sexta-feira, março 09, 2012

Cardeal Orani - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 09/03/12
Até o fim do ano, Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, será elevado a cardeal.
O Papa não pode visitar uma cidade que não seja “sede cardinalícia” — e, como se sabe, Bento XVI virá ao Rio em 2013.

Bento e Eugênio...
Aliás, o Vaticano já decidiu. O Papa ficará hospedado no Sumaré, com o amigo Dom Eugênio Sales, que vive ali.
Já sua comitiva vai ficar no Mosteiro de São Bento.

E ainda...
O Vaticano cortou a cerimônia de entrega de chaves da cidade, proposta por Sérgio Cabral e Eduardo Paes.
Afinal, o Papa não é Rei Momo. A única autoridade que receberá Bento XVI é Dilma, no Palácio Laranjeiras.

Mulheres no leme
Giovana Morais, da Transpetro, teve motivo especial, ontem, para festejar o Dia da Mulher.
Foi promovida a capitã de cabotagem e é a segunda brasileira habilitada a comandar um navio da Marinha Mercante. A pioneira, Hildelene Bahia, também foi promovida: agora é capitã de longo curso e pode comandar navios em águas internacionais.

Marcha, soldado
Veja como as nossas Forças Armadas padecem de recursos. Quarta, no Colégio Militar do Rio, na Tijuca, além do calor de 35 graus nas salas sem ar-condicionado, não havia... água para beber.
Na hora do recreio, as cantinas aumentaram o preço da garrafinha de água para R$ 2.

Verissimo na Flip
Mestre Luis Fernando Verissimo topou fazer uma participação dupla na Flip 2012.
Falará na Flipinha e na Tenda dos Autores. Nosso Verissimo é recordista na festa do livro, em Paraty: esteve na primeira, em 2003, em 2004, 2005 e 2008.

Cidade da Música
Cláudio Petraglia, do Polo Rio Cine & Vídeo, não desistiu da licitação para administrar a Cidade da Música.
Participará da concorrência pelo Instituto Harmonya do Brasil, que também preside.

Xingu, o filme
A revista americana “Screendaily” publicou crítica em que chama “Xingu”, de Cao Hamburger, de “filme épico poderoso”.
As atuações de Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat nos papéis dos irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas também foram elogiadas. O longa foi selecionado para o Festival de Tribeca, em abril, em Nova York. Estreia no Brasil dia 6.

De volta
O carioca Paulo César Bernardes, publicitário e músico, está de volta ao Rio.
Vai comandar a agência África na cidade


LEANDRA LEAL e Mariana Ximenes, as lindas atrizes, encenam um chamego nas filmagens de “O uivo da gaita”, longa de Bruno Safafi e Ricardo Pretti, coproduzido pelo Canal Brasil. As duas serão Luana e Antônia, amigas que vivem um caso de amor. O filme, que estreia em 2013, é inspirado em produções de Júlio Bressane e Rogério Sganzerla nos anos 1970. Foi rodado em sete dias no Píer Mauá e na Casa das Canoas, no Rio


Ponte Betinho
Começou a tramitar ontem na Câmara o projeto 3388, que dá à Ponte Rio-Niterói o nome de Herbert de Souza, Betinho, no lugar de Presidente Costa e Silva.
É de autoria de nove deputados do PSOL, do PT e do PSB, integrantes da Comissão de Direitos Humanos, e atende a pleito de várias entidades, como Ibase, Teatro do Oprimido, Iser, Tortura Nunca Mais e Justiça Global.

Denúncia
O promotor Márcio Almeida denunciou ontem a delegada da Polícia Civil do Rio Daniela Rebelo por desacato.
Em janeiro, Daniela se envolveu em confusão com um oficial da PM numa blitz da Lei Seca, na Barra. O inquérito que apurou se o policial militar cometeu abuso de autoridade foi arquivado.

Sois rei
O príncipe Harry, do Reino Unido, dará uma entrevista exclusiva para Luciano Huck, amanhã, no Complexo do Alemão.
Vai ao ar dia 17.

Rio sem armas
Uma montanha de 150 mil armas usadas em crimes no Rio deve ser destruída em breve.
A destruição ficará a cargo do Exército e da Polícia Federal, em convênio do TJ-RJ com o Ministério da Justiça, costurado pelo deputado Alessandro Molon.

Cena carioca
Ontem, uma camelô vestida de Griselda, personagem de Lília Cabral na novela “Fina estampa”, gritava assim ao vender ferramentas, em Copacabana:
— Chave de grifo para estraçalhar o Pereirinha da sua vida! Viva o Dia da Mulher!

Presente de grego - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 09/03/12


A votação do Senado foi a estreia de um novo ciclo de guerra interna no PMDB. A liderança de Renan Calheiros está em xeque. Não por acaso, Dilma pretende ampliar sua interlocução dentro do partido e ver como desviar seu governo das balas perdidas


A presidente Dilma Rousseff acordou de cabeça quente ontem, Dia Internacional da Mulher, tratando de mapear os erros que levaram à derrubada do nome de Bernardo Figueiredo da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O primeiro deles se refere à redoma em que vivem os comandantes meio avessos a ouvir os políticos. Ninguém lhes diz sem rodeios que o caos está instalado. Os líderes geralmente ficam no cerca-lourenço, "olha, tem um probleminha, mas nada grave" e por aí. Há vários dias, o Planalto recebe uma série de avisos de que nada vai bem no PMDB e nos partidos aliados. Não faltaram alertas sobre mais dia, menos dia, o governo ser surpreendido no plenário. Mas Dilma estava na Alemanha e, antes disso, tão requisitada a ajudar o PT a resolver São Paulo, esqueceu de verificar cuidadosamente o que ocorria entre os senadores.

O segundo problema era o PMDB. E, nessa seara, os entraves não dizem respeito apenas à relação de Dilma com o partido. Há tempos o partido vive uma guerra fria entre líderes e liderados. Os novos senadores, em sua maioria ex-governadores, desejam ter mais voz ativa. E os atuais comandantes, o líder da bancada, Renan Calheiros (AL), e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não querem perder o poder.

Ocorre que nenhum deles tem hoje um controle direto sobre a bancada como na Legislatura anterior. Entre aqueles que têm um ano de mandato e alguns mais antigos, há uma sensação generalizada de que os líderes do partido na Casa só trabalham para si mesmos. E parte do grupo dos novatos achava que uma derrota de Dilma, poderia ajudar a desestabilizar a liderança de Renan ao ponto de levar o Planalto a ouvir os outros senadores, em vez de ficar restrito à cúpula partidária.

Por falar em cúpula...
Dentro da própria ala que hoje comanda o PMDB também havia o sentimento de "dar um susto" em Dilma. Antes da votação, Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, comentou com alguns colegas sua expectativa de levar o governo à vitória por um único voto. E, numa votação secreta, seu plano era perfeito: um placar apertado daria a Jucá e Renan o momento ideal para dizer ao Planalto que havia uma necessidade de dividir mais o jogo com eles. E, assim, esses líderes não perderiam a capacidade de comando. Como o resultado foi além do esperado, eles perderam o tom e Dilma passou a achar que nem Renan nem Jucá controlam o PMDB.

Essa não foi a primeira vez que os comandantes do PMDB tentaram usar de artifícios regimentais para dar um susto na presidente Dilma. Na votação da regulamentação da Emenda nº 29, aquela que amplia a aplicação de recursos na área de saúde, o governo não caiu na armadilha por muito pouco. Os peemedebistas tentaram convencer o Planalto de que era preciso manter a urgência. A derrota na votação era certa e os senadores terminariam aprovando a obrigatoriedade de o governo federal aplicar 10%. Alertado por outros senadores, o Planalto recuou e retirou a urgência da proposta. E, com um pouco mais de tempo para negociar, o governo saiu vitorioso.

A sensação que ficou entre alguns senadores ontem é a de que o Planalto foi induzido ao erro ao não apostar no adiamento da votação do nome de Bernardo para a ANTT. Se adiasse e organizasse melhor o jogo, o governo poderia ter vencido. Agora, entretanto, não adianta mais reclamar e sim evitar que isso se repita. Não por acaso, a presidente chamará outros senadores para conversar sobre a votação, a fim de ouvir o que pode ser feito e tentar decifrar o que pode fazer para que a guerra nas coxias peemedebistas não afete seu governo.

Por falar em coxias...
Da parte dos caciques, a ordem é tentar reorganizar o PMDB jogando o PT na roda: Renan, Sarney e Jucá não se esquecem de repetir que o PMDB só terá força se mantiver a unidade. Ocorre que esse discurso funcionou até o ano passado. Agora, não cola mais. Tudo indica que estamos diante de um novo ciclo de desavenças dentro do PMDB. E, quando isso acontece, sempre quem paga o pato é o governo federal.

