domingo, dezembro 23, 2012

Natal em famílias - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 23/12


O Zé tem 61 anos e casou recentemente pela terceira vez. Possui duas exmulheres, e um filho com cada. Já tem inclusive uma netinha de dois anos por quem é alucinado. Além disso, o Zé tem mãe viva. E um pai também, que se divorciou da mãe dele há muitos anos e casou de novo. E o Zé tem dois irmãos.

O Zé é afetivo e curte a família, que é grande. Inclui as ex-mulheres, os novos maridos delas, os filhos, as noras, a neta, a mãe, os irmãos, as cunhadas, os sobrinhos, o pai, a esposa do pai. Cada um no seu endereço. Então vai chegando o Natal e o Zé fica tenso, sem saber como dar conta de abraçar todo mundo.

A nova mulher do Zé tem família também: mãe, irmãos, primos, aquela coisa toda. Ela quer passar o Natal com eles, e quer que o Zé fique em casa. A mãe do Zé não abre mão de juntar os três filhos. O Zé não vai fazer essa desfeita, vai?O pai do Zé é pací-fico, mas a mulher dele se sente rejeitada por qualquer ausência, e se o Zé não aparecer, será responsabilizado por mais um chilique da madrasta.

A primeira ex-mulher monopoliza a netinha. O Zé não pode ficar sem ver aquela menina adorável, a única crian-ça da família, e Natal sem criança, você sabe. O Zé sabe. A segunda ex-mulher passa o Natal com o outro filho do Zé e mais todo o grupo de amigos que eles tinham quando casados e de quem o Zé sente falta, já que os amigos ficaram na partilha dela.

Então esse é o Zé em trânsito no dia 24 de dezembro. Ele passa primeiro na casa da mãe. Chega tão cedo que não encontra um dos irmãos. Fica o Zé, a mãe e o outro irmão tomando uma cerveja e beliscando umas amêndoas meio velhas.

Aí o Zé se despede e vai ver a netinha. Não resiste quando pedem para ele se vestir de Papai Noel. Faz a encenação, morre de calor com a barba postiça, toma uma cerveja gelada, afana uma fatia do peru e corre pra sua própria casa, onde sua mulher está furiosa, isso são horas de chegar?

Ele faz uma social com a família dela, aí bebe vinho e participa da ceia já meio enjoado, não deveria ter misturado cerveja e vinho. Pede licença, tem que sair para dar um beijo no outro filho. “Vá num pé e volte no outro”, ela ordena.

No meio do caminho, dá uma paradinha na casa do pai, marca presença com a madrasta, ouve três músicas natalinas, toma mais uma cerveja e segue seu périplo. Então chega na festa da segunda ex, que está bombando. Assim que atravessa a porta alguém coloca uma taça de espumante em suas mãos.

Localiza o filho, dá um abraço nele, depois outro abraço no amigo Tomás, um abração no Ricardo que não vê faz tempo, e também no Goes, que está enlaçado numa loira que ele nunca viu. Quem é? Separei, Zé, essa é minha namorada. Zé dá dois tapinhas nas costas do Goes a título de condolências.

Volta pra casa, a mulher que estava dormindo no sofá acorda e exige que ele leve a família dela em casa. Eles ainda estão aqui? Estão, Zé. Dormindo no nosso quarto. O Zé chega a cogitar um novo divórcio, mas o que lhe resta de sobriedade avisa: melhor não. Aí virá outra mulher, outros parentes, como encaixar?

E suspira lembrando de quando era criança, quando reuniam-se todos embaixo da mesma chaminé.

Visão pragmática da problemática - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 23/12


Há quem acredite que exagero, quando falo nas muitas excelências de Itaparica, tanto as presentes quanto as passadas. Mas é uma impressão falsa, porque, embora não possa ignorar esses grandes predicados, procuro sempre ater-me à imparcialidade e fidelidade aos fatos que devem nortear o bom jornalismo informativo. Agora mesmo, diante dos acontecimentos nacionais, sou o primeiro a reconhecer que carecemos hoje de juristas capazes de prestar uma contribuição significativa aos debates em curso. Bem verdade que, se tivessem anel no dedo, Ary de Maninha e Jacob Branco botariam num chinelo muitos desses advogadecos mal-acabados que por aí abundam, mas o fato é que, pelo menos que eu saiba, ninguém na ilha pode alegar notório saber jurídico e pleitear ser ouvido sobre questões constitucionais. O que não impede, naturalmente, que se registre um pronunciamento marcante ou outro, como o do citado Ary de Maninha, na happy hour das nove da manhã, no Bar de Espanha.

Os nobres amigos leram? — indagou ele. — Uns porretas aí dizem que a interpretação da Constituição pelo Supremo está errada e que o Supremo não é a única interpretação que vale! A que vale é a deles! Vale a de todo mundo! Cada um chega lá e diz que a Constituição estabelece o que ele quer, pra que Supremo? Meus caros amigos, Ruy Barbosa acaba de ganhar o apelido de Ruy Carrapeta, de tanto que rola na tumba! Não cumprem a decisão do Supremo e passamos a ter o nome oficial de República Esculhambativa do Brasil, ninguém mais vai cumprir merda nenhuma e as decisões do Supremo doravante serão encaminhadas aos deputados, para ver se eles concordam. Por que não resolvem logo que pra deputado a Justiça não vale? Por que não acabam logo com juiz, tribunal, essas coisas? Vamos criar a Deputança Judiciária! Vamos criar o Judiciário Cidadão! Cada um é livre para interpretar a lei como quiser. Eu dou uma dedada no seu traseiro e declaro que, na minha interpretação, a lei me dá direito a isso. Dá direito ao urologista, por que não dá a mim? Eu digo que meu direito de ir e vir não está sendo respeitado e aí exijo passagens de graça para onde eu quiser, na minha opinião a lei garante! Manolo, eu estou quase morto de sede! Se você não me der uma cerveja de graça pra eu me hidratar, é omissão de socorro! O sentenciado resolve se aceita a sentença! Oh baderna, baderna, mixordieira deusa do atraso, aqui nos entregamos nós de uma vez por todas, acolhe-nos em teu regaço impudente, afaga-nos com tuas mãos mensaleiras, beija-nos com teus lábios prevaricadores!

Mas, apesar da pungência dessa rendição, a ilha permaneceu irresignada a ficar à margem dos acontecimentos. Depois de uns três dias de recolhimento, durante os quais quem passava por sua calçada ouvia lá de dentro apenas uma ou outra voz de mulher num momento de alguma exaltação, Zecamunista emergiu na saída da rua dos Patos, sobraçando várias pastas de papelão e, passo firme e queixo empinado, se dirigiu ao Bar de Espanha. Enganaram-se os mexeriqueiros que haviam atribuído os gritinhos femininos a mais uma reunião do Cialis, não o remédio, mas o Centro Itaparicano de Amor Livre Socialista, de que Zeca é secretário-geral perpétuo e que promove periodicamente o que ele chama de encontros motivacionais e o pessoal despeitado, invejoso e reacionário chama de outras coisas, todas impróprias. (Aliás, Zeca sustenta que o nome do remédio é plágio e de vez em quando ameaça abrir processo; diz que todas as coroas do Recôncavo testemunhariam a favor dele, pois muitas delas já se beneficiaram do Centro e são sócias atuantes, contribuintes e até sócias atletas). Os gritinhos eram das voluntárias que se ofereceram para ajudá-lo na formulação de seus planos, ao terminarem alguma tarefa importante.

— Resolvi dar uma mão à burguesia mercantil local, a crise não ajuda ninguém — disse ele, alisando a papelada. — Está tudo detalhado aqui, vou encaminhar à Associação Comercial. As circunstâncias já nos fizeram perder uma oportunidade histórica, mas outras estão se abrindo é só saber enxergar.

Tudo começara com a ideia de oferecerem na ilha acomodações adequadas para a reclusão dos condenados classe A. Essa ideia foi logo encampada por outras cidades Brasil afora, todas sentindo o potencial mercadológico de uma jogada dessas. A ilha bobeou e vai perder a oportunidade, tinha de ter atirado com todas as armas, era preciso ter unido a Bahia em torno desse manancial turístico incalculável, que iria beneficiar todo o estado, além de elevar sua autoestima, por hospedar tantos nomes nacionais. Ele já tinha escolhido o sobradão para a nova cadeia, já tinha orçado a reforma, a decoração e as instalações, tudo para inspetor nenhum, nem repórter nenhum, de onde lá fossem, botar defeito. Mas faltou visão, faltou agilidade, a ilha vai ficar fora dessa. Cadê a classe hoteleira, cadê as agências de turismo?

Infelizmente, a batalha está perdida para competidoras infinitamente mais ricas e poderosas e a vencedora vai ser uma cidade paulista, isso se não abrirem uma concorrência internacional e as Bermudas, Taiti ou Ibiza não ganharem. Mas o serviço que ele criara, não! A ilha pode sair na frente e a complexa estratégia já estava traçada. A ilha vai oferecer serviços de protestos, passeatas e manifestações diversas com toda a infraestrutura, tudo profissional de alto nível. O freguês especifica a manifestação que quer, faz-se um orçamento e se providencia tudo. Bastou ele ter dado uma sondada e já tinha sentido a possibilidade de pelo menos duas boas manifestações contra o Supremo, logo no começo do ano. Uma firma de São Paulo telefonou querendo saber datas para o verão, tem muita grana nisso, o mercado está aquecidíssimo.

— Agora é assim — disse Zeca, com aquela risadinha bolchevique. — Não gostou, faz umas boas manifestações e vira o jogo. É a nova democracia.

