domingo, novembro 16, 2014

Os companheiros privatizaram a verdade - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA 

A EDUCAÇÃO BRASILEIRA ESTÁ EMPESTEADA DO VÍRUS IDEOLÓGICO QUE PROSTITUI A VERDADE


Teste de história para o 3" ano do ensino médio, numa escola particular do Rio de Janeiro bem colocada no ranking acadêmico:

"O presidente eleito (FHC) governou o Brasil por dois mandatos, iniciando a consolidação da política neoliberal no país, principiada pelos presidentes Collor e Itamar Franco. Sobre os dois mandatos (1995-2002), pode-se afirmar que se caracterizam:

e) pelo limitado crescimento econômico; privatização das empresas estatais; diminuição do tamanho do Estado; e apagão energético, que levou ao racionamento e ao aumento do custo da energia.

A alternativa "e", acima, é a resposta correta, segundo o professor que aplicou o teste. As quatro alternativas erradas são recheadas de bondades sociais, naturalmente identificadas pelos isentos elaboradores do teste com os governos do PT - muito distantes das maldades neoliberais de FHC. É muito grave o que acontece no Brasil. Um arrastão que mistura má-fé e credulidade empreende uma lavagem cerebral no país.

Vamos repetir o termo, para destacá-lo da frase anterior, que ficou um pouco longa: lavagem cerebral.

O exemplo acima é um retrato triste, vergonhoso, do que se passa nas bases da civilização brasileira. A transmissão do conhecimento no Brasil está empesteada pelo vírus ideológico - aquele que sabota a cultura e prostitui a verdade. Nada, absolutamente nada, pode ser mais grave para uma civilização. A quebra da confiança no saber destrói uma sociedade. Quando os monstros nazistas e comunistas foram pegos na mentira, o flagelo social já estava consumado - com a complacência da coletividade.

O PT caminha para 16 anos no poder. Engana-se quem vê inflação e recessão como os piores produtos de uma gestão desonesta. O pior produto é o envenenamento das instituições - gradual, sorrateiro, letal. O brasileiro, esse ser dócil, acha que o julgamento do mensalão foi um filme de época. Recusa-se a perceber que aquele golpe (submeter o patrimônio público a interesses partidários) se aprofunda há 12 anos. O PT montou uma diretoria na Petrobras para a sucção bilionária do dinheiro do contribuinte. Qual é o grande escudo para mais esse assalto?

É a lavagem cerebral. O Brasil engole o assalto petista porque está embriagado dos clichês de bondade, associados aos heróis da vagabundagem. Eles são administrativamente desastrosos e contam com grande elenco de pilantras condenados, mas pelo menos não são "neoliberais de direita". É esse o truque tosco do teste escolar aqui citado.

O que é uma "política neoliberal", prezados mestres da panfletagem? Por acaso vocês se referem à abertura econômica do país, com o avanço de prosperidade dela advindo? Claro que não. Vocês citaram "neoliberal" como um palavrão, cuspido pelo filho do Brasil num desses palanques em que ele mora. Vocês não têm nem uma pontinha de vergonha de resumir os anos FHC a um "limitado crescimento econômico" - tendo sido esse o governo que deu ao Brasil uma moeda de verdade?

Não, Ok. Vocês não têm vergonha de nada. Nem de escrever que, nesse período, se deu "a privatização das empresas estatais". Como assim? Todas? Acrescentem ao menos: com exceção de empresas como Petrobras, Correios e Banco do Brasil, que permaneceram públicas para que os companheiros pudessem fazer nelas seus negócios privados. Vocês também poderiam, prezados mestres da educação brasileira, escrever que FHC privatizou a telefonia agonizante e, assim, melhorou a vida dos pobres. Não, desculpem: os pobres pertencem a vocês, e a seus patrões petistas. "Privatização das empresas estatais" - mais um palavrão ideológico, cuspido nos ouvidos de estudantes adolescentes. Prezados professores: vocês são uns covardes.

Nem merece retificação a referência ao "apagão" - que só aconteceu nas suas mentes obscuras. O que vocês devem admirar é a mentira progressista das tarifas de energia e gasolina, que finge dar ao consumidor o que rouba do contribuinte. Ou os truques da contabilidade criativa e do adestramento de dados no Ipea e no IBGE.

O país é hoje comido por dentro. Só passará no vestibular se responder a uma questão, antes de qualquer outra: Dilma sabia ou não sabia do petrolão? Tapem os ouvidos, prezados lavadores de cérebros.

Começou a mudar? - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 16/11


O descontentamento que se manifestou em junho de 2013 parece ter ganho definição, objetivo e uma liderança


Não posso adivinhar qual será o desfecho desta história que começou com a morte surpreendente de Eduardo Campos, desdobrou-se na ascensão de Marina Silva, depois com o crescimento da candidatura de Aécio Neves e concluiu com a vitória de Dilma Rousseff sobre ele, pela diferença de apenas 3 milhões de votos.

Será que esse é o final do processo ou, na realidade, o começo de uma nova etapa da história política brasileira? Não sei, não tenho opinião formada sobre este momento; não obstante, tudo indica que esta não foi uma eleição como as outras e que, por isso mesmo, pode trazer consequências decisivas para o país, daqui em diante. Não resta dúvida de que estes 12 anos de governo petista tiveram consequências importantes na vida social e política do país. Não apenas o primeiro governo Lula se destacou no atendimento amplo do setor mais necessitado da população e fez crescer o salário mínimo, como também se valeu dessas conquistas para se manter no poder o mais tempo que puder.

Foi precisamente esse projeto que esteve em risco durante as últimas eleições, como demonstrou o resultado delas. O PT ganhou de novo, mas ganhou por pouco e as forças que se mobilizaram contra o partido não parecem dispostas a cruzar os braços e deixar o barco correr, como tem acontecido até aqui.

O temor de perder as eleições levou o PT --consequentemente sua candidata-- a subir o tom do discurso e radicalizar na tentativa de derrotar o adversário que, por sua vez, respondeu no mesmo diapasão. Nada disso ocorreu por acaso e, sim, como consequência da conjuntura política que se formou durante o governo de Dilma Rousseff.

A verdade é que esse quadro político se definiu, de um lado pelo desgaste do governo petista, que não pode esconder o agravamento dos problemas tanto no plano econômico e social, com a estagnação da economia e o crescimento da inflação, e, por outro lado, no plano político com o crescente escândalo que envolve a Petrobras e altas figuras do partido governante e seus aliados. Tudo isso, naturalmente, desgastou o governo e fez crescer o número de pessoas que passaram a desejar uma mudança drástica na realidade política e social do país. O resultado das últimas eleições reflete isso.

No entanto, é necessário constatar que todos esses fatores geraram uma nova configuração do quadro político nacional. É que, ao contrário do que vinha ocorrendo nestes 12 anos de governo petista, os que perderam estas últimas eleições --e que somam cerca de 51 milhões de eleitores-- não voltaram para casa como das outras vezes: vieram para as ruas e para as redes sociais manifestando o desejo de mudança.

Ao que tudo indica, se a campanha eleitoral terminou, a luta pela mudança radical da situação nacional continua. O descontentamento que se manifestou em junho do ano passado parece ter ganho, agora, definição e objetivo, e mais que isso, uma liderança.

De fato, o que ocorreu em junho de 2013 foi a expressão espontânea de parte da classe média contra o lamentável quadro político do país. Os sucessivos escândalos e a sombra da impunidade sempre presente resultaram nas manifestações de protesto que, sem liderança definida, não teriam maiores consequências.

Não obstante, assustou a classe política e, particularmente, os petistas, o que levou Dilma, extemporaneamente, a propor um plebiscito para uma nova Constituinte.

Um ano se passou, e chegaram as eleições. A campanha eleitoral contribuiu para que aquele descontentamento se definisse e ganhasse rumo: tirar o lulapetismo do poder já seria um passo adiante no rumo das mudanças que se fazem necessárias. Nessa conjuntura, o papel desempenhado por Aécio Neves, como candidato da oposição ao governo petista, fez dele o intérprete desse descontentamento e, possivelmente, o líder da luta pela mudança.

Claro que a mudança que se faz necessária tem que contar com o apoio não apenas da opinião pública --que é decisiva-- mas de forças políticas consideráveis, que ainda estão ligadas ao governo. De qualquer modo, não se trata de buscar soluções antidemocráticas mas, sim, ao que tudo indica, mudar para preservar a democracia.

GOSTOSA


Barbie, o sonho de consumo bolivariano - MAC MARGOLIS

O ESTADÃO - 16/11


Não é fácil tocar a revolução socialista no século 21. Que o diga Nicolás Maduro, o presidente venezuelano que há 20 meses enfrenta consumidores em pé de guerra, manifestações de rua e uma batalha desigual contra o capitalismo internacional.

Na semana passada, o venezuelano fez o que faria qualquer general sitiado: rendeu-se ao inimigo. No caso, uma loura longilínea, de olhos azuis e 28 centímetros de altura. Sim, a boneca Barbie, o brinquedo consagrado da cultura americana, é a arma mais nova na luta para conquistar corações e mentes na revolução bolivariana.

Com o chavismo de crista baixa e o governo Maduro desaprovado por sete em cada dez venezuelanos, o Palácio de Miraflores resolveu apelar. Mandou importar contêineres da boneca americana e repassou-as ao comércio a preços de mãe para filha. Assim, a boneca padrão Barbie, que em outubro valia US$ 200, hoje é comercializada por US$ 2,50.

O brinquedo é a peça de resistência da operação Feliz Natal, um saco oficial de bondades, recheado de surpresas importadas, subsidiadas pelo milagre dos petrodólares. Ou melhor: numa economia esvaziada pela falta de dólares e pelo desastrado congelamento de preços, pode haver escassez de fralda, leite, remédio contra hipertensão e dos ingredientes da ceia natalina, mas não da charmosa boneca americana, com quem até a mais humilde menina venezuelana agora pode sonhar.

Distribuir bombons aos bestializados é a demagogia clássica dos líderes populistas. No ano passado, o governo Maduro até antecipou o Natal para que os trabalhadores recebessem adiantado o décimo terceiro salário.

Rendição. No entanto, convocar a Barbie foi uma ousadia. O comandante Hugo Chávez ergueu seu socialismo do século 21 num palanque anticapitalista. Um de seus alvos constantes era o consumismo fetichista, um sintoma, insistia ele, da inexorável decadência americana.

Chávez reservou veneno especial para desclassificar a obsessão venezuelana pela beleza, fixação que turbinava a indústria da cirurgia cosmética e levava meninas de apenas 15 anos a fazer dos seios "airbags". Tudo para que encarnassem a boneca Barbie e os demais "personagens do consumismo imposto pelo Ocidente".

