sexta-feira, maio 06, 2011

ANCELMO GÓIS - Culpa de Parreira


Culpa de Parreira
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 06/05/11

Quarta, no Rio, foi exibida para Ricardo Teixeira e poucos convidados a primeira versão do belo filme de Andrucha Waddington e Breno Silveira sobre os bastidores da seleção na Copa de 2006, na Alemanha. O copião, de 90 minutos, começa com Parreira em casa, ao lado da mulher, Leila, antes de ir anunciar os convocados: “Sei que o jogo é esse. Se ganharmos, o mérito é dos jogadores. Se perdermos, a culpa é minha.”

O olhar de Gaúcho...
No filme, Ronaldinho Gaúcho, que foi mal naquela Copa, surge em momentos de tensão com olhos distantes e esbugalhados. Mas, o resto do tempo, ele e Adriano são os mais animados, tocando e sambando. E, vaidoso, está sempre diante do espelho. 

Lula bem na fita...
Lula sai bem do episódio em que trocou farpas públicas com Ronaldo — que, aliás, viu o filme. O então presidente (lembra?) perguntara a Parreira se o craque estava gordo. Ronaldo rebateu e disse que, boato por boato, Lula tinha fama de beber muito. No filme, Ronaldo se exercita enquanto alguém ao lado lê a carta em que Lula se desculpa, humildemente, e deseja boa sorte. O craque ficou tocado. 

Tem culpa eu?...
Já a imprensa, de um modo geral, não está bem no filme. 

À la Zózimo 
E Obama, hein? De repente, não mais que de repente, equestrou a agenda de Bush. Igualzinho ao que Lula fez com os tucanos ao virar o pai da estabilidade econômica.

Marina, o filme

Sandra Werneck apresenta em Paris o projeto do filme “Marina e o tempo”, sobre a ex-senadora Marina Silva, que deve chegar aos cinemas em 2013. Além disso, estreia na cidade, dia 25, “Sonhos roubados”, último longa da brasileira.

Retratos da vida

Semana passada, num voo Salvador-Brasília da Gol, um bebê de seis meses engasgou com a papinha dada pela mãe e, quando já não respirava mais, com os lábios roxos, foi tomado no colo pela comissária Elisângela Oliveira. A aeromoça fez um procedimento
chamado “manobra de Heimlich” (série de compressões na parte superior do abdômen) e salvou a criança. Todos os passageiros a aplaudiram, emocionados. 

Homenagem...
Elisângela foi homenageada com um almoço pelo presidente da Gol, Constantino Júnior. 

Rabo de foguete
Ferreira Gullar terá seu livro “Rabo de foguete” traduzido e lançado na Itália. Nele, nosso escritor conta fatos de seu exílio em Moscou,
Santiago, Lima e Buenos Aires, entre 1971 e 1977.

Calma, gente
Ontem, por volta de meio-dia, na agência dos Correios perto do Consulado dos EUA, no Rio, um rapaz que parecia querer se passar por muçulmano gritava o tempo todo “Barack Obama” e segurava um canivete. Assustado, o pessoal chamou os policiais da cabine ao lado. 

No que...
Os PMs já chegaram com algemas para conter o jovem, que berrava ainda mais alto o nome do presidente dos EUA. Na confusão, ele se cortou e foi levado pelos policiais. 

Bin de Ipanema 
Ontem, na esquina das ruas Visconde de Pirajá e Garcia D’Ávila, em Ipanema, um mendigo exibia a seguinte plaquinha: “Bin Laden não morreu. Estou no Brasil!” Alguns achavam graça e acabavam colaborando. 

Champanhe rosa 
Homossexuais cariocas festejaram a vitória no STF (eu apoio) no quiosque Rainbow, em Copacabana. A travesti Jane di Castro abriu um champanhe e celebrou ali mesmo sua união de 44 anos com Otávio Bonfim: 
— Pensei que isso nunca fosse acontecer. Sofri, achando que tudo que construímos fosse parar nas mãos de parentes. Agora, darei entrada na documentação de união civil. 

Aliás... 
Sobre o ministro Ayres Britto, sergipano arretado, dizer que “o órgão sexual é um plus”, uma senhorinha de Brasília emendou: 
— Mais do que um plus, o órgão é um plugue, pois conecta o... com o... deixa pra lá.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS - Novos desafios para o Fed


Novos desafios para o Fed
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS 
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/11

O Fed precisa mudar o discurso de que a atual política monetária será mantida por longo tempo


