quinta-feira, setembro 05, 2013

O prazer (ainda) é um escândalo - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 05/09

A prostituição continua maldita, porque se funda, em tese, no escândalo que é o prazer do sexo sem amor


Imagine que sua filha, de 15 ou 16 anos, peça para dormir com o namorado, em casa. Você não está a fim de encontrar esse cara de pijama no café da manhã do dia seguinte.

Talvez você também pense que não é bom eles terem uma paródia de vida de casal, sem as responsabilidades básicas de quem trabalha e se sustenta. Mas é possível que, como muitos pais paulistanos, você acabe cedendo por uma questão de segurança: melhor que sua filha passe a noite em casa, ao abrigo.

Mesmo assim, você quase certamente colocará uma condição: pode, mas só se for mesmo o namorado --e namorado há um bom tempo. De novo, é uma questão de segurança: você não quer que ela introduza na sua casa alguém que ela mesma mal conhece. Mas há mais: sua exigência manifesta a ideia de que muito, se não quase tudo, é permitido, À CONDIÇÃO de que ela esteja apaixonada, ou melhor, À CONDIÇÃO DE QUE ELES estejam apaixonados.

Desde Romeu e Julieta, nós, pais, aprendemos a respeitar a autonomia do indivíduo em matéria de sentimentos. Fazer o quê? Eles se amam, e contra o amor não se pode quase nada.

Agora, imagine que Romeu e Julieta se encontrassem só para transar adoidados, sem nenhum compromisso sentimental? Não sei se, nesse caso, as plateias da peça shakespeariana torceriam imediatamente por eles.

Imagine que sua filha peça a permissão de trazer para o quarto dela um cara com quem ela se dá bem na cama e tem muito prazer em transar, sem envolvimento sentimental algum. Qual seria sua reação nesse caso?

Devo ter repetido mecanicamente, não sei quantas vezes, que os anos 1960 foram a época da liberação sexual, mas não é nada disso: o que houve foi uma liberação amorosa. Ficou permitido transar caso haja amor. A transa pelo prazer não foi liberada; ela ainda é culpada e precisa ser resgatada pelo "nobre" sentimento amoroso.

É por isso que a prostituição continua maldita, porque se funda, em tese, no escândalo que é o prazer do sexo sem amor. Em geral, quem tolera dificilmente essa ideia considera as pessoas que se prostituem como eternos menores (seja qual for sua idade), sem liberdade, sem vontade própria --apenas vítimas de cafetões, miséria e traumas de infância.

"O Negócio", seriado brasileiro que chega ao seu quarto episódio (HBO, domingo, 21h), tem (no mínimo) o grande mérito de estraçalhar esse preconceito: as prostitutas que são suas protagonistas são, obviamente, sujeitos jurídicos e morais como a gente.

Claro, as heroínas de "O Negócio" são privilegiadas, diferentes das prostitutas da zona de qualquer cidade brasileira. Mas não são diferentes a ponto de nos fazer pensar que elas seriam exceções, parecidas conosco, enquanto as prostitutas da zona seriam seres sem autonomia, que precisam ser entregues à tutela de um Estado condescendente.

Ora, é assim que imagina as prostitutas o deputado federal João Campos (PSDB-GO), que está se especializando na tentativa de transformar suas obsessões morais em lei para todos nós. No Brasil, onde a prostituição é uma prática legal, ele quer criminalizar o ato de oferecer pagamento a alguém pela prestação de serviços de natureza sexual.

O cliente, por procurar esse (escandaloso) prazer só carnal, será punido. A pessoa que se prostitui (suponho que a lei projetada valha para mulheres e homens) poderá ser perdoada porque, segundo Campos, sempre é coagida --ou seja, na hora em que se prostituiu, parou de ser sujeito responsável.

Recentemente, João Campos tentou fazer que fosse permitido aos psicólogos "curar" a homossexualidade. Receio que ele entenda de prostituição como ele entende de homossexualidade.

A quem se interessar realmente pela questão, sugiro dois livros excelentes, escritos por antropólogos e ambos publicados pela editora da UERJ, "Trânsitos - Brasileiras nos Mercados Transnacionais do Sexo", de Adriana Piscitelli, e "Devir Puta - Políticas da Prostituição de Rua na Experiência de Quatro Mulheres Militantes", de José Miguel Nieto Olivar.

O livro de Piscitelli, em particular, mostra perfeitamente até onde chega nossa tendência a não reconhecer às prostitutas nem vontade autônoma nem dignidade jurídica própria. Por exemplo, criamos uma monstruosidade moral e legal que nos permite estigmatizar como "tráfico" (de brancas e morenas) a simples viagem de mulheres brasileiras que vão para Europa se prostituir por conta própria. Leiam e confiram.

Aviso: sobre a repulsa ao prazer em nossa cultura, não terminei...

No reino da boçalidade - CORA RÓNAI

O GLOBO - 05/09


O aeroporto internacional Eldorado, de Bogotá, bota no chinelo o patético Galeão

E aí, um dia, a gente recebe uma carta como esta:

“Peço-lhe desculpas por chateá-la com assunto dessa natureza. Infelizmente ainda há pessoas que acreditam que não pode acontecer com elas passar por tanto constrangimento quando precisam da ‘nossa’ polícia.

“Meu sobrinho vem, há alguns anos, meio perdido na vida. Sou professora, graduada e pós-graduada, crio-o desde os sete anos (hoje está com 29) porque a mãe sumiu no mundo e o pai, meu irmão, morreu quando o menino contava apenas dois meses. Temperamento difícil somado à revolta pelo abandono levaram-no às drogas; para manter o vício, foi levado aos assaltos.

“Imagine como sofro, pois tentei dar-lhe carinho e educação. Quando pequeno, levei-o a vários médicos e terapeutas. Crescido, dizia que não tinha problema e vivia a sua maneira. Está preso, pela segunda vez. Condenado, aguarda sua transferência para Bangu em uma casa de custódia em Engenheiro Pedreira, distrito de Japeri, interior do Rio de Janeiro.

“Cheguei há pouco de lá. Estou arrasada. Não consigo entender por que alguns funcionários (infelizmente, maioria) do Sistema de Administração Penitenciária tratam-nos, parentes dos presos, com tanto sarcasmo e desrespeito. Imagino como os presos são tratados. Sei que violaram as leis, sei que muitos oferecem perigo à população, sei que não devem ter mordomias. Não deveria haver mordomia para ninguém que violasse as leis, inclusive os políticos corruptos, os criminosos de colarinho branco. Apenas acredito que, como cristãos, devemos tentar ajudar essas pessoas a viver de forma diferente. Acredito que educando, orientando para o trabalho, ocupando esses jovens, tornando-os úteis, chegaremos a uma realidade tão desejada, ou seja, construiremos e investiremos em escolas e universidades e não precisaremos construir mais presídios.

“Levei para meu sobrinho uma manta de fibra sintética, cor cinza exigida pela casa de custódia. O inspetor disse que não poderia ser entregue. Eu perguntei por quê. Ele, rindo e caçoando, recomendou-me passar pelas ruas à noite, observar bem os mendigos e roubar de um deles um dos cobertores que usam, bem ‘vagabundinhos’, que é o que pode entrar para o preso.

“Você talvez dirá que eu deva procurar a corregedoria. Não é a primeira vez que passo por constrangimentos ou que os testemunhe. Você faz ideia do que pode acontecer ao meu sobrinho se eu fizer a reclamação? Precisa responder? Que país é esse em que não se pode confiar na força policial? Em todo esse tempo de luta (mais ou menos 15 anos) tentando recuperar esse jovem, encontrei apenas alguns poucos policiais que mereciam confiança.

Apenas alguns poucos, Cora. Apenas.

