terça-feira, maio 01, 2012

GÁS ARGENTINO - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 01/05/12

Dilma não quer melindrar os argentinos em matéria de energia, até porque precisa deles. Uma fonte do governo Kirchner garante que o Brasil pediu ajuda para evitar o racionamento de energia no Rio Grande do Sul, que sofre uma estiagem prolongada. A ideia é importar gás de Baía Blanca.

ESSO SAI OU FICA?
Há no setor de petróleo a expectativa de que a ExxonMobil faça, no futuro, alguma aquisição no Brasil. Maior empresa de petróleo do mundo, a americana não tem mais negócio de exploração aqui, pois abandonou, semana passada, o bloco BS-M-22, onde deu com os burros n’água.

ALIÁS...
Veja como o negócio do petróleo, mesmo no pré-sal, não é um bilhete premiado. Em 2009, quando descobriram Azulão, o primeiro poço do BS-M-22, o mercado estimou suas reservas em US$ 400 bilhões.

FALTA DO PAI PUNIDA
O STJ, pela primeira vez, condenou um pai por abandono. O homem, de São Paulo, terá de pagar R$ 200 mil à filha. A decisão é da ministra Nancy Andrighi.

A META É CEM
Na última conta do Itamaraty, uns 90 chefes de Estado virão à Rio+20. A meta é passar de cem. Ainda é menos que na Rio 92, quando vieram 116.

MULHER DE DITADOR
A Nova Fronteira publica este mês Mulheres de ditadores, da belga Diane Ducre. Trata-se de um livro polêmico. Em Portugal, a LeYa chegou a retirá-lo do mercado por suspeita de plágio da obra de Felícia Cabrita sobre Salazar.

POR FALAR EM LEYA...
A editora vai trazer ao Brasil o badalado escritor angolano Pepetela para lançar seu novo romance, A Sul. O sombreiro. Haverá lançamentos em São Paulo (7 de maio), Rio (10) e Porto Alegre (11).

70 VEZES GIL
Vem aí o livro 70 vezes Gil, homenagem aos 70 anos de Gilberto Gil. Terá entrevistas sobre o “pensamento visionário” do grande músico baiano. A produtora paulista Iyá Omin foi autorizada a captar R$ 270.050 pela Lei Rouanet.

MENOS AFORTUNADOS
Amartya Sen, Nobel de Economia em 1998, defendeu, semana passada, em São Paulo, cotas para negros nas universidades:

– Nos EUA, a vida dos que entraram graças às cotas melhorou, e muitos deles ajudaram outros menos afortunados.

A festa dos amigos de Carlinhos - LEONARDO CAVALCANTI


Correio Braziliense - 01/05/12


Uma das avaliações recorrentes sobre o escândalo envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira é a de que a trama foi armada a partir de núcleo regional — no caso Goiás, a terra do rei dos jogos. Depois, os tentáculos do grupo se aproximaram dos outros estados e da administração pública federal, como no caso do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o Dnit.

A análise, porém, não se completa, ou melhor, não explica a força de Cachoeira e dos principais aliados. A senha para entender tal coisa está nas relações de parte de personagens da política e de empresas que se relaciona em níveis regionais intricados até formar um grupo tão coeso e inimaginável para o cidadão comum. É o amigo do amigo, que se frequentam e dividem gostos.

As primeiras explicações de Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) sobre a razão de tantas ligações para Cachoeira foram estapafúrdias, mas não deixaram de mostrar o quanto o bicheiro e o senador eram próximos. Em entrevista publicada pelo Correio em 4 de março, Demóstenes tenta justificar os 298 telefonemas para Cachoeira com uma desculpa inusitada: ele era conselheiro sentimental do bicheiro.

“A mulher do meu suplente (Wilder Pedro de Morais) o deixou e passou a viver com Cachoeira. Eu e minha mulher tivemos de resolver esse problema. Por isso houve tantas ligações e encontros.” Mesmo depois dessa declaração, Demóstenes foi à tribuna e, todos lembram, acabou saudado pelos pares. A sessão entrou para a história do parlamento brasileiro — pela porta dos fundos, evidentemente.

Companheiros

No inquérito da Polícia Federal — vazado por todos os lados —, o que mais se vê são diálogos de companheiros, velhos conhecidos. Amigos que marcam encontros e jantares regados a vinhos caros. Boçais que se orgulham de conhecer uvas, safras e de consumir os rótulos mais caros por pura empáfia. Confundem prazeres com puro exibicionismo. Mais parecem um grupo de deslumbrados, piegas.

Há mais, evidentemente. Recados de parabéns por passagens de aniversários, convites para festas, pedidos de empregos para parentes, farras combinadas por antecipação. É dessa forma que vínculos se estabelecem, laços se amarram para todo o sempre. Os interlocutores das escutas da Polícia Federal compartilham não apenas negociatas, mas também segredos particulares. Nada mais simbólico.

Por mais que Carlinhos Cachoeira não seja protagonista de todos os diálogos, ele está lá, relacionado, de uma maneira ou de outra, aos grampeados — diga-se, com autorização judicial. E assim o barco segue, com presentes e viagens internacionais, empréstimos de dinheiro, compra de camarotes para o carnaval. A vida é uma festa para os amigos dos políticos e das empresas investigadas.

Resta-nos acompanhar os vazamentos dia a dia, como voyeurs indignados. Resta-nos chamar os caras de boçais e rezar para que o país saia melhor com a CPI. Até lá, assistiremos a provas de amizades eternas, construídas na base das negociatas e mantidas por conta de segredos e favores pessoais. É triste, mas é melhor que saibamos de tudo isso.

Outra coisa

A CPI do Cachoeira irá dominar o cenário político em ano de eleição municipal, mas poucas disputas serão tão emocionantes quanto as desenhadas até aqui nas capitais. Vide a agonia do DEM — ex-partido do senador Demóstenes —, que tenta a todo custo ganhar o apoio dos tucanos em Recife, Salvador e Macapá. Como moeda de troca, São Paulo e o apoio a José Serra. Nada mais empolgante.

Ministrinho e tijolaços - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 01/05/12


BRASÍLIA - Decisões longas e amadurecidas, por óbvio, tendem a ser melhores do que as rápidas e impensadas. Dilma, no entanto, levou quase meio ano para nomear, na véspera deste Primeiro de Maio, um ministro do Trabalho que enfrenta resistências na própria bancada e em centrais sindicais.
O deputado Leonel Brizola Neto, o enfim escolhido, tem duas credenciais para ocupar o cargo, além de ser do PDT: o sobrenome, herdado de um ícone do trabalhismo brasileiro e da luta contra a ditadura militar, e o blog "Tijolaço", em que se ocupa de xingar todos os críticos do governo, sobretudo do antigo governo, e alimentar a ira contra a imprensa.
A não ser que se considere credencial o fato de Brizola Neto, 33, virar o mais novo dos 38 integrantes da Esplanada dos Ministérios. Ou o fato de, apesar de eleito pelo Rio, ser o oitavo gaúcho no governo Dilma, nascida em Minas e adotada pelo RS.
O anúncio foi feito ontem pelo Planalto e a posse será na quinta-feira, encerrando a era Carlos Lupi, que se atrapalhou todo com ONGs, e a longa interinidade do secretário-executivo, que vem desde dezembro.
O pior é que ninguém sequer notava que o Ministério do Trabalho estava acéfalo. Como o mundo, o Brasil e as relações trabalhistas evoluíram tanto, a pasta se tornou quase tão desimportante quanto a da Pesca. Ambas só são úteis para alimentar tubarões e apoios políticos.
Apesar da versão corrente de que Brizola Neto era o preferido de Dilma, há controvérsias. Há quem diga que ela preferia o também deputado Vieira da Cunha, do PDT-RS, mas, no fim, dá no mesmo. O que importa é que Dilma se livrou na última hora de críticas no Dia do Trabalho e abriu caminho para voltar às boas com o seu antigo partido, o PDT.
Agora, é torcer para o novo ministro não sair infantilmente distribuindo tijolaços por aí, pois podem ter efeito bumerangue e se virar contra o governo que ele julga defender.

Sem panos quentes - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 01/05/12

O relator da CPI do caso Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), reuniu-se com os deputados do PSDB Carlos Sampaio (SP), que é promotor, e Fernando Francischini (PR), que é policial federal. "Quero que vocês me ajudem a sistematizar a investigação, porque a CPI tem que ter um resultado eficiente", pediu o petista. Após a aprovação da Lei da Ficha Limpa, ninguém tem disposição de desafiar a opinião pública. A sorte está lançada: "Quem vai querer ser o coveiro da CPI?".

O procurador na berlinda
Os petistas vão chamar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para explicar por que não deu início a uma investigação contra o senador Demóstenes Torres (GO). "Ele precisa explicar por que, durante dois anos, depois de ter recebido a investigação da Polícia Federal, não tomou nenhuma providência", comen-
tou o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). Os integrantes dos partidos de oposição não veem problema em convidar Gurgel para se explicar, mas avaliam que a prioridade, no primeiro momento, é ouvir o contraventor Carlos Cachoeira, o empresário Fernando Cavendish (Delta), e o seu diretor Cláudio Abreu.

"Diante do malfeito, meu partido não vacilou, botou o Demóstenes (Torres) para a rua. Nós não vamos proteger ninguém" 
— Onix Lorenzoni, deputado federal (DEM-RS), integrante da CPI do Caso Cachoeira

AS CENTRAIS UNIDAS. Antes mesmo de ser oficialmente anunciado como o novo ministro do Trabalho, o deputado Brizola Neto (PDT-RJ) tratou da composição da pasta. Ele se reuniu com os presidentes da CUT, Artur Henrique (à direita), e da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (à esquerda), e nesta conversa ficou combinado que a secretaria executiva da pasta seria ocupada por José Lopez Feijóo, da CUT que é assessor do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência).

Prefeito do PT
Em 22 de março de 2011, o contraventor Carlos Cachoeira fala com o vereador Santana Gomes (PMDB): "Tô; em Goiânia, tô aqui com o Paulo Garcia (prefeito), negociando". Santana: "Chefe, esse Paulo Garcia não vai aguentar não".

Prefeito do PMDB
Em 11 de abril de 2011, Cachoeira pergunta por Maguito Vilela (prefeito de Aparecida de Goiânia) e o senador Demóstenes Torres diz: "Falei com ele: `O rapaz (Cachoeira) tá lá... uma onça. Vai te explodir! Diz que você não fez nada...'".

RJ: escândalo Cachoeira anima oposição
Os adversários do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição, estão animados com o caso Cachoeira. Eles estão fazendo pesquisas para avaliar o desgaste provocado pela revelação das relaçôes entre o governador Sérgio Cabral e o empresário Fernando Cavendish (Delta). A expectativa da oposição é que este caso provoque desgaste suficiente nas forças de apoio a Paes, capaz de afetar o seu favoritismo à reeleição.

A prova do crime
Consta na Operação São Michel que o governador Agnelo Queiroz (DF) recebeu, em 31 de janeiro, das mãos do policial federal Dadá e de Cláudio Abreu (Delta) escutas telefônicas ilegais do deputado Francisco Francischini (PSDB-PR).

O foco
Na CPI do Caso Cachoeira, a oposição pretende aprofundar a investigação sobre a associação entre Fernando Cavendish (Delta) e Carlos Cachoeira. Os dois atuavam juntos em dez estados e também nos aditivos de obras no Dnit.

O QUE E ISSO? Cachoeira, no dia 24 de março de 2011: "Geovani, os 25 do (deputado Carlos) Leréia (PSDB-GO) você lembra, né?". No dia 28, Cachoeira fala para Geovani: "Aqueles 15 você lembra? E os 20 do Leréia, 25, você tem hoje?".

A TAREFA. Antes de tomar posse, a principal tarefa do novo ministro Brizola Neto (Trabalho) é pacificar o PDT. "O ministério é um espaço coletivo, não é individual", afirma o futuro ministro.

A OPOSIÇÃO vai querer convocar o ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil Waldomiro Diniz (CPI dos Bingos) para depor na CPI do Carlos Cachoeira.

A ereção e seus percalços - FRANCISCO DAUDT


FOLHA DE SP - 01/05/12

Quando a idade avança, é o desejo quem manda; mas, então, o que anima nossas partes?

DIFERENTEMENTE DAS mulheres, um homem não pode ser forçado ao congresso carnal com uma jovem que lhe encoste um revólver nas têmporas. Seu genital, ao invés de se animar, encolherá. Um verdadeiro banho de água fria. Assim a seleção natural nos preparou para a luta ou para a fuga (prefiro a última), diante de uma ameaça.

Mas, então, o que anima nossas partes? "Esse obscuro objeto do desejo", como chamou Buñuel. Não estou falando de um adolescente em quem o simples balanço de um ônibus é capaz de produzir embaraços. Mas quando a idade avança, é o desejo quem manda. Qualquer homem que tentou comandar sua ereção, fê-lo debalde, pois o membro teima em desobedecer-lhe, animando-se quando não devia, desanimando-se quando ele mais precisava.

O desejo. Não confundir com a vontade. Ele é obscuro porque se trata de um iceberg imenso, com 10% visíveis (a vontade) e 90% imersos no oceano do inconsciente. São esses que comandam, com sua extrema complexidade, o resultado final.

Considere o exibicionista da capa de chuva. Ele goza com sua nudez mostrada? Não. O objeto de seu desejo é o horror pudico demonstrado pela vítima. Atualmente correria o risco de ser alvo de chacota -"Tudo isso para mostrar essa coisinha?"- e sua ereção desabaria. Não à toa ele saiu de moda.

Mas há nele um denominador comum com o desejo masculino: se a manobra der certo, ele estará no comando, portanto, não se sentindo ameaçado. "As deusas são sempre malcomidas, porque nos ameaçam", é uma crença masculina generalizada. Quando jovens, nossa musa romântica nunca era parte de devaneios masturbatórios, mas sim as degradadas, que não ameaçavam e podiam ser tão sacanas quanto nós. As outras, coitadas, ficavam prisioneiras de sua santidade. Por isso, o bom cafajeste é aquele que permite à mulher ser sexuada, não considera nenhuma como santa, eis o segredo de seu sucesso.

A ameaça que impede a ereção se parece com a inibição de urinar, que muitos homens sofrem quando estão no banheiro do cinema, aquela fila impaciente atrás a lhes cobrar que se despachem. Imagine a profissional dizendo "Como é, meu filho, vamos logo..."

O fetiche (que vem de "feitiço") é o truque de despersonalizar a mulher, para tirar a possível ameaça de ter que levá-la em conta. "Se veste de enfermeira para mim?" equivale a "Deixe de ser você, para eu não ter medo". "Quando ela espirrou, eu brochei" (a pessoa apareceu, quebrou-se o feitiço).

Afora o Ziraldo, que proclama nunca ter sofrido esta desdita, todos nós outros brochamos, em algum momento. O sucesso do Viagra vem da ilusão de mandar na ereção. "Mas, então, não há homens que transem com mulheres sem precisar de truques?" Claro que os há, tanto que os encontros, quando o casal ganha mais intimidade, são muito melhores do que os primeiros. Mesmo assim, os orgasmos são comumente frutos de passeios mentais (serve para ambos os gêneros), que somente em alguns momentos envolvem a pessoa com quem se está. O passeio na complexidade de nosso desejo.

Enfim, cobrar sexo de um homem é um tiro no pé.

Redução de danos - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 01/04/12


Ao nomear o deputado Brizola Neto (PDT-RJ) para o Ministério do Trabalho na véspera do 1º de Maio, a presidente Dilma Rousseff abortou uma operação para desgastá-la hoje nas comemorações pelo país. O aviso de que a Força Sindical deflagraria uma ofensiva orquestrada contra ela no Dia do Trabalho foi dado na semana passada pelo deputado Paulinho da Força (PDT-SP) ao prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), que fez chegar o recado ao ex-presidente Lula.

Além disso, a devolução da pasta ao PDT ocorre dias antes de Paulinho se afastar da central para tentar viabilizar sua candidatura à Prefeitura de São Paulo.

Curto... Rejeitado pelo grupo do ex-ministro Carlos Lupi, o nome de Brizola Neto foi costurado por Paulinho com a CUT (Central Única dos Trabalhadores), uma exigência do Palácio do Planalto. O número dois da pasta agora deverá ser indicado pela CUT.

...circuito Ex-chefe de gabinete de Lupi no Trabalho, Marcelo Panella avisou que pedirá a desfiliação do PDT. Ele atribui a crise que derrubou Lupi a Brizola Neto.

Não colou Dos 26 maiores sindicatos da CUT, apenas seis aderiram à campanha da central contra a cobrança do imposto sindical. Entidades de peso como o Sindicato dos Petroleiros e o dos Químicos preferiram ignorar a bandeira, carro-chefe do 1º de Maio.

Paralisia Com a CPI do Cachoeira à vista, senadores aliados se reuniram na semana passada para acertar uma agenda positiva. Ficou combinado que Walter Pinheiro (PT-BA) e Renan Calheiros (PMDB-AL) negociarão com Guido Mantega (Fazenda) para votar a mudança do indexador da dívida dos Estados.

Apoio Citado no inquérito do Cachoeiragate, o ministro do Tribunal Superior do Trabalho Guilherme Caputo foi levado por juízes do Tribunal Regional do Trabalho de Goiás à NeoQuímica para pedir patrocínio para um seminário de direito desportivo.

Fumaça Ministros do Supremo Tribunal Federal desconfiam que réus no processo do mensalão estejam incentivando a divulgação dos diálogos do inquérito da Monte Carlo no momento em que a corte se prepara para colocar o julgamento em pauta.

Mestre-sala Numa das conversas gravadas pela PF, Cachoeira sugere que houve "mutreta", no ano passado, para a vitória da Beija-Flor no Carnaval do Rio, escola com a qual ele teria "negócios".

Milésimo Em outro diálogo, Cachoeira trata com um integrante do grupo sobre um contrato de R$ 30 mil para o atacante e ex-vereador Túlio Maravilha. Segundo a PF, o jogador teria montado um esquema de funcionários fantasmas na Câmara Municipal de Goiânia.

Liberou... O governador Geraldo Alckmin (PSDB) deve anunciar nos próximos dias a extensão do fundo de aval da Agência de Fomento Paulista, hoje restrito a três modalidades de empréstimos, para todas as operações feitas pelo órgão.

... geral O fundo de aval é disponibilizado para pequenas empresas que não têm como oferecer garantias para tomar empréstimos. O governo também vai ampliar o teto das empresas que podem se beneficiar dessa cobertura para as que faturam até R$ 3,6 milhões por ano.

Visita à Folha Eleonora Menicucci, ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, visitou ontem a Folha. Estava com Nei Bonfim, coordenador de Comunicação da secretaria.

com SILVIO NAVARRO e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Eu torço para que a correnteza da cachoeira afogue gente graúda, limpe a corrupção e mande muitos grã-finos para fazer companhia ao Carlinhos no presídio."

DO DEPUTADO DOMINGOS DUTRA (PT-MA), sobre a lista de autoridades e empresários tragados pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que agora passará a ser objeto de uma CPI no Congresso Nacional.

contraponto

Do lado de cá

Na tensa sessão de votação do Código Florestal, na semana passada, o deputado ruralista Ronaldo Caiado (DEM-GO) apelou aos líderes por um acordo:

-Os argumentos se repetem, é melhor que fale apenas um deputado de cada lado!

-A proposta é racional, mas irracionais são suas posições aqui hoje, alfinetou Chico Alencar (PSOL-RJ).

Caiado reagiu imediatamente:

-Olha, não vou responder no mesmo tom porque ainda tenho esperança de convertê-lo!

O conto do espanto - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 01/05/12


Quanto mais informações vão sendo reveladas a respeito dos serviços prestados por Demóstenes Torres às organizações Cachoeira de armações ilimitadas, mais esquisito parece o fato de que ele tenha durante tanto tempo podido atuar como o sujeito oculto na defesa dos interesses do contraventor Carlos Augusto Ramos sem despertar suspeitas.

Que o senador tenha conseguido enganar a plateia e parte considerável do elenco da República com o personagem que encarnava em público, compreende-se. Dificilmente alguém que age com tanto vigor e destemor é alvo de desconfiança.

Sempre existe o risco de ser confrontado por um adversário no meio de um discurso, levar um troco na base do bateu levou. Eleito senador pela primeira vez em 2002, notabilizou-se por bater. Nunca levou e, entretanto, vê-se agora como era vulnerável.

Os grampos da Operação Monte Carlo revelaram as conversas com o contraventor, mas suas atividades como praticamente um procurador do bicheiro eram exercidas com boa dose de desinibição.

Pelo divulgado até agora, movimentava-se para todo lado, falava com muita gente, pedia, solicitava, defendia interdição de depoimentos no Congresso e até um episódio em tese menor - o pedido de emprego no governo de Minas Gerais para uma prima de Cachoeira - não se coadunava com a atitude de um defensor intransigente dos pressupostos constitucionais de impessoalidade, probidade e transparência na administração pública.

A julgar pelo conteúdo das conversas telefônicas - e, note-se, não são conhecidas as do senador com personagens outros que não o contraventor - Demóstenes Torres fazia lobby por Cachoeira nos três Poderes, abria portas para negócios comerciais para além da Região Centro-Oeste, interferia na transferência de policiais presos, obtinha informações de bastidores na Polícia Federal e no Ministério Público, atuava aqui e ali como facilitador para a construtora Delta, circulava com desenvoltura entre deputados, senadores, governadores, magistrados.

Será possível que só ao amigo bicheiro revelasse seu lado eticamente permissivo? Apenas ao telefone com Cachoeira deixava-se desvendar? Nas abordagens em prol do contraventor não precisava "abrir" aos interlocutores a natureza dos pleitos pretendidos?

Fica cada vez mais inverossímil a possibilidade de que o senador tenha atuado nesse diapasão por tanto tempo sem que ninguém, entre as pessoas experimentadas com quem o senador convivia, tivesse notado algo de anormal ou de inadequado no comportamento dele.

Mais não seja pela discrepância entre o discurso e as ações. O mais provável, chega-se à conclusão por pura lógica, é que a surpresa manifestada na dimensão de unanimidade não seja de verdade tão unânime assim.

Pelo visto, boa parte dos que se mostraram surpresos depois da eclosão do escândalo considerava perfeitamente normal o uso privado que o senador dava a seu mandato e talvez até admirasse sua capacidade de mimetização.

Só uma hipótese não é crível: a de que o senador tenha enganado completamente a todos os ditos tão espantados.

Contenção. Noves fora o imprevisto absoluto, as versões de que Carlos Augusto Ramos poderia queimar caravelas na CPI guardam mais relação com prevenção de danos do que com chances reais de o bicheiro representar o papel de homem-bomba.

O advogado dele, Márcio Thomaz Bastos, não é exatamente um construtor de explosivos. Ao contrário: como ministro da Justiça do primeiro governo Lula e depois como conselheiro desarmou vários deles.

Cacoete. Publicamente a presidente Dilma Rousseff não fala no assunto, muito menos teria condições de fazer algo parecido. Privada e ideologicamente, no entanto, deixa muito claro que viu com bons olhos na nacionalização da petroleira espanhola YPF pela colega argentina Cristina Kirchner.

Bem-estar e o bem-fazer - ILAN GOLDFAJN


O Estado de S.Paulo - 01/05/12


Conhecem a piada do "bem-estar em uma palavra"? Pediram a um economista que descrevesse a situação do seu país em apenas uma palavra. Respondeu, simplesmente: "Bem". E se for descrever em, no máximo, três palavras? "Não tão bem".

Lembrei-me dessa piada estes dias. Perguntei ao famoso economista Amartya Sen, em visita ao Brasil, como reavaliava o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), décadas após tê-lo criado. Respondeu que entende hoje esse índice como um convite a reflexão mais profunda sobre o bem-estar das nações: seria a porta de entrada para que pensemos na economia para além das medidas de consumo ou PIB.

Passo boa parte do meu tempo pensando em como mensurar o que está acontecendo na economia. Parto da avaliação de que a mensuração correta é o caminho mais direto para o diagnóstico preciso, que é a matéria-prima para decisões fundamentadas (por exemplo, de políticas governamentais).

Há evidências de que as medidas tradicionais de desempenho econômico, como PIB e consumo, não necessariamente refletem a evolução do bem-estar da sociedade. Uma economia pode ter seu PIB, sua renda e seu consumo crescendo bem, mas sem o equivalente progresso em termos de bem-estar, medido, por exemplo, pela educação, saúde e desigualdade de renda da sociedade. O processo de desenvolvimento pode gerar elevação da desigualdade, da poluição, da jornada de trabalho, da criminalidade, etc.

De fato, não se encontra evidência clara de uma relação entre crescimento do produto per capita e aumento da felicidade (ou do bem-estar) medido por pesquisas de opinião (veja sumário em Will GDP Growth Increase Happinness in Developing Countries?, Texto para Discussão IZA, n.º 5.595, março 2011, Andrew E. Clark e Claudia Senik). Os resultados mostram que ao longo do tempo, num mesmo país, os dados não comprovam que pessoas que enriquecem ficam mais felizes. Apesar de existir, sim, uma tendência de os habitantes de países mais ricos serem mais felizes.

O IDH, criado em 1990, para vários países, tenta contribuir para a compreensão da economia, por meio de uma simples medida, que leva em conta esses fatores adicionais de bem-estar. O mesmo pode se dizer do recém-criado Índice Itaú de Bem-Estar Social, que, adaptando o IDH ao Brasil, utiliza vários indicadores importantes - saúde, saneamento, educação, segurança, desigualdade social, entre outros - para medir de forma mais ampla e precisa a evolução do bem-estar no País desde 1992 (veja trabalho de Caio Megale em http://bit.ly/itau_bemestar). Os fatos estilizados que saem desse índice podem ser matéria-prima para futuros estudos.

O Brasil vem experimentando uma taxa de crescimento historicamente mais alta nos últimos anos. Mas será que o crescimento maior se tem traduzido em ganhos de qualidade de vida para a população?

Os resultados mostram que, em muitas ocasiões, a evolução do bem-estar não necessariamente acompanhou a variação do PIB no Brasil. Por exemplo, a perda de bem-estar antes do Plano Real e o ganho imediatamente posterior não foram captados na mesma magnitude pela variação do PIB. Só após 2002 tanto o PIB quanto o índice de bem-estar cresceram a taxas parecidas. Mas a partir de 2008 a evolução do PIB superestima o ganho de bem-estar.

De uma forma geral, houve um avanço importante da qualidade de vida nos últimos 20 anos no País. Mesmo sem necessariamente acarretar maior bem-estar, o crescimento econômico permitiu que fosse ampliado o acesso da população a melhores condições de vida. No entanto, para o futuro, qual o melhor caminho para a continuidade do desenvolvimento?

Vai depender da capacidade da sociedade de alongar seu horizonte e pensar em políticas que gerem resultados no médio e no longo prazos (em vez de no curto prazo). Nesse horizonte, os resultados dependem mais da capacidade de 1) ampliar o conhecimento, por meio da educação; 2) estimular os investimentos via segurança e incentivos de mercado adequados; 3) criar condições para inovação e geração de ganhos de produtividade, removendo obstáculos aos negócios; e 4) recuperar a capacidade de investimento do Estado para ajudar a suprir as lacunas existentes na infraestrutura.

Estimular apenas o consumo, por exemplo, não é uma solução para o longo prazo. A ideia de estimular a economia para sair da recessão - importante contribuição do legendário economista John Maynard Keynes, após a Grande Depressão dos anos 1930 - não leva necessariamente ao desenvolvimento e melhora sustentável do bem-estar ao longo do tempo. Em entrevista recente (revista Veja, 2/5) aqui, no Brasil, Amartya Sen comentou: "Os keynesianos erram ao pensar que o mero estímulo à demanda vai resolver todos os problemas econômicos. Keynes tem relevância apenas quando estamos lidando com uma recessão. Mas ele diz muito pouco sobre o papel do governo como propulsor do desenvolvimento".

Nas últimas décadas, a economia brasileira cresceu com melhora na distribuição de renda. Tudo isso foi consequência da estabilidade (queda da inflação, risco Brasil), de instituições mais sólidas e de um contexto internacional favorável. Resultou numa "nova classe média" - a incorporação de milhões de brasileiros à classe C - e num crescimento acelerado do consumo. Resultou, também, em melhora considerável do bem-estar da população.

Para a frente o bem-estar vai depender do "bem-fazer", ou seja, da capacidade de "fazer" mais e melhor. Não basta consumir mais. Será crucial estimular mais investimento (público e privado) e melhora na produtividade. Só assim será possível manter a trajetória de crescimento da economia e a melhora do bem-estar da população que experimentamos nos últimos anos.

Novos tempos - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 01/05/12


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista à "Folha", faz uma análise da dimensão da corrupção no Brasil que vai além da mera crítica política. Ele avalia que houve mudanças estruturais no antigo fenômeno, que já não pode ser considerado apenas como "mais do mesmo", com a agregação de "dimensões funcionais novas".
Na análise mais do sociólogo que do político, "com o capitalismo enorme no Brasil e o governo interferente, passam a existir muitas possibilidades de negócios".
O clientelismo, uma face da antiga prática, continua em vigor, mas a facilitação de negócios ganharia uma dimensão mais ampla.
De bom humor, ele diz que seu governo representa "a pré-história desse capitalismo", e que por isso acha que o grau de corrupção aumentou de lá para cá.
Fernando Henrique diz, por exemplo, que quando governou ainda havia condições de controlar as nomeações para cargos importantes, ou até mesmo ministérios, que não eram dados com "porteira fechada" para nenhum partido.
Noto que a presidente Dilma Rousseff está tentando retomar essa prática, embora ainda seja refém do loteamento partidário do Ministério.
A nomeação ontem do deputado Brizola Neto é um exemplo dessa prática, independentemente de juízos de valor sobre a capacidade do deputado de exercer o cargo.
O fato de ele estar encontrando resistências dentro de seu próprio partido mostra que Dilma está querendo nomear pessoas de sua confiança mesmo quando não pode deixar de dar o ministério para este ou aquele partido. Foi assim com o PR no Ministério dos Transportes.
O historiador Boris Fausto já havia feito uma análise na mesma direção em palestra na Academia Brasileira de Letras que registrei aqui na coluna, atribuindo a decadência que estamos vivenciando na questão ética a circunstâncias históricas do desenvolvimento do país, como o crescimento avassalador do capitalismo de Estado, fazendo surgir uma nova classe dirigente que mistura o poder sindicalista emergente, dominando os fundos de pensão das estatais, e as megaempresas multinacionais.
E a consequente possibilidade de ganhar muito dinheiro também com a prevalência, a exemplo do que ocorre no mundo globalizado, do sistema financeiro.
Talvez seja essa globalização da corrupção que torne mais frequente entre nós relatos de jatinhos particulares cruzando os céus do mundo com nossos governantes e parlamentares a bordo, por cortesia de empresários amigos, ou imagens como as que estamos vendo do governador do Rio, Sérgio Cabral, e vários de seus secretários se regalando com mordomias em Paris e outros locais luxuosos da Europa.
O restaurante francês La Tour D"Argent, por sinal, onde o secretário de Governo Wilson Carlos aparece jantando com o empreiteiro Fernando Cavendish, parece ser um dos preferidos dos burgueses do dinheiro alheio, na frase certeira de Reinaldo Azevedo.
A coluna de Ancelmo Gois no GLOBO já havia publicado uma foto do senador Demóstenes Torres jantando no Tour D"Argent antes mesmo de ele ter sido desmascarado.
Agora, o inquérito da Operação Monte Carlo revela que em agosto de 2011 um assessor de Cachoeira de nome Gleyb Ferreira da Cruz comprou cinco garrafas do vinho Cheval Blanc, safra 1947, considerada uma das melhores de todos os tempos, por até US$ 2.950 a unidade para presentear o senador.
Todo esse luxo tem evidentemente seu preço, e é isso que a CPI tem de investigar. A não ser que queiram melar a CPI desde o início - e talvez esse seja um objetivo mesmo -, não creio que seja possível aos governistas evitar a convocação de Cavendish na CPI do Cachoeira, mesmo que a disposição seja limitar as investigações às atividades da Delta no Centro-Oeste, cujo ex-diretor já está preso.
Uma vez convocado, ele terá de responder a perguntas que serão bem mais abrangentes do que gostariam os governistas, e será inevitável a convocação do governador Sérgio Cabral e dos responsáveis pelo PAC para explicarem as responsabilidades de cada um nas contratações da empreiteira, muitas vezes sem licitação.
As relações de Cachoeira com a Delta já estão plenamente demonstradas nos diálogos gravados pela Polícia Federal, a ponto de haver a suspeita de que na verdade Cachoeira era um sócio oculto da Delta, ou até mesmo seu verdadeiro proprietário, acobertado por Cavendish.
Assim como será difícil aos partidos protegerem seus filiados, sejam governadores ou deputados e senadores. As primeiras convocações devem ser as do senador Demóstenes Torres, do empreiteiro Fernando Cavendish e dos dois governadores mais envolvidos com Cachoeira, Agnelo Queiroz, de Brasília, e Marconi Perillo, de Goiás.
A partir delas, as investigações se espalharão a outros setores, e não creio que a maioria governista tenha condições de delimitar a ação da CPI para proteger alguns de seus aliados.
Não por falta de número para tal, mas por falta de ambiente político para manobra tão vergonhosa.
Creio que o país já vive um clima de exigência moral bem mais elevada do que normalmente acontece, por conta das seguidas revelações que vêm sendo feitas pelos sucessivos vazamentos de informações do processo.
O trabalho de inteligência da Polícia Federal foi feito com bastante apuro e nada ficou de fora, inclusive a ação de policiais em favor do bicheiro, tudo filmado e fotografado.
Interessante como as armas que Carlinhos Cachoeira e seus comparsas usavam para chantagear voltaram-se contra eles, com todas as conversas gravadas, apesar da tentativa de usar telefones registrados em Miami para fugir dos grampos.
E esse clima de cobrança da sociedade deve aumentar quando o Supremo Tribunal Federal começar a julgar o mensalão, com previsão para junho.
O cruzamento da CPI com o julgamento deve produzir um ambiente político no país que, em vez de conseguir melar o mensalão, deve disseminar a sensação de que a impunidade é uma das principais causas da repetição dos escândalos de corrupção na política brasileira.

Retratos comparados - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 01/05/12


A crise custou ao mundo 50 milhões de empregos, o Brasil aumentou o nível de emprego, de formalização, e retirou pessoas da pobreza durante esse período difícil. É o que fez a OIT dizer que a “resiliência do Brasil tem sido impressionante”. O país sabe bem o que falta fazer: quase 40% dos trabalhadores estão fora do mercado formal; há ainda trabalho infantil e trabalho degradante.

Quando um país não está em crise é que se pode melhorar mais, por isso, este é o momento para avaliar as condições de trabalho, em geral, ver o que tem mantido percentual tão alto de informalidade, e entender a persistência, por exemplo, no rico agronegócio brasileiro, de empresas na lista suja do trabalho escravo. No primeiro de maio em que o nosso retrato do mercado de trabalho aparece bem nas análises da OIT — quando comparado aos outros — é que temos que nos esforçar para avançar mais.

Em época de crise é mais difícil, como bem sabe a Europa, onde as taxas de desemprego aumentaram em dois terços dos países, e, em alguns, de forma alarmante. Depois de quatro anos de crise, começa a crescer o desemprego estrutural. Países como a Espanha, onde de cada dois jovens um está desempregado, estão em séria encrenca.

Os países e as famílias investiram na formação de jovens, que agora, na hora de serem colhidos pelo mercado de trabalho, são barrados. Isso leva a desalento, conflitos, migração para outros países e reduz o dinamismo da economia. O cálculo é que só com os 375 mil espanhóis que já perderam o emprego este ano o país deixará de arrecadar 1 bilhão.

A OIT disse que os países que estão em crise, especialmente os da Europa, estão prisioneiros da armadilha da austeridade: os governos cortam gastos e constroem, com novos cortes, uma trajetória de queda dos déficits e das dívidas. Ao fazerem isso, reduzem o ritmo de crescimento da economia ou produzem recessões. Isso diminui mais ainda a arrecadação e eleva o déficit, em vez de reduzir.

A armadilha é esta, todos sabem. O problema é como sair dela. Elevar o gasto público simplesmente fará a economia cair em outra armadilha. O governo aumenta o gasto e isso eleva o risco de o país ter dívida e déficit crescentes. Isso afasta os financiadores ou obriga o governo a pagar mais nas rolagens dos seus títulos. Quanto maior o déficit, maior a percepção de risco, maiores os juros cobrados, e maior o déficit.

Então alguns dos países da Europa estão entre a armadilha da austeridade e a armadilha da elevação do risco. O final é sempre o aprofundamento da crise. Não é trivial sair desse verdadeiro dilema do prisioneiro: expressão usada para definir situações quando só há opções difíceis.

A conjuntura exige mais dos governos na busca de soluções. Não bastará escolher entre o corte indiscriminado de gastos, que deprime a economia, ou a elevação insensata de gastos, que eleva a percepção de risco.

É dentro desse contexto que os governos europeus começam a costurar, para a reunião de cúpula de junho, o pacto pelo crescimento. A ideia é criar um fundo, gerido pelo Banco Europeu de Desenvolvimento, que invista para destravar os investimentos privados. A ideia por trás do plano é que há trilhões de potencial de investimento privado que não são feitos por causa do ambiente de falta de confiança produzido pela crise. O fundo se destinaria a estimular esses investimentos.

A conjuntura é complexa, e a crise, de longa duração. Diante disso, o Brasil precisa fortalecer os fatores que o levaram a ter “resiliência”. A arrecadação está subindo, é possível reduzir o déficit ainda mais para fortalecer a confiança na solidez da economia brasileira. O mercado de trabalho está demandando mais e mais trabalhadores e por isso é preciso encontrar formas de reduzir o desemprego de jovens, que tem oscilado entre 13% e 14% nos últimos anos para a faixa dos 18 a 24 anos.

Só para ficar claro o conceito: quando se fala de desemprego nesta faixa etária não está se contando os que estão dedicados ao estudo e deixaram para mais tarde o ato de procurar emprego. Entra na estatística como desempregado apenas quem procura e não consegue vaga.

Esta é a hora de se fazer um esforço pelo trabalho decente, que combata todas as formas de trabalho degradante ou análogo à escravidão, o trabalho infantil, a informalidade e as desigualdades no emprego como as que sofrem mulheres e negros. Nas crises, todas essas perversidades pioram. Nos bons momentos é que é preciso combatê-las porque assim cria-se o círculo virtuoso: a melhoria de renda, o trabalhador mais protegido, a redução das desigualdades, o aproveitamento de todos os talentos levarão a uma economia ainda mais robusta.

Por enquanto, as iniciativas para reduzir o custo que pesa sobre a empresa que cria empregos são restritas a alguns setores industriais. Não há estímulo a que a empresa empregue mais jovens que não têm experiência. Não há qualificação suficiente. Há muito o que pode ser feito.

Seria um erro ler os relatórios nos quais estamos muito melhores que outros países e achar que não há nada mais a fazer. O mercado de trabalho do Brasil melhorou, mesmo durante a crise, mas o que torna a comparação mais favorável a nós é que eles pioraram muito.Brasília – No pronunciamento transmitido em rede de rádio e televisão para comemorar ao Dia do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff cobrou dos bancos privados mais esforços para reduzir as taxas de juros cobradas em empréstimos, cartões de crédito e no cheque especial. E aconselhou o brasileiro a procurar os bancos que ofereçam as taxas mais baixas. “É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo. Os bancos não podem continuar cobrando os mesmos juros para empresas e para o consumidor, enquanto a taxa básica Selic cai, a economia se mantém estável”, disse Dilma no discurso veiculado ontem à noite.

GOSTOSA


Otimismo do governo - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 01/05/12


Seria bom, muito bom mesmo, para o Brasil e para os brasileiros, que, até o fim de 2012, tudo acontecesse de acordo com o que o Ministério da Fazenda está prevendo e acaba de tornar público com a divulgação do documento Economia Brasileira em Perspectiva. A combinação de dois dos mais relevantes indicadores econômicos, o PIB e a inflação, seria, neste ano, a melhor pelo menos desde 2007, ou seja, antes do início da crise global. Em 2012, segundo o Ministério da Fazenda, o PIB deve crescer 4,5%, bem mais do que o resultado de 2011 (crescimento de 2,7%), e a inflação ficará em 4,4%, abaixo do centro da meta inflacionária (de 4,5%). Em 2007, o PIB cresceu 6,1% e a inflação foi de 4,5%.

Um desempenho como o previsto pelo governo certamente causaria inveja num mundo ainda abalado pela crise na Europa, pelas dificuldades da economia americana para voltar a crescer de maneira sustentável, pela desaceleração da economia chinesa e pelos notórios problemas da economia japonesa. Tomara que a previsão do Ministério da Fazenda se confirme. É prudente, no entanto, examinar com atenção essas projeções e indagar se elas são alcançáveis.

A inflação voltou a ser pressionada por fatores que pareciam ter perdido força nas últimas semanas, como os preços dos serviços, que devem continuar a impulsionar os principais índices, pois muitos têm relação direta com a renda - que mantém o crescimento - e a situação do mercado de trabalho - que é boa.

Nos próximos meses, novas fontes de pressão podem surgir, quando os estímulos concedidos nos últimos tempos pelo governo e a redução da taxa básica de juros (Selic) e dos juros cobrados pelos bancos começarem a surtir os efeitos esperados. Mesmo assim, o Ministério da Fazenda reduziu sua previsão de inflação para 2012, que era de 4,7% na versão anterior de sua Economia Brasileira em Perspectiva, de fevereiro.

O crescimento do PIB, por sua vez, se confirmada a previsão para este ano, só será menor do que o de 2007, 2008 e 2010. Se as medidas fiscais e o afrouxamento da política monetária produzirem os resultados pretendidos pelo governo sobre a atividade econômica, é provável que os últimos meses do ano registrem desempenho melhor do que o dos primeiros. Essa recuperação deverá se manter e até se intensificar nos anos seguintes, pois, para 2013, o Ministério da Fazenda prevê crescimento de 5,5% e, para 2014, de 6,0%.

A despeito da possível melhora no terceiro ou no quarto trimestre, porém, mesmo dentro do governo há quem considere provável que, em 2012, o crescimento do PIB fique mais próximo de 4%.

Embora tenha sido revista para menos em relação à projeção feita em fevereiro, de 20,8% para 20,4% do PIB, a formação bruta de capital - que inclui investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil - é alta em relação aos dados dos últimos anos. Em 2001, por exemplo, era de 16,4%. Mesmo tendo aumentado, ela nunca passou de 19,5% do PIB, índice observado em 2010, quando o crescimento do PIB foi excepcional (7,5%).

Como que para justificar a alta prevista dos investimentos em 2012, o Ministério da Fazenda relaciona em seu estudo grandes projetos, públicos e privados, anunciados nos últimos tempos ou que constam dos programas oficiais. Quanto aos projetos de responsabilidade do setor público, no entanto, convém aguardar até que eles saiam do papel e se transformem em coisas concretas, o que nem sempre acontece, e, quando acontece, nem sempre ocorre no prazo previsto.

Embora reconheça a gravidade da situação da balança comercial da indústria manufatureira - cujo resultado, entre 2005 e 2011, passou de um superávit de US$ 8,5 bilhões para um déficit de US$ 92 bilhões -, o governo considera que as medidas do programa "Brasil Maior" conterão o ritmo da deterioração. Os problemas, no diagnóstico do governo, foram causados fundamentalmente pelas políticas cambiais de outros países. Nada se diz sobre a necessidade de restabelecer a competitividade da indústria, com mudanças tributárias e trabalhistas, entre outras, além da recuperação da infraestrutura econômica.

Tudo pelo social - NIZAN GUANAES

FOLHA DE SP - 01/05/12


As marcas devem ter sua personalidade, integridade e opinião; do monólogo passamos à conversaçãoVocê e sua empresa não precisam mais decidir se e como entrarão nas redes sociais, vocês já estão dentro delas.
A esta altura do jogo, as redes já estão falando de você, da sua marca, dos seus produtos. Ouvi-las tem de fazer parte do seu negócio. Pesquisá-las tem de fazer parte do seu negócio. Mas o que você mais precisa mesmo é de uma estratégia.
E não é uma estratégia de defesa, mas de ataque, e estratégia não só para o que dizer, mas também para o que ser. Porque só existe uma coisa mais social do que uma pessoa: uma empresa.
Quem não agregar esse valor da comunicação total ao seu negócio terá desvantagem competitiva diante das empresas que já fazem ou farão isso bem.
Há um potencial social natural em toda empresa que agora terá de ser mais acessado e desenvolvido sob o custo da obsolescência. Olhe para a sua atividade e pense como a capacidade de comunicação total pode transformá-la, para dentro e para fora. É preciso encontrar esse ângulo, que certamente está lá e será necessário neste mundo com a velocidade do último chip.
Não é fácil, não tem histórico, mas é intenso e rápido, muito rápido. Fortes emoções estão garantidas.
As marcas agora devem ter sua personalidade, sua integridade e sua opinião.
Antes era um monólogo, agora é uma conversação, mais dissonante que consonante, e muito mais democrática do que antes. Impossível de entender pensando pequeno, criando limites.
Para começar, social não é uma mídia, é um espírito. Um espírito animal. Tudo o que poderia um dia ser social, agora será.
Música pode ser social. Leitura pode ser social. Fotografia pode ser social. TV pode ser social. Comprar pode ser social. Viajar, se informar, estudar, encontrar um emprego, um(a) namorado(a) são todas atividades que podem ser sociais e por isso se organizam e se organizarão cada vez mais em torno de redes como Facebook, Twitter, Instagram, YouTube e outras que virão e irão.
Você não precisa se tornar um especialista nessas novas ferramentas, até porque elas passam.
Seja um especialista em comportamento, entenda a suprema tecnologia humana, aquilo que chamamos de alma.
Aliás, é bom lembrar que as redes sociais sempre foram dominantes e determinantes -das associações mercantis da Idade Média aos fluxos de migração global. Foi com essa capacidade de organização social que vencemos tantos desafios.
No Coliseu romano, a plateia já usava o dedão para cima ou para baixo, como fazemos hoje no Facebook, para mostrar aprovação.
As redes sociais estão com tudo, mas elas não têm uma regra fixa. O que já sabemos: não basta anunciar, é preciso comunicar; não é só oferta, é relacionamento; não fique indiferente.
Mais do que a mensagem e do que o meio, agora é o modo. O modo social.
Mas é preciso tomar cuidados.
O sujeito entrou cabisbaixo no consultório do psiquiatra e explicou:
"Doutor, não sei o que está acontecendo comigo. Só ando com a cabeça baixa, olhando na direção do chão, não falo com ninguém, não ouço ninguém, não consigo ter longas conversas, manter o foco. Minhas mãos doem, meu pescoço dói. Doutor, o que eu tenho?".
"Um Blackberry."
Piada é uma das maneiras mais fáceis de contar verdades. O perigo das redes é o da alienação, do distanciamento pela proximidade superficial. É preciso equilíbrio e coerência. O que se faz na rede deve-se fazer fora da rede. Quanto mais o "on" estiver junto com o "off", mais força as duas bandas dessa nova realidade terão.
E não podemos confundir conexão com conversação. Afinal, fãs não são próximos e seguidores não são amigos.
O brasileiro é um ser social por definição e criação. As redes aqui avançam com rapidez maior do que na maioria dos lugares, e ficamos conectados mais tempo do que os outros.
Isso só vai aumentar. Você não pode ficar de fora. Você já está dentro. Acomode-se. Incomode-se. Comunique-se.
E não digite com os dedos, digite com a alma.

bullying - GAROTINHO PHUDEU CABRAL


Dia do Trabalho! Volta pra cama! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 01/05/12


Pensamento do Dia do Trabalho: se o mundo gira, vou esperar o meu emprego passar aqui em casa!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Predestinado do dia! Torcedor do Flamengo: Vasco Ladeira! O Vasco é "viceado" em vice! E sabe por que o Vasco só é vice? É carma! Carma porque o Vasco da Gama era vice-rei das Índias!
E o site Eramos6 revela que o Rubinho Barrichello saiu da pista durante a Indy e foi apostar corrida com os caminhões que estavam na marginal Tietê.
E o Rubinho é muito estranho. Quando perde, ri! E, quando ganha, chora!
Ai, ai, ai! Ai, que preguiça! Hoje é Dia do Trabalho!
Pensamento do Dia do Trabalho: se o mundo realmente gira, vou esperar o meu emprego passar aqui em casa! Rarará!
O meu único trabalho é fechar as malas e ir pro aeroporto! Dia do Trabalho mesmo tem de cair numa segunda-feira com chuva e 200 km de congestionamento!
E quem inventou o trabalho não tinha porra nenhuma pra fazer!
Já sei como vou passar o Dia do Trabalho: vou deitar na grama para ver formiga trabalhar.
Vou comer muito para ver o meu aparelho digestivo trabalhar.
Vou fazer ginástica antiestresse: contar dinheiro. A coisa mais relaxante a fazer do planeta é contar dinheiro, de preferência muitas notas de cem!
E os shows do Dia do Trabalho? Não vou! Show com Luan Santana e Victor & Leo é muito burguês.
Antigamente é que era bom: show com Beth Carvalho, Leci Brandão e o Lula falando mal do governo. Rarará!
Dia do Trabalho é em Cuba. Rarará! E a grande dúvida de todo Dia do Trabalho: todo sindicalista é rouco ou é o carro de som que está com defeito?!
E Andy Warhol já dizia: "Quando nascemos, nós somos sequestrados pelo sistema". Ou seja, trabalho é sequestro! Isso mesmo! Trabalho é sequestro! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E, voltando ao tema do começo da coluna, esse seria o time ideal para o Vasco: Manuel, Joaquim, Manuel Joaquim e Joaquim Manuel. Bacalhau, Roberto Leal e Ovos Moles! Rarará!
E hoje é Dia do Trabalho de Macumba! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

FORA DE CATÁLOGO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 01/05/12


A MTV não conseguiu autorização para usar comercialmente o nome Legião Urbana no show-tributo que fará, em 29 de maio, no Espaço das Américas, em SP, com os músicos da banda e o ator Wagner Moura nos vocais. Ainda tentam negociar com os detentores da marca.

CATÁLOGO 2
Por enquanto, está chamando a atração de "MTV ao Vivo com Wagner Moura, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá".

GENTE GRANDE
O Instituto Alana, famoso por discutir a regulação da publicidade para o público infantil, vai criar um "núcleo de defesa" para ampliar suas atividades.

A ideia é que a nova estrutura possa advogar em outras ações que busquem "honrar a criança", e não apenas nas que envolvem relações de consumo.

TÁ TUDO DOMINADO
O presidente do Santos, Luis Alvaro Ribeiro, estreitou laços com o novo comandante-geral da PM, Roberval Ferreira França. Há uma semana, convidou o coronel, torcedor do clube, para ver no camarote a vitória do Peixe contra o Mogi Mirim. Depois, foi à posse de França como chefe da PM. Encontrou outros santistas, como Geraldo Alckmin, Ivan Sartori, presidente do TJ, e Renato Costa, do Tribunal de Contas.

À BEIRA DO TÂMISA
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PC do B), viaja nesta semana à Inglaterra. "Vou a Londres visitar a Autoridade Olímpica, encontrar o ministro da Cultura e do Esporte de lá e estudar um acordo com ele sobre a Olimpíada [2016], de cooperação", diz.

DÁ UM ABRAÇO
Rebelo, que circulou pelo camarote da Band na Fórmula Indy, anteontem, recebeu um abraço caloroso de Sabrina Sato, apresentadora do "Pânico". "O senhor tava com saudades de mim, né? Não tô mais indo atrás de vocês lá em Brasília", disse Sabrina.

SEM PAZ
"Ih, acabou a tranquilidade", disse o prefeito Gilberto Kassab (PSD-SP), rindo, quando Sabrina apareceu para lhe cumprimentar.

KASSABINHO
E ela revelou que em um almoço com o namorado, o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN), e Kassab, o prefeito pediu para o "Pânico" voltar a fazer paródia com ele -missão que coube ao humorista Carioca durante um tempo.

BARRIGUINHA
E no camarote, humoristas do "CQC" e convidados comentavam a barriguinha de Kassab. "Faz tempo que parei a dieta", disse o prefeito.

DIA ATRIBULADO
O presidente Barack Obama dedicou pouco mais de uma hora para uma conversa com Dilma Rousseff quando ela visitou os EUA, em 9 de abril. No mesmo dia, além de fazer a corrida dos ovos, tradicional gincana de Páscoa da Casa Branca, ele deu entrevista à "Rolling Stone". O resultado está na capa da revista americana deste mês.

VELOCIDADE MÁXIMA

A apresentadora Sabrina Sato, a cantora Luiza Possi, o prefeito Gilberto Kassab e o ministro Aldo Rebelo (Esporte) assistiram à corrida de Fórmula Indy anteontem, no Anhembi. Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, e sua mulher, a empresária Claudia Saad, também estavam lá.

CURTO-CIRCUITO

Zeca Pagodinho encerra a turnê ªVida da Minha Vidaº com shows na sexta e no sábado, às 22h, no Citibank Hall do Rio. 15 anos.

Maria Alice Vergueiro diz que viajará a Cuba para o festival Mayo Teatral também à convite do Ministério da Cultura.

Marcelo Cândido, Reinaldo Moraes e Bia Willcox fazem debate amanhã, às 17h, na Flipoços, em Poços de Caldas.

Jair Rodrigues e Luciana Mello fazem hoje o show de abertura do Festival Literário de Votuporanga. Livre.

O Alô Alô Bahia comemora aniversário na sexta no Ego, em Salvador.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Ilusão agrária - XICO GRAZIANO


O Estado de S.Paulo - 01/04/12


Reflexão para o Dia do Trabalho: o trabalhador rural prefere um pedaço de terra para cultivar ou um bom emprego com salário fixo? A pergunta remete a um velho dilema da reforma agrária, resvalando na qualidade dos assentamentos rurais. Entenda o porquê.

Quem primeiro levantou a questão, há quase 50 anos, foi o historiador Caio Prado Júnior. Em seu livro A Revolução Brasileira (Brasiliense, 1966), ele criticou os comunistas que justificavam a reforma agrária a partir da Revolução Francesa (1789-1799), quando os camponeses tomaram as terras feudais. Ao se transformarem em agricultores livres, porém, eles fortaleceram a base do capitalismo, não do socialismo. Ironia da História.

A polêmica fundamentava-se no fato de que, no Brasil, a realidade era distinta daquela vivida no Velho Mundo. Aqui, a maioria dos trabalhadores rurais estava empregada na exploração latifundiária - do açúcar, do café, do cacau -, ou seja, eram assalariados, não camponeses puros. O foco das suas reivindicações, portanto, mirava a melhoria das condições de emprego e salário. Não a terra.

A discussão acabou amordaçada pelo golpe militar de 1964. Passaram-se os anos do chamado "milagre econômico". Esquecida por uns tempos, a reforma agrária voltou à agenda nacional após a redemocratização, trazendo uma importante diferença: havia-se transformado em proposta de política social, não de desenvolvimento econômico. Com respaldo da Teologia da Libertação, tornou-se um dogma. Ninguém a contestava.

Vieram as invasões de terras e o distributivismo agrário se impôs. Desgraçadamente, todavia, fraquejou naquilo que deveria ser a sua maior proeza: garantir qualidade de vida aos beneficiários. Arregimentando os excluídos das grandes cidades, apenas mudou a pobreza de lugar. Verdadeiras favelas surgiram espalhadas pelos campos.

Curiosamente, sempre o governo, e nunca o modelo, acabou sendo culpado pelo fracasso dos assentamentos rurais. Esse é o ponto central. Ao contrário de antigamente, quando a conquista da terra abria facilmente a porta da vitória, na sociedade atual a produção agrícola pode levar não à felicidade, mas ao martírio do lavrador. Antes, uma enxada e vontade de trabalhar garantiam o progresso familiar; hoje, os requisitos da tecnologia e os mercados competitivos exigem qualificação, e esta segrega contra a simplicidade.

A prova cabal da complexidade da produção rural pode ser buscada nas difíceis condições de existência dos milhões de pequenos agricultores brasileiros. Filhos e netos dos sitiantes tradicionais, eles sofrem na dura labuta para tirar o sustento dos filhos e viver com dignidade. Pragas e doenças atacam suas lavouras e ameaçam suas criações, a conta dos insumos nunca fecha, a seca rouba produtividade, o banco bate-lhes à porta.

Basta conversar com os agricultores familiares - os verdadeiros trabalhadores com terra do Brasil - para descobrir os seus desafios. Ganhar dinheiro na roça não está para qualquer um. Ainda mais sendo pequeno produtor. Isolado, então, nem pensar. A integração na cadeia produtiva - a parceria com a agroindústria, dentro da cooperativa e na turma do bairro - é exigência básica para vencer as barreiras da comercialização. Senão, produz e não acha quem lhe pague pela venda.

O pecado capital da reforma agrária, ao se pretender contemporânea, foi achar que poderia transformar desempregados urbanos em prósperos agricultores. Utopia urbana, não vingou. Os poucos assentamentos rurais vitoriosos advieram de locais onde os produtores já de antemão cultivavam, como ocupantes ou parceiros, as áreas desapropriadas. Assemelhados aos camponeses europeus, esses conheciam, nos calos da mão, o cio da terra. Bastou regularizar as suas posses para se tornarem viáveis. Fora disso, somente a tutela do Estado, com ônus exagerado para a sociedade, mantém a ilusão agrária.

Façam as contas. Cada família assentada custa ao redor de R$ 100 mil, incluindo o pagamento da terra e o custo operacional nos primeiros três anos. Isso equivale a pagar um salário mínimo durante 13 anos a cada uma das famílias beneficiadas. Qual lógica, econômica ou social, justifica tal dispêndio?

Alternativas de política pública poderiam ser executadas se, em lugar do acesso à terra, fosse o emprego o objetivo maior. Projetos de hortas comunitárias direcionadas para a merenda escolar, por exemplo, gerariam milhares de empregos nas periferias das cidades, aliviando as prefeituras dos gastos na compra de alimentos processados. Tais cinturões verdes, se incluídos nas políticas fundiárias, não tencionariam transformar ninguém em sitiante, dono de terra. Mas apenas, e tão fundamentalmente, oferecer um emprego a quem precisa. Baratearia ainda o lanche das crianças.

A horticultura irrigada garante, no mínimo, três postos de trabalho para cada hectare cultivado. Em comparação com a reforma agrária clássica, que gera dois empregos para cada 30 hectares, a capacidade de absorção de mão de obra nesse eventual novo modelo de política agrária seria 45 vezes maior. Basta mudar o enfoque, da terra para o emprego, para vislumbrar excelentes possibilidades. Urge pensar nelas.

O distributivismo agrário, impulsionado pelas invasões de terras, passou a representar uma ideia atrasada e ineficaz, remédio vencido contra a pobreza. Não resolve oferecer um lote de terra a gente inábil que, distante e desorientada, abocanha as verbas iniciais do Incra, compra um carro velho e se manda de volta à procura de emprego.

Erradas não estão as pessoas. Fora do tempo, e do lugar, encontra-se o atual modelo de reforma agrária, que mira no passado e recria a miséria. Qualificação para o trabalho, isso, sim, abre a janela do futuro.

Universidades internacionais - VLADIMIR SAFATLE


FOLHA DE SP - 01/05/12

Atualmente, é consensual a visão de que a internacionalização é o grande desafio da universidade brasileira. A conjunção entre a língua portuguesa, pouco falada, e o isolamento geográfico em relação aos grandes centros universitários da Europa e dos EUA contribuíram para a produção intelectual brasileira ser desconhecida no resto do mundo.

Quem frequenta congressos internacionais sabe que tal desconhecimento não tem necessariamente a ver com a qualidade de nossa produção, mas, principalmente, com a dificuldade de sua circulação.

Com a transformação do país em ator importante da nova geopolítica mundial, é natural que muitos países comecem a se perguntar sobre o que as universidades daqui produzem, quais seus debates e correntes fundamentais, assim como se associar a tais debates.

É nesse contexto que as discussões sobre internacionalização das universidades se coloca. No entanto é triste ver que elas ocorrem de maneira irrefletida, parecendo guiar-se meramente por posições em rankings internacionais.

É impressionante como as universidades brasileiras não estão preparadas administrativamente para isso. Na USP, é comum um aluno esperar inacreditável um ano e meio para ver um pedido de cotutela de doutorado assinado. Uma proposta de acordo de cooperação internacional pode demorar mais tempo. Tudo porque não temos pessoal suficiente e simplicidade burocrática.

Por outro lado, a verdadeira internacionalização se refere ao tripé: pesquisa, formação e docência. Até agora, enxergamos só o segundo ponto, com bolsas de estudo para que nossos alunos passem temporadas no exterior.

Diga-se de passagem, o último programa brasileiro de bolsas (Ciência sem Fronteiras) teve o disparate de ignorar as áreas de ciências humanas na definição de suas prioridades, o que só se justifica por uma ideia tosca de desenvolvimento social que nem sequer a ditadura militar teve coragem de implementar.

Mesmo no quesito "formação" seria fundamental que nossas universidades permitissem, de uma vez por todas, que estrangeiros prestassem concursos para professor universitário, mesmo que não tenham domínio do português. Basta que eles se comprometam a aprender português. Nossos alunos teriam uma formação mais sólida e diversificada.

Por sua vez, nossa pesquisa deveria ser objeto sistemático de difusão internacional. Os professores deveriam ter linhas de financiamento para a tradução de artigos e livros a serem publicados em outros países.

O governo deveria investir na formação de redes internacionais de pesquisadores por intermédio de acordos acadêmicos. Com um conjunto claro de ações, nossos resultados na internacionalização seriam muito mais visíveis.

Estamos todos na Avenida Brasil - ARNALDO JABOR


O Estado de S.Paulo - 01/05/12


Não perco um capítulo da novela Avenida Brasil. Ela chegou em boa (ou má) hora, quando os escândalos em "cachoeira" revelam os intestinos de nossa vida política. Essa novela é um fato novo, porque fala a espectadores da chamada "classe C", essa nova categoria que surge com o crescimento da economia. Muitos diziam: "Ah, classe C? Só veremos banalidades." Nada disso. Talvez tenha acabado a luta pelo o ibope mostrando aos pobres as casas luxuosas de Ipanema. Agora, trata-se da vida da classe média sob a influência moral dos dias atuais. A trama dramática da novela se tece com personagens vitais do dia a dia da maioria dos brasileiros. E isso torna os conflitos mais densos, mais gerais, mais profundos. A grande qualidade de Avenida Brasil é a conexão entre um verdadeiro enredo de filme de ação com uma aguda psicologia das personagens populares - que em geral eram criadas como "tipos", apenas. Sem contar os grandes atores como Débora Falabella, Vera Holtz, Murilo Benício e os outros todos. Há uma mutação em curso no País e a novela toca nesse ponto. A psicopatia está virando o tema central de várias novelas recentes. Em Vale Tudo, a mais antiga, tivemos o surgimento de Maria de Fátima, de Glória Pires, a fundadora da psicopatia no ar; tivemos Flora, com Patrícia Pillar, tivemos Tereza Cristina com Cristiane Torloni, tantas. E agora, Adriana Esteves genial como a malvada da hora. Elas variaram entre uma maldade sutil e melíflua, como Flora, até a brutal voracidade de Carminha.

E essa vilãs traçam um retrato de nosso tempo - a psicopatia virou uma forma de viver e de fazer política.

E temos de confessar que as malvadas nos fascinam pela ausência de culpa em seus corações. Na obra de João Emanuel Carneiro houve um diálogo que resume essa doença "pós-utópica" muito bem - Carminha grita para Nina, que chorava: "Não adianta querer me emocionar, porque eu não tenho pena de ninguém - só de mim mesma!" Avenida Brasil tem uma importância cultural e política. Antigamente, nos romances, nos filmes, nos identificávamos com as vítimas; hoje, nos fascinamos com os cruéis. Não torcemos só pelos mocinhos - a verdade é que os heróis são os canalhas. Por quê? Bem. Talvez os psicopatas sejam o nosso futuro.

Com a exposição de um escândalo por dia, de vampiros, gafanhotos, laranjas e fantasmas, com a propaganda estimulando o sexo sem limites, com a ridícula liberdade para irrelevâncias, temos o indivíduo absolutamente desamparado, sem rumo ético. Isso leva a um narcisismo desabrido, que se torna um mecanismo de defesa. Diante do espetáculo da violência, diante dos cadáveres da miséria, do cinismo corrupto, somos levados a endurecer o coração, endurecer os olhos, para vencer na vida competitiva ou seremos tirados "de linha" como um carro velho. E aí surge o problema: Se não há um Mal claro, como seremos bons? O Mal é sempre o 'outro'. Nunca somos nós. Ninguém diz, de fronte alta: "Eu sou o mal!" Ou: "Muito prazer, Diabo de Oliveira..."

O Bem está virando um luxo e o Mal uma necessidade 'comercial' de sobrevivência. Viver é praticar o Mal. Quem é o Mal? O assaltante faminto ou o assaltado rico? Ou nenhum dos dois? Antigamente, era mole. O Mal era o capitalismo e o Bem o socialismo. Agora, os intelectuais, padres, bondosos profissionais, caridosos de carteirinha, cafetões da miséria, santos oportunistas, articulistas (como eu) estão todos em pânico. Ao denunciar o Mal, vivemos dele. Eu lucro sendo bom e denunciando o Mal. Quanta violência sob a 'santidade',

A loucura é histórica também. Já houve a histeria com a repressão sexual vitoriana, houve o delírio romântico e totalitário, a paranoia do entreguerras. Hoje, o psicopata veio para ficar. A novela acerta em cheio nessa doença.

É fácil reconhecer o psicopata. Ele não é nervoso ou inseguro. Parece sadio e simpático. Ele em geral tem encanto e inteligência, forjada no interesse sem afetividade ou sem culpa para atrapalhar. Ele tem uma espantosa capacidade de manipulação dos outros, pela mentira, sedução e, se precisar, chantagem. Teremos agora a CPI dos psicopatas. Vai ser um show. Questionado ou flagrado, o psicopata não se responsabiliza por suas ações, sempre se achando inocente ou "vítima" do mundo, do qual tem de se vingar. Ele, em geral, não delira. Seus atos mais cruéis são justificados como naturais. Ele não sente remorso nem vergonha do que faz (o que nos dá até certa inveja). Ele mente compulsivamente e, muitas vezes, acredita na própria mentira. Não tem "insights" nem aprende com a experiência, simplesmente porque acha que não tem nada a aprender.

Os chamados comportamentos "humanos" estão se esvaindo. O que é o "humano" hoje? O "humano" está virando apenas um lugar-comum para uma bondade politicamente correta, uma tarefa e (muitas vezes) pretexto para ONGs.

O "humano" é histórico também. Talvez não haja mais lugar para esse conceito mutante. Somos 'máquinas desejantes' que se pervertem com o tempo e a necessidade. Durante a ditadura, todos éramos o Bem. O Mal eram os milicos. Acabou a dita e as "vítimas" (dela) pilharam o Estado. O que é o Bem hoje? Como diz Baudrillard, "contra o Mal, só temos o fraco recurso dos direitos humanos".

No Brasil, o grande Mal, não tem importância. O perigo aqui é o pequeno mal, enquistado nos estamentos, nos aparelhos sutis do Estado, nos seculares dogmas jurídicos, nos crimes que são lei. O perigo são os pequenos psicopatas que, quietinhos, nos roem a vida. Aqui, o perigo é o Bem. O Mal do Brasil não é a infinita crueldade das elites sangrentas; o Mal está mais na sua cordialidade. O Mal está no mínimo.

Como nesta novela, vemos que o Brasil está se dividindo entre babacas e psicopatas. Hoje, os babacas estão tentando seguir os psicopatas, por sua eficiência e falta de escrúpulos. Em breve, seremos todos psicopatas.

O esparadrapo - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 01/05/12


Foi uma decisão unânime, o que tem significado especial. Quando o Supremo Tribunal Federal fala com uma só voz - o que não é muito comum - duas conclusões parecem ser naturais: a decisão é juridicamente óbvia e reflete o que pensa o povo na planície.

No caso, estava em discussão a política de cotas raciais adotada pela Universidade de Brasília, que reserva 20% de suas vagas para estudantes negros. Ao aprovar as cotas, o STF aplicou uma derrota no racismo - e ela pode se ampliar para outras escolas do país: como são autônomas, cada uma decidirá seu destino.

É bom não esquecer: trata-se de um primeiro passo. E tem o defeito - registrado, com absoluta pertinência, pela antropóloga Yvonne Maggie - de preservar a divisão da sociedade em etnias (expressão menos agressiva do que "raças", mas igualmente perniciosa). O fim do caminho estará no momento em que os estudantes pobres de qualquer origem sejam beneficiados por um sistema de ensino básico de qualidade que torne as cotas inteiramente dispensáveis.

No momento, nada contra o sistema de cotas: mas é bom não esquecer que, sob muitos aspectos, ele ainda pode ser comparado com um esparadrapo em fratura exposta. A propósito, é importante também lembrar que a decisão do STF foi o momento final de um processo iniciado pelo time adversário.

No caso, representado pelo DEM. O principal argumento do partido é curioso: ele acredita que o sistema de cotas afronta o princípio da igualdade, por criar um privilégio para "pessoas com características físicas específicas". Não deixa de ser verdade - embora seja legítimo lembrar o preço pago pelos portadores dessas "características" ao longo da história do país.

É evidente que, em tese, as cotas representam um privilégio. Mas parece também óbvio que privilégios são necessários, pelo menos por um bom período, para compensar as consequências de alguns séculos de injustiça.

A decisão do STF poderá ter consequências históricas. Tudo vai depender da reação de outras universidades públicas. Sendo autônomas, cada uma decidirá se adota ou não as cotas. Dependerá muito da reação da opinião pública à legitimação do sistema de cotas adotado pela Universidade de Brasília.

E as cotas são, obviamente, esparadrapo em fratura exposta: é importante que existam agora - para desaparecerem quando a qualidade e a universalidade do ensino básico e médio tornarem o esparadrapo desnecessário.

A Paris de Woody Allen - CARLOS HEITOR CONY


FOLHA DE SP - 01/05/12

RIO DE JANEIRO - Vi com atraso o filme de Woody Allen, "Meia-noite em Paris", do qual muito esperava, uma vez que "Manhattan" me parece sua obra-prima, em preto e branco mesmo e com música de Gershwin. Aliás, é um dos fortes do ator-diretor, bom de ouvido, todos os seus filmes são salvos pelas trilhas musicais -vai ter bom ouvido assim no inferno.

Outro ponto a favor: a beleza da fotografia, a cidade é fotogênica, mas Woody tornou-a maravilhosa, quase irreal, sem apelar para os cartões-postais que todos conhecemos. Isto posto, vamos para aquilo que agora chamam de "conteúdo". Neste particular, foi uma sucessão de clichês, alguns exclusivos do próprio diretor, como o escritor esperançoso e a estagiária sempre fazendo a tese de mestrado.

Quanto ao escritor, é repetida a costumeira opinião do editor, "seu livro não nos interessa, mas tem alguns trechos bons, quem sabe, reescrevendo podemos pensar em editá-lo". O passado que se mistura ao presente é um lugar-comum do cinema comercial: Chaplin ("His prehistoric past", 1914), Eddie Cantor ("Escândalos romanos", 1933) e Oscarito ("Nem Sansão nem Dalila", 1955) -só para citar alguns.

Os efeitos são óbvios. O casal Fitzgerald, Hemingway, Gertrude Stein, Lautrec, Picasso, um estupefato Buñuel (ao qual o deslumbrado escritor sugere a sinopse de "O Anjo Exterminador"); citações periféricas de Modigliani, Degas, Gauguin, um inesperado T.S. Elliot, Matisse, Salvador Dalí -este, por sinal, e ao contrário dos demais, interpretado por um ator (Adrien Brody) que é cara e loucura do próprio, o único que convence no papel.

Há também a música de Cole Porter, tocada por ele mesmo, e a de Offenbach, obrigatória em qualquer peça ou filme sobre a Paris daquela época.

A crise global do emprego - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 01/05/12


É sombrio o relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a situação do emprego no mundo. O documento, de 128 páginas, está disponível no site: www.oit.org.br/sites/default/files/topic/gender/doc/mundodotrabalhointegra_821.pdf.

Há hoje 50 milhões de empregos a menos do que havia em 2007, pouco antes do início da crise global. Pior ainda, a falta de ocupação para a população jovem (de até 25 anos) atinge nada menos que 80% das economias avançadas e 67% dos países em desenvolvimento. Indica que o futuro dessa gente também vai sendo comprometido.

O estudo atribui essa situação não à crise em si e ao que veio antes dela, mas ao resultado da aplicação generalizada de duas políticas dizimadoras do emprego: ajuste fiscal excessivo; e flexibilização do mercado de trabalho - regimes a que estão sendo submetidas economias prostradas pelas dívidas.

É inegável que a austeridade reduz as despesas públicas e, portanto, dificulta a recuperação; e que a flexibilização facilita a dispensa de pessoal, com a agravante de que, na maioria dos países avançados, os poucos postos de trabalho reabertos tendem a ser mais precários do que os que se fecharam. São ocupações ou temporárias, ou de período parcial, ou remuneradas com redução de salários e benefícios.

O diagnóstico está apenas parcialmente correto. Cabem três críticas ao foco e às conclusões. A primeira delas, é a de não se levar em conta a artificialidade da base de comparação - situação do emprego imediatamente anterior à crise. O grande boom do mercado de trabalho e dos salários da primeira década deste século (até 2008) nos países ricos se deveu à disparada do mercado imobiliário e de construção civil, tanto nos Estados Unidos como na área do euro. Foi o crédito fácil e pouco regulado que gerou a crise da subprime americana e foi a euforia dos investimentos, logo após a criação do euro, que alimentou as bolhas, a fácil criação de empregos e a alta dos salários na Europa. O ajuste que viria em seguida, qualquer que fosse ele, teria de acontecer com certo sacrifício de postos de trabalho.

O segundo ponto negativo é que essa pesquisa se omite em relação à utilização crescente de Tecnologia da Informação em todo o mundo, fator que tende a reduzir substancialmente o emprego de mão de obra. Isto é, políticas que enfatizem o crescimento em vez da feroz austeridade - como tanto se pede - não necessariamente proporcionarão mais ocupações. A pequena recuperação dos Estados Unidos, por exemplo, ocorre com menos emprego de pessoal.

Finalmente, a divulgação da OIT silencia sobre uma das mais importantes transformações da economia global: a redivisão do mercado de trabalho. Há 20 anos começou o processo que incorpora entre 30 milhões e 40 milhões de asiáticos por ano aos mercados de trabalho e de consumo. Essa gente ou não tinha ocupação ou estava subocupada. Poucos integravam as listas de desempregados - eram simplesmente excluídos. Essa mudança implicou a migração de setores industriais inteiros para a Ásia e demais emergentes à custa do emprego dos países avançados. Esse movimento não pode ser compensado só com políticas keynesianas de elevação de despesas públicas no mundo rico.

O bullying - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 01/05/12


SÃO PAULO - O bullying é por vezes um problema real que exige medidas drásticas. Assim, é positivo que a Justiça esteja prestando atenção ao fenômeno e já tenha até condenado alguns adolescentes à prestação de serviços comunitários, como mostrou a Folha na edição de domingo. Para conviver bem em sociedade, precisamos aprender a respeitar certos limites de agressividade no trato com terceiros.

O mundo, porém, é um lugar mais complexo e multifacetado do que querem as narrativas de que nos valemos para dar sentido às coisas. Declarar guerra ao bullying e propugnar por uma política de tolerância zero funciona mais como slogan publicitário que como remédio eficaz.

De acordo com a psicóloga Helene Guldberg, da Open University de Londres, há uma histeria em torno do tema que já pode estar produzindo mais mal do que bem (vale frisar aqui que ela fala primordialmente da realidade anglo-saxônica, onde as campanhas contra o bullying são muito mais intensas e existem há bem mais tempo do que no Brasil).

Segundo Guldberg, é perfeitamente saudável que um jovem não goste de um de seus colegas e expresse esse sentimento. Isso ocorre o tempo todo entre adultos e não é um problema. Crianças precisam aprender a lidar com inimizades, rejeições e agressividade, com as quais terão de conviver ao longo dos anos. Ela cita trabalhos sugestivos de que ter um inimigo na infância pode, na verdade, até fazer bem para o adulto.

Não se trata, é claro, de abandonar a garotada à própria sorte e deixar que a seleção darwiniana opere livremente nos playgrounds, elegendo os sobreviventes. Precisamos, porém, ser honestos para reconhecer que as dinâmicas do relacionamento entre jovens não podem ser resumidas numa luta das vítimas boazinhas contra agressores malvados. A intervenção de adultos cristalizando esses rótulos pode até mesmo revelar-se um tiro pela culatra.