O FEDERAL Reserve, em sua última reunião, reafirmou a decisão de ir até o fim em sua política de inundar o mercado de dólares baratos, chamada de Quantitative Easing 2.
O banco central americano, sob a liderança firme e decidida de seu presidente, vem seguindo à risca a leitura feita por Lord Keynes, ainda na primeira metade do século passado, sobre como evitar uma depressão econômica em um ambiente de pânico financeiro.
Ben Bernanke tem o reconhecimento hoje, mesmo no grupo mais ortodoxo de analistas, de ter evitado o pior na maior economia do mundo. Mas começa a enfrentar novos desafios para consolidar definitivamente suas vitórias.
Os dados mais recentes mostram que alguma vida já voltou à economia, a recessão é coisa do passado e a geração de empregos parece ter voltado de forma perene.
Para 2011, os analistas de mercado trabalham com crescimento de mais de 3% e queda significativa na taxa de desemprego.
Mas partes importantes da economia -o setor imobiliário e o bancário, principalmente- ainda sentem as consequências da crise que começou em 2008. Por isso, ainda é frágil a confiança dos agentes econômicos em uma superação perene.
Por essa razão, o Fed já avisou que prefere errar na direção de uma política monetária expansionista, mesmo com o risco de inflação mais elevada mais à frente, do que permitir uma nova recaída da atividade econômica.
Mas seus principais instrumentos de ação -juros próximos de zero e compras maciças de títulos emitidos pelo governo americano para financiar seus exorbitantes deficit- estão provocando tensões imensas em outras economias, principalmente via canal cambial.
O dólar não para de cair, provocando valorização cambial quase insuportável em vários países e criando uma bolha de liquidez no mundo todo. Na busca desordenada por investimentos financeiros de maior risco, os grandes detentores de capitais exportam o excesso de liquidez nos EUA para países que não sofrem do mesmo mal americano. O Brasil é um exemplo dessa armadilha, com inflação em aceleração e a moeda pressionando a indústria.
Por outro lado, a fraqueza da moeda americana está provocando aumento expressivo dos preços em dólares de produtos primários como alimentos, metais e, principalmente, o petróleo. Como a inflação ex-petróleo não sobe por conta da imensa capacidade ociosa na economia americana -principalmente no mercado de trabalho-, o Fed segue em frente com sua política e acaba exportando inflação para as outras economias.
Mas o aumento dos preços do petróleo começa também a atrapalhar a ação do BC americano. Preços bem mais altos dos combustíveis nos EUA estão corroendo a renda do consumidor e diminuindo sua confiança na recuperação econômica.
Uma espécie de ciclo vicioso perverso se formou, com o excesso de liquidez e juros muito baixos enfraquecendo o valor do dólar nos mercados de câmbio, o que leva a preços do petróleo sempre mais altos, que corroem a renda do consumidor norte-americano, que pressiona a economia para baixo, que obriga o Fed a manter a política monetária frouxa e expansionista, que enfraquece o valor do dólar, que....
O Fed precisa entender que medidas heterodoxas -por mais corretas que sejam em um momento de crise- mantidas por um tempo muito longo provocam efeitos colaterais danosos à economia.
Volto sempre à minha comparação entre uma economia de mercado e o organismo humano para entender o momento por que estão passando os EUA. A partir de certo momento, os efeitos negativos de uma medicação agressiva -e esse é o caso do Quantitative Easing 2- passam a ser maiores do que seus benefícios. Temo que já chegamos a esse ponto.
Talvez já seja a hora de uma mudança nos discursos do Fed, com a retirada da mensagem de que a política monetária atual será mantida por um longo período de tempo e, com isso, um primeiro sinal de normalização seja dado.

EDITORIAL - O GLOBO - O perigo de um presidente que 'retalia'


O perigo de um presidente que 'retalia'
EDITORIAL O GLOBO
O Globo - 06/05/2011

Não há registro, nos últimos tempos, de um depoimento tão sincero de alguma autoridade do Executivo no Congresso quanto o prestado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, perante a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na terça-feira.

O ministro era mesmo a pessoa indicada do governo para tratar de um tema grave, a intervenção do Palácio na troca do presidente de uma empresa privada, a Vale. Além de, em função do cargo ter alguma relação com o tema, foi Mantega, conforme revelação do jornal "O Estado de S. Paulo", quem, em março, comunicara ao Bradesco, de maneira formal, o interesse do governo na saída de Roger Agnelli da mineradora, ex-executivo do banco, maior sócio privado da empresa. Mantega, portanto, é um dos atores de toda esta trama.

O ministro não escondeu que a irritação brasiliense começara quando o presidente Lula cobrou, sem êxito, que a Vale executasse projetos siderúrgicos no Pará, à época governado pelo PT. Para o Palácio, é como se a Vale ainda fosse estatal. E como já não era, diante do excesso de capacidade instalada no setor siderúrgico no mundo, a direção da mineradora não cumpriu o desejo presidencial na rapidez com que ele desejava. Haveria ainda a questão da encomenda de navios, feita no exterior dentro da lógica de uma empresa privada, em defesa dos acionistas.

O mau humor de Lula e séquito tornou-se mais denso com a demissão de mais de mil empregados no estouro da crise mundial - outra demonstração de esquecimento da nova condição da empresa. A mesma reação de líder sindical ocorreu com a Embraer. Mas se estas ou qualquer empresa privada não reduzissem custos poderiam não sobreviver. Não são estatais com acesso livre e descuidado ao dinheiro do contribuinte.

Em mais um rasgo de sinceridade, o ministro, ao defender a irritação de Lula, afirmou que foi melhor ele ter manifestado "democraticamente" a contrariedade, pois poderia "ter retaliado a Vale". Tocaram, então, as sirenes para quem se preocupa com o estado de direito e a segurança jurídica no Brasil. A simples menção de que o Palácio admite como hipótese usar instrumentos de Estado contra uma empresa deve colocar em alerta instituições voltadas à defesa da Constituição, do equilíbrio entre poderes, de toda a estrutura institucional, enfim, da República e do regime de democracia representativa.

Tão grave quanto isso é que a cultura cesarista de verticalização do poder, observada no grupo controlador do Executivo há oito anos, tem desdobramentos perigosos em várias áreas. Na economia, ela se consubstancia num projeto mal disfarçado de capitalismo de Estado à la Geisel, em que o BNDES facilita a vida de empresários privados eleitos, aos quais ainda são colocados à disposição poderosos fundos de pensão de empresas públicas, tratados como do Estado pelo ministro no depoimento. Mantega tem razão: Previ, Petros, Funcex estão disfarçados de entidades de "direito privado", quando, na vida real, são braços manejados por Brasília e, nos últimos anos, também pelo financismo sindical construído no PT/CUT.

Pode-se imaginar o poder de quem estiver no controle do Estado quando este projeto ideológico alcançar estágio avançado. O veto do Executivo irá muito além do cargo de altos executivos de grandes empresas.

ANNA RAMALHO - Aos trancos e barrancos


Aos trancos e barrancos
ANNA RAMALHO

JORNAL DO BRASIL - 06/05/11

Já conheceram dias melhores as relações entre a presidente Dilma Rousseff e seu ministro da Casa Civil Gilberto Carvalho, uma herança de Lula da Silva.

