segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Poder, sexo e corrupção - REVISTA VEJA

REVISTA VEJA

As revelações explosivas da advogada que a máfia infiltrou no governo

Rodrigo Rangel e Hugo Marques

A moça esguia de cabelos pretos levemente desgrenhados, com uma maquiagem quase imperceptível e vestida discretamente não chega a chamar a atenção da vizinhança elegante dos Jardins, em São Paulo, onde ela trabalha. A advogada Christiane Araújo de Oliveira não é uma celebridade nem uma fugitiva, mas encarna simultaneamente as duas personagens desde que se descobriu que sua vida passada tem um lado obscuro. Em Brasília, ela foi protagonista de um tipo de enredo clássico, secular. A jovem discreta, religiosa e especialmente bela seduziu políticos e encantou o coração de altos figurões da República que retribuíram seus favores ajudando uma organização criminosa que desviou mais de 1 bilhão de reais dos cofres públicos. Sabe-se, agora, que ela usava seus dotes, sua simpatia e a intimidade que construiu com os poderosos para servir a um grupo de corruptos que conseguiu se instalar no seio do poder petista.

É esse passado recente que a jovem advogada quer esquecer. Foi sobre isso que Christiane contou detalhes a órgãos de investigação, mostrando como lobbies políticos prosperam graças à força de um pouco de charme e seus corolários mais picantes. VEJA teve acesso ao teor dos dois depoimentos que Christiane prestou, no fim de 2010, a investigadores do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Ambos foram gravados em vídeo, outro em áudio. Christiane dá detalhes de como usou de sua intimidade com homens fortes do governo federal para traficar interesses de um grupo de corruptos de Brasília e de seu antigo chefe Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal. Ela também conta como, numa via de mão dupla, essas figuras da corte federal exploraram o canal aberto com Durval, homem-bomba que a qualquer tempo poderia, como fez, implodir o governo de José Roberto Arruda, até então do opositor DEM, e facilitar a conquista da administração local pelo PT e a desmoralização do partido adversário em nível nacional. Dos relatos de Christiane, cronologicamente contextualizados, saltam dois personagens de proa do governo de Lula: José Antonio Dias Toffoli - ex-advogado do PT que se tornou advogado-geral da União e depois ministro do Supremo Tribunal Federal pelas mãos do ex-presidente - e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula e hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

Expoentes da nata do primeiro escalão e petistas fervorosos, Toffoli e Carvalho têm também em comum a formação religiosa. Toffoli mantém uma relação estável há anos, é católico e irmão de um padre. Carvalho é casado e foi seminarista. A jovem Christiane e suas artes não combinam com o perfil público de nenhum deles. Nascida em uma família humilde de Alagoas, Christiane, que é evangélica, se mudou para Brasília há pouco mais de dez anos com o objetivo de se formar em direito. O pai, Elói, é um pastor a quem os crédulos atribuem o dom de curar e ver o futuro. Ele se intitula "profeta", e os políticos formam sua clientela predileta. Foi através de um deles que Christiane conseguiu emprego no Congresso Nacional. Sentiu-se à vontade no ambiente e, em pouco tempo, contava com uma enorme rede de amizades. Em 2007, aceitou o convite para trabalhar no governo do Distrito Federal com um certo Durval Barbosa, o delegado aposentado e corrupto contumaz que ficaria famoso, pouco depois, ao dar publicidade às cenas degradantes que levaram à cadeia o governador Arruda e à lona seus asseclas.

Sob as ordens de Durval, Christiane se transformou numa ferramenta a serviço da máfia brasiliense. Durval viu nela uma rara oportunidade de estender suas falcatruas para o nível federal. Os relatos de Christiane são o testemunho desse salto. Ela contou aos promotores e policiais que mantinha encontros secretos com Toffoli. Christiane afirma que, em um dos encontros, levou a Toffoli gravações do acervo de Durval Barbosa. A amostra, que Durval queria fazer chegar ao governo do PT, era uma forma de demonstrar seu potencial de deflagrar um escândalo capaz de varrer a oposição nas eleições de 2010. Há três semanas, VEJA publicou entrevista com Durval em que ele próprio disse ter enviado as gravações a Toffoli. O ministro negou a VEJA ter recebido a encomenda. Em seus depoimentos às autoridades, Christiane reafirma ter feito a entrega do material a Toffoli. Ela pode estar mentindo? Talvez. Toffoli pode ter recebido o pacote e o jogado fora sem se interessar pelo seu conteúdo. Talvez. Mas o que se sabe com certeza é que o objetivo de Durval foi atingido.

É especialmente perturbadora a revelação feita por Christiane sobre o local onde, segundo ela, se deram os encontros - um apartamento em que Durval armazenava caixas de dinheiro usado para fazer pagamentos a deputados distritais e que serviu de estúdio para vídeos incriminatórios. Os encontros de Christiane com os poderosos podem também ter sido gravados? "Essa é uma possibilidade que deve ser considerada", disse a VEJA, sob a condição de anonimato, um dos responsáveis pela apuração. É apavorante a hipótese de que um ministro do STF esteja refém de chantagens de mafiosos e corruptos. Christiane tinha acesso livre à Advocacia-Geral da União quando Toffoli comandava o órgão. "Levei uma advogada lá e ganhei apenas uma bolsa Louis Vuitton - mas verdadeira", contou. Ela disse também ter viajado a bordo de um jato oficial do governo, o que teria sido uma cortesia do atual ministro em sua passagem pela AGU.

As inconfidências de Christiane sobre Gilberto Carvalho não contêm ingredientes picantes, mas são reveladoras de como foi exitoso o plano de Durval de infiltrar sua insinuante parceira entre petistas de alto coturno. A sucessão de histórias relatadas por ela deixa evidente um padrão, o velho estratagema de atrair, registrar e, depois, tendo em mãos elementos que possam comprometer a autoridade fisgada, apresentar as faturas. Christiane foi portadora de diversas ofertas de Durval a Gilberto Carvalho - uma delas, relatou a advogada, oferecia facilidades para investir a preço de custo no aquecido mercado imobiliário de Brasília. Durval era dono de mais de 250 imóveis na capital, boa parte deles comprada com dinheiro surrupiado dos cofres públicos. O ex-secretário desviou mais de 1 bilhão de reais nas contas do Ministério Público. Ele fazia as ofertas em troca de favores.

VEJA mostrou em março passado que, a mando de Durval, Christiane enviou e-mails ao "Querido Dr. Gilberto" pedindo a ele apoio à recondução do promotor Leonardo Bandarra ao cargo de chefe da promotoria de Brasília, decisão exclusiva do presidente da República. Gilberto Carvalho rechaça a insinuação de que tenha aceitado quaisquer favores de Christiane ou Durval. Diz ele: "Eu não estava nesse circuito do submundo. Estou impressionado com a criatividade dessa moça". O certo é que Lula fez exatamente o que a dupla de corruptos pleiteava. Bandarra foi reconduzido ao posto. Semanas depois de confirmada sua volta, Gilberto Carvalho enviou uma mensagem a Christiane. "Fiquei contente em ver nomeada a pessoa, Dr. Leonardo, que você indicara", escreveu ele. O retorno de Bandarra interessava a Durval Barbosa, que tinha com o promotor um acordo destinado a livrá-lo das investigações de envolvimento em desvios bilionários dos cofres de Brasília. O doutor Leonardo Bandarra logo se revelou mais um venal integrante da máfia. Foi afastado e hoje responde a cinco ações na Justiça. Uma delas diz respeito a propinas recebidas de Durval. Christiane relatou aos promotores que o tráfico de influência que praticava funcionava nos dois sentidos. Ela diz que foi portadora de pedidos de Gilberto Carvalho, então todo-poderoso chefe de gabinete de Lula, para que Durval topasse entregar aos órgãos de investigação os vídeos gravados por ele que revelavam o esquema de corrupção no governo do Distrito Federal - entre os quais a famosa e inesquecível imagem em que o então governador Arruda aparece recebendo propina. O escândalo derrubou Arruda e deu a vitória ao petista Agnelo Queiroz.

A linda doutora Christiane chegou a ocupar uma função estratégica no comitê central da campanha de Dilma Rousseff. Foi encarregada da relação com as igrejas evangélicas. Ela conversava pelo menos duas vezes por semana com Gilberto Carvalho e com outros coordenadores da campanha. Com Dilma eleita, a advogada foi nomeada para integrar a equipe de transição de governo. Foi exonerada depois da descoberta de que ela fora processada por participação na máfia dos sanguessugas, que desviava verba do Ministério da Saúde destinada à compra de ambulâncias. Coube a um compungido Gilberto Carvalho demiti-la. "Sinto muito", disse Carvalho à amiga em lágrimas. Antes disso, ela já chegara perto do poder. No auge do escândalo do mensalão, Christiane esteve no Palácio do Planalto ao lado do pai, Elói de Oliveira, fundador da igreja Tabernáculo do Deus Vivo, com sede em Maceió. O famoso profeta Elói foi ao palácio rezar por Lula e fazer previsões do que esperava o presidente. Desenhou cenários favoráveis. Desde então voltou outras vezes ao Planalto, sempre na companhia da filha. Em uma dessas visitas, em 2006, cravou que Lula não teria dificuldades em se reeleger. Também avisou que podia enxergar "uma cratera se abrindo no chão de São Paulo", o que causaria problemas para o governo estadual, do PSDB. A frase sobre a cratera foi entendida como uma previsão acertada do desabamento do canteiro de obras do metrô paulista, em janeiro de 2007, que deixou sete mortos. A fama das previsões do "profeta", agora em tratamento médico, fez dele um sucesso entre os políticos. Quando visitava o Congresso, deputados formavam fila para ser atendidos por ele e ouvir suas profecias. É ao sucesso do pai que Christiane atribuiu sua ascensão, inclusive a financeira.

Habituada a usar roupas, sapatos e bolsas de grife, a menina de infância pobre em Maceió gosta de mostrar que venceu na vida. No ano passado, depois de VEJA mostrar sua relação promíscua entre o petismo e Durval Barbosa, Christiane foi orientada a sumir de Brasília. Por uns dias, hospedou-se em uma fazenda nos arredores da capital. Depois, mudou-se para São Paulo. Só deu seu novo endereço a parentes e amigos muito próximos. Seu novo local de trabalho na capital paulista era um segredo guardado a sete chaves. VEJA localizou Christiane trabalhando no escritório de advocacia Lacaz Martins, nos Jardins. Tentou falar com Christiane Araújo quando ela chegava para o trabalho. Nesse momento a advogada apressou o passo e entrou num Jeep, que pertence a um sócio da banca de advocacia. Ao procurar por ela no escritório, a reportagem foi informada de que lá não trabalha nenhuma Christiane Araújo de Oliveira. Ricardo Lacaz Martins, dono do escritório e colega de turma de Toffoli no curso de direito da USP, diz que Christiane foi indicada por um advogado de Brasília e que passou "pelo processo de seleção como qualquer outro de nossos quase 100 advogados", sem que tenha havido nenhuma intervenção política ou de outra ordem na contratação. "Encontrei-me com Toffoli uma única vez, na festa de vinte anos de nossa formatura", diz o advogado paulista. Por escrito, o ministro Dias Toffoli nega todas as acusações feitas pela advogada: "Nunca recebi da Dra. Christiane Araújo fitas gravadas relativas ao escândalo ocorrido no governo do Distrito Federal". O ministro garante também que nunca frequentou o prédio citado por Christiane como local de encontro entre os dois e que nunca solicitou avião oficial para ela. Diz, por fim, que quando ocupava o cargo de advogado-geral da União recebeu Christiane uma única vez em seu gabinete, em uma audiência formal. Informado de que as revelações foram feitas pela própria Christiane em depoimento gravado a autoridades, no bojo de uma investigação oficial, o ministro optou por não comentar.

Os relatos da advogada ao Ministério Público e à polícia foram feitos em ocasiões distintas. O primeiro deles se deu em l5 de setembro de 2010. Após seu nome aparecer em outros depoimentos, um deles prestado pelo próprio Durval, Christiane foi chamada ao Ministério Público Federal. Em princípio, era para falar sobre suas ligações com a máfia. Não se sabe por que Christiane surpreendeu os policiais e promotores com suas inconfidências espontâneas sem relação direta com o objeto da investigação, citando a toda hora Toffoli e Gilberto Carvalho. O fato de ela arrolar gente tão importante de livre e espontânea vontade pode ser uma estratégia de defesa antecipada? Seria se as citações fossem desprovidas de contexto e evidências. Indagado por VEJA, o procurador encarregado de tomar o depoimento, Ronaldo Meira Albo, confirmou ter ouvido o relato de Christiane, sem entrar em detalhes sobre seu conteúdo. Disse ele: ""Todo o material, inclusive esse depoimento, foi encaminhado à Polícia Federal para ser anexado aos autos da Operação Caixa de Pandora". O depoimento no Ministério Público Federal foi acompanhado por policiais da Diretoria de Inteligência da Polícia Federal. Dias depois, Christiane foi chamada para uma conversa informal, dessa vez na PF, que resultou em seis horas de gravação. Estranhamente, as assombrosas revelações da advogada nesse novo depoimento, segundo a própria polícia, não fazem parte de nenhuma investigação. Por que será?

Com reportagem de Gustavo Ribeiro, de Maceió

A cara do Brasil - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

A cena, registrada com fotos na semana passada em Brasília, poderia servir como um belo documento sobre os usos e costumes da vida política brasileira neste começo de século. Na área central do retrato, a presidente da República, Dilma Rousseff, afaga com a mão direita o rosto do ministro das Cidades, Mário Negromonte, no exato momento em que ele estava virando ex-ministro das Cidades. Um sorriso de beato ilumina o seu semblante - como se ele estivesse tomando posse no cargo, em vez de estar sendo demitido. O novo titular, deputado Aguinaldo Ribeiro, também em estado de graça, aguarda a sua vez de receber a bênção presidencial. Entre os grão-duques da política nordestina presentes à cerimônia, na qualidade de donos hereditários do atual Ministério das Cidades - Negromonte é da Bahia, Ribeiro vem da Paraíba, e ambos são do mesmo partido, o PP -, dá para ver o senador José Sarney, vice-rei do Nordeste e do governo em geral, deslizando quietamente no cenário.

Deveria ser um momento de drama, Afinal, mais um ministro de estado, o sétimo em seguida deste governo, acabava de ser posto na rua por atolar-se em indícios de má conduta, e alguém com ficha limpíssima estaria vindo para consertar o desastre. Mas o que se podia ver, nesta fotografia do Brasil-20 12, era uma comemoração. Em alegre harmonia, a presidente e seus parceiros pareciam estar dando o seguinte recado: "Atenção, respeitável público: garantimos que por aqui continua tudo igual". Continua igual, em primeiro lugar, o que já se pode chamar de "sistema brasileiro" de mexer no ministério. Quando um ministro atinge uma cota crítica de "malfeitos" em sua área e precisa ser demitido, porque se tornou impossível, inútil ou simplesmente cansativo segurá-lo no emprego, é obrigatório nomear para seu lugar alguém que seja uma fotocópia dele - mesmo partido, mesma região, mesmo estilo e mesma folha corrida. Há uma salva de palmas para o ministro que sai, outra para o que entra e todo mundo fica aliviado, porque não há perigo de mudar nada. Continua igual, acima de tudo, a privatização do estado brasileiro, com áreas inteiras da máquina pública transformadas em propriedade particular de partidos e de políticos que apoiam o governo, mais suas famílias, amigos e redondezas. É a cara do Brasil de hoje.

O ex-ministro Negromonte, como os companheiros de infortúnio que o antecederam, viveu nas últimas semanas um processo de torrefação acelerada, por conta de suspeitas cada vez mais feias e cada vez menos explicadas; também como os outros, começou "blindado" e acabou virando farinha de rosca. Para seu lugar, privatizado pelo governo em favor do PP, foi nomeado praticamente um sósia. O homem já vem carimbado na frente e no verso. Está envolvido no tráfego de dinheiro público, por via de "emendas parlamentares", em favor da mãe, prefeita de uma cidade da Paraíba, e da irmã, deputada estadual e possível candidata à prefeitura de outra. Não declarou à Justiça eleitoral nas últimas eleições, como era obrigado a fazer, a propriedade de quatro empresas. Tem duas emissoras de rádio, sempre na Paraíba, registradas em nome de pessoas ligadas a ele - um assessor e um ex-contador. Emprega em seu gabinete de deputado um primo que não bate ponto em Brasília; ele mora na Paraíba, onde, aliás, é dono de uma construtora. (O novo ministro acha que não há nada de mais nisso: segundo explicou, primo é parente "de quarto grau".)

Num país com 190 milhões de habitantes, a presidente Dilma Rousseff não encontrou ninguém melhor que esse deputado Aguinaldo para o seu Ministério das Cidades; no Brasil de hoje, ao que parece, uma ficha como a sua é recomendação, e não problema, para nomear um ministro de estado. É triste, mas o que se há de fazer? O cargo pertence ao PP, e foi ele que o PP escolheu. Pior ainda é a história da Casa da Moeda, a mais recente na coleção de verão do governo; não deu nem para fingir, aí, que existe algum tipo de autoridade pública na repartição que fabrica todo o dinheiro do país. Seu presidente, Luiz Felipe Denucci, foi subitamente para o espaço, ao se descobrir a movimentação de 25 milhões de dólares em contas de empresas que ele mantinha em paraísos fiscais. O que esse cidadão estava fazendo lá? Ninguém sabe. O cargo é do PTB; o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que nunca tinha falado com ele, nem sequer visto sua cara, antes de assinar sua nomeação para presidir a Casa da Moeda - um caso único no mundo, sem dúvida.

Estamos, de fato, em plena privatização.

Quanto custa a burocracia brasileira? - ORDÉLIO AZEVEDO SETTE

O ESTADÃO - 13/02/12

Vivemos em um País cuja herança burocrática sem dúvida remonta ao colonialismo. Temos todo um sistema de "serviço" público que, para começar, nunca teve o menor resquício de prestação de serviços.

Muito ao contrário. Seus funcionários primam por não atender e nem ter o mínimo interesse em servir.

Da mesma forma, os mesmos não estão interessados em quanto custaria essa burocracia ao País e nem em quanto estariam onerando as empresas e contribuintes. Isso sequer é levado em consideração pelos agentes públicos. Controle de custos e gastos é coisa para a empresa privada e os contribuintes.

Somos onerados pela burocracia todos os dias. Quantos de nós já tivemos o desprazer de nos dirigirmos a uma repartição pública e, primeiramente, sequer sermos notados e, quando somos - por não haver outro jeito -, vemos que quem nos atende procura imediatamente criar um obstáculo para se ver livre da gente? "Volte amanhã com a firma reconhecida, faltou um carimbo na assinatura, tinha que ser em duas vias, onde está a autenticação nas cópias?, sem o CPF não pode, faltou a prova de quitação, o expediente hoje é só interno, você marcou hora com ele? Enfim, qualquer desculpa...e já vai você de volta sem ser atendido.

Além disso, quando você consegue preencher todas as "exigências" do atendente, você descobre que o serviço dito público não tem pressa e nem prazo. Volte em 30, 60, 90 dias ou então espere em casa por uma resposta que não chega nunca ou, quando chega, já é muitas vezes tarde ou inútil.

Isso acontece com todos nós mortais brasileiros, pessoas físicas ou jurídicas, de forma democraticamente indiscriminada.

Dizer que é contribuinte é ofensa para o "servidor" público. Se cobrar eficiência, você acaba não conseguindo o que precisa. Reclamar não faz o menor efeito e as ouvidorias internas são, em geral, mecanismos do corporativismo para proteger os faltosos e relapsos. O contribuinte nunca tem razão! Mas paga a conta.

De uns tempos para cá, a burocracia, para evitar trabalho ou simples consultas a arquivos ou computadores resolveu exigir certidões ou atestados de tudo e para todos. Antes de pleitear alguma coisa, você tem de provar que está vivo (as empresas idem), juntar prova de residência, possuir certidões que atestem que você está em dia com suas obrigações, apresentar todas as suas guias de recolhimento e provas de quitação (INSS, IPTU, IPVA, taxas e emolumentos), contas de luz e água quitadas, declarações de imposto de renda (em violação ao sigilo fiscal "garantido"), atestados de saúde, RG, passaporte, declarações de bagagem, fora todos os relatórios e declarações que as empresas são obrigadas a fazer para as diversas esferas fiscais (União, Estados e Municípios) para fins que não se sabe exatamente quais são. Elas são obrigadas a manter toda uma caríssima estrutura de pessoal para atender a essas obrigações. Enfim, uma centena de papéis - a maioria desnecessária, porque tudo, em tese, estaria nos registros das próprias repartições. Um simples acesso aos computadores pelo funcionário comprovaria tudo de imediato.

Mas não, a empresa agora tem de substituir o funcionário público e, com seus relatórios e declarações, realizar o trabalho que ele deveria fazer.

O que as repartições realmente fazem com o papelório que recebem é uma incógnita.

Mas todo dia se cria um novo relatório, uma declaração mensal. Repito: quanto custa isso ao País? Escrevo tudo isso por causa de dois últimos atos lamentáveis. Primeiro, a resolução 363 do Contran que está exigindo reconhecimento das firmas em Cartório ou que você vá pessoalmente ao Detran transferir pontos recebidos por infração de trânsito a quem a cometeu.

Vale dizer: seu filho dirigindo o seu automóvel foi multado, a multa veio para você e você quer que os pontos sejam atribuídos ao infrator.

Pois bem, você agora tem de ir ao cartório ou ao Detran com seu filho e, na presença do funcionário, assinar a transferência. A justificativa é evitar fraudes e, para isso, pouco importa penalizar os justos pelos pecadores.

