terça-feira, agosto 23, 2011

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Negócio da China
SONIA RACY
O ESTADÃO - 23/08/11

De passagem pelo Brasil, onde permanecerá por três semanas, Yue-Sai Kan - dona dos direitos do Miss Universo na China - impressiona. A empresária da indústria de cosméticos, apresentadora de televisão, proprietária de sua própria produtora e autora de 7 best-sellers, além de embaixadora da Unicef, conseguiu o que muitos chineses homens jamais sonhariam. Muito menos uma mulher.

Saiu da China com a família, por causa da revolução, e cresceu, estudando, nos EUA. Ante o imenso sucesso nas televisões americanas a cabo, o governo chinês pediu a ela que montasse um programa seu para a TV do país. "Quando comecei, em 1986, a China tinha uma televisão normal, um canal de Pequim e uma TV por satélite. Hoje são 33 televisões por satélite e 3 mil canais", contabilizou Yue-Sai durante jantar reservado na casa de Beatriz Pimenta Camargo, no domingo.

Ontem, a sino-americana almoçou com Mario Garnero, na Brasilinvest, e depois foi homenageada com outro jantar, na casa de João Pedro Flecha de Lima, da Huawei.
Qual a audiência da apresentadora na China? Mais de 300 milhões de espectadores, o que lhe valeu, da revista People, o título de mulher mais famosa do país. E observações como a do The New York Times: "Poucas pessoas conseguem uma ponte entre Oriente e Ocidente com tanta beleza e inteligência".

Não bastasse a notoriedade, ela teve autorização do governo chinês, em 1990, para montar a primeira fábrica de cosméticos do país, batizada com seu nome. Sem participação do estado ou obrigação de exportar.

Foi difícil? "Você não é nada lá sem relacionamentos", explica. Na China, as pessoas são medidas pelo "guanxi". Isto é, seu network de forma abrangente, incluindo trabalho, família e amigos. Não pelo cargo ou pelo dinheiro. E o da menina nascida em Guilin parece ser grande.

A empresária reage com certo desprezo diante de termos como "Tibete" ou "direitos humanos". "Você não vai me perguntar sobre essas mesmas coisas que todo mundo pergunta", avisa. Afirma não ter nada a dizer, mas lembra: "Quando saí da China, o Tibete fazia parte dela. Porque querem ir embora agora?".

Dizendo-se ateia, acredita também estar em uma das últimas encarnações. E classifica o sistema político da China como "ditadura benevolente". "Não há outra maneira de comandar 1,3 bilhão de pessoas".

Yue-Sai Kan veio a São Paulo monitorar a Miss China, preparando-a para a disputa do Miss Universo, que acontece em 12 de setembro. "Tenho certeza de que vai ganhar", atira a autoconfiante empreendedora. Se ela vencer, se tornará o rosto de sua marca pelo mundo? "Claro que sim". Hoje, a empresa de cosméticos de Yue-Sai Kan, fundada em 1992 e vendida pela Coty à L"Oréal em 2004, só produz para o mercado interno. Mas, pelo visto, o país não é limite para esta chinesa de olhos abertos.

Quanto recebeu para vender sua companhia e continuar à frente dos negócios? Ela não revela. Mas o mercado aposta em algo como... US$ 1 bilhão.

Classes do Fasano

Jacqueline Mikhail, da Be Happy Viagens, tirou o sábado para trabalhar. Levou seus cartões de visita para a inauguração do novo hotel Fasano, na Fazenda Boa Vista, a 100 km de São Paulo. E circulou à vontade entre os cerca de 500 convidados que desfilavam no lobby de pé direito alto projetado por Isay Weinfeld.

Enquanto explicava quem era seu público alvo, Jacqueline teorizou sobre a evolução das classes sociais. "A classe D quer ser C; a C, B; a B, A, e a A, AA." A classse AA, resumiu Jackie, "é o que a gente chama de milionários".

Antes da constatação, a reportagem resolve desbravar o salão atrás de diferenças dos A, B, C. Algo além das existentes entre uma bolsa Chanel e uma Hermès. Parou de contar o número de "chanéis" quando chegou em 50. As outras eram, na maioria, Hermès.

O hotel tem 13 suítes e 26 quartos. A diária é igual à dos outros da grife: entre R$ 1.300 e R$ 2.000. A diferença é que o hóspede tem de ficar no mínimo duas noites no fim de semana. "É para fazê-lo permanecer pelo menos dois dias", diz o assessor, Dudi Machado.

De fato, em menos de 48 horas fica difícil aproveitar as 213 cachoeiras, duas mesas de sinuca vintage ("perfeitas para acompanhar um coquetel no final da tarde"), o campo de golfe projetado por Randell Thompson e o vagão dos anos 30 "nostalgicamente decorado".

Como se trata de um hotel de campo, o bufê de comida típica de fazenda AA oferece uma inversão de classes. Os pratos seriam supostamente C: feijãozinho preto, frango com quiabo, ensopadinho de carne e folhas da horta. No corredor entre o lobby e as suítes, onde o trânsito para visitar o hotel é grande, os AA cumprimentam os AB, enquanto várias C e D correm uniformizadas atrás de crianças AA, impecavelmente vestidas.

Helena Mottin conta que, desde que comprou o Mercedes blindado de Hebe Camargo, nunca mais foi assaltada. Acredita que os assaltantes já sabem se o carro é blindado só de tocar a arma no vidro. "Tem um que fica sempre num sinal da Tabapuã. Toda vez ele faz toc-toc no meu vidro..."

À saída da festa, os convidados ganharam uma lembrancinha na linha "campo & mato AA". Rosquinhas amanteigadas recheadas com goiabada. Tipo clássico quatrocentão ABCD. /PAULO SAMPAIO

Na frente

Fabio Barbosa, do Santander, anuncia novos desafios. Vai surpreender.

Dr. Hélio cassado, Alckmin escolheu Jurandir Fernandes, seu secretário, para disputar Campinas em 2012.

A Filarmônica de Câmara de Bremen toca na Sala São Paulo. Hoje a amanhã.

José Resende abre individual na Raquel Arnaud. E Fernando Morais lança livro na Saraiva do
Shopping Higienópolis. Ambos hoje.

Kaká e Ganso tiveram os rostos esculpidos na areia de Copacabana no fim de semana. Ação da Gillette.

ANCELMO GÓIS - 55 disputado


55 disputado 
ANCELMO GÓIS 
O Globo - 23/08/2011

Esse PSD de Kassab, partido que não é contra nem a favor, muito pelo contrário, tenta reservar o número 55.

Só que o número é disputado também pelo PPL (Partido Pátria Livre), criado pelo antigo grupo de esquerda MR-8, cuja ideologia hoje é... não sei.

No mais

Dilma se livrou de mais uma herança maldita de Lula.

A nova diretoria de Furnas, anunciada ontem, não tem, pelo que se diz no setor, ladrão.

Aliás...

Pensava-se que José Serra fosse o único político que reclamava até de notícia a favor. Mas, como diria Millôr Fernandes, Dilma, não obstante, superou-o.

Sua nota atacando os elogios que recebeu da "The Economist" vai entrar para os anais da centenária revista.

"Bye, bye, Brazil"

Thomas Shannon, o embaixador de Obama em Brasília, viajou domingo para Washington, onde acerta com Hillary Clinton o novo posto que ocupará na Casa Branca.

Só deve voltar para se despedir. Para seu lugar, por enquanto, será designado um encarregado de negócios.

ILIMAR FRANCO - Guerra do cabide


Guerra do cabide
ILIMAR FRANCO  
O Globo - 23/08/2011

O novo líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), atendendo aos apelos da nova maioria, vai exorcizar os fantasmas de sua bancada. A liderança do PP tem direito a cerca de 75 cargos de livre nomeação. Os novos querem nomear os seus para esses espaços, que estão ocupados por afilhados de ex-deputados, como Pedro Corrêa, ou de parlamentares que estão no Executivo, como é o caso do ministro Mário Negromonte (Cidades).

Mensalão do PP: Planalto acha grave

O governo Dilma não recebeu bem a tentativa do ministro Mário Negromonte (Cidades) de tentar retomar o controle da bancada do partido na Câmara. A denúncia de mensalão é considerada "grave", de acordo com um integrante da coordenação, e pode comprometer sua permanência no governo, "se for comprovada". Por isso, o que se diz é que "Negromonte vai ficando, por enquanto". A tentativa do ministro de derrubar o líder Aguinaldo Ribeiro (PB) foi comunicada à ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) na quarta-feira (17), quando o deputado Esperidião Amin (PP-SC) lhe relatou o que estava acontecendo.

"CPI tem momento. Qual esse momento? Ele virá se a presidenta (Dilma) não levar adiante o que ela própria chamou de faxina. Se ela titubear lá, eu não titubearei" - Cristovam Buarque, senador (PDT-DF)

A HISTÓRIA SE REPETE. Os rebeldes do PP derrubaram com um abaixo-assinado o líder Nelson Meurer (PR). Colocaram em seu lugar Aguinaldo Ribeiro (PB). O ministro Mário Negromonte (Cidades), na foto, tentou mudar o líder, articulando uma lista de apoios a José Otávio Germano (RS). O PP faz agora o que o PMDB fez no primeiro mandato do ex-presidente Lula, quando travou uma guerra de assinaturas nas listas do ex-deputado José Borba (PR) e do atual senador Wilson Santiago (PB).

Fronteira segura

Primeiro foi a Colômbia. Agora o Brasil negocia um acordo militar com o Peru. As negociações integram o Plano de Ocupação da Fronteira. A meta é povoar os 150km, no território brasileiro, a partir do marco fronteiriço.

Verniz no macacão

Os tucanos mineiros criaram, no sábado, o PSDB sindical. Filiaram ao partido 150 sindicalistas. O presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), explica: "O nosso objetivo é que trabalhadores participem das decisões do PSDB".

Nas mãos da União

Os estados não produtores acham boa a nova proposta apresentada pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ) para a distribuição dos royalties do petróleo. A bola agora está com a União. "O mais importante é que o Rio está se abrindo para um entendimento", disse o senador Wellington Dias (PT-PI). Pela proposta, cerca de R$5,8 bi que a União arrecadaria a mais com o sistema de partilha seriam distribuídos para os não produtores.

Atalho

Os TREs estão demorando para homologar os pedidos de registros estaduais do PSD. Essa etapa consta de resolução da Justiça Eleitoral. Por isso, o partido vai entrar com as assinaturas pedindo seu registro no TSE, como prevê a lei.

Bombeiro

O vice Michel Temer voltou a se reunir com os rebeldes do PMDB, ontem à noite. Mas dessa vez chamou também o líder da bancada, Henrique Alves (RN). Temer quer que os dois grupos façam um acordo e parem de brigar entre si.

ADESÃO. O PV espera ser chamado pela presidente Dilma Rousseff nesta semana para conversar. Com a saída de Marina Silva, o partido resolveu voltar para a base do governo.

A PRESIDENTE Dilma foi convidada pelo presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), para abrir o fórum nacional "O PMDB e os municípios", dia 15 de setembro. Ela gostou da ideia.

UM GRUPO de deputados está estimulando a vice-presidente da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES), a se lançar candidata à presidência da Casa.

MURILLO ARAGÃO - Lavagem das escadarias do poder


 Lavagem das escadarias do poder
MURILLO ARAGÃO
BRASIL ECONÔMICO - 23/08/11

Certa vez, em entrevista à revista da PwC, eu disse que a política brasileira era uma turbina em reverso impactando a potência da turbina econômica.
Os primeiros oito meses de governo da presidente Dilma Rousseff são um retrato perfeito dessa situação, com a política atrasando o bom ritmo que a economia poderia ter.
Um debate político mais qualificado colocaria em pauta, desde já, questões fundamentais, como reforma tributária, reforma política, reforma previdenciária, desoneração do custo de contratação de mão de obra, desburocratização, entre outros temas.
As agendas políticas são essenciais para a construção de um país melhor. No entanto, essa não é a prioridade do Congresso, que, no silêncio do Executivo sobre alguns desses temas, deveria adiantá-los.
A economia, em que pesem as incertezas do exterior e os desafios do câmbio e da inflação no âmbito interno, vai bem e com boas perspectivas. Vamos continuar a crescer.
Na cena política, o governo decolou com turbulência e segue atravessando céus "procelosos", em meio a raios e ventanias. Desnecessário relembrar a coleção de eventos que afetam seu desempenho. Em especial, a saída de Antonio Palocci da Casa Civil.
Mesmo assim, Dilma mantém sua popularidade em bom estado e, melhor de tudo, conserva poder de iniciativa. A presidente tem, por exemplo, mais popularidade do que Lula no início do seu primeiro mandato. Isso tudo mostra que o brasileiro quer que o país continue avançando na redução da desigualdade, na distribuição de renda e no fim da miséria.
Desde que começou sua gestão, Dilma anunciou vários projetos que já estão em curso: a fase 2 de Minha Casa, Minha Vida; o programa de combate à miséria - que agora terá a parceria de São Paulo; o programa de bolsas universitárias no exterior; e a nova política industrial do governo.
Nesta semana, deve anunciar um programa destinado a expandir a oferta de microcréditos à população de baixa renda. O Planalto tenta, com suas naturais limitações ideológicas e intelectuais, aproveitar o bom momento que vivemos.
Na política, a situação oscila entre a disputa rasteira do fisiologismo e a corrupção escancarada de uns e outros que estão no governo para fazer esquemas. Destaca-se a cara de pau de algumas das "vítimas" do processo de "faxina".
A presidente Dilma não poderia compactuar com tal situação e pode pagar um preço por sua ousadia. Cabe aos brasileiros proteger as boas intenções do governo, dando apoio às medidas de saneamento da administração pública.
O preço disso, como sabemos, poderá ser a sabotagem de alguns membros na base. Votações complicadas e obstrução ao encaminhamento de matérias relevantes são esperadas.
Nessa altura dos acontecimentos e no melhor interesse da democracia, devemos tentar trazer a turbina da política para uma posição de empuxe ou de neutralidade, pelo menos. Muito melhor do que desligá-la.
Não podemos, de forma alguma, abandonar a política nem deixar de saudar as medidas saneadoras da administração. No final das contas, a lavagem das escadarias e dos escaninhos do poder vai valer a pena para todos os brasileiros.

EDITORIAL - O GLOBO - A diversificada tecnologia da corrupção


A diversificada tecnologia da corrupção
EDITORIAL
O GLOBO - 23/08/11

Assim como o Brasil não foi fundado em 2003, como queria fazer crer a propaganda lulopetista, a corrupção não surgiu nos últimos oito anos na vida pública do país. Mas, reconheça-se, tomou grande impulso a partir de um modelo de montagem de governo em que a principal preocupação não é a busca por melhorias na qualidade da administração, mas a quantidade de votos assegurados no Congresso, para garantir a "governabilidade". Em nome dela, amplas e estratégicas áreas da máquina pública foram cedidas a partidos aliados, com carta-branca para administrarem os respectivos orçamentos, em todo ou em parte, como bem entendessem.
Durante este tempo diversificaram-se os métodos de desvio de recursos do Tesouro de forma ilícita. Há desde a simulação de gastos com marketing e publicidade para retirar dinheiro de estatal (BB/Visanet), como foi feito para ajudar a lubrificar o esquema do mensalão, até métodos clássicos de superfaturamento de obras por meio de aditivos. O golpe está registrado no currículo do PR na administração que fez no Ministério dos Transportes e seu Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit).
Do Ministério da Agricultura, sabe-se da relação promíscua do ex-ministro Wagner Rossi (PMDB) e filho, Baleia, deputado estadual paulista pelo partido do pai, com uma empresa fornecedora de vacinas antiaftosa, e da acusação contra a cúpula da Pasta feita por Jucazinho, por sua vez destituído por desviar dinheiro da Conab. Por ser um ministério entregue ao PMDB com "porteira fechada" - assim como, em alguma medida, foi feito nos Transportes com o PR -, é provável que uma auditoria atenta revele usos e costumes obscuros bastante consolidados. Pode-se imaginar o tipo de rastros que deixou o lobista Júlio Fróes, de livre trânsito na comissão de licitações da Pasta.
Já no Turismo, de Pedro Novais, capturado pelo PMDB maranhense e sua sublegenda do Amapá, onde o senador José Sarney tem base eleitoral, permitiu-se o uso da gazua da emenda parlamentar para o sequestro de dinheiro do contribuinte. O golpe de usar gastos com "formação de mão de obra" por ONGs para justificar a subtração de dinheiro do Erário foi usado no Amapá e, soube-se depois, em Sergipe, por meio de um convênio de tramitação relâmpago pelo ministério.
As alegadas despesas com treinamento serviram para a aprovação a jato de convênio milionário com uma ONG sergipana sem qualquer experiência no que prometia executar: formar 18 mil cozinheiros, garçons, motoristas de táxi, entre outros profissionais, para estimular o turismo no estado. A organização já recebeu R$3 milhões dos R$8 milhões prometidos, embora não houvesse matriculado um único aluno, revelou O GLOBO. O Turismo se candidata a ser outro generoso vazadouro de recursos públicos.
Ao contrário do que alguns pensam, não há "udenismo" nas denúncias, até porque o Brasil de hoje pouco tem a ver com o da década de 50. O Estado tem mecanismos de combate à corrupção, e não há a necessidade de movimentos políticos que tendem a gerar crises institucionais em nome da moralização. Eles não podem é ser impedidos de funcionar.

ALON FEUERWERKE - De pipoca e refrigerante


De pipoca e refrigerante
ALON FEUERWERKE
CORREIO BRAZILIENSE - 23/08/11

E o Brasil? Para o país que ofereceu mediação no impasse árabe/israelense e tentou costurar o acordo entre Teerã e as potências em torno do programa nuclear iraniano, o atual silêncio é ensurdecedor.


A resistência a apoiar os levantes democráticos no mundo árabe e islâmico tem dupla origem. Uns torcem o nariz, pois preferem a continuidade dos déspotas amigos. Outros não, mas temem a emergência de forças político-religiosas fundamentalistas e autoritárias.
O exemplo é sempre o Irã. Onde a Revolução Islâmica libertou ventos democratizantes, para suprimi-los em seguida e lançar o país numa poliarquia teocrática. A esquerda iraniana, aliás, participou ativamente do movimento de 1979, antes de ser suprimida pelos aiatolás.
É o temor mais frequente no desdobramento da situação egípcia. Mas, quem busca enfraquecer a influência ocidental na região, não teme o cenário. Desse ângulo, o ideal seria ver emergir uma república islâmica sunita no Cairo.
Que em seguida poderia unir-se aos xiitas de Teerã e criar uma situação de forças na qual Washington só teria a retirada como alternativa.
Infelizmente para quem pensa assim, a conflagração iraquiana serve de termômetro da (im)possibilidade de coesão estratégica entre xiitas e sunitas. A união de todas as facções contra o elemento externo pode frequentar o discurso, mas daí à prática vai uma distância daquelas. O pan-arabismo foi e é apenas palavrório vazio.
Na Líbia, por exemplo, a república ditatorial, algo laica e bastante nepótico-cleptocrática do coronel Muammar Kadafi vai sendo empurrada para a lata de lixo da História, na expressão clássica de Leon Trotsky sobre os socialistas-revolucionários que recusaram apoiar a Revolução Bolchevique de outubro e novembro de 1917.
E quem empurra é uma composição heterodoxa.
A faxina de Trípoli é feita a quatro mãos pela aliança militar do Ocidente, a Otan, e rebeldes que também bebem da fonte fundamentalista. Inclusive com ligações marginais à Al Qaeda. Parece-lhe bizarro? Pois é a política. A arte de estar sempre pronto a romper com o aliado e a aliar-se ao adversário/inimigo.
O universo árabe e islâmico é um emaranhado de facções religiosas, políticas e militares. De nações desenhadas artificialmente pelo colonialismo. Não há linhas demarcatórias definitivas.
Isso complica ainda mais a vida de quem precisa tomar posição sobre o assunto. A esquerda brasileira é um exemplo. Comemorou a queda dos ditadores tunisiano e egípcio, aliados dos Estados Unidos, mas cerra fileiras em torno de Kadafi e do açougueiro de Damasco, Bashar Al Assad.
Em meio à confusão, a melhor abordagem, por enquanto, é a de Barack Obama. Que descartou sem muita hesitação aliados importantes, para estar em posição de lutar pela influência na nova ordem.
Pois árabes e muçulmanos têm o mesmo direito à democracia que os demais.
E o Brasil? Para o país que ofereceu recentemente mediação no impasse árabe/israelense e tentou costurar o acordo entre Teerã e as potências em torno do programa nuclear iraniano, o silêncio é ensurdecedor.
Podem querer que pareça sabedoria, mas a explicação provável é outra: o Itamaraty e o Palácio do Planalto não têm a mínima ideia do que fazer.
Pois só haveria duas opções: 1) apoiar decididamente a onda democrática ou 2) agir caso a caso conforme o interesse, conforme quem está no poder ou na oposição.
O governo brasileiro não anda convicto do primeiro caminho, nem está disposto a pagar o preço político embutido no segundo.
E aí fica de saquinho de pipoca e refrigerante na mão, vendo passar o filme da História. Quando não sobra com o mico, como vai acontecendo na Líbia. E tem boa chance de acontecer na Síria.

Nem aíTodas as pesquisas mostram que o eleitor não aceita abrir mão de eleger diretamente os deputados e vereadores. O último levantamento a mostrar isso foi feito com os usuários do serviço 0800 da Câmara dos Deputados.
73% disseram acompanhar a discussão da reforma política no Congresso, 57% discordam do financiamento público de campanhas eleitorais, 67% discordam da lista fechada (voto indireto) para o Legislativo e 75% concordam com o fim das coligações nas eleições para deputado e vereador.
Deveria ser suficiente para os alquimistas da reforma. Mas eles não estão interessados no que o povo acha ou deixa de achar.

FERNANDO DE BARROS E SILVA - O voo do oligarca

O voo do oligarca
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 23/08/11 

SÃO PAULO - Vestido de branco, com boina, em traje de safari tropical e cercado por serviçais, ele caminha no meio da mata. Poderia ser Muammar Gaddafi em fuga. Mas era José Sarney a passeio.
Reportagem desta Folha revelou que o presidente do Senado usou o helicóptero da PM do Maranhão para fazer o trajeto entre São Luís e sua ilha particular. Numa de suas viagens a Curupu, Sarney estava acompanhado do empresário Henry Duailibe Filho, primo do marido da governadora Roseana Sarney, Jorge Murad, e beneficiário de contratos com o Estado que somam pelo menos R$ 80 milhões.
Flagrado em seu turismo privado com a aeronave paga pelo contribuinte para atender a população em casos de emergência, o patriarca teve a desfaçatez de dizer que viajou "a convite da governadora do Maranhão". E, mais, que tem "direito a transporte de representação em todo o território nacional".
Enquanto funcionários da base da PM carregavam bagagens e caixas de isopor do helicóptero para o carro dos Sarney, um pedreiro acidentado aguardava numa maca, dentro de outro helicóptero, para ser transportado até a ambulância.
Não é por acaso que a capitania hereditária governada há mais de quatro décadas pelo clã Sarney seja um dos maiores cartões-postais da tragédia social brasileira. Não importa qual seja o ranking -mortalidade infantil, IDH, nível educacional, renda per capita em domicílios urbanos, expectativa de vida média-, em todos eles o Maranhão figura entre os Estados mais miseráveis e desumanos do país.
É irônico que esse mandonismo em estado bruto (a verdade histórica do literato cordial) tenha encontrado em Lula seu grande aliado. Sem ele, Sinhazinha não teria sido eleita como foi e Sinhô não teria se mantido à frente do Senado.
"O Sarney tem história suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum", disse o petista em 2009, ao defender seu oligarca com jaquetão de escritor.

VINÍCIUS TORRES FREIRE - Sexta-feira, duas vezes 13

Sexta-feira, duas vezes 13
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 23/08/11 

Economias ricas navegam por um mar de icebergs; finança espera discurso do presidente do Fed, na sexta


NA TARDE DE sexta-feira que vem, dia 26, duas vezes 13, o presidente do banco central dos EUA, Ben Bernanke, fará um discurso muito esperado pela finança mundial.
Mas os próprios porta-vozes e outras figuras falantes da finança palpitam que Bernanke não diria muita coisa, nem teria como, em sua apresentação em Jackson Hole, cidadezinha do Wyoming que sedia um seminário econômico muito importante, patrocinado pelo Fed. De fato, a baderna da economia do mundo rico é tamanha que um discurso, um homem, ainda que presidente do Fed, ou mesmo o próprio Fed não teriam a capacidade de anunciar providência redentora.
Porém, a economia mundial não estava muito melhor em agosto de 2010. Foi quando Bernanke na prática anunciou que o Fed daria início à fase dois do "quantitative easing", relaxamento monetário, o QE2. Apenas a política de taxa de juros zero não reanimara a economia dos EUA. Além do mais, tumultos de meio de ano, como a crise grega, derrubaram os ânimos econômicos. O crescimento dos EUA parecia embicar para baixo de novo.
O QE2 começaria em novembro, quando o Fed passaria a comprar títulos de longo prazo da dívida pública americana. Isso, na prática, tende a derrubar as taxas de juros longas (e de financiamentos imobiliários, por exemplo) e faz com que aumente a quantidade de recursos emprestáveis nos bancos.
No QE1, na explosão da crise de 2008-2009, o Fed comprara qualquer título, até de empresas, um desvio escalafobético das funções de qualquer BC. No dizer sarcástico de Maria da Conceição Tavares, o Fed então descontava até duplicatas.
Apenas a dica de que haveria QE2 levou os investidores grandes às compras. A partir de setembro as Bolsas subiram, a especulação com commodities vicejou, subiram as moedas-commodities (de países dependentes de commodities e mais arrumadinhos, como o Brasil). Haveria dinheiro barato e abundante para fazer aposta em ativo de risco.
A economia real dos EUA reagiu com um suspiro fraco de ânimo ao QE2. O consumo subiu pouco, mas juros menores permitem refinanciamento de dívidas. Famílias endividadas não têm como comprar muito mais. O aumento do preço dos ativos financeiros anima também o consumidor, que sente estar menos pobre (ou, até 2008, mais rico).
Parecia então que a recuperação econômica viria. Pelo menos era isso que alardeavam os povos dos mercados (e o Fed também). A conversa fiada colou, mesmo com o horrível desemprego, com as dívidas públicas saindo pelo ladrão etc. Agora, estamos em meio a outra reação exagerada dos povos das finanças. Sim, soube-se agora que a recessão nos EUA foi pior do que se imaginara; que o crescimento de 2011 estava sumindo. Houve o previsível retorno da crise da dívida europeia. Houve a maluquice da crise do teto da dívida americana. Mas não sabemos ainda se virá nova recessão nos EUA e na Europa.
No entanto, o governo de Barack Obama não sabe o que fazer para tentar tirar o país da pasmaceira. Os indecisos e divididos governos europeus estão cozinhando nova erupção da crise da dívida, já agora em setembro. Os Titanics econômicos de EUA e Europa navegam na direção de um mar de icebergs. O Fed, sozinho, não vai virar o leme.

LIBERATO VIEIRA DA CUNHA - Jamais esquecerei

Jamais esquecerei 
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
ZERO HORA - 23/08/11

Como não amar o passado? – me pergunta uma leitora a propósito de uma de minhas crônicas. Por uma coincidência, estive esvaziando gavetas e encontrei o instantâneo em que outra amiga e eu passeamos de mãos dadas pela Praça da Matriz.

Ana Laura tinha cabelos loiros e traços perfeitos. Ana Laura e eu passeávamos de mãos dadas pela Praça da Matriz de sua cidade. Corriam então os Anos Dourados, o dia era de verão e glorioso.

Não sei do que foi feito de Ana Laura, se casou, se ainda mora em sua cidade, se tem filhos, se é odontóloga, advogada, médica ou simplesmente do lar. Mas recordo como se fosse hoje nós dois tão jovens passeando de mãos dadas num começo de namoro.

Não sei o que foi feito de Ana Laura, mas guardo a memória precisa de seu vestido leve, de seus tornozelos finos, de seu sorriso perfeito. Lembro que falávamos de um baile que ia haver aquela noite, de um cachorrinho que tinha desaparecido, do Brasil, que era então um país inaugural.

Um sorridente mineiro semeava estradas, hidrelétricas, desbravava fronteiras e instalava fábricas de automóveis onde então eles eram importados. Fuscas, Dauphines, DKWs, Aero-Willys, Simca-Chambords enchiam ruas e avenidas, uma rodovia rasgava a selva, Brasília erguia-se do nada em pleno Sertão.

Vivíamos então um tempo mágico, pois os ventos da esperança sopravam por aqui. Ana Laura era parte daquele cenário, em que soavam os acordes da bossa nova, nascia o cinema novo, o Brasil era campeão mundial de futebol na Suécia, Maria Esther Bueno vencia em Wimbledon, Éder Jofre arrasava nos ringues, ganhávamos ainda certames de basquete a pesca submarina.

Onde andará Ana Laura? Será diplomata, psicanalista, pianista? Não sei. São tudo coisas de problemática resposta. Só sei que os tempos são outros, bem diversos daqueles em que a adolescência era azul e o país uma festa móvel.

E o que foi feito de mim? Hoje sou todo um senhor que não caminha pela Praça da Matriz com uma garota loira. Não há mais Anos Dourados, somos um mar de corrupção.

Me resta a imagem da garota de 15 anos – os mesmos 15 anos que eu tinha – e que de repente e sem aviso, no passeio pela Praça da Matriz de sua cidade me disse aquelas palavras que jamais esquecerei.

ANTONIO DELFIM NETTO - Ainda não é o fim do capitalismo


Ainda não é o fim do capitalismo
ANTONIO DELFIM NETTO
Valor Econômico - 23/08/2011

É cada vez mais claro que os EUA não souberam lidar com os descalabros produzidos pelo seu setor financeiro com estímulos explícitos do governo e sob os olhos complacentes do Fed. Pior, agiram com inacreditável miopia na solução do Lehman Brothers.

Por outro lado, a "corrida" bancária iluminou o que estava escondido na Comunidade Econômica Europeia: os truques fiscais (feitos também com a conivência do setor financeiro e das agências de risco) para ilidir os compromissos assumidos pelos países-membros no acordo de Maastricht. Ninguém, nem o G-20, o Tesouro Americano, os governos da CEE, o Fed, o BCE e o FMI, e nem os mais sofisticados analistas econômicos que "surfaram" a grande onda da aparente "moderação" do ciclo econômico, entendeu o que estava se passando...

Talvez a prova mais irrecusável dessa absoluta inconsistência sobre o que estava ocorrendo no mundo, e o que se pensava dele, seja a frase pronunciada pelo Chanceller of the Exchequer britânico, Gordon Brown, ao apresentar o projeto de orçamento na Câmara dos Comuns, em 2007. Disse ele: "Estamos vivendo uma era de desenvolvimento econômico continuado e jamais retornaremos às velhas flutuações de expansão e retração do passado". Pois bem. Antes de terminar 2007, elas estavam de volta, fortes como raramente haviam sido.

Os bancos continuam a desconfiar uns dos outros... e com razão!

Surpreendidos, todos agiram, mas a falta de coordenação desperdiçou os enormes esforços para debelá-la: o G-20 é apenas um parlatório sem consequência; a disfuncionalidade da política dos EUA tornou seu Congresso um produtor de volatilidade, incapaz de dar confiança a produtores e consumidores; o Fed e o BEC, lidando com taxas de juros reais negativas, continuam tão perdidos como o cachorro que caiu do caminhão de mudança, e o FMI, com "cara de paisagem", assiste a tudo, produzindo "papers" que ninguém leva a sério...

O resultado final desse lamentável processo é que as custosas medidas não conseguiram cooptar a confiança dos agentes que movem o "circuito econômico" e, portanto, não conseguiram regularizá-lo: os consumidores, com medo do desemprego, aceleram a redução das suas dívidas; as empresas (com quase US$ 2 bilhões em caixa) preferem comprar papéis da dívida do governo a investir, porque não têm garantia que existirá demanda e, quando investem, o fazem em tecnologias poupadoras de mão de obra. Os bancos (com reservas gigantescas) continuam a desconfiar uns dos outros... e com razão!

O que ameaça a economia é a possibilidade de que a morna resposta do sistema econômico às políticas econômicas descoordenadas e sem eficiência (porque sem credibilidade!), acabará reduzindo o crescimento durante muitos anos, impedindo a solução do problema fiscal criado por elas mesmas. Hoje, o remédio tecnocrático (despesas públicas e juro real negativo) esgotou sua potencialidade. Os balanços do Fed e do BCE estão em limites preocupantes e os Tesouros dos EUA e dos países da CEE estão tão endividados que não se pode esperar deles muita coisa.

Essa visão pessimista da situação da economia mundial estimula alguns ingênuos, persistentes e generosos otimistas a acreditarem (pela décima vez, nos últimos 170 anos) que chegamos, enfim, ao fim do capitalismo e vamos entrar na era do solidarismo, onde o lucro será anátema e os mercados serão sociais.

A história mostra que talvez seja um pouco prematuro declarar tal morte. Capitalismo é o codinome da "economia de mercado", que foi lentamente construída ao longo da história, por uma seleção quase biológica na procura, pelo homem, de uma organização social que lhe desse, ao mesmo tempo, liberdade individual e eficiência produtiva. Ele nunca é o mesmo e modernamente tem evoluído num jogo dialético entre a escolha democrática nas urnas (onde cada cidadão tem um voto) e o mercado (onde cada um tem tantos votos quanto seja seu patrimônio).

Quando a urna erra, impondo restrições ao mercado que não cabem na contabilidade nacional, o sofrimento do eleitor leva-o a corrigir o poder incumbente; quando o mercado erra e impõe mais sofrimento do que benefícios, o eleitor é levado a corrigi-lo nas urnas.

É a urna, no fundo, que garante o aperfeiçoamento contínuo do processo de busca simultânea da liberdade de iniciativa individual e da eficiência produtiva. É a urna que vai restabelecer a "credibilidade" perdida que impediu o funcionamento da solução tecnocrática. A boa notícia é que, nos próximos 12 meses, teremos eleições livres em 24 países! O capitalismo não vai acabar. Vai dar mais um passo na mesma direção do lento processo civilizatório, como tem feito nos últimos 170 anos...

O BONDE SEM FREIO DA CORRUPÇÃO


JOSÉ SIMÃO - UPP na Líbia! Kaidafi tá kaidaço!

UPP na Líbia! Kaidafi tá kaidaço!
JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SP - 23/08/11

É tanta grafia pra Kadhafi, Gaddafi que eu prefiro chamar de KAGADAFI!
Ou melhor: KADÁVER!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! UPP na Líbia Urgente! O KAIDAFI tá caidaço! Vou instalar uma UPP na Líbia! E um leitor: leva o meu patrão junto! E um cara no Twitter: com retorno ou vai fixar residência? Rarará!
É tanta grafia pra Kadhafi, Gaddafi que eu prefiro chamar de KAGADAFI! Ou melhor: Muammar KADÁVER! Com aquela cara de Cauby Peixoto com Vanderlei Luxemburgo! E quem demora mais pra entregar, o Gaddafi ou o China in Box? Rarará! E o mais hilário no Kagadafi é aquele turbante cor de enxurrada. Cor de camelo com diarreia. Modelito: Baiana do Quibe! E sabe o que um pacifista falou sobre a Otan?
"Bombardear pela paz é como trepar pela virgindade."
E o futebol? Vamos ao que interessa! Hoje o Palmeiras estreia em todos os cinemas: "Lanterna Verde"! Rarará! E os palmeirenses em represália estão lançando "Bambi 4"! E o Corinthians na liderança? Diz que o Corinthians na liderança é como vaca em cima da árvore: ninguém sabe como foi parar lá, mas todo mundo sabe que vai cair! Rarará! É como golfinho: sobe, dá uma brincadinha e afunda de novo! E atenção! Direto do País da Piada Pronta! Cassaram o prefeito de Campinas. E o vice-prefeito assume: Demetrio Villagra! VILLAGRA?!
Pra cidade crescer! Campinas toda pergunta: "será que esse Villagra faz a cidade crescer?". Ou Vai ou Vilagra! Rarará! E sabe como se chama o advogado do prefeito cassado? Luiz ROLLO! Rarará!
E adorei o final da novela. Quem matou a Norma? Wanda! Wandalizaram a Norma! E a Natalie Perigueti vira deputada. Então ela vai se filiar ao meu PGN, Partido da Genitália Nacional. E vai lançar o Bolsa-Proteína: "Toda mulher terá direito a um Homem-Filé!". E vai ficar grávida do Tiririca. E vai nascer um asno cor-de-rosa, Niririca. Rarará!
O brasileiro é cordial! Placa que a mulher do Gervásio pendurou na empresa em São Bernardo: "Se eu descobrir quem foi a perua saidinha daqui que usou o ferro de solda pra alisar a crina de molinha, vou pegar essa futura socialite e fazer uma escova definitiva no escapamento do carro fervendo. Conto com todas. Assinado: Maria Bonita". Gente, já imaginaram a Fátima Bernardes fazendo chapinha no escapamento do carro fervendo? Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.

MARCO ANTONIO VILLA - De gestora a faxineira


De gestora a faxineira
MARCO ANTONIO VILLA
O Globo - 23/08/2011

O governo é pródigo na construção de versões. Nos primeiros meses do ano, a presidente Dilma Rousseff foi transformada, da noite para o dia, em uma genial gestora pública. Falava-se que ela não aparecia em público porque priorizava o trabalho administrativo. Era uma devoradora de relatórios. Exigia o máximo dos seus ministros. Conhecia detalhadamente os principais projetos do país. Era tão diferente de Lula...

O impressionismo político, típico do Brasil, vigorou por três meses. Foi o prazo de validade dado pela realidade. Viu-se que administrativamente o governo ia mal. Nenhum programa do PAC estava com o cronograma em dia. As obras em andamento não tinham o acompanhamento devido. Faltava coordenação entre os ministérios. Em suma, o governo estava sem rumo. Ou melhor, estava em um movimento inercial, dentro daquela lógica nacional de que é melhor deixar como está, para ver como é que fica.

Vieram as crises políticas. Uma atrás da outra. Atingiram o coração do governo. E foram caindo os ministros, sempre devido às denúncias da imprensa ou por alguma operação da Polícia Federal. Nunca por iniciativa da presidente. Foram defenestrados ministros considerados fortes, como Antonio Palocci, e outros pouco conhecidos, como Alfredo Nascimento. As retiradas sempre foram penosas e só ocorreram depois de muita pressão da imprensa. Seguindo um velho roteiro, até o último momento o governo tentou abafar as denúncias, desqualificando as acusações e acusadores. Quando não encontrou mais saída, restou a demissão.

A repetição dos fatos, em tão curto espaço de tempo, demonstrou que o governo estava apresado pela corrupção. O loteamento dos ministérios e a inépcia dos órgãos de vigilância permitiram que milhões de reais fossem desviados. As denúncias foram pipocando e as acusações eram de que tudo não passava de "fogo amigo". Ou seja, era uma guerra entre os partidos da base governamental, uma luta interna pelo poder (e pelo dinheiro). Como se fosse absolutamente natural saquear o Erário.

Em meio à crise, os partidos continuaram exigindo cargos e favores. Sabiam que a apuração era para inglês ver. Trocavam-se os nomes mas não as práticas; como no Ministério da Agricultura, onde saiu um ministro do PMDB e entrou outro do... PMDB. As denúncias de desvio de milhões de reais não foram apuradas, sequer internamente, em um processo administrativo. Muito menos na esfera judicial.

Herdeira e partícipe ativa do presidencialismo de transação, a presidente acabou prisioneira deste sistema. Não sabe o que fazer. Lula conseguia ocultar os escândalos graças ao seu prestígio popular. Aproveitava qualquer cerimônia para desqualificar os acusadores. E convencia, graças ao seu poder de comunicação. Com Dilma é muito diferente. Ela pouco fala. Quando quer seguir a cartilha lulista, fracassa. Se esforça, tenta retomar a iniciativa, mas, sem agenda política própria, movimenta-se como um zumbi. Transformou em rotina ter de responder, toda segunda-feira, às acusações de corrupção que cercam o governo. Passa a semana tratando do desfecho do problema. Posterga as soluções. No sábado, fica aguardando as revistas e jornais de domingo com mais denúncias. E o processo recomeça.

Em meio ao desgaste, o governo foi obrigado a substituir o figurino da presidente: trocou a fantasia, já gasta, de eficaz gestora, por outra, novinha em folha, a de moralizadora da administração pública, que vem acompanhada de uma vassoura. E, por incrível que pareça, já está colhendo os primeiros frutos. Todos estão elogiando a "faxina". Não foi visto nenhum resultado prático. Para o governo, isto é o que menos importa. Vale a aparência, não a ação, mas a palavra. E, principalmente, a repetição pela imprensa que a presidente está enfrentando a corrupção. Isto "pega bem", a população simpatiza (e como!) com a ideia. Além do que, no ano que vem, tem eleição e nada pior do que a pecha de corrupto para um partido.

A oposição - com raríssimas exceções - continua tão perdida como o governo. Não sabe como agir. Quando encontra um caminho parlamentar - uma CPI no Senado - acaba sendo bombardeada também por "fogo amigo". O argumento é que é necessário dar apoio à presidente para que faça a "faxina". Ela estaria se distanciando do seu partido e, principalmente, do seu criador, o ex-presidente Lula, identificado como o gestor deste presidencialismo de transação. É uma leitura fantasiosa, que impede o embate com o governo e desmobiliza uma oposição já numericamente no Congresso Nacional. Lembra, guardadas as devidas proporções, a estratégia estabelecida durante o mensalão. No ápice da crise, ao invés de avançar e solicitar a abertura de um processo contra o presidente, a oposição apequenou-se. Temeu a vitória. Buscou justificativa na "governabilidade". Optou por levar - expressão da época - Lula sangrando até 2006, para daí vencê-lo facilmente nas urnas. Deu no que deu.

É inegável que a situação atual é muito distinta de 2005. Hoje, vivemos um momento político pior. A oposição é mais frágil, perdeu duas eleições presidenciais, e a impunidade dos mensaleiros deu salvo conduto aos corruptos. Nesta situação adversa, imaginar um antagonismo entre Dilma e Lula não passa de um logro. Esta tática já fracassou no início do ano. E pior: confunde a sociedade. Dá asas à falácia de que a presidente quer fazer a "limpeza" mas não pode. Como se não fosse responsável pelas mazelas do seu governo. Entrega a bandeira da ética e da moralidade aos que a desprezam.

MERVAL PEREIRA - Mais do mesmo


Mais do mesmo
 MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 23/08/11

O Brasil tende a aderir aos principais países ocidentais e reconhecer o Conselho Nacional de Transição da Líbia como o verdadeiro governante do país, mas só depois que a Liga Árabe e outros países da região como o Egito, a Tunísia e a Autoridade Palestina deram seu "apoio pleno" aos rebeldes líbios.

Mas o porta-voz do Itamaraty ressalvou que o Brasil ainda pretende conversar com seus parceiros do Brics (além do Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul) para tornar a decisão oficial.

Não foi por acaso, portanto, que um membro do Conselho Nacional de Transição disse que os rebeldes líbios não têm problemas com países ocidentais como Itália, França ou Reino Unido, mas preveem "problemas políticos" com Rússia, China ou Brasil.

Já quando o Conselho de Segurança da ONU aprovou ações contra a Líbia "para defender os civis", o Brasil se absteve, juntamente com a Rússia e a China.

E, mais adiante, quando da proposta de advertência ao governo da Síria de Bashar Al Assad pela violência com que tentava controlar as manifestações contra sua ditadura, o próprio ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, anunciou a oposição brasileira.

Mais que isso, representantes dos governos do Brasil, da África do Sul e da Índia estiveram com Al Assad, e um comunicado conjunto defendeu a soberania da Síria, apoiando as reformas prometidas pelo governo sírio e condenando a violência "dos dois lados", argumentação que a diplomacia brasileira costuma utilizar quando não quer condenar apenas as ditaduras que apoia.

Assim como acontecera ainda na gestão de Celso Amorim, quando o Brasil deu para o regime do Irã condições políticas de não ficar isolado quando assumiu uma negociação sobre o programa nuclear ao lado da Turquia, também dessa vez o comunicado conjunto do Brasil, da África do Sul e da Índia serviu para que o ditador sírio mostrasse ao mundo que não estava isolado pelas críticas da ONU e dos principais países ocidentais.

O chanceler Antonio Patriota colocou ainda em questão a ação das Nações Unidas na Líbia, usando os ataques aéreos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Líbia para justificar a "hesitação" que, segundo ele, os membros do Conselho de Segurança estavam experimentando em relação às ações contra a Síria.

O fato de, durante os vários dias que duraram as manifestações no Egito e na Tunísia, até o desfecho com a renúncia dos ditadores, não ter havido nem bandeiras de outros países queimadas nem slogans que não fossem relacionados com as reivindicações nacionais foi considerado como sintomático de que as revoluções populares daqueles países, e agora também na Líbia, expressam os anseios da chamada "rua árabe" de liberdade, de democracia, de melhores condições de vida, de mais justiça social e igualdade de oportunidades.

Na Líbia, as forças de apoio à ditadura de Kadafi demonstraram que, sem o apoio dos Estados Unidos e de outras nações ocidentais, provavelmente ele não correria o risco de ser derrubado, como parece iminente.

É claro que não há garantias de que extremistas não se apossem das "revoluções populares" mais adiante, e sobretudo na Líbia, quando chegar o momento. O Ocidente terá que agir para garantir que a democracia saia vitoriosa.

Mas a excessiva cautela do governo brasileiro parece ainda indicar que o centro de nossa política externa não teve alterações, e não é por receio de que extremistas assumam o poder nesses países que o Brasil teve posições ambíguas, frequentemente favoráveis aos ditadores já instalados.

A nomeação do ex-chanceler Celso Amorim para o Ministério da Defesa esclareceu o que realmente a presidente Dilma achava da política externa brasileira nos oito anos de governo Lula.

A não permanência de Amorim à frente da pasta, apesar dos apelos do presidente Lula e do desejo expresso de Amorim na ocasião, juntamente com declarações da presidente logo depois de eleita, a respeito da defesa dos direitos humanos, deu a impressão de que havia uma percepção diferente por parte dela, mesmo tendo escolhido o segundo de Amorim, o embaixador Antonio Patriota, para o cargo.

A declaração da presidente contra o apedrejamento de mulheres no Irã e a favor dos direitos humanos foi compreendida como mais um passo no rumo contrário ao que se defendia na gestão anterior.

Pois hoje se sabe exatamente o que Dilma pensa de Amorim, que assumiu o Ministério da Defesa "porque já deu mostras de ser um brasileiro muito dedicado ao Brasil".

Os fatos posteriores mostraram que não havia divergências de fundo sobre a condução da política externa, mas apenas uma diferença de estilo. Talvez a mesma coisa que acontece agora dela em relação ao ex-presidente Lula.

MÔNICA BERGAMO - PORTAS ABERTAS


PORTAS ABERTAS
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 23/08/11

As negociações do BB (Banco do Brasil) com a Odebrecht em torno do financiamento do Itaquerão foram retomadas e podem ser finalizadas em breve. A empreiteira garantirá os R$ 400 milhões que o banco tomará no BNDES para repassar para a construção do estádio do Corinthians.

BEM LONGE
O BB batia o pé e não aceitava garantias do Corinthians - o banco não faz negócios com times de futebol.

TIME
E a empreiteira começa nesta semana a treinar mão de obra de Itaquera para trabalhar na construção. Há um temor de que, no pico da obra, em meados de 2012, faltem trabalhadores qualificados na região. A empresa precisará contratar cerca de 1.500 pessoas.

SONHO MEU
E o presidente do Santos, Luiz Alvaro de Oliveira Ribeiro, considera "um sonho" a projeção que o Corinthians faz de arrecadar R$ 300 milhões com os "naming rights" do Itaquerão. Acha que o valor não é plausível.

DEUS PROTEGE
O vizinho do vice-presidente Michel Temer em SP voltou a ser assaltado, no domingo. Depois do primeiro arrombamento, há uma semana, o dono do imóvel pediu a reinstalação de alarmes para a Siemens. Mas a empresa alega que são necessários sete dias, depois de novo orçamento, para recolocar os dispositivos.

CAPITAL ABERTO
A espanhola Isolux Infrastructure, que acaba de transferir sua sede para o Brasil, já avisou o governo que deve fazer IPO em breve.

SOLIDARIEDADE
Ricardo Young, que concorreu a senador pelo PV em 2010 e deixou o partido, foi convidado pelo PHS (Partido Humanista da Solidariedade) para ser candidato a prefeito de SP. "Não tenho decisão tomada", diz ele.

PRA BRASILEIRO VER
O americano Dustin Hofmann será novo garoto-propaganda da Fiat no Brasil. Ele foi dirigido por Fernando Meirelles em LA, em comercial que estreia no domingo.

NA RUA, NA CHUVA...

As atrizes Maria Fernanda Cândido e Paola Oliveira foram as "madrinhas" do evento Promenade, anteontem, promovido por lojistas da rua Oscar Freire. O ator Cauã Reymond também circulou pelos Jardins, mesmo com a garoa e o frio de 11 graus.

...E NA FAZENDA
Rogério Fasano e José Auriemo Neto inauguraram o hotel Fasano Boa Vista em Porto Feliz, a 100 km de SP, com um almoço no sábado. Entre os convidados, Donata Meirelles, da "Vogue", a apresentadora Daniella Cicarelli e a socialite Lourdinha Siqueira com sua cadela Chanel.

SEM REMÉDIO
A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo aplicou R$ 22,5 mil em multas a quatro empresas farmacêuticas que atrasaram a entrega de medicamentos para a rede pública. A maior penalidade, de R$ 19,6 mil, foi aplicada à Hospfar, por problemas no fornecimento de seis itens, incluindo toxina botulínica. A empresa recorre.

PRATELEIRA VAZIA
A Blausiegel, multada em R$ 1.969, diz que o atraso ocorreu em virtude da nacionalização de matérias-primas importadas e que normalizará a entrega. A União Química afirma que a programação da secretaria não leva em conta a disponibilidade dos medicamentos em estoque. A Interlab, multada em apenas R$ 378,96, perdeu o prazo para recorrer.

PM DE LUXO
A Ame Jardins vai convidar Ruy Ohtake para projetar a base fixa da Polícia Militar que a associação vai instalar na esquina das avenida Faria Lima com a Cidade Jardim. Marcos Arbaitman, presidente da entidade, se reuniu na semana passada com Álvaro Camilo, comandante da PM, e fechou a parceria.

VOZ DE NOVELA
O gaúcho Filipe Catto, que tem uma música tema de personagem na novela "Cordel Encantado", repetirá o feito em "Fina Estampa", que estreou ontem. Ele regravou "Recado", de Gonzaguinha, para compor a trilha da protagonista Griselda (Lilia Cabral).

LÍNGUA PERSA
Uma mostra inédita com obras de artistas contemporâneos do Irã, chamada "Pulso Iraniano", será inaugurada no espaço Oi Futuro do Rio de Janeiro, no mês que vem. Entre os destaques, poemas de Hafiz.

CURTO-CIRCUITO
O livro "Distúrbios Alimentares - Uma Contribuição da Psicanálise" será lançado hoje, às 19h, na Livraria da Vila dos Jardins.

A loja de design Decameron lança hoje sua coleção 2011 e inaugura a mostra fotográfica "Contém [Urbanas]", na alameda Gabriel Monteiro da Silva.

O escritório de arquitetura Aflalo & Gasperini comemora 50 anos com lançamento, hoje, de livro sobre seus trabalhos, no Museu da Casa Brasileira.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

ARNALDO JABOR - Lula inventou a ''ingovernabilidade''


Lula inventou a ''ingovernabilidade''
ARNALDO JABOR 
O Estado de S.Paulo - 23/08/11

A corrupção no Brasil é tratada como um desvio da norma, um pecado contra a lei de Deus. Não é. A corrupção no Brasil é hoje um importante instrumento político, quase um partido. Nos últimos anos adquiriu novas feições, virando um "quarto poder". Antigamente, a corrupção era uma exceção; hoje é uma regra. E não se trata mais de um "que horror" ou "que falta de vergonha" - ficou claro que o País está inibido para se modernizar, porque a corrupção desmedida cria "regras de gestão". O atraso no Brasil é um desejo colonial que persiste e dá lucro.

Só agora estamos vendo o tamanho dessa mutação, quando o Executivo tenta a "faxina" e depara com a resistência indignada do Congresso. Deputados resmungam pelos cantos: "Aonde tudo isso vai parar?"

Um bloco de 201 deputados comunicou que "enquanto não se resolverem os problemas de cargos e emendas, não se vota mais nada..." Tradução: "enquanto não deixarem a gente roubar em paz, como nos bons tempos do Lula, não se vota nada." Congressistas reclamam que Dilma "não respeita as regras do jogo". Ladrões de galinha reclamam contra algemas, contra as belas fotos de presos de peito nu (que adorei...), detalhes ridículos comparados aos crimes de bilhões no turismo, agricultura e transportes e outros que virão.

Dizem: "Se ela continuar assim, não chega ao fim do mandato..." O próprio Lula telefonou para a presidente: "Dilma... pega leve com o PMDB..."

Ou seja, há um país paralelo de políticos, ONGs fajutas, empresários malandros com leis próprias - o legado de Lula, que transformou uma prática criminosa dissimulada em descarada "normalidade". Essa foi a grande realização de seu governo e se divide em duas fases.

Quando Lula chegou ao poder em 2002, havia um "Comitê Central" que o orientava (ou desorientava). Esse grupo de soviéticos desempregados viu, na sua vitória, a chance de mudar o Estado, usando a democracia para torná-la "popular", uma tosca versão remendada de "socialismo". Para isso, era necessário, como eles dizem, "desapropriar" dinheiro de um sistema "burguês" para fins "bons". Essa racionalização adoçava a água na boca dos ladrões na hora do ato, pois o véu ideológico de um remoto "Bem futuro" os absolvia a priori. Nessa fase, Lula foi um coadjuvante - sabia de tudo e nada fazia, para deixar os "cumpanheiro" cumprir sua tarefa. Roberto Jefferson, com sua legítima carteirinha, destruiu a quadrilha que angariava grana para eleger o Dirceu presidente em 2010.

Com sorte, Lula livrou-se da tutela de soviéticos e pôde, no segundo mandato, realizar seus sonhos de grandeza, que acalentava desde que descobriu que ser líder carismático dos metalúrgicos era bem melhor do que trabalhar.

Aí surgiu o novo Lula: uma miniatura, um bibelô perfeito para triunfar na mídia aqui e no Exterior. Ele é portátil, com um nome tão legível e íntimo como "Pelé". Lu-la, como "Lo-li-ta", como Nabokov enrolava a língua para descrevê-la... Lula conta com a absolvição a priori por ser um operário, um "excluído que se incluiu". Lula é um mascote perfeito: baixinho, barbinha "revolucionária", covinhas lindas quando ri, voz grave para impressionar em seriedade, talento para forjar indignação como se fosse vítima de alguma injustiça ou como o próprio povo se defendendo.

Esquemático e simplista, mas legível para o povão sem cultura e para os estrangeiros desinformados, Lula resume em meia dúzia de frases a situação geral do País, que teve a sorte de ser um dos emergentes cobiçados pela especulação internacional. Com a estabilidade herdada do governo anterior e com dinheiro entrando, ele pôde surfar em seus truísmos sem profundidade, como se a verdade morasse na ignorância. Lula não governou para o PT nem para o País; governou para sua imagem narcisista, governou em "fremente lua de mel consigo mesmo", num teatro em que éramos a plateia.

Seu repertório de frases feitas é composto dos detritos de chavões dos seus ex-soviéticos sindicalistas: fome x indigestão, elite e povo, imperialismo americano e Terceiro Mundo que incluía até o Kadafi e outros assassinos.

Claro, sempre houve corrupção (com FHC, com todos), mas era uma prática lateral, ainda dissimulada. A grande "inovação" (essa palavra da moda) de Lula foi apropriar-se (com obsceno oportunismo) de 400 anos de corrupção endêmica e transformá-la em alavanca para governar, mantendo sua fama de "tolerante e democrático".

No seu ideário, feito das migalhas que caíram da mesa leninista, "corrupção" é coisa "menor", é problema de pequeno-burguês udenista. Pensou: "No Brasil, sempre foi assim; logo, o importante é me deixarem curtir o mandato, hoje que eu sento ao lado de rainhas, com o aval de uma "santidade" de esquerda que peguei dos comunas que me guiaram."

Ele se confundia com o Estado. Se ele ia bem, o Brasil também.

Essa foi a "palavra de ordem" para o ataque geral a todos os aparelhos do Estado pelos ladrões. Sua irresponsabilidade narcisista deixou Dilma nesta sinuca histórica: se não fizer nada contra as denúncias insofismáveis, perde poder e prestígio; se fizer, perde também. Quem ganha com isso? Só ele e a coligação dos escrotos interpartidários. Se nossa abobalhada oposição conseguir uma CPI contra o governo Dilma, isso só beneficia o PMDB e aliados da caverna de Ali Babá. Ainda bem que alguns senadores decentes se unem para dar apoio à faxina das donas de casa do Executivo. A opinião pública também dá sinais de reação. Vamos ver. Pelas mãos de Lula, instituíram a chantagem como método político.

Lula inventou a "ingovernabilidade" a que assistimos. Os assaltantes estão com saudade e querem que ele volte para normalizar tudo, como um "Luis Inácio Bonaparte da Silva", como um "caudilho da vaselina". Tudo o beneficia para 2014. Temíamos um "peronismo" sindicalista no País, mas isso não existe. Só existe o PMDB.

VLADIMIR SAFATLE - Outro jogo


Outro jogo
VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 23/08/11

À medida que o tempo passa, ficam mais claras algumas linhas hegemônicas da chamada Primavera Árabe. Agora que a Líbia junta-se ao Egito e à Tunísia como o terceiro país a ter seu governo derrubado por levantes populares, notam-se duas coisas.
Primeira, quando começa um processo de negação política posta em circulação por massas descontentes, não há governo, por maior que seja seu aparato repressivo, que esteja seguro. Gaddafi fez apelo até a mercenários, mas nada disso foi suficiente. Quem imaginava em sã consciência, há um ano, que escreveríamos hoje sobre sua deposição?
Maquiavel costumava dizer que o objetivo do povo era "não ser oprimido". Ou seja, um objetivo meramente negativo, uma recusa que não enuncia necessariamente algum novo princípio de organização social.
Ao que parece, os árabes deram razão a Maquiavel.
Seus levantes não foram em nome de uma nova forma de organização (embora seja sintomático que a palavra mais usada seja "respeito"). Foram em nome do fim de uma mistura entre opressão política e desencanto econômico.
Por serem objetivos eminentemente negativos, muitas possibilidades estão postas na mesa para o dia seguinte. Certo é apenas que tais regimes, como o de Gaddafi, há muito deveriam ter desaparecido.
Deve-se notar ainda como aqueles que diziam temer a instalação de teocracias na região passaram, até agora, ao largo de tudo o que ocorreu.
Não são fundamentalistas que pegaram em armas para derrubar Gaddafi, muito menos "antiocidentalistas", nem são eles que definiram os rumos na Tunísia e no Egito.
O que vemos é uma população disposta a acreditar que o futuro está aberto para ela. E da mesma forma que não é possível dissociar a dor que sinto da crença de que sinto dor, não é possível dissociar o futuro que se abre da crença de que o futuro está aberto.
O segundo ponto é como a queda de Gaddafi pode reanimar o ímpeto popular na região. Vemos os massacres na Síria, mas não sabemos mais o que ocorre no Iêmen, no Bahrein e no Marrocos.
Para variar, temos prazer em mostrar as barbaridades contra os direitos humanos perpetradas por nossos inimigos, mas somos complacentes com as ditaduras amigas.
Por enquanto, a Arábia Saudita, a pior ditadura da região e o país mais fechado do mundo, passa, mais uma vez, incólume. Esperemos que os povos árabes percebam que, após Gaddafi, nada mais é impossível e que os levantes sejam amplos, gerais e irrestritos.
Mais uma vez, fica claro como as dicotomias herdadas do século passado (abertura política ou a luta contra o fundamentalismo, o nacionalismo ou o apoio a potências coloniais) deixaram de ter relevância. Agora, joga-se outro jogo.

SUSHI


CELSO MING - Nova postura


Nova postura
CELSO MING 
O Estado de S.Paulo - 23/08/11

O leilão de outorga do Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante (RN), realizado ontem em São Paulo, o primeiro do setor, teve um desfecho que mostra mais do que o simples sucesso de uma iniciativa.

Além da disputa acirrada entre os quatro pretendentes à execução do projeto e de um ágio surpreendente de 228,82%, o leilão tem tudo para ter sido um passo decisivo para a superação de vários problemas que vinham paralisando a economia.

O primeiro deles é o ranço ideológico do atual governo. Em parte por terem entendido que precisavam marcar posição de ostensiva oposição ao governo Fernando Henrique, que intensificou o processo de privatização iniciado na Presidência de Fernando Collor; e, também em parte, porque as esquerdas brasileiras, agasalhadas no PT, nutriram um atávico preconceito ideológico contra tudo o que implicasse participação da iniciativa privada na modernização dos serviços públicos. Os dirigentes petistas passaram anos e anos repudiando qualquer mobilização que cheirasse a privatização e fizeram questão de pichar como "privataria" toda resolução desse tipo.

Além de grave erro político, esse comportamento imaturo trouxe três consequências danosas para o desenvolvimento brasileiro: (1) provocou o rápido esgotamento dos recursos do Tesouro, na medida em que o incapacitou de dar cobertura a tantos projetos de investimento em infraestrutura; (2) provocou o colapso em grande número de serviços públicos de base: aeroportos, portos, rodovias, ferrovias, transportes urbanos, comunicações, etc; e (3) criou gargalos importantes ao desenvolvimento econômico e ao crescimento do emprego.

A quebra do paradigma anterior e a aceitação do mínimo de racionalidade na administração pública não chegaram à gestão da presidente Dilma Rousseff somente a partir de conversão ideológica em massa de integrantes do governo dirigido pelo PT. Foi, antes de tudo, o resultado de profundo constrangimento fiscal.

Por mais que venham crescendo as receitas públicas, não há o que chegue para tantas carências de desenvolvimento da infraestrutura brasileira. O Tesouro, o BNDES e eventuais outras fontes de recursos foram e continuam sendo espremidos à exaustão e é necessário, afinal, mobilizar capitais onde eles ainda existem.

Outros leilões de expansão e construção de aeroportos já estão agendados para os próximos meses. Mas seria um grave erro enfrentar novas concessões, nessa e em outras áreas, com o breque de mão puxado. O setor de controle aéreo e os aeroportos não são o único apagão enfrentado pela economia. E é preciso queimar etapas não apenas para enfrentar a demanda da Copa do Mundo e da Olimpíada, mas para tirar o enorme atraso do desenvolvimento econômico.

Para isso, além de contornar a crônica falta de recursos e de acelerar projetos de concessão, será preciso atacar mais três áreas de estrangulamento da administração pública: a excessiva demora na liberação de licenciamento ambiental; a falta de regras claras em cada atividade, sob fiscalização das agências reguladoras confiáveis e independentes do governo da hora; e a inacreditável demora nas soluções dos conflitos pela Justiça brasileira.

CONFIRA

Raio X da estagnação

As contas nacionais da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cuja grande maioria de membros é de países de alta renda, mostraram um crescimento médio de apenas 0,2% no trimestre passado em relação ao período anterior.

XICO GRAZIANO - Faxina agrária


Faxina agrária
XICO GRAZIANO
O Estado de S.Paulo - 23/08/11

Para combater a corrupção, nada melhor do que a sociedade transparente. Nisso ajuda a internet. Vejam o e-mail que recebi denunciando a prática da propina dentro do Incra. Guardo, obviamente, o sigilo da fonte.

"Foi enviado o Memorial Descritivo Georreferenciado solicitando o novo registro de área por intermédio de um escritório de engenharia e topografia. De cara ele nos alertou que, ao protocolar o processo no Incra, existem dois caminhos a percorrer. Primeiro, o da burocracia. Este vai levar em torno de 2 anos e meio, ou mais, para ser percorrido, às vezes eles até perdem a documentação lá dentro. Segundo, o do jeitinho. Este outro passa pelo nosso amigo lá, no máximo com uma semana ele devolve assinado, não falha, mas tem que depositar tudo certinho pra ele, e à vista, antes de receber o documento".

Continua: "Pois bem, optamos pelo o caminho rápido: depósito em dinheiro de R$ 3.000,00 (três mil reais) na conta do escritório, que em seguida faria o mesmo depósito em dinheiro para o contato dentro do Incra. Em uma semana recebemos o Sedex com o documento assinado, certificado, auditado e aprovado. Seguem os dados do carimbo do documento".

Incrédulo com a leitura da mensagem que recebera, terminei por verificar, ao final dela, a cópia da ordem de serviço, devidamente numerada, emitida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária/Superintendência Regional de São Paulo/Comitê Regional de Certificação. O jeitinho, realmente, havia funcionado.

O caso, ocorrido na região de São João da Boa Vista (SP), infelizmente, parece não ser único. Por todo lugar se escuta que o Incra tem demorado exageradamente no andamento desses processos de regularização fundiária. Os agricultores confessam ter medo de perseguição se delatarem a malandragem. Preferem se calar.

Mas a faxina contra a corrupção que a presidente Dilma Rousseff está sendo obrigada a realizar no alto escalão da República abre portas para a honradez vencer o medo. Denúncias começam a pipocar, indicando uma podridão que precisa ser desmantelada.

Georreferenciamento parece palavrão. Mas se trata de um artifício técnico fundamental para aprimorar o cadastro rural do Incra, acabando com o histórico mal da grilagem de terras. Sua obrigatoriedade chegou com a Lei n.º 10.267/2001, trazendo maior transparência aos registros cartoriais. Herança bendita de Fernando Henrique Cardoso.

Em qualquer transação, os imóveis rurais, a começar das áreas maiores, foram compelidos a confirmar seu perímetro utilizando-se de métodos precisos, e uniformes, de mensuração topográfica. O memorial descritivo das propriedades rurais passou obrigatoriamente a estar conectado ao Sistema Geodésico Brasileiro. Uma pequena revolução na cartografia agrária.

Tradicionalmente, desde a época das sesmarias, os registros de terras definiam-se em função de discutíveis, e curiosos, marcos. Cordas e trenas traçavam das fazendas e dos sítios os polígonos, delimitados por um acidente geográfico, uma frondosa árvore, um mourão velho. Agrimensura rudimentar.

Sucessores do astrolábio, os teodolitos somente passaram a melhor precisar a medição geométrica a partir de 1920. Progressivamente aperfeiçoados, os modernos aparelhos ganharam leitura eletrônica há 40 anos. Novo passo da topografia mais recentemente se obteve com a utilização de satélites. Hoje os mapas descritivos das propriedades rurais em nada se parecem com os alegóricos rascunhos de antanho.

O olhômetro era uma moleza para os grileiros de terras, que se apossavam de áreas fincando limites ilusórios, escondidos nas matas. Terrível problema agrário do País, a grilagem começou efetivamente a ser combatida a partir de 1995, quando o Incra iniciou uma varredura dos imóveis rurais com área superior a 10 mil hectares. Operação pente-fino.

Sucessivas diligências e instrumentos legais, incluindo uma CPI no Congresso Nacional, resultaram, em 2000, no cancelamento de 48 milhões de hectares e na interdição de outros 44 milhões, do cadastro de terras do Incra. Para comparação, a safra de grãos do País cultiva-se em 47 milhões de hectares.

Excluindo esses latifúndios fantasmas, o índice de Gini, um indicador utilizado para medir o grau de concentração da estrutura agrária, caiu de 0,847 para 0,802. Incrível. A simples limpeza do cadastro rural derrubou o velho chavão de que o Brasil era o campeão mundial de concentração fundiária. Liderava, isso sim, a grilagem de terras.

Agora, não apenas mais facilmente se descobrem as fraudes, como se evita o problema futuro no mercado de terras. Para a nova legislação funcionar, todavia, carece do carimbo oficial do Incra. Aí é que a coisa, segundo dizem, anda empacando.

Eu sugiro que a presidente Dilma mande realizar uma faxina agrária no Incra. E não apenas para investigar essa delonga nos processos de georreferenciamento dos imóveis rurais. Poderia aproveitar a onda moralizadora e seguir mais além, promovendo uma ação saneadora nos assentamentos rurais e acabando com a maracutaia, sabida há tempos, da venda irregular de lotes da reforma agrária.

Daria para levantar, também, os dados sobre a compra superfaturada de terras, prática adorada por conluiados fazendeiros picaretas. Fora a investigação, pra valer, dos convênios suspeitos - apontados pelo Tribunal de Conta da União e pelo Congresso Nacional -, que repassam recursos públicos às organizações de sem-terra.

O Incra ganhou respeito pela sua história, ligada à causa da democratização da terra. Não pode ser posto em suspeição, nem aparelhada pela política vil. Devolver-lhe a decência faria bem enorme ao Brasil vislumbrado neste recente namoro da moralidade com a República.

MÍRIAM LEITÃO - A nova Líbia


A nova Líbia
MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 23/08/11

Os líbios agora passarão a construir a nova era pós-Kadafi. Terão a vantagem de ter apoio internacional. A grande pergunta é: a Líbia será uma democracia? O politólogo Eduardo Viola, da UnB, define como semidemocracia o que poderá ser instalado em Trípoli. O Brasil errou no caso da Líbia e ontem às pressas tentava consertar. Erra também na Síria.

O que fazer diante de um ditador que promove um banho de sangue para manter seu regime? O Brasil se absteve no Conselho de Segurança da ONU à declaração de área de exclusão aérea na Líbia, no dia 17 de março. Há 15 dias, em entrevista ao Globo , o ministro Antonio Patriota disse que não reconheceria o Conselho Nacional de Transição (CNT) como governo líbio - medida que havia sido tomada por Estados Unidos, União Europeia e vários países árabes - porque os rebeldes controlavam apenas uma parte do país. Ontem, na undécima hora, é que reconheceu o CNT. Isso é que é incapacidade de ver a tendência dos acontecimentos. A mesma contramão vem sendo tomada em relação à Síria de Bashar al-Assad, mesmo após o regime ter assassinado duas mil pessoas e depois de até a Arábia Saudita ter retirado seu embaixador do país.

O novo governo líbio terá apoio das maiores economias e dos bancos internacionais e mercado para o seu petróleo. Começará a difícil tarefa de construir instituições democráticas num país tribal. Eles divulgaram dias atrás uma constituição provisória. Viola acha que os rebeldes começarão a construir alguma forma de representação política, mas acredita que vai demorar até que se instale um governo com as características de uma democracia. Estavam certos os países que desde o começo disseram que era preciso fortalecer os rebeldes diante da reação sangrenta de Kadafi e seus filhos. A cooperação deve continuar agora para que os líbios reorganizem o país, após o fim de uma ditadura de 42 anos. Claro que há dúvidas sobre o futuro da Líbia, se o CNT será capaz de unir as tribos e fazer a transição para a democracia. Mas essa dúvida não era justificativa para manter Kadafi e sua dinastia no poder.

A Líbia tem vários trunfos para se reerguer: tem a maior reserva de petróleo da África, maior que a da Nigéria, é capaz de produzir até 1,8 milhão de barris/dia, como fez em 2010. No começo do conflito, em fevereiro, estava produzindo 1,6 milhão e passou a produzir apenas 100 mil. Apesar dos seis meses de luta, o país preservou sua estrutura de escoamento do produto para a Europa. A Itália é o maior comprador. Compra 28% do petróleo que a Líbia vende. O país tem US$ 150 bilhões de reservas cambiais. Mas antes, o novo governo terá de restabelecer a ordem, os serviços públicos e instalar um governo minimamente operacional. A normalização econômica e política pode demorar um ano.

O que a comunidade internacional não podia era assistir de braços cruzados ao massacre dos líbios, como não pode assistir ao massacre dos sírios.

É sempre preferível a solução negociada, mas o ditador nunca quis negociação. As hesitações, manifestações ingênuas e abstenções do Brasil, neste período em que ocupa temporariamente uma cadeira no Conselho de Segurança, pode levar o mundo a se perguntar para que mesmo o Brasil quer uma cadeira permanente.

Na Síria, o caminho para a democracia parece ainda mais longo. "A alta oficialidade síria tem participado diretamente do massacre de Bashar Assad. Eles sabem que serão julgados com o mesmo rigor que o ditador. Tendem a manter a radicalização ", acredita Viola.

Os episódios seguidos no Norte da África não repetem o mesmo roteiro. Em cada país, é diferente. Mas o vendaval continua. Em janeiro, caiu Ben Ali, na Tunísia; em fevereiro, caiu Hosni Mubarak, no Egito. Em junho, caiu Abdullah Saleh, no Iêmen. Em agosto, é a vez de Kadafi. Bashar al-Assad é o próximo da lista.

Nos casos da Líbia e Síria, os mais difíceis, o governo da presidente Dilma tem errado muito. Houve para nós uma breve primavera: a ideia de que direitos humanos seriam um dos princípios da diplomacia, mas essa esperança se esfumaçou rapidamente.

"A expectativa que se formou era de que a presidente Dilma, por sua história de vida e pelas primeiras declarações, faria uma correção nos rumos da política externa dos últimos anos, em que houve fatos como as declarações do presidente Lula contra as manifestações em Teerã. Mas as posições do Brasil em relação à Síria, quando Bashar fazia um banho de sangue no país, mostraram que não haverá mudanças", disse Viola.

Em Teerã, nas eleições de 2009, as manifestações acusando Mahmoud Ahmadinejad de fraude foram definidas por Lula como "choro de perdedor". Elas foram violentamente reprimidas, claramente fraudadas. No primeiro governo, Lula visitou Muammar Kadafi. O cerimonial imposto pelo governo líbio incluiu homenagens ao pai de Kadafi e lições de geopolítica dadas pelo ditador na sua tenda cenográfica. Foi patético. Foi desse passado que o país sonhou se livrar. Os primeiros sinais dados pelo ministro Antonio Patriota foram encorajadores, mas agora já se sabe que o Itamaraty continuará no mesmo equívoco.

O Brasil deve ter relações políticas e comerciais com o maior número de países do mundo; de preferência com todos. Isso é diferente de gestos de fortalecimento de regimes que, em seu ocaso, usam o aparelho de Estado contra seus opositores com a ferocidade com que foi feito por Kadafi e Bashar al-Assad. É lamentável que o Itamaraty tenha perdido a capacidade de ver a diferença entre manter relações com os países e apoiar regimes indefensáveis.

GOSTOSA


MARCIA PELTIER - Aquém do ideal


Aquém do ideal 
MARCIA PELTIER
JORNAL DO COMMÉRCIO - 23/08/11

Os aeroportos Antonio Carlos Jobim e Santos Dumont tiveram pontuação 6,33 e 6,25, respectivamente, em uma escala de zero a dez, no estudo da consultoria em uso racional de água H2C, membro do Green Building Council Brasil. Foram avaliados os banheiros dos 15 terminais que servirão às 12 cidades-sede da Copa 2014. No levantamento, nenhum terminal obteve a pontuação máxima. No topo da lista aparece o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com média 7,33. Pesou o fato de que a maioria não conta com torneiras e mictórios eletrônicos, os mais indicados para evitar contaminações em áreas de grande circulação.

Reza forte

Na pesquisa sobre religião no mundo que Marcelo Neri, da FGV, lança hoje, 89% dos brasileiros concordam que ter uma religião é importante. Essa afirmação coloca o país no mesmo grupo de países da África, Sudeste Asiático e dos vizinhos sul-americanos, com exceção de Argentina, Chile, Equador e Uruguai, um pouco menos religiosos. Metade da população brasileira também disse ter o hábito de frequentar cultos.

Visita

Myron Brillant, vice-presidente de relações exteriores da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, será recebido hoje, em São Paulo, por Paulo Skaf. A entidade é a maior representante do setor privado norte-americano, com mais de 3 milhões de empresários filiados. Myron virá estreitar os laços com a Fiesp e conversar sobre temas como o acordo de livre comércio e o mercado de algodão.

Fora do comum

O elegante casamento de Roberto Clark e Camila Giese, sábado, na Basílica Imaculada Conceição, fugiu do tradicional no seu cerimonial: em vez de um cortejo de pajens e daminhas à entrada da noiva, Camila quis que sua irmã de nove anos, Nina, viesse logo atrás, carregando um buquê e segurando seu véu. E imediatamente depois da menina, Eduardo Clark, irmão do noivo, levava as alianças. Isso sem falar que as primeiras pessoas a cruzarem a nave até o altar foram as avós do noivo, Regina Clark e Vera Rudge.

Mais originalidade

A festa aconteceu na Gávea, na casa de um amigo de Roberto. Muito prática, a noiva, que vive viajando a trabalho, comprou seu vestido pronto nos Estados Unidos, na Pronuptia Bridals. O bolo, assinado por dona Dirce, tinha hortências naturais, brancas e verdes, como enfeite. Os bem-casados de dona Elvira foram arrematadas com uma medalhinha da Imaculada Conceição.

Caneta em punho

O deputado gaúcho peemedebista Mendes Ribeiro Filho toma posse, hoje, no Ministério da Agricultura, com liberdade da presidente Dilma para fazer os ajustes necessários de pessoal na pasta. Falante e com fama de estar sempre de bem com a vida, diz-se de Mendes, que é torcedor do Grêmio, de não deixar passar uma linha sequer na leitura de documentos que lhe são entregues. Raro é o texto que ele devolve aos seus assessores sem corrigir, pelo menos, duas linhas. Comenta-se, também, que é um ouvinte paciente.

Tesouro

A arqueóloga Maria Beltrão lança amanhã, no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, o livro Catálogo de Moedas. A obra trata do acervo arqueológico descoberto no sítio histórico Fazenda Macacu, em Itaboraí. São 57 moedas em ouro, prata e bronze, cunhadas em diferentes países entre os séculos XVI e XX. As peças trazem curiosidades como a inscrição “vintém poupado, vintém ganho’’, em uma moeda de 20 réis, em bronze, datada de 1908. A Fazenda Macacu foi tombada em níveis estadual, federal e também pela Unesco.

Sensual e inocente

Produtora e protagonista da peça Eu te amo, Juliana Martins irá conviver com universos completamente distintos, a partir de sábado, com a estreia do espetáculo infantil Keka tá na moda, no Oi Futuro Ipanema. O texto de Helen Pomposelli, com direção de Ernesto Piccolo, faz um passeio pelos séculos 20 e 21, misturando arte, moda e cultura. Juliana será a personagem principal, uma menina de dez anos, a mesma idade de sua filha. “Vou dançar charleston, assistir a um show de jazz nos anos 40, mostrar a irreverência dos 60 e a onda hippie dos 70’’, destaca. Haverá, pelo menos, 20 trocas de roupa do elenco.

Expansão e pacote

A gigante norte-americana Tyco, grupo industrial focado em segurança eletrônica, proteção contra incêndio e controle de fluxo, quer aumentar em 25% seu faturamento no Brasil, que foi de US$ 100 milhões no ano passado. Amanhã e quinta-feira, os presidentes mundiais de seus três braços de negócios desembarcam no Rio para apresentar soluções integradas para a indústria de petróleo e gás.

Livre Acesso

Paula Morelenbaum faz, amanhã, o show Teleco-Bossa no Momento Cultural do TCE-RJ, a partir das 12h30, no Espaço Cultural Humberto Braga, na Praça da República, com entrada franca. A cantora acaba de voltar de uma turnê pela Europa.

A Ambev faz lançamento da Budweiser badalado para convidados, hoje à noite, no Bar do Hotel. A Budweiser foi considerada a marca mais valiosa pelo ranking da Milward Brown e chega num momento promissor ao mercado de cervejas premium no país, que ainda corresponde a 5% do mercado total de cervejas.

O publicitário e diretor de marketing da Ediouro Publicações, Lula Vieira, dá palestra gratuita sobre gestão criativa, hoje, às 19h, na Unisuam.

A chef Nancy de Souza, do Santíssima Gula, de Tiradentes, comanda de hoje a quinta-feira o jantar do Gabbiano, no Barra Garden, em comemoração pelos dois anos do restaurante.

Marcio Reisner, da COI - Clínicas Oncológicas Integradas, fala sobre câncer de pulmão e radioterapia na Jornada Pós Mundial de Câncer de Pulmão, sexta-feira, em Salvador. Os médicos Carlos Gil Ferreira, Mauro Zukin e Clarissa Baldoto, da equipe da COI, também participam do evento.

Julia Levy, superintendente de Audiovisual da Secretaria Estadual de Cultura do Rio, participa hoje, no MIS, em São Paulo, do Seminário Claro Curtas, promovido pelo Instituto Claro.

Carlos Motta, sócio do Tauil & Chequer Advogados, faz palestra sobre ofertas públicas de valores mobiliários, hoje, no 8º Seminário Anbima de Direito do Mercado de Capitais, em São Paulo.

Patricia Hall assina a lista de convidados do jantar da Mac Móveis e Santa Mônica Tapetes, hoje, no Oro.

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

DORA KRAMER - Fruta de entressafra

Fruta de entressafra
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 23/08/11

Toda vez que Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso, por alguma razão, são vistos juntos, surgem especulações sobre aproximações de natureza política. É fato que ambos, cada um a seu modo, tratam de alimentá-las. Mais recentemente, o ex-presidente manifestou apoio à dita faxina ética da presidente e ainda aconselhou a oposição a deixar para lá a ideia de criar uma CPI para investigar a corrupção no governo.

Dilma, por seu lado, aproveitou a solenidade de lançamento do programa Brasil sem Miséria para o Sudeste para falar em "pacto republicano e pluripartidário" em plena cidadela tucana, o Palácio dos Bandeirantes, ao agradecer a presença de FH na solenidade. Junte-se a isso o tratamento especial que FH recebeu de Dilma durante o almoço para Barack Obama e a carta elogiosa que lhe enviou por ocasião do aniversário de 80 anos e podemos tirar quais conclusões?

A rigor, nenhuma que guarde relação com projetos políticos em comum. A começar pelo referido "pacto" que só tem o nome: faltam-lhe os termos. Entre o ex e a atual nada há além de boa educação e cálculo político. Para Dilma interessa incorporar ao projeto do PT a parcela do eleitorado que não se reconhece nas grosserias de Lula. Para Fernando Henrique interessa incensar Dilma, a fim de acentuar a desaprovação a aspectos negativos do modo de agir de Lula.

Pessoalmente FH não tem planos eleitorais e Dilma seguirá o plano que Lula traçar. Por isso foi ela a escolhida por ele e não um político "de raiz" que pudesse dar-se a independências. Dilma e Lula não têm projetos políticos distintos: o que Lula quiser fazer será feito. Ele tem o partido e mais todo o entorno de expectativas de outras legendas nas mãos e ela não dispõe de autonomia para alterar os planos de longo prazo de poder, o que, obviamente, exclui qualquer tipo de aproximação com o PSDB.
José Serra e Aécio Neves, que estão na batalha, diferentemente de FH, entendem isso bem e por isso não atuam no mesmo diapasão do ex-presidente. Dilma e Fernando Henrique fazem como que as honras da casa na sala de visitas, enquanto os personagens da luta que voltará a ser travada em termos de preliminar em 2012 e ao molde de finalíssima em 2014, estão onde sempre estiveram: em campos estritamente opostos. O resto é conversa de tempos de estio. Pura fruta de entressafra e nada mais.

Gente diferente
O ex-presidente Lula tinha toda razão. O presidente do Senado, José Sarney, realmente não é uma pessoa como as outras. Não tem percepção do mundo em volta, não tem noção de limite, não tem amor próprio em grau suficiente para se preservar de certos vexames e não tem freio na expressão do cinismo.

Usa um helicóptero da Polícia Militar do Maranhão em translado de lazer à ilha de Curupu, leva junto um empresário amigo com interesses comerciais no Estado, atrasa com isso o atendimento a um homem com traumatismo craniano e alega que tem "todo o direito" ao transporte porque viajava a convite da governadora Roseana Sarney. Sua filha que o convidou para ir à própria casa de veraneio para passar fins de semana.

Sarney faz questão da liturgia, é exigente quanto a formalidades, mas é absolutamente descontraído quando se trata do uso e abuso da coisa pública. Por essas e muitas outras não pôde, ao completar 80 anos no ano passado, contar com as homenagens que recebeu este ano o também ex-presidente Fernando Henrique. Enquanto um é celebrado pela biografia o outro se vê enredado numa folha corrida.

Cobrança
O senador petista Walter Pinheiro não acha que o PT tenha razões para temer a "faxina" da presidente Dilma, concorda com medidas saneadoras, mas acha que o governo está devendo aquela que na opinião dele é a mais eficaz. "Falta tirar da gaveta do Collor o projeto da Lei de Acesso à Informação. É o melhor instrumento de transparência que existe e cria o ambiente para todo mundo trabalhar limpo".