Sou professora. Acredito na Educação. Sou cristã. Não desisto. Perdoe-me o desabafo. Abraços,

Norma Suely”

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Não sei o que dizer para a Norma Suely. Não sei o que responder a uma carta assim. Não tenho coragem de recomendar que tenha paciência, porque eu não teria. Não tenho como pedir que tenha fé, porque eu não acredito. Não posso insinuar que as coisas vão melhorar, porque eu estaria mentindo: o Brasil que vejo piora a cada dia. Fizemos alguns progressos na área social, dizem que há menos miseráveis, e é possível que isso seja verdade, mas nunca tivemos uma população tão mal preparada, tão mal-educada, tão boçal. Um guarda que destrata os parentes dos presos é reflexo disso. Uma diretoria de presídio que permite este tipo de achincalhe também.

Não basta o país ter a capacidade de transformar miseráveis em pobres. Mais importante do que isso é pensar a longo prazo, é criar uma escola que funcione, da qual os jovens saiam com ferramentas de real progresso nas mãos, em vez de diplomas que, cada vez mais, valem cada vez menos. É entender que educação é, também, um conjunto de valores que forma pessoas melhores e mais humanas. O guarda que fez troça da Norma Suely aprendeu a ler e escrever, mas não sabe nada.

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Escrevo de Bogotá. Quando o avião decolou do Rio, o comandante da Avianca fez uma homenagem emocionada à equipe de judô que participou do mundial do Rio, e que voltava para casa naquele voo. Concluiu dizendo que jovens como aqueles reafirmavam o seu orgulho de ser colombiano. O casal brasileiro que ia à minha frente deu uma risadinha: “Orgulho de ser colombiano? Ha ha!”

Espero que, ao desembarcarmos, tenham mordido a língua com bastante força: o aeroporto internacional Eldorado bota no chinelo o patético Galeão, cada vez mais deprimente. E não é só a porta de entrada que impressiona. Os anos negros da guerrilha ficaram para trás (Farc e governo estão em negociações para pôr fim ao conflito), a produção de drogas caiu drasticamente, e o país, que vive um bom momento econômico, é uma grata surpresa: Bogotá é uma cidade ao mesmo tempo sofisticada e acolhedora, que sabe preservar a sua cultura. Tem museus de padrão internacional, bibliotecas públicas de cair o queixo e ruas limpas e seguras, patrulhadas por duplas de policiais e lindos cães de todas as raças. Acima de tudo, porém, tem uma população supergentil e educada, que capricha na cortesia como estilo de vida. Eles têm mais é que ter orgulho, muito orgulho, do seu país.

Ueba! Obomba ataca a Síria! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 05/09

Todos para o abrigo! O Obama é Nobel da Paz! Tudo bem! O Nobel inventou a dinamite!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambadorgeral da República! Socuerro! Todos Para o Abrigo! O Obomba vai atacar a Síria! E o Habib's! Se o Habib's aumentar o preço da esfilha, leva bomba! A esfiha agora é R$ 8,99. Bomba! Rarará!

E adorei a frase desse pacifista: "Bombardear pela paz é como trepar pela virgindade". Isso!

E adorei a charge do Bira: "Martin Luther King: I have a dream'. Barack Obama: I have a drone'". Rarará!

E o Obama é Nobel da Paz! Tudo bem! O Nobel foi inventor da dinamite! E a notícia do Nobel do Obama caiu como uma bomba! Rarará.

E o Iraque comemorou com tiros pro alto. E quem derrubou duma vez só o Bush e a Sarah Palin merece um Nobel.

O Belzebush era pior: jogava bomba contra todo país com nome esquisito: Undistão! Não entendi. Bomba!

E diz que a Síria jogou gás sarin. Então foi o Maluf. Paulo Sarin Maluf, o político de destruição em massa! E avisa pro Obama que arma química é o arroto de quibe do Habib's! Arroto de quibe do Habib's derruba o Assad. Aliás, derruba até a Muralha da China!

E um amigo pediu emprestado pro Obama um míssil pra jogar na casa da sogra dele: "Não aguento mais comer aquele suflê de abobrinha". Isso que é arma química!

E o fim do voto secreto! Os deputados não votavam aberto porque eram tímidos. Olha a charge do Frank com o deputado tímido: "Votar aberto? Assim? Na frente de todo mundo?".

Agora, quando dá mídia e TV, eles votam até gritando: "Por Águas Claras, minha querida cidade, voto sim". "Por minha mulher, pela minha mulher e por Deus, voto sim."

Ou seja, o voto secreto era por timidez! Rarará! É mole? É mole mas sobe!

E o Mais Médicos? Olha essa: "Mais Médicos tem 50% de faltas no primeiro dia em São Paulo". Estão de atestado? Pediram atestado pros cubanos! Rarará!

E já tem brasileira falando cubanês. Charge do Jorge Braga com a mulher falando pro marido: "Yo quiero hablar con usted". E o marido: "Xiiii, tá indo muito no médico, hein". Rarará. Nóis sofre mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Crec-crec - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 05/09

“Abaixo tudo!”, como li num dos cartazes sendo carregados em junho, tem a virtude da síntese mas não parece ser uma reivindicação viável


Toda morte é prematura, mas algumas doem mais do que outras, nos que ficam. Até hoje os amigos lamentam a falta que faz a inteligência aguda do José Onofre, que partiu cedo demais. Foi o Onofre que, certa vez, reagindo à velha máxima de que não se pode fazer omelete sem quebrar ovos usada para justificar toda sorte de violência, disse: “É, mas tem gente que não quer fazer omelete, gosta é de ouvir o barulhinho de cascas de ovos se quebrando” Segundo o Zé, era preciso distinguir o sincero desejo de revolução ou mudança da busca do crec-crec pelo crec-crec.

Na véspera das manifestações anunciadas para o dia sete, e ainda no rescaldo das manifestações passadas, a distinção é vital. E não parece difícil: a turma do crec-crec é a turma do quebra-quebra, identificada pelos rostos tapados, ou pelo cuidado em não ser identificada. Mas não é tão simples assim, há mascarados com boas causas e caras limpas que só estão ali pela baderna, os aficionado do crec-crec como espetáculo de rua.

E, como um complicador a mais, há a natureza indefinida das ometeles pretendidas. “Abaixo tudo!”, como li num dos cartazes sendo carregados em junho, tem a virtude da síntese mas não parece ser uma reivindicação viável. Li que a extrema direita pretende encampar a megamanifestação de sábado e que seu objetivo — uma omeletaça — é derrubar a Dilma.

De qualquer maneira, pode-se prever mais algumas cabeças sendo quebradas, como cascas de ovos, nas manifestações contra tudo e a favor de, do, da... — enfim, depois a gente vê — que vêm por aí.

Inimigo no espelho - SÍLVIO RIBAS

CORREIO BRAZILIENSE - 05/09
Quando vaidade e ignorância são as duas características marcantes da mesma pessoa, é normal esperar gestos ridículos dela. Mas o que tem me impressionado mesmo é que tais cidadãos estão colocando em risco a própria vida e até a de terceiros em razão do desejo de "evoluir" apenas no plano estético. Os Narcisos em apuros trazidos pelo noticiário são quase sempre verdadeiros embriagados pela própria imagem, que acabam se esquecendo da segurança pessoal, da coletividade e do outro.
As vítimas de falsos médicos que recebem deles produtos sintéticos para inflar bumbuns e seios merecem atenção e piedade, mas também deveriam servir de alerta para as armadilhas tão comuns de ir ao encontro do sonho de beleza pagando fatura módica. O barato sem checar as reais credenciais do contratado sempre sai caro demais. São as tais loucuras em nome da beleza que viram monstruosidades lamentáveis.

O drama começa quando pessoas associam integralmente a visão de saúde à de boa forma ou bela forma, melhor dizendo. O fato é que o indivíduo saudável pode até não ser belo, mas a figura esculpida artificialmente pode também acumular prejuízos orgânicos graves em virtude das escolhas que fez para ter o corpo idealizado. O usuário de suplementos proibidos para subir ao céu fisioculturista pode estar portando um atestado de insanidade.

Enquanto isso, no salão de cabeleireiro, profissionais e suas clientes trocam dicas e telefones de vendedores ilegais de medicamentos para emagrecer. Esse comércio proscrito prospera com vigor graças ao aumento da renda média, ao campo fértil da ingenuidade e à predileção geral dos brasileiros pelos atalhos quase sempre inimigos da saúde. É de assombrar ver mães levando as filhas adolescentes para fazer lipoaspiração e cirurgia de redução de estômago.

Noutra perspectiva narcisística, pacientes que desrespeitam os avisos luminosos para apertar os cintos de segurança no interior do avião também estão sujeitos a se machucar muito nas fortes turbulências e nos pousos forçados. Assistimos a isso esses dias, infelizmente. Não por acaso, a vaidade é o pecado preferido do personagem encarnado pelo genial Al Pacino no filme Advogado do diabo (1997).

Síria, ausente mais que presente - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 05/09

Cúpula do G20 não fala do país em guerra no seu documento final, mas é o tema que não quer calar


Cúpulas, especialmente as que envolvem as grandes potências, são animais curiosos --e, pior, impenetráveis.

Tome-se a oitava cúpula do G20, que começa hoje em São Petersburgo. Participam chefes de governo das 20 maiores economias do planeta, mais seis convidados especiais, escolhidos pela anfitriã, a Rússia (Brunei, Etiópia, Espanha, Cazaquistão, Senegal e Cingapura).

Os temas, segundo o folheto distribuído pela Presidência russa, deveriam ser "crescimento por meio de empregos de qualidade e investimento; crescimento por meio de confiança e transparência; crescimento por meio de efetiva regulação" (neste caso, dos mercados financeiros).

Na vida real, ao menos nos países desenvolvidos, empregos de qualidade são coisa rara. Confiança é zero, ao menos entre o líder da única superpotência remanescente, Barack Obama, e o anfitrião, Vladimir Putin.

Tanto que Putin classificou ontem de "rumores e conversas" as provas que os Estados Unidos e seus aliados dizem ter a respeito do uso de armas químicas por parte da ditadura de Bashar al-Assad na guerra civil síria.

Transparência, então, nem se fala. Os líderes estão confinados em uma vila à qual não têm acesso direto nem mesmo os assessores de segundo escalão. O centro de mídia fica no mesmo distrito (Strelna) mas não há a mais remota hipótese de chegar a ver (já nem digo falar com) algum deles, salvo se se dispuser a convidar os repórteres a visitá-lo.

Curiosamente, os chineses, geralmente os mais fechados, preferiram à vila presidencial ficar em um hotel central, o Corinthia. É nele que, hoje, Xi Jinping recebe Dilma Rousseff, o que abre a primeira, talvez última oportunidade, de ver e falar com a presidente.

É natural, nesse ambiente fechado, que os negociadores do documento final não tenham até ontem à tarde ouvido a palavra Síria, em suas intermináveis discussões de vírgulas e parágrafos.

É o principal tema da atualidade internacional, ocupa o noticiário de todas as televisões globais, será certamente levantado por Putin ao fazer o discurso inaugural, mas os negociadores seguem o livrinho: discutem economia, como determina o mandato recebido.

Cumprem religiosamente o papel de "sherpas", como são chamados os representantes pessoais dos governantes. É uma alusão aos guias do Himalaia, que ajudam os alpinistas a chegar aos cumes desejados. Aqui, como em todas as cúpulas, o cume é o documento final que os líderes assinarão amanhã, como se eles próprios tivessem discutido um e todos os detalhes.

Síria, portanto, não entra no comunicado final, todo ele econômico e sem grandes novidades em relação à cúpulas anteriores.

Novidade mesmo a Folha já contou: a preocupação dos emergentes com o fim da farra de dinheiro fácil nos Estados Unidos, que, sim, estará presente no texto, mas, como queria o Brasil, sem dar a impressão de que estão em pânico.

O pânico fica para o assunto (Síria) que não quer calar, o ausente mais que presente.

Rio contra o crime - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 05/09

O número de vítimas de homicídios dolosos no Rio, em julho, foi de 310 (em junho, foram 362). É o segundo menor de toda a série histórica.
Mas cresceu 4,7% em relação a julho do ano passado (296), o melhor número da série.

Na verdade...
No passado, o Rio já teve índices bem altos. Em julho de 1991, foram 558 homicídios dolosos.

Não é só Obama
Em tempos de espionagem, o ex-procurador-geral de Justiça Claudio Lopes e alguns colegas denunciam que estão tendo desviadas várias mensagens encaminhadas ao fórum de discussão dos procuradores.
Ele diz que recebeu explicação da PGJ de que isso se deve “à ação de hackers revoltados com a comissão do MP criada para fiscalizar a ação da Polícia Militar durante as manifestações”. Será?

Em alta
A Rádio Sacristia diz que o Papa Francisco convidou Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, para trabalhar com ele no Vaticano.

Porcelana russa
Em São Petersburgo para a reunião de cúpula do G20, Dilma tinha ontem o dia livre.
Mas preferiu ficar na vila isolada onde o governo russo hospedou os chefes de Estado. Já Paula, sua filha, agendou uma visita à antiga fábrica de porcelana criada por Pedro, o Grande.

Perigo comunista
Dom Luiz de Orleans e Bragança, chefe da Casa Imperial do Brasil, criticou a importação de médicos cubanos. Para ele, a medida “visa estender pelo território brasileiro os males do expansionismo castrista”. Menos, Dom Luiz, menos.

O país da burocracia
A um mês do início da Feira Internacional do Livro, dia 8 de outubro, em Frankfurt, o Ministério da Cultura ainda não definiu onde hospedará os 70 escritores da delegação brasileira.
A decisão depende da conclusão de uma licitação. Como se sabe, há três anos ficou decidido que o Brasil seria o país homenageado na feira.

Que maldade!
A 17ª Câmara Cível do Rio condenou a Viação Verdun a pagar R$ 6 mil, por danos morais, a um aluno da rede municipal.
O menino, que era advertido na escola por atrasos, reclamou que os ônibus não atendiam ao seu sinal no ponto.

Asilo artístico
Para o juiz João Batista Damasceno, o negro alvejado por um policial retratado na obra de Carlos Latuff, retirada do seu gabinete e exposta na sala do desembargador Siro Darlan, não é Jesus:
— Apenas evoca a violência do Estado contra os excluídos ao longo da História. Crucificação era pena cruel e comum no Império Romano.

Bolsa Ditadura
O ex-deputado Marcelo Cerqueira, membro da Comissão da Verdade do Rio, vai doar ao Grupo Tortura Nunca Mais os R$ 20 mil que recebeu como indenização por ter sido preso na ditadura de 1964.

O direito de ir e vir
Advogado de presos políticos durante o regime militar, Cerqueira critica o grupo que acampou no Leblon, em frente à casa do governador Sérgio Cabral:
— O direito de ir e vir é assegurado desde a Magna Carta outorgada, há 800 anos, pelo rei João da Inglaterra. O “sítio” à residência particular do cidadão, eventualmente governador eleito, é constitucionalmente condenável e alcança mais que injustamente sua mulher e seus filhos. Perturba a vida de toda a vizinhança.

Grande hotel
Sabe aquele prédio na Praia de Botafogo, perto da Igreja da Imaculada Conceição, que abrigava vários consulados?

Vai virar um hotel. Um grupo de investidores belgas e a hoteleira gaúcha InterCity vão injetar R$ 120 milhões no lugar.

O mercador do tempo na TV - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 05/09

Para obter adesões ao seu novo partido, o Solidariedade, o deputado Paulo Pereira da Silva (SP) está oferecendo aos governadores os cerca de dois minutos de propaganda que a nova legenda terá direito. O partido deve nascer com uma bancada de 30 deputados. O acordo é feito assim: o governador transfere um ou mais deputados para o Solidariedade e ganha o tempo de TV no pleito estadual.

Quem quer comprar horário nobre?
Paulinho já fez este acordo com os governadores Marconi Perilio (PSDB-GO), Beto Richa (PSDB-PR), André Puccinelli (PMDB-MS), Cid Gomes (PSB-CE) e Eduardo Campos (PSB-PE). O presidente do PSDB, Aécio Neves, que ontem esteve com Paulinho, está transferido três tucanos para garantir o tempo de TV do futuro aliado. Na semana passada, numa casa no Lago Sul de Brasília, no escritório do advogado Tiago Cedraz, cerca de 30 deputados participaram de encontro do novo partido. Devido ao alinhamento com a oposição, o Solidariedade só aceita deputados do PSB e do PSDB quando esses têm problemas regionais internos para disputar a reeleição.


"O Solidariedade está bombando. Os governadores estão loucos. Eles estão doidos para ter os dois minutos de TV na eleição. O patinho feio virou cisne"
Um deputado federal que participa ativamente da formação do novo partido

Uma sangria no PDT
O Solidariedade vai ser a quinta bancada da Câmara. Paulinho vai carregar um terço da bancada do PDT: nove deputados. Estão indo um do PPS; dois do PP; dois do DEM; três do PSDB; três do PMDB; quatro do PSD; e seis de outros.

O "ponto futuro"
O Solidariedade está assediando o deputado Romário (RJ). Advogados do partido sustentam que o PSB vai pedir seu mandato caso ele não vá para uma legenda nova. O deputado Paulo Pereira da Silva quer desbancar o DEM. Ele está só a espera do "Sim" de

Romário, para oferecê-lo como vice na chapa à Presidência do senador tucano Aécio Neves.

Vai lá? Vai lá?
O Itamaraty suspendeu ontem a missão diplomática precursora que embarcaria para os Estados Unidos, na segunda-feira próxima. Sua tarefa era preparar a viagem da presidente Dilma a Washington no próximo 26 de setembro.

Reduzindo a marcha
Cobrado pela cúpula do PT, o deputado Henrique Fontana (RS) mantém a denúncia de pagamento coletivo da contribuição partidária para votar na eleição. O petisía não gosta do termo "compra de votos" e prefere denunciar o que chama de prática condenável". Os seus aliados na eleição petista ficaram tensos. Eles temem prejuízos ao candidato de oposição Paulo Teixeira.

Denúncia vazia
O ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira contesta as críticas de Henrique Fontana. Diz que não é atípico habilitar eleitores. E diz: "Nos diretórios dirigidos por aliados de Fontana, eleitores também foram habilitados de afogadilho"

Batendo cabeça
O presidente do PSDB, Aécio Neves, festejou: "O voto aberto é um avanço" Já o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), sentencia:
"A adoção do voto aberto, para a oposição, é mais que um tiro no pé: é um tiro no ouvido"


O medalhista olímpico do vôlei Giovane Gávio atendeu ao presidente do PSDB, Aécio Neves, e será candidato a deputado por Minas Gerais.

Pintou uma brecha - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 05/09

O advogado de José Dirceu, José Luis Oliveira Lima, convocou sua equipe ontem à noite, após o fim da sessão do STF, para redigir uma nova petição, que apresentará hoje. Ele pede que os ministros reconsiderem os embargos de declaração do petista, que foram rejeitados. A decisão foi tomada depois que Teori Zavascki mudou votos e acolheu recursos que antes negara. A defesa vai insistir que Dirceu teve a pena agravada duas vezes pelo mesmo crime, de formação de quadrilha.

Caixa... A mudança nos ventos na sessão de ontem também deve levar ministros a passarem um pente-fino nas decisões até aqui, o que pode atrasar a (longa) discussão sobre se serão aceitos ou não os embargos infringentes, que podem rever penas.

... de Pandora Um dos magistrados argumenta que a situação de Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL (hoje PR), também configura caso em que o subalterno teve a pena aplicada de forma mais dura que o superior, o deputado Valdemar Costa Neto (SP).

Guerra fria 1 Até ontem, Barack Obama não havia pedido oficialmente um encontro com Dilma Rousseff para discutir as denúncias de espionagem contra a presidente brasileira pela agência NSA. Dilma também não manifestava disposição em aceitar uma conversa informal com o norte-americano.

Guerra Fria 2 No governo brasileiro, há um consenso de que, se Obama não fizer um pedido formal de desculpas a Dilma, a consequência pode ser o envio ao Congresso de um projeto de lei que puna empresas que colaborem com espionagem, o que poderia atingir companhias como Google e Microsoft.

Dois pesos O presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), Nelson Calandra, questiona os critérios usados pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) ao proibir ex-ministros e os escritórios em que venham a atuar de advogar nos tribunais aos quais pertenceram.

Duas medidas "Os éticos da OAB se esqueceram de proibir, igualmente, a advocacia dos ex-sócios de ministros e desembargadores egressos da advocacia junto aos respectivos tribunais", fustiga o presidente da AMB.

Climatempo Emissários que estiveram com José Serra nos últimos dias sentiram que arrefeceu a disposição do ex-governador de deixar o PSDB rumo ao PPS.

Instinto No partido de Roberto Freire também cresceu o incômodo de deputados que se elegeram em alianças com o PSDB diante do risco que uma candidatura própria à Presidência traria a suas próprias reeleições.

Máquina Alexandre Padilha (Saúde) jantou com deputados da bancada paulista do PT na terça-feira, em Brasília. Os parlamentares vão ajudar a negociar alianças e a elaborar o programa da provável candidatura do ministro ao governo paulista.

À mesa Gilberto Kassab e dirigentes do PSD estiveram ontem com o senador Clésio Andrade (PMDB), que pretende disputar o governo de Minas em 2014. O PSD negocia com Fernando Pimentel (PT), mas resolveu abrir diálogo com outros postulantes.

PF O PSDB paulista cortou o caviar do cardápio do jantar que comemorou seus 25 anos, segunda-feira. "Deixa isso para o governo do Ceará", ironizou um dirigente.

Realpolitik Tucanos reclamaram com Geraldo Alckmin (PSDB) da substituição de assessores da Secretaria de Desenvolvimento Social, assumida pelo PRB em maio. O governador de SP rebateu que é preciso compreender a importância de alianças.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Para se exonerar, a Câmara adotou uma falsa solução para o voto secreto. Agora corre risco de inviabilizar o voto aberto para cassações."

DO SENADOR ALOYSIO NUNES FERREIRA (PSDB-SP), que critica o projeto aprovado pela Câmara que institui o voto aberto para todas as votações.

contraponto


Pronto-socorro
O governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) resolveu fazer uma brincadeira com os prefeitos de Santos e Guarujá ao anunciar detalhes das obras do túnel submerso que ligará os dois municípios, na terça-feira.

--Nós ainda precisamos contar para os prefeitos que os custos de desapropriação para a obra ficarão por conta deles -- afirmou Alckmin, sorrindo.

Ao continuar seu discurso, interrompeu uma frase para dizer a seus assessores:

--Melhor explicar que é só brincadeira e que nós vamos pagar, antes que eles infartem!

Jogo de empurra - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 05/09

A queda de braços entre os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), em torno da emenda constitucional que acaba com o voto secreto para cassação de mandatos virou um jogo de empurra entre as duas Casas. Desgastada por causa do caso Donadon, a Câmara aprovou a toque de caixa, na terça-feira. À noite, o fim de todas as votações secretas no Legislativo, em nível nacional, estadual e municipal. Com isso atropelou o Senado, que já havia votado o fim do voto secreto para cassações, mantendo-o para outras questões, como a apreciação de vetos presidenciais.

Ontem, Renan Calheiros disse que votará logo a proposta aprovada pelos deputados, mas apenas a parte que trata do fim do voto secreto em processo de cassação de deputados e senadores. Os senadores não concordam com outros pontos da proposta, como o que abre o voto sobre vetos presidenciais. “Do ponto de vista do Parlamento, da democracia, da oposição, e não apenas desta oposição, abrir o voto para apreciação de veto, por exemplo, é delicado, porque permitirá monitoramento político pelo governo – qualquer governo, esse ou outro”, justificou.

A PEC da Câmara elimina a votação secreta para indicações de autoridades, o que é uma prerrogativa dos senadores. Também acaba com o voto secreto para a eleição das mesas diretoras das duas Casas. Foi aprovada por causa da reação da opinião pública à decisão de manter o mandato do deputado Natan Donadon, condenado criminalmente pelo Supremo Tribunal Federal. Ele está preso desde junho e foi condenado a 13 anos de prisão por peculato e formação de quadrilha. Como ninguém é bobo no Congresso, muito menos Henrique Alves, sabia-se de antemão que a proposta não passaria pelo Senado.

Susto// O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), era um dos passageiros do avião da Gol que foi abalroado pela aeronave da Emirades ontem à tarde no Galeão. Saiu ileso, mas muito irritado com o acidente. Segundo ele, houve desrespeito às normas aéreas.

Pra tudo
O senador Walter Pinheiro (foto), do PT/BA, reiterou ontem que a bancada do PT no Senado defenderá a proposta de voto aberto para todas as decisões do Congresso no Senado. “Por que voto apenas para cassação? Por que não pode ser voto aberto para as questões de veto? Por que o parlamentar vai sofrer pressão? Parlamentar tem que sofrer pressão é da sua base, para a base saber como vota o parlamentar que ela colocou aqui”, questionou. Pinheiro criticou ainda a intenção de fatiar a PEC.

Rapidinho
A cúpula do PSol agiu rapidamente para defenestrar a deputada Janira Rocha do comando da legenda no Rio de Janeiro. Ela é acusada por ex-assessores, que tentaram chantageá-la, de desviar recursos do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social- Sindisprevi — para a própria campanha eleitoral, o que ela nega. Ontem, num encontro com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) teve que ouvir um comentário irônico do petista, que é seu amigo.

Malvinas
A publicação de um artigo sobre as Malvinas na Revista de História da Biblioteca Nacional de julho gerou reação do governo da Argentina. Segundo o texto, “a obsessão pelo arquipélago ainda é um obstáculo para a integração da Argentina no mundo”. A embaixada refutou as críticas, embora um dos autores do artigo seja o argentino Vicente Palermo, pesquisador do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas.

Veto
O Palácio do Planalto negocia com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (foto), do Rio de Janeiro, uma saída para o impasse em torno da votação do veto contra a extinção da multa de 10% do FGTS pago pelas empresas ao governo em caso de demissão sem justa causa.

No azul
Segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o lucro líquido da Petrobras este ano vai superar R$ 20 bilhões

Unanimidade
Referendada em primeiro turno em setembro de 2006, a proposta de emenda à Constituição dormiu na gaveta da Presidência da Câmara por sete anos, antes de ser votada em segundo turno e aprovada por 452 votos

Lançamento/ Representando o “Movimento PT”, a deputada federal Fátima Bezerra (PT-RN) participou na terça-feira, em Brasília, do lançamento da Chapa Nacional “Partido é para todos na Luta”, que disputará o Processo de Eleições Diretas do Partido dos Trabalhadores e apoiará a reeleição de Rui Falcão para presidente do PT. Os ministros Aloísio Mercadante (Educação) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) foram ao evento.

Portal/ o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), lançou ontem o Portal Social da legenda, com objetivo de formar uma rede de trabalhadores e gestores sociais. “O novo espaço interativo criado pelo partido disseminará programas e práticas sociais desenvolvidas pelo PSDB para o combate à pobreza e redução das severas desigualdades vividas pelos mais pobres”, explicou. O site foi desenvolvido em parceria com o Instituto Teotônio Vilela (ITV), núcleo de estudos e formação política do partido.

Transparência/ O Movimento Global pela Transparência Orçamentária, Responsabilidade e Participação (BTAP) se reúne hoje e amanhã durante a cúpula do G20 na Rússia para pedir as maiores economias do mundo que se comprometam com o avanço da transparência, responsabilidade e participação orçamentária em seus países. O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) participa do evento.

ÚLTIMO ATO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 05/Q09

José Dirceu convocará entrevista coletiva ainda hoje caso o STF (Supremo Tribunal Federal) chegue ao fim do julgamento do mensalão. Vai centrar energia no argumento de que não houve dinheiro público no escândalo.

O REALISTA
Embora nem mesmo ministros do STF arrisquem o placar da votação dos embargos infringentes, que, se aceitos, poderiam reabrir parte do julgamento, adiando o seu final, Dirceu trabalha com o pior cenário: 8 a 3 contra ele, ou até 9 a 2. O placar pode sair hoje ou na próxima quarta-feira.

O OTIMISTA
Já Lula tem manifestado a esperança de que os infringentes serão aceitos. "Ele não sofre de véspera", diz interlocutor do ex-presidente.

CONSELHO
Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação de Lula, teve longa conversa com Dirceu há alguns dias, na casa do petista, em SP.

PEPINO
Há alguns meses, Dirceu recebeu conselhos para que pedisse asilo a Cuba ou à Venezuela. Apresentou na época os argumentos contrários: a iniciativa criaria problema diplomático grave para esses países, que querem tudo menos se indispor com o Brasil. E também para Dilma Rousseff, a quem caberia dar o salvo-conduto para que ele saísse do país.

REVISÃO
Dirceu tem dito que, mesmo com a prisão decretada, escreverá um "livro branco" sobre o julgamento, apontando incongruências do STF. Há a ideia também de, daqui a alguns anos, fazer um júri simulado.

PRESSÃO MÁXIMA
O deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) chorou ao conversar com um amigo sobre a hipótese de ser preso em breve.

EM CASA
José Genoino pedirá prisão domiciliar caso sua detenção seja determinada nos próximos dias. Alegará problemas de saúde. Foi aconselhado ainda a pedir aposentadoria por invalidez, ideia até agora descartada.

ETAPAS
Apesar da tensão máxima entre os réus, o ministro Joaquim Barbosa não pretendia, pelo menos até ontem, pedir a prisão imediata deles caso os infringentes sejam descartados e o julgamento chegue ao fim. Prefere aguardar a publicação das decisões.

NOVOS VERBETES
Sandra Werneck vai fazer a continuação de "Pequeno Dicionário Amoroso", 15 anos depois. Já confirmou a participação dos protagonistas originais: Andrea Beltrão, Daniel Dantas, Tony Ramos e Glória Pires. "Vou abordar as relações amorosas das novas gerações, a descoberta da sexualidade, a opção sexual dos filhos e o amor no mundo virtual", conta a cineasta, que captou R$ 3,5 milhões e começa a rodar em junho de 2014.

ARRANHA-CÉU
Mais um prédio tomará o lugar de uma construção antiga na Vila Madalena. A igreja japonesa Tenrikyo, que fica na rua Jericó, ao lado do Fórum Regional de Pinheiros, será substituída por um edifício comercial de sete andares. Erguido há 47 anos, o templo recebe cerca de cem pessoas por celebração. Elas vão transferir os encontros para uma nova sede, no bairro do Sacomã, a partir do ano que vem.

BARRADO
O escritor Pedro Bandeira, 71, foi barrado na entrada da Bienal do Livro do Rio, na semana passada. O autor, que participou de uma sessão de autógrafos, esclarece: estava sem credencial. Acabou comprando o ingresso de um cambista. "Fiquei nervoso, foi uma loucura." Para ele, o sucesso do evento virou um problema, já que o espaço não é suficiente para o aumento de público, que chegou a 80 mil pessoas.

QUAL É A MÚSICA
Luan Santana e Ivete Sangalo venceram as categorias de melhor cantor e melhor cantora, respectivamente, na 20ª edição do Prêmio Multishow, na noite de anteontem, no Rio. O clipe "Show das Poderosas", da funkeira Anitta, também foi premiado. O cantor Caetano Veloso, também premiado, a empresária Paula Lavigne e o rapper Emicida se encontraram nos bastidores. A atriz Mariana Rios foi ao evento, que teve o humorista Paulo Gustavo como um dos apresentadores.

PRIMEIRA MÃO
O lançamento da revista "Trailer Brasil" reuniu anteontem o publicitário Victor Collor de Melo, a atriz Laryssa Dias, a consultora Costanza Pascolato e a jornalista de moda Regina Guerreiro, na Casa Fasano, no Itaim Bibi. A modelo Thairine Garcia, capa da primeira edição, também foi à festa.


CURTO-CIRCUITO
A apresentadora Fernanda Tavares desfila hoje para Lethicia Bronstein, no hotel Unique, às 11h.

A arquiteta Maria Elisa Costa participa de debate sobre Brasília, hoje, às 19h, no estemp, em Pinheiros.

O psiquiatra Jairo Bouer fala sobre sexualidade na adolescência, hoje, às 19h30, na Chapel School, na Chácara Flora. Grátis.

A primeira edição do Encontros de Cinema reúne diretores, hoje e amanhã, para debates sobre o tema. No Itaú Cultural, na avenida Paulista, às 16h.

A artista plástica Bethan Laura Wood é tema de reportagem na revista "Casa Vogue" deste mês.

A peça "Coriolano" estreia amanhã, no Sesc Bom Retiro, às 20h. 14 anos.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 05/09

RIO VAI INICIAR PLANTIO FLORESTAS DE SERINGUEIRAS

Pesagro elaborou projeto de R$100 milhões para recuperar cinco mil hectares de áreas degradadas no estado


A Pesagro, ligada à Secretaria estadual de Agricultura, apresentou ao Inea projeto para fazer o plantio misto de seringueiras e árvores nativas da flora local em cinco mil hectares de áreas degradadas do interior fluminense. A iniciativa integra o Rio Látex, programa que prevê a criação de agroflorestas para produzir matéria-prima industrial, gerar renda a pequenos produtores rurais e contribuir nas metas de sequestro de carbono acordadas para os Jogos 2016, enumera Denise Rambaldi, vice-presidente do Inea. O novo projeto da Pesagro está orçado em R$ 100 milhões. “Será apresentado ao Fecam, mas a ideia é contar também com a participação da iniciativa privada”, diz. Até aqui, o Rio Látex tem 60 mil clones de seringueira, que são matrizes para a produção de mudas. Num parde meses, haverá 30 mil mudas prontas para o plantio. O objetivo é chegar a dois milhões. O Inea está elaborando um banco de áreas degradadas para recuperação no estado. O Noroeste Fluminense é a principal região para o projeto. “Já cadastramos 70 hectares em Natividade e 65 em Itaperuna, de áreas degradadas e oferecidas pelos proprietários para a restauração florestal”, conta Denise.

50% DA META PARA 2016
É quanto o Rio Látex deve ajudar na compensação de carbono prevista para os Jogos 2016. É que a seringueira tem uma capacidade maior de sequestro de CO2, diz Denise Rambaldi, do Inea.

SEM FIM
A Toulon, de moda masculina, estreia hoje campanha e coleção de verão. O tema é “Mar sem fim”. O modelo Arnaud
Cournevin está nas fotos, de Pedro Loreto. As imagens vão circularem internet, impressos e nas lojas. Dona de 16 unidades no Rio, a marca prevê crescimento de 20% nas vendas.

LINGERIE
ATulli, loja virtual de lingeries, apresenta hoje catálogo da coleção de verão. Foi produzido em parceria com o site Girls with Style (GWS).

A inspiração é a cantora americana Lana Del Rey. A modelo Raissa Abdelnur posou para a fotógrafa Carolina Vianna.
A marca prevê crescimento de 20% no faturamento mensal.

‘STREET STYLE’
A Nica Kessler lança a coleção deverão “Mares Tropicais” hoje. A campanha segue conceito de moda de rua disseminado por blogs. A marca quer vender 20% mais.

Economia
A ordem na Empresa Olímpica Municipal (EOM) é reduzir o orçamento das instalações para os Jogos 2016. O centro de tênis, 1º em licitação, custará R$ 10 milhões abaixo do previsto. Pelo edital, vai ficar em R$ 170 milhões, contra R$ 180 milhões do valor do Dossiê de Candidatura, acrescido do INCC e dos itens legais incluídos desde 2009.

Em tempo
As equipes da prefeitura e do Ministério do Esporte, agora, trabalham para cortar custos do velódromo, do parque
aquático e das instalações do handebol. Os três serão licitados ainda este ano.

Aço
A Usiminas alcançou a marca de cem mil toneladas de aço CLC vendidas. A tecnologia melhora a resistência à corrosão. É indicada para as indústrias naval e de energia. A siderúrgica investiu R$ 539 milhões no projeto.

Petroquímica
A Braskem Idesa já emprega dez mil na construção de complexo petroquímico no México. A previsão era bater a marca em dezembro.

O projeto de US$ 3,2 bilhões começa a operar em 2015.

Celular
A SICF do Brasil assinou com a Suzano. Até 2018, vai monitorar e lubrificar máquinas na fábrica de Imperatriz (MA). Começa a operar até o fim do ano.

Harvard
A Estácio fez parceria com a Harvard Business Publishing. Os estudos de casos da universidade americana farão parte da pós-graduação da brasileira. O projeto começa mês que vem, nos cursos de MBA em marketing e gestão.

Em tempo
Os alunos da Estácio vão receber o material de Harvard para o português. Mais de 200 papers já foram traduzidos. Em 18 meses, os estudantes terão contato com 72 casos.

Cambridge
A Universidade de Cambridge fará edição em São Paulo, este mês, do curso “Business and Sustainability Programme”. É a 1ª edição na América Latina

ROBÔ
O Bradesco Seguros pôs um robô inteligente no saguão do Santos Dumont. A máquina interagecom quem se aproxima. Tem tela sensível ao toque e dá informações sobre o aeroporto, hotéis e outros serviços na cidade. Em 15 dias, fez três mil atendimentos.

POR CELULAR
O Santander lançou, na semana passada, em parceria com a sueca iZettle, um aparelho que, acoplado ao smartphone, processa vendas com cartões de crédito. Em três dias, 12 mil empresários e profissionais liberais encomendaram a maquininha.

e-Banco
O Itaú Unibanco consultou quatro mil empresas e levou dois anos, para formatar o Conta Certa. O serviço
monta pacotes bancários via internet. A meta é ter 20% de adesão até o fim de 2013.

Via ‘web’ 1
Foi por e-mail e Skype que o arquiteto Guilherme Torres negociou o projeto de uma casa em São Paulo, com um casal de clientes, que vive em Londres. Foram seis meses de papo virtual e uma ida à Inglaterra, para compra dos móveis. O case é capa da “Casa Vogue” deste mês.

Via ‘web’ 2
Entrou no ar a E-interiores, loja virtual de projetos de design e arquitetura. Teve aporte de R$ 100 mil.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 05/09

Receita de resorts cresce 15% no 1º semestre
O setor de resorts cresceu 15,1% no primeiro semestre deste ano ante o mesmo período de 2012, segundo pesquisa feita pelo Senac a pedido da Resorts Brasil (associação nacional do segmento).

Considerada a inflação, a alta é de 7,8%. O crescimento é referente à variação da receita por quarto disponível.

A elevação foi puxada pelo resultado de maio --considerado historicamente o pior mês do segmento--, que registrou aumento de 54,4% na receita.

A ocupação no mês atingiu 48,6% --maior que a média anual de 2009, que foi de 47%. Em maio do ano passado, a taxa ficou em 36,6%.

O feriado de Corpus Christi, ocorrido no final do mês, e a Copa das Confederações favoreceram o turismo de resorts, segundo o presidente da entidade, Dilson Jatahy.

"O mundo corporativo antecipou seus eventos para que eles não coincidissem com os jogos, em junho", diz.

Os encontros empresariais são hoje uma das principais alavancas do setor.

A desoneração da folha de pagamento da hotelaria também contribuiu para o resultado positivo.

"Houve uma queda de custos e os empresários puderam fazer mais promoções."

A expectativa da entidade é que a taxa de expansão seja mantida até o final deste ano. O dólar em patamar mais elevado deve colaborar para isso.

"Esperamos recuperar a perda internacional dos últimos anos", diz Jatahy.

Antes da crise na Europa, cerca de 40% dos hóspedes dos resorts eram estrangeiros. No ano passado, eles não passaram de 10%.

"O real desvalorizado também deve fazer com que brasileiros desistam de suas férias no exterior."

TOUR NO PORTO DO EIKE
O presidente global do grupo EIG, Blair Thomas, está no Brasil e visitou pela primeira vez o Superporto do Açu, da LLX, empresa de logística do grupo EBX, de Eike Batista.

A estimativa da LLX é que o EIG assine o contrato de compra da companhia antes do fim deste mês.

O grupo EIG assinou um termo de compromisso com a LLX em 14 de agosto passado para investir R$ 1,3 bilhão, por meio de uma operação privada de aumento de capital.

Thomas foi ao Superporto do Açu acompanhado de Marcus Berto, presidente da LLX, e por Roberto Senna, presidente do conselho de administração da companhia do EBX.

O EIG atua no setor de energia e infraestrutura --tinha US$ 10,3 bilhões sob gestão em 30 de setembro de 2012.

Companhia vai construir gasoduto no sul da Bahia
A Companhia de Gás da Bahia inicia neste mês as obras de um novo gasoduto no sul do Estado, com aporte estimado em R$ 45 milhões.

Com 36 quilômetros, o sistema vai ligar os municípios de Itabuna e Ilhéus. A conclusão está prevista para 2015.

"O projeto faz parte de um plano de interiorização para ampliar o número de cidades atendidas, das atuais 23 para 50 até 2018", diz o diretor-presidente, Davidson Magalhães.

O duto vai levar o combustível ao centro industrial de Ilhéus e também para o complexo do Porto Sul e a ZPE (Zona de Processamento de Exportações), ambos planejados para o município.

Outra expansão da rede, ainda sem valores estimados, deve começar em 2015 com foco no sudoeste da Bahia.

A companhia é uma empresa de capital misto que tem como acionistas o governo estadual, a Mitsui e a Gaspetro, da Petrobras.

NÚMEROS DA EMPRESA
R$ 2 BILHÕES
é a receita bruta estimada pela companhia para 2013

R$ 1,4 BILHÃO
foi a receita bruta obtida pelo grupo no ano passado

DO BLOG PARA O IMPRESSO
Há seis anos com um site sobre casamentos e ideias para noivas, Constance Zahn resolveu criar uma revista com o mesmo tema e que vai levar o seu nome.

"Foi um grande passo. Além de adorar papel e revista, queremos nos diferenciar dos muitos sites que vieram depois de nós, mostrar que viramos gente grande", diz Constance Zahn.

"Teremos mais anúncios [com o impresso] e faremos mais eventos" --ela faz palestras pelo país, contratada por lojas. "A revista será toda pensada por mim, diferente da internet que usa fotos e referências da rede."

Formada em administração pela FGV (SP), Constance não abre números de faturamento e crescimento.

"Comecei no meu quarto e com só uma amiga no Messenger'. Hoje temos 2,2 milhões de page views ao mês, em 4.034 cidades."

A "ConstanceZahn Casamentos" será lançada amanhã, com 147 páginas, circulação anual de 10 mil exemplares e investimento de R$ 150 mil.

Brasileiro é o que pior avalia plano de carreira
Executivos brasileiros foram os que fizeram a pior avaliação dos planos de carreira oferecidos pelas suas empresas, de acordo com pesquisa da Michael Page, que também ouviu profissionais da Argentina, do Chile, do México e da Colômbia.

Enquanto no Brasil apenas 4% consideraram o plano excelente, na Colômbia, essa parcela chegou a 46%. Na Argentina, a 35%.

"Muitas empresas nacionais cresceram rápido demais nos últimos anos. Nelas, a expansão foi priorizada, em detrimento do planejamento pessoal", afirma Sérgio Sabino, diretor da empresa.

"Mas grande parte das companhias tem, sim, um plano de carreira. O que não há é uma boa comunicação com os funcionários, que nem ficam sabendo dele."

Um plano transparente, com especificações sobre os critérios necessários para mudar de cargo e conseguir um aumento salarial, pode ser uma ferramenta para atrair e reter funcionários.

"Ainda mais agora, quando a perspectiva do mercado é de um ritmo modesto de alta da remuneração."

Dívidas... O volume de títulos protestados de janeiro a agosto deste ano recuou 1,7% ante o mesmo período de 2012, segundo o indicador que a Boa Vista Serviços divulga hoje.

...em cartório Apesar da retração, houve aumento de 3,1% no total de protestos envolvendo documentos não quitados por pessoas físicas, de acordo com a entidade.

DESLOCAMENTO AÉREO
A Prefeitura de Santos (SP) vai assinar em outubro um financiamento de R$ 50 milhões com a Caixa Econômica Federal para a construção de um teleférico na cidade.

A licitação para o projeto deve ser aberta em seguida, de acordo com o prefeito, Paulo Alexandre Barbosa.

O meio de transporte será interligado ao atual sistema de ônibus e ao futuro VLT (veículo leve sobre trilhos), que está em obras.

O teleférico percorrerá um trajeto de três quilômetros e quatro estações, ligando o bairro do Valongo a morros nas regiões de São Bento, Vila Progresso e Nova Cintra.

"Alguns morros de Santos não têm acesso para veículos, apenas por meio de escadarias. Por isso, a opção pelo teleférico", diz Barbosa.

A estimativa é que o sistema deva transportar, no início, aproximadamente 15 mil pessoas por dia.

A prefeitura terá 20 anos para pagar o empréstimo.

Desvios éticos do Estado brasileiro - EVERARDO MACIEL

O ESTADO DE S. PAULO - 05/09

Os desvios éticos do Estado têm gravidade análoga à corrupção dos agentes públicos. Mas são menos perceptíveis, porque, usualmente, se fundamentam em lei, o que lhes confere falso brilho. O legislador romano já alertara que a legalidade não presume a moralidade. Esses desvios, ofensivos ao princípio constitucional da moralidade, se revelam por meio da assimetria de tratamento nas relações do Estado com o cidadão, na falta de clareza da lei e de transparência na gestão governamental, na desídia institucional no serviço público, etc. Revisito o tema para apontar mais desvios éticos do Estado brasileiro, mesmo sabendo ser matéria pouco prestigiada, à vista do seu respaldo legal.

Decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) obrigou a União a recompor perdas dos beneficiários do FGTS, onerados por expurgos inflacionários dos denominados Planos Verão e Collor.

O montante exigido, à época, para recomposição era estimado em R$ 42 bilhões. Para esse efeito se construiu uma bem articulada combinação de fontes de financiamento, entre elas, nos termos da Lei Complementar n.° 110/2001, uma contribuição social específica a ser paga pelos empregadores nos casos de demissão sem justa causa dos empregados, consistindo numa alíquota de 10% aplicável sobre os correspondentes depósitos do FGTS.

A contribuição foi vinculada àquela finalidade, ainda que a legislação não tenha fixado termo final de vigência. Em fevereiro de 2012, a Caixa Econômica Federal, gestora do FGTS, anunciou que a recomposição se encerrara.

O Congresso Nacional, acertadamente, aprovou Projeto de Lei complementar extinguindo, a partir de 1/6/2013,a contribuição, por perda de objeto. Mas o Poder Executivo decidiu vetar a norma aprovada, alegando que haveria perda de R$ 3 bilhões anuais nos programas sociais e de infraestrutura financiados pelo FGTS e, por conseguinte, ofenderia a Lei de Responsabilidade Fiscal, que demanda compensações para renúncias fiscais.

Trata-se rigorosamente de uma falácia. A aplicação dos recursos oriundos daquela contribuição em programas governamentais, independentemente do seu mérito, representa um flagrante desvio de finalidade.

Matérias veiculadas pela imprensa demonstram que prossegue a lavratura de autos de infração astronômicos contra contribuintes com boa reputação, auditados regularmente, sujeitos a controle de agências governamentais e com ações em bolsa. Ainda que a condição desses contribuintes não possa resultar em privilégios, o fato é intrigante. Não se trata, seguramente, de evasão fiscal. O fundamento dos auto s estaria associado ao nebuloso campo do planejamento tributário.

Em 2002,0 Congresso rejeitou proposta de disciplinamento da matéria. Desde então, perdura uma lacuna legislativa que abriu espaço para arbitrariedades contra contribuintes, com danos à sua imagem e patrimônio. Enquanto inexistir sucumbência nos processos administrativos, em caso de dúvida subsistirá uma esdrúxula presunção de culpa do contribuinte.

De igual forma, como no pagamento de precatórios, consolidou-se a indisposição das administrações fiscais para devolver créditos acumulados dos contribuintes, constituídos por força, sobretudo, de desoneração nas exportações. O Reintegra, regime tributário instituído em 2011, com vigência até 2013, pretendeu devolver às empresas exportadoras os resíduos de cumulatividade gerados na cadeia produtiva. Mas proposta do Congresso prorrogando sua vigência foi vetada pelo Executivo, Sendo razoável admitir que não se tratava de subsídio ilícito às exportações, essa extinção configura confisco.

Contrasta com esses fatos a voracidade na execução fiscal, às vezes cobrada de forma vexatória, o que evidencia excesso de exação, ou com desprezo ao devido processo legal.

A imoralidade do Estado retira sua legitimidade ao exigir do cidadão o cumprimento de obrigações. O Congresso tem uma rara oportunidade de melhorar sua imagem, derrubando os vetos e eliminando os vazios legais.

Por encanto - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 05/09

O governo espera que a Petrobras se vire — e invista no pré-sal e nas refinarias — sem o reajuste dos combustíveis e sem a derrubada do dólar



Há problemas que se resolvem sozinhos, como por encanto. Essa expectativa, certamente otimista, justifica a atitude de esperar um pouco diante de uma dificuldade. Quem sabe?

O risco é deixar muitos problemas no modo de espera, ao mesmo tempo. Em política econômica, então, é um perigo, especialmente porque as coisas aqui sempre têm verso e reverso.

O governo Dilma teve uma boa experiência recente de um problema que está se resolvendo por encanto — o real valorizado, apontado pela equipe econômica como principal culpado da baixa competitividade da indústria nacional. A recuperação dos Estados Unidos e a mudança da política monetária deles, com a alta dos juros, fortalecem o dólar e, pois, desvalorizam as demais moedas, especialmente dos países emergentes. E, com isso, o real, acima de R$ 2,30 por dólar, chega a um nível de conforto, na definição de autoridades econômicas.

Isso aconteceu de maio para cá e foi uma surpresa. A Petrobras, por exemplo, quando fez seu plano de negócios, em janeiro deste ano, cravou um dólar a R$ 2,00, constante, e de R$ 1,85 no médio prazo. É isso mesmo, R$ 1,85, valor hoje sem o menor sentido.

Ainda em abril deste ano, o chamado consenso de mercado, opinião dominante entre analistas fora do governo, previa um dólar a R$ 2,00 em dezembro/13 e de apenas R$ 2,05 em dezembro do próximo ano.

Hoje, ainda há setores da indústria dizendo que, para exportar, precisam de um dólar acima de R$ 2,40, mas que os 2 e 30 já quebram um bom galho. E o governo não fez nada por isso, tudo presente dos EUA.

Vai daí, parece que o governo espera outras soluções do mesmo jeito. Ainda a Petrobras. Se o dólar mais caro favorece as exportações, também encarece as importações e a dívida de quem tomou empréstimos externos. É justamente o caso da Petrobras, importadora líquida de gasolina e diesel — que vende por preço menor ao que paga lá fora. Duplo prejuízo.

A solução trabalhada, não por encanto, seria permitir que a Petrobras aumentasse o seu preço de venda, mas isso dá mais inflação, outro problema que permanece no horizonte. Aliás, o dólar caro espalha inflação por toda a economia, e não apenas nos combustíveis.

Muita gente no governo acredita que a inflação também se irá sozinha, mas não o Banco Central, que está aumentando os juros para combatê-la. A questão é: até onde os juros precisam e podem subir?

Sim, porque o outro problemaço é o baixo crescimento da economia — que continua no cenário mesmo depois do bom resultado do segundo trimestre. Os dados do terceiro já mostram forte desaceleração — e juros altos, ou seja, crédito mais caro para empresas e consumidores, certamente não ajudam qualquer recuperação.

É verdade que, para esta recuperação, o governo conta com os leilões de privatização de rodovias, portos, aeroportos e ferrovias, ou concessões, na língua oficial, que provocariam uma onda de investimentos. Também é verdade que, aqui, o governo não está esperando que a solução caia do céu. Está empenhado em realizá-los.

Mas parece que espera uma solução por encanto do maior problema que cerca esses leilões: o marco regulatório (ou a confusão regulatória) e a falta de confiança dos investidores no governo.

O governo quer aqui uma combinação impossível: muitos investimentos privados, lucros limitados e tarifas baixas. Quando o pessoal reclama, o governo responde: confiem em nós que vai dar certo. Em termos mais práticos, o governo diz aos investidores: quem ganhar a concessão terá direito a ter o governo como sócio, via BNDES, outros bancos públicos e fundos de pensão de estatais. Mas reparem: essas associações terão que ser negociadas e fechadas depois do leilão. Ou seja, o investidor precisa acreditar que o embrulho regulatório e as confusões feitas pelo governo nas áreas de energia elétrica e combustíveis, por exemplo, serão sanados rapidamente por esse mesmo governo. E este, de sua parte, acha que os leilões vão resolver tudo.

Tudo somado e subtraído, o governo espera que a Petrobras se vire — e invista no pré-sal e nas refinarias — sem o reajuste dos combustíveis e sem a derrubada do dólar. Também espera que os juros altos, dos quais não gosta, contenham a inflação, sem segurar o crédito e o crescimento. Acredita ainda que o real desvalorizado ajuda a indústria e as exportações em geral, mas não gosta nem de pensar que derruba o poder aquisitivo dos salários pela alta da inflação. Acha que pode estimular e bancar investimentos em infraestrutura, sem prejudicar o consumo e os gastos públicos.

E assim vamos, quer dizer, esperamos.