domingo, outubro 19, 2014

Ataques à História - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 19/10

Como na obra de George Orwell, governo tenta reescrever a História recente do Brasil. Deveria ser a safra dos debates profundos sobre o país, sobre suas dificuldades reais e a procura de solução para os inúmeros problemas que já existem e os que podem ser previstos. Mas os marqueteiros vestem a realidade com frases de fantasia, confortáveis para os candidatos, e afiam armas. Alguns fatos são deturpados e a história recente é reescrita até ficar irreconhecível.

É óbvio que foi o ex-presidente Fernando Henrique quem venceu a hiperinflação. Foi ele quem levou para o governo Itamar Franco os economistas com a tecnologia e a destreza para montar um plano que atendia a dois pedidos dos cidadãos: ser feito às claras, sem sustos e perdas, e matar o dragão que sobrevivera a cinco planos e devorava as finanças das famílias. Foi FH quem superou os desafios para consolidar o real e começou a reorganizar o estado. Acusar aquele governo de inflação alta é desonestidade.

Na distopia de George Orwell, 1984, os poderosos reescrevem a história. Quem viu a longa luta do Brasil para ter uma moeda estável sabe quem liderou a vitória sobre a inflação e lembra dos benefícios dessa conquista para as pessoas.

As ideias do PT sobre o combate à inflação eram toscas e perigosas. Seus economistas defenderam teses que nunca deram nem dariam certo; ou, o que é pior, um plebiscito sobre pagar ou não a dívida interna. Não pagá-la seria tomar o dinheiro de quem investiu em títulos públicos, como fez o ex-presidente Collor. O plebiscito e uma auditoria nas aplicações dos brasileiros foram defendidos pelo PT dois anos antes de assumir o poder. Se aplicasse o programa em 2003 teria destruído o real. Cotejar números descarnados dos fatos é um desrespeito à memória do país.

O PT não faria a estabilização e hoje a ameaça. Não são "choques de preços" que explicam a inflação estar acima do teto da meta. Inesperados sempre ocorrem e é por isso que existe a margem de flutuação. O governo atual aceitou uma inflação mais alta. A taxa passou o mandato inteiro arranhando ou furando o teto, porque perdeu o espaço para acomodar os choques. O PT deve a Antonio Palocci e à ajuda de Arminio Fraga ter vencido as naturais desconfianças sobre a capacidade do partido de conduzir a economia. Arminio socorreu o país em dois momentos-chave: ao assumir o Banco Central no meio da crise cambial, em 1999, e na transição política, em 2002. Ninguém é obrigado a gostar dele, mas esses são os fatos.

Da mesma forma que o PSDB tem o mérito de ter atendido a demanda do país por uma moeda estável; o PT tem o mérito de ter atendido a demanda do país por redução da pobreza e da miséria, e por ter ampliado os programas de renda mínima. Quem começou a defendê-los como política pública foi o senador Eduardo Suplicy. Repórteres iam ouvi-lo sobre qualquer assunto, e tinham uma aula sobre as políticas de transferência de renda.

Estudos foram feitos por especialistas em combate à pobreza. A política foi testada em municípios dirigidos por partidos diferentes: Campinas, PSDB; Brasília, PT; Belo Horizonte, PSB. Quando chegou ao governo federal, o valor da bolsa era pequeno. Mas aquela experiência trouxe dois avanços: iniciou a montagem de um cadastro dos beneficiários e vinculou o benefício à presença na escola. Outra preocupação do governo FH é que a bolsa não fosse vista como uma concessão partidária, mas um direito do cidadão.

A ideia inicial do PT, o Fome Zero, seria um retrocesso: era entregar selos para serem trocados por comidas, como os "food stamps", política testada nos Estados Unidos na Depressão e que virou programa social a partir dos anos 1960. O Fome Zero não saiu do papel, o governo corrigiu a rota e criou o Bolsa Família. A presidente Dilma colocou os focos nos mais pobres e o governo dedicou-se à busca ativa, que é procurar os que mais precisam. Prisioneiros das armadilhas do Brasil profundo, eles não tinham sequer noção dos seus direitos. A estabilização e a redução da pobreza são conquistas do país que nenhum governo deve ameaçar.

O combate à corrupção é uma demanda do Brasil e a presidente Dilma a enfraquece quando bate no peito e diz "a minha Polícia Federal". Lembra muito a frase: "o Estado sou eu".


Voto de cabresto oficial - JOÃO BOSCO RABELLO

O ESTADÃO - 19/10


A primeira pauta pós-eleições será necessariamente a Petrobrás, diante da perspectiva da publicidade da delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, cujos vazamentos parciais indicam um escândalo político sem precedentes.

Juntados esses vazamentos, que incluem nomes expressivos do quadro partidário brasileiro, com o depoimento de Costa não submetido ao segredo de justiça, tem-se um duto de recursos públicos desviados para irrigar campanhas e políticos de PT,PMDB e PP, o que pode alcançar as campanhas da presidente Dilma de 2010 e a atual, ainda que à revelia da candidata.

É um quadro que seria avassalador para qualquer governo em campanha pela reeleição, dado que o tempo de mandato do PT soma 12 anos, dando-lhe o monopólio dessa gestão marginal em favor do partido e de aliados. Com um tesoureiro cumprindo pena pelo mensalão, o partido já tem o segundo na mira da justiça.

O que diferencia o esquema sob investigação de outros ao longo da história política nacional é a sua característica sistêmica, como pilar de um processo de sustentação política de um projeto de permanência no poder, abrangendo três grandes partidos da base governista.

A recente informação de que a Petrobrás poderá sofrer sanções nos Estados Unidos, onde a legislação prevê consequencias mesmo para empresas estrangeiras lá sediadas, estende as investigações ao plano internacional, um sólido sinal de consistencia do conteúdo da delação do ex-diretor da estatal no Brasil.

Tal cenário leva a outra questão: como o governo, em condições tão adversas que inclui ainda a economia em recessão técnica e alta rejeição da candidata, pode alcançar índice próximo a 50% na disputa e aponto de torná-la tão acirrada?

Aqui entra o dado essencial: o bolsa família. O programa dá ao PT o conforto de um patamar de largada eleitoral de 34,6% em qualquer eleição. São 13.738.798 famílias beneficiadas, estimando-se 1,6 eleitor por cada uma, e considerando-se que 85% dos beneficiários votam com o governo, tem-se aí 14,9 milhões dos 43,3 milhões de votos obtidos por Dilma no primeiro turno, já subtraídas as abstenções totais.

É o maior voto de cabresto de que se tem notícia e que explica a falsa conotação ideológica no confronto sul-sudeste versus nordeste, que o PT explora como a luta entre ricos e pobres, a partir do monopólio do programa que se tornou arrimo eleitoral do partido.

Por isso, a oposição considera indispensável que já no próximo ano seja feita uma reforma conceitual no programa Bolsa Família, de maneira que ele se torne uma ação de Estado e não de governo, via emenda constitucional.


Entre a promessa e a propina - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 19/10


Paremos para pensar: Paulo Roberto Costa só terá sua pena reduzida se o que disser for verdade


Faltando sete dias para que decidamos, com nosso voto na urna, quem governará o país, parece-me necessário nos lembrarmos de que nem sempre o nosso interesse pessoal imediato corresponde ao interesse da sociedade.

E que, por isso mesmo, muitas vezes, ao votarmos só pensando em nosso interesse próprio, votamos contra nós mesmos.

É exatamente desse equívoco que se valem os políticos espertos, que visam o poder pelo poder. A nós, cidadãos, cabe distinguir entre esse tipo de político e o outro, imbuído de espírito público, que deve merecer nosso voto.

Entendo que nem sempre é fácil perceber, no que dizem os candidatos, o que é sincero e o que corresponde a intenções honestas do que é mera embromação. Mas não é impossível, desde que avaliemos, com objetividade, as promessas que fazem, se o que prometem é factível, como têm atuado e quais são os seus aliados.

Dá trabalho, mas compensa, porque só assim se evita que mais vigaristas se tornem legisladores ou governantes.

Esse cuidado, infelizmente, não tem estado presente na escolha que os eleitores fazem dos candidatos. A prova disso está no que a imprensa tem divulgado e que, por incrível que pareça, ainda nos espanta.

Um jornal publicou recentemente a seguinte notícia: quase metade dos candidatos mais votados nestas eleições de agora estão sob investigação policial.

A reportagem informava que 40 dos 108 deputados federais mais votados e senadores eleitos para a próxima legislatura estão sendo investigados pela polícia ou pelo Ministério Público.

As acusações vão desde o desvio de recursos públicos e improbidade administrativa a crime de tortura e falsidade ideológica. Entre os suspeitos, estão ex-governadores, ex-ministros, parlamentares reeleitos e que foram eleitos pela primeira vez.

Todos eles, portanto, detentores de mandatos populares para fazer leis que pautarão a vida de todos nós. E isso, muito embora exista a Lei da Ficha Limpa, que pretende impedir a eleição desse tipo de políticos.

O que se pode esperar de pessoas como essas, transgressoras das leis e dos princípios éticos?

São personagens como esses que se valem da autoridade que lhes foi delegada para infiltrar-se nas empresas estatais e nos ministérios e usá-los em proveito próprio e dos partidos a que pertençam.

É o caso espantoso do que ocorreu na Petrobras e que, a cada dia, escandaliza mais a nação. Às revelações envolvendo figuras e partidos do governo, a presidente da República alegou não poder levar em conta acusações sem prova.

Por sua vez, o PT, principal implicado, tratou de qualificar as denúncias de calúnias.

Paremos para pensar. Essas acusações foram feitas por Paulo Roberto Costa, como delação premiada, que só terá sua pena reduzida se o que disser for verdade.

Se não for, ele não ganhará nada com isso, a não ser, para o resto da vida, o ódio daqueles que acusou injustamente. Para fazer isso, o cara, além de corrupto, teria que ser débil mental.

Sucede que, depois daquelas denúncias, foi divulgado um vídeo em que Paulo Roberto confirma o que foi divulgado antes, acrescentando que as propinas eram de 3% do valor dos contratos firmados entre as empreiteiras e a Petrobras, o que montava a muitos milhões de reais, dinheiro esse que era dividido entre PT, PMDB e PP.

O PT ficava com a maior parte (2%), que era entregue a João Vaccari Neto, tesoureiro do partido. Esse dinheiro, em 2010, financiou a campanha eleitoral do partido, cuja candidata à Presidência da República era Dilma Rousseff.

Sem mais poder negar a procedência das acusações, Dilma passou a afirmar que é graças a ela que a Polícia Federal tem combatido a corrupção, embora seja essa função da polícia que, para exercê-la, não necessita da permissão de ninguém.

Como se não bastasse, passou ela a pôr em dúvida a isenção da Justiça do Paraná, que apura os escândalos da Petrobras.

A Associação de Juízes Federais contestou a acusação de Dilma e a Procuradoria Geral da República, no Paraná, afirmou em nota oficial que a atuação da Polícia Federal e do Judiciário é "estritamente técnica, imparcial e apartidária".

Aconteceu há 12 anos... - SUELY CALDAS

O ESTADÃO - 19/10


O ex-presidente Lula negou ter convidado o economista Armínio Fraga para permanecer na presidência do Banco Central (BC) por mais algum tempo, quando se elegeu em 2002. A reconstituição dos fatos da época ajuda a entender por que Lula cogitou mas não oficializou o convite - erroneamente revelado pelo candidato Aécio Neves no debate da TV Band. Na verdade, a ideia de prolongar o mandato de Armínio no BC partiu de Antonio Palocci - principal coordenador da campanha de Lula e, depois, seu ministro da Fazenda - e ganhou força e adesões na cúpula do PT. Nas duas funções, Palocci teria de enfrentar a dificílima tarefa de acalmar empresários, investidores e o turbulento mercado financeiro, que ameaçavam jogar o Plano Real despenhadeiro abaixo e transformar a economia do País, sob Lula, num verdadeiro inferno.

A continuidade de Armínio no BC funcionaria como uma espécie de seguro, uma garantia para o mercado de que Lula não levaria adiante as maluquices que o PT pregou antes e durante os oito anos de governo FHC. Conversas com Armínio na civilizada transição de FHC para Lula (se Aécio vencer, Dilma Rousseff fará o mesmo?) convenceram Palocci da ideia, mas ela ganhou um opositor tão poderoso quanto ele: o ex-ministro José Dirceu, hoje prisioneiro em Brasília. Os dois alimentavam antiga rivalidade, acirrada na campanha, intensificada no governo e volta e meia intermediada por Lula. Este quase sempre dava razão a Palocci, mas desta vez acatou os argumentos de Dirceu: seria capitular diante do adversário e rival PSDB reconhecer a incompetência do PT de conduzir a economia e aderir sem disfarces ao que chamavam de neoliberalismo, tão criticado na campanha.

Aos fatos. Final de 2002. Ao longo do ano, o Plano Real viveu sua pior e mais grave crise: a Bovespa não parava de despencar, o dólar chegou a R$ 3,95 e o risco Brasil, a 2.500 pontos (comparando, no auge da crise de 2008 a taxa não passou de 250 pontos). As crises importadas do México, da Ásia, da Rússia, do ataque às Torres Gêmeas e da moratória argentina foram um leve sopro diante do vendaval destruidor do que ficou conhecido como "efeito Lula". De fora e dentro do País o ataque ao Real ficava mais forte a cada pesquisa eleitoral, a cada certeza da vitória do petista. As previsões para o ano eram terroristas: a inflação não ficaria abaixo de 50% (terminou o ano em 12,5%), tão cedo o Brasil não voltaria a tomar empréstimos no exterior e recessão e desemprego eram inevitáveis.

O candidato Lula percebeu o inferno que viveria seu governo e divulgou, em junho, a Carta ao Povo Brasileiro, em que assumia compromissos de respeitar contratos, combater a inflação e gerar superávits primários. Mas não convenceu o mercado, que só intensificava o ataque e tirava proveito do caos para especular e realizar lucros com a gangorra dos indicadores econômicos. Era uma situação que não interessava a FHC, que cumpria seu último ano de mandato e era obrigado a administrar uma crise que não criou, muito menos a Lula, que precisava do mínimo de estabilidade econômica para começar a governar.

Foi diante desse quadro que Palocci marcou um encontro entre Lula e Armínio Fraga, numa sala reservada do Aeroporto de Brasília. "Estou te entregando um país na UTI", avisou Armínio a Lula, descrevendo o quadro econômico e o que deveria ser feito para o doente melhorar e ganhar condições de, pelo menos, trocar a UTI pelo quarto. Lula e Palocci ouviram assustados e atentos. E Lula se convenceu a buscar um nome do mercado para o BC. Encontrou o tucano Henrique Meirelles.

Meses depois, já presidente, Lula relatou a sua versão da conversa com Armínio a um grupo de deputados. E gabou-se no costumeiro estilo fanfarrão: "Eles colocaram e eu tirei o País da UTI". Irritado com o relato parcial de Lula, o ex-presidente do BC respondeu em entrevista ao Estadão: "O País estava na UTI porque havia medo em relação ao futuro, e o futuro não estava em nossas mãos".

Já ministro, por vezes Palocci consultou Armínio para problemas que encontrava e ele nunca se negou a ajudar.


Os meios e os fins - MARCOS DE BARROS LISBOA

FOLHA DE SP - 19/10


O baixo crescimento, a deterioração fiscal e a piora das contas externas implicam dificuldades


Nesta eleição, o debate tem sido dominado pela desqualificação da divergência.

Argumenta-se que a crítica ao atual governo decorre de interesses contrariados pela queda da desigualdade. Na versão vulgar, a elite se incomoda com os aeroportos repletos com a nova classe média.

Ao contrário da retórica oficial, a discordância se refere aos instrumentos adotados, não ao objetivo de um país mais justo. Criticam-se os meios, não os fins. A política econômica atual ameaça os avanços das últimas décadas.

A partir da Constituinte, a agenda social ganhou relevância inédita na nossa história. O fim da hiperinflação permitiu que novos temas fossem debatidos, como a retomada do crescimento e a melhora da política pública.

No governo FHC ocorreram importantes avanços como a universalização da educação fundamental, os aumentos do salário mínimo e a introdução das políticas de transferência de renda.

A agenda social continuou no governo Lula, que teve o mérito de conceder-lhe maior proeminência na política. Reflexo de um país em que, finalmente, após mais de uma década de aperfeiçoamentos na condução da macroeconomia e reformas institucionais, a economia se tornara menos relevante, porque menos problemática.

Entre 2001 e 2009, o maior crescimento econômico, o desempenho do mercado de trabalho e o reajuste do salário mínimo, beneficiados pelo cenário externo e ganhos de produtividade, permitiram a melhora da qualidade de vida e a queda da desigualdade.

Infelizmente, os avanços das últimas décadas estão em risco. Segundo a Pnad, a desigualdade estagnou entre 2011 e 2013. O baixo crescimento, a deterioração fiscal e a piora das contas externas implicam dificuldades para os próximos anos.

A política econômica parece ter errado tanto no diagnóstico quanto na escolha dos instrumentos. A retomada do nacional-desenvolvimentismo, com a concessão de benefícios e de estímulos a grupos selecionados, sem metas e avaliação de resultados, prejudicou os setores à frente na cadeia produtiva, a evolução da produtividade e o crescimento da renda, além de ter isolado a economia brasileira do mercado externo.

O governo evitou enfrentar as dificuldades de curto prazo; ao contrário, expandiu os gastos públicos. O que teria sido um rápido ajuste se transformou em uma longa estagnação, além da maior inflação, reproduzindo, em menor escala, a política adotada no fim dos anos 1970 no Brasil, ou, mais recentemente, na Argentina e na Venezuela.

A retórica do atual governo, ao desqualificar a divergência, relembra debates anteriores.

As privatizações dos anos 1990 foram tratadas como um negócio benéfico apenas a interesses privados, ignorando o custo decorrente do monopólio público imposto a várias gerações, para as quais o acesso à telefonia, por exemplo, era um privilégio caro e exclusivo.

Em 2003, a proposta de focalização das políticas sociais foi rejeitada com argumentos superficiais e diversionistas como o de que seria parte de uma agenda promovida pelo Banco Mundial. A história registra quem estava em cada lado da controvérsia na concepção do Bolsa Família.

A divergência ocorre sobre o diagnóstico, não acerca da intenção. Aceitá-la convida à democracia. O contraditório, o confronto de argumentos, de quem defende o atual projeto e de quem o critica colabora com o debate e auxilia a escolha dos meios.

A desqualificação da divergência, por outro lado, atribuindo-a a interesses contrariados revela apenas oportunismo.

Marina - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 19/10


BRASÍLIA - Marina sonhou salvar o mundo com Chico Mendes, mudar o Brasil com o PT, virar presidente pelo PV, criar a Rede e, enfim, engrossar o desejo de mudança na chapa de Eduardo Campos. Uma sonhática que vive da esperança.

Em 2010, Marina ficou neutra no segundo turno. Em 2014, sem poder e querer apoiar a algoz Dilma, ficou diante de nova neutralidade ou o apoio a Aécio. Optou pela frente de todos os candidatos do primeiro turno --exceto Luciana Genro (PSOL)-- a favor da mudança com o tucano.

Apoiar um dos lados não foi uma decisão fácil, já que o projeto da Rede foi construído com o discurso da terceira via, da alternativa à polarização entre PSDB e PT, não mais apenas cansativa, agora sangrenta.

Mas não seria simples também repetir a neutralidade de 2010. O momento é outro e todas as pesquisas indicavam que a maior parte do eleitorado de Marina deslizaria naturalmente para Aécio, independentemente de acertos partidários. E mais: a maioria do PSB e das lideranças consolidadas da Rede optavam claramente pelo tucano.

A cúpula do PSB não deixou margem de dúvida: 21 a favor de Aécio, sete pela neutralidade, um por Dilma. Posição consolidada pelas viúvas de Eduardo Campos e do mítico Miguel Arraes e seguida pelo partido em 23 das 27 unidades da Federação. Ficaram de fora: Bahia, onde não há segundo turno para o governo, Paraíba, Acre e Amapá. Não é um racha maior do que o que existe, por exemplo, no PMDB.

Na Rede, que não é um partido, mas, sim, um movimento, é natural e até saudável que os mais puristas tenham se rebelado contra a decisão de Marina. Rebeldias assim alimentam a utopia, mantêm nutridos os utópicos. Mas Walter Feldman, Neca Setubal, Capobianco... sabem que, na vida real, só se avança negociando, compondo, optando.

Sorte de Aécio. Mais do que votos, Marina Silva agrega valor.

Segundo turno CELSO LAFER

O ESTADO DE S.PAULO - 19/10


A democracia tem como um dos seus componentes essenciais eleições livres e disputadas, cujo resultado define quem vai governar "contando cabeças e não cortando cabeças", na sintética formulação de Norberto Bobbio. Nas eleições majoritárias, como é o caso das presidenciais, um dos aperfeiçoamentos introduzidos pela Constituição de 1988 é o segundo turno, para evitar uma escolha minoritária e assegurar a efetiva prevalência da regra da maioria. Seu fundamento é o pressuposto de que a decisão tomada por maioria atenderá melhor ao interesse coletivo do que a tomada por minorias.

Neste primeiro turno, o respaldo eleitoral da candidata à reeleição alcançou 41,59% dos votos válidos, tendo como proposta básica dar continuidade ao seu governo e não interromper a gestão petista no exercício da Presidência. A candidatura de Aécio Neves, do PSDB, obteve 33,55% dos votos válidos, credenciando-o a disputar o segundo turno. A de Marina Silva, do PSB, alcançou 21,32% dos votos válidos. As candidaturas de Aécio e Marina foram de oposição. Tiveram em comum a avaliação de que há, em nosso país, amplo descontentamento com o atual estado de coisas. Daí terem sublinhado a importância de uma renovada alternância democrática, e agora, no segundo turno, de uma propositiva união de forças e vontades, realçada no fim de semana passado por Aécio no documento que divulgou no Recife ao lado da família de Eduardo Campos e por Marina nas declarações que fez em São Paulo.

A periodicidade de eleições competitivas tem como objetivo, nas campanhas eleitorais, assegurar, num pluralismo informativo, o livre debate em torno de propostas antes da tomada de decisão do voto pelo eleitor. O segundo turno será uma forma de controle pela cidadania, que desconfirmará ou não os resultados de uma gestão governamental. Trata-se de um método da democracia que oferece a oportunidade da avaliação de desempenho.

O primeiro turno confirmou que a maioria do eleitorado (58,47%) se revelou favorável à efetiva revisão dos resultados da gestão petista e do seu modo de governar. Daí o potencial de vitória da candidatura de oposição, que neste segundo turno, pelas regras do jogo democrático, é a de Aécio.

A revisão dos resultados, pelo método das aproximações sucessivas, é um dos valores da democracia. Parte do pressuposto de que o caminho da contínua renovação da sociedade se faz por meio do livre debate das ideias, das mudanças de mentalidade e da possibilidade de, por meio de eleições, ensejar novas diretrizes governamentais. Esse pressuposto se vem confirmando na nossa experiência política. O Brasil é um país melhor e mais justo depois da redemocratização, graças à atuação dos que passaram pelo poder e lidaram com seus desafios, incluído o PT.

Não é esse fato histórico, no entanto, que está no DNA dos governos do PT. Este, desde 2003, com Lula e Dilma Rousseff, se autoproclama o marco zero da História brasileira. É essa autorreferida afirmação que faz o PT apresentar a reeleição de Dilma como o antídoto do apocalipse. Daí a intolerância com que eles tratam seus adversários, assumidos como inimigos da salvação, a serem, por isso mesmo, destruídos. É por essa razão que o PT, no seu modo de governar e nas suas campanhas, resvala com lamentável frequência na antidemocrática desqualificação, em todos os planos e por todos os meios, dos seus opositores, cabendo lembrar, nesse contexto, que uma meia-verdade é uma completa mentira, como diz o provérbio.

A desqualificação mentirosa, e por isso injusta, dos adversários feita pelo PT mina um dos valores da democracia. Com efeito, a tolerância em relação aos Outros, a civilidade da aceitação do diverso e do diferente no pluralismo de uma sociedade complexa como a brasileira são indispensáveis, pois a política numa democracia não é um jogo de soma zero no qual quem "ganha fica com tudo". É essa visão de um jogo de soma zero que caracteriza o DNA da campanha do PT que, ao modo de Carl Schmitt, considera a relação política como uma relação amigo/inimigo. Por isso confunde rejeição com ódio, transformando seus adversários em inimigos a serem destruídos, almejando assim cindir a sociedade brasileira entre "nós e eles".

Não é essa a proposta da candidatura Aécio. Ela tem a consistência do compromisso com a estabilidade e o desenvolvimento econômico, corroídos na gestão Dilma. Tem a inteireza ética da contraposição aos desmandos do modo de governar do PT - entre eles a voraz aparelhagem do Estado e o cupim da corrupção, evidenciado com o julgamento do mensalão, ao qual se somam os indícios que se vêm tornando públicos da rapinagem na Petrobrás. Conjuga a afirmação dos benefícios de estabilidade e de desenvolvimento com a relevância de políticas afirmativas de inclusão social, inclusive o Bolsa Família, que tem sua origem nas políticas sociais do governo Fernando Henrique Cardoso. Dá ênfase ao desenvolvimento sustentável, com o respaldo adicional representado pela mensagem de Marina Silva. Conta com o poder de convocatória e a credibilidade dos quadros dos partidos que o apoiam, que darão à sua Presidência renovadora capacidade de gestão.

Uma Presidência Aécio, atual candidato de um arco de partidos importantes e complementares em sua visão de Nação, será de todos os brasileiros. Será sustentada pelos avanços da sua proposta de renovação do País e liderada por homem público de coragem, reafirmada nesta campanha, traço do legado de seu avô Tancredo Neves e do presidente Fernando Henrique. A coragem, na formulação de Hemingway, caracteriza-se pela dignidade diante da pressão, virtude não identificável na presidente Dilma e na maneira como ela vem conduzindo a sua campanha.


Intolerância à francesa - OSIAS WURMAN

O GLOBO - 19/10

Trilogia liberdade, igualdade e fraternidade, slogan da Revolução Francesa de 1789, parece não mais valer para os judeus franceses



A trilogia liberdade, igualdade e fraternidade, slogan da Revolução Francesa de 1789, parece não mais valer para os judeus franceses. Uma comunidade judaica milenar, com cerca de 600 mil pessoas, registra a decadência em seu direito de, livremente, viver em sua pátria natal, e preservar a sua liberdade religiosa.

O momento atual, para os judeus franceses, remete aos idos do século XIX, quando o capitão judeu alsaciano Alfred Dreyfus foi sentenciado como traidor e, somente após sua degradação e prisão, foi julgado inocente e libertado por pressão na mídia de indignados intelectuais como Émile Zola, que acusaram o governo de ter praticado uma terrível injustiça.

Vale lembrar que, em época mais recente, na década de 40, cerca de 70 mil judeus franceses, sendo 1.500 crianças, foram arrancados de seus lares e enviados para os campos de concentração na Polônia, onde foram assassinados pelos nazistas.

Durante a mais recente guerra em Gaza, usada como pretexto por extremistas para insuflar o ódio aos judeus, mais de 150 mil manifestantes saíram às ruas de Paris e, empunhando bandeiras da Autoridade Palestina e faixas de apoio ao Hamas, voltaram a gritar slogans antijudaicos que lembraram o ocorrido nas ruas da capital francesa, na época do caso Dreyfus. A mais recente demonstração de intolerância antijudaico-sionista ocorreu próxima à segunda mais populosa cidade francesa, Marselha, que tem uma enorme população muçulmana, e onde o desemprego dos jovens é de cerca de 40%.

A cineasta israelense premiada Hilla Medalia sempre participa de acaloradas discussões e debates sobre seus filmes, mas ela nunca tinha experimentado o que aconteceu na exibição de seu filme “Dançando em Jaffa” num festival de cinema israelense, em Carpentras.

Cerca de 20 membros da plateia se levantaram e começaram a gritar slogans anti-Israel. Em seguida, eles atiraram bombas de mau cheiro. “Isto foi muito frustrante para mim, especialmente porque este filme é sobre como entender e respeitar o outro”, disse a diretora.

É neste clima de ódio explícito a Israel e aos judeus — que representam cerca de 1% da população francesa totalizando 600 mil pessoas, comparados aos seis milhões de muçulmanos franceses — que milhares de membros da comunidade judaica botaram um pé na Terra Santa. Cerca de 50 mil famílias francesas adquiriram, nos últimos anos, uma segunda moradia em Israel.

Para este ano são esperados mais de seis mil judeus franceses, que imigrarão para o Estado Judeu, sendo que a quantidade anual tende a aumentar.

Na atual situação de discriminação na França, os judeus franceses estão tendo que optar por apoiar o partido anti-islâmico da Frente Nacional da radical Marine Le Pen, com 46% da comunidade nesta situação, ou emigrar para um país onde encontrarão a definitiva liberdade, igualdade e fraternidade: Israel.

Dois caminhos - SAMUEL PESSÔA

FOLHA DE SP - 19/10


A nova matriz econômica e o contrato social da redemocratização não cabem no Orçamento


O poder no Brasil tem sido disputado por dois partidos sociais-democratas, PT e PSDB. Ambos concordam que o Estado tem que prover as redes básicas de proteção social bem como promover a igualdade de oportunidades.

Assim, o Estado deve oferecer educação básica pública e gratuita e ter forte presença na oferta direta ou no financiamento da educação superior, como são os casos do Prouni e do Fies. Adicionalmente deve ofertar universal e gratuitamente serviços de saúde.

Outras atribuições são os seguros contra a pobreza, como o programa Bolsa Família e os benefícios não contributivos da Previdência Social; contra o desemprego, como o seguro-desemprego; contra a doença, como o auxílio-doença; contra a invalidez permanente, como a aposentadoria por invalidez; e contra a carência habitacional, como o programa Minha Casa, Minha Vida, entre outros.

A forte elevação da carga tributária das últimas duas décadas decorreu da necessidade de construir e manter essa extensa rede de proteção social.

Nenhum dos candidatos competitivos nesta eleição se posicionou por outro modelo. O motivo é que a sociedade, nas diversas vezes em que foi chamada às urnas, tem se pronunciado favoravelmente a esse modelo. O contrato social da redemocratização não está em discussão. Ele é um dado.

Na eleição do próximo domingo, o eleitor será chamado a se pronunciar em relação a dois caminhos diferentes para que continuemos a progredir na direção de uma sociedade com maior nível de renda e mais igualitária.

O caminho do atual governo, conhecido por nova matriz econômica e que venho chamando de ensaio nacional-desenvolvimentista, aposta no fortíssimo intervencionismo estatal na economia.

Para os formuladores do atual regime de política econômica, devemos perseguir um pacote assemelhado ao adotado pelos países de desenvolvimento rápido do Leste da Ásia, como Japão, Coreia do Sul, Taiwan e mais recentemente a China continental.

Políticas como a forte presença de bancos públicos no financiamento do investimento, fechamento da economia para proteger setores, desoneração tributária seletiva, entre tantas outras medidas, foram inspiradas nessas experiências asiáticas.

Para os críticos da nova matriz econômica, como é meu caso, o sucesso das economias asiáticas não está associado ao pacote intervencionista, mas sim ao fato de essas sociedades terem construído sistemas públicos de educação básica de elevadíssima qualidade e de terem negociado um contrato social --em geral de forma não democrática-- que produziu no período de rápido desenvolvimento econômico níveis de poupança doméstica sempre acima dos 30% do PIB, com destaque para a elevadíssima taxa de poupança das famílias.

Por exemplo, as famílias na China poupam o equivalente a 22,5% do PIB chinês, o que significa algo próximo a 50% de sua renda disponível.

O motivo é que essas sociedades contrataram --quase sempre de forma não democrática, é bom repisar - que a seguridade social é uma responsabilidade individual. As elevadíssimas taxas de poupança das famílias e as baixíssimas cargas tributárias resultam dessa "escolha".

É por esse motivo que a nova matriz econômica não funcionou e não funcionará e é por esse motivo que o crescimento sob Dilma despencou dos 4% anuais nos oito anos de Lula para o nível atual de 1,6%.

A nova matriz econômica tropicaliza a parcela do modelo asiático que não é a responsável pelo crescimento acelerado vivenciado por essas sociedades.

O caminho alternativo é retornarmos a um modelo de Estado regulador que vigorou nos oito anos do governo FHC e no primeiro mandato de Lula. Esse modelo deu certo e explica a aceleração do crescimento no governo Lula.

A presidente Dilma, o ministro Mantega e os demais formuladores da política econômica atual não perceberam que a nova matriz econômica e o contrato social da redemocratização não cabem no Orçamento do Estado brasileiro. Insistir na nova matriz econômica é dar murro em ponta de faca.


Nossa política, mãe da 'herança maldita' - GAUDÊNCIO TORQUATO

O ESTADO DE S.PAULO - 19/10


A expressão "herança maldita", de tão banalizada, virou carimbo para marcar a feição de governos. Foi inicialmente usada por Lula em 2003 para dizer que recebera do ciclo tucano, comandado por Fernando Henrique Cardoso, "um país quebrado". Nos últimos tempos, tem-se virado contra o PT, colada aos escândalos de corrupção.

A síndrome da maldição de governos, sejam quais forem suas posições no arco ideológico, tem origem na política. Basta anotar a coletânea de mazelas que se extrai do pleito eleitoral, entre as quais se incluem as coligações proporcionais, a modelagem dos programas eleitorais, a infidelidade partidária, a proliferação de siglas, a figura do senador suplente e o próprio estatuto da reeleição. A "herança maldita" das gestões é filha da "herança política". Afinal, as representações do povo e dos Estados no Parlamento, ao lado dos governantes do Executivo, carregam para suas atividades o ônus de velhas práticas e instrumentos defasados da política.

Veja-se a primeira contrafação: dos 513 deputados federais, apenas 35 (6,8%) receberam votos suficientes para se elegerem sozinhos, sem precisarem do adjutório de coligações ou do quociente eleitoral de legendas. Os restantes 478 ganharam o mandato pela soma dos sufrágios dados à legenda ou a outros candidatos, os chamados "puxadores de voto". Em 2006 apenas 32 tiveram votação suficiente para conquistar o cargo e na eleição seguinte, em 2010, o número foi o mesmo que se tem hoje. Ora, ser deputado com votação própria constitui primado do sistema de representação. Seria, portanto, lógico que as vagas de cada Estado fossem preenchidas pelos mais votados. Como não é assim, ganha vulto a aberração do mandato "caroneado", fruto do sistema de coligações proporcionais. O eleitor vota num candidato e este puxa outros, de baixa votação - e a representação fica distorcida. Veja-se o absurdo: o deputado Mendes Thame (PSDB-SP) obteve 106,6 mil votos e não se elegeu, Fausto Pinato (PRB-SP), com 22.097 votos, chegará à Câmara.

A segunda mazela surfa na onda do Estado-espetáculo, cujos tentáculos se voltam para a visibilidade dos atores políticos. Arrumam-se palcos para o desfile de candidatos, cujos discursos são adornados de autoglorificação e floreios com aparente embalagem de programas e promessas. De um lado, os candidatos majoritários, com espaços mais largos, apresentam-se sob a batuta dos marqueteiros, brandindo feitos e desfraldando bandeiras. Esse é um momento cruel para a verdade. Simulação e dissimulação emolduram o jogo eleitoral. Cada qual se veste com o manto de herói, mocinho, salvador da pátria, benfeitor, extraordinária figura do bem; já o diabo, a destruição, a perversidade, a corrupção, a maldição são coisas guardadas no baú do adversário. Debates entre candidatos majoritários, que deveriam propiciar comparações entre propostas, são engessados por regras e, quando permitem o confronto direto, nivelam-se por baixo, fazendo fluir acusações recíprocas. Ao final, a carga negativa acaba ofuscando os poucos minutos de bom senso e racionalidade. Já na esfera de candidatos proporcionais, o desfile de caras, bocas e caretas é um espetáculo de nonsense.

Na torrente de incongruências, a liberdade dos partidos de optar nos Estados por rumos diferentes dos seguidos por eles mesmos na esfera federal se afigura como estapafúrdia. É o que se vê. Conveniências pessoais, disputas tradicionais entre grupos e tradição familiar determinam as pedras no tabuleiro eleitoral dos Estados, fazendo os parceiros nacionais se transformarem em adversários locais. Não por acaso, a força dos partidos estiola-se ante tantas equações para a competição política. Ademais, a multiplicidade de siglas funciona como uma engrenagem defeituosa. Teremos, na próxima legislatura, 28 representadas na Câmara dos Deputados. A extravagância deve-se à derrubada da cláusula de barreira, em 2006, pelo Supremo Tribunal Federal. Acolhendo parecer do ministro Marco Aurélio de que a legislação provocaria o "massacre das minorias", o estatuto que dificultava a criação de partidos foi extinto, dando lugar a currais partidários para todos os gostos. Alguns desses estabelecimentos acabam propiciando parcerias esfumaçadas com a finalidade de melhorar o "pasto" dos rebanhos. Sem cláusula de barreira é possível enxergar, nos próximos anos, mais 20 siglas do "toma lá dá cá".

E o que dizer de senadores sem um voto sequer? É um contrassenso ver chegar à Camara Alta um suplente sem sufrágio no lugar do titular. Na composição ministerial tem sido comum o convite para senadores ocuparem cargos de ministro ou, ainda, de candidato a governos estaduais. É quando os suplentes ascendem ao posto. Eles são, em geral, figuras de porte empresarial/negocial e alguns ganham o assento em decorrência de sua disposição de bancar financeiramente a campanha do titular. Eis a charada. O mais lógico seria a ocupação do cargo pelo segundo candidato mais votado no Estado - uma decisão muito esperada da corte senatorial.

Para fechar o circuito das mazelas deparamo-nos com o estatuto da reeleição. Em democracias consolidadas a reeleição pode ser um eixo de aperfeiçoamento democrático, no entendimento de que o mandato de quatro anos seria insuficiente para um partido no poder concluir sua obra. Em países de instituições políticas e sociais em processo de consolidação, como é o caso do nosso, a reeleição bafeja os governantes, visto que, sem se afastarem do posto, eles usufruem o simbolismo e a força inerentes ao cargo. Essa alavancagem contribui para entortar a régua da igualdade entre disputantes. Um mandato de cinco anos sem reeleição cairia melhor na moldura de nossa democracia, pois propiciaria a renovação de mandatários e a oxigenação das estruturas governativas.

Essa é a farta "herança maldita" que o Brasil precisa banir.

O segundo turno - SACHA CALMON

CORREIO BRAZILIENSE - 19/10


Rui Barbosa, diplomata, jurista, professor, escritor, deputado provincial até 1878, deputado nacional de 1878 a 1884, senador de 1890 a 1921 (Primeira República) disse, certa feita, uma frase que coincide com o meu estado de espírito: "Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e a vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos "floreios" para justificar atos criminosos. Tenho vergonha de mim, pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer. Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir, pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!".

Espero, entre descrente e esperançoso, que o PT seja vencido e que seus próceres sejam, civil e criminalmente, responsabilizados pelos crimes contra o patrimônio das empresas estatais, em prejuízo dos acionistas particulares (minoritários), especialmente na Petrobras e na Eletrobras, como recomenda a Constituição e as leis do Estado Democrático de Direito, que o PT tentou erradicar durante três mandatos presidenciais, sem êxito, em face da resistência dos democratas.

Não entendi como o eleitorado mineiro pôde votar em Dilma em detrimento de Aécio - ela tão ingrata para com Minas. A novidade é que o PT tornou o governo o grande coronel dos grotões (coronelismo de Estado). Aécio quer, por lei, transformar o Bolsa Família em política de Estado e não de governo. Neves e Anastásia, por 12 anos, nos governaram com ética e competência. Se não votarmos em massa no segundo turno, não vejo como evitar a derrota da esperança no porvir da nação que esses mineiros representam, a exemplo de São Paulo, estado desenvolvido, no qual Aécio teve o dobro dos votos do PT.

O programa da Dilma contempla três pontos comunizantes inspirados pelo foro de São Paulo, criado por Lula, Fidel Castro e partidos comunistas da América Latina. Primeiro querem mudar a Constituição, para introduzir consultas populares e plebiscitos liberticidas, enfiando os "movimentos sociais" na estrutura do Estado. Foi assim que Chávez tornou a Venezuela uma ditadura.

Depois, querem mudar o sistema jurídico diminuindo-lhe o alcance (o chamado efeito Joaquim Barbosa). As invasões das propriedades alheias, urbanas e rurais, não mais desafiarão os interditos possessórios, especialmente o de reintegração de posse, sem a oitiva prévia dos "movimentos sociais" (coletivização violenta da propriedade privada).

Por último, o programa do PT subscrito por Dilma propõe o controle popular dos meios de comunicação e impede as tevês, rádios e jornais de se auto-organizarem, como ocorre entre os povos democráticos. Querem influir nos "conteúdos" e na autonomia privada. Foi assim que Cristina Kirchner "fatiou" o jornal Clarín e Hugo Chávez confiscou meios de comunicação na Venezuela.

Comunista por formação, Dilma se apossou da Petrobras, dos Correios, da Eletrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, e até do Banco Central, em prol dos desígnios do seu partido, mesmo após o supremo tribunal Federal ter condenado a cúpula do PT (os meios justificam os fins como preconizava Lenin). No plano econômico, foi o pior governo, desde 1930 (inflação alta, crescimento de 0,3%, dívida crescendo, falta de confiança dos investidores). A sua campanha é feita de mentiras e ataques pessoais, à moda de Stalin.

Milhares de militantes do PT estão atuando no Nordeste e nas periferias, plantando o ódio e a luta de classes na versão dos "ricos neoliberais" contra "os pobres desprotegidos". Estão com medo de irem parar nos tribunais, pelos crimes de lesa-pátria e, por isso, levam ao máximo a tática da luta de classes, amedrontando os eleitores para manterem o poder.

O preço da liberdade é a eterna vigilância. O ditado supérfluo noutras plagas é válido no Brasil. Fosse o país uma democracia plena, a presidente já estaria impedida de concorrer, e investigada como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, pela inacreditável roubalheira ali estabelecida por longos e lustrosos anos. Terá sido incompetente ou conivente.

Votemos por novos tempos, maiores liberdades e progresso econômico, em prol de todos os brasileiros, em ambiente democrático, com segurança jurídica!

A volta do cipó - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 19/10


Desde o início estávamos todos devidamente avisados de que o bicho iria “pegar”, mas pelo visto não suficientemente preparados para o quanto os candidatos seriam capazes de fazer “o diabo” na disputa pela Presidência da República.

Causou espanto o grau de agressividade entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves nos dois primeiros debates da campanha do segundo turno, notadamente o embate de quinta-feira transmitido pelo SBT. Surpresa até certo ponto injustificada, pois a guerra de extermínio estava anunciada.

O tom da sinfonia também já havia sido dado pelo PT no primeiro turno, quando Marina Silva apresentou-se como uma ameaça concreta. Aquele comercial dos banqueiros celebrando a falta de comida no prato do brasileiro já indicava que não haveria limite nem nada parecido com a prometida “campanha propositiva”.

Marina sucumbiu. À força dos ataques, mas também devido às próprias fragilidades. Como a campanha do PT se concentrou na destruição da adversária mais perigosa, o tucano foi poupado e conseguiu atrair o eleitorado de oposição.

A fim de não ter o mesmo destino da antecessora no ringue, Aécio precisava entrar no segundo turno preparado para enfrentar a artilharia pesada.

Até porque o PSDB vinha sendo freguês do PT desde 2002. Nas sucessivas vezes em que o mineiro insinuava intenção de ser candidato, e mesmo agora, os petistas sempre disseram que seria muito fácil derrotá-lo. Espalhavam versões de todo tipo, envolvendo a existência de material supostamente explosivo nunca exibido.

Os tucanos sabiam que o adversário atacaria com mão pesada. Não foram, portanto, pegos de surpresa. O dado surpreendente e que parece ser a causa de tanto espanto é a reação do PSDB, um combatente sempre moderado. Um partido de oposição criticado por excesso de condescendência no exercício da atividade.

Aécio Neves hoje só não é mais conhecido do público porque não teve a atuação de líder oposicionista que dele se esperava quando deixou o governo de Minas Gerais para assumir uma cadeira no Senado. Ficou ali naquele trabalho de bastidor sem importunar o governo. A “pegada” da oposição nesses anos foi reconhecidamente leve.

Assim o PT estava acostumado a ser tratado. Batendo com ferro, na ofensiva, só ficando na defensiva quando lhe interessava o papel de vítima. Uma exceção apenas: na eleição de 1989, quando o então candidato Luiz Inácio da Silva ficou acuado pelos ataques antiéticos e brutais do oponente Fernando Collor, hoje seu aliado.

De onde o elemento surpresa desse segundo turno é o revide dos tucanos, que nos últimos 12 anos aceitaram apanhar praticamente calados. Viram o PT se apropriar dos feitos dos governos Fernando Henrique Cardoso sem saber direito como se defender.

Nas campanhas presidenciais subsequentes a oposição deixou o PT nadar de braçada, sem aproveitar seus flancos objetivamente. Do ponto de vista da luta política, o PSDB foi inexplicavelmente delicado na época do escândalo do mensalão, ao atender à solicitação do advogado Márcio Thomaz Bastos para deixar passar em branco a denúncia do publicitário Duda Mendonça de que recebera dinheiro de caixa dois na campanha de Lula em 2002.

Os tucanos foram tão ingênuos na campanha de 2010. Agora estão dispostos a vestir a roupa de briga e ir para o meio da rua invocando Geraldo Vandré na volta do cipó de aroeira, pedindo o castigo “no lombo de quem mandou dar”.

A quem interessa. A campanha da presidente Dilma não tem razão para comemorar a confissão de Paulo Roberto Costa de que pagou propina ao tucano Sergio Guerra para esvaziar uma CPI da Petrobras em 2009. Afinal, atuava a serviço do governo.

João 'Bicho-Papão' Santana - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 19/10


Marqueteiro americano foi pioneiro no uso da "propaganda negativa" para atacar adversários. A "baixaria" da campanha eleitoral, que tecnicamente chama-se "propaganda negativa", tem levado o marqueteiro oficial João Santana a ser comparado com Goebbels, o ministro da propaganda nazista, a quem se atribui a tese de que uma mentira repetida acaba virando verdade. Santana diz que trabalha não com mentiras, mas "com o imaginário da população, com produções simbólicas".

Na verdade, essa maneira agressiva de utilizar a "propaganda negativa" para desconstruir os adversários tem um pioneiro na História política contemporânea, e não poderia deixar de ser um marqueteiro americano, pois nos Estados Unidos é onde se pratica a mais violenta propaganda política.

A história de Lee Atwater está contada num filme chamado "O Bicho-Papão" ("Boogie Man"), apelido por que era conhecido, de que já tratei aqui na campanha eleitoral de 2008 que levou Barack Obama à Presidência. Vale a pena rememorar. Como marqueteiro político, era tão ligado aos republicanos que foi nomeado pelo então presidente George Bush pai para presidir o Partido Republicano, a primeira vez que um não parlamentar ocupou o cargo.

Atwater chamou a atenção pela primeira vez em termos nacionais quando, aos 29 anos, teve papel importante na indicação de Ronald Reagan como candidato oficial do Partido Republicano em 1980, e, depois, na concepção de sua campanha, que teve início propositalmente na Filadélfia, lugar onde em 1963 foram assassinados três militantes dos direitos civis.

Durante o governo Reagan, Atwater trabalhou na Casa Branca e teve papel importante no escândalo Irã-Contras, organizando as manobras de marketing para livrar o presidente das acusações. Foi nesse período que se aproximou do então vice-presidente George Bush pai, de quem depois seria o principal assessor. Lee Atwater foi o primeiro assessor político a fazer pesquisas induzidas, e instintivamente entendeu que poderia incutir medo nos eleitores, explorando seus sentimentos patrióticos e religiosos.

Na sua primeira campanha, em 1978, curiosamente no Partido Democrata na Carolina do Sul, ele ajudou a derrotar Max Heller, um popular prefeito de Greenville, dando a vitória a Don Sprouse - que acusava Heller de, por ser judeu, não acreditar "no Nosso Senhor Jesus Cristo".

Foi a campanha de George Bush pai em 1988 que trouxe de vez a fama para Lee Atwater, começando pelas primárias, onde o primeiro a ser atacado foi o senador Bob Dole, acusado em propagandas de ser "O Senador Indefinido", mostrando-o como um político inconsistente, que mudava de opinião a toda hora. A tal ponto que, em um debate, perguntado pelo moderador Tom Brokaw se tinha algo a dizer a seu adversário, respondeu rispidamente: "Pare de mentir a respeito de minha história".

A campanha negativa marcou a marcha de George Bush para a Casa Branca, e a propaganda até hoje lembrada como uma das mais sujas da História política americana foi sobre o prisioneiro Willie Horton, condenado à prisão perpétua por assassinato, que saiu da cadeia dentro de um programa social implantado em Massachusetts pelo governador Michael Dukakis, praticou um assalto e estuprou uma mulher.

O candidato democrata, que tinha uma ampla vantagem, acabou sendo batido por Bush. O programa social tão criticado por Bush havia sido implantado pela primeira vez na Califórnia pelo então governador Ronald Reagan, mas os democratas não souberam responder ao ataque.

Durante essa campanha, Atwater ficou amigo da família Bush, especialmente do filho George W. Bush, e foi dele a ideia de fazê-lo candidato ao governo do Texas. Morreu em 1991, sem ter tempo de ver sua invenção chegar à Presidência dos Estados Unidos. Durante o período em que esteve doente, antes de morrer, Atwater ainda teve tempo de se arrepender de seus métodos, deu entrevistas e enviou cartas a diversos políticos, cujas reputações arruinara, pedindo desculpas.

Correção

Na coluna de ontem escrevi, a certa altura, "enfrentar de frente", um pleonasmo que corrigi no blog e pelo qual me desculpo com os leitores.

A esperança contra o ódio - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 19/10

Na reta final de uma eleição equilibrada, que vai definir os destinos do País, o mínimo de racionalidade indispensável a uma escolha criteriosa do próximo presidente da República está escoando pelo ralo. Para conquistar votos, candidatos devem ser capazes de falar, sempre honestamente, tanto à razão quanto à emoção dos eleitores. Mas pelo motivo óbvio de que programas de governo lidam com questões objetivas - problemas concretos - a emoção não se pode dissociar da razão na hora de se decidir o voto. Boas causas com dose maior de apelo emocional, como direitos humanos e justiça social, impõem-se porque são, por definição, racionalmente justas, não por serem emocionalmente defensáveis - e exigem soluções racionais.

O marketing, porém, tende a subverter os valores numa campanha eleitoral quando parte do princípio de que os fins justificam os meios. E essa subversão cresce na medida em que aumenta a falta de escrúpulos de candidatos e marqueteiros. Todos sabem o que Collor fez contra Lula na eleição de 1989. Os petistas aprenderam com aquele exemplo e o resultado é que nunca antes na história deste país, como agora, houve tanta apelação e baixaria numa eleição presidencial.

O que se viu no "debate" da quinta-feira no SBT foi deplorável. Por iniciativa de Dilma, o recurso marqueteiro da "desconstrução" do adversário foi reduzido ao mais baixo nível da odiosa demolição de caráter com ataques à honra pessoal do adversário e seus familiares. Não lhe restando opção senão responder à altura, Aécio teve a habilidosa precaução de pedir desculpas aos telespectadores por trazer à luz a nomeação do irmão de Dilma, Igor Rousseff, para um cargo, na Prefeitura de Belo Horizonte, onde recebia sem trabalhar. Faltam ainda dois "debates"!

Nenhum dos candidatos merece medalha de bom comportamento pelo que têm feito e dito nas entrevistas, nos palanques, na propaganda e nos debates. A candidata do PT, no entanto, fiel à convicção que Lula incutiu na mente da companheirada, de que valores éticos e morais são preconceitos "pequeno-burgueses", coisa de "udenistas" e de "babacas", deu carta branca para que seu marqueteiro fizesse "o diabo". E bota diabo nisso, porque a necessidade é premente.

Os petistas proclamam que têm uma proposta política "diferenciada", porque voltada para o interesse e as necessidades da população mais pobre. E por essa razão confrontam as "elites", que só pensam em dinheiro e em explorar os despossuídos. São, portanto, os petistas, gente "do bem", enquanto as elites congregam todos os que são "do mal". E aos paladinos do bem tudo é permitido.

Dividindo os brasileiros entre "nós" e "eles", "bons e maus", "ricos e pobres", inspirada na lógica da luta de classes que ruiu com o Muro de Berlim, o lulopetismo se proclamou detentor do monopólio da virtude e da representação dos fracos e oprimidos. Desde que Lula subiu pela primeira vez no palanque dos metalúrgicos em Vila Euclides, ninguém mais no Brasil tem legitimidade para falar em nome dos trabalhadores.

O combustível dessa pretensa luta dos oprimidos contra os opressores comandada pelo PT é o ódio, ardilosamente insuflado com argumentos essencialmente emocionais. Lula ensina as pessoas a odiar porque... são odiadas. É, portanto, um ódio do bem, legítima defesa.

Lula sempre se esmerou em disseminar o ódio. E sempre teve esmerados aprendizes. Provou-o no momento de sua trajetória política em que vislumbrou pela primeira vez a possibilidade real de chegar ao poder, em 2002, e por conveniência eleitoreira travestiu-se, temporariamente, em "Lulinha paz e amor". Durou pouco, até o mensalão.

As agruras do mundo moderno oferecem motivos para que as pessoas se tornem cada vez mais agressivas no relacionamento social cotidiano. É o que se vê nas manifestações de rua, no trânsito, nos campos de futebol. O PT sabe, portanto, que a semente do ódio tem campo fértil para vicejar - e, assim, fez um projeto de poder sustentado na cizânia social.

Lula declarou em junho, quando a campanha eleitoral começava a esquentar: "Em 2002 lutamos para que a esperança vencesse o medo. Agora, é preciso que a esperança vença o ódio". Que assim seja.

O clube dos corações divididos - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 19/10


Multiparentalidade no registro de crianças e uniões poligâmicas ignoram o fato de que só o amor exclusivo dá conta dos nossos anseios mais profundos



Há pouco mais de um mês, uma decisão judicial no Rio Grande do Sul lançou novos desafios para o direito de família: uma menina, nascida em 27 de agosto, foi registrada, na cidade de Santa Maria, com duas mães e um pai. As mulheres têm um relacionamento há quatro anos e vivem juntas; o homem é amigo delas, e concordou em ajudar a gerar um filho com a condição de que seu nome figurasse no registro, que ainda traz o nome dos seis avós.

Um dos argumentos centrais do juiz Rafael Pagnon Cunha é o de que a intenção do trio era a de “assegurar à sua filha uma rede de afetos. E ao Judiciário, guardador das promessas do Constituinte de uma sociedade fraterna, igualitária, afetiva, nada mais resta que dar guarida à pretensão – por maior desacomodação que o novo e o diferente despertem”. O argumento tem sua sedução, especialmente quando o magistrado escreve que “quanto mais gente estiver cuidando dessa criança, eu tenho certeza que a possibilidade de felicidade dela é bastante grande”.

A “rede de afetos”, aliás, é um conceito que acaba servindo também para defender a poligamia, que já passou da ficção para a realidade no Brasil, com pelo menos um caso conhecido nacionalmente de registro de união entre um homem e duas mulheres, no interior de São Paulo. Ainda que o registro de multiparentalidade no Rio Grande do Sul não se refira a uma situação de poligamia, a decisão cria o precedente para que outras crianças nascidas em uniões desse tipo sejam também registradas com vários pais.

Cunha e os defensores da poligamia, no entanto, seguem uma lógica que associa, ou confunde, quantidade e qualidade. Levando ao extremo o raciocínio, ele justificaria registros de uniões entre várias pessoas que pratiquem o “amor livre”, ou que uma criança fosse registrada tendo como pais todos os membros de uma comunidade. E certamente, diante desses exemplos, haverá quem pergunte: por que não?

Por mais que as desilusões e as fraquezas humanas levem a que hoje exista uma descrença generalizada no ato de entregar os afetos mais profundos a um único companheiro, ainda é esse ato que preserva aquela intuição ancorada na dignidade do ser humano: a de que só o amor exclusivo dá conta dos nossos anseios mais profundos. Um coração dividido não dá tudo o que é devido ao parceiro; não é diluindo o amor conjugal que se vai fortalecê-lo. E essa não é uma mera construção social que se altera com o tempo: é uma inegável realidade humana que a sabedoria popular já consagrou em verso e prosa, como fez Vinicius de Moraes em um de seus textos mais famosos: “Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... – não tem nenhum valor”.

E as crianças? Ora, se é o amor de exclusividade que responde plenamente aos anseios do ser humano, fica evidente que as crianças estarão melhor servidas se forem criadas em um ambiente no qual possam aprender essa verdade desde pequenas. A “rede de afetos” proposta pelo juiz Cunha e pelos defensores das uniões poligâmicas, no fim, poderá resultar em um déficit de afeto, justamente o efeito contrário ao desejado. As crianças, no fim, se tornarão as grandes vítimas de experimentos sociais baseados em um discurso velado que tem o objetivo de, ao fim e ao cabo, matar o verdadeiro amor e retirar-lhe seu significado profundo. Não é isso que desejamos para as próximas gerações.

Desilusões - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 19/10


Candidatos à Presidência amenizam situação da economia nos próximos anos, mas futuro governo enfrentará graves problemas


No que depender dos debates entre os candidatos a presidente da República ou de suas propagandas políticas em horário pago pelo contribuinte, o eleitor votará no próximo domingo (26) pouco esclarecido a respeito dos estreitos limites econômicos dentro dos quais o Brasil precisará ser governado.

Tão certa quanto as dificuldades presentes, porém, é a necessidade de o país registrar taxas de expansão condizentes com o futuro que a nação enxerga para si.

As coisas não vão bem. De 2011 a 2014, nossa economia terá crescido à média anual de 1,6%. A renda por habitante terá avançado 0,7% ao ano --nesse ritmo, dobrará de tamanho somente após um século.

Talvez não seja grande problema para países cujo PIB per capita supera US$ 40 mil anuais, como os EUA, a Alemanha e a Suécia. Para o Brasil e seus medianos US$ 11 mil, ter passado quatro anos perto da estagnação é uma lástima.

A fim de enfrentar os desafios de desenvolvimento de uma sociedade que se aproximará dos 230 milhões de habitantes em 30 anos, a marcha da renda per capita brasileira precisaria quadruplicar. Isso significa elevar o incremento do PIB para 3,5% ao ano, em média.

As candidaturas finalistas desta eleição presidencial por certo concordam com tal diretriz. Quando, contudo, deveriam consignar os meios que defendem e os compromissos que se dispõem a assumir para chegar a esse resultado, nenhuma oferece resposta suficiente.

Veio da presidente Dilma Rousseff (PT) a iniciativa mais frustrante. As peças que fez publicar e os textos que veiculou a título de programa de governo não se distinguem da panfletagem publicitária.

A autocrítica à condução equivocada da economia nos últimos quatro anos apenas se entrevê no palavrório estéril de slogans como "Governo novo, ideias novas" ou "Mais mudanças, mais futuro". Insinua-se também no gesto inusitado de anunciar a troca do ministro da Fazenda em caso de reeleição.

No plano entregue à Justiça Eleitoral, destaca-se, por ironia, a ideia de uma política econômica sólida, "intransigente no combate à inflação e que proporcione um crescimento econômico e social robusto e sustentável". A diretriz da candidata trai a gestão da presidente.

O senador Aécio Neves (PSDB), por sua vez, preocupou-se em satisfazer o direito do eleitor de conhecer parte do que o candidato pretende fazer na economia.

Compromete-se, por exemplo, com garantir autonomia ao Banco Central, perseguir o centro da meta da inflação e diminuí-la ao longo do mandato, além de equacionar arrecadação e gastos (inclusive com subsídios camuflados nos bancos públicos) com o propósito de reduzir a dívida pública.

O tucano, entretanto, tenta iludir o público com a ideia de que sua simples chegada ao poder provocaria um choque de confiança capaz de bem encaminhar os principais problemas econômicos do país. É uma falácia que ajuda a lançar uma cortina de fumaça sobre sua verdadeira agenda de governo.

A semiestagnação produtiva e os desequilíbrios da atual política econômica demandarão decisões custosas e impopulares de qualquer um que seja eleito.

Diante da candura ora demonstrada por Aécio e Dilma, e considerando a divisão do eleitorado, pode-se prever uma onda de decepção popular com o presidente nos próximos dois anos, pelo menos.

A decepção virá, por exemplo, porque a escolha de recuperar o dilapidado índice de poupança do governo federal (o chamado superavit fiscal) implica aumentar a coleta de impostos dos contribuintes.

A carga tributária já é elevadíssima, mas deixar tudo como está acarretará deterioração adicional das finanças públicas, crescimento da dívida do governo e aumento dos juros para toda a sociedade.

Outro dilema cuja resolução produzirá descontentamento envolve energia elétrica e combustíveis. Parece inevitável um aumento significativo na conta de luz e na bomba de gasolina, o que produz impactos importantes também na inflação.

Os candidatos contornam o assunto agora para ganhar os votos daqueles que, no futuro, poderão vir a criticá-los pela desfaçatez.

Se a gestão imediata dos assuntos econômicos já se revela desgastante, que dirá dos temas estruturais do desenvolvimento. Nem Aécio Neves nem Dilma Rousseff dizem como lidarão com a Previdência. Trata-se, todavia, da maior fonte de despesas sociais do Brasil.

A necessidade de recursos e a dificuldade de encontrá-los só aumentarão com o envelhecimento da população; há distorções claras, como no dispêndio com pensões por morte e aposentadoria de servidores; o regime de reajustes vinculados ao salário mínimo implica elevação obrigatória da parcela do PIB destinada ao governo.

Como se isso fosse irrelevante, os candidatos silenciam. Entretanto, se nada for feito em relação a todos esses pontos, o Brasil vai crescer menos no futuro próximo, porque faltará dinheiro para investir na produção e na educação, para citar dois setores diretamente associados a um ciclo virtuoso.

O Brasil só se livrará da enrascada do baixo crescimento --e da maldição de atravessar este século aferrado ao clube dos países de renda apenas média-- com um contínuo e significativo incremento na quantidade de bens e serviços produzidos por trabalhador.

Não será fácil, e a omissão risonha e o descompromisso que os candidatos demonstram na campanha só tornarão mais amargas as desilusões dos próximos anos.

O novo governo e o desafio de consolidar as UPPs - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 19/10

A pacificação de áreas conflagradas exerce um papel crucial na segurança de uma região em que se espalham quase 800 favelas



A criação das Unidades de Polícia Pacificadora tornou-se um marco na política de segurança do Rio de Janeiro. De dezembro de 2008, quando o governo estadual instalou a primeira UPP numa favela carioca, no Morro Dona Marta, em Botafogo, a maio deste ano, com a implantação da 38ª unidade, em Vila Kennedy, a importância desse programa se mede por indicadores que mostram expressivas quedas nas estatísticas de violência em todas as regiões fluminenses, notadamente na capital e áreas cobertas pelas UPPs.

A pacificação de áreas conflagradas — focos de violência que têm como fonte a subjugação de comunidades por quadrilhas do crime organizado — exerce um papel crucial na segurança de uma região em que, segundo o Censo de 2010, se espalham quase 800 favelas. É um mundo no qual moram cerca de 1,7 milhão de pessoas, historicamente à margem dos benefícios da cidadania, terreno fértil para as armadilhas da criminalidade.

O Relatório Global sobre Homicídios, divulgado pela ONU com dados relativos a 2013, mostra que o programa das UPPs foi responsável pela redução, em quase 80%, do número de homicídios dolosos no Estado do Rio. Dados do Instituto de Segurança Pública indicam que, no segundo semestre do ano passado, a taxa estadual de letalidade violenta correspondeu a menos da metade do índice registrado em 2006 (quando ainda não havia a UPP). Um avanço na segurança do Rio.

Nas áreas pacificadas, a média de homicídios é de 8,7/100 mil habitantes, um terço da taxa nacional (24,3) e abaixo do patamar aceitável pela ONU (10/100 mil). A queda no número absoluto de crimes violentos nessas áreas é exponencial: até o fim de 2008, quando começou o programa, registraram-se 107 mortes dolosas em áreas que hoje são cobertas pelas UPPs; hoje, o total caiu para 36. Na capital, incluindo áreas sem unidades de pacificação, a queda se deu no mesmo ritmo: dos registros que ultrapassaram a barreira de 2 mil até 2008, despencou-se para pouco mais de mil casos em 2013.

Apesar do saldo positivo, não se pode fechar os olhos para o fato de que, em algumas áreas, as UPPs vivem momento delicado. Era previsível. Após um primeiro momento em que a retomada de áreas pelo Estado, com a asfixia das quadrilhas que as dominavam, deixou os bandidos atordoados, era quase natural que eles tentassem recuperar seus bunkers. Mas os ataques a UPPs revelam desespero do crime organizado ante a perda do antigo poder de vida e morte sobre os moradores dessas regiões.

Isso não implica relaxar com a consolidação das UPPs, pelo lado policial, com a obrigação do poder público de reagir firmemente contra os bandidos, ou pelo aspecto social — até aqui, um ponto que destoa na política de reinclusão na cidadania das áreas resgatadas. As UPPs têm muito mais acertos que equívocos (e tais demandas, por certo, precisam ser equacionadas). O governo que sair das urnas precisa ter o compromisso de levar adiante o programa, mas sem desestabilizá-lo numa progressão sem bases firmes.

A lição da água - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 19/10

Há quem diga que a abundância nem sempre constitui uma bênção. Talvez tenha razão. A fartura sem limites deseduca. Impede que a pessoa viva a experiência da escassez e, com isso, supõe que tudo são flores. Com os óculos do país de Oz, não percebe a mudança de direção dos ventos. Repete comportamento alienado que agrava o presente e compromete o futuro. A água serve de exemplo.

Dois fatores contribuíram para criar no Brasil a cultura do desperdício. Um deles: abrigar 12% da água doce superficial disponível no planeta. O outro: a inapetência ao planejamento, comum aos governantes. O resultado da indesejável aliança é a crise hídrica que afeta importantes unidades da Federação. Entre elas, São Paulo, Minas, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

Apesar do sinal vermelho, as autoridades negligenciaram a gravidade do problema e mantiveram a população à margem da tragédia. Nenhuma medida eficaz apta a chamar a atenção para a urgência de mudar hábitos teve vez no discurso ou nas estratégias governamentais. As práticas de esbanjamento continuam com a naturalidade de quem anda para a frente ou do artilheiro que faz o gol de pênalti.

É o caso de banhos intermináveis; mangueiras que lavam áreas, calçadas e carros com generosidade; torneiras que pingam incessantemente ou são mantidas abertas enquanto se lavam louças ou se escovam os dentes; vazamentos que se perpetuam; descargas que jorram jatos nada econômicos; negligência com a possibilidade de reúso; máquinas domésticas ligadas sem antes completar a capacidade.

A crise - mais visível em São Paulo por ser o mais importante centro econômico nacional - não poupa nem a capital da República, urbe planejada que mal chegou ao meio século de vida. Longa estiagem agravou o quadro. Mas não pode responder pelo drama que afeta milhares de famílias. Faltam medidas sérias que integrem a política hídrica às demais políticas públicas. Agricultura, indústria, comércio, saúde e educação têm vínculo indissociável com a água.

Outras ações se impõem. Passou da hora de tratar o saneamento básico com a seriedade que a questão exige. Os discursos que se sucedem eleição após eleição comprovam que o diagnóstico pede solução. Urge pôr palavras em ação. Não só. A população precisa ser conscientizada do papel relevante que desempenha no processo. Ele passa não só pelo uso racional do insumo mas também pela manutenção dos mananciais.

Escolas, igrejas, clubes, condomínios têm de se engajar em campanhas educativas. Jornais, rádios, televisão, mídias sociais precisam se comprometer com a mudança de postura do governo e dos cidadãos. Censos do IBGE traçam o perfil demográfico regional, nacional e mundial. Não se admite, assim, a desculpa de culpar São Pedro pela sede que se espalha Brasil afora. O inferno não mora no além. Mora em palácios que podem ter o inquilino renovado a cada quatro anos.

Expressão ameaçada - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 19/10


Recentemente, a Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro) apresentou a Carta do Rio de Janeiro em defesa da liberdade de expressão comercial. E o que pode vir a comprometer no País o exercício dessa liberdade? A tramitação no Congresso Nacional de mais de 500 projetos de lei que tentam interferir no universo da atividade publicitária, dos quais alguns representam uma explícita ameaça à liberdade de expressão e à propaganda.

A Carta do Rio de Janeiro é dirigida aos deputados e senadores recentemente eleitos, para que - respeitando a Constituição - não levem adiante esses projetos que interferem na liberdade de expressão. A Constituição não deixa margens à dúvida: "É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" e assegura "a todos o acesso à informação". A única ressalva constitucional - que deixa à legislação ordinária a sua regulamentação - é a propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias, que "estará sujeita a restrições legais (...) e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso". Em todo o restante, não cabe a lei interferir.

No entanto, a abundância de projetos que tentam restringir a comunicação com o consumidor evidencia que o tema é mal interpretado pelos parlamentares e alguns setores da sociedade, como se coubesse ao Estado, pelas mais variadas motivações, restringir o livre intercâmbio de ideias e propostas.

Uma das ideias equivocadas é que a propaganda, em razão de ter uma finalidade comercial, não contaria com a mesma liberdade de expressão que a informação jornalística ou a opinião. A liberdade de expressão não se funda num suposto caráter beneficente do conteúdo que se transmite. E é por essa razão que a Constituição foi muito clara, sem deixar margens para dúvida.

Outra ideia equivocada, às vezes ventilada, é a de que a legislação deveria "proteger" determinados públicos dos efeitos da propaganda. Essa ideia é perigosa, pois extrapola o âmbito do Estado, como se ele fosse responsável, por exemplo, por uma suposta correção moral da sociedade - o que é incompatível com o caráter laico do Estado e o pluralismo da sociedade. Além disso, essa ideia de "proteção da sociedade por parte do Estado" fere a liberdade de expressão em sua essência. Não cabe limitar a liberdade de expressão em razão dos supostos perigos das mensagens transmitidas. Historicamente se observa que todas as investidas estatais contra a liberdade de expressão estavam repletas de "boas intenções". O Estado vinha "proteger" os seus cidadãos dos malefícios de determinadas mensagens. A liberdade de expressão é a grande proteção do cidadão, e não a sua ameaça. Inverter essa lógica - por mais atraente que possa parecer a alguns olhos - é brincar com fogo.

Com base nessa ideia da "proteção", o Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente - ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República - aprovou, em abril deste ano, uma resolução que proíbe "o direcionamento à criança de anúncios impressos, comerciais televisivos, spots de rádio, banners e sites, embalagens, promoções, merchandisings, ações em shows e apresentações e nos pontos de venda". Segundo o órgão, toda a propaganda dirigida à criança seria abusiva. Apesar das "boas intenções", é uma resolução que fere a liberdade de expressão e acaba por atribuir ao Estado um papel que cabe aos pais. A propaganda infantil pode ser uma excelente ocasião para cada família conversar com os seus filhos, educando-os como melhor lhes parecer.

Portanto, faz todo sentido que a Carta do Rio de Janeiro reafirme "o compromisso de lutar pela manutenção da liberdade de expressão e pensamento, em todas as atividades lícitas, repudiando, como antidemocrática, toda e qualquer iniciativa de proibição da publicidade, por seu poder de comprometer a liberdade de expressão de ideias e o direito de cada cidadão em ser o senhor de seu destino e futuro".


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Para lançar candidato em 2018, o partido precisa estar unificado”
Michel Temer, presidente licenciado do PMDB, tentando reverter o “racha” na Câmara.


Petrolão: 34 deputados envolvidos foram reeleitos

Dos 49 políticos envolvidos no escândalo do Petrolão, citados na delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, 34 deputados federais foram reeleitos para a Câmara ou eleitos para outros cargos, inclusive de governador. Entre os envolvidos no esquema de recebimento de dinheiro sujo estão políticos de partidos governistas como PT, PP e PMDB, e os oposicionistas PSB e PSDB.

Dinheiro sujo

Quase todos os políticos enrolados no Petrolão irão responder pelo recebimento de dinheiro sujo para financiar suas campanhas.

A verdade

Investigadores avaliam que Paulo Roberto e Youssef não mentem em seus depoimentos, pela coincidência de nomes, valores e datas.

Sem combinação

O ex-diretor da Petrobras e o megadoleiro Alberto Youssef não mantêm contato, por isso não poderiam combinar seus depoimentos.

Pareceu estranho

Em julho, preso, o ex-diretor Paulo Costa pediu à Justiça para arrolar Eduardo Campos e Fernando Bezerra Coelho como testemunhas.

Lava Jato: governadores podem não tomar posse

Fontes ligadas às investigações da Operação Lava Jato afirmaram, sem citar nomes, que “alguns governadores” eleitos no último dia 5, em primeiro turno, podem não tomar posse em 1º de janeiro, em razão da gravidade do envolvimento deles no esquema de corrupção e lavagem de dinheiro chefiado pelo megadoleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, presos há sete meses.

Tem mais

Há políticos disputando o 2º turno, segundo fontes da investigação, que também podem ser alçadas pela Justiça, no escândalo da Lava Jato.

Pânico geral

Tira o sono de muita gente a suspeita de que o ministro Teori Zavascki vai liberar, antes do 2º turno, lista dos políticos enrolados na delação.

Guerra

Ocorrências policiais mostram que carros com adesivos “Fora Dillma” têm sido atacados em Brasília. Quebram faróis, lanternas, retrovisores.

Tem que parecer

Dica de veterano político pernambucano ligado a Eduardo Campos: em vez de apenas afirmar indignação contra mentiras da adversária, Aécio Neves (PSDB) precisa demonstrar indignação, nos próximos debates.

Desembarque?

Em conversas com lulistas próximos, aos palavrões, quinta-feira (16), Lula começou a culpar Dilma pelos problemas na campanha e nas pesquisas, queixando-se de que ela não o aciona como deveria.

Descolando

Lula também desconfia de que Dilma quer experimentar “o gostinho” de se reeleger sem sua ajuda. Para ele, é o primeiro passo para formar um governo em que a influência do antecessor será bem menor.

Contumaz

As denúncias de doações milionárias providenciadas por Paulo Roberto Costa para campanhas de Pernambuco não surpreende políticos. O ex-diretor da Petrobras visitava o Estado ao menos uma vez por mês.

Rei Mandão

Candidato ao governo de Goiás, Íris Rezende (PMDB) comemorou o sucesso da animação do personagem Rei Mandão, sobre Marconi Perillo (PSDB). O assunto foi Trending Topic no Twitter, esta semana.

Campanha tucana

Gerou irritação no Planalto e no PT a entrevista do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), criticando erros de Dilma e informando que a bancada na Câmara está dividida no apoio ao governo.

Corrupção em Rondônia

O ex-secretário adjunto de Saúde de Rondônia José Batista da Silva fechou acordo de delação premiada para acusar o governador Confucio Moura (PMDB), cuja campanha teria sido paga com dinheiro da Saúde.

Vai dar rolo

O PSDB prepara denúncia à Justiça Eleitoral: emissora educativa e católica, a rádio Padre Cícero FM, de Juazeiro do Norte(CE), fez de sua programação um comício. Pede votos abertamente para o PT.

Pergunta no Petrolão

As autoridades americanas que investigam corrupção na compra da refinaria de Pasadena, da Petrobras, batizaram o escândalo de “big Petrol”?


PODER SEM PUDOR

Judas, o carioca

Estava pesado o clima na cidade de Lauro Muller, na campanha eleitoral de 1960. A UDN era representada pelo Sebastião Neto Campos, que tinha como adversário o agressivo vereador Antônio Gaiteiro. Durante um comício, Gaiteiro atacou o adversário e exortou a população:

- Vamos expulsá-lo da nossa cidade! Ele é o Judas carioca do povo!

Alguém lembrou, interrompendo-o, que Sebastião Neto Campos nada tinha de carioca. Era catarinense da gema. Gaiteiro insistiu:

- Ele é Judas carioca, sim. É aquele do Evangelho, que traiu Cristo.