quinta-feira, novembro 17, 2011

A morte no ar - ANCELMO GOIS



O GLOBO - 17/11/11


Documentos obtidos por advogados americanos revelam que a Airbus chegou a deliberar internamente alterações no sistema de manetes e de alarme dos A-320 após acidentes em Moscou (2003) e Taiwan (2004).
Se tivesse feito as tais mudanças, dizem os advogados das vítimas, talvez a empresa evitasse o acidente da TAM que matou 199 pessoas em 2007.

Segue...
E-mails e memorandos internos da Airbus foram anexados à ação indenizatória movida pelo escritório Brasil, Pereira Neto, Galdino, Macedo Advogados em nome das vítimas, cujo valor beira a uns R$ 500 milhões.

Bem-vindos
Será dia 16 dezembro, no CCBB do Rio, o primeiro concerto da OSB Ópera e Repertório, formada pelos 37 músicos dissidentes da orquestra. Na regência, Daniel Guedes.

Vera Cruz carioca
Em volume de produção, não se compara, é claro, à antiga Vera Cruz, que realizou 22 filmes em quatro anos. Mas pelo ritmo... quem sabe. A Conspiração, que já era a produtora brasileira com maior média de filmes por ano (três), aumentará esta marca em 2012: vai rodar e lançar cinco longas.

VascoPad
Terça à noite, um parceiro da coluna que seguia para São Paulo no mesmo vôo do time do Vasco percebeu que 13 dos 19 jogadores usavam... iPads. Sem contar cinco integrantes da comissão técnica.

Filme de suspense
Dilma mata o pessoal do cinema do coração com a demora na nomeação de Miguel Faria Jr. para uma diretoria da Ancine. O nome do cineasta foi enviado ao Palácio do Planalto pela ministra Ana de Hollanda em agosto — e, até agora, nada.

Ônibus escolar
Dilma vai comprar 2.600 ônibus para transporte escolar de 60 mil alunos cadeirantes, em todos os estados, até 2014. Anuncia hoje no lançamento do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Segundo o Censo de 2010, há no país 45,6 milhões de pessoas com alguma deficiência. É quase um quarto da população.

Quem você quer ser?
A Sextante lança este mês no Brasil o livro “Quem você quer ser?”, da jornalista americana Maria Shriver, ex de Arnold Schwarzenegger. Escrito antes da separação, ela conta o drama de largar o jornalismo por causa da carreira política de Schwarzenegger, governador da Califórnia.

Suprema felicidade
O filme “A suprema felicidade”, de Arnaldo Jabor, vai abrir o 4º Festival do Cinema Brasileiro em Moscou, dia 23.

Oferta e procura
Três dias depois da tomada do Vidigal, o preço do moto-táxi subiu de R$ 2,50 e R$ 3.

I love you, Rocinha
A rede de cursos de idiomas Yes vai abrir, em dezembro, sua primeira unidade na Rocinha, para 600 alunos.

Obra embargada
A Associação de Moradores do Jardim Botânico, no Rio, denunciou que Sérgio Côrtes, secretário estadual de Saúde, estaria fazendo uma obra irregular em sua cobertura, na Lagoa. Uma arquiteta da prefeitura foi ao local, não conseguiu acesso e optou por embargar a obra. Depois, a Secretaria de Urbanismo a liberou, “assim que ficou provado não se tratar de acréscimo da unidade e sim de uma reforma”.

Morar bem
O atacante Fred, do Fluminense, comprou uma cobertura na Av. Vieira Souto, endereço de bacanas em Ipanema.

O garoto Pedro II
Está saindo do forno um livro sobre o francês Julien Pallière (1784- 1862), autor, entre outros, deste retrato de Dom Pedro II na infância. A obra sobre o artista, que desembarcou no Rio em 1817 com a princesa Leopoldina, é assinada por Ana Pessoa, Júlio Bandeira e Pedro Correia do Lago. Sairá pela Editora Capivara.

ESTAS ESTÁTUAS

 femininas, de madeira, têm despertado curiosidade em pontos do Rio como Morro da Providência, Copacabana, Praça XV, Central, Lapa, Méier... Não são propaganda de nenhuma empresa. São, na verdade, parte da campanha “Quem ama abraça”, pelos 30 anos do Dia internacional de luta pela não violência contra mulheres (25 de novembro). A ideia é espalhar as estátuas pela cidade, acompanhar a reação das pessoas e, depois, divulgar à opinião pública, simbolicamente, como as mulheres são tratadas. Dia 22, todas serão reunidas no Largo da Carioca para que o povão veja o estado de cada uma. Mas, em poucos dias, o balanço já é cruel: a da Central foi roubada, a da Lapa foi arrastada até a Cinelândia e toda customizada por estudantes etc. Ação igual é feita em Belém, Vitória, Natal e Porto Alegre

Na corda bamba - ILIMAR FRANCO



O GLOBO - 17/11/11

A presidente Dilma vai aguardar o depoimento do ministro Carlos Lupi (Trabalho) hoje no Senado para decidir seu futuro. A avaliação no Planalto é que, a despeito de sua disposição de ficar, Lupi está cavando a própria cova e perdendo sustentação no seu partido, o PDT. O governo teme pelo desempenho de Lupi, que tem uma queda pela fanfarronice, estilo que já é ruim em situações normais e pode ser fatal em momentos críticos.

O primeiro dilema do PSD
O terceiro maior partido da Câmara, o PSD, termina o ano organizado em 4.600 municípios, com 5.900 vereadores e 560 prefeitos. Mas, em janeiro, vai enfrentar seu primeiro debate interno: participar ou não do Ministério da presidente Dilma. O partido é heterogêneo, mas todos que aderiram à nova sigla procuraram, de alguma forma, se aproximar do governo petista. Mesmo assim, integrantes de sua direção consideram que o partido deve continuar apoiando o governo, mas sem participar do Ministério. Esses dirigentes avaliam que, para crescer, o partido precisa ter maior flexibilidade para fazer alianças nos estados.

"A crise é de confiança” — José Serra, ex-governador de São Paulo, sobre a crise que atinge a Europa

LAVANDO AS MÃOS.
 A expectativa do governador Sérgio Cabral (RJ) sobre a mediação da presidente Dilma no debate dos royalties pode se frustrar. Ontem, para o governador Renato Casagrande (ES), Dilma afirmou que o governo tem dificuldade de patrocinar um entendimento devido à existência de posições radicalizadas. Dilma quer que os estados se entendam. No mais, manifestou-se contra o rompimento dos contratos e declarou serem irreais as projeções do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).

Água fria
O vice-presidente Michel Temer foi ao Espírito Santo, na última sexta-feira, lançar o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) para a prefeitura de Vitória mas, chegando lá, ele desconversou. Hartung disse que só vai decidir no ano que vem.

Cotado
O nome mais falado ontem, no Planalto, no caso de queda do ministro do Trabalho, era o do deputado Vieira da Cunha (PDT-RS). Na década de 80, ele foi vice do ex-marido de Dilma, Carlos Araújo, para a prefeitura de Porto Alegre.

Gustavo Franco, a crise e a felicidade
Presidente do Banco Central no governo FH, Gustavo Franco, ao participar de palestra em Portugal sobre o "Índice de Felicidade" promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, afirmou que se ele fosse presidente do Banco do Brasil compraria títulos da dívida europeia. A posição do governo Dilma é que os europeus devem recorrer ao FMI. Essa postura é idêntica à dos europeus na crise que o Brasil enfrentou no governo FH. Seus governos nunca compraram papéis da dívida brasileira.

Tem fila
Apesar de os estados não produtores de petróleo pressionarem para votar a redistribuição dos royalties no dia 30, na Câmara, a prioridade do governo, depois da votação da prorrogação da DRU, é o Orçamento da União.

No ar
Assim como há indefinição da Fifa sobre a meia-entrada para estudantes e a venda de bebida alcoólica nos estádios, proprietários de cadeiras cativas no Maracanã não sabem ainda se poderão usufruir desse direito durante a Copa.

SETE CHAVES. Ao sancionar a criação da Comissão da Verdade, amanhã, a presidente Dilma não vai anunciar o nome de seus integrantes.

O SENADOR Cristovam Buarque (PDT-DF) quer o partido fora do governo e numa posição de independência. Agora, os aliados de Lupi no partido ameaçam apoiar essa linha em caso de demissão.

O COMANDO Militar do Leste quer se retirar do Complexo do Alemão. Seus comandantes dizem que a presença militar está se desgastando e reclamam da tensão diária com os chefes do tráfico para restabelecer o poder na região.

EDITORIAL O ESTADÃO - Já passou da hora


O ESTADÃO - 17/11/11

A presidente Dilma Rousseff perdeu dois consecutivos "momentos ótimos" para demitir o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. O primeiro foi na quarta-feira da semana passada, quando, atingido pela denúncia de que assessores diretos seus chantagearam ONGs conveniadas com a pasta, o ministro afrontou a autoridade da presidente. "Duvido que a Dilma me tire, ela me conhece muito bem", desafiou. "Para me tirar, só abatido à bala." A segunda ocasião surgiu quando ele tentou consertar a fanfarronada da antevéspera com uma tirada cafajeste, que não há de ter passado em branco para alguém, como a sua chefe, atenta para o que se convencionou chamar sexismo. "Presidente Dilma, desculpe se eu fui agressivo", apelou. "Eu te amo."

No trato com os subordinados, ela é conhecida por ser fulminante no gatilho. Na remoção de membros de sua equipe afogados em escândalos, porém, só parece agir quando percebe, na vigésima quinta hora, que a inação ameaça se transformar em desmoralização. Perto disso, o eventual benefício de se guardar de problemas com as legendas dos ministros desmascarados e, conforme o caso, com o seu patrono Lula não compensa o custo do desgaste diante da opinião pública. Assim foi com Alfredo Nascimento, titular dos Transportes, do PR; Wagner Rossi, da Agricultura, e Pedro Novais, do Turismo, ambos do PMDB; e Orlando Silva, do Esporte (PC do B). Só foi diferente com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que caiu não por corrupção, mas por incontinência verbal. (O primeiro a cair, o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, ainda não era ministro quando fez a fortuna escondida que o levaria ao pelourinho.)

É verdade que, apesar de ir a reboque da imprensa na descoberta das falcatruas, primeiro, e de esperar demais, depois, para tirar das denúncias as suas inevitáveis consequências, Dilma tem sido recompensada pela aprovação nas pesquisas. Mas se algo desgasta a sua imagem de presidente despachada não é a sempre citada relação sem precedentes entre o seu tempo de casa e o número de auxiliares demitidos. É a sua convivência com o malcheiroso interregno entre a crise aberta com a exposição das maracutaias ministeriais e o seu costumeiro desfecho. Em nenhuma das situações mencionadas apareceu um "fato novo" que jogasse a favor dos ministros encalacrados. O normal é o contrário - e não está sendo diferente com o bravateiro Lupi.

Desde que, no começo do mês, a revista Veja revelou o esquema da suspensão dos repasses a ONGs contratadas pelo Trabalho e sua reativação mediante pagamento de pedágio, vieram à luz, entre outras coisas, o aparelhamento da pasta pelo PDT do ministro, em Brasília e nos Estados; o favorecimento de correligionários nos convênios para treinamento de pessoal; o acúmulo de irregularidades nesses negócios; o aval à criação de sindicatos patronais fantasmas, ou seja, que não representam nenhum setor de atividade; e, por fim, a prova do contubérnio do ministro com o dono de uma ONG beneficiada com R$ 13,9 milhões em contratos. Há uma semana, no mesmo depoimento à Câmara dos Deputados em que declarou seu "amor" pela presidente, Lupi negou que conhecesse o empresário Adair Meira, da ONG Pró-Cerrado, e que tivessem viajado juntos pelo Maranhão a bordo de um King Air alugado por ele. Fez também chegar a negativa ao Planalto.

Desmentido por outra reportagem da Veja, por imagens que o mostram desembarcando do táxi aéreo seguido pelo empresário e pela confirmação dele ao Estado de que viajara com Lupi "num trecho" do Maranhão em dezembro de 2009, o ministro se tornou para Dilma o que ela permitiu que se tornasse ao mantê-lo na Esplanada: um fator de desmoralização. Não resiste a um sopro o argumento de que, fadado a cair na reforma do Gabinete prevista para o início do ano, a sobrevida do mentiroso por um punhado de meses seria "administrável" pela presidente sem danos adicionais. Sim, Lupi manda e desmanda no PDT, de que é presidente licenciado apenas no papel, o que dificultaria mais uma substituição de um correligionário por outro. Ainda assim, Dilma tem de se livrar dele, a que custo for. Tentar varrer a crise para debaixo do tapete será pior - para ela e o seu governo.

GOSTOSA


Derretendo - CELSO MING


O ESTADÃO - 17/11/11

A deterioração do mercado europeu de títulos de dívida aumenta todos os dias. Tende a transformar em lixo tóxico não só os papéis de dívida soberana da Grécia, de Portugal e da Irlanda, mas também os da Itália, da Espanha e, possivelmente, da França (veja o gráfico).

O aplicador apenas se arrisca a amarrar seu dinheiro a esses ativos em troca de juros cada vez mais altos. E os devedores não conseguem se limitar a rolar dívidas em vencimento; têm também de encontrar financiamento para novos rombos, uma vez que operam com déficits orçamentários altos demais. A dívida vai ficando mais e mais cara. E insustentável.

Em outras palavras, o contágio está se espraiando inclusive para países grandes demais para serem socorridos. Alguns dirigentes políticos despejam seus desabafos. Tentam convencer o resto do mundo de que estão sendo vítimas de sórdida especulação. O ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, mostraram reações desse tipo.

Não apenas banqueiros e gente de classe média vêm rejeitando o que, até recentemente, era considerado ativo sem risco. Também bancos centrais, seguradoras e fundos de pensão ou de investimento vêm agindo assim.

Por mais que tenha sido proclamado como inevitável, o calote da Grécia trincou o cristal e foi entendido como grave precedente. O recado passado foi o de que essas coisas podem acontecer a qualquer um, às melhores famílias. E pior: a probabilidade de que realmente ocorram cresce também todos os dias.

Outro fator que precipitou a rejeição foi o encaminhamento mal amarrado que as lideranças da área do euro deram para o novo mecanismo de resgate, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. A decisão foi submetê-lo a uma engenharia financeira complexa, cujo resultado seria a multiplicação do seu poder de fogo. Deveria funcionar como uma espécie de garantia parcial a transferências de recursos que ninguém sabe de onde sairiam. Tanto assim que, até agora, os técnicos não foram capazes de montar o novo sistema. Itália, Espanha e, ao que tudo indica, também a França precisarão de enormes transfusões de sangue novo, no entanto, já não se sabe como isso poderá ser feito.

Na terça-feira, artigo do New York Times perguntou por que o Banco Central Europeu (BCE) pode prestar assistência ilimitada aos bancos, mas não aos Estados nacionais. Questionamento com o mesmo conteúdo poderia ser feito de outra maneira: por que os bancos grandes não podem afundar – e, por isso, têm de receber ajuda –, mas os Estados nacionais podem quebrar?

A dinâmica dos fatos vai empurrando o BCE para o inevitável, ou seja, para, enfim, em nome da salvação do euro, exercer sua função derradeira, até agora, inominável: emprestador de última instância. Falta saber quanto mais o mercado de bônus terá de ruir e quanta turbulência mais terá de acontecer para que as autoridades se decidam.

CONFIRA

Como errou? Até agora não foi bem explicado o suposto erro da agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P) que, no dia 9, por alguns minutos, manteve no seu site o anúncio do rebaixamento dos títulos da França.

Errou por quê? A S&P avisou que foi um erro de edição. Ficou a impressão de que a decisão já havia sido tomada e estava à espera sabe-se lá de que sinal verde. E que algum desavisado apertou o botão errado na hora errada.

Bomba atômica. Como um rebaixamento dos títulos franceses seria o estouro de uma bomba atômica no mercado de títulos, é compreensível a exasperação do governo da França. O presidente Nicolas Sarkozy há meses vem advertindo que seria um desastre se seu país chegasse a esse ponto.

Decolando. Só que, de lá para cá, o rendimento (yield) dos títulos da França está alçando voo no mercado secundário, como mostra o gráfico acima.

Tempo de mudança - JANIO DE FREITAS


FOLHA DE SP - 17/11/11

Ainda que Carlos Lupi encontre as improváveis explicações para evitar sua queda agora, a fragilidade ética do governo não dispensa Dilma Rousseff de começar o próximo ano com a reforma ministerial engatilhada, como fruto da prudência de estudá-la desde já.
O grito contra a corrupção, que começa a se elevar sob diferentes formas, dirige-se necessariamente a alguém. E não pode ser senão à presidente: é geral o desconhecimento, e Dilma Rousseff não pode corrigi-lo, de que todos os escândalos ministeriais, do primeiro ao caso Lupi, vêm de fatos do governo Lula.
Mesmo que esse dado fundamental fosse mais lembrado pela imprensa, a responsabilidade de Dilma Rousseff, como chefe do governo, a deixaria com Lula no alvo das cobranças. A montagem do governo leva a sua assinatura, como sinal de aceitações surpreendentes.
Nas condições em que está montado o governo, minado pela invasão de representantes de interesses eleitorais e negociais, em qualquer momento pode eclodir, nem precisa ser em nível ministerial, um escândalo de controle difícil pela Presidência. Com efeitos de gravidade muito maior do que uma precipitada substituição como as de até agora. A passividade da opinião pública se esgota.
E o apetite da imprensa está afiado. Em parte dela, até mais do que isso, rompidos certos rigores não dispensáveis. É um agravante a mais para o problema de Dilma Rousseff com seu governo, mas pensar a reforma parcial do ministério não é problema menos complexo.
Aguardar abril, quase meio ano para as substituições, seria aceitar riscos excessivos. Fazê-las antes de definidas as pré-candidaturas e as desincompatibilizações, no fim de março, implica dificuldades políticas com os governadores, as lideranças partidárias, as bancadas e, claro, os pretensos concorrentes às eleições. Um nó apertado.
Mas aí também estaria a ocasião para a montagem de um governo mais pelo critério da competência e menos pela submissão aos arranjos políticos. Os quais, em geral, são de outras coisas mais do que políticos. Os escândalos que o digam.
Lidar com o nó vai mostrar-nos uma face de Dilma Rousseff ainda desconhecida, e provavelmente de grande importância no futuro.

SILÊNCIO
A praça egípcia Tahrir, onde se concentrou sem repressão o protesto pacífico que fez Mubarak renunciar, recebeu da imprensa americana o duplo batismo de praça da Liberdade e praça da Democracia.
Por determinação do prefeito de Nova York, a polícia americana, com sua conhecida violência, arrancou da praça Zucotti a concentração do Ocupe Wall Street, protesto pacífico contra o domínio antissocial do setor financeiro.
Que nome simbólico deveria ter a praça Zucotti?

Os comedores de batata - CARLOS HEITOR CONY


FOLHA DE SP - 17/11/11

RIO DE JANEIRO - Sempre foi complicada a história da humanidade. Momentos bons, em minoria, momentos péssimos, na maioria -acredito que nunca se chegará a um acordo sobre a sua importância ou a sua utilidade.
Neste início do século 21, mais uma vez ela se marca por uma redundância de problemas que vão da crise na Europa do euro, dos movimentos em países árabes -que estão sendo chamados de Primavera Árabe-, de guerras e conflitos localizados a um não saber o que fazer generalizado e medíocre.
Os otimistas sempre encontrarão motivos para citar os "punti luminosi" que foram criados em tantos séculos de história. A filosofia de Platão, a lógica de Aristóteles, a obra de Shakespeare, a "Nona Sinfonia", a genialidade de Leonardo da Vinci, a conquista espacial e os telefones celulares. Tudo bem.
Os pessimistas (que, por definição, estão bem informados) teriam muito mais a citar. A questão é obter uma imagem da colossal geleia que resulta do todo, metendo o bem e o mal num gigantesco liquidificador do tamanho da Terra, que não deixa de ser um misturador de coisas, girando em torno do Sol e de si mesma.
Se fosse escolher uma cena que expressasse tudo isso, eu pensaria numa obra de Van Gogh, de 1885, "Os comedores de batata". É um quadro meio sinistro, mas vital: todos estão comendo o que plantaram, fim de um dia e início de uma noite, um lampião combalido ilumina dramaticamente o rosto de camponeses exaustos. Não é aquela lâmpada enorme e acesa que Picasso colocou em "Guernica", mostrando o quê? A devastação de um bombardeio -corpos e animais decepados, um momento funesto da humanidade.
O lampião de Van Gogh é neutro, não tem opinião, mostra o que deve ser mostrado, todos nós comendo batatas, inclusive as que não merecemos.

O capital entra pelos fundos? - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 17/11/11

A IMPRESSIONANTE quantidade de dinheiro que tem entrado no país sob a rubrica de "investimento estrangeiro direto" causa suspeita e controvérsia desde pelo menos meados deste ano.
A querela é do tipo "quando a esmola é muita, o santo desconfia". Desconfia-se de que parte do dinheiro registrado como investimento direto seria na verdade aplicação no mercado financeiro, em ações e, principalmente, em papéis de renda fixa (em juros). Tais operações foram taxadas pelo governo desde 2009 (IOF) e de modo ainda mais salgado no final de 2010.
O Investimento Estrangeiro Direto (IED) é o nome que as estatísticas econômicas dão ao dinheiro que entra num país para comprar, ampliar ou criar empresas. Em outubro passado, o IED equivalia a mais de 3,3% do PIB (entradas acumuladas em 12 meses). Em outubro de 2010 era cerca de 1,4% do PIB.
Nesse mesmo período, o investimento estrangeiro em ações brasileiras e em títulos de renda fixa negociados no país caiu de 2,5% do PIB para o atual 0,7% do PIB.
Suspeita-se de que parte do IED seja apenas aplicação financeira que arrumou uma brecha legal (ou ilegal) para fugir do IOF salgado.
O economista Darwin Dib, da equipe de pesquisa econômica do banco Itaú, discorda. Em relatório do banco para clientes, Dib chama a suspeita de teoria da conspiração.
Os argumentos do economista:
1) A retomada forte do IED no Brasil começou em janeiro de 2010, muito antes do IOF salgado sobre aplicações em ações e em renda fixa;
2) O interesse dos investidores externos pelo mercado de renda fixa e de ações diminuiu não apenas devido ao IOF maior. No final de 2010, o imposto subiu ainda mais para operações em renda fixa, mas não para ações. Porém, a tendência de queda nos dois tipos de investimento foi a mesma (Dib mostra gráficos razoavelmente convincentes para ilustrar a tendência);
3) Parte do IED é composta de "empréstimos intercompanhia" (recursos emprestados por uma múlti para sua filial estrangeira). Houve aumento razoável do dinheiro investido no país por meio dessa rubrica. Aí estaria a chave do "disfarce" de parte do IED em aplicação financeira -uma burla.
Dib argumenta que não é o caso. O aumento da entrada de dinheiro classificado na rubrica "empréstimos intercompanhia" nos últimos 12 meses ocorreu em relação a uma base baixa, deprimida.
Em 2008, explica Dib, houve grande baixa nos empréstimos intercompanhia devido à seca de crédito mundial, dada a explosão da crise financeira nos EUA.
Depois do colapso financeiro de setembro de 2008, os "empréstimos intercompanhia" caíram de 35% do total do IED para 5% em apenas dez meses, segundo os dados de Dib.
Em suma, o aumento desses empréstimos nos últimos 12 meses é a recuperação de um tombo pontual.
4) Para reforçar essa tese, Dib diz ainda que os "empréstimos intercompanhia" passaram a aumentar antes do IOF mais salgado. Mais: tais empréstimos (aqueles com vencimento em até 720 dias) pagam a mesma alíquota de 6% das aplicações em títulos de renda fixa;
5) Outras tentativas de burlar o IOF (por exemplo, por meio de aumento de capital) são ainda mais custosas e perigosas e implausíveis.

Por um fio - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 17/11/11

BRASÍLIA - Você conhece algum ministro ou governador que tenha caído por usar avião de empresário que mantenha interesse em sua pasta/governo? Não, não é mesmo, governador Sérgio Cabral?
Apesar disso, o ministro Carlos Lupi, do Trabalho, vai tentar reduzir o estrago atribuindo sua queda a uma viagem ao Maranhão num jato do empresário Adair Meira, da Fundação Pró-Cerrado, responsável por ONGs que têm convênios com o Trabalho. E vai, como sempre e como todos, botar a culpa na imprensa.
Lupi, porém, está por dias, ou por horas, ou por um fio, por suspeitas de desvios de dinheiro público, por falar demais e por mentir.
Em depoimento no Congresso, o ministro disse que não viajara no tal jatinho nem conhecia Adair Meira. Pois não é que apareceu até foto do ministro descendo do avião? E que Adair Meira contou que ele próprio estava a bordo com o ministro?
O pior é o que veio antes e depois da viagem de Lupi com Meira. Antes, a Controladoria-Geral da República já tinha alertado o Trabalho para mais de dez irregularidades num convênio de R$ 2,3 milhões com a Pró-Cerrado. Depois, o ministério assinou novos convênios com a fundação, num total de R$ 11,6 milhões.
Sem falar na história esquisitona dos sete sindicatos patronais do Amapá, inclusive da indústria naval. Indústria naval no Amapá?!
Assim, realmente fica difícil para Dilma manter o ministro e o sangue frio (logo ela!), como gostaria, até a reforma ministerial do início de 2012. Vai terminar seu ano de estreia com um número recorde e cabalístico de quedas de ministros: sete.
Lupi é candidatíssimo a ser o sétimo a cair, o sexto por suspeitas de corrupção. O principal foi Antonio Palocci, que abriu a fila e deu o Prêmio Esso de Jornalismo aos repórteres da Folha Andreza Matais, José Ernesto Credendio e Catia Seabra. Eles fizeram um trabalho irretocável, motivo de orgulho para a categoria.

Roncos da reação- DORA KRAMER

  
O Estado de S.Paulo - 17/11/11

Dias atrás foi noticiado que na reforma do ministério do início do ano a presidente Dilma Rousseff pretenderia fundir algumas estruturas de modo a reduzir a profusão de pastas, hoje perto de 40, maior até que a tão criticada quantidade de partidos, contidos na modesta cifra - pela comparação - de 29 legendas.

Estaria pensando, por exemplo, na junção dos ministérios encarregados de assuntos relativos a "minorias". Dilma também estaria cogitando da possibilidade de incorporar a Pesca à Agricultura, e assim por diante, numa lógica muito lógica.

Mesmo sendo ainda uma possibilidade, não uma realidade, denota disposição da presidente de reformar de verdade na reforma.

Mas eis que surge o PT para reclamar, dizendo que as pastas que estariam na mira da presidente para ser extintas representam "conquistas" dos movimentos sociais e por isso devem ser mantidas.

Alguns outros partidos têm feito declarações de apoio ao enxugamento, mas é de se ver se as sustentariam caso a redução os deixasse de fora da Esplanada.

É citado o PT porque foi quem gritou "alto lá" e também já havia se manifestado contrariamente a providências saneadoras.

Em agosto, quando ainda ganhava força a "faxina", não havia ficado muito claro que a presidente apenas reagia a denúncias da imprensa e os ministros demitidos eram quatro, os petistas se queixaram alegando que o "estilo" de Dilma acabaria provocando comparações negativas em relação ao governo Lula.

Temiam que a gestão do ex-presidente ficasse carimbada como "corrupta" (como se a eventual complacência da sucessora pudesse levar a conclusão oposta) e defendiam a necessidade de defender o "legado" de Lula, argumentando que as demissões poderiam desorganizar a base aliada no Congresso.

Houve um até - não qualquer um, o líder do governo no Senado, José Pimentel - que enxergou na atitude mais rigorosa do governo um caminho aberto para o passado: "A gente nunca pode esquecer que nos anos de chumbo esmagaram os políticos e as instituições. O presidente Getúlio (Vargas) teve de dar um tiro no peito", disse em discurso em tom dramático.

A expressão "roncos da reação" aplicava-se antigamente aos arreganhos do governo autoritário contra os anseios de retomada democrática.

Mal comparando, agora ocorre o mesmo quando resistem a mudanças aqueles cujo projeto é fazer do Estado um mero instrumento de seus interesses políticos.

Dilma Rousseff tem diante de si um dilema: ou os atende e deixa tudo como está ou se escora em sua crescente aceitação popular e usa o imenso poderio presidencial para o único objetivo que faz sentido: consertar o que vai mal para impedir que a democracia representativa no Brasil ultrapasse a fronteira do fundo do poço.

O mau combate. O deputado cassado e réu do processo do mensalão José Dirceu critica o caráter moralista dos movimentos de combate à corrupção.

Como não sugere outra forma (talvez amoral) de luta, fica a impressão de que para ele o ideal seria que o País aceitasse incorporar a corrupção à paisagem ou, quem sabe, defender a descriminalização desse tipo de "malfeito".

Na atual conjuntura em que vicejam rebeldes sem causa, não faltariam adeptos ao mau combate.

O que, aliás, já se nota nas manifestações ironicamente agressivas a respeito do baixo comparecimento aos atos de protesto anticorrupção.

Nada a acrescentar. Carlos Lupi foi chamado ontem ao Palácio do Planalto para se explicar à presidente Dilma Rousseff e convidado hoje a fazer o mesmo no Senado.

Diante do volume de denúncias, do constrangimento e até revolta de parte do PDT e das fotos comprovando a mentira sobre a viagem em companhia de dono de ONG acusada de desviar dinheiro de convênio, francamente, não há mais nada que o (ainda) ministro possa explicar.

Se há algo de que Lupi e seus antecessores nos recentes escândalos não podem reclamar é da falta de espaço para o amplíssimo exercício da defesa.

GOSTOSA


Quedas em série - MIRIAM LEITÃO



O GLOBO - 17/11/11


A crise europeia já derrubou os governos de Portugal, Itália, Espanha, Irlanda, dois primeiros-ministros gregos, pode influenciar na eleição francesa e já provocou derrotas políticas de Angela Merkel, da Alemanha. Os governos técnicos da Grécia e da Itália não têm varinha de condão. Até sexta-feira, Mario Monti terá que ter a aprovação do Parlamento para o novo governo italiano.

Política e economia andam colados. Não há cor predominante entre vencedores. Se o governo é conservador, ganha a esquerda; se é esquerda, ganha o conservador. O que o eleitor pede é uma nova tentativa do grupo oposto. Em janeiro, caiu o governo de Brian Cowen na Irlanda. Simplesmente entrou em colapso com a renúncia sucessiva de ministros. Em Portugal, renunciou José Sócrates. Na Espanha, o primeiro-ministro José Luiz Zapatero teve que deixar o governo. Na Grécia, caiu primeiro o governo conservador que tinha manipulado dados das contas públicas para esconder déficit e dívida. O governo socialista de George Papandreau apareceu como alternativa salvadora. Teve o mérito de tirar os esqueletos fiscais de dentro do armário e o que se viu foi assustador: dívida de 150% do PIB e déficit acima de 10%. Mas, sem capacidade de resolver o assunto, caiu também. Na Itália, Silvio Berlusconi sobreviveu a todo o tipo de denúncia de comportamento grotesco, mas não à crise que eleva o custo da dívida italiana.

Quando a economia entra em dificuldades desse tamanho, a política vai para a berlinda. Em Portugal, em março, depois de seis anos no governo, o primeiro-ministro José Sócrates renunciou. O gesto foi consequência direta da crise e do fato de que o quarto programa de estabilidade financeira foi recusado pelo Parlamento. Na Espanha, em julho, o presidente do Conselho de Ministros, José Luis Zapatero, socialista, avisou que anteciparia para este 20 de novembro a eleição que encerraria seu período no poder, que começou em 2004. A previsão é que a oposição conservadora ganhará a eleição. O novo governo assumirá no começo do ano, mas os problemas se acumulam no alto desemprego e juros cada vez mais elevados cobrados pelos bancos para rolar a dívida espanhola.

Nos últimos dias caíram os governos de Silvio Berlusconi, na Itália, e George Papandreau, na Grécia. O movimento na Itália, com Mario Monti escolhido para liderar o governo, e na Grécia, com Lucas Papademos, é o mesmo: escolher economistas, técnicos, com ligação com a União Europeia para comandar novos governos. Monti montou um gabinete sem políticos e será também ministro da Fazenda. Papademos ontem conseguiu um forte apoio do Parlamento grego para o seu governo.

É ilusão achar que técnicos resolverão tudo que os políticos não conseguiram. Eles podem ser bem sucedidos mas nenhum governo parlamentar consegue se sustentar só com técnicos, é preciso composição com as forças políticas e, mais importante, convencer a população das medidas a serem tomadas.

A crise é a mais grave já vivida pela Europa desde o fim da Segunda Guerra. Não está restrita a um país, é de todo o bloco, indo além dos que usam o euro como moeda. As medidas serão dolorosas e controversas, o que indica que mais instabilidade política varrerá a Europa antes do fim do problema.

Crises bancárias são agudas, crises fiscais, crônicas. A da Europa é fiscal, o que quer dizer que demorará muito a chegar ao fim. A Europa pode ter anos de baixo crescimento, com desemprego em alta, oscilando entre culpar ora a esquerda, ora a direita, e alimentando o ressentimento contra os imigrantes.

Há quem considere que a culpa é do mercado financeiro. Desregulado, ele é um produtor de crises e tem desestabilizado governos e países com um jogo conhecido: cobra cada vez mais juros para rolar dívida dos governos e os países vão se afundando cada vez mais. Há quem considere que a culpa é dos governos, que gastaram demais, são até hoje perdulários em alguns programas sociais que beneficiam não os pobres, mas a classe média, endividaram-se demais na ilusão de que o euro dera a eles a pedra filosofal da rolagem barata da dívida. As duas críticas têm razão. Os governos gastaram demais e fizeram dívidas insustentáveis; os mercados continuam sendo focos de crise e desestabilização, e os bancos continuam sendo socorridos sem correção dos problemas.

Os governos técnicos de Monti e Papademus darão certo dependendo da capacidade de articular programas tecnicamente sólidos e politicamente aceitáveis. Não são mágicos por serem técnicos. Enfrentarão os mesmos dilemas e impasses que os antecessores. O mundo fica melhor sem Berlusconi no comando da Itália, por motivos que vão do uso abusivo de seus veículos de comunicação até às acusações de sexo pago com menores de idade, mas Monti terá que vencer várias batalhas. A primeira será receber o apoio do Parlamento para o gabinete.

Mas a pergunta ainda não respondida é se o euro sobreviverá à crise. Os líderes da Europa não mostraram que sabem que estão encurralados. Precisam ter uma mapa do caminho para sair da crise numa área que tem um sistema monetário único para países de regimes fiscais diferenciados. Não pensar no cenário de crise foi o pecado inicial dos arquitetos da Zona do Euro.

TÃO LONGE, TÃO PERTO - MÔNICA BERGAMO



FOLHA DE SP - 17/11/11
A Prefeitura de SP vai inaugurar nas próximas semanas um centro de convivência para 200 menores da cracolândia ao lado da Sala SP, que abriga a Osesp. Ele ficará aberto das 8h às 22h.

VIZINHOS

Espaços com esse perfil sempre geram reclamações de vizinhos. A expectativa, no caso, é sobre a reação dos usuários da Sala SP. A vice-prefeita Alda Marco Antonio, que é também secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, diz que está otimista. "Já levei pessoas [que frequentam os concertos] lá e todas gostaram, me deram os parabéns".

ENXUTA

Se dependesse só do desejo da presidente Dilma Rousseff, a reforma ministerial que ela planeja fazer no próximo ano poderia levar à extinção de até 17 dos 38 ministérios.

A informação circula em gabinetes de ministros graduados do governo.

ZÍPER

O ministro da Educação, Fernando Haddad, deve anunciar hoje o fechamento de centenas de vagas em universidades brasileiras.

E a intervenção em algumas delas, que foram "reprovadas" seguidas vezes em avaliações do Enade.

RIGOR DA LEI

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) apresentou projeto de lei no Senado para modificar o artigo do Código Penal que trata de estupro. Defende que os atos libidinosos, como aqueles denunciados recentemente por mulheres no Metrô de SP, sejam enquadrados como atentado violento ao pudor, com penas de até seis anos de prisão.

GRAVIDADE

Em 2009, uma reforma no Código Penal enquadrou todas as agressões sexuais como estupros, prevendo de seis a dez anos de prisão. No entanto, muitos dos molestadores acabam tendo seus atos, quando não envolvem conjunção carnal ou prática de sexo oral, classificados apenas como contravenção e são punidos com multas ou penas irrisórias.

PÊNALTI
O Banco do Brasil pode não levar o passe de Neymar. Em negociação para ter o craque como garoto-propaganda, está sendo atropelado por outra instituição financeira, privada, que fez uma oferta maior. "A notícia de que ele fica no Brasil até a Copa de 2014 agitou o mercado. As empresas, que não queriam correr o risco de contratar um jogador que poderia sair do país, perderam o receio", diz Luis Alvaro Ribeiro, presidente do Santos.

NADA NO LUGAR
Já a Teisa, empresa de conselheiros do Santos que compraram 5% dos direitos de Neymar em 2010 por

R$ 3,5 milhões, vai ver seu investimento virar pó. Caso o craque fosse vendido para um clube europeu, o grupo embolsaria até R$ 7 milhões -lucro de 100%. Como Neymar ficará no Brasil, a empresa, que tinha os direitos até 2014, nada receberá.

NUNCA PARA
A cidade de São Paulo foi considerada o décimo centro urbano com maior agitação cultural no mundo. O ranking, liderado por Nova York, faz parte da pesquisa "Cidades de Oportunidade", elaborado pela PricewaterhouseCoopers. Foram avaliados itens como qualidade e variedade de teatros, restaurantes, programação musical e cinemas.

NA CHUVA
Mariana Ximenes filmou cenas de "O Gorila", anteontem, no bairro Santa Cecília, em SP. Ela será Cíntia no longa baseado em conto de Sérgio Sant'Anna, com produção da RT Features. José Eduardo Belmonte é o diretor.

NOTAS MUSICAIS
A Orquestra Sinfônica da USP fez concerto, anteontem, na Sala São Paulo, em comemoração do centenário da Faculdade de Medicina da universidade. O governador de SP, Geraldo Alckmin, o secretário estadual da Saúde, Giovanni Cerri, o reitor João Grandino Rodas e a administradora Carolina Tavares estavam presentes na plateia.

CURTO-CIRCUITO
Wilson Tafner abre hoje, às 19h, a exposição "Fragmentos Urbanos", no Escritório de Arte Cencin.

Vera Simão lança hoje o evento Fashion Casar.

Roberto Justus promove hoje o lançamento da agência VML@Y&R.

A chef mirim Rebeca Chamma, de nove anos, autografa hoje, às 19h, o livro "Na Cozinha da Rebeca", no restaurante Copa, no estádio do Morumbi.

O inglês Cerith Wyn Evans abre a exposição "Incarnation São Paulo" hoje, na Fortes Vilaça.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

A pauta dos jovens sem pauta comum - CONTARDO CALLIGARIS


FOLHA DE SP - 17/11/11

Esbarro em comentários que juntam lugares e fatos como se tivessem relevância comparável

1) A Primavera Árabe começou em dezembro de 2010, quando, na Tunísia, um jovem vendedor ambulante, Mohamed Bouazizi, imolou-se pelo fogo diante dos guardas que o esbofetearam e confiscaram sua charrete.

Essa reação heroica ressoou pela costa oriental do Mediterrâneo. Bouazizi, sacrificando-se, proclamava a autonomia inalienável do indivíduo: os governantes podem me forçar a viver como querem, mas sempre me sobrará a liberdade de me matar -e de envergonhá-los, pela coragem de meu suplício.

O gesto de Bouazizi fez com que houvesse, enfim, na Tunísia, eleições livres. O movimento islâmico Al Nahda ganhou, mas não conseguiu a maioria absoluta e talvez não possa impor um governo fundamentalista. De qualquer forma, não sei mesmo se Bouazizi, caso estivesse vivo, teria votado nos religiosos que nos dizem como viver ou nos laicos.

E os jovens que lutaram contra a ditadura de Gaddafi, o que eles pensam da declaração do líder do Conselho Nacional de Transição da Líbia, segundo o qual a lei islâmica será a base para o novo governo nacional? Concordam ou discordam?

Uma pergunta análoga espreita os jovens egípcios, que sacudiram o trono de Mubarak, e os sírios, que protestam (e morrem) nestes dias.

Se alguns deles respondessem que se livraram de uma ditadura para se sujeitarem aos imames, não haveria por que criticá-los: afinal, o caminho dos ideais modernos de liberdade individual é árduo e incipiente (mesmo no Ocidente).

No século 16, a Reforma protestante se deu o direito de ler a Bíblia sem a tutela da igreja -e inventou assim nossa liberdade de consciência.

Mas, na época, os próprios reformados, que tinham acabado de se revoltar contra Roma, criaram a Genebra de Calvino, tão opressiva quanto a Roma do papa -ou quanto seria, hoje, a Líbia sob a lei muçulmana.

2) O Ministério da Justiça britânico acaba de publicar um relatório segundo o qual mais de dois terços dos saqueadores de Londres (no começo de agosto) eram jovens com sérias dificuldades escolares (nas ruas dos enfrentamentos, as únicas lojas ilesas foram as livrarias).

Conclusão sumária: jovens iletrados roubaram roupa de marca e celulares para tentar ser cidadãos-consumidores como os outros, apesar do déficit educacional que os prende nas margens sociais.

3) Em 16 de outubro, o movimento Ocupe Wall Street pediu manifestações mundo afora. Na Itália, houve protestos violentos de jovens contra a possibilidade de que o plano de austeridade suprima benefícios adquiridos. Na Espanha Falta espaço, mas verifique: as manifestações tiveram sentido e alcance diferente na Espanha, na Grécia, em Portugal e no Brasil.

Será que é preciso também lembrar que o movimento Ocupe Sampa tem pouco a ver com Ocupe Wall Street? E que os jovens chilenos se manifestaram, desde maio, por razões diferentes das dos "indignados" de Oakland (Califórnia)?

A praça Tahir não é Zuccotti Park, que não é o Anhangabaú nem a USP. Parece óbvio, mas o fato é que não paro de esbarrar em comentários que juntam lugares e acontecimentos como se tivessem relevância comparável e inspiração comum.

Ora, esses movimentos e manifestações têm só uma coisa em comum: todos juntos, eles permitem uma espécie de "pauta projetiva".

Ou seja, eles não têm pauta comum (e, às vezes, não têm pauta alguma), mas, uma vez reunidos, constituem um conjunto suficientemente incerto para que nós, observadores, possamos lhes atribuir uma pauta que é da gente. Explico.

Sofremos com um sentimento de iniquidade, uma vontade de mudança, uma tensão do espírito crítico
-em suma, com a insatisfação abstrata que é a quintessência do espírito ocidental moderno e de sua inquietação.

Até aqui, tudo bem -só que, provavelmente, somos envergonhados por nossa incapacidade de pensar alternativas concretas. Receamos que nossa insatisfação apareça como o efeito combinado de uma preguiça intelectual com um vago desejo adolescente de que o mundo seja melhor.

Solução: numa série heterogênea de manifestações de jovens, "encontramos" uma pauta "comum", com a qual simpatizamos -obviamente, pois ela é apenas uma projeção de nossas próprias queixas mais abstratas.

É uma maravilha: podemos ser condescendentes com a eventual mediocridade de nossas próprias ideias. Olhe só, eles estão protestando contra o "sistema" injusto; é um pouco genérico, mas é bonito, não é?

Ueba! O Lupi deu um looping! - JOSÉ SIMÃO


FOLHA DE SP - 17/11/11

Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República!

E tô rindo até agora do slogan que o FHC Boca de Sovaco sugeriu para o PSDB: "Yes, we care". Tradução: "Sim, nós somos importados". Rarará!

E, quando eu digo que o PSDB é o Partido dos Socialites do Brasil, eles reclamam!

E os ministros? Escândalo na Esplanada dos Ministérios é como caixa de lenço de papel: você puxa um e vem logo três! Você nunca consegue puxar um só!

E adorei a charge do Iotti com o Lupi de joelhos: "Dilma, não atire. Eu te amo!". Rarará!

Esse ministro é muito comédia! Parece personagem de quadrinhos! Ele tem cara de "gulp". Sabe aqueles balões de quadrinhos: "Guuulp". Tem cara de quem soltou pum na classe. Ou cara de quem está prestes a soltar um.

Esse Lupi vai pro espaço. Ou como tá todo mundo dizendo: o Lupi deu um looping!

E aí sai o Lupi e entra quem no lugar, hein? Sei lá! Não tem virgem na zona! Rarará!

E corrupção mesmo é o que acontece nos Estados Unidos, onde o vice Dick Cheney provocou uma guerra para roubar dinheiro e continua solto até hoje!

E o Pará, que vai ser dividido em três? Eu já sugeri Para Cima, Para Baixo e Parapeito. Em homenagem à cantora Fafá de Belém!

E, por mim, o Maranhão pode ser dividido até em dez. Contanto que o Sarney continue mandando. Nos dez! Rarará!

E eu vou chamar a Dilma de presidenta agora.

Declaração da mulher de José Saramago quando assumiu a presidência da Fundação Saramago: "Sou presidenta. Essa palavra não existia porque não existia a função. Do momento em que existe a função, existe a palavra, sou presidenta".

Então, se até a viúva de Nobel de Literatura diz que é presidenta, vou chamar a Dilma agora de presidenta. Presidentuça! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E olha o que a falta de atenção provoca numa manchete: "Homem é encontrado vivo com uma VACA cravada no peito em Cândido Mota". Rarará!

E é isso que estou precisando hoje: "ARRUMA-SE NERVOS. Massagem relaxante". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA


MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO



FOLHA DE SP - 17/11/11


Concorrentes, hotéis e cruzeiros unem forças
Em parceria rara entre dois setores acostumados a se encararem como concorrentes, hoteleiros e empresas de cruzeiros marítimos pela primeira vez se uniram em um acordo para realizar projetos de capacitação, comercialização e promoção de destinos.

O contrato fechado entre o Fohb (que reúne hotéis) e a Abremar (associação de cruzeiros) prevê também união de esforços para reivindicações de mudanças na legislação trabalhista e na tributária que serão levadas ao governo.

A decisão teve como base a conclusão de estudo encomendada pela Abremar à FGV. O trabalho aponta que 15% dos entrevistados aproveitam para ampliar a viagem e permanecer na cidade de desembarque antes do cruzeiro ou depois. Destes, mais de 60% se hospedam em hotéis. Os pontos mais procurados são Santos e Rio.

"A intenção é buscar sinergia para enfrentar problemas comuns", diz Ricardo Amaral, presidente da Abremar.

Na capacitação, a ideia é aproveitar as semelhanças de carência de mão de obra em áreas comuns a ambos os segmentos, como alimentos e bebidas e recreação.

"Na comercialização, o setor hoteleiro precisa reconhecer que o setor de navios é bom em promoção e marketing. O navio pode oferecer ao cliente a possibilidade de passar o dia em terra em determinado hotel ou resort. Isso ainda é muito esporádico no Brasil. Precisa ser melhor explorado", diz Julio Serson, vice-presidente do Fohb.

SEM ESPAÇO
A taxa de vacância dos escritórios de luxo na cidade de São Paulo ficou em 7,5% no final do terceiro trimestre deste ano, segundo a consultoria Jones Lang LaSalle.

Ao final do primeiro semestre, o índice era de 7,7%.

Na CB Richard Ellis, também houve queda da taxa no mesmo período. O índice passou de 4,7% para 2,2%.

Em setembro, os imóveis vagos da construtora CCP, entre edifícios comerciais, shoppings e condomínios logísticos, chegou a 0,2%. No mesmo mês de 2010, era de 0,8%.

A construtora e incorporadora Bueno Netto está sem escritórios para alugar nos 20 prédios que possui em São Paulo. A maioria dos imóveis está localizada na região da Faria Lima e da Vila Olímpia.

Até o mês passado, a empresa tinha uma taxa de vacância de 3%.

GESTÃO NO TRI
As soluções de executivos ligados ao mercado financeiro para equacionar as dívidas do Santos Futebol Clube são abordadas em "É Tri", do jornalista Vitor Sion, desta coluna da Folha.

Além da questão administrativa, o livro trata dos três títulos do clube na Copa Libertadores.

Os lançamentos serão nos dias 22, em Santos, no estádio da Vila Belmiro, e 29 de novembro, em São Paulo, na unidade Lorena da Livraria da Vila.

MESA NATALINA
A produção de panetones da Pandurata, dona das marcas Bauducco e Visconti, deve crescer 10% neste ano, em relação a 2010.

Está prevista a fabricação de 64 milhões de unidades e um incremento de 18% no faturamento. A empresa exportará para 25 países -no ano passado, eram 22.

A Village, empresa do mesmo setor, também estima que as vendas do produto no mercado interno ultrapassem em 10% o volume do ano passado. No mercado externo, que absorve quase 5% da produção, a empresa registra vendas 30% maiores.

SEM ESPAÇO
A taxa de vacância dos escritórios de luxo na cidade de São Paulo ficou em 7,5% no final do terceiro trimestre deste ano, segundo a consultoria Jones Lang LaSalle.

Ao final do primeiro semestre, o índice era de 7,7%.

Na CB Richard Ellis, também houve queda da taxa no mesmo período. O índice passou de 4,7% para 2,2%.

Em setembro, os imóveis vagos da construtora CCP, entre edifícios comerciais, shoppings e condomínios logísticos, chegou a 0,2%. No mesmo mês de 2010, era de 0,8%.

A construtora e incorporadora Bueno Netto está sem escritórios para alugar nos 20 prédios que possui em São Paulo. A maioria dos imóveis está localizada na região da Faria Lima e da Vila Olímpia.

Até o mês passado, a empresa tinha uma taxa de vacância de 3%.

LIVRO CONCENTRADO
A venda de livros deve crescer no máximo 10% neste ano, segundo a ANL (Associação Nacional de Livrarias).

As grandes redes serão as principais responsáveis pelo aumento, de acordo com o presidente da entidade, Ednilson Xavier.

"As livrarias pequenas e médias vão, na melhor das hipóteses, atingir o mesmo índice de vendas de 2010. A sobrevivência delas depende da especialização em nichos, como o infantil e o acadêmico", afirma Xavier.

Entre as livrarias do país, 34% vendem menos que 50 mil exemplares por ano.

Em 2010, as companhias que comercializaram mais de 500 mil unidades representaram 32% do total de livrarias, segundo estudo da ANL.

"A tendência do nosso mercado é ficar cada vez mais concentrado", diz Xavier.

Lata de lixo Mais de 72% dos consumidores da classe D não observam se as embalagens de produtos no supermercado são recicláveis, segundo pesquisa da QuorumBrasil. Apenas 31% afirmam que costumam separar o lixo.

Costura A mineira Patricia Bonaldi fechou contrato com a multimarcas de luxo inglesa Harrods, que comprou a coleção de verão 2012 da estilista. A empresária inaugura sua primeira loja em São Paulo, na Bela Cintra, nesta semana.

VISÃO DE COCKPIT
A Tag Heuer Eyewear terá óculos Ayrton Senna que chegarão ao mercado em setembro de 2012. O diretor-geral Pascoal Brouard veio ao Brasil apresentar o protótipo e detalhar a parceria com o Instituto Ayrton Senna. Será um único modelo, com cores ainda em estudo. Tradicional fabricante de relógios de alta tecnologia, a Tag Heuer tem sua imagem associada a esportes. "Ayrton já tinha uma parceria com a marca. E agora, 10% do faturamento líquido irá para projetos educacionais", diz a presidente do instituto, Viviane Senna.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

Legalizar a Rocinha e o Brasil - CARLOS ALBERTO SARDENBERG



O GLOBO - 17/11/11

O mercado sempre funciona, a sociedade sempre encontra os meios de produzir mercadorias e serviços e de distribuí-los. Pode ser dentro do sistema legal ou fora dele. Mas sempre haverá algum tipo de regra, legal ou ilegal, formal ou informal, explícita ou implícita.

Havia na Rocinha mais de uma operadora de TV a cabo, atendendo à demanda da população local. Tudo informal, ilegal ou clandestino, em relação ao sistema institucional vigente fora da Rocinha. Tratava-se do "gatonet", controlado pelo tráfico.

Lá dentro, porém, do ponto de vista da população, a operação do cabo não era clandestina. Todos sabiam onde ficava, contratavam a assinatura, pagavam as mensalidades e recebiam os serviços, incluindo a instalação dos equipamentos.

Por outro lado, todo mundo sabia que se tratava de um "gato" - ou seja, que a operadora local estava simplesmente roubando o sinal de companhias legalmente instaladas no país, que pagam os impostos e os custos da formalidade, como a contratação com carteira assinada.

E então, como ficamos? Os assinantes, as pessoas, os moradores da comunidade são culpados pela utilização daquele serviço? É a mesma situação das pessoas que compram CDs e programas de computador piratas?

Parece um pouco diferente. Primeiro, lá na Rocinha, o único sistema disponível era o gatonet, já que o legal simplesmente não chegava. Depois, não havia qualquer tipo de repressão, dada a ausência do Estado. Logo, era algo assim tacitamente consentido. Ou seja, caímos naquele terreno em que a pessoa utiliza um serviço que sabe ilegal, mas o faz por não ter opção.

Diferente, portanto, do consumidor que adquire produtos piratas, tendo a altenativa da legalidade. Mas o que fazer agora? A Rocinha pacificada tem de ser também a Rocinha legal, em todos os aspectos. Não pode funcionar meio legal, meio no crime. A questão é: como fazer a transição. Complicação extra e crucial: a formalidade no Brasil é muito cara.

De um lado, portanto, praticamente todas as atividades econômicas na Rocinha (salões de beleza, bares, lan-houses, imobiliárias, serviços de mototáxi e entregas etc) estão em algum tipo de ilegalidade: falta de licenças para operar (incluindo sanitárias e dos bombeiros), falta de registro formal do negócio nos órgãos municipais, estaduais e federais, não recolhimento de impostos, taxas e contribuições, empregados sem carteira assinada e sem qualquer benefício trabalhista, e por aí vai.

Ou seja, nada ali resiste a um "choque de ordem". Exigido o cumprimento da lei, toda a atividade econômica será paralisada. Ou porque o pessoal não terá dinheiro para formalizar os negócios ou porque não terá condições práticas (lojas de tamanho insuficiente para os padrões legais, por exemplo). A cobrança, portanto, interrompe comércio e serviços e, mais importante, piora a vida das pessoas que moram ali.

Primeira conclusão: as autoridades precisarão ter muita tolerância neste momento. Claro que as atividades do tráfico, os negócios ligados aos traficantes precisam ser imediatamente fechados. Mas será preciso providenciar uma transição para todos os outros, os que estavam ali mais como vítimas da ausência do Estado do que como culpadas.

Por outro lado, se a Rocinha será integrada à vida normal da cidade, está claro que precisa viver sob o mesmo império da lei. No mínimo, por uma questão de concorrência. Se todo mundo puder entrar e sair da Rocinha sem riscos, por que a mulher vai fazer o cabelo num salão de fora se o da Rocinha será certamente mais barato porque não paga o pesado custo da formalidade?

Mas a situação vai além disso, é claro. Do ponto de vista social, político e ético, não pode existir a cidade formal e a informal, a legal e a ilegal. Sim, todos sabemos que isso acontece. Todos sabemos que a pirataria rola solta por aí, mas não podemos nos conformar com isso. E a legalidade deve melhorar e não piorar a vida das pessoas.

Tudo considerado, o Rio precisa de uma legislação para operar a transição da Rocinha e outras comunidades à normalidade.

Precisa de lei porque a coisa não pode ficar conforme a vontade do governante de plantão - já que isso seria a porta escancarada para a exploração política e a corrupção - de novo.

E fica mais uma evidente como a formalidade é complicada e cara em qualquer lugar do Brasil. Reparem: nos casos aqui comentados, a formalidade liquida o negócio. Mas quanto é o custo Brasil que nem conseguimos medir?

Não se trata, pois, de desburocratizar para a Rocinha, mas para todas as comunidades do país, para todas as pessoas que querem ganhar dinheiro honestamente. Esta seria uma outra liberação.


CUSTO TRABALHISTA

Do presidente da japonesa NTT Data, uma multinacional, Toru Yamashita, em declarações à revista "Exame": "É mais fácil investir no Brasil (do que na China). O difícil aqui não é entrar , mas sim gerenciar os negócios devido a pecualiaridades, como a severa lei trabalhista, algo que nunca vimos em outros lugares."

Se é difícil para uma multinacional, imaginem para os empreendedores da Rocinha.

Perigo real e imediato - RENATA LO PRETE



FOLHA DE SP - 17/11/11
Linha direta Lupi contou a pedetistas que, durante a reunião de ontem no Planalto, Dilma o colocou ao telefone para falar com Lula. O ex-presidente teria incentivado o ministro a resistir, a exemplo do que fez com Orlando Silva pouco antes de sua degola no Esporte.

Choque térmico Quem viu Lupi diz que o ministro saiu mais animado do papo com Dilma do que da conversa com correligionários.

Mão de ferro Mesmo perdendo apoio nas bancadas do PDT, Lupi sabe que pesa a seu favor o amplo controle exercido sobre a sigla nos Estados. Nos mais importantes, os pedetistas são dirigidos por comissões provisórias, sujeitas à intervenção nacional sobretudo na definição de alianças eleitorais.

Caseiro Se o Trabalho mudar de titular, mas seguir com o PDT, dois nomes, no momento, agradam cabeças do Planalto: Vieira da Cunha (RS) e Brizola Neto (RJ).

Um agrado João Paulo Cunha (PT-SP) trabalha para incluir no Orçamento de 2012, por meio de uma emenda da CCJ, previsão de reajuste para o Judiciário. A ideia é um aditivo com valor estimado em R$ 250 milhões. O deputado responde no STF ao processo do mensalão.

Sigamos Na reunião de coordenação do governo, Dilma colocou o tema DRU em pauta, mas fez questão de dizer que queria "discutir o futuro", e não avaliar o passado. A ministra Ideli Salvatti e o líder Cândido Vaccarezza (PT-SP) bateram cabeça na votação do primeiro turno do projeto, na semana passada.

Passando... Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, virá ao Brasil em dezembro conversar com Dilma. O encontro, a ser anunciado oficialmente hoje, acontecerá em 1º de dezembro.

...o chapéu A primeira mulher a dirigir o FMI quer saber o que o Brasil pode fazer para ajudar a conter a turbulência global. Espera ainda discutir as vulnerabilidades do país -no entender do Fundo, o risco, desta vez, supera o da "marolinha". Além de Dilma, Lagarde verá Guido Mantega (Fazenda) e Alexandre Tombini (BC). No dia 2, ela visita a Febraban em SP. A caminho do Brasil, passará por México e Peru.

Barbearia Do deputado Ricardo Berzoini, em seu Twitter: "Lula fez barba e cabelo. O bigode será na eleição municipal de 2012".

Para depois Geraldo Alckmin adiou para 17 de dezembro reunião do secretariado que ocorreria sábado. Até lá, quer equacionar o espaço do PDT em sua equipe.

Visita à Folha Carlos Jereissati Filho, presidente da Iguatemi Empresa de Shopping Centers S.A., visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Cristina Betts, vice-presidente de Finanças, e Renata Grabert, assessora de imprensa.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio
"Nós vivemos num regime presidencialista, não parlamentarista. Quem tem de dizer o que pensa a respeito do Lupi é a Dilma, não o PDT."
DO DEPUTADO MIRO TEIXEIRA (PDT-RJ), defensor da saída do ministro do Trabalho, condenando a ideia do partido de reunir a Executiva Nacional para discutir a situação dele diante do acúmulo de denúncias.

contraponto
Em casa

Certa vez, em visita ao ministério de Carlos Lupi, um sindicalista conversava com Luiz Antônio de Medeiros, então responsável pela área de Relações do Trabalho. Quando este saiu da sala para resolver uma pendência, Paulinho da Força, que também estava por ali, acomodou-se sem a menor cerimônia na cadeira do secretário.
Surpreendido com a cena, o visitante acabou por relatá-la a Lupi, que deu de ombros:
-Esquece, o Paulinho é assim mesmo... Se eu levantar, ele senta na minha cadeira também!

Ameaça às garantias - JONAS LOPES DE CARVALHO NETO


O Globo - 17/11/2011

Tramita a toque de caixa no Senado Federal o projeto de emenda constitucional nº 15/2011, conhecido como PEC dos Recursos, do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). O objetivo da emenda é antecipar o trânsito em julgado dos processos para a segunda instância, estabelecendo imediata execução das decisões judiciais, logo após as decisões dos Tribunais de Justiça dos Estados e dos Tribunais Regionais Federais.

Não obstante, tal proposta conta com o apoio explícito do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso, sob o argumento de que a medida vai evitar o acúmulo de processos e desafogar os tribunais superiores. O relator, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), precisa avaliar com muita cautela as garantias constitucionais que podem ser suprimidas com a aprovação do projeto.

A Constituição traz, especificamente no seu artigo 5, sob o título "direitos e garantias individuais", os princípios do devido processo legal e da ampla defesa, que oferecem ao cidadão o direito a lutar na Justiça pelos seus direitos, com a garantia de um processo justo e o mais irrestrito direito de defesa.

Ao se estabelecer como última instância os Tribunais de Justiça dos Estados e os Tribunais Regionais Federais, a garantia constitucional do jurisdicionado, de levar aos tribunais superiores sua tese de defesa, está sendo suprimida.

O argumento de que a demora no julgamento de recursos protelatórios inviabiliza a execução das decisões é extremamente válido, sobretudo quando se analisa o número de recursos que deram entrada no Superior Tribunal de Justiça somente em 2010, quase 230 mil. Mas a lei já criou mecanismos para inibir esses recursos protelatórios - imposição de multas pecuniárias, além de existir a chamada execução provisória, em que a parte vencedora em segunda instância, mesmo existindo recursos para os tribunais superiores da parte vencida, pode dar início ao processo de execução, inclusive com medidas constritivas, como penhora on-line (retenção de valores diretamente na conta bancária), bloqueio de bens, entre outras.

O legislador constituinte elevou os direitos e garantias fundamentais ao status de cláusula pétrea (artigo 60), o que significa dizer que, para suprimir tal direito, não se pode fazê-lo por emenda, apenas por uma nova ordem constitucional, ou seja, promulgando-se uma nova Constituição. Portanto, é preciso avaliar com muita cautela a PEC 15/2011, pois ela pode vir a minimizar garantias constitucionais que o povo tanto lutou para adquirir.

UMA JUMENTA, UM CAVALO E UM LADRÃO


As drogas e a lei - KENNETH MAXWELL


FOLHA DE SP - 17/11/11

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, em entrevista ao jornal britânico "The Observer" antes de sua visita recente ao Reino Unido, instou por uma séria reconsideração da política mundial em relação às drogas.
Santos reconheceu que qualquer mudança de política requereria colaboração internacional. Mas acrescentou: "Somos o país que mais sofreu com isso. Com sorte, o mundo entrará em um debate frutífero e dinâmico sobre essa questão e, caso uma solução seja desenvolvida, eu ficaria muito feliz em apoiá-la".
As observações dele assumem um peso especial, pois as críticas anteriores à política quanto às drogas foram obra de líderes políticos de grande distinção, mas já aposentados.
A Comissão Global sobre Política de Drogas contava com o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, Paul Volcker, ex-presidente do Fed (o banco central dos EUA), e o ex-secretário de Estado norte-americano George Shultz, bem como os escritores Carlos Fuentes e Mario Vargas Llosa. Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, César Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México) copresidiram a Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia.
As conclusões de todos esses relatórios, porém, foram bem semelhantes. A Comissão Global afirmou que os líderes políticos precisavam ter a coragem de articular publicamente que "a guerra contra as drogas não foi vencida e não poderá sê-lo". E que a hora de agir não pode ser postergada. Todos esses relatórios instam os líderes a "remover o tabu quanto ao debate e à reforma".
A melhor estimativa recente é a de que 440 mil quilos de cocaína pura são consumidos anualmente. Os três principais países produtores andinos são Colômbia, Bolívia e Peru. O mercado mundial de cocaína está avaliado em US$ 85 bilhões. Os traficantes ficam com 99% dos lucros.
A Europa recebe US$ 33 bilhões anuais em cocaína, o dobro do valor consumido há uma década. Os usuários europeus de cocaína estão 80% concentrados no Reino Unido, na Espanha e na Itália. A ONU estima que até 272 milhões de pessoas usaram drogas ilegais pelo menos uma vez em 2010.
O presidente Santos se opõe à legalização de heroína, mas acredita que cocaína e maconha merecem discussão. E certamente conta com uma credibilidade conquistada a duras penas. Será que algo acontecerá a esse respeito? Aparentemente não, entre os maiores consumidores de cocaína.
Nos EUA e no Reino Unido, os políticos simplesmente não querem ouvir sobre uma solução para o problema das drogas que substitua prisão por legalização. Mas o Brasil poderia se tornar um líder quanto a isso. Juan Manuel Santos mostrou o caminho.