quarta-feira, março 08, 2017

A dimensão do desastre - MÍRIAM LEITÃO

O Globo - 08/03

A maior queda do PIB da nossa história foi construída na marcha da insensatez do governo Dilma. Ontem foi o dia de olhar de frente para todos os números do nosso desastre e é espantoso que haja quem duvide da origem dos erros que nos trouxeram ao ponto em que estamos. Mais de 7% de recessão em dois anos, mais de 9% quando a conta é feita pelo PIB per capita desde 2014.

A história econômica registrará o ineditismo do momento. Desde que há estatísticas, em 1901, nunca se viu um biênio como esse. A crise foi feita por Dilma, mas Temer ainda não a reverteu. Estamos numa transição. O dado do último trimestre de 2016 foi mais negativo do que o esperado, mas, felizmente, não é uma tendência.

Há várias formas de se olhar esse índice. O PIB caiu 0,9% no último trimestre comparado ao trimestre anterior. Havia sido de -0,3% no segundo trimestre e -0,7% no terceiro. Quem olha a sequência de números pode pensar que estamos no meio de um agravamento da recessão. Mas não. A melhor forma de olhar os dados é compará-los com o mesmo trimestre do ano anterior. Por essa conta, no começo do ano passado, a queda era de 5,4%, e agora, 2,5%. Atenua-se lentamente o tamanho da recessão.

A melhora vai ser demorada e com isso o país vai continuar convivendo com números desastrosos. A taxa de investimento — que mostra possibilidade futura de crescimento — teve uma queda no ano de 10,2%. Em 2015, havia caído mais: 13%. E chegou a estar em queda de 18,7% no último trimestre de 2015. Ainda está muito ruim, mas já foi pior.

A história que os números contam é a de um país que despencou em queda livre e longa desde o fim de 2014, época em que a então presidente e candidata Dilma Rousseff perguntava sempre a cada entrevista: “crise? que crise?” O que ela não via estava diante dos olhos dos economistas e analistas do país. A recessão estava sendo contratada pela displicência com a inflação, pelo gasto excessivo, pelos subsídios insustentáveis aos empresários, pelo seu pensamento econômico rudimentar.

Hoje o IBGE vai divulgar a produção industrial e a previsão é de novo número negativo em janeiro. O governo Temer já governa desde maio do ano passado. Tem conseguido algumas melhoras na economia, mas não fez a virada rápida que o país precisava. É, de fato, muito difícil mudar em pouco tempo uma situação tão ruim. O governo Temer tem tomado decisões acertadas na economia, mas permanece imerso em ambiguidades e suspeições. O pior ficou para trás, contudo a recuperação será lenta.

Como o dado do último trimestre foi pior do que o esperado, os economistas explicam que o carregamento estatístico para 2017 também piorou: saiu de -0,7% para -1,1% no cálculo da Tendências. Isso significa que a economia começou o ano de um ponto ainda mais baixo do que se esperava. Para voltar ao zero, na média, terá que, primeiro, recuperar esse 1,1%. Por isso, as projeções para o PIB, de vários bancos e consultorias, já estão sendo revistas para baixo.

A inflação caminha para o centro da meta e no dado de fevereiro, que o IBGE divulga na sexta-feira, deve ficar abaixo de 5%. Com o nível de atividade mais fraco e a redução da inflação, o Banco Central vai acelerar o ritmo de corte dos juros de 0,75% para 1% na reunião de abril. Esse impulso da política monetária chegará à economia real, mas apenas no segundo semestre. No primeiro semestre a grande esperança está na agricultura. Mesmo com todos os impulsos o país terá um número pífio em 2017.

Há ainda uma grande incerteza. O economista Sérgio Valle, da MB Associados, diz que se não for aprovada a reforma da Previdência o país pode ter recessão também em 2017, em vez do ligeiro positivo que todos esperam. Parece exagero. Mas uma parte da melhora dos indicadores é resultado da expectativa de que o país vai começar a sair buraco fiscal.

Ele diz que, sem a reforma, o limite de teto de gastos não se sustenta e o aumento das despesas com aposentadorias continua em ritmo insustentável. Isso elevará o risco-país, o dólar, o pessimismo. É o que pensam os economistas em geral.O país terá que fazer reformas difíceis num governo cheio de fragilidades para sair do fundo desse poço.


Podemos sair da recessão em 2017, mas só se seguirmos o ajuste fiscal - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 08/03

Vivemos a mais longa recessão da história recente do país: 11 trimestres, dos quais o PIB registrou queda em nove (e estagnação nos demais).

No primeiro trimestre de 2014, o produto atingiu R$ 1,783 trilhão; no último trimestre do ano passado, R$ 1,622 trilhão (-9%), praticamente o mesmo nível observado no terceiro trimestre de 2010. Regredimos, portanto, sete anos em três.

Há quem atribua tal desempenho à austeridade fiscal, principalmente por parte do governo federal. Isso é falso: como divulgado nesta terça (7), o consumo do setor público se manteve virtualmente inalterado (R$ 361 bilhões agora, ante R$ 365 bilhões no início de 2014). Outras medidas de gastos, no caso do governo federal, incluindo despesas como pagamentos de aposentadorias e pensões, mostram aumento do dispêndio, jamais queda.

Só mesmo apreciável contorcionismo mental poderia atribuir ao ajuste fiscal, nem sequer iniciado, a queda vertiginosa da atividade econômica, iniciada ainda em 2014.

Por outro lado, o investimento não apenas caiu muito mais do que o consumo público (R$ 97 bilhões no mesmo período) como, na verdade, começou seu colapso já em 2013, não por acaso também o ano em que se iniciou a piora da percepção de risco soberano.

O prêmio de risco cobrado do país praticamente dobrou naquele ano, saindo de 1% para 2% ao ano (em dólar), escalada que continuou à medida que a administração Dilma se mostrou incapaz de endereçar o problema do gasto público crescente.

Assim, em janeiro do ano passado empresas que precisassem acessar o mercado internacional de capitais encaravam um prêmio de risco de quase 5% ao ano, o que não apenas encarecia a captação de dívidas novas mas também deprimia o preço de suas ações, encarecendo também a opção de obter recursos por meio de emissão de novo capital.

Nesse contexto a queda de quase 30% do investimento entre seu pico no terceiro trimestre de 2013 (R$ 357 bilhões, já corrigidos pela inflação) e o último trimestre de 2016 (R$ 255 bilhões) não chega a ser uma anormalidade, mas a reação natural de empresas em face de um aumento considerável do custo do seu capital.

Para não deixar dúvidas, a recessão histórica é resultado direto das políticas desastradas adotadas pela administração anterior, em particular no plano fiscal, mas muito agravada pelo intervencionismo excessivo em diversas frentes.

O estrago foi imenso e segue afetando a atividade por meio de suas consequências, como o caso do emprego (com reflexos sobre o consumo), bem como o investimento, por causa da enorme capacidade ociosa criada de 2014 para cá.

Contra esse pano de fundo é que espero uma modesta recuperação, expressa em crescimento ao redor de 0,5% para 2017. Como expliquei recentemente, esse número não é tão ruim como parece, pois equivale a expansão trimestral do produto ao ritmo de 2,5% ao ano, impulsionada pela queda da taxa de juros e pela redução do risco-país.

Não há dúvida de que esses desenvolvimentos se amparam principalmente na aprovação do teto para o gasto público e na proposta de reforma previdenciária.

Podemos sair da recessão em 2017, mas apenas se seguirmos no caminho do ajuste fiscal, ainda que lento. Se desviarmos dele, como defendido pelos suspeitos de sempre, correremos o risco de perder outros sete anos.

O hiato da discórdia - FÁBIO ALVES

ESTADÃO - 08/03

Debate é quanto a atividade econômica está rodando abaixo do PIB potencial



Mesmo antes de o IBGE confirmar a pior recessão desde 1948, com a queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, um debate já havia começado a esquentar entre analistas: com a recuperação esperada da economia brasileira em 2017 e, com mais força, em 2018, a inflação poderá voltar a se acelerar a ponto de forçar o Banco Central a elevar os juros novamente ou, no mínimo, ser menos agressivo no corte da taxa Selic?

Na mais recente pesquisa Focus, do BC, a projeção de inflação neste ano está em 4,36%. Para 2018, essa previsão é de 4,50%. A projeção da taxa Selic ao fim de 2017 está em 9,25%, caindo para 9,0% ao fim de 2018. E a estimativa para o PIB é de crescimento de 0,49% em 2017 e de expansão de 2,39% em 2018. No centro do debate está a questão do hiato do produto: quanto a atividade econômica está rodando abaixo do PIB potencial.

De um lado, há os analistas que acreditam que, com os estímulos monetários já injetados pelo BC, a partir do momento que começar a recuperação da atividade econômica, o hiato do produto começa a fechar, ou seja, diminui o grau de ociosidade da economia, levando a retomada da produção e a contratação de mão de obra. E ao diminuir o tamanho do hiato, já começa a haver pressão inflacionária, refletindo reajustes de salários e de outros custos. Esse cenário forçaria o BC a ser menos agressivo ao cortar juros ou, na pior das hipóteses, a voltar até a apertar a política monetária mais adiante.

De outro lado, os analistas que apostam num ciclo de redução dos juros mais profundo consideram que o hiato do produto está amplo o suficiente para permitir que o Brasil cresça novamente sem causar pressão inflacionária por recursos ociosos da economia, quer seja no mercado de trabalho, quer seja na capacidade de produção das indústrias e empresas. Isso permitirá que, enquanto o Brasil estiver “consumindo” esse hiato, a inflação tenderia ficar bem comportada.

O economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall, é um dos que acreditam que a ociosidade da economia permitirá que o BC siga cortando os juros sem a ameaça da pressão inflacionária. Kawall diz que a maioria das projeções aponta para um PIB potencial entre 1% e 1,5%. Ele estima que, se a economia crescer, por exemplo, ao redor de 2,5% em 2018 e em diante, o hiato do produto seria fechado só em 2022, ou seja, este seria o ano em que a economia voltaria a crescer no seu potencial.

Para Kawall, o debate entre os que veem pressão inflacionária com o início da retomada da economia e os que acreditam que a ociosidade permitiria crescer sem acelerar os reajustes de preços envolve também a discussão sobre o nível de juros neutros, ou a taxa de equilíbrio que não afeta a demanda e, ao mesmo tempo, mantém a inflação na meta. Muitos creem que a taxa neutra real (descontada a inflação) esteja ao redor de 5%. Se a inflação, de fato, ficar ao redor da meta de 4,5%, teoricamente os juros básicos teriam de parar em 9,5%.

“Dado o juro neutro, ainda há a questão de como seria a resposta da inflação à medida que a economia volte a crescer acima do seu potencial mesmo na presença de um hiato do produto bastante negativo”, argumenta Kawall. Ele projeta uma taxa Selic a 8,5% ao fim deste ano e a 8,0% ao fim de 2018.

No momento em que se espera a redução da Selic para apenas um dígito, a discussão sobre o tamanho do hiato do produto e dos juros neutros deve ficar mais acalorada. Para que a projeção da Selic nos próximos anos caia abaixo do nível projetado como neutro, ou o BC teria de optar por manter a Selic temporariamente abaixo do juro neutro para estimular a economia ou essa taxa neutra teria de cair de forma estrutural e consistente daqui em diante. Mas, sem a aprovação de reformas fiscais, como isso será possível?

Anos 2010 são uma viagem ao fundo do abismo sórdido - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 08/03

Antes de ser uma década perdida para a economia, os anos 2010 terão sido um ano de assombrações, de coisas terríveis e, se não inexplicáveis, ainda muito mal explicadas.

Por que a grande revolta política "das ruas" começou quando consumo e renda flutuavam no nível mais alto da história, 2013? Por que a recessão não provoca conturbação social maior, embora produza projetos de monstros, líderes políticos das trevas?

Em 2015 e 2016, jamais a renda média dos brasileiros rolou tão rápido a ribanceira desde que se tem notícia dessas coisas, desde o começo do século passado.

No entanto, mesmo depois de tamanha desgraça, a renda média, na verdade o PIB per capita, ainda equivale à de meados do ano da felicidade consumista de 2010, da canonização política de Lula e da eleição do poste que ele indicou por um "dedazo" de caudilho, Dilma Rousseff.

Sim, há o desemprego terrível, que duplicou em dois anos, para níveis altos mesmo no Brasil, de tumultos e exageros ciclotímicos. Por falar nisso, talvez o desemprego fulminante seja devido justamente ao fato da proteção dos rendimentos, do trabalho ou outros, como acreditam economistas ditos ortodoxos. Sem ajuste maior pela renda, talham-se empregos.

Mas, por horrível que seja dizê-lo, mesmo a massa imensa de desempregados é minoritária.

Mesmo após o desastre, ainda está quase no maior nível da história o número de pessoas com salários protegidos por lei, com empregos formais, com renda mínima garantida por algum programa social. Ao menos na história até 2014 ou 2015, o que, em termos históricos, desculpem o pleonasmo, foi anteontem.

A renda média aumentaria ainda até o pico de 2013, um dos anos de assombros e assombrações. Ano daquele Junho que foi o começo da campanha contra Dilma Rousseff. Ano do colapso súbito da confiança política e econômica, dos primeiros sinais de recessão, na indústria, no investimento, evidentes no segundo semestre.

No entanto, a revolta da massa era de um modo ou outra política. A recessão estava longe das ruas. Mesmo o movimento de deposição de Dilma antecedeu a crise econômica dura. Foi deflagrado pelo udenismo de Aécio Neves em fins de 2014; teve repercussão social maior antes da crise braba, ainda no primeiro trimestre, uma reação ao estelionato eleitoral chocante.

A revolta da elite empresarial era quase inaudível em 2012; era sussurrada com ira pouco antes do Junho de 2013. Mas, até pouco antes disso, aceitavam-se quase de bom grado as primeiras loucuras de Lula e os primeiros terremotos ruinosos de Dilma. Era um conluio. Ignorava-se a demência da política econômica porque havia rapina direta, roubança, e subsídios, empréstimos empresariais e consumismo insustentável financiado com dívida pública.

É fácil compreender o oportunismo vulgar da elite quase toda. É menos simples entender como um país inteiro foi incapaz de resistir a esse pacto de ruína. Um país que pareceu imunodeficiente de instituições, forças políticas e debate público que abalassem a versão final e mais degradada da "Pax Luliana", o acordão entre petismo e agregados esquerdistas com os donos da grande empresa e do dinheiro grosso em geral.

Isso que nos trouxe a este abismo sórdido.

O amigo é Lula - VERA MAGALHÃES

ESTADÃO - 08/03

Marcelo Odebrecht confirmou nos depoimentos que integram sua arrasadora delação premiada que o “amigo” ou “amigo de EO” que aparece em trocas de e-mails e planilhas do grupo é mesmo Luiz Inácio Lula da Silva. Procuradores que acompanharam a colaboração atestam: as revelações de Odebrecht são “arrasadoras” para o petista – o que ajuda a explicar a pressa em lançar sua candidatura à Presidência em 2018.

Apesar do extraordinário crescimento que o grupo experimentou nos governos do PT, Odebrecht descreve a amizade entre o pai, Emílio, e o ex-presidente como um estorvo. Se queixa de que o pai cedia demais aos pedidos de Lula, o que obrigava a empresa a fazer investimentos desvantajosos.

A delação do herdeiro é fulminante também para duas outras figuras de proa do petismo: Antonio Palocci e Guido Mantega. “Os dois morrem”, resume um integrante do Ministério Público, segundo o qual “não restará outra possibilidade de defesa” para o “Italiano” que não seja propor colaboração judicial para entregar a cadeia de comando dos favores que prestou e do dinheiro e distribuiu.

A LISTA 1

Janot deve evitar denúncias em ‘pacote’ da Odebrecht

Em fase de finalização dos procedimentos que encaminhará ao Supremo Tribunal Federal, Rodrigo Janot deve jogar na retranca e repetir o que fez em 2015: até agora não há nenhuma denúncia no pacote, só pedidos de abertura de inquérito. O procurador-geral da República quer evitar ser acusado de denunciar políticos com base apenas em delações, e vai pedir a produção de novas provas e a realização de diligências.

A LISTA 2

Para MPF, Supremo inviabilizou doação eleitoral como ‘álibi’

Às voltas com a finalização dos pedidos a partir da delação da Lava Jato, a PGR comemorou a decisão de ontem do Supremo Tribunal Federal que tornou réu o senador Valdir Raupp. As novas peças têm um arrazoado longo para sustentar que não importa se a destinação de recursos foi a campanha para determinar o crime, e sim se ele foi fruto de contrapartidas em favores. Os crimes de corrupção e lavagem independem da destinação dada ao dinheiro, dirão as peças.

A LISTA 3

Bloco ‘paulista’ de delações atinge tucanos e Kassab

Os tucanos são atingidos com intensidade diferente pelas delações da Odebrecht, principalmente pela de Benedicto Júnior, o BJ, que foi presidente da empreiteira. Embora mencione Geraldo Alckmin, os procuradores ainda não têm segurança sobre a “gravidade da conduta” que será imputada ao governador de São Paulo. Já José Serra será implicado diretamente. O ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, é citado em mais de um episódio.

ELEIÇÕES 2018

Mais um obstáculo para o PT: procura-se marqueteiro

Além da Lava Jato no calcanhar de Lula, a rejeição recorde ao ex-presidente e o fato de o PT não contar mais com a poderosa máquina pública das últimas campanhas, a nova candidatura do ex-presidente esbarra na dificuldade de encontrar um marqueteiro. Depois da prisão de João Santana, dois nomes da “primeira divisão” das campanhas disseram não a sondagens da cúpula para encarar a empreitada. Um terceiro profissional, das divisões de base, também recusou.

ECONOMIA

Meirelles venderá discurso otimista em reunião do G20

O discurso de que o PIB desastroso de 2016 é apenas o “retrovisor” do governo Dilma, ensaiado ontem na reunião do Conselhão, será repetido, com doses maiores de otimismo, por Henrique Meirelles no encontro dos ministros da Fazenda do G20, na Alemanha, semana que vem. O auxiliar de Michel Temer vai defender que “fundo do poço” da crise já passou e que o Brasil é hoje a única grande economia a promover reformas estruturais, com concessões à iniciativa privada e redução dos gastos com a Previdência.

GOVERNO

Temer aposta em inauguração de obra para tentar bater bumbo

Temer decidiu transformar a inauguração do Eixo Leste da transposição do Rio São Francisco em um grande acontecimento. Transferiu o evento do próximo sábado para sexta-feira para poder levar parlamentares. Também decidiu fazer duas solenidades: uma para liberar água para o município de Sertânia (PE) e outra para Monteiro (PB). Assim, pretende faturar em dois Estados.

A corrida pela aposentadoria - EDITORIAL ESTADÃO

ESTADÃO - 08/03

Número de servidores públicos que anteciparam a passagem para a inatividade, no ano passado, foi o mais alto desde 2003



A corrida do funcionalismo da União pela aposentadoria, por receio de eventuais perdas de benefícios com a reforma previdenciária, está abrindo para o governo federal uma oportunidade ímpar para reestruturar a administração pública direta, autárquica e fundacional. Segundo o Boletim Estatístico de Pessoal, elaborado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o número de servidores públicos que anteciparam a passagem para a inatividade, no ano passado, foi o mais alto desde 2003, quando ocorreram as últimas grandes mudanças na Previdência Social. No segundo semestre de 2016, a União tinha 577,4 mil aposentados, 6,1% mais do que no final de 2015.

Os especialistas em previdência já esperavam essa corrida. Como a máquina do Estado há décadas se encontra inchada, pagando salários muito mais altos do que a iniciativa privada para cargos correspondentes, uma das decisões do governo para adequá-la a um cenário de queda de arrecadação e ajuste das contas públicas foi não repor os servidores que estão se aposentando. Segundo o IBGE, em 2016 o funcionalismo ganhava, em média, 63,8% mais do que um empregado com função equivalente numa empresa privada.

Pelas estimativas do Ministério do Planejamento, o número de servidores recém-aposentados somado ao número de servidores que já completaram os requisitos para se aposentar, mas ainda não entraram com os pedidos, pode chegar a 20% do funcionalismo.

Para consolidar a redução do tamanho do funcionalismo, deflagrada pela corrida pela aposentadoria, o governo congelou contratações e proibiu a realização de concursos públicos, especialmente nas carreiras de nível médio. Por isso, quase todos os concursos previstos para 2016 e 2017 na administração direta foram suspensos. Além disso, a Secretaria de Coordenação e Governança de Empresas Estatais, vinculada ao Ministério do Planejamento, já informou que em breve publicará portarias com a mesma determinação para as empresas estatais.

Originariamente, o governo federal queria trabalhar com a premissa da “reposição zero”. Mas o fato é que um decreto de 2009 e outro de 2014 impedem que a suspensão de concursos atinja algumas carreiras de Estado com média salarial entre R$ 25 mil e R$ 27 mil mensais, como as de diplomata, advogado da União, procurador federal, procurador da Fazenda, defensor público e delegado da Polícia Federal. A suspensão também não inclui as universidades federais, que poderão contratar substitutos para os professores que se aposentarem. Além disso, por causa do risco de colapso no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, onde há 242 mil pedidos de registro de patente na fila e um tempo médio de espera de 11 anos, o governo teve de abrir uma exceção, autorizando a nomeação de 70 candidatos aprovados em concurso realizado em 2014.

Para os sindicatos do funcionalismo, o congelamento das contratações, conjugado com a suspensão de concursos públicos, travará algumas áreas estratégias, por falta de pessoal. Para os técnicos do Ministério do Planejamento, contudo, é possível afastar esse risco por meio do remanejamento de servidores para as áreas carentes de pessoal especializado e da oferta de cursos de treinamento para que possam assumir novas funções sem risco de descontinuidade dos serviços públicos. As entidades sindicais alegam que o direito administrativo em vigor restringe as transferências de cargo e a realocação dos servidores. As autoridades federais reconhecem essas limitações, mas acreditam que, por meio da aprovação de leis ordinárias, o governo – que tem amplo apoio no Congresso – poderá flexibilizar progressivamente a legislação administrativa.

Por maiores que sejam as resistências corporativas do funcionalismo e o impacto inicial do aumento de servidores aposentados nas contas da Previdência, a corrida pela aposentadoria e a decisão do governo de não repor as vagas abertas são um passo decisivo para se enfrentar o desafio da modernização do aparelho estatal.


Recessão histórica - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 08/03

Na história de que se tem registro, jamais os brasileiros empobreceram tanto num biênio como em 2015-2016. Caso se pretenda fixar tal desastre na memória, com uma pincelada rápida e forte, pode-se dizer que estamos diante de um recorde em muitas décadas.

Conforme os dados recém-divulgados pelo IBGE, a renda média por habitante do país encolheu quase 9% no período —se incluída a queda menos aguda de 2014, atinge-se esse percentual.

No colapso financeiro que apressou o fim da ditadura militar, o PIB per capita diminuiu cerca de 13% no triênio 1981-1983, e o patamar de 1980 só seria recuperado de maneira sustentável 13 anos depois.

Agora, dadas as atuais estimativas de crescimento, apenas em 2023 o país retornaria ao mesmo nível de renda média de 2013, numa década inteira de estagnação.

Previsões econômicas decerto não passam de exercícios. Baseiam-se em relações e comportamentos verificados no passado, que podem ser em parte alterados pela inovação institucional e política.

Dito de outra maneira, as reformas ora em andamento afetarão, a depender de sua profundidade e ambição, as projeções para o futuro —que hoje ainda embutem a expectativa de avanços não mais do que medíocres, aos quais o país não deve acomodar-se.

É fato que os motivos desta recessão são excepcionais, em variedade e força. Houve excesso de endividamento público e privado, em boa parte devido ao exagero de consumo estimulado pelos governos petistas a partir de 2010.

Intervenções governamentais de incompetência inaudita reduziram a rentabilidade dos empreendimentos privados e arruinaram estatais. Uma tentativa atabalhoada de ajustar as contas federais em 2015 acelerou a crise.

Tamanho dano mal começou a ser reparado. Ademais, correntes relevantes da opinião pública ainda não se deram conta da gravidade dos problemas e do risco de encarar reformas como mero lobby de grupos conservadores, tal como se observa no debate sobre as mudanças cruciais na Previdência.

Vislumbram-se sinais de recuperação, mas não está afastado o risco de recaída —de reprise de uma regressão tão profunda e duradoura quanto a dos anos 1980. Nesta hipótese, o drama do retrocesso seria também social e político.

Os reais responsáveis pela crise histórica - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 08/03

Estes 7,2% de perda de produção são o preço que a sociedade paga pelo populismo adotado por Lula no segundo governo, sob inspiração da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff


A informação do IBGE, de que o país se manteve em grave recessão em 2016, pelo segundo ano consecutivo — sequência rara — tem uma evidente dimensão econômica e, por inevitável, repercussão política, por estarmos a uma distância não muito grande do ano eleitoral de 2018.
-

Os 3,6% da recessão do ano passado se somam aos 3,8% da queda no exercício anterior, para subtrair 7,2% do PIB, algo sequer comparável à perda relativamente menor que teve a economia brasileira na Grande Depressão americana, com duros impactos no mundo, em 1929 e 30.

Há um fato estatístico que não se pode creditar à mera coincidência: com a recessão do ano passado, a produção da economia brasileira voltou aos níveis do segundo semestre de 2010, quando o país teve um crescimento de 7,5%, forjado por políticas “desenvolvimentistas” de aumento descuidado de gastos públicos, via indução a investimentos subsidiados pelo BNDES e práticas do tipo.

Entenda-se, portanto, que estes 7,2% de perda de produção, causa de um mastodôntico desemprego de quase 13 milhões de pessoas — que amargarão muito tempo até voltarem ao mercado formal de emprego —, são o preço que a sociedade paga pelo populismo adotado por Lula no segundo governo, sob inspiração da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. E, ao ser eleita presidente pelo ex-chefe, Dilma completou o serviço, em grande estilo. Tanto que sofreu impeachment por irresponsabilidades fiscais.

A adoção de medidas heterodoxas de aperto no acelerador das despesas sem qualquer preocupação fiscal gerou a euforia dos 7,5%, permitiu naquele ano a eleição da pupila e, mantida a dosagem de irresponsabilidades fiscais, ainda foi possível reeleger Dilma Rousseff. Mas já com a aplicação desbragada de técnicas de “contabilidade criativa”, ou seja, manipulação estatística, a fim de esconder o verdadeiro estado das contas públicas.

O gráfico ao lado resume a tragédia produzida pelo lulopetismo: PIB em queda, desemprego em alta e inflação de volta aos dois dígitos. Uma mistura tóxica para a renda, os salários e, claro, o emprego.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem razão em dizer que a recessão está no espelho retrovisor. Há sinais de que ela terá estancado neste primeiro trimestre. Mas esta cena vista por cima dos ombros é que deverá, em alguma medida, pautar a discussão político-eleitoral que tende a crescer daqui para frente.