Mordido pela teimosia da loirinha da Mattel, em 2007, Chávez dedicou boa parte de seu programa dominical de rádio Alô Presidente a denunciar a barbárie da Barbie, exortando os compatriotas a criar uma versão indígena da boneca.

E agora, comandante? O dom de Chávez sempre foi seu talento de vender os sacrifícios impostos pela economia disfuncional como um amanhã de fartura. Ao seu herdeiro, deixou o legado de todos os problemas da desgovernada revolução, mas nada de seu brilho retórico para encantar a turba e nenhuma malandragem maquiavélica para conter as ambições da predatória "boligarquia".

Madurou ficou mesmo com uma pauta de exotismos, como cobrar de passageiros internacionais um imposto sobre o "ar fresco" e instalar sensores biométricas nos supermercados para racionar a venda da escassa comida. Agora é a sua vez de engolir o orgulho bolivariano para resgatar o Natal venezuelano com um presente de pinta e pose do império gringo.

A preços absurdamente subsidiados, pode ser que dure pouco a alegria da Barbie para todos. No entanto, em algum lugar, há uma empreendedora menina venezuelana, de calculadora na mão e um olho no mercado negro.


GOSTOSA


Lula não tem candidato - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 16/11

O ex-presidente Lula não apoia o nome do ex-presidente do BC Henrique Meirelles para a Fazenda. "Lula sabe que Dilma nunca se deu bem com Meirelles. Lula nunca faria essa indicação" garante o ministro Gilberto Carvalho. Afirma ainda que, ao contrário de um presidente do BC, o ministro da Fazenda tem contato direto com a presidente, e ela necessita se sentir completamente à vontade com seu ocupante.


Correndo atrás dos fatos

Há semanas, Henrique Meirelles é vendido como o nome do ex-presidente Lula para a Fazenda. Um lulista avalia que essa é uma forma de desqualificar a decisão da presidente Dilma. "Se o Meirelles não for o escolhido, a presidente estará desagradando ao mercado e dizendo "não" ao Lula" disse esse petista. O ministro Gilberto Carvalho acrescenta que "faria mais sentido Lula defender a nomeação de Nelson Barbosa" Lembra que, quando Barbosa deixou a Fazenda, Lula o adotou e o levou para o Instituto da Cidadania. Quanto a Meirelles, Gilberto relata que, em 2011, Lula gostaria que ele fosse mantido no BC pela presidente. "Para o Lula, ele é um operador de BC" sentencia.
"A preocupação está no ar. Os novos fatos da investigação na Petrobras, essas prisões, tumultuam, perturbam a vida do país e do governo"
Ministro que despacha no Palácio do Planalto, sobre a dor de cabeça provocada pelo novo round da Operação Lava-Jato


Perplexidade

Os principais integrantes do governo Dilma, da cozinha do Planalto, ficaram surpresos com a envergadura das prisões da Operação Lava-Jato. Um deles definiu a reação dizendo que, pelos personagens envolvidos, foi e é assustador.


Dor de cabeça

O envolvimento de grandes empreiteiras no escândalo da Petrobras pode virar um obstáculo a mais 110 esforço do governo Dilma para retomar o crescimento da economia. Por muito menos, suspeita de corrupção e pagamento de propina, a CGU proibiu, em 2012, a Delta Engenharia de celebrar novos contratos com a administração pública.


Efeito cascata

Os aliados avaliam que os desdobramentos da Operação Lava-Jato fragilizam o PT no Congresso. O antipetismo sai fortalecido. Mesmo envolvido nas denúncias, e considerando a fragilidade da oposição, o PMDB é o maior beneficiário.


O carpete do Senado e a rua

Os políticos da oposição querem que o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, dê prioridade às ruas e a percorrer o país nos próximos quatro anos. Querem vê-lo na periferia das grandes cidades para evitar que, 110 futuro, cole a acusação de que ele acabará com o Bolsa Família.


História documentada

A Fundação Getúlio Vargas pediu para o senador losé Sarney doar todo o arquivo documental que guarda em seu gabinete. A FGV quer digitalizá-lo e torná-lo público. O senador, que se despede do Senado, ainda não decidiu se fará a doação.


Juventude esquecida

Mais de um ano após a sanção do Estatuto da Juventude, com pompa 110 Planalto, ele ainda não foi regulamentado. O decreto deveria ter saído em seis meses. Benefícios como a meia passagem interestadual ainda não podem ser usufruídos.


Os petistas derrotados nas eleições para os governos e o Senado não serão chamados para o Ministério. Não dá para chamar um e deixar os outros de fora.

A vez dos políticos - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 16/11

Uma das mais aguardadas etapas da Operação Lava Jato depois que a apuração atingiu as empreiteiras, a lista de quantas e quais são as autoridades com foro privilegiado envolvidas no escândalo ainda deve demorar. As denúncias ao Supremo Tribunal Federal só devem ser feitas depois que todos os investigados que optarem pela delação premiada falarem. Só então o Ministério Público Federal vai fechar a relação de quais os políticos sobre os quais há indícios consistentes de envolvimento.


Navalha... Para tentar recuperar fôlego diante do agravamento da crise da Petrobras, Dilma Rousseff vai reforçar o discurso de que não deixará "pedra sobre pedra" no combate à corrupção para defender que a sociedade brasileira "saiba de tudo".

... na carne No Palácio do Planalto, a ordem é manter a blindagem da presidente e continuar mostrando a petista como avalista das investigações e punições, "seja de um empresário ou da cunhada do tesoureiro do partido", nas palavras de um auxiliar.

Campeãs... Levantamento feito pelo Ministério Público Federal mostra que as empreiteiras que foram alvo da operação de sexta-feira têm 12 contratos ativos com outros órgãos do governo federal, além da Petrobras, no valor de R$ 4,2 bilhões.

... nacionais O maior contrato é da Mendes Júnior: R$ 927 milhões em obras de um dos trechos da transposição do rio São Francisco.

Meio de campo Um dos alvos da operação de sexta, a construtora Engevix admitiu em ofício à Justiça Federal que pagou R$ 6,2 milhões para que o doleiro Alberto Youssef fizesse "mediação em processos de negociação" com a Petrobras nas obras da refinaria de Abreu e Lima.

No papel Os contratos foram assinados com duas firmas de Youssef, em 2009 e já em 2014. "Este serviço era prestado pelo senhor Alberto Youssef e devidamente formalizado por contrato", declarou a Engevix.

Oráculo Já a OAS, cujo presidente, Adelmário Pinheiro Filho, foi um dos presos na sexta-feira, declarou ter pago R$ 6,9 milhões às empresas de Youssef a título de consultoria.

Aqui não Tucanos se diziam aliviados ontem pelo "foco restrito" das investigações da Polícia Federal na relação das empreiteiras com a Petrobras, já que as empresas também prestam serviços para governos do PSDB.

Despedida O procurador-geral do Estado de São Paulo, Elival da Silva Ramos, afirmou em reunião do conselho do órgão na sexta-feira que não pretende ficar no governo no próximo mandato de Geraldo Alckmin.

Atritos Ramos se desentendeu com parte da categoria nas discussões sobre o projeto de lei orgânica que reestrutura o órgão.

Muita calma Deputados do PPS dizem que a formação de um bloco parlamentar com o PSB não significa apoio imediato à candidatura de Julio Delgado (PSB-MG) à presidência da Câmara.

Só vai na boa O partido quer deixar a corda esticar para definir sua posição só depois de saber se o nome de Delgado tem viabilidade ou se a divisão da oposição somente favoreceria a eleição de um candidato do PT.

Vaquinha Na disputa pelo governo paulista deste ano, Paulo Skaf (PMDB) recolheu R$ 263 mil em doações de 20 integrantes da diretoria da Fiesp, presidida por ele.

Memórias Dirigentes do PMDB valorizam Marta Suplicy, mas têm arrepios em pensar em mais uma eleição com um "forasteiro" como candidato, caso a senadora deixe o PT. Lembram a dor de cabeça que causaram Skaf neste ano e Gabriel Chalita em 2012.

Congestionou Dos 11 vereadores do PT na Câmara Municipal de São Paulo, 6 já se lançaram candidatos à presidência da Casa.

TIROTEIO

Ao atribuir ao Congresso a responsabilidade pelas contas do governo, Mercadante dificulta a relação. O Parlamento não age sob ameaça.

DO DEPUTADO LÚCIO VIEIRA LIMA (PMDB-BA), sobre negociação do Planalto com o Congresso pelo projeto que autoriza o descumprimento da meta fiscal.

CONTRAPONTO

Sem descer do salto


A saída de Marta Suplicy do Ministério da Cultura com críticas à política econômica causou estranheza. Dias antes, ela e a presidente Dilma Rousseff tinham sido fotografadas de braços dados durante cerimônia no Palácio do Planalto. A aliados que a questionaram sobre o contraste entre a imagem e a carta de demissão, Marta explicou:

--Minha relação com a presidente era ótima! Ali, eu cochichei para ela que estava com salto 7 e, se ela não me segurasse, eu rolaria a rampa do palácio. E ela segurou!

Um programa fiscal confiável - SUELY CALDAS

O ESTADO DE S.PAULO - 16/11

Passada a fase do País fantasia da campanha eleitoral, a presidente reeleita começa a enfrentar a hora da verdade. Seu governo esperou garantir a vitória para abrir a panela de pressão que comprimiu e escondeu a realidade - e estilhaços começaram a explodir. O Banco Central aumentou os juros e esperou a eleição para cobrar do governo ajuste fiscal; a auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC) se negou a assinar balanço da Petrobrás enquanto não forem apuradas denúncias de corrupção; a meta de superávit fiscal virou déficit e o governo quer mudar a lei para mascará-lo; os Estados reclamam de atrasos nos repasses do governo federal que já somam R$ 2,026 bilhões; o caos no setor elétrico piora e empresas temem racionamento em 2015; isenções fiscais não garantiram empregos e nos últimos 12 meses as montadoras de automóveis demitiram 12.637 trabalhadores (IBGE); o desmatamento voltou a crescer; e a miséria também (Ipea). E os estilhaços da panela de pressão só começaram.

Fechadas as urnas, Dilma Rousseff veio a público pregar diálogo com a oposição, que saiu da eleição ferida e com 51 milhões de brasileiros a apoiá-la. Diálogo foi o que Dilma não encontrou em dois de seus ministros do PT: Gilberto Carvalho diz ter sido "um milagre" sua eleição, diante da onda anti-PT no País; e Marta Suplicy demitiu-se com duras críticas à sua gestão. Se até entre amigos ela não tem apoio, o que esperar da oposição? Mas Aécio Neves não fechou portas e condicionou o diálogo a propostas concretas, ao que Dilma respondeu: "Não tem diálogo genérico, será com base em propostas".

Aí veio a primeira proposta: maquiar o déficit fiscal primário, mudar a lei para transformá-lo em superávit e violar a Lei de Responsabilidade Fiscal. É dessa forma que Dilma pretende recuperar a confiança dos brasileiros e de investidores? É deplorável para quem, no final de 2013, jurou que em 2014 seria diferente e não recorreria a artifícios e a maquiagens que minaram a confiança em seu governo.

Ainda na linha de transgredir leis, a Petrobrás paga multa diária à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), desde sexta-feira, por não cumprir o prazo para divulgar seu balanço trimestral - adiado para 12 de dezembro porque a auditoria PwC condicionou a aprovação dos números à apuração dos prejuízos da estatal com corrupção na compra da Refinaria de Pasadena, nos EUA, e em diversas obras no Brasil.

Como aceitar um diálogo que propõe descumprir as leis do País? A presidente não está diante de um impasse intransponível, como quis convencer o ministro Aloizio Mercadante ao comparar o caso do déficit fiscal com o pedido de Barack Obama ao Congresso para aumentar o teto da dívida dos EUA. Lá os pagamentos do governo foram suspensos, salários atrasaram e o calote seria inevitável se o Congresso não aprovasse o pedido de Obama. Aqui as regras não são rígidas como lá.

Dilma agiria com honestidade e transparência se pedisse desculpa aos brasileiros por gastar mais do que deles recebe em impostos, reconhecesse seu erro e apresentasse ao País um plano de corte de despesas e aumento gradual do superávit primário para os próximos quatro anos. Um programa de ajuste fiscal verdadeiro, com definição de metas anuais e firme compromisso de cumpri-las sem recorrer a truques e falsificações que marcaram sua primeira gestão e contribuíram para afugentar investimentos privados, essenciais para a economia voltar a crescer.

Tal programa produziria muitas vantagens no segundo mandato: a inflação tenderia a recuar, os juros também, a confiança seria recuperada, novos investimentos dinamizariam a economia e, sobretudo, seria afastado o fantasma que Dilma mais teme, o rebaixamento do Brasil e a perda do grau de investimento pelas agências de risco.

É claro que o primeiro ano seria difícil, como foi 2003 para Lula, mas a trajetória seguiria um curso virtuoso. O que não pode é Dilma seguir gastando sem freios, como nos últimos quatro anos: o equivalente ao valor gasto no segundo mandato de FHC e nos oito anos de Lula, segundo calculou o especialista em área fiscal Mansueto Almeida.

Um governo que fura poços fundos - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 16/11


Além do desastre político que virá com o Petrolão, saque da Petrobras cria mais custos econômicos


POUCO ANTES do segundo turno da eleição, o jornalista trabalhava com a TV ligada na Bloomberg, canal americano de notícias financeiras. De repente, ouve "Brazil", "Rússeff", "Nieves". Jim Chanos, um financista, falava sobre a Petrobras.

"A situação econômica da empresa é tão ruim que dizemos que Petrobras é um embuste, não uma ação [a scheme, not a stock']."

Uma repórter pergunta se a empresa enganou os investidores no IPO de 2010 (IPO: a empresa vende novas ações no mercado). Chanos diz que a empresa insiste na conversa otimista de que vai render, embora não faça dinheiro bastante nem para pagar seu plano de investimentos e juros, sendo obrigada a se endividar demais.

Chanos dirige um "hedge fund" chamado "Kynikos" ("cínico"). Fez alguma faminha apostando na baixa de ações que julgava podres. Andou perdendo dinheiro grosso neste ano, conta o "Wall Street Journal". E daí que o "kynikos" Chanos escarneça da Petrobras? Não é só ele.

A gente dá de ombros sobre os efeitos do descalabro corrupto-econômico da Petrobras sobre o mercado de ações e outros, ainda mais quando leva em conta o tamanho do desastre político que virá em 2015, os desdobramentos do Petrolão.

Enfim, o comum dos brasileiros em geral não tem ações, da Petrobras ou outras. Não tem nem deve se animar a ter. Os "ricos" daqui ou investidores de alhures vão olhar com mais desconfiança o mercado brasileiro. Não é um problema de "imagem". Isso custa caro.

A maior empresa do país foi saqueada por políticos, diretores e empreiteiras. É gerida à matroca pelo governo e chegou ao cúmulo da degradação de não conseguir publicar nem balanço, que seus auditores temem ser fajuto, dada a corrupção. Isto fizeram da Petrobras, maior que a maioria das economias latino-americanas, quase do tamanho do Peru, empresa que paga mais de R$ 100 bilhões de impostos, com um patrimônio enorme de conhecimento.

Em 2010, a Petrobras fez o maior IPO da história. O ano foi ruim para as ações, por causa de eleição, da politicagem crescente do negócio e do próprio IPO. A empresa vendeu R$ 120 bilhões em ações (vale agora menos do que isso no mercado). A União comprou R$ 80 bilhões em ações, aumentou a participação estatal no capital e, pois, desvalorizou o investimento, a renda esperada de dividendos, dos acionistas minoritários.

Desde o IPO, o preço das ações caiu quase 50%, sem contar a inflação. Além do estrago direto na empresa, obrigada a engolir superfaturamentos legais e ilegais de obras e insumos, o governo emperrou a exploração de petróleo nos últimos cinco anos. Bulir com o mercado desse jeito inepto é contraproducente, tem efeitos difusos de longa duração: descrédito. Desconfiança eleva os custos de financiamento de empresas no mercado (juros sobem, preço de ações cai etc.).

O ano que vem será de tumulto político sério. A presidente abre ou expande frentes de problemas econômicos. O emprego míngua inequivocamente, vide os números tristes da indústria e do emprego formal. Dilma Rousseff precisa defender algum lado, tapar alguma das feridas que abriu e, como previsto, sangram muito agora. Tensão política, apatia econômica e frustração social é uma combinação que não vai prestar.


Cansada da guerra - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 16/11


A senadora, ex-ministra e ainda petista Marta Suplicy ainda não sabe qual será seu próximo passo, mas hoje examina três hipóteses: disputar a legenda do PT com Fernando Haddad para concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2016, sair do partido ou ficar no Senado aguardando a eleição para o governo do Estado em 2018.

Caso resolva mudar de endereço, há vários em vista: PMDB, PR, Rede. "De qualquer modo, é uma decisão que não preciso tomar de imediato. Pode ser daqui a um ano ou nos próximos meses", diz ela.

A aflição deixou para trás na terça-feira passada, quando mandou protocolar na Casa Civil sua carta de demissão que vinha tentando entregar à presidente Dilma Rousseff desde dois dias depois de encerrada a eleição.

Marta chegou a ir ao Palácio da Alvorada, mas Dilma não a recebeu alegando cansaço. Falaram por telefone. Uma conversa difícil, em que a então ministra expôs as razões da saída, entre as quais boicotes na administração e atitudes de desdém no campo político; a presidente reagiu, disse que ela estava com mania de perseguição. Marcaram reunião para dali a uma semana, no Palácio do Planalto.

Durante uma hora e meia expôs todas as suas contrariedades, tentou entregar a carta, Dilma mais ouviu do que falou, mas não pegou o pedido de demissão. Sugeriu que Marta saísse em dezembro e, diante da negativa, pediu que ela esperasse até a volta da viagem à Austrália, dia 18. Pediu sigilo.

Tudo acertado, dois dias depois dessa conversa, Marta viu divulgada a notícia de que o ministro Aloizio Mercadante estava pedindo as cartas de demissões de todos os ministros para o dia 18. Nessa hora sentiu-se liberada de qualquer compromisso e antecipou a demissão que já estava decidida desde meados do ano.

A razão? "A maneira estreita e autoritária como Dilma, Mercadante e Rui (Falcão) conduzem o governo e o PT. Eles não ouvem ninguém, não reconhecem os erros e levam o partido ao isolamento."

Por que ficou tanto tempo? "Porque sou uma militante que engoliu todos os sapos que me forçaram a engolir mesmo sendo passada para trás." Marta se refere às ocasiões em que foi preterida como candidata do partido das eleições de 2006, 2012 e 2014, além do risco que correu na eleição do Senado quando o PT apoiou sorrateiramente o nome de Netinho de Paula, do PC do B.

Por essas e várias outras é que pensa mesmo em sair do partido. Tudo vai depender, segundo ela, do rumo que as coisas vão tomar daqui em diante. "É como eu disse na carta, se houver mudança, novos compromissos, recuperação de credibilidade, muito bem, mas se ficar tudo do mesmo jeito, não há outro caminho."

Marta tem certeza que a avaliação dela encontra eco na base do PT. "A militância está vendo o desmando, o partido que era da inclusão interrompeu sua ligação com a classe média, com a juventude e, além disso, não entendeu que o povo brasileiro votou pela manutenção das conquistas sociais e também pela mudança na economia."

Mapa da mina. Como se vê, o menor dos problemas com a corrupção na Petrobrás era a repercussão eleitoral. Fica evidente o tamanho do sol que a presidente Dilma Rousseff pretendeu tapar com a peneira quando quis tirar o corpo fora no caso da refinaria de Pasadena, dizendo que aprovara o negócio com base em relatórios técnica e juridicamente incompletos.

As prisões de sexta-feira feitas pela Polícia Federal já demonstram que os delatores forneceram à Justiça provas consistentes. Depois de ex-diretores da Petrobrás e executivos de empreiteiras, serão alcançados os políticos, fechando-se as pontas do esquema.

Fica, assim, diminuto o espaço para o governo continuar a negar desconhecimento total dos fatos. A menos que considere adequado dizer ao mundo que o Brasil é dirigido por gente que se deixa ludibriar por bandidos com a grande facilidade.


Ao jovem, com atraso - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 16/11

Eu não dei a resposta certa ao estudante da UNB que me perguntou qual é a próxima grande batalha brasileira. Eu havia falado, na palestra, da longa luta contra a hiperinflação, havia mencionado como foi duro vencer a ditadura. Ao responder a ele, fiz uma lista das tarefas urgentes, e há muitas. Só que o estudante não me pediu uma lista dos erros e riscos. Ele perguntou pela nova batalha.

Deveria ter dito que a corrupção é a luta que está em curso. Não é verdade que ela apenas está mais visível porque a Polícia Federal agora recebeu do governo autonomia, e o procurador-geral não engaveta. A Polícia Federal tem excelentes quadros e é uma trincheira fundamental nesta guerra. Sua autonomia não foi doação, foi conquista. E tem sido ameaçada. O Ministério Público pertence ao país, e sua independência foi escrita na Constituição. Há procuradores-gerais mais zelosos que outros, mas o MP é maior.

Há mais investigação porque o Brasil é democrático e tem consolidado instituições, mas a corrupção aumentou sim. Quem perdeu a lição dada pelo julgamento do Mensalão, em que, dia após dia, as entranhas do bicho eram expostas ao país pelo então ministro e relator Joaquim Barbosa, tem outra oportunidade de ver como o roubo de bens públicos opera no novo escândalo que nos estarrece.

A Petrobras não consegue divulgar seu balanço porque os auditores temem assinar documentos que validem os desvios. Na mesma quinta-feira da conversa com os estudantes de economia da UNB, a estatal estava adiando pela segunda vez o balanço. Mas o pior estava por vir com as prisões e mandados de busca e apreensão nas grandes empreiteiras do país, no dia seguinte.

A Petrobras, que guarda ativos que o governo garante serem o passaporte para o nosso futuro, está sendo investigada duplamente pelas autoridades dos Estados Unidos. Por ter ações na Bolsa de Nova York, ela está sendo investigada pela SEC, a autoridade do mercado acionário. Além disso, noticiou o inglês "Financial Times", o Departamento de Justiça abriu investigação criminal sobre o pagamento de propina a dirigentes da companhia, para ver se houve algo que viola a lei anticorrupção estrangeira. Nunca antes, nunca antes.

Aqui dentro, a Polícia Federal, a Justiça, o Ministério Público registram fatos, provas e declarações sobre a mancha de óleo que se espalha sobre a empresa cuja história de sucesso os brasileiros admiram desde a campanha do Petróleo é Nosso. Os poderosos não entenderam bem o pronome possessivo. É nossa, a empresa, de todos os brasileiros. Cada cidadão é dono da companhia, ou por ser acionista direto ou por ser acionista através do Tesouro, que representa o país todo.

O assalto à Petrobras não é o único caso, mas é emblemático. É prova de que a corrupção chegou a um ponto que passou a ser o obstáculo a se seguir adiante. Ameaça a economia pelo óbvio custo maior em cada compra superfaturada e por minar a estabilidade financeira da maior empresa brasileira. Tem custos econômicos intangíveis em perda de confiança na economia, em deterioração da imagem como um país em que a corrupção pode estar se tornando endêmica. Isso afasta os bons investidores, os que querem vir a sério para o país para permanecer no nosso desenvolvimento.

Foi a semana de falar com estudantes. Conversei na PUC do Rio também sobre a luta contra a hiperinflação, com pessoas que têm a idade do real. Nada viram, sabem de ouvir dizer daquele tempo louco. A eles mencionei também a vitória contra a ditadura. Lembrei de Ulysses falando no discurso da anticandidatura de 1974 e tive que explicar a lógica do velho comandante: ignorar que a eleição era de mentira e fazer campanha de verdade. No fim do discurso, em que aceitou ser o anticandidato, ele diz que a nau iria partir e completou: "Posto hoje no alto da gávea, espero em Deus que em breve possa gritar ao povo brasileiro: Alvíssaras, meu Capitão. Terra à vista. A terra limpa e abençoada da liberdade."

Caro estudante, desculpe a resposta atrasada, mas a batalha é esta. A corrupção reduz a confiança na democracia e desestabiliza a economia; ela tem o poder de solapar as vitórias que conquistamos.

Um bilionário por quem se torceu em vão - ELIO GASPARI

FOLHA DE SP - 16/11

Livro mostra quanto houve de cobiça e leviandade na ascensão e queda do fenômeno Eike Batista


Está chegando às livrarias "Tudo ou Nada - Eike Batista e a verdadeira história do grupo X", da repórter Malu Gaspar. Quem quiser sapeá-lo numa livraria pode ler as duas primeiras páginas do prólogo. Depois disso será impossível parar. Ali está a história do circo de Eike Batista, o "Indiana Jones brasileiro". Com uma fortuna de US$ 27 bilhões em 2010, ele foi o homem mais rico do Brasil, oitavo do mundo. Quebrou três anos depois.

Depois do colapso do Império X pode-se pensar que a explicação está na personalidade megalomaníaca, espetaculosa e excêntrica de Eike. É pouco. Ele encomendava mapas astrais das almas alheias. O banqueiro Siegmund Warburg não contratava diretor sem que uma grafóloga estudasse sua caligrafia. Cornelius Vanderbilt fez a maior fortuna dos Estados Unidos e, na velhice, aconselhava-se com uma vidente. Nenhum dos dois quebrou.

"Tudo ou Nada" mostra a confluência de inter$e$ que geraram o mito. Não saiu ouro suficiente de suas minas gregas, nem petróleo dos campos da OGX. A mineradora que vendeu à Anglo não valia US$ 5,5 bilhões. Tudo bem, mas os bancos ganharam centenas de milhões de dólares intermediando suas operações (R$ 268 milhões só no lançamento das ações da OGX). Sempre houve quem avisasse que os negócios eram radioativos, mas ouvi-los seria duvidar do mundo e do Brasil de Lula.

Quando as ações da OGX caíram para 23 centavos, tendo valido R$ 23,27, a festa acabou. Ninguém quis lembrar que a história terminara como começara: 13 anos antes, no Canadá, as ações da TVX, que chegaram a valer US$ 74, caíram para US$ 0,27. O mérito de "Tudo ou Nada" está em mostrar que a curva da fortuna de Eike Batista era acompanhada por condutas lineares e previsíveis. Ele dizia que seus negócios eram "a prova de idiotas". Dava-se o oposto, mas era preciso que houvesse também ganância.

Malu Gaspar destrinchou as operações e fantasias do império de Eike e de sua "guarda pretoriana". Expôs quanto dinheiro se ganhou à sua custa, a sonolência da Comissão de Valores Imobiliários ("xerife sem pistola") e a manipulação dos mitos de celebridades. Numa época em que a Petrobras está debaixo de chumbo, faça-se justiça ao seu corpo técnico, ali nunca se acreditou nas mágicas do Mr. X.

A narrativa de "Tudo ou Nada" e a qualificação profissional de Malu Gaspar concedem-lhe crédito. Ainda assim, o livro tem um problema. Suas referências bibliográficas são insuficientes para amparar as descrições de cenas e diálogos que conta. Elas se baseiam em 106 entrevistas com personagens do serpentário X, mas não há uma lista dos entrevistados. Além disso, fica esclarecido que uma conversa de duas pessoas não foi necessariamente contada por uma delas. Eike Batista não quis falar.

USINA DE ENCRENCAS

A doutora Dilma já conseguiu:

Demitiu o ministro da Fazenda no exercício do cargo sem ter substituto.

Permitiu que circulasse a informação segundo a qual convidou o presidente do Bradesco, e ele não aceitou. Podia tê-la desmentido prontamente, se fosse o caso.

Pediu aos seus 39 ministros que colocassem os cargos à disposição. Uma redundância, porque os cargos são dela. Mesmo assim, Marta Suplicy foi-se embora sem lhe conceder período de carência.

Isso tudo e mais a proposta de um plebiscito para fazer uma reforma política que não se sabe qual é. Existe um projeto para discussão na Câmara. Vem sendo sistematicamente travado pelo PT.

O DITO FOI DITO

Onze em dez pessoas que conhecem a mecânica das agências de cotação de risco asseguram que o rebaixamento da posição brasileira é apenas uma questão de tempo.

Quem acompanha o desempenho dessas agências sabe que a confiabilidade de suas análises é mínima. (A crise de 2008 mostrou isso.) O problema está no fato de Nosso Guia ter festejado a promoção do risco brasileiro, em 2008, como se fosse uma vitória de Copa do Mundo.

EREMILDO, O IDIOTA

Eremildo é um idiota e soube que empresários apanhados nas petrorroubalheiras estão soprando uma outra modalidade de purga para seus delitos. Ofereceriam ao governo fartos recursos para que se construíssem presídios, para os outros.

O idiota pensou o seguinte: os doutores constroem presídios para a Viúva com o luxo dos hotéis dos Emirados Árabes e, neles, pagam o que porventura devam. A grande virtude do "efeito Papuda" é que encarcera gente que achava que presídio era coisa do andar de baixo.

UMA BILIONÁRIA POR QUEM VALE TORCER

A mais jovem bilionária americana chama-se Elizabeth Holmes, tem 30 anos e aos 19 abandonou a Universidade de Stanford, onde estudava engenharia química. Com a poupança das anuidades fundou sua empresa para levar adiante a pesquisa que começara no laboratório da escola. Ela inventou um processo pelo qual podem-se fazer dezenas de exames com apenas algumas gotas de sangue, a um preço equivalente a uma fração do que cobram os laboratórios. Sua empresa chama-se Theranos, vale US$ 9 bilhões e no conselho senta-se o ex-secretário de Estado Henry Kissinger.

Grandes laboratórios tentaram comprar sua patente ou associar-se a ela. Educada numa casa onde o pai se dedicara a trabalhos de assistência humanitária, resolveu ficar bilionária com um sentido de missão. Recusou todas as ofertas a associou-se à cadeia de farmácias Walgreen no Arizona e na Califórnia. Seu objetivo é construir uma rede onde o freguês vai ao balcão, toma uma picada (sem a temível agulha), deixa algumas gotas de sangue e em poucas horas recebe o resultado pela internet. Tudo isso sem esperas ou intermediação de médicos. Os exames custam de 25% a 50% do que cobram os laboratórios e de 10% a 25% dos preços nos hospitais. Uma senhora que fizera uma bateria de exames ao preço de US$ 876 cobrados ao seu plano de saúde, picou-se na Theranos e pagou US$ 34.

Um dia essa boa notícia chegará ao Brasil. Aqui as operadoras privadas de saúde gastam em torno de R$ 7,5 bilhões com exames de análises clínicas, e ai de quem cair nas tabelas dos laboratórios ou de hospitais do Padrão Lula.

Comparando-se os preços da Theranos com os do mercado brasileiro resulta que em todos os casos aqui os planos de saúde pagam mais caro. Nas tabelas do Padrão Lula, a diferença é de chorar. Por exemplo: um hemograma pode custar R$ 80 no andar de cima de Pindorama e, na Theranos, R$ 20. O velho e bom exame para medir o colesterol custa R$ 143 no Padrão Lula. Na Theranos, US$ 2,99, ou R$ 7,80.

Uma das preocupações de Elizabeth Holmes é dar transparência aos custos da saúde. No site da Theranos estão os preços de cerca de mil exames. A outra preocupação é de quem sabe que dinheiro não aceita desaforo: 50% das ações da Theranos são dela.

Controle da mídia - SACHA CALMON

CORREIO BRAZILIENSE - 16/11


Após a reunião da Executiva Nacional do PT apregoando, entre outras medidas liberticidas, o controle da mídia, Dilma as rejeitou parcialmente, dizendo-se presidente do Brasil e não do PT. E que jamais aceitará o controle do "conteúdo jornalístico", no que andou bem.

Mas que tipo de controle aceitará? O da autonomia privada dos proprietários de jornais, rádios, tevês, periódicos, sites, blogs e portais da internet? Dilma disse querer evitar "monopólios" e "oligopólios" jornalísticos. São técnicas com as quais o execrável Chávez e a não menos repugnante Cristina Kirchner acabaram com a liberdade de imprensa na Venezuela e arruinaram o Grupo Clarín, na Argentina. Consiste em dizer quem pode e como se pode fazer jornalismo. A nação democrática espera uma definição clara da presidente sobre o assunto.

De início, cabe observar, e fazer ver à presidente, a inexistência no Brasil de oligopólios jornalísticos, quer se trate de mídia escrita, falada ou televisiva. Temos seis redes nacionais de tevê (Globo, Record, Band, Rede TV!, SBT e a do governo). Vir a Globo, a maior e mais competente, destacar-se em audiência é uma questão de mercado. Os jornais são, por excelência, locais. Todas as 27 capitais dos estados da República possuem seus jornais, assim como a maioria das cidades entre 100 mil e 1 milhão de habitantes. Serem O Globo, a Folha, o Estadão, o Correio Braziliense capazes de circulação nacional é questão de competência e de mercado (sempre estão juntos).

Em tema de radiofonia, a pulverização é enorme, imensurável. Existir uma CBN ou Band com audição nacional implica, novamente, falar em competência e mercado. Quanto ao universo das revistas, elas existem aos montes, sobre todos os assuntos. A Veja e a Época são lidas porque sabem fazer jornalismo semanal. A ser assim, Dilma não tem com que se escarmentar, mas ela referiu-se, de passagem, às regulações americana e inglesa. Ora, nessas democracias as regulações visam a proteger os particulares e não os governos. São regras para evitar calúnias e métodos invasivos, que os meios de comunicação brasileiros observam, com base na Constituição e nas leis, muito mais que os tabloides ingleses sensacionalistas.

Reza a Carta Magna no capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais no art. 5º: "IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença". São cláusulas pétreas, dona Dilma!

O que se não pode é impedir os brasileiros de falar, relatar, expor e comentar fatos verdadeiros e os malfeitos do governo e dos políticos, justamente o que incomoda partidos totalitários e governos corruptos, tanto que a Constituição reza (art. 5º, XIV): "É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional". Não se compreende, dessarte, e nisso V. Senhoria tem razão, essa obsessão do PT de calar a imprensa livre do Brasil.

Não que eu esteja satisfeito. Acho que os governos no Brasil concedem rádios à mancheia aos seus correligionários e financiadores. É demasia anacrônica e autoritária o "poder" que a União tem de outorgar ou não aos particulares o direito de ter rádios e tevês. O controle democrático da mídia, no mundo democrático, vai em sentido oposto ao do PT. A uma, tirar da União o poder de conceder rádios e tevês e até o de cassá-los. A duas, proibir que os políticos sejam donos de quaisquer veículos de comunicação. Isso sim é devolver à sociedade o controle da mídia. Ela lê, ouve e vê o que quiser. E quem quiser que se estabeleça no mercado sem submeter-se aos humores do governo, prática somente compatível com a ditadura. A três, que o poder competente para interpretar a Constituição e as leis obrigue o Executivo a não gastar o dinheiro dos tributos em propagandas de suas supostas realizações. Os governos têm seus jornais oficiais e o federal, até televisão. Os princípios constitucionais da impessoalidade e da moralidade (art 37da CF) obstam o uso de verbas de publicidade distinguindo entre órgãos de divulgação, e gastar dinheiro de imposto em propagandas pessoais de governantes.

Quem precisa de controle é o governo, não a mídia. A militância blogueira petista, tal qual a nazifascista, é instruída pelo departamento de propaganda do PT a propagar notícias falsas ou falseadas. Há dias acusaram Aécio de "usar" o Senado para fazer oposição. Ora, é o lugar próprio, o parlamento nacional. Errado é a presidente usar a Presidência para fazer políticas partidárias em época de eleição. Sua missão é governar.


Um novo feriado simbólico no Brasil - ROSEANE OLIVEIRA

ZERO HORA - 16/11

COMO EM 2013, o aniversário da República é marcado pela exposição de uma das piores mazelas nacionais: a corrupção

Em 2013, a calmaria do feriadão de 15 de novembro foi quebrada pela decisão do então ministro Joaquim Barbosa de expedir os mandados de prisão dos réus do mensalão. Neste ano, a Polícia Federal (PF) deflagrou a sétima fase da Operação Lava-Jato na véspera do aniversário da Proclamação da República.

A coincidência na data tem uma carga simbólica: em 2013, a prisão de pesos-pesados da política, condenados por corrupção, entre os quais o ex-ministro José Dirceu; em 2014, a prisão (temporária ou preventiva) de supostos corruptores - dirigentes de empreiteiras que têm contratos com a Petrobras e com outros órgãos do governo.

A conexão com o aniversário da República foi feita - consciente ou inconscientemente - pelo procurador Carlos Fernando, doMinistério Público Federal (MPF), na entrevista coletiva realizada em Curitiba. Carlos Fernando disse que a sexta-feira era um "dia republicano" porque mostra que os alvos da Lava-Jato "não têm rosto nem bolso" e que, independentemente do posto que ocupam, estão sendo responsabilizados.

A sétima etapa da Lava-Jato colocou fermento na crise enfrentada pela Petrobras. As ações da estatal caíram no Brasil e na Bolsa de Nova York, empurradas pela desconfiança crescente dos investidores. A Petrobras é foco de investigações também nos EUA, por conta das denúncias de corrupção.

A Lava-Jato detectou indícios de uma série de crimes: formação de cartel, lavagem de dinheiro, corrupção e fraude em licitações. Embora esteja na sétima etapa, a operação está longe do fim. Falta aparecer a lista de políticos beneficiados com o dinheiro desviado da estatal e responder, com provas, a pergunta-chave para o futuro do governo: a presidente Dilma Rousseff e Lula sabiam ou não sabiam da roubalheira na Petrobras?

- A Lava-Jato vai se expandir para outros contratos com órgãos do governo - avisou o delegado da PF Igor Romário de Paula.

Essa frase acende a luz vermelha em outros gabinetes de Brasília: as empresas suspeitas de envolvimento em fraudes na Petrobras são as vencedoras da maioria das licitações para execução de obras de infraestrutura no país, incluindo aquelas em que o Tribunal de Contas da União encontrou indícios de superfaturamento.

CRISE INVADE AGENDA PRESIDENCIAL NO EXTERIOR

Segundo o ex­-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, o diretor de Serviços Renato Duque era indicação de Dirceu, que nega. Costa também envolveu na história o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Uma cunhada dele foi levada para prestar depoimento.

Na Austrália, com o fuso horário de 12 horas à frente, Dilma já tinha se recolhido ao hotel quando surgiram as notícias sobre a mais impactante etapa da Lava-Jato. Em seu primeiro compromisso internacional após a reeleição, as prisões expõem presidente ao constrangimento diante dos chefes de Estado dos 20 países mais ricos do mundo. Desde a manhã de sexta-feira, o que os repórteres que cobrem a viagem menos querem saber é sobre a agenda do G-20.

INFERNO ASTRAL DE DILMA

A Operação Lava-Jato é um pesadelo a mais no cenário conturbado que tira o sono da presidente Dilma Rousseff no período de preparação para o segundo mandato. Reeleita com uma votação apertada, Dilma se viu obrigada pelas circunstâncias a fazer as maldades que dizia que seus adversários fariam, como reajustar o preço dos combustíveis e aumentar a taxa de juro. E os problemas que terá de resolver nos próximos meses não param de surgir. Veja sete obstáculos que Dilma terá de enfrentar nas próximas semanas.

1 Na esteira da crise da Petrobras e da indefinição sobre a nova equipe econômica, a bolsa cai e o dólar sobe, provocando reflexos negativos em diferentes setores da economia.

2 O resultado das contas públicas foi desastroso em 2014, e o governo está tentando aprovar uma manobra contábil para maquiar os maus resultados, com risco de perda de credibilidade.

3 Um conjunto de indicadores negativos divulgados nos últimos dias reforçou a percepção de que conquistas dos últimos anos, como o pleno emprego, estão derretendo.

4 A inflação teima em não ceder, e a economia segue estagnada, com a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) caindo a cada Relatório Focus do Banco Central.

5 As relações com os partidos da base governista, normalmente tensas, se complicam na formação do novo governo. Dilma terá de conciliar as demandas dos aliados com a necessidade de montar uma equipe mais eficiente e mais confiável do que atual.

6 É crescente a ameaça de que um desafeto, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), seja eleito presidente da Câmara. A presidente virar refém de um parlamentar com o perfil e o currículo de Cunha é dos piores cenários para os próximos dois anos.

7 Multiplicam-se as manifestações de rua promovidas por opositores inconformados com a derrota no segundo turno, aos quais se somam cidadãos indignados com a corrupção e golpistas saudosos do regime militar (1964 - 1985)


Corrupção sistêmica - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 16/11

O escândalo da Petrobras está produzindo reações curiosas no governo, algumas até mesmo engraçadas, se o momento não fosse trágico. Anuncia-se que o PT pretende questionar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a escolha, por sorteio, do ministro Gilmar Mendes para relator das contas da campanha presidencial do partido em 2014. Por sorteio, ressalte-se, e a mando do presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, o mais próximo ao PT de todos os integrantes do supremo tribunal Federal. Nunca vi tamanha confissão de culpa.

Também o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deitou falação sobre a politização das investigações, insinuando que a oposição está querendo ter um terceiro turno da eleição que perdeu. Logo quem, o mesmo que acabara de dizer que a presidente Dilma havia determinado que as investigações prosseguissem, doam a quem doer. Como se a presidente tivesse o poder de mandar parar as investigações se quisesse. Além do mais, Cardozo abriu uma investigação para punir delegados envolvidos na Operação Lava-Jato por terem expressado opiniões pessoais de crítica ao governo e apoio à candidatura oposicionista em uma página do Facebook fechada ao público.

Com isso, os petistas mais afoitos querem identificar razões partidárias para os vazamentos de partes dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff. Tanto os membros do Ministério Público quanto o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações, saíram em defesa dos delegados da Polícia Federal, e não fariam isso se vissem no comportamento de algum deles desvios que pudessem prejudicar as investigações.

O importante é que o sistema que está sendo revelado mostra que toda sustentação política dos governos petistas é montada na base da corrupção, os partidos indicando diretores de órgãos estatais simplesmente para deles retirar dinheiro para financiar suas campanhas, e claro que os benefícios pessoais se impõem. Então dividem os órgãos estatais e os ministérios por partidos, e cada um que é nomeado sabe exatamente por que está sendo nomeado, para que e o que tem que fazer. E a investigação já mostrou que o mesmo esquema existe em outras áreas do governo, que ainda serão investigadas.

É evidente que essa maneira de fazer política, que foi aprofundada absurdamente nos anos petistas, tem que parar. Não há país que aguente uma situação dessas por tanto tempo. Esse sistema de distribuição de ministérios para partidos, de divisão de diretorias de empresas públicas para partidos para montagem de governo está falido.

Não apenas isso, prejudica a imagem do país no exterior e afugenta os investidores sérios, prejudica a economia do país e prejudica, sobretudo, os mais pobres, pois monta-se um governo disfuncional. É preciso mudar, e a crueza dos fatos vai se encarregar dessa mudança. Provavelmente no próximo mês, ou no máximo no início do próximo ano, vamos ter uma relação de 70 a 100 políticos desfilando diante da opinião pública como implicados nesses desvios de dinheiro da Petrobras.

Serão governadores, senadores, deputados, ex-governadores, ex-senadores, ex-deputados. A maior parte será indiciada e julgada pelos tribunais superiores. Estamos na verdade passando por um processo que está em curso desde o mensalão. Um processo que está sendo construído, depurado, e a consequência dessa depuração deve ser a mudança de nosso sistema político-eleitoral.

É muito difícil fazer uma reforma dessa profundidade com o Congresso, pois, em tempos normais, os deputados e senadores querem manter o sistema que os elegeu. Mas numa crise como a que estamos passando, e ainda vai piorar, é o momento da oportunidade para mudar. O PT não inventou a corrupção, mas inventou um método sistêmico de corrupção que perpassa todo o organismo governamental. Isso nunca houve.

Havia esquemas de corrupção localizados, pessoas corruptas atuando, mas nunca houve um esquema desse porte organizado pelo governo. A ideia de que é tudo igual ajuda a quem está envolvido com essas denúncias. Não é todo mundo igual. Nunca houve um partido que tenha chegado ao poder e que tenha montado um esquema dessa amplitude.

Além do mais, esse esquema de corrupção que o PT montou nesses 12 anos faz com que o país não tenha condições de se desenvolver. Uma estrutura de 40 ministérios para financiar sua base eleitoral inviabiliza qualquer governo, perdemos competitividade, perdemos produtividade. Além de todas as decisões de cunho econômico equivocadas, temos um governo disfuncional.


A necessária correção de rumos GAUDÊNCIO TORQUATO

O ESTADO DE S.PAULO - 16/11

Gilbertinho, diminutivo que Lula usa para se referir a Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, tem assumido mais o papel de exorcista que de ex-seminarista ao fazer periódicas avaliações da presidente, que despacha a poucos metros dele no Palácio do Planalto. Em vez de um Te Deum de Ação de Graças em louvor à administração que chega ao término do primeiro mandato, o ministro acaba de "exorcizar" mais alguns demônios que perseguiram a mandatária nos últimos quatro anos, dentre eles, "a falta de diálogo com os principais atores na economia e na política", que teria levado ao pouco avanço em demandas dos movimentos sociais, particularmente nas frentes da reforma agrária e da demarcação de terras indígenas.

A senadora Marta Suplicy também decidiu não cantar um Hosana nas Alturas e ao deixar de supetão o cargo de ministra da Cultura atirou no coração do governo, simbolizado pela área econômica, para a qual defende uma nova equipe capaz de resgatar "a confiança e a credibilidade" e comprometida com "a estabilidade e o crescimento".

Causa perplexidade o fato de o canhonaço partir de integrantes do grupo comandado pela maior liderança do PT, o ex-presidente Luiz Inácio, em torno de quem os dois ministros chegaram a entoar, meses atrás, o canto "Volta, Lula". Digamos que não tenha havido da parte do guru conhecimento prévio dos balaços ou mesmo autorização para tal "campanha negativa" ser desfechada. Sobra a hipótese de um sinal amarelo aberto no semáforo lulista, espécie de aviso para que a presidente Dilma Rousseff mude os rumos do governo, a começar por profunda reforma na economia e maior envolvimento com a esfera política e a sociedade organizada. A verdadeira razão não seria essa? A mandatária precisa substituir as cartas de seu desgastado baralho, tarefa que exigirá mudança de atitude.

Neste ponto, a pergunta central, recorrente nas esferas política e produtiva, dispara outras: Dilma mudará a índole? Dará mais autonomia aos principais ministros? Descentralizará a gestão? São questões complexas, ainda mais quando o axioma criado pelo conde de Buffon em 1753 na Academia Francesa - le style est de l'homme même - continua na ordem do dia.

Em se tratando da presidente, pelo que se ouve e pelo que se sabe, emerge um perfil de forte personalidade, ciosa de seu mando, centralizadora, atenta aos detalhes, de reações ágeis, em quem os psicólogos, pela clássica classificação de Hipócrates, poderiam enxergar traços temperamentais mais próximos dos tipos coléricos e sanguíneos (em que a força de excitação é maior ou iguala à da inibição) e mais distantes dos melancólicos e fleumáticos. Mesmo assim, há de se apostar na hipótese de mudanças ("novas ideias"), conceito que ela própria expressou na campanha. E isso pressupõe alteração na forma de pensar e agir. Significa intuir que ela vestirá o manto reformista. Ora, para cumprir essa missão o reformador carece, como lembra Samuel Huntington, de habilidade política mais alta que a habilidade do "revolucionário", porquanto este precisa ser um político magistral para obter sucesso; já "o reformador de sucesso sempre o é", diz o professor.

A presidente Dilma atravessou o quadriênio do primeiro mandato ensimesmada e desconfiada da política. Teve de abrir espaços para partidos e líderes, mas o fez sob o império de prementes conveniências, procurando manter, porém, certa distância dos políticos. Se o estilo é a pessoa e se ela aprecia conservar o perfil técnico, é bastante compreensível sua maneira de administrar o apetite da política. Acontece que nas democracias representativas os governos não sobrevivem sem as redes de comunicação com a sociedade, sem os "pisca-piscas", os sinais de alerta emitidos pelos circuitos políticos, representados por partidos e Congresso.

Alguns governantes soçobraram porque se isolaram em seus palácios. Lembrem-se Jânio e Collor. Poderosos, mas solitários, padeceram a "solidão do poder". De Gaulle, com seu gaullismo que elevou ao extremo a ideia de autossuficiência da França, refugiava-se no Eliseu. Nixon mantinha-se afastado do público, da imprensa e dos partidos, inclusive do seu, o Republicano, transformando Camp David, a casa de campo, numa fortaleza blindada. Stalin, que se julgava onisciente e infalível, vivia trancado no Kremlin. Bajulados por uma "sociedade de corte", recusando-se a ouvir as demandas sociais e políticas, esses governantes deram vazão ao que se convencionou chamar de "autismo de Estado".

Nossa presidente não se pode ocultar na muralha do isolamento. Principalmente numa quadra em que deverá tomar decisões duras, partindo do princípio de que será impraticável combinar sacrifícios econômicos e recessão transitória com crescimento, expansão do emprego e melhoria de programas sociais. Deve estar preparada para sentir o governo descer na avaliação popular, manter-se por um tempo nesse nível e, em seguida, recuperar os pontos perdidos. Essa tarefa exige um duro programa de ajuste na economia, situação que obrigará a governante a evitar a deterioração de seu peso político. Donde se infere a necessidade de canais desobstruídos entre o Palácio do Planalto e as Casas congressuais. Urge ainda considerar que o Brasil passou a conviver com o ciclo das ruas. E é lógico que nessa quadra de ampla locução social os governantes de todas as instâncias não podem estar longe das massas.

Sob essa teia de alterações na fisionomia social e diante de pressões políticas que, a cada dia, se tornam mais agudas, não resta à presidente da República alternativa que não seja a de criar sintonia fina com o clamor das ruas e a Realpolitik. Será que os canhões de Gilberto Carvalho e Marta Suplicy continham essa munição? Se a intenção era alertar S. Exa. sobre as nuvens plúmbeas que se descortinam no horizonte, o recado foi dado.

Mas a dúvida persiste: por que o ataque público? Por que o PT atira contra o PT?


A Petrobras é deles - POR LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 16/11

A Petrobras está no centro das investigações da Operação Lava-Jato, desencadeada em março para desmontar um suposto esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões, segundo a Polícia Federal. Na sexta-feira foi deflagrada a sétima fase da Operação, cumprindo mandados de prisão e busca e apreensão no Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e no Distrito Federal. Os contratos das empresas suspeitas de fraude com a Petrobras somam R$ 59 bilhões.

O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo processo da Lava-Jato na primeira instância da Justiça, autorizou as prisões porque o esquema de corrupção na empresa pode ter provocado danos bilionários à estatal e aos cofres públicos. Foi criterioso ao decretar apenas seis prisões preventivas, optando pela prisão temporária ou a condução coercitiva dos demais envolvidos. Tem evidências de que estaria havendo uma tentativa de obstrução da Justiça. Tanto que dois dos suspeitos estão foragidos.

Segundo o juiz, um cartel foi formado pelas maiores empreiteiras brasileiras, que combinavam quem ganharia as licitações para obras da Petrobras. Nessas concorrências, diz ele, as empresas cobravam preço máximo e depois distribuíam propina em valores correspondentes a 2% ou 3% do contrato. Ao optar pela delação premiada, o executivo da empresa Toyo Setal Augusto Mendonça Neto contou como esquema funcionava. Foi por isso que a casa caiu.

Até ontem, 21 prisões executivos já estavam presos. Os que não tiveram a prisão preventiva decretada serão ouvidos pelo juiz e liberados - a não ser que tentem ocultar ou destruir provas. A lista de supostos envolvidos no esquema é graúda, mas os novos homens-bomba são Renato de Souza Duque (ex-diretor da Petrobras), que já está preso, e o lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Baiano, hoje é um dos homens mais procurados pela Interpol. É possível que esteja fora do país.

Duque é apontado como principal operador do PT na empresa. Assim como Paulo Roberto da Costa, um dos responsáveis pela delação do esquema, era representante do PP. Fernando Baiano seria o responsável pela ligação do esquema aos políticos do PMDB, assim como o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é o suposto destinatário da propina desviada para o seu partido. Sérgio Moro, porém, não mexeu com Vaccari, porque não teria provas suficientes para decretar a prisão do tesoureiro do PT.

Efeito Katia

Os que estão sendo presos ou detidos serão julgados em primeira instância. O juiz federal Sérgio Moro, que comanda esse processo, deve sentenciá-los antes do fim do ano. A nova fase da operação pode virar um estouro de boiada, porque alguns executivos presos já estão sendo orientados pelos advogados a também fazer acordo de "delação premiada" para reduzir as penas ou mesmo escapar de uma condenação. É o chamado "efeito Katia Rabelo", a herdeira do Banco Rural, que no processo do mensalão teve sua pena fixada em 16 anos e oito meses de prisão, mais multa de R$ 1,5 milhão, por formação de quadrilha, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Continua em cana, enquanto a maioria dos políticos condenados já cumpre pena em regime domiciliar.

A Justiça Federal, o Ministério Público e a Polícia Federal avançam nas investigações, mas a CPMI que investiga a Petrobras no Congresso é palco de toda sorte de manobras da base do governo, por meio das bancadas do PT, PMDB e PP, para barrar a investigação sobre o envolvimento dos políticos no escândalo. A presidente Dilma Rousseff diz que é a favor das investigações, mas operadores do Palácio do Planalto apoiam as manobras para retardar ou mesmo barrar o strike anunciado no Congresso, pois se fala em cerca de 80 políticos envolvidos.

Diante da extensão do esquema de corrução, que pode ter estabelecido um padrão outras empresas para estatais e até fundos de pensão, a pergunta que se faz é a seguinte: os atuais diretores da Petrobras não sabiam de nada? Se não sabiam, deveriam ser demitidos da mesma maneira por incompetência e omissão. A Petrobras foi privatizada com mão de gato e também está sob investigação nos Estados Unidos e na Europa. Deixou de ser nossa.


A reforma política da PF - IGOR GIELOW

FOLHA DE SP - 16/11


BRASÍLIA - A Operação Lava Jato, agora na apropriadamente apelidada etapa do Juízo Final, pode fazer aquilo que todo governo em crise promete: uma reforma política.

Ao atacar de frente os corruptores, a Polícia Federal tem a oportunidade de expor o elo que costuma escapar nos escândalos do gênero.

A confirmar as suspeitas, ao fim poderá estar claro que empresas fornecedoras da Petrobras roubaram da estatal por meio de propinas e superfaturamentos, e usaram parte deste mesmo recurso para molhar a mão de políticos e operadores que permitiram a instalação do esquema.

É quase um círculo perfeito, no que tange o financiamento dos políticos. Em campanhas, dinheiro desviado pode ser reinvestido legalmente em quem abriu a porta do cofre.

Depois do mensalão e das duras condenações aplicadas particularmente aos atores não-políticos do esquema, o pagamento aos políticos precisava de novos e menos arriscados mecanismos.

A reforma política proposta pelo governo não resolve os problemas e ainda cria outros. Mas involuntariamente a PF fará avançar essa agenda, se conseguir ir até o fim. Resta saber o que sairá disso, visto que agentes que irão debater as novas regras poderão fazê-lo do banco dos réus.

O escândalo da Petrobras ameaça a todos, mas só um partido corre risco existencial com ele: o PT.

Em seus governos, o partido colocou a estatal no topo da agenda; fez controle inflacionário ao represar reajustes de combustível, enquanto Lula embebia as mãos com petróleo, à Getúlio. Para cada descoberta no pré-sal, contudo, parece ter havido uma contrapartida obscura.

PMDB, PP e outros estão citados, mas o PT tinha o leme. Depois de sobreviver ao mensalão e sofrer derrotas apesar de reeleger Dilma, o que sobrará do partido se o que se insinua na Lava Jato for comprovado?

Crime de responsabilidade - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 16/11

Quando começou a vir à luz o conteúdo das investigações da Operação Lava Jato, lançada pela Polícia Federal (PF) em março deste ano para apurar a corrupção dentro da Petrobrás, houve quem previsse que a dimensão dessa encrenca poderia comprometer a realização das eleições presidenciais. Esse vaticínio catastrófico era obviamente exagerado. Mas os acontecimentos dos últimos dias revelam que esse escândalo sem precedentes não apenas compromete indelevelmente a imagem da maior empresa brasileira e da cúpula do partido que controla o governo federal há 12 anos - inclusive o ex-presidente Lula e a presidente reeleita Dilma Rousseff, como mostramos em editorial de sexta-feira -, mas pode ser só a ponta de um gigantesco iceberg.

Para ficar apenas nos acontecimentos mais importantes dessa semana: a empresa holandesa SBM Offshore, fornecedora da Petrobrás, fez um acordo com o Ministério Público de seu país pelo qual pagará US$ 240 milhões em multas e ressarcimentos para evitar processo judicial por ter feito "pagamentos indevidos" para obter contratos no Brasil e em outros dois países. No Brasil, a CGU iniciou investigações sobre as suspeitas de que cerca de 20 funcionários da Petrobrás teriam aceitado suborno da empresa holandesa.

Na quinta-feira, a auditoria PricewaterhouseCoopers anunciou que não vai assinar o balanço contábil do terceiro trimestre da Petrobrás - cuja divulgação foi por essa razão adiada - enquanto não conhecer as conclusões das investigações internas da empresa sobre o escândalo, por temer o impacto do desvio de recursos sobre os ativos da petroleira. Trata-se de uma precaução raramente adotada por firmas de auditoria - o que demonstra a gravidade da situação da Petrobrás.

Na sexta-feira, a Operação Lava Jato iniciou nova fase, colocando 300 policiais em ação em cinco Estados - São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais - mais o Distrito Federal, para cumprir 85 mandados de prisão ou de busca contra executivos de empreiteiras e outros investigados por crimes de organização criminosa, formação de cartel, corrupção, fraude à Lei de Licitações e lavagem de dinheiro. Para começar, prenderam no Rio de Janeiro o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, indicado para o cargo por José Dirceu.

Enquanto isso, chega a cerca de uma dezena o número de investigados da Lava Jato que reivindicam o benefício da delação premiada, numa demonstração de que quem tem o rabo preso no escândalo já percebeu que a casa caiu e a melhor opção é entregar os anéis para salvar os dedos, como já fizeram o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.

Diante das surpreendentes proporções do esquema de corrupção armado dentro da maior estatal brasileira com o objetivo de carrear recursos para o PT e seus aliados, não surpreende que os dois presidentes da República no poder durante o período em que toda essa lambança foi praticada soubessem perfeitamente o que estava ocorrendo. Em 2010 - Lula presidente e Dilma chefe da Casa Civil -, o Palácio do Planalto, por meio de veto aos dispositivos da lei orçamentária que bloqueavam os recursos, liberou mais de R$ 13 bilhões para o pagamento de quatro contratos de obras da Petrobrás, inclusive R$ 6,1 bilhões para a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O TCU havia chegado à conclusão de que esses custos estavam superfaturados, mas Lula e Dilma entenderam que era preferível tocar as obras. Só essa decisão comprova a responsabilidade desses políticos por um escândalo que deixa o Caso Collor no chinelo.

De fato, está registrada no Diário Oficial da União a prova documental da conivência de dois presidentes da República com a corrupção na Petrobrás. É um escândalo de dimensões mastodônticas que envolve todas as diretorias operacionais da estatal, dezenas de executivos de empreiteiras e outro tanto de políticos de praticamente todos os partidos mais importantes da base governista no desvio de recursos estimados em pelo menos uma dezena de bilhões de reais.

Somente alguém extremamente ingênuo, coisa que Lula definitivamente não é, poderia ignorar de boa-fé o que se passava sob suas barbas. Já Dilma Rousseff de tudo participou, como ministra de Minas e Energia e da Casa Civil e, depois, como presidente da República.

Devem, todos os envolvidos no escândalo, pagar pelo que fizeram - ou não fizeram.

Juízes, deuses e a perda da noção do óbvio - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 16/11


Que tipo de mentalidade está por trás de atitudes como a de condenar a agente de trânsito que puniu um juiz durante uma blitz no Rio de Janeiro?


Quase todo motorista flagrado dirigindo um automóvel sem placa e que não esteja portando nem os documentos do carro, nem a própria carteira de habilitação considerará justa a punição que receber. Poderá até argumentar, pedir ao fiscal que alivie por causa deste ou daquele fator, mas no fim saberá que a multa ou a apreensão do veículo, longe de constituírem arbitrariedades, são os desfechos previstos para a irregularidade. Dizemos “quase” porque, como agora todo o Brasil sabe, há quem se considere acima de “banalidades” como o Código Brasileiro de Trânsito ou a Lei Seca.

Foi o caso do juiz João Carlos de Souza Correa, flagrado exatamente nessas circunstâncias – sem habilitação e sem documentação do Land Rover não emplacado que dirigia – em uma blitz no bairro carioca do Leblon, três anos atrás. Correa, no melhor estilo “você sabe com quem está falando?” – hábito dissecado por sociólogos como Roberto DaMatta –, se identificou como magistrado. A agente de trânsito Luciana Tamburini, ciente de que todos são iguais perante a lei, fez o que lhe cabia, determinando a apreensão do carro de luxo. Mas um comentário um tanto óbvio, o de que “juiz não é Deus”, despertou a ira do magistrado, que lhe deu voz de prisão e exigiu que Luciana fosse levada a um distrito policial.

Por si só, a situação já é suficientemente absurda. Mas ela ganhou contornos ainda mais surreais quando a agente buscou a Justiça pedindo ressarcimento por danos morais causados pelo abuso de poder de Correa. A juíza de primeira instância Andrea Quintella, em uma decisão nitidamente corporativista, inverteu a culpa, condenando a agente – ela é que teria provocado dano moral ao juiz ao desrespeitá-lo – a pagar multa de R$ 5 mil. Luciana entrou com recurso, cujo relator foi o desembargador José Carlos Paes, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ele manteve o entendimento da primeira instância e, para completar o descalabro, a condenação e a multa foram confirmadas, na quarta-feira passada, por decisão unânime da 14.ª Câmara Civil do TJ-RJ.

A injustiça está para ser consertada – pelo menos em parte. Uma vaquinha virtual levantou os recursos para o pagamento da multa. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) está analisando o comportamento de Correa (infelizmente, o pior que poderá lhe acontecer é uma aposentadoria compulsória), e a seccional fluminense da OAB informou que pedirá ao CNJ o afastamento do magistrado. E Luciana prometeu recorrer aos tribunais superiores contra a condenação no TJ-RJ. Mas a pergunta que fica, nesse episódio, é mais profunda: que tipo de mentalidade está por trás de atitudes como essas?

Correa, que é juiz, certamente conhece o princípio de que todos são iguais perante a lei. E, apenas pelo fato de ser humano, certamente sabe que não tem status nem poderes divinos. Como é que, mesmo assim, se perde o sentido do óbvio? A resposta está no crescente relaxamento ético que está, lentamente, causando um enorme dano moral ao país.

Esse tipo de comportamento floresce em um ambiente no qual já não existem sólidas referências morais que sirvam de exemplo a uma sociedade; em que a busca pela excelência é substituída pela lei do mínimo esforço; em que crimes viram atos de heroísmo, a depender da finalidade com a qual são cometidos; em que os maus exemplos dos altos círculos políticos e do cidadão comum se retroalimentam. Quando tudo isso se junta, surgem os que se julgam acima da lei.

O que falta é olhar os demais como pessoas, iguais em dignidade, e não como capachos, escadas ou escravos. Entender que as leis são para todos e que não há “uns mais iguais que os outros”. O caso de Luciana Tamburini é uma oportunidade ímpar de deixar clara essa verdade. O Brasil inteiro – e isso inclui também todos os juízes que não compactuam com esse corporativismo – espera que o CNJ e a corte que analisar, em última instância, o pleito da agente de trânsito possam restabelecer a justiça para com alguém que nada mais fez que cumprir seu dever.

Corrupção profunda - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 16/11


Investigadores fazem sua parte no caso da Petrobras, mas governo, estatal e Congresso mantêm inércia próxima da conivência

As atitudes da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e dos magistrados que supervisionam as investigações sobre desvios bilionários na Petrobras sugerem que o país está à beira de conhecer o cerne da corrupção política.

É o que se depreende da ação feita para prender 25 pessoas, entre as quais presidentes das maiores empresas do Brasil, e levar outras nove a prestar depoimentos de forma compulsória em delegacias.

Depreende-se, pois as provas conhecidas são ainda escassas, não há acusação formal nem processo instaurado, que dirá condenações.

Mesmo assim, dadas as evidências publicadas e algumas confissões substanciosas, há esperança de que se aproxime um momento decisivo de desmonte de um sistema central de pilhagem envolvendo partidos e governo, além de grandes empresas que defraudam estatais por meio de conluios.

Causa desalento, por outro lado, a atitude do governo, da própria Petrobras, do Congresso e da chamada base aliada. Passaram-se oito meses desde que começou a Operação Lava Jato. A presidente Dilma Rousseff (PT) limitou-se a ressaltar que não foi empecilho às investigações. Nem poderia sê-lo, pois cometeria crime.

Duas CPIs de quase nada serviram, enquanto a direção da Petrobras só no mês passado contratou escritórios de advocacia a fim de auxiliar as apurações.

No mais, pouco se sabe do que a direção da estatal fez para elucidar crimes cometidos sob seu teto, ou como foi possível que tais fraudes passassem despercebidas por tantos anos. A cúpula da maior empresa do Brasil é inepta ou cúmplice.

Como se não bastasse, um dia antes da deflagração da sétima fase da Lava Jato, a estatal foi submetida à humilhação de ver recusadas as suas demonstrações financeiras, pois o auditor desconfia que tais documentos possam estar criminosamente errados.

Pelo que já se sabe, figuras de proa dos partidos governistas não se pejaram de saquear a Petrobras mesmo quando seus próceres eram condenados no processo do mensalão. Ao que tudo indica, comportaram-se como bandidos de rua, que mudam seus pontos de tráfico quando são acossados pela polícia em sua base de operações.

Os dirigentes partidários em tese inocentes jamais se deram ao trabalho de expurgar os chefes do tráfico de influência e dinheiro destinado a bancar ilegalmente campanhas e adquirir apoio político. No mínimo, permitiram que suas siglas permanecessem casas de tolerância da corrupção.

Governo, Petrobras, Congresso e líderes políticos ainda demonstram uma inércia próxima da conivência. Isso precisa acabar.


O alerta do desemprego - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 16/11

A mais perversa consequência da falta de crescimento da economia, aquela que todos torcem para que nunca apareça, infelizmente não perdoou a desaceleração persistente da atividade econômica, principalmente da indústria brasileira. Passada a eleição, o governo não tem mais motivo para esconder ou adiar a divulgação de más notícias, nem mesmo quando a vítima é a estrela de sua campanha eleitoral: o emprego.

Mesmo que tentasse minimizar o fato, não dá mais para esconder o óbvio. Com a economia estagnada e o pessimismo tomando conta do consumidor e dos empresários, a manutenção dos empregos fica sempre ameaçada e, mais dia, menos dia, o trabalhador paga a maior parte da conta da recessão. Seja com a inflação comendo o salário, seja com a perda do emprego. Pior ainda é quando as duas coisas ocorrem ao mesmo tempo.

Ao fim de uma semana recheada de más notícias na economia brasileira, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou na sexta-feira os resultados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em outubro: um desastre. A esta altura, ninguém de juízo esperava desempenho brilhante na criação de empregos formais no país. Mas o prato servido teve péssimo sabor: o país mais desempregou do que empregou gente em outubro.

As dispensas de trabalhadores que tinham carteira assinada superaram as contratações em 30.283. Foi o pior resultado em outubro de toda a série histórica, iniciada em 1999. Foi, aliás, a primeira vez que o Caged apresentou saldo negativo em outubro, mês que não costuma concentrar muitas demissões (fato que geralmente ocorre em dezembro e janeiro, com a dispensa das contratações temporárias).

Baseado nas baixas e nas entradas nas carteiras de trabalho, obrigatoriamente comunicadas ao Ministério do Trabalho, o Caged reflete uma realidade que não permite dúvidas. Não se trata da declaração de pessoas entrevistadas por instituto público ou privado, mas de número frio. Por isso mesmo, reflete a realidade incontestável do mercado formal de trabalho. É importante, portanto, levá-lo a sério.

Melhor ainda tratar de entender suas causas e procurar enfrentá-las. Pouco adianta a candura das explicações do ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, para quem a culpa foi da seca em São Paulo e do animado calendário eleitoral. Fosse só isso, ninguém deveria se preocupar e os empresários, experientes ou não, estariam exagerando ao demitir mais do que contratar, ao engavetar projetos à espera das mudanças prometidas na campanha eleitoral.

O país caminha para fechar o ano com uma coleção de maus resultados: inflação acima da meta, deficit fiscal, deficit em contas-correntes e, pior de tudo, Produto Interno Bruto (PIB) com evolução próxima de zero. Não cabe, portanto, qualquer manifestação de surpresa ante tão expressiva perda de postos de trabalhos pela economia formal. Mesmo que as festas de fim de ano motivem alguma melhora nas contratações de novembro e dezembro, o resultado negativo de outubro é expressivo demais para deixar de ser entendido como um alerta de que as coisas vão muito mal na economia. Há razões de sobra para a presidente não esperar mais nada para fazer as mudanças que prometeu.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Tem muita gente em Brasília sem dormir nos últimos dias”
Senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, sobre a nova fase da Lava Jato



EMPREITEIRO DO PETROLÃO É VELHO CONHECIDO DA PF

O presidente da empreiteira OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, é velho conhecido das páginas policiais: foi citado pelo Ministério Público em 2012 como um dos acusados de desvio de dinheiro na construção da Av. Jornalista Roberto Marinho, na gestão de Paulo Maluf na prefeitura de São Paulo. Junto a diretores da OAS e da Mendes Júnior, ele foi acusado de pagar R$ 22 milhões em propinas ao ex-prefeito.

‘HABITUÊ’

Outro empreiteiro cuja prisão foi decretada na Lava Jato, Dalton Avancini (Camargo Corrêa) estava enrolado no caso Senasa, em 2011.

PROCESSO ABERTO

O caso Senasa motivou prisões de 11 pessoas por corrupção em contratos na Senasa em Campinas. Até o então prefeito foi cassado.

USO DO CACHIMBO

A OAS prosperou à sombra de ACM. Controlada pelo genro do líder baiano, diziam que a sigla era as iniciais de “Obrigado, Amigo Sogro”.

PENSANDO BEM…

…todos as empreiteiras enroladas na Laja Jato estão presentes em dez de cada dez escândalos de assalto aos cofres públicos no Brasil.

ACORDO GARANTE VITAL NO TCU E CARDOZO NO STF

O PMDB do senador Renan Calheiros (AL) resolveu apadrinhar a indicação de Vital do Rêgo (PB), presidente da CPI e da CPMI da Petrobras, ao cargo vitalício de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Em contrapartida, o PMDB oferece a aprovação rápida da indicação do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) para a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal. E tudo fica dominado.

QUE VERGONHA…

No TCU, Vital do Rêgo, pretende substituir o ministro José Jorge, que apurou o roubo de R$ 3 bilhões na estatal Petrobras.

PIZZAIOLO

Assim como nas CPIs que preside, Vital do Rêgo, engavetador-geral do Petrolão, promete ao Planalto especializar-se em receitas de pizza.

TOME TENTO

Amigos de Vital do Rêgo temem que ele se empenhe de tal forma em sepultar o escândalo que acabe contaminado pelo Petrolão.

BATMAN ERA SÓ O ROBIN

No STF, a toga de Joaquim Barbosa rendeu a ele o apelido “Batman”, mas depois da corajosa atuação do juiz Sérgio Moro, herói da Lava Jato, o ex-presidente do STF está mais para o coadjuvante “Robin”.

A FILA ANDA

Uma vez presos os executivos de grandes empreiteiras ligadas à Petrobras, o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), acredita que os próximos desdobramentos da operação Lava Jato envolverão políticos.

PERGUNTA EM MANDARIM

Se a China chamou o caso do servidor público que tinha 37kg de ouro em casa de “pequeno funcionário, corrupção gigante”, o que diria dos dirigentes de empreiteiras do Petrolão antes de mandá-los ao paredão?

VELHA NOVIDADE

O Brasil só supera a Índia (185º.) no ranking de risco de suborno empresarial em 197 países, diz a ONG canadense Trace Matrix. Na Rússia (149º) e na China (137º) a possibilidade de propina diminui.

AINDA DÓI MUITO

Desde que perdeu o filho Eduardo Campos em acidente de avião, há três meses, a ministra Ana Arraes continua muito triste, segundo relatam colegas ministros do Tribunal de Contas da União (TCU).

HOMEM A HOMEM

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) vai esperar a reforma ministerial para montar o seu gabinete paralelo, que vai monitorar minuciosamente as contas e as decisões do governo até seu final, em 2018.

SEIS POR MEIA DÚZIA

Com seis deputados a menos, o PCdoB briga para manter o Ministério dos Esportes, alegando que elegeu o governador do Maranhão, Flávio Dino. Está difícil. Para Dilma, o que importa é o tamanho da bancada.

QUEDA DE BRAÇO

José Sarney espera emplacar o deputado Gastão Vieira (MA) de volta ao comando do Ministério do Turismo. Já o senador Renan Calheiros (AL) deseja a manutenção do atual ministro, Vinicius Lages.

PENSANDO BEM...

...a Petrobras apresentar balanço sem aval da auditoria equivale a aumentar o condomínio do prédio com o síndico preso.


PODER SEM PUDOR

A CAVALARIA DO GENERAL

Victorino Freire visitou o general Eurico Gaspar Dutra, no Rio de Janeiro, na sua permanente conspiração para derrubar o presidente João Goulart.

- Assis Brasil diz que tem as divisões de Cavalaria para pegar e rasgar qualquer um... - disse Freire, preocupado.

- Divisão de Cavalaria do Assis Brasil? Só se for de Cavalo Branco...

Dutra se referia, maldoso, à marca do uísque favorito do general que chefiava a Casa Militar de Jango.