O dia em que tudo não terminou - HUMBERTO WERNECK


O Estado de S.Paulo - 23/12


É, pelo visto o mundo não acabou (pelo menos não aqui em Perdizes, onde vivo). Não é a primeira vez que isto não acontece. Você se lembra daquele 11 de agosto em que, sob a forma de um bólido sideral, que nem no filme Melancolia, a pata justiceira de Jeová viria nos aplastrar, pondo fim a nossas pecaminosas existências? Até que a gente merecia, mas dava para desconfiar de que se tratava de rebate falso: já se viu alguma coisa acabar num 11 de agosto? Que eu saiba, é o contrário, é data de começar. Foi num 11 de agosto, aliás, no ano 3.114 a.C., que entrou em vigência o calendário maia - o mesmo que anunciou para este 21 de dezembro o aniquilamento de tudo e todos.

Estava meio na cara que aquela predição ia gorar, mas o Samuel e a mulher dele, a Suely, acreditaram que era pra valer. (Já contei isso, mas conto de novo, pois não tenho a pretensão de achar que você me lê). Levaram a coisa a sério e, uns meses antes do global deadline, na maior moita, pararam de pegar encomendas na marcenaria deles. Corretíssimos, quitaram as dívidas. Não renovaram a matrícula dos filhos na escola. Por fim, trajados para a ocasião, sentaram-se à espera de que o Criador os viesse descriar. Quando viram, já era 12 de agosto e o mundo aí, firme. O que acabou foi o casamento deles, porque a Suely, decepcionada com o não-apocalipse, surtou feio, por pouco não levando com ela o Samuel. Ainda bem que não, pois conto com ele para que me faça umas prateleiras.

O fiasco de 21 de dezembro deixa claro que já não se pode confiar em ninguém. Nem nos maias, com sua milenar sabedoria; que dirá nos astecas, sumérios, godos, visigodos e outros engodos. Imagino que muita gente, sem chegar ao extremo da Suely, deve se sentir frustrada. A começar pelo Papai Noel: se dispensou os cervídeos que puxam seu trenó, dando por cancelado o delivery, o rubicundo estafeta pode estar agora às voltas com, perdoe, problemas renais. O tal bando de loucos terá tempo para esticar as comemorações, mas precisará se conformar com o fato de que seu time é apenas o mais recente, não o último campeão do mundo. Empoleiradas na oposição, aves de bico longo terão que admitir: ainda não foi desta vez que se traçou, en su tinta ou não, o adversário capaz de eleger postes.

Desapontamento, também, de quem apostou no fim do mundo como único recurso para escanhoar na face da República o mais renitente dos bigodes, o de Sarney, claro. Paulo Maluf talvez tenha sentido alívio - nunca mais essa conversa desagradável de supostos milhões exilados em ilhas remotas! -, até que o alvorecer de 22 de dezembro lhe devolvesse motivos para franzir outra vez o reflorestado couro cabeludo. Idem o pessoal que passou cheques pré-datados para o pós-21. Para não falar nos condenados do mensalão, se, confiantes nos maias, chegaram a antever suas penas diluídas numa condenação de todos, Joaquim Barbosa inclusive, por força da insondável dosimetria do Senhor.

Mas certamente houve também quem se rejubilasse ao constatar que a hecatombe não se produziu. Minha amiga Denize, por exemplo, que já dera cabo de várias dezenas de tons de cinza, só interrompendo a leitura quando fora do livro a coisa ameaçou ficar preta, poderá deleitar-se com quantos mais houver. Feliz está também o moço que, tendo pedido a mão da moça, chegou a crer que não teria a chance de levar o resto.

Eu próprio respirei ao saber que, ao menos por ora, está mantido meu april in Paris. Confesso, porém, que lamentei ver adiado uma vez mais o espetáculo da Ressurreição dos Mortos - que ainda espero poder presenciar, de preferência vivo, no Cemitério da Consolação: já pensou aquela profusão de ex-grã-finos emergindo de seus mausoléus com trajes de época, para engrossar um multitudinário desfile Walking Dead? Avôs de 32 anos sendo apresentados a netos de quase 100. Mário e Oswald de Andrade, rompidos desde 1929, finalmente reconciliados, sem verborragia nem antropofagia.

E agora, pessoal, já pro shopping! Vocês acharam que iam escapar do inferno das compras natalinas?

Estar só - DANUZA LEÃO

FOLHA DE SP - 23/12


Vivendo só, às vezes a pessoa está melhor do que jamais esteve, mas ninguém acredita


Do que mais se precisa na vida para ser feliz? De calor humano, dizem; por calor humano entenda-se, para começar, de alguém com quem se compartilha a vida, uma família bem estruturada e amigos, muitos amigos. Trocando em miúdos: para não correr o risco de ficar só -nunca.

Mas, quanto mais gente em volta, mais problemas. Houve um tempo em que se dizia que os casamentos seriam felizes para sempre; mais tarde, que durariam sete anos. Mas o mundo mudou, a ciência moderna constata que o amor dura no máximo dois anos e, como ninguém suporta ser infeliz por mais de um fim de semana, o divórcio está em alta.

E a família, como vai? Ninguém conta, mas raras são as que se dão bem e, quanto maiores elas são, mais brigas. Por ciúmes, inveja e, sobretudo, por dinheiro. Aliás, dinheiro é o grande responsável por quase tudo; ouso dizer (mas sem muita certeza) que existem mais brigas por dinheiro do que por amor.

Quando se vê um homem ou uma mulher (sobretudo) com mais de 50 vivendo só, tem sempre uma amiga que diz -com a melhor das intenções- "ah, você precisa encontrar alguém". Às vezes a pessoa está bem, melhor do que jamais esteve, mas, como existe essa certeza de que os seres humanos não podem viver sós, ninguém acredita -ou não quer acreditar ou não entende. Todos devem estar namorando, casando, ou qualquer outro nome que se queira dar, e se estiverem com um parceiro, mesmo tristes, infelizes, sem assunto, à beira de cometer suicídio ou um assassinato, qual o problema? O importante é estar acompanhada, o que aliás nos tira a felicidade de sermos as donas absolutas do controle remoto e poder passar o fim de semana com a geladeira vazia e sem arrumar a cama.

Aliás, o que as pessoas fazem para que isso não aconteça? Elas se cercam de pessoas com quem não têm quase nada em comum, das quais frequentemente não gostam e até falam mal. Numa mesa de restaurante com seis, oito pessoas, ninguém ouve o que o outro está dizendo, ninguém consegue trocar uma ideia com quem está ao seu lado; mas essas são as pessoas que falam mais alto, que mais dão gargalhadas, que mais parecem estar felizes.

Quem está só parece -parece- ser a mais infeliz das criaturas, sem ter um amigo para jantar e, em datas tipo Natal ou Ano Novo, dá até vontade de chorar de pena.

Mas é curioso como nos relacionamos com nossos amigos -com a maioria deles, digamos- estamos sempre tentando contar uma boa novidade ou sendo inteligente ou falando coisas muito interessantes, para que nos tornemos muito interessantes e assim possamos conservá-los. É bom ter um amigo animado, que entra em nossa casa falando alto, perguntando o que vamos beber e fazendo planos fantásticos para o próximo fim de semana

Mais curioso ainda é que não há amigo melhor neste mundo do que aquele em cuja companhia você se sente tão bem, mas tão bem, que pode até ficar calado pois parece que está só. Vai entender.

E aproveitando -e sendo bem incoerente, como é preciso ser às vezes-, um Feliz Natal para todos.

Reflexões sobre o bem e o mal - MARCELO GLEISER

FOLHA DE SP - 23/12


Tão importante quanto o orgulho pelo que se realiza é a humildade de ver o quanto ainda está inacabado


O mundo não acabou e estamos aqui, vésperas de mais um Natal. Foi um ano importante para a física e a cosmologia. O tão procurado bóson de Higgs foi encontrado, se bem que não sabemos ainda que bóson é ele. Existem dúvidas que só mais dados podem sanar.

Seja o Higgs esperado ou um seu primo, vejo isso como um assunto a ser celebrado por toda a humanidade. Não porque a descoberta vá mudar a vida de muita gente, ou porque uma nova tecnologia que resolverá os problemas mundiais de fome e energia vira daí.

O Higgs representa o triunfo de nossa imaginação e empreendimento, o casamento entre criatividade e engenhosidade que representa o que há de melhor em nossa espécie.

Pense que a ideia de uma tal partícula veio do cérebro de um punhado de físicos trabalhando na Europa e nos EUA em meados dos anos 1960, quando o Brasil entrava pelo longo túnel da ditatura militar.

Mas, em ciência, uma ideia só ganha aceitação quando é verificada por experimentos. Isso deveria ser óbvio, já que o objetivo principal da ciência é explicar (ou pelo menos descrever) como funciona o mundo que vemos e medimos.

Passaram-se quase cinco décadas até que a tal partícula, ou algo como ela, fosse encontrada, num esforço que envolveu milhares de cientistas e engenheiros e que custou bilhões de dólares.

Esse tipo de empreendimento, caro e envolvendo tanta gente empenhada em um atingir um objetivo comum, não deixa de ter semelhanças com as construções das grandes obras da humanidade, de Stonehenge e das pirâmides egípcias às catedrais medievais e ao Telescópio Espacial Hubble.

Provamos, a cada vez que obtemos sucesso, que somos mesmo uma espécie única, capaz de grandes feitos quando trabalhamos juntos, seja por livre e espontânea vontade, como no Grande Colisor de Hádrons, a máquina construída na Suíça onde foi descoberto o Higgs, e até sob condições violentas, como ocorria no antigo Egito.

A cada obra concluída o espírito humano se renova, orgulhoso com o que fez. Mas tão importante quanto esse orgulho é a humildade de ver o quanto ainda não foi feito, o quanto ainda continua inacabado ou incompreendido.

