sexta-feira, setembro 27, 2013

Quando o cinismo e a inépcia atrasam o país - ROBERTO FREIRE

Brasil Econômico - 27/09

Anunciado com toda a pompa marqueteira que tão bem caracteriza os governos petistas, o Programa de Investimento em Logística amargou um fracasso retumbante logo no primeiro leilão para a concessão de rodovias, especificamente em um trecho da BR-262 (MG-ES) pelo qual não houve nenhum interessado. Apesar de oito concorrentes terem se apresentado para levar o outro trecho leiloado, da BR-050 (MG-GO), o modelo adotado pelo PT vem se mostrando ineficiente e tem atrasado ou impedido parcerias coma iniciativa privada, fundamentais para a recuperação da economia.

Além da incompetência do governo de Dilma Rousseff, que em quase três anos não conseguiu enfrentar os gargalos de nossa infraestrutura, o próprio PT parece sofrer de uma crise existencial quando trata das chamadas “concessões”. Por mais de uma década, o partido demonizou as privatizações levadas a cabo por Fernando Henrique Cardoso e mobilizou sua militância para desqualificar o que considerava um atentado à soberania nacional. Em um misto de cinismo e desfaçatez, os petistas hoje reconhecem, tardiamente, a necessidade de que sejam feitas parcerias com a iniciativa privada, mas esse processo vem sendo conduzido de forma desabrida e irresponsável.

A falta de coordenação entre os órgãos envolvidos na concessão de rodovias é um dado da realidade capaz de afugentar investidores. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não fala a mesma língua do órgão regulador do setor, a Agência Nacional de Transportes Terrestres, que, por sua vez, não se acerta como Ministério dos Transportes.

Às empresas, não são oferecidos parâmetros mínimos que, se estipulados com antecedência, trariam maior segurança sobre a rentabilidade dos empreendimentos. No caso da BR-262, em que o maior investimento deve ser feito na duplicação de todo o trecho de 375 quilômetros, a falta de credibilidade do governo ficou latente. Houve o compromisso das autoridades federais de que o Dnit duplicaria 180 quilômetros para amenizar os altos custos da fase inicial da concessão, mas o histórico recente do órgão, afundado em denúncias de corrupção e responsável por constantes atrasos em obras, espantou possíveis interessados.

Mais dramático ainda é saber que o problema não está restrito às rodovias, já que o próprio governo anunciou que terá de editar medida provisória ou projeto de lei para dar base jurídica à futura concessão das ferrovias, que pode ficar só para 2015. Já o leilão do aeroporto de Confins (MG) foi adiado em um mês para que mais concorrentes se disponham a entrar na disputa.

Por fim, gigantes petroleiras como a norte-americana Exxon Mobile as britânicas BP e BG desistiram de participar do primeiro leilão de áreas para exploração de petróleo e gás natural na região do pré-sal, no Campo de Libra, o que limitou a competição a 11 empresas. Caminhando a passos de tartaruga, o governo do PT está longe de oferecer soluções para desatar os nós do país.

Seja pela incompetência inerente àqueles que administram mal ou pela ambiguidade de quem hoje encampa as privatizações com indisfarçável constrangimento, o fato inescapável é que rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e até mesmo a exploração do pré-sal estão empacados, enquanto a população espera por melhorias que não virão. Quando a inépcia se une ao cinismo, afinal, não há propaganda que esconda o desastre.

Pode to be? - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 27/09

RIO DE JANEIRO - O Google, sempre ele. Como foi que nos viramos por 4.000 anos sem os seus serviços? Não contente em ser o maior banco de dados já criado pelo homem, com informações sobre absolutamente tudo e também com conversa fiada e palpite errado sobre quase idem, em breve ele nos dará a possibilidade de nos entendermos de viva voz com o resto do mundo, e vice-versa.

A turismo por, digamos, Alemanha, Rússia ou China, e diante de alguém que insista em usar o dialeto local, bastará a você falar num smartphone. O aparelho processará a sua frase e a traduzirá vocalmente para o interlocutor. Este a ouvirá e, sacando do seu (dele) próprio smartphone, a responderá. Então será a sua vez de ouvir a resposta em português ou algo parecido. Depois disso, o que acontecerá entre você e o dito interlocutor será só da conta de vocês --ou de seus smartphones.

Tal maravilha não facilitará a vida apenas dos monoglotas do circuito Elizabeth Arden, em cuja divisão de acesso atuamos, mas permitirá que persas se comuniquem com bolivianos, búlgaros com zulus e malaios com esquimós. Será o fim das fronteiras linguísticas e, espera-se, o início de uma nova era de relações comerciais, culturais, talvez até amorosas.

Ou não. O que tantos terão a falar entre si? E tudo dependerá da competência do Google. Há tempos ele já oferece serviços de tradução de texto em 71 línguas --e qualquer usuário sabe que o resultado não é muito melhor do que o dos comerciais estrelando Joel Santana, em que ele pergunta, "Pode to be?".

Nada de surpreendente nisso. Enquanto não converterem a língua falada em matemática, ela continuará a ser um intransferível privilégio humano. Um dia, o Google provavelmente conseguirá traduzir um texto de Sousândrade, Joyce ou Guimarães Rosa. Mas não understanderá bulhufas se um dos interlocutores for o querido Joel.

GOSTOSA



Palavras que perderam o sentido - MICHEL LAUB

FOLHA DE SP - 27/09

'Técnico': no Supremo Tribunal Federal, é aquele juiz que decide do modo como gostaríamos


--"Suposto": adotada pela imprensa depois de episódios como o da Escola Base, em que seus donos foram injustamente acusados de molestar crianças. Devem achar que é um salvo-conduto contra processos em reportagens levianas, que continuam sendo publicadas sem pudor. É também uma peça recorrente de comédia, em frases como: "As imagens mostram o momento em que, diante de nove testemunhas, o suposto assassino desferiu os tiros contra a vítima".

--"Lógica": o termo café com leite do momento, dispensável em 95% dos casos. "Não podemos cair na lógica de ganhar eleições a qualquer custo", como declarou uma ex-deputada, em uma tentativa de soar mais contemporânea do que é, significa, apenas: "Não podemos ganhar eleições a qualquer custo".

--"Elite" (ou "classe média"): termo que nasceu na economia, na política e na cultura e se transferiu para a moral, com elasticidade suficiente para definir apenas inimigos.

--"Republicanismo": em sua versão moderna, fez o sentido contrário de "elite". Deveria se limitar à esfera moral, como obrigação básica de separar público e privado em um governo, e virou das poucas categorias políticas que poderiam diferenciar --bom dia, Papai Noel-- os partidos brasileiros.

--"Pseudointelectual": é raro que alguém irreverente diga a palavra irreverente. Que um humorista refinado declare fazer humor refinado. E não lembro de alguma vez ter ouvido "pseudointelectual" da boca de um intelectual, o que torna a expressão e suas variações ("metido a intelectual", "intelectualoide") uma espécie de espelho: diz mais de quem a usa que do objeto que pretende desqualificar.

--"Gonzo": herança do jornalismo praticado por Hunter Thompson e seus pares, virou o gênero em que recém-formados se fingem de mendigo por uma tarde ou viram "nosso enviado especial" a um clube de suingue.

--"Bom gosto": tem o efeito de toda expressão kitsch, dos jargões de enologia aos nomes de prédio em inglês, ao sugerir o oposto da sofisticação que tenta imitar.

--"Técnico": no STF, é o juiz que decide do modo como gostaríamos.

--"Renovação": é como o banco chama a tunga mensal referente a uma linha de empréstimo que não pedi, não aceitei, não usei e jamais conseguirei cancelar.

--"Outsider": termo que só vale se usado espontaneamente, pelos outros e não pelo artista em questão, o que é raro de acontecer desde pelo menos os anos 1960.

--"Debate": ainda existe quando alguém é capaz de mudar de opinião ao ouvir o argumento divergente --algo que se tornou igualmente raro, senão impossível.

--"Verdade": defender moderação no seu uso não significa igualar todos por baixo, porque sempre há escolhas certas e erradas, apenas ajuda a baixar o tom de superioridade moral dominante por aí.

--"Ironia": costumava ser sinal de inteligência, mas virou ofensa no vocabulário da patrulha literal.

--"Relativista": xingamento proferido por quem tem tantas certezas, sobre assuntos que vão da guerra na Síria à qualidade uniforme e deplorável da literatura brasileira, tudo com argumentos tão sólidos e nos quais ninguém havia pensado antes, que qualquer oração adversativa é rotulada como covardia, compadrio ou fascismo.

--"Hitler": o último que vi sendo comparado a ele (é um por semana) foi um ex-presidente do Corinthians. Mas o título também vale para vereadores que proíbem bisnagas de ketchup na feira, síndicos que manipulam votações em assembleias ordinárias de condomínio, tuiteiros que apagam tuítes.

--"Censura": outro clichê clássico da linguagem saturada, ainda mais surreal em uma época em que todos dizem o que querem o tempo todo. Eu ia complementar a frase com "em todos os lugares", mas aí está a última reserva de sanidade para quem se dispõe a opinar em público. Como é bom nunca ter permitido comentários no meu blog. Como é bom não responder a analfabetos. Como é bom que minha interação básica nas redes sociais seja para curtir fotografias de cachorros.

Heróis da pátria amada - DANTE MENDONÇA

GAZETA DO POVO - PR - 27/09

Infeliz do país que precisa de heróis. Feliz é o Brasil que precisa de super-heróis. Os ídolos das histórias em quadrinhos. Muitos bandidos e poucos mocinhos, os males do Brasil são. Nossos facínoras não estão no gibi e nos faltam justiceiros com suas aventuras de final feliz.

Primeiro episódio: Numa sala secreta, alguns ministros do Supremo Tribunal Federal analisam o futuro dos mensaleiros: “Desisto, Barbosa! O julgamento será um emaranhado de embargos infringentes para os próximos cem anos!” “Concordo, só mesmo um mágico para tirar um coelho desse caixa 2.” “Você está pensando o que eu estou pensando?” “Estou! Essa é uma missão para o Mandrake!”.

Segundo episódio: Reunião nervosa no Palácio do Planalto: “Presidenta, o que temíamos aconteceu!” “Os piratas do Barack agiram outra vez?” “Na calada da noite, entraram no seu horóscopo! Acionamos uma cartomante, em vão! Não temos tecnologia para conter os invasores!” “Então é por isso que eu vivo de pá virada. Só nos resta uma alternativa!” “Chamar o ministro da Tecnologia! Como é mesmo o nome dele?” “Sei lá, meu filho! Só existe um homem para encarar esse tipo de crime: essa é uma tarefa para o Flash Gordon!”

Terceiro episódio: Na caverna do Batman, depois de avistar o sinal do morcego nos céus de Gotham City, os super-heróis se reúnem para a assembleia geral extraordinária. O dono da caverna comanda os trabalhos, enquanto Robin se diverte com a Mulher-Gato num aposento ao lado: “Amigos do bem, o Brasil está nos chamando! Não esqueçam de levar suas credenciais. Lá tem muito mascarado se achando super-herói. Eis a missão de cada um: o Vigilante Rodoviário vai investigar o preço dos pedágios; Tarzan, Jane e a Chita vão controlar a fronteira com o Paraguai; Jim das Selvas, Fantasma e Capeto estão incumbidos de combater os desmatamentos na Amazônia; Super-Homem executa a transposição do Rio São Francisco; Dick Tracy, Nick Holmes e o agente secreto X-9 precisam conter a corrupção generalizada; Capitão Marvel e Capitão América estão sendo convocados pelo Exército Brasileiro; o Surfista Prateado deve vigiar as reservas do pré-sal; Homem-Aranha vai auxiliar a Polícia Federal no combate à sonegação fiscal nos arranha-céus da Avenida Paulista; Príncipe Valente será infiltrado nas elites corruptas do Lula; e ao incrível Hulk restou a missão impossível de baixar os juros dos cartões de crédito. Para encerrar, Robin e eu vamos limpar os subterrâneos do poder. Mulher-Gato, Barbarella e Valentina foram convidadas para trabalhar na novela das oito, que o brasileiro não é o Homem de Ferro.”


Um caso de fracasso - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 27/09

SÃO PAULO - O Ipea divulgou anteontem um pequeno estudo em que mostra que foi praticamente nulo o impacto da Lei Maria da Penha (11.340/06) sobre os feminicídios. De 2001 a 2006, os cinco anos que antecederam a introdução do diploma, a taxa de homicídios cometidos contra mulheres foi de 5,28 por 100 mil; no quinquênio subsequente, ficou em 5,22, decréscimo de 1,14%, sem maior significado estatístico.

Tal desempenho não chega a ser uma surpresa. O famoso endurecimento de leis, do qual a Maria da Penha é um caso emblemático, funciona bem para políticos marcarem pontos com suas bases. Serve também para nos deixar com a sensação de dever cumprido, de que estamos fazendo algo para resolver o grave problema da violência doméstica.

Infelizmente, o expediente não apresenta tanta eficácia na redução dos crimes propriamente ditos, especialmente quando o delito a ser coibido é daqueles que se cometem por impulso, como é o caso de agressões e homicídios não premeditados.

Minhas amigas feministas não gostam muito, mas trabalhos de sociólogos sérios, como Murray Straus e John Archer, pintam um quadro da violência doméstica mais nuançado que a costumeira narrativa do perpetrador desequilibrado que ataca a mulher inocente. Em suas pesquisas, eles revelam que os papéis de agressor e vítima são tudo menos inequívocos e que boa parte dos conflitos é resultado de uma escalada em que as duas partes trocam agressões verbais e, depois, físicas. O homem provoca mais estragos porque é mais forte.

Daí não decorre, é claro, que devamos desistir de combater a violência e deixar que mulheres continuem a ser mortas por seus companheiros. É preciso, contudo, adotar uma estratégia coerente, que só excepcionalmente deve incluir leis mais duras. O problema de seguir a trilha mais ponderada é que os resultados demoram a aparecer e dificilmente podem ser capitalizados numa eleição.

Começa o desmonte dos estímulos pós-crise - CLAUDIA SAFATLE

Valor Econômico - 27/09/2013

O setor público brasileiro perdeu a capacidade de gerar superávits primários elevados. O Tesouro Nacional está esgotando a possibilidade de dar crédito aos bancos públicos mediante emissão de dívida ou por instrumento híbrido de capital - até julho foram R$ 440,4 bilhões, ou 9,5% do PIB.

A apreciação da taxa de câmbio, que tanto ajudou a manter a inflação sob controle, mudou sua tendência para depreciação. Os juros, que chegaram a ficar abaixo de 2% em termos reais, sobem. Ao conter os reajustes de preços monitorados, o governo represou a taxa de inflação.

É possível ir levando a economia assim, com uma correção aqui, outra medida alí - até as eleições presidenciais de outubro de 2014. Mas é hora de se pensar em como desmontar a cadeia de estímulos concebidos pelo governo após a crise financeira global de 2008/2009 para reanimar a economia.

Em discurso para investidores internacionais na quarta feira, em Nova Iorque, a presidente Dilma Rousseff falou o que o mercado e as agências de rating queriam ouvir: "Queremos rigor fiscal". E foi além, ao informar que seu governo decidiu colocar um limite na expansão acelerada dos bancos públicos após a crise mundial. A participação desses bancos na concessão de crédito, que era de 33% em 2008, cresceu para 50,5% este ano até julho.

Dilma disse: "A orientação que nós tomamos é que essas instituições, as nossas instituições públicas, retornem às suas vocações naturais. Trata-se, portanto, de um reposicionamento dos bancos públicos na expansão do crédito ao investimento" que deve contar, segundo ela, com maior participação do financiamento privado.

Investidores presentes ao encontro até gostaram do que ouviram, mas são descrentes da possibilidade de o governo começar a regrar o crédito para o BNDES ou para a Caixa, ainda mais diante da demanda que as concessões de serviços públicos vão gerar por financiamentos.

Como é parte do calendário político que os governos não façam mudanças bruscas nem tomem medidas impopulares em períodos pré eleitorais, firma-se a convicção de que vários dos problemas à espera de solução vão ter que aguardar 2015. Os economistas, porém, já começam a discutir olhando para a próxima administração federal. Seja Dilma reeleita ou algum outro candidato vitorioso, o fato é que há questões suprapartidárias que deverão ser enfrentadas pelo novo governo. Talvez a mais desafiante seja a da "reindustrialização" do país, um assunto que o economista Edmar Bacha colocou na ordem do dia. Mas há outros também importantes.

Por exemplo, se o câmbio - cuja tendência é de depreciação - não deve mais jogar a favor do controle da inflação, esta ficará por conta unicamente da taxa de juros. Mas a excessiva expansão do crédito direcionado (a juros subsidiados) dos bancos públicos reduz o alcance e a eficácia da política monetária, que afeta só a parcela do crédito livre.

Outra se refere aos destinos da política fiscal. Nos dois últimos anos os resultados da política fiscal têm se deteriorado e o setor público não consegue mais produzir os superávits da ordem de 3,1% do PIB. Mesmo a meta deste ano, de 2,3% do PIB, está difícil de ser atingida e o mais provável é que o saldo feche em 2% do PIB. Estima-se que o superávit recorrente hoje seja da ordem de 1,8% do produto, percentual que tende a se repetir em 2014.

Constatada essa realidade, o ex-secretário Executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, fez na semana passada em seminário em Washington e reiterou ontem, em debate no Rio, uma proposta: formalizar como meta de governo um superávit primário baixo, mas realista, e em compensação, começar a reduzir, de forma gradual, as transferências de recursos do Tesouro Nacional para os bancos oficiais, sobretudo para o BNDES, banco que deverá diminuir de tamanho e se voltar para o crédito à inovação, infraestrutura e pequenas empresas.

Dos R$ 440,4 bilhões de crédito da União junto a bancos públicos, R$ 383 bilhoes foram para o BNDES e desses, R$ 237 bilhões para o Programa de Sustentação do Investimento (PSI). "O PSI é um programa caríssimo", avalia. No ano passado o banco recebeu R$ 45 bilhões e reivindica junto ao Ministério da Fazenda um aporte de mais R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões para cumprir os desembolsos até o fim do ano.

Além da acumulação de reservas cambiais, os recursos repassados aos bancos públicos são o segundo maior responsável pela elevação da dívida bruta do setor público para a casa dos 60% do PIB, o que chamou a atenção das agências de rating que acenam para o governo com um "downgrade". Descontadas as reservas, o estoque de dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e os aportes ao BNDES, a dívida cai para 34% do PIB em termos líquidos.

A taxa de juros implícita na dívida pública, porém, não baixou de 15% nos últimos 12e meses, enquanto a Selic chegou a seu patamar mais baixo (7,25% ao ano) e agora está em 9% ao ano. A taxa implícita é a expressão da diferença entre os juros que o Tesouro paga e o que recebe, e é maior na medida em que ele aumenta o montante dos ativos que rendem pouco.

Barbosa saiu do governo em junho, cumpriu o período de quarentena e voltou agora a participar do debate. Nas apresentações que fez ele listou o que considera os problemas mais imediatos e os desafios para 2015/2018. A inflação reprimida; o aumento da dívida bruta, que bloqueou a redução dos custos financeiros da dívida pública; e o realinhamento da taxa de câmbio são questões de curto prazo.

Do lado fiscal, sugere menor superávit primário mas, em contrapartida, um compromisso explícito e com metas de redução da dívida bruta a partir do corte gradual nos aportes de recursos aos bancos públicos. Como os principais desafios, ele coloca a reforma da previdência, da legislação trabalhista e a "reindustrialização".

Concílio tucano - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 27/09

José Serra teve uma longa conversa com Geraldo Alckmin na noite de segunda-feira, no Palácio dos Bandeirantes. O ex-governador fez considerações sobre deixar o PSDB, mas afirmou que não tomou nenhuma decisão. Ele tem dito que, seja qual for seu caminho em 2014, apoiará a reeleição do correligionário em São Paulo. Ontem, Serra foi à cerimônia de cinco anos do Acessa Escola, criado por ele. Em dois momentos de sua fala, Alckmin fez fartos elogios ao correligionário.

Tricô Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) voltaram a se encontrar ontem no aeroporto de Brasília, depois do jantar no Recife que tanto irritou Dilma Rousseff. Conversaram de forma amistosa antes de embarcarem, cada um para o seu lado.

Pró-todos Embora sua sigla tenha nascido com a simpatia do Palácio do Planalto, o presidente do Pros, Eurípedes Júnior, se reuniu com Campos na quarta-feira.

Feudos Para atrair deputados, dirigentes do Pros exibem planilha com os apoios por Estado. No Paraná e em Santa Catarina aparecem os nomes das ministras Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti.

Pote De um palaciano sobre o voto de José Dias Toffoli, favorável à criação do oposicionista Solidariedade: "Não sabíamos que a mágoa dele era tão profunda". Toffoli se queixa de não ter canal de diálogo com a presidente.

Por cima 1 O PT "federalizou" a articulação de alianças para a candidatura de Alexandre Padilha (Saúde) ao governo paulista. Como aconteceu na eleição de Fernando Haddad, as negociações se dão com ministros e presidentes nacionais de siglas.

Por cima 2 Nesta semana, Padilha se encontrou com o presidente nacional do PRB, Marcos Pereira. O partido integra o governo Alckmin, mas também tem vaga na Esplanada dos Ministérios. O ministro César Borges (Transportes) é o interlocutor preferencial no PR.

Mais hospitais O governo Alckmin lançou uma linha de crédito para financiar Santas Casas e hospitais filantrópicos paulistas. As instituições terão dez anos para quitar empréstimos de até R$ 30 milhões, com juros baixos.

A pé 1 A Secretaria do Verde de São Paulo vai fechar o acesso de veículos ao parque Ibirapuera aos domingos. Vias e estacionamentos serão usados para skates e bicicletas. A entrada de carros será bloqueada às 22h de sábado e reaberta na manhã de segunda-feira.

A pé 2 Os motoristas só poderão estacionar na parte externa do parque. A pasta diz que o plano é definitivo. A ideia provoca controvérsia na prefeitura, pois reduz a arrecadação com a venda de talões de Zona Azul. Reunião hoje decidirá se a medida valerá a partir deste domingo.

Peso... Acusado de participar de quadrilha investigada por desvios em fundos de pensão, Fayed Traboulsy contratou Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, para atuar em sua defesa. Ontem, Kakay visitou o doleiro na Papuda, onde está preso.

... pesado Uma das estratégias da defesa será alegar que alguns dos veículos apreendidos e que seriam do doleiro estariam sob consignação e que houve dupla acusação contra ele, já que estão em curso duas investigações sobre o mesmo tema: uma na Polícia Federal e outra a cargo da Polícia Civil.

Tecla SAP Observador da palestra de Dilma a investidores em Nova York na quarta-feira notou que poucos usavam o fone de tradução simultânea. "Ou estrangeiros estão falando português ou todos eram brasileiros."

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Os políticos viram os protestos lançarem o bordão sem partidos' e devem ter entendido que o povo defende 100 partidos no país."

DO DEPUTADO JÚLIO DELGADO, presidente do PSB de Minas, sobre a criação do Pros e do Solidariedade e a consequente movimentação para trocas partidárias.

contraponto


Área VIP para protestos

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) gravava em frente ao Congresso vídeo para a propaganda partidária quando um grupo de manifestantes começou a atrapalhar.

--Pessoal, estou tentando gravar um vídeo aqui. Podem me dar licença? --questionou o parlamentar.

Diante da negativa, tentou negociar:

--Quem são vocês e contra o que protestam?

--Somos o Movimento Horizontal. Somos contra tudo.

Em seguida, outro militante emendou:

--Inclusive protestamos contra o governador, que tirou o banheiro químico e a estrutura do acampamento.

Cartão de visitas - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 27/09

Veja que constrangimento. Os passageiros que desembarcaram ontem no Terminal 2 do Aeroporto Internacional do Rio, por volta de 13h30m, deram de cara com a cena da foto acima.

Pelo menos dez homens que trabalham nas obras do aeroporto dormiam, como se não houvesse amanhã, no chão, em cima de pedaços de papelão. Os turistas passavam ao lado espantados.

O barão é inocente
O grande historiador Joel Rufino, autor de “A escravidão no Brasil”, foi bombardeado estes dias por e-mails de descendentes do Barão da Torre.

É que Rufino disse aqui na coluna que o barão era um torturador.

Na verdade...
Rufino misturou os nomes. O barão foi um homem digno, herói das lutas pela Independência do Brasil.
O torturador foi o ancestral do barão, Garcia D’Ávila IV, que era tão mau que mandava pôr pimenta, digamos, no traseiro da vítima no pau de arara.

Espionagem de Obama
O livro de Glenn Greenwald, o jornalista americano que publicou as revelações de Edward Snowden sobre as ações de espionagem dos EUA, vai ser lançado dia 25 de março.

“No place to hide” será editado aqui pela Primeira Pessoa, da Sextante.

E o mensalão, hein?
Joaquim Barbosa está nos EUA participando de um encontro com uízes de Suprema Corte do mundo nteiro. É a primeira vez que um brasileiro é convidado.

Barbosa se surpreendeu como os uízes estrangeiros estavam bem nformados sobre detalhes do julgamento do mensalão.

Bibi e a sua Piaf
Bibi Ferreira, de 91 anos, levou um baita tombo em cena na estreia de “Bibi canta e conta Piaf” no Teatro Oi Casa Grande, no fim de semana passado.

Teve que suspender o espetáculo. Mas a diva do teatro brasileiro, que bom!, já está melhor e volta hoje ao batente.

Quarteto de noiva
A americana Nora Roberts, com mais de 25 milhões de livros vendidos no mundo, fechou com a Arqueiro.
Lançará pela editora a série “Quarteto de noiva” composta por quatro livros. O primeiro livro, “Álbum de casamento”, sai em novembro.

Vou de bicicleta
A sede da prefeitura do Rio oferecerá, a partir de segunda, um estímulo para quem vai trabalhar de bicicleta: três vestiários com chuveiros e um novo bicicletário, no subsolo, com 30 vagas.

A iniciativa foi das secretarias de Meio Ambiente e de Obras.

Acaba em samba
O sambista Noca da Portela, filiado ao PSB, não gostou da decisão da Executiva Nacional do partido de afastar Alexandre Cardoso, prefeito de Caxias, da presidência do diretório regional. “Eles não são donos do PSB. Nosso partido é democrático”, diz.

Noca está compondo um samba em repúdio à decisão. Um trecho: “A minha história é feita de sangue e suor/ Nessa disputa, o amor vai ser maior.”

Risco ambiental
Carlos Minc anuncia hoje que o cargueiro Angra Star, aquele que estava afundando na Baía de Guanabara, já está flutuando novamente e que não há mais risco ambiental.

De dentro dele foram retirados seis milhões de litros de água e óleo.

Pega ladrão!
O Bar Lagoa, no Rio, famoso pela maravilhosa salada de batata e pelo mau humor dos garçons, foi cenário de assalto inusitado no fim de semana.

A advogada Lívia Lopes almoçava na varanda quando, ao atender o celular, foi, segundo ela, atacada por um homem de bermuda, que levou o aparelho.

Após o ataque, ele saiu andando tranquilamente.

Segue...
A moça, claro, foi fazer queixa a um segurança da casa, que se desculpou dizendo que não percebera o bote do assaltante.
Lívia pediu ressarcimento pela perda de seu iPhone 4S aos donos do bar. Ouviu um sonoro “não”. O caso foi registrado na 14ª DP.


No ar - SONIA RACY

O ESTADÃO - 27/09

O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu, anteontem, que a concorrência para defi­nir a nova gestora da TV Alesp, da Assembleia paulista, será retomada. Na mes­ma decisão, a Fundac - que havia sido barrada no processo - conquistou liminar e voltará a concorrer.
Mas, para que a fundação ven­ça a licitação, terá de cobrar menos que R$ 13.684.285,00 - valor apresentado pela GPM Video, a primeira colo­cada na disputa. 

Cara e...
Grupo de investidores da Eletrobrás cobra de Dilma o que ela disse em Nova York, anteontem, quando assegurou: o que é assinado por autoridade brasileira é questão de Es­tado e não de governo. Por­tanto, tem de ser cumprido.
Acusado um, dois, três? Már­cio Zimmermann.

...coroa
Em abril de 2012, Zimmer­mann, presidente do conse­lho da Eletrobrás, assinou o balanço da empresa garan­tindo que as concessões a vencer pertencentes à esta­tal valiam R$ 30 bilhões.
Seis meses depois, com sua ou­tra caneta - a de secretário-executivo do Ministério de Mi­nas e Energia -, assinou MP atestando valerem... metade.

Gol de letra?
Na tentativa de atrair Romá­rio para seu Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, chegou a conversar com o baixinho so­bre a possibilidade de ele ser vice na chapa de Aécio.

Camarada
O mais novo filiado ao PC do B é o zagueiro tetracampeão mundial Ronaldão.

Novos desafios
Marcos Barreto, subprefei­to da Sé, pediu a Haddad pa­ra ser exonerado do cargo.

Prova de fogo
Não só da apuração de denún­cias de cartel no metrô de SP vive Gustavo Ungaro, corregedor-geral do Estado. Ten­ta também doutorado na USP. Projeto? Controle da Administração Pública.

Uma e outra
Alckmin já sabe o que fazer com os 700 PMs que traba­lham no serviço 190: vai subs­tituí-los por policiais civis.
A ideia é aumentar o efetivo para "policiamento ostensivo, repressivo", afirmou o governador a Amaury Jr.

Sem som
Comenta-se que a Globo esta­ria negociando redução de sua dívida com o Ecad - estimada em cerca de R$ 1,5 bilhão.
Contactado pela coluna, o Ecad informa que "a questão es­tá sub judice" e que "não se pro­nunciará a respeito".

Tijolo por tijolo
Na busca por liquidez, a Prefei­tura resolveu vender o terreno onde funciona a FGV-SP. Para quem? A própria escola.
Mandou, ontem, o processo pa­ra a Câmara aprovar..

Perdas e ganhos - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 27/09

As defecções do ex-ministro Ciro Gomes e do governador Cid Gomes são minimizadas no PSB. O candidato ao Planalto, governador Eduardo Campos, avalia que o partido saiu mais unido, coeso e próximo da sociedade. E destaca que, a despeito da criação de novos partidos, o PSB manteve seu tamanho. Sobre os que saíram, sentencia: "A gente não perde o que não tinha, a gente só perde o que tem"

Para onde ir?
Os apoiadores da Rede estão divididos quanto ao destino de Marina Silva caso o partido não seja criado até 5 de outubro. Os amigos da ex-ministra defendem que ela não adote um plano B e não concorra na eleição presidencial por outro partido. Outro grupo, formado por políticos, acha que ela deve concorrer de qualquer jeito, porque ela representa uma ideia (defesa do meio ambiente e da ética na política) e simboliza o que há de novo na política no cenário nacional. As maiores apostas são para a hipótese de Marina Silva investir na mobilização social por fora do sistema político tradicional. 

"O mito Marina Silva é muito superior à candidata Marina Silva
Maurício Moura
Do Instituto Ideia, em reunião com integrantes do comando da campanha do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves

Os"hermanos"
O dirigente da Comissão Nacional de Comunicações da Argentina Ceferino Namancurá está vindo para o Brasil. Ele vem para se reunir com o presidente da Anatei, João Resende, na foto. A compra da Telecom Itália (TIM) pela Telefónica (Vivo) também está provocando muito barulho por lá. Há reação no mercado e de consumidores.

Velhas caras novas
O PSB, de Eduardo Campos, filiou o ex-piloto de F-l Emerson Fittipaldi para que concorra a deputado federal por São Paulo. O PR, de Anthoriy Garotinho, mudou de São Paulo para o Rio o domicílio eleitoral de Agnaldo Timóteo, para que concorra à Câmara.

Pezão na cabeça
O PMDB do Rio faz gestões para o governador Sérgio Cabral virar ministro. Mas um ministro do partido diz que a preferência da presidente Dilma é outra. Ele relata ter ouvido, na cabine do avião presidencial, e na presença de outros três ministros, Dilma afirmar: "Se o Pezão quisesse virar ministro, o faria imediatamente. Ele é trabalhador, um tocador de obras."

Na capital cultural do país
O autor da PEC da Música, o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), vitorioso depois de seis anos de luta, sugeriu ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que a solenidade de promulgação seja feita no Pão de Açúcar.

Campanha por mais receita
Segundo o IBGE, 16,6 milhões de pessoas trabalham no comércio, mas só 6,3 milhões contribuem para a Previdência. Por isso, o ministro Garibaldi Alves propôs à Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio campanha para que os comerciários regularizem a situação com a Previdência.

Porta aberta
Vices da Gaixa, Osmar Dias e Benito Gama andaram conversando. Devido ao desgaste do PDT junto ao governo, Dias consultou Gama, presidente do PTB, sobre se ele teria legenda para disputar o Senado na chapa ao governo da ministra Gleisi Hoffmann (PT).
MANDE UM SINAL.O PPS suspendeu, há uma semana, as conversas com o governador Eduardo Campos (PSB). Alegou que ia esperar por José Serra.

Maleáveis e insípidos - DENISE ROTENBURG

Correio Braziliense - 27/09


Os novos partidos têm mais a política como um negócio do que propriamente uma vocação, no sentido de transformação social e construção de um país melhor



Os últimos dias serviram para decretar o fim daquela história linda e pomposa de que os mandatos pertencem aos partidos. Toda a rigidez, instituída na lei de forma a preservar os deputados dentro das siglas pelas quais foram eleitos, caiu por conta dos acordos políticos e do portal aberto com a criação de mais dois partidos. E com um agravante: ninguém sabe direito o que esses partidos representam. Só se tem até agora uma vaga ideia de que rumo essas legendas vão tomar.

Vejamos primeiro o Partido Republicano da Ordem Social (Pros). A agremiação chega como uma espécie de acessório da aliança PT-PMDB, sob medida para abrigar aqueles que desejam apoiar a reeleição da dupla Dilma Rousseff-Michel Temer — em especial, os oriundos do PSB. Ontem, por exemplo, o deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL) conversava animadamente com integrantes do Pros na sala de reuniões da liderança do PMDB. A escolha do local, por si só, mostra a parceria entre peemedebistas e Pros.

Quanto ao Solidariedade, a independência mencionada pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, é relativa. Em São Paulo, é governo. Apresenta-se sob medida para abrigar aqueles que, no passado, seguiram para o PSD pensando em independência e, agora, vêem o partido aliado à presidente Dilma. No Rio de Janeiro, entretanto, seguirá o PT. Assim, faz uma aposta na oposição, ao se reunir com Aécio Neves, mas não deixa de construir uma pinguela com os petistas para o futuro. Bem ao estilo do que tem feito o PMDB, o PP, o PTB…

Projeto para o país, planejamento, ideias novas de gestão, para enfrentar os problemas do Brasil e dos estados ainda não se viu. A entrevista concedida pelo presidente de honra do Pros, Henrique José Pinto, ao Correio, ontem, na reportagem de Paulo de Tarso Lyra, Leandro Kleber e Étore Medeiros, é de assustar qualquer cidadão. Ele diz claramente que o partido é obra de “meia dúzia de caboclo (sic) que não tinha o que fazer e sem expectativa de vida”. Declarou ainda que estava completamente sem dinheiro e, por isso, vendeu inclusive os projetos das obras de sua construtora.

Agora, com a nova legenda, terá acesso a fundo partidário e tempo de tevê, a depender do número de deputados que conseguir levar. Cada excelência filiada vale dois segundos e 20 décimos e alguns milhares reais. Quem é do ramo e ainda tem a política como um meio de transformação social percebeu nas entrelinhas da entrevista que o novo partido vê a política mais como um negócio do que propriamente uma vocação, no sentido de construir um país melhor. Juscelino Kubistchek, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães devem estar se revirando no túmulo. (Dr. Ulysses não, porque morreu no mar e seu corpo nunca foi encontrado).

O pior nisso tudo é o fato de os partidos que perderam deputados não correrem atrás dos mandatos. À exceção de Luiz Pitiman, que sai do PMDB e ingressa no PSDB e tem um documento expresso que lhe assegura a cadeira na Câmara, nenhum dos demais tem essa mão. O presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, por exemplo, permitirá que o governador do Ceará, Cid Gomes, deixe o partido sem se preocupar com a questão do mandato. Não quer mais brigas do que as que já existem com Ciro Gomes, conforme bem demonstrou a reportagem de Ana D’Ângelo, ontem, no Correio. Para quem não leu, vale lembrar que Ciro fala em “acanalhamento” do PSB, e solta duras críticas à postura de Campos.

Ciro, segundo os socialistas, só se esquece de dizer, entretanto, que se a cúpula do partido quisesse, poderia ter organizado o desembarque do governo Dilma para quando estivesse terminado o prazo de filiação partidária para os candidatos, no ano que vem. Assim, deixaria os irmãos Gomes e outros interessados em se manter aliados ao governo Dilma presos à legenda, sem poder sair para montar um projeto alternativo. Ao sair do governo antes de 5 de outubro, ele deixou a porta aberta para que Cid e Ciro saíssem sem ser incomodados.

Enquanto isso, no TSE…
Por ironia do destino, permanece pendurada a Rede de Marina Silva, o único partido dessa leva que parece não querer carimbar a sua formação como um negócio e sim, uma filosofia, um projeto dentro daquela vocação mencionada acima. É também dessa safra a única agremiação a ter desde já um nome para concorrer à Presidência da República. (Ontem, na pesquisa Ibope/Estadão, Marina aparece com 16% das intenções de voto, em segundo lugar, enquanto Aécio tem 11%, Eduardo Campos, 4% e Dilma, na liderança, 38%). Se a Rede sair, não haverá sequer tempo de filiar muitos interessados. Certamente, ficará menor do que os dois que obtiveram o registro essa semana.

E no Palácio do Planalto…
Com a presidente Dilma Rousseff de volta, hoje recomeça a ladainha da reforma ministerial. Para o Ministério da Integração, permanecia ontem como o mais forte o senador Vital do Rego Filho. Para os Portos, a ordem é deixar o cargo para uma indicação dos irmãos Gomes.

AS PROVAS ESTÃO LÁ - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 27/09

O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sai em defesa do julgamento do mensalão. "Há provas cabais contra José Dirceu", diz ele, respondendo a Ives Gandra Martins. Em entrevista à Folha, o jurista afirmou que o petista foi condenado com base em indícios e presunções. Amigo e coautor de livros com Gandra Martins, o magistrado diz: "Tenho respeito e afeto pelo Ives, mas suas declarações foram impróprias".

COM CARINHO
Mendes cita, entre "inúmeras" provas, depoimentos de testemunhas que dizem que todas as negociações do governo com partidos precisavam ser referendadas por Dirceu. E também as negociações com o Banco Rural, no centro do escândalo. Em tom de brincadeira, afirma: "Ainda bem que o Ives teve o bom senso de não propor a canonização do José Dirceu".

A RECÍPROCA...
Ives Gandra Martins diz que recebe as críticas "com muito respeito, pois tenho pelo Gilmar uma grande admiração". Mas mantém sua opinião. "Sei que há depoimentos, mas a prova testemunhal é a pior das provas. Não há contra Dirceu a prova material." Ele registra que, por criticar a teoria do domínio do fato, recebeu telefonemas de apoio tanto de ministros do STF, aposentados e na ativa, quanto de outras cortes. E também de professores de direito "do Brasil inteiro".

...É VERDADEIRA
Gandra Martins, por sinal, está lançando o livro "Estudo de Direito Constitucional em Homenagem a Gilmar Mendes", pela editora Saraiva. Coordena a obra junto com o professor Carlos Valder do Nascimento, da Bahia.

PRIMEIRO PASSO
Luciano Szafir se prepara para sua primeira direção. Ele dividirá as funções de produtor e diretor com Andrea Avancini no musical "O Templo de Salomão". "Não aceitaria dirigir um espetáculo desse porte sozinho", diz. Programada para estrear em 2014, a montagem terá Fernando Pavão como Salomão e Juan Alba como seu principal conselheiro.

REALITY SHOW
Uma peça será encenada dentro de um contêiner no parque da Juventude, a partir do dia 1º. Em "5 e 45 - Ergueu a Mão e Soprou um Beijo", o público, que poderá ser de no máximo 20 pessoas, dividirá com a atriz Alexandra Tavares a sensação de estar preso. O espetáculo, inspirado em fatos reais, retrata os últimos 45 minutos de vida de uma mulher prestes a ser executada. Será instalado ar-condicionado no espaço, com 14 m² e 2,5 m de altura. O parque foi criado no espaço em que antes estava instalado o Carandiru.

ABAIXO POPOZUDAS
Os castings para os desfiles da Semana de Moda de Paris têm aprovado modelos com 85 cm a 86 cm de quadril. A limitação tem deixado de fora da temporada muitas brasileiras. A medida de 88 cm imposta há alguns anos já era um pesadelo para as modelos nacionais. Além de afinar, a média de altura nos desfiles parisienses subiu para 1,84 m. A imposição não vale para tops: Gisele Bündchen tem 1,79 m de altura e 89 cm de quadril.

PODER FEMININO
A irlandesa Caroline Casey, ativista social cega que percorreu mil quilômetros na Índia em cima de um elefante para arrecadar fundos para ações beneficentes, é uma das 36 palestrantes do Fórum Momento Mulher, que acontece dia 7 de outubro.

SOB NOVA DIREÇÃO
A MTV fez festa para comemorar sua nova fase, agora na TV a cabo. A atriz Carolina Dieckmann e o marido, Tiago Worcman, vice-presidente do canal, estiveram na comemoração. Os músicos Supla, Lobão, Fiuk, Marcelo D2 e Emicida também circularam pela festa, que contou com a presença da vidente Mãe Dináh e de Rodrigo Gorky e Pedro D'Eyrot, integrantes do trio Bonde do Rolê.

CURTO-CIRCUITO
A empresária Helena Mottin organiza festa para o marido, Edinho Veneziani, hoje, às 21h, no Itaim.

Dudu Bertholini assina nova linha da Absurda, marca latino-americana de design de óculos.

A modelo Izabel Goulart desfila para a C&A, no domingo, 29, no Jockey Club do Rio. Grátis.

A Secretaria de Educação de Guarulhos encerra hoje seminário internacional para discutir o uso de novas tecnologias na escola. A Unesco é uma das parceiras do evento.

A guerra como ela é - LUIZ CARLOS AZEDO

Correio Braziliense - 27/09


Um velho general chinês dizia que, na arte da guerra, a melhor estratégia é neutralizar os possíveis adversários e tirá-los do campo de batalha. Pode ser que a presidente Dilma Rousseff nada tenha a ver com isso, mas é o que pode estar acontecendo com Marina Silva e José Serra. Os dois estão com um pé fora das eleições presidenciais de 2014.

Marina corre o risco de perder a legenda por um erro de cálculo político. Acredita que a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de conceder registro ao Solidariedade e ao Pros é um sinal de que a Rede Sustentabilidade, o seu partido, também terá o registro aceito. É um cálculo temerário, pois a decisão em relação ao Solidariedade foi tomada por um voto, o do ministro Dias Toffoli. Nada garante que o mesmo placar se repita em relação à Rede, mesmo que o voto do ministro seja camarada. Marina diz que não tem plano B; os aliados preferem que ela procure outra sigla para concorrer.

O caso de Serra é mais ou menos parecido. Desde que a fusão do PPS com o PMN fez água, a possibilidade de o tucano deixar o ninho e se filiar ao antigo PCB se tornou mais difícil. O exíguo tempo de televisão e a fragilidade orgânica da legenda desanimam o ex-governador paulista, embora a vontade de concorrer à Presidência da República persista. Se ficar no PSDB, Serra estará praticamente fora da sucessão presidencial, pois a candidatura do senador Aécio Neves, que hoje preside o partido, está consolidada. Um cenário sem Marina e Serra, ou seja, com apenas três candidatos competitivos — Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos (PSB) — favorece a presidente da República. Para muitos analistas, seria um cenário de eleição decidida logo no primeiro turno.

Voltou

Após uma conversa com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, o deputado Romário decidiu voltar à sigla. O ex-jogador assumirá o comando do diretório regional do PSB no Rio de Janeiro. O prefeito de Duque de Caxias (RJ), Alexandre Cardoso, desafeto do parlamentar fluminense, perdeu o comando da legenda porque apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff e a candidatura do peemedebista Luiz Fernando de Souza, o Pezão, vice-governador do Rio, ao governo estadual.


Dança das cadeiras// Ministra da Cultura, Marta Suplicy é o nome mais cotado para substituir Aloizio Mercadante no Ministério da Educação. Por causa da iminente saída de Gleisi Hoffmann da Casa Civil para disputar o governo do Paraná, Mercadante é o nome mais forte para esse cargo.

Diplomacia

Os chanceleres do Brasil, da Alemanha, do Japão e da Índia criticaram ontem, em Nova York, o atraso da reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Os ministros das Relações Exteriores do Brasil, José Alberto Figueiredo (foto); da Alemanha, Guido Westerwelle; do Japão, Fumio Kishida; e da Índia, Salman Khurshid, querem ser membros permanentes no Conselho de Segurança, como são Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China. Hoje, mandam no colegiado as potências que venceram a Segunda Guerra Mundial. Alemanha e Japão perderam.


Sabatina

A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado aprovou ontem a indicação do ex-chanceler Antonio Patriota (foto) para o cargo de representante permanente do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU). Após a sabatina na CRE, Patriota falou sobre as prioridades de seu trabalho na ONU. Durante o evento, Patriota disse que a “cortina da espionagem caiu”. Ou seja, não cola mais a desculpa apresentada pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry, de que o monitoramento feito pelos Estados Unidos nas comunicações visava combater terrorismo.


Capa preta

Morreu ontem, aos 79 anos, Givaldo Pereira de Siqueira, ex-integrante do antigo Comitê Central do PCB e secretário de Comunicação do PPS. Quadro histórico do antigo Partidão, foi um dos responsáveis pela retirada do país de alguns dirigentes que escaparam da morte durante o cerco policial de 1975, entre eles, Salomão Malina. Com câncer, estava internado no Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro. Ele deixa a mulher, Júlia, e os filhos, Paulo e Isabela. O corpo será cremado hoje, no Cemitério do Caju.

Petróleo

A Petrobras e a IBV Brasil, uma joint venture indiana, avaliaram que o bloco marítimo de exploração SEAL-11, na Costa de Sergipe, pode ter 3 bilhões e barris de petróleo

Vão pagar/ O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ontem que vai cumprir o que determina a lei para a devolução do excedente salarial recebido por 464 servidores da Casa com vencimentos superiores ao teto constitucional de R$ 28.059,29. Segundo o TCU, foram pagos mais de R$ 300 milhões a esses servidores nos últimos cinco anos, em valores não corrigidos.

Diretor/ A propósito, como antecipou a coluna, o novo diretor-geral do Senado é o advogado e economista Antônio Helder Medeiros Rebouças, do quadro de consultores de carreira da Casa. Ele ocupava a diretoria do Instituto Legislativo Brasileiro e substituirá Doris Marize Romariz Peixoto, que deixou o cargo alegando motivos pessoais.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 27/09

Setor de equipamentos médicos se recupera
Após fechar 2012 com um resultado considerado fraco --aumento de 4,2%--, o setor de máquinas e suprimentos médico-hospitalares começa a retomar seu ritmo de expansão.

No acumulado dos sete primeiros meses deste ano, o incremento das vendas foi de 9,2% na comparação com o mesmo período de 2012, de acordo com dados da Abimed (associação do segmento).

Em 2011 e em 2010, a elevação havia chegado a 19% e a 20%, respectivamente.

Também nos sete primeiros meses de 2013, a produção avançou 7,7%, e o número de novos postos de trabalho subiu 4%.

"O crescimento da área de equipamentos para saúde não se compara com o do PIB porque há uma grande demanda reprimida", diz o presidente-executivo da entidade, Carlos Goulart.

"É só ver pelas filas em hospitais. Além disso, os brasileiros estão envelhecendo, mais pessoas entraram na classe média e a população economicamente ativa, que tem um salário e normalmente um plano de saúde, aumentou."

Apesar de considerar sazonal a retração registrada no ano passado, Goulart afirma que a greve da Anvisa também prejudicou --equipamentos importados ficaram parados nos portos aguardando vistoria do órgão.

"Teve um momento em que tivemos que deixar de atender pedidos", acrescenta.

Goulart espera que este ano termine com uma alta de até 15%. Em 2012, o mercado movimentou US$ 9 bilhões.

Cooperativa constrói fábrica de laticínios em Uberlândia
A Calu, cooperativa agropecuária de Uberlândia, iniciou a construção de uma fábrica de laticínios no município do Triângulo Mineiro, uma das principais bacias leiteiras do país. O aporte será de R$ 36 milhões.

A planta vai aumentar a capacidade de processamento, dos atuais 100 mil litros por dia para 300 mil litros.

O investimento também vai possibilitar a produção própria de leite UHT (longa vida), cuja fabricação hoje é terceirizada em Goiás.

"Vamos ampliar o nosso portfólio, com a inclusão de queijos finos, por exemplo", afirma o presidente, Cenyldes Moura Vieira.

Além de processar leite, o grupo faz derivados como queijos, manteiga e bebidas fermentadas.

Minas Gerais é o principal mercado, mas os produtos também são vendidos em Estados do Nordeste, como Maranhão, Piauí e Pernambuco.

A cooperativa tem 3.000 associados, número que deve crescer com a nova unidade, segundo o presidente.

A expansão será financiada pelo BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais) e por outras instituições, de acordo com Vieira.

Água... A Valetur, operadora de turismo do Grupo Rio Quente, fechou uma parceria com a Azul para ampliar o número de voos fretados com destino a Caldas Novas (GO). O aporte no negócio foi de aproximadamente R$ 6 milhões.

...quente Serão cerca de 300 voos até 2014 saindo de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A expectativa é transportar 40 mil pessoas. Atualmente, a Valetur faz 450 voos por ano, em sociedade com a TAM.

OBRA ESTÁVEL
O nível de emprego na construção civil brasileira manteve crescimento no mês de agosto, apesar da desaceleração registrada neste ano, segundo levantamento do SindusCon-SP (sindicato do setor do Estado de São Paulo).

Na comparação com julho, a indústria avançou 0,45%, com a abertura de 15,8 mil vagas. O desempenho é superior aos 0,37% do mesmo período de 2012.

"Se considerarmos o restante do ano, é um número muito bom. Os resultados mais recentes estão indicando estabilidade na mão de obra, e essa estabilidade, felizmente, ainda é positiva", afirma Sergio Watanabe, presidente da entidade.

A expectativa do executivo é fechar 2013 com uma expansão de 2%.

"O ritmo foi mais forte no ano passado, mas o setor não está fechando postos de trabalho, o que é um bom indicador para o mercado da construção", diz.

No período de 12 meses encerrados em agosto, a variação foi de -0,01%, o que equivale a pouco mais de 410 demissões.

Brincadeira... A Glitz Mania, franquia de salões de beleza para crianças, inaugura neste sábado seu primeiro ponto de rua em São Paulo, no bairro de Moema. Até o fim de 2013, mais dois serão abertos, encerrando o ano com dez.

...de criança A rede, que atua em São Paulo e no Rio de Janeiro, planeja expandir sua operação no próximo ano e abrir oito lojas, nas cidades de Curitiba e Belo Horizonte. O investimento para cada uma é de cerca de R$ 400 mil.

Passando o bastão A advogada Elisabeth Fekete foi eleita ontem presidente da ABPI (Associação Brasileira de Propriedade Intelectual) para o biênio 2014-2015. Ela será empossada em janeiro, sucedendo Luiz do Amaral.

Direção segura Hoje na Stock Car, o ex-piloto de F-1 Luciano Burti inaugura no próximo mês a Navig, empresa de qualificação de caminhoneiros e motoristas em geral. O treinamento será em simuladores trazidos do Canadá.

Confiança em baixa
A parcela de brasileiros que avalia a situação econômica do país como boa caiu quase pela metade em agosto, na comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com levantamento da Ipsos.

O índice do Brasil ficou em 28% --11 pontos abaixo da média global. Em agosto de 2012, o indicador chegou a 51%.

Lideraram a lista a Noruega (96%), a Arábia Saudita (82%) e a Suécia (70%).

A Espanha foi a última da lista (5%), precedida por Itália (8%) e França (9%).

Quando questionado se acredita na melhora da economia de seu país, o Brasil aparece no topo do ranking, com 68% --enquanto a média global foi de 23%.

A pesquisa ouviu 18.503 pessoas de 25 países. No Brasil, foram aproximadamente mil entrevistados.

Ainda o mistério do emprego - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 27/09

Depois de piscar em meados do ano, nível de emprego continua firme e renda ainda sobe


"A LUZ DO emprego piscou", escrevia-se no título desta coluna faz dois meses a respeito da pesquisa de emprego do IBGE com informações de junho, entre outros indicadores de que o mercado de trabalho parecia mais fraco.

A luz do emprego não parece mais forte agora, a julgar pelas informações a respeito de agosto, divulgadas ontem pelo IBGE. Mas não dá sinais de que vá pifar, pelo menos tão cedo.

O ritmo de aumento do salário real decai desde dezembro de 2013, decerto (na variação da média de 12 meses), mas já vimos esse filme antes. O aumento real do rendimento médio (isto é, descontada a inflação) caiu para algo em torno de 2% ao ano em meados de 2008, de 2010 e no início de 2012 (quando caiu "só" para 2,5%, como agora). Mas um ano depois, mais ou menos, voltava a subir para 4,5% ao ano ou mais.

Estamos no "fundo do poço" desses ciclos de baixa, que pode bem continuar. Porém, o desemprego continua a cair; o número de pessoas ocupadas continua a subir de modo muito mais que decente.

Por outro lado, o crescimento do número de empregos formais (na contagem do Ministério do Trabalho) vai diminuindo. Os estoques nas empresas subiam. A indústria demitia em temporada tipicamente destinada a contratações para a produção de final de ano.

Recentemente, pesquisas indicavam que mais trabalhadores se queixavam de dificuldades maiores de encontrar trabalho, em geral indicador de desemprego à frente.

Sim, a economia vai crescer em 2013 bem mais do que em 2012 (uns 2,5% diante de 0,9%). Mas, outro porém, estamos numa campanha de alta de juros, a confiança do empresariado continua a declinar e o crescimento da economia estimado para o ano que vem é menor que o de 2013. Enfim, a tendência do câmbio é de desvalorização do real, o que, em tese, tende a prejudicar o setor de serviços, que vinha dando impulso forte ao emprego.

ALARME FALSO?

O que houve em meados do ano foi alarme falso? Como se escrevia aqui em julho, alguns economistas "...acreditam que os dados recentes sobre emprego, confiança e muito mais estão distorcidos ou cheios de ruído' devido às manifestações de junho e à balançada feia nos mercados financeiros no mundo inteiro, em especial aqui".

A balançada feia nos mercados era devida à expectativa de mudança da política monetária americana, que fez o dólar saltar em junho. No entanto, balançada ainda pior ocorreu em agosto.

E daí?

Os economistas do Bradesco, por exemplo, acreditam que a taxa média de desemprego suba apenas para 6% no ano que vem. Politicamente, em termos eleitorais, mal vai dar para sentir, se for este mesmo o caso e se não ocorrer algum outro tropeço econômico feio.

Mas, se for este mesmo o caso, vai ser bem difícil que a inflação caia do degrau incômodo de 6%, em que tem estado nos últimos quatro anos, por aí. Isto é, parece cada vez mais certo que vamos levar o problema da inflação, entre tanto outros, para 2015, um ano de muita casa para arrumar.

Desemprego em baixa - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 27/09

Por mais que os sindicalistas insistam em afirmar que as condições do mercado de trabalho estejam piorando no Brasil, os números dizem o contrário. Em agosto, apenas 53 em mil brasileiros estavam desempregados (veja o gráfico), um índice muito próximo dos mínimos históricos, que se vêm repetindo há três anos.

Há meses, os economistas espremem seus miolos para entender o paradoxo do crescimento econômico repetidamente medíocre com uma situação de pleno emprego.

Às vezes, tendem a sustentar a hipótese de que o erro está nas Contas Nacionais, que não vêm medindo corretamente o que se passa na atividade econômica. O setor de serviços estaria sendo mal avaliado e o avanço do PIB seria mais alto do que dizem as estatísticas do IBGE. Se for isso, se o setor de serviços tem uma participação maior do que os 67,5% admitidos, então a indústria está pior. O IBGE já anunciou que está revendo seus cálculos.

Outros economistas puxam para o lado demográfico: há menos desemprego ou porque há mais de 20 anos a natalidade vem diminuindo ou porque os jovens demoram mais para entrar no mercado de trabalho, uma vez que têm de estudar mais. Em termos mais técnicos, há uma redução da População Economicamente Ativa (PEA). Pode ser um pedaço da verdade.

Uma terceira hipótese parece mais plausível: há cada vez menos procura de emprego porque hoje mais gente está trabalhando por conta própria (atividade autônoma) ou, então, se virando com biscates. A impressão que se tem é de que nenhum desses guardadores de carro em dias de jogos do Corinthians está procurando emprego. Não que estejam satisfeitos com o que ganham. É que devem achar uma chatice arrumar emprego para acordar de madrugada, gastar horas na condução para atravessar a cidade e esperar pelo holerite carregado de descontos no fim do mês. Conjugado à inflação alta, que corrói o poder aquisitivo do trabalhador, é um fator que tende a reforçar a procura por ocupação informal.

No caso do Brasil essa situação de pleno emprego (ou quase isso) mascara um problema e cria outro. O primeiro é a persistente baixa produtividade da mão de obra. Por mais que empregue pessoal, o mercado de trabalho concorre pouco para aumentar a produção. É uma situação que reflete o nível precário do ensino do País e a baixa capacidade de treinamento.

O crescente problema que daí provém é o aumento dos custos e, em consequência disso, o achatamento da competitividade da indústria, especialmente se for confirmado o tamanho maior do setor de serviços no Brasil. Do ponto de vista macroeconômico, a situação de pleno emprego aponta para o baixo potencial de expansão da economia. Dito de outra forma, ficaria bem mais difícil crescer a 3% ou 4% ao ano se já há excessivo aquecimento no mercado de trabalho com avanço do PIB de apenas 0,9% (em 2012) ou em torno de 2,4% (neste ano). Seria um fator adicional a exigir mais produtividade da força de trabalho.

Abrir ou abrir, eis a questão - EDMAR BACHA

VALOR ECONÔMICO - 27/09


A economia brasileira está enferma. É isso que nos dizem os pibinhos , a inflação alta e a desindustrialização. São sintomas da baixa produtividade do país, que tem a ver com o atraso tecnológico, a escala reduzida e a falta de especialização que caracterizam nossas empresas de modo geral. É o resultado do isolamento econômico que o país se impôs em relação ao comércio internacional com exportações de apenas 12,5% do PIB, que representam menos que 1,3% do total mundial em 2012. Medido pelo PIB, o Brasil responde por 3,3% do total do mundo - número 2,5 vezes maior que sua participação nas exportações mundiais. Enquanto acordos de preferência comercial proliferam mundo afora, o Brasil permanece atado à letargia do Mercosul. Agora que um brasileiro está dirigindo a Organização Mundial do Comércio, é boa hora de reavaliar essa política de isolamento e promover maior integração do país ao comércio internacional.

Os diagnósticos correntes sobre a doença brasileira de elevada inflação combinada com reduzido crescimento corretamente enfatizam o baixo investimento e a alta carga tributária, além da educação precária. Menor presença no debate tem tido um fator de igual ou maior importância do que os anteriores, a saber, a reduzidíssima participação do comércio exterior na atividade econômica do país. Trata-se de uma questão de natureza quantitativa, pois nesse quesito o Brasil é um ponto fora da curva em relação aos demais países, tanto quanto ou mais que na taxa de investimento, na carga tributária ou na qualificação da mão de obra.

Mas trata-se também de uma questão de natureza qualitativa, da estratégia de desenvolvimento. Tentar atacar simultaneamente todas as mazelas que emperram o crescimento do país é uma receita certa para o fracasso, pois não há governo que terá forças para tanto. Melhor concentrar esforços em nós górdios críticos que, uma vez desatados, tenham o condão de forçar o alinhamento dos demais requisitos para o crescimento. Trata-se de uma aplicação do princípio do desenvolvimento desequilibrado sugerido por Albert Hirschman: em lugar de buscar um impossível crescimento simultâneo de todos setores, a melhor estratégia para o desenvolvimento é provocar um desequilíbrio regenerador, forçando os demais requisitos para o desenvolvimento a se alinharem com uma nova realidade. Nesse contexto, Hirschman cunhou o termo exportabilidade para caracterizar como um processo de industrialização poderia levar um país subdesenvolvido para um estágio mais alto de crescimento. Nada de errado com substituir importações, propôs ele, desde que através dessa substituição o país consiga desenvolver novas fontes de exportação. O Brasil deu o primeiro passo, e constituiu uma forte indústria de transformação a partir da substituição de importações. Mas não deu o segundo passo, pois a indústria brasileira produz apenas para o mercado interno e não se integrou às cadeias internacionais de valor.

De acordo com o World Factbook da Central Intelligence Agency dos Estados Unidos, em termos do valor das exportações de mercadorias em 2012 o Brasil ocupou apenas a 25ª posição no mundo, apesar de o PIB brasileiro ter sido o 7º maior do mundo. Trata-se de uma anomalia, pois a Comunidade Europeia ocupou o 1º lugar no mundo, tanto em termos de PIB como de exportações. Os Estados Unidos ocuparam o 2º lugar em termos de PIB e o 3º em exportações. A China ocupou o 3º lugar em termos de PIB e o 2º em exportações. O Japão obteve o 5º lugar, tanto em termos de PIB como em exportações. A Alemanha se posicionou como a 6ª maior economia do mundo e a 4ª maior exportadora em 2012.

O 7º maior exportador do mundo foi a Coreia do Sul, cujo PIB ocupou a 13ª posição no ranking mundial. Ou seja, países ricos ou bem-sucedidos na transição para o Primeiro Mundo são simultaneamente grandes exportadores. O que não acontece com o Brasil. Semelhante ao Brasil, com um PIB grande, mas exportações pequenas, somente está a Índia (11º maior PIB do mundo e 21º maior exportador) - um país pobre que está a duras penas tentando transitar para a classe média. Caberia fazer a objeção de que, apesar de os Estados Unidos serem grandes exportadores, suas exportações de bens e serviços respondem por apenas 13,6% do PIB americano, número pouco maior que o do Brasil. Mas o PIB dos Estados Unidos representa praticamente ¼ do PIB mundial e é quase sete vezes maior que o do Brasil. Além disso, os Estados Unidos operam na fronteira da tecnologia mundial, o que está longe de acontecer com o Brasil.

Quadro igualmente desalentador, do ponto de vista da integração brasileira no comércio mundial, revela-se quando olhamos os valores das importações. Nas estatísticas do Banco Mundial para 2012, a parcela das importações de bens e serviços no PIB do Brasil é de apenas 13%, o menor valor entre todos os 176 países para os quais o banco tem dados. Na Coreia do Sul, a parcela das importações no PIB é 54%. Na Alemanha, 45%. Na China, 27%. Mesmo os Estados Unidos, com sua economia gigantesca, importam 18% do PIB, quase 40% mais que o Brasil.

A conclusão é que vivemos num dos países mais fechados ao comércio exterior. É algo paradoxal, pois, ao mesmo tempo, somos um mercado muito atraente para o investimento direto das multinacionais. Conforme o World Investment Report de 2013 da UNCTAD, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking de destinos preferenciais do investimento estrangeiro direto, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Hong Kong. A explicação é que as multinacionais vêm aqui para explorar o mercado interno protegido e não para integrar o país às suas cadeias produtivas mundiais, como ocorre com suas subsidiárias nos países asiáticos. O paradoxo ocorre porque temos uma conta de capital aberta ao fluxo de investimento, mas uma conta corrente fechada ao fluxo de comércio. Trata-se de uma receita certa para o que a literatura econômica denomina de crescimento empobrecedor . As multinacionais lucram ao investir no país, mas o resto da economia definha, ao deslocar para a substituição protegida de importações recursos locais que poderiam ser empregados com maior eficiência em atividades exportadoras.

O isolamento do país em relação ao comércio internacional é preocupante porque a evidência do pós-guerra sugere não haver caminho para o pleno desenvolvimento fora da integração com o resto da comunidade internacional. São poucos os países que conseguiram superar a chamada armadilha da renda média e chegar ao Primeiro Mundo nos últimos 60 anos anos. Alguns, como Israel e os países do Sudeste Asiático - Coreia do Sul, Hong Kong, Cingapura e Taiwan - o fizeram apoiados nas exportações industriais. Outros, como os da periferia europeia - Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal - nas exportações de serviços, inclusive de mão de obra. Outros ainda, com abundantes recursos naturais e escassa população, como Austrália, Nova Zelândia e Noruega, nas exportações de commodities. Cada país à sua maneira, explorando suas respectivas dotações de recursos, mas todos eles com uma característica em comum: a crescente integração com o comércio internacional.

A explicação para essa associação entre comércio e riqueza está em que, através da substituição de importações, é possível atrair do campo para a cidade a população predominantemente subempregada na agropecuária. O crescimento da produtividade agregada que esse deslocamento populacional propicia é suficiente para elevar a renda nos estágios iniciais do desenvolvimento. A partir do esgotamento desse manancial de mão de obra, entretanto, ganhos adicionais de produtividade, que levem da renda média para a renda elevada, dependem de empresas com escala, especialização e tecnologia que somente podem ser obtidas através da integração do país ao comércio internacional. Embora o Brasil seja um país relativamente grande, representa apenas 3,3% do PIB mundial e está longe da fronteira tecnológica mundial.

Na década de 1960, a renda per capita da Coreia do Sul era inferior à do Brasil. Sua estratégia de industrialização, entretanto, baseou-se na promoção de exportações, enquanto que o Brasil persistiu na substituição de importações. Em 1970, as exportações de bens e serviços da Coreia do Sul representavam 15% do PIB, enquanto no Brasil essa relação era pouco menos da metade disso, ou 7% do PIB. Cinquenta anos depois, em 2012, o coeficiente de exportações da Coreia do Sul havia se tornado 3,9 vezes maior do que em 1970, situando-se em 58,5% do PIB. Enquanto isso, o coeficiente de exportações do Brasil foi de 12,5% do PIB em 2012, apenas 1,8 vez maior do que em 1970. Visto de outro modo, a Coreia do Sul é hoje um país desenvolvido, com um PIB per capita de US$ 32.800 e uma corrente de comércio (exportações mais importações de bens e serviços) superior ao valor de seu PIB, enquanto o Brasil continua sendo um país de renda média, com um PIB per capita de US$ 12.100 e corrente de comércio inferior a ¼ de seu PIB. Não há dúvida de que o extraordinário potencial exportador da Coreia do Sul está associado à sua excelente infraestrutura, ao avanço tecnológico de suas empresas líderes e à qualidade de sua educação. Mas tudo isso teria sido difícil, se não impossível, de colocar em pé não fora a decisão do governo coreano, já na década de 1960, mas especialmente após o primeiro choque do petróleo, em 1973, de dar exportabilidade a seu processo de industrialização.

Esse é o desafio que o Brasil enfrenta. Para ultrapassar a armadilha da renda média, é imperativo que deixe de ser um dos países mais fechados do mundo ao comércio internacional. Somente aumentando significativamente a participação das exportações no PIB é que deixaremos de ser apenas um exportador de commodities e conseguiremos desenvolver uma indústria e um setor de serviços internacionalmente competitivos. O exemplo da Embraer, que importa 70% do que exporta, indica o caminho para o futuro. O fato de praticamente todas as multinacionais relevantes já terem instalações no país facilita essa transição. Embora as multinacionais tenham vindo para aqui para explorar o mercado interno, não vão abandonar o país, desde que lhes sejam oferecidas alternativas atraentes para, a partir de sua posição privilegiada no mercado interno, desenvolverem uma atividade exportadora complementar às de suas associadas nos demais países do mundo. A presença maciça das multinacionais é um ativo importante para o país poder integrar-se às cadeias mundiais de valor.

Multinacionais vêm aqui para explorar o mercado interno protegido e não para integrar o país às suas cadeias produtivas mundiais

A sugestão para a alternativa integradora é um programa pré-anunciado a ser implantado gradualmente, ao longo de um número de anos. Por ser um programa gradualista, e não um tratamento de choque, haverá que se construir previamente um consenso político e social para sua sustentação. Esse consenso poderá possivelmente ser alcançado a partir de duas constatações.

A primeira é que, se seguirmos no atual curso de isolamento econômico, continuaremos a gerar pibinho atrás de pibinho , sem conseguirmos sair da renda média. A evidência do letárgico comportamento econômico do país nos últimos 30 anos, reiterada no atual mandato presidencial, nos sugere isso fortemente.

A segunda constatação é que os acordos de preferência comercial tornaram-se, nos últimos anos, importante mecanismo de política comercial dos países e, hoje, podem ser considerados característica irreversível da regulação do comércio internacional. Mais recentemente, comunidades com mercados internos muito maiores do que o nosso e na fronteira da tecnologia mundial, como os EUA e a União Europeia, reconhecendo que, no mundo globalizado em que vivemos, precisam unir forças para acelerar seu crescimento, propuseram negociar uma profunda área de livre comércio entre si, a chamada Parceria Transatlântica para o Comércio e o Investimento. A impertinência da postura comercial do Brasil fica assim mais flagrante do que nunca, clamando por um programa de integração que nos libere da atual posição de isolamento.

O programa de integração aqui sugerido tem três pilares: reforma fiscal, substituição de tarifas por câmbio e acordos comerciais, a serem implantados de forma progressiva ao longo de alguns anos.

O objetivo da reforma fiscal, o primeiro pilar do programa, seria permitir uma simplificação e redução da carga tributária sobre as empresas, sem que isso implique um aumento da dívida pública. Parece atrativa uma fórmula adotada por Israel em 2010: fixar um limite superior para o crescimento dos gastos públicos igual à metade do crescimento potencial do PIB, estimado como sendo aquele observado nos últimos dez anos. No caso brasileiro, isso quer dizer um crescimento dos gastos públicos, em termos reais, de 1,5% ao ano. Para reduzir o espaço de manobra para contabilidades criativas que subestimem os aumentos dos gastos (através de orçamentos paralelos, por exemplo), essa meta seria suplementada por limites também para o crescimento da dívida pública bruta. O detalhamento desse pilar seria feito a partir de um estudo sobre os diversos componentes do gasto público e sobre as reformas necessárias para manter sua expansão sob controle.

O primeiro pilar contribuiria para diminuir o custo Brasil , que é o principal problema com que se defrontam as empresas brasileiras para enfrentar a concorrência internacional. O segundo maior problema é o câmbio.

Esse é o tema do segundo pilar da proposta, a saber, a substituição da proteção tarifária contra as importações por uma proteção cambial . Trata-se de anunciar uma redução substancial, a ser implantada de forma progressiva, das tarifas às importações, dos requisitos de conteúdo nacional, das preferências para compras governamentais, das amarras aduaneiras e portuárias, e das especificações técnicas de produtos distintas daquelas adotadas internacionalmente.

Entre as medidas facilitadoras do comércio, está a autorização para que todos os interessados possam utilizar o Despacho Aduaneiro Expresso/Linha Azul, adotado pela Receita Federal para agilizar os trâmites relacionados às operações de comércio exterior. Trata-se de um procedimento especial que atualmente beneficia apenas algumas grandes empresas.

Ainda na categoria das medidas facilitadoras do comércio, deve incluir-se substancial melhoria da infraestrutura portuária e de transportes, através de concessões e parcerias público-privadas. Como demonstram estudos recentes do Banco Interamericano de Desenvolvimento, reduções plausíveis nos custos dos transportes podem trazer aumentos expressivos da exportação do país.

A continuar o atual curso de isolamento econômico, o país só conseguirá gerar pibinho atrás de pibinho , sem sair da renda média

O anúncio dessas medidas antiprotecionistas presumivelmente será feito por um/a presidente convicto/a de sua necessidade e com apoio no Congresso para sua implantação, ou seja, será um anúncio crível. Nesse caso, sob um regime de câmbio flutuante, esse anúncio terá o efeito de desvalorizar o câmbio, pois os agentes financeiros passarão a comprar dólares e a vender reais, para lucrar com o aumento da demanda de dólares que ocorrerá para efetuar as importações adicionais que serão facilitadas.

Esse é o pilar central do plano, pois é ele que, dando acesso a insumos modernos, possibilitará a integração da indústria brasileira ao comércio internacional, à semelhança do que hoje ocorre com a Embraer. Haverá ganhos tecnológicos, de escala e de especialização. Certamente, haverá perdedores, assim como ganhadores. O Brasil (como os Estados Unidos ainda hoje) continuará a ser um grande exportador de commodities, mas dificilmente macros setores inteiros se beneficiarão ou se verão prejudicados pela abertura. É certo que os instrumentos de proteção que serão diminuídos ou eliminados parecem ser hoje mais importantes para a indústria de transformação do que para a agricultura ou a mineração. Entretanto, a indústria será a principal beneficiada da redução de impostos, já que a atividade primária é relativamente menos taxada. Além disso, na margem da expansão do comércio, a indústria de transformação se beneficiará de economias de escala e de especialização que não estão presentes na agricultura, pois esta opera sob um regime de custos crescentes, ao ocupar terras menos produtivas ou mais distantes. Também, embora de forma seletiva, a indústria será a maior beneficiada do acesso a insumos importados mais baratos e de melhor qualidade.

Não é simples o desenho de um mecanismo para a troca proposta das tarifas por câmbio, especialmente por causa da volatilidade da conta de capital e sua importância na determinação da taxa de câmbio. É possível imaginar soluções para esse dilema, através de taxas de câmbio de referência, controles macro prudenciais e outros mecanismos, mas por hora cabe apenas ressaltar a importância da troca das tarifas pelo câmbio. Quando o programa for implantado, se fará a escolha entre as alternativas possíveis, pois ela dependerá de uma série de fatores conjunturais, tais como a situação da conta corrente, o ponto de partida da taxa de câmbio, a distância entre a taxa de inflação e o centro da meta e as perspectivas sobre os fluxos de capital.

O terceiro pilar do programa são os acordos comerciais internacionais. Dado o amplo mercado interno que abrirá às exportações dos demais países, o Brasil estará em condições de fazer negociações vantajosas para a abertura compensatória dos mercados de seus parceiros comerciais. O leque de possibilidades é amplo, envolvendo acordos multilaterais, regionais e bilaterais. O certo é que o país necessitará de liberdade de movimentos e, portanto, deverá flexibilizar as regras de lista comum para a negociação com terceiros países que têm sido observadas no Mercosul.

É importante ter em conta que o programa de integração aqui sugerido é unilateral. Portanto, não está condicionado à realização de acordos comerciais. Entretanto, na definição do sequenciamento da abertura, certamente haverá espaço para fazê-la em primeiro lugar em relação aos países que se proponham assinar acordos comerciais com o Brasil. A abertura em relação aos demais países ficaria mais para o fim do processo. Isso deverá ser estímulo suficiente para induzir nossos parceiros comerciais a logo firmarem esses acordos, para terem acesso mais rápido ao mercado interno brasileiro. Não se pode perder de vista que a troca das tarifas pelo câmbio é uma vantagem em si para o Brasil. Os ganhos comerciais que vierem dos acordos serão adicionais àqueles propiciados por essa política de dinamização do crescimento econômico brasileiro.