sábado, janeiro 28, 2012

Por favor, me surpreenda! - IVAN MARTINS


REVISTA ÉPOCA


Por que as mulheres abominam a rotina?

IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)
Tenho uma confissão a fazer: não gosto de surpresas. Sei que muita gente acha isso essencial ao convívio, mas não é meu caso. Toda vez que alguém anuncia que tem uma surpresa, eu sofro. Deve ser trauma, pode ser culpa, mas talvez seja bom senso.
Lembro de uma amiga, psicóloga, que me contou sobre um paciente dela. O sujeito vivia se queixando de que o sexo com a mulher dele era chato e previsível. Pois um dia, depois de muito reclamar, ele chegou em casa e a mulher, normalmente passiva, o esperava na cozinha de sandália alta e trajes menores, e se atirou sobre ele. O cara levou um susto enorme, seus membros inferiores encolheram, (como ocorre com os homens assustados) e ele retornou à analista, no dia seguinte, dizendo que queria a mulher dele de volta – aquela tímida e previsível, como ele gostava.
Podem rir, mas essas coisas acontecem o tempo todo.
Um amigo me contou sobre a namorada que um dia foi apanhá-lo no trabalho com uma peruca loira, tipo Marilyn Monroe. Ele demorou a reconhecê-la e, mesmo depois de perceber quem era, entrou no carro incomodado, sentindo-se desconfortável. “Não era a minha garota”, ele me disse. Claro que não era. Ela estava fantasiada para realizar uma fantasia, mas tinha se esquecido de combinar com ele. O cara detestou, ela ficou desapontada com a falta de imaginação e receptividade dele, e o namoro começou a fazer água bem ali. Bela surpresa.
A favor do meu ponto de vista, nem vou invocar aquela máxima cínica (e certeira) que recomenda não chegar de viagem sem avisar a parceira (ou parceiro). O gesto romântico de surpreender a namorada um dia antes do previsto já causou muita separação – sem falar em violência e crime.
Com o risco de ser sexista, acho que talvez exista uma diferença na forma como homens e mulheres vêem essas coisas. Tenho a impressão de que na mente das mulheres as palavras surpresa e erotismo andam enlaçadas. O homem perfeito, a melhor transa, o romance inesquecível – tudo isso parece estar associado ao inesperado. Enquanto os homens abraçam os hábitos com a felicidade de quem veste uma calça velha, as mulheres se inquietam com a repetição. Parecem precisar do estímulo da novidade, ainda que seja uma mera encenação – como a moça de peruca no carro do amigo. Por alguma razão que a vasta maioria dos homens desconhece, mulheres exigem a ruptura da rotina para terem paz. Olham para a sua cara na tarde de sábado como quem pergunta: “e aí, não vai fazer nada heróico, espetacular ou incrivelmente sedutor para mostrar que me ama”? A Emma Bovary que há em cada uma delas exige novidades.
Isso tudo, evidentemente, no terreno afetivo. Quando se trata do dia-a-dia, a tendência das mulheres é ficar brava se você atrasa, não telefona, não faz, não paga, não vai. A imprevisibilidade (alguém já disse?) é a virtude dos amantes. Dos maridos e namorados espera-se o cumprimento atencioso da lei e a manutenção pacífica da ordem – no horário de serviço. Depois, seria de se esperar que o esforçado provedor virasse um Don Juan intrépido, capaz de escalar a sacada com um maço de flores e disposição infatigável (e ademais, poética) para os embates do amor. 
Quando eu era criança, ouvia minha mãe cantar na cozinha uma música que dizia exatamente isso: “Lembro-te agora/ Que não é só casa e comida/ Que prende por toda vida/ O coração de uma mulher”. Descobri, anos depois, que se tratava de um samba de Ataulfo Alves que ficou famoso na voz da Dalva de Oliveira. O nome é “Errei, sim”. Lindo. Foi composto em 1950, mas ainda faz sentido. Quem não conhece pode escutar aqui, com a Paula Toller, num vídeo simpático de celular.Estou exagerando, claro. Conheço dezenas de casais que se acomodaram à rotina como quem se deita numa rede depois do almoço, de forma absolutamente confortável. Mas a verdade é que eu não sei (quem sabe?) o que se passa na cabeça das mulheres desses casais. Estariam felizes? A literatura histórica e moderna sugere que não. Ao menos não inteiramente. O romantismo delas parece não caber numa relação 3x4, preto e branco, sala cozinha e banheiro, barba e cabelo, cama e mesa.
Por isso tudo, os homens capazes de surpreender levam vantagem na relação com as mulheres, mas eles são poucos. Passado o entusiasmo inicial, quando o cérebro funciona 100% do tempo no modo sedução, quase todos se deixam largar no sofá e se acomodam. É preciso ser um apaixonado aplicado para continuar pensando no que faria a sua mulher feliz – e dar-se ao trabalho de surpreendê-la. Encher o iPod com as músicas favoritas dela antes de entregá-lo de presente, por exemplo. Ou marcar uma viagem na data do aniversário de namoro sem avisá-la. Essas atenções parecem fazer toda a diferença. Não são grandes surpresas, eu sei, e talvez seja melhor assim – as pessoas sonham com grandes emoções e enormes arrebatamento, mas talvez precisem apenas de afeto, claro e simples.

O outro mundo possível - ZUENIR VENTURA


O GLOBO - 28/01/12


É tempo de fóruns mundiais - o econômico em Davos e o social em Porto Alegre. Um de direita e o outro, de esquerda, digamos, para simplificar. Os megaexecutivos e dirigentes governamentais frequentam o primeiro. Do segundo, participam ONGs, movimentos populares e ativistas sociais. Davos, por tradição, foi sempre marcado por um clima de otimismo em relação ao regime capitalista. Já o Fórum Social Mundial costumava ser de desencanto com o presente e de aposta num futuro melhor. O seu slogan, como se sabe, era: "Outro mundo é possível."

Este ano parece que houve mudanças. Os ares que sopram dos Alpes suíços são de pessimismo. Já as notícias que vêm do Sul carregam um certo tom de satisfação depois que o país de Dilma (que preferiu ir para Porto Alegre) passou a ser visto como exemplo positivo em meio ao ceticismo geral. O presidente da empresa de consultoria Ernst & Young chegou a afirmar que, se o mundo cresceu 3%, foi graças a emergentes como o Brasil.

Os enviados especiais do GLOBO a Davos, a repórter Deborah Berlinck e o colunista Merval Pereira, confirmaram o clima de baixo astral já nas primeiras matérias. Ela abre sua entrevista com dois prêmios Nobel de Economia, Joseph Stiglitz e Michael Spence, assim: "Pela primeira vez, admitiu-se o fracasso do atual modelo de capitalismo." Merval, por sua vez, registrou "um consenso em diversos painéis de que o capitalismo precisa prestar melhores serviços à sociedade". Houve até quem dissesse, parecendo estar no FSM, que "a comunidade de negócios perdeu o senso moral".

Acreditar no fim do capitalismo é uma velha utopia socialista. Ele não vai acabar, mas do jeito que está não pode ficar. Na Grécia, em Portugal, Espanha, Irlanda etc. já provocou com a "austeridade" imposta o aumento do desemprego, da pobreza, dos suicídios e da criminalidade. Como disse Stiglitz, referindo-se à crise de 2008: "Não aprendemos qualquer lição. As únicas pessoas que estão bem nos EUA são as que causaram o problema." Na Europa também, pode-se acrescentar.

Isso significa que outro mundo seja possível? A União da Juventude Comunista acha que sim e que ele é socialista, criticando o FSM por "propor como solução para os crescentes problemas sociais, econômicos e ambientais que afligem a humanidade um pacto por um capitalismo mais humanizado e sustentável". Se isso se confirmar, é sinal de que os dois Fóruns caíram na real. O de Davos por enfim reconhecer que esse capitalismo movido pela ganância desenfreada precisa ser reformado. O de Porto Alegre por abandonar a ilusão de que o socialismo seja viável e por preconizar um modelo que diminua a exclusão e as desigualdades sociais. Afinal, por que não aproveitar dos dois sistemas o que têm de melhor, jogando fora o que não presta? Será esse mundo impossível?

A “solução final” do Pinheirinho - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA


Enquanto a terra for colocada como briga entre direita e esquerda, quem perderá serão os já destituídos


RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Antes que os desabamentos no Rio de Janeiro joguem uma cortina de fumaça na cena mais degradante que vi nos últimos tempos no Brasil – o despejo forçado de milhares de trabalhadores no Pinheirinho, em São Paulo, no dia sagrado de descanso das famílias –, vou falar de desumanidade, egoísmo, cinismo. É pouco? Então vou falar também da violação de nossa Constituição. Que garante o direito à moradia adequada.
O que menos interessa é o jogo de empurra que se seguiu. O Legislativo empurra para o Judiciário e o Executivo, e vice-versa. Um partido empurra para o partido adversário. E vice-versa.
Enquanto a terra rural e urbana for colocada no Brasil como briga entre direita e esquerda, enquanto o deficit de 5,5 milhões de casas populares for jogado na conta do PSDB ou do PT, quem perderá serão os já destituídos. E a sexta economia do mundo continuará a exportar cenas subdesenvolvidas. Políticos intransigentes e sem visão existem no mundo todo. Mas o que se viu no dia 22 de janeiro de 2012 é proibido em países civilizados.
Dois mil policiais, com dois helicópteros, 220 viaturas, 40 cães e 100 cavalos, chegaram ao Pinheirinho quando a comunidade mal acordara, às 6 horas da manhã do domingo. Na casa do eletricista João Carlos Garrido, de 58 anos, “eles entraram falando ‘levanta, vagabundo’ e com um porrete de borracha bateram na minha perna enquanto eu estava dormindo, não me deixaram pegar nada, nem a féria da semana no meu bar”.
Eu me pergunto como as autoridades, pela falta de um cadáver, podem comemorar e “investigar se houve excessos”. A imprensa não foi autorizada a acompanhar a ação, o que é mais um direito violado. Os vídeos em tempo real não foram feitos por jornalistas.
Eram 1.600 famílias, 5 mil moradores numa comunidade com rua, igreja, boteco, praça, quitanda, casa de alvenaria, geladeira, fogão, televisão. E que foram tratados como delinquentes, afugentados por gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de borracha.
Não sei se eu fugiria ou reagiria. Provavelmente, com filhos, fugiria. Não se brinca com a truculenta PM do Estado de São Paulo. Famílias foram para igrejas e abrigos da prefeitura. Na quarta-feira, 500 desterrados caminharam uma hora por 4 quilômetros, com crianças, idosos, cachorros e alguns pertences. Eles tinham sido obrigados a sair da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Na chegada ao abrigo municipal, com telha de zinco e muito calor, uma grávida de três meses desmaiou. Não havia água nos banheiros. A Defensoria Pública abriu ação contra a prefeitura pedindo a retirada das famílias por falta de condições. Como o Estado vai garantir a escola, a saúde e o emprego de uma comunidade dispersada à força e sem teto?
O governo de Geraldo Alckmin em São Paulo e a prefeitura de Eduardo Cury, de São José dos Campos, ambos do PSDB, terão de conviver, em pesadelos, com sua responsabilidade sobre o drama dos retirantes do Pinheirinho, despejados de casas que habitavam havia oito anos.
É uma novela de fracassos. A ocupação irregular começou em 2004. Foi permitida pelas autoridades. Não era área de risco. O terreno de 1 milhão de metros quadrados e R$ 180 milhões pertence ao megaespeculador Nagi Nahas, que deve à prefeitura R$ 16 milhões. Tanto em 2005 quanto agora, em janeiro, o Ministério das Cidades ofereceu recursos para São José dos Campos tornar o terreno público, urbanizar e regularizar a situação dos moradores. A oferta foi ignorada pela prefeitura.O Judiciário estadual de São Paulo também poderá refletir sobre a “reintegração de posse”. A juíza ignorou duas premissas. A primeira é que a propriedade não pode ser definida apenas por seu valor econômico, mas também por sua função social. Quem diz isso não sou eu, é a Constituição. Os despejados não tinham nenhuma alternativa de teto. A juíza os colocou no olho da rua. A segunda premissa eram as negociações, ainda em curso. A atitude mais sensata seria perguntar ao prefeito, ao governador, à presidente se tinham sido esgotadas todas as opções.
A relatora da ONU Raquel Rolnik, arquiteta e urbanista, solicitou o fim imediato do cerco policial do Pinheirinho e a retomada de negociações para reassentar as famílias. “Se o Brasil quer virar gente grande, não pode só virar rico, precisa voltar à civilização e dispensar tratamento digno a todos os cidadãos”, diz Raquel.
Todos cumpriam ordens no Pinheirinho. Lavam as mãos, como numa guerra. Agora, prometem cadastrar “os desabrigados”, ampliar as moradias populares em São José dos Campos, incluir as famílias no Minha Casa Minha Vida. Isso deveria ter sido feito antes.
Sob os escombros do Pinheirinho, pode não haver corpos, mas havia vidas. Era essa “a solução final” que o Estado brasileiro buscava?

Má notícia para os fanáticos do mercado - PAULO MOREIRA LEITE

REVISTA ÉPOCA


Em sua edição de 27 de janeiro, a reportagem de capa da Economist, leitura obrigatória da elite financeira mundial, ajuda a colocar o debate sobre os rumos da economia em seu devido lugar.


O titulo é bastante significativo: “O crescimento do capitalismo estatal
– o novo modelo dos emergentes.”
Como sabem seus leitores, a Economist é uma publicação com idéias conservadoras em assuntos econômicos. Defende uma presença mínima do Estado na economia, costuma apoiar governos e candidatos de acordo com elas mas não é partidária de idéias irracionais nem fanáticas.
A vantagem para os leitores é que não confunde a realidade com seus desejos.
Diante da crise européia, a Economist tem sido uma das críticas mais duras da obsessão de Angela Merkel com a austeridade e defende programas de estímulo ao crescimento para tirar o Velho Mundo para o fundo do poço.
Em 2009, quando boa parte da imprensa brasileira preocupava-se em encontrar obstáculos na recuperação do país após a crise de Wall Street, a Economist saiu com uma capa que mudou o rumo da conversa: ”O Brasil decola.” Ali, lembrava aos leitores que o país havia entrado numa fase de prosperidade e que em breve estaria ocupando um lugar importante entre as maiores economias do planeta.
Essa forma não-provinciana de enxergar a realidade também aparece na reportagem especial de 14 páginas sobre capitalismo de estado.

(Pegue o link, em inglês: http://www.economist.com/node/21542931)

Eu acho que essa reportagem merece reflexão de quem se interessa de verdade pelo conhecimento da economia e não pela divulgação de suas convicções e mesmo de seus preconceitos.

Para a revista, assiste-se a um momento em que a crise do “capitalismo liberal ocidental coincidiu com uma forma nova e poderosa do capitalismo de estado nos mercados emergentes.”

Fazendo um balanço histórico, a revista lembra que o papel do Estado na economia mundial cresceu entre 1900 e 1970. Naquele momento, o vento soprava nessa direção.

Depois disso, as idéias do mercado ganharam terreno com Ronald Reagan e Margareth Tatcher,as privatizações e a ruína da União Soviética e seus satélites.
A partir de 2008, depois da crise do Lehman Brothers e a crise das economias desenvolvidas, ”a era do triunfalismo do mercado foi interrompida.”
Avaliando as consequências desta situação, a revista afirma que a forma atual de “capitalismo de estado representa o mais formidável inimigo que o capitalismo liberal já enfrentou.”
Hoje, “o capitalismo de estado pode reivindicar os maiores sucessos econômicos do mundo para seu campo.” As empresas estatais representam 80% dos valores negociados no mercado de ações da China, 62% na Russia e 38% no Brasil. Comparando taxas de crescimento, a revista recorda que estes países crescem 5,5% ano ano, contra 1,6% dos desenvolvidos. A revista também acredita em 2020 essas economias emergentes irão responder por metade do PIB mundial.
A influencia do capitalismo de estado deve prolongar-se por anos, diz a revista. Isso porque, em função de sucessos localizados e momentâneos, talvez seja necessário aguardar muito tempo até que ”as fraquezas do modelo se tornem evidentes.”
Partidária da visão de que a economia de mercado sempre será mais eficiente e mais aberta às inovações, a revista acredita que cedo ou tarde o capitalismo de estado acabará perdendo sua força e poder de atração.

Gostaria de comentar algumas idéias discutidas pela revista.

A revista associa mercado e democracia, estado e ditadura. Confesso que até hoje não entendi porque se costuma associar estes dois fenômenos, sempre desta maneira. Num país onde o Estado tem forte influencia na economia, esta atividade passa a sofrer forte influencia do sistema político. Se o regime for uma ditadura, será uma influencia autoritária. Se for uma democracia, irá refletir, após muitos filtros e distorções, o pensamento do eleitor. Numa economia dominada pela iniciativa privada, a maior influencia sobre o Estado virá do mercado, ou seja, das empresas privadas e seus lobistas. Não virá do cidadão comum nem da classe média nem dos trabalhadores.

França, Inglaterra e Alemanha são paises que tiveram uma forte influencia do Estado na economia, ao longo do século XX, e não deixaram de ser democracias por causa disso. Nos anos Roosevelt, o Estado coordenou e até dirigiu boa parte do crescimento econômico americano. Seria autoritarismo? As ideias ultraprivatizantes de Augusto Pinochet nunca o impediram de transformar o Chile numa ultraditadura. Há quem diga que a segunda foi condição para que pudesse realizar a primeira.

O nazismo de Adolf Hitler foi um produto direto da obsessão da centro-direita alemã com o mercado e sua recusa para criar medidas para enfrentar o desemprego e a falta de crescimento.

Outra afirmação é a seguinte: “o capitalismo de estado funciona direito quando dirigido por um estado competente.” A regra vale para tudo na vida, na verdade. Inclusive para o capitalismo de mercado. Colapsos gigantescos como de 1929 e 2008 deveriam reforçar a modéstia dos que acreditam na competência instrínseca da iniciativa privada. Nos dois casos ela precisou ser salva pelos recursos do Estado, socializando imensas perdas depois de ter embolsado enormes prejuízos.

A ideia da eficiência natural do mercado esbarra em contradições importantes. Os mercados tem uma dificuldade imensa para lidar com a desigualdade social, problema que está na raiz das principais crises econômicas recentes. Sem mercados para crescer, a economia cria sistemas de credito para emprestar dinheiro para quem pode consumir mas não tem renda de verdade para pagar a conta, montando uma bola de neve que produziu os derivativos que explodiram em 2008.

Uma eleição cinematográfica - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 28/01/12

Nesta semana, duas solenidades relacionadas à pré-campanha mostraram por que a disputa em São Paulo é a mais interessante do país. Ali, os personagens e o enredo construído até agora parecem ter saído do melhor roteirista da praça



Ciúme, traição, ódio, vingança, mágoa e paixão — ou simpatia, que, como diz o bloco carnavalesco, é quase amor. Tal qual um enredo cinematográfico mirabolante, a eleição para a prefeitura de São Paulo tem histórias capazes de interessar até ao cidadão mais distante do noticiário político. Os personagens parecem ter saído da cabeça do melhor roteirista de cinema. Temos de tudo: intrépidos, rainhas, príncipes, jogadores, feiosos, belas, empertigados, negociadores e onipresentes.

O personagem onipresente da trama é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi dele o principal movimento do lado petista, ao descartar Marta Suplicy, a Bela, e escolher Fernando Haddad, o Intrépido, agora ex-ministro da Educação. Aqui, temos material suficiente para um longa, como Tudo pelo poder, dirigido por George Clonney. No filme, ainda exibição em Brasília, democratas disputam prévias. Na guerra interna do partido norte-americano, há traições de sobra. A vida real é ainda mais complexa.

Nesta semana, duas solenidades relacionadas à pré-campanha mostraram por que a disputa em São Paulo é a mais interessante do país. O tamanho da cidade e o número de eleitores — e a importância da corrida para as eleições presidenciais de 2014 — contribuem para dar visibilidade ao pleito. Mas os personagens e os papéis representados por cada um deles dão uma vida a mais ao cenário. Os dois episódios, o primeiro em Brasília e o segundo em São Paulo, revelam tal coisa. A eles, pois.

Na festejada despedida de Haddad do ministério, na terça-feira, Marta não compareceu. Mesmo que tenha uma boa desculpa para a ausência, a petista escanteada alimentou a ingresia. Se a Bela ainda está chateada, vai aparecer no palanque de Haddad? Lula, o Onipresente, e Dilma Rousseff, a Presidente — aqui desempenhando o papel de Rainha — pareciam pouco se importar com a falta da ex-prefeita ou mesmo com os resmungos da oposição por conta das suspeitas de campanha antecipada. Detalhes de uma solenidade tão singela e emocionada. De mais a mais, tudo vale a pena quando a multa é pequena.

Emoção

O importante é seguir o baile, sem dar ouvidos a insatisfeitos. Roteiro bom é aquele em que os chatos têm pouco espaço e sempre perdem no final.

O segundo evento da semana não foi menos emocionante. O mestre de cerimônias, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o Jogador, entregou medalhas ao Príncipe, Fernando Henrique Cardoso, e à Rainha, Dilma. Poucos momentos da política brasileira foram tão meigos. Dilma, num discurso efusivo, agradeceu o prefeito: “(Uma) figura capaz de agregar, capaz de criar vínculos fraternos e republicanos entre as pessoas mais diferenciadas, que é Gilberto Kassab”. Na plateia, José Serra — que aqui não receberá apelidos — assistia a tudo calado. Talvez soubesse o que estava a fazer.

Para terminar, um último personagem, Michel Temer, o Negociador. Ele esteve presente nos dois eventos. Representava Gabriel Chalita, o Empertigado, candidato dos peemedebistas. Na segunda agenda, Chalita estava na Igreja da Sé. Rezava. Eleições são feitas de simbologias e imagens construídas por marqueteiros para encantar eleitores. A disputa pela prefeitura paulista é tudo isso até o momento.

Outra coisa
Depois de Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa, é a vez de Aldo Rebelo, do Esporte, paramentar-se de acordo com a atividade da pasta na Esplanada. Enquanto Jobim usava uniformes militares, Aldo apareceu ontem com um agasalho de esportista, com o nome bordado em alto-relevo

GOSTOSA


Tablets, frangos e o século 19 - IGOR GIELOW


FOLHA DE SP - 28/01/12
BRASÍLIA - Em suspensão no ar, o alumínio em pó é altamente combustível, e sua ignição pode causar mortes ou queimaduras terríveis.

Foi o que aconteceu, segundo relato publicado pelo "New York Times", em uma das fábricas da Foxconn na China no ano passado. Motivo: obedecendo a um cronograma apertado da americana Apple, os chineses aceleraram o polimento dos iPads fabricados por lá.

Assim, o ar ficou impregnado pelo pó decorrente do processo, que acabou por explodir e matar quatro operários, conta o jornal americano.

Para quem não lembra, Foxconn é a empresa montadora de iPads que prometeu investir incríveis US$ 12 bilhões para fazer o tablet no Brasil. É numeralha para boi dormir, claro, mas a firma ganhou um monte de incentivos fiscais do governo e adulação explícita de nossas autoridades.

Obviamente não são esperadas condições escravocratas chinesas na unidade da empresa em Jundiaí, até porque aqui existe um Ministério Público do Trabalho.

Não que o Brasil seja um paraíso. A descoberta de abatedores de frangos a serviço de uma fornecedora da Sadia em condições estranhas (embora a fiscalização inicial não dê conta de trabalho escravo) perto de Brasília é um lembrete disso -ao lado de situações como a das crianças que trabalham em fornos de carvão terceirizados por siderúrgicas e afins.

No caso específico dos frangos, os depoimentos ainda por cima indicam que a unidade não respeita exatamente os preceitos islâmicos que lhe garantem o selo de exportação para países sob o Crescente. Coisa de bilhões de dólares anuais, com clientes que levam a sério o assunto.

Enfim, de "Primeiro Mundo" ou "emergentes", grandes empresas parecem seguir no século 19. Tanto faz: nossa tara pelo último grito tecnológico é mais forte. Se sangue houver na tela, certamente vão fornecer um paninho especial para limpá-lo. "Made in China",

TV aberta, pra quê?! - MARCELO RUBENS PAIVA


O ESTADÃO - 28/01/12


Se há crise na TV aberta brasileira, a crise mundial nunca foi tão fértil para a TV paga.

O capitalismo nos traiu e provou ser incapaz de gerenciar a humanidade. Não se deve deixar nas mãos de homens por essência gananciosos os rumos da História.

O mundo mudou, perdeu a inocência, e a TV foi atrás. Não a nossa que, tirando exceções, vive uma falência criativa e moral sem precedentes.

Sai Sex and the City e a futilidade da era derivativos e gastança pré-2008. Afinal, faliram. Ninguém mais quer ver mocinhas tomando Cosmopolitan e discutindo a compulsão por comprar sapatos.

A sordidez da série Mad Men, símbolo da crise de confiança, da hipocrisia nos negócios e da dubiedade do caráter de homens e mulheres que fumam sem parar e bebem no trabalho, fez escola.

Os publicitários da agência Sterling Cooper Draper Pryce ganharam concorrentes, como as séries Homeland, Boss, Os Bórgias e Boarwalk Empire.

O que se quer ver agora é visão crítica da sociedade de consumo, vícios verdadeiros, personagens que mesclam bons valores com passado condenável, corrupção do poder, decadência do discurso politicamente correto e sexo, muito sexo.

Livres da censura, por mearem horários da TV paga, até o papa Alexandre VI (Jeremy Irons) apareceu na série da BBC traindo a esposa e fornicando com a vizinha, enquanto por aqui ainda discutem o beijo gay na telinha.

***

Já virou praxe, numa festinha, o pessoal na cozinha indicar a série de TV imperdível. São lembrados os melhores episódios de Seinfeld, as frases inesquecíveis de Charlie (Charlie Sheen) de Two And a Half Men, ou quem é mais gata no duelo milionário entre loira e morena no sitcom de dez temporadas Friends, Rachel (Jennifer Aniston) ou Monica (Courteney Cox).

No último Natal, não foi apenas a garotada da minha família que enumerou as séries preferidas. A vechiata também. E não se fala mais "sitcom".

O fenômeno das séries desembarcou com tudo no Brasil. A popularização do cabo e seus gatos mostrou um tipo de TV de cair o queixo e em evolução.

Explica-se. O produtor de um filme fica com 20% do faturamento bruto em média. Foram antes descontadas as fatias de divulgação, distribuição e exibição.

É nesses 20% que estão os cachês de atores, roteiristas, técnicos, custos de produção, locação, viagens, equipamentos, impostos, etc.

Pois grandes exibidoras de TV a cabo perceberam que, se produzissem o próprio material, tinham na conta 100% do bruto, já que elas mesmas divulgariam, distribuiriam e exibiriam.

O mercado se mesclou. Exibidores como HBO, TCM, Showtime, BBC se firmaram como produtores. Grandes estúdios viraram exibidores. Se associaram com outros, antigos concorrentes, como a rede Telecine, da MGM, Paramount, FOX, Universal e, agora, Disney, que levou a Pixar e a DreamWorks.

O resultado foi a migração do pessoal do cinema para a TV, de diretores a roteiristas.

No último Globo de Ouro, as equipes de longas indicados batiam um rango e se embebedavam ao lado das equipes de séries de TV indicadas, como Homeland, Boss, Game of Thrones, Boardwalk Empire, Downton Abbey.

Em Boss, está na direção e produção Gus Van Sant. Em Boardwalk, Scorsese.

***

Minhas dicas:

1. Homeland é a surpresa do ano. Baseada na série israelense Hatufim, Claire Danes faz Carrie Mathison, agente bipolar de operações da CIA, que acha que o sargento Brudy (Damian Lewis), fuzileiro americano que ficou anos prisioneiro da Al-Qaeda, mudou de lado e representa um perigo à segurança nacional.

A série é de prender o fôlego. Em todo momento, duvida-se do caráter de um herói fabricado. E, o mais incrível, levanta a questão: é possível um soldado americano exemplar ser convertido pela organização terrorista tão odiada e se tornar um muçulmano praticante?

Ela ganhou o Globo de Ouro de melhor série dramática, e Claire, melhor atriz.

2. Se você acha que já viu tudo na TV sobre manipulação política, Boss, série sobre o populista prefeito Tom Kane de Chicago, que tem uma doença grave, uma filha viciada e um casamento de fachada, o surpreenderá. Kelsey Gramnmer, o protagonista, ganhou melhor ator.

3. Na onda sexo-podridão-no-poder, tem Os Bórgias, sobre a família do papa mais polêmico, que enfrentou seus inimigos sem a poesia e plasticidade da Renascença.

4. O ideal seria assistir em seguida às quatro temporadas de The Tudors, sobre Henrique VIII, seu temperamento afiado, o mulherio e o rompimento com o papismo, inaugurando o absolutismo europeu e a Reforma.

Também com muito sexo, anti-heróis, conchavos e golpes. Série histórica que, de tão acurada, parece ter sido baseada no site Wikipédia.

5. Downton Abbey, que se passa no começo do século passado, é mais puritana. Mas mostra a decadência da aristocracia inglesa, ou melhor, a sua transformação. Com muita futrica e casamento. É série de menina.

6. Pan Am, série da Sony protagonizada por aeromoças dos tempos em que a profissão oferecia mais glamour do que barrinha de cereal, apresentada como a versão feminina e uma resposta ao chauvinismo indisfarçável de Mad Men, é uma bobagem. Não pegou.

7. Delírio, criatividade, roteiros primorosos, personagens e atores inesquecíveis mostrou a HBO. No primeiro episódio de Game of Thrones, baseado no best-seller de George Martin, um casal de irmãos num ato sexual é flagrado por um menino, herdeiro do principal assessor do rei. Eles o derrubam da janela.

O terceiro irmão é um anão mulherengo e carismático. Um bon vivant esperto, renegado pela família, vivido pelo ator Peter Dinklage, prêmio de melhor ator coadjuvante.

Pegou. A segunda temporada da série já está em produção. Como também as de Homeland e Os Bórgias.

Este ano, a galera de Mad Men, que faturava todos os prêmios nas edições anteriores do Globo de Ouro, se embebedava nos estúdios da produtora Lionsgate Television, gravando enfim a quinta temporada da série, que reestreia domingo, dia 25 de março, nos EUA.

O site HuffPost juntou o elenco com o criador Matthew Weiner, para descobrir que todos acham que a temporada em produção é a melhor de todas. Melhor ainda? Uau...

O dilema de Temer - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 28/01/12


O Vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer tem sido muito cobrado por seu partido nos últimos dias. Querem que ele se defina: ou se restringe a ser o vice, cumprindo um papel institucional, ou assume a condição de chefe de partido. Não dá para ser as duas coisas, argumentam, pois um chefe de partido precisa falar mais grosso. O PMDB avalia que saiu por baixo da crise do Dnocs e a orientação geral agora é para que todos os seus líderes mergulhem.

O recado de Lula para Pimentel
O ex-presidente Lula mandou um recado para o líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), e aos que o apoiam. Ele quer que eles parem de tensionar a senadora Marta Suplicy (PT-SP) com essa história de rodízio na vice-presidência do Senado. Grato pela decisão de Marta de não disputar a candidatura à prefeitura de São Paulo com o ex-ministro Fernando Haddad, logo após o carnaval, Lula, ao lado da presidente Dilma e de lideranças petistas, fará um esforço para integrá-la à campanha. Já Haddad, de acordo com correligionários, trata o assunto com desdém. "Se não apoiar, ela fará o quê?", comentou ele.

"Isso é página virada” — Valdir Raupp, senador (RO) e presidente, em exercício, do PMDB, sobre a crise que resultou na queda do diretor-geral do Dnocs

EM CAMPANHA. Os petistas dizem que o ministro Aloizio Mercadante não se limitará a tocar o Ministério da Educação. Candidato do ex-presidente Lula ao governo paulista em 2014, sua intenção é criar programas e metas novas capazes de projetá-lo como grande gestor. Viabilizar um candidato capaz de enfrentar o governador Geraldo Alckmin foi o argumento do ex-presidente Lula para convencer a presidente Dilma a nomeá-lo.

Pela metade
O líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), vai poder indicar o novo diretor-geral do Dnocs, desde que o nome escolhido por ele seja técnico e tenha ficha limpa. Esse critério está sendo exigido pela presidente Dilma.

Sem saída
A presidente Dilma quer substituir o ministro Mário Negromonte (Cidades), por achá-lo ineficiente, mas está com dificuldade de encontrar um nome no PP. Dilma quer alguém à altura do ministério e que tenha apoio do partido.

Tudo pelas bases
O ministro Garibaldi Alves (Previdência) leva tão a sério o atendimento a prefeitos do Rio Grande do Norte, seu estado, que costuma pegar o telefone para pedir a seus colegas de ministério que atendam os mandatários potiguares. Seu argumento virou bordão: "Você sabe, não é ministro, que nos pequenos municípios estão os grandes problemas". Contam que, num dia desses, ele saiu de seu prédio a pé para acompanhar um prefeito ao gabinete do ministro Alexandre Padilha (Saúde).

Corpo mole
Inconformados com os rumos da crise no Dnocs, parlamentares do PMDB descartam votar contra o governo no Congresso. Dizem que seria inútil. Mas o que eles podem fazer é, no futuro, dar apoio à convocação de ministros.

O plebiscito
Nas conversas em busca de apoio para a realização de um plebiscito sobre a reforma política, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) tem sido estimulado a propor a consulta para este ano. Haveria mais tempo de TV para esclarecer os eleitores.

O DEPUTADO Ricardo Berzoini (PT-SP) assumirá a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara no lugar de João Paulo Cunha (PT-SP).

PAZ ETERNA. Sales Ximenes Aragão, falecido em 5 de abril de 2011, é um dos réus de ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Estado do Rio em 5 de outubro de 2011, seis meses após sua morte. Ele é acusado de fraude em concurso para o MP-RJ.

SOMBRA. A presidente Dilma anda exasperada com o assessor da vice-presidência Rocha Loures. Ele está sempre a cercando nas reuniões.

Operação desastrosa - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE P - 28/01/12

SÃO PAULO - A julgar pelos resultados, a operação policial no Pinheirinho foi desastrosa: algumas pessoas saíram machucadas, famílias ficaram sem ter onde morar e o "imbróglio" judicial em torno da massa falida da Selecta não ficou mais perto do fim.
Boa parte das consequências era previsível antes de o juiz assinar a reintegração de posse e a polícia executá-la. A pergunta é: por que tanta gente participou de uma ação da qual claramente resultaria mais mal do que bem? Respondê-la é tarefa para os novos cientistas do mal, pesquisadores como Roy Baumeister, que se dedicam a estudar como a violência brota e se espalha pela sociedade.
Entre várias descobertas e "insights" valiosos, Baumeister mostra que um modo eficaz de arrebanhar perpetradores para ações cruéis é dividir a responsabilidade, de preferência entre muitos atores, incluindo figuras de autoridade. A psicologia de grupo ensina que, nessas situações, poucos ousarão levantar a voz para denunciar a imoralidade e, como ninguém se sentirá pessoalmente responsável, não deverá opor muita resistência em tomar parte no processo.
Uma receita quase infalível é a preconizada pelo sistema: um juiz defere a reintegração e não tem mais nada a ver com isso; o governador manda a polícia cumprir a determinação judicial e sai de cena; o comandante ordena à tropa que aja, e os soldados, que têm juízo, obedecem. Ninguém é responsável sozinho e, por isso, fica fácil espancar uns pobres diabos e pôr famílias no olho da rua.
Muitas vezes, essa divisão do trabalho e das responsabilidades funciona para o bem, mas nem sempre. Se a ideia é fazer justiça e não só cumprir leis, juízes talvez devessem visitar as áreas a ser reintegradas e conversar com os moradores antes de assinar despachos. Os americanos chamam isso de "igual consideração de interesses", um princípio moral que alguns filósofos consideram tão ou mais importante que a própria noção de direitos.

Roteiro de mágoas - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 28/01/12


FÁBIO ZAMBELI (interino)


Rediscutindo a relação com o Planalto ante a degola de apadrinhados em órgãos federais, peemedebistas ensaiam discreta mudança de rota no Congresso. Nas palavras de seus líderes, o principal partido da base de Dilma Rousseff será "mais PMDB e menos governo" na reabertura dos trabalhos, quarta-feira.


Depois de um ano de fidelidade inconteste, deputados da sigla do vice Michel Temer falam em ceder à oposição relatorias de projetos explosivos e de Medidas Provisórias. Discutem ainda remover obstáculos à convocação de ministros sob suspeita. "Terminamos o ano com raiva e começamos com ódio", diz um dirigente.


Calmante Após responder ao estilo desafiador do PMDB com demissão, o Planalto autorizou ontem o ministro Edison Lobão a declarar publicamente que Sergio Machado (Transpetro) fica no cargo. A estratégia serviu para tranquilizar, por ora, o senador Renan Calheiros (AL), padrinho de Machado.


#prontofalei Do senador Delcídio Amaral (PT-MS), em seu Twitter: "Tem partido na base do governo que me faz lembrar o filme 'Dormindo com o Inimigo'".


Currículo Convidado por Aloizio Mercadante para a Secretaria de Educação Básica, César Callegari presidia o Ibsa até a semana passada. O instituto presta consultorias para projetos educacionais.


Prevenção Callegari diz que se desligou da empresa após ter sido sondado para o MEC. Queria evitar conflito de interesse. O ex-deputado afirma ter sido chamado por Mercadante no dia 19, um dia depois de o governo oficializar o ministro no cargo. Seu currículo está na Casa Civil.


Apoio moral Embora não tenha designado ninguém do primeiro escalão para acompanhar in loco o rescaldo da tragédia no centro do Rio de Janeiro, Dilma mantém contato telefônico regular com Sérgio Cabral e Eduardo Paes desde quarta-feira.


Na linha Entre as soluções estudadas pelo Ministério das Cidades para abrigar as famílias expulsas do Pinheirinho está o uso de áreas do patrimônio da União. Para o governo, São José dos Campos teria terrenos ociosos às margens de ferrovias desativadas ou subutilizadas.


Dobradinha Piada que corria ontem entre tucanos que ironizavam a visita de Geraldo Alckmin a Lula no Sírio-Libanês, repetindo o gesto de Gilberto Kassab: "Será que o governador ofereceu um vice para o Haddad?". Um dirigente do PSDB aproveitou a brecha: "Claro, sugeriu o Gabriel Chalita".


Emocional Alckmin presenteou o ex-presidente com o livro "Curar", do neurocientista francês David Servan-Schreiber. A obra trata da "visão holística e integradora da medicina das emoções".


Recall Depois de o PC do B reafirmar a intenção de lançar Netinho de Paula à prefeitura paulistana, ontem, o PRB fará amanhã convenção para referendar Celso Russomanno. Os dois partidos terão mais quatro meses para resistir aos acenos aliancistas de PT, PSDB e PMDB.


Conectadas Na lista de postulantes à sucessão de Antonio Anastasia (MG), Andréa Neves e Renata Vilhena usam e abusam da internet. Enquanto a irmã de Aécio inaugurou blog, a secretária de Planejamento divulga benefícios para o funcionalismo nas redes sociais.


Visita à Folha Milton Seligman, diretor de Relações Corporativas da Ambev, visitou ontem a Folha. Estava com Alexandre Loures, gerente de comunicação.


Tiroteio


"É sabida a pouca relevância do Legislativo, mas o presidente deveria ser o último a colaborar. Abandonar a Casa e não avisar a vice é demais. 'Vada a bordo', Marco Maia."
DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ) sobre a viagem do presidente da Câmara à Alemanha. O petista não informou sua ausência à vice-presidência, que deveria assumir a Casa no período em que ele permaneceu fora do país.


Contraponto


Quem é ela?


Durante a primeira reunião ministerial do ano, a equipe de Dilma Rousseff discutia o monitoramento por câmeras em aeroportos. A presidente disse:
-Isso é para a gente ver os ministros que estão viajando. Dá para ver se o Paulo Bernardo foi para o Canadá.
Um ministro brincou:
-Só se ele foi procurar a Luíza...
Mulher do titular das Comunicações, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) interveio imediatamente:
-Que história é essa?

GOSTOSAS


Chegando ao fim em Roma - SÉRGIO AUGUSTO


O ESTADÃO - 28/01/12

Há cinco anos empolguei-me com um romance de estreia, Then We Came to the End, de Joshua Ferris, que na tradução da Nova Fronteira virou E Nós Chegamos ao Fim. Ambientado numa agência de publicidade de Chicago, era um Mad Men atualizado ao revertério econômico da época, com situações e diálogos de alta voltagem cômica. Nos primeiros meses de 2010, outro estreante, Tom Rachman, me encheu os olhos com um romance mais ou menos na mesma linha. A vítima da crise, daquela vez, era o jornalismo impresso afrontado pelas novas tecnologias e autodestruído por gestores insensíveis e incompetentes.

Veja também:
Rachman fala ao 'Sabático' sobre 'Os Imperfeccionistas'

Recém-lançado pela Record, Os Imperfeccionistas (tradução de Flavia Anderson, 377 págs., R$42,90) é uma inteligente e divertida elegia da imprensa analógica. E talvez o mais esperto retrato do rat race jornalístico desde que Ben Hecht e Charles MacArthur inventaram a dupla Hildy Johnson-Walter Burns, na comédia The Front Page, já lá se vão 85 anos. Rachman, como Ferris, conhece a fundo o milieu de seu romance, pois antes de se realizar como escritor frequentou, a exemplo de Ben Hecht, um punhado de redações. Trabalhou no International Herald Tribune, em Paris, e para a AP, no Egito e Japão.

Paradigma de um tipo de repórter afoito e ladino, Hildy Johnson até já emprestou seu nome a um importante prêmio para jornalistas furões em Chicago. Quem sabe, um dia, não será instituído um galardão similar com o nome de Herman Cohen. Ele bem que merece a deferência. Dos imperfeccionistas criados por Rachman, é o único à altura de uma homenagem do gênero.

Ao apresentá-lo como "chefe de redação", a tradutora da Record no mínimo desidratou uma piada: no original, Cohen é identificado como "corrections editor", cargo que não existe nominalmente, embora corrigir os cochilos da redação seja o que de fato ele faz no jornal em torno do qual giram todos os 11 capítulos do livro. E com que verve ele atua! Volumoso e glutão, é o terror de repórteres, colunistas e editores, cujos erros de ortografia ("Estrados Unidos", "Satã Hussein"), informação (Tony Blair incluído numa lista de "dignatários japoneses recém-falecidos"), solecismos, clichês e vícios de linguagem não só patrulha obsessivamente como expõe ao ridículo num mural de cortiça.

Todos nós, jornalistas, já convivemos com semelhante figura, rigorosamente presa a regras gramaticais, fiscal e penhor da qualidade dos textos, sem a qual a "credibilidade" do jornal, para usar uma de suas expressões favoritas, vai pro brejo. Como é típico da espécie, Herman faz cerrada campanha contra vocábulos um tanto desmoralizados pelo uso abusivo. "Literalmente", por exemplo. Porque "muitas vezes, ações descritas dessa forma nunca chegaram a acontecer", argumenta, pinçando de uma reportagem esta pérola: "Ele morreu de susto, literalmente". Se tal fato tivesse ocorrido, comenta, "eu sugeriria promover a matéria à primeira página".

Herman é meu personagem favorito, confesso, literalmente cônscio de que posso estar cometendo uma injustiça com alguns de seus colegas de redação, e sobretudo provocando a debochada impaciência do "corrections editor".

Arthur Gopal e Winston Cheung disputam no photochart a segunda colocação. Arthur é um talento desperdiçado (ou desmotivado) pela direção do jornal, que o condenou ao mofo da seção de obituários, da qual escapa depois de entrevistar, em Genebra, uma renomada feminista austríaca com o pé na cova. Winston é um ingênuo sino-americano que se deu mal ao trocar a primatologia pelo ilusório charme do jornalismo, que lhe parecia "uma profissão de macho alfa". Mesmo sem dominar o árabe, disputa a vaga de freelancer no Cairo com um experiente picareta, Rich Snyder, que o põe no bolso, ao cabo de peripécias que ora evocam o Hunter S. Thompson de Fear and Loathing in Las Vegas, ora os desatinos africanos de William Boot em Furo!, de Evelyn Waugh.

Jamais identificado pelo nome, o jornal é um diário de língua inglesa editado em Roma desde 1953, com 12 páginas e tiragem pouco superior a 15 mil exemplares. Só na página 356 ficamos sabendo por que o excêntrico milionário de Atlanta Cyrus Ott, cujo império empresarial brotou de uma refinaria de açúcar falida, entregou-se ao capricho de montar no Corso Vittorio Emanuele II um veículo para circular apenas na Europa, no Megrebe e no Extremo Oriente.

Acompanhamos as seis décadas que o jornal conseguiu aguentar-se de pé indo e voltando no tempo, dos anos 1950 ao segundo governo Bush, cruzando de um personagem a outro, cada um deles introduzido na abertura de um capítulo, sempre encimado por uma manchete ("Aquecimento global é bom para sorvete", a melhor de todas). Constantemente golpeado por cortes de verbas e pessoal que comprometem sua qualidade, mas jamais o livram do patíbulo, ele afinal sucumbe à concorrência de outras mídias, ao seu suicida desdém pela internet e à calamitosa gestão do último herdeiro do clã Ott, Oliver, jovem meio retardado que só a um basset hound chamado Schopenhauer costuma dar atenção.

Rachman nega ter escrito o epitáfio do jornalismo, que prefere ver como uma profissão em transição, não em via de extinção. Mais de um crítico considerou Os Imperfeccionistas uma sátira afetuosa à imprensa que consome papel e tinta e nos últimos tempos passou a ser a última a dar as primeiras. Por isso, o quarto personagem mais interessante do livro é o protagonista do primeiro capítulo, Lloyd Burko, um patético correspondente em Paris que ainda usa fax. Mais que um personagem, uma metáfora.

Filha de peixe, peixinho é: Carol, a vaidosa - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém

O GLOBO - 28/01/12


Fernando Haddad deixou o MEC e, também, o celular que usou por anos como ministro de Estado.
E foi para São Paulo,comemorar seu aniversário junto com o da cidade.
Na pressa, levou o celular da filha Carol, de 11 anos, muito desenvolta e de comportamento parecido com o do pai.
Na cidade, o agora candidato do PT à sucessão de Kassab teve, finalmente, o seu primeiro encontro com o prefeito, que está insinuando apoio do PSD a Haddad, desde que possa indicar o vice da chapa.
Eis que, no meio da conversa, o telefone do ex-ministro, melhor, o de Carol, toca. Haddad tira o aparelho do bolso e o desliga, diante de um estupefato prefeito:
— O senhor também usa a “Hello Kitty” no celular?!
Já que falei nela, Carol foi atração no jantar de despedidas do pai com um grupo de jornalistas. Um deles brinca:
— Carol, você é muito carismática! Você será uma grande líder!
E a “Haddadinha”, rápida na resposta:
— Sabem que na escola dizem a mesma coisa!
Diante da gargalhada geral, o pai a socorre:
— Filha, não dê bandeira! Disfarça, como seu pai!

