sexta-feira, setembro 26, 2014

Dilma e as cabeças cortadas - REINALDO AZEVEDO

CONTRA DILMA MIOLO MOLE, VOTO AÉCIO 45




FOLHA DE SP - 26/09


Presidente propõe diálogo com terroristas que, para convencer, degolam, crucificam e estupram


Uma qualidade não se deve negar a Dilma Rousseff: é transparente. Não por virtude, mas por falta de talento; não por convicção, mas por falta de imaginação; não por apreço à verdade, mas por falta de discernimento. A entrevista que ela concedeu na terça (23) --em que censurou os ataques dos EUA e aliados às bases do Estado Islâmico-- e o discurso feito na abertura da Assembleia Geral da ONU, na quarta, em que reafirmou esse ponto de vista, restarão como ilustrações da miséria sincera a que chegou a política externa brasileira sob o petismo.

E olhem, se me permitem a digressão, que este que escreve nunca foi vítima do "oba-obamismo". Ao contrário. O agora presidente dos EUA, quando ainda candidato, já me parecia um faroleiro enfatuado, um "poser", um produto mal-acabado do marketing. Se alguém tiver a paciência de escarafunchar o meu blog, encontrará lá algumas antevisões do desastre que este senhor provocaria no Oriente Médio e áreas próximas. Sempre considerei que Obama ainda faria George W. Bush parecer um homem sensato. Infelizmente, as minhas piores expectativas se cumpriram.

O leitor que fizer a pesquisa irá constatar que nunca acreditei numa "Primavera Árabe"; que sustentei que o Egito, sem Mubarak, se tornaria ou uma tirania islâmica ou retornaria à ditadura militar; que, à queda de Gaddafi, na Líbia, sobreviria o caos terrorista no Sahel; que flertar com a deposição do carniceiro (claro que é!) Bashar al-Assad, na Síria, abriria as portas do inferno.

Por razões várias, eu havia dedicado parte do meu tempo imberbe --numa adesão extemporânea a Camus na briga com Sartre-- à leitura sobre os desastres que se sucederam ao fim do colonialismo francês na Argélia. A democracia e a razão não caem da árvore da vida, como a lei da gravidade. Esta, para existir, independe da nossa adesão a seus fundamentos --maçãs continuarão a ser atraídas pelo chão. As outras duas são construções valorativas. Existe um lugar para o indivíduo no Islã? Então me mostrem! Fim da digressão.

Ainda que Dilma, então, fosse movida por um ceticismo prudente sobre a eficácia dos ataques às bases terroristas do Estado Islâmico, outra deveria ser a sua fala. Criticar a ação militar em nome do "diálogo" ultrapassa a linha que caracteriza a delinquência intelectual, política e moral. A presidente conferiu o status de interlocutores aceitáveis a terroristas que adotam como método de convencimento a degola, a crucificação e o estupro.

Com quem Dilma gostaria de dialogar? Ela se sentaria à mesa com o "califa" Abu Bakr al-Baghdadi, um autoproclamado descendente do profeta Maomé, criminoso contumaz que só está em liberdade em razão de um imperdoável cochilo das forças americanas no Iraque, que o fizeram prisioneiro em 2004 e depois o libertaram? Deve-se conferir a esse facínora o status de chefe de Estado, de quem se espera e ao qual se fazem concessões, como numa negociação convencional qualquer?

Enquanto Dilma discursava na ONU, um grupo ligado ao Estado Islâmico divulgava um vídeo com uma nova decapitação --desta vez, na Argélia, aquela mesma da minha juventude cética. Dilma é uma mulher convicta. Não é do tipo que permite que os fatos conspurquem seus princípios.

Papel de centroavante não é o de fazer gols - FERNANDO GABEIRA

PARA NÃO DÁ UM CHUTE NOS OVOS DE DILMA, VOTO AÉCIO 45



O ESTADO DE S.PAULO - 26/09

Dilma Rousseff não para de nos surpreender. Agora disse que o papel da imprensa não é o de investigar, mas, sim, divulgar as informações que produzem os órgãos do governo.

Minha surpresa é maior ainda. Dilma apresentou a Lei de Acesso à Informação, depois de longo trabalho da Associação Brasileira do Jornalismo Investigativo. A lei foi impulsionada pelo trabalho do jornalista Fernando Rodrigues, que sugeriu a criação de uma frente parlamentar, monitorou todas as reuniões da comissão da Câmara que analisou o projeto, organizou seminários e trouxe gente de vários países para falar sobre o tema. Por que tanto empenho dos repórteres na aprovação de uma lei de acesso? O próprio nome de sua entidade é uma pista que Dilma não poderia desprezar: jornalismo investigativo.

Dizer que a imprensa não deve investigar é o mesmo que dizer que um centroavante não deve fazer gols. É uma frase absurda até para quem não conhece bem o futebol. E absurda para quem conhece o papel histórico da imprensa. A geração de Dilma acompanhou o escândalo do Watergate, que encerrou a carreira de Richard Nixon. Ela sabe disso e usou o tema para dizer que sua frase foi interpretada erroneamente. Com um pedacinho de papel na mão, ela tentou consertar o desastre.

Poderia passar o dia citando casos de importantes investigações da imprensa. Prefiro mencionar os casos de governos que pensam que esse não é o papel dos jornalistas. Vladimir Putin, por exemplo, também acha que o papel da imprensa não é investigar. A jornalista Anna Politkovskaia resolveu investigar o trabalho das tropas russas na Chechênia e foi assassinada. Sua morte chamou a atenção do mundo para a repressão contra a imprensa na Rússia.

A China expulsa correspondentes estrangeiros com frequência, ora por tentarem entrar em áreas proibidas no Tibete, ora por mencionarem a fabulosa riqueza pessoal dos burocratas que dirigem o país. E o jornal cubano Granma jamais vai investigar de forma independente um desmando do governo porque o castigo é desemprego, prisão e até pena de morte.

O jornalistas brasileiro Vladimir Herzog foi morto sob tortura durante o regime militar não tanto porque investigou, mas talvez porque só desconfiasse ativamente das notas oficiais da ditadura. No governo do PT não se persegue ou mata jornalista, dirão seus defensores. Mas não deixa de ser inquietante suspeitar que isso não se faça agora só porque a correlação de forças não permite. Um dirigente petista chamado Alberto Cantalice fez uma lista de nove jornalistas que considera inimigos, preocupando as entidades do setor aqui e fora do Brasil.

A frase de Dilma pode ser considerada um ato falho. Os intelectuais que se mantêm fiéis ao esquema, apesar das evidências de sua podridão, sempre vão encontrar uma forma de atenuar essa barbaridade. E os marqueteiros, um pequeno texto para convencer de que ouvimos mal o que Dilma disse. Os ato falhos, tanto em campanha como fora dela, são extremamente didáticos. No caso, a frase de Dilma revela com toda a clareza o pensamento autoritário da presidente: cabe ao governo produzir as informações e à imprensa divulgá-las ou até criticá-las, o que os jornalistas não podem é buscar os dados por conta própria.

Numa célebre intervenção sobre a espionagem americana, Dilma contou ter dito a Barack Obama: "Quando a pasta de dente sai do dentifrício, não pode mais voltar". Certas frases, quando escapam, têm o mesmo destino do creme dental: não podem voltar para o tubo, que é o artefato que Dilma queria mencionar ao dizer dentifrício. Espero que Obama a tenha entendido, com a mediação dos intérpretes. Creio que a entendo muito bem quando diz que o papel da imprensa não é investigar.

O governo petista pôs o Congresso de joelhos e alterou substancialmente a correlação de forças no Supremo Tribunal. Ele considera que a ocupação de todos os espaços vai garantir-lhe não só governar como quiser, mas o tempo que quiser. Porém a imprensa e as redes sociais ainda escapam ao seu controle. E creio que escaparão sempre, pois o País está dividido. O que mantém tudo funcionando é a existência de gente curiosa, que lê, troca informações e gosta de ser informada por órgãos independentes do governo. Mesmo se Dilma for reeleita, com sua truculência mental, uma considerável parte do Brasil que rejeita os métodos e o discurso do PT continua por aí, cada vez mais forte e mais crítica.

Apesar da alternância democrática, certos governos podem durar muitos anos. Mas creio ser impossível se perpetuarem quando têm a oposição das pessoas que prezam a liberdade.

Liberdade de quê?, perguntariam. Consumir mais, melhorar a renda não ampliam a liberdade? Ao se impor na Franca, o socialismo de Jean Jaurès e, mais tarde, de Léon Blum dizia que a justiça política tinha de se acompanhar da justiça econômica. Blum era um fervoroso e racional defensor da República. O PT inventou que seus opositores não gostam de pobre em aviões ou em shopping centers, que a oposição ao seu governo é fruto de intolerância classista.

Exceto um ou outro idiota, ninguém é contra a presença de pobres em aeroportos ou shoppings. O PT deturpou a ideia de República. Em nome de melhorias econômicas, armou o maior esquema de corrupção da História e agora flerta abertamente com a supressão da liberdade de imprensa. Ele usa uma aspiração republicana para sufocar as outras e seu líder máximo, amarfanhado, se veste de laranja para defender de inimigos imaginários a Petrobrás, que o próprio governo assaltou. Suas farsas estão mais grotescas e os atos falhos, mais inquietantes.

Sou do tempo do mimeógrafo. Ainda que consigam devastar a imprensa e proibir a internet, publicações clandestinas seguirão contando a história. Não faremos comissões futuras para investigar a verdade. Vamos conquistá-la aqui e agora, porque, como diz Dilma, a pasta saiu do dentifrício, ou o dentifrício saiu da pasta. Só não vê quem não quer ou é pago para confundir.

Estranho, mas não tenho nenhum medo de governos autoritários. Apenas uma sensação de tristeza e preguiça por ter de voltar a esses temas na segunda década do século 21.

Zero noção de Estado - DORA KRAMER

CONTRA DILMA ISLÂMICA, VOTO AÉCIO 45




O ESTADÃO 26/09



Realmente o governo brasileiro não dá a mínima para o Brasil. Interessa-lhe única e exclusivamente a plataforma de poder, a máquina para fazer política, assegurar empregos e outros que tais cujos detalhes o fim da fase do segredo de Justiça poderá esclarecer.

Tivessem algum apreço pelo País, a presidente Dilma Rousseff e os que a cercam teriam pensado duas vezes (ou quantas fossem necessárias) antes de levar um discurso de cunho partidário à abertura da Assembleia-Geral da ONU, evitando também no campo internacional a proposição de "diálogo" com gente que não conversa, degola.

À presidente da República não parece ter ocorrido nem por um minuto que estaria ali na representação de um País e seu posicionamento no mundo. Foi à Organização das Nações Unidas com o mesmo espírito com que se dirige a um encontro do PT, à biblioteca do Palácio da Alvorada, ao canteiro de obras do Rio São Francisco ou onde grave sua participação no horário eleitoral da televisão ou recite a cantilena sobre a história do partido que salvou o Brasil.

Ainda que fosse tudo verdade, que tudo caminhasse àquelas maravilhas por ela contadas, que o dito combate à corrupção não se expressasse em repetidas operações "abafa", que o País tivesse sido inventado há 12 anos, não caberia à presidente aproveitar-se da tribuna da ONU para produzir cenas às câmeras de João Santana.

Não é bom nem imaginar qual terá sido a avaliação dos chefes de Estados ali presentes diante de uma presidente exclusivamente concentrada em enaltecer a si de maneira provinciana e, sobretudo, sectária na medida em que não falou como porta-voz do Estado brasileiro, uma instituição permanente, preferindo se colocar como porta-bandeira de uma corrente partidária em episódio transitório que se encerra dentro de um mês.

A presidente já havia deixado de lado a compostura quando chancelou o uso da mentira na campanha e aceitou vocalizar indelicadezas contra uma adversária. Na ONU, não desencarnou da candidata. No dia a dia, deixou em segundo plano suas funções. Ocupada com seus afazeres eleitorais, há tempo não recebe embaixadores que esperam para apresentar suas credenciais a fim de exercer a representação dos respectivos países. Já são 28, noticia O Globo.

Poderia até ser um exemplo menor, mera falta de cortesia, se o constrangedor discurso nas Nações Unidas não tivesse deixado patente que o governo brasileiro só tem olhos e põe realmente as mãos à obra quando o assunto é eleitoral.

Falo, não faço. A displicência com que o ex-presidente Lula trata o convite da Polícia Federal para que deponha como testemunha em um dos inquéritos ainda restantes do mensalão não combina com a maneira incisiva com que a presidente Dilma vem abordando a questão do combate à corrupção.

O assunto entrou na campanha depois do acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa. Desde então, a presidente tem acentuado que os governos do PT foram dos mais combativos e mais ativos na criação de controles. Segundo ela, só há tantos escândalos porque a corrupção passou a ser combatida.

Ocorre que desde fevereiro a PF tenta sem sucesso ouvir Lula sobre uma denúncia feita por Marcos Valério de Souza a respeito de um repasse de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT. O advogado Márcio Thomaz Bastos posterga o depoimento e Lula trata o tema com ironia. "Só se você me convidar", respondeu à jornalista que o indagou a respeito nesta semana.

Como não está intimado, não é obrigado a comparecer. Paulo Okamoto, um de seus assessores, diz que depois das eleições "talvez" o ex-presidente compareça. De onde se conclui que a disposição para colaborar com o combate à corrupção não é ampla, geral e muito menos irrestrita. Tem seus limites.


Pronta a persistir nos mesmos erros - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

AÉCIO PRESIDENTE 45




O GLOBO - 26/09

Não se vê, no discurso da presidente Dilma, o mais tênue sinal de disposição para corrigir o rumo da política econômica


Aos trancos e barrancos, o governo chega ao primeiro turno da eleição presidencial com a economia fazendo água por todos os lados. Apesar do represamento do câmbio e dos preços de energia létrica e combustíveis, a inflação em 12 meses rompeu o teto de tolerância da meta. Em queda há 17 semanas, a mediana das expectativas de crescimento do PIB em 2014 já não passa de mísero 0,3%. Com o saldo da balança comercial praticamente zerado, o déficit em conta corrente deste ano deverá ser de mais de US$ 80 bilhões, ou 3,5% do PIB. E, na esteira de um longo processo de perda de credibilidade do registro das contas fiscais, o resultado primário do setor público em 2014, extirpado de receitas e despesas não recorrentes, deve ser inferior a 0,5% do PIB. Mesmo quem nunca nutriu ilusões sobre o que esperar desse governo jamais imaginou que o desastre pudesse atingir tais proporções.

O que é especialmente desanimador é que não se vê, no discurso da presidente Dilma, o mais tênue sinal de disposição para corrigir o rumo da política econômica, à luz dos equívocos cometidos nos últimos anos. A impressão que se tem é que a intenção da candidata à reeleição é dobrar a aposta e persistir nos mesmos erros, na vã esperança de que o desempenho da economia no segundo mandato acabe por lhe dar razão.

O que o Planalto contemplava era poder conduzir a campanha da reeleição no mundo encantado de João Santana, ao largo de qualquer discussão mais séria sobre o desempenho da política econômica. Mas a rápida deterioração do quadro econômico, as críticas dos demais candidatos e o assédio da mídia vêm tornando essa estratégia cada vez mais difícil. E deixando claro que a presidente não tem qualquer proposta articulada de reorientação da política econômica, para fazer face às dificuldades que vêm sendo enfrentadas.

É o que ficou evidente na entrevista concedida por Dilma Rousseff no programa “Bom Dia Brasil”, da Rede Globo, que foi ao ar na manhã de segunda-feira. Instada pelos entrevistadores a esclarecer como pretende reverter o quadro de estagnação e inflação alta, caso seja reeleita, a candidata gastou nada menos que oito minutos em uma resposta repleta de evasivas, subterfúgios e rodeios, da qual pouco ou nada se salva.

Na resposta, a presidente se aferra ao diagnóstico turrão — e conveniente — de que não há nada de errado com sua política econômica e que tudo decorre da crise econômica mundial. Como “a situação do mundo está extremamente problemática”, o país “está na defensiva em relação à crise internacional”, empenhado em “proteger emprego, salário e investimento”. Não houve a mais leve menção ao fato de que, não obstante esse suposto empenho, o investimento está em queda há quatro trimestres.

Pressionada pelos entrevistadores a ser mais específica, Dilma revela, afinal, que sua ideia é “apostar numa retomada”. E apressa-se em esclarecer que “na retomada, você muda a sua política econômica de defensiva para ofensiva” e que “eu posso, na retomada, gastar menos para sustentar emprego, salário e investimento”. Mas logo recua: “Só que investimento eu tenho de manter.” Se não, “eu comprometo emprego e salário”.

“Então o que nós achamos?”, indaga Dilma. “Nós achamos que a gente tem de ver como é que evolui a crise”, pois, “se ela evoluir para uma situação um pouco melhor”, o país “pode entrar em uma outra fase, que precisa menos estímulos”, “pode ficar mais entregue à dinâmica natural da economia e pode, perfeitamente, passar por uma retomada”.

Parece difícil de acreditar, mas não foi mais do que isso que a candidata a presidente que, com folga, lidera as pesquisas de intenção de voto no primeiro turno, tinha a dizer sobre como pretende lidar com os sérios desafios de política econômica que o país tem pela frente.

Se o leitor não teve oportunidade de ver a entrevista, pode recorrer ao site do programa, onde estão disponíveis tanto o vídeo como a transcrição. É imperdível.

A herança - CELSO MING

CONTRA O BAIXO CRESCIMENTO ECONÔMICO, VOTO AÉCIO 45




O ESTADÃO - 26/09



Este governo deixará uma herança maldita para o próximo, que pode ser ele mesmo. Disso discorda apenas o atual governo.

É um legado de encrencas econômicas, grandes e pequenas, algumas de solução complicada que tendem a se complicar ainda mais.

Para enfrentá-lo são necessárias duas posturas preliminares. A primeira é reconhecer a existência das distorções. A seguinte é assumir responsabilidades. São exigências que se sobrepõem: quando não há esse reconhecimento também não se reconhece a responsabilidade sobre elas.

O sintoma de que a economia passa por problemas de saúde é do conhecimento geral. Se fosse uma ficha médica, lá estaria anotado o crescimento mísero do PIB que não passará da média de 1,63% nos últimos quatro anos (inclusive este), acompanhado por uma inflação excessiva, investimento em queda livre, desarranjo crescente nas contas públicas, rombo nas contas externas e uma indústria enfraquecida.

Diante desse quadro, a atitude básica do governo Dilma é a de que não há o que fazer, porque o centro da crise está fora do alcance das políticas públicas, na medida em que foi gerado pelos problemas globais. No entanto, esse balanço não é o resultado da crise externa, como tanto se ouve do ministro da Fazenda. É consequência das escolhas de política econômica que não levaram em conta a conjuntura de crise, uma vez que havia o entendimento de que a economia brasileira vinha relativamente imunizada contra os efeitos da retração global: “Chega aqui como uma marolinha”– havia se gabado o presidente Lula.

Os estímulos ao consumo foram excessivos, os investimentos pararam e a competitividade do setor produtivo caiu. Além disso, o governo deixou que as despesas públicas disparassem, que a inflação passasse do ponto e depois fosse combatida com instrumentos inadequados como o represamento de tarifas e do câmbio. O resultado é a desarrumação dos fundamentos da economia, agravada pela crise de confiança.

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pareceu apontar para uma virada ao avisar que uma derrubada dos juros, essencial para a redução dos custos das empresas, passará por um aperto da política fiscal (administração das contas públicas). Mas ele não estará mais à frente do Ministério no próximo governo. E, até agora, da presidente Dilma só se ouviram críticas aos que pedem mais austeridade.

De todo modo, o novo governo não enfrentará só a herança de uma economia desarrumada, num momento de crise global ainda não superada. Terá pela frente uma conjuntura com duas novas adversidades impostas pela economia internacional e outras três impostas pela dinâmica interna.

Da economia global virá uma temporada de baixa prolongada dos preços das commodities, que pesam cerca de 50% nas exportações; e relativa escassez de moeda estrangeira, na medida em que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) passará a retirar dólares da economia.

Além do raquitismo dos investimentos, a economia interna terá de lidar com mais duas limitações: incertezas no suprimento de energia elétrica e escassez relativa de mão de obra, especialmente a qualificada. São fatores escassos mesmo com esse PIB mirrado. E tanto mais escassos ficarão quanto maior vier a ser o avanço do PIB.

CONFIRA:

Evolução nos últimos 12 meses, do índice de desocupação medido pelo IBGE em seis regiões metropolitanas do Brasil. Em agosto, o índice ficou em 5,0%.

Depois da greve
Após quatro meses sem divulgar os resultados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) por causa da greve dos servidores, saíram nesta quinta-feira, além do resultado de agosto, também os de maio, junho e julho. Nesta ordem, os índices de desocupação foram de 4,9%, 4,8% e 4,9%. A situação continua sendo de pleno-emprego, como está no texto ao lado.

Governo não vê erros e aposta na recuperação - CLAUDIA SAFATLE

CONTRA O OBSCURANTISMO VERMELHO, VOTO AÉCIO 45



VALOR ECONÔMICO - 26/09



O governo não vê nada de errado com a política econômica que adotou nos últimos três anos. Ao rejeitar a existência de equívocos que teriam levado o país ao baixo crescimento e alta inflação ele não está recorrendo a um discurso eleitoreiro que, encerrada a disputa, será revisto caso a presidente Dilma Rousseff conquiste o segundo mandato. A negação é fruto da genuína convicção da presidente e do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Ambos estão seguros de que o que derrubou a atividade econômica no país foi a crise internacional que começou em 2008/2009, aprofundou-se em 2011 na zona do euro e esgotou todas as fontes de dinamismo das economias maduras. A recuperação nos países ricos, portanto, trará de volta a expansão da atividade doméstica. A confiança dos empresários, segundo o ministro, também foi minada pela desaceleração econômica e não pelas ações do governo.

Ontem, de Feira de Santana, na Bahia, Dilma assegurou que "não é necessário um ajuste fiscal profundo" tal como seus adversários apregoam.

Na quarta-feira, o ministro da Fazenda explicou, em entrevista ao Valor, que "2015 será um ano de ajuste fiscal nos moldes de 2011", quando o governo teve que fazer um contingenciamento de R$ 50 bilhões do gasto público para cumprir a meta de superávit primário de 3,1% do PIB. Dessa vez, segundo ele, o esforço fiscal será de menor magnitude, pois a meta fiscal é de 2% e 2,5% do PIB. "Mas vamos segurar a despesa."

Há uma enorme distância entre 2015 e 2011 quando a economia vinha de um crescimento de 7,5% em 2010. O corte na despesa em 2015, ano em que o crescimento continuará baixo, tende a ser mais doloroso do que em 2011. Fica, porém, a dúvida sobre o que Dilma considera "profundo".

Ela e Mantega atribuem grande parte da fragilidade da economia brasileira ao baixo crescimento nos Estados Unidos e na zona do euro. Ele cita estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) que considera a economia mundial responsável por 60% do crescimento no Brasil. Os 40% restantes o ministro explica pela expansão do mercado interno, mas a falta de crédito para o consumo compromete essa performance.

Assim que os bancos privados liberarem mais o crédito para consumo, a economia americana firmar uma trajetória de recuperação e a Europa reagir aos estímulos fiscais esperados, que o ministro espera que sejam fortes, o Brasil voltará a crescer. "Lá [na Europa] eles têm que adotar uma política keynesiana", advoga.

O marco da mudança na macroeconomia, que já vinha sobre bases mais frouxas desde 2009, foi o segundo semestre de 2011. A taxa Selic, que subia desde o início daquele ano, foi revertida em agosto e passou a cair. Para tanto, o governo reforçou a meta fiscal com o excesso de receita de R$ 10,9 bilhões, A taxa de câmbio passou de R$ 1,67 para R$ 1,88 com a imposição de IOF sobre capital externo. No fim de 2012, os juros já eram de 7,25% ao ano, o superávit havia caído e o câmbio se desvalorizado.

Chega-se a setembro de 2014 em situação diversa: os juros de 11% ao ano, a meta fiscal derreteu para 1,9% do PIB e não será cumprida, o dólar subiu para a casa de R$ 2,40. Economistas da oposição calculam que superávit recorrente das contas públicas (que independe de receitas extraordinárias) é, hoje, próximo a zero. Sair de zero para 2% do PIB é um desafio de bom tamanho.

No último ano do governo Dilma, a expectativa é que a política econômica produza um crescimento de 0,5% e a inflação fique na casa dos 6,2%. Se isso se confirmar, o crescimento médio nos quatro anos de mandato terá sido de cerca de 1,6% a 1,7% e a inflação média ao redor de 6%. Uma performance que desaponta.

Enquanto os economistas críticos do governo identificam problemas graves na condução da economia, que levaram o país à recessão no primeiro trimestre deste ano, Mantega avalia que a retração da atividade foi pontual, fruto de uma conjunção de eventos transitórios, e que no segundo semestre os dados virão melhores.

"Não há recessão nem estagnação", sentencia Mantega. "A economia está sólida", garante. Seus argumentos: o mercado interno está intacto, a massa salarial cresce menos, mas cresce, o investimento estrangeiro direto chegou a US$ 67 bilhões, a bolsa de valores andou subindo e há oferta de emprego.

Os riscos apontados para a frente - com estagnação, recessão e desemprego - se não houver uma mudança no mix da política econômica, retomada das reformas e correção dos preços defasados, dentre outras ações defendidas por vários economistas, não são referendados pelo governo.

Mantega admite a necessidade de uma recuperação gradual do superávit primário para permitir redução dos juros, mas não concorda com a redução do papel dos bancos públicos nem com mudanças na concepção da política industrial. "Sem o conteúdo nacional", uma das críticas entre tantas outras à política industrial, "não teríamos a indústria naval", diz ele.

Em meio ao debate com os contornos da campanha eleitoral, o fato é que nada do que foi feito nos últimos anos, nem mesmo os quase R$ 500 bilhões colocados nos bancos públicos para financiar a economia, foi capaz de sustentar a expansão do investimento. Encerrou-se um ciclo de forte expansão da demanda que não foi substituído pelo crescimento da oferta. A produtividade da economia não cresce desde 2011 e a taxa de investimento retrocedeu.

Nos três primeiros anos da gestão Dilma houve uma acentuada queda da produtividade do capital, de menos 1,6% ao ano; e a produtividade do trabalho cresceu menos, de 2,1% para 1,4% ao ano, descrevem os economistas Fernando de Hollanda Barbosa e Samuel Pessôa no texto "Desaceleração Recente da Economia". O trabalho é parte da agenda "Sob a Luz do Sol", uma coletânea de diagnósticos e propostas para o país elaborada por profissionais reunidos no Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP).

Os autores arriscam um palpite: "Uma possível conjectura é que o enorme intervencionismo do setor público que se iniciou de forma mais pesada em 2009 tenha reduzido muito a produtividade incremental do capital em função, provavelmente, de má alocação do recurso".

Um surto de tremedeira - EDITORIAL O ESTADÃO

CONTRA A QUADRILHA PETISTA, EU VOTO AÉCIO 45



O ESTADO DE S.PAULO -26/09



Os políticos andam especialmente nervosos nestes dias - e não é porque está se entrando na reta final da campanha para as eleições de 5 de outubro. A inquietação vem do que e quando o megadoleiro Alberto Youssef contar da história escabrosa do envolvimento de ilustres representantes da elite do poder em falcatruas para ninguém pôr defeito. Preso há seis meses graças à Operação Lava Jato, da Polícia Federal - que apanhou também o ainda mais notório diretor de abastecimento da Petrobrás entre 2004 e 2012, Paulo Roberto Costa -, Youssef é suspeito de ter branqueado algo como R$ 10 bilhões. A dinheirama percorria os conhecidos caminhos dos contratos superfaturados, tráfico de influência, pagamento de propinas e remessas para o exterior. O próprio Costa despachou para a Suíça uma bolada de US$ 23 milhões.

Imitando o petrocrata, que teria identificado uma trintena de figurões do governo e do Congresso Nacional que se esbaldaram no interminável carnaval de corrupção, o seu amigo e parceiro Youssef também achou que era o caso de fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no Paraná, onde está detido. Réu em nada menos de nove ações, foi convencido pela família a entregar a clientela não na esperança de ser libertado, o que motivou Costa, mas de não encanecer na cadeia. É o máximo que pode pretender, porque descumpriu a promessa de mudar de vida quando fez um acerto do gênero há 10 anos, no escândalo do Banestado - e isso não ficará de graça. Na quarta-feira, ao se divulgar que ele prestou o primeiro do que decerto será um extenso rol de depoimentos, um surto de tremedeira percorreu gabinetes políticos e escritórios executivos.

Como se o jogo tivesse sido combinado, nesse mesmo dia o Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou as conclusões de uma auditoria em quatro contratos assinados pela Petrobrás com consórcios liderados por gigantes do ramo da construção pesada, como as empreiteiras Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht, relativos a obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A instalação, que começou a ser construída em 2007 para operar a partir de 2011, é um poço sem fundo de lama. O projeto foi um presente que o então presidente Lula pretendeu dar para o caudilho venezuelano Hugo Chávez, que só entrou no negócio com a sua assinatura, ficando tudo mais por conta do Brasil, aos diligentes cuidados de Paulo Roberto Costa. Ainda sem data para ficar pronta, a obra é um portento de dinheiro desviado. Era para custar US$ 2,5 bilhões. Já engoliu US$ 20 bi - e a contagem continua.

Agora, a mais recente perícia do TCU aumentou em R$ 367 milhões a lambança de gastos superfaturados. Os citados consórcios se beneficiaram, segundo o órgão, de "desequilíbrio econômico e financeiro em desfavor da Petrobrás", do que haveria "fortes indícios", assim como no caso de "pagamentos indevidos" às construtoras. "Os pesos adotados na fórmula de reajustes dos contratos", relatou o ministro José Jorge, "não retratariam a variação dos custos de produção decorrente da inflação no período." Os reajustes mais gravosos ocorreram no quesito mão de obra, com variações da ordem de 70% a 80%. Daquele total, a estatal já desembolsou R$ 242 milhões. Os R$ 125 milhões restantes seriam pagos até maio do próximo ano. Mas o TCU aprovou uma medida cautelar obrigando a contratante a adotar uma nova tabela de preços para pôr os valores nos seus devidos termos.

Por dever de ofício e com algum otimismo, o relator disse esperar "uma melhoria dos procedimentos internos da Petrobrás relativamente à delimitação das condições de reajustes pactuadas em suas contratações de obras". O retrospecto dessa dezena de anos em que a maior empresa brasileira foi sendo gradativamente transformada numa extensão do aparato petista de poder desautoriza, porém, prognósticos de purificação cabal dos procedimentos na petroleira. Isso, mesmo tomando pelo valor de face a propalada preocupação com a lisura da atual diretoria executiva, comandada pela presidente Graça Foster. Fica a expectativa de que os efeitos das delações da dupla Costa & Youssef justifiquem o nervosismo de todos quantos empanzinaram o seu patrimônio à custa do País.

Os tropeços na ONU - EDITORIAL ZERO HORA

DILMA É FAVORÁVEL A DECAPITAÇÃO DE JORNALISTAS PELO IE, EU SOU CONTRA,  POR ISSO VOTO AÉCIO 45




ZERO HORA - 26/09


O Brasil real e o país idealizado estiveram presentes, lado a lado, na sessão de abertura da ONU, em Nova York, nos vários aspectos abordados no discurso da presidente da República. Disse a senhora Dilma Rousseff que os brasileiros percebem os avanços sociais representados pelo que definiu como “uma sociedade inclusiva”. Ao mesmo tempo, exaltou no pronunciamento uma política econômica que teria controlado gastos públicos, estabilizado a inflação, proporcionando crescimento e produzido _ também nas palavras da presidente _ “uma economia moderna”. Para as lideranças presentes à solenidade, o Brasil apresentado seria uma nação que, apesar da crise mundial, projetou-se à condição de sétima economia mundial. Trata-se de um retrato que deveria ser relativizado.
É da tradição que o discurso inaugural da sessão da ONU, concedido a um brasileiro, seja uma oportunidade única de exaltação das virtudes do país. Mas, desta vez, o quadro exibido não teve muita conexão com a realidade. Acerta a presidente ao destacar que o Brasil pode contabilizar conquistas importantes, decorrentes de políticas sociais implementadas não só pelos últimos dois governos, mas há evidente exagero em ressaltar as qualidades de uma política econômica que vem fracassando na tentativa de reverter resultados pouco animadores.
O Brasil que retira famílias da miséria é o mesmo país incapaz de superar dificuldades estruturais, nem sempre resultantes do cenário internacional. Nações sem nosso potencial econômico já começaram a reagir aos estragos da quebradeira de seis anos atrás, enquanto continuamos estagnados. Ao contrário do que afirmou a presidente na ONU, ainda somos relapsos no enfrentamento das deficiências da infraestrutura e no atendimento de expectativas básicas de quem produz.
O sentimento de parcela expressiva do Brasil privado, que não apareceu no discurso de tom eleitoral na ONU, é de perda de confiança nas políticas oficiais e de insegurança em relação a projetos de médio e longo prazos. A economia travada pelos erros governamentais e pela desconfiança do setor produtivo poderia ter aparecido, em nome da fidelidade aos números e à realidade, sem muitos retoques em Nova York. Também é lamentável que, no discurso e em coletiva, a presidente tenha reafirmado a condução errática da política externa brasileira, ao condenar as ações militares contra os bárbaros do Estado Islâmico e, para surpresa da comunidade internacional, defender que os extremistas sejam tratados com diplomacia. Pelo conjunto, a presença do Brasil no evento pode ser resumida como uma sucessão de constrangimentos e equívocos.

Um erro nada banal - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

CONTRA A PETIZAÇÃO DO ESTADO, EU VOTO AÉCIO 45



GAZETA DO POVO - PR - 26/09


Correção na Pnad é apenas um sintoma de uma doença que se alastra pela máquina do Estado



Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) teve de fazer uma humilhante “errata” sobre os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Os dados divulgados originalmente apontavam aumento na desigualdade no país em 2013, mas os números revisados indicavam uma queda mínima. Questionada sobre o assunto, a presidente Dilma Rousseff saiu-se com mais uma de suas recentes pérolas que fazem pensar na avaliação do ex-centroavante e agora deputado federal Romário – “Pelé calado é um grande poeta”, disse, uma vez, sobre o Rei do Futebol. No domingo passado, Dilma, que já tinha tentado consertar uma declaração infeliz sobre o papel da imprensa, objeto de nosso editorial de terça-feira, disse que o erro do IBGE era “banal”.

É de se questionar: é realmente “banal” tal engano em uma que é das mais importantes pesquisas desenvolvidas pelo instituto? Ora, a Pnad não é algo feito da noite para o dia, no improviso. Ainda que por “banal” a presidente quisesse dizer que não se tratava de erro intencional, mas um acidente (logo após usar a expressão, Dilma disse: “Não tem uma conspiração de alguém que queria... Pelo menos é o que parece”), seria “banal” um erro de leitura do termômetro que levasse o médico a aplicar doses maiores ou menores num paciente necessitado de um antitérmico? Supõe-se que o IBGE, ao aferir e dimensionar os êxitos ou as carências socioeconômicas, deva suprir as autoridades de dados confiáveis e capazes de direcionar as políticas públicas mais adequadas. Portanto, leituras erradas da situação ou mesmo a insegurança que passou a viger no âmbito do instituto não podem ser classificadas de “banais” – a menos que o organismo já nem mais seja levado em conta para a tomada de decisões cruciais para a vida da população.

O IBGE, no entanto, não é a única instituição cuja tradicional excelência do trabalho e da independência política com que o exercia está em xeque nesses últimos anos – só em 2014 houve greves e acusações de interferência política no órgão. Infelizmente, o IBGE é apenas mais um no rol de tantas outras instituições sobre as quais repousavam os mais altos índices de confiança e cuja decadência acelerada coincide com os tempos de aparelhamento político iniciados há 12 anos – verdadeiro câncer a provocar metástases de consequências fatais.

Da Petrobras, maior estatal brasileira e uma das maiores petrolíferas do mundo, já se falou muito ao longo deste ano, e nunca parece ser suficiente, tanta a corrupção instalada em seus desvãos e a perda de eficiência nas suas atividades-fins. Mas também é possível incluir na lista o Itamaraty: nosso serviço diplomático, que um dia já foi referência mundial de equilíbrio e sensatez, hoje vive subordinado a conveniências ideológicas (isso quando não se torna mero coadjuvante do assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, a ponto de muitos se perguntarem se ele não estaria acima do ministro das Relações Exteriores); não surpreende que o país tenha recebido a alcunha de “anão diplomático” semanas atrás. Também antigamente sempre colocados no topo dos indicadores de confiança, os Correios hoje sofrem do mal do descrédito – já não se sabe se a correspondência chegará no prazo, nem quanto tempo durará a próxima greve dos carteiros.

De eficiente mesmo, atualmente, na máquina pública, se encontra quase que tão-somente a Receita Federal, o órgão arrecadador que garante alimento cada vez mais abundante para que tudo o mais funcionasse a contento. Não é o que acontece. E isso, para quem paga impostos e espera receber do Estado os melhores serviços, não é nada banal.

Polêmica magra - EDITORIAL FOLHA DE SP

AÉCIO 45 É O MEU VOTO!


FOLHA DE SP



Congresso e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) envolveram-se numa polêmica imatura em torno da liberação de medicamentos usados para emagrecer.

Em 2011, a agência baniu do mercado as anfetaminas e restringiu a venda da sibutramina, duas classes de inibidores de apetite. No início deste mês, contudo, o Legislativo suspendeu a proibição.

Se a disputa tivesse se restringido a esses dois movimentos, nada haveria de anormal. Ocorre que a Casa parlamentar, ao justificar sua decisão, flertou com o ridículo: alegou que a agência extrapolou sua competência legal.

As responsabilidades da Anvisa, no entanto, estão definidas em norma aprovada pelo próprio Congresso Nacional. Segundo a lei 9.782, de 1999, duas das principais funções da agência são justamente cancelar o registro de medicamentos que entenda como prejudiciais à saúde (art. 7º, XV) e promover o sistema de vigilância farmacológica (art. 7º, XVIII).

Como reação ao recém-editado decreto legislativo, diretores da Anvisa anunciaram novas exigências burocráticas relativas aos inibidores de apetite.

A atitude é pouco republicana. Ainda que discordem dos parlamentares, não podem, como membros da administração pública, deixar de seguir orientação de estrutura hierarquicamente superior --e, nesse caso, constituída pelos representantes da população.

No que diz respeito ao mérito do banimento dos anorexígenos, ambas as partes têm razão.

A Anvisa acerta ao afirmar que, no agregado, anorexígenos em geral, sobretudo as anfetaminas, apresentam resultados muito modestos, quando não nulos, no controle da obesidade e trazem o risco de graves efeitos colaterais, incluindo a dependência.

Esse cálculo, todavia, desconsidera o indivíduo. Apesar de, em termos de saúde pública, os malefícios claramente superarem os benefícios, isso não significa que grupos específicos de pacientes não possam tirar proveito dessas drogas. Em termos gerais, é o que basta para desautorizar o veto.

O fato de existirem abusos não deve tolher o uso legítimo, mesmo que este esteja restrito a pequenos segmentos populacionais. E isso dá razão aos parlamentares e médicos que defendem a manutenção dos fármacos no arsenal terapêutico.

Sempre haverá alguma distância entre os interesses da saúde pública e os direitos individuais de pacientes, mas ela pode ser reduzida, nesse caso, com medidas regulatórias que tornem difícil a prescrição leviana de anorexígenos.

Custos da diplomacia eleitoreira - EDITORIAL O GLOBO

CONTRA DILMA ABILOLADA, EU VOTO AÉCIO 45



O GLOBO - 26/09


Entre os danos causados pelo uso partidário da assembleia da ONU está o fim do sonho do assento no Conselho de Segurança e mais uma rusga com os Estados Unidos



Entre as marcas fortes destes 12 anos de administração petista, inclui-se a partidarização da política externa. Assim, tão logo Lula assumiu, a nova diplomacia brasileira começou a trabalhar contra as negociações com os americanos em torno da Alca, Aliança de Livre Comércio das Américas, sob aplausos do nacional-populismo já reinstalado no continente — Venezuela e Argentina, seus representantes mais proeminentes. De fato soterrou-se aquele projeto de integração Norte-Sul, e a diplomacia companheira fez o país mergulhar em outra direção, na política Sul-Sul, equivocada, como sabido.

A patética participação da candidata-presidente Dilma Rousseff na 69º Assembleia Geral da ONU mostrou outra faceta preocupante da “petização” da diplomacia brasileira: seu uso eleitoreiro, apenas para afeito da campanha da reeleição de Dilma. Neste caso, dizer que o Barão do Rio Branco enrubesce na tumba não é um bordão surrado.

Antes de representar o Brasil no discurso de abertura da assembleia, Dilma participou da Cúpula do Clima, com um providencial vestido vermelho, em óbvia obediência aos marqueteiros da campanha. Da tribuna da ONU, Dilma continuou no script eleitoreiro, ao fazer um discurso de prestação de contas de seu governo e dos oito demais anos de PT no Planalto, sem qualquer interesse para os representantes dos países.

Teve o mesmo objetivo a desastrada crítica, feita de forma mais clara em entrevistas, à ação militar da coalizão liderada pelos americanos contra o Estado Islâmico, grupo sectário tão radical e violento que foi desligado da al-Qaeda. Inspirada no antiamericanismo, agora com fins eleitoreiros, Dilma fez a inaceitável defesa dos jihadistas assassinos do EI, com base no conhecido discurso já usado sobre a guerra no Iraque — correto em si —, de que é necessário “dialogar”, em vez de sacar armas.

Fez uma inacreditável confusão. O EI não é um Estado, mas um bando armado, fanático, já conhecido por degolar jornalistas e, agora, um turista, filmar as atrocidades e colocá-las na internet como peça de propaganda. Esqueceu-se a diplomacia companheira que da coalização participam países árabes, o que aumenta a legitimidade da operação.

Da desastrosa passagem por Nova York sobram danos para o Brasil. Além do descrédito semeado por Dilma, há um novo distanciamento em relação aos Estados Unidos, cuja economia se recupera e pode compensar as perdas nas exportações nacionais causadas pela debacle Argentina. Outro dano é o virtual fim do projeto de obtenção do assento no Conselho de Segurança, elevando o status político brasileiro ao peso que o país já tem na economia mundial. Não se pode mesmo dar poder de veto no CS a quem protege sectários.

É uma imagem emblemática a cena do assessor especial da presidência Marco Aurélio Garcia, liderança petista, aboletado na bancada brasileira na assembleia geral. Simbolizava a tutela da política externa pelo partido.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Quem fez ilícito responde por aquilo que fez”
Ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) ao afirmar que o governo não teme delações



PROJETOS DE DELCÍDIO E MENTOR AGORA SOB SUSPEITA

Dois projetos propondo facilidades e até anistia para “repatriar” dinheiro não declarado (em geral, sujo) de brasileiros no exterior, agora estão sob suspeita, após a Operação Lava Jato. São do senador Delcídio Amaral (PT-MS), citado na delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e do deputado José Mentor (PT-SP), citado no escândalo do Banestado, protagonizado pelo doleiro Alberto Youssef.

CONTAS NO EXTERIOR

Em seus depoimentos, Paulo Roberto Costa detalhou pagamentos de propina a autoridades, inclusive parlamentares, em contas no exterior.

‘CIDADANIA FISCAL’

A ementa do projeto de Mentor (2005), copiada por Delcídio em 2009, é um primor de caradurismo: chama isso de “cidadania fiscal”.

COINCIDÊNCIA?

Procuradores agora querem saber se é coincidência que esses projetos tenham sido propostos no auge da atuação da quadrilha na Petrobras.

ESTRANHA GENEROSIDADE

Os projetos sob suspeita anistiam o dono do dinheiro “repatriado” e fixam apenas 5% de imposto. Trabalhador paga até 27,5% de imposto.

NÃO FOI ‘INTIMIDAÇÃO’: PF INVESTIGAVA DENÚNCIA

A Polícia Federal não tentava “intimidar” o senador Lobão Filho (PMDB), candidato do clã Sarney ao governo do Maranhão, quando realizou buscas no seu avião, em São Luís. A PF apenas cumpria seu papel legal de averiguar grave denúncia. Há informações de que se tratava de suspeita de transporte de grande quantia de dinheiro. O Maranhão está no centro das atenções da PF desde que prendeu em São Luís o megadoleiro Alberto Youssef, na Operação Lava Jato.

MISSÃO ABORTADA

Há denúncia de que, antes de ser preso, Youssef recebeu em São Luís a missão de “repatriar” US$ 5 milhões para uma campanha majoritária.

PROXIMIDADE

Youssef foi preso quando se hospedava em hotel próximo à casa de veraneio do governo do Maranhão na praia de São Marcos.

CAUTELA, SENHORES

Michel Temer e Renan Calheiros podem se arrepender de acusar a PF, apressadamente, de “tentativa de intimidação” contra Lobão Filho.

TEIA

A oposição identificou três telefonemas da EBX, de Eike Batista, para Humberto Sampaio Mesquita, que é genro do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, operador de esquema paralelo de corrupção.

O REVOLUCIONÁRIO

Sérgio Moro, jovem juiz de 41 anos, competente e incorruptível, tem nas mãos a chance de promover uma revolução no Brasil pela via da Justiça, a partir dos processos abertos com a Operação Lava Jato.

BRIGA INTERNA

O PSB-PE está em campanha para eleger presidente nacional do partido o prefeito de Recife, Geraldo Júlio, na convenção que Roberto Amaral, presidente interino, com a sensibilidade de hipopótamos em loja de cristais, marcou para segunda (29), às vésperas das eleições.

OOOPS

Há dias, ao visitar hospitais de Minas, mulher do tucano Pimenta da Veiga, Ana Paola, achava que falava para instituições de caridade. Mas eram hospitais responsáveis pela maior parte do atendimento do SUS.

LONGE DE SKAF

Na tentativa de engajar o PMDB na campanha à reeleição de Dilma, o vice Michel Temer participa, segunda (29), de ato em Ribeirão Preto, terra de Baleia Rossi, presidente estadual do PMDB de São Paulo.

TUCANO CORUJA

O candidato a presidente Aécio Neves (PSDB), todo orgulhoso, não se cansa de mostrar fotos dos filhos gêmeos com sua mulher, Letícia. Fez isso ontem durante escala do avião no Rio Grande do Sul.

PÉ-FRIO EM AÇÃO

O deputado Felipe Maia (DEM) ironiza a presença de Lula ao lado de adversários do pai, Robinson Faria (PSD), ao governo potiguar: “Nas últimas eleições no Rio Grande do Norte, todos que receberam apoio de Lula foram derrotados no 1º turno”.

PREÇO ELEVADO

O deputado Danilo Forte (CE) está em campanha para eleger Eduardo Cunha (RJ) à presidência da Câmara. Ninguém merece. Preço muito alto para viabilizar a candidatura de Forte à liderança do PMDB.

PERGUNTA NO PALANQUE

A presidente Dilma desistiu de ir ao comício do PT em Brasília por que, depois de defender o indefensável na ONU, decidiu não repetir a dose?



PODER SEM PUDOR

O MATA-MOSQUITOS

O médico sanitarista Mário Pinotti, ministro da Saúde de JK, não apenas era parecido com Villa-Lôbos como cultivava uma cabeleira no estilo dos grandes regentes do passado, à moda Carlos Gomes.

Durante os aperitivos que precederam o banquete na Escola Doméstica, quando de sua visita ao Rio Grande do Norte, o deputado estadual (e grande gozador) Nei Marinho perguntou-lhe à queima-roupa:

- O senhor é maestro?

- Não, sou mata-mosquito... - devolveu Pinotti, sem perder a esportiva.