segunda-feira, novembro 18, 2013

O PT será eterno enquanto durar o dinheiro dos outros - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA


O Brasil está atrapalhando o comitê eleitoral do PT no Palácio do Planalto. Mas isso não ficará assim não. A presidente do comitê, Dilma Rousseff, já reagiu falando grosso. Diante da recomendação para embargo de sete obras federais, por superfaturamento e outras fraudes, Dilma entrou de carrinho no Tribunal de Contas: “Acho um absurdo parar obra”. Se Dilma estivesse reformando sua casa, e os encarregados do serviço começassem a enfiar a mão na bolsa dela, não se sabe se ela também acharia absurdo parar a obra. Mas é totalmente diferente, porque o dinheiro público, como se sabe, não é de ninguém.

Ou melhor: não era de ninguém, na época dos populistas amadores. Agora, com o populismo profissional se encaminhando para 16 anos no poder - mais tempo que o primeiro reinado de Getúlio Vargas -, o dinheiro público tem dono: é do PT. E as obras fraudadas não podem parar, porque fazem parte da campanha para a renovação do esquema em 2014.

Dilma será reeleita, e elegerá com Lula o governador de São Paulo, porque o plano não tem erro: derramar dinheiro aos quatro ventos. País rico é país perdulário (com o chapéu alheio, claro). Seria perigoso se o eleitorado notasse o golpe, mas esse perigo está afastado. Se uma presidente da República defende de peito aberto obras irregulares e não ouve nem meia vaia, está tudo dominado. Nessas horas, o comitê do Planalto acende uma vela aos manifestantes brasileiros, esses revolucionários que entopem as ruas e não enxergam nada. Viva a revolução!

A tropa da gastança está em campo, afinada. A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, deu uma pausa em sua rotina maçante e resolveu dar um palpite sobre política econômica. Defendeu que a meta de superávit primário - um dos fundamentos da estabilidade econômica - só seja cumprida nos momentos felizes. Se o Brasil estiver crescendo bem, ok; se estiver patinando (como agora), o governo fica liberado de fazer essa economia azeda e neoliberal. Não é perfeito? Assim, a grande gestora do Planalto fica liberada para prosseguir com sua gestão desastrosa, sem precisar parar de torrar o dinheiro do contribuinte - uma injustiça, a menos de um ano da eleição.

Essa orquestra petista, com sua sinfonia de palpites aleatórios sobre política econômica, soa como música para os ouvidos dos investidores - que cansaram de botar dinheiro em mercados seguros e confiáveis e estão à procura de ambientes bagunçados e carnavalescos, muito mais emocionantes. Um dia o pitaco vem da Casa Civil, no outro vem do Ministério do Desenvolvimento, aí o ministro da Fazenda solta sua língua presa para contradizer o Banco Central, que fica na dúvida se segue os gritos de Dilma ou se faz política monetária. É um ambiente animado, e não dá para entender por que os investimentos no país estão minguando. Deve ser falta de ginga dos investidores.

No embalo dessa orquestra exuberante, o Brasil acaba de bater mais um recorde: déficit primário de R$ 9 bilhões em setembro. Déficit primário significa que, sem contar o pagamento de juros de suas dívidas, o país gastou mais do que arrecadou. E a arrecadação no Brasil, como se sabe, é monumental, com sua carga tributária obscena. A ordenha dos cofres públicos vai muito bem, obrigado. E, sabendo que a taxa de investimento é uma das mais baixas entre os emergentes, chega-se à constatação cristalina: as riquezas do país sustentam a formidável máquina de Dilma, seus 40 ministérios e seu arsenal de caridades. Essa é a fórmula infalível para que a permanência do PT no poder seja eterna enquanto dure o dinheiro dos outros.

E vem a divulgação mandrake da inflação pelo IBGE, anunciando um índice “dentro da meta” até outubro, quando na verdade está fora da meta (dos últimos 12 meses, a que importa). A inflação é o principal subproduto da fórmula, mas o Brasil só ligará o nome à pessoa quando a vaca estiver dando consultoria fantasma no brejo.

Relaxe e leia um livro essencial: O livro politicamente incorreto da esquerda e do socialismo, de Kevin Williamson. Você entenderá com quantas bandeiras bonitas se construiu a maior mentira da humanidade.

A honra da pátria - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA


Faz 100 anos, neste mês, que foi publicado No Caminho de Swann, o primeiro dos sete volumes do monumental Em Busca do Tempo Perdido, de Mareei Proust. Boa ocasião para revisitar o médico brasileiro do grande escritor francês. O leitor estranhará: médico brasileiro? Sim. entre as centenas de personagens, os milhares de páginas, os muitos lugares, os variados profissionais e as diversas nacionalidades citados na obra, o autor achou espaço para um médico brasileiro. Ele figura em O Caminho de Guermanies, o terceiro volume da série, como o profissional convocado a tratar do narrador da história — que não é outro, como se sabe, senão o próprio Proust, ainda que sob inúmeros disfarces — de uma crise de asma. É citado uma única e escassa vez; não importa. Importa é que a passagem, por fugaz que seja, revela: (1) que Proust conhecia o espécime chamado “brasileiro”: e (2) que, assim sendo, é de concluir que tivesse igual conhecimento do lugar chamado “Brasil”. A honra da pátria, por esse lado,está salva. Já quanto ao mérito da informação contida na passagem... É o que veremos, mas antes façamos uma digressão para perguntar: quem seria esse médico brasileiro?

Houve época em que cultores brasileiros da literatura escreviam ensaios como “Balzac e o Brasil”, “Thomas Mann e o Brasil”, “Flaubert e o Brasil”. Iam buscar, nas minudências dos gigantes, momentos em que, quase sempre de raspão, evocavam nossa bela terra tropical. Os proustianos fizeram o mesmo com seu herói. Um deles, Hermenegildo de Sá Cavalcante, fundador da Sociedade Brasileira dos Amigos de Mareei Proust, escreveu um trabalho em que enumera três candidatos ao esculápio de O Caminho de Guermanies. Dois deles, Antônio Felício dos Santos, tão famoso como médico quanto como político, no Império, e o conde de Mota Maia, médico pessoal de dom Pedro II, que partiu com ele para o exílio em Paris, são tidos como os menos prováveis. Sá Cavalcante aposta em Domingos Jaguaribe, cearense radicado em São Paulo, onde há até uma Rua Jaguaribe em sua homenagem. Jaguaribe era um entusiasta das propriedades medicinais das plantas brasileiras e, em 1893, quando tinha 45 anos e Proust 22, passava temporada de aperfeiçoamento no hospital Salpêtrière, de Paris.

Seja quem for, nosso distante compatriota faz má figura, no livro. Ele surge como o “médico brasileiro que pretendia curar as sufocações do gênero das que eu tinha com absurdas inalações de essências de plantas”. A assertiva é avassaladora para os brios nacionais. Não devemos, no entanto, ficar em seu valor de face. Ela nos sugere efeitos ocultos. Se o médico “pretendia”, deduz-se que acabou não aplicando o tratamento sugerido. Mas na continuação escreve Proust que, no afã de fazer o médico "tomar mais cuidado” com ele, apressou-se em dizer-lhe “que conhecia o professor Cottard”. (Importante personagem do livro, Cottard foi inspirado nos médicos franceses mais prestigiosos da época.) Se a preocupação era que tomasse “mais cuidado”, é porque já estava cuidando. Pode ser que os cuidados não tivesse entrado ainda — porque detida a tempo — a tal inalação das plantas. Mas também pode ser que tivesse entrado, e logo sido interrompida.

Da pior hipótese Proust escapou. E se tivesse inalado as plantas e elas fossem venenosas? E se tivesse em consequência contraído insuportáveis dores e tenebrosas febres? E se tivesse morrido? O mundo teria sido privado deste patrimônio da humanidade que é Em Busca do Tempo Perdido — e por culpa de um brasileiro! Se o tratamento não chegou a ser ministrado, temos a hipótese inversa: e se tivesse dado certo? Proust se livraria da asma, e em consequência ganharia um incentivo para jamais renunciar à frivolidade dos salões em que dissipou boa parte da vida. O resultado, igualmente desastroso, é que não teríamos Em Busca do Tempo Perdido. A asma foi em grande pane a responsável pela decisão de trancar-se em casa e sofregamente, por catorze anos seguidos, até a morte, se ter entregue à composição de sua obra imortal. Ou bem o médico brasileiro lhe ministrou um início de tratamento e o fez piorar, ou não fez nada, e a asma seguiu seu curso. Em ambos os casos, contribuiu para que o autor mudasse de vida e fosse cuidar de sua obra. A honra da pátria está salva, também por esse lado.

UMA GOSTOSA: PADRÃO PT


Que seja só um começo - CARTA AO LEITOR

REVISTA VEJA


Depois de mais de oito anos de idas e vindas, surpresas positivas e decepções, finalmente, na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu decretar a prisão dos réus condenados no escândalo do mensalão, a ousada operação clandestina de uso de dinheiro público e privado com o objetivo de perpetuação de uma facção no poder. Os ministros do STF decidiram que o correto é cumprir imediatamente as sentenças ou as partes delas já definidas e contra as quais não cabem mais recursos. O desfecho do escândalo do mensalão, com a ida para a prisão dos réus, não pode ser encarado como a vitória de um partido sobre outro ou da oposição sobre o governo. Em um país em que a corrupção vinha vencendo todas as disputas com a ética, a decência e a justiça, o significado da prisão dos mensaleiros é mais amplo, profundo e precioso.

O Brasil espera que o exemplo de cima dado pelo STF se espalhe pelas instâncias inferiores da malha jurídica nacional e que cada um de seus integrantes se sinta, a partir de agora, um soldado na luta contra a corrupção. Que os réus desse escândalo sejam não os últimos, mas os primeiros de uma nova era de tolerância zero com a ação dos corruptos. Que seja reavivado o real significado do conceito de república, a res publica dos romanos, em que a responsabilidade de cada um tem de ser sempre maior quando o bem é de todos. Isso é o reverso da cínica atitude que tristemente prevalece no Brasil, com as honrosas exceções de sempre, segundo a qual o que é de todos não é de ninguém — ou, pior ainda, é de quem pegar primeiro. Que o caso do mensalão entre para a história do Brasil como o marco inaugural de uma nova etapa na dura caminhada civilizatória dos brasileiros.

O episódio deve ser lembrado como a pedra fundamental da institucionalização das virtudes republicanas no Brasil. Assim, com certeza, a Justiça não precisará mais de oito longos anos para punir corruptos pegos em flagrante. Assim, as boas causas poderão triunfar não mais pelo caráter de um ou outro magistrado ou graças ao voluntarismo de um servidor público extremado no cumprimento de seus deveres, mas pela existência de instituições sólidas, funcionais e independentes dos interesses individuais ou de grupos.

GOSTOSA


Quem são os White Blocs - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA


Eles não estão organizados num movimento. É cada um por si, e o diabo por todos. Não têm ideologia política nem religião específica. Não usam máscaras. Ou melhor, suas máscaras são invisíveis - por isso, mais perigosas. Se existe algo em comum entre os White Blocs no Brasil, é a quase certeza da impunidade ou da punição suave.

Eles ocupam uma posição de poder e autoridade. Esses vândalos de terno, farda ou roupa de grife têm objetivos semelhantes: roubar e desviar dinheiro nosso e, em alguns casos, matar inocentes e arquivos ambulantes. Sua ação insidiosa, dentro dos governos e das instituições, ameaça a democracia e destrói valores. Provoca a descrença geral e é munição incendiária para jovens extremistas - que também sabotam a democracia.

Os White Blocs (WB) não são maioria no Brasil e não podem ser encarados como representantes do caráter nacional. Os WB tampouco pertencem a um partido político apenas. A corrupção é transversal. Ou suprapartidária. É assim também com os Black Blocs. Eles não são partidários nem representam a maioria dos jovens, dos universitários, da nova classe média, da periferia ou da favela.

O Brasil pacífico e honesto detesta os Black Blocs, como comprovam as pesquisas. Odiamos quebra-quebra, por princípio e fim. O Brasil honesto e trabalhador também detesta os White Blocs. E não precisa de pesquisa para detectar o sentimento diante dos escândalos bilionários que empobrecem o país e deseducam o povo. É indignação, igual àquela que nos invade quando vemos ônibus incendiados e postos de saúde e universidades depredados. Os White Blocs são vândalos de nossa alma. Promovem o quebra-quebra da esperança num país melhor.

Se condenamos os Black Blocs, radicais pela violência que deturpa os protestos legítimos, o que fazer com os White Blocs, em gabinetes pelo Brasil afora e jamais encontrados em passeatas? A primeira sugestão é que a sociedade entenda como os WB são semelhantes entre si - em método e objetivo. A segunda é expurgar e punir esses baderneiros morais para desencorajar desvios e abusos. A terceira - deveria ser a primeira em importância - é educar direito, em quantidade e qualidade, as novas gerações.



Eis alguns exemplos recentes de White Blocs:

1.Os fiscais suspeitos de fraudes nas prefeituras de São Paulo. De Kassab e Haddad. Um descalabro. O meio bilhão de reais pode estar subestimado, porque a cada dia surgem mais personagens na máfia do ISS. A lama subirá mais, porque os braços direito e esquerdo já caíram. Se um assessor de confiança na maior cidade do país recebe uma mesada de R$ 20 mil, como dizer aos filhos o que é certo e errado?

2.As empresas que pagaram propina aos fiscais das prefeituras de São Paulo para ganhar contratos. Não seriam elas corruptoras? Por que, de repente, parecem apenas vítimas da ganância dos fiscais?

3. 0 Congresso, que continua contrário à cassação automática de condenados pelo Supremo Tribunal Federal. Ignora a instância máxima da Justiça no país e a Lei da Ficha Limpa, incitando à desordem e à anarquia.

4. A Câmara e o Senado também agridem nossa inteligência, ao empurrar com a barriga a aprovação do voto aberto. Tirem as máscaras, assumam suas posições! Acabem com o voto secreto no Legislativo!

5. Os mensaleiros de qualquer partido e qualquer cargo. Eles transformam o que deveria ser uma atividade respeitável num reles balcão de dinheiro e venda de favores.

6. Os governadores que multiplicam seu patrimônio privado, com relações impróprias e negócios escusos. Rio de Janeiro e São Paulo ficaram na mira implacável dos eleitores em 2013. A última denúncia é sobre o cartel dos trens em São Paulo, cujas empresas são acusadas de pagar propina.

7. Deputados, senadores e ex que ganham supersalários, em desrespeito ao Tribunal de Contas da União (TCU). O campeão é o White Bloc imortal José Sarney, com R$ 61.700 mensais. O teto constitucional é de R$ 28.059,29. O Congresso se recusa a liberar as folhas salariais. Viola a Lei de Acesso à Informação. Incita, portanto, à desobediência civil.

8. Os desmatadores da Amazônia, que nos envergonham.

9. O pastor Marcos Pereira, condenado a 15 anos de prisão por estupro no Rio. Quem se vale da autoridade espiritual para cometer crimes é White Bloc ao cubo.

10. Os PMs que desonram sua farda. Entre eles, os que torturaram até a morte o pedreiro Amarildo, na UPP da Rocinha, no Rio. E o que matou com um tiro no peito Douglas Rodrigues, de 17 anos, num bar em São Paulo. Ele foi solto e disse que o tiro foi “acidental”, uma “infelicidade”.

Parei no 10 porque a página acabou.

A prisão dos condenados - RENATO JANINE RIBEIRO

VALOR ECONÔMICO - 18/11

A prisão dos condenados no caso do mensalão - ou Ação Penal 470, como dizem seus defensores - levanta a questão dos efeitos políticos do julgamento. Não discutirei aqui se foi justo ou não, se os réus mereciam ou não a condenação. Penso que o papel desta coluna seja medir seus efeitos sobre nossa política. Estes são quatro.

O primeiro efeito se deu já em 2005-6. Ele excluiu da cena política dois dos maiores nomes do Partido dos Trabalhadores: seu presidente, um político que lutara no Araguaia contra a ditadura e depois, no Congresso, se mostrara exímio articulador e negociador respeitado por todos os partidos, José Genoino; e José Dirceu, político amado e odiado, que então exercia o cargo mais próximo que temos de primeiro-ministro. Dirceu e mesmo Genoino eram presidenciáveis. Com a denúncia e sua repercussão na mídia, o PT ficou sem alternativas para concorrer à Presidência. Ironicamente, o que o salvou, permitindo que mantivesse o poder em 2006, foi uma medida criada para Fernando Henrique Cardoso: a reeleição. A ironia está em que a reeleição não teria sido necessária para garantir um segundo mandato ao PSDB, que em 1998 ganharia as eleições com Serra ou Tasso sem problemas. Mas veio a calhar para o PT, em 2006, quando na falta de outro nome deu Lula de novo. O efeito inicial do mensalão foi robustecer o nome de Lula - que, lembremos, não parecia tão convencido de concorrer a sua própria sucessão.

Um segundo resultado, que data do mesmo período, foi converter nossa disputa política em guerra. É básico para qualquer analista político que a democracia se distingue dos outros regimes porque nela há adversários e não inimigos. Ela não é guerra. A democracia é o único regime no qual a divergência é admitida, e a oposição - que ao longo de milhares de anos foi presa, banida, executada com requintes de crueldade - tem o direito de falar, e de tornar-se governo. Mas desde o mensalão o que temos é um estado de guerra inscrito no espaço político, substituindo o debate pelo ódio. Vários oposicionistas comparam o país à Venezuela ou Argentina, onde o governo reprime a imprensa de oposição - o que não faz no Brasil - e tutela a Corte Suprema - o que também não acontece aqui. Para vários situacionistas, quem respeita a oposição, como eu, é considerado um perigoso ou desprezível direitista. Pois é.

Esses, os efeitos da denúncia de Roberto Jefferson, em 2005, e da manifestação da Procuradoria Geral, em 2007. Agora, e o julgamento?

Quando se julgam figuras de altíssimo escalão, a grande pergunta é pelo significado pedagógico. Poderia ter sido ótimo. O impeachment de Collor convenceu de sua culpa seus próprios eleitores. Havia uma oportunidade de provar que dirigentes importantes do partido que continuava a governar o país tinham cometido crimes e de condená-los por isso - ou de absolvê-los, caso inocentes. Infelizmente, ou pior, o processo apenas reforçou convicções preexistentes. Quem acreditava na culpa continuou acreditando. Quem considerava o processo um ajuste de contas dos derrotados nas eleições, um terceiro turno espúrio a criminalizar a esquerda, se convenceu de que a oposição, na qual incluía o Supremo Tribunal e a maioria da grande imprensa, montara uma paródia de justiça.

Não importa aqui a opinião pessoal. O efeito político do julgamento foi, apenas, fortalecer cada lado em suas crenças. Não substituiu crença por saber, fé por razão. Não teve efeito pedagógico - lembrando que pedagogia, ou educação, é o que faz alguém subir dos preconceitos ao conceito, sair da ignorância para o conhecimento, melhorar em suma sua relação com o mundo. Para quem odeia o PT, o processo foi a ocasião de se vingar do partido, com o pseudônimo de justiça. A oposição errou ao exigir condenações, em vez de fincar o pé no ideal de justiça. Para quem apoia o PT, o processo favoreceu uma atitude defensiva, recusando-se a discutir seriamente por que o partido que mais clamou pela ética no Brasil, ao longo de 20 anos, relativizou essa preocupação uma vez no poder. Ninguém aprendeu nada com o julgamento.

Último efeito, o do encarceramento. Tudo pode acontecer, mas até agora o que vimos foi que o PT, refazendo-se dos danos que sofreu em 2005, se saiu bem nas eleições de 2012, concomitantes ao julgamento. Este não o prejudicou politicamente. Com certeza, o espetáculo de dois de seus maiores líderes na cadeia indignará quem apoia o partido e rejubilará quem o detesta. Os 40% restantes da população como reagirão? Pode ser que não lhe deem tanta importância. Afinal, o impacto ocorrerá no momento da prisão e no quase ano restante muita água passará sob os viadutos. Mas o que eu lamento é a ocasião perdida: não só nossa disputa política virou guerra, não só o diálogo entre nossos dois melhores partidos cedeu lugar ao ódio, como um julgamento que poderia ter sido exemplar pariu um rato. Ao longo do processo, alertei para os riscos que corria a direita (termo que para mim não tem nenhum sentido pejorativo) ao querer ganhar a qualquer custo, e ao pressionar o Judiciário. Pois é, ela corre o risco de ter obtido uma vitória de Pirro - para lembrar o rei do Épiro que, no século III antes de Cristo venceu Roma, mas a tão alto custo que seus generais diziam: "Se vencermos mais duas batalhas assim, estaremos perdidos". Terá excluído dois nomes do PT, e nada mais. Lamento esse resultado. Preferia mais que isso. Preferia que a sentença final, fosse ela de absolvição ou condenação, granjeasse o respeito da sociedade, para acima das barreiras partidárias. Este, sim, teria sido um grande avanço.

'Breaking Bad' - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 18/11

O homem 'bonzinho' é um derrotado. Seu lado mau é essencial para sua virilidade


A série "Breaking Bad" chegou ao fim. Enquanto o cinema americano encareta sob a bota da censura politicamente correta, na qual homens cada vez mais falam fino como mulherzinhas e as mulheres brincam de meninas superpoderosas, a TV arrisca aquilo que o cinema se tornou incapaz de fazer: falar a sério sobre o cotidiano.

Uma sutil herança de obras como "O Médico e o Monstro", de Robert Louis Stevenson, se faz sentir em "Breaking Bad": o homem "bonzinho" é um derrotado. Seu lado mau é essencial para sua virilidade, mesmo espiritual. Sabendo que parte do mundo hoje é composto por gente mimada, vale salientar que ao dizer isso não estou a cultivar o mal como coisa chique. O assunto é mais sério do que pensa nossa vã inteligência infantilizada.

Ecos da terrível hipótese de Nelson Rodrigues sobre os maridos também se fazem sentir em "Breaking Bad". Nelson dizia que a mulher quer um nada como marido. Segundo Nelson, nenhuma das grandes qualidades que fazem de um homem um grande homem servem num bom marido.

O professor Walter White é um homem aniquilado. A maioria de nós é, e no aniversário merece, quando muito, que a mulher bata uma punheta como presente --ainda que prestando mais atenção a alguma oferta da internet.

Um homem um pouco mais bem-sucedido talvez ganhasse um boquete. Trata-se de uma cena homérica da série, mas que indica bem o grau de investimento do casal no sexo (ele tampouco está muito interessado no "presente de pobre").

Espremido entre uma carreira que marca seu fracasso (era um promissor gênio da química quando jovem e virou um medíocre professor de "high school" e um funcionário humilhado de um lava-rápido), um salário miserável, um filho portador de necessidades especiais e uma mulher grávida que enche o saco dele para pintar o quarto, Walter é um homem sem qualquer futuro.

Passa suas noites insone, mergulhado no pânico de todo "loser": o dinheiro vai dar? Vou aguentar muito tempo sendo capacho? Minha mulher também me faz de capacho? Vou conseguir comer minha mulher quando ela quiser? Meu cunhado é mais macho do que eu? Por que eu dei errado e meus colegas de faculdade se deram bem? Serei eu um merda? No que eu errei? Por que estou aqui com esse carro medíocre? E essas férias CVC? Eis o dia a dia de um homem comum.

Ser capacho é a virtude máxima de um "loser" que é bom pai e bom marido. Se a emancipação feminina era só dizer que ela queria trabalhar fora e gozar, a do homem é mais complexa porque aparentemente passa por elementos mais destrutivos do que a feminina.

Um homem que se sente preso na condição de bom pai e bom marido pode chegar à conclusão de que só se libertará quando puser em risco exatamente as virtudes que o estão matando: ganhar dinheiro seguro ainda que pouco, ser provedor, engolir sapo no trabalho, abrir mãos dos seus sonhos em nome de uma casa própria, investir na ideia de que algum dia sua mulher Bovary e seus filhos chorarão em seu enterro, louvando-o. Um homem de classe média aniquilado só experimenta um pouco de respeito (quando muito) quando fica silencioso como um cadáver.

Nosso químico descobre que tem câncer terminal de pulmão (e, como puro que sempre foi, nunca fumou) e "desperta". Esta é a expressão que ele usa quando fala com seu sócio sobre a razão de um "loser" como ele de 50 anos decidir entrar para o crime fazendo droga.

E não só. Passa a comer sua mulher com gosto (e em situações inesperadas) e ela fica mais feliz. Pele bonita, olhos brilhantes, cabelos sedosos, mais generosa no dia a dia, como toda mulher bem comida.

Dito nos termos banais de hoje: "recupera sua autoestima" quando descobre que vai morrer e entra para o crime para ganhar dinheiro. Nosso herói sente que pela primeira vez está vivo, justamente quando sabe que, de certa forma, já está morto.

O mal como componente libertador é uma questão assustadora, mas perigosamente real. Um mundo que goza em defender alfaces terá cada vez mais homens medíocres que para poderem meter em suas mulheres precisarão ter câncer no pulmão sem nunca ter fumado.

Almoço grátis - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 18/11

O pedido chega embrulhado em elogios, como um presente. Depois do preâmbulo adulador vem o motivo da mensagem. Alguém quer que eu escreva algo para uma pequena empresa ou corporação de porte. De graça.

Meu ofício, escrever, não me torna muito diferente de qualquer pessoa alfabetizada. Colunista? Repórter? Qualquer um pode se arvorar a ser, não importa a exigência de diploma de jornalista que, aliás, não defendo. Mas o fato de ser incapaz de introduzir aqui um teorema da física de partículas não significa que não dedico meu tempo e não me aplico ao ofício da escrita.

Por isso reconheci, como tantos que me enviaram o link para o artigo, a rotina descrita recentemente pelo excelente jornalista e cartunista Tim Kreider, no New York Times. "Escravos da internet, uni-vos", bradava o título. E Kreider contava ter recebido, na mesma semana, três pedidos para trabalhar por US$ 0. Kreider tem 46 anos, conta que fez muita coisa na vida de graça, mas agora precisa dormir num colchão. Ele pedia que os jovens da geração do grátis digital que contemplem seu futuro de dores na coluna, e não trabalhem de graça por uma questão de princípio. A discussão provocada pelo artigo seguiu na mídia social.

A publicação mais proeminente nas críticas a Kreider, a Atlantic Monthly, fundada em 1857, tem seu telhado de vidro. Seu editor sênior, Derek Thompson, acha que escrever é diferente porque todo mundo faz isso de graça - em seus diários, no guardanapo do botequim. A noção de um editor, com salário, seguro médico e benefícios, sugerindo que colegas freelancers não exijam remuneração para escrever dá uma ideia da perversão que alguns preferem chamar de ruptura.

Em março deste ano, o jornalista Nate Thayer recebeu um e-mail da editora Olga Khazan perguntando se ele gostaria de "redirecionar" para o website da Atlantic um longo artigo que havia publicado sobre a diplomacia do basquete na Coreia do Norte.

O artigo teria que ser reeditado para acomodar o espaço reduzido do site. Thayer consultou a editora sobre o tamanho, o prazo e o preço. E recebeu da colega de profissão a seguinte resposta num e-mail:

"Infelizmente, não podemos pagar você. Mas nós temos 13 milhões de leitores por mês." Khazan explicou que tinha acabado sua verba de freelancers naquele período, caso contrário, o jornalista receberia a astronômica quantia de US$ 100 para editar seu longo artigo. Insultado com a proposta, Thayer publicou toda a troca de e-mails em seu site, o que não foi justo com a editora, pois se tratava de uma conversa privada. Mas a reação provocada pelo episódio levou o constrangido editor da Atlantic, James Bennett, a escrever um pedido de desculpas para Thayer.

Aqui é necessário revelar que já usei um material da Atlantic de graça. Estava produzindo um segmento de TV sobre um estudo realizado na década de 1930 e a revista tinha editado um vídeo com um dos responsáveis pelo estudo. Como não posso licenciar vídeo - sou produtora terceirizada - a redação me cedeu cerca de 40 segundos de imagens do acadêmico que receberam o devido crédito de cortesia. Cedo imagens quando uma produção independente pede acesso ao meu arquivo. Posso escrever de graça para ONGs mas, até hoje, quando tentei ajudar amigos artistas duros, acabei sendo remunerada, mesmo que simbolicamente, porque eles acham que escrever é o que eu faço para me sustentar.

As histórias de Kreider e Thayer são conhecidas dos que passaram a ser chamados de "produtores de conteúdo", uma expressão que evoca uma salsicharia e não publicações centenárias. Escrever de graça gera exposição, têm a desfaçatez de argumentar nossos colegas que publicam o material grátis para, em seguida, seu departamento comercial vender publicidade ou erguer uma paywall.

Outra queixa de Tim Kreider - ninguém pede à sua irmã pneumologista para fazer uma rápida lobectomia de graça numa hora vaga - foi criticada sob o argumento de que escrever não requer a perícia e não implica o risco de uma cirurgia de pulmão.

O Alex Atala deveria cobrar apenas pelos ingredientes de seu menu de degustação, já que cozinha de graça para os filhos? Ou uma babá deve ser recompensada só com a exposição que adquire diante dos convidados do empregador, já que ela não cobra para cuidar dos próprios filhos na casa dela?

Variações do ditado "não existe almoço grátis" aparecem na literatura americana desde o século 19. Infelizmente, o capitalismo do século 21 parece ter se reinventado para uma minoria se alimentar de graça.

Dentro e fora da legalidade - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 18/11

RIO DE JANEIRO - Quando a ouvi pela primeira vez, num comercial de desodorante, a palavra me caiu mal: "refrescância". Achei-a artificial, mal-ajambrada e desnecessária. Afinal, já havia fresco, frescor, frescura e outros dez sinônimos, todos --perdão, ouvintes-- ainda frescos para uso. Mas, numa língua em que as pessoas "agregam", saem para a "balada" e começam qualquer frase com "então...", vale tudo.

Há meses, num centro de triagem dos Correios, em Niterói, funcionários foram acusados de descuido no manuseio de encomendas, jogando-as de qualquer jeito para os lados e se arriscando a danificar os produtos. No jargão interno, chama-se isso de "basquetear" a correspondência. "Não, madame", defendeu-se o encarregado, "aqui ninguém basqueteia a correspondência". Talvez, não --mas quem os impede de basquetear a língua?

E embatuquei recentemente quando alguém me disse que estava "negativado" no banco --com a conta no negativo. "Negativo!", apitei. "Essa construção não existe." Deve ter sido inventada pelos mesmos que dizem que o jogador "se personalizou" em campo --ou seja, adquiriu personalidade durante o jogo e resolveu a parada. A língua se presta a essas flexões, mas não haverá um limite para a capacidade de uma palavra se submeter via tortura a um novo significado?

Bem, para isso servem os dicionários --para oficializar as criações do grande inventa-línguas, o povo. "Refrescância" já está na praça há anos, em vários contextos, e até ganhou o "Houaiss". E "negativar" é "tornar (-se) negativo", o que a abona para definir contas no vermelho.

"Basquetear" e "personalizar-se" ainda não chegaram lá, mas, se as pessoas as continuarem usando, também entrarão na legalidade. O problema de uma língua não está nas palavras que ela incorpora, mas nas que são abandonadas e morrem a cada dia.

Carta aberta aos "estudantes" da USP - CARLOS GUILHERME MOTA

FOLHA DE SP - 18/11

Nosso IEA é independente, mas não é neutro. Iremos apurar até o fim as responsabilidades por atos eivados de vandalismo boçal


No recente episódio de ocupação e desocupação da reitoria da Universidade de São Paulo, ocorreu um crime, por assim dizer, inafiançável: a depredação da sede de nosso Instituto de Estudos Avançados.

O IEA tem autonomia, não pertence à reitoria, embora esteja provisoriamente no mesmo edifício. Ainda assim, foi objeto de uma das mais indevidas e abjetas ocupações pseudouniversitárias de que se tem notícia no último meio século. Conseguiram, os predadores, perpetrar façanha ainda maior do que uma outra, também inesquecível, que ocorreu durante o regime militar.

Com efeito, na manhã da segunda-feira passada e nos dias seguintes, fomos tomando ciência do que ocorrera ao recebermos fotos e depoimentos que davam conta da barbárie. Ou seja, da depredação brutal e boçal da sede do IEA, após invasão indevida e festim descabido.

Podemos entender que manifestações estudantis, e mesmo de funcionários e professores, sempre fizeram parte da vida universitária. E que, agora, no compasso das manifestações sociais de insatisfação com os rumos da República, movimentos vêm adquirindo novos contornos, inclusive com os "black blocs" e o uso de metodologias que evocam os inícios de regimes fascistas.

O que não se pode conceber é que o movimento estudantil tenha permitido transbordamentos inconfessáveis como o ocorrido recentemente, com a depredação de nossas instalações no campus, levando de roldão computadores e documentos, arrombando portas, pichando e até furando paredes e estragando material de longas e cuidadosas reuniões. O prejuízo é incalculável. E mais: trata-se de ação criminosa, nem mais nem menos.

Incalculável é também o dano moral e psicológico que nos causou a devastação de salas de pesquisadores consagrados, como a do professor Aziz Ab'Saber. Não apenas esta, mas todas as nossas instalações foram visitadas pelos meliantes, digo, estudantes, inclusive o anfiteatro onde realizamos conferências abertas ao público, gratuitamente!

Como se sabe, trata-se de uma sede provisória, já precária "per se", pois fomos "mudados", sem consulta prévia, de nosso "locus" original do prédio da reitoria velha, enquanto aguardamos a lenta, muito lenta construção do novo.

É chegada a hora de se perguntar aos estudantes o que se pretendeu com tal barbarização. Protestar contra o reitor? Contra o processo eleitoral? Contra o IEA e suas multifacetadas linhas de reflexão, pesquisa e socialização do conhecimento?

Outras perguntas deverão ser feitas, e nós as faremos a vocês, passado este duro e constrangedor momento. Que tipo de formação tiveram? O que aprenderam em suas casas, escolas e faculdades? Que sistema universitário pretendem implantar? E o nosso IEA, em que precisamente ele os incomoda?

Note-se que temos trazido para seus quadros e seus embates muitos intelectuais, do porte de Milton Santos, Aníbal Quijano, Jacob Gorender, Raymundo Faoro, Eric Hobsbawm, Moreno Fraginals, Mayana Zatz, Boaventura de Sousa Santos e Leyla Perrone-Moisés.

Agora, porém, caros estudantes, o problema tornou-se mais grave. E dirijo-me à banda não podre do alunado, que também deve assumir suas responsabilidades em episódios altamente delituosos. Pois buliram não com um vespeiro, mas com a própria colmeia, onde se dá e se aprimora a produção e a crítica, habitada por abelhas bravias.

Nosso IEA é independente, mas não é neutro, e não vamos tolerar esse padrão concessivo e "liberal" com o qual a USP, o Estado e a República estão empapados. Iremos apurar até o fim as responsabilidades por tais atos eivados de vandalismo boçal. E efetuar as devidas punições com mão forte, para o que contamos com os poderes constituídos, que andaram fraquejando demais, e com o firme apoio da comunidade científico-cultural, nacional e internacional.

Quanto ao atual reitor, sugere-se sua renúncia imediata, por incompetente.

SURFANDO NA ONDA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 18/11

Após o estouro da máfia dos fiscais, entidades como Secovi (Sindicato da Habitação de SP) e SindusCon (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado) se apressaram em sugerir mudanças de procedimentos à Prefeitura de São Paulo no recolhimento do ISS, que levou para a cadeia até agora funcionários corruptos, mas nenhum dos corruptores.

NA ONDA 2
A APeMEC (Associação de Pequenas e Médias Empresas de Construção Civil do Estado de São Paulo) também encaminhou proposta ao prefeito Fernando Haddad, sugerindo que a cobrança passe a ser informatizada. "A maneira como se recolhe o imposto na capital abre brechas para a roubalheira", afirma Luiz Alberto Costa, presidente da entidade, que representa 270 empresas do setor.

NA ONDA 3
O presidente da APeMEC diz que a ideia de informatização foi bem-aceita. "Haddad respondeu de imediato e enviou para estudo", afirma. Só que a sugestão não é inédita. A própria Secretaria de Finanças já anunciou para este ano novo sistema de tecnologia para automatizar o processo de obtenção do Certificado de Quitação do ISS.

PODER DE MENOS
Fernando Henrique Cardoso diz que sempre ficou surpreso com o poder que as pessoas atribuíam a ele na Presidência da República. Em entrevista para o livro "O Fim do Poder", do venezuelano Moisés Naim, o brasileiro declarou: "Mesmo pessoas bem informadas, com preparo político, me pediam coisas que demonstravam o quanto me atribuíam muito mais poder do que eu tinha na verdade".

PODER DE MENOS 2
Ao analista político, FHC afirmou ainda que "a distância entre nosso real poder e o que as pessoas esperam de nós é o que gera as pressões mais difíceis que qualquer chefe de Estado tem que suportar". A editora LeYa lança o livro neste mês no Brasil.

DNA
Neto de João Goulart (1919-1976) e herdeiro de duas fazendas que pertenceram ao ex-presidente em São Borja (RS), Rui Noé Goulart, 55, diz acreditar que o avô foi assassinado. "Acho difícil encontrarem algum vestígio tanto tempo depois, mas sou a favor dos exames", afirma sobre a exumação do corpo de Jango. Rui é filho de Noé Monteiro da Silveira, reconhecido oficialmente pelo político nos anos 1980.

ELES TAMBÉM
Imigrantes que vivem em São Paulo poderão pela primeira vez fazer parte do grupo de cidadãos que ajuda a prefeitura a planejar e fiscalizar gastos e ações. Das 32 subprefeituras, 21 (as que têm mais de 0,5% de estrangeiros) terão representante no Conselho Participativo Municipal. A eleição dos quase 1.200 membros será no mês que vem.

ABRINDO ENVELOPE
Cauã Reymond vai apresentar um dos prêmios do Emmy Internacional, no próximo dia 25, em Nova York. O ator irá representar a Globo na festa de gala da premiação e pode sair com um dos troféus por "Avenida Brasil", na categoria telenovela, uma das cinco indicações da emissora. Fernanda Montenegro concorre a melhor atriz pelo especial "Doce de Mãe".

O HAITI NÃO É AQUI
Luciano Huck embarcou ontem para o Haiti. "Vou atrás de boas histórias entre os soldados brasileiros que estão em missão de paz em Porto Príncipe", diz o apresentador sobre a viagem que levou um ano sendo planejada. O resultado vai virar conteúdo para o "Caldeirão do Huck".

PRA LÁ DE CABUL
A rapper afegã Paradise Sorouri chega amanhã ao Brasil para participar da Flupp (Festa Literária das Unidades de Polícia Pacificadora), que começa nesta sexta, em Vigário Geral. Ela precisou ir até Nova Déli, na Índia, para tirar o visto brasileiro. Fará o show de encerramento do evento, cantando canções que falam da guerra e da violência contra a mulher em seu país.

CONTOS DE NOVA YORK
A atriz Anita Petry entrou na disputa entre os gigantes americanos Netflix e Amazon pelo mercado de produção de séries. A brasileira, que estuda e trabalha em Nova York, participa de alguns episódios da comédia "Alpha House", uma das produções originais da Amazon que serão transmitidas pelo seu Instant Prime Video, plataforma de vídeo sob demanda, em que o espectador escolhe o que quer assistir.

Criada pelo premiado cartunista Garry Trudeau e estrelada por John Goodman, a comédia é a aposta da Amazon para competir com o Netflix, que anunciou neste ano a produção de sua primeira série.

Anita foi à festa de apresentação de "Alpha House" na semana passada na Neue Galerie, em Nova York. Para a atriz, foi o mestrado na Universidade de Columbia que a projetou agora para o roteiro da Amazon.

CONEXÃO BELÉM
As cantoras paraenses Camila Honda, Natália Matos e Sammliz subiram ao palco em São Paulo, no festival Terruá Pará, sob a direção de Carlos Eduardo Miranda e Cyz Zamorano. A atriz Maria Helena Chira e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) assistiram aos shows no Teatro das Artes.

BEM ESTAR NO CARDÁPIO
Fernanda Vidigal ofereceu em sua casa, no Morumbi, um almoço em torno da nutróloga Mariela Silveira, diretora do centro médico e spa Kurotel, que fica em Gramado (RS). A publicitária Titina Bilton e a blogueira Tatiana Pilão também foram recebidas pela anfitriã.

CURTO-CIRCUITO
Sebastian, garoto-propaganda da C&A por 20 anos, volta a participar de anúncios da rede de lojas. A campanha de Natal entra no ar hoje à noite.

O filósofo italiano Antonio Negri fala hoje na abertura do seminário Como Construir o Comum: as Revoltas Globais nas Redes e nas Ruas, na Fecap.

No Masp, leitura da peça "As Histórias que Elas Contam", de Célia Regina Forte, hoje, às 19h30. Walderez de Barros e Clarisse Abujamra participam.

Dia da República I - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 18/11

No fim de semana que passou, ocorreu, em Brasília, o 9º Encontro Nacional de Fé e Política, que reuniu cerca de dois mil cristãos progressistas, muitos dos quais do PT, como Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência.
Ninguém saiu em defesa dos mensaleiros presos.

Dia da República II
Aliás, muitos aplausos para Frei Betto, que falou no encontro que o governo do PT promoveu, nos últimos dez anos, muita inclusão social e “nenhuma inclusão política”.

Dia da República III
Enquanto Zé Dirceu e Genoino se preparavam para se entregar à PF, sexta passada, o ministro do STF Joaquim Barbosa almoçava, no Clube Paissandu, no Leblon.
Usando um boné e bem à vontade, Barbosa deixou o restaurante do clube por volta das 15h, sob aplausos dos sócios.

No mais...
Na minha terra tem um ditado antigo que diz: em cabeça de juiz, barriga de grávida e urna, ninguém sabe o que tem dentro. Mas a Rádio Corredor do STF acha que o tribunal tende a absolver Zé Dirceu, em 2014, pelo crime de formação de quadrilha.
Com isso, ele continuaria cumprindo a pena em regime semiaberto. A conferir.

Metido a besta
Tem salão de beleza de São Paulo chamando escova de cabelo de “blow dry”.
Blow dry é o cacete!

É do Brasil!!!
Semana passada, na porta da Igreja de Santo Antônio, em Lisboa, Portugal, havia dois mendigos segurando uma bandeira do... Brasil.

Dormindo com o inimigo
Embora tenha apoiado, no início, seus amigos do Procure Saber, na questão das biografias, o querido Jorge Mautner foi a Fortaleza, CE, fazer show para o... I
Festival Internacional de Biografias.
Não parecia um estranho no ninho: “Eu amo biografias. Eu só leio biografias. Eu vivo de biografias, a História é meu mundo.”
Ah, bom!

Lei Roberto Carlos...
Mautner disse que assina embaixo tudo que Caetano diz, inclusive sobre o Rei:
— Caetano rompeu, nesse sentido, mas não sei se ele rompeu. Ele depois pediu perdão. Nós somos uma família, né? É como uma briga. Você com você mesmo, você briga tanta vezes, você tem vários erros. Imagina com os artistas. Todos nós somos multidões.

Estrada de Santos...
No sábado, enquanto jantavam, alguns biógrafos começaram a cantar. O bem afinado Paulo Cesar de Araújo, que foi censurado por Roberto Carlos, cantou “As curvas da estrada de Santos” e “Café da manhã”, músicas do Rei.
Foi seguido pela coleguinha Regina Zappa, biógrafa de Chico Buarque e Gilberto Gil. No mais: procure saber.

Estrelas da TV na Sapucaí
Vera Fischer vai desfilar na Beija-Flor de Nilópolis.
A convite de Boni, tema do enredo de 2014 da escola, a atriz vai atravessar a Sapucaí em cima de um carro alegórico onde estarão estrelas que fizeram e fazem a história da TV.
Maravilha!

Livro em braile
O mestre Nelson Sargento, baluarte da Mangueira, está produzindo um livro de partituras, com toda a sua obra, em braile.
É em homenagem ao neto Tiago, 20 anos, deficiente visual e que, por sinal, vai desfilar, ano que vem, na bateria da verde e rosa.

Menos internados
Entre 2009 e 2012, caiu 55% o número de internações psiquiátricas na rede municipal do Rio. Passou de nove mil para quatro mil.
A queda se deve às ações de desospitalização na saúde mental, como a criação de residências terapêuticas e ações de reinserção na sociedade.

Salvem o bolinho!
O Bar do Costa, reduto da boemia de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, fechou as portas.
Após 58 anos servindo o inimitável bolinho de vagem para acompanhar a cerveja gelada, foi despejado por falta de pagamento de aluguel.

Acabou em samba
O bom humor nas marchinhas de carnaval está garantido.
Das dez finalistas do Concurso da Fundição Progresso, uma delas, veja só, é sobre o furto das vigas da Perimetral.

Diz assim...
Um trechinho da letra de “Cadê a viga?”: “Senhor prefeito, não é intriga/ onde foi que enfiaram aquela viga?/ Aquela viga é grossa pra chuchu/ vai ver até que esconderam no Caju”.

Segue o jogo - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP  - 18/11

Por mais que setores do PT cobrem uma palavra de Dilma Rousseff em desagravo aos companheiros presos no mensalão e contra os atos do presidente do STF, Joaquim Barbosa, a presidente não pretende se manifestar nem questionar o Judiciário. A ordem para ministros e auxiliares é tocar o governo. O Planalto gostaria que mesmo o PT deixasse o tema em segundo plano e se dedicasse à articulação da campanha de 2014. Só Lula deverá defender o partido, no momento certo.

Aviso prévio Apesar do desconforto com o discurso de Renato Rabelo com duras críticas à atuação do STF no julgamento do mensalão, Dilma foi informada pelo presidente do PC do B sobre o tom de sua fala antes do início do congresso do partido.

Quarteto Os presos do mensalão foram divididos em grupos de quatro. No mesmo cômodo estão José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e o ex-diretor do antigo PL (hoje PR) Jacinto Lamas.

Não é... Diferentemente do PT, que soltou nota protestando contra as prisões de petistas, no site da CUT não há qualquer defesa de Delúbio Soares, que foi presidente nacional da central, e de Henrique Pizzolato, que dirigiu a seção do Paraná.

... conosco No ano passado, a CUT afirmou que iria às ruas defender os réus do mensalão e chegou a organizar protesto na porta do STF.

Ciúmes Com a proximidade da reforma ministerial, a cúpula do PMDB pressiona o governo a desistir da tese de indicar senadores para ocupar as pastas do partido que ficarão vagas com as eleições. A sigla aponta que essa manobra abriria uma crise entre o Planalto e a bancada peemedebista na Câmara.

Só se for... A TAM enviou correspondência ao ministro Moreira Franco (Aviação Civil) para que ele mande, por escrito, pedido de upgrade das passagens que comprou para passar o fim de ano em Nova York.

...autoridade O ministro tenta ir de executiva e quer pagar a diferença ou usar suas milhas. Isso só seria possível com seis meses de antecedência, porque os voos estão lotados. Franco nega ter recebido carta da TAM.

Pulso... Em reuniões reservadas, políticos da base de apoio da presidente Dilma avaliam que a falta de controle do governo sobre o Congresso na tramitação de projetos que aumentam suas despesas é um reflexo da fraca articulação política da área econômica.

... fraco Eles relatam que, na gestão do presidente Lula, o Ministério da Fazenda e o Banco Central eram hábeis na tentativa de convencer os parlamentares sobre os riscos do descontrole das contas públicas.

#ficaadica Dilma e Flávio Dino deixaram o congresso do PC do B lado a lado. Diante das fotos tiradas pelos participantes com telefones, uma comunista brincou: "Dino, você nem precisa mais do apoio formal do PT. Basta espalhar essas fotos nas redes e já imprimir os santinhos".

No joelho De um líder do partido sobre o discurso de mais de uma hora de Dilma no congresso do PC do B: "Já dizia um velho comunista: discursos são como vestidos. Não podem ser muito curtos para não escandalizar nem muito longos para não entediar".

Web Google, Facebook e radiodifusores dizem que já existe consenso para a votação do Marco Civil da Internet nessa semana. Mas o governo prefere que o projeto continue trancando a pauta para evitar outros que aumentarão os gastos públicos caso sejam aprovados.

TIROTEIO
"O presidente do STF pode muito, mas não pode tudo. Não pode querer ser o executor das penas. O Supremo tem de voltar a existir."

DO ADVOGADO ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO sobre Joaquim Barbosa não ter informado o juiz do TJ-DF sobre a execução das penas dos mensaleiros

CONTRAPONTO


Passado morto e enterrado
O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) quer anular a sessão do Congresso presidida por Auro de Moura Andrade, apoiador do golpe de 1964 que declarou vaga a Presidência da República porque João Goulart estava fora.

Ao encontrar Bonifácio Andrada (PSDB-MG), tetraneto da "Patriarca da Independência", Valente pediu:

--O senhor poderia assinar esse projeto?

Bonifácio leu a proposta e respondeu:

--Os meus eleitores de Barbacena não vão aceitar.

O "Patriarca" ajudou D. Pedro I na independência, mas sofreu revés, como Auro de Moura Andrade.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 18/11

Cabotagem deverá crescer acima de 20%, diz entidade
Pelo segundo ano consecutivo, o transporte de cargas em contêineres por meio de cabotagem (entre dois portos dentro do país) deverá crescer acima de 20% em 2013, segundo a Abac (associação brasileira do setor).

No ano passado, o volume de toneladas transportadas em contêineres avançou 24,97%, de acordo com dados da Antaq (agência federal que regula o segmento).

"É uma atividade que tem crescido de forma sustentável", diz Cleber Lucas, presidente da associação.

A alta em 2013 será puxada sobretudo pela movimentação de bens de consumo, como eletrônicos, alimentos e produtos de higiene, segundo o presidente.

Apesar do desempenho, o setor enfrenta dois gargalos que, se superados, poderiam colaborar para uma ampliação maior, diz Lucas.

O primeiro deles é a assimetria no custo do combustível em relação ao diesel que abastece os caminhões.

"Enquanto o diesel tem o preço subsidiado pelo governo, o combustível da cabotagem sofre todas as interferências do mercado internacional", afirma.

O outro ponto é a burocracia. "Embora o transporte seja uma carga doméstica, de porto a porto, o setor é tratado como se fosse de comércio exterior, com inspeções da Anvisa e da Polícia Federal."

A Brasil Kirin, que aderiu à cabotagem neste ano, já movimenta 16% de sua carga por esse meio. "É uma boa alternativa [para o transporte] entre o Sudeste e as regiões Norte e Nordeste", diz o presidente Gino Di Domenico.

Cresce o interesse em empresas em recuperação
Entre as empresas que multiplicaram o número de pedidos de recuperação judicial no mês passado, as mais afetadas são as de médio porte, em especial do setor sucroalcooleiro ou ligadas ao setor de infraestrutura.

Afetadas por redução de crédito nos bancos, desaceleração da economia e inflação, elas foram surpreendidas por contratos que, de repente, começaram a sumir, segundo António Aires, sócio do escritório Demarest.

"A empresa, que ia comprar, adia por dois anos. A fornecedora começa a comer' o giro. O setor de açúcar deverá apresentar mais casos de recuperação, principalmente pela atual política de preços para o etanol."

As grandes recuperações também tendem a arrastar consigo alguns fornecedores que fizeram investimentos. Em outubro passado, foram 104 pedidos de recuperação. No mesmo mês de 2012, haviam sido 49 companhias, segundo a Serasa Experian.

"Cresceu o interesse de empresas e investidores em comprar ativos de empresas em recuperação", afirma Aires.

A lei permite a venda de modo a proporcionar a continuação da atividade empresarial, para que funcionários e impostos sejam pagos.

"Pode ser um imóvel, se for vendido com a fábrica. Não há risco de ficar com responsabilidade da empresa", diz.

Jovem Expatriado
Oferecer oportunidades de trabalho por um período no exterior tornou-se uma ferramenta para atrair e reter funcionários, de acordo com estudo da PwC.

O levantamento mostra que 71% dos jovens de hoje têm interesse em atuar em outro país. A parcela dos que gostariam de ter uma experiência fora é maior na África (93%) e na América Latina (81%).

Na Ásia e na América do Norte, por sua vez, os índices são os mais baixos: 69% nas duas regiões.

O Brasil aparece na 16ª posição entre os que mais atraem os trabalhadores --16% dos entrevistados citaram o país.

Nos primeiros lugares, ficaram Estados Unidos e Reino Unido, com 58% e 48%, respectivamente.

China e Irã, por outro lado, são os destinos mais rejeitados. Apenas 2% colocaram os países entre os que mais gostariam de trabalhar.

A empresa projeta que, até 2020, o número de funcionários de empresas expatriados irá aumentar em 50%.

EXPANSÃO 100% PRÓPRIA
O Pet Center Marginal, rede de lojas de produtos para animais de estimação, pretende expandir sua área de atuação.

A empresa investirá no próximo ano cerca de R$ 30 milhões na abertura de 12 unidades nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste.

Hoje, são 27 lojas concentradas em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

"Neste ano, incluímos mais duas lojas ao plano inicial de sete, uma no Tatuapé [em São Paulo] e outra em Goiânia, a segunda no Centro-Oeste", diz Sergio Zimerman, dono da rede.

Uma das novas filiais será aberta em Jundiaí (SP), anexa a um supermercado, segundo Zimerman.

"Buscamos entrar em cidades que ainda não tenham esse modelo de loja, pelo ineditismo do formato", afirma o empresário.

A rede estuda ainda um modelo de franquias para aplicar nos próximos anos.

"Mas nem consideramos abrir franquias em cidades ou Estados onde a gente ainda não esteja presente", diz.

Números da empresa
R$ 250 milhões
é o faturamento da empresa previsto para este ano

39
será o total de lojas após o plano de expansão

1.200
é o número de funcionários em toda a rede

1.000 m2
é a área aproximada de venda em cada loja

Uma esperança para o Irã e o mundo - LUIZ FELIPE LAMPREIA

O GLOBO - 18/11

Recentemente Hassan Rouhani afirmou ao canal americano de televisão NBC que seu governo nunca irá desenvolver armas nucleares



Não há dúvida que a recente eleição de Hassan Rouhani para a presidência do Irã marcou uma grande inflexão naquilo que parecia ser um rumo de confrontação inexorável com os países ocidentais e Israel, cujo desembocar anunciava-se perigoso para a paz do mundo. Ele venceu esmagadoramente as eleições presidenciais com claro repúdio popular aos ultraconservadores, que pareciam ter o monopólio do poder no Irã. Foi um sinal claro que a sociedade iraniana deseja uma mudança de rumo ou, pelo menos, de ênfases.

Hassan Rouhani sucede a um extremista como Mahmoud Ahmadinejad, que afundou o Irã economicamente, tendo tido apenas por um momento breve e infrutífero apoio do presidente brasileiro e do premier turco. O novo presidente é um sopro de ar fresco na cena internacional.

Recentemente, Hassan Rouhani afirmou ao canal americano de televisão NBC que seu governo nunca irá desenvolver armas nucleares e que ele tem plena autoridade para negociar um acordo nuclear com o Ocidente. Na mesma linha, disse que o tom da carta que recebeu do presidente americano Barack Obama foi positivo e construtivo. Por sua vez, Obama afirmou que os Estados Unidos estão prontos a resolver o impasse nuclear “de uma forma que permita ao Irã demonstrar que seu programa nuclear é exclusivamente para causas pacíficas”. O porta-voz da Casa Branca, por sua vez, falou sobre a urgência que existe, pois “a janela de oportunidade está aberta, mas não indefinidamente.”

De todo modo, há um progresso surpreendente e bastante auspicioso. Outro sinal encorajador resultou das conversações havidas em Genebra em meados de outubro entre as seis potências mundiais e o Irã. Pela primeira vez, foi emitido um comunicado conjunto que descreveu as conversações como substantivas e com boas perspectivas: um progresso apreciável em comparação com o diálogo de surdos que havia no tempo de Ahmadinejad. Para o vice-ministro do Exterior do Irã, Abbas Araqchi, as partes poderiam chegar a um acordo entre três e seis meses. Estes comentários seguiram-se a uma surpreendente declaração de líder supremo, Ali Khamenei, que afirmou não se opor a concessões em diplomacia e apoiar a flexibilidade. Já o porta-voz da Casa Branca declarou que “a nova proposta iraniana teve um grau de seriedade que não tínhamos visto antes, mas as diferenças persistem e ninguém deve esperar um resultado imediato. E como disse o presidente Obama a história de desconfianças é muito profunda”.

O Irã está em situação econômica muito difícil por obra das sanções do Conselho de Segurança da ONU. Os Estados Unidos acham-se em posição mais confortável, pois não precisam mais do Irã como durante a guerra do Iraque. Ademais há muitos setores em Washington que se opõem a acordos com o Irã, Barack Obama está especialmente enfraquecido e existe a intransigência de Israel sobre a necessidade de desativar as centrífugas de urânio iranianas. Enfim, malgrado as aparências muito positivas, ainda há muitas incertezas e dúvidas sobre o resultado final das negociações.

Tributos incabíveis e improviso fiscal - SÉRGIO LEO

Valor Econômico - 18/11

O primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva mal começava quando fez sua primeira tentativa de salvar o Mercosul, paralisado pela diferença brutal entre as economias dos sócios maiores; a brasileira, em processo de retomada e atração de investimentos, e a argentina, em crise, recuperando-se do calote da dívida externa que encerrou seu período de adesão religiosa ao credo liberal do chamado Consenso de Washington.

A tentativa de Lula encontrou uma inesperada resistência do Paraguai, que se recusou a mexer no sistema comum de impostos de importação.

Nas discussões entre os sócios do Mercosul, autoridades paraguaias expuseram um argumento singelo: com impostos de renda muito baixos ou quase inexistentes, o Paraguai dependia da arrecadação de tributos de importação para bancar parte considerável de suas contas, e temia que as mudanças sugeridas pelo Brasil afetassem o seu caixa. Na dúvida, preferia deixar tudo como estava. É pecado grave para um governo confundir imposto regulatório com fonte de arrecadação. A atitude do Paraguai, que brecou um importante avanço na integração regional, é só um exemplo do que pode acontecer quando um país abandona a racionalidade de seus tributos pela ânsia por aumentar a arrecadação.

No Brasil de hoje, até pela estratégia de usar a concorrência estrangeira para evitar aumentos de preços, não há risco que se usem as tarifas de importação como reforço de caixa. Mas o alarme tardio da equipe econômica com o déficit nas contas do governo vem provocando outra distorção, que joga contra o desejo de estimular os investimentos privados. O Reintegra, que deveria servir para compensar os impostos cobrados indevidamente no processo de produção, tornou-se uma benesse casuística, incapaz de dar aos agentes privados um horizonte de planejamento.

Criado em 2011, o Reintegra, seguindo o exemplo de outros países, devolve às empresas exportadoras, em desconto de impostos ou dinheiro vivo, o equivalente a 3% do que venderam ao exterior. Como os acordos internacionais na Organização Mundial do Comércio (OMC) proíbem subsídios para a exportação, o benefício foi apresentado como uma forma de compensar os exportadores pelos impostos indiretos cobrados a fornecedores e não descontados no preço final. Faz sentido; afinal o Brasil luta na OMC para acabar com os subsídios à exportação, mas a complexa estrutura tributária brasileira exige algum tipo de compensação ao exportador.

O fisco brasileiro encarrega-se, porém, de desmoralizar os argumentos dos diplomatas brasileiros lá fora, já que sempre tratou o Reintegra como uma receita das empresas. Incomodado com a conta do reembolso aos exportadores, calculada em R$ 2,2 bilhões neste ano, a Receita Federal chega a cobrar tributos sobre o dinheiro repassado pelo governo, tratando o benefício do Reintegra como uma renda qualquer garantida pelo governo a seus exportadores.

A decisão de dar ao Reintegra prazo limitado, de um ano, renovado conforme o humor das autoridades, também transforma em piada a justificativa oficial para o programa. Neste ano, o governo anunciou que não haverá Reintegra em 2014, como se não mais existissem as razões de sua existência, a tributação indireta e indesejável sobre exportações do país.

Os empresários não se atreveram a incluir a medida, de duração incerta, em seus cálculos de formação de preços, ou nos planos de investimento. Essa é apenas uma das razões por que a política de estímulos do governo não foi capaz de animar o espírito investidor do setor privado. Na ansiedade por fechar as contas, o governo, como o Paraguai nas discussões do Mercosul, contribui para a irracionalidade de um sistema tributário enlouquecedor.

Repetido em outras áreas da política econômica, o improviso traz estragos ao país, como notou o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouveia Vieira, único brasileiro a participar, na semana passada, de um encontro entre 30 executivos de grandes multinacionais e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, em Bruxelas. "A imagem do Brasil está muito ruim; grandes investidores em infraestrutura estão horrorizados com as constantes mudanças de regras", comprovou Gouveia Vieira.

No discurso otimista de Durão Barroso, que previu melhoria da situação econômica na Europa e mostrou sua fé na eficiência das novas regras de ajuste fiscal dos países do bloco, Gouveia Vieira viu um paralelo desfavorável ao Brasil. "Ele falou das dificuldades dos cantões em aceitar a necessidade de reformas; parecia falar dos Estados e municípios no Brasil", comentou o empresário. "Mas a Europa criou novos constrangimentos para quem confronta a responsabilidade fiscal, o que há algum tempo era palavrão."

É uma pena que sejam notícias europeias a animar o dirigente industrial. Sem convicção no Planalto para trazer os Estados ao esforço de ajuste nas contas públicas, e sem um mapa claro de política para trazer ao Brasil uma nova estrutura tributária imune a improvisos, não será do Brasil que virão as boas novas em matéria fiscal no futuro próximo.

O petróleo é nosso e a inflação também - ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

O GLOBO - 18/11

O mundo passa por uma revolução energética, e o gás proveniente do xisto irá alterar a matriz energética dos combustíveis fósseis



De volta ao Brasil, após duas reuniões internacionais, refletimos sobre temas atuais da maior presença da América Latina no contexto mundial. Dentre os assuntos recorrentes abordados nesses encontros, envolvendo países da região, destacou-se, em primeiro lugar, a educação, em todos os níveis. Sem a melhoria do ensino nos nossos países, os grandes desafios do desenvolvimento não serão superados.

O segundo tema é o investimento em inovação. É necessário para a melhoria da competitividade e, consequentemente, da produtividade.

No caso do Brasil, as parcerias público-privadas são fundamentais para vencer os déficits de infraestrutura, como também aumentar a taxa de investimentos. Na XIV reunião do Foro, o depoimento dos representantes deixou claro seu comprometimento com a diminuição da desigualdade social e combate à pobreza. Alguns obviamente com melhores resultados que outros.

1) Apesar de termos hoje uma América Latina fragmentada por concepções diferenciadas de como desenvolver política e economicamente nossos países, seguimos perseguindo objetivos comuns na busca de um melhor entendimento.

2) A América Latina não é mais responsável pela crise, mas entendemos que seus desafios continuam enormes. Compartilhamos (com exceção do México) estarmos mais ou menos dependentes do futuro comportamento da China.

3) No campo econômico discutiu-se muito a Aliança do Pacifico e seu impacto nas relações do Atlântico-Pacifico. Enfatizou-se a incorporação do Brasil e outros países atlânticos a esse acordo. Doha seria a melhor solução? A pergunta ficou no ar!

4) As mudanças na China podem afetar a América do Sul, particularmente na exportação de “commodities” minerais, além dos ajustes que serão necessários para absorver os excessos monetários dos EUA e Europa.

5) Ficou clara a necessidade urgente da reforma do sistema financeiro mundial.

6) Em maior ou menor escala a volatilidade do câmbio tem afetado países da região, particularmente o Brasil.

7) Se aceitáveis, apontam uma grande preocupação de uma indesejável participação do Estado na economia.

8) Existe em nossa região uma grande desconfiança de nossos eleitores com sua representação política. Não se sentem representados e os políticos estão muito distantes das aspirações populares. Há um certo repúdio à democracia representativa, mas não se propõe nenhuma alternativa melhor!

De volta ao meu cotidiano, surpreendeu-me a discussão sobre o leilão do pré-sal. Acreditava que a questão da exploração do petróleo já fosse assunto superado e que as realidades do mundo globalizado e a necessidade de obter recursos para vultosos investimentos conduziriam a uma realística abordagem de busca de sócios para a escala de recursos que exige o pré-sal.

Não esqueçamos que o mundo passa por uma revolução energética e o gás proveniente do xisto irá alterar a matriz energética dos combustíveis fósseis. É o caso dos Estados Unidos, que vai produzir energia bem mais barata, tornando sua indústria bem mais competitiva.

Será que a melhor alternativa seria a maior participação do Estado, aumentando a sua dívida e consequentemente podendo provocar aumento da inflação? Devemos nos conformar com uma inflação de 6% ao ano, que em padrões mundiais é inaceitável e provoca distorções? Fico com a sensação que nossos parceiros da América Latina devam achar muito estranho essa volta a um passado de triste memória.

O professor Roberto Campos deve estar se mexendo no túmulo e refletindo: se o petróleo é nosso, a inflação também é!

Intoxicação fiscal - ROBERTO LUIS TROSTER

O Estado de S.Paulo - 18/11

A cada dia que passa, aumenta a preocupação com a malemolência do crescimento do País. A raiz do problema é que o remédio prescrito tem efeito perverso, como o de um veneno, e agrava a enfermidade. Na atual conjuntura, quanto maiores forem as despesas públicas, pior será o desempenho da economia.

O que apavora é o discurso defendendo sua continuação. Um déficit pode até ser recomendável, dependendo das circunstâncias. Esquematicamente, é uma troca intertemporal: os gastos financiados com dívida no presente devem ser ressarcidos, acrescidos de juros, no futuro. Leia-se: as despesas adicionais de hoje se transformam em mais impostos amanhã.

Cada caso é um caso. Também existem situações em que é prejudicial. O resultado depende do quadro macroeconômico, da qualidade dos gastos e da combinação de dois efeitos: o multiplicador e o deslocamento, este último também conhecido pelo anglicismo crowding out, e se refere à contração do setor privado pela ação do governo.

O texto mais notório sobre o uso de despesas públicas para estimular a economia foi publicado por Keynes há quase 80 anos. Nele, o autor descreveu apenas o multiplicador. Ignorou o impacto do efeito deslocamento, possivelmente porque no lugar e época, a Inglaterra na depressão dos anos 1930, ele era insignificante.

Então, a economia britânica apresentava desemprego elevado, preços caindo, abertura comercial mínima, dívida pública reduzida e taxas de juros num piso histórico. Os gastos prescritos pelo notável economista eram de pouca monta: sugeria enterrar garrafas com dinheiro para que fossem retiradas por desocupados, induzindo-os a gastar mais e estimular o comércio e, num segundo momento, a indústria.

O remédio foi aplicado com sucesso lá e em outras situações parecidas. Uma delas foi no Brasil após a crise de 1929, por Getúlio Vargas, que comprou e queimou sacas de café para manter o preço interno do produto, que havia despencado no exterior. Dessa forma, estimulou a demanda e evitou o agravamento dos efeitos da crise internacional aqui.

São conjunturas bem diferentes à que se observa no Brasil atual, que tem desemprego baixo, pressão inflacionária forte, abertura comercial acentuada, dívida pública em quase 60% do PIB e onde os juros básicos devem alcançar dois dígitos no final deste mês.

É um quadro que exige cautela para aumentar ainda mais o endividamento do setor público, que anualmente custa R$ 229,6 bilhões, 5% do PIB, para ser rolado. Na média, cada brasileiro paga R$ 1,1 mil por ano só de juros da dívida pública, sem amortizar o principal.

São recursos do setor produtivo que vão para detentores de títulos do governo, alguns deles no exterior. Pode ser o início de um processo de mais dívida, mais juros, mais impostos e menos crescimento que impera reverter. Afora o fato de que o resultado da política de déficits na economia brasileira, na melhor das hipóteses, é anêmico.

É o que mostram os números recentes. No atual governo, a dívida pública aumentou R$ 704,4 bilhões e o PIB anual cresceu R$ 809,9 bilhões. Para cada R$ 100 de aumento de dívida, o PIB subiu R$ 115. Considerando os juros que serão pagos e todos os demais fatores que propulsionam a atividade econômica, como a safra recorde, o resultado líquido de aumento do endividamento não é positivo. Acrescente-se a isso que as expectativas de crescimento para os próximos anos caíram nesse período.

É fato, a soma dos dois efeitos dos déficits é negativa. Por um lado, o multiplicador é baixo pela qualidade dos gastos e, por outro, o deslocamento do setor privado é negativo em razão da ocupação de espaços pelo governo, dos impactos adversos de uma dívida mais alta e das expectativas de crescimento menores. Perde-se mais do que se ganha com a gestão adotada.

O ponto deste artigo é que os déficits do governo estão tendo um efeito diametralmente oposto ao desejado. A bem da verdade, desde a Independência, grandes crises no Brasil foram causadas por descontroles da dívida pública. A história também tem exemplos de superações de problemas maiores que os atuais.

O que fazer? O mais importante é reconhecer que a intoxicação fiscal existe. Negar o problema só agrava a percepção de risco e posterga sua superação. Deve-se mudar o discurso e começar a reverter o processo, melhorando a qualidade dos gastos e cortando desperdícios.

Considerando as dificuldades políticas num período pré eleitoral, uma solução "heterodoxa" convidativa pode ser a adoção de um mecanismo parecido com o Fundo Social de Emergência (FSE), na implantação do Plano Real.

Na ocasião, a rigidez do Orçamento, em razão das destinações compulsórias das receitas do governo, impedia um ajuste fiscal adequado. A solução foi vincular parte das receitas ao FSE. Atualmente, poder-se-ia fazer algo semelhante, destinando uma porcentagem fixa da tributação, por exemplo, 10%, para abater a dívida pública. É uma medida simples, mas com potencial de mudar a dinâmica do endividamento.

Um aperto fiscal na atual conjuntura teria impacto positivo no crescimento do País. O efeito sinalizador seria imediato. Com uma dinâmica da dívida pública mais consistente, é razoável esperar o arrefecimento das taxas de inflação e de juros e a alta das expectativas de crescimento.

Um efeito secundário importante dessa terapia é que, com a melhora da estrutura do endividamento do governo, há uma queda nos prêmios de risco, uma demanda menor de dinheiro "ruim", usado apenas para rolar os títulos públicos, e simultaneamente um aumento da oferta de dinheiro "bom", destinado a investimentos produtivos na economia.

Há mais a ser feito, mas um ajuste fiscal agora pode ser o início de uma virada, de algo parecido com o que ocorreu há quase duas décadas.