domingo, outubro 21, 2012

Os que não votaram - LYA LUFT

REVISTA VEJA 


As notícias de todos os lados me dizem que o número de brasileiros que não votaram, isto é, abstenções ou votos nulos, cresceu grandemente, chegando a mais de 25% dos eleitores. Nestes dias tumultuados de novidades — com a atenção daqueles que pensam e observam presa no Supremo, que salva algo da nossa moral e dignidade, ou com um brevíssimo espreitar no segundo turno das eleições, com seu jogo nada original de busca pelo poder —, fiquei refletindo sobre a razão dessa abstenção, pois a votação é obrigatória, coisa que, aliás, considero erro e atraso. Se não tivermos liberdade de eleger nossos líderes, representantes, governantes, não deveriam nos forçar, ou recorreremos à abstenção.

Quanto a ela, vejo dois motivos possíveis. Primeiro, descrença e desalento. A proliferação de partidos e o troca-troca de legendas, além das fusões, alianças e conluios, nos desorientam e desestimulam. Afinal, quem é quem, nessa sopa de letrinhas, quem tem quais projetos, que liuais propostas são originais, reais e vão ser executadas? Os inimigos figadais aqui e ali dançam um minueto, antigos aliados hoje cruzam punhais em duelos estranhos ou cômicos, figuras inusitadas ou velhíssimos figurões desfilam, mas a gente não sabe direito a que vieram ou como voltaram aos palcos. Em segundo lugar, talvez falte interesse em saber, em deslindar, em escolher e decidir. Ou melhor, os interesses e as seduções são outros. Não nos abalam corrupção, falta de ética, despreparo, improvisações, o extraordinário nivelamento por baixo a corroer nossas universidades, agora com aumento das cotas, que nos farão descer ainda mais na posição entre as piores do mundo. Muito mais do que melhorar o país, queremos consumir. Estamos pouco exigentes: com crédito alargado, queremos comprar. Podemos e devemos consumir, nos dizem de muitos modos, podemos comprar qualquer coisa quase a perder de vista (grave engano). Comprar é muito mais divertido do que observar, analisar, escolher e, por exemplo, votar nas eleições. Tanta coisa original correndo por aí, como, por exemplo, meninas que vendem sua virgindade pela internet, e não é para comprar comida para os irmãozinhos menores, amparar a velha mãe, ou pagar a faculdade. Ambicionamos o que na verdade são bugigangas, que, se trocadas por uma atenção maior com a realidade do país e tantas carências que nos assolam, poderiam transformar nossa paisagem. (Claro que também tenho meus aparelhos, o universo eletrônico é imprescindível, mas não sei se por eles eu trocaria algo que acho sério.)

Não critico os milhões que se abstiveram ou votaram em branco, que aqui chamo, quem sabe injustamente (detesto rótulos, mas às vezes são necessários), de descrentes ou mesmo fúteis. Critico, embora sem resultado, eu sei, o sistema que nos toma conformados, que nos dá pão e circo em lugar de boa educação e preparo para bons cargos e funções. Critico a nossa sonolência e os encantamentos alienantes como poder comprar, comprar, comprar. E confesso que muitas vezes também me perseguem sedutores fantasmas de esquecimento, omissão e fuga: de me recolher à nossa casinha no mato e lá ficar apenas contemplando a natureza, escrevendo, saboreando afetos, sabendo que minha interferência seria um eco frágil perdido num enorme vazio de desinteresse. Também a mim espreita em alguns dias com seus olhinhos marotos a ideia inescrupulo-sa: um voto a mais não adianta nada, para que se incomodar, procurar saber, sair de casa e votar? Pois talvez adiante: um voto mais um voto, mais um voto, mais um voto — que acabam valendo mais do que o nosso fascinante objeto de desejo —, as coisas podem se transformar. Nem todo mundo é cego, surdo, mudo, ignorante ou conformado. Olhando bem, veremos que algumas coisas quase majestosas se movem no país. Quem sabe vai-se mover até mesmo a montanha do nosso desencanto.

Dias de ira - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA 


Com o julgamento do mensalão a caminho da sua fase final no STF, é realmente notável a extrema dificuldade, por parte dos condenados e de quem os apoia, de entender que precisam obedecer ao Código Penal quando estão no governo. Mudar o nome do cachorro não muda o seu temperamento, como todo mundo sabe; mas o PT e suas brigadas acham que, chamando de ‘‘vingança” o que é apenas sua derrota diante da Justiça, podem anular a realidade. Tudo o que têm a dizer, desde que a casa caiu, é: “Seja lá o que tenha acontecido, a culpa não é nossa; se a Justiça achou o contrário, é porque se aliou aos nossos inimigos”.
Fim da argumentação. Essa tentativa de colocar-se acima da lógica é ao mesmo tempo tola e inútil. Não consegue, simplesmente, mudar o que já aconteceu, mesmo com a turbinagem que vem recebendo de três homens que estiveram na linha de frente da política brasileira nos últimos 25 anos: o ex-presidente Lula, o ex-ministro José Dirceu e o presidente do PT na época do mensalão, José Genoino.Tudo o que conseguiram foi exibir à luz do sol o que cada um tem, de verdade, dentro de si — e o que mostraram não os recomenda, nem como pessoas nem como homens públicos.

O remorso, como se diz, sempre vem na hora errada — aparece depois da tentação, quando não serve mais para evitar o pecado. No caso do mensalão, para o PT e os seus grão-duques, o remorso não veio nem antes nem depois. Não há, após tudo o que foi provado na suprema corte de Justiça do país, o menor vestígio de arrependimento; ao contrário, os culpados vivem dias de ira. Lula, quando a coisa toda estourou sete anos atrás, pediu desculpas “ao povo brasileiro”. Hoje, com a própria pele salva, faz o papel do indignado número 1 — na verdade, considera-se vítima, e acha que é ele, agora, quem deve exigir desculpas. São vítimas bem estranhas, essas que Lula representa: se estão no governo federal e mandam em quase tudo neste país, como podem se colocar no papel de perseguidos? O ex-presidente, cada vez mais convencido de que é uma combinação de mártir,profeta e herói de si próprio, diz que sua biografia não será escrita pelos ministros do STF. Tem razão. A biografia de Lula está sendo escrita por ele mesmo — os atos que a contaminaram, do mensalão à aliança pública com Paulo Maluf, um foragido da polícia internacional, são de sua exclusiva responsabilidade.

Um segundo membro da suprema trindade petista, José Genoino, também optou por romper com o bom-senso em sua reação às condenações que recebeu. Alegou, e alegaram em seu favor, que não poderia ser condenado porque tem uma vida limpa; no seu entender, foi vitimado de modo “cruel” por “setores reacionários” que controlariam “parcelas do Judiciário” e da imprensa. Mas o que esteve em julgamento não foi a sua honestidade pessoal — foi o fato concreto de ter colocado sua assinatura em documentos destinados a executar uma fraude financeira envolvendo milhões de reais. Não foram os “reacionários”, nem os jornalistas, que assinaram esses papéis; foi ele mesmo — e se não sabia o que estava fazendo é porque não quis saber. Num conjunto de dez juizes, levou de 9 a 1. Estariam todos errados? No seu caso ficou, também, uma aula de ingratidão, quando comparou os jornalistas de hoje aos torturadores de ontem. Genoino conheceu muito bem uns e outros, e sabe na própria pele a diferença que existe entre eles; esqueceu, quando veio a adversidade, quem sempre lhe estendeu a mão. Como é bem sabido, o líder petista escreveu durante longo tempo uma coluna no jornal O Estado de S. Paulo. Suas declarações sempre foram publicadas. Foi o político do PT mais respeitado pela imprensa desde que voltou à política. No STF, além disso, recebeu um tratamento de príncipe: a ministra Cármen Lúcia quase pediu desculpas ao condená-lo. Por que, então, o rancor?

Ao terceiro nome da trinca, José Dirceu, sobrou, além de uma condenação por 8 a 2, o título de “guerreiro do povo brasileiro”, entoado pela tropa de choque que precisa usar hoje para poder sair à rua. Que guerra teria sido essa? Pela democracia certamente não foi. Sua guerra, na verdade, foi com o deputado Roberto Jefferson, que mandou para o espaço o sistema de corrupção montado no governo a partir de 2003. Ao entrar no jogo bruto com ele, Dirceu se arriscou — e perdeu. “Sai daí, Zé”, ouviu Jefferson lhe dizer, numa frase que ficará para sempre em sua biografia. Saiu, rápido, e sem um único gesto de Lula para defendê-lo. Não foi “linchado”, como diz desde sua condenação. Foi derrotado — só isso.

São Paulo quer mais um Tiririca - GUILHERME FIÚZA

REVISTA ÉPOCA 


O eleitorado de São Paulo, como se sabe, é dado a ataques de tédio. Volta e meia inventa um Enéas, um Clodovil, um Tiririca - e assim cria grandes fenômenos de votação pelo sim­ples prazer de ver um palhaço tocar fogo no circo. Na eleição de 2012, os paulistanos estão ameaçando mais uma travessura.

Apesar do enorme destaque em torno do julgamento no STF, a tragédia do mensalão não tem sido bem com­preendida pela opinião pública. Frequentemente o caso é classificado como um dos maiores escândalos de corrup­ção da história da República. O eleitor precisa entender que o roubo de dinheiro público é só um dos aspectos do mensalão. £ não é o mais grave.

Na maioria dos casos de corrupção envolvendo governos, a equação básica é o uso do poder como meio para o roubo. No mensalão, trata-se de roubo como meio para a permanência no poder. O dinheiro do valerio- duto era destinado essencialmente aos caixas do partido e do grupo político do presidente da República. Além da compra de votos no Congresso, servia também para despesas políticas gerais, custeio de candidaturas, alimentação da maquina partidária.

A grande chaga do mensalão não é a quantia roubada. E a ocupação da mais alta esfera de poder por um projeto político medíocre, no qual a energia para governar é desviada para os objetivos fisiológicos. Nos raros planos de governo propostos e executados pelo PT, como o Fome Zero, os resultados foram desastrosos. Pela simples razão de que ali não há planejamento, não há cérebros em busca de soluções, não há espírito público para fazer reformas estruturais - que podem ser eleitoralmente arriscadas.

A privatização da telefonia, que melhorou a vida de todas as classes sociais, jamais seria feita pelo PT. Era uma medida inicialmente antipática para a opinião pública, parecia ser a entrega “do que é nosso” (“nosso”, no caso, era deles - os pendurados no cabide estatal das telefônicas). Até hoje o partido se enche de votos demonizando as privatizações, com a tática desonesta e eficiente de defender minorias organizadas, como se estivesse defendendo o povo.

É típico desse projeto de poder, desmascarado pelo escândalo do mensalão, transformar o Ministério da Educação em degrau para a prefeitura de São Paulo. Num dos casos mais gritantes de inépcia administrativa já vistos no MEC, o então ministro Fernando Haddad conseguiu presidir três anos de descalabros seguidos na aplicação do Enem, transtornando a vida de estudantes no Brasil inteiro. Era uma época em que Haddad estava destacado por seus chefes (Lula e Dirceu) para um objetivo mais nobre: dar pinta nos palanques de Dilma Rousseff.

E aí está o governo Dilma, prestes a completar seu segundo ano sem um projeto relevante sequer, sustentado politicamente pela paz econômica da conjuntura - que nada têm a ver com ações governamentais. Uma presidente que assumiu para segurar a grande ocupação fisiológica, que demite os ministros que apodrecem em público, mas nem todos. Vide Fernando Pimentel, o consultor-fantasma das indústrias mineiras, um morto-vivo no Ministério do Desenvolvimento - cuidando do desenvolvimento petista, exatamente a mesma missão de Fer­nando Haddad.

O eleitorado de São Paulo é brinca­lhão. Cansou de ver em ação esse minis­tro marqueteiro, usando o MEC como plataforma de truques populistas, como defender livros didáticos com erros de português (“nós pega o peixe”) e até tor­rar dinheiro com propaganda oficial para sustentar o factoide. Mais um ministro candidato de labora­tório, escalado para fazer média com minorias organizadas, para fazer provocações rasteiras a um possível adversário de seus chefes em 2014, enfim, pau para toda obra.

Eis que esse militante travestido de administrador aparece em primeiro lugar nas intenções de voto para o se­gundo turno. Ou seja: o eleitor paulistano está entediado de novo. Está ameaçando botar um pouco de palhaçada na política para ver o que acontece.

Vamos antecipar aqui o que acontece: conversão da máquina da maior cidade do país em palanque para 2014. O resto é secundário, eles só pensam naquilo. Valérios, Valdomiros e Sombras devem estar salivando. Até porque o Supremo acaba de liberar a lavagem de dinheiro em campanha eleitoral.

O que estas eleições municipais ensinam ao Brasil - FERNANDO ABRUCIO

REVISTA ÉPOCA 


Numa democracia, as eleições têm o papel de de­finir, por meio de um processo livre, competi­tivo e justo, os futuros representantes e governantes. Nenhuma sociedade inventou uma forma melhor de seleção e controle político. A disputa pode ter tam­bém outros atributos positivos. Traz lições importan­tes para os candidatos - a classe política - e para os cidadãos. Se tais ensinamentos forem bem captados, a sociedade pode amadurecer em termos políticos.

Claro que cada eleição tem sua especificidade. Tivemos recentemente um pleito que aconteceu em 5.568 municípios. Em alguns, a peleja ainda não ter­minou, pois há segundo turno. O tema principal da disputa teriam de ser questões locais. A primeira lição que observei nas capitais em que acompanhei o ho­rário político foi o desconhecimento da maioria dos candidatos a prefeito e vereador sobre seu papel.

Milhares de candidatos concorreram sem saber obue poderiam fazer se fossem eleitos. Alguns pro­puseram um poder de polícia que os municípios efetivamente não têm. Pleiteantes à vereança falaram de temas cuja competência para legislar é da União. Como resolver esse problema? Em primeiro lugar, aumentando a informação para os candidatos, por meio de partidos e Tribunais Eleitorais. Partidos não podem ser apenas depósitos de concorrentes. Devem ajudar a formação política de seus membros.

A mídia e os órgãos da sociedade civil que acom­panham as eleições também precisam participar, de maneira mais eficaz, do processo formativo da classe política. Não basta acompanhar a disputa como um mero campeonato por votos ou averiguar se os con­correntes têm “ficha limpa”. Esses são dois pontos importantes, mas a informação eleitoral tem de mos­trar o que os futuros eleitos podem fazer na prática.

Nas capitais, muitos dos principais concorrentes conheciam pouco ou de maneira estereotipada os principais problemas municipais. A lista do que deveria ser prioridade era quase sempre imensa, ge­ralmente um sinal de que os candidatos tinham um frágil conhecimento do que deveriam fazer. Além da proposta de resolver todos os temas de políticas públicas, a postura recorrente era colocar-se como oposição à situação atual. Até candidatos ligados ao governante pareciam oposicionistas.

Uma boa candidatura a prefeito tem de conhecer os temas mais problemáticos, que menos avança­ram nas últimas administrações. Precisa conhecer as políticas públicas e ter uma visão que interligue os problemas da cidade. Em São Paulo, como noutras capitais, a grande questão não é a saúde ou a educação isoladamente. A preocupação central deveria ser como organizar o espaço urbano de modo a valorizar o capital humano, tendo como fim a melhoria do bem-estar. A dinâmica região central (ou nobre) versus periferia ainda é a forma mais clara de perceber as carências dos grandes municípios.

Outra estratégia na eleição foi fuga para temas morais. Candidatos a prefeito e a vereador deveriam estar menos preocupados em ser “queridinhos” das igrejas, pois o posto de Deus ou de seu representante na Terra não estava em jogo. O Estado deveria ser um instrumento para garantir a liberdade de crença e opinião, sem se po­sicionar por algum lado ou se imiscuir demais no terreno escorregadio da moral privada.Tal postura muitas vezes nem é sincera, como no fundamentalismo religioso que penetrou, infelizmente, a política partidária em alguns países. Trata- se apenas de uma tática para conquistar eleitores. Ou alguém acredita que José Serra fará uma política aos moldes da Assembleia de Deus para a sexualidade? Isso não condiz com sua história, e ele perderia alia­dos se fizesse isso na prefeitura de São Paulo.

A maior lição para os candidatos é que, na dis­puta municipal, eles devem se concentrar nos temas locais e se preparar adequadamente para resolvê-los. Todo o resto é acessório. É interessante ver como o dia seguinte das eleições foi tomado por discussões sobre os efeitos do pleito sobre o plano nacional. A atenção da opinião pública deveria estar muito mais voltada para saber se os eleitos ou os concorrentes no segundo turno têm propostas claras e corretas para os dilemas das cidades.

O debate sobre a especificidade municipal das eleições terá mais chances de ocorrer quando os ci­dadãos exercerem mais seu papel de citadinos. Ao fi­nal de toda eleição local, fico pensando: por que nãa fazer com que cada região das metrópoles tenha uma plenária com os principais candidatos? Por que não fazer com que só possa concorrer a prefeito aquele que apresentar programas com metas por setor de política pública e região da cidade? Por que não criar espaços no horário eleitoral em que os concorrentes tenham de ouvir perguntas e sugestões de eleitores escolhidos aleatoriamente? Para minha cidade, São Paulo, fica a questão aos dois competidores: o que farão com as subprefeituras? Vão tomá- las um espaço de participação cidadã ou dá-las a apadrinha­dos políticos ou tecnocratas?

Tudo isso pode parecer ro­mantismo, ao estilo dos defen­sores da democracia ateniense. Bobagem: há cidades pelo mundo com mais par­ticipação da população na discussão dos assuntos públicos. Isso tende a aumentar no século XXI, graças às mudanças tecnológicas e à maior preocupação com a sustentabilidade. Se não criarmos mais espaços dl interlocução e deliberação, não só ficaremos para trás em relação a outros lugares. Escolheremos candidatos e teremos governos piores. E mais: teremos a sensação de que a eleição se resume, para a maioria, ao dia do voto, a uns poucos debates na mídia e talvez à lem­brança de uma carreata que passou no fim de semana no bairro. Francamente, podemos e precisamos ter mais cidadania em nossas eleições municipais.

A hora do Brasil - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 21/10


O sociólogo italiano Domenico De Masi, autor, entre outros, de "O ócio criativo” está escrevendo um livro sobre o Brasil. Para ele, que conhece bem esta terra, o país, depois de viver 450 anos sob a influência europeia e uns outros 50 sob a americana, tende a andar com as próprias pernas:
— Afinal, tanto a Europa como os EUA estão em crise.

As voltas que...
Aliás, quarta, num jantar no Rio com formadores de opinião (jornalistas, humoristas, esportistas, gente da política etc.), Fernando Fernandez, presidente da gigante anglo-holandesa Unilever no Brasil, disse que o país tem superado as expectativas da empresa, que não para de crescer por aqui.
Sobretudo, no Rio e no Nordeste.

Mas...
O mais interessante foi o que o executivo disse sobre a Europa.
Segundo Fernandez, lá, por causa da crise, a Unilever tem mirado no... empobrecimento, com foco na criação de produtos que custem... um euro (!), pois a população não tem mais dinheiro para consumir como antes. Deve ser terrível... você sabe.

Só por e-mail
O ministro Joaquim Barbosa, do STF, que rivaliza em popularidade com Carminha, só analisa pedidos de audiência feitos... pela internet.
A resposta, sim ou não, também é dada exclusivamente por e-mail.

Dores de coluna...

Aliás, passado o julgamento do mensalão, Joaquim vai à Alemanha para uma consulta médica.

Menino do Rio

Aécio Neves vai mudar de endereço... no Rio. Trocará o Leblon por Ipanema. Ah, bom!

O DOMINGO É...
...de Nanda Costa, 26 anos, linda atriz nascida em Paraty, RJ, que, a partir de amanhã, terá um dos maiores desafios de sua carreira - estreia na TV Globo como Morena, a protagonista de “Salve Jorge”, a novela de Glória Perez que substituirá “Avenida Brasil”. A personagem é nascida e criada no Complexo do Alemão. Salve Nanda! 

Xixi no Louvre
Acredite. Estes dias, no Louvre, em Paris, um brasileirinho de uns 3 anos baixou a calça, pôs o juninho para fora e... fez xixi aos pés de uma escultura.
Foi um corre corre. Os pais, roxos de vergonha, perguntaram: "Por que você fez isso?!" E o miudinho, apontando aquelas estátuas com bilaus de fora: "Pode, mamãe, pode" Há testemunhas.

Madureira chorou
Zaquia Jorge (1924-1957), saudosa vedete do subúrbio da Central, no Rio, vai ganhar uma biografia. É escrita por Vagner Fernandes, autor de "Clara Nunes, guerreira da utopia’!
A atriz morreu afogada na Barra, em 1957, e muitas músicas foram feitas em sua homenagem, entre as quais o clássico "Madureira chorou’ (Carvalhinho e Júlio Monteiro), gravado por vários sambistas.

Amaury Jr. dos anônimos

Surgiu no Rio uma produtora de TV especializada em cobrir festas de... gente anônima.
Criada por um grupo de jovens, produz, para quem contrata seus serviços, um programa no estilo de Amaury Jr. Depois, o resultado vai para a internet. Chama-se Rey da Imprensa e tem feito uns sete programas por mês.

Lady Gloss

A próxima revista "Luluzinha Teen’ chegará às bancas com uma paródia de Lady Gaga, que cantará no Brasil mês que vem.
A personagem Glorinha, veja a capa, assume o nome Lady Gloss e faz shows em que imita a cantora americana.

Lego no Rio
A gigante dinamarquesa Lego, que fabrica aqueles famosos bloquinhos de montar, vai abrir uma loja própria no Rio, sua segunda no Brasil (a primeira fica em São Paulo).
Deve ser inaugurada no início de dezembro, no Rio Design Barra.

Via Dutra
Jacques Janine, a rede paulista de salões de beleza criada em 1958, vai abrir em novembro sua primeira loja no Rio, em Copacabana.

Novela rica
A São Clemente, cujo enredo para 2013 são as novelas do horário nobre da telinha, foi autorizada pelo MinC a captar R$ 4.126.200 para seu desfile.

Alô, xerife Beltrame!
Seguem os ataques de ladrões à luz do dia a alunos das escolas de Botafogo e Humaitá, no Rio.
Sexta, mais três adolescentes foram cercados por gatunos na Rua Visconde Silva. Um deles, da Escola Sá Pereira, ficou sem o iPhone.

Tchau, tchau, tchau

Débora Falabella, com o fim da novela "Avenida Brasil’? na qual brilhou como Nina, planeja se mudar do Rio.
Deseja voltar a morar em São Paulo, onde tem casa.

Células-tronco: o tempo é o senhor da razão - IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/10


Pela CNBB, defendi em 2008 no STF não matar embriões. Citei as células-tronco adultas, mais eficientes. Perdemos. O Prêmio Nobel mostra agora nossa razão


Em 29 de maio de 2008, com grande cobertura da imprensa, aconteceu o início do julgamento da constitucionalidade da lei sobre a utilização de células embrionárias para experiências científicas.

Isso aconteceu por força da Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria-Geral da República, que entendia ser inconstitucional a destruição de seres humanos em sua forma embrionária.

Representando a CNBB, mostrei, da tribuna do STF, que tais experiências -um fantástico insucesso nestes 15 anos de pesquisas em todo o mundo- seriam desnecessárias.

Dizia isso pois, três meses antes, o médico japonês Shinya Yamanaka conseguira, reprogramando as células-tronco adultas (células do próprio organismo humano), obter os mesmos efeitos pluripotentes -ou seja, a possibilidade de dar origem a praticamente todos os tecidos do organismo humano.

Alegava-se que pluripotentes eram as células embrionárias. Elas seriam indispensáveis para o sucesso das experiências. Mas essas experiências, na verdade, foram sucessivamente mal sucedidas.

Dizia-se ainda, à época, que as células tronco adultas teriam efeitos apenas multipotentes, curando algumas doenças e não todas. Apenas as células embrionárias poderiam curar todas as doenças, quando fossem solucionados os problemas de rejeição e formação de teratomas (tumores).

Mostrei, na ocasião, que a Academia de Ciências do Vaticano -que possuía, então, 29 prêmios Nobel, no quadro de seus 80 acadêmicos- discutira a matéria, concluindo que o zigoto (primeira célula) é um ser humano, com todos os sinais que constituirão a sua integralidade, quando adulto.

Mostrei, inclusive, que, nos Estados Unidos, já ocorria a adoção de células embrionárias por casais sem filhos e que, na Alemanha, as experiências com células embrionárias não podiam ser feitas com material proveniente de mulheres alemãs, mas apenas com óvulos de mulheres de outros países.

Por fim, para não alongar este artigo, cercado por uma legião de cadeirantes, mostrei-lhes que as experiências com células embrionárias geravam tumores e rejeição nas experiências realizadas com animais.

Isso não acontecia, porém, nas experiências de reprogramação celular de Thompson e Yamanaka, por serem células do próprio organismo.

O certo é que, por seis votos a cinco, o Supremo Tribunal Federal optou pelas experiências com a destruição de seres humanos na sua forma embrionária, provocando inversão maior de recursos públicos nas experiências mal sucedidas (apesar das questões éticas envolvidas) e menor nos bem sucedidos experimentos com células adultas.

Felizmente, a Academia Sueca, ao outorgar o Prêmio Nobel a Yamanaka, sinalizou o que realmente se pode esperar das experiências com as células adultas reprogramadas para efeitos pluripotentes, que não geram rejeição, teratomas ou problemas éticos de qualquer natureza.

O prêmio à Yamanaka demonstra nitidamente que as experiências com as células embrionárias não sensibilizaram os acadêmicos suecos.

O tempo é sempre o senhor da verdade.

Supertécnicos - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 21/10


Aos poucos, o estilo do futebol brasileiro, orgulho nacional, foi modificado e dilapidado. Criaram outro futebol.

Muitas equipes passaram a jogar com três zagueiros (três autênticos ou dois e mais um volante-zagueiro) a fazer marcação individual, como a de Adriano sobre Ronaldinho, no jogo entre Santos e Atlético, a jogar com dois ou três volantes brucutus, para proteger os zagueiros e fazer a cobertura dos laterais, a ter um único meia responsável por toda a criação de jogadas, a dar chutões, a privilegiar jogadas aéreas, a cometer um absurdo número de faltas e a tumultuar as partidas. Tudo programado e compartimentado.

Os técnicos criaram verdades e dogmas para justificar essa mediocridade coletiva, com o apoio de parte da imprensa. Todas as partidas passaram a ser analisadas a partir da conduta dos técnicos. Havia até um programa na TV, o "Super Técnico". Era duro assistir a tanta prepotência.

O futebol feio, ineficiente e violento atingiu níveis insuportáveis. Até a turma do oba-oba tem reclamado. Muitas coisas começam a mudar, timidamente. São ilhas de esperança. Algumas partidas são excelentes, como a entre Fluminense e Grêmio, dois times organizados, que colocam a bola no chão. O jogo foi do mesmo nível técnico dos grandes clássicos europeus.

A mediocridade convive com alguns excelentes jogadores, geralmente veteranos, e com Neymar, um fenômeno. Ele, se tiver, com frequência, as mesmas atuações contra as melhores equipes do mundo, seja atuando pelo Santos, pela Seleção ou por um dos grandes times da Europa, se tornará um dos maiores jogadores da história do futebol mundial. Acho que isso é questão de tempo.

Um clube que tem um Neymar não possui um rápido e bom atendimento a atletas com graves problemas na partida. Muito mais importante que a entrada da ambulância é ter condições técnicas, tecnológicas e médicos capacitados para atender os jogadores, conduzi-lo à ambulância bem equipada e, em seguida, ao hospital. Na Inglaterra, exemplo de organização, as ambulâncias não entram no gramado. Todos os estádios brasileiros têm de ser, com frequência, vistoriados.

Quando a seleção, mesmo contra adversários medianos, como o Japão, mostra dois zagueiros que têm bons passes, volantes que marcam e atacam com qualidade, e quatro jogadores adiantados que são meias e atacantes, cria-se uma esperança de que o Brasil possa ter um ótimo time na Copa e que isso provoque mudanças nas equipes brasileiras.

Outros acham que, para reagir, a única solução é jogar mais e perder o Mundial. Cresce também o número de indiferentes. Penso que, depois da Copa, independentemente do que ocorrer, nosso futebol nunca mais será o mesmo, para melhor ou para pior.

Jogo decisivo

Hoje, se o Atlético não ganhar, termina o sonho de ser campeão brasileiro de 2012. O time precisa jogar com raça, mas sem nervosismo, com velocidade, mas sem pressa, com ousadia, mas sem desespero para fazer um gol na frente e sem deixar de ter cuidados defensivos contra o Fluminense.

Pena que Alex não tenha vindo para o Cruzeiro. Ele, além de craque, é um jogador especial. Está entre os grandes jogadores da história do clube celeste. Obviamente, com 35 anos, não será o mesmo de 2003. Mesmo assim, seria um grande reforço. Jogadores como o argentino Walter Montillo se aproveitariam de sua presença no time.

Quando termina a novela - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA


Pegar a estrada é o primeiro pensamento de quem encerra uma etapa da vida

A atriz havia passado os últimos meses na pele de uma personagem atormentada, vulcânica, daquelas que não tem um dia de sossego. Era de se supor que ela estivesse dando o sangue pra interpretar uma mulher tão diferente dela mesma, ela que na vida real parecia ser bem tranquila.

Foi então, na festa de encerramento, quando o elenco se reuniu para assistir ao último capítulo juntos, que o repórter se aproximou da estrela e perguntou: Para onde você irá viajar quando terminar a novela?.

Ele não perguntou “se” ela iria viajar. Perguntou direto “para onde”, sem a menor dúvida de que essa era a única opção após tanto empenho – nem passou pela cabeça do jornalista que ela poderia emendar um personagem no outro. E de fato, ela não emendaria. Respondeu que pretendia passar um mês em alguma praia deslumbrante e secreta, sem especificar em que lugar exatamente.

Quando termina a novela, a primeira providência é preparar a mala e se mandar.

O mesmo se dá nas novelas particulares, fora da tela. O que não falta é dramalhão no nosso cotidiano. A pessoa se doa, se escabela, chafurda em lamentações, quase enlouquece, até que o desgaste se confirma (seja o de uma relação, de um drama familiar, de um projeto profissional) e chega-se ao último capítulo, pois sempre há um fim.

E entre o fim e um novo começo, há que se recuperar a energia, abandonar o “personagem” e marcar um encontro consigo próprio, de preferência bem longe do cenário onde foram vividas as agruras. Pegar a estrada é o primeiro pensamento de quem encerra uma etapa da vida.

Viajar tem essa função terapêutica – também. Pretende-se que seja um divisor de águas, um momento de desconexão com o passado e de preparo para um futuro que promete ser mais promissor. E como tudo que foi intenso exaure nossas forças, espera-se que uma viagem (para um local paradisíaco, de preferência), acelere o reestabelecimento.

Claro, pode ser também para um lugar lúgubre, abandonado, sem energia elétrica. Há quem não queira ver ninguém, não queira ser interrompido em sua introspecção, e se embrenha num lugarejo fora do mapa, na esquina de Deus nos Acuda com o Fim do Mundo.

Mas geralmente procura-se o belo e o alegre – desde que se conte com um bom pé-de-meia. Separou? Itália. Encerrou um tratamento quimioterápico com sucesso? Porto de Galinhas. Pediu demissão depois de 23 anos na mesma empresa? Um cruzeiro pelo Caribe. Passou no vestibular? Garopaba. É preciso comemorar. Terminou a novela.

Algumas pessoas carrancudas não sabem o que se ganha com uma viagem. Chamam de fuga, e uma fuga bem cara. Gasta-se uma nota preta para trazer de volta apenas fotografias. Qual o retorno de se comprar um bem imaterial? Não é melhor investir num carro, renovar o guarda-roupa, trocar de computador?

Quando acaba a novela, nem carro, nem guarda-roupa, nem iniciar outra novela na sequência. Hora de sair de cena para recuperar o fôlego até que a próxima inicie – porque sempre haverá outra.

A atenção - DANUZA LEÃO

FOLHA DE SP - 21/10


Mais que tudo, o que todos queremos, do berçário à mais provecta idade, é o bem mais precioso: atenção



Afinal, o que todos queremos da vida -além do básico, claro? Bem, para começar, é preciso definir o que é o básico.

O básico é igual para todo mundo, seja você banqueiro ou Zeca Pagodinho: um bom Jaqueirão para receber os amigos, saúde, uma certa beleza física, algum dinheiro, que não faz mal a ninguém, um pouco de amor, que faz bem enquanto dura e mal quando acaba, e por aí vai. Mas mais que tudo, o que todos queremos, do berçário até a mais provecta idade, é o bem mais precioso: um pouco de atenção.

Para isso, somos capazes de tudo; uma criança, na hora de deitar para dormir, quer a presença da mãe, só olhando. Muito mais tarde, mesmo depois dos 40, os homens vão fazer o que mais gostam -surfar-, e querem que a namorada fique sentadinha na areia, só olhando.

Ninguém suporta ser completamente anônimo, e por isso as pessoas passam a vida buscando o dinheiro, a beleza, o poder ou a fama, para serem reconhecidas pelo garçom quando entram num bar.

Tem gente que vai ao mesmo restaurante só por isso, só se hospeda no mesmo hotel, e outros -mais do que você pensa- contratam um divulgador, essa profissão tão moderna, para cuidar de sua imagem, o que significa conseguir publicar uma foto ou uma notinha no jornal de vez em quando. Para quê? Ora, para existir; Nizan Guanaes já disse que o marketing é tudo na vida das pessoas.

Crianças fazem tudo o que passa pela cabeça; sem nenhuma censura, elas choram e gritam para chamar atenção; mais tarde, quando aprendem que não podem mais abrir o berreiro, vão por outros caminhos, para terem certeza de que existem. Umas se vestem de paetês, outras se queixam de doença -e às vezes se esforçam tanto que ficam doentes mesmo, e dá para entender: qualquer coisa na vida, qualquer, é melhor do que a indiferença.

Uns engordam, outros pintam o cabelo de verde, alguns tentam uma carreira de sucesso, de preferência no show business, para serem sempre notados, e quanto mais notados, melhor. Não se trata apenas de vaidade: é uma questão de ter a consciência de que estamos vivos, e se ninguém nos olha é porque não estamos. E se não estamos, de que adianta ter um coração batendo?

Por que você gosta tanto de ir ao médico? No curto tempo de uma consulta -e não se está falando de saúde- a atenção é toda dirigida a você; existe alguma coisa melhor do que ter alguém, mesmo que seja um estranho, perguntando como vai seu apetite, se tem dormido bem, que diga que você precisa deixar de fumar? Atenção: são raros os que fazem isso, pois a maioria pede uma lista de exames e diz para você voltar com os resultados.

E os analistas? Esses são maravilhosos: durante 50 minutos você tem uma pessoa inteligente que ouve os maiores absurdos, compreende tudo -que delícia-, justifica tudo -melhor ainda- e você até sente que não está mais só no mundo. Se ninguém te dá atenção você não existe, daí o drama dos famosos quando voltam ao anonimato.

Atenção verdadeira é fundamental. Quando sua empregada disser que está resfriada, tire dois minutos -só dois- do seu dia, que tem 1.540, para saber o que ela está sentindo, e diga para ela pegar no banheiro o vidro de vitamina C que você trouxe de Nova York e tomar três por dia. Lembre-se de que é ela quem serve seu café da manhã, leva um chazinho quando você chega cansada, tira gelo, lava e passa sua roupa e faz tudo para te agradar.

E quando chegar em casa à tarde, esqueça-se, apenas por uns segundos, do mensalão, das eleições, do seu cabelo que está péssimo, e pergunte se ela está melhor.

Não adianta ter todo o poder e todo o dinheiro do mundo se ninguém pergunta se você melhorou da gripe.

Gastar ou poupar? - PAULO SANT’ANA

ZERO HORA - 21/10


Nunca distingui direito se dinheiro foi feito para gastar ou para poupar.

Muitas vezes, me vejo indeciso sobre se devo guardar determinada quantia em dinheiro que ganhei ou se devo gastá-la.

Tenho certeza de que você, meu leitor ou minha leitora, também não sabe o que fazer com o dinheiro que porventura recebe: enruste-o na poupança ou dissipa-o no shopping?

A gente fala isso e se esquece dos nossos irmãos que recebem todos os meses seu dinheiro contadinho, o salário justo e insuficiente: estes não têm como poupar nunca.

Mas, para aqueles a quem sobra alguma coisa, eu tenho um conselho sábio para sair desse dilema de gastar ou poupar.

Faça o seguinte: compre a crédito. Ao comprar um bem a crédito, seja um fogão ou um carro ou apartamento, você está gastando e investindo ao mesmo tempo.

Ou seja, desfaz-se do dinheiro, adquirindo algo a crédito. Além disso, você investe no bem que está adquirindo. Este é um estratagema muito inteligente para quem fica indeciso entre poupar ou gastar.

É preciso ter bem presente que o crédito é uma das maiores invenções da humanidade.

Pelo crédito, a gente pode gastar, pagando as prestações, antes de ter feito jus ao valor das prestações, isto é, se gasta para pagar no futuro, só depois de vir por acaso a receber.

Lembro-me a propósito de que tudo que adquiri em minha vida foi pelo crédito. Se não fosse pelo crédito, não teria adquirido nada. Porque só se adquirem à vista coisas de pequeno valor.

Eu sempre poupei só pagando prestações. E, em última análise, só gastei com pagamento à vista em coisas urgentes para minha sobrevivência, como o supermercado, a farmácia, o restaurante.

Conheço pessoas humildes que só podem comprar vestidos, roupas e sapatos pelo crediário. Se não fosse o crediário, teriam de andar nuas pela rua.

Entre as pessoas das minhas relações, nunca vi uma sequer que tenha adquirido um carro, um apartamento ou uma casa à vista. E vi que muitas pessoas que conheço enriqueceram comprando imóveis a prazo.

Tem gente até que se baseia nisso para comprar bens valiosos a prazo, mesmo tudo indicando que não vai poder pagar as prestações estabelecidas. “Se o Brás é tesoureiro, a gente ajeita no final”.

Mas tem gente que gasta tudo que ganha na hora em que ganha. E tem gente perdulária que só se sente feliz ao gastar o dinheiro. São os que dizem que dinheiro foi feito para gastar, no que não deixam de ter um pouquinho de razão.

O fato indiscutível é que o dinheiro foi feito para dois fins: ou gastá-lo ou poupá-lo.

E quase sempre as pessoas decidem fazer uma das duas coisas tendo em vista suas circunstâncias.

Eu devo ser como todos: poupo e gasto. E a verdade é que nunca me arrependi nem de poupar nem de gastar.

Gastar é bom, mas poupar é previdente.

Gastar é gozar a vida no presente, poupar é assegurar a vida no futuro.

Mas com esta incerteza das ruas e essa insistência das doenças, quem é que pode garantir que existirá o futuro?

O STF dará o tom - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 21/10


O Supremo Tribunal Federal (STF) está a poucos dias do fim do julgamento da Ação penal 470, vulgo mensalão, mas ainda ficará muito tempo dedicado a temas políticos. Se brincar, deflagrará em breve até a reforma política, tão propalada aos quatro ventos — e que nunca sai do papel. Há alguns anos tramita ali a Arguição de Preceito Fundamental 161, feita pelo PR, para tentar barrar o parágrafo segundo do artigo 109 da Lei Eleitoral. Esse artigo hoje define parte da distribuição das vagas de deputados federal e estadual, e vereadores entre os partidos.

Apenas para lembrar àqueles menos acostumados aos meandros da política, o quociente eleitoral é obtido quando se divide o número de votos válidos pela quantidade de vagas. Obviamente, “sobram” algumas dessas vagas. Essas sobras, em vez de serem distribuídas entre todos os partidos que participaram do pleito, terminam nas mãos dos maiores, que atingiram o quociente eleitoral. Isso porque a Lei Eleitoral em seu artigo 109 parágrafo segundo diz o seguinte: “Os lugares não preenchidos com a aplicação dos quocientes partidários serão distribuídos mediante observância das seguintes regras: (…) § 2º — Só poderão concorrer à distribuição dos lugares os partidos e coligações que tiverem obtido quociente eleitoral”.

Em São Paulo, por exemplo, o quociente foi de 103.843 votos. Se um partido fizer 208 mil votos, tem direito a duas vagas na Câmara municipal. Se alcançar 210 mil, fica com as duas e ainda tem direito a ver se pega mais uma nas “sobras” da conta. O PDT, por exemplo, obteve perto de 97 mil votos, somando os de legenda e os recebidos por seus candidatos. Ainda que essa votação seja maior do que a sobra de votos de alguns partidos depois de distribuídas as vagas pelo quociente, o PDT não terá direito a uma vaga na Câmara de vereadores, ainda que tenha mais votos do que a “sobra” daqueles que já conquistaram vagas pelo quociente.

Essas “sobras”, mal ou bem, têm ampla repercussão no Congresso e nas câmaras municipais. Vejamos, por exemplo, o caso do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP). Ele voltou ao Congresso guindado por Tiririca. Já outros que obtiveram mais votos do que Valdemar terminaram fora. Nas câmaras de vereadores pelo país afora, essa situação se repetiu este ano.
Dentro do Congresso, há quem veja na simples revogação do parágrafo 2º, o embrião da reforma política. Pelo menos, depois de feita a distribuição das vagas pelo quociente eleitoral, as que restassem estariam acessíveis a todos os partidos e quem obteve mais votos estaria eleito. Haveria assim, na avaliação de políticos, e até de alguns ministros do STF, mais respeito à vontade do eleitor.

O relator da ADPF 161, ministro Celso de Mello, um dos decanos da Casa, dificilmente terá tempo de colocar o tema em pauta antes de se aposentar. É pena. Mas, no Congresso, onde a reforma política permanece encantada, muitos acreditam que será o Supremo, ao analisar esse dispositivo da Lei Eleitoral, o motor propulsor. E deve ser logo, enquanto 2014 ainda está longe no calendário, mas não nas articulações políticas.

Enquanto isso, nos palanques…

Nesses sete dias que restam até o segundo turno das eleições, o humor do eleitorado apresenta um equilíbrio. Nas capitais, o mesmo PT que desponta com maiores chances em São Paulo contra o PSDB de José Serra, passa aperto em Salvador contra o DEM de ACM Neto. Não por acaso, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniu com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) na última semana, levantando o Nordeste como terra promissora.

Está cada vez mais claro para os tucanos que São Paulo será terra em litígio em 2014, sem que tucanos ou petistas saiam com uma ampla vantagem. Logo, quem quiser enfrentar a disputa presidencial com alguma chance, tem que fincar bandeiras em outras praças, em especial no Nordeste. Lá, seis das nove capitais têm segundo turno no próximo domingo. Não é à toa que os petistas concentram esforços em Salvador e prometem levar Lula a João Pessoa e a Fortaleza, onde o adversário é o PSB dos irmãos Cid e Ciro Gomes. Sinal de que a batalha pela região no mercado futuro já começou, assim como o horário de verão. Não esqueça de ajustar seu relógio.

Palavras, palavras - CARLOS HEITOR CONY

FOLHA DE SP - 21/10


RIO DE JANEIRO - Aprendi alguma coisa de útil ao acompanhar os debates no STF da ação penal 470. A começar pela dicotomia do assunto, que para alguns era o mensalão e, para outros, a própria ação penal 470. A lição que aprendi, tardiamente, é a fragilidade dos sinônimos -que, em linguagem verdadeira, não existem.

Enquanto na literatura o uso de sinônimos é recomendado, e as boas metáforas são permitidas e até elogiadas, na linguagem jurídica cada palavra tem significado próprio, exclusivo. Shakespeare repetia vocábulos ("words, words, words"). Gertrude Stein não fez por menos: "A rosa é uma rosa, uma rosa". Apollinaire comparou as nossas incertezas humanas aos caranguejos; terminou sua famosa estrofe com uma repetição: "à reculons, à reculons" -recuamos, recuamos.

Pulando para o STF: no julgamento relativo à formação de quadrilha, o Ministério Público falou em "quadrilha" e "associação" -obrigando o revisor do processo a absolver os acusados. Em textos literários, as duas palavras podem ser entendidas como sinônimos. Na austeridade do texto jurídico, são completamente diversas.

A Associação Brasileira de Imprensa e a Associação Cristã de Moços não podem ser consideradas quadrilhas, que são associações permanentes ou eventuais com o objetivo de cometer crimes. Como citaram vários ministros, são "societas sceleris".

Repetir palavras é considerado crime em literatura. Há o caso do repórter que foi advertido pelo seu chefe a respeito de repetições.

Na reportagem seguinte, o rapaz foi cobrir a agressão de um pescador que sovou a mulher por causa de peixes. No texto do repórter, está dito que "João da Silva chegou da pescaria, jogou na pia uma fiada de peixes e pediu: 'Mulher, frite os mesmos'".

O recuo da Aneel - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 21/10


Desautorizado publicamente pelo ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Luiz Inácio Adams, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, teve de recuar e rever as ameaças que fizera, na semana passada, às concessionárias do setor elétrico que não aceitassem, até a segunda-feira (15/10), as condições impostas pelo governo para a renovação das concessões. Hubner dissera que a Aneel poderia impedi-las de participar de novas licitações.

Foi um recuo parcial. "Em tese, podem participar, mas isso será discutido mais adiante", disse Hubner ao jornal Valor (17/10), durante encontro em São Paulo em que autoridades, dirigentes de empresas e investidores do setor elétrico discutiram as regras da Medida Provisória (MP) 579 para a renovação das concessões que vencem entre 2015 e 2017. O ministro-chefe da AGU, no entanto, deixou claro que não há o que discutir - nem agora nem "mais adiante" - a respeito da participação das concessionárias nos novos leilões. "Se o concessionário achar que as condições (estabelecidas pela MP) não são adequadas, ele pode entregar o ativo e participar da licitação", afirmou Adams.

O esclarecimento do chefe da AGU elimina parte das incertezas e da insegurança geradas pela decisão do governo de editar às pressas, sem consulta ampla ao setor, uma MP tão complexa, que envolve cálculos de indenizações estimadas em bilhões de reais e alterará a rentabilidade das empresas da área, entre elas a estatal Eletrobrás. Louve-se, a propósito, o gesto do diretor-geral da Aneel de reconhecer o "atropelo" na definição das novas regras, pelo qual pediu desculpas. Na tentativa de dar um pouco de tranquilidade para o setor, disse que "as coisas serão ajustadas ao longo do tempo".

Por decisão do próprio governo, porém, o tempo é muito curto. Foi exíguo para as concessionárias manifestarem o interesse em renovar as concessões, mesmo sem conhecer os critérios que balizarão os cálculos da indenização. Assim, elas tiveram de decidir "no escuro" em termos financeiros. Mas isso foi apenas o início. Uma decisão suficiente apenas para garantir às concessionárias a possibilidade de poder optar pela renovação da concessão. Elas continuarão pressionadas a decidir com rapidez. Até o dia 1.º de novembro, o governo divulgará a fórmula do cálculo das indenizações por investimentos não amortizados e as concessionárias terão de aceitar ou rejeitar essa fórmula até o dia 4 de dezembro.

Mas isso é só uma parte, talvez a menos complicada, dos problemas criados pela MP. Os controladores de 14 das 123 usinas cujas concessões vencerão nos próximos anos não pediram a renovação da concessão. Dessas, as que causam maior preocupação são três operadas pela estatal estadual Cemig, de Minas Gerais - as Usinas de Jaguara, São Simão e Miranda.

A resposta do governo beira o simplismo. O concessionário que não quiser aderir às novas regras mantém o ativo até o fim da concessão; "depois, a usina volta para o Estado, que decide se licita ou explora de outra forma o ativo", disse o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. O presidente da Cemig, Djalma Morais, no entanto, garante que o contrato de concessão dessas usinas assegura sua renovação por 20 anos nas condições atuais - e é isso que a empresa pretende obter.

Se não tiver êxito nas negociações com a Aneel e com o governo Dilma, a diretoria da Cemig espera contar com a colaboração do Congresso para que o direito por ela invocado lhe seja assegurado. No Congresso está outro foco de dificuldades para o governo fazer avançar seu projeto para o setor elétrico. Instalada na quarta-feira passada, a comissão especial mista do Congresso que vai analisar a MP 579 terá muito trabalho. A MP recebeu 431 emendas de deputados e senadores, entre as quais uma que prevê a possibilidade de renovação, nas condições atuais, de concessões que nunca foram prorrogadas, como as das três usinas da Cemig e também a da Usina Três Irmãos, da estatal paulista Cesp.

Mesmo que todas essas questões sejam superadas, ainda restará o problema do cálculo das indenizações.

Na dúvida, pró-réu - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 21/10


BRASÍLIA - A lei não é clara quanto a lavagem de dinheiro e a formação de quadrilha, tanto que o Supremo Tribunal Federal parece bastante dividido. As duas apostas para a votação desta semana sobre quadrilha (e sobre José Dirceu como chefão) são de 6 pela condenação e 4 pela absolvição ou... empate.

Lavagem de dinheiro, apesar de estar em uso há bastante tempo, ainda é considerada uma nova modalidade de crime. E quadrilha é um conceito que vem mudando com a rapidez da tecnologia. Antes, era um bando que se reunia em esconderijos para planejar roubos e assassinatos e, depois, dividir os "lucros".

E hoje? Com internet, paraísos fiscais, associações entre bancos, empresas, pessoas e -como julga o STF- até partidos, o que vem a ser quadrilha?

A partir dessas dúvidas, ou lacunas, os ministros podem pender para um lado ou outro: seguir o relator Joaquim Barbosa, que considera clara e evidente a formação de quadrilha para desviar dinheiro público e comprar parlamentares e partidos no Congresso -o famoso mensalão-, ou o revisor, que não crê em nada disso, ou vê a coisa por, digamos, outro ângulo.

Com Joaquim, tendem a ir Ayres Britto, Celso, Gilmar, Fux. Com Lewandowski, Toffoli, Rosa e Cármen Lúcia. Se a tendência se confirmar, o destino -ou melhor, as penas- de José Dirceu e José Genoino podem estar nas mãos de Marco Aurélio. Uma roleta-russa.

Se der 6 a 4, condenação. Se for 5 a 5, é empate, repetindo o que ocorreu em "fatias" anteriores, com Paulo Rocha, João Magno, José Borba, Jacinto Lamas, Valdemar Costa Neto e o ex-ministro Anderson Adauto.

Nesse caso, não há voto de Minerva do presidente Ayres Britto, porque julgamento é julgamento, Supremo é Supremo (não BBB) e há um princípio basilar e universal da Justiça: na dúvida, pró-réu. Se a mais alta corte não tem certeza e não chega a uma conclusão, como condenar alguém?

Quão rara é a Terra? - MARCELO GLEISER


FOLHA DE SP - 21/10


A semelhança de tamanho com o nosso planeta é só um dos atributos que talvez sejam necessários à vida


Agora que temos a certeza de que existe um número enorme de planetas com características físicas semelhantes à Terra, vale perguntar se esses astros têm, de fato, a chance de abrigar formas de vida e, se tiverem, que vida seria essa.
Antes, alguns números importantes. Os melhores dados com relação à existência de outros planetas vêm de um satélite da Nasa, o Kepler, que anda buscando planetas como a Terra ao fazer um mapeamento de 100 mil estrelas que estão na nossa região cósmica.
Pelo projeto da missão, a identificação dos planetas usa um efeito chamado de trânsito: quando um planeta passa na frente de sua estrela (por exemplo, Vênus passando na frente do Sol), o brilho da estrela é ligeiramente diminuído. Marcando o tempo que demora para o planeta passar em frente à estrela, a diminuição do brilho e, se possível, o período da órbita (quando o planeta retorna ao seu ponto inicial), é possível determinar o tamanho e massa do planeta.
Com isso, a missão estima que cerca de 5% dos planetas na nossa galáxia têm massas semelhantes à Terra e, possivelmente, estão na zona habitável, o que significa que a temperatura na sua superfície permite a existência de água líquida (se houver água neles).
Como sabemos que o número de estrelas na nossa galáxia é em torno de 200 bilhões, a estimativa da missão Kepler implica que devem existir em torno de 10 bilhões de planetas com dimensões semelhantes às da Terra. Nada mal, se supormos que basta isso para que exista vida. Porém, a situação é bem mais complexa e depende em detalhe das propriedades da vida e, em particular, da história geológica do planeta.
Aqui na Terra, a vida surgiu 3,5 bilhões de anos atrás. Porém, durante aproximadamente 3 bilhões de anos, a vida aqui era constituída essencialmente de seres unicelulares, pouco sofisticados. Digamos, um planeta de bactérias. Só bem depois que a atmosfera da Terra foi "oxigenada", e isso devido à descoberta da fotossíntese por certas bactérias (cianobactérias, na verdade), é que seres multicelulares, bem mais tarde, surgiram.
A mudança gerou outra coisa importante: quando o oxigênio sofreu a ação da radiação solar, formou-se a camada de ozônio que acaba por proteger a superfície do planeta. Sem essa proteção, a vida complexa na superfície seria inviável.
Fora isso, a Terra tem uma lua pesada, o que estabiliza o seu eixo de rotação -a Terra é como um pião que está por cair, rodopiando em torno de si mesma numa inclinação de 23,5 graus. Essa inclinação é a responsável pelas estações do ano e por manter o clima da Terra relativamente agradável.
Sem nossa Lua, o eixo de rotação teria um movimento caótico e a temperatura variaria de forma aleatória. Juntemos a isso o campo magnético terrestre, que nos protege da radiação solar e de outras formas de radiação do espaço, e o movimento das placas tectônicas, que funciona como um termostato terrestre e regula a circulação de gás carbônico na atmosfera, e vemos que são muitas as propriedades que fazem o nosso planeta ser especial.
Portanto, mesmo que existam outras "Terras" pela galáxia, defendo ainda a raridade do nosso planeta e da vida complexa que nele existe.

A zelite - JOÃO UBALDO RIBEIRO


O Estado de S.Paulo - 21/10



Vejamos aqui, que novidades há, neste que espero ser um domingo ensolarado e ameno, em que o distinto leitor e a cativante leitora (cartas sobre como estas designações são machistas devem, por caridade, ser encaminhadas ao editor) possam tirar muito proveito do que ainda nos dadiva a Natureza? Não muitas, acho eu. Talvez as novidades mesmo estejam nas páginas de medicina ou ciência dos jornais, onde sempre anunciam o sensacional estudo que desmente outro sensacional estudo de anos atrás, como acontece principalmente em relação a alimentos. A notícia mais recente, se não me trai outra vez a vil memória, é a respeito do camarão. Parece que aboliram a vingança do camarão. A vingança do camarão estava em que o freguês podia comê-lo, mas, em compensação, o colesterol entrava em órbita. Agora não mais, pelo menos até realizarem novo estudo. Periodicamente, a verdade científica vira mentira e, pensando bem, não há grandes novidades nem nas páginas de ciência.

E, infelizmente, não são tampouco grande novidade os acontecimentos terrificantes em hospitais. De cabeça, lembro agora o da senhora que mataram, injetando-lhe café com leite na veia. Anteriormente, em outro hospital, um paciente morreu, após lhe darem sopa também por via endovenosa. Mataram um terceiro, trocando por glicerina o soro que receberia. Administraram a recém-nascidos remédio contra verrugas por via oral, causando lesões horrendas e permanentes. Amputaram por engano o braço de um bebê. E, como é de nossa prática de povo cordial, tolerante e compreensivo, não vai haver responsáveis em qualquer desses casos e de inúmeros outros como eles, muito menos reparação para as vítimas. Nenhuma novidade.

No setor das grandes questões nacionais, o julgamento do mensalão se aproxima do fim, grande parte do suspense inicial já se foi e agora o que se espera é, no interessante dizer do comentarista que escutei no rádio de um táxi, a customização das penas, ou seja, a definição das punições que receberá cada um dos réus condenados, por sinistro desígnio da zelite. Acho difícil haver um problema que não tenha sido causado pela ação da zelite, é um grande achado. E talvez nele esteja, afinal, uma novidade. Não muito importante, quiçá, mas, na falta de outra, quebra o galho. Creio que já podemos cogitar da inclusão de "zelite" nos dicionários como mais um coletivo da lavra popular, com a observação de que por enquanto leva o predicado ao plural, mas no futuro talvez perca essa peculiaridade. Acredito que logo estaremos dizendo coisas como "a zelite não vai aceitar" ou "ele pertence à zelite paulista". Não deixa de ser uma contribuição ao vocabulário da perseguida língua portuguesa.

Resta, porém, definir direito o que é zelite. Não é muito fácil, pelo menos para quem acompanha o noticiário brasileiro. Por enquanto, lembra um pouco o que sucede com a palavra "democracia" e cognatas. Qualquer regime - e tem sido assim em toda a História contemporânea - pode apregoar ser uma democracia. A Alemanha Oriental era a República Democrática Alemã e a Coreia do Norte é oficialmente a República Democrática Popular da Coreia. Fenômeno semelhante acontece com a zelite, na direção oposta. É desejável ser democrático e é odioso ser da zelite; elogia-se com o primeiro e xinga-se com a segunda.

Além disso, a zelite vem desempenhando um papel comparável ao dos comunistas de antigamente. No Brasil, com a notável exceção de Oscar Niemeyer e Zecamunista, sofremos de uma lastimável escassez de comunistas sobre os quais fazer recair a culpa de tudo o que diabo apronta. Os comunistas, como testemunharão os mais velhos, tinham muita serventia e até moças de conduta avançadex, como se dizia, eram fruto da doutrinação dos comunistas. A zelite e seu braço direito, a imprensa venal, corrupta e a serviço de interesses tenebrosos, vêm preenchendo essa lacuna, tão aflitiva para quem não tem nada de substancial a dizer em sua defesa, a não ser, talvez, o inconfessável.

Mas que diabo é a zelite? Sabemos que a palavra vem de "elite". No caso, elite política e econômica. Imagina-se que a elite política seja composta por quem está no poder. Presidente da República é zelite política, assim como os que exercem alguma fatia do poder. Que outro critério haveria? Ou a elite política está diretamente no governo ou o exerce mediante fantoches e paus-mandados, caso em que, ao denunciar a zelite, estaria denunciando a si mesma. Qual a zelite que se opõe aos que estão no poder? A zelite financeira está com eles, os bancos prosperando e ganhando dinheiro como nunca, como já comentou o próprio ex-presidente Lula. A zelite empresarial também não parece descontente, a não ser quanto a um ponto ocasional ou outro. A zelite das empreiteiras, então, nem se fala. A zelite artístico-intelectual, além de não ter poder concreto para nada, não costuma pensar uniformemente. Não me ocorre nenhuma outra zelite à qual se possa atribuir a culpa dos infortúnios enfrentados pelos réus do mensalão. Quem aprontou a trapalhada foram eles, mas a culpa não é do despreparo e dos erros deles, é da zelite.

A palavra já cria raízes em nossa terminologia política e, ao que tudo indica, terá vida longa, porque serve para fingir que se está explicando alguma coisa. Foi pegado com a boca na botija ou mentindo deslavadamente, os planos deram errado? Distribua uma nota ou faça um discurso, mostrando como a responsável é a zelite. O pessoal ganha, chega ao poder já pela terceira vez, está no topo da zelite governante e, no entanto, a zelite, até mesmo através do voto, fica atrapalhando. É por essas e outras que dá vontade de arrolhar a zelite e sua imprensa e estabelecer aqui uma verdadeira democracia, igual à da Coreia do Norte.

AVENIDA BRAZUCA - AGAMENON

O GLOBO - 21/10


Brasil inteiro, do Oiapoque a Ma-rilena Chauí, parou na sexta-feira para assistir ao eletrizante capítulo terminal da novela "Avenida Brasil”! E eu e Isaura, a minha patroa, como casal de noveleiros, abandonamos a nossa agitada vida sexual só pra não perder esse grande acontecimento cultural. Na casa de suingue Spettu's, que frequentamos religiosamente toda sexta-feira, os frequentadores interromperam seus coitus para acompanhar no telão as aventuras de Tufão, Car-minha, Leleco, Suellen, Monalisa, Nina e Juca de Oliveira, o Albieri, que só apareceu no final da novela pra interpretar o canalha pai da Carminha, provando que, nas novelas brasileiras, a maldade é uma coisa genética.

Apesar de ser uma novela hiperne-orealista, "Avenida Brasília” era uma obra de ficção imaginativa, cheia de cascatas inverossímeis. Além de a Nina desconhecer a existência do pen drive, a malvada Carminha não conhecia o nome de nenhum bom advogado pra levar a metade da fortuna do Tufão depois que foi expulsa da mansão. Aliás, mais uma vez mais brilhou o ator Murilo Bomnício no papel de corno contumaz. Quer dizer, contuMax. Não sei por que, mas eu me identifiquei muito com esse chifrudo personagem suburbano. Talvez por ele ser um ex-craque e eu um escroque... O ex-jogador do Divino engrandeceu a cornitude, tão marginalizada pela opinião pública brasileira. Mas o Tufão não estava nem aí, mesmo porque, como ex-jogador de futebol, já estava acostumado a levar bola nas costas.

Quem não é o BRT mas também arrebentou foi a grande Adriana que, mais uma vez, Esteves sensacional no papel de Carminha, uma das maiores malvadas de novela de todos os tempos. Cruel, perversa, mau-cará-ter e sem escrúpulos, Carminha, infelizmente, também tinha alguns defeitos. Suas maldades não serão esquecidas jamais. O próprio STF já agendou o julgamento da vilã do Divino assim que acabar o processo do mensalão Mas quem não sai da minha mente e dos meus pensamentos mais inconfessáveis é a estonteante periguete Su-ellen, a Maria Chuteira que conquistou o Brasil e todo o elenco masculino da novela. Até o técnico Mano Menezes está pensando em convocar a gos-tosérrima alpinista sexual pra dar um gás na seleção brasileira, que está mais por baixo do que o Nilo e o Max juntos, quer dizer, de pés juntos.

"Avenida Brasil” vai deixar saudades. Todo mundo viu, até o Stevie Wonder. Só quem não viu foi o Lula, que não viu nada, não sabia de nada e acha que as maldades da Carminha são uma invenção da imprensa golpista, que não aceita o fato de uma exmoradora do lixão ser protagonista de uma novela da Globo. Para consolo da Isaura, a minha patroa, vai começar amanhã a novela "Bota Jorge” da genial e delirante Glória Perez, uma novela que vai ser toda passada num bairro C e D da periferia de Istambul. •

Agamenon Mendes Pedreira é dramaturco da novela “Salve Jorge”

Ueba! Saudades de Gritaria Brasil! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 21/10

E um amigo meu diz que grita "Toca pro lixão!" toda vez que tem jogo do Palmeiras. Rarará!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! 
FESTIVAL DE PIADAS PRONTAS. Brasília: "Gambá invade o Senado e é achado perto dos gabinetes de Sarney e Collor". Foi procurando pelo cheiro! Fedeu! E sabe o que o gambá falou? "Eu sou suplente!". Esse gambá deve ser corintiano. Tem tatuagem no braço? Rarará!
Campinas (SP): "Garoto é mordido por morcego em festa infantil de Batman". Que feio, Joaquim Barbosa! Já tá mordendo até criança? Rarará! Flexeiras (AL): "Candidato que só teve um voto se separa da mulher". E sabe como é o nome dele? Jurandir do Jumento! Por isso que ela não votou nele. O Jumento tem ficha suja! Rarará!
E hoje acordei com tremedeira, calafrios, dor de cabeça e suando frio. Síndrome de abstinência da Carminha! Gritaria Brasil acabou, mas deixa sequelas. Zumbido nos zovido! E como disse aquele amigo meu no Facebook: "O Tufão descobriu que era corno, o Adauto também descobriu que era corno, só faltam alguns amigos meus".
Chifra Brasil! E adorei o triângulo Roni-Suelen-Leandro. O povo diz que casal tem que ser de dois. Discordo! Eu conheço um casal de três que goza por quatro. Rarará! Saudades da touca da Mãe Lucinda! Vou comprar uma na 25 de Março. Pra levar pra Tóquio! Pra ver o Timão! Rarará!
Saudades do lixão. Eu achava tão chique pegar um táxi e gritar: "Toca pro lixão". Lixão aqui em São Paulo é em todo lugar. A Oscar Freire, por exemplo, tá um lixão! E um amigo meu diz que grita "Toca pro lixão!" toda vez que tem jogo do Palmeiras. Rarará!
Mas "Avenida Brasil" vai ter continuação: diz que vão sequestrar o Jorginho, que será salvo pela Nina e vai virar o Salve Jorginho! E o núcleo turco da novela da Inglória Perez é o PT, o Partido da Turcaiada: Temer, Chalita, Haddad e Maluf! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E o segundo transturno em São Paulo? Serra X Haddad! Vampiro de Jesus X Boneco de Olinda! E chega de discutir "kit gay". Em 2012!
Kitpariu! E avisa pro pastor Malafaia que, se Deus fosse gay, o mundo seria mais arrumadinho. Rarará!
E chega de religião. Antes o FHC se declarava ateu e Lula, corintiano. E só! A gente era calmo e não sabia. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje, só amanhã.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Por trás dos clicks - HUMBERTO WERNECK


O Estado de S.Paulo - 21/10


Já contei aqui um par de histórias de um fotógrafo, grandíssima figura, com quem trabalhei em meus começos de carreira. Pois aqui vão mais duas do mesmo personagem, hoje convertido ao ramo da pastelaria.

Recém-chegado ao Paraguai para uma reportagem, ao preencher ficha no hotel lhe pediram nome e sobrenome - em espanhol, naturalmente, língua que ele não traçava:

- ¿Nombre?

- Emílio.

- ¿Apellido?

- Wakamoto.

Era assim que o chamávamos na redação, por causa de um xarope homônimo, então novidade nas farmácias brasileiras. E xarope ficou sendo o Ishimura, para efeitos também de hotelaria paraguaia.

* * *

Ao tempo em que era cinegrafista de TV, coube certa vez ao Wakamoto cobrir uma exibição da esquadrilha da fumaça. Como os colegas ali reunidos, registrou o ir e vir, as piruetas, os flatos fumarentos dos aviõezinhos. Ao contrário dos demais, porém, não gastou todo o filme - reservou uns tantos pés, com um mau agouro que horrorizou os companheiros:

- Vai que um desses cai...

E arregalou em direção ao céu os olhos amendoados - até que um dos aparelhos, desgarrando-se do grupo, entrou em curva descendente.

- É agora! - anunciou o Wakamoto, assestando a câmera para fazer o único registro de uma tragédia que, no fim do ano, lhe valeria um disputado prêmio jornalístico.

* * *

Em matéria de faro para o azar, no entanto, o Wakamoto nem de longe poderia rivalizar com aquele outro fotógrafo, cujo nome convém silenciar.

Com esse camarada - vamos chamá-lo de Toc-Toc, em alusão às batidas na madeira com que em geral era recebido onde houvesse chegado sua reputação de azarento - topou um dia um colega, o Ênio, na saída do banco. De bermudas, ele que parecia ter nascido de paletó e gravata, o repórter tinha passado ali para sacar o dinheiro da viagem de férias. Ao dar de cara com o Toc-Toc, fez que não o viu - mas lá veio o abutre da objetiva. Veio e, como todo chato, ficou. De nada adiantou o Ênio despedir-se dele ao cabo de duas ou três frases, alegando urgências da viagem. Só na quadra seguinte conseguiu desvencilhar-se do abantesma. Na esquina, despediu-se às pressas - e já ia pondo os pés na rua quando o camarada, a suas costas, chamou:

- Ênio! Boas férias!

- Obrigado - pôde ainda dizer o jornalista, girando a cabeça para agradecer, cortesia que lhe custou cair numa boca-de-lobo, a qual, ao lhe proporcionar uma fratura exposta, tragou também o que poderiam ter sido para o Ênio as primeiras férias em muitos anos.

* * *

Aquele outro não fazia mal a ninguém - a não ser, quem sabe, quando, à noite, a caminho de uma reportagem, via casais embicarem o carro na entrada de algum motel. Com a divertida malignidade que tempera seu especialíssimo senso de humor, o fotógrafo, nessas ocasiões, pendurado numa janela do carro do jornal, disparava o flash, qual paparazzo ante celebridades, ou detetive particular à cata de flagrante de adultério. O sabotador de amores furtivos nunca ficou para ver o desfecho da molecagem, porém se regalava ao imaginar súbitos esmorecimentos funcionais que nem o mais potente comprimido azul, nos dias de hoje, daria conta de reverter.

* * *

Não esqueçamos, por fim, outro profissional das lentes, esse miúdo, feioso e atarracado, machista ao ponto de o chamarem, na redação, de "reprodutor". Pois lá estava um dia a criatura no aeroporto, em companhia de uma repórter com quem ia viajar. Ora, sucede que naqueles começos de anos 70, o auge da repressão, ninguém embarcava sem que sua bagagem de mão fosse minuciosamente fuçada por policiais. O fotógrafo, que era também galante, tinha se oferecido para carregar a sacola da colega. Quando deu por si, já estava junto à bancada onde as bagagens eram inspecionadas. E eis que o policial, metendo a mão na bolsa, de lá extraiu um sutiã, peça que teve a maldade de erguer bem alto, ao mesmo tempo em que piscava para o fotógrafo e lhe dizia, para todos ouvirem:

- Boa viagem, boneca!

Em matéria de apelido, resignou-se o moço, melhor ficar com "reprodutor".

Piada de salão - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 21/10


O tiro saiu pela culatra, e o partido da ética na política consagrou-se como um exemplo de corrupção


Quando o escândalo do mensalão abalou a vida política do país e, particularmente, o governo Lula e seu partido, alguns dos petistas mais ingênuos choraram em plena Câmara dos Deputados, desapontados com o que era, para eles, uma traição. Lula, assustado, declarou que havia sido traído, mas logo acertou, com seus comparsas, um modo de safar-se do desastre.
Escolheram o pobre do Delúbio Soares para assumir sozinho a culpa da falcatrua. Para convencê-lo, creio eu, asseguraram-lhe que nada lhe aconteceria, porque o Supremo estava nas mãos deles. Delúbio acreditou nisso a tal ponto que chegou a dizer, na ocasião, que o mensalão em breve se tornaria piada de salão.
Certo disso, assumiu a responsabilidade por toda a tramoia, que envolveu muitos milhões de reais na compra de deputados dos partidos que constituíam a base parlamentar do governo.
Embora fosse ele apenas um tesoureiro, afirmou que sozinho articulara os empréstimos fajutos, numa operação que envolvia do Banco do Brasil (Visanet), o Banco Rural e o Banco de Minas Gerais, e sem nada dizer a ninguém: não disse a Lula, com que privava nos churrascos dominicais, não disse a Genoino, presidente do PT, nem a José Dirceu, o ministro político do governo.
Era ele, como se vê, um tesoureiro e tanto, como jamais houve igual. Claro, tudo mentira, mas estava convencido da impunidade. A esta altura, condenado pelo STF, deve maldizer a esperteza de seus comparsas. Mas os comparsas, por sua vez, devem amaldiçoar o único que, pelo menos até agora, escapou ileso do desastre -o Lula.
Pois bem, como o tiro saiu pela culatra e o partido da ética na política consagrou-se como um exemplo de corrupção, Lula e sua turma já começaram a inventar uma versão que, se não os limpará de todo, pelo menos vai lhes permitir continuar mentindo com arrogância. O truque é velho, mas é o único que resta em situações semelhantes: posar de vítima.
E se o cara se faz de vítima, tem o direito de se indignar, já que foi injustiçado. Por isso mesmo, vimos José Genoino vir a público denunciar a punição que sofreu, muito embora tenha sido condenado por nove dos dez ministros do STF, quase por unanimidade.
A única hipótese seria, neste caso, que se trata de um complô dos ministros contra os petistas. Mas mesmo essa não se sustenta, uma vez que dos dez membros do Supremo, oito foram nomeados por Lula e Dilma.
Reação como a de Genoino era de se esperar, mesmo porque, alguns dias antes, a direção do PT publicara aquele lamentável manifesto em que afirmava ser o processo do mensalão um golpe semelhante aos que derrubaram Getúlio Vargas e João Goulart. Também a nota posterior à condenação de José Dirceu repete a mesma versão, segundo a qual os mensaleiros estão sendo condenados porque lutam por um Brasil mais justo. O STF, como se sabe, é contra isso.
Não por acaso, Lula -que reside num apartamento duplex de cobertura e veste ternos Armani- voltou a usar o mesmo vocabulário dos velhos tempos: "A burguesia não pode voltar ao poder". Sim, não pode, porque agora quem nos governa é a classe operária, aquela que já chegou ao paraíso.
Não tenho nenhum prazer em assistir a esse espetáculo degradante, quando políticos de prestígio popular, que durante algum tempo encarnaram a defesa da democracia e da justiça social em nosso país, são condenados por graves atentados à ética e aos interesses da nação. As condenações ocorreram porque não havia como o STF furtar-se às evidências: dinheiro público foi entregue ao PT, mediante empréstimos fictícios, que tornaram possível a compra de deputados para votarem com o governo. Tudo conforme a ética petista, antiburguesa.
Mas não tenhamos ilusões. Apesar de todo esse escândalo, apesar das condenações pela mais alta corte de Justiça, o PT cresceu nas últimas eleições. Tem agora mais prefeituras do que antes e talvez ganhe a de São Paulo. Nisso certamente influiu sua capacidade de mascarar a verdade, mas não só. Com a mesma falta de escrúpulos, tendo o poder nas mãos, manipula igualmente as carências dos mais necessitados e dos ressentidos.
Não vai ser fácil acharmos o rumo certo.

Busca da renovação - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 21/10


Confirma-se uma tendência que já havia dominado o primeiro turno das eleições: o número recorde de votos brancos e nulos registrado pela pesquisa Datafolha, juntamente com o grande índice de indecisos às vésperas do segundo turno, mostra o eleitor em busca do novo, insatisfeito com as opções que os partidos políticos estabelecidos lhe oferecem. E não apenas de nomes novos, mas de atitudes novas.

O fenômeno foi exacerbado em São Paulo, onde 30% dos eleitores se abstiveram ou votaram branco ou nulo, atitude que as pesquisas indicam se repetirá no segundo turno da escolha do prefeito paulistano. Mas essa tendência foi registrada em todo o país, com uma média de 25% de não voto, índice muito fora do padrão histórico das últimas eleições.

Em várias capitais, mesmo naquelas em que o resultado foi definido no 1º turno, o não voto foi o segundo colocado, isto é, o candidato que chegou em segundo lugar, muitas vezes indo para o 2º turno, teve menos votos do que a soma dos eleitores que optaram por não votar.

Tudo indica que estamos entrando em uma fase de nossa vida partidária em que vai se revelando o desgaste de material do sistema que está montado em torno de partidos políticos esterilizados por uma mecânica de coalizão autofágica. O país põe em marcha sistemas que tentam organizar minimamente essa orgia de siglas que nada significam, como a Lei da Ficha Limpa, que começou a vigorar aos trancos e barrancos nestas eleições.

Mas ainda temos muito a caminhar para chegarmos a um sistema político-partidário que reflita uma sociedade madura. Em uma votação obrigatória, haver 30% de não votantes é sem dúvida uma marca que merece registro dos que se preocupam com o rumo de nossa sociedade, uma clara reação negativa do eleitor médio.

Se o Parlamento representa com justeza a média da sociedade que o elege, há um registro de parte ponderável dela se recusando a continuar participando do jogo nos termos em que ele está colocado. E por outra parte a busca do novo reflete essa espécie de angústia existencial do eleitor, mesmo que se revista de equívocos, como seria o caso de uma vitória de Celso Russomano em São Paulo, ou a de Ratinho Jr., em Curitiba.

Ambos casos emblemáticos, o curso da história está sendo transformado pelos próprios eleitores. Em Curitiba, a busca do novo vai se encaminhando para o leito certo, o ex-deputado Gustavo Fruet, uma das lideranças jovens mais promissoras do PSDB que, por questões de política regional, foi buscar votos em outras paragens.

Em São Paulo, o que parecia novidade acabou desconstruído a tempo de não chegar ao 2º turno, prevalecendo nesse caso as máquinas partidárias mais fortes. Provavelmente qualquer candidato dos dois partidos teria ido para o 2º turno, mas é preciso ressaltar que o PT levou ao eleitor uma alternativa diferente do prato feito tradicional, mesmo que tenha realizado esse aggiornamento de maneira autoritária, com um dedazo de Lula.

Diante do desfecho favorável iminente, fica demonstrado mais uma vez que Lula tem um faro político que lhe permite compreender com antecedência para que lado o vento sopra, e a busca do novo foi sua decisão fundamental. O PT reafirmou ser uma formidável máquina partidária, e não apenas em SP. O que não impediu que sofresse derrotas memoráveis, como em Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre. E provavelmente sofrerá outras, importantes, no 2º turno, em Salvador e Manaus.

O mesmo movimento inevitável terá que ser feito necessariamente pelo PSDB, que passará por uma ampla revisão nacional sob o comando explícito do senador Aécio Neves, que saiu da eleição municipal fortalecido na imagem de líder nacional e assumindo o papel de candidato potencial do partido em 2014.

A modernização da direção nacional do partido, em nomes, atitudes e posicionamento, será o ponto de partida para a união das forças oposicionistas. Embora esfacelada a nível congressual por essa política de coalizão autofágica a que já nos referimos, a oposição mostrou-se nas urnas capaz de ação política importante.

Fora do poder há dez anos, o PSDB continua sendo o segundo maior partido em número de prefeituras e vereadores, o que sinaliza uma boa votação para o Congresso em 2014. E a oposição encontrou fôlego para dar sinais vitais importantes no Norte e Nordeste, regiões onde o governismo lidera.

Outro polo de poder saído das eleições, o PSB marca sua independência, ensaia movimentos conjuntos com o PSDB, mas tende a permanecer na base aliada enquanto for possível conviver com a hegemonia petista. Há tempo para amadurecer o projeto de alternância à sombra do poder atual, até que o quadro se ilumine.

Malafaia vem aí - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 21/10


Silas Malafaia, com a mão sobre a Bíblia, em seu escritório da Assembleia de Deus, no Rio
O pastor carioca Silas Malafaia, 54, está com a faca na mão. Serra ao meio uma segunda baguete enquanto anuncia sua "visão expansionista". "Vou abrir igreja no Brasil inteiro, minha filha", afirma, enquanto toma lanche no intervalo de um dos dois cultos que celebrou no fim da tarde de terça-feira, no Rio. Planeja inaugurar mil templos até 2020 -toca hoje oito obras pelo país, a um custo de R$ 25 milhões.

São Paulo é prioridade. "Logo, logo" vai "cair com tudo" na cidade. "Tenho pesquisado lugares. Não posso ter igreja para menos de 4.000 pessoas lá."

O líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, ramificação da Assembleia de Deus, maior grupo evangélico do país, lambuza o pão com margarina e corta uma fatia de queijo minas. Revela que está hoje à frente de 125 igrejas e de um rebanho de 36 mil fiéis. "Nosso crescimento é formiguinha, 'vambora', pá, pá, pá. Mas vamos chegar lá", diz, entre goles de café com leite e suco de abacaxi.

É na base do "pão, pão, queijo, queijo" que o pastor diz levar a vida. E uma proeza ele já conseguiu na capital paulista: virou a estrela da eleição municipal. Pautou o debate por uma semana ao dar apoio a José Serra, do PSDB, e dizer que iria "arrebentar" o petista Fernando Haddad por causa dos materiais para combater a homofobia preparados pelo MEC -que chama de "kit gay".

A Folha revelou que o tucano distribuiu material semelhante em São Paulo quando era governador -mas nem assim Malafaia mudou seu "voto". Para ele, Serra "não é um grande orador, mas transmite sinceridade". Já Haddad é "sa-fa-do".

Ao mesmo tempo, Malafaia diz que "não é criança" para "vender seus princípios" a partido "x" ou "y". No Rio, por exemplo, é PT: apoia o senador Lindbergh Farias para o governo do Estado em 2014. Já o governador Sérgio Cabral (PMDB) recebe polegar para baixo por não vetar "leis trabalhistas que beneficiam homossexuais, monte de porcaria". Afirma se opor à "cultura de privilégios" disseminada "pelos ativistas gays".

"O pessoal pensa que sou um radical xiita? É tudo gay, vamos metralhar, 'pou, pou'? Não!", diz enquanto simula com a mão um fuzilamento. Ele quer é converter o pessoal. E defende que a igreja seja "pronto-socorro" para quem quer deixar de ser homossexual. "Deus não fez bissexuais nem andróginos, fez macho e fêmea. Sinto repulsa. Aquilo é uma perversão." Se um de seus três filhos (Silas, Talita e Taísa) fosse gay? "Amaria 100% e discordaria da prática 100%."

Em 2010, Malafaia estampou centenas de outdoors no Rio. Ao lado de sua foto, lia-se: "Em favor da família e da preservação da espécie humana". Acha que "ninguém nasce gay. Cadê a prova do cromossomo homossexual?". Essa condição seria "aprendida ou imposta pelo ser humano, um ser de 'copiagens' de comportamento".

São 19h quando Silas Malafaia termina a refeição e volta ao púlpito para o segundo culto do dia na sede de sua igreja, na periferia da cidade. Pede ao público que aplauda Anna Virginia Balloussier. "Tem uma repórter aqui da Folha. Quando jornalista pede pra vir, digo que a gente não tem nada a esconder." Cerca de 2.000 fiéis batem palmas. Alguns gritam "amém". Sua imagem aparece no telão ao discursar.

Vaidoso, se diz "pobre, mas limpinho". Revelou à coluna que fez implante no cabelo em 2011. "Tinha umas 'careca'. O tapa-buracos aqui foi legal", afirma, apalpando onde ficavam as entradas. Lembra que seu médico, de Recife, também atende José Dirceu. "Mas não tenho nenhum elo com esse cidadão, pelo amor de Jesus Cristo."

Malafaia está há três décadas na TV. Hoje compra horários na programação de Band, RedeTV! e CNT e é dublado em canais dos EUA (ele queria aprender inglês, "mas cadê tempo, com essa vida louca?"). Ele se reconhece como um dos líderes religiosos mais acessíveis à imprensa -dá o número do celular e "a cara a tapa" a quem for.

Não raramente saem faíscas dessa relação. Naquele dia, no início da pregação, citou um jornalista que falou "do absurdo da igreja em usar cartão de crédito ou débito [para pagar o dízimo]". "Engraçado, pra ir 'prum' motel pode usar cartão, pra comprar bebida também. Pra dar oferta, não? Vai ver se tô na esquina, vai plantar batata!"

Por ano, a Assembleia de Malafaia arrecada oficialmente R$ 50 milhões com ofertas. Ele calcula que 60% sejam quitadas por meio de máquinas da Cielo. "Era um preconceito miserável em relação a nós. Como se constrói templo? Como se paga despesa? Desce anjo do céu e fala, 'taqui', pastor?"

A voz do orador com 30 anos de experiência ricocheteia pelo ambiente. Na primeira fila, de bata rosa estampada, está sua mulher, a pastora Elizete, 53, com quem se casou, "virgem", aos 21 anos. Às vezes aponta o dedo para o lado ao pregar, como uma versão gospel de John Travolta no musical "Grease - Nos Tempos da Brilhantina". "Tem gente que pensa que igreja é formada de 'analfabestas', um bando de idiotas manipulados pelo maior malandro possível que é o pastor. Como se ninguém aqui fosse formado em nada."

Meia hora antes, no lanche com outros pastores, aproximou a boca do gravador da repórter para criticar a Folha. "Um cara faz um editorial elogiando o 'kit gay'. Ou é demente ou é petista mesmo, com vontade. Editorial ri-dí-cu-lo!" Gesticula a ponto de quase encostar na comida seu terno de US$ 470, comprado na Flórida ("esse, no Brasil, custa entre R$ 3.000 e R$ 4.000").

A birra com "o seu Haddad" aumentou nos últimos dias. "A minha bronca é que ele agora vem com conversa fiada de que sou o submundo quando fala de misturar religião e política."

Conta que, em 2010, foi procurado pela então candidata à Presidência Dilma Rousseff. Teria passado 15 minutos com ela ao telefone explicando que não a apoiaria por causa da polêmica do aborto -ela já havia dito em entrevistas que defenderia a descriminalização, posição da qual recuou na campanha.

Foi de Serra. Mas a presidente Dilma, depois de eleita, o cativou. "Diante de mais de 3.000 prefeitos querendo redistribuir royalties do petróleo, ela não afinou, não. Gostei de ver, é estadista."

Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek são admirações. Lula também, "mas essa imagem tem caído um bocado. O cara faz acordo com [Paulo] Maluf. E descia o pau, na época de líder sindical, nesses caras da ditadura".

"Em 1989, apoiei Leonel Brizola e depois Lula, quando ele era o Diabo no meio evangélico. Na época, o [bispo Edir] Macedo chegou à igreja [Universal], abriu a camisa escrita Collor e chamou Lula de Diabo." Em 2003, virou o representante evangélico do "conselhão" de Lula, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Não foi convidado pessoalmente pelo presidente, e sim indicado por parlamentares. "Lá, eu era o cara. Agora, sou o submundo da política."

"Já viu o jogo como é? Humanistas, ateus, filósofos, operários, sindicalistas, líderes comunitários... Todo mundo pode falar. Aí os 'esquerdopatas', quando fala um pastor... 'Não mistura religião com política.' Que história é essa? Sou cidadão e pago imposto. Tenho direito de manter minhas falas baseadas nas minhas crenças."

E ele gosta de falar. Formado em teologia (Instituto Bíblico Pentecostal) e psicologia (universidade Gama Filho), aposta que é o pastor que "ganha as ofertas mais altas" para falar em conferências. "De R$ 3.000 a R$ 100 mil." Há 25 anos, diz, abriu mão de um salário da igreja. Estima que hoje estaria recebendo R$ 70 mil mensais.

De família tradicional de pastores da Assembleia de Deus, filho de um ex-combatente da Marinha e de uma pedagoga, assumiu a liderança da Vitória em Cristo em 2010, com a morte do sogro.

Ele e a mulher vivem numa casa de dois andares num condomínio na zona oeste do Rio, com a empregada "há 26 anos conosco" e uma cadela da raça labrador que Malafaia não lembra o nome. Têm como vizinhos "o coroa" (Ary Fontoura) e "aquela menina que apresenta um programa de sexo" (Fernanda Lima).

Morar em SP? "Deus me livre!" Ainda assim, a cidade é o queijo para a faca em sua mão. "Há um apelo muito grande, e eu vou chegar lá", afirma, pondo fé em sua "abrangência nacional". "Não tenho medo de dar minha cara a tapa, não estou nem aí se alguém não está gostando. Não estou em concurso de beleza."

Brasil apoia o novo FMI - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 21/10


Alerta e advertência não faltaram na reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), encerrada há uma semana, em Tóquio. O tímido sinal de recuperação econômica nos países avançados continua, mas esfriou.

"O crescimento está agora muito baixo para ser capaz de reduzir substancialmente o desemprego. E, em grandes economias de mercado emergentes, o crescimento, que era forte, também diminuiu", diz o FMI, textualmente.

Depois do inverno de 2008, houve uma ligeira brisa, mas a primavera não virá nos próximos anos, talvez cinco, sete ou, quem sabe mais. A expressão década perdida, usada inicialmente pelo economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, ganhou espaço nos discursos dos ministros que foram a Tóquio para ouvir os apelos quase patéticos da diretora-gerente do Fundo Christine Lagarde.

Ela pediu "coragem e ação cooperativa dos países-membros". Criticou os governos da zona do euro por estarem tentando concentrar esforços no ajuste fiscal a qualquer preço. Lagarde deixou claro em seu discurso para que não digam depois que o FMI não alertou para o pior: se o G-7, o G-20 não reagirem agora depois de anos de retração, vamos ter ainda por muitos anos um mundo mais pobre.

Brasil apoia e aproveita. O Brasil não teve dificuldade em aceitar essa posição porque já vinha fazendo o que Lagarde e seus economistas propõem aos países em crise. E o Fundo reconheceu ao admitir que, depois de sofrer os efeitos da crise externa, o PIB brasileiro está crescendo neste último trimestre. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, souberam usar o fórum internacional para projetar a imagem de uma país que, ao contrário de outros, inclusive emergentes, rompeu a ortodoxia das regras econômicas e soube se adaptar às mudanças externas e internas. Não deixa de ser emblemático que ambos, FMI e Brasil, defendam uma política monetária agressiva, expansionista, juros menores, mais liquidez, facilidade de crédito, novos estímulos a investimentos, num clima de inflação controlada.

Foi aí, no falso dilema inflação e crescimento, de austeridade fiscal e desenvolvimento, que se travou o grande duelo entre a Alemanha, do turrão ministro de Finanças, Wolfgang Schaueble, e o novo FMI, de madame Lagarde. Ela lastima que na reunião, os ministros deram menos importância à questão do ajuste fiscal, que precisa ser "adaptado" a cada país, ao contrário do que a Alemanha está impondo.

Mais dinheiro, por favor. Acreditem, o FMI admite que o crescimento possa ser estimulado até pelo aumento de liquidez, pela emissão direta de moeda, dólares, euros, yuans , ienes. E isso porque o grande risco no Brasil, nos EUA, na Europa, na Ásia, não é a inflação, mas a deflação ou a recessão na qual a zona do euro já entrou. A inflação média mundial está hoje em torno de 2%, enquanto blocos importantes, como a zona do euro, registram PIB negativo. E, blasfêmia das blasfêmias, Blanchard chegou a dizer que a Alemanha tem de aceitar um pouco de inflação se for esse o preço para impedir a recessão. Na China, os preços recuam para menos de 2% e o governo confirmou que a economia cresceu na menor taxa dos últimos anos.

Heresia, mais ou menos. O FMI não recomenda essa política, mas a aceita e a sugere na ausência de outras medidas que promovam crescimento. Nesse sentido, apoia e até elogia a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) de injetar liquidez até a economia voltar a crescer. O mesmo foi feito pelo BC da China, enquanto o Banco Central Europeu se depara internamente com a oposição do representante alemão à sua decisão de comprar títulos dos países mais endividados.

Em uma frase, o recado do novo FMI é "não há ameaça de inflação no mundo, mas de recessão e deflação".

Há efeitos colaterais. O principal é a desvalorização da moeda do país emissor, tornando suas exportações mais competitivas em detrimento dos que não querem ou não precisam agir da mesma forma. Não seria esse o objetivo principal dos EUA e agora da China, por exemplo? Esta é uma questão polêmica e delicada na qual não é fácil separar causa e efeito. O Brasil mesmo liberou em um ano cerca de R$ 100 bilhões, a maior parte do depósito compulsório, e está agindo ativamente no câmbio em defesa da sua moeda. Vem comprando dólares excedentes no mercado interno. Com isso, defende sua moeda e, ao mesmo tempo, eleva as reservas cambiais. Elas passaram de R$ 53,8 bilhões no fim de 2005 para R$ 380 bilhões agora, o que explica em grande parte a resistência do País às crises externas. Na avaliação de custo e beneficio, a questão é saber o que mais afeta a economia brasileira, uma economia mundial que pode entrar em recessão ou o desafio de um real valorizado.