis filóofos, agora, depois do circunlóuio que estabelecemos, convicto de que Sórates burilou a Filosofia e enviou-a para o Cé, depois Platã foi atéo Cé, adornou e completou a Filosofia, e devolveu-a para a Terra.

Que coluna!

O meu problema crucial é que tenho tido tanto amor para dar e encontro dificuldade para encontrar pessoas a quem eu possa distribuí-lo.

E, por outra parte, não tenho nem um bocadinho de ódio para dar e está cheio de gente no meu derredor que o mereceria.

Nunca fui um homem, digamos assim, diurno. Sempre fui um homem notívago.

No entanto, por causa de minhas doenças, tenho dedicado as minhas noites inteiras para dormir.

Verifica-se, assim, um visível conflito ambiental entre a minha natureza e a minha rotina.

Eu nasci para pensar e trabalhar à noite e dormir durante o dia.

Não há nada pior do que isto que a vida tem me reservado nos últimos tempos: condenou um boêmio a dormir durante a noite. Que desperdício!

Tenho tentado discernir sobre qual a melhor roda para bater papo com os amigos, se a roda do cafezinho ou se a roda da cerveja.

A roda do café leva uma desvantagem sobre a roda da cerveja: é quase sempre no intervalo do trabalho que se instala a roda do café, enquanto que a roda da cerveja viceja nos momentos de ócio, quando há mais tempo para prosperar a conversa.

Há amigos que não se entregam de alma à roda do café, pela pressa. Seriam muito mais produtivos e prósperos se fossem encontrados na roda da cerveja.

A roda da cerveja tem outra vantagem sobre a do café. Quanto mais tempo durar a roda da cerveja ou do champanha, e os participantes do bate-papo ainda mais beberem, tornam-se mais sinceros, enquanto que os integrantes da roda do café, de cara limpa, correm o risco ou o perigo de se tornarem insinceros.

O café é um veículo muitas vezes da hipocrisia, a roda de bebidas alcoólicas serve mais à franqueza. E eu considero infelizes as pessoas que passam a vida inteira sem participar de qualquer roda.

Não sabem o que estão perdendo.

CELSO MING - Crise de governança


Crise de governança
CELSO MING 
O ESTADÃO - 13/10/11

Os dirigentes políticos da área do euro e da União Europeia admitem, em princípio, que recapitalizar os bancos seja tarefa prioritária e deve ser levada a cabo "com determinação". Mas, na prática, impõem tantos obstáculos e exigências como se fosse providência menos importante – e adiável.

Nesta quarta-feira, por exemplo, o presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Barroso, avisou que a recapitalização das instituições financeiras é "muito urgente". Mas também advertiu que deverá se limitar aos "bancos sistêmicos".

Bancos sistêmicos são aqueles cuja quebra pode arrastar para o fundo toda uma cadeia financeira. São as instituições mais sujeitas ao "efeito dominó", ou seja, a queda de uma única peça derruba as demais.

Mas hoje é difícil distinguir bancos capazes de arrastar outros dos que não são assim. O Lehman Brothers, por exemplo, era apenas o quinto banco de investimento dos Estados Unidos. Nem comercial era e, como tal, tampouco estava sujeito a supervisão. Sua quebra parecia simples mexida num caixote de areia. Mas o resultado lembrou a catástrofe vista no filme Indiana Jones e os caçadores da arca perdida. Também o Northern Rock quase não passava de uma instituição de crédito imobiliário. E, mesmo assim, não fosse o socorro do governo inglês, sua falência teria provocado um terremoto.

O volume de recursos necessários para recapitalizar os bancos europeus não está claro. O Fundo Monetário Internacional fala em pouco mais de 200 bilhões de euros. Se for somente para enfrentar o calote grego, talvez baste. Mas calote é bem mais que um procedimento técnico. É doença contagiosa. E a Grécia não é o único país infectado.

Outra obsessão dos dirigentes europeus é que a recapitalização se faça prioritariamente com recursos privados. Em outros tempos, talvez fosse exigência cabível. No entanto, já está tão alastrada a falta de confiança na saúde dos bancos que parece difícil contar com mais e mais capital privado.

A segunda fonte de capital, avisou Barroso nesta quarta, são os Tesouros dos países sob cuja jurisdição estão assentados. Já se conhece a situação calamitosa dos Tesouros do bloco do euro. Exigir que reforcem ou estatizem bancos de sua alçada pode ser carga excessiva para países com alto passivo fiscal.

Sim, há o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês), criado para ser recorrido em caso de emergência – como esta. Mas a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o próprio Barroso avisam que só deve ser acionado como "último recurso". Em todo o caso, já aceitam que essa linha de socorro, montada para atender países em dificuldades, possa ser usada para reforçar os bancos.

O problema é a insuficiência de seus recursos. Terá apenas 440 bilhões de euros e, ainda assim, a integralização desse capital parece ameaçada – como deixou claro a rejeição preliminar dos novos aportes pelo Parlamento da Eslováquia.

Por trás de tudo está a grave deficiência de governança da zona do euro. Em parte, trata-se de consequência das próprias bases em que está estruturada a União Monetária Europeia. Mas tem razão o presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva (na foto). Nesta quarta-feira ele atacou, sem meias palavras, os dirigentes políticos do bloco: "O projeto de reconstrução europeia está sendo pilotado por incompetentes e irresponsáveis".

CONFIRA

Aumenta o rombo. O déficit das contas públicas da Grécia cresceu 15% de janeiro a setembro deste ano, conforme relatório divulgado nesta quarta-feira pelo Ministério da Economia. A recessão derrubou a arrecadação em 4,2%. Enquanto isso, as despesas aumentaram 7%. Sinal de que o tratamento está dando errado. Se houver opção a ele, também vai doer.

Não é pra valer. O mercado financeiro reagiu com indiferença à rejeição do projeto de ampliação do ESFS pelo Parlamento da Eslováquia, na terça-feira. Entendeu que a votação não passou de oportunidade para derrubar o governo da primeira-ministra Iveta Radicova. Nesta quarta, um acordo entre os partidos garantiu que o projeto será aprovado.

Contenção de gastos. Também nesta quarta, o presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Barroso, defendeu a proposta de que os bancos sejam proibidos de pagar dividendos e bônus a seus diretores enquanto não completarem sua capitalização.

ILIMAR FRANCO - A sangria


A sangria
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 13/10/11

? A segunda versão da proposta dorelator Vital do Rego (PMDB-PB), sobre a divisão dos royalties do petróleo das áreas já licitadas, está ficando pronta. A parcela da União, de Participação Especial, cairá definitivamente de 50% para 40%. A parcela dos municípios confrontantes cairá para 5%. E no caso dos royalties, a parte dos municípios, que foi reduzida para 17%, terá um novo corte. A ideia é assegurar mais para os estados não produtores.

A próxima tarefa do CongressoSe os senadores e deputados conseguirem aprovar uma lei redistribuindo a renda do petróleo, terão que imediatamente começar a discutir uma lei para definir uma nova regra para distribuir os recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE). A atual foi declarada inconstitucional pelo STF, que deu um prazo até dezembro de 2012 para a elaboração de uma nova partilha desses recursos. O TCU tem um estudo que diz: "Os maiores beneficiados (do FPE) são e serão os habitantes das unidades da federação com menor população e não daquelas menos desenvolvidas". E sugere que essa distorção seja corrigida numa nova lei. "A proposta de distribuição dos royalties do petróleo dificilmente será votada dia 20 na Câmara. só se tiver muito acordo" " Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara dos Deputados (PT-SP)

"EU AUMENTO, MAS NÃO INVENTO". A notícia nunca foi tão valorizada como no governo Dilma. Tanto que é piada corrente entre os assessores do governo no Planalto: `Foi criado um cargo informal no Palácio, o de Pilhador Geral da República (PiGR)". Ele é uma espécie de Dudu, o Alarmista, aquele personagem dos quadrinhos criado por Luiz Fernando Veríssimo (ilustração acima). Dizem que o "PiGR" segue o bordão do colunista de celebridades Nelson Rubens: "Eu aumento, mas não invento".

ArticulaçãoEmpenhado em fazer o PMDB ressurgir em São Paulo, via candidatura Gabriel Chalita à prefeitura da capital, o vice-presidente Michel Temer, além do DEM, reuniu-se com o deputado Paulo Maluf (PP) e emissários do PR.

FicoA direção nacional do PSDB comemora discretamente a nova atitude do candidato à Presidência José Serra. O tucano parou de dizer que ia sair do partido. Consta que sua inclusão no programa nacional de TV do partido o acalmou.

Tucanos tocam flauta nos petistas? O Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, produziu o texto "Modernização da economia", sobre os 20 anos de privatização. O texto diz: "O processo rendeu ganhos visíveis à sociedade, aos quais o PT, felizmente, começa agora a se curvar". Os tucanos lembram que os petistas resistiram às privatizações nos governos Collor, Itamar e FH. E ironiza: "O pragmatismo está falando mais alto forçando o PT a abrir-se aos investimentos privados". E cita os aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos.

Baixo cleroAcadêmicos que analisam o Congresso constatam que o novo PSD não obteve a adesão de nenhum nome do alto clero da Câmara. O único nome de peso a ingressar no partido foi a senadora e presidente da CNA, Kátia Abreu (TO).

AgendaAs prioridades do gover-no Dilma na Câmara antes do recesso de dezembro são votar a DRU, o Fundo de Previdência dos Servidores e o Orçamento para 2012. A votação da nova lei de dis-tribuição dos royalties do petróleo está fora da lista.

FALA O LÍDER do PMDB, deputado Henrique Alves (RN), sobre a redistribuição dos royalties do petróleo: "Segunda-feira é o dia D, ou chegamos a um acordo ou nem projeto para votar haverá".

A SENADORA Marta Suplicy (PT-SP) deve ser a relatora do Estatuto da Juventude no Senado. Ela pediu a relatoria por causa de sua militância LGBT.

A CONFEDERAÇÃO dos Servidores Públicos do Brasil está lançando campanha pela regulamentação da Convenção 151 da OIT que cria novas regras para organização sindical, negociação coletiva e direito de greve para funcionários públicos.

ADRIANO PIRES E ABEL HOLTZ - O que fazer com as concessões elétricas



 O que fazer com as concessões elétricas
ADRIANO PIRES E ABEL HOLTZ
O ESTADÃO - 13/10/11

preocupação com relação às concessões vincendas do setor elétrico se espalha e a solução prometida é uma incógnita em razão dos aspectos envolvidos, pela Constituição, legislação e pela falta de ação do governo.

Nos últimos meses, a inquietação tem aumentado e despertado no setor manifestações de relevância. O fato é que a lei prevê a concessão pelo prazo máximo de 50 anos (30 + 20), apesar de,no caso das hidrelétricas, por exemplo, elas poderem ser utilizáveis por 100 ou mais anos.No caso das estradas esse prazo poderia ser infinito.

Por sua vez, o poder concedente - a União - tem a obrigação e o direito de intervir na concessão a qualquer momento, caso haja inadimplência contratual.

Estão na Lei de Concessões a previsão para os casos de intervenção e os prazos a observar.

No início das concessões do setor elétrico foi criado um fundo, a Reserva Global de Reversão (RGR), que tinha a finalidade, à época, de prover os recursos para encampação das concessões.

Naquela ocasião, essas concessionárias eram quase exclusivamente estrangeiras e foram encampadas no passado.

Atualmente,o fundo não tem recursos, já que foi utilizado para outras finalidades.

Porém, cabe entender que uma empresa concessionária de um serviço imprescindível para a sociedade não pode desaparecer instantaneamente ao fim do prazo de concessão, posto que até a véspera, pelo menos, ela terá de funcionar atendendo às obrigações pactuadas. Ao fim deste prazo da concessão de cada unidade,a empresa se iria extinguindo. Se tivesse uma só concessão,ela teria de fechar as portas ao fim do prazo.

Na hipótese acima aventada - do retorno da concessão ao poder concedente -, o concessionário teria de ter equipes disponíveis, preparada sem "standby", para assumir os postos da concessão no momento em que fosse dado como findo o contrato de concessão (não só para uma delas,mas para hidrelétricas, linhas de transmissão, distribuidoras, etc...) ou fazer um contrato de operação e manutenção até com os antigos concessionários.

No campo da realidade,como poderíamos acreditar que uma das estatais concessionárias poderia, de uma hora para outra, sumir, evaporar-se? E para quê, se ela está desempenhando o contrato a contento e funcionando? O que fazer com os funcionários,os aposentados, os fundos de pensão? Transferi-los para a União? A outra hipótese seria, em tempo hábil, proceder a uma nova licitação para que cada uma das unidades concessionadas viesse a ter um novo concessionário.

Neste caso, teríamos de poder desmembrar os fundos de pensão, planos de saúde, cargos e salários, etc., para dimensionar e estabelecer as condições para os editais de licitação.

Essa licitação teria de contemplar uma auditoria em cada unidade para se adequar ao previsto na lei.E verificar se todos os investimentos que foram realizados, tangíveis e intangíveis, na concessão foram amortizados. Já pensou? Nada impediria as concessionárias atuais de participarem das licitações, até porque, em princípio, teriam uma vantagem comparativa pelo fato de conhecerem melhor os empreendimentos.

Isso as habilitaria a saírem como vencedoras dessas licitações ao arrematar suas antigas usinas. Mas elas iriam querer? Conhecendo os problemas que irão enfrentar com a nova legislação socioambiental e, agora, com o novo Código Florestal, algumas das usinas vão ter de investir montantes consideráveis para continuar operando - cabe o registro de que a lei traz benefícios para a sociedade e esta deve e vai reivindicar esses direitos. Referimo-nos à oportunidade que a legislação socio ambiental abriu para as municipalidades onde se encontram situadas as usinas. Sem falar da pretensão de alguns consumidores que defendem que sejam fixadas tarifas populistas, sejam as concessões prorrogadas ou licitadas.

MERVAL PEREIRA - Primeira página


Primeira página
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 13/10/11

O debate sobre o documentário do diretor Andrew Rossi "Primeira Página, por dentro do New York Times", cuja pré-estreia aconteceu terça à noite no auditório do GLOBO dentro do Festival do Rio, foi uma boa oportunidade para discutir com o público para onde vai o jornalismo depois que os novos meios tecnológicos de transmitir informações passaram a ter um papel preponderante na relação com os leitores.

O documentário focaliza anos difíceis do jornal que ainda é o parâmetro internacional do bom jornalismo, apesar de todas as crises que teve de enfrentar, desde questões meramente financeiras até - o mais importante - crises de credibilidade trazidas por diversas formas de fraudes jornalísticas.

De Jayson Blair, o jornalista que inventava suas reportagens, até Judith Miller, que assumiu como verdadeiras informações da Casa Branca sobre a existência de armas de destruição em massa, fazendo com que o "New York Times" avalizasse a invasão do Iraque no governo Bush.

A capacidade de apuração proporcionada pelas novas mídias, colocando o relato de novas fontes à disposição do público, é uma diferença crucial, que dificulta que os jornais se portem como na guerra do Iraque, quando assumiram como verdadeiras as versões oficiais, e só anos depois refizeram seus relatos revelando que não havia armas de destruição em massa em poder do ditador Saddam Hussein e as manipulações que o governo Bush usou para justificar a invasão do país.

O documentário mostra como a divulgação de um filme pelo WikiLeaks no You Tube, de massacre promovido por soldados americanos no Iraque, fez com que o "New York Times" publicasse reportagem crítica. Ao mesmo tempo, ao constatar que o WikiLeaks montara o filme para realçar a selvageria dos soldados americanos, o jornal frisou esse papel de ativista político do grupo de Assange.

A diferença entre ativismo político e jornalismo, que foi debatida no encontro do Globo, também foi objeto de um painel desse mesmo seminário de que participei em maio deste ano em Washington.

Um jornalista africano chamou atenção para o fato de que, por melhores que fossem suas motivações, ativistas que usavam o You Tube e a internet para divulgar informações contra governos ditatoriais não estavam fazendo jornalismo.

Com relação ao WikiLeaks, também defini o papel deles como de "ativistas políticos" e não de jornalistas, o que, aliás, Assange admite em uma entrevista do documentário.

Após mostrar uma quebradeira em sequência de vários jornais nos EUA entre 2009 e 2010, resultado da mistura explosiva da crise econômica que ainda hoje abate o mundo e o surgimento dos novos meios de comunicação que roubaram anunciantes e leitores dos jornais impressos, o documentário termina com uma mensagem de otimismo sobre o futuro do jornalismo impresso, com o "New York Times" reafirmando sua excelência ganhando o Prêmio Pulitzer no ano passado.

Mas o que se destaca no filme é a presença, não por acaso, de um grande repórter de carne e osso, David Carr que defende a qualidade do jornalismo dos chamados meios tradicionais com palavras e reportagens. Outro grande jornalista, Bob Woodward, famoso pela reportagem no "Washington Post", com Carl Bernstein, que derrubou o presidente Nixon no que ficou conhecido como Watergate, dá seu depoimento defendendo a reportagem, seja em que plataforma for.

No debate, lembrei que no início do ano estive em um seminário em Washington sobre novas mídias em que Woodward era o convidado de honra para falar sobre o que mudou com a chegada dos novos instrumentos da mídia digital que, segundo a definição do seminário, "mudaram fundamentalmente a natureza da reportagem e o sentido da transparência".

Já relatei aqui, mas vale a pena repetir. Woodward declarou-se em discordância "firme" com essa afirmação logo na abertura de sua fala, deixando inquietos os organizadores do encontro.

Para Woodward, o jornalismo ainda depende das revelações de fontes humanas, que viveram os acontecimentos e relatam suas histórias aos bons jornalistas.

Do filme e do debate tira-se uma conclusão: é impossível abrir mão da mídia tradicional como fonte fundamental para a divulgação de informações, assim como da capacidade de seus profissionais para apurar e checar notícias, dentro de padrões técnicos e éticos largamente testados pelos anos, o que dá credibilidade às notícias divulgadas.

Tenho repetido sempre que falo sobre o tema uma informação do jornalista Tom Rosestiel, um dos teóricos mais importantes do jornalismo, segundo a qual, entre os 20 blogs mais acessados dos EUA - o mesmo acontece na maioria dos países, inclusive no Brasil -, nada menos que 18 fazem parte da mídia tradicional ou estão ligados a ela de alguma maneira.

A partir de 1997, um grupo de jornalistas, liderado por Bill Kovach e Tom Rosenstiel, organizou seminários, entrevistas e pesquisas pelo país para fazer uma análise da imprensa americana. O trabalho resultou no livro "Os elementos do jornalismo - O que os jornalistas devem saber e o público exigir".

No livro, há a definição dos princípios do bom jornalismo, onde se destaca lealdade com os cidadãos e necessidade de ser "monitor independente do poder".

São esses compromissos que ficam registrados no documentário sobre o "New York Times", com o diretor de redação Bill Keller utilizando-se do sarcasmo de Mark Twain para comentar notícias sobre sua morte: "As notícias sobre a morte do jornalismo são um pouco exageradas".

KENNETH MAXWELL - O vácuo


O vácuo
KENNETH MAXWELL
FOLHA DE SP - 13/12/11

Ainda que os mercados financeiros tenham expressado alívio nesta semana pelo fato de os líderes europeus parecerem, enfim, estar avançando rumo a uma política que ajudaria a conter o quase pânico quanto à busca de uma solução ordeira para a crise da dívida da Grécia, e que os governos europeus estejam mais perto de aprovar leis que permitiriam capitalizar um fundo europeu de estabilização e resgatar os bancos afetados de maneira adversa pelo passivo grego, é cedo demais para afirmar que a crise passou ou que o contágio foi detido.
Portugal, por exemplo, que, como a Grécia, assinou um acordo com a União Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE), descobriu que seus cálculos orçamentários subestimavam gravemente os deficits ocultos da ilha da Madeira, há muito controlada por um líder político populista da velha guarda, Alberto João Jardim, também conhecido como "o rei da Madeira", que voltou a ser reeleito no domingo para o governo da ilha, posto que detém desde 1977.
E isso a despeito da revelação de que o governo autônomo da Madeira não havia informado às autoridades portuguesas sobre custos não reportados de € 571 milhões em 2010 e quanto a € 290 milhões em juros sobre dívidas atrasadas, além de € 109 milhões em custos de saúde referentes aos três últimos anos.
Enquanto isso, no Reino Unido, o Instituto Independente de Estudos Fiscais reportou, na terça-feira, que uma família típica, com dois filhos, da chamada "classe média comprimida" -formada pelas famílias britânicas de renda média-, estava enfrentando um colapso em sua renda domiciliar que não apresenta precedentes nas últimas três décadas.
O instituto também estimou que 600 mil crianças a mais passariam a viver em pobreza absoluta. É evidente, de fato, que o impacto em longo prazo da crise bancária de 2009 só agora começa a ser sentido plenamente pela comunidade mais ampla.
O quadro nos Estados Unidos não é muito melhor. Existe um vácuo semelhante.
Os protestos nas ruas de Nova York e nas ruas de Boston continuam a ser, em larga medida, incoerentes, embora a resposta dos banqueiros de Wall Street, da polícia e dos líderes políticos na capital norte-americana tenha chegado perto da histeria.
É duvidoso que, no atual clima político, esses protestos tenham algum efeito. Mas o problema permanece: como fazer com que a economia volte a crescer? E como garantir que, quando o fizer, os benefícios sejam distribuídos de maneira mais equitativa?
Os plutocratas, por enquanto, continuam bem. A questão é definir por quanto tempo.

CONTARDO CALLIGARIS - As fãs de Justin Bieber


As fãs de Justin Bieber 
CONTARDO CALLIGARIS 
FOLHA DE SP - 13/10/11

Bieber é o "date" ideal para a idade em que "frisson" do sexo é tentar descobrir quem já beijou e quem não


Percorri autobiografia e biografia de Justin Bieber. Também brinquei com dois livros de jogos para as fãs do cantor testarem seus conhecimentos.

Continuo não fazendo a menor ideia de quem seja realmente Justin Bieber, mas constato que sua imagem é uma caricatura bom-mocista: o "date" com o qual os pais sonham para as primeiras saídas de suas filhas. Por isso mesmo, aliás, é curioso que ele suscite paixões avassaladoras entre as meninas.

Uma amiga, com quem comentei a febre Bieber, observou que, quando éramos adolescentes, os pais nunca gostavam de nossos ídolos do rock e do pop: aos olhos deles, eram influências que nos levariam à perdição.

Como eles aprovariam Elvis, com aquele rebolado que já era um ato sexual? E todos os que eram drogados, rebeldes, andarilhos do amor livre? E os Stones, juntando a lascívia de Elvis, a rebeldia e as drogas?

E o figurino de Gene Simmons, do Kiss, hein? Entre os Beatles, os pais desconfiavam de John, George e Ringo, enquanto Paul era mais palatável. Engraçado, Paul era justamente aquele que encantava as meninas mais jovens -as que hoje adoram Justin Bieber. Ao longo dos anos, os pais não mudaram: eles continuam preferindo que as filhas gostem mais do modelo Justin que do Elvis. Tampouco mudaram os adolescentes propriamente ditos, que, hoje, acham Justin Bieber insosso, exatamente como nós o teríamos achado, quando adolescentes. Mas algo mudou, sim: chegou uma nova onda de consumidores (e sobretudo de consumidoras) de pop, mais jovens do que no passado.

A base dos fãs de Justin Bieber é composta de meninas entre 10 e 13 anos (cronológicos ou mentais), ou seja, meninas na fase na qual, aos olhos dos outros e delas mesmas, o corpo adquire novas formas e significações, que elas reconhecem como eróticas sem saber direito o que isso quer dizer (e ainda menos o que dá para fazer com isso).

As meninas dessa idade são invadidas por sensações, fantasias e pensamentos que são enigmáticos para elas mesmas, mas cuja premência as leva a imaginar que elas (e só elas) conhecem na pele os frêmitos do amor e do desejo.

As meninas de nove anos podem achar Justin um pouco bobo. As de 14-15, também. Mas, para as que estão entre esses dois extremos, Justin é milagroso: ele responde ao confuso despertar de sentimentos de suas fãs, permitindo-lhes acreditar em sua maturidade amorosa sem que elas sejam ameaçadas pela brutalidade inquietante do amor e do erotismo adultos. Ele é o namorado ideal para a idade em que o "frisson" do sexo é discutir no MSN quem é ainda BV e quem não é mais (para quem não sabe: BV é boca virgem, que nunca beijou). Como Bieber consegue essa façanha?

Justin Bieber é para crianças. José Simão, na sua coluna na Folha, aproximou o cantor do Toddynho e do chocalho (ambos, em geral, apaziguam as crianças). O mercado confirma: os livros sobre Bieber estão na seção infantil das livrarias.

Agora, ele não pode ser completamente criança: sua imagem deve acarretar uma ponta de transgressão, em dose mínima, sem assustar, mas suficiente para cada menina acreditar que, por amar Justin Bieber, ela está, ousadamente, além dos adultos.

No Google, procure fotografias de Justin Bieber e de Elvis de óculos de sol. O olhar escondido de Elvis dá arrepios, enquanto, digamos assim, os óculos de Bieber são parecidos com as novas sensações de suas fãs, mais obscuros do que escuros.

Enfim, graças a seu rosto infantil (redondo e bochechudo) e graças a uma produção cuidadosa (o incrível corte de seu cabelo), Justin é quase assexuado. As meninas podem sonhar com ele sem que nada as leve a fazer a preocupante descoberta de que elas não sabem quase nada do amor -e do sexo, menos ainda.

Só para sacanear, declarei a uma fã de Justin Bieber que eu acabava de ler, numa biografia do cantor, que, de fato, ele se chama Justino ou Giustino Biberoni e nasceu em Pindamonhangaba. Ela não achou graça. É que o ídolo deve ser familiar o suficiente para não assustar, mas deve também ser outro, bem estrangeiro.
Afinal, é a ele que a menina pede para ser levada embora, longe daqui, longe deste lugar ao qual ela não pertence e onde ela é circundada por adultos que não entendem nada, porque, diferentes dela, eles não sabem nada do sexo, do amor e da paixão.

CLÓVIS ROSSI - Indignação vira global. E daí?


Indignação vira global. E daí?
CLÓVIS ROSSI 
FOLHA DE SP - 13/10/11


Estão previstos para sábado protestos em 45 países dos cinco continentes. Mas o que virá depois disso?


SÁBADO SERÁ, em tese, o dia mundial da indignação. Pelo menos é o que prometem os diferentes movimentos de indignados que pipocaram neste ano um pouco por toda a parte: 350 atos de protesto em 45 países dos cinco continentes.
Pelo número de pessoas que se têm manifestado recentemente na Espanha, no Chile, nos Estados Unidos, na Grécia etc., é razoável imaginar que haverá bom público na maioria desses atos. Acho ótimo.
Um mundo que produziu, só nestes anos de crise, 30 milhões de desempregados, a se somarem aos 170 milhões pré-existentes, precisa mesmo de uma bela sacudida, mesmo sem mencionar as outras mazelas.
Que sejam os jovens os motores dos protestos se explica exatamente por aí: o desemprego entre jovens até 24 anos bate em 28%, o dobro no conjunto da população.
Mas sucesso de público nas manifestações é apenas o começo de um processo, cujo desdobramento é muito difícil de antever.
Faço minha a avaliação da revista alemã "Der Spiegel": "Nestes tempos de crise crônica, e depois das intensas experiências da Primavera Árabe, permanece incerto se cenas como estas [a dos protestos nos EUA] representam parte de uma comédia curta ou de um longo drama, um fragmento de um filme velho e familiar ou talvez o princípio de uma revolução americana".
Vale para o Ocupe Wall Street, vale para os demais movimentos de indignados.
Eu vi esse filme antes, em meia dúzia de cidades do mundo, de Praga a Washington, de Québec a Seattle. Foi nos anos 90, e assustaram tanto o establishment que o movimento foi batizado de "globalifóbico", para tentar carimbá-lo como dinossauros que reagiam ao inevitável. O ponto culminante foi durante conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (Seattle, 1999), em que a moçada conseguiu a proeza de impedir o discurso inaugural a cargo da então secretária de Estado, Madeleine Albright.
Não é nada trivial bloquear, em plena terra do "free speech", o discurso da segunda mais importante figura da administração, depois do presidente.
Mas vieram os atentados de 2001 e, com eles, a tentativa de carimbar os indignados da época como cúmplices do terrorismo. O movimento refluiu sem deixar marcas realmente relevantes.
Dez anos depois, as causas que empurravam os jovens para as ruas só se fizeram mais agudas. Não é apenas a crise ou o desemprego, mas também o arcabouço institucional, magnificamente descrito por Robert Kuttner na mais recente edição de "The American Prospect":
"Libere o capital, e você incrementa seu poder político. Enfraqueça o Estado, com privatizações e desregulação, enfraqueça os sindicatos com mercados laborais mais "flexíveis", e você colhe não apenas mais economia de livre mercado, mas acaba com menos solidariedade cívica e uma política fragmentada. Você remove os contrapesos políticos e institucionais ao poder do "business" organizado. Nos bons e maus tempos, o capital manda".
Os indignados tentam ser esse contrapeso desaparecido. Tomara que consigam, mas é um processo complexo e provavelmente lento para as urgências que a crise dita.

RICARDO MELO - É isso, Aécio?


É isso, Aécio?
RICARDO MELO
FOLHA DE SP -  13/10/11

SÃO PAULO - Por ossos do ofício, resolvi ler a entrevista concedida pelo senador tucano Aécio Neves ao "Estado de S. Paulo", publicada no domingo passado. Esperava identificar ali alguma ideia relevante, a favor ou contra, pouco importa, mas alguma ideia capaz de estimular o debate político. A depender do vazio demonstrado pelo eventual adversário, o PT pode dormir tranquilo por vários anos no poder.
Globalizadas ou não, até novelas e pessoas de instrução modesta incorporaram ao repertório assuntos como recessão e estratégias de crescimento; soluções para evitar o desemprego; Ocupe Wall Street; União Europeia; crise financeira global; corrupção; quebradeira de bancos.
Não seria exigir demais que alguém, no enésimo lançamento de sua candidatura à Presidência, apresentasse opiniões sobre este universo tão vasto. Duas penosas páginas depois, a decepção é absoluta.
Em vez disso, nós e a repórter somos maltratados por frases como: "Decisão correta no momento errado é uma decisão errada"; "Será o futuro versus o passado"; "Ou vamos todos unidos de verdade ou não teremos êxito"; "Política é arte de administrar o tempo"; "O projeto original que trouxe o Brasil até aqui é do PSDB, mas o que está em execução agora é um software pirata".
Ao longo do palavrório, nem mesmo a lógica fica de pé. Aécio defende a ênfase no "legado do PSDB e do nosso futuro", mas diz que o principal desafio dos tucanos é "refundar o PSDB em seu discurso". Entendeu?
Bandeira mesmo, apenas uma. "Vamos lutar contra o aparelhamento da máquina pública", como se os tucanos fossem virgens à beira do altar, ou como se dirigir um país fosse tão simples quanto escapar de um bafômetro. Ainda assim, e supondo que o desejo fosse sincero, desaparelhar a máquina a favor de que plataforma, de que propostas, de que objetivos, de que projeto social?
É mais simples convocar Carlos Lacerda para ocupar a tribuna.

EDITORIAL O Estadão - 'Democratização', não controle


'Democratização', não controle
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 13/10/2011

O PT já percebeu que pega mal falar de "controle social da mídia". Agora, o que reivindicam os petistas é a "democratização dos meios de comunicação". Claro, o termo "controle" tem uma desagradável conotação autoritária. É melhor defender a mesma ideia usando uma expressão mais simpática, sedutora. Afinal, não se pode ser contra a "democratização", seja lá do que for. Portanto, sai "controle", entra "democratização". Por exemplo, o presidente nacional do PT, Ruy Falcão, em entrevista à imprensa dias atrás, anunciou a realização, no âmbito dos debates sobre o marco regulatório da comunicação eletrônica, um seminário que deverá reunir em São Paulo "todas as entidades, organismos e parlamentares interessados na democratização dos meios de comunicação". Da comunicação eletrônica? Não, dos meios de comunicação, tout court.

O esperto floreio de linguagem apenas camufla a irreprimível vocação autoritária do PT, que na verdade não admite uma imprensa livre criticando seus programas e seu governo e por isso quer "democratizar" os veículos de comunicação. Uma clara demonstração do uso que o partido faria da "democratização" dos meios de comunicação que preconiza são as recentes tentativas da ministra da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, Iriny Lopes, de interferir numa peça publicitária protagonizada pela modelo Gisele Bündchen e no enredo da novela "Fina Estampa", da TV Globo, sob a alegação de que em ambos os casos a condição feminina estaria sendo colocada numa posição de "subalternidade". Seria o Estado decidindo o que constitui ou não a dignidade da condição feminina.

É notável também a insistência do PT em colocar num mesmo balaio duas questões absolutamente distintas, na tentativa de se valer da confusão para impor sua visão autoritária a respeito do controle da mídia. Uma coisa é o problema da atualização do marco regulatório da comunicação eletrônica, necessária em razão da enorme defasagem da legislação vigente em relação aos avanços tecnológicos na área. Outra coisa é a tentativa de regulação - censura, em português claro - dos conteúdos veiculados por todas as mídias, inclusive a impressa. E é isso que se tentará colocar em pauta no seminário anunciado pelo presidente petista.

Esse seminário, quem sabe, poderá lançar luzes sobre o verdadeiro significado de "democratizar" a mídia. Se a grande imprensa brasileira não é democrática, como acusa o PT, isso significa o quê? Que falsifica a realidade em benefício de interesses escusos, por exemplo, quando denuncia escândalos que obrigam a presidente a demitir ministros? Ou quando participa do debate político e das campanhas eleitorais, criticando os excessos do PT?

Se é isso que pensa o PT, está em clara divergência com a presidente Dilma Rousseff. Em primeiro lugar, pela razão óbvia de que ela foi eleita, apesar de não ter contado com o apoio da grande mídia. Mais do que isso, porém, porque Dilma, desde a campanha eleitoral do ano passado, jamais deixou de expressar, de maneira absolutamente cristalina, seu repúdio a qualquer tentativa de controle da mídia e a sua confiança na imprensa livre que existe hoje no País.

Quando era candidata à Presidência, em outubro do ano passado, Dilma Rousseff declarou: "A imprensa pode falar o que bem entender. Eu, o máximo que vou fazer, quando achar que devo, é protestar dizendo: está errado o que disseram por isso, por isso e por isso. Usando uma coisa fundamental que é o argumento". Em seu discurso de posse, proclamou: "Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. As críticas do jornalismo livre ajudam ao País e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório". Em setembro, em visita aos Estados Unidos, ao assinar uma parceria com o governo norte-americano pela transparência e pela fiscalização das ações dos poderes públicos, garantiu: "Conta-se também com a positiva ação vigilante da imprensa brasileira, não submetida a qualquer constrangimento governamental".

Dilma e o PT que se entendam.

DEMÉTRIO MAGNOLI - Quanto vale a Europa?


Quanto vale a Europa?
DEMÉTRIO MAGNOLI
O Estado de S. Paulo - 13/10/2011

"Sem o euro não existe Europa", constatou Angela Merkel, no mesmo discurso em que assegurou que não haverá uma "união da dívida". As afirmações, contraditórias entre si, refletem imperativos diferentes. A primeira é uma homenagem prestada à História - ou seja, ao projeto supranacional da União Europeia. A segunda expressa a vontade dos eleitores alemães - ou seja, a existência do Estado-nação. Agora, diante da iminente falência grega e do espectro de um colapso bancário em série, a chanceler alemã deve escolher entre uma e outra, pois não pode ter as duas.

História, no caso da Europa, significa uma catástrofe única, que devastou o sistema moderno de Estados erguido na Paz da Westfalia, em 1648, e reconstruído no Congresso de Viena, em 1815. A União Europeia, um fruto da catástrofe, é filha de Stalin e de Hitler.

Stalin: o projeto europeu emanou das circunstâncias da guerra fria, na forma de uma aliança entre a França e a Alemanha, antigas rivais separadas pelos ressentimentos acumulados em três guerras sucessivas. O ato inicial da Europa foi o Plano Schuman, de criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca), em maio de 1950, meses depois da fundação da Alemanha Ocidental e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). À sombra ameaçadora da URSS, a unidade da Europa Ocidental era o complemento necessário para a aliança transatlântica com os EUA.

Hitler: o projeto europeu emanou das ruínas fumegantes da 2.ª Guerra Mundial, o testemunho do colapso de um sistema baseado na soberania absoluta dos Estados. A ideia genial do francês Jean Monnet, de compartilhamento de soberanias, representou a solução para uma civilização destruída pelo nacionalismo sem freios. O ingresso da Alemanha Ocidental na Otan implicava o rearmamento alemão, apenas cinco anos depois da libertação de Paris. A Ceca foi o intercâmbio que o propiciou: no altar da aliança com a França, a Alemanha sacrificou sua supremacia nacional na indústria siderúrgica, a fonte do aço e das armas.

Numa prova de que a paternidade de Hitler é mais forte que a de Stalin, o encerramento da guerra fria não provocou a dissolução do projeto europeu, mas o seu avanço para um novo patamar. A reunificação alemã, em 1990, reativou as assombrações de um passado perene. Então, o espírito de Monnet inspirou François Mitterrand e Helmut Kohl a formularem uma segunda grande barganha, coagulada no Tratado de Maastricht, de 1992: "Toda a Alemanha para Kohl, metade do marco alemão para Mitterrand", na síntese proporcionada por uma ironia realista. A introdução do euro representou um novo sacrifício alemão, desta vez da supremacia nacional monetária, no altar da unidade europeia. O compromisso reafirmado de uma "Alemanha europeia" deveria afastar para sempre os temores estrangeiros e as tentações nacionais sobre a "Europa alemã".

"Estados Unidos da Europa" - a ousada fórmula de Monnet para um mundo pós-nacional ganhou uma materialidade mais prosaica na Comunidade Europeia, inaugurada em 1957. O gesto fundador deu-se em Roma, cercado por um simbolismo elétrico. Roma é a metáfora do Império, isto é, o oposto perfeito da nação. O Estado-nação é o poder de uma entidade política singular e homogênea, que exerce sua soberania num sistema internacional de Estados soberanos. O Império é o poder universal de um soberano, que se exerce sobre uma miríade heterogênea de povos. O mito da restauração de Roma, a memória abstrata de um tempo de unidade, pairava sobre os estadistas que fundaram a Comunidade Europeia.

A força foi a ferramenta das diversas tentativas medievais e modernas de reinvenção de Roma. Tratava-se, mais de meio século atrás, de restaurá-la pelo instrumento do consenso. Mas, mesmo depois de Maastricht, a realidade nunca se confundiu com o mito. A Europa que se veste com as roupagens do Império é uma comunidade de Estados nacionais. Além da esfera de soberanias compartilhadas, subsistem as nações, com seus sistemas políticos próprios, suas leis singulares e seus governos particulares. Quando a tempestade ameaça varrer o euro e toda a herança de Monnet, os holofotes iluminam os encontros entre os chefes de governo da Alemanha e da França, não a Comissão Europeia ou os burocratas que ninguém elegeu instalados na ilha europeia de Bruxelas.

Há duas décadas, Kohl invocou a promessa sagrada da unidade alemã para convencer os eleitores de que os alemães orientais eram concidadãos e, por isso, valia a pena subsidiar a troca de marcos orientais na equivalência artificial de um para um. Angela Merkel carece do argumento de Kohl, quando se trata de gregos, portugueses, irlandeses espanhóis ou italianos. Uma coluna da revista britânica The Economist registra que a palavra alemã Schulden, que significa "dívida", deriva de Schuld, cujo significado é "culpa". A tradição luterana se mescla à vívida memória da hiperinflação da República de Weimar para formar um denso caldo de resistência às propostas de resgate europeu dos países endividados. A ideia de união fiscal, contrapartida aparentemente indispensável à união monetária, assumiria a forma imediata de uma "união da dívida", pela emissão de títulos europeus ou por um aumento dramático nos recursos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Mas é precisamente isso que Angela Merkel qualificou como inaceitável.

Quanto vale a Europa? Sondagens de opinião entre os alemães revelam uma rejeição majoritária a novos pacotes de salvamento dos países que rondam o precipício. Simetricamente, entre os gregos, uma sólida maioria recusa a transferência da soberania popular sobre a economia nacional para Berlim e Bruxelas, condição quase explícita do plano de resgate em curso. Angela Merkel tem dias, talvez semanas, para começar a falar sobre Stalin e Hitler. O valor da Europa depende do eco que, tanto tempo depois, ainda puder gerar a menção desses nomes sinistros.

MÔNICA BERGAMO - OS REIS DO GADO


OS REIS DO GADO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 13/10/11

O cantor Zezé Di Camargo fez anteontem o leilão de gado Nelore É o Amor. O governador Geraldo Alckmin e os empresários e criadores Ivan Zurita, Maurício Odebrecht, Reinaldo Bertin, José Carlos Grubisich e seu filho Bruno foram ao Citibank Hall. Marcus Buaiz e o jogador Elano também participaram do evento, que arrecadou R$ 5 milhões.

BRAÇOS ABERTOS

O estádio do Pacaembu pode ser liberado novamente para atividades não esportivas, proibidas pela Justiça em 2009. A prefeitura estuda brechas na sentença proferida há dois anos para permitir que as Assembleias de Deus comemorem lá seu centenário, em novembro, acolhendo 30 mil fieis na arena.

SOM BAIXO
Estudos jurídicos da equipe de Gilberto Kassab indicam que é possível autorizar eventos no local, desde que obedecidos os parâmetros da sentença de 2009. Ou seja, garantindo "comodidade acústica" aos moradores dos arredores do estádio. Em outras palavras, som baixo.

GENTE DIFERENCIADA
A disputa é antiga. Em 2004, a associação Viva Pacaembu pediu na Justiça a proibição de atividades não esportivas no estádio alegando que traziam "severo incômodo". Ao confirmar a decisão, em 2010, o desembargador Renato Nalini afirmou que o bairro, "destinado a ser um local aprazível, de moradias diferenciadas", via sua vocação comprometida pela "contaminação de outras finalidades incompatíveis com o uso doméstico".

CHICO DE MARÇO
A turnê "Chico", de Chico Buarque, já tem data de estreia em SP: 1º de março de 2012. O cantor fará shows no HSBC Brasil durante quatro semanas. Ele não se apresenta em SP desde 2006.

SUPORTE
A família do ator Fábio Assunção se mobilizou para mostrar seu extremo incômodo com as piadas feitas sobre ele por Rafinha Bastos, do "CQC". Disparou telefonemas e enviou recados a interlocutores dele. Rafinha afirmou num show que uma operadora prestava serviços a prostitutas e traficantes, tanto é que o ator, que já admitiu o uso de drogas, era seu garoto-propaganda.

PAELLA DE ESCARGOT
O site The Huffington Post, dos EUA, terá uma versão francesa e outra espanhola. Na França, associou-se a dois parceiros: Les Nouvelles Editions Indépendante e o Grupo Le Monde. Na Espanha, o acordo é com o "El País".

BANDA LARGA
O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) inicia hoje a campanha "Toda quinta é dia de pressão na Anatel", a agência que regula as telecomunicações. Por meio do site da associação, os consumidores poderão enviar mensagens aos representantes do conselho, que se reúnem às quintas e em breve votarão resolução sobre a qualidade da internet.

BANDA LARGA 2
Entre as reivindicações propostas pelo Idec estão "novas regras de qualidade de atendimento ao consumidor, com prazos máximos para reparo, instalação, resolução de reclamações", "definição da variação máxima permitida da velocidade", "abatimento na conta proporcional à velocidade não entregue" e "ferramenta certificada para o consumidor medir a qualidade da sua conexão".

DA RAÇA
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, será premiado no Troféu Raça Negra, em 13 de novembro. "Vamos homenageá-lo pela condução da economia, a ponto de termos 42% de negros nessa nova classe média. Agora tem negão no aeroporto, no shopping, em todo lugar", diz o presidente da Afrobras, José Vicente.

SESSÃO NOBRE
Será lançado amanhã, no MIS (Museu da Imagem e do Som), "A Primavera do Dragão", livro de Nelson Motta sobre o diretor Glauber Rocha. Na ocasião, será exibido também um dos filmes do cineasta, "Deus e o Diabo na Terra do Sol". A sessão está marcada para as 19 horas.

CURTO-CIRCUITO

O presidente do Sebrae, Luiz Barretto, assinou acordo de cooperação com a Universidade Católica del Sacro Cuore, para atividades no ensino e pesquisa do empreendedorismo.

O artista Yutaka Toyota inaugura hoje, a partir das 19h30, a exposição "Arte Cinética" no Espaço Cultural Citi.

Lucia Brandão dará hoje, às 19h30, a palestra "Myanmar - A Magia da Antiga Birmânia", na livraria Millenium, em Moema.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

RENATA LO PRETE - PAINEL


Licença expressa
RENATA LO PRETE
FÁBIO ZAMBELI - interino 
FOLHA DE SP - 13/10/11

Enquanto é confrontado com indicadores de progressivo desmatamento em unidades de conservação, o governo publicará até o final do mês quatro portarias com novas regras para licenciamento ambiental em áreas estratégicas: rodovias, portos, empreendimentos de energia elétrica e de petróleo e gás.
O texto, alinhavado por uma equipe interministerial desde o primeiro semestre, fixará prazos e padronizará a atuação do Ibama. A iniciativa é vista com restrição por ambientalistas, para quem o objetivo das mudanças é flexibilizar a legislação e acelerar a execução de projetos de infraestrutura agressivos ao ecossistema.

Calculadora 1 Até ontem, as bancadas do PC do B e do DEM não haviam conseguido colher as 171 assinaturas necessárias para o protocolo de emendas ao texto original da Desvinculação de Receitas da União. O prazo se esgota na segunda-feira.

Calculadora 2 O governo ainda trabalha no mapeamento de seus votos: a planilha trata como "seguros" 289 deputados, de um total de 513. Mas o Planalto considera que pode arrebatar 326 apoiadores. A aprovação da DRU exige 308 votos.

Avó coruja Dilma Rousseff, que amanhã estará em Porto Alegre para lançar a versão regional do Brasil sem Miséria, esticará a permanência na capital gaúcha. No sábado, a família fará festa para celebrar, com atraso, o primeiro ano do neto da presidente, Gabriel, que nasceu em 9 de setembro.

Penitência Na novena de Nossa Senhora Aparecida, ontem, o reitor do Santuário Nacional, padre Darci Nicioli, cobrou de Gabriel Chalita (PMDB) a defesa, no Congresso, da manutenção dos feriados religiosos. Pediu ainda ao ministro Alexandre Padilha (Saúde) que o governo impeça a distribuição de preservativos nas escolas públicas.

Cheque especial O ingresso de Henrique Meirelles no PSD consumiu um dos capítulos da reunião do Conselho Político do PSDB. Grão-tucanos desdenham o potencial eleitoral do ex-presidente do BC em São Paulo. Avaliam, contudo, que a filiação ajuda o partido de Gilberto Kassab a penetrar em faixa do eleitorado agraciada com a explosão do crédito da era Lula.

Para entender A oposição alcançou as 32 assinaturas para a CPI dos Pedágios aproveitando-se da rebelião do PV-SP contra Geraldo Alckmin. O último a subscrevê-la foi o verde Afonso Lobato. Aliado do governador e pré-candidato à Prefeitura de Taubaté, cobra isonomia do Bandeirantes na disputa local com o rival do PSDB.

Quem manda Embora o presidente estadual, Marco Mróz, tenha cargo na Secretaria de Energia, Alckmin reconhece que ala expressiva da máquina partidária verde está a serviço de Kassab.

Emplacador José Dirceu ironiza, em seu blog, a maratona de inaugurações do governo paulista. "Vamos ter em São Paulo um 'Geraldinho Placa', garoto-propaganda de obras grandiosas anunciadas e não realizadas?".

Maior apoio Liderada por Luiz Marinho, de São Bernardo, comitiva de prefeitos petistas estará hoje em Campinas. O grupo prestará solidariedade ao colega Demétrio Vilagra, que busca respaldo para governar após a cassação de Dr. Hélio (PDT).

Sinais A Fifa antecipou de janeiro para novembro nova inspeção técnica no Itaquerão, o que entusiasmou dirigentes paulistas, ansiosos pela confirmação da abertura da Copa no estádio.

com LETÍCIA SANDER e DANIELA LIMA

tiroteio

"Nossa expectativa agora é que Bruno Covas diga que os R$ 8,2 milhões de emendas que foram liberadas para ele em ano eleitoral sejam também hipotéticos."
DO DEPUTADO ESTADUAL ANTONIO MENTOR (PT), sobre o fato de o secretário de Meio Ambiente ter afirmado que usou exemplo "hipotético" ao mencionar oferta de propina que teria sido feita por um prefeito a ele, quando deputado.

contraponto

Gabinete de crise


Ao passar pelo Palácio do Planalto na semana passada, o ministro Moreira Franco (Assuntos Estratégicos) notou um princípio de tumulto: cerca de 400 servidores da educação bloqueavam a avenida em frente ao prédio num ato por reajuste salarial. O peemedebista telefonou, então, para o vice Michel Temer, que ocupava a Presidência interinamente:
-Michel, assim não dá! O Lula passa aí oito anos e não acontece nada. Você senta na cadeira por pouco mais de 24 horas e já dá toda esta confusão?

DORA KRAMER - Massa mansa


Massa mansa
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 13/10/11

Desmotivadas, as pessoas reclamam da desmotivação geral por intermédio de meia dúzia de motivados que se perguntam qual a razão de tanta apatia.

Têm sido comuns as comparações ora com mobilizações de outrora - aí sempre lembrados os movimentos de rua em favor das Diretas Já e do impeachment de Fernando Collor - ora com marchas menos ortodoxas que as organizadas (se é que se aplica o termo) pela internet para protestar contra a corrupção.

Naquelas as presenças eram contadas na casa dos milhões, quantidades que hoje levam às ruas gente motivada pela religião ou pelo simples prazer de farrear sob a bandeira do combate à discriminação.

Quando o assunto é corrupção os números são infinitamente mais modestos: falou-se em 20 mil nos protestos de setembro, calculou-se em 2 mil (SP), no máximo 11 mil (DF), o público presente aos atos marcados para ontem.

Fez sucesso um recente artigo do correspondente do espanhol El País, Juan Arias, questionando a capacidade do brasileiro de reagir "à falta de ética de muitos que os governam". O jornalista resumiu no texto a perplexidade que há algum tempo permeia o ambiente.

A questão lançada por Arias tem sido respondida de diversas formas, sendo a mais comum delas a que atribui a indiferença da maioria ao fato de o governo do PT ter cooptado os movimentos sociais, as entidades estudantis e sindicais e conseguido estabelecer a (falsa) premissa de que protesto contra a corrupção é coisa "da direita", "golpismo" e "farisaísmo".

Há verdade nisso. Basta ver na internet as várias manifestações de desqualificação da iniciativa. É um fator inibidor realmente. Mas não é o único.

O que parece faltar mesmo é apelo, condução e organização. As marchas bem sucedidas e que são usadas como comparativos reúnem esse fatores, mas têm, sobretudo, gente por trás comandando a massa.

Nenhum movimento surge do nada, por geração totalmente espontânea. Nas Diretas Já havia o apelo da aprovação da emenda Dante de Oliveira e o comando da oposição. Os políticos foram para as ruas, organizaram os atos e davam consequência política a cada um deles.

No impeachment de Fernando Collor havia uma CPI no Congresso, havia o ineditismo das revelações que eram feitas quase que diariamente, havia a raiva encubada pelo confisco da poupança e houve o inusitado chamamento do então presidente para que os cidadãos o defendessem nas ruas vestidos de amarelo (a cor das diretas), que resultou num espetacular tiro pela culatra.

Hoje o que há? Os políticos são o alvo e, portanto, não têm credibilidade nem motivação para organizar o que quer que seja; o cinismo engajado põe gente com capacidade de liderança contra a causa; o desengajado acha que o Brasil é mesmo assim, inclusive porque nos últimos tempos foi convencido a abraçar a tese de uma vez por todas; e, depois da adesão do PT aos velhos vícios, falta quem vocalize institucionalmente a indignação "contra tudo que está aí".

O resultado é a dispersão traduzida na indiferença que poderia nos levar a uma constrangedora interrogação: "E quem disse que o brasileiro está real e definitivamente convencido de que a corrupção é uma ameaça concreta a ser combatida?".

Talvez esteja bem menos interessado no assunto do que supõem meia dúzia de motivados preocupados com a desmotivação geral.

Omissão

Para que serve a proximidade do governo federal com os sindicatos - cujos representantes se espalham pela máquina pública e cujos cofres são mantidos cheios e longe de quaisquer fiscalizações por influência oficial - se não serve para estabelecer uma mediação eficaz a greves que prejudicam milhões de pessoas? Só há uma conclusão possível: serve para assegurar apoio político-eleitoral a um grupo político, numa união do útil (para o governo) ao desagradável (para o público).

Na hora das benesses vale a regra da tutela, mas na hora de atender ao interesse coletivo vigora o conceito da liberdade sindical de uns como licença para impor prejuízo a todos.

REGINA ALVAREZ - Dois caminhos


Dois caminhos
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 13/10/11

O grande desafio que está colocado para 2012 é manter o País crescendo em ritmo razoável com a inflação controlada e convergindo para o centro da meta de 4,5%. E a indústria tem um papel muito importante nesse objetivo, em especial aqueles segmentos que reagem com mais rapidez aos estímulos da economia. Entender o que está acontecendo com a indústria no presente pode ajudar na construção do futuro.

O retrato da produção industrial tirado em setembro de 2008, no dia anterior ao começo da crise global, é quase uma cópia da fotografia de hoje. Se compararmos os dois períodos, a indústria praticamente não saiu do lugar. Ou seja, caiu muito na crise e recuperou-se no período pós-crise, mas não no ritmo do mercado. E em 2011 está patinando, com crescimento de apenas 1,4% até agosto, contra 10,5% no mesmo período de 2010.

As razões para esse desempenho ruim são conhecidas, na maioria, estruturais. A carga tributária elevada; os custos financeiros, da energia, da logística; e o câmbio valorizado, que estimula a concorrência de fora, às vezes predadora, e dificulta as exportações. Tudo isso é preocupante, afirma o economista Júlio Gomes de Almeida, do Iedi, mas ele destaca outros problemas que considera ainda mais sérios.

Um deles é o desempenho de segmentos da indústria relevantes para a economia, como é o caso do setor de alimentos, em especial pela capacidade de geração de empregos. De janeiro a agosto, esse segmento encolheu 1,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Também o setor de bens de capital merece uma reflexão, na visão de Almeida, pela desaceleração acentuada. Em 2010, cresceu quase 21% e este ano só 5,9%. O outro problema é a produtividade da indústria que em 2011 também não saiu do lugar.

"Olhando para a frente o quadro é de crescimento muito baixo, não é nada brilhante", observa, destacando que o único fator que pode melhorar esse cenário é o câmbio.

Assim, se nada for feito, a indústria vai crescer muito pouco em 2012, ajudando o governo no combate à inflação. Mas tem um outro caminho sugerido pelo economista, muito mais virtuoso e que pode levar ao mesmo objetivo com crescimento. O governo teria de direcionar novos incentivos ao setor industrial, voltados para o aumento da produtividade, o que faltou no plano Brasil Maior, muito mais focado na inovação. Premiar a gestão e o treinamento de mão de obra, junto com a modernização do parque industrial.

Tijolo estrangeiro

A importação de materiais de construção está forte e tem dado sustentação ao programa Minha Casa, Minha Vida, menina dos olhos do governo, mas a notícia não agradou nem um pouco a presidente Dilma Rousseff. Ao tomar conhecimento do fato, Dilma ficou bastante irritada. "Estamos usando dinheiro brasileiro. É para comprar produtos aqui dentro, criar empregos aqui dentro", reclamou a presidente, segundo interlocutores.

O programa utiliza materiais importados alternativos que substituem o sistema tradicional da alvenaria. Segundo o Ministério das Cidades, já foram contratadas 43 mil unidades desses moldes de concreto, aço leve e madeira. E há uma fila de pedidos das construtoras aguardando autorização da pasta para importar mais material.

Porcelanatos e louças chinesas também estariam na lista dos importados mais frequentes, o que já provocou uma reação do governo. A Camex aumentou recentemente, de 12% para 35%, o imposto de importação para porcelanatos.

Já o Ministério das Cidades não vê qualquer problema na importação desses materiais. Maria Salette Weber, coordenadora da área de qualidade de construção da pasta, diz que os sistemas são inovadores. E a necessidade de importá-los se deve ao despreparo do setor doméstico e ao desinteresse em investir em novas tecnologias.

CUSTO DO ROMBO: O governo belga emitirá títulos de 4 bilhões de euros para injetar dinheiro no Dexia. Isso significa aumentar em 1% o déficit público do país, projetado inicialmente para 3,5% este ano, segundo o FMI.

APOSTA DE QUEDA: A RC consultores estima que o índice CRB, que mede o preço das commodities, vai cair em reais 4,9% no mês de outubro.

NO MESMO RITMO: O banco HSBC mantém a estimativa de queda nos juros em meio ponto porcentual na reunião do Copom da semana que vem.

JOSÉ SIMÃO - Ueba! Cristo Redentor vai na Hebe!


Ueba! Cristo Redentor vai na Hebe!
 JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 13/10/11

O monumento fez 80 anos. Oitenta anos com aqueles braços abertos. E ainda não venceu o desodorante?


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E um predestinado predestinadíssimo: sabe como se chama um dos seguranças do Cristo Redentor? JESUS!
Quando ele nasceu, a mãe disse: "Você vai se chamar Jesus e vai tomar conta da estátua do teu irmão". Que fez 80 anos! Oitenta anos com aqueles braços abertos. E ainda não venceu o desodorante? Rarará!E eu nunca sei se ele tá de braços abertos ou mãos ao alto!
Oitenta anos! O Sarney também tem 80 anos. E pegaram ele pra Cristo! Rarará! O Silvio Santos também tem 80 anos. Mas ele é de borracha! A Hebe também tem 80 anos. Mas a última vez que ela abriu os braços foi para brincar de amarelinha! E diz que, se ela espirrar, vão ter de chamar a polícia pericial para remontar. Rarará!
E o "Piauí Herald" diz que, no meio dos festejos, Cristo vai até no programa da Hebe! Rarará! A Hebe vai dizer pro Cristo: "Graaaacinha".
E adorei que a selecinha do Mano tem um jogador chamado HULK! Se ele ficar com raiva, explode o calção. Rarará! Só falta chamar o He-Man do Fluminense. Hulk e He-Man! O ataque da selecinha do Mano é um ataque de riso.
E o Dia da Criança? Criança hoje em dia é a pessoa mais requisitada da casa. Olha a charge do Marco Aurélio: "Filho, o Macintosh não deleta". "Filho, dá uma olhada no iPhone da mamãe." "Dá uma olhada no iPad da prima." "Netinho, como que liga o celular?"E um amigo sociólogo perguntou todo compenetrado pro filho: "Filho, o que você está achando da televisão?". E o menino: "A daqui da sala ou a do quarto?". Rarará!
E a filha de cinco anos de um amigo meu achou uma camisinha e sabe o que ela fez? Encheu de suco de uva e botou uma pedra de gelo. Coqueteleira!
E a filha de uma amiga minha perguntou: "Mãe, o que é orgasmo?". "Não sei, pergunta pro seu pai." Rarará! É mole? É mole, mas sobe! E o Cristo Redentor já foi abertura de novela, abertura de filme e já foi derrubado em 2012! E quase metralhado em 2011!E eu gosto do Cristo iluminado, é um espetáculo. Principalmente se visto da janela do teu apartamento, como diz uma amiga minha. E o Cristo é lindo, mas o Rio tem monumentos mais bonitos: Camila Pitanga, Juliana Paes e Luma de Oliveira. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

FERNANDO BARROS - Pesquisa não define eleição


Pesquisa não define eleição
FERNANDO BARROS
O GLOBO - 13/10/11

Aí vão umas poucas linhas de quem já esteve à frente de dezenas de campanhas políticas municipais, estaduais e presidenciais no Brasil, e até fora daqui, sobre as análises apressadas dos resultados das últimas pesquisas sobre a sucessão nos municípios.

É sempre assim: faltando mais de um ano para a peleja, saem os primeiros relatórios dos grandes Institutos. Os resultados, é claro, refletem posições de certo privilégio dos nomes mais conhecidos. O eleitor, com pouco interesse pelo assunto, mas diante da abordagem firme - às vezes insistente -- do entrevistador faz um download forçado , desatualizado, da sua memória e descarrega suas preferências momentâneas. Levam a melhor os nomes mais conhecidos. O "trade" (partidos, políticos, jornalistas) apressadamente destila e contabiliza aqueles números, praticamente antecipando resultados eleitorais que na sua maioria estão longe de ser confirmados.

Quem é do ramo sabe. Além de ser popular, o candidato majoritário, salvo exceções cada vez mais raras, tem, antes de mais nada, de conseguir compor uma estratégia política inteligente e uma firme coleção de apoios político-partidários. As regras do nosso jogo indicam isso com clareza indiscutível. Os partidos podem não ser tão importantes para trazer os primeiros votos, mas são a parte mais visível do frondoso jabuticabal que faz das nossas eleições únicas no mundo com essas características. São as coligações as donas do apito e do campo. Elas formam o capital inicial necessário para o candidato ter acesso à mídia - tempo assegurado pela legislação - e agregam um exército de candidatos proporcionais que fortalecerá as bases do candidato majoritário. As coligações também são fundamentais para obtenção do chamado "saneamento básico", ou seja, recursos, dinheiro, para que o projeto tenha competitividade. Posso assegurar que um candidato, hoje, com impressionante popularidade morre de inanição na calçada se não conseguir fazer esse deverzinho de casa básico: ser apoiado por partidos e políticos que lhe garantam músculos para um enfrentamento vigoroso.

Mas gostaria de descer um pouco na análise da atitude de voto, tão longe do dia "D", tão distante da discussão mais travada que acontecerá nos dias que antecedem a eleição. Costumo dizer que o eleitor, tal como o consumidor, quer o que conhece e o que não conhece também. O desejo de voto neste momento é, por assim dizer, volátil, um site "em construção", se quisermos ser mais digitais. Aí entra o Marketing, erros e acertos da estratégia, que vão mudando a intenção de voto. Há ainda expressivos percentuais de novos eleitores, que chegaram aos 16 anos, tiraram seus títulos e estão aptos para o primeiro voto. Estes noviços ainda estão mais sujeitos à influência da maré. Estudos qualitativos são, neste momento, mais indicados. Mesmo assim, faço reservas. Pesquisas não podem ser interpretadas linearmente. Nem tudo é "batatinha, quando nasce, se esparrama pelo chão". Não podemos esquecer o contexto, a conjuntura, "the big Picture", como dizem os americanos.

Engana-se quem acha que pesquisas definem as eleições. Senão nada mudaria. Nem precisava de eleição: bastava publicar resultados de pesquisas e estava tudo resolvido. Muitos cientistas políticos afirmam ser a eleição municipal a mais desgarrada dos grandes projetos políticos federais e estaduais. Seria como escolher um síndico para seu prédio. Nem tanto nem tão pouco. Penso, as "Municipais" são as que mais possibilitam o surgimento de novos nomes. A renovação política é fertilmente irrigada pela chegada de novos, às vezes "inéditos" prefeitos. Mas raramente eles chegarão sem o suporte dos grandes partidos.

É cedo para se acolher como vencedores os primeiros nomes que surgem dos relatórios dos grandes Institutos. Não é hora da canjica. Canjica é em junho, depois do carnaval, do verão. Em junho fecham-se prazos, definem-se coligações, e a parte mais emocionante do embate inicia-se, com a mídia explícita, legítima, oficial. Melhores ou piores, são essas as nossas regras. Certamente ajudando a consolidar nosso país como uma das democracias mais notáveis do planeta.

FERNANDO BARROS é publicitário e presidente da agência Propeg.

JOSÉ SERRA - O sofá e a sala


O sofá e a sala
JOSÉ SERRA
O Estado de S.Paulo - 13/10/11

Hoje em dia, quase ninguém contesta a importância da concessão de serviços públicos em áreas de infraestrutura e energia, como forma de aumentar os investimentos e melhorar a eficiência do setor. Nas campanhas eleitorais, as "privatizações" costumam ser demonizadas, especialmente contra os tucanos, mas, em seguida, os próprios autores e seus partidos, como o PT, passam a defendê-las e a procurar implantá-las onde vencem as eleições.

Isso aconteceu depois da campanha de 2002, quando o governo Lula impulsionou a lei que modelou as Parcerias Público-Privadas (PPPs) e prestigiou o modelo de concessões na exploração de petróleo, implantado no governo FHC, que foi o responsável direto pelas descobertas do pré-sal. Ocorreu também depois da eleição de 2006, com as concessões nas estradas federais e na exploração da energia hidrelétrica. Agora, em 2011, o fenômeno se repete, com o anúncio das concessões em aeroportos, um dos belzebus da campanha do ano passado.

No que diz respeito aos interesses do País, o problema principal é a incapacidade do governo federal de fazer as coisas direito e com rapidez em qualquer modelo. Por exemplo, até agora não conseguiram implantar nenhuma PPP, sete anos depois de aprovada a lei, diferentemente de Estados como São Paulo ou Minas Gerais.

No seu quinto ano de existência, em 2007, o governo do PT revelou ao País ter colocado em pé o ovo de Colombo na concessão de estradas: conseguiria ótimas rodovias com pedágios baratíssimos e investidores estimulados a promover com rapidez avanços decisivos na infraestrutura. Tudo ao mesmo tempo!

Antes de algo acontecer na vida real, começou a operar uma impressionante louvação ao ineditismo. Diferentemente dos carros e caminhões, a mistificação não precisa de estradas para trafegar. Na época, o entusiasmo foi tamanho que certo detalhe paradoxal acabou minimizado: o petismo sempre criticou as privatizações alheias por supostamente venderem patrimônio público subavaliado. Celebrizou a expressão "preço de banana". Pois bem, as concessões rodoviárias do governo do PT não foram "a preço de banana"; foram de graça mesmo.

Com o pretexto de reduzir pedágios e estimular o concessionário a fazer rapidamente as obras, o governo entregou as rodovias à iniciativa privada sem ônus. Quem arrematou os lotes não precisou pagar nada, diferentemente de São Paulo, onde a concessão implica uma contrapartida inicial para que o Estado garanta algum retorno do capital que investiu e mantenha sua capacidade de intervenção econômica - no setor e fora dele.

Se o PT estivesse na oposição e o governo oferecesse de graça patrimônio público a agentes privados, denunciar-se-ia o "neoliberalismo selvagem". Como estava no governo, praticou-o. Se o modelo estivesse funcionando, isso poderia ficar na rubrica dos debates e disputas políticas. Mas não funciona.

Há três meses, reportagem do Estadão mostrou que as coisas não iam bem nas estradas federais privatizadas: falta de obras, acidentes batendo recordes e mau estado de conservação, o que turbina o custo do transporte. Pesquisa recente da Confederação Nacional dos Transportes mostrou que só um terço da malha federal pode ser considerado ótimo ou bom. Em São Paulo, 75% das estradas estão nessa categoria.

Mas o governo decidiu agir: tirou o sofá da sala e estendeu para a posteridade os deveres das concessionárias. Como os investimentos não acontecem, deixou de exigi-los. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, a obrigação de a concessionária investir foi remetida às calendas. E as empresas que levaram os trechos de graça, mas não cumpriram os contratos? O governo faz questão de mostrar sua indignação: afrouxou os contratos!

No edital do trecho da BR-101 que corta o Espírito Santo, cuja concessão será licitada, a duplicação poderá ser concluída em 2035. Você não leu errado: 23 anos para o felizardo entregar a duplicação de 418 quilômetros de estrada! Um quilômetro e meio por mês. Não chega a ser estafante. Mesmo assim, a concessão apenas chega no sul da Bahia (20 km), Estado onde a BR-101 se estende por quase mil quilômetros, e é conhecida em vários lugares como a rodovia da morte. Enfim, estradas ruins e o governo fazendo o jogo de esconde-esconde com as concessionárias. É a típica situação em que o barato sai caro: em São Paulo, na Régis Bittencourt e na Fernão Dias, as obras não chegaram, mas os pedágios subiram bem acima da inflação.

O método de tirar o sofá da sala se repete em outras áreas. O que se passa com a apoteótica promessa do governo Lula-Dilma de aproveitar a Copa do Mundo para dar um salto de qualidade no transporte urbano nas metrópoles? Hoje se tornou mais modesta: decretar feriado em dia de jogo para diminuir o trânsito.

Os aeroportos? Aqui e ali, veem-se um ou outro puxadinho para desafogar a demanda. Planejamento? Mudança estrutural? Benefícios duradouros para as cidades e comunidades? Quase nada. Quanto tempo o governo brasileiro teve para se preparar decentemente para a Copa do Mundo e como o aproveitou?

É o caso de perguntar também: o que ele vai fazer de prático para que as estradas federais atinjam, em prazo razoável, uma condição mais próxima do desejável? Quando os brasileiros terão à disposição rodovias seguras, prontas a receber os motoristas e suas respectivas famílias e suas cargas? É algo que não se avista no horizonte.

Nisso tudo, a fraqueza de gestão, não tanto a ideologia, conta muito. O governo acaba funcionando como escola de administração, aonde as pessoas vão mais aprender do que fazer. E há, sobretudo, o estilo patrimonialista de governar, que compreende o uso do setor público como se fosse propriedade do partido, de seus aliados e de algumas corporações. É a privatização viciosa que atrapalha a virtuosa. Por último, a publicidade massiva e a espetacularização permanente - esta, sim, competente - das realizações não cumpridas fecham o círculo: ilude o próprio governo, amolece o trabalho e dificulta as soluções.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Exportações brasileiras devem bater a média mundial neste ano, diz Mdic
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 13/10/11

As exportações brasileiras devem superar a média mundial mesmo após a revisão para cima das estimativas do FMI (Fundo Monetário Internacional) sobre o comércio mundial neste ano, comparado a 2010.
A estimativa do resultado é do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O crescimento previsto pelo Fundo é de 19,7%, para US$ 17,9 trilhões, segundo o último relatório. Em abril, a expectativa era de alta de 18,2%.
No acumulado de 2011, as exportações brasileiras cresceram 30,4% se comparadas ao mesmo período de 2010. A previsão do Mdic é que as exportações fechem o ano com US$ 228 bilhões.
"Deve bater o total de exportações de 2010 até o final de outubro", diz a secretária de Comércio Exterior do Mdic, Tatiana Prazeres. Mesmo se forem considerados apenas os produtos industrializados, a alta é de 22%, segundo o ministério. "A taxa está acima da média projetada pelo FMI, que é de 18%", segundo a secretária de Comércio Exterior.

DEFESA COMERCIAL
O ministério prepara portaria com regras para agilizar processos contra artigos importados beneficiados por dumping (importação por preços abaixo do normal no país de origem). O prazo para sugestões na consulta pública aberta pelo governo para as mudanças acabou no sábado passado. "A expectativa é que, muito em breve, até o final deste ano, saia a nova regulamentação para defesa comercial."

Vacância de escritórios de luxo em SP vai dobrar até 2013

A taxa de vacância dos escritórios de luxo na cidade de São Paulo deve dobrar até 2013, segundo estudo da Jones Lang LaSalle. Com a entrega de novos prédios nos próximos dois anos, o índice, que hoje é de 7,5%, deve chegar a 15%. "Serão muitos lançamentos. As empresas não buscarão novos espaços no mesmo ritmo das inaugurações", de acordo com André Costa, diretor da consultoria.
Nos últimos doze meses, o valor máximo de taxa de vacância para escritórios de luxo na cidade foi de 7,9%, no terceiro trimestre de 2010. O menor índice, por sua vez, foi de 6,4%, ao final do ano passado. Para a consultoria, o aumento de 100% na taxa de vacância nos próximos meses não será um fato negativo. "As companhias que precisam de espaços mais amplos conseguirão mudar de endereço com maior facilidade", afirma Costa.

Emprego de... Para este Natal, a Globex, holding da Casas Bahia e do Pontofrio, vai contratar 1.344 colaboradores temporários. Aproximadamente 400 selecionados irão trabalhar como auxiliares de loja nas filiais do Pontofrio no Estado de São Paulo.

...Natal Outros 945 serão alocados nos depósitos da Casas Bahia em Jundiaí, Ribeirão Preto e São Bernardo do Campo. O contrato inicial é de três meses, com início em novembro. Todos têm possibilidade de serem efetivados no início de 2012, segundo a empresa.

Expoentes Pierre Moreau, sócio do Moreau & Balera Advogados e sócio da Casa do Saber, lança no dia 25 de outubro o livro "Grandes Advogados". É uma coletânea de entrevistas com nomes do direito como Eros Grau, ministro aposentado do STF, os ex-ministros da Justiça Márcio Thomaz Bastos e Miguel Reale Júnior, Antonio Meyer, sócio do Machado e Meyer, e Priscila Corrêa da Fonseca, sócia do escritório que leva seu nome.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