segunda-feira, fevereiro 23, 2015

Da tragédia à farsa - PAULO GUEDES

O GLOBO - 23/02

Para defender nossas instituições de grotesca e recorrente farsa histórica, teremos de combater os inimigos da sociedade aberta

"Hegel observou que todos os fatos e personagens de grande importância na História universal acabam por se repetir. E esqueceu-se de acrescentar: ocorrem a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa", registrava Karl Marx em "O 18 Brumário de Luís Bonaparte" (1852). Pois bem, socialistas bolivarianos e peronistas do século XXI insistem em praticar como farsa os mesmos experimentos que causaram tragédias no século XX. O poder político é conquistado essencialmente pela promessa do Paraíso na Terra. Os pobres, deserdados pela insensibilidade dos liberais e pelo oportunismo dos conservadores, tornam-se então presas fáceis da secular seita socialista que arrancou das grandes religiões a bandeira da solidariedade.

Instalados no poder os socialistas, de sua ignorância em assuntos econômicos resulta inexorável desorganização da base produtiva. Segue-se o caos social e dispara-se finalmente a busca de bodes expiatórios. Assistimos depois aos sucessivos episódios de desonestidade intelectual, irresponsabilidade moral e truculência política como passos inevitáveis de uma desesperada tentativa de manutenção do poder.

Precisamos defender nossas instituições dessa grotesca e recorrente farsa histórica que já tragou nossos vizinhos. Estaremos nos próximos meses testando e aperfeiçoando nossas instituições. Veremos claramente quem são os inimigos de uma sociedade aberta no Brasil. Joaquim Barbosa e Sergio Moro, cujas contribuições demarcaram a independência do Poder Judiciário, advertem-nos para a atuação do próprio ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, que estaria tentando evitar a delação premiada do coordenador de um cartel de empreiteiras para fraudar licitações na Petrobras.

A presidente Dilma tem agora a oportunidade de reafirmar seu compromisso com as apurações dos malfeitos "doa a quem doer". Pode até mesmo repreender seu ministro da Justiça. Teori Zavascki poderá demonstrar, com impecável desempenho futuro, que não evitava a delação premiada de Renato Duque quando o soltou, mas apenas cumpria o devido rito processual. Seria o Mensalão a tragédia e o Petrolão a farsa? Tempos interessantes, pois pede-se moralidade até mesmo em patrocínios de nossa amoral festa pagã. Escola carnavalesca patrocinada por ditadura não deveria ser campeã.

Pais chatos - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 23/02

É evidente que os pais devem se ocupar da educação de seus filhos. Ponto. Mas tem limite


Vivemos num mundo das modas de comportamento. Por exemplo: pais chatos. Você me pergunta o que é um pai chato? Pode ser uma mãe chata também, mas quando é pai, é pior ainda. Explico logo o porquê.

Antes, um reparo: evidente que os pais devem se ocupar da educação dos filhos. Ponto. Mas tem limite. Quer ver?

Há anos, quando meus filhos estavam em idade escolar, fomos, minha mulher e eu, a algumas reuniões. Poucas, porque sempre achamos que pais deveriam ser educados e não frequentar muito essas reuniões porque os professores, no final do dia, já estão cansados de correr atrás de nossos pestinhas. Ah! Esqueci: hoje não se pode mais falar assim. Nossos "hiperativos".

Meus filhos estudaram numa dessas típicas escolas da zona oeste paulistana que custam R$ 3.000 por mês, ainda que professores preguem voto no PSOL e levem os meninos para acampamentos do tipo MST.

Lembro-me de uma reunião em especial em que uma mãe, sentada atrás de mim, enchia o saco da professora de história, conhecida por ser amada pelos alunos, porque ela achava que o programa de história deveria contemplar mitos (o assunto era história antiga) nos quais as mulheres fossem guerreiras "empoderadas" (a palavra já dá vontade de vomitar...). E, também, que deveriam dar menos espaço para gregos, romanos, hebreus e mais para outros povos.

A professora, coitada, educadamente, depois de uma dia inteiro de trabalho, tentava explicar à mãe chata que, em se tratando de história antiga ocidental, não se podia negar a importância dos gregos, romanos e hebreus. Os demais povos seriam contemplados (lembre-se: estamos falando de Antiguidade!), mas esses três eram essenciais (na Antiguidade!) para a matriz ocidental.

Outro tipo chato é aquele que acha que a escola deve ensinar os alunos a mexer em computadores e afins. Normalmente, o cara é engenheiro ou algo assim, mas acha que, porque tem um carro coreano grande e branco, pode ensinar padre-nosso ao vigário. Só gente mal informada acha que criança de classe média precisa de escola pra aprender a mexer em computadores e afins.

Mais um tipo é aquele participativo em todas as atividades da escola e que leva a sério quando, educadamente, a instituição convida os pais a serem mais "presentes no dia a dia da escola".

Esse é aquele tipo que se senta na primeira fila nas reuniões e fala o tempo todo. Quando acaba a reunião, lá pelas 22h, ele quer conversar com a professora enquanto ela pega a bolsa e se dirige para o seu carro.

Tipo muito interessado em saber como seu filho vai na escola, mas que na realidade quer falar de algo que ouviu falar numa dessas reuniões com gurus que falam sobre motivação em empresas, e acha que a professora deveria ler esse tal guru que ganha milhões ensinando bobagens sobre liderança. O mundo corporativo gasta milhões com gente fajuta.

Ou, quem sabe, pior ainda, aquele tipo que, em escolas de crianças muito pequenas, quer demonstrar sua condição de pai contemporâneo, disputando com as mães quem sabe mais sobre alimentação infantil.

Tem mais um hilário (entre tantos outros): os pentelhos que querem dizer para a coordenação que a escola deveria colocar disciplinas novas, como "biking". Eita mundinho chato, esse.

Estou devendo a você uma explicação de por que, normalmente, os pais assim acabam sendo mais chatos do que as mães.

Uma das novas modas de comportamento é a mania de homens quererem o tempo todo provar que entendem melhor de bebês do que as mães. Essas, coitadas, acabam cedendo à moda porque, além de quererem ou precisarem trabalhar, não podem negar ao marido a ilusão de ser um "pai contemporâneo". Outras, infelizmente, creem de verdade que o fato de os homens não poderem amamentar é uma injustiça social ou de gênero (o "gender gap").

Óbvio que existem pais que sabem lidar com filhos pequenos. E mães que não são lá tão obcecadas pelos filhos. Pena. Mas, na maioria esmagadora dos casos, devemos deixar que as mulheres cuidem dessa área, porque elas sabem há milênios o que significa carregar uma criança nesse mundo.

Que agonia - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 23/02

SÃO PAULO - Ao final da longa purgação que apenas se inicia, a Petrobras e todo o complexo político-empresarial ao seu redor terão sido desidratados. Do devaneio fáustico vivido nos últimos dez anos restará um vulto apequenado, para o bem da democracia brasileira.

As viúvas do sonho grande estão por toda parte. Um punhado de militantes e intelectuais fanáticos por estatais monopolistas acaba de publicar um manifesto que exala agonia.

O léxico já denota a filiação dos autores. A roubalheira na Petrobras são apenas "malfeitos". O texto nem bem começa e alerta para a "soberania" ameaçada, mais à frente sabe-se que por "interesses geopolíticos dominantes", mancomunados, claro, com "certa mídia", em busca de seus objetivos "antinacionais".

Que agenda depuradora essa turma teria condição de implantar se controlasse a máquina repressiva do Estado. Conspiradores antipatrióticos poderiam ser encarcerados, seus veículos de comunicação, asfixiados, e suas empresas, estatizadas para abrigar a companheirada.

Que espectro de PDVSA, o portento estatal total que fatura o equivalente a 60% do PIB na Venezuela, poderia surgir no Brasil. O Congresso conservador, o Orçamento limitado e vigiado, o Judiciário indócil, o Ministério Público indômito e a Polícia Federal autônoma seriam afogados pela força diluviana dessa empresa-Estado.

Felizmente o Brasil é muito maior que o petróleo que produz e pode vir a produzir. A Petrobras, mesmo agigantada após anos de política monopolista perdulária, fatura pouco mais de 5% do valor do PIB.

Quanto maior é o peso de empresas estatais na economia, mais amplos são os meios para o autoritarismo. Imagine se o governo ainda tivesse em mãos a Vale, a Embraer e as telefônicas para fazer política. Quais seriam os valores da corrupção, se é que sobrariam instituições independentes o bastante para apurá-los?

Moralismo e ilegalidade - DENIS LERRER ROSENFIELD

O ESTADO DE S.PAULO - 23/02

O politicamente correto tornou-se uma praga a corroer valores, embora o faça em nome de supostos valores mais elevados. Procura-se atingir a liberdade de escolha, em nome da saúde ou de qualquer outro suposto valor, tomado a esmo, como se assim a sociedade fosse capaz de se organizar "melhor". O "bem" e o "melhor" ganham, então, o seu significado dos que se dizem seus "representantes", como se esses fossem a concretização de um valor maior.

A liberdade de autodefesa dos cidadãos é anulada em função de uma regulamentação sustentada por poucos, que nem se dão ao trabalho de justificar o desrespeito ao resultado do referendo sobre o desarmamento. Os habitantes do País ficam à mercê de criminosos e ao sabor de estatísticas incorretas, como se os "crimes" tivessem sido reduzidos graças a essa nova regulamentação. Por que não acatar um referendo ou fazer um novo, dando aos cidadãos o direito de decidir por si mesmos?

A liberdade de escolha, de fumar e de beber, está sendo progressivamente restringida, sendo a primeira delas uma espécie de cavalo de batalha que, se bem-sucedida, terá consequências ainda maiores em outros campos da liberdade individual. Atividades economicamente lícitas e reconhecidas constitucionalmente começam a ser tidas por "transgressoras", como se fosse um ato de transgressão seguir as leis deste país. O moralismo do politicamente correto toma o lugar da lei. Se for para mudar a lei, façam-se leis com tais objetivos, ou melhor, os brasileiros deveriam ser consultados sobre o que pensam mediante consultas populares.

Em vez disso temos uma pletora de atos administrativos ou outros que interferem na liberdade de cada um. A tutela do Estado chega a tal ponto que os indivíduos, anestesiados, vêm a considerá-la como moralmente justificada. Ocorre uma renúncia à liberdade em função de um bem tido por maior, quando o maior perigo aí reside: tomar um valor qualquer como se fosse maior que o da liberdade.

O politicamente correto tem, também, consequências econômicas, atingindo empresas, agricultores, empregos e renda. Pior ainda, seu moralismo invade o domínio da economia de mercado, propiciando atos ilícitos, que se aproveitam, precisamente, de regulamentações abusivas. Ou seja, há toda uma cultura da transgressão que vem associada à restrição da liberdade de escolha.

O contrabando, a pirataria e a sonegação de impostos impactam diretamente os empregos formais, atingindo inteiras cadeias produtivas e setores econômicos. A ilegalidade cobra o seu preço, embora, muitas vezes, o cidadão comum nem se dê conta cabalmente do que está fazendo. Compra um eletrônico falsificado, um cigarro que não segue padrões mínimos de qualidade e uma bebida que não obedece a critérios sanitários básicos. A arma que é proibida para o cidadão é comprada livremente por meliantes e traficantes em qualquer cidade brasileira. Se os Estados forem fronteiriços a alguns países latino-americanos, tanto mais fácil se armar, fumar, beber ou comprar qualquer bugiganga.

Para se ter uma ideia da enormidade do problema, 80% dos óculos são pirateados, 32% dos cigarros são contrabandeados (só este produto ocasionou uma evasão fiscal de R$ 4,5 bilhões em 2014), remédios são falsificados, atentando contra a saúde da população, softwares são livremente reproduzidos, filmes pirateados e assim por diante. A lista é imensa, no entanto não consta de nenhuma agenda política nem econômica. Sempre há uma "justificativa" e alguém disposto a justificar o injustificável.

O crime advindo do contrabando acarreta prejuízos enormes. A economia é profundamente afetada. Empregos são perdidos. A arrecadação de impostos cai. Em alguns casos o efeito chega a ser paradoxal, pois se aumenta a tributação formal, tendo como efeito o crescimento da economia informal, com a consequente redução de impostos. O fumo é um bom exemplo disso.

A ilegalidade cobra seu preço. Aumentam os atos ilícitos dos mais diferentes tipos. Drogas são comercializadas livremente, armas são vendidas e o cidadão comum, o que paga efetivamente impostos, fica à mercê de uma situação que o ultrapassa. Deve contentar-se com os discursos do politicamente correto, como se assim o País estivesse evoluindo e se tornando "progressista". As palavras perdem o seu significado e se tornam objeto de mera retórica ideológica.

"Argumentos" politicamente corretos parecem não faltar: a "saúde" dos cidadãos, a sua "condição social", a sua "segurança", a sua "baixa educação" e outros do mesmo tipo. As pessoas parecem não se dar conta de que a saúde é uma escolha individual; a autodefesa, um direito; a condição social, algo que deve ser objeto de investimento, e não de acomodação, da mesma maneira que a educação é - e deveria ser - objeto primeiro de melhoria nacional. Em vez disso, temos uma acomodação complacente.

Soluções existem. Basta que a blindagem do politicamente correto seja enfraquecida. O governo não é um fim em si mesmo, mas só um instrumento dos cidadãos, que deveriam ser reinvestidos de sua capacidade autônoma de livre decisão. Cabe ao Estado oferecer essas condições. Dentre elas, poderíamos listar uma política de tributação que equilibre a oferta e a procura, não favorecendo o surgimento do contrabando. Setores econômicos com alta tributação podem ser asfixiados.

Acrescente-se uma política eficaz de controle de fronteiras, impedindo verdadeiramente o contrabando dos mais diferentes produtos. Se Estados limítrofes, como o Paraguai, têm problemas sociais graves que podem favorecer atividades de contrabando, um investimento brasileiro na formalização de sua economia e em políticas sociais poderia ser um excelente instrumento. O mesmo valeria para outros países. Por seu tamanho e importância, o Brasil está destinado a assumir tal posição. Sua política externa deveria seguir essa sua vocação.

Sinto muito, presidente - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 23/02

Está sobrando mais para o povo do que para o governo pagar o preço dos desarranjos na economia, provocados pela gestão temerosa do Tesouro Nacional e por erros na condução da política econômica do primeiro mandato de Dilma Rousseff. A deterioração de praticamente todos os indicadores, como a inflação alta, o saldo negativo nas contas do setor externo, o aumento da dívida pública, o baixo ou nenhum crescimento em 2014 e, o pior de todos, o deficit fiscal levaram o Brasil à beira do rebaixamento da condição de destino confiável de investimentos.

Depois de campanha eleitoral marcada por discurso divorciado da dura realidade nacional, ficou perto do chão a credibilidade da presidente, o que torna mais difícil motivar as pessoas a reagirem à estagnação econômica. A primeira medida foi entender, embora sem admitir, que a farra do gasto público acabou e dela ficou apenas enorme conta a ser paga com período de severo ajuste fiscal.

A segunda foi trocar a equipe habituada ao intervencionismo e à criatividade contábil por outra, acostumada à ortodoxia dos que, em períodos de vacas magras, limitam os gastos às receitas. Para isso, não hesitam em usar tesouras afiadas nas despesas e vitaminas nas receitas.

É claro que a mudança encontrou e ainda sofre resistências dos gastadores mais empedernidos do partido da presidente e dos demais aliados. Tanto que já é quase certo que restrições saneadoras aos benefícios descontrolados do seguro-desemprego e das pensões serão "amenizadas" por pressão política.

Mas é ao lado do aumento de receitas que o cidadão deve prestar mais atenção, já que há várias armações para invadir o bolso e, nessa parte do ajuste, a presidente parece estar mais disposta a praticar maldades. Sem coragem para criar tributos ou ressuscitar defuntos malquistos como a CPMF, o jeito foi subir alíquotas que tinham sido rebaixadas e retomar o velho golpe do aumento oculto de impostos.

É o caso da correção da tabela do Imposto de Renda, pauta obrigatória da primeira semana de trabalhos do Congresso Nacional, que começa hoje. Depois da silenciosa rejeição da medida provisória que fixava em 4,5% a tabela do IR para 2015 (que caducou sem ser apreciada), quando até o governo já sabia que 2014 fecharia com a inflação oficial de 6,4%, os parlamentares aprovaram correção de 6,5%. A presidente vetou e, agora, deputados e senadores querem derrubar o veto.

"Sinto muito, sinto muito", desculpou-se a presidente na sexta-feira, na primeira entrevista que concedeu em 2015, 51 dias depois de assumir o segundo mandato. Dilma disse que vetou porque o governo não tem recursos para ir além dos 4,5%.Perdeu ela a ocasião de exercer a autoridade com a sabedoria de quem separa as coisas.

Afinal, a diferença entre os dois percentuais pode ser expressiva para os salários, que estão pagando mais pela gasolina, eletricidade e alimentação, mas resulta em R$ 2 bilhões, que é quase nada perto dos gastos enxugáveis da máquina pública, que a própria Dilma ajudou a inchar. "Sinto muito, digo eu", poderá lhe responder o contribuinte, que, com isso, ganhou mais um motivo para consumir menos e esperar o pior de quem, há pouco, lhe prometia o paraíso.

Parceria em crise - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 23/02

Argentina despreza o Mercosul e se volta para a China; ruim para o Brasil, cuja diplomacia comercial não preparou o país para buscar alternativas entre as grandes potências



O Brasil já não é mais o principal parceiro comercial da Argentina – o posto hoje pertence à China, país que Cristina Kirchner acabou de visitar e com o qual ela assinou uma série de 15 acordos que devem movimentar cerca de US$ 21 bilhões. Segundo o Ministério da Economia argentino, em 2014 as exportações de bens de capital provenientes dos membros do Mercosul para a Argentina caíram 34% na comparação com 2013, enquanto o volume de máquinas e equipamentos exportados pela China aos argentinos subiu 13%. Processo semelhante, embora não tão intenso, ocorre também com os bens intermediários. Essa tendência afeta especialmente o Brasil, maior economia do bloco. O fluxo comercial entre brasileiros e argentinos em janeiro de 2015 caiu 25% em relação ao mesmo mês do ano passado, ficando em US$ 1,6 bilhão. É o valor mais baixo desde 2009.

A situação atual resulta da combinação entre uma Casa Rosada que adota um discurso populista e faz o que quer e um Palácio do Planalto que insiste em um projeto de bloco econômico que mostrou ser um fracasso. Desde 2003 a política brasileira para o comércio exterior adotou duas grandes vertentes: buscar mercados nas “periferias” da economia mundial, como no caso dos países africanos, e privilegiar o Mercosul, em detrimento das grandes economias mundiais. Durante sua passagem pela Presidência, Lula ajudou a afundar o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), com o argumento de que o acordo representaria uma sujeição da América Latina a Washington. Naquela época, a Argentina ainda era uma aliada.

No entanto, quando a política econômica dos Kirchner começou a cobrar seu preço internamente, a Argentina deixou seus parceiros econômicos do Mercosul na mão. Com dificuldade crescente para captar dólares, o governo argentino passou a adotar cada vez mais medidas protecionistas que não poupavam nem mesmo os demais membros do bloco que havia nascido para facilitar o comércio no Cone Sul. Exigências cada vez mais surreais, como a necessidade de que importadores enviassem solicitações por e-mail a autoridades argentinas quando quisessem trazer itens de fora do país, atingiram em cheio empresas brasileiras que tinham nas exportações para a Argentina uma importante fonte de receitas. Os acordos argentinos com a China se inserem nesse contexto, pois incrementarão o investimento chinês no país e trarão os dólares que Cristina Kirchner busca ansiosamente.


Quando a política econômica dos Kirchner começou a cobrar seu preço internamente, a Argentina deixou seus parceiros econômicos do Mercosul na mão

A guinada argentina em direção à China, combinada com anos de desprezo brasileiro pelas grandes economias mundiais, deixou o país com poucas alternativas. Como informou a colunista Míriam Leitão dias atrás, o Brasil só tem três acordos comerciais bilaterais firmados, e um único em vigor. Enquanto isso, outros países latino-americanos, como o Chile, o Peru e o México, investem nesse tipo de negociação e na formação de blocos com Estados Unidos, Japão, Canadá e Austrália. O Brasil é o lanterna dos Brics em termos de tratados comerciais e de investimento com as potências econômicas globais. A sétima maior economia do mundo é apenas a 22.ª maior exportadora.

É claro que não há apenas vítimas nesse jogo. O Brasil também é um grande adepto do protecionismo, e lobbies internos nos Estados Unidos e na União Europeia dificultam a entrada de produtos brasileiros, especialmente os provenientes do agronegócio. É exatamente a multiplicidade de interesses em jogo que dificulta a aprovação de grandes acordos multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio, agora chefiada por um brasileiro. Não é à toa que as negociações bilaterais estão em alta – um jogo que já está sendo disputado há anos e ao qual o Brasil só vem assistindo.

Depois que Cristina Kirchner voltou da China, o Brasil mandou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a Buenos Aires. Quase ao mesmo tempo, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, foi aos Estados Unidos. Ainda é cedo para dizer se haverá uma mudança na política comercial brasileira, mas ela é extremamente necessária. É preciso se livrar das amarras burocráticas e ideológicas que têm impedido o Brasil de se aproximar dos gigantes do comércio mundial, um objetivo que não é incompatível com o fomento à integração regional. Quanto mais inserido o Brasil estiver no fluxo comercial global, melhores serão as perspectivas de retomada do crescimento.

O custo das obras atrasadas - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 23/02

O atraso nas obras de usinas de geração de energia elétrica já custou R$ 65 bilhões ao País, fez crescer o risco de apagões e tornou crítico o quadro de abastecimento. Isso exige uma urgente mudança de atitude dos responsáveis pelo setor, pois só assim será possível acelerar a construção de novas unidades geradoras e de linhas de transmissão. O estudo da Federação das Indústrias do Rio Janeiro (Firjan) sobre o custo do atraso na execução dos projetos na área de energia elétrica, que mostra esse quadro, acrescenta cifras ao conjunto de problemas que já vinham sendo apontados por especialistas do setor privado e até pelo Tribunal de Contas da União (TCU). São problemas decorrentes em boa parte de falhas de gestão da política energética nos governos petistas, pois o estudo avalia a situação das obras entre 2006, ainda no primeiro mandato de Lula, e 2014, último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff.

A Firjan pesquisou a situação das obras de geração em andamento, de todas as fontes (hidráulica, eólica e térmica, com o uso de combustíveis como carvão, gás natural, biomassa e óleo combustível), e constatou que 272 estão atrasadas, com atraso médio de 4,1 anos (a que está em pior situação, a Usina Cubatão, tem atraso de 15 anos). Essas usinas disporão de 420 turbinas, com potência de 10.376 megawatts (MW). Isso representa 8% da capacidade atual do Sistema Interligado Nacional (SIN), cuja capacidade é de 129,9 mil MW, em boa parte não disponível no momento, por causa do baixo nível dos reservatórios, da manutenção ou falta de combustível em usinas termoelétricas, da falta de linhas de transmissão ou de outros problemas técnicos.

Para chegar ao valor da perda em que o País incorreu por causa do atraso dessas obras, a Firjan considerou o valor do megawatt-hora (MWh) oferecido pelos concessionários nos leilões em que arremataram as usinas, corrigiu esse valor pela inflação do período e o comparou com o valor efetivamente gasto no período para repor a energia que deixou de ser produzida pelas novas unidades. Quando as usinas hidrelétricas não produzem o suficiente para abastecer todo o sistema, as autoridades determinam o acionamento de unidades térmicas, que operam a custo mais alto, de que resulta um acréscimo na conta de luz.

Se estivessem prontas, as usinas em atraso poderiam suprir metade do consumo da indústria. Sem elas, o setor teve de pagar um preço mais caro, mas que nem sempre cobriu o custo da energia disponível, gerada pelas termoelétricas (a diferença foi coberta pelo Tesouro, que agora está repassando a conta para os consumidores).

Entre as causas dos atrasos, a Firjan apontou erros de planejamento do governo, que colocou em licitação obras sem a existência de projetos executivos e sem licenciamento ambiental prévio e tecnicamente viável. Sem esses requisitos, as obras não puderam ser iniciadas no prazo previsto e, na sua execução, o cronograma foi sendo descumprido.

Outra falha identificada pelo estudo na ação do governo foi a falta de coordenação entre os órgãos públicos, o que resultou em descompasso entre obras de geração e de transmissão - unidades geradoras não puderam operar tão logo foram concluídas por falta de linhas de transmissão - e atraso na concessão do licenciamento ambiental para obras consideradas prioritárias.

É um quadro semelhante ao identificado por auditores do TCU em maio do ano passado e que levou o plenário da Corte de contas a concluir, no início deste mês, que há "fortes indícios de que a capacidade de geração de energia elétrica no País se configura estruturalmente insuficiente para garantir a segurança energética". Entre as causas da "insuficiência estrutural" do sistema elétrico brasileiro, o TCU apontou falhas no planejamento da expansão da capacidade, superavaliação da capacidade das usinas, problemas nas usinas termoelétricas e atraso nas obras de geração e transmissão.

Além de confirmar esse quadro, o estudo da Firjan mostra quanto o País já pagou por tantos erros. A isso deve se somar o custo que poderá ser imposto por apagões ou pelo racionamento cada vez mais iminente.

A hora da verdade - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 23/02

Passado o Carnaval e o recesso parlamentar (de 11 dias, ao custo de R$ 6,8 milhões para os contribuintes), o país depara-se nesta segunda-feira com os seus grandes desafios: um ajuste fiscal urgente, que o governo terá de implementar com firmeza e o Congresso terá de avaliar com independência e responsabilidade; um escândalo de corrupção sem fim, que revelou a apropriação indébita da Petrobras, levou corruptos e corruptores à cadeia, mas ainda não chegou nos agentes políticos articuladores do esquema; uma economia vacilante, que precisa ser reativada mesmo com o peso da inflação e dos preços extorsivos; e um governo central fragilizado, que tarda em reagir à crescente insatisfação popular.

Já se disse aqui que o Brasil é maior do que os seus problemas, mas todos sabemos que só conseguirá resolvê-los se as lideranças representativas da sociedade cumprirem efetivamente suas atribuições. Somos todos, como cidadãos e eleitores, responsáveis pelos políticos e governantes que nos representam, pois eles foram escolhidos pelo nosso voto _ ou pela nossa omissão, pois quem opta por não votar acaba autorizando tacitamente a que outros escolham em seu nome. Talvez não possamos, como indivíduos, tomar o lugar de nossos governantes, parlamentares e juízes para decidir de acordo com o que pensamentos. Mas podemos fiscalizá-los, acompanhar seus atos e manifestar nossa vontade coletiva de que decidam o melhor para o país.
O Legislativo é o poder mais próximo do povo. É para o Congresso que se voltam os olhos da nação no momento em que o Executivo hesita e o Judiciário enfrenta resistências políticas para punir a corrupção. Para esta semana está programada a instalação da CPI da Petrobras, que só terá sentido se não se transformar em entrave para desviar a atenção das investigações que a Polícia Federal e o Ministério Público vêm fazendo de forma satisfatória e competente.
O país começa, nesta semana pós-Carnaval, a enfrentar a sua realidade _ desanimadora para os pessimistas, desafiadora para todos, mas sem margem para fugas e fantasias. A hora da verdade chegou para os brasileiros.

Um desrespeito - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 23/02

Antes da lei de Responsabilidade Fiscal, estados e municípios não tinham limites de endividamento e os gastos dos entes federativos e da própria União estavam completamente fora de controle. A folha de pagamentos podia até mesmo ultrapassar o total das receitas disponíveis.

A Lei estabeleceu parâmetros para a dívida, inclusive estabelecendo um ajuste gradual para que os entes federativos pudessem se adaptar. Assim, a folha de pagamento não pode mais ultrapassar um determinado percentual das receitas disponíveis e os gastos com inativos devem respeitar uma proporção do que é pago aos servidores que estão na ativa. Isso obrigou União, estados e municípios a buscarem formas de custear as despesas com inativos, adotando, por exemplo, sistemas de previdência complementar.

Mas, se por um lado, estados e municípios estão sujeitos a limites de endividamento, no caso da União tais parâmetros ficaram de fora da Lei de Responsabilidade Fiscal. A justificativa é que a dívida pública federal tem outras funções, como a emissão de títulos que servirão de instrumento para execução da política monetária pelo Banco Central. É também o governo central que faz o ajuste do endividamento consolidado do setor público.

Assim, a cada ano a autorização para o envidamento federal é embutida no Orçamento Geral da União (OGU), e os parâmetros fiscais — como, por exemplo, o superávit primário que o governo central precisa alcançar — são estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

O que se constatou, na prática, é que esse arcabouço institucional mostrou-se muito frágil em relação à União. A pretexto de executar uma política econômica anticíclica, o primeiro governo Dilma descumpriu as metas fiscais, sempre apelando para artifícios, que acabaram sendo batizados de “contabilidade criativa”. Sem falar nas chamadas “pedaladas”, pelas quais despesas foram jogadas de um exercício para outro, acumulando um volume de “restos a pagar” tão elevado a ponto de existir um segundo orçamento, paralelo ao original.

Em 2014, esse desrespeito chegou a ponto de o governo impor ao Congresso uma mudança no texto da Lei de Diretrizes Orçamentárias, para ajustá-la ao resultado fiscal do ano. O governo central foi liberado de qualquer meta, comprometendo-se apenas a alcançar “o resultado fiscal possível”, na verdade um estrondoso déficit (de 6% do PIB).

Da mesma maneira de exercícios anteriores, esse rombo seria camuflado jogando-se mais despesas para os “restos a pagar” de 2015, o que não ocorreu porque a nova equipe econômica resolveu acabar com o escárnio antes mesmo de assumir. O ex-ministro da Fazenda foi para casa de cara amarrada sem sequer ter a elegância de transmitir o cargo a seu sucessor. Talvez tenha ficado com vergonha da herança que deixou.

O importante agora é que se estabeleça um arcabouço institucional que impeça a repetição desses erros.

Correção de rumos - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 23/02

Ministro da Fazenda admite que economia pode ter encolhido em 2014, cenário que talvez se repita em 2015; país precisa voltar a investir


Em palestra para investidores nos EUA na semana passada, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, admitiu que a economia brasileira pode ter encolhido em 2014, dado que será conhecido em março.

Analistas esperam nova queda do PIB em 2015, talvez de 1%. Se isso se confirmar, será não só a maior contração desde o Plano Collor como também uma inédita sequência de dois anos de recessão.

A experiência "desenvolvimentista" perseguida pelos governos petistas desde a crise de 2008, e reforçada no primeiro mandato de Dilma Rousseff, fracassou.

"Desenvolvimentismo", a rigor, é um termo infeliz. Busca contrastar uma política econômica pretensamente progressista com o rumo conservador que teria norteado as administrações de Fernando Henrique Cardoso e a primeira de Lula.

Se havia algum fundo de verdade nessa dicotomia, a prática dos últimos anos transformou a expressão numa caricatura, sinônimo de expansão desmedida de gastos públicos, interferências setoriais desastradas, leniência com a inflação e protecionismo como ferramenta anacrônica de industrialização.

Pelo menos desde 2011 a realidade global recomendava um curso distinto, mas o governo não foi capaz de perceber as novas circunstâncias --ou simplesmente não quis dar o braço a torcer.

A insistência no malfadado caminho não levou ao desenvolvimento, mas à inflação persistente, à desorganização das finanças e à redução do investimento e das possibilidades de crescimento.

À beira do abismo, Dilma mudou o rumo. A nova política econômica procura recolocar o país nos trilhos. O conserto das contas públicas é um passo essencial para evitar um colapso da qualidade de crédito brasileiro. Outro é o controle da inflação, infelizmente com aumento de juros, dados os desequilíbrios acumulados.

A junção de orçamento apertado com contenção monetária (além de restrições de energia e de água) reforçará a recessão em 2015. É a parte mais dolorosa do ajuste. Mas, se houver persistência e às medidas emergenciais forem adicionadas ações estruturais para destravar o investimento, será possível almejar bons resultados a partir do ano que vem.

A agenda positiva de simplificação tributária, maior previsibilidade nas ações do governo, retomada das concessões de infraestrutura e abertura econômica precisa ser adotada sem demora.

Que o Brasil combine deficit externo de 4% do PIB com crescimento zero é evidência de que consome mais do que pode e investe menos do que deve.

Na atual conjuntura, não é possível que o consumo continue puxando a economia; esse papel deve ser cumprido pelo investimento.

Como se partilhassem o butim - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 23/02

O modo como o ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, reconheceu a representatividade da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) - o que lhe assegura a liberação automática da fatia equivalente a R$ 15 milhões por ano da arrecadação do imposto sindical - revela o deslavado uso político do dinheiro que, extraído compulsoriamente do salário do trabalhador, deveria ser empregado na defesa de seus direitos. O ministro, que é do PDT, acatou "atas retificadoras" apresentadas pela CSB - sabidamente vinculada ao PMDB, partido da base aliada e ao qual está filiado o vice-presidente da República, Michel Temer - que haviam sido rejeitadas pelo secretário de Relações de Trabalho do Ministério, Manuel Messias, a quem cabe decidir sobre a criação de entidades sindicais.

Como essas atas aumentaram, por mágica, em 182 mil o número de trabalhadores filiados a sindicatos associados à central - o que, pelo menos no papel, assegurou a representatividade mínima exigida por lei para lhe dar o direito de participar do bolo do imposto sindical -, Messias não as reconheceu. "Como servidor, não tinha como liberar esses sindicatos", justificou-se Messias, deixando a decisão para o ministro.

Como mostrou reportagem do Estado, o ministro acatou, em janeiro, as "atas retificadoras" de seis sindicatos da CSB aumentando o total de filiados de 439 mil para 621 mil. Foi o bastante para permitir à CSB, que antes de dezembro de 2013 contava com 5,4% de representatividade, alcançar o índice de 7,3%, acima dos 7% exigidos pela lei para partilhar os 10% do imposto sindical a que as centrais têm direito. A representatividade indica a porcentagem dos trabalhadores filiados à central em questão em relação ao total de trabalhadores sindicalizados em todo o País. O milagre da multiplicação de filiações e a canetada de Dias renderão R$ 15 milhões ao longo do ano. E a CSB já recebeu a parcela de janeiro na nova divisão.

O imposto sindical, eufemisticamente chamado de contribuição sindical, é cobrado anualmente dos trabalhadores, sindicalizados ou não, na base de um dia de trabalho em março. Em 2013, R$ 3,2 bilhões foram distribuídos de acordo com a partilha estabelecida pela Lei 11.648 de 2008, assinada pelo ex-presidente Lula: 60% para 15.315 sindicatos; 15% para federações; 10% para centrais e 5% para confederações.

A criação de sindicatos, prática corriqueira nas gestões pedetistas no Ministério do Trabalho, não implica despesas para o contribuinte. Isso se aplica à permissão para funcionamento da CSB. Trata-se de disputa por um dinheiro já arrecadado do qual os dirigentes das entidades não precisam prestar contas. A briga se acirra à medida que aumenta ano após ano a arrecadação do imposto sindical.

As atas para a formalização da criação da nova central, obtidas pelo Estado, resultam de assembleias realizadas por seis sindicatos nos últimos dias de 2013 e nelas o número de sócios foi flagrantemente inflado. O Sindicato dos Químicos, Técnicos e Engenheiros Químicos de São Paulo, por exemplo, passou em um ano de 1,4 mil para 70 mil sócios. Outro exemplo é o do Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio de Janeiro, que registrou números divergentes; no documento obtido pelo Estado, diz ter 9 mil sindicalizados, mas relaciona apenas 813 médicos veterinários. O grupo técnico do Ministério aconselhou optar pelo número menor, mas o ministro tomou a decisão baseado nos 9 mil, suficientes para assegurar formalmente a representatividade.

O reconhecimento da nova central sindical com direito a receber uma quantia expressiva do imposto sindical deixa claro que, no governo do PT, a questão sindical não é gerida tendo como foco a garantia dos direitos dos trabalhadores, como deveria ser, mas sim os interesses políticos-partidários.

Dias tornou-se ministro por indicação do presidente do PDT, Carlos Lupi, em troca de apoio à reeleição da presidente Dilma. O presidente da CSB, Antônio Neto, é, de acordo com a reportagem, ligado ao vice-presidente Michel Temer. O diretor de assuntos parlamentares da central, ex-deputado Mário Limberger, é filiado ao PMDB, partido de Temer.

Anão diplomático - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 23/02

Que alma corajosa se oferece para aconselhar a presidente Dilma a renovar seu vocabulário, começando por descartar lugares comuns do tipo "Não ficará pedra sobre pedra" e "Doa em quem doer"? Lugares comuns arranham os ouvidos. E com frequência se voltam contra os que gostam de usá-los. Um exemplo? "Não ficará pedra sobre pedra" da política externa brasileira depois da passagem de Dilma pelo poder.

FORCEI A BARRA? Tentarei ser mais justo: não ficará pedra sobre pedra da política externa brasileira depois da passagem de Lula e Dilma pelo poder. Este gigante econômico e cultural, chamado de "anão diplomático" em julho do ano passado pelo portavoz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, sempre contou com uma das diplomacias mais respeitadas e bem-sucedidas do mundo.

HÁ FARTO conhecimento adquirido com aplicação e afinco. Relativa grandeza. E coerência política secular. Tamanho patrimônio, infelizmente, repousa, hoje, quase esquecido nos subterrâneos do Itamaraty. O retrato de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira, ainda enfeita paredes de gabinetes acarpetados. Mas como dói observá-lo.

NA SEMANA passada, com muitos quilos a menos, mas sem ter perdido um grama de arrogância, Dilma emergiu do carnaval disposta a ocupar por todos os meios o espaço que a mídia costuma lhe oferecer com generosidade. E assim foi. Sem pejo, remeteu ao governo Fernando Henrique Cardoso a origem da roubalheira na Petrobras, que só se tornou sistêmica a partir de 2003.

E COMO SE não bastasse tal agressão à verdade, resolveu brigar com um país situado do outro lado do mundo - a República da Indonésia, um arquipélago com mais de 17 mil ilhas. No momento, a Indonésia deveria ser o último país com quem o Brasil almejasse arranjar briga. Ali, em 17 de janeiro último, o brasileiro Marcos Archer, um traficante de drogas, foi executado a tiros.

ARCHER HAVIA sido preso há 10 anos, julgado e condenado à morte. A legislação da Indonésia contra a droga é uma mais rígidas do mundo. Dilma empenhou-se em salvar a vida de Archer. Reagiu à sua morte chamando de volta o embaixador do Brasil por lá. Era tudo o que não deveria ter feito - afinal, há outro brasileiro na Indonésia condenado à morte por tráfico de droga.

SE HAVIA uma tênue esperança de que à diplomacia fosse possível evitar um segundo fuzilamento, ela se dissipou com outra decisão desastrosa tomada por Dilma na última sexta-feira. Novos embaixadores de outros países estavam reunidos no Palácio do Planalto para apresentar suas credenciais a Dilma. Por ordem, o primeiro deles seria o embaixador da Indonésia.

UMA VEZ cumprido o rito, o embaixador desceria a rampa do palácio, entraria no seu carro e iria embora. Não foi o que aconteceu. O ministro das Relações Exteriores do Brasil chamou o embaixador para uma conversa a sós. Comunicou que Dilma não receberia mais suas credenciais. O embaixador saiu humilhado pelos fundos. A Indonésia é quem foi humilhada na figura dele. E para quê?

SACA O ESTADO Islâmico - aqueles loucos que degolam e incineram pessoas? Dilma já recomendou que se dialogasse com eles. A Venezuela deixou de ser uma democracia. Mas Dilma faz de conta que ali ainda existe uma. Os interesses superiores do país deixaram de orientar nossa política externa. Cederam a vez à ideologia pessoal do governante da ocasião. Pobre barão do Rio Branco. Pobres de nós.


Como está fica - VERA MAGALHÃES

FOLHA DE SP - 23/02

Uma das possibilidades estudadas pela Sabesp para propor a revisão de suas tarifas além da inflação prevê que os novos valores sejam acompanhados por um modelo de cobrança progressiva, de acordo com o consumo individual. A ideia, discutida entre a empresa, o governo e a agência que regula o setor em São Paulo, é incorporar o sistema de bônus e de multa, hoje em vigor em razão da crise hídrica, de maneira permanente, sem a necessidade de medidas extraordinárias.

Meio cheio 
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) sobrevoou durante a semana passada a região de Campinas, no interior do Estado. Aliados do tucano dizem que ele se entusiasmou com o nível de água dos rios, alto em razão das chuvas recentes.

Meio vazio 
Alckmin lamentou, no entanto, que não haja reservatórios para armazenar a água. A construção de duas represas na região está entre os projetos para os quais o tucano pediu ajuda financeira do governo federal.

Intercâmbio 
O governo de São Paulo escolheu Paulo de Magalhães Bento Gonçalves para presidir a a CPTM, empresa de trens do Estado. O engenheiro, que estava no setor privado, já atuou na CBTU, do governo federal. Seu nome deve ser submetido ao conselho nesta semana.

Mudou 
José Luiz Ribeiro (SDD) vai assumir a secretaria paulista de Emprego. O aliado de Paulinho da Força (SDD-SP) substituirá João Dado, afastado desde 14 de janeiro por motivos de saúde.

Romaria 
Alckmin decidiu participar da comitiva paulista que vai na quarta-feira a Brasília. O governador terá reuniões com José Eduardo Cardozo (Justiça) e com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para discutir medidas contra a onda de furtos a caixas eletrônicos.

Mesma tecla 
O tucano deve aproveitar o encontro com o peemedebista para tentar agilizar a tramitação do projeto que endurece pena para menores infratores.

Inimigo íntimo 
Um dirigente de uma central rival à CUT brinca com a decisão de convidá-la a participar da reunião de sindicalistas com Cunha, também na quarta: "É bom vigiar de perto", diz.

Mantra 
Em resposta às acusações atribuídas a Ricardo Pessoa, da UTC, de que doações à campanha de Dilma Rousseff tinham propina como origem, petistas martelam a tese de que a oposição também recebe recursos de empresas contratadas por governos que ela comanda.

Tudo junto 
Dentro dessa lógica, defendida por dirigentes do PT, todas as doações legais ficariam sob suspeita.

‌Portas abertas 
De Sibá Machado (PT-AC), sobre encontros de Lula com envolvidos na Lava Jato: "A oposição não precisa se preocupar tanto com a agenda dele. Se for a São Paulo, também pode ser recebida pelo presidente".

Melhor idade 
Em visita aos peemedebistas Renan Calheiros e Eduardo Cunha, um ministro ouviu dos presidentes do Senado e da Câmara que a PEC da Bengala passa fácil pelas duas Casas.

Panfletagem 1 
Um observador diz que o STJ está paralisado à espera da escolha do novo integrante do STF.

Panfletagem 2 
Com pelo menos seis postulantes à "promoção" para a corte suprema, integrantes do governo temem o clima de ressentimento que vai ficar no tribunal após a decisão de Dilma.

Salve a rainha 
Ricardo Lewandowski, presidente do STF, fará palestra nesta segunda na celebração dos 800 anos da Carta Magna, em Buckingham, na Inglaterra.

TIROTEIO

Matarazzo deveria visitar os atingidos pela inundação e recomendar que Alckmin faça logo as obras necessárias. Eu avisei a Haddad.

DE EDUARDO SUPLICY, secretário paulistano de Direitos Humanos, sobre visita, ironizada pelo vereador Andrea Matarazzo, a enchente na cidade.

CONTRAPONTO

Se a moda pega

Integrantes do governo paulista se reuniram na semana passada, no Palácio dos Bandeirantes, para discutir saídas para a crise hídrica com agricultores da região do Alto Tietê -uma das que mais sofrem com a estiagem.

Um dos objetivos do encontro era tentar estabelecer métodos para identificar produtores que não usam tecnologias avançadas de irrigação, e, por isso acabam gastando mais água que o necessário.

Diante do impasse, um dos auxiliares de Geraldo Alckmin lembrou a Operação Lava Jato:

-Vamos instituir a delação premiada -disse, para risos.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

PSB DEVE VIABILIZAR CRIAÇÃO DA CPMI DO PETROLÃO

Sob pressão do presidente do PSB, Carlos Siqueira, os seis senadores socialistas deverão apoiar, por unanimidade, a criação de CPMI para investigar esquema de corrupção na Petrobras. A decisão do PSB, que será oficializada em reunião nesta terça-feira (24), viabilizará a criação da comissão, cujo requerimento – articulado pelo líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB) – já tem 24 assinaturas das 27 necessárias.

NUMA PAULADA SÓ
Além da CPMI da Petrobras, o líder do PSB, João Capiberibe (AP), deve levar para a bancada a discussão de apoiar a CPMI do BNDES.

CAIXA PRETA
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) diz que só faltam os votos do PSB para criar CPI que investigará a caixa preta do BNDES.

JOAQUIM QUEM?
Empossado há dois meses, Joaquim Levy ainda não foi listado pela CGU, no Portal de Transparência, como ministro da Fazenda.

NINGUÉM MERECE
O efetivo da Polícia Civil do Distrito Federal é menor que há 22 anos, quando a havia 1 milhão de habitantes. Hoje, são quase 3 milhões.

TRÁFICO É QUE NÃO DEIXA EXPLODIR CAIXAS NO RIO
A explosão de caixas eletrônicos, cada vez mais comum no País, e particularmente grave em São Paulo, não é sequer um problema para a polícia do Rio de Janeiro. A Febraban, federação dos bancos, trabalha com a informação de inteligência segundo a qual os bandidos não explodem caixas no Rio porque são impedidos pelos chefes do tráfico de drogas, e não pela ação das forças de segurança pública do Estado.

HISTÓRIA
No Rio, são conhecidos acordos “históricos” entre governos e traficantes estabelecendo áreas de “atuação” desses bandidos.

PACOTE DE MEDIDAS
Em São Paulo, o pacote de medidas contra explosão de caixas inclui a inutilização de cédulas, por incineração ou tinta, e emissão de fumaça.

PROIBIÇÃO INÚTIL
A Febraban pretende que a fabricação de dinamite seja proibida. Bobagem: o Brasil também não fabrica os fuzis usados pelos bandidos.

À BEIRA DE UM ATAQUE
O PT prevê reunião difícil de sua Executiva, quinta (26), dia em que a CPI da Petrobras será instalada. Os petistas andam nervosos desde a revelação de que empreiteiros envolvidos no roubo à Petrobras pediram interferência de Lula para assegurar impunidade para eles.

MALDADE
Nos corredores do Palácio do Planalto chamam maldosamente de “PCC” o trio que representa o poder em ascensão no PMDB: (Luiz Fernando, o governador) Pezão, (Eduardo) Cunha e (Sérgio) Cabral.

ROYALTIES NA PAUTA
O PMDB do Rio tenta influenciar na escolha do substituto de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal. É que os ministros do STF vão julgar ainda este ano a redefinição dos royalties do petróleo.

DISCUSSÃO INÚTIL
O PT quer discutir na reunião de sua executiva, dia 26, o fato de o seu tesoureiro João Vaccari ter sido levado coercitivamente para depor na PF. Tolice. A verdade é que saiu barato para Vacari: ele não foi preso, não foi algemado, nem andou na parte de trás de um camburão.

GOVERNO TRAPALHÃO
O insulto de Dilma à Indonésia complica a situação do traficante que está no corredor da morte, e também atrapalha o diplomata Rubem Barbosa, indicado para assumir a embaixada do Brasil em Jacarta.

PALPITES CAROS
Só um funcionário que produz “análise de comunicação” recebeu da estatal EBC exatos R$ 53.487,60 em dezembro de 2014. E não é o único nessa tarefa extenuante. São os palpites mais caros do mundo.

ÔNUS DA PROVA
Para o ministro Oreste Dalazen, do TST, não é violação ilegal do sigilo bancário monitorar contas de empregados de instituição financeira. O ex-presidente da OAB-RJ Wadih Damous reagiu: “A decisão expressa os tempos que vivemos: todos são criminosos até prova em contrário”.

PRÊMIO DE CONSOLAÇÃO
O PDT se reúne nesta terça (24) para acomodar deputados que ficaram de fora da CPI da Petrobras. Foram escolhidos Félix Mendonça (BA) como membro titular e Weverton Rocha (MA) como suplente.

CULPANDO O MORDOMO
Braço sindical do PT, a CUT protestará em março, “em defesa da Petrobras”, contra a oposição e, claro, a imprensa que denuncia falcatruas petistas.