sexta-feira, janeiro 24, 2014

O 'bando de negros e morenos' - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 24/01

No campo, na cidade, na universidade ou no shopping, o PT não resiste à tentação de insuflar os 'oprimidos'


O pânico voltou a bater às portas do Palácio do Planalto, que dá como inevitáveis novos protestos durante a Copa. O PT já convocou o seu braço junto às massas, uma tal Central de Movimentos Populares (CMP), para monitorar o povaréu.

Os pelegos do CMP integram a Ancop, ou "Comitês Populares da Copa". Estão lá para amansar a brasileirada. As designações têm um ranço entre o jacobinismo e o sovietismo: "central", "comitês", "coletivos"... O "comissariado" fica na Secretaria-Geral da Presidência, do camarada Gilberto Carvalho. Uma nova onda de protestos poderia pôr em risco a reeleição de Dilma. Uma estrepitosa vaia durante o discurso da presidente na abertura daria o tom do resto do torneio. O Planalto, o que é uma tolice, viu nos "rolezinhos" o sinal de advertência. O PT começa a ser também vítima, não apenas beneficiário, de sua natureza. Explico.

Um pouco de memória. Em junho, os petistas apostaram que a baderna ficaria restrita a São Paulo. Em meu blog, demonstrei, inclusive com reportagens desta Folha(is.gd/X4xFOl), como operaram os feiticeiros do Planalto --com José Eduardo Cardozo chefiando o caldeirão-- para jogar os distúrbios no colo da "polícia de Alckmin". Duas semanas depois, havia pessoas com tochas na mão sapateando no teto do Congresso, e o Palácio Itamaraty estava em chamas. E Cardozo mudo, perplexo, pálido de espanto.

Já sabemos o que eram os "rolezinhos" e no que tentam transformá-los as esquerdas, inclusive os petistas. De novo, confessam, a aposta era que se limitassem a São Paulo. Carvalho mandou ver no pensamento tarja-preta: "Da mesma forma que os aeroportos lotados incomodam a classe média. Da mesma forma que, para eles, é estranho certos ambientes serem frequentados agora por essa gentalha' (...). O que não dá para entender muito é a carga do preconceito que veio forte. (...) As pessoas veem aquele bando de meninos negros e morenos e ficam meio assustadas. É o nosso preconceito".

"Nosso preconceito" uma ova! Esse é o preconceito de Carvalho, que chama "negros" e "morenos" de "bando". Então só a classe média reage à incompetência do governo na gestão aeroportuária? Pobre gosta de humilhação? Nota: a pesquisa Datafolha sobre os "rolezinhos", especialmente a opinião de "negros e morenos", desmoraliza Carvalho, seu partido, as esquerdas, a vigarice sociológica, a tolice jornalística e o colunismo fácil.

O mundo real pôs o PT sob controle, mas não mudou a sua natureza. No campo, na cidade, na universidade ou no shopping, o partido não resiste à tentação de insuflar os "oprimidos". Os "opressores" identificados pela legenda não são os premiados com Bolsa BNDES ou Bolsa Juros, mas a classe média, que a Marilena Chaui odeia e que Carvalho julga ser racista.

Enquanto a fala indecorosa do ministro circulava, uma turba fechou algumas ruas na Penha, em São Paulo, para um baile funk. A polícia, chamada pela vizinhança, acabou com a festa. Um grupo de funkeiros decidiu, então, assaltar um posto de gasolina, espancar os funcionários, depredar um hipermercado contíguo e roubar mercadorias. Na saída, um deles derramou combustível no chão e tentou riscar um fósforo. Tivesse conseguido... O "Jornal Nacional" relacionou o episódio à falta de lazer na periferia. Pobre, quando não se diverte, explode posto de gasolina, mas é essencialmente bom; a falta de um clube para o funk é que o torna um facínora. Sei. É a luta entre o Rousseau do Batidão e o Hobbes da Tropa de Choque.

Os maiores adversários do PT em 2014 não são as oposições, mas a natureza do partido e os valores que tornou influentes com seu marxismo de meia-pataca e seu coitadismo criminoso. A receita pode, sim, desandar.

Falácias lógicas - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE

O Estado de S.Paulo - 24/01

"Ou um mais um é igual a cinco ou então um mais um é igual a onze", diz um menino para o amigo. "Mas um mais um não é igual a cinco", responde o amigo. "Então um mais um é igual a onze", retruca o outro. "Ou distribuímos renda e privilegiamos a inclusão social ou então usamos políticas ortodoxas (neoliberais?) para promover o crescimento", diz alguém do governo. "Mas políticas 'neoliberais' não promovem o crescimento", responde outro alguém do governo. "Então distribuímos renda", afirma o interlocutor ou interlocutora.

Acima, dois exemplos de uma falácia lógica, o falso dilema, aquele que vê tudo preto ou tudo branco, sem nuance alguma. O falso dilema permeia o debate brasileiro, dos rolezinhos aos juros, das motivações dos movimentos sociais ao estado da economia. O falso dilema é bíblico. Diz Mateus (12:30): "Aquele que não está comigo é contra mim e aquele que não se une a mim desagrega". O falso dilema é universal. Diz o New York Times: "O governo brasileiro não perde muito tempo pensando no crescimento como um valor em si, mas, sim, relacionando-o à distribuição de renda e, portanto, dificultando a demissão de trabalhadores de baixa produtividade e controlando o preço da gasolina para que dirigir um automóvel seja mais acessível à população" (Does Brazil have the answer?, de Joe Nocera, publicado em 20/1/2014).

Distribuir ou crescer? Crescer ou distribuir? Distribuir primeiro ou crescer primeiro? Essas questões com cheiro de mofo, mofo de quase meio século, continuam a nortear as escolhas do governo. Deixa-se de lado que para distribuir e crescer é preciso, antes, garantir a estabilidade macroeconômica.

Nos últimos três anos, vivemos de dividendos. Como uma viúva satisfeita, colhemos, ano após ano, os rendimentos de todo o esforço feito e continuado para manter a inflação em xeque. Como uma viúva perdulária, gastamos o provento. O resultado é que a inflação crepita, estala. Mexe e remexe. Solta-se aos poucos das amarras.

Distribuir ou crescer? Pouco importa. Com uma inflação ascendente e pouco previsível, não se consegue nem uma coisa nem outra. A inflação corrói a renda dos trabalhadores e daqueles que têm menos capacidade de se proteger de seus efeitos nefastos, as pessoas que ganham os salários mais baixos. A inflação prejudica o planejamento das empresas e torna tudo mais obscuro e impenetrável. Fica difícil investir sem poder imaginar para onde vão os custos, fica difícil contratar sem saber como será o faturamento. A inflação, se não for contida por políticas que se ajudem mutuamente - a restrição monetária, de um lado, e a contenção fiscal, de outro -, desfaz ganhos importantes alcançados pela população brasileira, como o aumento da mobilidade social observado nos últimos anos e tão alardeado pelo artigo do New York Times. A inflação, afinal, não é um problema nos EUA, não é ela que está na raiz da piora da desigualdade de renda entre os americanos. Por lá, a inflação ficou abaixo de 2% em 2012 e em 2013 - 2% é a meta de inflação do Fed, o banco central dos EUA.

Recentemente, o governo brasileiro parece ter se dado conta da importância do obstáculo inflacionário para os seus objetivos - da reeleição ao legado distributivo, da manutenção do poder à continuação da inclusão social. Ao Banco Central (BC) foi dado o aval para que os juros subam, uma atitude correta, bem-vinda. Contudo, falta o fiscal. Falta enquadrar a política fiscal. O BC não tem como fazer, sozinho, todo o esforço para restringir a inflação. O BC não pode ter uma parte do que faz com os juros desfeita pela leniência do governo com as contas públicas. A deterioração das contas públicas que o governo pensa ser invisível.

Imaginem uma criança precoce, com gosto pela lógica. Ela pensa: "Os átomos são invisíveis e tudo é feito de átomos, inclusive o meu corpo. Logo, meu corpo é invisível". Essa criança, infelizmente, jamais conseguirá vencer um jogo de esconde-esconde. A pobre sofre de uma ardilosa falha lógica, a falácia de composição. Tal qual o governo brasileiro com a política fiscal.

O primeiro 'conundrum' de 2014 - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 24/01

A Turquia faz emissão a juros baixos enquanto se fala em crise de emergentes; alguém está errado nessa história


Este mês nos trouxe o primeiro "conundrum" do ano no mercado financeiro. Essa expressão, resgatada há algum tempo por um ex-presidente do Fed, procura identificar os acontecimentos que vão contra o senso comum dos mercados.

Quando um "conundrum" aparece, duas leituras opostas podem ocorrer: a primeira é que algo estranho, novo, inusitado pode estar realmente ocorrendo e será preciso algum esforço para entendê-lo. A outra possibilidade é que o senso comum esteja errado e o "conundrum" ocorra em razão de uma realidade mal compreendida pelos agentes econômicos.

Um exemplo clássico dessa segunda leitura é a histeria que tomou conta de alguns analistas quando o banco central americano iniciou sua experiência conhecida hoje como QE.

O apocalipse da inflação na maior economia do mundo foi pintado a tinta e a cores por vetustos senhores da comunidade de Wall Street e jovens gênios da economia encastelados nas universidades. O pobre Ben Bernanke foi estigmatizado no Congresso como traidor da pátria, e um ambicioso político republicano propôs uma lei draconiana para amarrar o Fed ao padrão-ouro.

Hoje, com a inflação americana correndo abaixo da meta de 2% ao ano e a economia crescendo mais de 3,5% em 2014, os críticos da política monetária estão calados e amargurando um vexame destruidor de qualquer reputação. E a imagem de um "conundrum" desapareceu das declarações dos mais radicais, pois evoluímos para um entendimento melhor dos canais monetários nas economias neste século 21.

Mas voltemos --até para explicar melhor-- ao primeiro "conundrum" de 2014. Enquanto escrevo esta coluna, a Turquia --apesar de toda a crise política que a cerca e a queda livre nos mercados de câmbio de sua moeda-- recebeu um total de US$ 12 bilhões de oferta para comprar títulos de crédito de dez anos de prazo em uma nova emissão que veio ao mercado. E os juros, no final do processo de precificação, devem ficar abaixo dos 6% ao ano.

Qual a imagem de "conundrum" associada a esse incrível sucesso na captação de recursos pelo Estado turco? A resposta vem da reação de surpresa verbalizada por um banqueiro associado a essa emissão, tanto em razão do volume da oferta de recursos pelos investidores como pela taxa de juros associada a ela.

A pergunta que certamente se fez o banqueiro acima citado foi esta: como esse sucesso ocorreu se a opinião generalizada, que domina a imprensa e os mercados, é que o mundo emergente caminha a passos largos para uma crise de liquidez? E a Turquia é certamente um dos elos mais frágeis dessa corrente prestes a arrebentar.

O senso comum dos analistas da economia mundial entende que a redução dos estímulos monetários, iniciado no mês de dezembro pelo Fed, deve ter continuidade na próxima reunião, no fim deste mês. Com isso, os juros americanos devem manter sua tendência de alta, o que deve arrastar, para a maior economia do mundo, um volume expressivo de recursos que se encontram hoje nos emergentes. A imprensa comprou com entusiasmo essa análise e somos bombardeados todos os dias com previsões apocalípticas. Inclusive a presidenta do FMI adotou esse discurso em suas primeiras intervenções em Davos, na Suíça.

Agora o leitor da Folha deve ter compreendido por que usei a expressão "conundrum" no caso da emissão turca. Como explicar essa verdadeira corrida aos títulos de um país à beira de uma crise de confiança? E essa inconsistência fica ainda mais clara quando essa mesma corrida vem ocorrendo com outras emissões de títulos de países emergentes.

Nas palavras do espantado banqueiro que acompanha a emissão da Turquia, o início de 2014 é o mais ativo no que diz respeito a volume de novas colocações de papéis de emergentes. Nesse sentido a Turquia é só o exemplo mais gritante desse "conundrum" --não para mim-- e que não foi explorado pela imprensa e pelos chats de mercado. E alguém está muito errado nessa história.

Na minha última coluna do ano passado, chamei 2013 de "o ano que ainda não terminou". Procurava passar ao leitor o pensamento de que vamos viver --pelo menos no início de 2014-- acontecimentos que serão apenas uma extensão do que se passou no ano velho.

Um deles é o fato de que, por mais algum tempo, os mercados vão refletir intensamente as opiniões pessoais de jornalistas econômicos e as divagações de professores universitários, deixando de lado os profissionais da análise econômica. E a crise de liquidez nos mercados emergentes é um desses eventos.

Davos real - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 24/01
“Agora, os dias começaram a fluir e todavia cada um deles era alongado pelas expectativas renovadas e inchadas com silêncio, experiências privadas. Sim, o tempo é enigmático, há alguma coisa sobre ele que é difícil explicar.” As reflexões de Thomas Mann na “Montanha Mágica" sempre parecem apropriadas quando o mundo econômico se reúne no mesmo local que inspirou a obra-prima.

Apropriadas pelo oposto. Uma espécie de reverso que nos faz perguntar: o que eles fazem em Davos com toda essa inquietação do mundo financeiro? Não há nada no livro que lembre o imediatismo das medidas com as quais os representantes dos bancos, organizações multilaterais e empresas medem o mundo, a vida, os valores.

Davos é uma estação de esqui, explicam os óbvios. É o centro do capitalismo, comemoram os que vão participar do conclave de grandes empresários, financistas, economistas, autoridades monetárias e alguns chefes de estado. A montanha sempre será, na literatura, o local que serviu de cenário para o grande escritor alemão refletir sobre o relativo do tempo.

O mundo vive agora expectativas renovadas. O pior da crise passou. Anos atrás, parecia que estavam todos condenados como os que iam se tratar da doença temida e, então, quase sempre fatal. O mal da última crise atingiu principalmente os pulmões da Europa, que pareceu sufocar nos últimos anos em dívidas, déficits, desemprego. A mesma Europa que juntava seus destroços ao fim da Primeira Guerra, ao tempo em que o autor alemão criou seus mágicos personagens.

Antes da crise de 2008, o mundo ia a Davos comemorar a febre da escalada dos investimentos, dos valores dos ativos, da euforia em relação aos emergentes. Médico — ou economista — que diagnosticasse o caráter mórbido daquele aquecimento seria tratado como um pessimista. Após a explosão da crise de 2008, os encontros de Davos lembravam o ambiente de um sanatório com todos fazendo vaticínios fatídicos para alguns dos países. Eles sobreviveram e alguns passam bem.

Quem vê, ainda que de longe, a repetição dos debates, diagnósticos, declarações, alertas, números e indicadores apresentados em Davos não consegue esquecer da repetição monótona dos dias, diagnósticos, alertas, números das temperatura do corpo dos pacientes da “Montanha Mágica". O tempo é enigmático. Ele sempre parece lento demais em Davos.

Parece que nada muda a cada ano em que de lá são enviadas ao mundo as sentenças categóricas sobre os países. Os economistas que vão a Davos são sempre os mesmos, seguem as mesmas rotinas e se reúnem para dizer as mesmas palavras. Mais inteligentes e enigmáticos eram os personagens que povoavam o Sanatório de Berghof, onde Hans Castorp, personagem central do livro de Thomas Mann, vai por descuido, apenas para uma visita, convencido de que está saudável. É apenas a solidariedade a outro enfermo, até que a trama o aprisiona e se prova que ele é outro dos que ficarão pela Montanha à espera da cura. Expectativas privadas.

Na Davos real, de hoje, a presidente Dilma Rousseff desembarca convencida de que a economia que comanda está saudável. Seus interlocutores não tem o mesmo diagnóstico. A economia cresce cronicamente pouco, abre-se um rombo em suas contas externas, o termômetro mostra sempre a inflação perto do máximo permitido. Mas o ponto em que há maior tensão é na mágica com a qual sua equipe tentou encobrir e recobrir os índices fiscais. De nada servirá a afirmação categórica, que certamente ela fará, de que seu governo tem conduzido bem a economia, que respeita tripés, metas e contratos. Melhor seria concentrar seu discurso nas virtudes, oportunidades e expectativas do país que governa. A confiança na conjuntura do Brasil oscila, mas há mais certeza nas possibilidades de médio e longo prazos.

Na Davos imaginária, o tempo é alongado. Passava mais rápido na eloquência irreverente do italiano Lodovico Settembrini. Para ele, “a crítica representa a origem do progresso e do esclarecimento". Se a presidente vai a Davos, deveria ouvir as críticas, veladas ou silenciosas. Apurar bem os ouvidos e não se deixar convencer de que as gentilezas de praxe provam que está tudo bem. As críticas serão mais úteis. Podem ajudá-la a corrigir equívocos que tiraram o brilho do seu mandato. Na eventualidade de um segundo mandato, ela terá tempo de repensar e corrigi-los.

O Brasil reinventou a roda? - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 24/01

Começa a se difundir a ideia de que o crescimento econômico não é lá muito relevante para o 'povo'


DESDE A METADE do ano passado, mais ou menos, tem se difundido a ideia entre alguns "formadores de opinião" de que o crescimento da economia não é um indicador relevante para avaliar o sucesso socioeconômico e das políticas do governo.

Articulistas relevantes na imprensa e até economistas, além de, claro, o governo em especial, de certo modo menosprezam o crescimento. Mais relevantes seriam o desemprego baixo, o aumento da renda do trabalho e do consumo e a redistribuição de renda por meio de benefícios sociais crescentes.

Até um articulista do "New York Times" levou água para esse moinho. Na segunda-feira, o colunista Joe Nocera publicou no jornal americano um artigo intitulado "O Brasil tem a resposta?", que inadvertidamente referenda a tese de que "a economia vai mal, o povo vai bem", texto que teve certa repercussão aqui no Brasil.

Nocera na verdade usa o Brasil como "escada" para fazer uma crítica ao seu país. Os EUA voltam a crescer, mas não há empregos, a desigualdade de renda cresce, a classe média desaparece, prega-se a redução de benefícios sociais. Do que valeria então crescer?

No Brasil, é diferente. O governo esquerdista "não perde grande tempo se preocupando com o crescimento em si mesmo, mas o relaciona à redução da pobreza e ao crescimento da classe média". Para tanto, diz Nocera, o país tem um salário mínimo alto, dificulta muito as demissões, controla o preço da gasolina e tem o Bolsa Família.

Antes de mais nada, diga-se que é mesmo revoltante que um país riquíssimo como os EUA tenha, relativamente, tanta pobreza.

Isto posto, e para mencionar de modo sumário a primeira de algumas ingenuidades de Nocera, note-se que a renda per capita dos americanos equivale a 4,5 vezes à dos brasileiros. Crescer não é mesmo o maior dos problemas dos EUA. Nós somos ainda pobres, lá pelo 75° lugar no ranking mundial de renda per capita. Mesmo se fosse possível redistribuir "tudo", de pronto (e não é), nossa paisagem seria cinzenta.

Segundo, sem crescimento, como deveria parecer óbvio, as possibilidades de redistribuição de renda tendem a ficar cada vez mais limitadas. Redistribuir renda, de resto, não é uma tarefa que se pode realizar à la Robin Hood, sem maiores complicações.

Mesmo que o aumento da tributação necessário para redistribuir seja feito do modo mais racional possível (nunca é), impostos maiores podem causar ineficiências econômicas, mudam os incentivos para investir e trabalhar, refazem a estrutura econômica de um modo que não pode ser o mais eficaz (quando não causam colapso no crescimento) e, obviamente, a partir de um certo limite causam conflito político agudo e muita vez contraproducente.

Isso não é uma recomendação de conservadorismo, mas uma observação rápida sobre como o caminho mais rápido para a redução da desigualdade e, em particular, da pobreza, pode não passar pela redistribuição acelerada. Mas o assunto pede pelo menos um outro artigo.

Para terminar, cabe lembrar que, pelo menos no caso do governismo, essa conversa de que o povo vai bem apesar do Pibinho só apareceu mesmo quando foram para o brejo os delírios de crescimento de 6% ou 4%.

Marina leva São Paulo - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 24/01

O PSB caminha a passos largos para ter candidato em São Paulo. Em Recife, os socialistas avaliaram que o esgotamento, após 12 anos de PT na Presidência, também se aplica aos 19 anos de PSDB em São Paulo. “O vento que sopra lá é parecido com o que quer acabar com a dicotomia PTxPSDB”, diz o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque.

São todos ‘mui amigos’!
O candidato do DEM ao governo do Rio, Cesar Maia, que está no altar à espera do candidato tucano ao Planalto, senador Aécio Neves (PSDB-MG), publicou ontem uma entrevista com um tal “deputado A”, do PSB. Nela, esse socialista afirma que, se o partido mantiver sua aliança com o PSDB em São Paulo e Minas Gerais, contra a vontade de Marina Silva, esta não só deixará de aceitar a vice na chapa de Eduardo Campos como não entrará de cabeça na campanha. Por isso, o “deputado A” diz que a insistência de Aécio em defender o apoio ao PSDB nos estados é porque ele “sabe que Marina, como vice de Eduardo, é imprescindível para nossa competitividade”.


“Os ‘rolés sociais’, que ocorrem nos shoppings, são protestos de jovens das periferias, repudiando a discriminação contra pobres, negros e favelados nesses ‘santuários do consumo’”
Júlio Miragaya,
Conselheiro do Conselho Federal de Economia

O alvo
A van que transportava o presidente da Câmara, Henrique Alves, e os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Garibaldi Alves (Previdência), anteontem, em Natal, foi cercada, apedrejada e teve um vidro quebrado.

Arisco
O futuro ministro Arthur Chioro (Saúde) não quer colocar o carro na frente dos bois. Aos que o tratam como ministro, corrige: “Secretário!”. Aos que perguntam de seus planos, explica: “Qualquer declaração seria precipitada, e eu tenho juízo”. Aos que querem saber a data da posse, desconversa: “Não fui nem convidado ainda”.

Gol contra
Às vésperas da realização da Copa no Brasil, a Infraero resolveu anunciar uma reestruturação. A instabilidade é ampla, geral e irrestrita. Os funcionários relatam que ela envolve cortes que podem reduzir em até 50% os vencimentos.

Os limites do orçamento impositivo
O pagamento obrigatório das emendas individuais dos parlamentares não é totalmente garantido. O governo pode alegar “impedimentos de ordem técnica” para não liberar os recursos no final do ano. Os órgãos têm até abril para informar os problemas. Líderes dos partidos sentenciam: abril será a hora da verdade.

Perdidos no espaço
Um eleitor de Ipanema recebeu ontem mensagem no celular, enviada pelo telemarketing da campanha a governador do deputado Anthony Garotinho (PR), perguntando: “O que falta para a Baixada Fluminense melhorar?”.

O famoso ‘Quem?’
O governador do Ceará, Cid Gomes, é solenemente ignorado por seu novo partido, o PROS. Na página do partido na internet, o único governador da nova legenda não é sequer notícia.

A GOVERNADORA Rosalba Ciarlini (DEM-RN) tentou, sem sucesso, na inauguração da Arena das Dunas, tabelar com a presidente Dilma.

Drogas no palanque - BERNARDO MELLO FRANCO - PAINEL

FOLHA DE SP - 24/01

O futuro ministro da Saúde, Arthur Chioro (PT), acusa o governo do PSDB em São Paulo de defender o "projeto da segregação e da indiferença" em relação a usuários de drogas. O tema voltou à arena política ontem, após a ação policial na cracolândia. Em palestra gravada em 2013, Chioro ataca a gestão Geraldo Alckmin e diz que o PT prega "solidariedade e respeito" aos dependentes. "Este é o projeto que mais nos diferencia hoje da prática e do discurso dos governos tucanos."

Flashback A cracolândia já foi tema de disputa eleitoral de 2012, quando o prefeito Fernando Haddad (PT) venceu José Serra (PSDB). Ontem o ministro Alexandre Padilha (Saúde), pré-candidato do PT a governador, visitou a área antes da chegada da polícia.

Não agradou Em privado, aliados de Aécio Neves (PSDB) reclamaram da entrevista de Fernando Henrique Cardoso ao UOL. O ex-presidente disse que a eleição de Eduardo Campos (PSB) também seria boa para o país.

Deixa falar "Ele está numa fase em que pode falar o que pensa com mais liberdade. Mas não é o pensamento do PSDB", disse um tucano.

Nem aí Marina Silva (PSB) não quis comentar e deu ordem para não comentarem a declaração de FHC de que seu objetivo é criar o próprio partido, e não eleger Campos.

Repreensão Aécio se irritou com artigo publicado no site do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB. O texto atacava Aloizio Mercadante (PT), recém-alçado à Casa Civil, e sumiu do portal ontem à noite.

Não pode O artigo lembrava o episódio dos aloprados e comparava Mercadante aos antecessores José Dirceu, preso na Papuda, e Erenice Guerra, derrubada sob suspeita de tráfico de influência.

Vacilou Antes de chegar à Suiça, Dilma Rousseff recebeu a informação de que o ministeriável Josué Gomes quer ser candidato a senador pelo PMDB mineiro. Mesmo se o governador Antonio Anastasia (PSDB) concorrer.

Dançou Neste caso, dizem integrantes do governo, a escolha do substituto de Fernando Pimentel (PT) no Ministério do Desenvolvimento voltaria à estaca zero.

Puritanismo Dirigentes do PSB temem nova dor de cabeça com a Rede: o financiamento de campanhas. Pessebistas receberam sinais de que os marineiros aspiram vetar doações de empresas.

Cobras e lagartos O governador Sérgio Cabral (PMDB) tem feito ataques "impublicáveis" ao PT, segundo aliados. Ele diz que o partido não moveu uma palha para barrar a candidatura de Lindbergh Farias no Rio.

Bipolar Depois de anunciar que deixaria o governo em fevereiro, junto com secretários petistas, Cabral agora disse a aliados que só sairá em 3 de abril. Ele afirma que não será pautado pelo PT.

Fora de casa Fernando Collor (PTB-AL) está desatualizado. Ontem, disse no Twitter que se encontraria com Frank Aguiar, "companheiro de PTB". Só que Aguiar deixou a sigla e se filiou ao PMDB há quatro meses.

Visitas à Folha Liliana Ayalde, embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, visitou ontem a Folha, onde foi recebida em almoço. Estava com Dennis Hankins, cônsul-geral em São Paulo, Rakesh Surampudi, adido de imprensa, e William Holton, terceiro-secretário.

Fernando Grella Vieira, secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Fábio Santos e Lucas Tavares, assessores de imprensa.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
O jogo ainda nem começou e o PSDB já recorreu ao tapetão. Com medo de perder a eleição, tenta desclassificar os adversários.

DE LUIZ ANTÔNIO FLEURY FILHO (PMDB-SP), ex-governador de São Paulo, sobre a ação do PSDB contra Paulo Skaf (PMDB) por campanha antecipada.

Contraponto


Vou de Taques
Após a morte do vice-presidente José Alencar, em 2011, os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT) combinaram que iriam juntos ao velório, no Palácio do Planalto. Antes, Randolfe participou de uma reunião de seu partido no Congresso. Na saída, foi abordado por Chico Alencar (PSOL-RJ):
-Vamos agora para o velório? -perguntou Alencar.
-Claro. Vamos pegar o Taques e seguimos juntos até o Planalto -respondeu Randolfe.
Confuso com o sotaque do aliado, Alencar respondeu:
-Não precisa ir de táxi, não! Vamos a pé!

Entre erros e acertos, o duro aprendizado - CLAUDIA SAFATLE

Valor Econômico - 24/01

Hoje, a presidente Dilma Rousseff fará "um gesto" de aproximação com o setor privado. Ela vai aproveitar o discurso no Forum Econômico de Davos (Suiça) - que reúne cerca de 1.500 empresários e executivos de várias partes do mundo - para "desfazer o mal entendido de que é contra o mercado, contra o lucro, contra o setor privado em geral", disse um colaborador da presidente da República.

O governo passa por um processo de autocrítica e de gradual ajuste do discurso, às vésperas da campanha pela reeleição. Ao reavaliar os três anos de mandato, identifica-se como o primeiro grande erro a reação de certo desdém às críticas ao "pacote" de energia elétrica.

Em setembro de 2012, a presidente antecipou a renovação dos contratos de concessão das empresas de energia associada à redução das contas de luz. A decisão, de cima para baixo, caiu como uma bomba no setor, que rejeitou o acerto de contas proposto pelo governo. Entre atritos e desgastes duas companhias, a Cemig e a Cesp, optaram por devolver a concessão. "A reação do governo foi fora do tom. Erramos no ponto", comentou uma fonte oficial.

A tomada de consciência de que, na relação entre o governo e o setor privado, "o caldo havia entornado" naquele momento, nas palavras de um assessor, só chegou um ano depois, em setembro de 2013, com o fracasso do leilão da concessão da rodovia BR- 262 (que liga Minas Gerais ao Espírito Santo). Nenhuma empresa se habilitou e o governo teve que, entre outras coisas, rever as taxas de retorno que havia predeterminado para os empreendimentos.

A imagem de uma presidente intervencionista estava construída. O primeiro tijolo foi colocado um pouco antes, quando do embate aberto contra o alto "spread" cobrado pelos bancos, no primeiro semestre de 2012. Como é um tema popular condenar os exageros dos bancos, nas taxas que cobram, nos lucros que ostentam, a forma como foi conduzida aquela batalha ficou na conta da boa briga.

Assessores da presidente admitem que o governo deixou crescer por tempo demais a impressão de que ela é "uma trotskista empedernida" e asseguram que Dilma Rousseff está empenhada em desconstruir essa imagem.

Nesses três anos houve, também, aprendizados importantes que podem representar mudanças relevantes na gestão da macroeconomia em um eventual segundo mandato. O governo imaginava possível, por exemplo, controlar os principais preços da economia e, com isso, controlar a taxa de inflação. Da tarifa de energia elétrica à gasolina, dos juros à taxa de câmbio.

A aceleração da inflação, a perda de credibilidade do governo junto aos investidores nacionais e estrangeiros, o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e as manifestações de protesto nas ruas mostraram que incertezas sobre os rumos que o país está tomando e o medo da instabilidade são piores do que o aumento da taxa de juros.

Se havia alguma resistência da presidente ao ciclo de elevação da taxa Selic, que começou em abril de 2013 e ainda está em curso, no segundo semestre do ano ela já estava resignada.

Os juros, que caíram 5,25 pontos percentuais entre o primeiro e o segundo ano do seu governo, já subiram 3,25 pontos percentuais do ano passado para cá, superando a barreira simbólica de dois dígitos. Outros preços, porém, permanecem sob administração.

Atribui-se, hoje, maior grau de importância a questões intangíveis da economia. No início da gestão de Dilma Rousseff, pouco ou nenhum valor era dado aos chamados "soft datas", os indicadores de confiança das empresas, dos consumidores, o ambiente de negócios. Acreditava-se que com mais subsídios, mais dinheiro para o BNDES emprestar e menos juros, estavam dados os atrativos suficientes para o setor privado investir e o país crescer.

Nesse meio tempo, o Ministério da Fazenda concebeu o que passou a se chamar de "nova matriz macroeconômica", uma combinação de juros baixos, taxa de câmbio desvalorizada e uma administração fiscal flexível.

A matriz teve vida curta e a política fiscal converteu-se em uma expansão acelerada do gasto. O superávit das contas públicas caiu de 3,1% do PIB em 2011 para 2,4% do PIB em 2012 e para cerca de 1,9% do PIB em 2013.

O caráter expansionista da meta fiscal no exato momento em que o Banco Central tentava conter a demanda agregada para reduzir a inflação tornou-se o ponto de maior vulnerabilidade do governo; e as manobras contábeis para dar uma aparência de austeridade, um dos focos da perda de credibilidade.

Ao mesmo tempo em que a presidente se dispõe a fazer um gesto de aproximação com o setor privado, o governo rediscute a meta de superávit primário para o ano, sob o risco de sofrer rebaixamento do grau de investimento pelas agências de rating. Pelo orçamento da União, a meta de superávit do governo central para 2014 é de 1,1% do PIB. Fontes do Palácio do Planalto asseguram que Dilma estaria admitindo um reforço da meta fiscal neste ano eleitoral, embora seja conhecida a propensão ao aumento do gasto público em períodos de campanha.

A ideia é repetir, em 2014, a performance fiscal de 2013, com um superávit primário consolidado do setor público da ordem de 1,9% do PIB.

Dilma estaria mudando na forma de conduzir seu governo e nas convicções que a moveram até aqui, na visão desses seus colaboradores.

O discurso de hoje, pela importância que está lhe sendo atribuída, reporta ao espírito da "Carta aos Brasileiros" que o então candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, teve que assinar, em 2002, para afastar os temores e desconfianças que um governo do Partido dos Trabalhadores (PT) inspirava nos mercados em geral. Naquela ocasião, Lula comprometeu-se com a estabilidade econômica e com o respeito a contratos.

Tempo de espera - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 24/01

O Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, não foi claro sobre os próximos passos da política de juros. A ata da última reunião do Copom, divulgada ontem, pareceu indicar que a hora é de esperar para ver.

É uma reação que aguarda novos dados. O primeiro deles é o comportamento da inflação. A evolução do IPCA em dezembro fora surpreendentemente alta e obrigou o Banco Central a puxar pelos juros mais do que pretendera até então.

As primeiras indicações de janeiro são parcialmente positivas. Ontem foi divulgada também a evolução do IPCA-15, que é o mesmo cálculo da inflação em 30 dias, com a diferença de que é medido do dia 15 de um mês ao dia 15 do mês seguinte. Não foi levado em conta para a redação da ata. Esse novo indicador apontou uma evolução bem mais baixa do que a de dezembro (de 0,75% em vez de 0,67%). Mas foi ainda mais baixa do que o 0,92% obtido em dezembro inteiro (veja o gráfico, no Confira). Ou seja, a inflação voltou a desacelerar. A dúvida está em saber se a desaceleração é consistente. O alto índice de dispersão (mais de 75% dos itens da cesta de consumo acusaram elevação), o mais alto desde 2003, não dá muita esperança. É o que indica a forte resistência da alta de preços.

E há os puxadores de inflação, ainda não removidos: alta do dólar, aumento dos custos da mão de obra e indexação (reajustes automáticos de preços) extensa demais. Sobre o câmbio, o Banco Central avisa que já está trabalhando com uma cotação do dólar de R$ 2,40. Se é isso, pode ser mais. As contas externas deterioradas contribuem para empurrar a alta da moeda estrangeira.

O outro dado positivo aparentemente esperado pelo Banco Central é algum anúncio do governo federal de que a administração das contas públicas pode ser bem mais austera neste ano, mesmo tendo à frente as eleições de outubro.

No parágrafo 22 da ata está dito que a geração de superávits primários (ou seja, de sobra de arrecadação para pagamento da dívida) mais altos ajudaria a combater a inflação, a diminuir o custo de financiamento da dívida pública, etc. Traduzindo, isso parece certa pressão do Banco Central para que a política fiscal assuma uma parte maior da função do contra-ataque à inflação para que os juros básicos (Selic) não tenham de ser excessivamente acionados.

É possível que a presidente Dilma tire uma nova carta da manga para tentar melhorar o astral dos mercados e recuperar a confiança do setor privado. Até agora não há indicação disso.

Também importantes foram as indicações da ata de que não dá para esperar por uma melhora do crescimento econômico em 2014. O parágrafo 21 fala em "ritmo mais moderado do que é observado em anos recentes". E, no entanto, em anos recentes, o crescimento do PIB foi muito fraco (2,7% em 2011, 1,0% em 2012 e, provavelmente, não mais do que 2,3% em 2013).

Enfim, não há firmeza de que a inflação esteja em retirada. O avanço em 12 meses pode recuar em janeiro e até mesmo em fevereiro, mas, se nada de importante se fizer para remover as causas, a alta de preços deve ser retomada mais à frente.

'Pleno emprego' do PT é desmascarado pelo IBGE - ROBERTO FREIRE

BRASIL ECONÔMICO - 24/01

Não foram os "pessimistas" enxovalhados pela presidente Dilma Rousseff ou os "nervosinhos" ridicularizados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, os responsáveis pela desconstrução de uma das grandes falácias alimentadas pelo PT. O método"pleno emprego"se revelou uma peça de ficção devidamente desmentida pelos dados apresentados na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), divulgada não pelos partidos da oposição, mas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os dados apontam um índice de desocupação de 7,4% no segundo trimestre de 2013, bem acima do percentual registrado pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), de 5,8% em abril e maio e 6% em junho (média de 5,9%). No Nordeste, uma em cada dez pessoas procura vaga no mercado e não encontra. O Norte também aparece acima da média nacional, com8,3% de desocupação. Em novembro do ano passado, a taxa medida pela PME chegou ao patamar de 4,6%, o que levou os arautos do lulopetismo a falarem em pleno emprego, como se isso fosse factível em um país cuja economia vem colecionando "pibinhos" ano após ano.

Outro legado perverso da era petista é a "geração nem-nem" formada por jovens que não trabalham nem estudam, que somavam 9,6 milhões em 2012 (19,6% da população entre 15 e 29 anos)

Ainda segundo a nova pesquisa do IBGE, um contingente de 6l,3 milhões de brasileiros de 14 anos ou mais não trabalha nem procura ocupação. O número corresponde a 38,5% da população em idade para trabalhar de acordo com os critérios do instituto e equivale à soma de habitantes dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Mesmo se não levarmos em conta os menores de 18 anos e maiores de 60, há 29,8 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho, seja porque desistiram ou nem tentaram procurar emprego.

A pesquisa anterior do IBGE, adotada pelo governo para fazer proselitismo político, era menos abrangente e trazia dados referentes apenas às seis maiores regiões metropolitanas, com entrevistas em 44 mil domicílios. A Pnad Contínua tem amostra de 211 mil domicílios e alcança 3,5 mil municípios. Além disso, há diferenças sobre os conceitos de desocupação: a PME só considera desempregado quem está sem trabalho e procurou emprego nos últimos 30 dias. Pela nova pesquisa, basta estar sem ocupação para fazer parte do índice de desemprego.

Outro legado perverso da era petista no comando do país é a "geração nem-nem", formada por jovens que não trabalham nem estudam, que somavam 9,6 milhões em 2012 (19,6% da população entre 15 e 29 anos), segundo dados do IBGE divulgados no fim do ano . Já o número de brasileiros que não trabalhavam nem queriam ter um emprego chegou a 16,8 milhões em novembro de 2013, ante 15,8 milhões no mesmo mês de 2012.

Por fim, os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo próprio Ministério do Trabalho, apontam que o Brasil amargou, em 2013, o pior resultado na geração de empregos em dez anos, com a criação de 1,1 milhão de novos postos com carteira assinada (índice 14,1% inferior ao de 2012).

Como se vê, nem a poderosa máquina de propaganda do governo é capaz de iludir a população o tempo todo. A falácia do "pleno emprego", construída meticulosamente com base em números escamoteados e levantamentos pouco abrangentes, foi desmascarada pela dura realidade vivida por milhões de brasileiros. Como há tempos vem alertando a oposição, desqualificada por Dilma e seus serviçais, o castelo de cartas do PT começou a ruir.

Omissão é crime - RENATO FERRAZ

CORREIO BRAZILIENSE - 24/01

A voz, geralmente fanhosa, agradece: "Sabemos que a escolha da companhia aérea é do cliente. Obrigado por escolher.". Sim, os comissários de bordo são automáticos no discurso. Somos assim ao agradecer, silenciosos e gentis, curvando a cabeça - mas, na maioria das vezes, irritados. No entanto, é esse nosso comportamento passivo, quase sempre indolente, que estimula a praga do mau atendimento nas empresas aéreas, aeroportos, bancos, companhias telefônicas. Some-se a isso a omissão do poder gestor ou regulamentador e, principalmente, do servidor público. Mesmo nas relações privadas de consumo, ou de prestação de serviços estatais ou por concessionárias, a omissão é covarde. Camus já dizia: somos responsáveis também pelo que não fazemos e pelo que impedimos de fazer. Nada pior do que ver ou ouvir administradores eleitos, ou mesmo burocratas nomeados ou de carreira, atribuírem todas as mazelas ao sistema. Para eles, tudo é extemporâneo, culpa dos outros. Esta semana, vários episódios mostraram como temos gestores fracos.

Em Ceilândia, dois inocentes precisaram morrer afogados para a burocracia candanga enxergar que havia algo errado no escoamento fluvial de um viaduto. Quem acreditaria que alguém morreria afogado no meio de uma avenida em pleno Distrito Federal? E o setor privado? Veja a situação de alguns estádios programados para serem usados na Copa do Mundo. Na esfera federal, é risível a reação da cúpula da Infraero aos atrasos nas obras de alguns aeroportos. Aliás, a situação na infraestrutura de mobilidade vai mostrar que não adianta fugir de responsabilidades: um dia, em algum momento, até os omissos serão cobrados.

Os preços das passagens aéreas, por exemplo, dispararam - uma delas está cobrando R$ 2,6 mil entre uma capital do Norte e outra nordestina. O sistema de milhagem é, perdoem o tom incisivo, uma esculhambação: numa companhia, você tem direito a faixas "promo", "irrestrita", "clássica". Tentem, porém, usar sua fidelidade para trocar por passagem: há trecho interno, tipo Recife - São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, por 45 mil milhas. Numa simulação, mesmo usando-se destinos pouco usuais, não consegui encontrar uma "promo"! Um leitor me manda uma "reserva" ida e volta de sua cidade, aqui pertinho, para o Acre: R$ 8,1 mil. Enquanto isso.

Ruídos - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 24/01

BRASÍLIA - A prioridade da política externa brasileira em 2014 é restabelecer uma relação saudável e produtiva com a maior potência do planeta. Precisa dizer qual é?

A ironia é que, enquanto os EUA têm acesso a comunicações do mundo todo, o ruído na linha entre Washington e Brasília continua.

O governo Dilma não se contentou com as seguidas demonstrações de Obama, que determinou um diagnóstico da espionagem, foi à TV se explicar e convidou o chanceler Luiz Figueiredo para ir ao país.

E o governo Obama registrou com satisfação a decisão firme do Brasil de não acolher o delator Snowden, mas não consegue entender outras sinalizações não só do governo brasileiro, mas da própria Dilma.

Ficou "disappointed", em linguagem elegante, ou sentiu um soco no estômago, em outra nem tanto, com a derrota dos caças da Boeing para os da sueca Saab. E está tentando digerir como natural a demora de Figueiredo em marcar a data da sua ida.

Por último, os EUA perguntam-se, perplexos: como o Brasil pode almejar uma vaga permanente no Conselho de Segurança se simplesmente desdenha a participação nas negociações de Montreux pela paz na Síria?

Os EUA incluíram o Brasil numa demonstração de confiança e não entendem como o chanceler, que já iria para Zurique, ali ao lado, enviou o segundo escalão para Montreux por ordem de Dilma. Qual foi o recado? Na diplomacia, tudo tem significado.

Quem conhece bem o Brasil e a América do Sul até pode deixar barato: foi algo meio impensado, erro de avaliação. Mas, para quem não conhece --os que estão lá, à distância, no Departamento de Estado-- só aumentam a perplexidade, as interrogações, a crise de confiança.

Se a prioridade de 2014 é a reaproximação com os EUA, a política externa parece não estar começando bem o ano. Provavelmente, menos pela capacidade de Figueiredo, mais pela incompreensão de Dilma sobre o que vem a ser diplomacia.

O governo, a Copa e a rua - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 24/01

Para blindar o projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff - e tão somente por isso - o Planalto, com o PT a tiracolo, busca um plano que detenha o eventual alastramento pelo País dos prováveis protestos contra a realização da Copa. Teme-se um clima de crispação social capaz de contaminar as urnas de 3 de outubro, nada menos de 115 dias depois da final de 13 de julho. A extensão desse período parece indicar que os receios palacianos são exagerados: é tempo demais para que os presumíveis protestos continuem crepitando a ponto de abrasar a conquista de um segundo mandato por Dilma. Mas, destoando dessa vez do padrão trôpego de sua gestão, ela resolveu não brincar em serviço.

Reuniões semanais em palácio, com rodízio de participantes e dois nomes fixos - o do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o seu colega do Esporte, Aldo Rebelo -, se preocupam antes de tudo com um replay dos dias de junho. Foi a absurda repressão policial a uma marcha de protesto em São Paulo contra, entre outras coisas, o aumento das passagens de ônibus, que propagou as passeatas pelo País inteiro, já então marcadas pela violência de parte a parte. Dos encontros saiu a decisão de uma conferência entre o ministro da Justiça e os secretários de Segurança dos 12 Estados-sede da competição para a elaboração de um protocolo único de atuação policial em face das manifestações.

A primeira delas já tem data e lugar. Convocado pelas redes sociais, sob a hashtag #naovaitercopa, um ato terá lugar este sábado, no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. Diferentemente dos primeiros ativistas de junho que, antes de tudo, queriam era falar, ou melhor, exclamar - daí a mistura desencontrada de demandas que levavam consigo e a inexistência de comando único que as enfileirasse -, os anti-Copa têm uma agenda focada nos direitos dos grupos sociais que teriam sido ou poderão ser ignorados em razão do campeonato. Por exemplo, famílias desalojadas, ambulantes e moradores de rua removidos. O movimento é conduzido por um Comitê Popular da Copa.

Ainda assim, o diálogo do governo com os seus porta-vozes é espinhoso. Não só pelo irrealismo de algumas de suas exigências - a desmilitarização das polícias e a revogação da Lei Geral da Copa -, mas pela certeza de que não estão interessados em chegar a um compromisso que permita a realização tranquila da "Copa das Copas", que Dilma lançou na sua página no Twitter. O termo será a hashtag com a qual o PT tentará bater os adversários nas redes. De mais a mais, como se viu nos idos de junho, o governo não sabe lidar com o que o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, equipara impropriamente aos "movimentos sociais" de sua alçada, que têm nome, sobrenome, história e reivindicações estabelecidas - valham o que valerem.

Daí, além do problema de conversar o que, com quem, há a incógnita sobre o estrago que os improváveis interlocutores poderão efetivamente causar quando os olhos do mundo, como diz o clichê, estarão voltados para o Brasil. Se o Estado recorrer à mão pesada para garantir a paz pública e a realização dos jogos, Dilma poderá se reeleger do mesmo modo - afinal, a massa dos seus eleitores quer é participar da festa da Copa -, mas a imagem da presidente e do País sofrerá no exterior. O caminho mais sensato para o governo é o da cautela. Isso significa achar o ponto de equilíbrio entre preservar a ordem e deixar aberta a válvula do protesto para prevenir uma reação em cadeia.

Hoje em dia, o desejo de expressão coletiva cria seus próprios canais, rejeitadas as formações calcificadas como as organizações verticais, os sindicatos, os partidos. Até o rolezinho, uma atividade que de protesto não tem nada, e muito de integração nesses espaços de convívio de jovens que são os shopping centers, transita na via estreita entre a diversão e a baderna. Enquanto não mudar de mão, é legal e não pode ser reprimido, assim como não se pode barrar a entrada de quem foi ao lugar dar um rolê. Uma tendência dessas iniciativas é a sua volatilidade. Elas tanto podem cair na rotina ou se disseminar, já com outras características. A Copa é uma razão a mais para se trocar a truculência pela prudência.

O desespero dos argentinos - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 24/01

De um lado, cidadãos vítimas da inflação crescente fazem de tudo para se refugiar no dólar; de outro, o governo de Cristina Kirchner atropela liberdades para conter a demanda pela moeda americana



Já há alguns anos o governo de Cristina Kirchner inferniza a vida de quem deseja fazer qualquer tipo de negócio com o exterior, seja o empresário que precisa importar insumos para produzir algo, seja o cidadão que tem o desejo de conhecer outros países. Agora, nem é mais necessário que o argentino vá ao exterior para ser presa do desespero do governo argentino por conter o enfraquecimento de sua moeda: uma nova norma limita em meros US$ 50 anuais o valor máximo em compras do exterior para que um consumidor não seja escorchantemente taxado e seja considerado formalmente um importador.

A partir de agora, o argentino que desejar comprar qualquer coisa pela internet, em sites estrangeiros, passará por um calvário. Na terça-feira, a Afip (o equivalente argentino da Receita Federal) baixou uma norma exigindo que toda compra on-line seja informada ao governo por meio de declaração juramentada. Se a compra passar de US$ 25, haverá cobrança de uma tarifa de 50% sobre o valor da transação, incluído o frete (cobrar imposto não apenas sobre o produto, mas também sobre os custos de envio é um absurdo que a nossa Receita Federal também pratica, ressalte-se). No dia seguinte, a Afip complementou a regra, com o aperto final: cada argentino só poderá fazer duas compras de no máximo US$ 25 em sites estrangeiros por ano. Se passar disso, será tratado como importador e estará sujeito a ainda mais restrições.

Como se não bastasse, o correio argentino não mais entregará essas encomendas nas residências dos argentinos, que precisarão buscá-las na alfândega, apresentando a declaração juramentada feita na ocasião da compra – um processo que já era demorado antes das novas regras, e que agora ficará ainda mais complicado. A intenção é clara: sem proibir as compras pura e simplesmente, trata-se de infernizar tanto a vida do argentino que encomenda produtos do exterior até que ele acabe desistindo do processo e movimentando seu dinheiro dentro do país.

A medida se insere em um contexto no qual o governo Kirchner quer evitar ao máximo a desvalorização do peso, que só em 2014 já perdeu 10% em relação ao dólar, o refúgio habitual do argentino em época de preços em disparada – e a inflação na Argentina foi de 30% no ano passado, segundo estimativas independentes (o governo divulgou um índice de 10,9%, que ninguém mais leva a sério). No entanto, o cidadão argentino já não pode comprar dólares como investimento ou poupança desde 2012. Se deseja ir ao exterior, precisa explicar ao governo os motivos da viagem, e as autoridades, então, decidem quantos dólares o viajante pode adquirir. No mês passado, a alíquota do imposto sobre gastos com cartão de crédito ou débito no exterior subiu de 20% para 35%. Para driblar as restrições, os argentinos começaram a ir ao Uruguai para sacar moeda estrangeira lá com seus cartões. Mesmo assim, a procura por dólares é tanta que os argentinos estão dispostos a pagar, no mercado paralelo, até 70% acima da cotação oficial. É um mercado que se desenvolve não só nos becos escuros associados ao mercado negro, mas até mesmo em estabelecimentos reputados, como lojas e restaurantes – como muitos turistas brasileiros em Buenos Aires já perceberam.

Assim, para tentar consertar as consequências de anos de uma política econômica irresponsável, populista e extremamente protecionista, o governo argentino cerceia mais e mais as liberdades de seus cidadãos. Uma situação vergonhosa para um país que, no começo do século passado, era um dos mais ricos do mundo. Os argentinos que, ao presenciar os desmandos de Hugo Chávez na Venezuela, tranquilizavam-se pensando que jamais chegariam àquele ponto agora percebem seu engano (assim como os venezuelanos que imaginavam que seu país nunca se tornaria uma Cuba). Que as desventuras dos vizinhos sirvam de alerta para os brasileiros que acham impossível o Brasil seguir os passos da Argentina. Hiperinflação, protecionismo exagerado, mercados paralelos: já passamos por tudo isso, e exatamente por esse motivo é preciso proteger as bases da estabilização conquistada há 20 anos.

Dilma tem de resgatar confiança na política econômica - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 24/01

O Fórum Econômico Mundial, que se reúne em Davos, não é um oráculo dos mercados, mas tem séria repercussão na imagem dos países junto a investidores



Dilma Rousseff está hoje em Davos (Suíça), no Fórum Econômico Mundial, onde comparece pela primeira vez como presidente do Brasil. O Fórum é um evento anual, já tradicional, que reúne governantes, dirigentes de instituições multilaterais, empresários, acadêmicos e outros ilustres convidados para ouvir opiniões e debater questões que afetam os rumos da economia mundial. Não é local apropriado para proselitismo político (como fez na recepção a Obama em Brasília). Quem está lá espera encontrar respostas para muitas dúvidas em relação ao futuro, e dos governantes, especialmente. Deseja-se um diálogo franco em torno dos problemas apontados nos documentos prévios ao encontro.

O Fórum é um dos eventos internacionais que mais contribuem para a formação dos conceitos que os mercados têm sobre essa ou aquela economia. Não é um congresso de financistas, embora tenha chegado a ser identificado como um oráculo dos mercados. Partidos ditos de esquerda costumam rejeitá-los, embora haja declaradamente interesse dos participantes em ouvir diferentes correntes de opinião, sérias e fundamentadas.

Há um evidente esforço do governo Dilma, neste fim de mandato, em mudar o conceito da administração da presidente junto a investidores, empresários e mercados. Confiante em seu diagnóstico sobre a crise financeira internacional, e o que era preciso fazer para contorná-la, o governo Dilma simplesmente ignorou críticas e recomendações para correção de rumos. Os resultados ficaram aquém do que o governo prognosticara, e a imagem da economia brasileira sofreu enorme desgaste nos últimos tempos. O temor de deterioração das bases que sustentaram a recuperação da economia do país a partir do lançamento do real se agravou à medida que as agências internacionais de classificação de risco decidiram pôr o Brasil em perspectiva negativa. Concretamente, investidores estrangeiros têm se desfeito de aplicações financeiras no Brasil, mesmo depois que as taxas de juros voltaram a ser elevadas internamente.

A presidente Dilma tem hoje uma oportunidade para tentar reverter esse processo de desgaste de imagem, afastar o temor de que recolocou o Brasil rumo a um anacrônico “capitalismo de estado”. O governo vem dando sinais de correção de rota na política econômica, dispondo-se a acumular novamente, sem malabarismos contábeis, superávits primários nas finanças públicas capazes de recolocar o endividamento em trajetória de redução. É uma iniciativa necessária para ajudar o Banco Central no combate à inflação.

Por si só, o pronunciamento da presidente não será suficiente para recuperação da imagem e do conceito da economia brasileira nos diferentes mercados. Em face dos equívocos cometidos, o país estará sujeito a uma espécie de teste São Tomé. Mas, sem dúvida, se forem convincentes, as palavras da presidente serão um bom começo.

"Rolezinho" sem moral - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 24/01

A desaprovação se dá sem ambiguidades: 82% dos paulistanos, segundo pesquisa Datafolha, condenam a realização de "rolezinhos" nos shoppings da cidade. A opinião se dissemina, com algumas variações, por todos os estratos de idade, escolaridade e renda.

O maior índice de tolerância aos encontros de jovens moradores da periferia em centros comerciais localiza-se, como é natural, na faixa dos 16 aos 24 anos. Mas, mesmo aí, é de 70% a rejeição ao fenômeno, cujos objetivos, para a vasta maioria dos entrevistados, resumem-se a provocar tumulto.

Por outro lado, é ampla a concordância dos paulistanos (73%) com a tese de que os shopping centers não têm o direito de escolher seus frequentadores.

Embora privados, os centros comerciais têm acesso público, e seria óbvio sintoma de preconceito se barrassem a entrada de adolescentes pelos sinais aparentes de pobreza ou pela cor da pele. Como os "rolezinhos" ocorrem, em geral, na própria periferia, a hipótese não se coloca com clareza.

Sendo assim, a maioria dos entrevistados parece manter visão antidiscriminatória e, por assim dizer, republicana quanto ao uso do espaço público. Ao mesmo tempo, aprova-se a reação dos shoppings no sentido de pedirem liminares à Justiça contra reuniões desse tipo.

Talvez se possa concluir que o paulistano se expressa conforme dois prismas associados, mas diferentes, de sua identidade.

Como consumidor, seu interesse é realizar compras e passeios num clima alheio ao tumulto, à pândega, à bambochata. Como cidadão, não ignora o direito de seus iguais --ou diferentes-- de frequentar lugares públicos, sem discriminações.

Foi amplamente majoritário, como se sabe, o apoio da população às manifestações de junho --ainda que, com bons motivos, tenha sido reprovado o vandalismo que as acompanhou em certas ocasiões.

Na maioria dos casos, os "rolezinhos" não foram nem uma coisa nem outra; sua intenção política e seu potencial destrutivo parecem mais imaginários que reais.

Reprova-se, quem sabe, apenas o que são em si mesmos: sinais de vitalidade ou de bagunça, de exibicionismo festivo ou de desrespeito, a depender do grau de incômodo ou de insegurança que gerem. Nada mais grave que isso --a não ser que, por paranoia ou exaltação ideológica, se decida maximizar a dimensão de todo o rolo.

Os dois Brasis - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 24/01

O eixo do pronunciamento que a presidente Dilma Rousseff fará nesta sexta-feira em Davos deve evidenciar visões aparentemente conflitantes do Brasil deste início de século 21. Conforme antecipou o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Marcelo Neri, a fala presidencial estará centrada numa suposta assimetria entre o que pensa a população, satisfeita com o aumento de renda e do poder de consumo, e os empresários, que seriam os pessimistas em relação aos rumos da economia. O que se apresenta como um confronto de percepções pode, na verdade, ser uma abordagem simplista de como o país é visto interna e externamente. Pesquisas sobre o nível de satisfação dos brasileiros revelam que a maioria está de fato satisfeita com suas condições de vida, apesar de explicitar descontentamentos com questões básicas, como os serviços de saúde ainda precários.
Mas não há conflito entre esse otimismo e a posição crítica de quem tem o dever de vislumbrar cenários para muito além da conjuntura. A preocupação que estará presente em Davos, entre os 4 mil participantes do evento, incluindo chefes de Estado, empresários, autoridades da área econômica e analistas internacionais, converge para uma interrogação: até quando o Brasil poderá sustentar tais níveis de satisfação, se vem tendo desempenhos pífios do PIB e adia iniciativas de responsabilidade do setor público para superação de gargalos estruturais? O Brasil otimista com a atual situação sabe que somente sustentará suas expectativas se dispuser de desenvolvimento sustentável e duradouro.
A presidente da República, na condição de economista, também sabe que bons níveis de consumo interno são indicadores positivos, com reflexos em produção e emprego, mas insuficientes para garantir o atendimento de todas as necessidades de médio prazo. O que Davos espera do Brasil é o grande salto, não com soluções mágicas, mas atitudes seguras, de política de Estado, que promovam avanços na educação, na gestão pública austera, na redução do Custo Brasil, na melhoria da infraestrutura e na conexão entre as ações de governo e os interesses da maioria. E tudo isso depende da capacidade de quem está no poder de não conspirar contra quem corre riscos e empreende.
Para promover educação, saúde, segurança e serviços básicos, os governos dependem de investimentos e esses somente se sustentam em ambientes seguros. A presidente falará na Suíça para formadores de opinião que interferem, direta ou indiretamente, nos grandes movimentos mundiais dos investidores. Será a esses espectadores, atentos aos rumos do país, que a senhora Dilma Rousseff irá dirigir sua mensagem. Esse público certamente não terá suas expectativas atendidas se a palestra se limitar à exaltação de otimismos internos. O investidor, nacional e estrangeiro, espera realismo, com as condições necessárias à tomada de decisões para projetos de médio e longo prazos.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Vocês serão recebidos de braços abertos pelo povo brasileiro”
Presidente Dilma Rousseff, em visita à sede da Fifa, confiante numa Copa histórica


MANIFESTANTES ATACAM VAN DE MINISTROS EM NATAL

O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), e o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento Industrial) levaram um susto na inauguração do estádio Arena das Dunas, em Natal. Acompanhados de ministros, eles seguiam para o estádio quando foram surpreendidos por um grupo de manifestantes que apedrejaram, picharam e tentaram derrubar a van em que estavam. O veículo teve o vidro quebrado.

CONTRA A COPA

O Arena das Dunas foi o primeiro a ser inaugurado após a Copa da Confederações. O Planalto teme mais protestos nos doze estádios.

MAIS UMA DOSE

Apesar do incidente, seguranças de Dilma e do governo saíram para comemorar “sucesso” da operação. Acabaram pegos pela Lei Seca.

SE DEU MAL

Flagrado na blitz, Victor Ciarlini tentou dar carteirada ao se identificar como sobrinho da governadora Rosalba (DEM-RN). Teve a CNH retida.

LOBBY

Petistas pressionam Dilma a substituir o chatíssimo Arlindo Chinaglia (SP) por José Guimarães (CE), na liderança do governo na Câmara.

ITAMARATY COMEÇA A PUNIR ASSÉDIO EM CONSULADO

O Ministério das Relações Exteriores indeferiu pedido de aposentadoria antecipada do diplomata César Cidade, ex-adjunto do consulado-geral do Brasil em Sidney (Austrália), acusado com o então titular do posto, embaixador Americo Fontenelle, de abuso moral e sexual. O caso foi revelado nesta coluna há quase um ano, mas até agora a sindicância não foi concluída. Ambos estão em Brasília tentando “saída honrosa”.

DIA DO CAÇADOR

O Itamaraty seguiu a letra da lei que impede a manobra, antes da concluir o processo disciplinar e, se for o caso, cumprimento da pena.

A HISTÓRIA SE REPETE

Fontenelle tenta culpar as vítimas para escapar de punição. Ele foi cônsul-geral em Toronto (Canadá) e respondeu pela mesma acusação.

ÓLEO IDENTIFICADO

Tem gente suspeitando que óleo de Peroba é tão abundante, no Palácio do Planalto, que vazou e escorreu até poluir o lago Paranoá.

NA PISTA

Ex-prefeito de Belo Horizonte, o engenheiro Aloisio Vasconcelos é cotado entre dirigentes do PMDB de Minas para substituir o deputado Antônio Andrade no comando do Ministério da Agricultura.

TELHADO DE VIDRO

O ex-ministro Ricardo Berzoini criticou Fernando Henrique no Twitter, por dizer que o mensalão tucano foi “apenas caixa 2”. Lula disse exatamente o mesmo em 2005, em Paris, sobre o mensalão do PT.

QUEIJO DO REINO

Presidente do PT em Recife, Oscar Barreto foi apelidado por petistas de “queijo do reino”: vermelho por fora e amarelo por dentro. Ele é secretario-executivo de Agricultura na gestão Eduardo Campos (PSB).

CONTROLE ABSOLUTO

No esforço do Planalto para evitar vaias, até deputados foram obrigados a enviar o número do RG para participar da inauguração da Arena das Dunas com a presença da presidente Dilma, em Natal.

DUAS VERSÕES

PMDB aposta que Cid Gomes (PROS-CE) pode apoiar Eunício Oliveira à sua sucessão, após faturar a Integração, mas o PROS espalha que o senador peemedebista quer mesmo é ser presidente do Senado.

INELEGIBILIDADE

Com a representação do PSDB junto à Justiça Eleitoral, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), pode ser declarado inelegível. Ele é acusado de abuso de poder e de fazer campanha antecipada.

CORRERIA

O governo Dilma ligou as turbinas e colocou a equipe de plantão para garantir que todas as emendas parlamentares estejam cadastradas em 120 dias, e com a execução do Orçamento Impositivo a pleno vapor.

ALÔ, ALÔ, MARCIANO

Aviso aos “rolezinhos” nos shoppings: ninguém é obrigado a comer o Mcdonald’s mais caro e pagar a mais alta carga tributária do planeta, num país de “classe média” que tem renda de R$ 720 por mês.

NEM FREUD EXPLICA

Deve dar nó na cabeça de Dilma Rousseff juntar-se aos “globalizados” em Davos, na Suíça, e depois encontrar os “fossilizados” de Cuba.

PODER SEM PUDOR

O DOMÍNIO PAULISTA

Certa vez, forças produtivas de Minas Gerais resolveram se rebelar contra o "domínio paulista na economia". Mas tudo caiu por terra, numa reunião, quando deram a palavra ao representante do Banco Nacional, destacado pelo ex-governador Magalhães Pinto. Achando aquilo meio ridículo, José Aparecido de Oliveira ponderou, irônico:

- Deveríamos ser gratos: afinal, quando chegamos em São Paulo, eles não nos pedem passaporte, aceitam nossa moeda e até falam a nossa língua...

SEXTA NOS JORNAIS

Globo: Burocracia retarda 79% das exportações industriais
Folha: Na Argentina, peso registra maior queda desde 2002
Estadão: Ação na Cracolândia abre crise entre Prefeitura e Estado
Correio: Casados na saúde, nos negócios e no ministério
Jornal do Commercio: Mais orientadores nas ruas do Recife
Zero Hora: Transporte aéreo na Copa – Preço de passagens cai até 86%
Brasil Econômico: BC indica freio na alta dos juros