terça-feira, setembro 04, 2012

Chifre de Ahmadinejad - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 04/09

A prefeitura entregou discretamente à população este
monumento em São Cristóvão, réplica das colunas de Persépolis, doado pelo governo do Irã.
O próprio Mahmoud Ahmadinejad queria inaugurá-lo na Rio+20. Mas Eduardo Paes inventou um atraso nas obras para não pôr cereja no bolo do ditador.

Aliás...
Por causa dessas orelhas dos grifos, que lembram chifres de touros, já tem gaiato apelidando o lugar de "Praça Tufão”; o personagem da novela "Avenida Brasil".
O monumento fica a duas quadras da Vila Mimosa, shopping da saliência, onde Carminha poderia... deixa pra lá.

A favor do Rio
Dilma aderiu à campanha para que a Fifa marque um jogo do Brasil nas quartas de final da Copa de 14 no Maracanã, e não só na final, caso a seleção de Neymar chegue lá.

Quem vem
O presidente eleito do México, Enrique Pena Nieto, visita Dilma no final do mês.

Calma, gente!
A promotora Christiane Monnerat, a mesma que cuidou do "suposto estupro” no "BBB 12’,’ instaurou procedimento sobre a personagem Adelaide, em "Zorra Total’,’ interpretada por Rodrigo SantAnna.
Investiga queixas de alguns telespectadores de eventual procedimento racista da personagem.

GUERRA CONTRA VÂNDALOS

O Chafariz da Glória, tombado pelo Iphan, está um brinco. Repare só na foto. Será reinaugurado hoje, com direito a voltar a ter água nas suas bicas e ganhar nova iluminação. Mas o melhor da história vem agora: o secretário Carlos Roberto Osorio promete, vamos torcer, vamos cobrar, que, a partir de agora, vai tornar difícil a vida de pichadores, vândalos e moradores de rua, que usam até chafarizes como moradia. A Cedae, dona do imóvel vazio, vai transferir a propriedade para a prefeitura, que promete ocupar o lugar com uma equipe fixa da própria Secretaria de Conservação.
A equipe vai cuidar exatamente da conservação dos 35 mil imóveis históricos do Rio. Aliás, o Chafariz da Glória, construído em 1742, é, de todos os monumentos cariocas, o mais atacado pelos vândalos da cidade, até mais do que a estátua de bronze de Drummond, em Copacabana, cujos óculos são surrupiados muitas vezes. •

Fator Dilma

Passou meio despercebido. Em até cinco anos as mulheres terão o direito de cursar a Academia Militar das Agulhas Negras, do Exército, que permitirá o ingresso feminino na parte bélica da força.
A medida foi possível graças ao decreto assinado pela presidente Dilma há algumas semanas.

País do Bolsa Família

A O2, de Fernando Meirelles, produz para o canal por assinatura Nat Geo a série "Ponto de vista’,’ sobre temas como economia sustentável e crack.
O diretor do episódio sobre educação é o português Miguel Gonçalves Mendes.

Segue...

Em Heliópolis, a favela paulistana, Mendes constatou que a maior motivação dos pais para manter os filhos na escola é... o Bolsa Família.
É que o programa, como se sabe, só beneficia lares onde as crianças estudam.

Fora da lei
A prefeitura do Rio impediu ontem que uma antena da Oi fosse instalada na calçada da Avenida General Olyntho Pillar, em frente ao Condomínio Mandala, na Barra, no Rio.
Não tinha autorização.

Saíra-de-sete-cores

Este belíssimo saíra-de-sete-cores, fotografado por Luiz Cláudio Marigo na cidade fluminense de Resende, é uma das centenas de ilustrações do livro "Biomas brasileiros, retratos de um país plural’,’ que será lançado amanhã no meu, seu, nosso Jardim Botânico.
É o resultado da parceria da ONG Conservação Internacional com a Casa da Palavra.

Segue...

O livro, que tem direção editorial de Ana Cecilia Martins e Martha Ribas, é dedicado ao jornalista e ambientalista Marcos Sá Corrêa.

Corredor do Fórum

A 14? Câmara Cível do Rio condenou o plano de saúde Semeg a indenizar em R$ 4 mil uma paciente com obesidade mórbida.
A seguradora é acusada de se recusar a custear uma cirurgia de redução de estômago.

Cédulas só antigasMárcio Fortes, presidente da Autoridade Pública Olímpica, ontem, foi pegar o metrô na Avenida Presidente Vargas, Centro do Rio, e pôs uma nota de R$ 10.
A máquina rejeitou. Ele foi até o guichê e descobriu que as máquinas não estão prontas para receber as novas notas.

Revista do Rádio
Duas das mais tradicionais emissoras de rádio do Rio estão de mudança: a Tupi deixa o belo prédio de Oscar Niemeyer na Rua do Livramento e vai para São Cristóvão.
Já a Nacional sai do prédio de "A Noite” o primeiro arranha-céu carioca, na Praça Mauá, e, por uns tempos, vai funcionar na sede da antiga TVE, na Lapa.

Dilma marca o campo - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 04/09

“Não aposte jamais em brigas entre Lula e Dilma. Ela é sincera e, quando gosta de alguém, protege”. Ouvi essa frase de Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, quando ela era candidata a presidente da República, em 2010. Ontem, foi um desses dias em que a frase de Carlos Araújo tomou vida. A forma como Dilma respondeu ao artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, numa firme defesa da herança que recebeu de seu antecessor e padrinho político, soou como um alerta a todos que tentam afastá-la de Lula. E também marca o que vem por aí, dentro da estratégia petista de tentar ressaltar os aspectos positivos do governo ex-presidente como contraponto ao que está todos os dias nos jornais e na tevê a respeito do julgamento do mensalão.

Pra quem não leu o artigo de Fernando Henrique Cardoso, publicado nos jornais de domingo, vale lembrar que o ex-presidente se referiu ao governo Lula como uma herança maldita recebida por Dilma. Ele citou a queda de ministros em série e a troca de comando na Petrobras, decidida pela atual presidente da República, como exemplos de que a administração de Lula não foi lá essas coisas. A resposta de Dilma veio logo. Começou a ser definida ainda no domingo, no Alvorada.

Em, menos de 200 palavras, ela citou o que considera os aspectos positivos do governo Lula, mencionou o crescimento do período, a economia “robusta”, as reservas cambiais recordes e a inclusão de 40 milhões de brasileiros no mercado de consumo (A íntegra está disponível na internet em vários sites, inclusive no blog que mantenho no www.correiobraziliense.com.br). Sinceramente, Fernando Henrique deve ter sentido até uma pontinha de inveja por não ter tido um candidato do PSDB que defendesse seu legado nas três últimas eleições como Dilma defendeu o de Lula. (Aliás, vale lembrar, foi a própria Dilma quem ajudou no resgaste da gestão de Fernando Henrique Cardoso, quando enviou ao ex-presidente tucano uma carta pelos 80 anos e fez questão de convidá-lo para o almoço de recepção ao presidente Barack Obama, logo no início do governo. Lula, por sinal, não gostou e nem sequer apareceu ao evento no Itamaraty).

Por falar em legado…

Não dá para esquecer também que Dilma fez parte do governo que recebeu. Portanto, se houve erros administrativos, ela pode ter sido corresponsável por eles. Mas a carta de ontem vai além de querer defender a própria pele. Quando ministra, Dilma foi o que restou a Lula como candidata quando sucumbiram os principais nomes cogitados dentro do PT para sucedê-lo. Uns caíram pelo mensalão, outros por motivos diferentes, também nada nobres. Agora, entre os petistas, há quem considere que, mais uma vez, sobrou apenas a presidente. Com a antiga cúpula do PT— aquela que ajudou Lula a ascender ao poder — respondendo no Supremo Tribunal Federal por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, peculato, corrupção e por aí vai, Dilma é o que o ex-presidente tem hoje de mais contundente para ressaltar os aspectos positivos de sua administração e defendê-lo. Por isso, a nota oficial de ontem.

A missão de Dilma nesse doloroso processo mensaleiro pelo qual passa o PT é delimitar os campos em relação ao futuro. Como uma empresa separa ativos e passivos quando é colocada à venda, Dilma hoje separa a parte boa do governo Lula — os avanços sociais e econômicos do período — da parte que o PT adoraria esquecer: o mensalão. Nesse sentido, como ela não teve relação com o episódio que desaguou na Ação Penal 470, cabe a ela vender a parte boa ao eleitor e delimitar ainda os terrenos no que se refere aos demais partidos. Por isso, daqui por diante, ela não hesitará em deixar claro de que lado ela está hoje e estará sempre. Ela é parte da história do governo Lula e dissociá-la dos erros e acertos da administração, especialmente, no setor de energia, o qual ela comandou, não funciona. E a cada dia que passar, nós veremos que os laços entre Dilma e Lula não são frágeis. Ela, como bem me disse Carlos Araújo, não só gosta de Lula, como o protege.

O tigre e a anta - GIL CASTELO BRANCO


O Globo - 04/09


O economista e diplomata Roberto Campos costumava dizer: "Com o atraso das reformas estruturais e das privatizações, o Brasil está longe de realizar seu potencial. Poderia tornar-se um tigre e se comporta como uma anta."

Nesse sentido, foi ótimo a primeira parte do PAC das concessões ter minimizado o Fla x Flu político/ideológico em que se transformou o debate sobre as privatizações na terra de Macunaíma. A primeira parte do Programa de Investimentos em Logística (PIL) pretende viabilizar investimentos de R$ 42,5 bilhões em 5,7 mil quilômetros de rodovias, enquanto outros R$ 91 bilhões serão aplicados na reforma e construção de 10 mil quilômetros de ferrovias. Diante da dramática situação desses modais, parece um prato cheio. Na realidade, porém, o valor total de R$ 133,5 bilhões é tímido, e o prazo para a execução dessas obras é extremamente longo - até 2037!

A título de comparação, só os investimentos das empresas estatais brasileiras em 2013 serão de R$ 110,6 bilhões, comparáveis, portanto, ao montante a ser obtido junto aos investidores privados nos próximos 25 anos. Também é possível situar o PIL em relação à incompetência governamental. Nos últimos 11 anos, o governo federal deixou de investir aproximadamente R$ 50 bilhões em rodovias e ferrovias. O valor decorre da simples diferença entre os orçamentos anuais autorizados e as aplicações efetivamente realizadas pelos órgãos responsáveis.

No Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit), por exemplo, a soma das dotações autorizadas de 2001 a 2011, em valores constantes, é de R$ 100,7 bilhões. No entanto, os investimentos no período atingiram somente R$ 59,7 bilhões. Os R$ 41 bilhões que não saíram do papel correspondem, literalmente, ao custo dos buracos das estradas brasileiras. Estudo realizado em 2011 pela Confederação Nacional do Transporte estimou que seriam necessários cerca de R$ 40 bilhões para recompor a malha rodoviária, cuja metade é considerada de qualidade regular, ruim ou péssima. A Valec, responsável pela construção e exploração da infraestrutura ferroviária do país, seguiu o mesmo rumo. Deixou de aplicar R$ 3,5 bilhões, de 2001 até dezembro de 2011, concretizando apenas 70% do que estava autorizado pelo Congresso Nacional.

Os recursos não aplicados pelo Ministério dos Transportes ao longo desses onze anos representam praticamente o dobro dos R$ 23,5 bilhões que o Programa de Investimentos em Logística pretende ver aplicados, já nos próximos cinco anos, nas rodovias concedidas.

A precária execução dos orçamentos é consequência, em grande parte, dos ajustes fiscais mal executados há vários governos. Sob pressão, as autoridades costumam ser tolerantes com o aumento das despesas correntes (pessoal e serviços de terceiros, dentre outras) em detrimento dos investimentos em infraestrutura. Além disso, no Brasil, existem diversos entraves para a execução das obras, como as formalidades exigidas nas licitações, as dificuldades para a obtenção das licenças ambientais e as paralisações sugeridas pelo TCU em função de frequentes irregularidades nas obras. Nos próximos dias deverá ser anunciada a segunda parte do Programa de Concessões abrangendo os portos e os aeroportos, tão sucateados quanto as rodovias e ferrovias. Em relação aos portos, seja qual for o desenho adotado, será necessário enfrentar a falta de coordenação entre os órgãos públicos instalados nos terminais, o loteamento político das empresas e o corporativismo dos funcionários. Isso para não se falar do atraso tecnológico, administrativo e operacional, fatos que, somados, colocam os portos brasileiros entre os 13 piores do mundo, em ranking de quase 150 países, divulgado, em 2011, pelo Fórum Econômico Mundial.

Quanto aos aeroportos, diferentemente das concessões anteriormente efetuadas, em que foram vencedoras empresas consideradas de menor porte, a nova modelagem pretende dar poderes à Infraero Participações (Infrapar), que ficaria encarregada de buscar novos sócios entre operadoras de grandes aeroportos internacionais. Resta saber se haverá interesse de grupos estrangeiros em se associar ao filhote da malfadada Infraero.

Sejam quais forem os modelos, a economia brasileira precisa de investimentos. A logística é, cada vez mais, um ônus pesado para a competitividade da produção. A frase cunhada por Roberto Campos há décadas permanece, em parte, atual. Já não se fazem tigres como antigamente, mas o Brasil precisa, de imediato, deixar de se comportar como uma anta.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 04/09


Operadoras tentam ocultar e dividir antenas
Pressionadas para reduzir o impacto visual de suas antenas, as operadoras de celular tentam mostrar soluções.

O sindicato do setor Sinditelebrasil apresentou à prefeitura do Rio um projeto para disfarçar os equipamentos.

O piloto, que deve ser instalado na orla de Copacabana neste ano, segundo Eduardo Levy, diretor da entidade, vai esconder as antenas atrás de placas de trânsito, nos quiosques ou disfarçá-las em postes de luz. Algumas estruturas serão menores.

"Estamos trabalhando com arquitetos para verificar pontos geográficos", diz Levy.

Segundo as empresas, o trabalho ainda está em negociação na prefeitura, que não comentou sobre o assunto.

Outros aspectos como eventuais danos à saúde e o barulho são rebatidos pelo executivo do Sinditelebrasil.

"Mecanicamente, é impossível que a frequência emitida faça barulho. Quanto à saúde, não prejudica. Ninguém tem medo de telefone e internet sem fio. Para ter sinal de celular de qualidade, precisa de antena", diz.

O compartilhamento, outra saída buscada pelas empresas, já está evoluído, segundo Eduardo Tude, da Teleco, consultoria do setor.

Na Vivo, 77,6% de suas 12.693 antenas ativas no país têm uso compartilhado com outras operadoras, segundo o diretor Leonardo Capdeville.

A Tim trabalha com cerca de 12 mil estações. Cerca de 5.000 são de outras empresas. De suas 7.000 restantes, 35% têm ao menos um parceiro. A Anatel não comentou.

IDENTIDADE NACIONAL

Elisabeth Ponsolle des Portes, presidente do Comité Colbert, entidade que reúne instituições culturais e empresas de luxo francesas, está no Brasil para se reunir com os irmãos Campana e estudar o mercado do país.

A dupla de designers, que será premiada pela entidade, contribui para o desenvolvimento da identidade e de um conceito de luxo brasileiro, segundo Portes.

"Eles trazem os valores de uma confecção artesanal, do desenvolvimento sustentável e contribuem para a visibilidade do país", afirma.

As empresas ligadas ao Comité Colbert, como Hermès e Chanel, movimentam € 31 bilhões ao ano.

Os brasileiros são responsáveis por cerca de 2% do total. Grande parte é consumida fora do país. "Os impostos daqui são muito altos."

Brasil quer banco de preços de remédio nas Américas

O Brasil vai propor um banco de preços de medicamentos e insumos de saúde comum às Américas.

Em seminário internacional em Brasília hoje, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, vai apresentar a ideia a representantes de Uruguai, Argentina, Colômbia, Peru e Costa Rica.

A pesquisa de preço servirá para balizar o processo de licitação, além de aprimorar a negociação com fornecedores e a eficiência no sistema de saúde.

Segundo o ministério brasileiro da Saúde, a Organização Panamericana de Saúde (OPAs) vai propor a outros países das Américas que sigam o modelo brasileiro.

O país disponibiliza na internet os custos dos remédios adquiridos para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Com o banco comum na América Latina, o preço pago pelo governo argentino, por exemplo, para alguns medicamentos, pode ser conferido pelos outros países.

Trem para... A CNI levou à presidente Dilma Rousseff um estudo que mostra as ferrovias como o principal gargalo do Sul do país. Seria necessário um aporte de R$ 38,5 bilhões, segundo a entidade.

... Brasília O volume de investimentos representa mais da metade do total necessário para toda a infraestrutura logística da região Sul do país, de acordo com o levantamento feito pela CNI.

MERCADO DA BELEZA

As especificidades da pele brasileira estão no foco das pesquisas de produtos da L'Óreal, segundo Brigitte Lieberman, diretora mundial da divisão de cosméticos para tratamento (como medicamentos e protetores solares) da empresa.

"As brasileiras gastam muito tempo e dinheiro para prevenir os efeitos do tempo. Por isso, desenvolvemos produtos e texturas que se adequem à sua complexidade. Alguns deles produzimos no Brasil", diz Lieberman.

O país é o terceiro maior mercado consumidor da empresa, atrás apenas da França e da Alemanha.

"O faturamento no Brasil cresceu 28% em 2011 e triplicou em três anos. Esperamos que isso ocorra novamente em cinco anos", completa.

COMPRAS NO SALÃO DE BELEZA

O salão de beleza ainda é um estabelecimento pouco explorado para comercialização de produtos do setor, de acordo com pesquisa da Gouvêa de Souza encomendada pela Beauty Fair.

Enquanto 83,3% dos entrevistados afirmam que frequentam salões, apenas 21,5% dizem que fazem compras no local.

Segundo o levantamento, 81,5% dos ouvidos adquirem produtos sempre da mesma marca e 80% deles compram sempre na mesma loja.

Merecer o voto - LUIZ GARCIA


O Globo - 04/09


Para cidadãos comuns, que não nasceram em berço dourado, funciona uma lei não escrita que todos conhecem e ninguém desobedece: só o trabalho garante comida na mesa e as crianças no colégio. Pois o jornal de domingo descobriu uma exceção: no Poder Legislativo, não é bem assim.

No mundo especial habitado por deputados estaduais e federais, o exercício do mandato não acontece em tempo integral durante as sessões legislativas. Pelo menos, em ano eleitoral. Precisamente quando os políticos precisam sair em busca de eleitores para convencê-los que merecem os seus votos, e partem em campanha sem cumprir a obrigação elementar de se licenciarem dos mandatos, estão dando prova inequívoca de que não os merecem.

Um levantamento de dois repórteres paulistas (Silvia Amorim e Gustavo Uribe) mostrou que a grande maioria dos deputados federais e estaduais que são candidatos a prefeito ou vice-prefeito nas eleições deste ano dedica tempo integral à busca de votos. Ao todo, 258 deles estão em campanha sem se licenciarem, o que representa 88% do total dos deputados candidatos.

A legislação obviamente não impede a reeleição - mas, pelo visto, este ano a grande maioria dos políticos que buscam novos mandatos parece não se incomodar em dar essa prova pública de que não a merece.

Nenhum deputado ouvido pelo jornal desmentiu a prática da gazeta. Um deles, de Santa Catarina, que faltou a três das cinco sessões legislativas de agosto, chegou a elogiar a troca do trabalho legislativo pela campanha eleitoral. "Isso é o exercício da democracia", disse ele, esquecendo o óbvio: nada impede a reeleição de legisladores, desde que a campanha por um novo mandato não paralise um dos três poderes que formam a base do regime democrático.

Deputados podem se licenciar, sendo substituídos por suplentes - o que não prejudicaria necessariamente nem a reeleição nem o funcionamento de um dos poderes do sistema democrático. Ou podem fazer campanha fora do horário do funcionamento do Legislativo.

Dá mais trabalho, é claro, mas tem duas vantagens óbvias: não prejudica o funcionamento do sistema democrático e fornece ao eleitor uma prova visível de que o candidato à reeleição merece seu voto.

Infelizmente, não se tem notícia de que nenhuma dessas duas soluções esteja sendo praticada, do Oiapoque ao Chuí.

Em parte, o eleitor é também responsável por isso. Não daria muito trabalho verificar se o seu escolhido para novo mandato no Legislativo está sendo candidato sem nítido prejuízo para o funcionamento do sistema político - ou está trabalhando em tempo integral na busca de uma reeleição que não merece.

Se os políticos perceberem que a sua dedicação ao exercício do mandato está sendo acompanhada e avaliada pelos cidadãos, logo descobrirão formas e maneiras de dividir o seu tempo entre a política e o exercício do mandato sem prejuízo para as duas atividades. Seu instinto de sobrevivência garantirá um final feliz para aquilo que é hoje uma situação inadmissível no que se refere ao interesse público.

Em teste - SONIA RACY


O ESTADÃO - 04/09


O Ministério da Saúde decide, até o fim do ano, se inclui na rede do SUS novo tratamento para um dos tipos mais agressivos e letais de câncer de pele: o melanoma cutâneo.

A chamada “quimioterapia adjuvante” usa o Interferona – que, aplicado por injeção, ajuda o organismo a reagir à doença.

Outro lado

Alberto Toron recebeu ontem pela manhã, em sua casa, João Paulo Cunha.

Abatido, estava inconformado com a leitura feita por membros do STF sobre as três notas fiscais sequenciais emitidas envolvendo os R$ 50 mil que recebeu. “Se fosse falcatrua, teria emitido uma só”, reclamou.

Toron fará novos memoriais para enviar aos ministros.

New boss
O UBS está conversando com Allan Libman para ser seu presidente no Brasil.

New boss 2
Antonio Romualdo Pereira será o novo chefão da Goldman Sachs no Brasil.

Papai, titia…
Enquanto Haddad exibe mulher e filhos na propaganda eleitoral, Serra fez adesivos “45” com desenhos do pai, da mãe, da avó e até do cachorro.

De olho no voto da família.

Jogo jogado
A Lei Pelé pode, mais uma vez, revolucionar o esporte. Está na Câmara projeto que prevê levar as conquistas dos jogadores de futebol a atletas de todas as modalidades.

Atualmente, quem não é boleiro precisa recorrer à Justiça para ser reconhecido como profissional e ter direitos trabalhistas e previdenciários.

Espectadores
Parte do comitê organizador da Copa de 2014 esteve domingo no Pacaembu. Para ver o jogo entre Corinthians e Atlético MG. Ao lado de Ronaldo, Walter de Gregorio, da Fifa, assistiu à vitória do campeão da Libertadores.

Esta semana, a federação faz mais uma visita ao Itaquerão.

Touchdown
E quem está de olho grande no novo estádio do Timão é a equipe de futebol americano do Corinthians.

O marketing do clube acha possível, a partir de 2014, encher os 48 mil lugares da arena nos jogos dos Steamrollers.

Tipo exportação
Alunos do Laboratório Inhotim vão expor em Londres, em novo espaço da Tate Gallery para estudantes. As instituições assinaram acordo para tanto.

Marte X Vênus
Grosseria com o garçom. Esta é a atitude masculina que mais decepciona as mulheres. Segundo pesquisa da agência Lunch 42, especializada em namoro, 37% delas odeiam esse comportamento.

Em seguida vêm não se oferecer para pagar a conta (20%) e não telefonar no dia seguinte (8%).

Marte X Vênus 2

Entre os homens, as maiores decepções ocorrem quando a mulher assume funções como escolher o vinho ou pagar a conta (27%) e quando depende financeiramente do ex-marido (25%).

A agência ouviu 650 clientes de SP e Rio de Janeiro.

Na frente
Elisa Bracher e Fábio Miguez estreiam mostra amanhã, na Galeria Transversal. Ao lado de Ester Grinspum e Claudio Mubarac.

Patrick Charpenel palestra no Auditório Ibirapuera. Hoje. Apoio da Montblanc.

E Roberto Livianu comanda o seminário Controle da Corrupção. Hoje, no Caesar Business Paulista.

Jantar de gala, hoje, no Bandeirantes para celebrar o Momento Itália-Brasil. Pilotado pelo embaixador italiano Gherardo La Francesca.

As festas em Sampa estão lotadas de looks Débora – personagem deNathalia Dillna novelaAvenida Brasil.

OUVIRAM DO IPIRANGA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 04/09

Murilo Rosa e Deborah Secco interpretaram Dom Pedro e Leopoldina em montagem de "Grito do Ipiranga", anteontem, em São Paulo. O prefeito Gilberto Kassab (PSD) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) foram ao parque da Independência. A psicóloga Daniela Borba e seu filho, Benjamin Borba Galvao, também estavam na montagem.

gente grande
A cantora sertaneja Paula Fernandes, campeã de vendas de CDs em 2011, ganhou o primeiro round da disputa para rescindir seu contrato com a Talismã, empresa do cantor Leonardo que gerencia sua carreira desde 2008. A decisão é liminar e ainda pode ser revertida.

GENTE GRANDE 2
Paula foi autorizada pela Justiça a marcar os próprios shows e a escolher as campanhas publicitárias nas quais se engajará. Como o contrato dela com a produtora vence só em 11 de novembro, ela terá que depositar em juízo até lá 30% do valor de cada apresentação e 20% de cada comercial até que a Justiça dê a palavra final sobre a questão. A Talismã disse não ter sido notificada.

TEM SHOW HOJE?
"Paula Fernandes não está recebendo a agenda dela, nem sabe que shows fará a partir de setembro", diz seu advogado, José de Araujo Novaes Neto. Ele afirma ainda que o desentendimento está fazendo a cantora, que vendeu 1,5 milhão de CDs em 2011, perder apresentações.

VOTO DE FÉ
Emissários de Celso Russomanno (PRB-SP) negociam o apoio da igreja Renascer para o candidato.

No sábado, o vice de sua chapa, Luiz Flávio Borges D'Urso, e o presidente do PTB-SP, Campos Machado, encontraram-se com a bispa Sonia e o apóstolo Estevam Hernandes, dirigentes da agremiação, no ginásio do Ibirapuera. A igreja realizou lá sua "Ceia de Oficiais".

CANJA DE OURO
Convidados de Ricardo Lewandowski para o casamento da filha do ministro, Livia, no sábado, se espantaram com os preços do hotel Fasano na Fazenda Boa Vista, em SP, local da festa. Hospedados lá, comeram no dia seguinte frango com polenta, sem vinho, disponível no bufê. A conta saiu por R$ 400 para uma mesa de três pessoas.

RSVP
E dois ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) foram ao casamento da filha do ministro Lewandowski: Marco Aurélio Mello e José Antonio Dias Toffoli.

FAÇA A CONTA
Já há agitação em torno da vaga que Claudio Alvarenga abrirá no TCE (Tribunal de Contas do Estado) no final de outubro, quando se aposenta. Entre os que já prospectam terreno, os deputados federais tucanos Vaz de Lima, Carlos Sampaio e Vanderlei Macris e os estaduais Jorge Caruso (PMDB) e Maria Lúcia Amary (PSDB).

ELVIS NÃO ACABOU
A turnê "Elvis in Concert", que terá três shows em outubro no ginásio do Ibirapuera, ganhou apresentação extra, no Via Funchal, em 13 de outubro.

CONVIDADO ESPECIAL
Chico Buarque decidia ontem as músicas que tocará no show em prol da candidatura de Marcelo Freixo (PSOL-RJ) a prefeito do Rio. O show, com ingressos a R$ 360, é de Caetano Veloso ­-Chico terá apenas participação especial, como convidado do baiano.

É BAIÃO
E Gilberto Gil gravou a música tema de "Gonzaga - De Pai para Filho", cinebiografia de Luiz Gonzaga, dirigida por Breno Silveira.

TARIFAS HERMANAS
A Argentina busca maneiras de diminuir as tarifas dos hotéis. Representantes do Ministério do Turismo do país vizinho contataram o governo brasileiro para se informar sobre as negociações em torno da desoneração da folha de pagamento de funcionários e tarifas energéticas para a hotelaria. As medidas constam no plano Brasil Maior, lançado em abril para aumentar a competitividade em alguns setores.

SEMANA DE OITO ANOS

O empresário André Almada comemora nesta semana os oito anos da sua boate, The Week, em SP. "O público está deixando de ser só gay. Queremos trazer todos à casa." Almada abre outra balada no centro neste ano e cogita lançar outra em Miami, além da que já existe no Rio.

CURTO-CIRCUITO

A Ricardo Viveiros & Associados faz coquetel para comemorar seus 25 anos, com homenagem ao poeta Paulo Bomfim. Hoje, às 18h30, no espaço CIEE.

A 30ª Bienal de SP tem abertura para convidados no Ibirapuera, às 18h.

O projeto Pivô inaugura a mostra "Da Próxima Vez Eu Fazia Tudo Diferente". Hoje, às 21h, no Copan.

O Espaço Itaú de Cinema da rua Augusta reabre suas portas hoje, às 20h, com "A Luz do Tom", de Nelson Pereira dos Santos.

"Uma Vida Inteira", curta com Alice Braga e Bruno Autran, será exibido na Reserva Cultural hoje, às 21h.

O rapper norte-americano Coolio, do hit "Gangsta's Paradise", toca hoje no clube Royal. 18 anos.

Não, Obama, você não pode - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 04/09


O presidente evitou o desastre, mas passou longe, muito longe, da revolução que seu slogan insinuava

Barack Hussein Obama seduziu a América e uma parte do mundo a partir um slogan ("Yes we can") que é bobinho. Poder, tudo pode. O problema é fazer.

Quatro anos depois, às vésperas de Obama ser de novo entronizado como candidato, vê-se que o presidente pôde pouco, ainda mais se se levar em conta o grau de expectativas que despertou, não só com a retórica sedutora, mas, principalmente, pelo fato de ser o primeiro negro a chegar à Casa Branca.

Obama continua ligeiramente favorito, dizem as pesquisas, mas o entusiasmo que cercou a sua campanha de 2008 esfumou-se, a ponto de ter a vitória ameaçada até por um candidato opaco como Mitt Romney.

Há uma certa crueldade nesse fato, porque a gestão Obama esteve longe de ser um desastre. Ao contrário, ele evitou o desastre que ameaçava tragar a América (e o mundo) quando se elegeu. Basta ler o tenebroso retrato desse momento traçado por uma revista ("The Economist") que simpatiza pouco ou nada com o ativismo estatal que foi instrumental para evitar o abismo.

"Jamais, desde 1933, um presidente americano havia prestado juramento em um ambiente econômico tão sombrio como aquele em que Obama pôs sua mão esquerda sobre a Bíblia em janeiro de 2009.

O sistema bancário estava perto do colapso, duas grandes fabricantes de carros deslizavam para a bancarrota; e o emprego, o mercado imobiliário e a produção apontavam para baixo". Sinistro, não? Mas a tragédia foi evitada, em grande medida, porque o gerenciamento da crise pelo presidente "foi impressionante". Tão impressionante que a revista cita um estudo que mostra que os pacotes de estímulo lançados por Obama criaram ou salvaram 3,4 milhões de empregos.

A crueldade se dá por dois lados: Obama pode ter salvado milhões de empregos, mas, mesmo assim, nos seus quatro anos de gestão, o desemprego subiu de 7,2% para 8,3% -ou 1,7 milhão de desempregados a mais. Os empregos perdidos vão na conta de Obama; os salvos, não.

Segundo lado: evitar o desastre pela via do ativismo estatal custou uma catarata de dinheiro público, o que elevou em US$ 5,4 trilhões a dívida pública. Não adianta a liberal "Economist" reconhecer que, "quando os lares, as firmas e os governos locais e estaduais estão cortando seu débitos, o governo federal teria tornado pior a recessão se fizesse o mesmo".

Sensata, mas inútil constatação. A histórica "Estadofobia" do americano, anabolizada pela ascensão dos ultrafóbicos do Tea Party, transformou Obama em um irremediável perdulário com o dinheiro alheio, em vez do homem que brecou a recessão.

A crueldade, inerente à política, não é em todo o caso o único problema a dificultar a reeleição do presidente. Obama prometeu ou, ao menos, insinuou com o seu "we can" que podia tudo.

Não podia, não pôde.

A revolução que a cor de sua pele e a sua bela retórica prometiam mal saiu do lugar. Pior: os americanos abaixo da linha de pobreza passaram de 39,8 milhões para 46,2 milhões. Em vez de revolução, involução.

Lama no caminhãozinho - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 04/09


TERMINOU O período de férias no Hemisfério Norte. A agenda do tumulto já está lotada. Voltam aos palcos os dramas grego e português. Espanha e Itália esperam de pires na mão as decisões de amanhã do Banco Central Europeu. Há rumores de que a China ensaia um espetáculo inédito, a ópera do Pibinho, que no caso deles é crescer menos de 7,5%.

Notícias de um mundo distante da pastosa tranquilidade brasileira? Não, não. Isso tudo é má notícia de interesse imediato para nós, que carregamos o lastro de nossos problemas autóctones e o vento contrário que sopra do resto do mundo.

Os tecnocratas da finança pública e privada do mundo voltam aos seus escritórios com energia renovada para estrangular ainda mais Grécia e Portugal, como se isso fosse ainda humanamente possível. Humanamente, não é.

Portugal não vai atingir suas metas de redução de deficit-dívida públicos, pois afunda na recessão e, pois, pois, arrecada menos. Vai ter de pedir água.

A Grécia talvez atinja suas metas, cortando pela metade os benefícios sociais dos velhos e, talvez aumentando a semana de trabalho de cinco para seis dias, como querem os representantes dos seus credores (União Europeia, BC Europeu e FMI).

Vai dar tumulto. Tumulto na finança mundial assusta todo mundo, inclusive empresário brasileiro, já ressabiado com o crescimento miúdo do último ano e meio.

Para piorar, agosto foi um desgosto em termos de crescimento. Na Europa, a produção industrial provavelmente encolheu pelo 13º mês consecutivo.

Na China, nossa maior cliente, a indústria encolheu pela primeira vez desde 2011. As exportações chinesas, que cresciam a 20% no ano passado, crescem ora a menos de 8%. Os estoques de aço, ferro, carvão e cimento, matéria-prima da infraestrutura, aumentam. Não por acaso, nossas exportações de ferro despencam em preço e quantidade.

Os chineses estão em transição, mudando de governo e, dizem eles, de modelo de crescimento. De 2005 a 2011, cresceram cerca de 11% ao ano, em média, mesmo com o tombinho do crescimento de "apenas" 8,7% em 2009, ano de recessão feia no mundo.

Para este ano, a meta deles é crescimento de 7,5%. Por ora, está por aí, mas há risco de que a meta não seja atingida. Os líderes chineses não se movem, porém, pelo menos até agora ou até o desemprego começar a aumentar.

Parece que os chineses querem mesmo desacelerar. Isto é, reduzir investimentos em infraestrutura, responsáveis por mais de metade do crescimento do PIB; querem exportar menos, consumir mais. "Mudar o modelo", dizem.

Mas parte da freada se deve à anemia do consumo no resto do mundo, sentida em toda a Ásia exportadora -as exportações coreanas estão despencando.

Controlada ou não, contida ou destrambelhada, a freada chinesa nos afeta, assim como a todos os produtores de commodities. Os australianos, por exemplo, cheios de ferro e carvão, estão nervosíssimos com a mudança chinesa, e temem recessão para eles mesmos em 2013.

Nós deveríamos estar mais nervosos também. Europa no pantanal, EUA indefinidos e devagar e China desacelerando, tudo isso é muita lama para o nosso caminhãozinho.

Quem tem medo do Face? - PEDRO DORIA


O GLOBO - 04/09

O novo livro de Andrew Keen sugere que as redes ameaçam nossa privacidade. Verdade. Mas é ameaça difícil de cumprir

Andrew Keen esteve no Brasil, semana passada, para divulgar seu novo livro, #vertigemdigital, publicado pela Zahar. Ele é um dos mais conhecidos algozes da internet. Em seu primeiro livro, O Culto do Amador, também publicado pela Zahar, Keen defendia que a cultura contra o trabalho de profissionais que existia na rede poderia causar danos graves à sociedade. Seu inimigo do momento são as redes sociais. A tese que defende é a de que estamos abrindo mão de nossa privacidade sem sequer nos darmos conta das consequências que virão.

Privacidade é daquelas coisas que, intuitivamente, nos parecem importantes. Mas todos temos dificuldade de explicar por quê. Não bastasse, privacidade é coisa fluida. Quando um finlandês pergunta ao outro qual seu salário, ele ouve uma resposta de pronto. Ninguém vê motivo para ser discreto. Numa praia árabe, as áreas entre homens e mulheres são separadas por paredes, e mesmo na ala feminina elas se cobrem todas. Alemães vão à sauna mista nus sem que qualquer conotação sexual exista. Os mesmos alemães se insurgiram quando o Google decidiu publicar, no Street View do seu sistema de mapas, fotos das ruas que incluem, naturalmente, as fachadas das casas. Foto da casa vista da rua, por lá, é coisa privada.

O que é privado e o que é público varia de cultura para cultura, mas em todas existe privacidade. Charles Fried, um jurista de origem tcheca que foi advogado-geral dos EUA durante o governo de Ronald Reagan, tem talvez a melhor definição. Privacidade é o que define nossas relações. Os graus de intimidade que temos com as pessoas. Com aqueles mais próximos de nós, compartilhamos detalhes os mais íntimos. A partir daí, vamos impondo discretas barreiras entre nós e amigos de escola, colegas de trabalho, parceiros de pelada. Nossa capacidade de gerenciar a informação sobre nós que os outros têm define como convivemos em sociedade. Privacidade é importante por isso. Porque, se nossa vida é um livro aberto, nada nos protege do mundo lá fora.

Não é que Keen estivesse errado em sua crítica ao culto do amador, no primeiro livro. Estava certo. Mas, se a ameaça existiu, ela se desfez com o próprio avanço tecnológico. Música não era cobrada, com a loja iTunes da Apple artistas voltaram a receber pela venda de suas obras. Livros eletrônicos revelam uns poucos novos autores profissionais e a massa amadora continua no vácuo, quase nunca sendo lida. Inúmeras revistas tradicionais estão vendendo, e bem, edições eletrônicas para o tablet, caso da americana "New Yorker" e da britânica "The Economist". A ameaça de um mundo no qual produção profissional deixaria de ser remunerada num mar de amadorismo não parece que vai se concretizar.

Não é que Keen esteja errado quando aponta o risco da ausência de privacidade. Seu argumento é bem construído. Como ele próprio diz, estar ausente do Facebook não é uma opção para um número grande de pessoas. Quando todos seus amigos estão na rede social, sua ausência é um afastamento dos laços sociais. Quanto mais jovem o usuário, maior a pressão.

Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, não é o único no Vale do Silício que repete o mantra: a privacidade acabou, só você que não viu. Só que não é totalmente verdade, e Zuckerberg é a prova disso. Quando decidiu se casar, ninguém soube até o dia em que ele próprio achou por bem tornar público. Busque na internet: de que músicas ele gosta? De que livros? Em que restaurante costuma jantar? Com que amigos bebe cerveja ou vinho quando é sábado?

A maioria dos empresários do Vale do Silício são pessoas reservadas. Talvez seja fácil encontrar suas casas, quase todas em Palo Alto, no Google Maps. Vez por outra sai por aí a foto de um deixando o Whole Foods com uma sacola de verduras frescas. Mas a turma de Hollywood, uns quilômetros ao Sul, parece ser mais evidência de que a privacidade está em risco do que os inventores das novas tecnologias. E, no caso de Hollywood, aquela privacidade está sob ameaça desde que há cinema.

Há riscos sim, e concretos, para nossa privacidade. O mais provável, no entanto, é que privacidade será redefinida. Como? Excelente pergunta.

Batalhas verbais - JOÃO PEREIRA COUTINHO


FOLHA DE SP - 04/09

Primeira lição: não existem grandes escritores que não sejam grandes leitores também

NO DIA em que terminei de escrever a minha tese de doutorado, enviei o manuscrito para um colega. E pedi uma opinião sincera.

Três dias volvidos, ele respondeu: "Você vai ser fuzilado pela banca".

O problema estava na qualidade do texto. A tese estava bem escrita. Pior: bem escrita e totalmente compreensível.

Eu tinha cometido uma heresia nas ciências sociais: escrever uma tese de doutorado com o propósito honesto de ser lido e compreendido. Sugestão dele para evitar o desastre: reescrever o texto e transformar cada parágrafo em paralelepípedo.

Lembro essa história agora por dois motivos. Primeiro, porque Barton Swaim escreve na "Weekly Standard" sobre a qualidade da prosa acadêmica. Qualidade atroz, entenda-se. Por que motivo a Faunauniversitária faz um esforço tão tortuoso para ser tortuosa?

Swaim arrisca três hipóteses. Para começar, as humanidades vivem o complexo de inferioridade que as atormenta desde o século 18, quando as ciências naturais deram o seu salto cosmológico. A impenetrabilidade dos textos humanísticos é uma forma de simular "profundidade".

Depois, existe o problema das influências. Das más influências. O aluno escreve mal porque o supervisor e os seus pares escrevem pior. E porque as revistas da especialidade só publicam esses horrores.

Por fim, a hipótese mais provável: a obscuridade obscurece. Quando nada temos de relevante para dizer, só há uma forma de esconder o vazio: com a babugem das palavras.

Admito que essas hipóteses sejam válidas. Mas se lembro o meu calvário acadêmico é por outra razão: a Morgan Library de Nova York dedica exposição ao escritor Winston Churchill até 23 de setembro. E foi Churchill quem me infetou com o vírus da clareza e da legibilidade.

Sim, eu sei: quando falamos de Churchill, surge a imagem clichê do velho premiê inglês com o seu charuto. O prêmio Nobel da Literatura que ele recebeu em 1953 é visto apenas como prêmio político, uma homenagem ao herói da 2ª Guerra.

Lamento discordar. Churchill merece o Nobel da Literatura como ninguém. Ele é o único escritor do século 20 que mudou o século com a força das palavras. Basta ler os seus livros e discursos para entender a proeza. Uma proeza que, obviamente, começa por ser o resultado de uma vida inteira de leitura.

Primeira lição: não existem grandes escritores que não sejam grandes leitores também. E Churchill era um grande leitor. Biografias apressadas dirão que o rapaz foi aluno relapso e uma nulidade em francês ou matemática.

Essas biografias esquecem-se de acrescentar o resto: a paixão pela História. Ainda na juventude, e nas primeiras campanhas militares, foram os volumes de Macaulay sobre a história de Inglaterra ou a monumental obra de Edward Gibbon sobre a Roma Antiga que acompanharam e formaram o soldado (e jornalista) Winston.

Ler esses primeiros textos de Churchill é sentir, em cada frase, a cadência e a elegância dos mestres da língua inglesa.

Mas Macaulay ou Gibbon não lhe forneceram só os instrumentos técnicos do "métier". Legaram-lhe, sobretudo, uma visão poderosa e inspiradora sobre a grandeza da civilização ocidental -uma grandeza ancorada na liberdade individual e na dignidade da pessoa humana.

Armado com tais certezas, Churchill teve a oportunidade de as testar. Primeiro, na denúncia solitária da Alemanha nazista na década de 1930. E, depois, no confronto direto com Hitler, fazendo com que os ingleses acreditassem no inacreditável: a possibilidade de resistir -e vencer.

Hoje, quando olhamos para trás, dizemos que a Inglaterra ganhou a guerra com o apoio americano e o incomensurável sacrifício soviético. Verdade.

Mas os ingleses ganharam a guerra porque acreditaram também nas palavras de Churchill. Palavras simples sobre a importância da liberdade, da honra e do sacrifício.

Como disse Isaiah Berlin em retrato magistral, a proeza maior de Churchill não foi política ou militar. Foi ter recrutado a língua e a história inglesas para a frente de combate. Elas foram tão importantes como as armas. Brindo a ele.

E, mais modestamente, brindo a mim, que derrotei a banca sem mudar uma vírgula. Cada um trava as batalhas que merece.

A ''islamizaçao'' da política, Serra e PT - ARNALDO JABOR


O Estado de S.Paulo - 04/09


Vende-se um candidato como se vende margarina. A perversão do marketing transformou as campanhas eleitorais em uma estratégia de insinceridade, em que os marqueteiros ‘adivinham’ o que o povo quer para o candidato se adaptar a esse ‘desejo’. Assim, todos querem ser eleitos pelo que não são, mas pelo que parecem, seguindo o exemplo bem-sucedido do ‘showman’ Lula que, na linha de Jânio, bastou ‘parecer’. É a estratégia em vez da verdade: ladrões aparentam honestidade, o comuna finge de liberal, o durão finge de bonzinho.

Em São Paulo há um lugar reservado para um populismo tradicional que, de certo modo, a polarização entre PT e PSDB ensombreceu nos últimos anos; este espaço da ignorância já foi ocupado por Ademar, por Jânio, por Maluf (conversem com motoristas de táxi). O vazio está sempre à espera de um impasse político, para que a ‘massa atrasada’ (um termo do PT) corra a eleger um novo demagogo.

Com o crescimento econômico da chamada classe C, o populismo tende a ser mais mágico, mais imediatista, em busca de sucesso e riqueza, um populismo consumista e conservador.

Quem ocupa esse espaço vazio é justamente o movimento evangélico em seus galpões lotados de milhares de pagadores de dízimos à espera de milagres e riqueza.

E o milagreiro da hora será o Russomanno, que é representante da Igreja Universal. Ele nega, claro, mas seus programas de TV só vão ao ar depois de passar pela direção de jornalismo da Record, enquanto obreiros da Igreja Universal visitam casas da periferia, distribuindo santinhos do Russomanno.

Assim, amigos leitores, pode ser que em 2013 a cidade de São Paulo seja governada pelo bispo Edir Macedo, o rei dos supermercados da fé que crescem no País e no exterior. Há pouco, uma marcha reuniu 4 milhões nas ruas de São Paulo, todos embalados pelo desejo de alguma certeza palpável, que os evangélicos prometem. Vejam na TV os milhares de rostos famintos de resposta para suas vidas angustiadas, pastoreados por bispos que parecem assaltantes, gordos, vulgares e milionários com fazendas, aviões e apartamentos em Miami.

Ou seja, está surgindo uma espécie de "islamização" da política no País, com os votos comandados fortemente pelas Igrejas. Já há milhões de fiéis que votam com Deus e política, como no Islã. E há uma sutil coincidência entre isso e o "midiatismo" lulista também feito de abstrações e promessas gerais: o carisma milagreiro da aparência contra a realidade.

Em ambos, no ‘midiatismo’ e no "islamismo caboclo", existe algo de divinal, místico.

Muitas pessoas do enclave "ademar de barros/jânio/maluf" vão votar no Russomanno por quê? Por ordens do bispo, claro, mas muitos também porque sua candidatura tem um sabor de negação da política costumeira, como apostar na zebra porque os cavalos favoritos não resolveram nada. Há algo do ‘efeito Tiririca’ nisso tudo.

No mundo inteiro, a crise econômica e política favorece líderes reacionários. Dentro dos impasses geram-se os canalhas.

O fascista Chávez vai ser reeleito, o fanatismo árabe persiste para além da ‘primavera’, o repulsivo Mitt pode ganhar nos USA e levar o Ocidente ao caos. Aqui, a cidade mais importante da América Latina pode ser entregue ou a uma sutil "teocracia oportunista" ou aos conquistadores do PT, em busca de mais um território tomado para ‘não’ ser governado. E no meio, o José Serra acreditando na racionalidade. Em meio a esse ‘místico peleguismo’, como explicar as vantagens da ‘social democracia’ para uma população semianalfabeta?

Mas, Serra também errou. Tudo começou em 2002 quando, diante de meus pobres olhos perplexos, Serra não defendeu o governo de FHC diante dos ataques de Lula no debate. Eu vi a cara do Lula quando percebeu que a intenção do adversário era ‘não’ defender o excelente governo que acabara com a inflação, fez reformas, etc... Por estratégia (quem foi a besta que inventou isso?), ninguém podia defender os grandes feitos que o PSDB tinha conseguido... Lula, espertíssimo, deitou e rolou nesse equívoco imperdoável, inesquecível, que começou a derrotar o próprio Serra e o tucanato por tabela. Nunca entenderei isso. Como não demitiram o chefe da campanha e deixaram-no persistir nos erros até hoje? Serra acreditou no marketing em vez de crer em si mesmo e em sua verdade.

Conheço-o há muitos anos e sei de sua enorme competência administrativa, seu amor ao progresso por adesão à razão. Mas conheço também sua astronômica teimosia, sua autossuficiência de filho único, sua hybris (‘arrogância’ que provoca punição dos deuses nas tragédias), como apontou o Demétrio Magnoli outro dia. É trágico vermos o crescimento do erro.

Conheço bem o Serra e sei que ele não é ‘bonzinho’ e sorridente como mandam os marqueteiros.

O sorriso de Serra prometendo coisas na TV soa falso; o povão percebe que algo ali está faltando na fala dele. O que falta? Falta a sua sinceridade: Serra é zangado, ‘empombado’ e quer realmente fazer um bom governo. Teria de assumir isso, enquanto é tempo. Tem superar seu complexo de Édipo e chamar FHC para a campanha (o que não fizeram até agora), tem de mostrar com clareza, com imagens, o importantíssimo trabalho que fez como ministro da Saúde e não ficar dando sorrisinhos de Papai Noel na TV. O eleitor respeita gente sincera, cortante, corajosa. Ele tem de mostrar as aventuras populistas e falar das acusações que pesam sobre o Russomanno, como as supostas ações de falsidade ideológica, a acusação de seu uso indevido da advocacia, seu suposto envolvimento com o Cachoeira.

E mais: ele errou ao subestimar o papelucho que assinou na TV dizendo que não abandonaria a Prefeitura. O povo não perdoa o descaso com que tratou o ridículo juramento. Ele tinha sim de chamar testemunhas, até religiosos e juristas e, fazendo um pouco o jogo do populismo ‘midiático’, jurar solenemente diante de todos que jamais largará a Prefeitura.

Serra tinha de cumprir sua melhor promessa, quando se lançou em 2010: "Se vierem com mentiras, responderei com verdades".

O filho bastardo - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SP - 04/09


O fenômeno Celso Russomanno poderia ser colocado na conta da inquebrantável tradição do populismo conservador paulistano. Tradição que já deu para a cidade prefeitos como Adhemar de Barros, Jânio Quadros e Paulo Maluf (com suas emulações tecnocratas, Pitta e Kassab). Políticos conservadores que, cada um à sua maneira, encontraram alguma forma de se colocar como caixa de ressonância dos medos populares.

Porém é provável que seja necessária uma variável a mais para compreendermos um fenômeno eleitoral sobre o qual todos, até agora, quiseram acreditar que era transitório. Pois se existe alguma coisa em Russomanno que nos remete aos arcaísmos de São Paulo, há algo que deve ser compreendido em outra chave. Na verdade, ele é uma expressão mais bem-acabada de um certo conservadorismo pós-lulista ou, se quisermos, um conservadorismo que aparece como filho bastardo do lulismo.

Entre outras características, o lulismo definiu-se pela aliança política de setores da esquerda brasileira e alas de políticos conservadores à procura de sobrevida ou em rota de colisão com a hegemonia PSDB-DEM.

Tal aliança permitiu, por um lado, a constituição de um sistema de seguridade social de extensão até então inédita no Brasil. Por outro, ela consolidou a ascensão econômica de largas parcelas da população brasileira por meio, principalmente, da ampliação das possibilidades de consumo.

Note-se que tal ascensão econômica, com seu consequente sentimento de cidadania conquistada, não passou pelo acesso a serviços sociais ampliados e consolidados em sua qualidade. Afora a importante expansão das universidades federais, ascensão significou poder pagar escola privada, plano de saúde privado, celular, eletrodomésticos e frequentar universidade privada. Ou seja, os direitos da cidadania foram traduzidos em direitos do consumidor.

Nesse contexto, nada mais compreensível do que um pretenso "patrulheiro do consumidor" aparecer como representante dos anseios da nova classe média. Para quem alcançou a cidadania por meio do consumo (animado por uma igreja que é a representante maior da teologia da prosperidade), a defesa dos direitos segue a lógica do Procon.

Por outro lado, como parlamentar de partidos da base aliada, Russomanno não precisa carregar o peso morto de ser um candidato anti-Lula: o calcanhar de aquiles da política brasileira. De toda forma, como o lulismo foi o resultado de acordos políticos heteróclitos, nenhum basteamento ideológico foi possível. Sempre houve um conservadorismo que cresceu sob as asas do novo governo. Agora, ele se apresenta em voo próprio, como um filho bastardo do lulismo com o populismo conservador.

GOSTOSA


Dilma vai pagar para ver - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 04/09

O Planalto quer que a Câmara vote o Código Florestal. Depois das alterações feitas pelo Congresso e da cobrança pública da presidente Dilma nas ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente), pior seria deixar a MP perder a validade, dia 8, e ter que começar do zero. Dilma vetará o que não quer e editará nova MP incluindo o que for derrotado.

Na dependência estrangeira
O governo resolveu adiar o lançamento do programa de concessões de portos e aeroportos, previsto para o início deste mês, porque espera o aval de investidores estrangeiros consultados na semana passada. A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) fez um tour pela Europa para apresentar aos empresários interessados os termos do negócio. Ontem, relatou à presidente Dilma Rousseff como foram as conversas com os futuros sócios. Ficou decidido que a desoneração de energia elétrica será anunciada na semana que vem, independentemente de o restante do pacote de concessões estar finalizado ou não.

"A greve tem de ser um direito. Não se pode aprovar lei que proíba tal direito. Existe um movimento de paralisação que precisa ser respeitado
Paulo Paim Senador PT-RS

Vídeos deletados
Vídeos de ministros em apoio a João Paulo Cunha (PT-SP) a prefeito de Osasco foram deletados do site do PT assim que ele renunciou, para a oposição não usar contra o partido. Alguns não estavam prontos e sequer foram finalizados.

E o Orçamento?
Senado e Câmara marcaram esforços concentrados em semanas alternadas, e esqueceram a Comissão Mista do Orçamento. O governo mandou o texto semana passada, e o presidente da comissão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), não consegue marcar as reuniões. Pediu providências aos presidentes das duas Casas.

Na pressão
O PT pressiona para que a presidente Dilma entre em campo na campanha de Humberto Costa a prefeito de Recife. Argumenta que, se o candidato Geraldo Júlio (PSB) vencer, o governador Eduardo Campos se fortalece para 2014.

Transparência zero
A página de transparência da Câmara não identifica nem os nomes nem a matrícula dos servidores da Casa ao divulgar os salários que recebem. Quando algum cidadão tenta verificar os rendimentos de um funcionário, somente consegue visualizar um número que compõe um banco de dados interno a que apenas os diretores têm acesso. Nem o servidor entende.

Atenção, gravando!
O vice Michel Temer e o presidente nacional do PMDB, Valdir Raupp, finalizaram no fim de semana uma maratona de gravações para candidatos a prefeito e vice do partido nestas eleições. O trabalho rendeu 8.380 vídeos.

Trabalho adicional
Chegaram à Comissão Especial do Código Penal 101 projetos de lei sobre o assunto. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), quer o novo texto aprovado no plenário em dezembro. O jeito vai ser ampliar as reuniões e fazer força-tarefa.

A JUDOCA SARAH MENEZES, medalha de ouro em Londres, conduzirá fogo simbólico no desfile de Sete de Setembro, na Esplanada dos Ministérios.

Chávez ameaça - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 04/09


O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tem reagido como se esperava -da pior maneira possível- à simples perspectiva de alternância de poder no país.

A pouco mais de um mês do pleito em que tentará seu terceiro mandato consecutivo, o presidente declarou no domingo que uma vitória da oposição "talvez" não chegue a provocar uma guerra civil na Venezuela, mas certamente provocaria uma crise "política, econômica e social".

A ameaça mal dissimulada veio após a divulgação de pesquisas de intenção de voto que apontam o crescimento do candidato da oposição, Henrique Capriles. Na sondagem mais recente, os dois postulantes aparecem em empate técnico -mesmo resultado de agosto em outra pesquisa.

O instituto independente Datanálisis, contudo, apesar de identificar a ascensão de Capriles, ainda aponta Chávez com vantagem de mais de dez pontos percentuais.

O tom beligerante do líder bolivariano denota seu pouco respeito ao processo democrático, cujas formalidades mínimas ainda sobrevivem no país. Seria ingênuo esperar outra reação de um chefe de governo que tenta confundir sua imagem com a das instituições públicas e não hesita em demonizar a oposição, restringir a liberdade de imprensa, subjugar o Legislativo e interferir no funcionamento do Judiciário.

Tanto quanto a democracia, a economia na Venezuela tem sofrido as consequências do populismo chavista. O crescente controle estatal sobre as mais diversas atividades cobra preço alto, com aumento da inflação e queda na eficiência de empresas e serviços.

As dificuldades criadas pelo regime têm, por outro lado, favorecido os adversários. Menos radical do que no passado, a oposição surge com chances de ameaçar o caudilho bolivariano nas urnas.

As recentes declarações, sinal da preocupação de Chávez com o pleito, despertam temores quanto aos desdobramentos de uma eventual vitória oposicionista.

A democracia é uma valiosa conquista regional e -vale lembrar- um requisito para as nações participarem do Mercosul. Qualquer desvio da normalidade democrática deverá, evidentemente, ser refutado pelo Brasil e pelos demais membros do bloco.

Um novo enredo - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 04/09


O ministro Ricardo Lewandowski abriu seu voto renegando a percepção de muitos de que não leva em conta os indícios e conexões dos fatos para construir sua convicção, atendo-se apenas à "verdade processual".

Ao tratar da responsabilidade dos dirigentes do Banco Rural, ele fez questão de ressaltar que votaria seguindo o relator Joaquim Barbosa porque, além de provas dos autos como relatórios internos do próprio banco e do Banco Central, havia muitos indícios demonstrando que os empréstimos ao PT e à agência publicitária SPM&B foram feitos com normas mínimas de segurança, revelando serem "de pai para filho", fora dos padrões normais dos bancos.

Aqui, abro um parêntesis para comentar a análise do advogado Márcio Thomaz Bastos, que defende o ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado. Bastos lamentou com repórteres que os ministros estejam dando tanta importância aos relatórios internos do próprio banco; segundo ele, é "normal" que ao final a diretoria decida a conveniência ou não de empréstimos desse tipo. Assim, admite implicitamente o caráter "político" dos empréstimos. Voltando ao voto do revisor, os indícios não levaram Lewandowski a se convencer de que, como acusa o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e endossa Joaquim Barbosa, os empréstimos foram fictícios, para encobrir o dinheiro desviado dos cofres públicos que foi distribuído por Marcos Valério a petistas e políticos aliados.

Para Lewandowski, houve gestão fraudulenta sim, mas para agradar o empresário que os diretores do Banco Rural consideravam que teria influência no governo petista, e poderia abrir as portas para bons negócios futuros. Pode estar aí a explicação do voto do revisor, que até agora não conseguiu ver nexo entre o desvio do dinheiro público e o mensalão. Ele está criando um novo enredo, não se sabe com que fim.

Ao condenar o diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, por desvio do fundo Visanet para a conta de Valério, o ministro Lewandowski tratou o assunto como se fosse um crime isolado, um mero trambique entre Pizzolato e Valério, sem nada a ver com o dinheiro que o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, recebeu do mesmo Valério, aceitando a tese da defesa de que o mandante do dinheiro fora o tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Chegou a entusiasmar o advogado Márcio Thomaz Bastos, que considerou seu voto a vitória da tese do caixa 2 eleitoral. Uma maioria de 9 ministros não aceitou a tese do revisor, à qual apenas o ministro Dias Toffoli aderiu. Já agora, ao condenar o Banco Rural por gestão fraudulenta para agradar a um empresário que teria bom trânsito com o PT, o ministro Lewandowski está entrando por outra senda, diferente da explorada pelo relator, mas que vai dar igualmente no conluio de um empresário corrupto com o partido do governo. Se o dinheiro que Valério distribuiu para o PT e seus aliados era do "empréstimo" do Rural, pelo menos Delúbio Soares e José Genoino, que o assinaram, teriam cometido peculato, pois para isso não é necessário fazer nenhum ato ilegal, mas apenas sugerir a possibilidade. E não é necessário que o dinheiro seja público ou privado. Mas eles não estão acusados desse crime. Vai ser difícil então inocentá-los da acusação de corrupção ativa.

Provavelmente, Lewandowski vai dizer que havia dinheiro legal e ilegal na distribuição feita por Valério. Mas se o empréstimo do PT foi real, por que o dinheiro distribuído aos políticos, por ordem de Delúbio, tinha que sair do bolso de Valério, através da SMP&B? E por que só foi pago muitos anos depois de tomado?

Entender que os empréstimos eram verdadeiros, mas dados através de métodos fraudulentos, torna a história mais complicada e menos verossímil que a do procurador-geral da República, assumida pelo relator Joaquim Barbosa. Resta ver para onde a maioria do plenário do Supremo seguirá desta vez.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o único político da oposição que consegue tirar o ex-presidente Lula do sério. A cada artigo mensal com críticas ao PT e a Lula, o ex-presidente sai de seus cuidados para atacar o inimigo íntimo. Desta vez, colocou a a presidente Dilma em situação delicada, exigindo dela um posicionamento oficial, quando deveria ter sido ele a se defender dos ataques de Fernando Henrique. Dilma voltou a comportar-se como subordinada de Lula. A hieraquia petista falou mais alto.

Ueba! Bola da Copa é a Suelen! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 04/09


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Polícia apreende notas falsas de R$ 3 em Caicó, RN". Que falçanha! Nota de R$ 3 já é falsa. Falsificar nota falsa é uma falçanha! E parabéns pra polícia pela rapidez com que notou a falsificação! Rarará!

E esta: "Viúva de Elvis Presley chega a São Paulo". Mas o Elvis não morreu! Eu faria a legenda assim: "Viúva do Elvis Não Morreu chega a São Paulo".

E confirmado! Saiu o nome da bola oficial da Copa: Brazuca! Uma bomba! Com a violência que tá no Brasil, devia ser Bazuca! E um amigo diz que essa bola bazuca é boa pra futebol na família dele: só tem canhão! Dispara a bazuca!

Eu queria PIRIGUETI! Tinha que ser um nome bem brasileiro. Então, pirigueti! O Brasil é o País das Piriguetis! Já imaginou o locutor? PIMBA NA PIRIGUETI! Bolas Suelen nunca cedem! Os leitores também sugeriram Jaburlamos, Propina e Corrupta! Acho muito político. Bola Protesto! E outros ainda gostariam de Ronaldo . Acho fofo! "Tarde se sol no Maracanã! Rola o Ronaldo !". Rarará! Lembra Bazuca!

E o Hilário Eleitoral! A Hora do Espanto! O Haddad parece de borracha. De massinha. O candidato massinha! O Serra tá ficando mais velho que o Sarney. Só falta o bigode. O Sarney de São Paulo. Rarará!

O Russomanno tem cara de novela mexicana. Vai transformar São Paulo numa novela mexicana! "María la del Barrio." "Os Ricos Também Choram." E o Chalita só usa três palavras: picuinha, picuinha e picuinha. É o Zé Picuinha! Então eu vou votar nele só de picuinha. Isso. Vou votar no Chalita só de picuinha!

E continua o Nepaitismo: "Wagner Montes, o Filho! Esse vai dar trabalho!". Esse deve dar um trabalho! Rarará! Filho que dá trabalho! E um outro aproveitou a greve da Anvisa: Rato do Bar. Aproveitou que a vigilância sanitária tá em greve! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E a Bienal? Como na Bienal só tem instalação, eu tenho pena dos funcionários que vão ter que embalar tudo aquilo de volta. Se é que os artistas querem tudo aquilo de volta. E instalação é o Rio Tietê: sofá mofado, pneu velho e pet! E o servente perguntou pro artista: "Essa vassoura velha é arte?". E o artista: "Não, mas você me deu uma grande ideia". Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Estatizantes e privatistas? - ANTONIO DELFIM NETTO


Valor Econômico - 04/09


O Brasil não resiste a uma boa dicotomia, mesmo que ela seja meramente semântica e, principalmente, se desprovida de conteúdo. Todos têm de ser ou keynesianos ou não keynesianos; marxistas ou contra Marx; defensores do "mainstream" ou heterodoxos; defensores do Estado mínimo e do setor privado máximo, ou vice-versa, um Estado máximo e um setor privado mínimo; desenvolvimentistas ou monetaristas. Cada uma dessas categorias é um conjunto vazio.

É verdade absoluta que: Marx nunca foi marxista e tinha dúvidas sobre eles; Keynes nunca foi keynesiano e desconfiava de quem declarasse que o fosse; Samuelson, o criador da síntese neoclássica, teve frequentes achaques de fraqueza heterodoxa; o sempre abusado Hayek foi muito melhor e mais sofisticado do que o que supõem os "não hayekianos". Nunca defendeu o mercado perfeito e desconfiava das "perturbações" financeiras.

Nem o mais míope dos desenvolvimentistas nega as restrições impostas pelas limitações da poupança interna, os riscos da externa e a necessidade do equilíbrio monetário; nem o mais exagerado monetarista ignora o fato que o "equilíbrio monetário" não é fim em si mesmo, mas instrumento para acelerar o crescimento e, não, inibi-lo...

Pois não é que neste momento importante, em que se procura (e se espera, com leilões bem feitos) transferir boa parte dos investimentos de infraestrutura para o setor privado - que é mais eficiente e tem como obter recursos fora do Tesouro -, a mídia descobre que o governo está supostamente infectado no setor aeroportuário por duas novas categorias: os "privatistas" e os "estatizantes". Divergem sobre o papel da Infraero, papel sobre o qual, aliás, a sociedade brasileira tem sérias críticas, e de cuja eficiência é licito duvidar-se dado ao seu mal de origem...

A Infraero, como todo ser (público ou privado), tem no seu DNA a inexorável propensão à sobrevivência e à sua reprodução. Eles são organismos vivos, cujos colaboradores buscam a sua cota de poder, aumentando o número de seus subordinados, como afirma a velha lei de Parkinson. A questão nada tem de ideológica. Tem a ver com o poder detido nas mãos dos administradores! Tudo absolutamente humano, natural, quase biológico! Com que misteriosa racionalidade há de convencer-se alguém que deve ceder o seu pequeno "espaço de poder", duramente conquistado e bravamente defendido a cada ano no Congresso Nacional para ampliar o seu orçamento?

O mundo não está ameaçado pelos problemas dos mercados (que são muitos), ou do "capitalismo privado", mas por uma falha dos governos, que foram incapazes de manter sob a rígida regulação (construída nos anos 30 do século passado) o sistema financeiro. Apesar de todas as incertezas que nos cercam, resta uma certeza: o mundo não vai acabar. Vai sair desta crise melhor do que entrou: mais eficiente e mais igualitário. É apenas uma questão de tempo, talvez anos.

Continua a atuar o processo civilizatório, iniciado com a incorporação e expansão do uso do conhecimento científico e tecnológico, combinado com o sistema de sufrágio universal, na grande maioria dos países. Foi ele que trouxe o mundo da Idade da Pedra à da informática. Gozamos do benefício de estar no mundo e vamos pagar o ônus de nele estar, mas é mais do que evidente que temos uma boa margem de manobra para prosseguir no nosso crescimento. Temos, obviamente, uma miríade de problemas a resolver, mas não podemos atacá-los ao mesmo tempo. Temos de hierarquizá-los.

É mais do que claro que hoje os constrangimentos impostos pela deficiência de nossa infraestrutura, e suas consequências logísticas, colocam-na como primeira prioridade. Acertadamente, o governo acaba de lançar um grande programa de concessões e recriar uma empresa para cuidar do problema logístico, abandonado desde 1985. O problema fundamental é que não existem recursos públicos para atendê-los. É preciso, portanto, cooptar o setor privado, que tem recursos, com leilões seguros, que fixem as condições mais adequadas para sua compatibilização com o interesse público.

Não adianta tergiversar ou filosofar. O governo - e muito menos o BNDES - não cria recursos. Na melhor das hipóteses, o primeiro pode economizar no custeio e aumentar seus investimentos. No limite, poderia aumentar os impostos e desperdiçá-los na baixa produtividade dos investimentos que faz diretamente, reduzindo ainda mais o crescimento.

O Tesouro só tem recursos se houver um superávit fiscal autêntico, ou um aumento do endividamento junto ao público que, para ser efetivo, tem de reduzir ou o consumo, ou o investimento privado, diluindo parte do seu efeito no crescimento.

Deve ser claro que tal disputa (se existir!) não é sobre racionalidade econômica, mas sobre as conveniências do "poder" de controlar diretamente a atividade. Isso nos leva ao eterno problema: a maior influência política na execução direta dos investimentos é, frequentemente, acompanhada de maior desperdício e menor eficiência à custa do desenvolvimento social e econômico do país.