A necessária proximidade entre chefona e chefinho vem causando sérios e constantes atritos.

Olho nas fronteiras

O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, foi convocado e vai ao Senado falar sobre o PAC das Fronteiras. Os senadores andam preocupados com a situação do tráfico e do contrabando nos limites brasileiros, principalmente nas fronteiras com a Bolívia e Paraguai. 

Sem papas na língua
O senador Demóstenes Torres (DEM/GO) criou os momentos saia justa, ontem, durante reunião da Comissão de Relações Exteriores do Senado, que sabatinava o embaixador Alberto Lopes, indicado para ocupar a embaixada brasileira na Geórgia, pequeno país na região do Cáucaso. 

Sugestão


No que o embaixador falou sobre a corrupção que impera por lá, Demóstenes aparteou:

– É o país ideal para um intercâmbio com o Brasil!

E tenho dito

O senador, aliás, teve saída teatral do plenário, quando a mesma CRE sabatinava também Irene Vida Gala, indicada para embaixadora em Gana:

– Não vou votar na senhora porque em seu discurso citou o nome do Lula. E também não voto no senhor porque acho que a Geórgia não deve ter uma embaixada. 

Debatendo a educação


A tese pela federalização da educação, defendida pelo vereador Leonel Brizola Neto(PDT), será discutida durante o 13º Congresso Ordinário do SEPE, que acontece de 27 a 29 de maio, no Rio. O tema deste ano será um libelo contra a política educacional da meritocracia e da produtividade na educação.

Tela quente

Renata e Cacá Diegues embarcaram anteontem para Paris, onde participam do Festival du Cinéma Brésilien com o documentário UPP, feito pelos diretores de 5 X Favela e produzido pelo casal. O secretário José Mariano Beltrame também vai prestigiar a exibição do filme, neste fim de semana.

Falando em Cacá...


Ele está vibrando com a restauração de seu filme Xica da Silva. O cineasta pretende, aos poucos, restaurar todos os seus longas.

Muda, muda


A entidade Repórteres sem Fronteiras botou a boca no mundo diante do assassinato a tiros do jornalista Valério Nascimento, de Rio Claro (RJ), no Dia da Liberdade de Imprensa, anteontem. Enquanto isso, a nossa ABI, nadica de nada.

Raspadinhas


A peça Mulheres de Caio reestreia hoje, no Teatro Café Pequeno. 

Renata Andriola, da grife infantil Owoko, lança a coleção outono-inverno 2011.

O restaurante Zozô recebe o chef escocês Tom Kitchin, no Whisky Festival 2011. 

Marcella Maialança a sua coleção de inverno no atelier no Palm Beach.

MERVAL PEREIRA - (In)Coerências


(In)Coerências
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 06/05/11

Como todo bom político, pode-se encontrar nos discursos do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, trechos que confirmam suas ações, e outros que parecem contradizê-las. O combate ao terrorismo tem características tão delicadas e peculiares que dificilmente uma decisão no campo moral não terá consequências políticas, ou será contestada pela realidade.

Aqui destaco dois exemplos de comportamento de pessoas que influenciam os atos do governo Obama e que, no decorrer de suas vidas, foram obrigadas a rever posições, assim como o próprio Obama está fazendo, mesmo que não se afaste das bases morais de seus projetos.

O presidente declara-se, por exemplo, admirador do teólogo protestante Reinhold Niebuhr, um de seus "filósofos favoritos", sobre quem escrevi aqui na campanha presidencial. Considerado um dos mais importantes intelectuais religiosos, ligado ao grupo evangélico Igreja Unida de Cristo, ensinou durante mais de três décadas num seminário em Nova York e hoje é nome de rua na cidade.

Fundador de um grupo anticomunista chamado Ação Democrática de Americanos, ele apoiou a intervenção dos EUA na Segunda Guerra Mundial, condenou o bombardeio sobre Hiroshima e Nagasaki, mas depois admitiu que a ação fora necessária para conter a União Soviética.

Niebuhr foi ativista contra a atuação americana no Vietnã. Seu "realismo cristão" o levava a reconhecer o que chamava de "a persistência do pecado" e criticava quem "usava o mal para evitar o mal maior".

Para Obama, lendo Niebuhr, aprende-se que, se é verdade que o mal está sempre presente, sua persistência não pode servir de desculpa para não agir. Niebuhr advertia que "causas nobres provocaram consequências cegas e resultados moralmente problemáticos".

Esses conceitos tanto serviram na época de base para críticas ao governo Bush, como podem ser usados hoje contra a ação do governo Obama na morte de Bin Laden. Mas podem também justificar a ação.

No dia do anúncio da morte de Osama bin Laden, canais de TV simpáticos ao governo democrata, especialmente a MSNBC, que representa nos canais a cabo o que a Fox News é para os radicais republicanos, mostrou diversos trechos de discursos de Obama quando candidato em que ele se comprometia a "caçar e matar" Bin Laden.

O desfecho da ação no Paquistão não seria nada mais que o cumprimento de promessa de campanha, assunto do qual o ex-presidente George W. Bush já se esquecera.

Mas há um discurso de Obama no Woodrow Wilson International Center for Scholars, em 1º de agosto de 2007, ainda como candidato, mais claro ainda em relação a seu compromisso de caçar os terroristas que fizeram o 11 de Setembro. E também dá a dimensão da encrenca em que o governo paquistanês está metido.

Obama, em certo trecho, diz que "não pode haver porto seguro para terroristas que ameaçam a América. Não podemos deixar de agir porque a ação é difícil. Como presidente, vou fazer com que as centenas de milhões de dólares em ajuda militar dos Estados Unidos ao Paquistão sejam condicionados, e vou deixar claras nossas condições: o Paquistão tem que fazer progresso substancial no fechamento de campos de treinamento, desalojar combatentes estrangeiros, e evitar que o Talibã use o Paquistão como área para ataques ao Afeganistão".