E não custa perguntar, estariam os Detrans aparelhados para receber essa leva de pessoas? A segunda pérola da burocracia é a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas, criada pela Lei nº 12.440/11, que é exigida em qualquer licitação pública e já está em vigor a partir de janeiro de 2012. Trata-se de mais uma certidão entre as dezenas já inventadas pela burocracia a dificultar a vida de todos. Qual o seu efeito prático? Diminuiria as ações trabalhistas? Obrigaria os empregadores em débito a pagar suas dívidas para com os empregados? Evidente que não.

Seria mais um entrave burocrático, mais um papel para dificultar a vida dos empresários. Qual seria o custo disso para o Brasil? Pouco importa aos nossos burocratas de plantão!

Águas turvas - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 13/02/12
O principal foco de insatisfação hoje na base do governo vem do PT, inconformado com trocas nos bancos estatais e o com o que considera privilégio aos paulistas na distribuição de espaços

A uma semana do carnaval, não será agora que os problemas vão desabar no colo da presidente Dilma Rousseff. Mas alguns movimentos políticos já estão mapeados no Palácio do Planalto. O principal deles tem a ver com os bancos públicos — Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal —, instituições que o governo custou a abrir aos partidos aliados e que o PT ocupava a plenos pulmões no início do governo Lula. Os outros não são tão explosivos, mas estão ligados aos palanques e cargos de segundo escalão na Esplanada.
Vamos ao primeiro, como bem contou a reportagem de Vânia Cristino e Josie Jeronimo, publicada no último sábado no Correio. Elas informam que o PT virou um ouriço desde que o presidente da Instituição, Aldemir Bendine, trocou 13 diretores numa canetada só, há cerca de duas semanas. Na ocasião, informamos a troca pelo Twitter em primeira mão.
A troca dos diretores estava diretamente relacionada aos resultados do banco. Os petistas comentavam à boca pequena, na festa de 32 anos do partido, na última sexta-feira, que a presidente Dilma Rousseff não se conforma com o fato de uma instituição do tamanho do Banco do Brasil ficar atrás do Itaú no ranking dos bancos brasileiros. E, antes que a presidente da República arancasse as sobrancelhas, Bendine resolveu agir e o PT não gostou.
Para compensar o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que já foi ministro da Previdência Social, do Trabalho, presidente do PT e é cheio de moral no Banco do Brasil, ele será o próximo presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ). A indicação, além de fechar o ciclo de bondades aos petistas de São Paulo que ajudaram Fernando Haddad a sair candidato a prefeito, ajuda a acalmar os ânimos do deputado em relação ao BB.

Por falar em ânimos...
E, pelo que se diz no governo, as mudanças nos bancos públicos não param por aí. O atual vice-presidente de fundos e Governo, Fábio Cleto, viveu dias nada festivos em dezembro, e no mercado e na política há quem diga que continua na corda bamba. Ele é tido como apadrinhado dos peemedebistas. Em dezembro, pouco antes do recesso, foi convocado ao Congresso para dar explicações sobre falhas no sistema da CEF que teriam causado prejuízo de quase R$ 1 bilhão.
Com ele, a oposição queria ainda ouvir outros diretores da instituição, ligados ao PT. Ocorre que, fim de ano, sabe como é… Chegou o Natal, o espírito de “vamos dar as mãos” e tudo ficou para depois. Agora, estamos na temporada carnavalesca, em que a Câmara nem sequer conseguiu nomear ainda os presidentes das comissões técnicas, e qualquer convocação só acontecerá mesmo daqui a duas semanas. No governo, há quem diga que a presidente Dilma pode dar sinal verde a mudanças na Caixa Econômica Federal antes disso.
A ideia da presidente Dilma é a de que seu governo aproveite essas semanas em que o Congresso ainda está patinando — e com ele, a oposição — para trocar as peças que apresentaram algum problema e corrigir rumos nos projetos que podem ser criticados. E é nesse ponto que se incluem as alterações na CEF. Aliás, para a presidente, de confusões na área econômica já bastam as notícias sobre a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega. A presidente acha que não é hora de Mantega deixar o governo.

Por falar em Mantega...
O ministro será o grande debatedor da reunião do Conselho Político do governo, marcada para amanhã. A ordem de Dilma é a de que ele exponha a boa situação econômica do Brasil, o que, diga-se, depois do tumulto ontem na Grécia, é um alento. Afinal, muitos dos líderes de hoje viveram os tempos do badernaço que marcou o fim do Plano Cruzado na década de 1980, quando o PT ainda não havia sequer entrado na adolescência. E, por incrível que pareça, não é nem dos aliados que o governo deve esperar as águas mais turvas, até porque eles não têm muito o que fazer longe do poder. O principal foco de insatisfação na base do governo vem do PT, inconformado com trocas nos bancos estatais e com o que considera privilégio aos paulistas na distribuição de espaços de poder dentro do Congresso. Ninguém tem dúvidas hoje de que está aí um poço de problemas, uma vez que muitos petistas ameaçam avançar sobre áreas reservadas aos aliados. Cabe à presidente Dilma, segundo seus fiéis escudeiros, tratar de se antecipar aos problemas, andar devagar nessas águas rasas, porém turvas, a fim de localizar os ouriços. Se conseguir, o contribuinte agradece.

Quanto deve ganhar um Juiz? - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O ESTADÃO - 13/02/12


Todo mundo sabe o que é auxílio-moradia. O empregado trabalha em uma cidade e o empregador o transfere para outra. Para fazer a mudança, cobrir gastos com hotel enquanto arruma a casa nova e para transferir a família, o empregador paga o auxílio-moradia. Paga também quando o funcionário vai trabalhar por um tempo determinado na outra praça, circunstância em que fica, digamos, morando em dois lugares.
Com base nessa idéia geral, os deputados federais incorporaram um auxílio-moradia a seus vencimentos. Parece fazer sentido: os deputados não moram em Brasília, apenas passam lá alguns dias da semana. E o mandato é provisório, tem de ser renovado, ou não, a cada quatro anos. Assim, o Congresso, ou seja, o contribuinte, paga um auxílio por esses dias que o parlamentar passa em Brasília no exercício do mandato.
Tudo certo? Mais ou menos. Ninguém é obrigado a ser deputado. A pessoa se candidata porque quer, se oferece aos eleitores. É diferente do empregado que é transferido pelo patrão. Na verdade, os parlamentares inventaram esse auxílio como uma maneira de aumentar seus vencimentos mensais, sem parecer que estão fazendo isso. Um drible na lei e no bom senso, mas, ainda assim, têm o argumento de que gastam mesmo com moradia transitória, apresentam recibos de hotel e tal.
Vai daí que os juízes, representados por suas associações, perceberam no expediente uma maneira de também aumentar os ganhos mensais. Diz a Constituição que parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal devem ter vencimentos equiparados. Ora, os parlamentares não têm o auxílio-moradia?
Resultado: os tribunais, primeiro, deram o auxílio-moradia aos ministros do STF. Faz menos sentido do que no caso dos parlamentares. Os ministros do Supremo devem morar em Brasília, de modo que deveriam ter um auxílio apenas no momento da mudança, quando são nomeados para o cargo. Seria uma verba específica, contra recibos específicos. Mas, de novo, vá lá. Aos 70 anos eles se aposentam, voltam para suas cidades, de modo que se pode considerar a passagem por Brasília provisória, ainda que por muitos anos. É uma interpretação forçada, mas enfim...
Mas a coisa avançou. Como os vencimentos de juízes dos escalões inferiores são uma parcela daqueles recebidos pelos colegas do Supremo, deu a lógica, a lógica deles, claro: toda a magistratura ganhou o direito de receber o auxílio-moradia - esse valor não contando como salário e, portanto, podendo furar o teto.
Não importa se o magistrado é transferido ou não, se está de passagem, se mora ali mesmo - ele recebe o auxílio para sempre, ou seja, não é mais uma verba especial, mas um vencimento mensal. E mais: aplicaram retroativo. Acrescente aí a correção monetária, etc., e juntou-se um bom dinheiro a receber.
Tudo absolutamente normal, diz o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Ivan Sartori. Normal?
Imagine, caro leitor, que os parlamentares tivessem criado um auxílio-misto-quente, para pagar lanches quando se deslocassem pelos seus estados para falar com os eleitores. Faria sentido estender essa verba aos magistrados?
Na verdade, toda essa discussão não faz sentido. O ponto é outro. Os magistrados acham que não são remunerados à altura do seu trabalho. O desembargador Sartori disse, em entrevista à Veja, edição 2255, que R$ 24 mil mensais é inferior às necessidades de um juiz do Tribunal Superior do Estado.
Esta é uma boa discussão - quanto deve ganhar um juiz no Brasil? - e a categoria deveria mesmo abrir publicamente o debate. Mas em vez disso, o que se viu nos últimos anos? Uma atitude corporativa que inventa quebra-galhos, como esse do auxílio-moradia, para aumentar os vencimentos fazendo parecer que não se trata de aumento, nem de vencimento. Tanto que, como admite Sartori, os juízes recebiam os atrasados sem que isso constasse nos holeriths. Segundo ele, deve ter sido um “equívoco administrativo”, mas foi necessário criar o Conselho Nacional de Justiça para que esses “equívocos” começassem a ser apurados. Já para Sartori, o problema apareceu quando a “imprensa começou a bater nos juízes”, com essa “história de que o poder é uma caixa preta”. Ocorre, porém, que foi só a partir daí que o público ficou sabendo dessas e outras e situações.
De todo modo, o desembargador Sartori tem uma boa atitude. Veio a público para o debate. Comecemos, pois.
Diz ele que o “alto executivo de uma empresa” ou o presidente da Petrobrás ganham muito mais que os R$ 24 mil de um magistrado estadual. Verdade.
Mas ambos são demissíveis a qualquer momento. Os acionistas controladores nem precisam explicar. Lembram-se do caso Roger Agnelli? Ou de José Gabrielli? Juízes só perdem o cargo se fizerem coisas muito erradas, na frente de muita gente. E são aposentados com vencimentos.
Além disso, não são R$ 24 mil. É preciso acrescentar os auxílios e outras vantagens, como os dois meses de férias. É curioso aqui. Sartori defende os dois meses dizendo que o trabalho do juiz é desgastante e que vários colegas têm problemas psicológicos. Logo, precisam descansar 60 dias e não 30 como os demais trabalhadores.
Ganha uma vaga de juiz, sem concurso, quem apontar o trabalho de um brasileiro comum que não seja desgastante e estressante. E vamos falar francamente: o trabalho de um juiz não pode ser mais pesado do que, digamos, o médico operando no Pronto-Socorro, o policial trocando tiros com os bandidos, o operário moldando peças no torno ou do bóia-fria colhendo cana.
Além disso, o próprio Sartori comenta, em outro trecho da entrevista, que poucos juízes tiram os dois meses de férias. A maioria “vende” um período, de modo que se trata de um salário-extra. A maioria também vende a licença-prêmio (três meses a cada cinco anos), outra providência que engorda os vencimentos. Com isso, os juízes ficam como os demais trabalhadores, um mês de férias, mas ganhando um extra. E ninguém tem mais feriados do que os 35 dias/ano dos juízes.
Voltaremos ao debate, mas deixando desde já um outro ponto. Não se trata apenas de saber quanto um juiz merece ganhar, mas também quanto o Estado pode pagar.

E como mentem! - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 13/02/12
"Mentiram-me. Mentiram-me ontem e hoje mentem novamente. Mentem de corpo e alma, completamente. E mentem de maneira tão pungente que acho que mentem sinceramente. Mentem, sobretudo, impunemente. Não mentem tristes.
Alegremente mentem. Mentem tão nacionalmente que acham que mentindo historia afora vão enganar a morte eternamente". Pois sim.
Apelo para o poema "A implosão da mentira", de Affonso Romano de Sant"Anna, sempre que esbarro em algum caso exemplar de mentira. Porque um desses exige uma resposta exemplar. E não conheço outra melhor do que o poema de Affonso, mineiro de nascimento, autor de mais de 40 livros. Um deles: "Que país é este?" Na última sexta-feira , um auxiliar de Dilma indignou-se ao ler no jornal "O Estado de S.Paulo" reportagem de Tânia Monteiro sob o título "Planalto aborta visita de Dilma a obra da Transnordestina ao constatar abandono". O auxiliar perguntou agressivo: "Isso aqui é delírio de quem? Do jornal ou da repórter?"
A abertura da reportagem de Tânia: "Grades de proteção para afastar a multidão, toldos e um palanque foram desmontados às pressas na manhã de quarta-feira, 8, depois que a presidente Dilma Rousseff cancelou a viagem a Missão Velha, no sertão do Cariri (...) porque o palco da festa fora montado num trecho de obra paralisada da ferrovia Transnordestina."
A 24 horas da visita de Dilma, apenas quatro empregados trabalhavam na ponte 01 de Missão Velha. Restavam 190 dos 813 ocupados nos três trechos da estrada no início de dezembro. E apenas 299 nas obras da transposição do Rio São Francisco na altura da cidade de Mauriti. Antes eram 1.525. O auxiliar de Dilma deve ter imaginado que Tânia escrevera sua reportagem sem sair de Brasília. De fato, ela visitou a região com antecedência. Conferiu o que viu e ouviu.
Teve mais sorte do que eu. Estava no Rio na quarta-feira passada quando soube da encrenca em que se metera na Bahia o general Gonçalves Dias.
Comandante da 6ª Região Militar, cabia-lhe a tarefa de enfrentar os policiais militares grevistas que haviam tomado o prédio da Assembleia Legislativa do Estado. Não lhe faltava competência para tanto — pelo contrário - Faltou-lhe bom-senso. Esqueceu que general não precisa ser simpático. Basta que seja eficiente.
No primeiro dia que passeou sua calvície em frente ao refúgio dos amotinados, o general ganhou um bolo de presente porque aniversariava. Ouviu cantarem "Parabéns para você".
Foi fotografado abraçado com um PM. Emocionou-se. E, por fim, chorou. O general romântico! O general do povo!
Com Dilma presidente, PM bandalho não ganha mais anistia, nem general chora abraçado com fora da lei. Apurei, então, por telefone que o general perdera o comando da repressão aos grevistas. Publiquei a notícia no meu blog. Para quê? Para nas quatro horas seguintes quase ser soterrado por desmentidos.
O ministro da Justiça desmentiu. O governador da Bahia desmentiu. O porta-voz do general desmentiu. E o próprio general desmentiu. Transferiu-me sua angústia, que só terminou quando li mais tarde reportagem de Tânia Monteiro no site do jornal "O Estado de São Paulo". Tânia cobre a área militar há 27 anos. Generala Tânia!
O comando da repressão aos grevistas fora transferido para o general Benzo, Comandante Militar do Nordeste informou Tânia. O governador da Bahia telefonara para Dilma e para o ministro da Justiça censurando o comportamento de Gonçalves Dias. Dilma estava furiosa com o general. Que, por sua vez, admitira para o governador ter se excedido.
Ao contrário de outros países, ninguém aqui é obrigado a falar com jornalistas ou a ajudá-los. Desrespeita o distinto público, porém, e deveria ser punida com rigor, a autoridade que informa errado e que mente a jornalistas. Ao cabo, engana o povo. "Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura. Mas não se chega à verdade pela mentira, nem à democracia pela ditadura".

O ponto fraco de homens fortes - CARTA AO LEITOR

REVISTA VEJA

Uma reportagem especial desta edição de VEJA tomou sua forma final depois que os repórteres da revista tiveram acesso ao conteúdo de um vídeo e um áudio gravados durante depoimentos da advogada Christiane Araújo de Oliveira ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal em Brasília. Os depoimentos duraram quase oito horas. Destas, duas horas foram registradas em vídeo, prática a que os promotores recorrem apenas quando o teor do que está sendo narrado se mostra de tal forma explosivo e revelador que eles acham necessário ter uma prova cabal de que não houve nenhum tipo de coerção sobre o depoente. No caso de Christiane Araújo de Oliveira, a precaução dos procuradores do Distrito Federal foi providencial. Com segurança, entremeada por algumas poucas demonstrações de nervosismo, ela narrou em detalhes uma etapa de sua vida que somente alguns amigos muito íntimos conheciam, mesmo assim em parte.

É uma história cheia de ingredientes picantes que mistura sexo e poder, atinge seu ápice no fim do governo Lula e invade a campanha da presidente Dilma Rousseff. Christiane foi exonerada do governo de transição de Lula para Dilma em novembro de 2010, quando se descobriu que ela era ré em duas ações por improbidade na Justiça de Alagoas, no bojo de um processo que investigava desvio de verbas na Saúde, escândalo que ficou popularmente conhecido como máfia dos sanguessugas.

As revelações feitas pela advogada às autoridades mostram as artimanhas que os mafiosos que se abastecem de dinheiro público usam para influir em decisões nos altos escalões da República, obter favores e até indicar criminosos para cargos de confiança. É um retrato íntimo da "Brasilha da Fantasia", terra encantada que se rege pela ética torta de que ser pego com a boca na botija em um escândalo de corrupção só é pecado se as forças políticas dominantes acharem que lhes convém punir o desviante. Como explicar a influência de Christiane no mundo oficial? Entre outras razões, não se podem ignorar seus encantos femininos. Essa atração primeva da mítica Eva, da histórica Cleópatra, da espiã Mata Hari ou da cortesã Christine Keeler que atinge o ponto fraco de homens fortes. Nos depoimentos de Christiane fica evidente o clássico padrão do uso da sedução em troca de favores e atos administrativos de interesse da quadrilha de corruptos para a qual ela trabalhava. Em respeito aos leitores e à privacidade dos envolvidos e de suas famílias, a reportagem de VEJA não entra em detalhes de alcova dos episódios narrados pela advogada. Já há imoralidade suficiente nos resultados da ofensiva de charme de Christiane sobre os poderosos de Brasília.

Causas da inoperância que exaspera a presidente - MARCO ANTONIO ROCHA

O ESTADÃO - 13/02/13
De vez em quando, uma surpresa nos jornais, a despeito de mais de meio século na profissão. Desta vez, foram as "palavras apetrechadas de asas" - como se lê em boas traduções da Odisseia - que D. Dilma lançou aos ares, diante dos atrasos nas obras de transposição do Rio São Francisco e da Ferrovia Transnordestina, quando da sua recente visita.

Obras importantes. Marcos para a história de um governo que se pretende histórico. Verdadeiras "brasílias" dos governos lulistas, nos quais a atual presidente se insere. Por isso, e com justa razão, ela foi clara, firme e direta, embora, como sempre, numa oratória um pouco trôpega. "Queremos obras controladas. Não queremos saber que não deu certo (apenas) no final do ano. Queremos saber antes, porque isso permitirá que a gente faça a nossa parte". E, segundo o noticiário, aduziu a informação de que "o governo monitora obras através de mecanismo online" e, "a partir de agora, vai cobrar metas e resultados concretos".

Isso mesmo. É assim que se fala e que se impõe quem granjeou fama de gerentona, de durona e, principalmente, de competentíssima. Não podia ser de outro jeito: "Pretendo sistematicamente, a partir de agora, olhar detalhadamente os prazos, queremos que cumpram os prazos, teremos uma supervisão praticamente mensal". E, mais adiante, "eu cobro do ministro, o ministro cobra de todos os funcionários do ministério e nós todos vamos cobrar daqueles que executam em parceria conosco". O ministro Fernando Bezerra estava ao lado - sim, aquele que escapou há pouco da demissão.

Eis aí o manual, o roteiro do bom e eficaz gerenciamento no setor público. Resta-nos torcer pelo "a partir de agora".

Mas aí surge a surpresa que esse noticiário nos pespegou.

Quem estava falando assim, com muita desenvoltura e, aliás, coberta de razão, não era a dama de ferro apelidada por Lula de "mãe do PAC"? Não era a mãe do Programa de Aceleração do Crescimento, a ex-ministra de Minas e Energia e a ex-chefe da Casa Civil por um longo período de oito anos, pelo menos, com mais um na Presidência da República? E durante esse tempo todo não ficou conhecida por sua dureza no tratamento de subordinados e por suas cobranças e reprimendas às vezes até humilhantes para quem as recebia?

E, afinal, essas obras todas, mais a Usina de Belo Monte e várias outras de menor impacto, não estavam todas inseridas no PAC, sob suas ordens peremptórias e sua vigilância atenta?

Pois é. No entanto, apesar disso tudo, só agora ela descobre que as coisas não andaram como desejaria e pretende tomar enérgicas providências?

Ficamos dando tratos à bola em busca de uma explicação para a contradição entre a fama de eficácia e competência, sempre alardeada pelos acólitos, da grande administradora e o que parece ser o pífio resultado do seu método de trabalho - pífio a ponto de irritá-la.

Deixemos de lado a explicação banal, porventura preferida por seus inimigos, de que a fama era mesmo apenas isso - só fama. Mergulhemos um pouco mais a fundo nesse mistério. Talvez encontremos aí uma explicação melhor. É que o problema não estaria todo no seu método pessoal de trabalho ou numa incapacidade de comando que começaria a aparecer. É possível que isso também esteja presente. Mas, na verdade, a raiz mais funda do problema está, a nosso ver, no próprio conceito de "governabilidade" engendrado pelo seu antecessor - que permitiu a ele mandar na sucessão e colocar a oposição para escanteio, mas que se mostra agora um fator ponderável de ingovernabilidade na administração da coisa pública stricto sensu.

Sim, pois estando a "governabilidade" distribuída por muitos feudos, dos quais a "coroa", ou seja, a chefia do reino, se torna refém, os senhores feudais tocam os negócios das suas respectivas pastas com o empenho e o ritmo ditados por seus próprios interesses pessoais e políticos. Caso seus interesses porventura coincidam com os do "reino", ou do governo central, tudo bem. Caso não coincidam, que se danem os interesses e propósitos do governo central - ou do Brasil, que seja!

E é assim que la nave va!

Mais ou menos à deriva.

Os atrasos na liberação de verbas e no cumprimento de prazos, até mesmo em obras urgentes como são as previstas para a Copa do Mundo e para a Olimpíada, nascem das lutas internas sobre de quem é a primazia. Em meio a isso, ainda há a inoperância do governo petista, dado o conhecido despreparo dos seus quadros, que vai se impondo com nitidez, para desespero até mesmo de próceres do partido.

Essa inoperância não decorre só da jejuna capacidade administrativa de muitos dos companheiros guindados para cargos públicos com base apenas no QI, isto é, no "quem indica". Decorre, também, do fato de que os senhores feudais "aliados" - ungidos pelo PT, porém não petistas - se preocupam muito mais em promover as suas carreiras pessoais e as dos seus apaniguados do que em levar água para o moinho petista. Essa armadilha enreda a nossa presidente... e enrola muitos dos seus projetos.

Além dos aviões - GEORGE VIDOR


O GLOBO - 13/02/12
Nos grandes aeroportos que serviram de referência ao lance de R$ 16,5 bilhões dado pela Invepar para arrematar a concessão de Cumbica (Guarulhos), o pulo do gato está nas receitas não-tarifárias, que nada têm a ver com os aviões propriamente ditos, e chegam a representar 60% do faturamento. Atualmente, no aeroporto de Guarulhos, as receitas não específicas da atividade aeroportuária nem passam de 40%.

É claro que a razão de ser do aeroporto é a infraestrutura necessária para decolagens e aterrissagens em segurança, mas como por suas instalações transitam centenas de milhões de pessoas (passageiros, tripulações, equipes de apoio em terra, prestadores de serviços, visitantes) e uma grande variedade de cargas, a cada ano, as oportunidades nesse espaço físico se multiplicam até o limite da imaginação.
Quase não são aproveitadas no Brasil por falta de agilidade empresarial do atual administrador, uma companhia estatal cheia de amarras e interferências políticas.
A Invepar concentrou seu foco em Guarulhos porque o aeroporto reúne os três vetores que mais proporcionam receita ao setor, na seguinte ordem: voos internacionais, carga e voos domésticos.
Várias companhias aéreas almejam aumentar o número de voos com origem ou escala em Guarulhos, mas não são atendidas porque os dois terminais de passageiros existentes mal dão conta do recado. Não há lugar para que tantas aeronaves possam permanecer em solo simultaneamente durante determinado tempo. Mas junto ao futuro terceiro terminal de passageiros de Guarulhos surgirá um pátio de estacionamento para 22 grandes aviões.
A Invepar é uma holding com participação de quatro sócios (a empreiteira OAS e os fundos de pensão Previ, Funcef e Petros). A empresa é controladora de várias concessões de estradas (a da CRT, Rio-Teresópolis- Além Paraíba, por exemplo), de uma via urbana expressa (Linha Amarela, por meio da Lamsa) e ainda opera o metrô do Rio. Em contrapartida à dilatação dos prazos de concessão, a Invepar assumiu investimentos que seriam de responsabilidade dos poderes concedentes.
Assim, no fim deste mês, embarcará na China o primeiro dos trens encomendados pela Invepar para o metrô do Rio. Após alguns meses de testes e adaptação, o novo trem circulará pelas linhas 1 e 2, que já funcionam acima dos limites e têm considerável demanda reprimida.
Depois dessa espera angustiante, o metrô do Rio está programado para acrescentar dois novos trens chineses por mês à sua frota a partir de setembro.
O desafio seguinte será o funcionamento da linha 4 (Barra da Tijuca-Gávea), que se interligará à continuação da linha 1, cujas obras em Ipanema também já começaram.
As obras da linha 4 avançam a um ritmo de sete metros por dia, na direção da Barra para São Conrado.
Dos cinco quilômetros deste trecho, um já foi aberto dentro da rocha, por baixo da Pedra da Gávea. Para adiantar os trabalhos, a futura estação São Conrado/ Rocinha está sendo escavada, com remoção das pedras e outros materiais à noite, para não atravancar mais o sobrecarregado tráfego na região.
O trecho de continuidade da Linha 1, entre a Praça general Osório e a Gávea, será aberto por um "tatuzão". É um sistema bem mais caro, porém mais rápido (22 metros por dia) e que não interrompe o tráfego na superfície de vias como a rua Visconde de Pirajá. À medida que a máquina escava o túnel, placas de concreto são assentadas e são instalados os sistemas de drenagem e impermeabilização.
Devido às características do solo e da proximidade do mar, grande parte da sustentação do túnel subterrâneo foi calculada como se ele estivesse no mar.
O metrô do Rio transporta cerca de 650 mil passageiros por dia. A extensão da Linha 1 e a Linha 4 adicionarão mais 200 mil a esse movimento.
Com a ampliação da frota, a Invepar acredita que esse número poderá chegar a 1,1 milhão de passageiros por dia (na Linha 2, a procura está diretamente ligada à circulação dos novos trens; ou seja, cresce na mesma proporção da oferta).
Não existem planos para o metrô passar da estação do Jardim Oceânico, na Barra. Não seria o lugar ideal para a integração ônibus/ automóvel/metrô, porém daí para frente pode não haver demanda de passageiros que justifique a extensão da linha.
A Invepar continuará antenada nas próximas licitações de aeroportos. Não vai se contentar com o desafio de administrar o de Guarulhos.
Mas desde já se declara também candidata a assumir no Rio a concessão da via expressa Transolímpica, uma espécie de segunda Linha Amarela, chamada assim porque ligará dois centros importantes de realização dos jogos de 2016 (Barra da Tijuca e Deodoro). A via terá pedágio para automóveis e caminhões, e contará ainda com um BRT, o ônibus articulado, expresso, que faz o papel de um metrô sobre rodas.
Aumento médio de 15% nos preços dos imóveis, redução de 14% nos homicídios e de 20% nos roubos.
Além disso, diminuição considerável da diferença dos preços médios dos imóveis entre várias regiões do Rio, o que ajudou a melhorar a distribuição de riqueza na cidade (considerando-se que o imóvel residencial é o principal patrimônio, e geralmente também a maior dívida contraída por uma família). Essas são as conclusões do trabalho feito pelos economistas Cláudio Frischtak (ex-Banco Mundial) e Benjamin Mandel, do departamento de pesquisas do Federal Reserve (banco central) de Nova York, sobre o impacto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas cariocas. Os dois se basearam em dados de ofertas imobiliárias entre 2007 e agosto de 2011. O conteúdo do estudo pode ser lido na internet em <http://bit.ly/whAywA>.

Muita inocência - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 13/02/12

No caso da demissão do presidente da Casa da Moeda, PTB e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, eximem-se de responsabilidades óbvias

Já não é pouco desplante -num desmentido da imagem gerencial que cerca a presidente Dilma Rousseff- o hábito generalizado de lotear cargos técnicos entre partidos que compõem a base do governo.

O observador já conformado com o fisiologismo da política brasileira poderia, entretanto, esperar que esse loteamento tivesse, ao menos, um mínimo de critério.

Com a demissão do presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci Martins, por suspeitas de contratos irregulares com fornecedores, produziu-se um fato raro, até mesmo nos anais pouco edificantes da vida partidária nacional.

Desmoralizou-se o apadrinhamento. O PTB, suposto autor da indicação de Denucci para a vaga, jura não ter papel algum no episódio.

O padrinho teria sido o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, que se exime da acusação. Nada mais teria feito a não ser aceitar, de um deputado petebista, o currículo do candidato. Eis que a fisiologia, assim, torna-se argumento em defesa do ministro -cuja responsabilidade ao nomear Denucci, entretanto, continua indeclinável.

Há pouco a dizer quanto aos efeitos do caso sobre a imagem do PTB. Continuará a mesma, marcada por décadas de oportunismo, tenha ou não sido sua a indicação do ex-presidente da Casa da Moeda.

Quanto aos efeitos sobre a imagem do ministro Mantega, o mínimo que se pode dizer é que foram negativos. Mesmo sem nenhum envolvimento pessoal nas irregularidades da Casa da Moeda, resta o fato de que sabia das suspeitas sobre seu subordinado. Sabia e pouco fez -até o momento em que se tornou iminente a revelação do caso em reportagem da Folha.

Convocado às pressas a Brasília, num fim de semana, Denucci foi então demitido. A decisão lhe foi transmitida por funcionário do terceiro escalão. Conste todavia, para todos os efeitos, que Mantega o demitiu.

Demitiu e nada disse. Foi preciso que a presidente determinasse ao ministro que viessem algumas explicações -como aquela, inconsistente, de que acusações contra Denucci já haviam sido feitas, investigadas e arquivadas em 2010. Sim, mas não as que emergiram em seguida, das quais o ministro estava ciente desde agosto de 2011.

Terá desprezado tais denúncias por sua proveniência suspeita -a saber, o próprio PTB? Ou seria o caso de dizer, precisamente, que a proveniência era insuspeita?

Na troca de versões entre o ministro e o PTB, ambos declaram inocência. Que seja; fica, no entanto, a questão da responsabilidade.

Não se trata de um cargo menor, a ser entregue ao primeiro protegido que apareça. O posto não é apenas técnico, mas tem contratos de vulto a celebrar e acompanhar de muito perto. Pelo menos quando se ventilam suspeitas que, por desinteresse ou conivência, nenhuma autoridade tem o direito de minimizar.

É o tempo de TV - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 13/02/12
Embora de fato pretenda apoiar Fernando Haddad, no primeiro e/ou no segundo turno, e colocar o PSD na órbita governista, o objetivo imediato de Gilberto Kassab ao fazer gestos vistosos como a aparição na festa de aniversário do PT é reunir todo o apoio possível para ganhar a batalha no TSE pelo tempo de televisão de seu novo partido. O julgamento deve ocorrer no segundo trimestre. Até lá, o prefeito paulistano espera dispor, além de ótimos advogados e de suas próprias conexões, da boa vontade de petistas ilustres -a começar pelo próprio Lula- aos quais se atribui grande influência sobre ministros do tribunal.

Sem lastro A eventual aliança Kassab-PT será um revés para José Serra não só em 2012. Quem imaginava o ex-governador, sufocado no PSDB, construindo candidatura presidencial alternativa via PPS terá agora de levar em conta que o PSD dificilmente estará disponível para dar musculatura ao projeto.

Às falas Deputados petistas relatam que o presidente do partido, Rui Falcão, recebeu um telefonema de Marta Suplicy cobrando explicações sobre a presença de Kassab na festa do PT. Falcão, secretário de Governo na administração da petista, ponderou que o prefeito foi convidado porque preside o PSD.

Veja bem A Câmara paulistana ouve amanhã Paulo Vanucchi e Paulo Okamotto. Representantes do Instituto Lula, eles falarão a respeito do projeto do Memorial da Democracia, a ser construído em área doada por Kassab.

Em cena A notícia de regressão total do tumor na laringe de Lula, divulgada pela equipe médica, animou o PT paulistano, que espera contar com o ex-presidente numa grande plenária programada para o final de março.

Faxina Depois de sacar o presidente da Conab, o Planalto manifesta disposição de trocar o chefe da Susep e ocupantes de cargos menores na CEF e no INSS. Todos teriam sido indicados pelo líder do PTB, Jovair Arantes (GO).

O filho é teu O PTB, que embaraçou Guido Mantega ao afirmar que foi o ministro quem escolheu Luiz Felipe Denucci para a Casa da Moeda, agora diz o mesmo sobre Luciano Santana (Susep).

Assim é... O governo enxerga digitais do presidente do PTB, Roberto Jefferson, nos rumores sobre a queda de Mantega ventilados e desmentidos oficialmente no final da semana passada. Daí a mão pesada sobre o partido.

...se lhe parece Mas há quem aponte a guerra interna petista por espaços no Banco do Brasil como a fonte alimentadora dos boatos sobre o ministro da Fazenda.

Nada disso Enquanto deputados petistas se queixam da dificuldade de acesso de João Vaccari Neto ao BB, Rui Falcão afirma que o tesoureiro nunca procurou ser recebido no banco.

Mais um Mesmo com a concessão federal dos aeroportos de Guarulhos e Viracopos, o governo de São Paulo levará adiante o projeto de um aeródromo na região metropolitana. Estudo à disposição do Palácio dos Bandeirantes prevê o uso do Campo de Marte -hoje dedicado à aviação de pequeno porte, na zona norte da capital.

Regional O objetivo, além de desafogar o tráfego durante a Copa de 2014, é reerguer cerca de 30 aeroportos do interior de São Paulo, sul de Minas Gerais, norte do Paraná e parte do Mato Grosso, onde há demanda reprimida rumo a São Paulo. O estudo indica potencial para atender 1,4 mi de passageiros anualmente, com receitas iniciais previstas de R$ 20 mi.

O que falta O investimento de R$ 30 mi seria feito no modelo de PPP. Para avançar, o projeto aguarda a aprovação do novo modelo de outorgas da União, que definirá o papel da Infraero.

Tiroteio

O ponto fraco da candidatura de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo não é o chamado 'kit gay', mas sim o inexplicável passivo do Enem.

DO PRESIDENTE NACIONAL DO PSDB, SÉRGIO GUERRA, indicando que os tucanos, à diferença de representantes dos evangélicos, pretendem centrar suas críticas ao ex-ministro petista na questão das repetidas falhas no exame.

Contraponto

Como se faz

Ao chegar com algum atraso à festa do PT, na sexta, Fernando Haddad foi chamado pelo mestre de cerimônias a se juntar às demais autoridades convidadas. O ex-ministro dirigiu-se tão timidamente ao palco que o governador Marcelo Déda (SE), preocupado com os modos pouco eleitorais do correligionário, estimulou:

-Balança a mão, Haddad, balança a mão!

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

O partido industrial - RENATO JANINE RIBEIRO


Valor Econômico - 13/02/12


Há no Brasil um projeto político - sem partido - composto daqueles que se inquietam com a desindustrialização do país, ou melhor, com a redução da parte da indústria em nossa produção e exportações. Em meados do século 20, quando o subdesenvolvimento e seus males despertaram reflexões de alta qualidade, entendeu-se que, para saírem da miséria, os países mais pobres deveriam ir além da agricultura, pecuária e extração de minérios. A única forma de se desenvolverem seria agregando valor-trabalho a seus produtos. As mercadorias com baixa quantidade de riqueza gerada pelo homem acabam valendo menos. Mesmo a grande exceção dentre os produtos coletados, o petróleo - que, por sinal, começou a se tornar mais caro apenas na década de 1970 -, não é uma benção para as nações que o extraem. A grande exceção são os Estados Unidos, mas justamente porque sua produção de petróleo é apenas um item numa economia complexa e rica. Em outros lugares, o petróleo desestimula a geração de riquezas pelo trabalho humano. Mas, ficando no Brasil, entendeu-se que a solução de nossos males passava pela industrialização. É o que une Volta Redonda, construída ainda na ditadura Vargas, os projetos de JK na década de 1960, o planejamento de Celso Furtado e as grandes obras da ditadura militar.

Riqueza natural não basta para fazer rico um país

Contudo, os dois últimos presidentes da República, FHC e Lula, conviveram bem com o que desde a década de 1990 alguns chamaram de desindustrialização. Voltou a crescer, em nossa pauta de exportações, o que vem da terra: seja a riqueza mineral gerada ao longo de milhões de anos e que desaparece para sempre, seja o produto do campo, ora lavoura, ora pecuária. Na análise que a Cepal fazia das causas da pobreza, trata-se de produtos honrosos, mas que não permitiriam dar o salto para o desenvolvimento. É verdade que a agropecuária e a extração de minérios hoje têm uma qualidade nunca antes vista. Ciência e tecnologia estão embutidas nelas. Por outro lado, hoje não basta ter indústrias: há as de primeiro e de segundo time. Só as melhores representam um diferencial. O trabalho agora valorizado não é qualquer um - é, sobretudo, o intelectual. Ou seja, a diferença de nossos dias não é bem entre indústria e agricultura: é entre o uso da inteligência e o uso dos braços. Mesmo assim, o fato é que nas últimas décadas - por coincidência as mais estáveis de nossa história política, as que também mais contribuíram para a redução da miséria e da pobreza - nossa economia de exportação voltou a se constituir principalmente de produtos com pouca agregação de valor. Há, aí, pelo menos um paradoxo, e talvez um risco.

Testemunhei um episódio dessa história quando jovem. Meu pai, Benedicto Ribeiro, jornalista econômico (ver José Venâncio de Resende, "Construtores do Jornalismo Econômico", 2005), trabalhava em 1967 com Horácio Coimbra, que presidia o Instituto Brasileiro do Café. Horácio, dono da Cia. Cacique de Café Solúvel, perdeu o cargo, vítima das pressões norte-americanas para que o Brasil não exportasse café solúvel, mas só em grão. Em plena vigência do Ato-5, o então deputado Helio Duque relatou esse caso em "A guerra do café solúvel" (1970). A simples transformação do café para solúvel, incluindo mais trabalho no valor do produto, já era um elemento de combate ao subdesenvolvimento.

Temos economistas e políticos preocupados com essa redução da qualidade do que exportamos. Os nomes óbvios são Luiz Carlos Bresser-Pereira, que deixou o PSDB no ano passado (como revelou ao jornal Valor), e José Serra, que em sua carreira se empenhou na defesa da indústria. Contudo, este assunto hoje não é pauta de discussão política. Não tem destaque na maior parte dos jornais, nem na televisão aberta. Apenas devo lembrar, aqui, que não se trata exatamente de defender a indústria na exportação brasileira; é antes de mais nada entender que o país não pode depender tanto da exportação, digamos, de soja para alimentar o gado estrangeiro. É ótimo exportarmos esses produtos, mas não bastam. Ou seja, o que chamei de partido industrial não é bem um defensor só da indústria, ou de qualquer indústria: o que o incomoda é a hipercommoditização do que mandamos para fora, que nos deixa econômica e politicamente vulneráveis, e o que ele quer é agregar trabalho brasileiro para o país produzir mais riquezas. Mais ainda: pretende romper com a ideia do país "rico por natureza", quando riqueza é o que fazemos, com o trabalho e, cada vez mais, a inteligência.

O problema é que esse partido da agregação do valor-trabalho não existe. Há economistas preocupados com o problema. Só que o assunto não vai à praça pública. Nem sei se Serra ainda lhe dá importância: na campanha, mal o mencionou. Pode ser tema impopular - é tão barato importar da China... Mas os pontos cruciais são dois: aparentemente, vemos aqui o calcanhar de Aquiles de nossa economia, que tem permitido uma redução drástica da pobreza; e, seguramente, é o assunto de que não se fala. Haverá políticos querendo trazer o assunto para o debate? Na verdade, o que chamei de partido industrial deveria ser conhecido como o "partido da inteligência como força produtiva". Talvez aí esteja o problema: ele se concentra demais no Ministério da Ciência, Tecnologia e, agora, Inovação. Poucos sabem dele. Mas é prioritário para nosso desenvolvimento. Não sei, a rigor, se ele tem que virar partido. Como os empreendedores de quem falei na coluna passada, talvez seja melhor que contaminem as diversas forças políticas. Mas tem que fazer-se presente no debate público.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 13/02/12
Empresas correm para protocolar aquisições no Cade antes de nova lei

A aprovação da lei que determina que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) julgue fusões e aquisições de empresas antes da conclusão dos negócios deu início a uma corrida das empresas para protocolarem operações no órgão. Somente na primeira sessão do conselho, em janeiro, foram apresentados 70 casos, contra uma média de 30 operações protocoladas ao longo do ano passado.

A previsão do presidente da autarquia, Olavo Chinaglia, é que o número chegue a 100 casos por mês até 30 de maio, quando a nova lei entra em vigor.

"Já vemos um substancial aumento no número de casos notificados. O motivo da corrida é, de um lado, se beneficiar do regime atual que permite às empresas fechar o negócio desde logo", diz.

"De outro lado, a incerteza quanto à estrutura de que o Cade vai dispor no momento em que a nova lei entrar em vigor", acrescenta.

Entre advogados, há preocupação quanto às condições de trabalho do novo Cade.

Para o professor titular da Faculdade de Direito da USP, Tercio Sampaio Ferraz Junior, a lei não deveria entrar em vigor antes da contratação do pessoal necessário para atender às novas exigências.

"É uma loucura essa lei entrar em vigor", afirma. Faltam funcionários. O Cade pediu 30 pessoas e ainda não vieram. É difícil contratar profissionais especializados nessa área e será preciso um tempo para treiná-los."

NÚMEROS
70 casos foram apresentados na primeira sessão de janeiro
30 é a média nos outros meses do ano
100 casos devem ser apresentados por mês até o final de abril
30 de maio é a data em que o novo Cade entra em vigor

Fonte: Cadê

Buscapé apresentará novos dados contra Google

O comparador de preços Buscapé deve apresentar nos próximos dias mais documentos à SDE (Secretaria de Direito Econômico) para reforçar a denúncia de abuso de poder do Google.

Em dezembro, o Buscapé entregou ao órgão dados que indicariam que o buscador prioriza seu próprio comparador de preços, o Google Shopping, na lista de buscas.

Nos novos documentos, o Buscapé deverá incluir o argumento de que o Google Shopping nem sempre apresenta os menores preços e, por isso, não poderia aparecer sempre nas primeiras posições.

Nos critérios de busca do Google, o resultado mais relevante, como um produto mais barato, deve aparecer antes.

Segundo pesquisa feita pelo Buscapé, o Google Shopping apresenta preços menores em apenas 2% dos casos.

O Google alega que seus critérios de exibição de resultados levam em consideração o interesse dos usuários e que a boa aceitação do Google Shopping o coloca de forma relevante na lista de resultados.

A SDE não comenta o caso.

'BRIGADEIRO' DOS EUA

A Brou'ne, rede de lojas de brownies, abrirá cem unidades até o final de 2013. A primeira filial da companhia fora do Estado de São Paulo será inaugurada em março, em Uberlândia (MG).

A estratégia da empresa é fechar contratos em cidades que fiquem a no máximo 500 km de Campinas (SP), local da primeira loja.

"Recebemos propostas de Nordeste e Centro-Oeste, mas deixaremos essas regiões para depois", diz Nina Lahaliyed, norte-americana fundadora da rede.
A receita do doce, que a companhia produz até duas toneladas por mês, foi trazida ao Brasil por Lahaliyed há 15 anos.

"Cresci vendo minha mãe cozinhar brownies e nunca pensei que isso poderia virar meu trabalho."

Crises no Varejo

Os setores de varejo e aviação foram os que passaram pela maior quantidade de crises corporativas registradas pela imprensa em 2011, segundo estudo da agência Imagem Corporativa.

Cada um dos segmentos foi responsável por 10% das ocorrências, de acordo com a companhia, que faz a pesquisa há dez anos.

O levantamento levou em conta 348 registros de crise.

Maquinário A Cerâmica Portinari está investindo R$ 18 milhões em máquinas. Com os novos equipamentos, a capacidade da fábrica passará de 6,7 milhões de m2 para 9,2 milhões.

Sala compartilhada A multinacional inglesa Regus abrirá seis centros empresariais no Brasil até maio. A empresa, que aluga parte dos escritórios para estrangeiros e jovens empreendedores, espera lançar 24 unidades até 2013.

MENOS RENDA

As incertezas econômicas reduziram ainda mais a expectativa de renda dos europeus, que passou de -41 em setembro para -49 em dezembro, de acordo com pesquisa da GfK com 20,4 mil pessoas de 12 países.

Em junho, o índice do continente era de -26.

O indicador da empresa varia de -100 a +100. Valores negativos mostram que a avaliação do consumidor está abaixo da média no longo prazo.

Novas pretensões de Kirchner - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S. Paulo - 13/02/12


Controlar a formação de preços na indústria automobilística é a mais recente ambição intervencionista do governo de Cristina Kirchner. Esta seria apenas mais uma aventura de impacto nacional - entre outras tantas em que o governo de Buenos Aires vem se lançando desde o início da era Kirchner -, se não envolvesse o Brasil. O governo Kirchner quer a formação de uma comissão bilateral com a finalidade de estabelecer "critérios uniformes" para exigir das montadoras informações sobre custos das autopeças, de modo que, com base nessas informações, os dois países possam escolher o fornecedor mais adequado. Além disso, voltou a exigir do Brasil que importe mais produtos argentinos, sob o argumento de que a Argentina produz muita coisa que o Brasil compra de outros países.

Marcado por uma visão nacionalista estreita, o governo Kirchner vem colocando em prática medidas protecionistas, tem fustigado as empresas estrangeiras no país e procura obter o apoio de outros governos a essa política. Há dias, o jornal Clarín noticiou que a presidente Cristina Kirchner quer convencer o governo brasileiro a adotar a mesma política comercial por ela imposta a seu país e a fomentar artificialmente o comércio dentro do Mercosul, para assegurar que mais dólares permaneçam na região. É o contrário do que se pretendeu com a criação do bloco comercial do Cone Sul, cujo objetivo era aprofundar a integração regional e assegurar a seus membros melhores condições para inserção no mercado mundial.

Depois de reunir-se em Buenos Aires com a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC) do Brasil, Tatiana Prazeres, há alguns dias, para discutir os problemas no comércio bilateral, a ministra argentina da Indústria, Débora Giorgi, afirmou que "ambos os governos devem impedir que as empresas multinacionais continuem tomando decisões de acordo com a renda global, buscando diluir a crise de seus países de origem com os lucros que obtêm no Mercosul". Seu objetivo, pelo visto, é nada menos do que determinar a estratégia a ser seguida pelas grandes corporações transnacionais - com o apoio do governo brasileiro, é claro.

A mais recente medida de proteção para produtos argentinos entrou em vigor no dia 1.º de fevereiro. Trata-se da exigência a todo importador de fazer a Declaração Juramentada Antecipada de Importação, e apresentá-la ao órgão argentino equivalente à Receita Federal. A declaração será examinada previamente também pela Secretaria de Comércio Interior, chefiada por Guillermo Moreno, que tem se oposto à entrada de produtos brasileiros em seu país. A reunião de Buenos Aires foi para discutir o impacto da medida sobre os produtos brasileiros. Na primeira semana de vigência, apenas um terço dos pedidos de importação foi liberado.

A ministra argentina da Indústria aproveitou a reunião para, mais uma vez, queixar-se do saldo favorável ao Brasil no comércio bilateral. Voltou a cobrar do governo brasileiro que estimule as compras de produtos argentinos. Segundo ela, a Argentina tem potencial para fornecer anualmente até US$ 31 bilhões de manufaturados que o Brasil importa. Em dezembro, apresentou ao governo brasileiro a lista desses produtos, e mostrou-se contrariada porque o Brasil ainda não decidiu importá-los.

Podem ser muitas as razões para o Brasil não fazer isso. Qualidade, especificações técnicas, preços, capacidade de fornecimento em quantidade e em prazos determinados são algumas delas. Mas considerações dessa natureza, essenciais para quem cuida de um negócio responsável, talvez não passem pela cabeça da ministra argentina.

Para o governo argentino, a reunião resultou em "bom entendimento"e foi "construtiva" para estimular o comércio entre os dois países. A representante brasileira considerou que a reunião foi "bastante útil". No entanto, com a proposta argentina de criação da comissão para controlar preços das montadoras e, sobretudo, as declarações enfáticas da ministra Giorgi a respeito do comércio bilateral, é difícil entender o que se produziu de "construtivo" e "útil" para o Brasil durante o encontro.

A polícia indefesa - LUIZ FELIPE PONDÉ


FOLHA DE SP - 13/02/12

Qual o "produto" da polícia? Liberdade dentro da lei, segurança, enfim, a civilização


A POLÍCIA é uma das classes que sofrem maior injustiça por parte da sociedade. Lançamos sobre ela a suspeita de ser um parente próximo dos bandidos. Isso é tão errado quanto julgar negros inferiores pela cor ou gays doentes pela sua orientação sexual.
Não, não estou negando todo tipo de mazela que afeta a polícia nem fazendo apologia da repressão como pensará o caro inteligentinho de plantão. Aliás, proponho que hoje ele vá brincar no parque, leve preferivelmente um livro do fanático Foucault para a caixa de areia.
Partilho do mal-estar típico quando na presença de policiais devido ao monopólio legítimo da violência que eles possuem. Um sentimento de opressão marca nossa relação com a polícia. Mas aqui devemos ir além do senso comum.
Acompanhamos a agonia da Bahia e sua greve da Polícia Militar, que corre o risco de se alastrar por outros Estados. Sem dúvida, o governador da Bahia tem razão ao dizer que a liderança do movimento se excedeu. A polícia não pode agir dessa forma (fazer reféns, fechar o centro administrativo).
A lei diz que a PM é serviço público militar e, por isso, não pode fazer greve. O que está corretíssimo. Mas não vejo ninguém da "inteligência" ou dos setores organizados da sociedade civil se perguntar por que se reclama tanto dos maus salários dos professores (o que também é verdade) e não se reclama da mesma forma veemente dos maus salários da polícia. É como se tacitamente considerássemos a polícia menos "cidadã" do que nós outros.
Quando tem algum problema como esse da greve na Bahia, fala-se "mas o problema é que a polícia ganha mal", mas não vejo nenhum movimento de "repúdio" ao descaso com o qual se trata a classe policial entre nós. Sempre tem alguém para defender drogados, bandidos e invasores da terra alheia, mas não aparece ninguém (nem os artistas da Bahia tampouco) para defender a polícia dos maus-tratos que recebe da sociedade.
A polícia é uma função tão nobre quanto médico e professor. Policial tem mulher, marido, filho, adoece como você e eu.
Não há sociedade civilizada sem a polícia. Ela guarda o sono, mantém a liberdade, assegura a Justiça dentro da lei, sustenta a democracia. Ignorante é todo aquele que pensa que a polícia seja inimiga da democracia.
Na realidade, ela pode ser mais amiga da democracia do que muita gente que diz amar a democracia, mas adora uma quebradeira e uma violência demagógica.
Sei bem que os inteligentinhos que não foram brincar no parque (são uns desobedientes) vão dizer que estou fazendo uma imagem idealizada da polícia.
Não estou. Estou apenas dando uma explicação da função social da polícia na manutenção da democracia e da civilização.
Pena que as ciências humanas não se ocupem da polícia como objeto do "bem". Pelo contrário, reafirmam a ignorância e o preconceito que temos contra os policiais relacionando-a apenas com "aparelhos repressivos" e não com "aparelhos constitutivos" do convívio civilizado socialmente sustentável.
Há sim corrupção, mas a corrupção, além de ser um dado da natureza humana, é também fruto dos maus salários e do descaso social com relação à polícia, além da proximidade física e psicológica com o crime.
Se a polícia se corrompe (privatiza sua função de manutenção da ordem via "caixinhas") e professores, não, não é porque professores são incorruptíveis, mas simplesmente porque o "produto" que a polícia entrega para a sociedade é mais concretamente e imediatamente urgente do que a educação.
Com isso não estou dizendo que a educação, minha área primeira de atuação, não seja urgente, mas a falta dela demora mais a ser sentida do que a da polícia, daí "paga-se caixinha para o policial", do contrário roubam sua padaria, sua loja, sua casa, sua escola, seu filho, sua mulher, sua vida.
Qual o "produto" da polícia? De novo: liberdade dentro da lei, segurança, a possibilidade de você andar na rua, trabalhar, ir ao cinema, jantar fora, dormir, não ser morto, viver em democracia, enfim, a civilização.
Defendem-se drogado, bandido, criminoso. É hora de cuidarmos da nossa polícia.

Trabalhar ou enriquecer? - GUSTAVO CERBASI


FOLHA DE SP - 12/02/12

Quem sonha em sair das amarras do emprego deveria trabalhar um pouco para si também


Você já deve ter ouvido aquela máxima que diz que quem trabalha não enriquece. Infelizmente, ela traz uma verdade.

A maioria dos assalariados nunca parou para refletir sobre o motivo de uma empresa lhe pagar salário. Seria por caridade, altruísmo, generosidade? Longe disso: um empregado assalariado dedica nove, dez ou mais horas por dia para, simplesmente, enriquecer os donos ou acionistas da empresa para a qual trabalha.

Passa, portanto, a maior parte de seu tempo dedicando seu suor, sua inteligência, sua experiência e seu networking para gerar riqueza para os outros.