Se um dos objetivos da ciência é aliviar o sofrimento humano, seria inocente acreditar que tal objetivo será um dia alcançado. Livrar-nos das iniquidades sociais não seria suficiente, mesmo se possível.

Temos a Natureza, com sua força indomável, sempre a nos pegar de surpresa, como no caso do furacão Sandy aqui nos EUA neste ano, provavelmente uma indicação do tipo de clima extremo que está por vir. Exemplos no Brasil não faltam. Temos também a natureza humana, encalhada numa luta perene entre o bem e o mal, como vemos nas ações tão belas de uns e nas horripilantes de outros.

Dentro dessa constante polaridade que é nossa existência, o que de melhor podemos fazer, acho eu, é afirmar nossa convicção de que podemos melhorar, de que novas belas obras estão sendo construídas, e não só as de grande porte. Do esforço de cada um vem a esperança de que o bem, mesmo se inevitável contraparte do mal, tem ao menos a chance de superá-lo.

A classe média negra - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 23/12


Estudo sobre a presença de negros e pardos na classe média brasileira, coordenado pelo professor Marcelo Paixão, do Laboratório de Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais, da UFRJ, mostra uma realidade um pouco diferente da apresentada em documento recente da Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência (SAE). Segundo a SAE, a nossa classe média, hoje, tem 50,3% de pretos e pardos, contra 48,9% de brancos.

Porém...
Segundo o estudo, nos escalões mais pobres dessa camada social, os negros e pardos, de fato, são maioria: 62,4%. Já no patamar, digamos, mais rico dessa mesma classe média, somam só 38,7%.
Ou seja, a desigualdade racial só foi superada aparentemente, pois a cor que prevalece na classe média baixa ainda é a de Zumbi dos Palmares.

Rei no Maracanã
Sérgio Cabral convidou Roberto Carlos para cantar no Maracanã, na reabertura do estádio — como Fagner no Castelão, em Fortaleza.
O Rei ficou de confirmar.

Aliás...
Roberto disse a Cabral que a melhor casa de shows para grande público, hoje, no Brasil, é o Maracanãzinho.

Festa no Rio
O paulista José Maria Marin, presidente da CBF, já decidiu: a próxima festa de encerramento do calendário do futebol brasileiro, depois de dois anos em São Paulo, será no Rio.
Já tem data: 9 de dezembro de 2013.

Gil, por Mautner
Jorge Mautner está escrevendo um livro sobre Gilberto Gil.
Meio biografia, meio relato do que viveram juntos.

O médico e o monstro
A Comissão da Verdade abriu uma linha de investigação contra aqueles médicos legistas que forjaram laudos falsos para encobrir mortes sob
tortura nos porões da ditadura.
O caso mais notório é, como se sabe, o do médico Harry Shibata, que escreveu os laudos de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho.

Mas...
Veja só. Um dos laudos que chegou à comissão, de um médico pouco conhecido, é tão mal feito que pode, quem sabe, ter sido escrito assim de propósito, sem nexo técnico, para um dia ser desmascarado e, enfim, revelar um crime da ditadura.
Este dia chegou.

‘La crisi è grave’
Veja como o governo italiano se socorre até com dinheiro do Brasil para se safar da crise.
O consulado do país do ex-primeiro-ministro Mario Monti, que renunciou sexta, ao emitir passaporte aqui, exige agora uma taxa anual de R$ 100 para manter o documento válido. Paga-se R$ 210 uma vez para obter o passaporte, mais o “pedágio” anual.

Holding de favelas
Celso Athayde vai deixar a direção da Central Única de Favelas para lançar, em 2013, a Fapa (Favela Participações), primeira holding de favelas do país, em parceria com 20 empresas.
Todos os negócios serão voltados para o desenvolvimento das comunidades.

Segue...
Haverá a Favela Produções, para shows e atividades esportivas; a Favela Shopping, que criará nichos de consumo nas comunidades; a Favela Data, de pesquisa; e até a Jungle Comunidade, de lutas de MMA.

Lançará também uma fábrica de móveis, uma agência de publicidade e uma editora, em sociedade com Roberto Feith, da Objetiva.

Rappa 2013
A Warner Music renovou contrato com o grupo Rappa para mais três CDs. O primeiro deve sair em maio.
Calcinha cinza
Acredite. Sexta, naquele frenesi de compras de Natal no Centro do Rio, um camelô chamava atenção pelos produtos expostos em sua banquinha: só calcinhas, todas na cor... cinza.

O danadinho ainda gritava bem alto, numa alusão ao best seller “50 tons de cinza”: “É a aposta do Natal! Elas preferem o cinza!” Que seja feliz.

Retrospectiva 2012! Só engordei! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 23/12


Natal é uma festa família: o primo corno, a prima ninfomaníaca de Facebook, a sogra de joanete


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Pensamento de Natal: "Você não é rico como o Messi, o PIB desce, a barriga cresce, o pinto amolece e vai parar na fila do INSS! Feliz Natal!" Rarará!

E essa placa: "Aluga-se casa para revelião". REVELIÃO? Réveillon de corintiano! Rarará! E eu tenho uma amiga tão insegura, mas tão insegura, que escreveu na calcinha que comprou pro Ano-Novo: "Você me ama ou só quer me comer?".

Retrospectiva 2012! Diz que foi o ano em que a Europa se fudeuro! Retrospectiva 2012! Salve o Corinthians e salvem o Palmeiras! Retrospectiva 2012! SÓ ENGORDEI!

E já começou a clássica pergunta: "Onde você vai passar o Réveillon?". Empurrando o cara na minha frente pulando onda.

Você empurra e grita: "Feliz ano novo!". Rarará.

Eu vou pra Bahia. Réveillon na Bahia é bom porque acabou o Réveillon já começa o Carnaval. Não tem aquele intervalo insuportável!

E sabe como os políticos de Brasília desejam feliz ano novo? "Feliz 2013%". E estão loucos pra chegar em 2050%. Ops, 20100%!

O Natal é uma data muito incoerente: matam o peru e fazem missa pro galo! E aí aparece o Papa na janela. Por isso que o Papa vive gripado. Não sai da janela!

E o grande hit do Natal: aquele sanduíche de patê, ketchup e requeijão, em camadas, que a tia traz coberto com um pano úmido pra não ressecar!

Natal é uma festa bem família: o primo corno, a prima ninfomaníaca de Facebook, a sogra de joanete e calcanhar rachado. E o vizinho que aparece de repente e fica encoxando a cunhada no corredor!

E o que eu vou fazer no Natal? O que faço todos os Natais: vomitar no tapete persa da sogra e fazer xixi no elevador!

E a pior coisa do Natal: peru mole e marido duro!

Agora só sonho em ouvir esta frase: "Dentro de instantes estaremos pousando no Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães". Bahia! Só volto em janeiro. Quando botarem a rede pra lavar!

Boas entradas e melhores saídas! Tem que desejar melhores saídas porque o último que me desejou boas entradas, eu entrei pelo cano. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Será esse o cara? - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 23/12


A atuação de Joaquim Barbosa durante o julgamento do mensalão chamou a atenção do país


O DISCURSO de posse de Joaquim Barbosa na presidência do Supremo Tribunal Federal me fez olhá-lo de maneira especial. Não é que antes fizesse restrições ao seu desempenho como relator do mensalão.

Pelo contrário, desde o primeiro momento admirei a coragem moral com que votou pela punição dos réus e particularmente daqueles que gozavam do apoio ostensivo do PT e de Lula. Quando se sabe que sua presença no STF se deveu à indicação do ex-presidente petista, a independência com que julgou figuras como José Dirceu e José Genoino provocaram a admiração de amplos setores da opinião pública e a minha em particular.

Mas o seu discurso de posse me revelou outra coisa: revelou-me que ele não é apenas um juiz severo e independente na aplicação da lei, como é também um homem lúcido, maduro, que dispensa as firulas e salamaleques no exercício da missão de julgar.

A firmeza tranquila de sua postura e a dos outros oradores, ao tratar dos problemas da Justiça brasileira e das mudanças que ela está a exigir, me fez vê-lo como um exemplo de magistrado e de cidadão.

Não é que as falhas que apontou em nossa Justiça sejam desconhecidas de todos. Importa que aquilo foi dito por um juiz, naquela ocasião, ao assumir a presidência da mais alta corte da Justiça brasileira, num momento solene, quando, costumeiramente, preferem-se as palavras solenes e a falsa modéstia. Ou seja, os salamaleques.

Em seu discurso, Joaquim Barbosa disse que, quando se fala em igualdade, é preciso honestidade intelectual para reconhecer que há um grande deficit de Justiça entre nós. E acrescentou: "De nada valem as edificações suntuosas, sofisticados sistemas de comunicação e informação, se naquilo que é essencial, a Justiça falha".

Todos sabemos disso, já que o Brasil se caracteriza como um país da impunidade. Por isso mesmo, é estimulante ouvi-lo da boca do novo presidente do Supremo Tribunal Federal. É estimulante porque sabemos que não se trata de mera retórica, uma vez que foi precisamente a firme disposição de punir severamente os culpados que lhe conquistou a admiração popular.

A atuação de Joaquim Barbosa durante o julgamento do mensalão chamou a atenção do país para ele, como pessoa, e isso deu maior relevo à sua atuação como ministro. Nascido numa família muito pobre, filho de um pedreiro, dispôs-se a trabalhar e estudar, superando todos os obstáculos de cor e de classe social. Formou-se em direito pela Universidade de Brasília, depois em direito público pela Universidade de Paris, e ainda estudou idiomas, o que lhe permite hoje expressar-se fluentemente em inglês, francês, espanhol e alemão.

Essa mesma firmeza de caráter, mostrada durante o julgamento, influiu nos demais membros do STF. A cada intervenção sua, a cada análise da conduta dos envolvidos naquele processo, a parte da sociedade brasileira, que acompanhou pela televisão aquele julgamento, identificou-se com a sua decisiva disposição de punir os que atentaram contra a democracia brasileira e os valores éticos que a sustentam.

E isso pode ter importantes consequências: a impunidade que impera, particularmente quando o delito envolve o interesse público, é um dos principais obstáculos à solução dos problemas nacionais. Basta considerar as recentes denúncias de falcatruas envolvendo centenas de milhões de reais, ocorridas em todos os níveis da administração pública. Diante desses escândalos a que temos assistido, o combate à corrupção e à impunidade é um fator determinante do nosso futuro como nação digna e justa.

Mas isso dificilmente acontecerá se o petismo continuar governando o país e aparelhando a máquina do Estado. Sabemos que uma das primeiras medidas tomadas por Lula, ao assumir a Presidência da República, foi revogar o decreto que obrigava o preenchimento de cargos técnicos por técnicos. É que ele queria ocupá-los com sua corriola, como o fez, para perpetuar-se no poder. Daí os mensalões.

As alternativas existentes dificilmente seriam capazes, a curto prazo, de mudar isso. Talvez seja por essa razão que, fora dos partidos, começa a esboçar-se um movimento para fazer de Joaquim Barbosa o candidato da mudança.

Congresso é que judicializa - JOÃO BOSCO RABELLO


O Estado de S.Paulo - 23/12



À deriva no deserto de ideias e iniciativas que caracterizou a legislatura de 2012, lideranças parlamentares decidiram eleger o Judiciário como causa da incapacidade de fazer política. Decisões do Supremo Tribunal Federal, decorrentes de provocações dos próprios congressistas, passaram a ser traduzidas como interferência na soberania do Poder Legislativo.

Nada mais falso. Os recursos ao STF, por lideranças ou partidos, refletem o fracasso do processo de negociação intrínseco ao sistema político democrático, com origem na supremacia avassaladora de uma base governista absolutamente servil às vontades do Executivo. Este manda, o outro obedece.

Tem sido assim há bastante tempo, o suficiente para que o fenômeno da judicialização da política já tenha produzido literatura específica por estudiosos. Em legítima defesa, minorias recorrem ao STF, fazendo deste seu instrumento de defesa, o que torna artificial o movimento pela reafirmação de independência por setores majoritários.

Nem sempre são as minorias formais, mas também as formadas por dissidências nas bancadas majoritárias, caso mais recente envolvendo a questão dos royalties do petróleo, que levou dois deputados do PT e um do PMDB, sem apoio de seus partidos, a tentar impedir judicialmente a apreciação do veto presidencial ao projeto que contraria os interesses do Estado pelo qual se elegem.

O mérito da consulta parlamentar ao STF escancara o desequilíbrio de forças entre Executivo e Legislativo, com este acumulando mais de 3 mil vetos daquele a propostas aprovadas em plenário. Não conseguiu dizer não sequer a um.


Aprovação 
em massa

O governo cogita patrocinar uma proposta de emenda constitucional para aprovar de uma só vez os 3.059 vetos que aguardam votação e trancam a pauta do Congresso. O argumento é de que o silêncio das duas Casas sobre os vetos, no prazo legal de 30 dias, significa anuência dos congressistas aos atos presidenciais. Com isso, o Planalto excluiria da lista vetos cruciais, como o do Código Florestal e o do fator previdenciário. Restaria apenas a questão dos royalties. A decisão tem origem numa conta otimista de que a análise dos mais de 3 mil votos poderia levar 160 dias, com o direito a discursos de até 5 minutos para dez parlamentares por cada veto.

Sem estresse

Mesmo não descartada a votação do Orçamento Geral da União pela comissão representativa do Congresso, já não causa estresse no Planalto seu adiamento para fevereiro. A garantia do ministro Luiz Fux de que os vetos pendentes não impedem a votação do Orçamento acalmou a presidente Dilma, diz um líder da base.

Frente sulista

A aproximação entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) tem 2014 no horizonte. O PT quer desconstruir a tríplice aliança que imperou em Santa Catarina nos últimos anos, formada por PMDB, PSDB e DEM. Em sintonia com as ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann, o senador articula uma coligação PMDB-PT-PSD para 2014, com a meta de reeleger o governador Raimundo Colombo (PSC) e reconduzir Ideli (PT) ao Senado.

Receio

A equipe econômica recebeu com receio a notícia de que o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) presidirá a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) nos próximos dois anos. Ex- UNE, PSTU e PC do B, ganhou fama de "instável". Há um ano, ele aprovou projeto incluindo entre as atribuições do Banco Central a geração de empregos. Enquadrado, recuou.

Revitalização - ARTUR XEXÉO

O GLOBO - 23/12


Não sei qual é a opinião de vocês, mas eu, sinceramente, achei essas Trump Towers que foram anunciadas para revitalizar a Zona Portuária de uma cafonice ímpar. A ideia de a cidade retomar uma parte degradada de sua área é boa e antiga. O prefeito Eduardo Paes merece todos os elogios por estar levando adiante uma velha reivindicação da população. Mas, quanto mais a gente conhece os projetos arquitetônicos desenhados para a região, mais a gente se pergunta se não é melhor deixar como está. O Museu do Amanhã é uma boa notícia. Mas o píer em Y é outra bola fora. Pior: um anula a visão do outro. O Rio, bonito por natureza, está dando um jeito de se enfeiar.

Enquanto a cidade assiste à cafonização da Zona Portuária, outras áreas abandonadas e de fácil recuperação continuam ao Deus dará. Por quanto tempo mais nossas administrações vão deixar a Rua do Passeio, um local naturalmente aprazível, sem função? Quantas promessas já garantiram a reutilização dos prédios do Automóvel Clube e do Cine Metro Boavista? E eles continuam ali. Abandonados.

O ano de 2012 chegou ao fim com duas boas notícias para a cidade na área de revitalizações. A primeira foi a reabertura do Imperator, no Méier, com ares de centro cultural. A segunda foi a utilização de outro prédio que há anos pede por uma restauração — o do Cine Vitória, na Rua Senador Dantas —, agora transformado em megalivraria de quatro andares. Se foi possível fazer com eles, o que impede ainda a devolução à vida útil do Automóvel Clube e do Metro Boavista?

O Rio tem mania de abandonar suas tradições. O que aconteceu com o Canecão é inacreditável. Durante décadas, a UFRJ brigou para ter de volta a casa de shows mais famosa do país. Quando conseguiu realizar seu intento na Justiça, simplesmente deixou o espaço se deteriorar sem a menor previsão de que um dia seja reaberto.

Tem mais. Alguém pode explicar por que demora tanto a reforma da Sala Cecília Meireles? Em abril de 2011, a secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes, posou bonita e sorridente para reportagem do Segundo Caderno na qual anunciou que, a um custo de R$ 12 milhões, a sala seria reaberta no primeiro trimestre de 2012. Duvido que o orçamento continue sendo esse. E duvido também que a reabertura aconteça no fim do próximo do trimestre, quando se completa um ano de atraso.

Tem ainda o Teatro Villa-Lobos. Bem, aí a secretária não tem culpa. O teatro estava quase inteiramente reformado, prontinho para ser reaberto, quando pegou fogo. Tudo bem. Fatalidades acontecem. Mas quais são os planos para o lugar? Qual é o projeto de reconstrução? A cidade receberá o Villa-Lobos de volta?

Há quem comemore a inauguração, enfim, da Cidade da Música, agora em janeiro, com o musical “Rock in Rio”. Não fico tão animado. O gestor do espaço já explicou, aqui mesmo na revista, que será um soft opening. Em bom português, isso significa que não será uma abertura para valer. Apenas uma das salas será utilizada no complexo. E para quando a prefeitura prevê que a Cidade da Música esteja funcionando a todo vapor?

Pode ser acrescentada à lista das coisas que nunca acontecem a reabertura do Teatro Municipal. O quê? O Municipal já foi reaberto? Nem percebi.


Não expulsem o torcedor - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 23/12


O dinheiro que deveria ser usado em obras importantes e urgentes tem sido desviado para a Copa


É EVIDENTE que muito dinheiro público, que seria usado para obras importantes, sem nenhuma relação direta com a Copa do Mundo, tem sido desviado para o Mundial e para a Olimpíada.

Não há dinheiro para a merenda escolar em Natal, mas não falta para a construção do estádio, que tem grandes chances de se tornar um elefante branco. O prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, quer a transferência de R$ 80 milhões da educação para despesas da Copa.

Existem três obras importantíssimas e urgentes que precisam ser realizadas em Belo Horizonte e em cidades próximas, que já deveriam estar prontas há muito tempo e que não saem do papel: o metrô de Belo Horizonte, as melhorias do Anel Rodoviário, onde ocorrem desastres quase todos os dias, e a construção de uma nova BR-381, um estrada assassina, uma calamidade pública.

Recusei o prêmio de R$ 100 mil e a aposentadoria especial dados pelo governo aos campeões do mundo de 1958, 1962 e 1970 porque não quero ter esse privilégio. Como qualquer cidadão, vou requerer minha aposentadoria. Tenho direito. Na época, fomos bem premiados pelo título. Os atletas campeões que passam por dificuldades precisam ser ajudados pelo governo, por meio da Previdência Social, e pelas entidades governamentais de apoio aos ex-atletas, que já existem. A CBF e os clubes têm também obrigação de ajudar seus ex-jogadores.

Temo que os novos estádios construídos para a Copa elitizem o futebol. Para isso não ocorrer, é necessário vender ingressos com preços diferentes. Quem quiser mordomia que pague por isso. Os torcedores humildes têm direito de pagar preços razoáveis, além de ter segurança e conforto. Corre-se o risco de a torcida se comportar como se estivesse em um teatro, todos sentadinhos, bem comportados, sem vibração e sem identificação com o futebol e com o clube. O verdadeiro torcedor, apaixonado pelo clube, não pode ser expulso. Os responsáveis pela manutenção dos novos estádios, os clubes e os torcedores têm de preservar e tratar os estádios com carinho. Para isso, o público tem de ser bem tratado.

É um absurdo colocar o Brasil em 18º lugar no ranking da Fifa.

Teremos dois clássicos na próxima fase da Copa dos Campeões da Europa, entre Barcelona e Milan e entre Real Madrid e Manchester United. Em jogos mata-mata, pode haver surpresa. A eliminação do Barcelona pelo Chelsea, na edição passada, foi, pelas circunstâncias, uma das maiores zebras da história do futebol. O Barcelona era muito melhor, jogava em casa, tinha um jogador a mais, ganhava por 2 a 0, perdia muitos gols e ainda Messi errou um pênalti.

Pretendo escrever a próxima coluna em 16 de janeiro. Desejo a todos uma vida melhor em 2013, apesar de tanta violência, insegurança e banalidade no mundo.

Leões sob o trono, sobre o STF - ROBERTO ROMANO


O Estado de S.Paulo - 23/12


Recente entrevista do ministro Luiz Fux ilumina algo pouco analisado: se o Supremo Tribunal Federal (STF) é a instância maior da Justiça, como são escolhidos, de fato, os seus integrantes? Cito as palavras de Fux: "Busquei apoio demais. Viajei para o Nordeste, achava que tinha que ter o maior apoio político possível. O que é um erro, porque o presidente não gostava desse tipo de abordagem. Quando nomeia, ele quer que seja um ato dele". O Palácio do Planalto tem primazia na escolha do candidato. Para chegar ao presidente existem os favores. "Alguém me disse: 'Olha, o Delfim é uma pessoa ouvida pelo governo'. Aí eu colei no pé dele'." E surge o socorro da esquerda. "Ele (Stédile) me apoia pelo seguinte: houve um grave confronto no Pontal do Paranapanema e eu fiz uma mesa de conciliação no STJ entre o proprietário e os sem-terra. Depois pedi a ele para mandar um fax me recomendando e tal. Ele mandou." O líder e a Corte (conservadora ou progressista) decidem longe dos "cidadãos comuns" ("leigos"...), que pagam impostos e quase nada recebem do Estado. Soberania popular é fábula no Brasil.

O ministro exibe a distorção republicana: a hegemonia presidencial absoluta, algo que o(a) chefe do Estado deve ressarcir de mil modos. Os pagamentos reiteram a ditadura do Executivo, garantida por favores orçamentários, cargos, benesses. Perto de tal sistema, o conteúdo da Ação Penal 470 é nonada. O balcão das trocas e o "é dando que se recebe" definem a vida política. No caso do STF, o "exame" do Senado produz náusea. É preciso mudar, para bem da autoridade pública, o modo como são indicados os ministros do Supremo.

Nos EUA, modelo de nossa prática, tensões e interesses econômicos, políticos, religiosos, partidários entram na liça pelas cadeiras do tribunal. Ali a escolha dos juízes tem origem em compromissos. Já o Plano Randolph, apresentado à Convenção da Filadélfia, adianta que o Legislativo nacional indicaria os membros da Corte. Mas os convencionais optam pela indicação do Executivo. Benjamin Franklin sugere o corpo dos advogados, que escolheria os mais hábeis dentre eles. Proposta vencida. Os choques vêm de antagonismos geográficos. Madison defende a indicação pelo Senado e depois recusa o modelo com receio de que a escolha favoreça "os Estados do norte".

Embora os convencionais afirmassem desejar para a Corte pessoas íntegras e peritas, ficou patente no debate a importância dos interesses que presidiram a forma de escolha. Mas todo o Legislativo assume responsabilidade na ordem dos tribunais, segundo o Judiciary Act de 1789.

Cabe ao Congresso definir o tamanho da Corte Suprema. Várias propostas foram apresentados aos legisladores para que a nomeação dos magistrados da Corte resultasse do voto popular. Foram 13 projetos em tal sentido entre 1889 e 1926. Em 11 deles os juízes deveriam ser escolhidos pelos eleitores e o presidente, eleito pelos seus pares. A proposta visava a fazer do Supremo uma instância mais responsável em face da vontade do povo. Das sugestões para mudar a escolha, a mais recente é de 1956. Nela os indicados deveriam ter pelo menos cinco anos de experiência judiciária em tribunais superiores do Estado ou federais.

Nos EUA, a escolha dos postulantes ao Supremo leva, não raro, à recusa de indicados. O Senado não impõe nomes. O presidente opta segundo alvos científicos, políticos, econômicos, ideológico. Interesses díspares exercem pressão sobre o comitê senatorial para o Judiciário (Senate Judiciary Committee) para que tal ou tal indicado seja escolhido.

Como analisar os juízes na Corte Suprema? O ideal do governo onde a lei é soberana define a democracia. Trata-se de um paradigma. John Schmidhauser (The Supreme Court: Its Politics, Personalities and Procedures) usa um truísmo: as leis são feitas e interpretadas por seres humanos. A exegese legal traz a estampa dos que a fazem. A Corte norte-americana reuniu, na maior parte, estadistas, e não fantoches dos interesses civis e dos governos. Além do saber jurídico, a nação deles recebe o impacto de sua pessoa, o maior ou menor grau de autoridade e decoro. Eles, pelo menos desde 1937, defendem minorias contra o arbítrio da maioria. Advertência de Schmidhauser: "É preciso analisar a moderna tendência judiciária e sua ênfase nos direitos não econômicos" assumida pelo Supremo estadunidense.

E no Brasil? A história não é tão edificante. Na era Vargas, o onipotente perseguiu oposicionistas (Luís Carlos Prestes, João Mangabeira, Julio de Mesquita e outros), afastando a Justiça comum. Ele expõe à Câmara dos Deputados o projeto de um tribunal de exceção, vetado pela Carta Magna ("Não haverá foro privilegiado nem Tribunais de exceção"). A frase seguinte do texto ("Admitem-se, porém, Juízos especiais em razão da natureza das causas") favorece o poder. O golpe é bem-sucedido e em 24/08/1936 surge o Tribunal de Segurança Nacional. Por unanimidade a Corte Suprema o declara "em perfeito acordo com a Constituição da República". Entre os atos do tribunal, um arruína o Direito: com o empate no julgamento de João Mangabeira, o presidente, desembargador Barros Barreto, vota... contra o réu (para outros aspectos do pretório, Reynaldo Pompeu de Campos, Repressão Judicial no Estado Novo, 1982). Disse o padre Laberthonnière: "Não julgo a vítima, mas apenas os juízes"...

É tempo de mudar a forma de indicação para o STF e impedir o absolutismo do Executivo. Se o desprezo pelos "leigos" afasta o voto dos eleitores, que ao menos a comunidade jurídica indique os magistrados em escolha ampla e transparente. Tenham eles prática em tribunais superiores e não devam o cargo ao Executivo ou ao subserviente Legislativo nacional, nem aos oligarcas dos partidos. Sejam poupados aos juízes os peditórios e outros recursos cortesãos. Que se negue a tese de Francis Bacon sobre eles, o seu triste papel de "leões sob o trono".

Solução à vista - CARLOS HEITOR CONY

FOLHA DE SP - 23/12


RIO DE JANEIRO - Estamos numa boa em termos institucionais. Com a briga entre o Supremo Tribunal Federal e a Câmara dos Deputados, parece que, desta vez, vamos àquilo que antigamente diziam ser as "vias de fato".

Afinal, quem tem o poder de cassar mandatos? Excetuando os comandos militares, que, de vez em quando, assumem essa prerrogativa durante os regimes de força, a questão está para ser resolvida nos próximos dias e não deixa de ser emocionante. Acredito que tenha uma solução pacífica e seja até mesmo o início de uma nova era republicana.

Usando de seus poderes constitucionais, o Supremo cassaria todos os poderes do Congresso e, ao mesmo tempo, o Congresso votaria, em caráter de urgência urgentíssima, a extinção do próprio Supremo, que não mais seria o guardião da Constituição, deixando de existir. Uma questão de maioria (base aliada e oposição) que seria resolvida com a convocação de uma Constituinte "ad hoc" e para fim específico. O Poder Legislativo acabaria com o Supremo e o Supremo acabaria com o Congresso.

Sem dois dos três Poderes republicanos, o Executivo ficaria com o poder de executar o nada. A presidente inauguraria obras que nem começariam e decretaria luto oficial quando necessário. Entregue a si mesma, a sociedade teria de se virar, com plena e total liberdade para prosperar ou se afundar definitivamente, sendo certo que continuaria na mesma.

Já lembrei anteriormente o velhinho do Iseb. Após uma noite de debates entre sociólogos, economistas e cientistas políticos, lá pela madrugada levantou o dedo para pedir a palavra. E disse: "Tá tudo muito confuso. Temo que não dê certo!". Com as sugestões que dei acima, tudo ficaria mais claro. Assim mesmo, não daria certo.

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV - 23/12


9h30 - Utrecht x Ajax, Holandês, ESPN Brasil

11h - Valenciennes x Evian, Francês, SporTV 3

11h30 - Swansea x Manchester United, Inglês, Fox Sports

12h - London Wasps x Sale Sharks, Inglês de rúgbi, ESPN e ESPN +

13h - Campinas x Funvic, Superliga masc. de vôlei, SporTV

14h - Chelsea x Aston Villa, Inglês, ESPN e ESPN +

14h - Toulouse x Sochaux, Francês, SporTV 2

14h - New Hampshire x Penn State, basquete universitário, Bandsports

16h - Pittsburgh Steelers x Cincinnati Bengals, futebol americano, ESPN e ESPN +

16h - Houston Texans x Minnesota Vikings, futebol americano, Esporte Interativo

16h - Unicaja x Barcelona, Espanhol masc. de basquete, Bandsports

18h - O. de Marselha x Saint-Étienne, Francês, SporTV

19h - Baltimore Ravens x New York Giants, futebol americano, ESPN e ESPN +

23h20 - Seattle Seahawks x San Francisco 49ers, futebol americano, ESPN, ESPN + e Esporte Interativo

Caixeiros viajantes - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 23/12


Os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula estiveram em Doha, no Catar. FH foi a convite do Banco Itau. A instituição financeira quer permissão do governo local para abrir agências bancárias naquele país. Lula esteve a convite da Andrade Gutierrez. A empreiteira mineira está disputando, com 15 empresas, a construção de uma das sete linhas de metrô que lá serão construídas.

O fim de uma lenda
Nos últimos anos, o ex-ministro José Dirceu alardeou um poder que já não tem há muito no PT. Os adversários do petismo ajudaram a alimentar este mito para desgastar o partido que governa o país. Agora está claro o limite de seu poder e de sua capacidade de mobilização. Em 24 de novembro, Dirceu bradou: “É preciso ir às ruas!”. Ele pretendia fazer “o julgamento do julgamento”. Os petistas não foram às ruas durante o julgamento do mensalão e nem irão quando os condenados estiverem na prisão. Dirceu saiu contrariado da última reunião nacional do PT, que se recusou a aprovar uma proposta de manifestações públicas contra o STF. 

O ex-presidente Lula vai às ruas do país em 2103. Vai defender os 10 anos de governo do PT. E iniciar a formulação de um novo programa para o país

Cândido Vaccarezza 
Deputado (PT-SP), ex-líder do governo Lula na Câmara

No ritmo da Copa
O governo divulga o balanço da Copa na quarta-feira. Nem tudo serão flores. A reforma do Maracanã está atrasada. A obra do VLT de Cuiabá foi paralisada pelo TCU, por irregularidades. Os governadores Geraldo Alckmin (SP), na foto, e Omar Aziz (AM), assumiram que não têm como construir os VLTs de São Paulo e Manaus.

Salve-se quem puder
Os governadores esperam que o governo Dilma anuncie um socorro emergencial devido à queda do Fundo de Participação dos Estados. Estão à frente do movimento Marcelo Déda (SE), Jaques Wagner (BA) e Eduardo Campos (PE). 

Um conforto para qualquer governo
A decisão do ministro Luiz Fux, sobre a votação de vetos, fortalece a Poder Executivo. Políticos experientes avaliam que, mantida a decisão, nunca mais o Congresso votará um veto. Dizem que limpar a pauta de vetos não é tarefa fácil.

O sonho acabou
Entrou no acordão do PSDB com o PMDB, para rejeitarem o relatório da CPI do Cachoeira, o apoio dos tucanos à eleição do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) a presidente do Senado. Com a saída do PSDB, os votos dissidentes caíram e não vão chegar a 1/3. Mesmo assim, pretendem ter um candidato e o objetivo agora é convencer o senador Pedro Simon (PMDB-RS).

Crédito de confiança
O setor industrial está preservando os empregos, a despeito da queda nos negócios. Aposta na recuperação da economia. Mas dirigentes industriais dizem que tudo muda se o Brasil não voltar a crescer no primeiro semestre de 2013.

Irritado com o PT
O deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira, está magoado com seu partido. Em desabafo, contou que deputados lhe colocaram na fogueira pressionando por mudanças no relatório e que isso arranhou sua credibilidade.

NA SAÍDA. O presidente da Câmara, Marco Maia, terá que arbitrar quem tem maior bancada, o PSDB ou o PSD, para ocupar a primeira secretaria da Casa.

Sem quarentena - VERA MAGALHÃES -


FOLHA DE SP - 23/12


Tão logo deixe a Prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab vai se dedicar a duas tarefas: a consulta interna no PSD sobre o apoio a Dilma Rousseff em 2014 e a candidatura própria do partido ao governo de pelo menos dez Estados, entre eles São Paulo. O prefeito tem demonstrado a aliados disposição de enfrentar, como candidato, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o candidato do PT. Ele defende voo solo mesmo se o PSD estiver com Dilma, como forma de fortalecer a sigla.

Pompa 
O PSD programa fazer um grande evento para anunciar o apoio a Dilma entre abril e maio, após a rodada de consultas aos Estados.

Pioneiros 
O primeiro Estado a entregar à direção nacional do partido uma resposta à enquete interna foi Roraima. A seção, comandada pelo deputado ruralista Moreira Mendes, disse "sim" à adesão à presidente.

Papel passado 
Só após a adesão formal ao governo, o partido de Kassab deve ingressar no ministério. O vice-governador Guilherme Afif voltou a liderar a bolsa de apostas para a nova pasta da Pequena e Micro Empresa. Além de ser uma área à qual sempre se dedicou, seria uma forma de constranger Alckmin, desafeto do prefeito.

Ativo 
Depois que retornou de viagem de férias, José Serra tem promovido rodadas de reuniões com deputados, secretários de Estado e conselheiros políticos. O tucano expressa desejo de participar ativamente da vida partidária e de eventos de entidades da sociedade civil, mas não menciona projetos eleitorais.

Onde pega 
Serra tem demonstrado a aliados preocupação com o cenário eleitoral para Alckmin em 2014. Ele tem insistido na importância de tentar preservar a aliança com o PSD de Kassab.

Caravana 1 
Eduardo Campos (PSB) deve intensificar nos primeiros meses de 2013 viagens a vários Estados, atendendo a convites para homenagens e outorga de títulos de cidadão honorário.

Caravana 2 
Nas visitas, o governador de Pernambuco e potencial candidato à Presidência aproveita para fazer contatos com políticos e empresários, principalmente fora da região Nordeste.

Ordem... 
Dilma decidiu fechar as portas do escritório da Presidência em São Paulo após envolvimento de Rosemary Noronha, a ex-chefe de gabinete da representação, com a quadrilha descoberta na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal.

de despejo... 
Interlocutores do Planalto afirmam que a presidente, que não viaja com frequência a São Paulo, deverá despachar da sede do Banco do Brasil ou requisitar uma sala no prédio da Petrobras em 2013.

RH 1 
A indicação de Paulo Vieira para a Agência Nacional de Águas passou pela ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra em agosto de 2009.

RH 2 
Em e-mail, Gilberto Miranda diz ao ex-diretor da ANA que Gim Argello (PTB-DF) esteve com a ex-braço-direito de Dilma, que teria lhe informado existirem cinco candidatos ao cargo. "O PT de São Paulo pediu também", relata o ex-senador.

Pós-Carnaval 
A Polícia Federal estima que deve concluir em março a análise de todos os documentos apreendidos na Operação Porto Seguro, que investiga tráfico de influência do grupo liderado por Paulo Vieira em órgãos do governo e agências.

Blefe 
A PF não conta com uma delação premiada de Paulo Vieira. Acha que ele usou a ameaça para mandar recados e tentar envolver pessoas contra as quais não há evidências no inquérito.

Plantão natalino Sem definição sobre a votação do Orçamento, Dilma determinou que as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Miriam Belchior (Planejamento) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) fiquem em Brasília amanhã até meio-dia para comandar a negociação.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"Lula é perseguido desde a ditadura. É um dos maiores estadistas da República. Debalde, portanto, é tentar atingi-lo em sua honra."

DO MINISTRO DE MINAS E ENERGIA, EDISON LOBÃO (PMDB), defendendo o petista após novo depoimento de Marcos Valério que o envolve no mensalão.

contraponto


Ajudante de Papai Noel

No coquetel de fim de ano da presidente Dilma Rousseff com ministros e líderes, o senador Inácio Arruda (PC do B-CE) foi o único a levar presente. Ao receber a sacola, Dilma disse para o ministro Paulo Bernardo (Comunicações):

-Paulinho, você não me trouxe nada?

Pego de surpresa, o ministro desconversou:

-Me dê essa sacola aqui, presidente. A senhora não pode ficar carregando isso por aí...


Uma sentença difícil de entender - MARIA ANGELA HOLGUIN

O GLOBO - 23/12


A recente sentença da Corte Internacional de Justiça sobre a controvérsia territorial e marítima entre a Nicarágua e a Colômbia criou mais problemas do que os que estavam por resolver.

Embora a Corte tenha reconhecido a soberania colombiana sobre todas as ilhas e ilhotas em disputa, deu-lhes um tratamento diferenciado, desconhecendo a unidade histórica, geográfica e jurídica do arquipélago colombiano de San Andrés, localizado no coração do Caribe ocidental, e deu à Nicarágua os direitos econômicos sobre as águas onde a Colômbia os exercia.

A Corte começou determinando a área relevante para a delimitação e a fixou em 200 milhas das costas nicaraguense, que constituiria a Zona Econômica Exclusiva da Nicarágua, se não existisse o arquipélago de San Andrés. As ilhas se encontram um pouco mais de 100 milhas do litoral nicaraguense o que, conforme o direito marítimo, também dá direito à Zona Econômica Exclusiva e Plataforma Continental. A Corte negou este direito à totalidade do arquipélago sem qualquer justificativa.

A Corte traçou uma linha média provisória entre as costas opostas das partes entre a linha costeira nicaraguense e o arquipélago colombiano de San Andrés, e em seguida passou a examinar as circunstâncias que demandaram o ajuste, como fez em outros casos. Partiu de um pressuposto certo de que há uma diferença entre a longitude das costas das partes na proporção 1:8.2, mas no ajuste da linha tomou uma decisão sem precedentes. A Corte considerou que as ilhas colombianas recortam a projeção do litoral nicaraguense, como se estas não tivessem em princípio os mesmos direitos que o litoral. Novamente não lhe importou nem a integridade do arquipélago nem as ilhas.

A combinação destes dois fatores fez com que a Corte ajustasse a linha arbitrariamente, aplicando um critério equivocado de proporcionalidade. Efetivamente trabalhou sobre a base de cálculos matemáticos ao traçar duas linhas retas ao longo dos paralelos ao norte de Providencia e ao sul de San Andrés e das ilhotas adjacentes, prolongando-as até as 200 milhas do litoral nicaraguense. Com isto ficou descartada a unidade territorial das ilhotas de Quitasueño e Serrana com o resto do arquipélago. A sentença da Corte rompeu também, no arquipélago, a unidade da Reserva de Biosfera Seaflower, declarada pela Unesco em 2000. Mais agravante foi a separação de seus 80.000 habitantes das áreas em que desenvolvem trabalhos de pesca por séculos, das quais tiram o seu sustento. A Corte, figurativamente, construiu uma parede entre o quarto de uma casa e sua cozinha. Deixou a despensa dos ilhéus em mares nicaraguenses.

A Corte decidiu redesenhar a geografia. Ao traçar uma delimitação que vincularia somente as partes em questão, e não outros países, na prática afetou os tratados da Colômbia com a Costa Rica e Panamá. Soma-se a esta decisão o tratado com Honduras, que já tinha sido afetado em seu julgamento anterior de delimitação com a Nicarágua. Abriu-se um sem número de conflitos entre os estados desta área do Caribe.

Este julgamento acabou com tratados de limites com terceiros, deixou vulneráveis os direitos ancestrais dos ilhéus, desrespeitou a reserva de biosfera declarada pela Unesco e passou por cima de um tratado vigente e válido (1928), com o qual se havia selado no seu momento a equidade. A Colômbia havia outorgado a soberania à Nicarágua da Costa Mesquita, e a Nicarágua reconhecia a soberania da Colômbia sobre o arquipélago com todas as suas ilhas e ilhotas, levando em conta que em direito internacional os direitos econômicos no mar são os da terra.

A Colômbia é e continua sendo um país respeitador de normas e acordos. Porém, o que não pode é deixar de manifestar sua inconformidade com falhas de apreciação que desconhecem a história, os tratados de limites, o direito à sobrevivência de seus cidadãos e a equidade como fonte de direito.

A URV do crescimento - GUSTAVO FRANCO

O Estado de S.Paulo - 23/12


Para induzir o crescimento, os fundamentos da economia têm de estar no lugar correto e as contas fiscais arrumadas e sem piruetas contábeis



O ano de 2012 vai chegando ao fim, misturando ingredientes de frustração e inquietação, quem sabe desproporcionais aos desacertos. Ou não.

Tudo parecia encaminhado, inclusive com certo triunfalismo, com a economia em pleno emprego e a inflação estranhamente sonolenta diante do comportamento sofrível das finanças públicas. Até que o anúncio do crescimento do PIB no terceiro trimestre caiu sobre as autoridades como um viaduto. Foi muito pior que os desabamentos provocados pelo mercado financeiro, pois nada pode ser atribuído à volubilidade dos especuladores: toda a culpa cabe ao nosso vetusto IBGE, onde trabalham vastas quantidades de técnicos da melhor qualidade e muitos simpatizantes do partido do governo, de tal sorte que as dúvidas sobre a sua isenção são semelhantes às que podem ser atiradas sobre o STF no julgamento do mensalão. Não há desculpas, portanto. Nada obstante, o ministro da Fazenda solicitou uma revisão dos dados, como se estivesse diante de seu alfaiate.

O fato é que sumiram as certezas sobre a fórmula do crescimento. O que parecia um assunto simples - fazer obra, assinar cheques e esquentar a demanda - agora se encontra imerso em mistérios. O crescimento acelerado pode ter se tornado um desafio comparável ao que foi a inflação no passado. Afinal de contas, não seriam ambos, o crescimento e a estabilização, problemas de coordenação macroeconômica? Não seria a macroeconomia nada mais que um exercício sobre interação e interdependência entre pessoas e empresas, e sobre expectativas e desconfianças sobre as ações dos vizinhos, diante de autoridades tentando conduzir a multidão?

É nesse terreno que a nossa experiência com a estabilização encerra algumas lições úteis, muitas das quais associadas a uma palavra que tem sido muito pronunciada ultimamente: confiança.

A confiança costuma ser descrita como flor delicada, assunto subjetivo, matéria de psicólogos, mas nem por isso deixa de ser seriamente sacudida por prejuízos. É curioso que o anúncio do PIB, em conjunto com os efeitos da MP 579 sobre a Eletrobrás, tenha dado novos sentidos, por exemplo, à operação de capitalização da Petrobrás: a despeito das boas intenções, o prejuízo ao patrimônio público ultrapassou R$150 bilhões (queda próxima de 50% no valor de mercado da empresa), sem contar a confusão dos royalties.

Se o leitor era investidor nessas companhias e, portanto, confiava que elas eram bem geridas, o que esperar de seu "ânimo vital" para investir depois dessa tunga?

Em termos mais gerais, os investimentos das empresas em máquinas e edificações vêm caindo há cinco trimestres seguidos, a despeito dos diversos pacotes associados às concessões em infraestrutura, do hiperativismo seletivo do governo e de os desembolsos do BNDES terem triplicado nos últimos 3 ou 4 anos.

Não há dúvida de que há algo de subjetivo e complexo nas decisões de investimento, os tais "espíritos animais" de que falava Keynes, que as autoridades não têm conseguido operar. O governo se esforça para mostrar que sua índole é "pró-mercado", chama o setor privado para investir em sua companhia, mas não consegue adesões. Procura o corpo a corpo, conversa com o ex-ministro Delfim Netto, como se isso o ajudasse a entender os códigos do capital, e o efeito parece o oposto. Como fazer com que milhões de potenciais investidores se convençam ao mesmo tempo de correr os riscos inerentes à adesão às orientações governamentais?

Nesses termos, o problema é muito parecido com o da estabilização, o que não deve surpreender os estudantes de macroeconomia em dia com suas leituras. É nesses termos que a experiência da URV pode ser útil para os desafios que as autoridades têm diante de si.

São várias as lições, a primeira, a mais básica, é que os fundamentos têm de estar no lugar, ou seja, o tripé precisa estar na posição correta e as contas fiscais arrumadas e sem as piruetas contábeis dos últimos tempos. A segunda é que a adesão precisa ser voluntária, o governo convida, mas não impõe nem intimida, não cria dependência, e tampouco faz convites indecorosos. A URV era um conceito horizontal: moeda estável para todos, jogo limpo, regras claras, sem interferências espúrias e jogadores especiais ou privilegiados. Não havia seletividade nem caminhos mais curtos: todos iguais diante da moeda e da lei. Jogo limpo, a regra do mundo plano e globalizado. O governo orienta, cuida do estádio e do gramado e não se mete a cobrar escanteios. E quanto mais gente adere, maior o incentivo a aderir, fenômeno que se conhece como "externalidade de rede", sempre observável em problemas de coordenação econômica.

A URV do crescimento ainda está para ser inventada; e certamente não se chama PAC.

O que emperra a economia - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 23/12


Nada parece justificar o otimismo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que prevê que a economia brasileira poderá crescer 4% em 2013, se a crise internacional não se agravar. Na mesma edição especial de seu boletim Informe Conjuntural, em que faz essa previsão, a CNI aponta vários obstáculos que prejudicam o desempenho do setor produtivo, já fazem o Brasil ficar atrás de outras economias emergentes em vários aspectos e poderão comprometer o futuro do País. Por isso, mais do que um estudo de conjuntura, o documento deve ser entendido como um alerta que precisa ser levado em conta pelos governantes e também pelos dirigentes de empresas. Há muito o que fazer para assegurar o crescimento futuro do País.

Ao considerar insustentável o modelo de crescimento baseado no consumo - que resultou no frustrante desempenho da economia em 2012, quando, em sua avaliação, deverá crescer apenas 0,9%, um terço da projeção que fazia no início do ano -, a CNI chama a atenção para a necessidade de buscar o equilíbrio entre o aumento dos investimentos e o do consumo das famílias. "Não se sustenta crescimento só com consumo", afirmou o presidente da entidade Robson Braga de Andrade.

O mau desempenho da economia brasileira em 2012 não se deve apenas - talvez nem se deva principalmente - à crise mundial. "Países emergentes, inclusive da América Latina, irão crescer mais do que o Brasil", diz o Informe da CNI. São países que investem mais do que o Brasil, o que explica parte da diferença de desempenho.

Pelo menos nos discursos, o tema parece preocupar também o governo federal. "Os investimentos públicos e privados são a chave para nosso crescimento sustentável, pois essa parceria entre público e privado amplia nossa capacidade de produzir, escoar, exportar, importar, traz inovação, eficiência, gera emprego, gera renda", disse a presidente Dilma Rousseff, há dias, ao participar de uma solenidade no Porto de Itaqui.

De fato, esses são alguns dos resultados positivos dos investimentos. Sem investimentos, acrescenta a CNI, são escassos os ganhos de produtividade. A produtividade, de sua parte, é essencial para assegurar maior competitividade, e, se não se tornar mais competitivo, o setor produtivo brasileiro, sobretudo o industrial, perderá espaços para a concorrência internacional, inclusive no mercado interno.

Por isso, a CNI considera a competitividade essencial para o crescimento vigoroso da economia brasileira. Além do aumento dos investimentos, a recuperação da produtividade e da competitividade da economia requer ambiente regulatório adequado, mais atenção à inovação, infraestrutura que atenda às necessidades do setor produtivo, redução da burocracia, reforma do sistema tributário e melhora do ensino, entre outros fatores.

Há problemas cujas soluções dependem exclusivamente do governo, outros que podem ser resolvidos apenas pelo setor privado, outros, ainda, cujas soluções dependem dos dois setores da economia. Cada vez mais determinante para a conquista e a preservação de mercados, a inovação, por exemplo, depende da decisão da empresa em investir. Mas essa decisão está condicionada à existência de ambiente adequado, de políticas públicas que estimulem e apoiem os investimentos privados e de disponibilidade de mão de obra qualificada, o que envolve a ação do governo.

A escassez de mão de obra preparada já é sentida em vários setores e resulta da ineficiência do sistema educacional. Para a CNI, a baixa qualidade do ensino - resultante de políticas do governo - dificulta a preparação da mão de obra e afeta a produtividade de dois modos. Com a contratação de profissionais não adequadamente qualificados, a produtividade cai imediatamente, pois os novos trabalhadores terão de aprender o ofício. Mas a baixa qualidade da educação dificulta o aprendizado, o que retarda ou impede a recuperação da produtividade perdida.

A criação de ambiente adequado para investimentos, sobretudo em inovação, requer mais do que discursos. Necessita de políticas públicas eficientes, algumas de longa maturação e que exigem, além de competência, perseverança do governo.

Não olhar para trás - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 23/12


Não basta o governo investir, tem que investir certo. "Construir pirâmides não vai desenvolver o país", diz Armínio Fraga. Trem-bala é pirâmide, na visão dele. Aliás, de muita gente. O governo está neste momento com nostalgia do modelo dos anos 1970. "Não sou pessimista com o Brasil a médio prazo, mas agora o governo está olhando demais para um modelo que deu errado."

No domingo, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o economista Edward Amadeo publicaram um artigo neste jornal se perguntando se não está chegando ao fim a herança bendita. Foi sobre isso que conversei com Fraga no programa da Globonews.

Por herança bendita, ele entende as reformas que o Brasil fez a partir da década de 1990. Abertura da economia, estabilização, modernização do Estado e inclusão dos mais pobres. Acha que esses bons passos foram dados por governos diferentes, e não apenas o de Fernando Henrique, no qual trabalhou. Destaca avanços importantes no governo Lula, principalmente o combate à pobreza:

- Mas, aos poucos, começou a mudar. Hoje, olhando para trás, dá para saber que a guinada começou no segundo mandato do presidente Lula.

Ele contrapõe o modelo novo, em que houve muitas reformas, com o velho, dos anos 50 a 70, em que houve pouca poupança, pouca ênfase na educação e na produtividade:

- Temos que nos organizar para avançar. No novo modelo, o Estado continua necessário - e nem seria diferente numa sociedade tão desigual quanto a nossa - mas para concentrar-se no que é mais importante. Nos outros setores, tem que atuar apenas como regulador. Hoje, o Estado está entrando cada vez mais na produção e está correndo riscos.

Um dos exemplos é o setor ferroviário. É uma velha demanda brasileira o investimento em ferrovias, mas o governo assumiu todos os riscos da ampliação de investimento e vai garantir a compra de toda a oferta de transporte que for criada:

- É muito melhor ter um setor privado que corre riscos e paga os preços das decisões que toma, e, portanto, tem que pensar bem antes de fazer um investimento, do que ter um Estado que garante tudo.

Ele acha que o BNDES deveria cobrar do setor privado aumento na participação do financiamento ao investimento:

- A história de países que alicerçaram o seu crescimento em bancos públicos não é boa, inclusive a nossa.

O ex-presidente do BC ressalta o ganho da queda dos juros, mas recomenda paciência e disciplina:

- A inflação vem acima da meta há algum tempo e isso não é bom. O governo tem recorrido a artifícios tributários e outros, como o dos combustíveis, para ajudar a inflação. Isso produz uma redução pontual dos preços. Não quer dizer que a inflação está resolvida. A taxa está bem alta no Brasil.

Armínio não está pessimista com o país e vê avanços importantes na educação, por exemplo, principalmente porque as famílias começaram a dar mais valor:

- As pesquisas mostram isso e se as famílias estiverem cobrando dos políticos, escolas, diretores, professores, a situação melhora. Essa área promete. Tem muita coisa boa acontecendo.

Outro avanço ocorre no mercado de capitais que, por esforços das empresas e governo, tem ficado mais confiável e atraído mais investidores:

- Não sou pessimista, mas o país está confuso em sua estratégia e há no governo um certo namoro com um modelo antigo que deu errado.

Armínio acha que o cenário externo será melhor em 2013 e o ciclo vai favorecer. O que está faltando, segundo ele, é o Brasil agir na direção certa.

Corrida de obstáculos - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 23/12


A última semana transformou a candidatura de Henrique Eduardo Alves a presidente da Câmara numa prova de hipismo, repleta de cancelas, cavaletes e muros. Esse será o primeiro grande embate político de 2013, junto com a disputa pela vaga de líder do PMDB na Casa


A última semana de funcionamento do Congresso Nacional serviu para armar as cancelas que farão parte da primeira prova política de 2013: a Presidência da Câmara dos Deputados. E, quem se lançou primeiro e tem o apoio institucional do partido é quem mais terá dificuldade com a altura dos obstáculos, leia-se, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN).

Como numa pista de hipismo, os obstáculos estão espalhados, uns mais fáceis, outros desafiadores. O primeiro foi colocado por ele mesmo. A não se posicionar logo no primeiro dia sobre a decisão de Luiz Fux a respeito da obediência à fila dos vetos, Henrique Alves deixou em muitos de seus colegas a impressão de que não defenderia o Legislativo de tudo e de todos. E os deputados querem na Presidência da Câmara alguém que os defenda.

O segundo cavalete que Henrique colocou na pista foi o fato de não defender de pronto que caberia à Câmara cassar os mandatos dos deputados enrolados no Supremo Tribunal Federal. O PR do deputado Valdemar Costa Neto, um dos réus no processo, não gostou. Dentro do partido, se fala inclusive na candidatura do deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF) a presidente da Casa, contra o PMDB.

O terceiro obstáculo foi construído com tijolos pelo líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). De olho nos votos do PSDB para presidente do Senado, Renan ajudou a derrotar o relatório do deputado Odair Cunha (PT-MG), na CPI que investigou os negócios suspeitos do empresário Carlos Cachoeira e seus tentáculos no poder público. Assim, Renan ajudou a evitar que se cumprisse um pedido do PT, de indiciar o governador de Goiás, Marconi Perillo.

Para completar, o relatório vencedor foi o de Luiz Pitiman, deputado do PMDB do Distrito Federal, e ligado à cúpula do partido. O parecer de Pitiman apenas remeteu tudo o que foi apurado na Comissão Parlamentar de Inquérito para o Ministério Público. Ou seja, mais um peemedebista contra o relator. Sendo assim, como o PMDB não lhe apoiou, Odair Cunha também não se sente mais na obrigação de apoiar o PMDB. Ou seja, é considerado um voto que Henrique Alves não terá.

Outro obstáculo forte é o próprio PMDB. A disputa acirrada pela vaga de líder do partido na Câmara virou uma guerra e envolve nomes como o de Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro e o de Sandro Mabel, de Goiás. Cunha é polêmico, brigou para ser relator do Código de Processo Civil e esperava o apoio de Henrique para ocupar a vaga de líder. Mas esse apoio não veio. Mabel está há pouco tempo no PMDB. Quando era do PL, passou por um período difícil quando foi acusado de envolvimento no escândalo do mensalão, mas foi absolvido no Conselho de Ética da Casa por unanimidade. Terminou fora do partido num embate com Valdemar Costa Neto. Por conta desses percalços, sua candidatura é vista com reservas por setores do PMDB. Há quem receie que Mabel cuidará mais de si próprio do que da bancada. Hoje, há quem diga que os dois irão ao segundo turno e, nesse caso, o perdedor dificilmente jogará fechado com Henrique Alves.

O quinto obstáculo está no PT. O fato de o grupo ligado ao ex-ministro José Dirceu estar em franco movimento para ocupar todos os espaços provoca insatisfações em outros pólos, como o do presidente da Casa, Marco Maia. Por isso, não está descartada uma sangria de votos petistas, especialmente numa votação secreta.

Para completar, o período Legislativo terminou com a apresentação de duas candidaturas a presidente da Câmara., A deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) anunciou na última sexta-feira que será candidata. Na quinta-feira, foi a vez do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) ter seu nome oficializado pela bancada, com logomarca e tudo mais. Em carta enviada pela bancada do partido.

Enquanto isso, no QG de Henrique Alves…
Uma das formas que o líder do PMDB tem de tentar neutralizar Júlio Delgado é colocando a candidatura do socialista como uma manobra do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para medir sua força congressual rumo a uma carreira solo em 2014 contra Dilma Rousseff. Nesse caso, o PT se reaglutina em torno do nome do PMDB. Não por acaso, Eduardo Campos não se manifestou sobre a candidatura de Júlio. Não quer colar as pretensões da bancada ao seu nome. Ocorre que, como diz o ditado, quem cala, consente. E agora, candidatura posta. Ninguém retira. Ou seja, 2013 vem fervendo com a disputa pela presidência com ares de final de campeonato de saltos. Que vença o melhor.