"Entendo que o presidente Musharraf tem seus próprios desafios. Mas vou deixar bem claro. Há terroristas escondidos naquelas montanhas que mataram 3.000 americanos. Estão se preparando para atacar novamente. Foi um erro terrível deixar de agir quando tivemos a chance de desmantelar uma reunião de líderes da al-Qaeda em 2005. Se houver informações valiosas sobre alvos terroristas altamente perigosos, e o presidente Musharraf não agir, nós agiremos".

Nesse mesmo discurso, Obama anunciou que fazia parte de sua estratégia antiterror organizar uma força militar treinada para rastrear, capturar ou matar terroristas no mundo, e impedir que eles tenham acesso às mais perigosas armas. "Eu não hesitarei em usar a força militar para atingir terroristas que representem uma ameaça direta à América", garantiu.

Ao mesmo tempo, escolhia para ministro da Justiça Eric Holder, uma das vozes mais críticas à maneira como o governo Bush combatia o terrorismo, após ter tido palavras de apoio logo em seguida ao 11 de Setembro.

No impacto dos atentados, Holder admitiu que os EUA estavam em meio a uma guerra e que os presos podiam ser tratados como combatentes, dando a entender que os excessos do Ato Patriótico editado pelo governo Bush poderiam ser justificados.

Sua posição evoluiu para uma crítica contundente, chamando a política antiterrorista de Bush de "exorbitante e ilegal", passando a defender o fechamento da prisão de Guantánamo em Cuba, onde os prisioneiros da Guerra do Iraque eram confinados sem um julgamento pelas regras do sistema judiciário americano e sem prazo definido de detenção.

Holder, o primeiro afrodescendente a assumir o Ministério da Justiça, discutiu logo nos primeiros dias no posto as técnicas de interrogatório utilizadas pelo governo americano, como o afogamento simulado, que não eram consideradas tortura por interpretações jurídicas durante o governo Bush.

A decisão de bani-las das prisões americanas, e que todas as agências de informação utilizassem o mesmo critério de respeito dos direitos humanos no combate ao terrorismo, foi uma das importantes mensagens iniciais do governo Obama.

Com os últimos acontecimentos, que dão ao governo democrata uma revigorada num dos pontos em que mais parecia vulnerável - a luta contra o terrorismo -, os republicanos começaram a defender a tese de que o êxito do combate, que levou à morte de Bin Laden, devia-se à manutenção da política antiterror do governo Bush, inclusive a prática de torturas como o afogamento em interrogatórios.

Obama mandou seu recado ao público interno visitando os bombeiros de Manhattan ontem, antes da cerimônia em homenagem às vítimas dos atentados terroristas de 11 de setembro. Para ele, a morte de Bin Laden "mandou uma mensagem para o mundo, mas também mandou uma mensagem em casa, de que, quando falamos que não vamos esquecer, nós falamos sério".

COMEMORANDO DEPOIS DA VITÓRIA NO SUPREMO

CELSO MING - Rabo que abana o cachorro


Rabo que abana o cachorro
CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 06/05/2011

Há uma boa probabilidade de que a inflação de abril, medida pelo IPCA, a ser divulgada hoje, aponte para uma evolução dos preços de mais de 6,5% em 12 meses.

Se esse estouro da meta anual da inflação for confirmado, a grande briga na economia pela defesa da renda e do patrimônio também irá se acirrar. Nessa briga, tenderá a se acelerar o processo de reindexação da economia, ou seja, de correção de preços e valores pela inflação passada (correção monetária), procedimento que tende a perpetuar a inflação.

A indexação não é uma instituição que funciona só no Brasil, mas ela começou por aqui e, apesar de tudo quanto se fez para erradicá-la, continua viva. A correção monetária foi instituída pelo então ministro do Planejamento do primeiro governo militar (Castelo Branco), Roberto Campos, em março de 1964. Foi quando a caderneta de poupança foi relançada, desta vez com correção monetária equivalente à inflação passada, com o objetivo de estimular a formação de poupança depois de muitos anos em que as aplicações financeiras foram esmerilhadas pela inflação.

A ideia do ministro Roberto Campos era limitar a correção monetária apenas à caderneta, para que os próprios efeitos da alta de preços atuassem para atacar a inflação. Mas, dois anos depois, em 1966, para melhorar as condições do mercado de trabalho, o governo Castelo Branco entendeu que devesse trocar o estatuto da estabilidade no emprego (garantia do emprego para o funcionário com dez anos de casa) por uma compensação financeira. Para isso, foi criado o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), para o qual o empregador passaria a depositar mensalmente na conta do seu empregado o equivalente a 8% do salário bruto. Para que esse patrimônio do trabalhador não fosse corroído pela inflação, os recursos do FGTS também passaram a ter correção monetária idêntica à da poupança.

Nos anos 70, a disparada da inflação provocou a generalização da indexação da economia, que é a aplicação de algum critério de correção monetária a preços e valores. O emprego generalizado da indexação nada mais é do que um gigantesco jogo de empurra da conta da inflação para quem estiver mais perto. A indexação é um realimentador da inflação porque aumenta preços, salários e valores, na mesma proporção da inflação passada.

O Plano Real não acabou com esse mecanismo, mas o tombo da inflação o estava tornando menos importante. Agora, com a subida dos preços, a indexação da economia vai novamente aumentando de proporções.

O Ministério da Fazenda está estudando formas de reduzir seu impacto. As primeiras manifestações a respeito, as do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, são decepcionantes. A ideia de trocar o IGP-M na correção dos aluguéis pelo IPCA não muda em nada a natureza da indexação. E, se for por aí, é mais provável que as tentativas de acabar com ela fracassem.

De todo modo, atacar a indexação é atacar o sintoma e não o problema principal, que é a inflação. Quando a inflação cair para níveis vigentes nos países avançados (cerca de 2% ao ano), a indexação poderá ser abolida por decreto. E quaisquer correções de preços e valores serão revistas mediante negociação contratual. Isso valerá para financiamentos (inclusive hipotecários), para aluguéis, contratos de leasing e salários.

No entanto, enquanto a inflação continuar nesses níveis, a correção monetária continuará a ser no Brasil uma espécie de rabo que abanará o cachorro e não o contrário.

CONFIRA

Desabou
Em apenas quatro dias úteis (os primeiros de maio), o petróleo tipo WTI, em Nova York, e o tipo Brent, em Londres, despencaram mais de 12%. É o que mostra o gráfico.

Vai mal
A repetição de dados decepcionantes sobre o emprego nos Estados Unidos disseminaram ontem o entendimento de que a recuperação da economia americana voltou a enfraquecer. Foi a senha para intensificar a liquidação de posições no mercado futuro de petróleo, ouro, prata e um grande número de commodities.

MÔNICA BERGAMO - DIÁRIO DA PRINCESA


DIÁRIO DA PRINCESA
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/11

Foi aberta na Faap anteontem a mostra "Os Anos Grace Kelly", com objetos da atriz de Hollywood que se tornou princesa de Mônaco; Albert, filho de Kelly, foi recebido por Celita Procópio, bem como Vicky e Joseph Safra e Patrícia de Sabrit.

LANCE FINAL

A queda de braço entre o Palmeiras e a WTorre, responsável pela construção da arena do clube, pode terminar na Justiça. "Se tiver que parar a obra, vou querer ser ressarcido. Não vai ter outro caminho", diz Walter Torre, sócio da construtora. Ele diz que já gastou R$ 40 milhões no estádio e que o contrato prevê pagamento de multa e de lucros cessantes caso seja rompido por uma das partes. "Mas ainda tenho esperança de que vamos chegar a um bom termo."

ETERNO

E dirigentes do Eternos Palestrinos, grupo de torcedores endinheirados e fanáticos que investe no clube, quer abrir uma enxurrada de processos contra o presidente do Palmeiras, Arnaldo Tironi, por gestão temerária. O plano é mover ações em comarcas distantes do país para pressionar Tironi a assinar o seguro da Arena Palestra. Sem ele, as obras da WTorre não podem continuar.

ETERNO 2

Até ontem, Tironi demonstrava não ter pressa. "Entrem na Justiça, eu acho bom! Não tenho medo de pressão." O presidente diz que conta com a ajuda de quatro escritórios de advocacia. "Estou procurando um bom valor para o seguro. Isso vai levar o tempo que tiver que levar."

PALPITE

O empresário Jorge Gerdau quer convidar colegas como Antonio Maciel Neto, do grupo Suzano, e Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, para o Conselho de Gestão Competitiva, que foi criado pela presidente Dilma Rousseff e que ele irá coordenar.

NOME ARTÍSTICO
O ex-tesoureiro petista Delúbio Soares está decidido a se candidatar a deputado federal em 2014 pelo PT de Goiás. Vai se lançar como o "Companheiro Delúbio", nome de seu blog.

MEIO TERMO
A articulação de um grupo do PT em torno do nome do ministro Guido Mantega, da Fazenda, para a Prefeitura de SP tem como objetivo atender ao desejo de Lula por um nome "novo" para a sucessão. E, ao mesmo tempo, tirar do páreo o candidato do coração do ex-presidente -o ministro Fernando Haddad, da Educação. Lula não se empolga com uma eventual candidatura de Guido. "Mas também não veta", diz um dirigente do partido.

PRIMEIRA DA FILA
Se Marta Suplicy, no entanto, bater o pé e disser que quer concorrer à prefeitura, "nem o Lula conseguiria impedi-la com facilidade", acredita o mesmo dirigente.

UFA!
O Citibank se livrou, por 5 votos a 3, no STJ (Superior Tribunal de Justiça), de uma condenação que o obrigaria a pagar US$ 600 milhões, ou cerca de R$ 1 bilhão, de indenização para uma empresa de Pernambuco. A companhia processava o banco porque teve a sua falência pedida pela instituição. A causa durou quase 20 anos e era a maior enfrentada pelo Citi no mundo. Depois do veredicto, o advogado Sergio Bermudes, do banco, foi à igreja rezar um rosário.

TRAÇO BRASILEIRO
Maquetes e desenhos originais dos arquitetos brasileiros Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci acabam de ser incorporadas ao acervo arquitetônico do Centro Cultural Georges Pompidou de Paris. Dentre os trabalhos, a primeira maquete de estudos do Museu Rodin Bahia.

SP 2030

O Secovi-SP (Sindicato da Habitação) fará um concurso para premiar as soluções mais criativas para a região da praça das Bandeiras, em SP. O prêmio "As Cidades Somos Nós - Propostas para a São Paulo de 2030" dará R$ 10 mil para o primeiro colocado, R$ 8 mil para o segundo e R$ 5 mil para o terceiro.

PULSO
A designer carioca Lygia Durand inaugura amanhã na Galeria do Bispo, em SP, uma exposição de braceletes de prata com imagens de santos que batizou de "A Armadura de Deus". Eles custam de R$ 3.300 a R$ 6.500.

CURTO-CIRCUITO
Adão lança "Aline - Antologia" na Livraria da Vila da Fradique Coutinho às 18h30.

Blubell faz show na Livraria Cultura do shopping Villa-Lobos às 20h. Livre.

José Aníbal assume o Fórum Nacional de Secretários para Assuntos de Energia.

Os DJs Mark Farina e Pete Heller tocam às 22h30 no Espaço Terraço. 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

GOSTOSA

BARBARA GANCIA - Dilma 1ª


Dilma 1ª
BARBARA GANCIA 
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/11

A "rainha Dilma" foi acometida por uma leve pneumonia. É evidente que a notícia causa apreensão


DESEMBARQUEI NO aeroporto Internacional de Guarulhos latindo e abanando o rabo. Au, au, au! Nada como uma semaninha no exterior para que a gente se dê conta da vida de cachorro que leva em São Paulo.
Está certo que poucas cidades se comparam a Londres, de onde cheguei. Mas o paulistano anda às voltas com um novo e tenebroso paradigma. Tome o meu exemplo. Tem dia que a cidade me pesa nos ombros de tal forma que chego a sentir inveja do antigo domicílio de Henri Charrière, também conhecido como Papillon, o famoso fugitivo francês que cumpriu pena em uma localidade da Guiana Francesa denominada "a ilha do Diabo".
Juro que não falo do alto do púlpito do Hyde Park Corner, de onde esbraveja aquele pessoal que viaja pela primeira vez ao exterior e volta achando que lá tudo é melhor do que cá, da Harrod's, mais deslumbrante do que o shopping Iguatemi, ao Hyde Park, bem mais imponente do que o parque do Ibirapuera.
Nem idade tenho mais para esse tipo de recalque e, por sinal, no Kew Gardens de Londres, Burle Marx, paisagista Ibirapuera, é reverenciado em pé de igualdade com qualquer Charles Bridgeman, sujeito que finalizou o primeiro projeto do Hyde Park, em 1733.
Não deixa de ser saudável voltar de viagem impregnado de comparações. Nós nunca viajamos tanto de avião e quanto mais andarmos de lá para cá, menos passíveis seremos de sermos tratados como cães sem raça definida. No fim de semana prolongado do casamento real, brasileiros podiam ser encontrados dependurados nos lustres de salões de chá, de festas, de halls de hotéis, de grandes magazines e de casas noturnas de todos os bairros de Londres.
Deu-me a impressão de que os londrinos acorriam em massa aos supermercados para comprar spray antiturista brasuca, somos quase uma praga por lá atualmente. Engraçado a turma ir a Londres para ver a rainha e não se tocar de que estamos criando nossa própria "realeza" aqui mesmo na figura, por ora impecável, de uma presidente que se impôs em pouquíssimo tempo e conquistou até quem queria cortar-lhe a cabeça.
Nossa "rainha Dilma" (o aceno, a palete de cores dos vestidos e as bolsas são iguais às de Elizabeth 2ª) foi acometida por uma leve pneumonia. Evidente que a notícia causa apreensão. A esta altura, já aprendemos a gostar de Dilma para bem além do respeito que é devido ao cargo que ela ocupa.
E a perceber na figura da presidente alguém que a cada dia se faz mais imprescindível. Pode ser construção de imagem (a rainha também não é?), temperamento, competência, senso de dever ou o caso típico da pessoa certa na hora certa, mas a verdade é que Dilma resgatou as melhores qualidades do cargo e, assim como a rainha britânica, fornece tranquilidade à instituição.
Só se fôssemos loucos ou um país inteiro composto por cidadãos de sobrenome Temer não veríamos problema no mal-estar que acometeu a nossa presidente no último fim de semana.
Por enquanto está tudo bem e nós não temos motivo para perder a fleugma. Mesmo que as próximas notícias não sejam boas, sabemos que linfoma é doença tratável e curável até quando reincide.

JOSÉ SIMÃO - Ueba! Bin Laden no Mar Morto!


Ueba! Bin Laden no Mar Morto!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Cartaz num motelzinho em Sobral: "Solicitamos o obséquio de vossa senhoria não lavar a pistola na pia". E o anúncio de jornal: "Emagreça já! Ligue para doutor Fernando TROTTE". Ah, eu vou ligar: "Dr. Trotte, é o Ronaldo!".
E jogar o Bin Laden no mar é um atentado ao Bob Esponja! E esta: "Militar que matou Bin Laden será condecorado em segredo". E de que adianta condecorar em segredo? Não pode mostrar nem pro cachorro! Como dizia o Stanislaw Ponte Preta: "Americano é um português que deu certo!". E o Obama, depois do slogan "Matei o Bin! Votem em Mim!", lançou um novo slogan: "Te cuida Muammar! Eu tenho que ganhar". E vão jogar o Gaddafi no mar também? Mar Morto!
Rodada de manchetes dos sites de humor. Comentando: "Ratinho revela o exame de DNA do Bin Laden". Kibeloco: "Casa Branca diz que foto do corpo de Bin Laden é horrível". Isso porque eles não conhecem a Geisy Arruda. Rarará! Sensacionalista: "Osama fecha contrato com a Universal para estrelar "Um Morto Muito Louco 3!'". Diário de Portugal: "Denúncia! Bin Laden estava vivo antes de ser morto".
E não tem aquele português chamado Manuel Manuel? É que o pai queria que ele chamasse Manuel. E a mãe também! Pior, um amigo meu tem uma empregada lunática que se chama Aldicéia. ALDICÉIA NO ESPAÇO! E esta: "Defecções no PSDB". Olha, o PSDB não tá tendo defecções, tá tendo diarreia. Tá todo mundo indo pro partido do Kassab, o PSD! Partido Sem Direção!
E sabe qual o castigo do Bin Laden no inferno? Trocar o turbante por aquele chapéu de orelha do Mickey! Vai ter que passar a eternidade usando orelha do Mickey! E adorei a charge do Thomate: "Por que vocês fizeram o sepultamento do Bin Laden em menos de 24 horas?". "É tradição do islã." "Mas vocês o mataram desarmado e jogaram o corpo no mar." "Isso é tradição da CIA mesmo." Rarará!
O Brasileiro é Cordial! Mais uma placa do Gervásio na empresa em São Bernardo: "Aqui não é o programa da Ana Maria Braga pra fazer bolo ou comidinha rebuscada. Se eu souber que algum Louro José daqui teve a ideia de cozinhar uma boia diferente, vou fazer esse bolostrô degustar terra com esterco. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA

NELSON MOTTA - O avesso do avesso


O avesso do avesso
NELSON MOTTA
O Globo - 06/05/2011

Está bombando no YouTube e provocando acessos de gargalhadas e deboches um filme de sete minutos em preto e branco com o prosaico título de "Maranhão 66". Aparentemente é um documentário sobre a posse de José Sarney no governo do Estado, feito por encomenda do eleito. Mas é assinado por Glauber Rocha.

Com 35 anos, cabelos e bigode pretos, Sarney discursa para o povo na praça, num estilo de oratória que evoca Odorico Paraguaçu, mas sem humor, a sério, que o faz ainda mais caricato e engraçado. Sobre seu palavrório demagógico, Glauber insere imagens da realidade miserável do Maranhão, cadeias cheias de presos, doentes morrendo em hospitais imundos, mendigos maltrapilhos pelas ruas, crianças esquálidas e famintas, enquanto Sarney fala do potencial do babaçu.

Só alguém muito ingênuo, ou mal-intencionado, poderia imaginar que Glauber Rocha fizesse um filme chapa-branca. Em 1964, com 25 anos, ele tinha se consagrado internacionalmente com "Deus e o diabo na terra do sol" e vivia um momento de grande prestígio, alta criatividade e absoluto domínio da técnica e da narrativa cinematográfica. E odiava a ditadura que Sarney apoiava. Em "Maranhão 66", a narrativa se estrutura na dialética entre as imagens da realidade dramática e a demagogia caricata do jovem político provinciano que está tirando do poder um velho coronel - para se tornar ele mesmo o novo coronel.

O filme dentro do filme é imaginar o susto de Sarney quando o viu. Em vez de filmar uma celebração vitoriosa, Glauber usou e abusou da vaidade e do patrocínio de Sarney para fazer um devastador documentário sobre um arquetípico político brasileiro. E uma pesquisa para "Terra em transe", que filmou em seguida e hoje é considerado a sua obra-prima. Sarney foi a base para o líder populista interpretado por José Lewgoy, famoso como vilão de chanchadas.

Glauber dizia que o artista também tem que ser um profeta; mas a sua obrigação é de profetizar, não de que as suas profecias se realizem. O discurso de Sarney e as imagens de "Maranhão 66" são os mesmos do Maranhão 2011, num filme trágico, cômico e, 46 anos depois, profético.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Goiás terá nova usina de biodiesel neste ano
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/11

Uma nova usina de biodiesel vai entrar em operação no país neste semestre, em Goiás, no município de Porangatu.
O projeto, da Jaraguá Participações, abrange investimentos de quase R$ 430 milhões no Estado.
Do total, com R$ 148 milhões, será inaugurada no próximo dia 12 a usina Bionasa, que recebeu em abril a permissão da ANP (Agência Nacional do Petróleo) para comercializar seu biodiesel.
O empreendimento representa uma capacidade de 200 mil toneladas do produto ao ano e vai se posicionar entre as maiores usinas ativas do Brasil, de acordo com Francisco Barreto, presidente da Bionasa.
A unidade poderá comercializar até 47 milhões de litros em cada leilão de biodiesel, segundo a empresa.
O projeto é controlado pela Jaraguá e tem como acionistas minoritárias a Canabrava e a Billiter Participações.
"Esse mercado ganha potencial com a queda da produção de petróleo no mundo e o aumento da mistura do biodiesel", afirma.
Outros R$ 280 milhões serão injetados pela holding no projeto da Onasa, uma esmagadora de grãos de soja, para produção de óleo, que será fornecido à Bionasa, e para a agroindústria.
"Queremos avançar na verticalização da empresa e gerar a matéria prima, que é o óleo vegetal", diz.

Petrobras aprova início das obras para sede em Santos

A diretoria da Petrobras autorizou o início das obras para a construção da nova sede da empresa no bairro do Valongo, em Santos (SP).
A unidade, que concentrará as atividades relacionadas à bacia de Santos, terá três torres e abrigará 6.500 funcionários.
O orçamento inicial da sede, que inclui desde a compra do terreno até a inauguração da primeira torre, está estimado em R$ 380 milhões, de acordo com a Petrobras.
O começo das obras deverá acontecer dentro de 15 dias, segundo o prefeito de Santos, João Paulo Papa (PMDB).
"Outras empresas do setor de energia também têm demonstrado interesse em se instalar no Valongo, que era uma área degradada na cidade até então", diz Papa.

Motor...
Veículos da BMW terão nova loja exclusiva em São Paulo. Com investimento de R$ 18 milhões, a concessionária Agulhas Negras inaugura, no dia 23, a unidade, que terá em exposição todos os lançamentos da alemã.

...ligado 
Essa será a terceira loja da concessionária, que já possui em São Bernardo e em Santos. A empresa projeta alta de 40% nas vendas.

Residencial 
A incorporadora Stan lança neste mês a segunda fase de um empreendimento em Taboão da Serra, com VGV de R$ 55 milhões.

Queijo... 
A Laticínios Catupiry expande a atuação no mercado internacional. A empresa, que exporta para EUA e Japão, está fechando contratos com Canadá e Argentina.

...cremoso 

Para comemorar os cem anos, lança neste mês no mercado interno linha do requeijão com sabores.

Energia 
Mauricio Tolmasquim, da EPE, José Manoel Biagi Amorim, do BTG Pactual, e Ricardo Simões, da Abeeolica, participam no dia 18, do Fórum CanalEnergia: Contratação de Energia nos Leilões 2011, no Rio.

Cresce peso de emergentes em exportações do Brasil, diz banco
A participação dos emergentes, principalmente da China, nas exportações brasileiras aumentou de 37%, em 2000, para 57% em março de 2011, segundo o banco Credit Suisse.
O peso dos países desenvolvidos, em especial, dos Estados Unidos, caiu de 61% para 41% no mesmo período.
A concentração dos destinos, por sua vez, diminuiu.
"Apesar do crescimento das exportações de commodities puxado pela demanda chinesa, não houve aumento da concentração da pauta de exportação em relação aos destinos na última década", de acordo com Nilson Teixeira, economista-chefe do banco suíço.
A participação dos atuais principais destinos, China, Estados Unidos, Argentina, Holanda e Alemanha nas exportações totais diminuiu de 47,2% em 2000 para 43,1% em 2010, segundo ele.
A parcela da China nas exportações brasileiras aumentou de 2% em 2000 para 15,6% no acumulado em 12 meses até março e a China ultrapassou os EUA como o principal destino.
A participação do minério de ferro nas vendas totais para o país asiático cresceu de 25% em 2000 para 43,3% no ano passado, de acordo com os dados do banco.

REAÇÃO LATINA
Quase metade (46,5%) das medidas protecionistas adotadas na América Latina são retaliações a outros países, segundo a Rede Latino-Americana de Política Comercial.
O número significa que a região é mais prejudicada do que beneficiada com ações restritivas, segundo a entidade, vinculada à Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, da Argentina.
Desde 2008, 12,9% das medidas impostas na região contra o livre comércio estão relacionadas a tributos.
A China é o país mais afetado pelas medidas.
Argentina e Brasil são as nações mais protecionistas da região, segundo o estudo.

Língua... Pela primeira vez, o encontro anual dos executivos da escola de inglês on-line EF Englishtown está sendo realizado no Brasil. Com base na Suécia, o mercado brasileiro é hoje o segundo maior da multinacional, atrás apenas da China.

...estrangeira Para este ano, a instituição de ensino projeta crescimento de 80% no número de alunos. A EF Englishtown é a provedora oficial de cursos de idiomas para o programa Olá, Turista, do Ministério do Turismo, com foco na Copa de 2014.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION 

MONICA B. DE BOLLE - Seres imaginários e problemas reais


Seres imaginários e problemas reais
MONICA B. DE BOLLE
O Estado de S.Paulo - 06/05/11

Nos idiomas primitivos germânicos, Valquíria significa "aquela que escolhe os mortos", recolhendo as almas daqueles que tombam em combate. O Catóblepa é uma fera de tamanho médio e andar lento por causa da sua cabeça notoriamente pesada, que faz com que se incline sempre em direção ao solo. Já a Quimera foi descrita como um ser com cabeça de leão, tronco de cabra e cauda de serpente. Mais recentemente, como destaca Jorge Luis Borges no delicioso Livro dos Seres Imaginários, a palavra passou a significar o impossível, a ideia falsa. As Valquírias estão à solta, prontas para recolher as vítimas do combate ao excesso de endividamento e do desarranjo macroeconômico mundial. Os Catóblepas são os pobres países endividados, que já não conseguem erguer suas cabeças. E a ideia quimérica de que, apesar disso, a recuperação poderá prosseguir sem grandes desarranjos na condução da política econômica ainda não foi recolhida pelas Valquírias.

A redescoberta do risco de crédito nos balanços do setor privado e, mais recentemente, nos balanços do setor público é o legado da crise de 2008. A herança das dívidas cronicamente elevadas das economias avançadas tem acentuado os conflitos entre os objetivos da política econômica e danificado a governança dos países maduros, detonando um pernicioso processo que se retroalimenta e dificulta enormemente a tarefa de traçar cenários minimamente confiáveis para os mercados de ativos, para as empresas e para os consumidores. A dificuldade de impulsionar o motor de arranque da economia global, refletida nos dados mistos de atividade nos EUA, no Reino Unido e na Europa, tem relação direta tanto com a perda de tração política dos líderes mundiais quanto com a redução da eficácia dos instrumentos de política econômica disponíveis.

A grande dificuldade para aqueles que vivem de elaborar cenários e sustentá-los com argumentos convincentes é que o problema das dívidas, como o Catóblepa, é uma fera de andar lento. É fácil imaginar que o mundo ainda tenha pela frente um longo período de convivência com as dívidas elevadas, dificultando a administração da política econômica e perpetuando o atual quadro de desarranjo macroeconômico. Neste ínterim, vão surgindo velhas tentações que, se por um lado podem eventualmente ajudar a sanar as dívidas, de outro podem provocar surtos de desequilíbrio e volatilidade prejudiciais ao desejado andamento suave da recuperação.

Num artigo recente muito interessante, Carmen Reinhart, do Peterson Institute for International Economics, e M. Belen Sbrancia, da Universidade de Maryland, mostram que episódios passados de excesso de endividamento do setor público nas economias avançadas foram resolvidos por meio da manutenção de taxas de juros reais excepcionalmente baixas por períodos prolongados. A capacidade de manter as taxas de juros em patamares historicamente baixos durante um longo intervalo de tempo foi alcançada mediante a combinação de maior tolerância inflacionária com medidas de repressão financeira, limitando o aumento das taxas de juros nominais. Foi assim que foram resolvidas as dívidas exorbitantes do pós-guerra, logo que implantado o regime de Bretton Woods, em 1945.

Se um caminho parecido com esse já tiver sido escolhido pelas autoridades americanas para lidar com os problemas de endividamento do emissor da moeda internacional, como parece ser o caso, as bruxas do excesso de liquidez global continuarão a castigar a condução da política econômica nas economias emergentes. Nesse ambiente permanentemente hostil, caberá aos gestores de política econômica desses países se desvencilharem de vez das ideias quiméricas sobre a manutenção do ritmo de crescimento da demanda com inflação controlada. O risco de acreditar na possibilidade de alcançar um crescimento que ruge como um leão mantendo os preços aterrados como a cabra, por intermédio de políticas contorcionistas como a serpente, é ser recolhido, num futuro não muito distante, pelas temíveis Valquírias.