domingo, dezembro 07, 2014

Procura-se credibilidade - CELSO MING

O ESTADÃO - 07/12

O novo ministro do Planejamento, ainda não empossado no cargo, Nelson Barbosa, jogou no lixo as previsões sonháticas da atual ministra Miriam Belchior sobre o crescimento econômico de 2015. Em vez de 3,0% de avanço do PIB, que não está em nenhuma projeção séria, Barbosa escreveu 0,8%. Em vez dos otimistas 5,0% de inflação, deverá ser algo em torno de 6,5%. Esse número não está no documento do Ministério do Planejamento, mas se é para ficar com o do mercado, então tem de ser esse mesmo.

Alterações entre as magnitudes macroeconômicas como essas não são indiferentes porque a equação da arrecadação, variável necessária para definir o Orçamento da União, tem de partir da força da atividade econômica e da inflação. É sobre a produção e sobre os preços que se calculam os impostos. Foi por isso que o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias recebeu os novos valores. A mudança de orientação foi saudada como indicação de mais realismo por parte da nova equipe econômica, empenhada em ganhar credibilidade.

Em agosto, quando o projeto da LDO foi encaminhado ao Congresso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu suas projeções fictícias com o argumento de que “são números sujeitos a revisão; não cabe exatidão quando não se sabe o que vai acontecer”.

A mudança de postura vale algumas observações. A primeira tem a ver com o que disse Mantega. O comportamento da economia real quase nunca confere com o projetado meses antes. Mas o desvio é sempre maior em três circunstâncias: quando ocorrem fatos inesperados, como catástrofes ou forte crise; quando a economia atua com grandes distorções, como a do Brasil, o que torna mais difíceis as previsões; e quando o critério das projeções tenta mudar a realidade à força. No governo do PT, os três fatores ocorreram simultaneamente, mas esse terceiro merece consideração extra.

Prevaleceu até agora no governo Dilma o ponto de vista de que a realidade tem de ser transformada com seguidas demonstrações de atos de vontade, dentro do princípio de que “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

Nas esquerdas, esse imperativo ganhou força a partir de 1917, quando a Revolução Russa teve de ser feita com queima de etapas. Lenin não podia esperar até que o proletariado industrial aparecesse e alijasse a burguesia do poder. Era preciso saltar daquela base agrária e atrasada para a sociedade socialista em que a propriedade dos meios de produção fosse imediatamente estatizada.

Em alguma medida, o governo Dilma herdou esse voluntarismo e tratou de enquadrar nos espartilhos tudo quanto não coubesse no modelito. Grande parte das distorções proveio daí. Se os preços não se comportam como o esperado, represem-se as tarifas dos combustíveis, da energia elétrica e dos transportes urbanos. Para garantir um superávit primário de 3% do PIB, então trate-se de arrancar crescimento econômico a fórceps. O dinheiro é curto para todos os projetos de investimento? Então que se forcem os empresários a aceitar obras com baixo retorno, junto com apelos a que “soltem seu espírito animal”.

Os resultados dessa política são conhecidos: fracassos, outras distorções e perda de credibilidade. A nova equipe se propõe a tocar um programa sem sobressaltos. Não deixa de ser um bom começo. Mas vai ser preciso ver mais para crer.

CONFIRA:

Do início de novembro até sexta-feira, os preços do petróleo Brent caíram 18,4% e os do WTI, caíram 15,8 %.

Voto distrital
Para o ex-ministro Delfim Netto, as principais disposições de uma reforma política são a cláusula de barreira e o voto distrital. A cláusula de barreira tende a reduzir fortemente o número de partidos políticos, hoje de 22 com representação no Congresso. O voto distrital institui uma séria patrulha sobre os políticos. Mas produzirá importante consequência: a Igreja Universal dificilmente conseguirá eleger representantes.

Estão rodando o Guido 2.0 para Levy - ELIO GASPARI

O GLOBO - 07/12


Não se sabe o que a doutora Dilma prometeu a Joaquim Levy. Sabe-se, contudo, o que ele prometeu à patuleia: Um superavit de 1,2% do PIB nas contas públicas de 2015. Para cumprir essa meta, o enxugamento deverá ficar em algo como R$ 100 bilhões. Se o negócio fosse viver no mundo das promessas, o novo ministro da Fazenda teria surgido com uma plataforma mais gastadora que a de seu antecessor. Afinal de contas, o comissário Mantega prometia um aperto ainda maior, com um superavit de, no mínimo, 2% do PIB. Como suas projeções eram produto da ficção petista, Levy poderá ser um ministro racional e severo. A ver, mas R$ 100 bilhões não nascem em árvores.

Levy ainda não assumiu e o Planalto mandou ao Congresso uma medida provisória que joga no BNDES mais R$ 30 bilhões do Tesouro. Isso sem se mencionar que a doutora Dilma sancionou um refresco para estados e municípios endividados que custará à Viúva R$ 59 bilhões em 25 anos e R$ 1 bilhão já em 2015.

Até agora, a entrada de Levy para o governo serviu apenas para criar a esdrúxula situação de que há dois ministros da Fazenda, um em fase de transição e outro em extinção. Para assustar os crédulos, saiu da caixa de mágicas de Mantega uma proposta de equilíbrio das contas externas taxando-se bens supérfluos, como os cosméticos. Não se trata apenas de um truque inútil. Ele é sobretudo velho, como se o problema das importações estivesse no batom das senhoras.

A doutora Dilma gostava de dizer que o tucanato quebrou o país três vezes, e que Aécio Neves tiraria a comida dos pobres para alegria dos banqueiros. Até agora, promoveu uma das maiores contrações de expectativa de crescimento do PIB da história econômica do país caindo de 3% em agosto para 0,8% na semana passada. Chamou para o governo um quadro que começou sua fama pública no governo Fernando Henrique Cardoso e a fama privada num grande banco. Caso a doutora queira rodar o software Guido 2.0 na máquina de Levy, queimará os circuitos da economia.

O advogado geral do PT

É sabido que o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, doutor Luís Inácio Adams, pode vir a ser indicado pela doutora Dilma para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Se ele é candidato, não deve ajudar quem teme a bolivarianização da Corte. Diante da afirmação de um magano das petrorroubalheiras de que sua empresa (Toyo Setal) pagou sua propina ao comissariado doando legalmente R$ 4 milhões ao PT, Adams informou: “Eu tenho confiança de que o trabalho de campanha foi o mais cuidadoso, mais atento possível às questões legais.”

Não é função do advogado geral da União distribuir confiança. Ao passar o dinheiro de forma legal, a Toyo Setal também poderia dizer que foi “cuidadosa”, mas seu diretor confessa agora que foi jabaculê. Isso é o que ele diz, pois será sempre necessário provar que uma doação legal se relaciona com um ilícito. Afinal, se uma doação de empreiteira ao PT nacional é jabaculê, por que um outro mimo, de outra empreiteira, ao PSDB de São Paulo, não o é?

O doutor Adams lustrou a ciência jurídica nacional no ano passado, quando discutiu a possibilidade de que médicos cubanos pedissem asilo ao governo brasileiro: “Nesse caso me parece que não teriam direito a essa pretensão. Provavelmente seriam devolvidos”. Ele vocalizava e endossava uma ameaça do aparelho policial cubano. Pelo menos cinco médicos resolveram ir embora, quase sempre para os Estados Unidos, onde trabalhariam em funções subalternas. Felizmente, nenhum foi mandado de volta para Cuba.

Em silêncio

Quem está acompanhando a investigação das petrorroubalheiras pelo lado espetaculoso tem razões para começar a ficar confuso, até entendiado. Não há ainda razão para desânimo, pois as coisas boas continuam andando, fora dos refletores.

Há poucos dias um magano descobriu que sua conta num banco suíço estava bloqueada. Assustou-se, assustando alguns de seus amigos. Na hipótese otimista, o banco teria bloqueado seu dinheiro por conta de algum mecanismo interno. Na outra, o bloqueio teria sido pedido pelo governo brasileiro. Não deu outra. O nome do magano ainda não apareceu em qualquer noticiário e ele não chegou a ser diretor da Petrobras. Seu negócio ficou na área da consultoria, com algumas operações africanas.

Os amigos estão assustados porque quando uma conta é bloqueada, todas as suas conexões são rastreadas.

Madame Natasha

Madame Natasha esteve no grupo que fundou o movimento “O Petróleo é Nosso” e por mais que espere que os petrocomissários lhe mandem algum mimo, continua a pão e água. Ela concedeu à doutora Graça Foster mais uma de suas bolsas de estudo pela seguinte pérola numa nota oficial do anúncio da criação do cargo de diretor-xerife:

“A missão do novo diretor é assegurar a conformidade de processos e mitigar riscos nas atividades da Companhia, dentre eles os de fraude e corrupção, garantindo a aderência a leis, normas, padrões e regulamentos, internos e externos à Companhia.”

Natasha acredita que ela quis dizer o seguinte:

“O novo diretor pegará os ladrões.”

Vício esperto

Os serviços de atendimento de grandes instituições cultivam um astucioso vício de linguagem. Fazem suas lambanças e quando a vítima liga para exigir a correção, repetem de forma monocórdica e prepotente que, seja qual for o caso, que sua “solicitação” será encaminhada de acordo com os prazos da empresa.

Exemplo: uma vítima do Bradesco Saúde reclamou porque não haviam estornado para sua conta um pagamento que, pelo contrato, deveria ser feito em vinte dias. Haviam passado 49 dias. O freguês esperneou e, por mais que argumentasse com a cláusula contratual, a atendente, bem como sua supervisora, repetiam que sua “solicitação” seria encaminhada e, depois de cinco dias úteis ele teria uma resposta. Dinheiro, nem pensar.

Quando a vítima atrasa seu pagamento, os maganos não “solicitam” pagamento, cobram os juros e acabou-se a conversa.

Treinando seus serviços de atendimento para tratar os clientes como “solicitantes”, desequilibra-se o diálogo, colocando-se a vítima no papel de pedinte. Não é nada, não é nada, é falta de educação.

Bolsa Governador

Há o país dos cavalcantis e o dos cavalgados. Para o dos cavalgados, o governo começa a falar de novo em reformas na previdência social. Tudo bem, porque aqui e ali há maluquices.

No país dos cavalcantis a Assembleia Legislativa da Bahia aprovou em novembro uma emenda constitucional que dará ao governador Jaques Wagner uma pensão especial vitalícia de R$ 19,3 mil mensais. Com ele, serão beneficiados também os ex-governadores Paulo Souto, César Borges e João Durval.

Vitória amarga - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

O ESTADO DE S.PAULO - 07/12

Raras vezes houve vitória eleitoral tão pouco festejada. Nem mesmo o partido da vencedora, tonitruante e dado a autocelebrações, vibrou o suficiente para despertar o País da letargia. Os mais espertos talvez tenham percebido que seus quadros minguaram, com graves perdas de entusiasmo e adesão na juventude e certo rancor em setores do empresariado mais moderno.

A reeleita possivelmente saboreie o êxito com certo amargor. É indiscutível a legalidade da vitória, mas discutível sua legitimidade. O que foi dito durante a campanha eleitoral não se compaginava com a realidade. Só mesmo seu ministro da Fazenda, que coabita com o novo ministro designado, pôde dizer de cara lavada que a economia saíra da estagnação e os males que a assolam vêm da crise mundial.

Recentemente, fazendo coro a essa euforia de encomenda, diante de dados que mostram um "crescimento" de 0,1% do PIB no trimestre passado, houve a repetição da bobagem: finalmente a economia teria saído da "recessão técnica", de dois ou mais trimestres seguidos. Palavras, palavras, palavras, que não enganam sequer os que as estão pronunciando.

Na formação do novo Gabinete a presidenta começou a atuar (escrevo antes que a tarefa esteja completa) no sentido de desdizer o que pregara na campanha. Buscou um tripé "de direita" para o comando da economia. Na verdade, o adjetivo é despiciendo: a calamidade das contas públicas levou-a a escolher quem se imagina possa repô-las em ordem, pois sem isso não existe direita nem esquerda, mas o caos. Menos justificável, senão pela angústia dos apoios perdidos, é a composição anunciada do resto do Ministério, de cunho mais conservador/clientelístico. Esperemos.

A presidenta, com essa reviravolta, deve sentir certa constrangedora falta de legitimidade. Foi a partir da ação dela na Casa Civil, e daí por diante, que se implantou a "nova matriz econômica": mais gastança governamental e mais crédito público, à custa do Tesouro. Foi isso que não deu certo, e serviu de alavanca para outros equívocos que levaram o governo do PT a perder a confiança de metade do País. Sem falar da quebra moral.

Metade, sim, mas que metade? É só ver os dados eleitorais com maior minúcia, município por município: a oposição ganhou, em geral, nas áreas mais dinâmicas do País, inclusive nas capitais onde há sociedade civil mais ativa, maior escolaridade, capacidade empreendedora mais autônoma e menos amarras aos governos. O lulopetismo, nascido no coração da classe trabalhadora do ABC, recuou para as áreas do País onde a ação do governo supre a ausência de uma sociedade civil ativa e de setores produtivos mais independentes de decisões governamentais.

É falaciosa a afirmação de que houve vitória da oposição em áreas geográficas tomadas isoladamente: Sudeste rico em contraposição ao Nordeste pobre, idem quanto ao Sul ou quanto o Centro-Oeste em relação ao Norte. Ou de ricos contra pobres, à moda lulista. Por certo, como há maior concentração da pobreza nas áreas mais dependentes do assistencialismo governamental, houve, de fato, uma distinção na qual as faixas de renda pesam. Mas os 7 milhões de dianteira que Aécio levou sobre Dilma em São Paulo terão sido "dos ricos"? Absurdo. Nas áreas menos dependentes do governo, ricos e pobres tenderam a votar contra o lulopetismo e nas demais, a favor de Dilma, ou melhor, do governo. A votação na oposição no Acre, em Rondônia, em Roraima ou nas capitais do Norte e Nordeste se explica melhor pelo dinamismo do agronegócio e pelos serviços que ele gera e, no caso das capitais, pela maior autonomia de decisão das pessoas.

Esse o xis da questão. Eleito com apoio dos mais dependentes (não só dos mais pobres, mas também dos dependentes da "máquina pública" e das empresas a ela associadas), o "novo" governo precisa fazer uma política econômica que atenda aos setores mais dinâmicos do País. Vem daí certa tristeza na vitória: a tarefa a ser cumprida seria mais bem realizada com a esperança, o ânimo e o compromisso de campanha dos que não venceram. Cabe agora aos vitoriosos vestir a camisa de seus opositores (como Lula já fez em 2003), continuar nos maldizendo e fazendo mal feito o que nós faríamos de corpo e alma, portanto, melhor. Atenção: a economia não é tudo. Menos ainda um ajuste fiscal. O êxito de uma política econômica depende, como é óbvio, da política. Economia é política. Política exige convicção, capacidade de se comunicar, mensagem e desempenho. No Plano Real coube-me ser o arauto, falar com a sociedade, ir ao Congresso, convencer o próprio governo. O presidente Itamar Franco teve a sabedoria de indicar, para me suceder, o embaixador Ricupero, que fez o mesmo papel. E agora, quem desempenhará a função de governar numa democracia, isto é, obter o apoio, o consentimento, a adesão dos demais atores políticos? Do Congresso, das empresas, dos sindicatos, das igrejas, da mídia, numa palavra, da sociedade.

A presidenta Dilma, mulher sincera, ciosa de suas opiniões, terá condições para se transmutar em andorinha da mensagem execrada por ela e sua grei? A nova equipe econômica terá esse perfil ou se isolará no tecnicismo? O "petrolão" será uma ventania ou um tufão a derrubar as muralhas do governo e da "base aliada"? E a oposição, ela se oporá de verdade ou embarcará no tecnicismo e na boa vontade à espera que o "mercado", sobretudo o financeiro, se acalme e tudo volte à moda antiga? O mesmo se diga de cada setor da sociedade.

É mais fácil rearranjar a economia do que acertar a política. Que fazer com essa quantidade de partidos e ministérios, interligados mais por interesses, muitos dos quais escusos? Sem liderança, nada a fazer. Com miopia eleitoreira, menos ainda. Tomara não sejam os juízes os únicos a purgar nossos males, como ocorreu na Itália, até porque no exemplo citado o resultado posterior, a eleição de um demagogo como Berlusconi, não foi promissor.

Seara administrativa - VERA MAGALHÃES

FOLHA DE SP - 07/12


Um grupo de trabalho a ser criado nesta semana vai regular eventuais acordos de leniência com empresas investigadas na Operação Lava Jato. Integrarão a iniciativa AGU (Advocacia-Geral da União), CGU (Controladoria-Geral da União), Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e Ministério Público Federal. O grupo vai definir regras de "compliance" e ressarcimento de valores desviados e requisitos para as empresas continuarem a contratar com o setor público.


Uniforme 
Até agora são nove as empresas investigadas por suposto pagamento de propina e superfaturamento em obras da Petrobras. A intenção é firmar um conjunto de condições que sejam válidas para todas que se propuserem a fechar acordos.

Separado 
Os eventuais arranjos administrativos não interferirão na investigação criminal dos desvios na Petrobras pela Polícia Federal, Ministério Público e Justiça.

Global 
A advogada Beatriz Catta Preta, que coordenou o acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, registrou uma empresa na Florida (EUA) no fim de outubro, a Catta Preta Consulting.

No papel 
Procurada pela coluna, a criminalista afirmou que a firma não começou a funcionar e foi aberta apenas como um "plano futuro", pois tem muitos clientes brasileiros em Miami.

Concorrência 1 
Entre as apreensões da Lava Jato, há um e-mail de Leo Pinheiro, presidente da OAS, para o dono da empreiteira, Cesar Mata Pires, em fevereiro de 2012, cujo assunto é "Marcelo Odebrecht", presidente da empresa que leva o sobrenome.

Concorrência 2 
"Estive ontem em Juazeiro do Norte. Como o nosso Marcelo é do tamanho do nosso Grampinho, ninguém o viu", escreve Pinheiro, equiparando o herdeiro da Odebrecht ao prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), apelidado de Grampinho por sua baixa estatura.

Veneno Mata 
Pires, ex-genro de Antonio Carlos Magalhães, com quem era rompido, replica, com ironia: "Pertencem a uma terceira geração de grandes e poderosos líderes. Ambos carismáticos e obstinados".

Castelo... 
A dificuldade em aprovar a alteração da meta fiscal mostrou ao Planalto que, com o crescimento da oposição e o aumento de dissidentes, será difícil obter quorum e votos para aprovar as promessas de campanha de Dilma Rousseff.

... de cartas 
Entre os petistas, uma preocupação é que o partido fique cada vez mais refém de Renan Calheiros e do PMDB. Nas votações da última semana, não foi fácil chegar a 41 senadores, o mínimo necessário para impedir a derrubada da sessão.

Sem raio-x 
Técnicos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que analisam as contas de campanha de Dilma relatam que o prazo que receberam é curto demais para verificar a regularidade de todas as notas. Só será possível encontrar "fraturas expostas".

Bedel 
Chamou a atenção do palácio a ausência de mais de 15 deputados do PT na votação da meta fiscal. Os nomes dos faltosos foram para a lista negra do Planalto.

Abestado 
Tiririca (PR-SP) tomou uma bronca do secretário-geral do partido, Antônio Carlos Rodrigues, por ter votado contra o governo. "Vocês pediram para eu ficar no plenário, não para votar a favor", retrucou o deputado.

Macacão 
Além de ter agendado mesa de discussão com sindicalistas no início do próximo mandato, Dilma marcou reunião com as cinco maiores centrais amanhã.

TIROTEIO

Não foi só o Aécio a comparar o governo do PT a uma organização criminosa. Agora o Ministério Público Federal endossa a tese.

DE ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB), prefeito de Manaus (AM), sobre procuradores terem feito um paralelo entre o esquema que havia na Petrobras e o PCC.

CONTRAPONTO

Falso cognato

Ao final de mais uma sessão extraordinária sem quorum na Câmara nesta última semana, o deputado Emanuel Fernandes (PSDB-SP) brincou com Dr. Ubiali (PSB-SP), que ocupava a presidência da Mesa.

--Por que Vossa Excelência, quando encerrava a sessão, disse "nada mais havendo a tratar", se não tratamos de nada aqui hoje?

Ouvindo o papo, Chico Alencar (PSOL-RJ) ironizou:

--Colegas, tratamos dos mais variados assuntos, desde o meio-dia! No Parlamento muito se parla, embora, ultimamente, no Legislativo pouco se legisle...

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Serão eles despachantes do PT no Supremo?”
Deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA) sobre a defesa que Adams e Cardozo, candidatos ao STF, fazem de Lula no caso do Petrolão



Câmara vai gastar R$ 666 milhões em gabinetes

A Câmara deve construir dois prédios para deputados federais terem “mais conforto”. Somados, os novos anexos vão custar mais de R$ 666 milhões. A obra deve ser tocada durante a provável presidência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Serão construídos o bloco B do Anexo 4, com 86 gabinetes para os que hoje ocupam gabinetes mais modestos, no Anexo 3, e o Anexo 5, com auditórios, salas e vagas na garagem.

Custos siderais

Só os projetos do bloco B do anexo 4 já custaram mais de R$ 3 milhões aos contribuintes. A obra é estimada em R$ 425 milhões.

O STF não sabe

O Anexo 5 está previsto para ser construído em um estacionamento usado pelo Supremo Tribunal Federal. O STF não sabia dos planos.

‘Necessidade’

Segundo a assessoria da Câmara, as obras atendem a “necessidade de ampliação da estrutura”, além de dar conforto às suas excelências.

Novo senador

O ex-senador e empresário Raimundo Lira (PMDB-PB) já se prepara para assumir no Senado assim que Vital do Rêgo tomar posse no TCU.

Deputados vetam indicação de Alves a ministério

Além do desprezo de Dilma e Lula, reiterado na campanha eleitoral, o presidente da Câmara, Henrique Alves, enfrenta outro obstáculo para se tornar ministro: resistência na bancada do PMDB, da qual foi líder por anos. Duas dezenas de deputados, leais ao Planalto, comunicaram ao vice Michel Temer que a indicação Henrique é da “cota pessoal” do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), e “não representa a bancada”.

Qualquer um

Os deputados do PMDB também pediram a Ricardo Berzoini que sejam nomeados ministros de Dilma deputados federais com mandato.

Pior que tá, fica

Henrique Alves soube da reunião dos correligionários com Temer e tentou enquadrá-los, o que os irritou ainda mais.

Ser oposição é...

Ex-aluno de Armínio Fraga, o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deve se preparar para as críticas dos tucanos. Vão partir para o ataque.

Mare Nostrum

A estatal francesa Direction des Constructions Navales, que constrói com a Odebrecht o submarino nuclear brasileiro de R$ 2,7 bilhões, levou mais R$5 milhões da Marinha para “assessorar a modernização” do porta-aviões São Paulo, o velho ex-Foch francês. E sem licitação.

O Esporte é nosso

A bancada do PCdoB defende a permanência de Aldo Rebelo (SP) no Ministério dos Esportes. Ele não disputou a reeleição para atender Dilma, em razão da Copa. Mas o partido saiu das urnas menor.

Livro-caixa 2

Após “dinheiro não contabilizado” do mensalão de Lula, o governo Dilma inventou a “contabilidade criativa” e até propina com recibo, no Petrolão. E sem ao menos pagar o imposto sobre serviços (ISS).

Desfecho vergonhoso

Relator da CPMI da Petrobras, Marco Maia (PT-RS) pediu a membros da comissão para não marcar novos depoimentos. Ele não quer mais ter trabalho até o final vergonhoso das “investigações”, no dia 18.

Sinos de Natal

O 13º atrasado dos Correios não tirou o espírito natalino de Wagner Pinheiro, seu presidente: planeja “visita oficial” ao Rio Grande do Sul, com jogo de futebol companheiro, e esticada com a família a Gramado.

E agora, José?

O PSDB estuda requerimento à CPMI para pedir explicações ao ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, em razão da revelação do ex-diretor Paulo Roberto Costa de que o consultou antes de enviar aviso à então ministra Dilma, sobre os “problemas” na estatal.

Feira moderna

Ninguém aperta o cinto no Planalto: entre biscoitos, achocolatados e geleias nos R$265,6 mil reservados para 2015, chama a atenção o leite em pó desnatado 300g a R$ 11,75. Custa R$ 9,20 nos supermercados.

Se a moda pega...

O governo da Bolívia pediu à população que compre ao menos 400 mil produtos da Nacional de Textiles, para ajudar a estatal a pagar dívida de US$ 15 milhões junto a uma extinta empresa privada.

Pensando bem...

...após incentivar imigrantes a se habilitarem ao Bolsa Família, o próximo passo do governo do PT será conceder-lhes título de eleitor.


PODER SEM PUDOR

Como recuperar o juízo

O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, tentava forçar o então presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a suspender o aumento salarial dos deputados:

- Se você colocar isso em votação, não poderei convidá-lo à festa de 1º de Maio da Força. Você ia ser mais vaiado que o Severino Cavalcanti…

Chinaglia é truculento, mas não é louco: as festas de 1º de Maio da Força atraem até dois milhões de pessoas, interessados em sorteios de carros e até de apartamentos. E a discussão do reajuste foi suspensa.

Perde e ganha - SACHA CALMON

CORREIO BRAZILIENSE - 07/12


Dilma fez bem em adotar a política macroeconômica de Fernando Henrique Cardoso, como Lula, em seu 1º mandato. Nas eleições, a candidata à reeleição negava as críticas do PSDB à nova matriz macroeconômica, imposta há seis anos pelo PT e que deu com os burros n"água.

O PT, menos o esperto Lula, está com raiva pela posse antecipada da equipe econômica, para não perder o grau de investment grade das agências internacionais que analisam o risco soberano das nações (a capacidade dos governos de honrar seus compromissos).

Agora teremos câmbio flutuante, mas com boia; meta de inflação com determinação de trazê-la do teto para o centro até 2016; contenção de gastos; superavit primário de 1,5% do PIB em 2015 e de 2% em 2016 e 2017, para honrar o serviço da dívida pública em ascensão; política de juros altos a dificultar o crédito para o consumo. Joaquim Levy dá credibilidade ao governo Dilma 2, com a ajuda valiosa de Tombini, do Banco Central (BC), e de Barbosa (Planejamento). Se não tiver liberdade e sincronia, pega o chapéu e vai para o Bradesco. Está a serviço do país.

Os objetivos fixados pela equipe econômica são até mais rigorosos que os de um virtual governo do PSDB, levando-se em conta o nosso PIB atual de R$ 4,3 trilhões. É só fazer os cálculos. Foi dito ainda que o governo interromperá o repasse de recursos públicos do Tesouro Nacional para o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal (CEF). Doravante, a bifronte e esquizofrênica prática de encarecer o crédito pelo aumento da taxa de juros versus a enxurrada de dinheiro para os bancos públicos bancarem o Minha casa, Minha vida, o consumo de bens duráveis e o financiamento de projetos econômicos, deixou de existir. Noutras palavras, acabou isso de o BC exercitar uma "política contracionista" e o Tesouro outra, "expansionista", por ser bisonhamente irracional, tanto ou mais que o sequestro das contas bancárias de Zélia Cardoso, ao tempo do hoje governista presidente Collor de Mello.

Certamente, a adoção de políticas preconizadas pelo PSDB não basta. Será necessário promover os investimentos em infraestrutura, com o mínimo de capital público, pois o governo quebrou, mediante capitais privados, nacionais e estrangeiros que trabalhem com eficiência e ética. O PT, o PSol e quejandos se frustrarão em exigir mais Estado, ora sem recursos e acuado pela corrupção. Se quiserem mais Estado, que se mudem para Cuba ou Coreia do Norte. O PT ganhou as eleições mas não levou os louros, somente os problemas que ele próprio criou. De comandar a economia, a presidente transferiu o encargo aos especialistas. Quero aplaudi-la pelo gesto despreendido.

Mas será preciso deixar a equipe trabalhar, pois a oposição não poderá criticá-la, faz a sua política. A situação só tem a ganhar. E ganhará mais ainda se a presidente açoitar sem dó nem piedade os corruptos que infestam o governo. Irmãos do ministro Geller se adonam de terras que eram para assentar campônios e ganham milhões de reais. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a sua vez, é o "desmatador mor". Vamos, Dilma: controle, gestão e compromisso com a ética são atitudes que poderão lhe assegurar um lugar digno na história do Brasil. Nós a aplaudiremos como estadista. Ser "padroeira" dos 54 milhões de pobres que vivem ou fingem viver das transferências de renda dos programas sociais é sul-americano demais. Ninguém suporta mais Evitas e chavismos. Esse discurso de luta de classes está ultrapassado. São Paulo, o Centro-Oeste e o Sul do Brasil (70% do PIB) deram esse recado nas urnas.

A economia deve ser produzida pelos particulares. Não é com o socialismo (a China privatiza 15 pequenas e médias empresas por dia) que chegaremos lá, mas com trabalho, suor, seriedade e governança.

A parusia é para os místicos, mas um país mais justo e economicamente forte está ao alcance de nossas mãos, assim como a ética na política, aspiração da parte maior do povo brasileiro, posta a perder pelo PT e aliados, outrora adeptos dos militares, hoje com governo. Qualquer brasileiro que se preze e tiver boa memória verá que na base política do governo, 60% dos quadros pertenceram aos apoiadores dos presidentes Figueiredo e Sarney, vira-casaca de undécima hora, que passou à oposição para ser vice de Tancredo, contra Maluf, que hoje é também do governo. O PT é apenas 10% do Congresso Nacional. E quer mandar na presidente. A oposição é de centro-esquerda. O governo, demo-populista. Está na hora de mudar. O Brasil não aceitará nem engolirá mais o populismo chavista nem tampouco o socialismo. Ninguém tem o poder de remar contra a história. Será que a conversão da Rússia e da China ao capitalismo deixou de ser eloquente exemplo da derrocada do socialismo?