Isso não é injusto; é só a mais franca tradução do que é o capitalismo. Quem tem riqueza põe essa riqueza para trabalhar e multiplicar seu capital, convidando aqueles que não têm capital para ajudá-lo nesse objetivo de multiplicar riquezas. Em troca, oferece parte da riqueza gerada, na forma de salário.

É fundamental, para a sobrevivência do capitalismo, que todo trabalhador perceba isso e s esforce para virar o jogo a seu favor, poupando parte do que ganha (isto é, acumulando capital) para que, no dia em que sua carreira se esgotar, ele tenha capital suficiente para viver de renda ou, melhor ainda, para investir esse capital em um negócio próprio, gerando oportunidades para vários outros trabalhadores sem capital.

Imagine se cada trabalhador de hoje criasse condições de emprego para dois ou três trabalhadores no futuro. Seria muito bom para ele, para os futuros empregados e para a economia como um todo. Obviamente, pensar que todo trabalhador conseguirá isso é uma visão utópica, pois temos que considerar que muitos empreendedores não conseguirão fazer seu negócio sobreviver e que muitas pessoas nem sequer têm vocação para empreender.

Mas é provável que quem continuar dependendo de todo o salário para pagar as contas a cada mês precisará ser empregado a vida toda ou verá seu padrão de vida decair após sua aposentadoria. Se, por outro lado, optar por reservar para o futuro, estará gerando uma riqueza potencial muito importante para todos que o rodeiam.

Para virar o jogo, é preciso entender a essência do papel do trabalhador nas empresas. Quando alguém trabalha, dedica tempo para obter recursos monetários, mas deixa de dedicar tempo para sua família, para cuidar de sua saúde, para suas relações pessoais e para outros projetos pessoais. Muitas pessoas sentem dificuldade em melhorar seus conhecimentos porque dedicam tanto tempo ao trabalho que não sobra tempo para estudos.

Trabalhar, portanto, rouba tempo que o trabalhador poderia dedicar a seus investimentos pessoais, consequentemente prejudicando o aumento de sua riqueza. É por essa interpretação que eu defino salário não como renda, mas sim como indenização. O trabalhador apenas passaria a ter renda quando decidisse construir patrimônio que lhe gerasse ganhos, como aplicações financeiras, imóveis alugados, bens para revenda com lucro ou algo do tipo. Quem optar pelo caminho de ser empregado a vida toda estará se autossabotando, fadando-se a receber uma simples compensação pelo uso de seu tempo em favor dos outros.

Não prego aqui o fim do emprego. Ele sempre será necessário para os primeiros passos em um projeto de construção de riqueza. Quem não tem recursos para investir deve buscar um emprego que lhe gere esses recursos. Porém, por estar nessa condição, é essencial para seu futuro que o trabalhador tenha um projeto de longo prazo, que envolva a acumulação de parte do salário ganho para que, um dia, ele possa abandonar seu emprego e dedicar seu tempo para o crescimento da própria riqueza.

Entender o ganho dos investimentos como renda e o salário como indenização é exatamente a forma de pensar daqueles que enriquecem. Por isso, quem sonha em sair das amarras do emprego deveria trabalhar um pouco para si também.

A conclusão é simples: se você pensa em enriquecer, não é você quem deve trabalhar pelo dinheiro, mas sim o dinheiro é quem deve trabalhar para você.



Eleição quântica - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO


O Estado de S. Paulo - 13/02/12


O PSD kassabista tem poder de personagem de história em quadrinhos. Contamina os partidos do qual se aproxima com sua capacidade quântica, a de não estar em nenhuma e estar em todas as posições do espectro político simultaneamente. O alvo da vez é o PT.

Selada a parceria psdo-petista em São Paulo, a candidatura de Fernando Haddad se contorcionará para fazer uma campanha de oposição que defende a situação. Bom para Gilberto Kassab, cuja gestão aprovada por só 2 em cada 10 eleitores paulistanos terá de ser defendida pelo ex-futuro crítico - feito aliado por Lula.

Em troca de um apoio virtual da bancada federal do PSD ao governo Dilma, o prefeito paulistano ganhará espaço na propaganda eleitoral compulsória para lavar sua imagem. De quebra, Kassab ainda pode receber uma cadeira em Brasília para se encostar após a eleição.

Com tantos bônus, que é que custa enfrentar mais uma vaia de petistas durante a festa de aniversário do neoaliado? Quase nada. Os apupos entraram por um ouvido e saíram pelo bolso, convertidos em moeda de troca para Kassab.

Parece uma barganha desigual. O PT troca tudo isso por um apoio parlamentar que, na prática, já tem. Afinal, boa parte dos deputados que se bandearam para o PSD o fez justamente por não ver muita vantagem em continuar militando na oposição.

Talvez haja outra variável no cálculo. Será que, diante do apoio de Lula, Dilma Rousseff e do PT, o PSD ganha mais força junto à Justiça eleitoral? O partido tem uma ação em curso no TSE cuja vitória beneficiaria todas as siglas coligadas a ele nas próximas eleições - inclusive candidatos petistas.

A assessoria do Tribunal Superior Eleitoral defende o direito do recém-criado PSD de ter acesso ao dinheiro do Fundo Partidário e - melhor - ao tempo de propaganda eleitoral compulsória na proporção de sua bancada parlamentar. São minutos preciosos para Haddad numa eleição nivelada pelo desconhecimento dos candidatos junto à população.

O processo precisa ser julgado logo para valer nesta campanha. Quem não acredita na independência entre os Poderes pode desconfiar que a aliança psdo-petista pode ter a ver com o julgamento do caso. Céticos!

Nem tudo são votos favoráveis nessa aliança inusitada, todavia. Há o pequeno problema da opinião pública: 4 em 10 eleitores acham a gestão Kassab ruim ou péssima. E a rejeição ao mandachuva do PSD beira 60% entre os eleitores que manifestam espontaneamente intenção de votar num candidato petista.

O prefeito se dá nota 10, mas recebe nota 4,6 da população. Segundo o Datafolha, 46% não votariam no candidato apoiado por Kassab. O porcentual chega a 59% entre petistas.

Kassab é um peso pesado que pode arrastar aliados para o fundo. Será especialmente difícil de carregar para Haddad, que ainda precisa convencer a militância petista de que ele é o cara. Curiosamente, o PT - ou melhor, Lula - escolheu Haddad justamente por ele não somar rejeição pessoal à rejeição partidária.

Após eleger Dilma, Lula deve apostar que, com bastante propaganda, pode transformar qualquer um em algo palatável. Até Kassab.

Os poderes quânticos do PSD também têm o efeito oposto, de transformar o indeciso PSDB num partido de oposição. A aliança Kassab-Haddad enfraquece pré-candidatos tucanos que vão melhor na base pró-kassabista, como Andrea Matarazzo, e ajuda os mais fortes entre os oposicionistas, como Bruno Covas. Coisa de história em quadrinhos.

CARAS E BOCAS - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 13/02/12


As modelos Ana Claudia Michels e Viviane Orth desfilaram no lançamento da coleção de inverno da Fillity, no Museu da Casa Brasileira. Conferiram os looks a apresentadora Carol Castelo Branco, a arquiteta Maitê Maiani, Fernanda Perlaky e Cynthia Landsberger.

BALANÇA E CAI
Engordar 20 kg pode ser considerado um ato de indisciplina que justifique uma demissão por justa causa? Se o funcionário trabalhar na empresa Vigilantes do Peso, sim. O TST (Tribunal Superior do Trabalho) julga nesta semana o caso de uma ex-orientadora do grupo que ganhou peso e foi mandada embora. O placar está empatado em um a um. Falta apenas um ministro da corte votar, o que definirá o desempate.

BALANÇA 2
O ministro Guilherme Caputo Bastos votou a favor da empresa, afirmando que, apesar das diversas advertências, a trabalhadora descumpriu cláusula contratual de manutenção do peso ideal (passou de 74 kg para 93,8 kg). Isto caracterizaria ato de indisciplina e insubordinação. Para ele, ao ter como orientadora pessoa fora dos padrões exigidos, a Vigilantes do Peso estaria "trabalhando contra si própria".

BALANÇA 3
Já o ministro José Roberto Freire Pimenta considerou que a cláusula é abusiva e fere os direitos fundamentais da pessoa. Para ele, não seria razoável nem possível obrigar alguém a se comprometer a não engordar. O magistrado ponderou ainda que a funcionária "não engordou porque quis".

BALANÇA 4
A orientadora trabalhou na empresa por 15 anos e foi demitida aos 59 anos, segundo o TST. Ela quer receber verbas rescisórias de demissão sem justa causa (como multa de 40% do fundo de garantia). E ainda pode obter indenização de R$ 20 mil por danos morais.

CARIMBO
Uma guerra entre os dez cartórios de títulos e documentos de São Paulo foi parar no CNJ (Conselho Nacional de Justiça). O órgão vai decidir nesta semana se é legítimo o funcionamento de uma central que registra todos os pedidos de serviços e redistribui a clientela entre eles.

Alguns alegam que isso fere a livre concorrência. Outros, que evita a competição predatória.

QUESTÃO MORAL
A Justiça considerou improcedente ação em que Flávio Maluf, filho do deputado Paulo Maluf (PP-SP), pedia indenização por danos morais a Nicéa Camargo (ex-Pitta). Em depoimento ao Ministério Público, em 2003, ela afirmou que ele fazia parte de esquema de desvio de dinheiro e propina, com envio de recursos ao exterior.

MORAL 2
Leonardo Pantaleão, advogado de Nicéa, alegou que as declarações foram feitas apenas à Promotoria, e não publicamente. Por isso, não haveria dano a ser reparado, tese que foi aceita pelo juiz. Ricardo Tosto, advogado de Flávio Maluf, vai recorrer.

TRINTA
O ator Alexandre Nero, o Baltazar da novela "Fina Estampa", foi escalado para o longa "Trinta", de Paulo Machline, sobre a vida de Joãosinho Trinta. Ele interpretará outro carnavalesco, Fernando Pamplona. As filmagens acontecerão neste semestre.

RÁDIO SHIMBALAIÊ
E Maria Gadú será a próxima garota-propaganda da Nextel. Aparecerá interagindo com Milton Nascimento (que deve cantar "Maria, Maria" para ela), com seu empresário, com um amigo e com o percussionista de sua banda na nova campanha.

EMBARQUE IMEDIATO
O Itaú Cultural inaugurou a exposição "Convite à Viagem". O curador Agnaldo Farias e os artistas Fernando Visockis e Thiago Parizi, do coletivo Pirarucu Duo, e Berna Reale, integrantes da mostra, circularam pelo vernissage.

CURTO-CIRCUITO

A editora de moda Regina Guerreiro lança hoje o livro "Ui!", no MuBE, a partir das 20h.

A exposição "Índia" será inaugurada hoje, a partir das 19h30, no CCBB.

Taisa Nasser abre hoje, às 19h30, a mostra "A Aparência e os Vestígios do Enigma", no Espaço Cultural Citi, na av. Paulista.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY