terça-feira, abril 16, 2013

Com todo o respeito - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 16/04

O Ano do Brasil na Feira de Livros de Frankfurt vai custar R$ 28 milhões, dinheiro meu, seu, nosso. Esse orçamento inclui o cachê de R$ 380 mil de Gal Gosta.

Mas, se o negócio é vender a literatura brasileira, o que a querida cantora vai fazer na Alemanha?

Ataque pirata
Mestre João Gilberto, gênio da MPB, deve abrir nova frente de luta contra a gravadora EMI.

Estes dias, ele planeja fazer uma representação na Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (antiga delegacia antipirataria).

A acusação é de violação de direitos.

Como se sabe...
Desde 1992, João move uma ação contra a gravadora.

A acusação é que a EMI remasterizou, sem sua autorização, três álbuns, alterando o som original, o que foi confirmado por laudos técnicos do maestro Guerra Peixe, de Gil e Caetano.

Nova casa de Callado
A obra do escritor Antonio Callado está trocando a Nova Fronteira pela José Olympio.

Aos 81 anos, a José Olympio reúne um timaço das letras, como Ferreira Gullar, Rachel de Queiroz, Marques Rebelo, Mário Palmério, Ariano Suassuna e José Cândido de Carvalho.

Rádio Corredor
O geólogo Paulo Mendonça, demitido em agosto do comando da OGX depois que a empresa anunciou a redução das metas de produção em até 75%, teria embolsado, nos tempos em que ficou na petroleira, uns US$ 120 milhões de bônus.

A conferir. Via Sacra em Copa
Uma megavia-sacra vai ocupar a Praia de Copacabana no dia 26 de julho, durante a Jornada Mundial da Juventude.

Do Copacabana Palace ao Leme serão 14 grandes escadarias plantadas no canteiro central da Avenida Atlântica.

Cada uma vai representar as estações do sofrimento de Jesus. O Papa presidirá a via-sacra.

Segue...
Mais de 700 voluntários, além de atores famosos, comporão as cenas. Peregrinos de várias nacionalidades carregarão a cruz.

A direção geral do espetáculo é de Ulysses Cruz, e a cenografia é de Abel Gomes.

Velho Graça
“O universo graciliano”, filme inédito de Sylvio Back sobre Graciliano Ramos, vai ser exibido na Flip, em julho.

Terá legendas em inglês para os convidados estrangeiros. Como se sabe, a Festa Literária de Paraty homenageia este ano o autor de “Vidas secas”.

A geladeira da Copa
Os estádios da Copa das Confederações vão contar com este novo modelo de geladeira da Coca-Cola, veja ao lado. Ao todo, serão 1.753. Cem delas usam gás natural para a refrigeração, que consome menos energia.

Na Copa de 2014, as 3.824 geladeiras nos estádios serão a gás natural.

Filhos da PUC
Na página Spotted PUC-Rio, comunidade no Facebook criada por estudantes, uma aluna denuncia que há uma “quadrilha dentro da universidade furtando objetos”.

Eles metem a mão grande nas bolsas e roubam tudo.

Carrasco do Flamengo
O Fluminense lança uma nova camisa oficial branca dia 23 agora. É uma homenagem aos 30 anos do gol que Assis fez no Flamengo, aos 45 minutos do segundo tempo, na final do Campeonato Carioca de 1983. Na gola da camisa estará escrito: “recordar é viver”.

Éque...
Quem não se lembra? A torcida tricolor sempre cantava: “Recordar é viver, Assis acabou com você”.

Boletim médico
O jornalista Alberto Dines, por ordens médicas, ficará de molho por duas semanas.

Nada grave, mas teve que adiar dois lançamentos de livros e uma palestra sobre Stefan Zweig.

Brinquedo da Ilha
“É brinquedo, é brincadeira; a Ilha vai levantar poeira!” é o título do enredo da União da Ilha em 2014.

Gratidão e fé - FRANCISCO DAUDT

FOLHA DE SP - 16/04

A encrenca mora na expectativa de retorno; na religião, pelo menos se livrar do inferno é esperado


Quer ficar pobre, mas pobre mesmo? Aplique todo o seu capital comprando ações da gratidão. São os papéis que mais rapidamente desvalorizam no mercado, com a vantagem de se tornarem negativos. Ou seja: você começa no lucro e acaba devendo.

Há inúmeras ilustrações disso, aqui vão algumas. Quino, cartunista argentino da Mafalda, publicou nos anos 1970 quadrinhos retratando a chegada de um médico para atender uma criança doente. Os pais o veem como um anjo salvador quando ele põe a criança em bom estado. Na hora em que mostra a conta, já está visto como o "demo".

Em "Hamlet", Shakespeare fez Polonius dar conselhos a seu filho que partia em viagem. Entre eles estava: "Não empreste dinheiro a amigo. Quem o faz, perde o dinheiro e perde o amigo".

Conta a lenda que um monge budista caminhava por uma estrada quando foi esfaqueado pelas costas. Antes de morrer, conseguiu ver o rosto do assassino e comentar: "Curioso... Não me lembro de ter te feito nenhum bem na vida".

Ainda há o sapo e o escorpião atravessando o rio, o homem que salvou a cobra do congelamento e outras histórias.

O que há com a gratidão para provocar reações tão contrárias ao intuitivo? Logo na nossa espécie, que tem como seu melhor aspecto a capacidade de altruísmo recíproco, aquele fazer o bem com a esperança de algum retorno? (E não me venham dizer que o verdadeiro altruísmo não espera nenhum retorno, já que são Francisco de Assis, o ícone do altruísmo, rezava que "é dando que se recebe; é perdoando que se é perdoado").

A encrenca mora no retorno. Se você faz algo por alguém que não pode lhe retornar com facilidade ou se o favor é tão grandioso que é uma dívida impagável ("Eu te dei o maior presente de todos: a vida! E agora você quer sair com aquela sirigaita?"), a tendência, já que ninguém ama um credor, é que você seja odiado, deletado, esquecido, e agradeça aos céus se não for assassinado.

"O combinado não sai caro" e "boas contas fazem bons amigos" são princípios de troca muito claros e presentes na cultura americana. Que brasileiro responderá a um favor com "Fico te devendo uma", como eles fazem?

De modo que, se um amigo precisa de dinheiro e não pode devolver a você, dê de presente, não de empréstimo. E se você quiser fazer o bem, deixe claro que o feito traz sua recompensa em si (e traz!), sem dívidas. O que vier (quando e se) é lucro, não pagamento de dívida.

E a fé? Por definição, ela é a entrega amorosa a uma crença absurda, ilógica. Ressurgiu dos mortos no terceiro dia? Subiu aos céus? Nasceu de uma mulher que não conheceu varão? Grande doação é necessária para se acreditar nisso. Mais que isso, é preciso ter um dom, tão difícil que é.

Às vezes, sua motivação não é o amor, mas o medo. Você viu os enlutados pela morte do ditador coreano? Aquilo é amor?

Reparou como na fé existe expectativa de retorno? Nem sempre tão explícita como certos bispos a colocam: "Doe seu dízimo, quanto mais você doar, mais receberá de volta!" Mas, pelo menos, se livrar do inferno é esperado.

Crer na gratidão, creio, é uma espécie de fé.

Sobre trilhos - SONIA RACY

O ESTADÃO - 16/04

Sai amanhã o edital da PPP referente à linha 6 do metrô paulistano. Orçada em R$ 8 bilhões, vem com documentação inédita. “Já conseguimos a licença ambiental”, comemora Guilherme Afif, do conselho estadual gestor do programa.
Os detalhes foram fechados semana passada. Com assessoria do Banco Mundial, será a primeira PPP a incorporar os benefícios da nova lei fiscal para investimentos.
Os interessados terão 90 dias para entregar a proposta.

Serão
Funcionários do setor que confecciona os acórdãos do STF fazem hora extra para terminar o resumo do julgamento do mensalão. “Apressão sobrou até para nós”, desabafou um deles na manhã de ontem.
Maior dificuldade? Reformatar a papelada enviada por alguns ministros. Joaquim Barbosa quer que seja dividida por réus e crimes.

Muy amigos
A ira contra a PEC 37 – que proíbe o MP de investigar - – é tão grande que reuniu velhos rivais em SP, na sexta.
Durante protesto, ficaram lado a lado o procurador de Justiça Márcio Rosa e Felipe Locke, mais votado na lista tríplice, mas preterido por Alckmin para o cargo.

Uni-vos!
Geraldo Magela, secretário do PT, pede que o partido se una em torno da reeleição de Rui Falcão para o comando da legenda. Propôs “chapa de unidade”, coordenada pelo próprio Falcão e por Lula.
Na carta enviada ao partido, Magela diz que não há, no PT, “tantas diferenças” que justifiquem a disputa e que “o objetivo maior” deve ser “a recondução da companheira Dilma à Presidência da República”.
Alémde Falcão, Paulo Teixeira também quer o cargo.

Ufa!!!
A série Revenge conseguiu, domingo à noite, em sua estreia, 15 pontos no Ibope. Pela primeira vez em mais de um mês, a Globo ficou à frente de Silvio Santos e do Pânico.

Todos juntos
A tão criticada internação involuntária de usuários de crack em SP começa a dar pano pra manga em... Brasília.
A Câmara analisa, hoje, mudanças na Lei Antidrogas.

Antigoteira
Boa notícia para os amantes dos livros. Marta Suplicy conseguiu R$ 70 milhões para reformar a combalida Biblioteca Nacional. E pode vir mais.

Interesse incomum
Impressionante o aumento do público internauta nos sites mantidos pelos museus da Secretaria de Estado da Cultura.
Passou de 1,9 milhão, em 2011, para 4,8 milhões, em 2012.

Na madrugada
Em parceria, os governos estadual e municipal de SP elaboram plano de transporte noturno para a cidade, efeito da Lei Seca.
Objetivo? Fornecer alternativas para quem deixou de sair de casa com medo de ser pego, alcoolizado, ao volante.
São dois projetos-piloto: colocar, na madrugada, linhas de ônibus no metrô e criar parcerias, com desconto, entre táxis e bares.

Não tem tu...
Jérôme Valcke vai cobrar. Quer que o sistema de celular 4G esteja funcionando até dezembro em todas as cidades-sede da Copa.
Deve ficar esperando...

Cena urbana
Mais trabalho para os operários
que voltarão à Fábrica do Samba.
É que a estrutura do prédio – cujas obras ficaram paradas por mais de três meses – está pichada de ponta a ponta.

A Europa germânica - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 16/04

Mitterrand enganou-se. O euro não tornou a Alemanha mais "europeia". Tornou a Europa mais "alemã"


Uma amiga alemã visitou a Grécia nesta Páscoa. Por pouco não foi linchada. Aconteceu em Atenas, no bairro turístico de Plaka: quando os nativos souberam que ela era de Munique, começaram as piadas de mau gosto sobre o "Terceiro Reich".

Ela respondeu com humor. Os nativos não gostaram do humor e rapidamente passaram aos insultos. Pesados. Só não chegaram a vias de fato porque ela optou sensatamente por fugir dali.

Ao telefone, quando me contou as suas aventuras helênicas, ainda perguntou, meio a sério, meio a brincar: "Você acha que é seguro viajar para Lisboa?".

Entendo a pergunta. Os países do sul da Europa estão a comer o pão que o diabo amassou. E é fácil encontrar nos países do norte, sobretudo na Alemanha, os responsáveis supremos por esta crise recessiva sem fim.

Injusto. Ou, pelo menos, parcialmente injusto.

Primeiro fato: a crise do sul da Europa é a crise do endividamento irresponsável dos países do sul da Europa. Com o euro, e as taxas de juros ridiculamente baixas que só o euro poderia oferecer, governos, empresas e famílias passaram a gastar como se não houvesse amanhã.

Mas o amanhã chegou com a crise financeira de 2008, o que agravou a conta. Foi o colapso das economias "periféricas". E, com o colapso, a pergunta de US$ 1 milhão: como corrigir as contas públicas quando esses países do euro não dispõem mais de soberania monetária ou política cambial?

A resposta veio do norte, com "políticas de austeridade" assentes em brutais aumentos de impostos e corte abrupto de rendimento disponível. Uma combinação letal que produziu desemprego maciço, queda da procura, recessão econômica --e um agravamento dos exatos desequilíbrios orçamentais que se procuravam corrigir de início.

A juntar a essa nefasta terapia, os países excedentários do norte têm aplicado em casa o mesmo tipo de ajustamento que recomendam aos outros. É a repetição dos velhos erros da década de 1930: quando todos apertam o garrote, todos morrem de asfixia.

Eis o impasse. Porque a Europa vive hoje um grave impasse. E uma das melhores reflexões sobre essa agônica condição foi escrita pelo ilustre sociólogo Ulrich Beck, sintomaticamente um alemão.

Intitula-se "German Europe" (Europa germânica, Polity, 98 págs.). Recomendo a qualquer interessado na matéria.

Não, Ulrich Beck não alinha pela cartilha conspirativa de quem atribui à Alemanha o perverso plano de estabelecer um "Quarto Reich" na Europa. Beck é um pouco mais sofisticado do que os gregos que insultaram a minha amiga.

Para começar, o autor relembra que a Alemanha aceitou com extrema relutância trocar o seu amado marco pelo novo euro.

Foi François Mitterrand, com típica insensatez, quem obrigou Berlim a aceitar a troca: se a Alemanha aderisse ao euro, a França toleraria a reunificação do país depois da queda do Muro de Berlim. Mitterrand esperava que, amarrando a Alemanha ao euro, isso seria uma limitação do poder político e econômico germânico.

Mitterrand enganou-se. Barbaramente. O euro não tornou a Alemanha mais "europeia". Apenas tornou a Europa mais "alemã". As "políticas de austeridade", defendidas hoje para o sul e igualmente praticadas pelo norte (uma espécie de "pacto suicidário" que desafia a racionalidade), são apenas a expressão mais tangível desse grotesco equívoco.

Um equívoco que Angela Merkel continua a alimentar para ganhar eleições gerais em 2013, mesmo que o preço a pagar seja insuportavelmente alto. Que preço?

Economicamente, estamos conversados: a Europa é hoje um charco estagnado. E, de Madri a Atenas, metade da população jovem não encontra trabalho. Uma "geração perdida", para usar o termo bélico clássico.

Mas o preço será também político: cavar no continente os ódios e os ressentimentos do passado não pode dar bons resultados.

Ao defender uma Europa "germânica", Angela Merkel não está apenas equivocada.

Ela pode destruir o longo esforço de reconciliação com a Europa que a Alemanha demorou meio século a construir no pós-guerra.

O Papa e os judeus - OSIAS WURMAN

O GLOBO - 16/04
O relacionamento judaico-cristão passou por momentos de amplo diálogo fraterno e entendimento nas últimas seis décadas. Desde outubro de 1978, quando João Paulo II foi aclamado, até os dias atuais com o Papa Francisco, foi construído um sólido alicerce de respeito mútuo e críticas ao passado de dois mil anos de desavenças e destruição. Em abril de 2005, João Paulo faleceu, e a manifestação da instituição judaica de maior representação mundial resume bem o que representou para os judeus o papado de 27 anos.

O presidente do Congresso Judaico Mundial (CJM) da época, Edgar M. Bronfman, disse que "o Papa João Paulo II mudou fundamentalmente dois mil anos de relações entre a Igreja e o povo judeu. Superou diferenças milenares para promover compreensão e respeito mútuos. Suas lições e realizações constituem um legado tanto para os católicos como para os judeus e a humanidade toda. Temos confiança de que todos nós honraremos este legado construindo mais sobre o mesmo para as gerações futuras".

Vale lembrar que João Paulo II foi o primeiro Papa a visitar uma sinagoga em dois mil anos. Também sua visita ao Muro das Lamentações em Jerusalém, local mais sagrado do judaísmo, onde, seguindo a tradição judaica, colocou uma carta endereçada a Deus na fresta das pedras, ficou gravada nos corações do judaísmo mundial.

A luta de João Paulo II contra o antissemitismo, definindo esta prática "como um pecado contra Deus e o homem", foi implacável e refletiu sua luta, quando ainda jovem, para salvar judeus dos nazistas na sua terra natal, a Polônia. Seu sucessor, Bento XVI, incrementou ainda mais as relações entre judeus e cristãos, além de aproximar o Vaticano do Estado de Israel.

O Papa escreveu no livro "Jesus de Nazaré - Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição", publicado em 2011, que "a aristocracia do Templo" em Jerusalém e "as massas", e não "o povo judeu em seu conjunto", eram responsáveis pela crucificação de Jesus. Nessa ocasião, o governo de Israel comemorou o "valor" do Papa, enquanto outros líderes religiosos judeus consideraram se tratar de uma etapa essencial na luta contra o antissemitismo na Igreja.

Nestes dias que se seguem à inauguração do pontificado do sucessor de Bento XVI, o Papa Francisco, foram muitas as manifestações de júbilo da comunidade judaica pela escolha de um velho amigo e parceiro dos judeus argentinos. Diferentemente dos seus antecessores, o Papa atual já tinha frequentes contatos com a comunidade judaica de seu país.

Quando ainda cardeal, Jorge Bergoglio escreveu o livro "Sobre o céu e a terra", (2010), em parceria com o rabino argentino Abraham Skorka, onde dialogam sobre o divino e o humano. As primeiros iniciativas do Papa Francisco com relação aos judeus foram de absoluta cordialidade e fraternidade, no espírito de seus antecessores que qualificaram os judeus como "irmãos na fé".

Na primeira audiência que o Papa Francisco teve com representantes das mais diversas religiões, na Sala Clementina do Palácio Apostólico, em Roma, os judeus estiveram representados por uma delegação de 16 pessoas, a quem o Papa dirigiu palavras calorosas. "Aprecio vossa presença e a vontade de cooperar para o bem da humanidade", disse, ressaltando a importância de uma "coexistência pacífica entre as religiões".

À véspera do Pessach, a festa judaica que lembra a libertação dos judeus do Egito, há cerca de 3.300 anos, o Papa Francisco enviou uma mensagem de felicitação a Riccardo Di Segri, rabino chefe de Roma, em que diz: "Que o Todo Poderoso, que libertou seu povo da escravidão no Egito para guiá-lo à Terra Prometida, siga para libertá-los de todo mal e acompanhá-los com sua bênção. Peço que rezem por mim, que rezarei pelos senhores, esperando poder aprofundar as relações de estima e amizade recíproca"

Ou diálogo ou ingovernabilidade - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 16/04

Maduro, contestado tanto pela oposição como pelos aliados, precisa tentar reverter o 'coro de rancor'


Nicolás Maduro sai das eleições de domingo quase 700 mil votos mais magro do que Hugo Chávez, na comparação com a presidencial de faz apenas seis meses.

Mais magro e mais fraco, já desafiado por Diosdado Cabello, tido como líder da ala militar do "chavismo", que cobrou, mal divulgados os resultados, "uma profunda autocrítica", em um primeiro tuíte, logo seguido por outro em que pedia: "Busquemos nossas falhas até debaixo das pedras".

Cabello não deixou espaço para que seus companheiros culpem os "oligarcas" pelo resultado, ao dizer que "é contraditório que o povo pobre vote por seus exploradores de sempre". Aceita, pois, que uma parte importante do "povo pobre" votou contra Maduro. De quem pode ser a culpa, se não de Maduro e de suas esquisitices durante a campanha? Inferência lógica: o presidente eleito não é feito de madeira de lei boa o suficiente para liderar o "chavismo" sem Chávez.

A Venezuela amanheceu com um presidente contestado pela oposição, o que era perfeitamente previsível, dada a magra diferença, e também pelo poderoso setor militar do oficialismo, que governa 11 das 23 províncias (12, se incluído o oposicionista Henry Falcón, também militar) e ocupa em torno de 1.500 cargos na inchada máquina pública venezuelana.

Já seria um formidável desafio se a situação econômica fosse tranquila. Como há problemas sérios em pelo menos três áreas que afetam o cotidiano (desabastecimento de gêneros essenciais, inflação descontrolada e violência em grau de calamidade), a Venezuela flerta com a ingovernabilidade.

Resta a Maduro tentar ao menos atenuar a crispação política que Chávez levou ao paroxismo. Dialogar, enfim, como aconselhou um mestre nessa arte, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Disse Lula, ainda antes da votação: "Maduro vai ter de cuidar mais da relação política; vai ter de cuidar mais das alianças com outros setores, vai ter de tentar colocar mais pessoas em torno da mesa para poder construir, de forma orgânica, a força que o carisma de Chávez construiu na Venezuela".

Ecoam os chineses, os mais novos amigos de infância do "chavismo", por meio da agência oficial Xinhua: "Se não se conseguir reverter o grave sentimento de rivalidade entre governo e oposição, ver-se-á claramente prejudicado o fundamento da governança de Maduro e serão afetadas a economia nacional e a vida da população".

Do lado oposicionista, parece haver predisposição ao diálogo, de que dá prova afirmação do escritor Leonardo Padrón, bem-sucedido autor de telenovelas e que se considera de esquerda: "Estamos esgotados de tanto desencontro, de tanta agressão mútua. A rua é um desafinado coro de rancor", disse a "El País", na véspera do pleito.

Quando fica demonstrado que a Venezuela está rachada rigorosamente ao meio, ou se baixa o volume desse coro ou se abrirá um período de turbulência que fatalmente transbordará para os países vizinhos, dadas as paixões que tanto o "chavismo" como o "antichavismo" cultivaram nos últimos 14 anos.

A Dama de Ferro como libertadora IULIA TIMOSHENKO*

Valor Econômico - 16/04/2013

*Iulia Timoshenko, por duas vezes primeira-ministra da Ucrânia, é prisioneira política desde 2011.


A prisão sempre é um lugar de luto. Mas talvez saber da morte de Margaret Thatcher neste lugar seja odiosamente apropriado, pois me fez lembrar a sociedade aprisionada da minha juventude que Thatcher tanto se empenhou em libertar.

Para muitos de nós que cresceram na União Soviética ou em seus satélites do Leste Europeu, Margaret Thatcher nunca deixará de ser uma heroína. Ela não apenas abraçou a causa da liberdade - em especial, da liberdade econômica -, do Reino Unido e do Ocidente. Ao proclamar Mikhail Gorbachev como alguém "com quem podemos negociar", numa época em que quase todo dirigente democrático mantinha profunda desconfiança de suas políticas da Perestroika e da Glasnost, ela se tornou uma catalisadora decisiva da abertura dos Gulags que eram as nossas sociedades.

Na verdade, para todos os que buscavam construir uma sociedade livre a partir dos escombros do totalitarismo no antigo mundo comunista, a "Dama de Ferro" se tornou um ícone secular. Sua coragem e persistência - ou sua característica de "não voltar atrás" - foi um exemplo vivo para nós de um tipo de liderança que não se rende nos momentos de perigo político. Sua fidelidade a seus princípios e sua absoluta determinação de lutar, e de voltar a lutar, quando a causa era justa foram, certamente, fonte de inspiração para mim.

Margaret Thatcher entendia de liberdade, porque ela habitava suas próprias entranhas. Além disso, soube conciliar senso comum, valores familiares e a integridade fiscal que se tornou exemplo para todos os líderes que a sucederam

Uma das verdadeiras alegrias da minha vida na política foi a oportunidade de ter um almoço tranquilo com Thatcher em Londres, alguns anos atrás, e de lhe expressar minha gratidão por reconhecer nossa oportunidade de ter liberdade e por tomar a iniciativa diplomática necessária para ajudar a concretizá-la.

Durante todo o meu mandato como premiê, mantive em mente uma de suas afirmações: "Não sou uma política de consenso; sou uma política de persuasão." Seu rigoroso senso do verdadeiro dever de um político sempre me consolou durante períodos de dificuldade política, uma vez que nossa obrigação como dirigentes não é governar, e sim empregar nosso poder para melhorar a vida das pessoas e aumentar a amplitude da sua liberdade.

Quando Thatcher manifestou pela primeira vez sua crença no potencial das reformas pró-democracia de Gorbachev, eu era uma recém-formada de 24 anos em começo de carreira. Havia pouca esperança de que minha vida seria melhor do que a da minha mãe e, o que era pior, menos esperança ainda de que eu conseguiria construir uma vida melhor para minha filha pequena.

O fato de Thatcher abraçar a causa da nossa liberdade foi eletrificante para mim. A grande escritora dissidente Nadezhda Mandelstam prognosticara para nós um futuro no qual podíamos apenas "esperar contra a esperança"; mas aqui estava uma dirigente que vislumbrara um futuro para nós não de sordidez e de concessões de ordem moral, mas de liberdade e de oportunidades. Ainda balanço a cabeça ao me admirar de ela ter conseguido abraçar a abandonada esperança de libertação num momento em que mais ninguém - nem mesmo Gorbachev - podia sequer imaginá-la.

Mas, é claro, Thatcher entendia de liberdade, porque ela habitava suas próprias entranhas. Certamente, ela não era de voltar atrás, mas também não era de cumprir ordens ou de se conformar com a vida restrita que a sua sociedade parecia lhe reservar. Numa Grã-Bretanha em que a classe social ainda determinava, normalmente, o destino da pessoa, a filha de um dono de mercearia vinda do norte conseguiu chegar a Oxford e se destacar como estudante de química.

Depois disso, ousou ingressar na seara exclusivamente masculina da política. Quando se tornou a primeira mulher a ser primeira-ministra britânica, aqueceu as ambições de incontável número de jovens mulheres do mundo inteiro (inclusive as minhas). Pudemos sonhar grande devido ao exemplo dela.

E, na condição de mulher, Thatcher sabia que introduzia algo de singular nos corredores do poder. Como disse ao assumir, em 1979, "qualquer mulher que compreende os problemas de administrar um lar está mais próxima de compreender os problemas de administrar um país". Essa fusão do senso comum entre os valores familiares e a integridade fiscal se constituiu num exemplo para todos os líderes eleitos que a sucederam.

Entendo, é claro, que muitos britânicos tenham se sentido desamparados pela revolução econômica e social desencadeada por Thatcher. Mas todo o propósito do thatcherismo, como eu o entendia de longe, era criar condições nas quais todos pudessem trabalhar arduamente e concretizar seus sonhos. É isso o que eu - e todos os democratas ucranianos - queremos para o nosso país: uma sociedade de oportunidades, sob o Estado de Direito, e não sob o jugo de compadres e oligarcas, numa Europa aberta.

Os registros históricos falam por si. Antes de Margaret Thatcher ser premiê, a Grã-Bretanha era considerada, em amplos círculos, como "o doente da Europa" - afligida pela regulamentação sufocante, alto desemprego, greves constantes e déficits públicos crônicos.

Quando ela deixou o poder, 11 anos depois (foi o premiê de mandato mais longo desde que Lord Liverpool encerrou sua gestão, em 1827), a Grã-Bretanha estava entre as economias mais dinâmicas da Europa - e do mundo. Em decorrência disso, somos todos thatcheristas agora. (Tradução de Rachel Warszawski)

CALENDÁRIO CERTO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 16/04

Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) devem negar aos advogados dos réus do mensalão prazo maior para que eles apresentem suas contestações aos votos que condenaram seus clientes.

CALENDÁRIO 2
Mesmo ministros considerados mais liberais no julgamento são contrários à ampliação do prazo, de cinco dias, de acordo com a lei que rege tribunais superiores. No Código de Processo Civil, o prazo é de dois dias. As regras do Supremo, portanto, seriam até mais generosas.

CALENDÁRIO 3
E o STF pode julgar ainda neste semestre a descriminalização da maconha.

O consumo da droga já deixou de ser crime em países como Argentina, Portugal, Espanha, Colômbia, Itália e Alemanha. O caso está no gabinete do ministro Gilmar Mendes.

CAUSA ÚNICA
Sete ministros da Justiça assinaram carta favorável à descriminalização da maconha: Tarso Genro e Márcio Thomaz Bastos, que integraram o governo Lula, e Nelson Jobim, José Gregori, Aloysio Nunes Ferreira, José Carlos Dias e Miguel Reale Jr., do governo Fernando Henrique Cardoso.

O documento deve ser entregue hoje a Gilmar Mendes pelo movimento Viva Rio, que defende a medida.

ROCK SINFÔNICO
A pedido do diretor brasileiro André Heller-Lopes, Roger Waters (Pink Floyd) escreveu um novo dueto para Maria Antonieta e Luís 16, na ópera de sua autoria, "Ça Ira - Há Esperança". O espetáculo estreia em maio, no Theatro Municipal de SP.

OUVIDOS
Na apresentação que fizeram aos observadores internacionais dos países da América do Sul, os representantes de Henrique Capriles, candidato de oposição na Venezuela, reclamaram do Conselho Nacional Eleitoral. Disseram que, de 224 representações feitas por eles, só uma foi analisada.

BATEU, LEVOU
Já em relação à atuação das TVs na campanha eleitoral, os representantes avaliaram relatório do Carter Center, do ex-presidente americano Jimmy Carter. As emissoras públicas fazem propaganda dos chavistas. Emissoras privadas, da oposição. O documento considera que, na eleição de Hugo Chávez em outubro de 2012, o jogo acabou equilibrado.

VIVA!
E o ator Sean Penn enviou mensagem à equipe de Nicolás Maduro, que venceu as eleições: "Viva Venezuela! Minhas congratulações ao povo, ao presidente e a seu intrépido time".

VÍDEO DO ADEUS
Leandra Leal vai dirigir documentário sobre os últimos dias do Studio SP, que fechará neste mês. A atriz começa nesta semana a gravar depoimentos de artistas, frequentadores e funcionários, além de reunir imagens de eventos antigos. Vai também filmar os últimos shows da casa, que tem entre os sócios o empresário Alê Youssef, namorado dela.

DERICO, AO VIVO
Derico Sciotti, saxofonista do "Programa do Jô" (TV Globo), foi autorizado a captar R$ 814 mil, via lei de incentivo, para dois shows comemorativos de seus 35 anos de carreira. As apresentações serão no Teatro Guaíra, em Curitiba, em novembro. E vão virar CD e DVD lançados pela Som Livre.

DERICO, AO VIVO 2
Jô Soares e os músicos do sexteto do programa, o cantor e compositor Toquinho, Frejat (Barão Vermelho) e o maestro João Carlos Martins participarão dos concertos. Ney Matogrosso e Lenine também foram convidados.

TAIS MÃES, TAIS FILHOS
A jornalista Glória Maria desfilou com as filhas, Laura e Maria, na 16ª edição do Fashion Weekend Kids, no fim de semana. A diretora de marketing Andrea Gusmão e seu filho, Kevin, e a empresária Andrea Conti, com Sophia, também participaram do evento no shopping JK Iguatemi.

BELGA NA AREIA
Sofie Mentens, 25, apresenta o programa "Submerso", sobre mergulho, ao lado de Marcela Witt e Sofia Graça Aranha, no canal a cabo Off. Filha de mãe carioca e pai belga, ela nasceu na Antuérpia, mas adotou o Rio como moradia. Namorada do surfista Marcelo Trekinho, a apresentadora fez um ensaio para o site Off Girls, no ar a partir de hoje.

ROLOU A FESTA
O advogado e empresário Fernando Burattini fez festa de aniversário em sua casa, no Alto de Pinheiros, na sexta. Os empresários Wilson Fittipaldi Júnior e Ivete Semmler, o casal Armando e Linda Conde, o advogado Carlos Maluf Sanseverino e o apresentador Ronnie Von foram à comemoração.

CURTO-CIRCUITO
Olga Curado lança o livro "Viver sem Crise", hoje, às 19h, na Livraria Saraiva do shopping Higienópolis.

Angelo Bonati, CEO dos relógios Panerai, e o chef italiano Vito Mollica recebem convidados no Attimo, na Vila Nova Conceição.

O desembargador Renato Nalini e o mestre em direito Wilson Levy autografam o livro "Regularização Fundiária", a partir das 18h30, na Livraria da Vila

O restaurante Obá comemora oito anos com jantar tailandês, hoje, a partir das 19h30, nos Jardins.

O Museu da Diversidade de SP prepara mostra sobre a relação afetiva do compositor Benjamin Britten com o tenor Peter Pears.

Não às fusões - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 16/04

Os líderes do PT e do PMDB vão explicitar, na próxima votação de projeto que retira Fundo Partidário e tempo de TV dos novos partidos, que o mesmo se aplica às fusões partidárias. O alvo é a fusão PPS-PMN. No governo, há quem tema que este partido vire um biombo para o lançamento de uma candidatura ao Planalto. O sonho de consumo do PPS é atrair José Serra para este projeto eleitoral.

Lambança no comando aliado
Faltaram apenas dez votos para que o governo Dilma desferisse um golpe nos novos partidos. Por isso, PT e PMDB voltarão à carga esta semana para tirar dos novos partidos o direito ao Fundo Partidário e ao tempo de TV. Ontem, seus líderes se reuniram para lavar a roupa suja e evitar que se repitam erros cometidos. O PMDB reclama que a proposta só não foi aprovada, na semana passada, por imperícia do PT. Os relatos são de que o líder José Guimarães (PT-CE) forçou a votação sem ter combinado nada com ninguém. O resultado do que está sendo chamado de "negócio de amador" foram os ausentes do PT (23 deputados de 89), do PMDB (20 de 82) e do PSD (15 de 48).

O "promessômetro"
Uma das promessas que o DEM cobra da presidente Dilma é a de construir 2.883 postos de polícia comunitária. Em 2011, não foi gasto um centavo dos R$ 350 milhões previstos e neste ano nada foi aplicado dos R$ 9 milhões programados.


"Me senti como aquele goleiro que agarrou um pênalti de susto"
Alfredo Sirkis - Deputado federal (RJ), que está organizando o partido Rede, de Marina Silva, na votação que derrubou a urgência ao projeto que deixa sem Fundo Partidário e tempo de TV os novos partidos

Gosto amargo
O governador Sérgio Cabral está sendo aconselhado a renunciar ao governo e concorrer ao Senado. Isso fortaleceria a chapa oficial, que tem como candidato ao governo o vice Luiz Fernando Pezão (PMDB). Um ex-governador chegou a dizer a Cabral que estava arrependido de ter ficado sem mandato após deixar o governo estadual e fazer o sucessor.

Na torcida
O governador Eduardo Campos (PE), que não quer perder poder no porto de Suape, comemora como vitória os desacertos do Planalto na MP dos Portos. Ele recebe informações quentes dos bastidores do deputado Márcio França (PSB-SP).

Divisão na base
O governo Dilma já prevê sua derrota na MP dos Portos. Esta votação está sendo comparada com a do Código Florestal. A base aliada está dividida. O puxão de orelhas no líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), que o Planalto tornou público, só piorou as coisas. Aliados dizem que o governo não tem votos para aprovar seu texto ideal e que o caminho será o veto.

A seis mãos
Ficou acertado ontem no Palácio do Jaburu, na presença da presidente Dilma e do vice Michel Temer, que será elaborado novo texto da MP dos Portos, pelo líder do governo, Eduardo Braga, pela Casa Civil e pela Advocacia Geral da União.

Fogo amigo
Pressionado pelo governo, por trabalhadores, por empresários e no Congresso, o líder do governo Eduardo Braga (PMDB-AM) se queixou, ao vice Michel Temer, pelo Planalto ter vazado que havia restrições ao texto de seu relatório.

A META DA FORÇA SINDICAL é anunciar no 1º de Maio, que o Partido Solidariedade chegou às 500 mil assinaturas de apoio à sua criação.

O operador fala - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 16/04

O procurador da República Francisco Guilherme Bastos pediu, em 3 de abril, que a delegada da Polícia Federal responsável pelo inquérito instaurado para investigar eventual elo de Lula com o mensalão ouça de novo Marcos Valério. Nas palavras de advogados, o publicitário vai "esmiuçar'' os sete itens do depoimento dado em setembro. O pivô do escândalo disse a interlocutores que pretende detalhar os fatos que compilou num documento e que envolveriam o ex-presidente.

Barrados Na semana passada, advogados do ex-presidente tentaram obter cópia do inquérito com a delegada Andréa Pinho, em Brasília, mas ela negou acesso.

Telegrama Aécio Neves faltou à solenidade em que Lula recebeu ontem o título de cidadão mineiro. O senador tucano enviou mensagem alegando compromissos previamente agendados e cumprimentou o ex-presidente.

Psicografia Na solenidade, petistas lembraram José Alencar em tempos de tensão pré-Copom. "Ele faz falta. Se estivesse aqui estaria xingando essa campanha pelo aumento dos juros", disse o deputado Rogério Correia.

Reação 1 De volta da Europa, Marina Silva comanda a partir de hoje maratona contra o projeto que restringe o acesso de novas siglas --como sua Rede-- a fundo partidário e tempo de TV. Deve ir ao Congresso para conversas com líderes partidários.

Reação 2 Na internet, marineiros tratarão a manobra como golpe e responsabilizarão a base governista pela ofensiva contra a candidatura presidencial da ex-ministra do Meio Ambiente.

Cicerone Depois de convidar Eduardo Campos (PSB) para seu tradicional cozido em Pernambuco, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) será anfitrião de jantar do governador pernambucano com dez senadores de quatro partidos hoje, em Brasília.

Linha dura 1 Pesquisas encomendas pelo Bandeirantes estimulam Geraldo Alckmin a seguir adiante na proposta de mudar o ECA, aumentando o rigor com menores infratores. De olho nas sondagens, que atestam respaldo popular à medida, o tucano insistirá no projeto.

Linha dura 2 Em 2004, Alckmin já havia levado à Câmara texto semelhante, elaborado pelo então secretário de Justiça, Alexandre de Moraes. Depois de acenos favoráveis dos deputados na ocasião, a iniciativa naufragou. De novo, as chances de sucesso são consideradas reduzidas pelos parlamentares.

Bipolar Cotado para o STF, Luiz Fachin aceitou convite do governador Beto Richa (PSDB) para integrar a Comissão da Verdade paranaense. Além do tucano, interlocutores do Judiciário afirmam que o jurista tem apoio da ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) para a vaga de Carlos Ayres Britto.

Visita Joaquim Barbosa irá nesta sexta-feira ao Rio Grande do Norte para discutir com a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) o sistema carcerário no Estado. A conversa será fruto do segundo mutirão realizado pelo Conselho Nacional de Justiça previsto para terminar em maio.

Baldeação Escanteado pelo governo paulista após a investigação da licitação da Linha 5-Lilás, Sérgio Avelleda assumirá a presidência do Metrô do Rio de Janeiro.

Reverência Fernando Haddad prometeu ontem à ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) implantar em São Paulo "sítios de memória", espaços de homenagem aos que lutaram na ditadura. O petista recebeu em seu gabinete familiares de desaparecidos políticos.

TIROTEIO
"Não compartilhamos da visão do Aécio de que ser oposição é tirar férias. Trabalhamos muito tanto no governo quanto na oposição."
DO MINISTRO PAULO BERNARDO (COMUNICAÇÕES), sobre o pré-candidato do PSDB à Presidência ter dito que está na hora de a oposição dar férias'' ao PT.

CONTRAPONTO


Esqueceram de mim


O governador Sérgio Cabral ficou ilhado na Associação Comercial do Rio, na semana passada, depois que o prefeito Eduardo Paes usou o único elevador para descer. Os repórteres aproveitaram para questioná-lo sobre irregularidades na licitação do Maracanã e a disputa eleitoral.

Cabral pediu ajuda a um segurança da entidade.

--Cada um aqui tem uma pauta. Mas, além da pauta do editor que pensa que manda neles, chegam com uma novidade --ironizou o governador, que é jornalista.

Salvo pelo elevador, que finalmente voltou ao 14º andar, deixou o local sem responder às perguntas.

FLÁVIA OLIVEIRA & NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 16/04

RIO TERÁ REDUÇAO EM TARIFAS DO GÁS NATURAL
Custo cairá até 50% para consumo industrial. É ação do governo para fazer insumo no Rio custar menos que em SP
O Estado do Rio terá uma nova política para o gás natural. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico elaborou com CEG e CEG Rio um plano que reduz tarifas, principalmente, para o gás industrial. A intenção é tornar o insumo mais barato no Rio de Janeiro do que em São Paulo e, assim, atrair investimentos, explica o secretário estadual Julio Bueno. Pela proposta, a tarifa do gás chega a cair 50% para indústrias que consomem até 200 metros cúbicos diários. Para grandes consumidores (mais de um milhão de metros cúbicos ao dia), caso da CSN, a queda chega a 2%. Será a primeira vez que o preço do gás natural vai cair no estado. Nas tarifas comerciais, há previsão de corte de 12% (clientes da CEG) a 20% (CEG Rio). Não haveria alteração de preço nem no gás vendido às usinas termelétricas nem no GNV, que abastece automóveis. É que, nos dois casos, o produto tem incentivo tributário, justifica Bueno. A nova política do gás será submetida àAgenersa, órgão regulador fluminense, em audiência pública, dia 24. Contratada pela agência, a consultoria Deloitte vai analisar a proposta. Só então as novas tarifas entrarão em vigor. Os valores serão retroativos a 1º de janeiro de 2013.

+4% NA TARIFA RESIDENCIAL
O gás natural residencial ficarámais caro para os clientes da CEG. Na CEG Rio, a proposta é de corte de 15%. Os preços ficarão menores onde estado e concessionária querem estimular consumo.

DAS RUAS
A Pepper, rede de moda feminina, inicia amanhã a campanha do outono-inverno 2013. Vai circular no site, nas redes sociais e nos pontos de venda da marca.

Daniel Kullock fotografou a modelo Carolina Frieve, com as peças da coleção “Pop Pepper”, de inspiração urbana. A grife espera aumento de 20% nas vendas. 

VINHO 
A Missiza, de roupas femininas, lança amanhã o lookbook do outono-inverno 2013. Carol Antunes foi fotografada por Marcelo Magalhães. As imagens da coleção “Rotas do vinho” também estarão em lojas e redes sociais. No dia 22, a grife lança a campanha do Dia das Mães, com brinde para compras a partir de R$300. Espera faturar 25% acima de 2012.

FUTURO
Rosa Miranda, de roupas femininas, apresenta amanhã a coleção de inverno“Los Angeles XXI”. Inspirada no filme “Blade Runner - o Caçadorde Andróides”, traz estampas futuristas, metais e cores esfumaçadas. Virna Santolia fotografou
Paula Schettinocom. Circula em web, lookbook e lojas. Prevê faturar 20% a mais do que no inverno 2012.

Ventania
Eletrobras Furnas vai investir R$ 2 bilhões na construção de 17 parques eólicos no Nordeste, até 2016. Doze ficarão no Ceará; cinco, no Rio Grande do Norte. As usinas somarão 502 MW em potência instalada. É energia capaz de abastecer cerca de 554 mil residências por ano.

Quem fica
Leonam Guimarães, da Eletrobras Eletronuclear, foi convidado por Yukiya Amano, da AIEA, para ficar mais três anos no grupo de energia nuclear da agência. Ele é consultor do Sagne(sigla em inglês) desde 2010.

Em libras
Empresas britânicas e brasileiras fecharam 17 parcerias, em seis meses da Temporada UK Brasil, evento da Embaixada do Reino Unido. Foram £ 480 milhões em negócios, mais de 90% do previsto para o ano fiscal.

Socioambiental
O Oi Novos Brasis, programa do Oi Futuro, fará aporte de R$ 4 milhões em 24 projetos socioambientais. São 50% mais que na edição 2012. Os escolhidos saem hoje. Escola da Gente (RJ) e Sociedade Semear (SE) estão no grupo.

Sem dinheiro
Voltou a cair em abril a Intenção de Consumo das Famílias (ICF), diz a CNC. O indicador recuou 1,2% sobre março, para 130,6 pontos. A inflação e o endividamento ainda alto das famílias desestimulam as compras.

Salve Jorge
Três cidades americanas e três europeias estão entre os dez destinos internacionais mais procurados por cariocas para o feriado de São Jorge, diz o Mundi, buscador de viagens. Miami (2º), Orlando (4º) e Barcelona (5º) estão na lista.
O 1º lugar, no entanto, ficou com Buenos Aires.

Hotelaria
A GJP Hotels & Resorts anuncia hoje a construção de um hotel quatro estrelas em Brasília, próximo à Esplanada dos Ministérios. Será o 20º empreendimento do grupo no país. Terá 264 apartamentos e mais de 14 mil metros quadrados de área. A JCGontijo é parceira.

Mercado de imóveis aquecido
O primeiro trimestre de 2013 foi de expansão no mercado imobiliário carioca. O total de unidades lançadas cresceu 7% sobre o período janeiro-março de 2012. Foram 3.144 (veja o quadro), contra 2.938 um ano antes, informa a Ademi. Já o valor geral de vendas (VGV) bateu R$ 1,526 bilhão, alta de 28,7% na comparação com os três primeiros meses de 2012. Os lançamentos comerciais puxaram o saldo. Pouco menos de mil unidades somaram R$ 772,5 milhões, mais de cinco vezes
o resultado anterior, de R$ 140 milhões. Já as 1.755 unidades residenciais somaram R$ 575,3 milhões. O setor hoteleiro ganhou 450 novos quartos, VGV de R$ 178,5 milhões. “O ano começou mais cedo, com o carnaval no início de fevereiro. Pesou no resultado dos comerciais o lançamento do Porto Atlântico”, diz João Paulo Matos, presidente da Ademi. Até o fim do ano, o desempenho de comerciais e residenciais deve se inverter, prevê. O mercado deve crescer de 5% a 7% em 2013.

Publicidade
Em um mês, a ClickTrue, do Grupo Xangô, fez 40 clientes, incluindo Skol e Fiat. Vende espaço publicitário dos produtos PSafe. Quer faturar R$ 22 milhões em 2013.

Contabilidade
A Nasajon lançou software de contabilidade para pequenas e médias empresas. Prevê faturar R$ 26 milhões este ano. É aumento de 15% sobre 2012.

Automação
A HTS Brasil, de tecnologia, faturou R$ 26 milhões em 2012. Prevê R$ 35 milhões este ano, com 60% da receita com automação portuária.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 16/04

Lançamentos sobem, mas vendas de imóveis em SP caem no primeiro bimestre
A venda de imóveis novos no primeiro bimestre deste ano somou 2.775 unidades, uma queda de 12,7% ante as 3.177 unidades comercializadas no mesmo período de 2012, segundo o Secovi-SP.

O total de lançamentos nos dois primeiros meses de 2013 (2.476 unidades) superou em 16,8% o mesmo bimestre do ano anterior (2.119 imóveis).

"As vendas, porém, cresceram em fevereiro ante janeiro deste ano. Em março devemos ter tido um aumento", diz Cláudio Bernardes, presidente do sindicato da habitação de São Paulo.

Em 2012, a valorização dos imóveis caiu para 3,6%, "um patamar de normalidade", considera Bernardes.

"Essa estabilidade de 2012, que representa um maior equilíbrio entre oferta e demanda, deve se manter neste ano", afirma. "É uma média, uns imóveis subirão mais, outros menos."

Cerca de 15% do total comercializado neste ano deve ser vendido no primeiro trimestre, como costuma ocorrer, conforme o Secovi.

O setor se ressente da escassez de outorga onerosa [possibilidade de pagamento de taxa à prefeitura pelo direito de construir acima do limite básico de cada região].

"As pessoas vão morar em outros municípios e vêm trabalhar na cidade. A população sofre com isso e com preços altos por falta de oferta."

"Cerca de um terço dos bairros não tem nem um metro de outorga onerosa", acrescenta o economista da entidade, Celso Petrucci.

CARTÃO DE LOJA
A VestCasa, rede de lojas de cama, mesa e banho, cujo público alvo é a classe C, vai lançar um cartão de crédito com seu próprio logotipo.

"O objetivo da empresa é elevar o tíquete médio por comprador dos atuais R$ 80 para R$ 150", diz o dono da empresa, Ahmad Yassin.

A rede tem 120 lojas espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O maior concorrente da empresa, a Pernambucanas, também tem seu próprio plástico. Outras marcas voltadas para os públicos A e B como Camicado e Zelo, não.

A Camicado aceita cartões com a bandeira Renner, que é da mesma companhia.

CAMINHOS ODONTOLÓGICOS
Duas grandes franquias de consultórios odontológicos, Sorridents e Odontoclinic, têm estratégias diferentes para crescer.

Com 183 unidades, além de 60 previstas até o final de 2013, a Sorridents se apoia na construção de novas clínicas e mira o mercado da capital fluminense.

"A entrada no mercado do Rio será de fora para dentro. Primeiro nos bairros periféricos e depois nos bairros mais ricos", afirma Carla Sarni, presidente da empresa. Serão 20 franquias no Rio até o final deste ano.

A Odontoclinic tem 160 unidades e prevê chegar a 210 até dezembro de 2013. Para se expandir, a companhia faz a conversão de clínicas já existentes para a bandeira da empresa, sobretudo na capital paulista.

"Hoje, metade das novas franquias já é de conversão. Até final deste ano, ela será a maior responsável pelo nosso crescimento", diz Álvaro Schocair, presidente do conselho da Odontoclinic.

CASA DE AÇO
O grupo Saint-Gobain obteve autorização do Ministério das Cidades para que o "drywall" (chapas de gesso) seja usado no programa Minha Casa Minha Vida.

"Esse sistema utiliza o concreto apenas em sua fundação. No restante da construção, são usadas estruturas de aço galvanizado", diz Paulo Perez, da Saint-Gobain.

"Uma casa de 40 metros quadrados leva cerca de 40 dias para ficar pronta com a construção em alvenaria. Com "drywall", a mesma casa fica pronta em oito ou nove dias e com uma economia de cerca de 10%."

A companhia fechou contratos para a construção de dois empreendimentos, com cerca de 330 casas.

Processos... De 1988 para cá, o número de ações no Brasil subiu 7.000%. No mesmo período, a população cresceu 30%. Foram ajuizados, nesses 25 anos, 350 mil processos em toda a Justiça.

...acumulados Os dados são do Anuário da Justiça Brasil, do site Consultor Financeiro, e será lançado amanhã no TSE, em Brasília. Existe uma ação na Justiça brasileira para cada dois habitantes do país.

Pneu... O Grupo Pirelli desembolsou cerca de € 4,4 bilhões em produtos e serviços em 2012. Com 12 mil fornecedores, a empresa tem 135 especialistas que controlam a segurança, a eficiência logística e o risco.

...eletrônico A Bridgestone, do mesmo segmento, vai iniciar sua operação de e-commerce no mercado brasileiro. A loja virtual da companhia irá atender, a princípio, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e região Sudeste.

Bolsa... Hoje, a BM&FBovespa passa a fazer parte de um plano internacional para integrar informações financeiras e de governança das empresas listadas.

...internacional O projeto é do International Integrated Reporting Council, entidade que promove debates globais sobre a transparência das empresas no mercado acionário.

Sanduíche... As vendas de lanches, sorvetes e outros produtos do McDonald's cresceram 47% entre os dias 4 e 10 deste mês frente ao mesmo período de 2012.

...da promoção Foram os primeiros dias da campanha da rede chamada Monopoly. A promoção distribui desde sorvetes e sanduíches da marca até carros.

BCG O Boston Consulting Group soma 78 escritórios com as novas filiais em Montreal, Seattle e Bogotá.

Móveis Depois de Miami, a brasileira Ornare abre uma loja em Dallas (EUA). Investiu US$ 650 mil em 1.200 m².

NEGÓCIOS POR ATACADO
Os setores atacadista e de distribuição preveem bons resultados nos negócios deste ano, segundo estudo da Abad (associação que representa o segmento).

Para 79,5% dos empresários entrevistados a atividade deve ficar mais rentável. Cerca de 18,3% acreditam que haverá estabilidade e 2,4% esperam um cenário negativo com queda na rentabilidade.

Os executivos também estão otimistas em relação ao aumento do faturamento das companhias. Para 95,2%, as metas serão ultrapassadas. "Desde 2008 não tínhamos o setor tão animado e disposto a investir", afirma José do Egito Freitas Lopes, presidente da entidade.

Armazenagem de produtos e sistema de informação são os itens que devem receber os maiores investimentos, de acordo com a pesquisa.

A preocupação dos empresários com a infraestrutura do transporte também é apontada pelo estudo.

BC - uma crise de confiança? - PAULO R. HADDAD

O ESTADÃO - 16/04

Uma crise de confiança em determinada economia nacional se manifesta de diferentes formas: um ataque especulativo contra a moeda nacional, provocando a sua intensa e rápida desvalorização; uma retração significativa nos empréstimos e financiamentos internacionais concedidos às instituições e aos agentes econômicos do país; uma forte elevação nas taxas de juros sobre a dívida nacional.

Não há no horizonte de curto prazo nenhum sinal de que se esteja configurando uma falta de confiança na economia brasileira. Ao contrário, a posição relativa da economia nacional no cenário internacional encontra-se razoavelmente blindada pelo expressivo nível das nossas reservas internacionais, pelo próprio contexto de recessão e de desalento das principais economias mais desenvolvidas e pelo imenso potencial de expansão que ainda se espera de inúmeros setores produtivos e de regiões do País. Este argumento não exclui, contudo, a possibilidade de que equívocos na condução das políticas fiscais e monetárias possam gerar uma crise de confiança nas instituições responsáveis por sua concepção e execução. É a situação atual do Banco Central (BC), por causa da forma como vem implementando o sistema de metas inflacionárias.

Duas motivações principais levaram a assumir metas inflacionárias como âncora nominal para o País. A primeira se baseia nas experiências bem-sucedidas de controle da inflação nos países que adotaram metas inflacionárias como fundamento de sua política monetária. A segunda se refere à volatilidade do nosso câmbio em regime de taxas flutuantes, que se desqualificou então como âncora da estabilização da economia.

Segundo analistas que compararam as experiências internacionais dos bancos centrais que implantaram e controlaram os sistemas de metas inflacionárias em diferentes países, esses bancos conseguiram melhorar o planejamento estratégico do setor privado ao reduzirem as incertezas quanto à política monetária, às taxas de juros e à inflação. Promoveram um útil e educativo debate público sobre o que um banco central pode ou não alcançar em termos dos objetivos gerais de desenvolvimento da sociedade. Aumentaram o seu grau de liberdade de ação no longo prazo, para promover ajustes ocasionais das metas, sem efeitos adversos nas expectativas inflacionárias. Assim, se um banco central quiser consolidar ou resgatar a sua credibilidade institucional perante a opinião pública, precisa apoiar-se na gestão eficiente e eficaz do sistema de metas inflacionárias que está engendrando e respaldar suas ações em princípios de transparência e de comunicação democrática.

É evidente que não se espera que a direção do Banco Central se sente em cima das metas estabelecidas e as trate como um compromisso inflexível, deixando os demais objetivos de desenvolvimento (crescimento, emprego) flutuando com enorme variância e imensa incerteza, ainda mais quanto à sua concretização. Entretanto, essa mesma direção não pode ser contaminada pelos interesses políticos de curto prazo do Poder Executivo, pela busca do crescimento econômico a qualquer custo ou por eventuais fracassos da política fiscal ou da política industrial como mecanismos de expansão da economia. Deve orientar-se pelo princípio da precaução, que recomenda a adoção de medidas proativas na política monetária em contextos nos quais se observa uma inflação rastejante a aumentar os riscos e as ameaças de danos irreversíveis ao sistema de metas. Deve-se evitar a elaboração de racionalizações a posteriori para justificar as inconsistências nas políticas macroeconômicas e é preciso também tornar-se um foco institucional de resistência a eventuais desequilíbrios crônicos de natureza fiscal.

É bom estar atento ao fato de que as instituições nascem, crescem e se consolidam, mas podem também entrar em decadência.


Eu tive um sonho - RODRIGO CONSTANTINO

O GLOBO - 16/04

Adormeci e comecei a sonhar. Sonhei que o espírito de Thatcher havia reencarnado na presidente brasileira. Imediatamente, ela fez uma coletiva de imprensa para anunciar, sem rodeios, que era uma liberal convicta, defensora das liberdades individuais e do livre mercado.

O grande inimigo era o coletivismo, a ideia de que a “sociedade”, esse ente abstrato, é mais importante do que indivíduos de carne e osso, transformados, em todo regime socialista, em meios sacrificáveis para o “bem geral”. Seu foco seria, a partir de agora, preservar a liberdade no âmbito individual, com sua concomitante responsabilidade.

O “Estado Babá” seria coisa do passado. O paternalismo daria lugar a um modelo com ampla liberdade, onde cada um assume as rédeas da própria vida e arca com os riscos de suas escolhas. A Anvisa, por exemplo, teria seu poder arbitrário drasticamente reduzido. O poder seria transferido para cada um de nós.

Uma guerra foi declarada contra as máfias sindicais, que mantinham o povo refém de suas ameaças e greves. Em vez de recuar na primeira tentativa tímida de reformar os portos, ela enfrentava os sindicatos e abria as fronteiras para a concorrência, beneficiando milhões de consumidores.

A inflação seria outro alvo prioritário. Ameaçando sair de controle, ela seria combatida com uma forte redução dos gastos públicos, assim como da farra creditícia dos bancos estatais. O espírito de Thatcher focava nas próximas gerações, não nas próximas eleições.

A presidente sabia que o setor privado é infinitamente mais produtivo e eficiente. Os mecanismos de incentivo fazem toda a diferença. A busca pelo lucro é uma força propulsora sem igual para a inovação e excelência. Foi anunciada a retomada de um amplo programa de privatizações, começando pela Petrobras, cujas ações seriam pulverizadas, e cada brasileiro receberia a sua parcela de fato.

Poucos anos após essa medida, a Petrobras não precisava mais importar gasolina, o país era autossuficiente e tinha combustível mais barato. Os cofres públicos ficaram abarrotados com tantos impostos pagos pela maior lucratividade, e sobravam recursos para segurança e infraestrutura. A empresa deixara de ser cabide de empregos para aliados políticos.

A presidente repetia que o país precisava de mais milionários e mais bancarrotas. O mercado deve funcionar sem tanta intervenção estatal. O governo não usaria mais o BNDES como hospital de empresas, nem para selecionar os “campeões nacionais”. Quem planejou mal e investiu errado tinha que ir à falência mesmo. Faz parte do capitalismo. Mesmo se tiver X no nome da empresa!

A postura geopolítica mudara radicalmente também. Era chegada a hora de não ser mais negligente com governos vizinhos que burlavam acordos e contratos. Os interesses partidários e ideológicos dariam lugar aos verdadeiros interesses do povo brasileiro.

Os “bolivarianos” não teriam mais no governo brasileiro um cúmplice de seus projetos socialistas fracassados. Afinal, a presidente, graças ao espírito de Thatcher, havia aprendido que o problema do socialismo é que você eventualmente acaba com o dinheiro dos outros. Como ele não é capaz de criar riqueza, as punições impostas a quem efetivamente produz acabam afugentando os responsáveis pelo progresso da nação.

Quando os jornalistas a chamaram de “presidenta” e tentaram associar sua coragem ao fato de ela ser uma mulher, a presidente interrompeu, rejeitando o uso da cartada sexual. O que importa é o mérito, não o gênero ou a cor da pele. Ela estava cansada da “marcha das minorias oprimidas”, sedentas por poder. Até porque seu novo espírito era o de uma filha de quitandeiro humilde, que nunca precisou usar isso para chegar ao poder.

Eu já tinha um largo sorriso estampado no rosto durante esse sonho, quando uma voz começou a invadi-lo. No começo, era um som baixo e incompreensível, mas aos poucos ele foi aumentando e se tornando mais nítido. Por fim, percebi do que se tratava: um discurso na TV da presidente Dilma.

Ela estava justificando o baixo crescimento, a alta inflação, a desistência da reforma dos portos, a falta de eficiência da Petrobras, a ampliação das cotas raciais, o aumento do programa de esmolas estatais para os mais pobres, o resgate de grandes empresas quase falidas. O sorriso logo de desfez, e uma lágrima escorreu pelos meus olhos.

Aquilo era apenas um sonho. Thatcher estava morta, e seu espírito nunca nos deu o ar de sua graça. Como eu desejei regressar àquele sonho! Restava-me lutar para transformá-lo em realidade. Algum dia...

O mercado de trabalho e a inflação - ANTONIO DELFIM NETTO

Valor Econômico - 16/04

Estamos assistindo a um duro cabo de guerra entre a pretensiosa "ciência" de que se supõem portadores alguns economistas do sistema financeiro, e o humilde e sólido conhecimento da autoridade monetária, que se apoia no mais sofisticado departamento econômico do país. Trata-se de saber como e, quando, deve ser ajustada a política monetária diante das incertezas internas e externas enfrentadas pelos agentes econômicos. Não apenas os financeiros, mas também os produtores de bens e serviços.

No mundo "financeiro", a crença é que a autoridade monetária já está atrasada no aumento da taxa de juros real que induziria à melhora das expectativas e facilitaria a convergência da taxa de inflação à meta de 4,5%. No mundo "real" dos produtores de parafusos, que constroem o PIB e dão emprego, há sérias e justificadas dúvidas, no que têm sido acompanhados pela autoridade monetária. Essa tem recomendado paciência e "cautela", enquanto procura ter uma visão melhor das incertezas, o que lhe dará conforto para agir diante dos prováveis custos sociais da medida.

A justificada cautela tem sido, infelizmente, confundida como leniência do Banco Central no combate ao processo inflacionário e, o que é pior, como uma possível falta de apoio político para fazer o que crê deva ser feito. Duas hipóteses falsas como se verá, se for o caso.

Uma leitura mais atenta do último Relatório de Inflação (março 2013) mostra que o Banco Central tem uma visão mais complexa do nosso processo inflacionário, e sabe que o seu controle efetivo e definitivo está fora do seu alcance, sem o apoio de sólida política fiscal e aprovação pelo Congresso de medidas que aperfeiçoem as instituições e deem suporte: 1) à superação dos mecanismos protetores de grupos privados com poder de mercado maior do que o razoável; e 2) promovam a redução dos benefícios exagerados de que se apropriaram os servidores públicos que controlam Brasília.

É preciso reconhecer que nos últimos 14 anos a taxa média de inflação anual foi de 6,36%, namorando com o seu limite superior. O fato curioso é que inflação tão alta durante tanto tempo foi bem suportada pelo setor financeiro enquanto a taxa de juro real anual era de 7% ou 8%. Agora, com a taxa de juro real de 2%, ela parece insuportável...

A verdade é que o magnífico plano de estabilização que criou o real nunca entregou o que prometeu: uma inflação civilizada e estável, entre 2% e 3% ao ano, e a recuperação de um crescimento mais robusto de 5% a 6%. O culpado, obviamente, não foi o plano. Foi a indisposição dos sucessivos governos de prosseguirem a sua execução. A estabilização foi vítima do seu imenso sucesso inicial...

Não é razoável continuar a aceitar pacificamente aquela inflação, ainda mais quando acompanhada de um crescimento médio do PIB da ordem de 2,97%. É bom que tenhamos despertado e que se aprofunde a discussão de como reduzi-la, ao mesmo tempo em que se aumenta o crescimento. Isso está longe de ser conseguido apenas pela manipulação da taxa de juros real e o governo reconhece isso. Seus programas - que no curto prazo têm produzido algum ruído - quando maturarem, em dois ou três anos, produzirão importante efeitos estruturais e um aumento da competitividade.

A consciência da autoridade monetária sobre a complexidade do nosso problema inflacionário é claramente revelada em um apêndice dentro do Relatório, onde se exploram "evidências sobre a relação entre salário e inflação no Brasil". O trabalho é muito interessante, porque é modelado como uma espécie de curva de Phillips (que sugere a relação entre taxa de inflação e taxa de desemprego) expandida, usando inúmeras variáveis de controle (simulação de choques de oferta, preços externos de commodities, taxa de desemprego, componente cíclica da taxa de juros e do salário mínimo real ajustado pela produtividade), além de manipular outros modelos. Suas conclusões são as seguintes:

1) reajustes salariais acima dos ganhos de produtividade tendem a gerar pressões inflacionárias. Em outras palavras: se desejamos reduzir a inflação sem aumentar o desemprego, é preciso moderar os aumentos salariais aos da produtividade do trabalho;

2) não é possível descartar a hipótese de que a inflação, potencialmente, retroalimenta a dinâmica dos salários por meio de mecanismos normais e informais de indexação (ainda que, aparentemente, não se tenha feito um teste da direção de causalidade);

3) os aumentos salariais incompatíveis com a reposição da inflação e com o crescimento do PIB per capita têm impacto significativo e persistente nas medidas de inflação, particularmente no setor de serviços; e

4) a propagação das pressões inflacionárias oriundas do mercado de trabalho depende da postura da política monetária. Em outros termos, esta deve impedir, pelo aumento da taxa de juro real, a criação de um viés inflacionário.

Nada muito diferente das conclusões clássicas (vide Ghali,K.H. - "Wage Growth and the Inflation Process", Journal of Money, Credit and Banking, 31(3) 1999: 417-431): 1) os preços são fixados como uma margem ("mark up") sobre os custos salariais ajustados pela produtividade do trabalho; e 2) a relação de causalidade vai em uma única direção, de salários para preços.

É tempo, portanto, de flexibilizarmos o mercado de trabalho, sem violar os direitos constitucionais dos trabalhadores, se quisermos, realmente, ter no longo prazo, uma taxa de inflação civilizada e um crescimento mais robusto.