Agente
Em nome da presidente Dilma, Lula ligou esta semana para um importante líder comunitário do Rio, convidando-o a assumir a Secretaria da Igualdade Racial, no lugar de Luiza Bairros.

Rocha
O PT quer tirar Sérgio Machado do comando da Transpetro, onde está há nove anos.
É bom, então, que saibam desta história:
Eleito presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, na primeira audiência com Lula, pede a cabeça de Machado:
— Ele trabalhou contra mim! — contou.
— Vou demiti-lo já!
Foi a Temer, a Sarney e Jucá descobrir quem era o padrinho do sujeito.
Não era nenhum deles.
Lula não teve dúvidas: mandou demiti-lo. Mas voltou atrás quando descobriu quem era o padrinho:
— O senhor estava me procurando, presidente? — ligou-lhe Renan Calheiros.

Recuo
Então, pago para ver!
Uma coisa é Dilma peitar o PMDB da Câmara. Outra é enfrentar Renan Calheiros. No caso do bravateiro Henrique Alves, que ameaçou Dilma por causa da demissão do presidente do Dnocs, o que pode se dizer é que...
O leão miou!

Sem festas
Ontem, dia do seu aniversário, Cabral recebeu telefonemas de cumprimentos de Dilma, Lula, Sarney e de outras autoridades do país. Mesmo assim, nada o animou, por conta da tragédia. Vaidades Dilma quer surpreender o país, indicando um nome expressivo da sociedade para comandar a Secretaria da Mulher.
Em Brasília, a opinião corrente é a de que, neste governo, não há espaço para Marta e Mercadante serem colegas de Ministério. Aguardemos!

Desprestígio
Para se ter uma ideia de como anda a insatisfação dentro do PMDB com o governo, repare no que disse um cardeal do partido, apagando com um balde de gasolina o fogo amigo: — Estão reclamando do quê? Nós estamos bem servidos. Se um de nós precisar de alguma coisa no Ministério da Agricultura, o Mendes Ribeiro dá um saco de semente. Se precisar do Ministério do Turismo, o Gastão Vieira dá um ticket de viagem. E, na Secretaria de Estratégias, o Moreira dá um seminário.

Lady Gaga
Sobre a entrevista de Fernando Henrique, na qual ele defende a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República e não a de José Serra, a quem responsabiliza também pelos fracassos eleitorais do PSDB, o ex-governador só fez este comentário a uma pessoa da sua intimidade:
— Tá gagá!

Praia
Miami é a Davos do Aécio.

Inveja
O Brasil esta semana foi Quinzé ( Malvino Salvador) de “Fina Estampa”. A mãe de Quinzé, a arrogante Griselda, ganhou na loteria, mas quem levou o prêmio foi o filho, ao disputar um UFC na cama com Teodora Bastos, papel da grande atriz Carolina Dieckmann. Paredinha A Vale ganhou ontem, em Da-vos, o título de “a pior empresa do ano”, em votação promovida por um site de ambientalistas. A coluna ouviu Murilo Ferreira, presidente da empresa: — Conseguiram 25 mil votos contra, enquanto o BBB recebe 40 milhões de votos para tirar alguém da casa.

Férias
Até março.

Para Brasil, não existe 'emergência' quanto a direitos humanos em Cuba - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 28/01/12

Chanceler brasileiro, Antonio Patriota, afirma em Davos que Dilma evitará tema em viagem
Segundo ele, visita da presidente servirá para dialogar sobre "atualização do modelo econômico cubano"

O chanceler Antonio Patriota disse ontem que a situação dos direitos humanos em Cuba "não é emergencial" e, por isso, a presidente Dilma Rousseff não falará sobre o tema em sua visita à ilha na semana que vem.
O ministro ressalvou que ela não falará "para os ouvidos dos jornalistas", uma maneira evasiva de dizer que talvez fale a portas fechadas aos líderes cubanos.
A tese clássica da diplomacia brasileira é que "resultados positivos [em direitos humanos] não surgem necessariamente da exposição pública", repetiu o chanceler.

O Itamaraty escuda-se nessa tese para evitar se manifestar abertamente sobre direitos humanos.

Patriota relatou uma conversa com autoridades cubanas sobre o assunto em recente viagem à ilha.

Ele não entrou em detalhes, a não ser para elogiar o papel de médicos cubanos para controlar um surto de cólera no Haiti.

Epidemias também são uma forma de violação dos direitos humanos, embora a avaliação usual restrinja o tema a aspectos institucionais e de liberdades públicas.

O chanceler adiantou que a visita de Dilma servirá para dialogar a respeito da "atualização do modelo econômico cubano em busca de maior eficiência".

Ou, posto de outra forma, o governo brasileiro está interessado em colaborar no que seja necessário para a transição cubana de um modelo de economia centralizada e totalmente estatizada para algo mais aberto, ainda que sob controle do Partido Comunista Cubano.
Nesse mesmo espírito, o ponto central da relação Cuba/Brasil passa pela ampliação do porto de Mariel, obra para a qual a Câmara de Comércio Exterior acaba de autorizar o BNDES a desembolsar mais uma fatia.
Tradução, segundo a Folha apurou no governo brasileiro: a ampliação do porto de Mariel só tem sentido se servir para o comércio com os EUA, hipótese inviável ante o embargo norte-americano.

Ueba! Pablo, qual é a múmia? - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 28/01/12

Eu tenho que dar um "erramos", reparar uma injustiça: os ovos tacados no Kassab eram pro Alckmin!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simāo Urgente! O esculhambador- geral da República! Predestinado do dia! Olha o nome do diretor de qualidade do McDonalds: Todd Bacon! Rarará!
E a RedeTV! ressuscitou aquele Pablo do "Qual É a Música?"! Que agora é "Pablo, QUAL É A MÚMIA?". Rarará!
E dois eventos dividem o planeta: Davos, na Suíça, e Fórum Social, em Porto Alegre! Terno Armani X camiseta Che Guevara!
E os ricos de Davos estão tão falidos que deviam mudar o nome de Davos pra Devo! Turma do Devo!
Fórum Econômico Internacional do Devo! E o slogan tinha de ser: ou davos ou descevos! Rarará!
E o Obama vai de Bic emprestada de algum brasileiro que tava na Disney!
E no Fórum de Porto Alegre tem tanta camisinha que não é mais fórum. É fórum e dentrum, fórum e dentrum, fórum e dentrum. E no fórum, a Anvisa fez uma palestra: "O que você está comendo?" E um participante gritou: "Uma feminista!" Rarará!
E eu tenho que dar um "erramos", reparar uma injustiça: os ovos tacados no Kassab eram pro Alckmin. O Kassab foi vítima de ovo perdido! Rarará! O Alckmin desconfiado não foi à missa na praça da Sé.
Olha, pro Alckmin Barata de Igreja faltar à missa é que a situação era grave. Sabia que aquela careca ia virar frigideira! Rarará!
E essa: "Azul quer implantar a linha Campinas-Pelotas". Piada Pronta. Vão ter que mudar a cor do slogan: Voe Rosa! O avião vai virar uma ambulância. De tanto que vão gritar: "UUUU"! E se der turbulência, as bibas vão pensar que tão no Hopi Hari. "Segura, amiga!" "Volta pro pão, carne louca!"
E eu tava indo pra Bahia quando um piloto estressado gritou: "Segura aí atrás que vai balançar!".
Aliás, sabe como se chama zona de turbulência em Portugal? Zona de abano! Apertem os cintos que o avião vai abanar! Segura que o avião tá abanando! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
O Brasileiro é Cordial! Placa em Monte Carmelo (Minas Gerais): "Quem polui o ambiente jogando entulho ou lixo em local inapropriado é: viado, corno ou prostituta". Rarará!
E em Recife já é Carnaval. Tá na rua os blocos Mulher na Vara e Tome no Caneco! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Governo do trilhão - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 28/01/12

O governo federal tirou dos contribuintes quase R$1 trilhão no ano de 2011 em forma de impostos. E, mesmo assim, terminou o ano no vermelho, com um déficit nominal de 2,4% do PIB. O bolso do contribuinte, pessoa física e jurídica, também teve que mandar outros bilhões de reais para sustentar os governos estaduais e municipais.
A carga tributária pode ter aumentando 1,12 p.p. sobre o PIB, pelas contas do IBPT, e há fatos curiosos. A arrecadação aumentou 10,1%, descontando a inflação, apesar de o país ter desacelerado o ritmo no final do ano. O país cresceu menos de 3% em 2011, e a receita do governo federal com impostos e contribuições aumentou sobre 2010, em que o PIB cresceu 7,5%.
Em parte, isso é efeito de defasagem em impostos, como o Imposto de Renda, por exemplo, que cresceu quase 20%, mais do que a média das outras taxas. Mas há outros fatores que explicam o resultado positivo: a suspensão das isenções fiscais para o setor automobilístico, o aumento do imposto de importação, uma elevação do tributo sobre ganhos de capital. E um pagamento de uma dívida que estava sendo contestada pela Vale. Só a empresa pagou ao governo R$5 bilhões, mesmo antes de encerrar a discussão judicial. A nova diretoria da Vale decidiu fazer o recolhimento.
Até a Cide, Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, nome pomposo do imposto que incide sobre combustíveis, teve aumento de arrecadação, apesar da redução do tributo para favorecer a Petrobras. Como a estatal está tendo perda com a importação de gasolina a preço acima do que ela pode cobrar das distribuidoras, foi feita uma gambiarra: o governo reduziu o tributo, mas manteve o preço para que a estatal fique com uma parte maior do dinheiro. Mesmo assim, recolheu R$9 bilhões. A Cide foi criada para financiar o investimento em infra-estrutura de transporte. Se fosse todo dedicado a isso, e se o Ministério dos Transportes usasse bem o dinheiro - sem desvios e com eficiência - o Brasil teria dado no ano passado um salto na qualidade da logística. Não foi o que aconteceu.
O problema no Brasil não é apenas que o governo cobra imposto demais, é que ele usa os recursos de forma ineficiente, a cada ano precisa de mais impostos, e sempre está fechando as contas com déficit. É uma dinâmica que não pode ser mantida indefinidamente. A carga tributária tem aumentado há quase 20 anos.
Para cumprir as metas fiscais, de superávit primário, o governo precisou postergar investimentos e recolher mais impostos. Imagina o que teria acontecido se a arrecadação não tivesse aumentado? O governo não pode contar sempre com aumento da receita para fechar as contas, porque haverá anos difíceis. Em 2012, muito provavelmente os impostos não crescerão nessa proporção. O ajuste tem que ser feito pelo lado da despesa e não apenas pela elevação da receita.
O presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, João Eloi Olenike, disse que normalmente a arrecadação federal é 70% de todos os impostos pagos pelos brasileiros. Se juntarmos com o que os contribuintes recolheram aos estados e municípios a carga que pesou sobre os nossos bolsos foi de R$1,375 trilhão. Só nos primeiros vinte dias de 2012 os brasileiros já pagaram R$100 bilhões, segundo o impostômetro da Associação Comercial de São Paulo.
Parte do aumento da arrecadação é por maior eficiência fiscalizatória. É bom que haja, para evitar a sonegação. Mas o peso dos impostos continua sendo distribuído desigualmente.
- Os impostos em sua maioria incidem sobre o consumo e assim não se separa por faixa de renda. Todos pagam igual, o que é inconstitucional. O pobre paga tanto quanto o rico - diz Olenike.
O brasileiro não recebe a informação do imposto que está sendo pago em cada produto. Ao contrário de outros países, no Brasil não há a discriminação dos impostos embutidos no preço.
Aumento da transparência de quanto pagamos de impostos indiretos é uma das tarefas urgentes para que ambos - governo e contribuintes - tenham mais consciência do custo que recai sobre a população. Um lado se sentiria mais obrigado a prestar contas do uso do dinheiro, e o outro lado teria mais consciência dos direitos que tem para exigi-los.
O governo diz que esse dinheiro cobrado retorna para a sociedade em forma de serviços, e deu como exemplo a forte redução da pobreza nos últimos anos. Isso é apenas parte da verdade. Com programas como Bolsa Família o governo gasta uma fração do dinheiro arrecadado, já o Bolsa Rico é bem mais caro. Não se sabe quanto. O Bolsa Rico é o conjunto de transferências feitas através das isenções de impostos aos lobbies mais poderosos, dos empréstimos subsidiados, e das capitalizações de empresas feitas muitas vezes com o BNDES pagando preço acima do valor de mercado. O Bolsa Família está no Orçamento, o Bolsa Rico, não.
Há inúmeras comparações que se pode fazer. Todas elas chegarão ao mesmo ponto. O governo gasta muito com a sua própria manutenção, tem 38 ministérios, desperdícios, e são frequentes os casos de desvio. O governo precisa merecer o dinheiro que recebe da sociedade.

A manutenção das regras - JOÃO ANTONIO WIEGERINCK


FOLHA DE SP - 28/01/12

No episódio ocorrido na comunidade Pinheirinho, é possível notar a evidente congruência de determinados fatores.
São eles: a ocupação e a permanência ilegais em uma área privada; a absoluta inércia de ministérios e secretarias estaduais e municipais vinculadas à habitação; e, ainda, uma decisão judicial mal conduzida pelas autoridades policiais e administrativas.
Com relação à ocupação de uma propriedade privada, só é possível solicitar o usucapião no caso de a posse ter acontecido pacificamente, ou seja, sem nenhuma manifestações do proprietário ao longo dos cinco anos previstos para a modalidade urbana desse instituto legal.
Contudo, o proprietário moveu a ação de reintegração de posse no devido tempo, mas o processo tramitou com lentidão. Tal situação não configura posse pacífica e lícita dos invasores.
É necessário verificar que os ocupantes, até onde foi noticiado, não recolhem impostos como o IPTU ou as taxas da prefeitura. Energia elétrica e água são desviadas da rede oficial. Logo, é presumível que os membros da comunidade soubessem das ilegalidades cometidas desde a fixação de suas moradias.
Ao longo dos oito anos de ocupação, cerca de 70 famílias residentes fizeram inscrições para planos de habitação popular. As demais, não.
Tendo em vista o fato de que o Estado deve agir preventivamente, não esperando que os problemas sociais se transformem em emergências socais, é lógico aferir a incompetência omissiva diante do quadro.
O direito à propriedade é um direito tão antigo quanto o direito à dignidade da pessoa humana na maior parte das constituições ocidentais. Como princípios constitucionais que são, inexiste uma hierarquia científica entre eles ou os demais princípios.
Cabe aos interpretes primários das normas (ou seja, procuradores, promotores, juízes e advogados) acharem a justa medida quando tais princípios entram em colisão.
Por mais que a legislação tenha que ser seguida em nome da ordem geral de uma nação, a parte mais importante do processo em si é a forma de concretizar a interpretação do direito e da Justiça.
No Pinheirinho, diante da omissão do Estado como um todo em agir -fosse construindo casas populares, fosse adquirindo e pagando pela área-, a decisão de desocupação foi embasada na Carta Magna e nas normas infraconstitucionais vigentes e aceitas no país.
Infelizmente, a concretização da decisão não foi conduzida de acordo com as mesmas normas. Seria preciso determinar quais os abrigos receberiam os retirados e conceder aos mesmos tempo suficiente para reunir os seus pertences.
O que não se deve confundir é a maneira equivocada de conduzir a desocupação com um ato desprovido de embasamento jurídico.
A retirada de invasores de uma propriedade adquirida honestamente e pela qual se paga tributos ao Estado é um ato lícito e voltado à boa observância da ordem.
Por isso, o Supremo Tribunal Federal decidiu manter a desocupação. O que precisa ser corrigido é forma de aplicar o direito adquirido.
O que todo cidadão de bem deseja é que a sociedade em que vive ofereça estabilidade na manutenção das regras a serem observadas por todos, sem favorecimentos ou discriminações. Quem tem consciência de estar vivendo ilegalmente sabe que um dia isso será cobrado. Tomara que de agora em diante com mais dignidade e prevenção.