Foi assim com Fernando Henrique Cardoso, foi assim com Lula, e, agora, chegou a vez de Dilma. Por coincidência, no Dia Internacional da Mulher, sobrou para Dilma uma corbélia de problemas. E, se pensarmos bem, leitor, no mundo dos homens em que ela vive, até a palavra flores representa encrenca. Basta ver a queda de braço entre o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendime, e o presidente da Previ, Ricardo Flores. Mas essa é outra história.

Corte e costura - SONIA RACY

O ESTADÃO - 09/03/12


O Ministério Público do Trabalho propôs ação civil pública de R$ 5 milhões contra a Casas Pernambucanas. Pede indenização por suposto uso de trabalho análogo ao escravo, em sua maioria o de bolivianos.

A investigação começou em 2010, e a empresa recebeu 41 autos de infração, entre eles degradação do ambiente, jornada exaustiva de trabalho e servidão por dívida.

Segundo o MPT, a empresa não reconhece responsabilidade pelo[TEXTO]s trabalhadores. Alega que apenas compra as peças de fornecedores.

Pró-mulher
A obrigatoriedade de os serviços de saúde notificarem todo e qualquer caso de violência completou aniversário esta semana. E a exigência fez com que o índice aumentasse 35%.

Entre as mulheres, segundo dados do Ministério da Saúde, a agressão mais comum é física (65,4%), seguida pela psicológica (29,8%) e sexual (18,3%).

Fogo amigo
Registrado por um petista: quem defendeu a aliança com Kassab está sendo escanteado na campanha de Haddad.

Eco do futuro
Vestido de ciclista, José Police Neto foi barrado, segunda, por seguranças à porta do WTC, onde tinha reunião. Argumento? O presidente da Câmara paulistana jamais andaria de bike.

Para resolver a questão, o oficial da PM que sempre o acompanha (também de bicicleta) teve de se identificar.

Eco 2
Dia seguinte, na avenida 23 de Maio, Police Neto foi “fechado” por um carro. Seu segurança acelerou a bike, parou o infrator e… discursou-lhe parte do Código de Trânsito.

Assustado, o motorista jurou mudar de atitude.

Tensão no ar
Servidores da Fundação Casa (antiga Febem) estão com argumentos na ponta da língua para propor greve hoje na assembleia geral da categoria.

Além de redução da jornada, equiparação salarial e fim da superlotação, há pedidos mais simples, como água potável, café de qualidade, canetas que escrevam, fim do banheiro unissex…

Tudo meu
As franquias Armani no Brasil estão sendo canceladas. Não, as grifes Giorgio Armani e Emporio Armani não deixarão o País. Trata-se do fim dos intermediários.

A marca decidiu assumir a operação. O que deve resultar em redução de preços. Deve…

Fora de foco
Manifestantes desistiram de protestar em frente ao Ministério do Meio Ambiente – na mobilização de quarta, em Brasília, contra o Código Florestal.

Fora de foco 2
Ao tentar reuni-los,Mario Mantovani, do SOS Mata Atlântica, convenceu-se da inutilidade da manifestação. “Defendendo o projeto do Senado, o ministério mostra ser realmente do ‘Meio’. Quer meia APP, meia anistia, meia recuperação de reserva legal. Ou seja: tudo meia-boca.”

Batalha solo
Tripoli trabalha, no Congresso, para mudar o voto dos tucanos que tendem a aprovar o Código – seguindo o governo e os ruralistas.

A arte dos bons negócios
A Tefaf, uma das maiores feiras de arte e antiguidades do mundo, completa 25 anos. Em conversa por telefone com a coluna, de Londres, Ben Janssens adiantou alguns flashes do evento que acontece, a partir do dia 15, em Maastricht, na Holanda.

Haverá surpresas este ano?

Planejamos uma espécie de retrospectiva, uma exposição com 25 amostras do que trouxemos a Maastricht nesses anos todos. Também lançaremos um livro especial para a data. A grande novidade, entretanto, é a criação de um fundo para restauração de obras. Os grandes museus poderão pleitear restauro de algum trabalho ou pintura – e os custos serão arcados pela própria Tefaf.

Já há inscritos?

Sim, temos vinte inscrições. E selecionamos duas, que virão a público logo, logo.

No começo de 2011, o senhor afirmou que a crise não atingiria o mercado de arte. Isso realmente aconteceu?

Tivemos alguns reveses no ano passado, mas me sinto muito otimista sobre a feira. Principalmente no que se refere ao mercado de arte moderna. Tem muita gente aproveitando a oportunidade para investir em arte. Compram não apenas porque gostam, mas porque enxergam ali um nicho importante de valorização do ativo. Trata-se de uma alternativa ao ouro e ao mercado financeiro, que andam extremamente instáveis.

A China tem sido a grande alavancadora de preços?

Sim, os chineses tem sido compradores muito vorazes. Eles gostam de colecionar arte. Nesses últimos anos, temos feito muitas coisas com os asiáticos e fiquei impressionado com o interesse deles pela feira. Por outro lado, existe grande desenvolvimento e valorização da arte chinesa – especialmente no que diz respeito a antiguidades.

O senhor pensa em replicar a feira em outros lugares? Na China, talvez?

A cidade de Maastricht é tão única. Preferimos nos concentrar lá. Talvez, no futuro, pensemos em outro lugar. Nosso foco, por enquanto, é fazer as pessoas virem a Maastricht viver essa experiência.

Qual o segredo para manter-se no topo da pirâmide de arte durante 25 anos?

Muito trabalho (risos). A verdade é que manter o nível da feira depende também da qualidade dos visitantes e expositores. E mais: ela só existe se houver negócios. Esperamos muitos brasileiros por lá.

GOSTOSA


PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


7h - CSKA Moscou x Dínamo de Moscou, Campeonato Russo, ESPN Brasil

10h45 - Mundial indoor de atletismo, Sportv 2

16h30 - Stuttgart x Kaiserslautern, Campeonato Alemão, Bandsports

16h45 - Napoli x Cagliari, Campeonato Italiano, ESPN

18h45 - PGA Tour, golfe, ESPN

19h15 - Jogo das Estrelas, NBB, Sportv 2

21h - Rio de Janeiro x Osasco, Superliga fem. de vôlei, Sportv

22h30 - LA Clippers x San Antonio Spurs, NBA, ESPN e ESPN HD

Manobras contábeis nas contas públicas - EDITORIAL O GLOBO

O Globo - 09/03/12


O compositor Tom Jobim costumava dizer que "o Brasil não é para amadores". Ele se referia a facetas dos usos e costumes nacionais, como o de leis que não "pegam", do parece que é, mas não é, e vice-versa. A arguta constatação tem sido comprovada no cotidiano de incontáveis atividades. Sequer a análise econômica escapa. Se um economista desavisado, um "amador", se debruçar sobre a contabilidade pública, sem considerar peculiaridades da inventividade na montagem de números sob medida para melhorar a imagem do governo, ele será vítima do "teorema de Tom": nenhum não "profissional" em coisas nossas, de qualquer ramo, conhecerá o verdadeiro Brasil.

O bloqueio de R$ 2,96 bilhões do FGTS, numa decisão unilateral do governo, pode ter várias interpretações. A mais direta e superficial é que se trata de um confisco ilegal, inaceitável, de dinheiro do trabalhador. Mas, diante da reação de sindicatos, noticiada pelo GLOBO, o governo prometeu remunerar o dinheiro acima da taxa Selic, um pedágio pelo uso dos recursos. Assim, revoga-se a ideia da tunga, mas não se consegue esconder a verdadeira intenção da manobra: inflar o superávit primário, num ano em que o governo está pressionado pelo impacto bilionário do aumento de 14% do salário mínimo e por sua própria índole de gastar cada vez mais em despesas de custeio.

Estes bilhões do FGTS, oriundos de um adicional cobrado sobre demissões sem justa causa, para financiar reposições de perdas causadas por dois dos pacotes dos tempos de superinflação (Planos Verão e Collor I), já foram até contabilizados nos R$ 55 bilhões de "cortes" no Orçamento anunciados pelo ministro Guido Mantega. Ou seja, bilhões de propriedade alheia, do FGTS, para embonecar o superávit primário. Pelo "aluguel" dos recursos anunciado pela ministra Ideli Salvatti, depois da grita sindical, é que se pagará mais que os juros básicos. Mas não resolve o problema de fundo: a maquiagem das contas públicas.

Cumprir a meta de pouco mais de 3% do PIB de superávit primário, para financiar o máximo possível do pagamento da conta de juros da dívida interna, é imprescindível na construção de uma imagem de seriedade fiscal do Planalto - mesmo que, para isso, seja necessário levar as estatísticas a uma funilaria ou torturar os números. É devido a esta "contabilidade criativa" que o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, costuma calcular o "superávit primário ajustado", depois que as autoridades divulgam seus números - para os "amadores". Há dúzias deles em Wall Street, no FMI, Bird, na City londrina. Em artigo na "Folha de S.Paulo", Schwarstman afirmou que o superávit de 3,1%, de 2011, cai para 2,5% quando deduzidas as inclusões de recursos inadequados para efeito deste tipo de cálculo.

Somam-se ao bolo, por exemplo, os depósitos judicais, e até a cessão de direitos de exploração à Petrobras no pré-sal virou "receita". O objetivo é sempre o mesmo: mascarar os anunciados ajustes fiscais, nunca tão profundos na realidade como previstos. Neste jogo de espelhos em que a contabilidade pública está se convertendo, há, ainda, um orçamento paralelo que injeta massa enorme de recursos de dívida pública no BNDES, contabilizados apenas na dívida bruta, pouco acompanhada no Brasil. É difícil o ofício de tentar entender o que se passa de fato nas finanças públicas. E cada vez mais, à medida que as margens para continuar a gastança se estreitam.

Aos trancos e barrancos - MONICA B. DE BOLLE


O Estado de S.Paulo - 09/03/12


O Brasil precisa "se donner un coup de pied aux fesses", disse Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, para grande mal-estar dos brasileiros, que tomaram a frase ao pé da letra. Apesar do faux pas, da gafe do francês, a expressão não tem o significado grosseiro que muitos lhe atribuíram. Usada coloquialmente, quer dizer "dar-se um tranco, uma sacolejada". A julgar pelos últimos resultados macroeconômicos e pelas ações de política econômica do governo, é isso o que o Brasil vem fazendo consigo mesmo. Não importa em que idioma.

A presidente e o ministro da Fazenda disseram que o crescimento de apenas 2,7% do PIB em 2011 foi baixo porque o quadro internacional nos prejudicou. E a inflação - de 6,5%, cravada no teto da meta - foi alta porque... o cenário externo nos prejudicou. O ambiente lá fora realmente foi bastante hostil no ano passado. Altas expressivas das commodities no início do ano, uma tragédia no Japão, o rebaixamento da classificação de risco dos EUA por causa das tortuosas discussões sobre a elevação do teto da dívida e as ameaças de calote e colapso bancário na Europa. Mas o nosso foi o pior desempenho entre os Brics. A China cresceu 9,2%; a Índia, em torno de 7%; a Rússia, ao redor de 4%. Ao menos no quesito inflação perdemos apenas para a China, que registrou uma alta de preços de 5,5% em 2011. Diante disso, pela lógica, a explicação das autoridades não pode ser exaustiva, a turbulência externa não foi a única causa do desempenho desalentador do primeiro ano de governo da presidente.

O que mais, então, ajuda a esclarecer o que está acontecendo com a economia brasileira? O câmbio valorizado? Os problemas de infraestrutura? A carga tributária? A baixa produtividade da mão de obra? Decerto, todos esses são fatores relevantes e, por isso, têm sido citados frequentemente como a fonte das agruras do setor industrial.

Mas há outro problema. Em outros tempos, nos longínquos anos 70 e 80, ele era conhecido como políticas de "stop and go", isto é, medidas econômicas de curto alcance que eram usadas para atingir objetivos contraditórios simultaneamente, como o de impulsionar o crescimento e combater a inflação. Muitos acreditam que foram essas políticas, junto com os choques do petróleo da década de 70, que causaram a grande estagflação americana - o período de crescimento baixo com inflação alta que caracterizou aquela época.

Assim como a expressão em francês usada no início deste artigo perde o seu verdadeiro sentido quando traduzida de forma literal para o português, verter stop and go para o nosso idioma, sobretudo para o seu significado no Brasil de Dilma, não é tão simples. A versão tropical de stop and go é o título do (único?) samba de Raul Seixas, título deste artigo. Aos trancos e barrancos. Foi assim que conduzimos a política econômica no Brasil em 2011, é assim também que estamos fazendo agora. A inflação subiu? Apertemos o crédito com medidas macroprudenciais, seguremos os gastos, para não precisar elevar tanto os juros. O crescimento engasgou mais do que se imaginava? Baixemos os juros, impulsionemos o crédito por meio dos bancos públicos, façamos medidas pontuais para estimular a indústria. A trajetória futura da inflação está desancorada, como mostram, hoje, as expectativas para o ano que vem? Esperemos mais um pouco para fazer algo. No momento temos de priorizar a atividade. E assim vamos. Aos trancos e barrancos.

Trancos e barrancos desorganizam a economia. A gangorra dos instrumentos de política econômica, as incertezas sobre o que o governo usará, desta vez, para estimular a atividade, o vaivém dos dados macroeconômicos que resultam destas dúvidas, tudo isso prejudica o planejamento das empresas, dificulta a administração dos fluxos do setor privado, turva os horizontes e reduz os incentivos ao investimento.

O samba composto por Raul Seixas, o maluco beleza, em 1971, termina assim: Eu não vou levando o nosso leite / troquei por um bilhete / da roleta federal. Eu vou pela pista do aterro / e nem vejo o meu enterro / que vai passando no jornal. Vamos que vamos.

A profecia: a nova bolha - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 09/03/12

É comum ler economistas de bancos espinafrar bancos, bancos centrais e observar como a política econômica é sequestrada pelos patrões deles -isso é comum no exterior, explique-se. Ao vivo, em conversa informal, alguns desses tipos mais divertidos e/ou inteligentes são ainda mais descarados na ironia ou no sarcasmo amargos, em especial depois do desastre de 2008.

Um desses tipos mais "pop" (na imprensa e TV financeiras) é Bob Janjuah, pessimista crônico ("bear"), analista ("chefe de alocação tática de ativos") do Nomura, bancão e corretora etc. do Japão.

Vale citar um relatório de Janjuah, de fim de fevereiro, a respeito do presente desarranjo financeiro mundial, uma opinião, aliás, nada rara entre seus colegas.

Grécia e eurozona: "As políticas parecem centradas na proteção e na preservação de interesses particulares, com pouca consideração pelas terríveis condições em que o povo da Grécia e outros "periféricos" são forçados a viver. No entanto, os líderes europeus estão para colocar [e colocaram] ainda mais dinheiro no buraco sem fundo que é a Grécia, principalmente a fim de ajudar os bancos da Europa, ao custo talvez de uma década de sofrimento da populaça grega".

Sobre a troca forçada de governos na Itália e na Grécia, em 2011, que Janjuah chama de "totalitarismo": "Esse não é só um fenômeno da eurozona, mas é evidente que a remoção de governos eleitos para dar lugar a tecnocratas bem enturmados que simplesmente servem aos interesses da elite tornou-se uma especialidade da Europa".

O poder da banca: "Os bancos seriam tão poderosos que nós todos estaríamos presos a eles e ao maior dos "nonsenses", o de que calotes ["defaults"] nunca deveriam acontecer (a menos que sejam triviais e muito insignificantes)?".

Janjuah espezinha as políticas de Mario Draghi e Ben Bernanke (presidentes do Banco Central Europeu e dos EUA, o Fed, respectivamente). Diz que os bancos centrais ajudaram a criar a crise que estourou de vez em 2008, pois mantiveram os juros muito baixos por muito tempo, o que provocou péssima alocação de capital e, enfim, bolhas. Draghi e Bernanke estariam agora repetindo e aumentando a dose, com "impressão" maciça de dinheiro.

"Tais bolhas servem para criar a ilusão de que estamos "mais ricos" [devido ao aumento do preço de ações e outros ativos financeiros, o que pode criar uma confiança artificial e despesas excessivas]."

Bolha: "Admitindo que estamos de novo em outra disparada [nas Bolsas etc.] movida a liquidez [dinheiro dos BCs], cortesia de Draghi e Bernanke, então precisamos lembrar de umas coisas. Primeiro, tais disparadas podem durar dias, semanas, meses, talvez até 2013... Segundo, quando procurar onde as bolhas estão, pense o seguinte: elas estão em todo lugar. Terceiro, quando essa bolha estourar, não vai haver saída fácil. Quem virá com o dinheiro de socorro [Janjuah diz que governos já estão superendividados, e os BC, lotados de empréstimos]?".

Sinal dos tempos: "O fim da bolha será sinalizado pela anarquia monetária, que vai criar mais inflação na economia real, ou pelo colapso deflacionário do crédito...".

Por fim: Janjuah não é um esquerdista infeliz a soldo da banca. É um economista padrão, "liberal".

Liberdade x igualdade - JOÃO MELLÃO NETO


O Estado de S.Paulo - 09/03/12


Um debate ideológico que já estava esgotado na maioria das nações civilizadas voltou. E voltou com especial virulência. É a monótona discussão entre a direita e a esquerda, que parecia de início não ter sobrevivido à passagem do século. Ao que se percebe, agora, é que ela se tem limitado ao Continente Americano. A novidade, desta vez, é a entrada em cena do conflito também no seio dos Estados Unidos.

Nós, aqui, na América Latina, sempre cultivamos heróis e mártires que combinavam em seu discurso nacionalismo, esquerdismo, e antiamericanismo. Só mesmo por aqui poderiam ter dado certo o populismo e a Teologia da Libertação. A tese que os dois defendem é de fácil assimilação: "Somos pobres, sim, mas por culpa deles!". E quem são eles? A resposta já vem na ponta da língua: "Os imperialistas que desde sempre nos exploraram". Sejam eles quem forem: os portugueses, os espanhóis, os ingleses, os norte-americanos e, em breve, os chineses. Ora, se na lamuriosa América Latina - um subcontinente em que quase todas as nações adquiriram a sua independência há quase dois séculos - esse tipo de discurso ainda faz sucesso, algo não vai bem na saúde mental de seus povos. Parecem fazer parte da nossa cultura a paranoia e a terceirização das responsabilidades.

Nós acreditávamos ingenuamente que todas essas doenças infantis de nossa civilização já tinham ficado para trás. Qual não tem sido a nossa surpresa ao perceber que elas voltaram. Na Venezuela - onde há tanta abundância de petróleo e tamanha carência de estadistas - quem ocupa o espaço público é um esperto coronel que há 14 anos se mantém no poder sob o pretexto de estar implantando o "socialismo bolivariano". Como ninguém sabe exatamente do que se trata, e enquanto a oposição permanecer desunida, ele se vai perpetuando no comando. Hugo Chávez conta com a bênção de Fidel Castro. Aliás, basta acenar com ajuda econômica que os irmãos Castro abençoam todo mundo.

Na Bolívia há um ditador que afirma estar no poder para lutar pela restauração de uma civilização indígena que nunca foi, de fato, uma civilização. No Paraguai, o governante é um prolífero (e promíscuo) bispo progressista. Na Argentina há uma presidente populista que governa dentro da mística trágica e melodramática do peronismo. No México um líder radical de esquerda por muito pouco não venceu as eleições presidenciais. Nas universidades de todo o continente ainda há muita gente que acredita que Salvador Allende foi um bom presidente do Chile. O Uruguai é governado pelos legendários tupamaros. E, por fim, temos o próprio Brasil, que há quase uma década vem sendo governado por uma elite que diz estar lá justamente para nos defender das elites.

Esquerdismo e populismo não são apenas uma rima, são também uma fórmula política. Uma música que faz sucesso, não importa quantas vezes é reeditada, sempre faz sucesso. Desacatar um embaixador norte-americano, vociferar contra um primeiro-ministro inglês, falar mal em público do presidente dos Estados Unidos, tudo isso é recebido com entusiasmo por aqui. Faz bem à nossa tão propalada "macheza latina".

O que não se esperava é que coisas assim chegassem ao Hemisfério Norte. O atual presidente, oriundo do Partido Democrata, tem-se revelado tão desastrado que logrou uma verdadeira proeza: conseguiu fazer os setores mais obscurantistas da sociedade norte-americana serem ouvidos, ganharem respeito, e acabarem por ter influência decisiva na política nacional. Vale lembrar que, na nomenclatura de lá "liberal" não significa a mesma coisa que no resto do mundo. Os liberais norte-americanos equivalem aos social-democratas, gente que se situa à esquerda no espectro ideológico.

Mas, afinal, o que significa, de fato, ser de direita ou ser de esquerda? Sem me alongar em maiores detalhes, o que existe na sociedade são duas concepções de mundo logicamente impecáveis e realistas, mas inconciliáveis em grande parte: é a liberdade em contraposição à igualdade. Estas são as duas maiores aspirações da sociedade desde o Iluminismo, foram muito bem resumidas por Rousseau e acabaram sendo insculpidas no pavilhão da Revolução Francesa.

Acontece que esses dois princípios, em parte, se excluem entre si. Os seres humanos não nascem todos iguais. Eles diferem em talento, capacidade e empenho. Numa sociedade que aplica o princípio da igualdade como valor maior, os melhores não se poderão destacar e o sistema será opressivo para eles.

Por outro lado, numa sociedade em que a liberdade se mostrar total, alguns se sairão melhor do que outros. Em consequência, eles se tornarão cada vez mais ricos. E assim se gerará a desigualdade.

A questão permanece inconclusa 200 anos depois: a esquerda defende a igualdade, os direitos sociais e a ideia de que os mais fortes têm a obrigação de ajudar os mais fracos. Já aos olhos da direita as questões que importam são bem distintas. A direita defende a liberdade, os direitos humanos e o direito de cada um vencer na vida e buscar a felicidade à sua maneira.

No ano passado ocorreu um célebre diálogo entre os presidentes dos Estados Unidos e da China, as duas maiores potências do planeta. A China adotou o capitalismo sem grande convicção, apenas por entendê-lo como útil para o desenvolvimento econômico e para não ficar atrasada em relação às outras nações. Já os Estados Unidos fazem do capitalismo o seu próprio modo do de ser.

Barack Obama questionou Hu Jintao sobre as recorrentes violações dos direitos humanos e da democracia na China. Hu Jintao, diplomaticamente, reconheceu a importância desses assuntos, mas disse que, por enquanto, isso não é prioridade. "Prioritário, para nós, é alimentar, vestir e abrigar o povo chinês".

O papelão - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 09/03/11


A decisão de que a criação do Instituto Chico Mendes era inconstitucional, colocando sub judici centenas de leis, oriundas de medidas provisórias, não foi a primeira decisão estapafúrdia adotada pelo STF. Em abril do ano passado, a Suprema Corte também voltou atrás no caso de quem assumiria a vaga na Câmara em caso de licença do titular. O tribunal definiu primeiro que a vaga era do partido. Depois, diante de protestos generalizados, manteve a regra de que a vaga é da coligação.

Ajustando os ponteiros
Um dia após sofrer uma derrota no Senado e na iminência de novo revés no Código Florestal, a presidente Dilma conversou ontem, durante uma hora e meia, com o vice Michel Temer. Ele explicou que os parlamentares do PMDB querem tratamento igualitário aos do PT no governo. E demonstrou que não era "coisa do PMDB" a não recondução do diretor-geral da ANTT. Dilma decidiu que na terceira semana de março iniciará uma rodada de conversas com os líderes aliados. Sobre as eleições municipais, Dilma reafirmou que o governo não vai entrar em campo, sobretudo onde a base aliada tiver vários candidatos.

"Seria um caos jurídico brutal. Tá na cara que a oposição usaria isso. Ia ser um pandemônio” — Nelson Jobim, ex-presidente do STF e ex-ministro da Justiça (governo FHC) e da Defesa (governos Lula e Dilma)

OS RESPONSÁVEIS. Para o ex-ministro Nelson Jobim, os responsáveis pela situação criada, caso o STF não tivesse voltado atrás, seriam os sucessivos presidentes do Senado desde 2001, que tinham o dever regimental de criar as comissões mistas para apreciar as MPs. Ele culpa também os líderes do governo no Congresso e os diversos ministros de articulação política: "Esses caras sempre querem atropelar tudo."

Ironia
A Associação Nacional dos Servidores do Ibama foi salva pelo gongo de dar um tiro no própria categoria com a reviravolta no STF. A decisão anterior colocava sub judice a criação do Plano de Cargos e Salários dos funcionários do órgão.

Dejà vu
Se o STF não revisse sua decisão, o governo Dilma teria que reviver temas polêmicos: o plantio da soja transgênica, a proibição dos bingos e caça-níqueis, a política do salário mínimo, e as leis relativas à Copa de 14 e às Olimpíadas de 16.

Balde de água fria
Diante da reação do setor empresarial, a presidente Dilma desistiu de sancionar, na próxima terça-feira, projeto de lei que multa as empresas que pagarem às mulheres salários inferiores aos dos homens quando exercerem as mesmas funções. O argumento dos empresários é que a lei é muito genérica e provocará uma enxurrada de ações judiciais. A proposta será remetida à Comissão de Assuntos Econômicos para ajustes, e Dilma irá ao Senado na terça só para receber o prêmio Bertha Lutz.

Cobrança
Deputados do PT falam cobras e lagartos dos senadores do partido, por causa do líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO). Dizem que o presente de Carlinhos Cachoeira para Demóstenes é tema para o Conselho de Ética.

Fermento
A nota com ataques à presidente Dilma, que tinha o apoio de 98 militares da reserva, conta agora com 87 generais, um desembargador do TJ do Rio, 474 coronéis, 110 tenentes-coronéis, 21 majores, 48 capitães, 62 tenentes e 458 civis.

O PSDB mineiro entrou com ação no TSE pedindo a perda de mandato do senador Clésio Andrade (ex-PR), que no dia 19 se filia ao PMDB. A mudança de partido recebeu aval de uma consulta ao TSE.

OS TUCANOS mineiros alegam que a vaga do titular, o falecido senador Eliseu Rezende (DEM), é da coligação, cabendo a cadeira não para o PMDB, mas para o segundo suplente, Antonio Aureliano (PSDB).

EMENDA do senador Pedro Simon (PMDB-RS) à criação do Funpresp diz que seus dirigentes devem ter ficha limpa e não serem filiados a partidos.

Cenas obscenas - NELSON MOTTA


O Globo - 09/03/12


No seu clássico "Vale tudo", Tim Maia dizia que só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher, mas o verso valia como ritmo e sonoridade, não como discriminação, e ele logo completava, às gargalhadas: "Mas é só até as 21 horas, porque depois tá liberado geral!"

É o tema musical das próximas campanhas municipais. O PT paulista quase "amanheceu de mão dada" com Kassab, numa ousada metáfora sexo-política de Martha Suplicy, que talvez prefira dar a mão a Netinho de Paula. O PR de Waldemar Costa Neto ameaça lançar Tiririca candidato para alguma coisa entre achaque, venda de tempo de TV e chantagem eleitoral. Mas quanto vale, e quanto pesa, um apoio desses? Que fins justificam esses meios? Nos jornais, Edinho Silva, presidente do PT paulista, exalta "a arte da politica". Mas, se isso é arte, o que seria entretenimento? E pornografia?

No Rio, os jornais publicaram a cena obscena dos arqui-inimigos César Maia e Garotinho abraçados, com seus sorrisos de jacaré, fingindo que esqueceram tudo que um já disse do outro nos últimos vinte anos, com acusadores e acusados chafurdando na mesma lama. Agora eles estão unidos por um nobre objetivo: ganhar a Prefeitura do Rio. Pela renovação dos quadros, injetam sangue novo na politica, com a chapa Rodrigo Maia, filho de César, para prefeito, e para vice, Clarissa, filha de Garotinho.

Realiza-se a nefasta profecia do humor carioca, feita no casamento do filho de César Maia com a enteada de Moreira Franco, quando um grupo protestou na porta da igreja exibindo faixas de "Por favor, não procriem!" Agora são os frutos políticos da união dos Maias e Garotinhos que ameaçam o Rio de Janeiro, já tão infelicitado pela dupla de patriarcas.

Ainda bem que, salvo desastre catastrófico, o prefeito Eduardo Paes vai ser reeleito com uma maioria esmagadora. Porque a população do Rio de Janeiro está testemunhando a recuperação e o desenvolvimento da cidade, que vive um de seus melhores momentos, numa conjuntura econômica favorável, com apoio estadual e federal. E, apesar dos velhos e novos problemas, tem o seu melhor prefeito das últimas décadas.

GOSTOSA


É preciso correr, adverte a ciência - WASHINGTON NOVAES


O Estado de S.Paulo - 09/03/12


Deveria ser leitura obrigatória para todos os governantes, de todos os níveis, todos os lugares, o documento de 22 páginas entregue no último dia 20 de fevereiro, em Nairóbi, no Quênia, aos ministros reunidos pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, escrito e assinado por 20 dos mais destacados cientistas que já receberam o Prêmio Blue Planet, também chamado de Prêmio Nobel do Meio Ambiente. Entre eles estão a ex-primeira-ministra norueguesa Gro Brundtland, coordenadora do primeiro relatório da ONU sobre desenvolvimento sustentável; James Lovelock, autor da "Teoria Gaia"; o professor José Goldemberg, ex-ministro brasileiro do Meio Ambiente; sir Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, consultor do governo britânico sobre clima; James Hansen, do Instituto Goddard de Estudos Espaciais (Nasa); Bob Watson, conselheiro do governo britânico; Paul Ehrlich, da Universidade Stanford; Julia Marton-Lefèvre, da União Internacional para a Conservação da Natureza; Will Turner, da Conservação Internacional - e vários outros.

Nesse documento os cientistas traçam, com palavras sóbrias e cuidadosas, um panorama dramático da situação do mundo, hoje, em áreas vitais: clima; excesso de consumo e desperdício; fome; necessidade de aumentar a produção de alimentos e escassez de terras; desertificação e erosão; perda da biodiversidade e de outros recursos naturais; subsídios gigantescos nas áreas de transportes, energia, agricultura - e a necessidade de eliminá-los. Enfatizam a necessidade de "empoderamento" das mulheres e de grupos sociais marginalizados; substituir o produto interno bruto (PIB) como medida de riqueza e definir métodos que atribuam valor ao capital natural, humano e social; atribuir valor à biodiversidade e aos serviços dos ecossistemas e deles fazer a base da "economia verde".

É um documento que, a cada parágrafo, provoca sustos e inquietações, ao traçar o panorama dramático que já vivemos em cada área e levar todo leitor a perguntar qual será o futuro de seus filhos e netos. "O atual sistema (no mundo) está falido", diz Bob Watson. "Está conduzindo a humanidade para um futuro que é de 3 a 5 graus Celsius mais quente do que já tivemos; e está eliminando o ambiente natural, do qual dependem nossa saúde, riqueza e consciência. (...) Não podemos presumir que a tecnologia virá a tempo para resolver; ao contrário, precisamos de soluções humanas".

"Temos um sonho", afirma o documento. "De um mundo sem pobreza e equitativo - um mundo que respeite os direitos humanos - um mundo de comportamento ético mais amplo com relação à pobreza e aos recursos naturais - um mundo ambientalmente, socialmente e economicamente sustentável, onde desafios como mudanças climáticas, perda da biodiversidade e iniquidade social tenham sido enfrentados com êxito. Esse é um sonho realizável, mas o atual sistema está profundamente ferido e nossos caminhos atuais não o tornarão realidade".

Segundo os cientistas, é urgente romper a relação entre produção e consumo, de um lado, e destruição ambiental, de outro: "Crescimento material sem limites num planeta com recursos naturais finitos e em geral frágeis será insustentável", ainda mais com subsídios prejudiciais em áreas como energia (US$ 1 trilhão/ano), transporte e agricultura - "que deveriam ser eliminados". A tese do documento é de que os custos ambientais e sociais deveriam ser internalizados em cada ação humana, cada projeto. Valores de bens e serviços dos ecossistemas precisam ser levados em conta na tomada de decisões. É algo na mesma direção das avaliações recentes de economistas e outros estudiosos, comentadas neste espaço, a respeito da finitude dos recursos naturais e da necessidade de recompor a vida econômica e social em função disso.

O balanço na área de energia é inquietador, com a dependência de combustíveis fósseis, danos para a saúde e as condições ambientais. Seria preciso proporcionar acesso universal de toda a população pobre aos formatos "limpos" e renováveis de energia - a transição para economia de "baixo carbono" -, assim como a formatos de captura e sepultamento de gases poluentes (ainda em avaliação). Como não caminhamos assim, as emissões de dióxido de carbono equivalente já chegam a 50 bilhões de toneladas anuais, com a atmosfera e os oceanos aumentando suas concentrações para 445 partes por milhão (ppm)- mais 2,5 ppm por ano, que desenham uma perspectiva de 750 ppm no fim do século. E com isso o aumento da temperatura poderá chegar a mais 5 graus Celsius.

Na área da biodiversidade, 15 dos 24 serviços de ecossistemas avaliados pelo Millenium Ecosystem Assessment estão em declínio - quando é preciso criar caminhos para atribuir valor à biodiversidade e seus serviços, base para uma "economia verde". Mas para isso será preciso ter novos formatos de governança em todos os níveis - hoje as avaliações cabem a estruturas políticas, sociais, econômicas, ambientais, separadas e competindo entre elas.

E para que tudo isso seja possível, dizem os cientistas, se desejamos tornar reais os nossos sonhos, "o momento é agora" - enfrentando a inércia do sistema socioeconômico e impedindo que sejam irreversíveis as consequências das mudanças climáticas e da perda da biodiversidade. Se falharmos, vamos "empobrecer as atuais e as futuras gerações". Esquecendo que vivemos em "uma sociedade global infestada pela crença irracional de que a economia física pode crescer sempre, deslembrada de que os ricos nos países desenvolvidos e em desenvolvimento se tornam mais ricos e os pobres são deixados para trás".

Não se trata de um manifesto de "ambientalistas", "xiitas" ou hippies. São palavras de dezenas dos mais conceituados cientistas do mundo, que advertem: "A demora (em mudar) é perigosa e seria um erro profundo".

É preciso ler esse estudo (www.af-info.or.jp). Escutar. E dar consequências.

Semana difícil - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 09/03/12
SÃO PAULO - Viver em democracia dá trabalho e aceitar as implicações das regras que nós mesmos criamos pode ser frustrante, mas não vejo opção ao Estado liberal de Direito em que supostamente vivemos.
Escrevo "supostamente" porque as pessoas andam esquecendo algumas lições do passado. Para começar, a Constituição assegura o direito de greve. Isso significa que os trabalhadores são livres para interromper suas atividades. Fazê-lo gera ônus para a sociedade? É claro que sim.
Aliás, se não houvesse prejuízo para ninguém -como, às vezes, parece querer nossa contraditória legislação de greve-, não haveria sentido em convocar o movimento paredista.
É perfeitamente legítimo impedir os manifestantes de promover piquetes violentos e tomar medidas para tentar garantir o abastecimento, mas não dá para sustentar que motoristas autônomos não tenham direito de suspender suas entregas.
Outro abuso verificado nesta semana difícil em São Paulo foi a detenção de gerentes de postos de gasolina que haviam aumentado seus preços. Concordo que é feio aproveitar a situação adversa para ampliar a margem de lucro, mas ainda não inventaram a prisão estética. É difícil sustentar que haja ilegalidade em fazer reajustes segundo a lei da oferta e da demanda quando os valores dos combustíveis não são tabelados.
Se há algo que não faz sentido são os dispositivos legais que vieram em 1994, na esteira do Plano Real, com o objetivo de vetar "reajustes excessivos" ou "aumentos sem justa causa" sem jamais fixar um significado para essas expressões. Nem o Real dispensou um populismozinho econômico.
É preciso encarar a situação com estoicismo. A alternativa de viver sob um governo em que greves estavam vetadas e pessoas eram presas ao arrepio da lei nós já experimentamos e foi ruim para o país. É preferível amargar uma fila para abastecer o carro a suportar um regime no qual protestos são proibidos e o arbítrio é a regra.

Em pé de guerra - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 09/03/13
BRASÍLIA - Como a gente ia dizendo aqui no domingo passado, a base aliada é gigantesca e está doida para trair. Ou melhor, para chantagear. Daí a primeira derrota de Dilma no Senado, que votou contra a recondução de Bernardo Figueiredo para a direção geral da ANTT (a agência de transportes terrestres).
Quem liderou a rebelião foi o senador Roberto Requião, do PMDB, mas uma andorinha só não faz verão nem um peemedebista com um punhado de tucanos e de demos é capaz de derrotar o governo. A oposição é francamente minoritária. Logo, quem derrotou a presidente foram os aliados, não os adversários.
O detalhe sórdido é que a votação foi secreta. Ninguém sabe mais quem é quem. Mas desconfia-se. Se em torno de dois terços dos 76 deputados do PMDB tiveram coragem de botar o nome num manifesto de provocação ao PT (mas, na verdade, uma jogada de efeito para atingir Dilma), imagine no anonimato.
E não é só o PMDB que está em pé de guerra, mas também o PDT, o PSB, o PC do B, o PR, o PTB... Ou seja, a base à direita e à esquerda.
Eles reclamam: 1) do bloqueio das emendas que fazem a festa dos parlamentares, sobretudo dos candidatos em outubro, 2) da distribuição de cargos de primeiro, segundo e até terceiro escalões e 3) da ganância do PT, que já tem o Planalto e uma das maiores bancadas, mas quer invadir o espaço municipal dos "aliados".
Com Lula temporariamente fora de combate, Dilma tem de se virar sozinha com as feras. Pior: tem de contar com o seu vice, Michel Temer, que é o principal líder do PMDB e apoiou ostensivamente os revoltosos.
Ok. Requião tem o bom argumento de que Bernardo Figueiredo está todo enrolado com irregularidades e sob investigação da Procuradoria-Geral da República. Mas isso serviu só de pretexto para os aliados. Ou alguém acredita que Jucá, Renan,
Raupp e cia. estão mesmo preocupados com pecadilhos desse tipo?

Não é força, é jeito - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 09/03/12

Falta de aviso não foi. Mas, pela maneira como o governo federal atua para tentar conter a onda de contrariedades que há um ano se avolumam em sua base partidária, a presidente Dilma Rousseff e companhia ainda não captaram a essência da mensagem.

Basta ver que na quarta-feira, exatamente na hora em que no Senado o PMDB dava consequência prática ao protesto assinado por 70% da bancada na Câmara, rejeitando uma indicação da presidente para a Agência Nacional de Transportes Terrestres, Dilma discutia a liberação de verbas para acalmar a tropa.

Recorria ao remédio errado por não entender a origem da doença: a natureza da relação entre a Presidência, a política e os políticos.

É mais simples atribuir tudo ao funcionamento de uma coalizão na base da compra e venda sem garantia de entrega da mercadoria. As razões do fisiologismo facilitam o raciocínio, explicam parte, mas não contam a história inteira e, sobretudo, não resolvem o problema.

Na política, como em tudo na vida, há nuances entre o preto e o branco, algarismos a mancheias entre o 8 e o 80. São os tais dos detalhes onde o diabo senta praça.

Não se trata de superdimensionar uma derrota pontual do governo no Congresso nem de conferir ao revés caráter de fim do mundo. A perda e o ganho são parte do jogo.

Há as vontades do Executivo, as votações do Legislativo e as decisões do Judiciário. Respeitados esses fatores, tem-se grosso modo o equilíbrio da República.

Afrontados, mais dia menos dia o que vinha dando certo começa a dar errado e aí não tem remédio: ou se revisam os procedimentos mediante exame claro dos equívocos ou alguém sai de fato derrotado.

Podem ser as instituições ou as pessoas, sendo sempre melhor que sejam estas e não aquelas.

Na questão em exame, o xis reside na confusão reinante entre pessoas e instituições. Não se resume a uma "rebelião na base" destinada a pressionar a presidente ceder nisso ou naquilo, embora seja esse um dos ingredientes.

A conturbação tem causa mais profunda. Decorre de uma situação de desequilíbrio político, institucional e comportamental. O Executivo se agigantou, o Legislativo se apequenou, disso já há suficientes registros.

O elemento novo é o estilo ríspido da presidente. Com sua maneira centralizadora, irritadiça, autossuficiente e impositiva de atuar, Dilma Rousseff acabou por deixar que os defeitos conhecidos da relação Planalto-Parlamento se exacerbassem ao ponto da exaustão.

A soberba do poder de longa duração acentuou-se ao ponto da perda de referência sobre as reais circunstâncias do "outro". No caso, os partidos integrantes da coalizão governamental. Todos eles, inclusive o PT.

A desigualdade esteve presente nos governos dos dois antecessores de Dilma. Mas Lula e Fernando Henrique - cada qual a seu modo - conseguiam manter a harmonia possível por meio do exercício da política, da composição, da interlocução, da cessão de prestígio.

Até para fazer prevalecer suas vontades. Por temperamento, inexperiência no ramo, falta de vocação ou tudo isso junto, Dilma diminui os parceiros. Infantiliza a relação e nisso é ajudada pelos conselheiros que à menor contrariedade saem a relatar o quanto ela ficou "irritada" e "furiosa" com essa ou aquela pessoa, esse ou aquele fato.

Hoje ela está bem nas pesquisas, forte. Amanhã pode não estar e aí verá como o real valor de afirmação de poder não é a força. É o jeito.

Sem-cerimônia. Mais uma da série não tem explicação: Antonio Palocci foi obrigado a sair do governo por insuficiência ética no trato patrimonial das relações público-privadas, mas é considerado pelo PT apto a atuar como abre-alas "informal" na coleta de doações financeiras para a campanha à Prefeitura de São Paulo.

Certas formalidades não fazem mal a ninguém. Quando o assunto envolve dinheiro, política, legalidade e legitimidade, não só fazem bem como se impõem indispensáveis.

A lúcida estratégia de Aécio - ALBERTO CARLOS ALMEIDA


Valor Econômico - 09/03/12


Aécio é o que qualquer pessoa imagina ser um político típico. A socialização primária de Fernando Henrique foi mais intelectual do que política, a de Lula foi uma socialização básica de líder de movimentos sociais, em particular do movimento sindical, Dilma foi socializada como tecnocrata. Aécio, por sua vez, foi inteiramente socializado dentro da arte de fazer política, aliás, fazer política em Minas Gerais. As diferenças entre esses grandes personagens de nossa história política recente são responsáveis pelo espanto com que alguns setores formadores de opinião estão encarando o desempenho de Aécio na oposição. Esses setores estão desacostumados a ver um político típico em atuação.

A forma como cada um de nós é socializado explica uma importante parte de nossas visões de mundo e comportamento. Aprendi com meus pais nordestinos a gostar do Carnaval, de festa junina, de praia, da cozinha tipicamente nordestina e também de comer frutos do mar. Criado no Rio de Janeiro, tive a chance de aprender a ver o Brasil como uma ex-capital, isto é, a ver o Brasil como um tudo, a compreender e considerar legítimo o interesse de todas as regiões do Brasil. Tão importante quanto isso, escolhi o Fluminense como time e aprendi a gostar de samba, esse gênero musical que, por meio de letras e melodias, tão bem retrata os dramas de nossa sociedade.

Casado que sou com uma catarinense oriunda do Vale do Itajaí, aprendi a reconhecer na prática o que tinha visto ao menos em parte nos livros de Max Weber: a ética do trabalho. Tendo me transferido para São Paulo, fui socializado, muito mais do que no Rio de Janeiro, a considerar a opinião do cliente a coisa mais importante que existe. Convivendo com funcionários de minha empresa, oriundos de cidades como Ribeirão Preto, Bebedouro e Flórida Paulista, aprendi a reconhecer de longe o espírito empreendedor e o desejo de melhorar de vida.

Aécio é filho de político por parte de pai e é neto de nada mais nada menos do que Tancredo Neves por parte de mãe. Seu avô paterno chamava-se Tristão Ferreira da Cunha. Tristão foi político, advogado e professor, exerceu o cargo de secretário da Agricultura, Indústria e Comércio quando Juscelino Kubitschek foi governador de Minas Gerais, entre 1951 e 1955. Aécio Cunha, filho de Tristão e pai de Aécio Neves, foi deputado estadual entre 1955 e 1963 e deputado federal entre 1963 e 1987. Tancredo, no MDB, era adversário de Aécio Cunha, da Arena, mas os dois dividiram por 18 anos um apartamento em Brasília.

Quem teve a chance de, como eu, ler as atas das reuniões de gabinete do curto período dos anos 1960 quando o Brasil adotou o parlamentarismo e Tancredo foi primeiro-ministro, pode atestar a enorme habilidade política do avô de Aécio. Tancredo coordenava as reuniões sem assumir uma posição entre as diferentes visões de seus ministros. No decorrer da reunião, ele coordenava a discussão de tal maneira a atingir um consenso, era o líder em ação. A palavra final era de Tancredo, ao definir qual seria a decisão do gabinete. Em geral, essa decisão seguia o caminho de menor resistência, o caminho consensual, aquele em que todos ganhariam e perderiam um pouco, em que ninguém sairia totalmente vencedor ou totalmente derrotado. Aécio foi socializado na política dessa maneira.

O Aécio de 2012 é um político que faz oposição ao PT e ao governo Dilma de maneira moderada e por isso tem sido duramente criticado por um pequeno grupo de formadores de opinião de São Paulo que se orientam, quando o assunto é politica, de forma quase inteiramente intelectual. Ao fazer oposição moderada a Dilma, Aécio está fazendo política. Ao ser criticado por essa elite, está sendo exigido dele que atenda a uma demanda intelectual, quase uma carência psicológica, que também seria atendida por um bom psicoterapeuta.

Não existe nada mais correto do que o que Aécio está fazendo. Ele sabe que aqueles que hoje são oposição a Dilma vão votar nele de qualquer maneira em 2014. O que o ex-governador de Minas quer é o voto daqueles que atualmente votariam em Dilma. Estamos em 2012 e muita água vai passar por debaixo da ponte até 2014. O líder dos tucanos não deseja que o atual eleitorado de Dilma se afaste dele. A melhor maneira de evitar isso é não bater muito forte no governo da presidente.

O raciocínio político, e não exclusivamente intelectual, é simples. Analisando-se os resultados das últimas eleições, vê-se que a oposição tem 33% dos votos válidos em primeiro turno. Foi o que Serra teve em 2010. Naquele ano, as eleições ocorreram nas piores condições possíveis para Serra, com uma aprovação de 80% para Lula. O único que achava que poderia derrotar Dilma naquela situação era Serra. Além disso, ele é um político desagregador e sem carisma. Pode-se, inclusive, parafrasear Nelson Rodrigues para defini-lo como político: a pior forma de solidão é a companhia de José Serra. Ainda assim, ele teve 37% de votos no primeiro turno. É óbvio que Aécio terá mais do que isso. Esses votos já estão garantidos. Aécio não precisa bater duro em Dilma para conquistá-los. É preciso lembrar que Serra colocou Lula de maneira elogiosa em sua propaganda política na TV (será que fará o mesmo em 2012, caso seja candidato a prefeito?).

Se Aécio caminha para ter mais do que 37% de votos válidos em primeiro turno em 2014, o que ele precisa é construir o caminho para conquistar os votos que hoje estão mais próximos de Dilma do que dele. A maneira de fazer isso é por meio de uma oposição moderada, exatamente o que tem sido criticado pela elite intelectual do eixo Jardins - Itaim. Essa elite quer que Aécio bata duro em Dilma porque não conhece o Brasil tanto quanto Aécio conhece. Ela não é capaz, por exemplo, de se colocar na perspectiva de um nordestino que vem votando no PT e considera o partido responsável por ele ter melhorado de vida. Muitas pessoas que formam essa elite nunca pularam Carnaval, não sabem jogar futebol, não gostam de samba e nas férias de janeiro, em vez de irem para uma praia do Nordeste, entram em um avião rumo a Paris, Londres ou Nova York. Nada contra o roteiro Helena Rubinstein, mas não no verão brasileiro.

Obviamente, Aécio não deve dar ouvidos a essa elite ou a qualquer um que hoje exija dele uma oposição dura ao governo do PT. Aécio, como um político típico, como neto de Tancredo, quer agregar. Ele está buscando o caminho de menor resistência junto ao mundo político. Esse caminho é o da oposição moderada. Os atuais críticos de Aécio não gostam nem um pouco do governo Dilma. Isso significa que votarão em Aécio de qualquer maneira em 2014. O que o senador mineiro quer é o voto de milhões de nordestinos socializados bem longe do eixo Jardins - Itaim, pessoas que vêm aprovando o PT, mas que podem estar dispostas a votar em um opositor, desde que ele deixe claro que manterá, para o Nordeste, os benefícios trazidos por Lula e Dilma. Isso não se faz somente com palavras, isso se faz com uma imagem cuidadosamente construída. A decisão de construir uma imagem desse tipo não é feita com base em um raciocínio intelectual, mas sim em uma maneira de pensar política.

A comparação entre Brasil e Reino Unido mostra que nem sempre a socialização neste ou naquele contexto resulta nos efeitos esperados. O excelente filme sobre Margareth Thatcher, "A Dama de Ferro", mostra isso. Ela era filha de quitandeiro e soube aproveitar essa experiência em sua vida política. Ter sido filha de quitandeiro foi fundamental para que Thatcher construísse um discurso genuinamente popular, baseado na defesa da iniciativa individual e no pequeno negócio. Ter sido filha de quitandeiro deu a ela a fibra e a coragem que faltavam a seus pares do Partido Conservador para enfrentar as dificuldades em que o Reino Unido estava mergulhado nos anos 1970. Ela governou seu país por quase 12 anos, um sucesso absoluto.

Cada país tem o filho de quitandeiro que merece. Serra foi derrotado duas vezes para presidente - na segunda vez, para uma candidata que nunca havia disputado uma eleição. Pior do que isso, ele nunca teve um discurso genuinamente popular, apesar de ter origem humilde. Na campanha presidencial (e não para prefeito) de 2010, sua mais memorável promessa foi a de promover mutirões de cirurgias de próstata, varizes e catarata. Claramente, ao contrário de Thatcher, ele não incorporou o que havia de melhor em sua socialização.

O Brasil precisa de políticos típicos. Aécio foi socializado na boa forma mineira de se fazer política. Essa afirmação causa horror a muitos intelectuais do eixo Jardins - Itaim, mas será graças a isso que o PSDB se fortalecerá no futuro próximo.

Nova lógica - MIRIAM LEITÃO

Nova lógica

O Banco Central do governo Dilma é, definitivamente, bem diferente do BC da era Lula. É menos autônomo, aceita mais interferência, as comunicações têm novo estilo. Os últimos dois meses mostraram isso. A queda dos juros agora, no entanto, são, na visão do professor Luiz Roberto Cunha, uma chance bem aproveitada. O IPCA que será divulgado hoje, que pode ficar em 0,4%, vai confirmar a tendência de queda da inflação.

Cunha acha que a inflação continuará caindo até maio, quando deve encostar em 5% em 12 meses, numa curva inteiramente oposta à do ano passado. Só que as taxas de junho, julho e agosto do ano passado foram muito baixas, perto de zero, o que significa que qualquer elevação este ano pode realimentar a inflação em 12 meses.

Ele acha que neste cenário o país pode chegar ao fim do ano com a economia embalada, crescendo em ritmo anualizado de 4%, e com a inflação em 12 meses em 5%.

- Temos um Banco Central com um duplo mandato, que está visando também o emprego, e, principalmente, o emprego industrial. A indústria é afetada pelo câmbio, e o BC está claramente tentando afetar as expectativas cambiais do mercado. Um bom sinal foi dado pelos juros futuros de 360 dias, que caíram. Seria muito ruim se tivessem subido - disse Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio.

A redução da taxa de juros se explica em parte por esse cenário de inflação em queda, pelos maus números da economia - principalmente da indústria - e também pelo quadro internacional de muita liquidez. Baseado nisso o BC tomou sua decisão.

Mas há várias esquisitices no meio do caminho. Uma delas é o fato de que até o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, informou de véspera que os juros seriam reduzidos. Esse Banco Central é tolerante às interferências e cede a algumas delas, ainda que depois revista a sua decisão com argumentos econômicos.

O BC acertou ao prever a piora do quadro internacional no final do ano passado. Aconteceu exatamente o previsto pelo órgão. Mas não há nenhuma novidade neste momento que justifique a aceleração da queda dos juros. As previsões são de novas quedas, que levem a taxa para 8,5% ou 8,75%. Será excelente isso, se não houver uma realimentação da inflação que torne necessária nova alta dos juros. Essa volatilidade da taxa básica acaba afetando a taxa de risco embutida em todas as operações de crédito e torna o dinheiro mais caro.

Luiz Roberto Cunha acha que algumas mudanças no padrão de comportamento do Banco Central se justificam pelo contexto internacional:

- Temos que entender que o BC está em um contexto internacional muito confuso, em um ambiente de extrema flexibilidade monetária. O Fed disse claramente que vai manter os juros em zero até 2014. Foi isso que fez o Banco Central introduzir na última ata o parágrafo sobre juros de um dígito. Em um ambiente de extrema complexidade no mundo, o BC brasileiro também está confuso. Para ele, trazer a inflação para 4,5% agora não é prioridade; ele prefere olhar para o ritmo do crescimento.

Todo mandato de um Banco Central é duplo: tem que manter a inflação na meta ao menor custo do produto. Então ele tem mesmo que olhar o ritmo de crescimento, para preservar o que for possível. Mas sua prioridade só pode ser o seu mandato explícito: as metas de inflação. Se o BC achar que cabe a ele restaurar a confiança da indústria e depreciar a moeda para incentivar as exportações vai ficar perdido num cipoal. Há mais coisas que o governo pode fazer pela indústria que não estão na alçada do Banco Central.

Os economistas começam a apostar em novo corte de 0,75%. Ótimo, se houver espaço para isso. Mas o BC não pode agir achando que faz isso para ajudar a recuperação industrial. Tem que ser por não haver risco inflacionário, e assim colher como consequência uma melhora no ritmo da economia. É uma sutil diferença, mas é aquela que separa um Banco Central técnico de um que tenta agradar os seus críticos no governo. Esse é um campo minado no regime de metas de inflação.

O economista Luis Otávio Leal concorda que temos um Banco Central diferente do que era anteriormente:

- Tínhamos um BC mais independente do governo. Hoje ele é mais alinhado com os objetivos da Fazenda, incorporou as decisões da área econômica. É um BC que ajuda a atingir as metas do governo. Pode ser bom, por não ficar batendo cabeça com a Fazenda; pode ser ruim, dependendo da política econômica. O órgão está assumindo mais riscos; se der errado, pode perder as expectativas para o ano que vem. Mas seria precipitado dizer que ele vai errar.

Outros economistas estão convencidos de que o BC quer testar novas mínimas. Ninguém acredita que a inflação ficará na meta nem este ano nem no ano que vem. A inflação está caindo, mas a meta está se deslocando para um outro patamar, o que é ruim num país cuja meta já é em si bem alta para os padrões internacionais.

Para Luiz Roberto, o governo deu um bom sinal do ponto de vista fiscal ao aprovar o Fundo de Previdência Complementar. O Fundo está em tramitação ainda e só vai fazer diferença nas contas no longo prazo, mas é um sinal de que o governo não abandonou completamente a agenda de reformas.

Hoje, quando o mercado faz previsões de queda mais forte de juros mesmo com inflação acima da meta é porque sabe que o Banco Central não está buscando de forma rígida o centro da meta. Negocia no seu entorno. Aceita números maiores se isso evitar atritos dentro do governo.

GOSTOSA


PEDRA NO CAMINHO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 09/03/12
A proposta de que idosos tenham ingressos gratuitos -e não apenas mais baratos- em estádios, museus públicos e eventos que recebam recursos do governo obteve parecer favorável da Comissão de Educação do Senado. Se aprovada até 2014, baterá de frente com a Lei Geral da Copa, que pretende garantir apenas a meia-entrada nos jogos do Mundial.

LIVRE-INICIATIVA

Autora do projeto, Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) diz que a regra "vai valer para tudo". E que uma lei específica da Copa não poderá se sobrepor a ela. "Quem vai pagar a conta?", questiona o relator da Lei Geral da Copa, deputado Vicente Cândido (PT-SP). "Isso fere a Constituição, a livre-iniciativa. Se chegar à presidente Dilma Rousseff, ela vai vetar. E na Câmara eu vou dar pau."

VOZ

O PT de SP trabalha com a informação dos médicos de que, caso o tratamento tenha curado seu câncer, Lula poderá subir em palanques a partir de maio. Os exames definitivos serão feitos até o fim deste mês. Em abril, ele ainda terá que descansar.

TÃO POUCO

Fracassou até agora a tentativa do Palmeiras de fazer uma "vaquinha" com a torcida para pagar a transferência do meia Wesley, que hoje joga no Werder Bremen da Alemanha. Só R$ 475 mil foram levantados pelo fundo criado em parceria com o clube para essa finalidade. Ou 2,2% dos R$ 21,3 milhões necessários para efetivar a transferência.

TÃO LONGE

O anúncio do Werder Bremen ontem de que recebeu garantias bancárias para vender Wesley, portanto, não garante a transferência. "Não foi pago nada", diz o presidente do Verdão, Arnaldo Tirone. "Sem dinheiro, não tem contratação."

ORIGINAL

Em 2011, dirigentes do Santos chegaram a sondar publicitários para conseguir patrocínio para manter Neymar no clube. Um deles chegou a pensar em o craque ser "comprado" pela torcida. Mas a ideia não vingou.

BIENAL ENROLADA

Das três instituições sondadas pelo Ministério da Cultura para resgatar a Bienal de SP, que teve suas contas bloqueadas por inadimplência, o Instituto Tomie Ohtake foi o único que disse sim na primeira conversa -a Pinacoteca recusou e o MAM hesita em dar uma resposta definitiva. Ricardo Ohtake diz que o instituto já cedeu profissionais à Bienal e é o mais tecnicamente preparado para assumir o compromisso de realizar a 30ª Bienal.

DE SAÍDA

A estilista Danielle Jensen está deixando a grife carioca Maria Bonita após 14 anos. "Quero pensar o design de moda de um modo mais democrático, acessível", diz.

"Continuarei tendo a cultura brasileira como inspiração e a moda como norte", afirma Jensen.

POLICIAL

Os escritores Fernando Bonassi e Marçal Aquino preparam nova série policial para a TV Globo. Os dois escreveram "Força-Tarefa".

PALAVRA DELAS
As cantoras Wanderléa, Marina Lima e Karina Buhr fizeram anteontem a primeira das três apresentações do show "Última Palavra", em homenagem ao Dia da Mulher. O músico Edgard Scandurra participou do espetáculo, no teatro do Sesc Vila Mariana.

NOITE DO TERROR

Marisa Orth e Daniel Boaventura receberam os cumprimentos após a sessão para convidados do musical "A Família Addams", anteontem. Os atores Juca de Oliveira, Diogo Vilela e Rachel Ripani foram ao Teatro Abril.

CURTO-CIRCUITO

O cantor Nasi faz show acústico hoje, às 23h, no Cine Joia. 18 anos.

O Ciam faz sessão beneficente de "Tim Maia - Vale Tudo, o Musical" no dia 14, às 21h, no Teatro Procópio Ferreira. Classificação: 14 anos.

O evento CasaModa Noivas acontece de hoje a domingo no hotel Unique.

O músico e ator Bukassa Kabengele promove amanhã, às 22h, a festa Pé na África, no Espaço Urucum, na Vila Madalena. Classificação: 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY