quinta-feira, janeiro 13, 2011

DOAÇÕES PARA REGIÃO SERRANA DO RIO


Veja como ajudar os desabrigados da 


chuva na Região Serrana do Rio


Prefeitura de Teresópolis criou conta bancária para receber doações.
Supermercados, abrigos e postos da PRF também aceitam donativos.

Do G1 RJ
Situaçao em Friburgo após a chuva é caóticaChuvas destruíram casas no Rio de Janeiro
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Postos rodoviários, supermercados e abrigos estão recebendo donativos para ajudar as vítimas da chuva na Região Serrana do Rio. Os desabrigados e desalojados precisam de doações de água potável, alimentos, roupas, cobertores, colchonetes e itens de higiene pessoal, como sabonete, pasta de dente e fralda descartável.
A Prefeitura de Teresópolis abriu uma conta exclusiva para receber as doações. Com o nome de “SOS Teresópolis – Donativos”, a conta corrente está disponível na Agência 0741-2 do Banco do Brasil, com o número 110000-9. Segundo a prefeitura, são aceitas ajudas de qualquer valor.
Ainda em Teresópolis foi montado um outro posto para receber donativos. As contribuições podem ser levadas para o Ginásio Pedrão, onde foi montado um abrigo de ajuda às vítimas. O local fica na Rua Tenente Luiz Meirelles 211, no bairro Várzea, no centro da cidade.
Petrópolis
Foram montados três postos para doação de água, colchão e material de limpeza e higiene  na região de Itaipava: na Igreja Wesleyana, no Vale do Cuiabá; na Igreja de Santa Luzia, na Estrada das Arcas; e no centro de Petrópolis, na sede da Secretaria de Trabalho, Ação Social e Cidadania (R. Aureliano Coutinho,  número 81).
Polícia Militar
Todos os batalhões da PM do Rio de Janeiro vão receber doações  a partir desta quinta-feira (13). Os comandantes dos batalhões recomendam a doação de água mineral, alimentos não perecíveis e material de higiene pessoal.
Rodoviária
A Rodoviária Novo Rio recebe doações para a Cruz Vermelha. Os donativos serão recebidos no piso de embarque inferior, das 9h às 17h.
Viva Rio
O Programa de Voluntariado do Viva Rio também iniciou uma campanha de arrecadação de roupas e mantimentos para a região serrana do Rio de Janeiro, especialmente Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis. Para ajudar, basta fazer a doação na sede do Viva Rio (Rua do Russel, 76, Glória) ou através de depósito bancário na conta do Viva Rio, no Banco do Brasil, agência 1769-8, conta-corrente 411396-9 e CNPJ: 00343941/0001-28. Para mais informações o Viva Rio disponibiliza os telefones (21) 2555-3750 e (21) 2555-3785.
A ONG também estará recebendo donativos em todas as unidades das Lojas Americanas no Rio e nas estações do metrô de General Osório, Siqueira Campos, Botafogo, Carioca, Glória, Largo do Machado, Catete, Central do Brasil, Saens Peña, Nova América e Pavuna
Postos em supermercados e rodovias
O grupo de supermercados Pão de Açúcar montou postos de arrecadação em todas as 100 lojas da rede no estado do Rio. As doações podem ser feitas nos estabelecimentos Pão de Açúcar, ABC Compre Bem, Sendas , Extra Supermercados e Assaí. De acordo com o grupo, os donativos serão entregues até 26 de janeiro.
A partir de quinta-feira (13), a Polícia Rodoviária Federal vai montar quatro postos de arrecadação de alimentos e produtos de higiene pessoal. Dois pontos vão funcionar 24 horas, um deles será instalado na BR-116, na altura do pedágio da Rio-Magé, e o outro na BR-101, no trecho de Casimiro de Abreu.
Outros dois postos, na Rio-Petrópolis e na Rodovia Presidente Dutra, vão funcionar das 8h às 17 horas. A PRF informou que os alimentos arrecadados serão entregues para a Cruz Vermelha, que ficará encarregada de fazer a distribuição às vítimas.
Estações do metrô
O Metrô Rio vai disponibilizar a  partir de sexta-feira (14),  pontos de arrecadação em 11 estações nas linhas 1 e 2. Água, alimentos e produtos de higiene pessoal podem ser doados nas estações Carioca, Central, Largo do Machado, Catete, Glória, Ipanema/General Osório, Pavuna, Saens Peña, Botafogo, Nova América/Del Castilho e Siqueira Campos.
FlamengoA presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, anunciou que o clube também receberá, na sede da Gávea, donativos para desabrigados pelas chuvas na Região Serrana.
FIAA Fundação da Infância e Adolescência abriu dois postos de doação: Rua Voluntários da Pátria, 120, Botafogo e  Rua General Castrioto, 589, Barreto, em Niterói. Desde ontem (12) a entidade enviou 60 toneladas de alimentos e dois mil colchões para a região.
Shoppings também vão receber donativosA partir desta quinta-feira (13) oito dos principais shoppings do Grande Rio também recolherão material para ajudar as pessoas que foram afetadas pelos temporais na Reigião Serrana. Haverá caixas de coleta recebendo comida, roupas, água e colchões para os desabrigados. Além disso, a rede que administra os estabelecimentos doará o equivalente a R$ 100 mil em mantimentos. Os locais para doações são:
Bangu Shopping - Rua Fonseca, 240 - Bangu. Tel.: 2430-5130.
Carioca Shopping - Av. Vicente de Carvalho, 909 - Vila da Penha. Tel.: 2430-5120.
Caxias Shopping - Rodovia Washington Luiz, 2895, Duque de Caxias. Tel: 2430-5110
Passeio Shopping - Rua Viúva Dantas 100 - Campo Grande. Tel.: 2414-0003.
Santa Cruz Shopping - Rua Felipe Cardoso 540 - Santa Cruz. Tel.: 2418-9400.
Shopping Grande Rio - Rodovia Presidente Dutra, 4.200 - São João de Meriti. Tel.: 2430-5111
Via Parque Shopping - Av. Ayrton Senna, 3.000 - Barra da Tijuca. Tel.: 2430-5100.
Shopping Leblon - Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Leblon. Tel.: 2430-5122.
O Boulevard Shopping São Gonçalo, que faz parte de outra rede, também montou um posto de arrecadação, que funcionará no SAC, no 1o andar do estabelecimento.
Arquidiocese envia R$ 40 mil para a regiãoA Cáritas Arquidiocesana do Rio já enviou R$ 20 mil para a Arquidiocese de Petrópolis e o mesmo montante para a de Nova Friburgo (que engloba Teresópolis). A entidade também recebe doações em dinheiro em duas contas: Bradesco, Agência 0814-1, conta corrente 48500-4 e Banco do Brasil, Agência 3114-3, conta corrente 30000-4. Doações em espécie podem ser deixadas na Catedral de São Sebastião (Avenida Chile 245, no Centro). Haverá pontos de recolhimento na Cáritas e também na entrada da igreja, de 9h às 18h.
Ponte Rio-NiteróiA concessionária que administra a Ponte Rio-Niterói colocou um container para receber doações junto à praça de pedágio, à direita de quem segue no sentido Niterói. Mais informações: (21) 2620-9333.

JOSÉ VICENTE FERRAZ

Aumento dos alimentos tem componente especulativo
JOSÉ VICENTE FERRAZ
Folha de S. Paulo - 13/01/2011

Depois de um ano em que os alimentos exerceram forte pressão inflacionária no Brasil e no mundo, parece oportuno entender as causas dessa elevação das cotações.
Os preços dos alimentos no Brasil, que se destaca como um dos maiores ex- portadores, foram claramente influenciados por uma consistente elevação das cotações mundiais nos últimos cinco anos.
Entre as principais commodities alimentícias -que por terem grande aplicação na alimentação animal acabam também influenciando os preços das proteínas animais-, a soja subiu quase 65%, e o milho, mais de 75% nesse período.
O trigo e o arroz -relativamente menos utilizados na alimentação animal, mas mesmo assim com forte influência nos preços das proteínas animais devido ao efeito substituição- tiveram um aumento de preço de aproximadamente 65% e 85%, respectivamente, nos últimos cinco anos.
Qual o motivo dessas fortes altas? Uma das explicações mais comuns seria o fato de a produção crescer a taxas inferiores ao consumo.
As instabilidades climáticas estariam prejudicando fortemente a produção, enquanto o consumo, puxado por uma demanda crescente dos países emergentes -principalmente a China-, e o uso de commodities alimentícias como fontes energéticas -milho para etanol, soja para biodiesel- impulsionariam a demanda.
Os dados disponibilizados pelo Usda (Departamento de Agricultura dos EUA) desmentem categoricamente essa tese. A produção mundial de 3 das 4 principais commodities alimentícias (trigo, milho e soja) cresceu mais que o consumo nos últimos cinco anos.
E a demanda e a produção da quarta commodity (arroz) cresceu de forma quase que absolutamente equilibrada.
Outra tentativa de explicar a alta de preços seria a depreciação do dólar frente a outras principais moedas.
Como o preço de referência dessas commodities é o dólar, o aumento de preços seria uma forma de corrigir essa depreciação.
Mas, se o dólar depreciou-se nos últimos cinco anos em menos de 7%, como explicar altas de preços superiores a 60%?
Parece haver um componente especulativo significativo, que encontraria justificativa no balanço de oferta e demanda -talvez apenas para a carne bovina e para o açúcar, entre as principais commodities alimentícias.
Movimentos de preços que não encontram sustentação nos fundamentos de mercado (relação entre oferta e demanda) podem ser bruscamente revertidos, mas exatamente por não terem sustentação nos fundamentos de mercado é impossível prever quando isso ocorrerá.
Até lá, as pressões infla- cionárias no Brasil e no mundo geradas pela evolução dos preços de alimentos deve continuar.

JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro agrônomo e diretor técnico da AgraFNP.

GOSTOSA

ALBERTO TAMER

A luta do câmbio vai ser dura
Alberto Tamer
O Estado de S. Paulo - 13/01/2011
E temos aí uma nova batalha cambial, agora não lá fora, mas no Brasil. A novidade é que, desta vez, o governo não esconde a decisão de conter a valorização do real para evitar maior dano na balança comercial e na conta externa. Vai agir. Antes, dizia que tudo seria resolvido pelas forças do mercado, que o equilíbrio voltaria logo com a manutenção do saudável câmbio flutuante. Ele é bom, sim, vai mantê-lo, mas não está ajudando muito porque nossos parceiros comerciais, Estados Unidos, China, administram a flutuação para baixo, não para cima.
Ben Bernanke diz que não defende um dólar fraco, adota medidas extremas que o enfraquecem. A China, afirma que não pode valorizar o yuan para não quebrar empresas locais. Desculpas para intervir.
Não deu certo. O governo parece convencido de que o aumento do IOF sozinho ajudou, mas não muito. O dólar continua abaixo de R$ 1,7. Vai usar de outros instrumentos de defesa. Acredita no câmbio flutuante, sim, vai mantê-lo ao mesmo tempo em que reage convencido de que é preciso mais. E mais não só agora, afirmam os analistas do mercado, um "mais" quase permanente, que deve durar enquanto forem mantidas as desvalorizações do dólar e do yuan e outras moedas.
As forças do mercado estão sendo enfraquecidas por intervenção direta de grandes participantes do mercado mundial, como Estados Unidos e China, nossos dois principais parceiros comerciais.
O governo decidiu agora seguir o mesmo caminho, como vem afirmando o ministro Guido Mantega. Não esconde mais que o objetivo é a defesa aberta do mercado interno, ameaçado de déficit do qual só escapou em 2010 pelo excelente resultado das exportações de commodities.
Festa de paradoxos. Aqui, o governo se defronta com uma espécie de festival de paradoxos, do crescimento da inflação e do real valorizado, que reduzem a capacidade de administrar o câmbio.
O primeiro, é o paradoxo vem do excepcional crescimento econômico. Ele vem atraindo investimentos em um mercado financeiro internacional ainda instável e com poucas oportunidades seguras e rentáveis como no Brasil. Este é um assunto velho para o leitor da coluna.
Além do afluxo de investimentos financeiros, há a aumento dos preços das commodities, que, admitem o governo e analistas, representam um fator decisivo na cotação do real. O preço sobe lá fora, entram mais dólares e o real se valoriza. O fato irônico e paradoxal é que esses preços são ditados em grande parte pela desvalorização do yuan, sempre atrelado ao dólar. A China, na verdade, dita os preços das commodities, absorvendo a alta com uma moeda fraca.
Triplo sofrimento. Nesse cenário, o Brasil sofre três vezes, ao mesmo tempo. Primeiro, quando o real se valoriza com a entrada de dólares via exportação de commodities. Segundo, quando o yuan, que segue o dólar, também se desvaloriza em relação ao real. E terceiro, quando essa desvalorização do yuan em relação ao real facilita e explica o aumento significativos das exportações chinesas para o Brasil. Isso é mais porque são compostas essencialmente de produtos industriais que estamos deixando de produzir.
É a armadilha do câmbio que o governo enfrenta no momento. Uma espécie de círculo vicioso real-yuan-dólar-real numa sucessão de causa e efeito que pretende quebrar.
E tem inflação, juros. Ah! se fosse "só"isso... Não é. Há a inflação de quase 6%, ameaçando romper a meta. Isso vai exigir uma nova elevação dos juros pelo Banco Central talvez nos próximos dias, o que irá atrair ainda mais investimentos que... bem vocês já sabem, mais dólares no mercado, mais valorização do real. Temos aí a armadilha da inflação e dos juros mais altos para contê-la.
Vai dar? Vai. O BC deve continuar comprando dólares, elevando as reservas cambiais para mais de US$ 300 bilhões. Só no ano passado, foram mais de US$ 40 bilhões. O ruim, é que aumenta o seu custo de financiamento e a divida interna no final da linha - títulos do Tesouro para não transformar os novos dólares em reais e inflação. O bom, é que o país fica protegido contra uma crise cambial ou turbulências externas.
Avaliando bem, a economia brasileira se enfrenta com desafios superáveis mesmo num cenário externo adverso que se prevê para este semestre.

ALBERTO MURRAY NETO

O esporte precisa de políticas públicas
Alberto Murray Neto
Folha de S. Paulo - 13/01/2011

Esporte de alto nível não deve ser função estatal em países carentes de outras prioridades: o Estado deve despejar os seus recursos no esporte para todos

As autoridades recém-empossadas devem criar políticas públicas de esporte social. É preciso mudar a mentalidade esportiva do país.
Nosso edifício esportivo está alicerçado nos clubes. Essa estrutura vem se desfazendo rapidamente.
É essencial que encontremos caminhos seguros para o esporte olímpico. As dificuldades de transporte em metrópoles como São Paulo e entraves econômicos afastaram os atletas dos clubes. E estes, com raras exceções, restringem as suas atividades desportivas, sem que haja contrapartida.
O setor privado encolheu as possibilidades da prática da educação física e o Estado não agiu para compensar essa falta. A escola é o campo em que se deve semear a implantação da mentalidade esportiva.
Esporte de alto nível não deve ser função estatal em países carentes de outras prioridades. O Estado deve despejar os seus recursos no esporte para todos. Não que o Estado deva estar completamente alijado do esporte de alto rendimento.
Mas, em vez de sustentá-lo, deve assessorá-lo, defendê-lo, possibilitá-lo.
O desenvolvimento do futebol é pura consequência daquilo que constitui o fundamento da minha tese. Desde criança, o contato com a bola como um brinquedo forma no brasileiro a intimidade com o futebol. Por que não fazer o mesmo com outras modalidades?
É preciso vontade política. As escolas públicas devem ter praças esportivas adequadas para professar aulas de educação física prazerosas aos alunos. A cadeira da educação física deve ser inserida na grade escolar com a mesma relevância das demais disciplinas.
Cabe ao Estado firmar convênios com as universidades, para que os alunos aprendam os valores olímpicos. O Estado também pode influenciar os clubes para que retomem as atividades desportivas e aceitem em seus quadros atletas militantes, das camadas pobres da população. Praças esportivas públicas devem ser colocadas à disposição em horários alternativos, até mais tarde e com segurança.
Competições de massa, como os Jogos Abertos do Interior, devem ser valorizadas. Seria bom refundar as "turmas volantes esportivas", como fez São Paulo no passado, em que atletas das capitais percorriam o interior fazendo "esporte de demonstração" para difundi-lo.
Esporte é educação, saúde, desenvolvimento e meio ambiente.
Não há como dissociar o esporte dos demais setores governamentais. As pastas de esporte devem agir em conjunto com as outras, por convênios, buscando propagar a educação física como um fator fundamental para o crescimento sustentado do país.
A USP possui excelentes centros de treinamentos, que não são aproveitados. O Cepeusp, projetado para os Jogos Pan-Americanos de 1975, que seriam em São Paulo, está absolutamente sucateado. Isso mostra que o esporte não tem sido prioridade. É necessário recuperá-lo e torná-lo um centro de desenvolvimento do esporte universitário.
Em 1939, quando o esporte no Brasil era uma atividade desregulamentada, Sylvio de Magalhães Padilha, atleta finalista olímpico, criou o Defe (Departamento de Esportes e Educação Física). Foi o embrião da Secretaria do Esporte.
Fizeram-se as primeiras leis do esporte, regulamentou-se a atividade do professor de educação física.
Criaram-se competições de massa.
Os conjuntos desportivos Baby Barioni e Ibirapuera foram feitos para atender ao povo da cidade. Após isso, muito pouco foi feito. São Paulo precedeu a União na criação de políticas públicas no esporte.
Defendo uma Agência Nacional de Esporte independente e dirigida por técnicos, para colocarmos em prática a política pública desportiva de longo prazo.
ALBERTO MURRAY NETO, 45, é advogado, árbitro da Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, diretor da ONG Sylvio de Magalhães Padilha e autor do blog Alberto Murray Olímpico ( www.espn.com.br/albertomurrayneto ).

GOSTOSA

ELIANE CANTANHÊDE

Caindo na real
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/01/11


BRASÍLIA - São Paulo se afoga em lama e em lágrimas, o Rio de Janeiro empilha cadáveres, o Sudeste inteiro vê casas e encostas sendo carregadas pela enxurrada.
Os cidadãos que entulham os rios com plástico (a foto de Juca Varella na Folha de ontem é chocante) culpam os governos, e os governos culpam são Pedro -ou "a chuva excepcional", como disse o governador Alckmin, com a "excepcionalidade" se repetindo teimosamente depois de 16 anos de PSDB no Estado. E com o aliado Kassab incapaz de usar a verba disponível.
Quanto a Dilma Rousseff, por onde anda, o que faz, o que diz e o que pensa sobre a tragédia?
Conforme anúncio do Planalto, ela vai repetir hoje o percurso de ontem do ministro da Integração, sobrevoando a região serrana do Rio, cruelmente devastada. Certamente vai potencializar a promessa de milhões da Saúde, dos Transportes, do Meio Ambiente, disso e daquilo até o Carnaval chegar. Não necessariamente o deste ano.
Será um bom teste para Dilma, que vem fazendo um contraponto com Lula, que adorava palanques, holofotes, horário nobre e capas de jornais. Desde a eleição, Dilma deu uma coletiva em Brasília, depois gravou algumas declarações na reunião do G-20, em Seul e, por fim, brindou o "Washington Post" com uma entrevista exclusiva de grande repercussão. Ao assumir, sumiu, calou-se. Prefere trabalhar em silêncio, ou trabalhar a aparecer.
Do ponto de vista de gestão, uma opção e tanto. Do ponto de vista de popularidade, sabe-se lá?! O país está embriagado de oito anos de imagens, símbolos, frases de efeito, emoção e maneirismos. Não vai ficar abstêmio da noite para o dia.
Assim, ao sair dos palácios e cair na real, Dilma deve estar calculando milimetricamente até onde ir, o que falar, que roupa usar, que expressão mostrar. Ou... que personagem assumir. Nem pode se passar por técnica insensível nem pode repetir Lula. Porque não é Lula.

JOSÉ SIMÃO

Socuerro! Sudeste vira Chuveste! 
 José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/01/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Direto do País da Piada Pronta: prefeito é preso com cocaína escondida no carro. Como é o nome do município? SANTA BRANCA! Hon- rou o nome da cidade. Escondeu a santa branca embaixo do assento!
E ontem assisti ao "BBB 11". Me entreguei à podridão! Só tenho um problema: não consigo acompanhar o raciocínio do Bial. Rarará!
E socuerro! Chama o Noé! O Sudeste virou Chuveste. Chuveste Stalonne, é cada pancada!
E o show da Amy? Avisaram pra ela vir de snorkel? A Amy vai cantar de snorkel. De snorkel e máscara!
Tô preocupado! Será que ela sabe nadar? Pelo menos ela vai beber algo diferente: água de enchente. Vai ficar doidona! Rarará! E a turma do gargarejo vai ser a Turma do Gargarejo MESMO.
Aquassab Urgente! Um leitor mandou perguntar se pra chegar na avenida Aricanduva ele vira pra bombordo ou pra estibordo? E a nova padroeira de São Paulo: Nossa Senhora dos Navegantes! E o novo apelido do Kassab? Iemanjá!
E um amigo me disse que se salvou da enxurrada porque na hora da chuva ele tava transando com uma boneca inflável. Rarará!
Enchentes! A alta temporada do Datena! Ele mostrou até porco na enchente. E disse que aquele monte de porco na enchente parecia uma feijoada. Rarará! O Datena é o Galvão Bueno das enchentes!
Sampa alagada. Rio embaixo d"água. E não pode sair de carro, senão a capota aparece boiando no "Jornal Nacional". E uma advertência aos cidadãos: não pode jogar lixo. E nem votar em lixo!
E o Kassab vai lançar o Projeto Boia SÃO PAULO. E PSDB quer dizer: Partido Social da Boia. Rarará! E ninguém pode reclamar. Pelo menos a Sabesp cumpriu o que prometeu: água e esgoto na porta de casa.
O Brasileiro é Cordial! Olha o cartaz num estacionamento ao lado da Prefeitura de Campinas: "Senhores usuários do estacionamento, estamos percebendo que várias motos estão aparecendo com adesivos da prefeitura, estamos pedindo que joguem fora ao sair do local. Caso alguém for pego colando o mesmo, tomará muitas CAPACETADAS e terá A MÃO QUEIMADA em algum escapamento, e sem direito a reclamar porque está ERRADO! Obrigado. Assinado: a gerência". Medo dessa gerência! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

CENSURA

CELSO MING

A sina da moeda forte 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 13/01/2011

O ministro Guido Mantega segue dizendo que tem uma infinidade de opções à sua disposição para enquadrar o câmbio. Com isso passa a impressão de que a solução está logo aí, na gaveta da frente.

E, na verdade, não há como inverter a tendência à valorização cambial (baixa do dólar) no Brasil. Isso posto, é preciso ajustar a economia de modo a conviver com moeda forte.

Não há quem não esteja preocupado com a atual tendência à valorização do real, situação que tira competitividade do produto nacional porque o deixa mais caro em dólares.

A economia brasileira está se fortalecendo por várias razões. Porque está mais equilibrada, tem um forte mercado interno e é uma das economias do mundo com mais perspectivas.

Ainda ontem, John Drzik, do Fórum Econômico Mundial, com sede em Davos, na Suíça, advertiu que, até 2030, a procura global por alimentos crescerá 50%; a por energia aumentará 40%; e a demanda por água doce, 30%. E, atenção: 2030 está logo aí; são apenas 19 anos.

O Brasil tem um enorme potencial para atender a essa demanda, na condição de grande produtor de alimentos, de energia e de água doce. E basta isso para se ver que o País está fadado a ser uma economia forte - a menos que os brasileiros façam enormes besteiras.

O problema é que economia forte tem necessariamente moeda forte, independentemente do arsenal contra valorização cambial que o ministro garante ter à sua disposição. Em entrevista concedida a jornalistas brasileiros em novembro, o presidente do Banco de Israel (banco central), Stanley Fischer, advertia que não é possível ter economia forte com moeda fraca. Essa verdade já está martelando na cabeça dos brasileiros e vai continuar a martelar nos próximos anos.

Até agora, sempre que, por uma razão qualquer, o produto nacional perdia competitividade, o governo tratava de providenciar uma desvalorização cambial. Mas esse truque acabou. O País tem de se acostumar a tirar competitividade não mais da desvalorização cambial, que está ficando cada vez mais difícil, mas por meio do aumento da produtividade e da redução do custo Brasil.

A Alemanha nem moeda tem e, portanto, não pode manobrar o câmbio para desvalorizar sua moeda para dar competitividade a seu produto. No entanto, a partir do momento em que tomou a decisão de abrir mão da soberania monetária, o governo da Alemanha não fez outra coisa senão garantir competitividade por outros meios. Eles impuseram austeridade às contas públicas maior do que a dos outros países da área do euro, comprimiram os salários e as aposentadorias, fizeram reformas de base e investiram em infraestrutura, o que reduz custos de produção e de distribuição. Hoje, mesmo sem moeda, os alemães são os campeões da competitividade de toda a Europa e não só da área do euro.

O Brasil não é a Alemanha e ninguém espera que repita a trajetória vencedora desse país. No entanto, vai ter de descobrir outro jeito de ter uma economia forte com moeda forte.

Felizmente há muito espaço para a redução do custo Brasil. É derrubar o excesso do custo do Estado, derrubar a carga tributária excessiva, derrubar os juros escorchantes, derrubar o custo da Justiça, fazer as reformas... O ministro Mantega tem razão, há uma infinidade de providências a tomar.


CONFIRA

Cotação do dólar

Apesar das compras do Banco Central e das decisões do Ministério da Fazenda para segurar o câmbio, o dólar não para de cair, como mostra o gráfico acima.

Dedo chinês

Ontem, os mercados festejaram o sucesso das vendas de ? 1,2 bilhão em títulos de Portugal. "A procura foi o triplo da oferta", comemorou o ministro das Finanças de Portugal, Teixeira dos Santos. Nos bastidores, comentava-se a novidade: "Foi a China que comprou 1,1 mil milhões de euros de dívida a Portugal", noticiou o Jornal de Negócios, de Lisboa.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Lupi defende "PAC" para o mercado de trabalho 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 13/01/2011

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, estuda criar um "PAQ" (Programa de Aceleração da Qualificação) para qualificar tanto trabalhadores que estão no mercado de trabalho como fora dele.
"Já existe o PAC com "C", o Programa de Aceleração do Crescimento. Agora queremos um PAC com "Q", de qualificação", disse Lupi.
O ministro pretende formatar o programa, que deverá envolver todas as regiões e setores econômicos, em cerca de três meses.
Uma das ideias é levar ao mercado de trabalho aposentados, fornecendo-lhes cursos de atualização, e jovens sem experiência. O plano deverá, porém, priorizar o atendimento aos que procuram o primeiro emprego e pessoas de baixa renda.
Em 2009, cerca de 900 mil vagas ofertadas pelo Sine (Sistema Nacional de Emprego) do ministério não foram preenchidas por falta de habilitação dos candidatos.
"A qualificação tem de estar em pauta já que o país vai sediar eventos como a Olimpíada e a Copa do Mundo. É uma oportunidade para que principalmente o setor de serviços e o da construção civil possam se expandir e capacitar seus trabalhadores."
O ministério vai mapear a mão de obra que busca emprego e não consegue para depois fazer o planejamento dos cursos úteis para esses trabalhadores.
"No interior de SP, por exemplo, a mecanização acelerada na área agrícola e sucroalcooleira mudou o perfil do trabalhador necessário para trabalhar na colheita da cana", disse o ministro.
"Ele tem de operar máquinas, tem de ter um conhecimento que antes não era necessário. O trabalho braçal está praticamente extinto na região", acrescentou.

Sobra anual do abono salarial bancaria "PAQ", diz ministro

Uma das fontes de custeio do "PAQ" seria parte dos recursos do abono salarial que os trabalhadores deixam de resgatar todo ano.
"São 17 milhões de trabalhadores com direito a receber 1,5 salário mínimo referente ao abono e outros cerca de 6,5 milhões que recebem o seguro-desemprego. Como um percentual em torno de 2% deixa de receber os benefícios, o dinheiro voltaria ao trabalhador por meio do programa de qualificação", explica o ministro do Trabalho.
Hoje os recursos que não são resgatados voltam para o Fundo de Amparo ao Trabalhador. "São cerca de R$ 300 milhões por ano", afirma.
Segundo o ministro, o plano poderia ter a participação de Estados e municípios, que receberiam recursos para qualificar os trabalhadores. A participação das centrais sindicais está descartada.
"Podemos fazer a chamada pública, que é como uma licitação em que o governo apresenta o projeto, os interessados se inscrevem e vence o melhor preço", diz Lupi.
O ministro afirma que criará o selo-qualidade da qualificação. O objetivo da medida é ver quais empresas colocam mais profissionais no mercado após a qualificação, medir as que têm menor evasão escolar, entre outros.

CHECK-IN EM BELO HORIZONTE

Com o foco em turismo de negócios, a rede hoteleira InterCity vai estrear a bandeira em Minas Gerais.
Com 286 apartamentos de categoria econômica, o empreendimento será construído em Belo Horizonte, em parceria com as empresas Castelo Engenharia e Verde Imóveis.
"A demanda em BH, que é uma grande cidade de negócios, está forte. A localização foi estratégica, próxima ao centro de convenções", diz Alexandre Gehlen, fundador da rede.
Até o final do primeiro trimestre, a empresa vai iniciar a construção de mais dois hotéis: em Montenegro (RS) e em Itaboraí (RJ). Os três projetos receberão investimentos de aproximadamente R$ 100 milhões.
"Em 2010, o mercado de hotelaria de negócios cresceu acima das projeções para o PIB, o dobro. Não são a Olimpíada ou a Copa que viabilizam o crescimento, e sim a necessidade das pessoas de viajar a negócios", diz Gehlen.
Presente em sete Estados, com 16 hotéis em operação, a rede, com sede em Porto Alegre, busca novos negócios. "Curitiba, Recife, Brasília e o interior de São Paulo estão no alvo."

TRILHÃO

Os pagamentos feitos por empresas por meio do Banco do Brasil superaram R$ 1 trilhão em 2010. Neste montante estão incluídos operações com títulos, TED/DOC, crédito em conta-corrente e pagamentos contra-recibo. Em 2009, o valor registrado foi de R$ 989,5 bilhões e em 2010, de exatos R$ 1,225 trilhão, uma alta de 23,83%.

INVESTIMENTO EM MAQUINÁRIO

A indústria brasileira é uma das quatro que mais investirão em máquinas no mundo em 2011, segundo estudo da consultoria Grant Thornton International.
Um dos motivos para o aumento da compra de maquinários é a valorização do real.
Os outros três países que se destacam no quesito são Chile, Armênia e Filipinas.
Já Grécia, Holanda, Irlanda e Japão diminuirão os investimentos nesse setor, de acordo com a consultoria.
A pesquisa também mostrou que Argentina, Índia e Turquia apresentarão altos índices de inflação neste ano.
A Grant Thornton entrevistou, entre novembro e dezembro passados, 5.700 executivos de todo o mundo.
Os mais confiantes são os latino-americanos.
Entre os empresários ouvidos na região, 78% responderam que estão otimistas com os seus negócios.

VESTIR A CAMISA

O INDG (Instituto de Desenvolvimento Gerencial), fundado por Vicente Falconi, empossou ontem Mateus Bandeira como novo presidente da consultoria.
O executivo substitui o cofundador José Martins de Godoy, que assume a presidência do conselho.
Agora os fundadores Falconi e Godoy deixam o dia a dia do instituto. "Embora permaneçam no conselho, é uma grande mudança", diz Bandeira, que já conheceu a consultoria do ponto de vista de cliente, quando foi diretor do Tesouro do Rio Grande do Sul, secretário de Planejamento e Gestão e presidente do Banrisul, cargo que acaba de deixar.
Em 2010, o faturamento do INDG foi R$ 307,8 milhões, alta de 56%. Do total, 79% correspondem a empresas nacionais, 8%, estrangeiras e 13%, setor público.

GOSTOSA

DORA KRAMER

Excelência é posto
Dora Kramer
O ESTADO DE S. PAULO - 13/01/11

A declaração do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, sobre a concessão indevida de passaportes diplomáticos a familiares do ex-presidente Lula, ao pastor mandachuva na TV Record e a parentes de parlamentares a fim de lhes facilitar o trânsito turístico alfândegas afora, não quer dizer nada.

"Nós estamos examinando a situação dos passaportes como um todo. É uma medida tomada pela administração anterior. Não tenho nada a acrescentar." Na realidade não tinha era nada a dizer, ante a impossibilidade de dar à situação a definição que ela merece: desmando.

A concessão dos documentos virou uma farra. E daquelas bem parecidas com as que ocorrem no Parlamento.

A justificativa de Patriota de que a decisão foi tomada na "administração anterior" poderia fazer sentido caso ele não fosse o segundo na linha hierárquica na referida administração, onde ocupava o posto de secretário-geral do Itamaraty.

No Congresso, quando se descobriu a farra das passagens aéreas distribuídas indiscriminadamente a parentes, amigos, correligionários e funcionários de deputados e senadores que também as usavam para fazer turismo, a reação do Legislativo foi semelhante à do chanceler.

O anúncio de revisão da "situação como um todo" é uma excelente maneira de não tratar do assunto e principalmente de não corrigir o malfeito. Não é a regra que precisa ser revista, mas o procedimento na aplicação. A lei é claríssima quanto a quem tem direito e sob quais condições os passaportes devem ser concedidos.

O que se impõe ao novo chanceler não é a exposição de subterfúgios. É a explicação clara a respeito do que acontece no Itamaraty, há quanto tempo grassa a anarquia e por quais motivos a diplomacia brasileira funciona ao molde de uma confraria de privilégios, como ocorre no Congresso.

Antonio Patriota não estreia bem a função quando sai pela tangente e, assim, se alia aos arautos da tese de que a banalização do documento diplomático é uma irrelevância diante de tantos e mais sérios problemas a serem resolvidos no Brasil.

O País de fato tem muito a resolver. A diplomacia, celebrada como uma das mais competentes, profissionalizadas e avançadas áreas do Estado brasileiro, daria uma enorme contribuição ao farto cardápio de providências se incluísse entre suas prioridades a preservação da excelência do Itamaraty, no lugar de rebaixá-lo à companhia das demais mazelas nacionais.

Cenografia. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, não "diverge" do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na questão do salário mínimo da perspectiva do governo, mas sob a ótica do político que depende de votos e por isso, assim como os nobres colegas (dele), dá-se ao desfrute da demagogia.

Causa e efeito. Não é para rir nem para chorar, é de se lamentar a politização da tragédia alheia por causa das chuvas: se o governante é de um partido aliado a x, atribui-se tudo ao infortúnio dos chamados fenômenos naturais; se é de outro correligionário de y, a culpa é da incúria administrativa e da insensibilidade social.

De verdade é tudo isso em todos os casos, acrescentando-se anos de negligência, o jogo de empurra, a arte de tirar o corpo fora, a imprevidência, a indiferença ao mérito, a politicagem barata, a corrupção e a ausência de uma relação de causa e efeito entre a incapacidade dos governantes de impedir que as chuvas de todos os anos resultem em catástrofes e o resultado da eleição mais próxima.

Na real. O mundo girou, a Lusitana rodou e das revelações diplomáticas do WikiLeaks nada de fundamental restou.

EUGÊNIO BUCCI

''Be a killer, be a star''
Eugênio Bucci 
O Estado de S.Paulo - 13/01/11


O leitor haverá de perdoar o título em inglês, mas isso nem é bem um título de artigo - é, isso sim, um imperativo, uma lei não escrita e, não obstante, reiterada diariamente pelos mil alto-falantes da indústria de entretenimento, na língua dos filmes de guerra de Hollywood, com sabor de bombardeio: é um mandamento que tem gosto de slogan publicitário e de sentença de morte. Por isso vai no título assim mesmo, em inglês. Fica mais claro. A adoração da violência, da qual o espetáculo que nos cerca não consegue mais escapar, ordena, todos os dias, a todos os adolescentes que não veem sentido na vida: "Be a killer, be a star." Mate e fique famoso. Se viver é uma tolice, matar será a sua trilha para o estrelato.

As evidências surgem em profusão. Agora, no fim de semana que passou, explodiu mais uma. Em Tucson, no Arizona, um rapaz de 22 anos, cujo nome não será digitado neste texto, disparou a sua arma contra inocentes aglutinados num evento público. Matou seis pessoas e feriu gravemente a deputada democrata Gabrielle Giffords, que tem chances de sobreviver. Sim, o roteiro é conhecido. Essa modalidade de crime vem se banalizando nos Estados Unidos, num script sempre idêntico, no qual só varia o nome das cidades, dos assassinos e de suas vítimas - o resto é igual: um jovem que, segundo depoimentos dos professores e vizinhos, era "estranho" e "desequilibrado", tanto que cultuava ideais nazistas ou análogas, sofre um revés na escola, vai a uma loja do bairro, compra um fuzil ou uma garrucha e mata meia dúzia de conterrâneos.

Por quê? Aí está o ponto: as evidências são clamorosas e repetitivas, mas a compreensão do que se passa é mínima, quase miserável.

A maior parte das explicações faz referência ao fetiche que a cultura americana desenvolveu pelas armas de fogo. Alegam que espingardas e pistolas são objetos de desejo e, mais grave, estão à venda em qualquer esquina dos Estados Unidos. Um bom exemplar dessa linha de explicações pode ser visto no filme Tiros em Columbine, de Michael Moore, que levou o Oscar de melhor documentário em 2003. A partir de um caso semelhante a esse de Tucson, o filme de Michael Moore critica acidamente o fascínio da sociedade americana por equipamentos bélicos em geral. É claro que Michael Moore aponta um dado real, mas não resolve a charada. Proibir o comércio de armas de fogo não solucionaria a questão; a causa não é apenas essa e talvez não seja fundamentalmente essa. Há mais fatores a considerar.

Agora, no crime de Tucson, em que uma bala atravessou a cabeça da deputada Gabrielle Giffords, que é odiada pelos republicanos linha-dura, aparece com mais clareza outro ingrediente: as ideologias intolerantes, quase sempre de corte ultraconservador, comparecem como um denominador comum entre esses criminosos. Outra vez, o dado é real, mas parcial e perigosamente enganoso, pois pode levar a crer que esse tipo de crime é coisa de gente "de direita" - e não é, ou não é só de gente "de direita".

O que falta ser levado em conta, aí, é o papel estruturante da indústria do entretenimento, tal como ela foi moldada pelo mercado americano. É essa indústria que fornece o repertório de signos, símbolos e narrativas pelo qual os valores da violência, da xenofobia e da intolerância ganham sentido. O fetiche da arma de fogo só virou uma categoria sólida na sociedade americana - e na sociedade global, por extensão inevitável - porque encontrou lugar nuclear no modelo do herói consagrado pelo entretenimento. Esse herói é o indivíduo solitário que, com sua integridade (ou turrice) e sua força, moral e física, enfrenta o "sistema". Para ele, a acusação de ser desajustado é bobagem. Ele não liga. Ao contrário, ele até se sente fortalecido quando cai no estereótipo de "incompreendido". O herói de Hollywood, tal como foi esculpido ao longo do século 20, é aquele que, em nome do bem, que só ele sabe qual é, recorre à violência mais selvagem; é aquele que se mata em nome de sua própria teimosia. Então, a mocinha que o ignorava irá chorar por ele. É nesse modelo de herói, precisamente nele, que se refugia o psiquismo desse tipo de criminoso. As mesmas manchetes (de jornais, revistas, rádio, televisão e internet) que o denunciam, expondo sua foto, sua biografia e suas esquisitices, fazem com que ele se sinta glorificado, num tempo em que é glamouroso, como nunca foi, fazer o papel de bandido corajoso. São essas as manchetes que ordenam: "Be a killer, be a star."

Antes que se pense, então, que a saída estaria num recuo da imprensa, que teria de deixar dar destaque aos assassinos, é bom avisar: também nesse ponto existe uma armadilha. Assim como a raiz do problema não está na venda de armas nem nas ideologias "de direita", ela também não está na tal "mídia". Ela está, antes, na combinação dos três fatores que foram listados aqui: a idolatria das armas e de seus senhores, a intolerância extremada e, finalmente, o fator que articula os outros dois, o chamado "star system", no qual ser estrela vale mais do que viver ou deixar viver. Essa é uma combinação poderosa, profunda, que não se resolve com proibições burocráticas. O público deseja (com um ardor demasiado, é verdade) ver de perto essas tragédias reais, e tem o direito de vê-las. Aos jornais cabe narrar as tragédias. A pergunta é: por que o jornalismo não tem sido capaz de ajudar o público a compreender essas tragédias?

Em parte, porque a imprensa se tornou parte da indústria do entretenimento e, com isso, perdeu distanciamento para criticar os fundamentos dessa indústria. Ela vê criticamente o mercado de armas e o obscurantismo das ideologias, mas não visualiza direito como entretenimento e violência se entrelaçam. Sem se dar conta, a imprensa é o céu estrelado pelos assassinos que ela ajudou a convocar.

JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP E DA ESPM

CABEÇA OCA

MERVAL PEREIRA

Silêncio de ouro
Merval Pereira
O GLOBO - 13/01/11

Nunca o adágio popular que diz que "o silêncio é de ouro" foi tão apropriado. Nunca antes neste país um silêncio foi tão comemorado, tão elogiado. Treze dias depois de assumir o governo, a presidente Dilma se mantém na mesma postura de silêncio obsequioso que adotou desde que foi eleita.

Seu discurso de posse, praticamente repetindo o da vitória na eleição de 30 de outubro, foi das poucas manifestações de viva voz que produziu desde então, fora uma ou outra rápida declaração a jornalistas brasileiros, cada vez mais raras por sinal.

Houve também uma importante entrevista ao "Washington Post", na qual ela marcou pela primeira vez sua divergência com o Irã sobre a questão dos direitos humanos.

O silêncio obsequioso é imposto como punição pelo Vaticano a religiosos que defendem doutrinas divergentes da ortodoxia da Igreja Católica.

Foi imposto, por exemplo, a Leonardo Boff, que defendia a Teologia da Libertação.

O de Dilma, embora o PT se assemelhe a uma seita religiosa, não lhe foi imposto, mas adotado por ela como maneira de não entrar em choque com o hiperativo Lula quando ele ainda estava em pleno gozo de suas prerrogativas presidenciais e dava mostras diárias de que lhe custaria muito abandonar o poder.

Depois da posse, Dilma continua em silêncio, o que parece ser uma estratégia para impor um ritmo diferente ao governo sob nova administração.

Parece ser uma sina petista a mudança de comportamento quando um deles assume a Presidência da República.

O ex-presidente Lula venceu a eleição como "Lulinha paz e amor", retirando de sua figura política a agressividade que assustava eleitores não ideológicos, e transformou-se durante os oito anos de mandato em um presidente populista, mas obediente à ortodoxia econômica do capitalismo, esquecendo que no programa do PT ainda há a decisão de lutar pelo socialismo.

Guardou seu esquerdismo anacrônico para as relações externas, e uma ou outra investida de acordo com seus interesses políticos do momento, inclusive contra os meios de comunicação.

Já a presidente Dilma, que quando ministra parecia estar ligada à ala mais radical do petismo, mostra-se nesses primeiros dias de governo de uma sensatez à prova de má vontades políticas, e começa mesmo a corrigir distorções do governo anterior, algumas aliás que a beneficiaram, como o aumento dos gastos públicos.

A mesma ministra que brigou em público com seu colega Antonio Palocci, chamando a proposta de conter gastos de "rudimentar", hoje tem nele o principal conselheiro e tenta conter as divergências públicas de seus ministros.

Além, sobretudo, de comandar os esforços para a contenção dos gastos públicos.

A mudança mais concreta até o momento parece ser na política externa, onde a questão dos direitos humanos ganha ressalvas na relação com o Irã, cujo governo já começa a dar mostras de estar incomodado.

O presidente Lula saiu de cena forçado pela legislação, que não prevê um terceiro mandato consecutivo, mas colocou-se como um "reserva de luxo", na definição do atual secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, pronto para entrar em campo em 2014 se o governo de sua pupila não der certo.

Já que estamos usando metáforas religiosas, vamos lembrar que São Tomás de Aquino considerava a soberba a raiz de todos os pecados.

Na política, ela leva à arrogância e ao abuso do poder, e é o contrário do espírito democrático.

O presidente Lula, amparado em uma crescente popularidade, saiu do governo exercendo até o último momento, e mesmo depois dele, as prerrogativas de que se julga merecedor, mesmo quando elas afetam a legislação em vigor.

Ele, que se acha em condições de dar palpites sobre tudo, de decretar quem merece perdão e quem merece críticas, também se considera no direito de continuar usando o Estado em benefício próprio e dos seus.

Menos mau que até o momento ele também está em silêncio, e parte do país pode respirar aliviada sem ter que aguentar seus discursos auto-laudatórios diários, que podem ser um bom instrumento de marketing, mas são também evidências da arrogância do poder.

Mas, para preocupação da presidente Dilma, há também quem sinta falta do estilo histriônico de Lula, e uma sensação de vazio de poder pode trazer-lhe problemas.

Já há políticos alegando que a presidente, com sua ausência pública, estaria deixando um vácuo de poder, ou pelo menos uma sensação de vácuo de poder, o que em política é a mesma coisa.

A presidente Dilma terá que ter muita persistência e tenacidade se seu silêncio quer mesmo marcar uma maneira diferente de governar, de perfil mais discreto.

Os resultados que vier a alcançar é que lhe darão a segurança para persistir nessa batida, e a escolha, se intencional, pode ser uma maneira inteligente de fugir a comparações que só a diminuiriam diante da verborragia e da inegável capacidade de comunicação de Lula.

Escrevo "se intencional" por que, como se conhece pouco a persona política de Dilma, há o risco de que esse silêncio não seja sinal de uma estratégia, mas apenas consequência de uma incapacidade de se comunicar adequadamente, dificuldade que na campanha eleitoral ficou evidenciada.

Correríamos o risco de estar diante de uma nova versão do Pacheco, personagem de Eça de Queiroz no livro "A Correspondência de Fradique Mendes".

Pacheco era tido como brilhante, mas era econômico nas declarações. (...) "Esse talento, que duas gerações tão soberbamente aclamaram, nunca deu, da sua força, uma manifestação positiva, expressa, visível. O talento imenso de Pacheco ficou sempre calado, recolhido, nas profundidades de Pacheco!."

(...)"Deputado, diretor-geral, ministro, governador de bancos, conselheiro de Estado, par, presidente do Conselho - Pacheco tudo foi, tudo teve, neste País que, de longe e a seus pés, o contemplava, assombrado do seu imenso talento". (...) "o seu talento inspirava tanto mais respeito quanto mais invisível e inacessível se conservava lá dentro, no fundo, no rico e povoado fundo do seu ser".

Esperemos que o "enorme talento" da presidente Dilma, pressentido por tantos quanto hoje elogiam sua postura discreta, se mostre na sua inteireza ao país.

MÔNICA BERGAMO

BEST-SELLER A CAMINHO
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/01/11

A trajetória política de Dilma Rousseff vai virar livro. O jornalista Ricardo Amaral, que assessorou a presidente na Casa Civil, na campanha e na equipe de transição, começa a se dedicar ao projeto. A obra vai retratar desde a articulação da candidatura até a vitória de Dilma, além dos bastidores da campanha e da relação dela com o ex-presidente Lula. Amaral pediu exoneração do governo para escrever o livro, já disputado por duas editoras. O lançamento está previsto para meados do ano. Não se trata de uma biografia, embora o texto pretenda abordar também a trajetória pessoal da presidente.

AUTORIZADA
O assunto foi tratado no Palácio do Planalto. Não houve objeções.

MEIA-ENTRADA
O novo secretário estadual de Desenvolvimento Social, Paulo Alexandre Barbosa, quer disputar a Prefeitura de Santos em 2012. Ele recusou o primeiro convite de Geraldo Alckmin para a pasta da Educação. Não quis se comprometer por quatro anos.

EX-GLOBAL
O pedido de demissão de Ana Paula Arósio, encaminhado à Globo no final de dezembro, foi aceito ontem. A atriz, que desistiu de ser a protagonista de "Insensato Coração", começa a filmar "Entre Vales e Montanhas", novo longa de Philippe Barcinski. Segundo sua assessoria, ela já havia comunicado, em outubro, que não faria a novela. Pediu afastamento e devolveu o dinheiro que havia recebido.

BANCA RACIONAL
O edital que a gravadora Sony publicou para procurar músicos que tocaram com Tim Maia no disco "Racional 3" faz parte da preparação para o lançamento do álbum, que será vendido em bancas. Integrará uma coleção de 15 CDs do artista a ser lançada até fevereiro. E é inédito em disco. As faixas foram abandonadas por Tim em um estúdio, quando ele desistiu da gravação, e acabaram vazando na internet, em 2008.

VINTAGE
A minissérie "Sex Appeal" (1993) será reprisada no canal pago Viva, a partir de 15 de fevereiro. A trama de Antonio Calmon revelou as atrizes Luana Piovani, Camila Pitanga, Danielle Winits e Carolina Dieckmann.

AXÉ
Hebe Camargo comemorará seu aniversário de 82 anos, em 8 de março, terça-feira de Carnaval, em cima do trio elétrico de Claudia Leitte, em Salvador. Ela percorrerá o circuito Barra-Ondina sentada em um trono e vestida igual à cantora.

AROUCHE MODERNO
A tradicional boate gay Cantho, no largo do Arouche, foi repaginada por Mauricio Arruda e Guto Requena -este último responsável pelo ambiente do clube Hot Hot. Os arquitetos entrevistaram os frequentadores para fazer mudanças que incluem piso com estampa xadrez de piquenique e um bar pink e vermelho. Palco de uma festa de Marc Jacobs, a balada é reinaugurada hoje.

SOB NOVA ATUAÇÃO
Adriane Galisteu entrou no elenco da peça "Mulheres Alteradas", em nova temporada, no teatro Procópio Ferreira. Substitui Daniele Valente. Divide o palco com Luiza Tomé, Mel Lisboa e Daniel Del Sarto. Seu marido, Alexandre Iódice, não perdeu a estreia.

CURTO-CIRCUITO

Reinaldo Lourenço assinará uma linha de relógios Mondaine Twist. O produto, que virá em um kit com quatro variações de pulseiras, caixas e aros, será lançado na SPFW.

A grife Chicletaria lança coleção hoje, das 9h às 17h, em Pinheiros. No sábado, inicia liquidação no Iguatemi.

O bar 1820, da Johnnie Walker, no Itaim, reabre hoje, a partir das 19h, com show da cantora Izzy Gordon. Classificação etária: 18 anos.

A Cia. Barbixas de Humor se apresenta entre os dias 24 e 29 em Amsterdã, na Holanda, durante festival internacional de improvisação.

com ELIANE TRINDADE (interina), DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY