terça-feira, julho 12, 2011

JOÃO PEREIRA COUTINHO - Pense positivo

Pense positivo
JOÃO PEREIRA COUTINHO 
FOLHA DE SP - 12/07/11

"Ser positivo" é acreditar que nossa vontade otimista será capaz de reverter uma doença impessoal


MINHA MELHOR amiga morreu no início do ano. Câncer, eis o nome do ladrão. Não entro em detalhes.
Mas há detalhes que não esqueço: a última vez que a vi, no hospital, dois dias antes da notícia amarga. Havia dor e sofrimento, é lógico, e também a certeza de que a cortina iria descer.

Disseram-se muitas coisas -coisas nunca ditas, inauditas, malditas, como se o tempo, a escassez de tempo, fosse a musa inspiradora dos arrependidos.

Mas o que mais me custou naquele quadro de despedida foi a culpa. Não apenas a minha culpa pelos dias ou semanas desperdiçados longe dela. Falo da culpa que ela sentia por não ter sido "positiva" até o fim.
A crueldade do pensamento nunca mais me abandonou: "positiva" por quê, ou para quê, ou em quê?
Para ajudar na cura, dizia-me ela e diziam-me familiares dela. O "pensamento positivo" é tão importante como as sessões longas e dolorosas de quimioterapia. "O humor do doente é 50% do caminho", ouvi eu, de vários sábios, vários dias seguidos. Onde estará a camiseta com essa frase?

Abandonei o hospital sem palavras. Não basta a doença ser castigo que baste. Ainda existe essa exigência suplementar em "ser positivo".

Para certas mentes primitivas, "ser positivo" não é apenas importante no processo de cura; também é importante para explicar a própria existência da doença.

Se somos "positivos", a doença se comporta como um animal selvagem na presença de uma fogueira: sente medo e se retrai.

Se não somos "positivos", a doença cheira o nosso pessimismo, se aproxima e nos despedaça.
Como despedaçou a minha amiga. No funeral, entre choros e lamentos, ainda havia quem retomasse a mesma filosofia infame. O câncer "vencera a batalha" porque ela "deixara de lutar". E, claro, "o humor do doente é 50% do caminho". Não esmurrei ninguém porque um forte sentimento de repulsa me obrigou a sair logo dali.

É por isso que leio e aplaudo a entrevista de Jimmie Holland à "Veja". Holland é psiquiatra no memorial Sloan-Kettering, em Nova York, e há mais de 30 anos acompanha doentes com câncer.

O resultado dessa experiência pode ser lido em livro recentemente lançado, "The Human Side of Cancer" (o lado humano do câncer, ainda sem publicação no Brasil). Conclusão de Holland: o "pensamento positivo" não existe. É mito. É uma clamorosa estupidez.

Sim, o apoio psicológico é necessário em momentos de fragilidade oncológica, afirma Holland. O bem-estar psíquico é importante para os doentes e para as suas famílias.

E é importante também não deixar que a depressão se instale: quando há tratamentos para fazer, não é boa ideia ficar na cama todo dia, chorando a respetiva sorte.

Mas "ser positivo" é outra história: é acreditar que a nossa vontade otimista, nosso humor solar, nossa forma de "encarar a vida" e outros clichês mentecaptos serão capazes de reverter uma doença impessoal.
Essa crença é típica do racionalismo moderno na sua recusa extrema de aceitar o imponderável. Vivemos mais. Vivemos melhor. Controlamos o nosso destino -pessoal, coletivo- como nenhum dos nossos antepassados.

Mas, apesar de tudo isso, ou exatamente por causa disso, não podemos aceitar que a doença seja apenas doença; que o sofrimento seja apenas sofrimento -sem culpas nem culpados; sem explicação ou resolução. Isso seria um insulto a nossa vaidade racionalista.

Se a doença chega, é porque nós deixamos os maus espíritos entrar. Se a doença se instala e mata, é porque nós deixamos os maus espíritos vencer. "O humor é 50% do caminho", dizem os sábios. E a quem pertencem os restantes 50%?

Obviamente: pertencem à ciência; e a ciência, a única religião dos homens modernos, não falha nunca. Quem falha somos nós. Pense positivo, leitor.

Moral da história? Não sei quantos doentes o "pensamento positivo", na sua lógica ditatorial e desumana, condenou a uma culpabilização final e imoral. Suspeito que existe um exército infinito deles.
Espero apenas que, esteja onde estiver, a minha amiga possa olhar cá para baixo, para a estupidez dos homens, e perdoar aqueles que não sabem o que fazem.

TUTTY VASQUES - Calce já sua chuteira!


Calce já sua chuteira!
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 12/07/11

Não tem sido tarefa fácil torcer pelo Brasil, mas, justiça seja feita, a esperança em Neymar, Ganso & Cia é o que resta ao torcedor brasileiro após o fim de semana trágico para Giba, Marta e suas respectivas companhias. Não somos, pelo menos momentaneamente, o país do vôlei masculino ou do futebol feminino, como supunha o noticiário até o último domingo.

No mais, Felipe Massa e Rubinho Barrichello - 5.º e 13.º no GP da Grã-Bretanha - já nem contam nesse jogo da autoestima nacional no mundo dos esportes. Não dói nada vê-los perder!

Da mesma forma que ninguém - à exceção talvez de Fernando Meligeni, que é meio argentino - vibrou com a vaga conquistada pelo tênis brasileiro na repescagem da Copa Davis.

Cá pra nós, quase tão entediante quanto a má performance dos rapazes do tênis e da Fórmula 1, a rotina de vitórias de nossas duplas de vôlei de praia também já não desperta emoção nas arquibancadas. Se ganhamos sempre, que graça tem?

Moral da história:

Ainda que amanhã seja Jádson, Fred e mais nove, o brasileiro não tem nada melhor para torcer fora da Copa América. Vamos lá, gente: "Brasil (fiu-fiu-fiu), Brasil (fiu-fiu-fiu)...!"

Troca-troca de musa
Encerrada a Flip, ninguém mais se lembra direito da escritora argentina Pola Oloixarac, substituída sumariamente no coração dos brasileiros pela estonteante Hope Solo, goleira da seleção dos EUA. Todo mundo torcerá por ela na semifinal de amanhã, contra a França, no Mundial de Futebol Feminino da Alemanha.

Ah, coitada!
Ideli Salvatti vem tendo pesadelos horríveis com motosserra desde que Blairo Maggi recusou convite de Dilma Rousseff dizendo-se magoado com a ministra.

Questão de fé

Romário não bebe, é a favor da lei seca e só não se submete ao teste do bafômetro porque sua religião não permite.

Louro-burro

O lateral direito Daniel Alves ficou meio burro depois que virou quase louro! Só se fala disso na concentração da seleção brasileira em Córdoba.

Verdadeira vocação

O Brasil ganhou 68 prêmios no Cannes Lions, o Oscar da publicidade. Isso quer dizer o seguinte: se tudo der errado na Copa América, ainda vai dar pra dizer que isso aqui é o país da propaganda.

Alvíssaras!

Quem teve a sorte da insônia na semana passada garante: o prazer da boa conversa está de volta ao Programa do Jô. A conferir!

Vale-tudo

O México jogou noite dessas na Copa América todo de preto com listras vermelhas sobre os ombros, descendo pelas mangas. E ainda tem corintiano que estranha a camisa grená do Timão.

Agenda positiva

Se Blairo Maggi disse não a Dilma, quem sabe Hugo Chávez também não declina do convite que recebeu da presidente brasileira, né?

CELSO MING - Contágio


Contágio
CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 12/07/2011

As autoridades da área do euro estão praticando, por tempo demasiadamente longo, uma política de beira de precipício, imaginando que as urgências do mercado financeiro serão inevitavelmente subjugadas pela lenta e inconsequente agenda política. Mas os fatos dizem o contrário.

Esta segunda-feira foi mais um dia de turbulências. Seria apenas mais um episódio de quase pânico, se desta vez as pressões não tivessem rompido o dique que as autoridades vinham construindo ao redor dos países da periferia do euro: Grécia, Portugal e Irlanda. Mais duas economias, Itália e Espanha, estão agora ameaçadas de contágio (veja mais no Confira). E, no entanto, a economia da Itália é três vezes o tamanho das economias da Grécia, Irlanda e Portugal juntas. E a da Espanha, duas vezes.

Nesta segunda, para comprar defesa (Credit Default Swap) contra derretimento da dívida da Itália, o prêmio de risco do país chegou ao recorde de 266 pontos-base (ou 2,7% ao ano acima do rendimento de um bônus da Alemanha); e o da Espanha, superou os 330 pontos-base (ou 3,3% mais rentáveis anualmente que um bônus alemão), nível mais alto desde a criação da moeda europeia. Isso significa que a percepção de perigo de calote aumentou substancialmente na área do euro. E, em consequência disso, as bolsas e todas as demais aplicações de risco despencaram.

O problema mais urgente a resolver consiste em definir quem, afinal, vai pagar a conta da festa regada a farta dívida pública. Até agora, as autoridades da Alemanha e da França tentavam empurrar um pedaço do problema para os credores (bancos). O Banco Central Europeu condenou a proposta. Sabe que, além de não garantir socorro definitivo para os estados soberanos a perigo, produziria uma corrida aos bancos e, logo em seguida, a quebra dos mais expostos a dívidas soberanas sujeitas à suspensão de pagamentos. Ou seja, nesse estágio de deterioração, o setor público teria de lidar com rombos patrimoniais dos bancos.

Mas uma solução de curto prazo não equacionaria o problema de fundo, o da grave deficiência de fundamentos do euro. Uma moeda comum só pode dar certo em países de economia e sistemas tributários tão diferentes se houver controle dos orçamentos – o que pressupõe um mínimo de unificação fiscal e de unidade política, até agora, inexequíveis.

Os líderes do Projeto Europeu sabiam disso quando criaram o euro. Mas pressupuseram que a primeira grande crise que viesse provocada por deficiência de DNA da moeda provocaria um tranco suficientemente forte para desembocar nas necessárias condições de construção da nova unidade fiscal e política. A forte crise está aí, já dura dois anos e, porém, por questões políticas menores, as autoridades seguem empurrando as soluções com a barriga. E é esse posicionamento de sucessivas compras de tempo que acabou por criar essa política de beira de precipício.

Nesta segunda-feira, as principais autoridades da área do euro foram convocadas a Bruxelas pelo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy (foto), para uma reunião de emergência. Desse compromisso, não saiu nem um comunicado oficial. Para hoje está agendado um novo encontro, desta vez dos ministros de Finanças do bloco. Reuniões e mais reuniões se sucedem sem que se obtenha progresso claro.

Isso sugere que o abalo nos mercados terá de ser ainda mais forte para que, enfim, apareça uma solução.

Consequência do quê? Nesta segunda, a cotação do dólar no câmbio interno subiu 1,09%, fechando em R$ 1,59. Porém fica difícil saber até que ponto esse avanço é uma consequência das decisões tomadas pelo Banco Central na noite de sexta-feira – que restringiram a operação dos bancos no mercado de derivativos. Um pedaço dessa evolução de desta segunda-feira deve ter acontecido como uma reação à crise externa.

JOSÉ SERRA - A ética do vale-tudo


A ética do vale-tudo 
JOSÉ SERRA
O Globo - 12/07/2011

Os escândalos no âmbito do Ministério dos Transportes, em licitações da Petrobras, na área elétrica (Furnas), na prefeitura de Campinas e até nas obras de recuperação de regiões devastadas pelos temporais no Rio têm despertado indignação na imprensa e na opinião pública. O andamento do processo do "mensalão", no STF, sem dúvida, reforçará a atenção a esses malfeitos recentes.

Não pretendo aqui voltar aos eventos em si, bem relatados por revistas, jornais e noticiários de rádio, TV e internet. Restrinjo-me a comentários sobre mitos subjacentes nas análises dos fatos.

O primeiro mito é o de que, no tocante às questões federais, trata-se "de herança do governo Lula, que a administração Dilma começa a combater". É uma meia-verdade: a herança maldita é do governo Lula-Dilma para o governo Dilma; de um governo do PT e seus aliados para outro governo do PT e seus aliados. "Começa a combater"? Os escândalos na esfera federal, como no caso dos Transportes, não foram apontados pelo próprio governo ou pela oposição, mas pela imprensa. E seus eventuais desdobramentos parecem ser alimentados hoje pelas ameaças e contra-ameaças dos próprios protagonistas dos malfeitos.

Outro mito tem a premissa de que "todos os governos sofrem esse drama do fatiamento dos cargos, que leva à corrupção". Nem tanto! Isso depende das atitudes dos que nomeiam, dos que mandam, e do comportamento do próprio partido-eixo do governo, começando pelo presidente. Uma coisa é a composição política, inevitável num presidencialismo de coalizão, como o denominou Sérgio Abranches. Outra é transformar a política num verdadeiro mercado, formal ou paralelo, de negócios.

Por que é assim? Não estamos diante de um tema fácil, de caracterização totalmente objetiva. Há um fator aparentemente intangível, que tem grande importância explicativa. Desde a sua fundação até chegar ao poder, o PT aparecia como o verdadeiro depositário da ética na vida pública, embora seu desempenho à frente de algumas prefeituras sugerisse que o título não era tão merecido.

O comportamento do PT no poder federal - o oposto do discurso de quando estava na oposição - criou um clima na base de "Deus está morto" na vida pública. E, se isso aconteceu, então não haveria mais pecado. Eu acompanhei de perto a metamorfose petista, em toda sua envergadura, e estou plenamente convicto do seu impacto devastador sobre os padrões da política brasileira.

Depois de um ano da primeira eleição de Lula, analisando o que já se delineava como estilo de governo, qualifiquei o esquema partidário petista como uma espécie de bolchevismo sem utopia, em que a ética do indivíduo é substituída pela ética do partido. Em nome desse partido, tudo vale, tudo é permitido, tudo é justificável. Essa é a lógica que embasou a proclamada "mudança" do petismo. Uma mudança, obviamente, para pior no que concerne à vida pública.

Na administração pública, quando o mau exemplo vem de cima, não há moralidade que resista. Isso se expressa de forma perfeita nos gestos de Lula e de seu partido, que passaram a mão na cabeça dos líderes do mensalão e dos aloprados, reabilitando-os, e até de malfeitores de partidos aliados. Por que não ser compreensivos e carinhosos com aqueles que foram "vítimas" de excessos ou inabilidades "perdoáveis"? Criminosos foram tratados como vítimas da imprensa e de supostas conspirações intra ou interpartidárias, como se, na origem dos desmandos, não estivesse o desvio de recursos públicos.

O desenfreado mercado de trocas entre dinheiro público e apoio político, que lesa os contribuintes, não decorre do sistema político brasileiro, como gostam de asseverar alguns analistas, ainda que o aperfeiçoamento dos controles possa contribuir para alguma melhora na situação. É consequência da ação de partidos e de pessoas, capazes de degradar a política em qualquer sistema. Essa degeneração de valores não conduz a uma forma eficiente e estável de governar, até porque o fatiamento de cargos e as chantagens tornam-se sem limites, contemplando mais e mais facções e subfacções, alastrando-se de forma descontrolada por todas as esferas da administração pública, acentuando a falta de planejamento e de rumos do governo.

ALON FEUERWERKE - Pastel de vento


Pastel de vento
ALON FEUERWERKE
Correio Braziliense - 12/07/2011

Dilma Rousseff está colocada diante do risco real de preencher pelo menos três quartos do governo dela com crescimento econômico abaixo da inflação. Crescimento medíocre com elevação pouco saudável de preços

E aconteceu. Pela primeira vez em semanas, o mercado financeiro subiu as previsões de inflação, para este ano e o próximo. As projeções vinham recuando havia dois meses. Mas agora a subida foi expressiva. A aposta para 2011 cresceu de 6,15% para 6,31%. A de 2012 algo menos, de 5,10% para 5,20%.

Ou seja, o governo volta à desvantagem na guerra das chamadas expectativas, que numa economia ainda muito indexada — como a nossa — têm maior capacidade de autorrealização. Vem aí uma época de negociações salariais pesadas e a tendência sindical será trabalhar com índices mais altos.

Índices assentados tanto nos resultados do passado quanto na tentativa de adivinhar o futuro. Se os bancos podem apostar, igualmente os trabalhadores.

E não vai ser diferente na guerra entre os fornecedores e a indústria. E entre ela e o comércio.

O governo começou o ano vendendo uma estratégia que parecia fazer sentido. Perseguir a meta de inflação apenas no médio prazo, para não comprometer o crescimento econômico. Os preços tocariam ou mesmo furariam o teto da meta, 6,5%, em algum momento de 2011, mas convergiriam para o centro, 4,5%, em 2012.

A viabilidade desse nado sincronizado começou a colher dúvidas ainda na largada e o Banco Central concluiu que precisava estender no tempo e na quantidade a terapia de mais juros. Estamos exatamente no meio dessa etapa do tratamento.

Por isso, é alarmante que as expectativas tenham sofrido alguma deterioração bem agora. E o número mais problemático nem é o de 2011. É o do ano que vem. De duas uma: ou o BC adia para 2013 a pretendida convergência para o centro da meta ou vai ter que apertar o juro ainda mais.

E sem a certeza de sucesso, pois o crédito continua bombando.

Dilma Rousseff está colocada diante do risco real de preencher pelo menos três quartos do governo dela com crescimento econômico abaixo da inflação. Crescimento medíocre com elevação não saudável de preços. Pelo menos no Brasil, tem sido receita de dificuldades.

A presidente enfrenta certa turbulência na política, mas até agora o governo dela não perdeu substância. Espantoso seria se tivesse perdido, pois são apenas seis meses e pouco na cadeira, menos de 13% do percurso total.

As tendências centrípetas neste período são fortíssimas. Quase sempre dão conta do recado até a administração entrar em voo de cruzeiro e as insatisfações darem as caras.

Dilma precisa cuidar para não ser colhida pela tempestade perfeita. Desconforto em alta no Congresso, desarranjos crescentes na relação com os aliados, incertezas na economia. A presidente está ainda distante do tornado, e ele pode até ser evitado, mas o governo precisará agir.

Nas diversas frentes. O otimismo retórico é bom. Mas divorciado da ação corre o risco de virar pastel de vento.

Na prática
Impressionante o relato do jornalista acreano (ou acriano) Altino Machado sobre a desesperança econômica na Xapuri de Chico Mendes, no seu Acre.

Apenas confirma que o movimento verde ainda tem uma longa caminhada até conseguir materializar, na vida prática, as boas ideias sobre economias tão prósperas quanto sustentáveis.

A reportagem está no blog altino.blogspot.com, aliás uma fonte especial de notícias independentes sobre a Amazônia.

Quem ganhou
O ambiente no Senado tende a produzir um Código Florestal de consenso. Será na essência a proposta aprovada na Câmara dos Deputados, com ajustes.

Mas se o governo decidir pelo confronto, como na Câmara, a tendência é nova derrota.

A condução do tema resultou numa situação curiosa. Ninguém discorda tanto assim de ninguém, mas todo mundo exige aparecer como tendo derrotado alguém.

Num assunto de alta complexidade, como é o Código, trata-se de risco sempre presente. Uma coisa é o que vai acontecer. Outra coisa é o que vão dizer que aconteceu.

Como a esmagadora maioria, no Congresso e fora dele, não tem a menor ideia dos detalhes, acreditará que ele é bom ou mau conforme os portadores da verdade sentenciarem ao final.

A esta altura, é disso que se trata.

JOSÉ SIMÃO - Procurados! Neymar e Messi!


Procurados! Neymar e Messi! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 12/07/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
"Repórter do "CQC" sofre de pânico." Só falta alguém do "Pânico" sofrer de "CQC"! Sabrina Sato sofre de "CQC"! Rarará!
"Bandidos atacam dois caixas eletrônicos na Grande SP." Em que bairro? Jardim Tranquilidade.
E esta, direto de Simões Filho, Bahia: "Tarado é preso em flagrante no centro comercial Chupa Peito". E este adesivo de carro: "Deus é fiel! Já a vizinha do 501...". É religioso e fofoqueiro.
E quer ir pra Argentina de graça? Vá pela Bueiroslíneas Brasileiras. Viaje de graça pela Buerioslíneas Brasileiras! Rarará!
E atenção! Copa Amérdica! O site Futurinhas está colando em todos os postes o seguinte cartaz: "Procurados! Neymar e Messi desaparecidos! Informações de que estão em território argentino, porém ainda não foram vistos em campo!".
Neymar pica-pau desorientado. E o Messi com aquela cara de galã de querMESSI!? Mas não pode falar mal do Messi porque aquela biba de língua plesa fã do Messi protesta: "Messeu com o Messi, messeu comigo". Rarará!
E o que se faz com o Messi? ArreMESSI! Arremessi no Rio da Prata! E na seleção do Equador tem um jogador chamado Caicedo. Que joga no Levante, time espanhol!
Caicedo do Levante! Aliás, o Neymar não devia ir pro Real Madrid, devia ir para o time Levante. Porque vive no chão! Rarará!
Neymar Cai Cai vai pro Levante! "Levante! Levante!". Rarará! Olha, seleção de Pato e Ganso dá pena!
E adorei a charge do Paixão com a Dilma deixando recado no Facebook: "Procura-se ministro que não seja corrupto para relacionamento de longo prazo". Pode esperar deitada, sentada, estatelada. É o Ministério Matte Leão. Já vem queimado! Rarará!
E se a seleção do Queimano Filme não melhorar, temos que apelar para o time de peladeiros da Cooperativa Agrícola de Cotia: Armadinha, Xis nas Costas e Ré no Quibe. Véio, Rola Torta e Asssaré. Meia Bomba, Paçoca e Comi o Paçoca! Rarará!
E uma amiga minha tem um marido tão nerd, mas tão nerd, que ela resolveu colocar uma entrada USB na periquita. Rarará! Hoje só amanhã! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

CLÓVIS ROSSI - Os tubarões chegam ao Tibre

Os tubarões chegam ao Tibre
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 12/07/11

A chamada "segunda-feira negra" nos mercados é como escreveu para o jornal italiano "La Repubblica" o colunista Massimo Giannini: as polêmicas na Europa em torno da ajuda à Grécia são um ato "irracional e irresponsável, equivalente a espalhar sangue no mar de um mercado infestado pelos tubarões da especulação".

Que os tubarões tenham chegado ao Tibre, o rio que banha Roma, não surpreende, mas tampouco se justifica. Não surpreende porque a Itália tem uma dívida imensa, das maiores do mundo, equivalente a 120% de sua economia.

É maior que a de Portugal (93%) ou a da Irlanda (96,2%), dois dos três países já colocados na UTI da Europa, ou seja, socorridos por pacotes que impediram a quebra.

Mas não se justifica, entre outras razões, porque é um dado antigo, que até melhorou de 2010 para 2011 (a dívida retrocedeu para 119% do PIB). Ou seja, não há, nesse campo, novidade alguma acontecida de quinta para sexta-feira passadas, quando os tubarões começaram a navegar no Tibre.

Além disso, o deficit italiano é relativamente baixo, cerca de 4%, inferior aos 4,3% da média do euro. É verdade que o premiê Silvio Berlusconi jogou algumas gotas de sangue na água já turva ao criticar publicamente seu ministro Giulio Tremonti(Economia), tido, nos mercados, como garante da austeridade.

Mas, desta vez, a crítica do usualmente tresloucado Berlusconi tinha um fundo de realismo político: queixou-se de que Tremonti, ao propor pacote de austeridade de imponentes € 48 bilhões (R$ 106 bilhões), não levou em conta que austeridade não dá votos. Aliás, não dá em lugar nenhum: acaba de sair pesquisa no Reino Unido que mostra que caiu de 69% para 55% a porcentagem de britânicos que acham que austeridade é bom para sanear a economia.

Com esse dado em mente, podemos voltar à Grécia e às hesitações europeias: a pressão do público contra a austeridade leva crescente número de dirigentes europeus a defender a tese de que é preciso aliviar a pressão dos mercados sobre a Grécia, o que significa que qualquer socorro a Atenas tem que incluir a participação substancial do setor privado (leia-se: sistema financeiro).

É sintomático que o "Financial Times" tenha anunciado ontem que "líderes europeus estão, pela primeira vez, preparados para aceitar que Atenas deveria não pagar alguns de seus títulos como parte de um novo plano de ajuda que poria os níveis globais da dívida em um patamar sustentável".

O problema é que nem todos os líderes concordam. O Banco Central Europeu, em particular, é contra. Fica, então, esse ambiente de hesitações e adiamentos no qual os tubarões nadam de braçada.

A contrapartida desse apetite é a crescente disposição -por enquanto apenas verbal- de autoridades europeias de tentar pôr limites aos predadores.

Ontem, foi a vez de Michel Barnier, comissário europeu para o Mercado Interno, sugerir que as agências de risco não deveriam ter poderes para classificar a dívida de países já colocados na UTI europeia. No mínimo, diminuiria a quantidade de sangue a atrair tubarões.

ANCELMO GÓIS - Governo deixa Abílio

Governo deixa Abílio
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 12/07/11

Sexta, Dilma conversou com Luciano Coutinho. O governo resolveu pular fora dessa aliança com Abílio Diniz para a compra de um pedaço do Carrefour. A presidente considerou que o BNDES saiu desgastado do episódio. 

Segue...
Houve críticas no Planalto à postura de Diniz, que dava a entender que a participação do banco estava garantida. O empresário omitiu, na verdade, que o BNDES dizia poder entrar com uns US$ 4 bi, desde que o grupo Casino topasse. 

Cidade de Deus F. C. 

Será lançada hoje a Plataforma de Futebol da Brahma para a Copa de 2014. A AmBev pretende investir mais de R$ 1 bi na competição. 

Melhor Copa...
Um dos motes da campanha será “Melhor Copa do Mundo, num país melhor”. Isto inclui apoio financeiro a projetos sociais de esportes.
O primeiro convênio será firmado hoje com o governo Cabral, que tem 650 núcleos esportivos em áreas carentes, inclusive futebol na Cidade de Deus. 

Calma, santa
O desembargador Sérgio Silveira, do Rio, condenou um carioca a indenizar em R$ 10.200 um casal de vizinhos a quem acusou publicamente, no livro do condomínio, de “dar gritos escandalosos na hora do sexo”. O rapaz pôs no livro que o “comportamento deles só é aceitável em prostíbulos e em motel de beira de estrada”. O processo é o 0003910-80.2004.8.19.0037.

Sexo e rockn’roll 
Cacá Diegues, o nosso cineasta, será o diretor do videoclipe da música de trabalho do novo disco de Erasmo Carlos. Trata-se de “Kamasutra”, um rock do Tremendão em parceria com Arnaldo Antunes.

Portugal treme
A crise portuguesa anda mesmo braba. Especula-se em Lisboa que o Banco do Brasil pode vir a comprar o Banco Português de Negócios (BPN), um pepino que está à beira da falência. 

Outra...
Com os cofres vazios, a prefeitura de Nazaré, na boa terrinha, vai leiloar hoje um lote de... 15 veados. 

Retiro espiritual
Maria Paula, nossa ex-casseta, voltou de um retiro em Los Angeles com o mesmo monge tibetano de Steve Jobs. 

Clube dos 80
João Paulo dos Reis Velloso ingressa hoje no clube de quem já fez 80 anos — que tem FH, João Gilberto, Zuenir Ventura e Paulo Casé como sócios.

Fechar os olhos
Sai esta semana na Sérvia o livro “Se eu fechar os olhos agora” (veja a capa acima), do coleguinha Edney Silvestre. É a primeira edição estrangeira da obra lançada pela Record em 2009. O romance já foi vendido para outros cinco países — França, Itália, Alemanha, Holanda e Portugal.

Menina das nuvens

“A menina das nuvens”, ópera de Villa-Lobos, com história de Lúcia Benedetti, abre, dia 7 de agosto, a temporada do Municipal de São Paulo, que faz cem anos em 2011. Cenário e figurino são de Rosa Magalhães, a carnavalesca da Vila Isabel, filha de Lúcia. 

Santander campeão 
Em junho, o Banco Santander só perdeu para Oi, que é uma cessionária de serviço público, no ranking das empresas mais acionadas nos Juizados Especiais Cíveis do Rio. Foram 3.154 ações contra a empresa de telefonia, e 1.970 contra o bancão espanhol. 

Lanche de bordo
O Aeroporto Santos Dumont vai ganhar novidades na área de alimentação. Serão abertas ali lojas de Bob’s, Baked Potato, La Selva Café e até um bar Devassa. Já o serviço de embarque e desembarque... deixa pra lá.

ILIMAR FRANCO - O que fará o PT?

O que fará o PT? 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 12/07/11

Uma pergunta não quer calar no Senado. Qual a posição que o PT assumirá na votação da recondução do procurador-geral da República, Roberto Gurgel? O PT está com ele atravessado na garganta por causa de suas alegações finais no processo do mensalão. Ontem, nenhum dos senadores titulares petistas apareceu para votar na Comissão de Constituição e Justiça. Os aliados estavam lá e temem que os petistas votem contra Gurgel na votação secreta na comissão e no plenário.

O novo ministro dos Transportes

No início da tarde de ontem, integrantes do PR já defendiam que o partido apadrinhasse Paulo Sérgio Passos como ministro dos Transportes. Seria uma forma de a sigla manter uma boa relação com a presidente Dilma. “Ele é um técnico, conhece a malha rodoviária e não vai ficar um tempo patinando”, disse o líder do PR no Senado, Magno Malta (ES). Mas a bancada da Câmara queria que o ministro fosse um deputado. Lideranças do PR foram informadas pela ministra Ideli Salvatti da decisão da presidente Dilma, por telefone, cerca de 30 minutos antes do anúncio. A forma não agradou ao partido, que se sentiu desprestigiado.

"Não acredito que ele vá colocar fogo no mundo. Somos aliados (do governo) de muito tempo” — Milton Monti, deputado federal (PR-SP), sobre o depoimento de Luiz Antonio Pagot hoje no Senado

TOMA LÁ, DÁ CÁ.
 A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) assinou o requerimento de CPI do Dnit depois que o líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), afirmou que, se ela não apoiasse a investigação, ele não votaria a favor do Código Florestal aprovado pela Câmara. O tucano tem 23 das 27 assinaturas necessárias para criar a comissão. A senadora não subscreveu a CPI para investigar o então ministro Antonio Palocci.

Se a moda pega
O Ministério do Planejamento está querendo criar a figura do segundo secretário- executivo. Seu ocupante receberá um salário de DAS-6. O decreto criando o cargo está na Casa Civil para ser publicado no Diário Oficial da União. 

Previsão do tempo

O secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, fez avaliação pessimista da economia americana, na reunião da coordenação de governo. Destacou a resistência dos republicanos a aprovar o orçamento do presidente Barack Obama.

DEM fica fora do ar
Punido pelo TSE por ter usado seu programa de propaganda partidária para fazer campanha para o tucano José Serra, no ano passado, o DEM ficará sem programa neste primeiro semestre. Amanhã, o partido inicia a primeira das três séries de inserções na TV e no rádio a que tem direito. A primeira bateria vai contar a história do DEM. Depois, virão inserções sobre a importância da oposição. Na terceira, o partido vai apresentar suas propostas para a sociedade.

Desafeto
O prefeito de SP, Gilberto Kassab, está sendo acusado, pelo PMDB, de estar por trás da tentativa do PSB de tirar o mandato do deputado Gabriel Chalita. Ele quer disputar a prefeitura de São Paulo. Por isso, trocou o PSB pelo PMDB.

Extermínio
Radiografia da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência constatou que é crítica a atuação de grupos de extermínio na Baixada Santista e no entorno de Brasília. A secretaria quer mais ação dos governos de Goiás e de São Paulo.


 A PRESIDENTE Dilma no discurso de ontem, na solenidade da Educação, afirmou quatro vezes que tinha recebido uma “herança bendita”. 
 O PMDB de Minas abriu processo no Conselho de Ética contra o deputado Newton Cardoso por ataques feitos à direção estadual. O pedido de expulsão foi feito pelo deputado Leonardo Quintão. 
● O LÍDER do PT no Senado, Humberto Costa (PE), pede para dizer que ele não está entre os petistas que querem derrubar o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). Então, está todo mundo avisado.

MÔNICA BERGAMO - CORDA BAMBA

CORDA BAMBA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 12/07/11

Abilio Diniz pode jogar a toalha e chegar a um acordo com o sócio Casino nesta semana em Paris. A informação circulava ontem no Pão de Açúcar e entre advogados do empresário. Ele estaria avaliando que, sem apoio do BNDES, a briga com os franceses pela fusão com o Carrefour terá um custo muito alto.

BAMBA 2
Abilio participa nesta semana de reunião do "board" da empresa na França. "Ele vai em missão de paz", diz um de seus principais interlocutores. Um eventual recuo do empresário é acompanhado da expectativa de acordo ou compensação para 2012, quando o Casino assumirá o controle do Pão de Açúcar.

NA MANGA
Abilio ganharia fôlego na hipótese remota de conseguir financiamento de um banco europeu para a operação com o Carrefour.

MOLHO EXÓTICO
E, em meio à disputa com o Casino, o Pão de Açúcar dedicou a edição desta semana da revista de ofertas da rede aos produtos de seu sócio francês. Estrelam uma receita de carne com "molhos exóticos" e "arroz basmati Casino". Os rótulos da marca aparecem em 33 imagens.

FAÍSCA

Os partidários de Marta Suplicy (PT-SP) no PT estão dispostos a partir para o enfrentamento com Lula, que tem trabalhado pela candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de SP. Ao argumento de que a rejeição a ela é grande na cidade, vão contrapor o fato de o ex-presidente ter disputado a presidência em 2002 depois de três derrotas -e apesar da enorme resistência de parte do eleitorado a seu nome.

FAÍSCA 2
O histórico de Marta mostra que, em SP, ela resiste a imposições de Lula, dizem os mesmos correligionários. Em 2010, quando ele queria indicar Ciro Gomes para disputar o governo, ela saiu disparando contra a "artificialidade" da candidatura -Ciro fez carreira política no Ceará.

HISTÓRIA
O escritor José Louzeiro vai transformar os mutirões do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em livro. Ele já entrou em contato com o órgão para entrevistar juízes que participaram da iniciativa e também com o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Foi sob seu comando que o conselho libertou milhares de presos que já haviam cumprido pena e que estavam detidos ilegalmente e em condições degradantes.

CAMINHO DAS ÍNDIAS
Uma exposição com 400 obras de arte e objetos indianos será aberta em outubro no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio. "Índia" passará por SP e Brasília.

VIDA DE LOBO
O cineasta José Eduardo Belmonte será o diretor do filme sobre a vida de Lobão. Rodrigo Santoro está cotado para interpretar o cantor.

LULU SANTOS DUMONT
No segundo show de estreia da sua nova turnê, no sábado, Lulu Santos passou por um perrengue digital. Entre duas músicas, fez uma pausa e pediu desculpas ao público: "Eu estava testando um fone novo, tecnológico. Mas só ouvia o que chamo de "radiohell" [rádio inferno]. Ah, essa tecnologia! O show vai melhorar bem sem ela". Pôs os fones velhos e seguiu com a apresentação.

TOMO GUARANÁ
Os atores Robson Nunes e Babu Santana interpretarão Tim Maia em diferentes fases no filme sobre a vida do cantor, morto em 1998. Mauro Lima será o diretor.

FIM DE FLIP
Os músicos e escritores Tony Bellotto e David Byrne passaram pela Flip no fim de semana. Byrne foi falar sobre bicicletas e promover um passeio sobre duas rodas por Paraty. Já Bellotto acompanhou a mulher, a atriz Malu Mader, na palestra de João Ubaldo Ribeiro.

BAILÃO
A festa carioca Bailinho fez na Casa das Caldeiras sua décima edição em SP. Os atores Caco Ciocler e Lúcio Mauro Filho, entre outros, foram DJs da balada.

CURTO-CIRCUITO

O argentino Oliverio Coelho lança hoje o livro "Um Homem Chamado Lobo" e faz bate-papo com Joca Reiners Terron, às 20h30, no Centro Cultural B-arco.

A Casa Electrolux exibirá de hoje até 31 de agosto peças da exposição "Fio a Fio", dos irmãos Campana.

A top Cintia Dicker acaba de posar pela quarta vez consecutiva para a edição especial anual da revista "Sports Illustrated Swimsuit".

O restaurante La Mar, no Itaim, apresenta hoje seu novo menu, assinado pelo chef Fabio Barbosa.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

JOSÉ PAULO KUPFER - Tchau, queridinho


Tchau, queridinho
JOSÉ PAULO KUPFER 
O Estado de S.Paulo - 12/07/11

Já é bem nítido, pelo aumento da frequência das manifestações na imprensa especializada estrangeira, que os analistas financeiros internacionais começam a se preocupar com a economia brasileira. De pouco mais de um mês para cá, pipocam artigos e editoriais a respeito da formação de possíveis bolhas de crédito no Brasil. Há seis meses, esse tipo de avaliação, agora crescentemente repetida, era impensável.

São, até aqui, na grande maioria, análises exageradas, muito centradas em modelos de avaliação transportados mecanicamente de seus atribulados mercados de origem. Do ponto de vista da regulação e da prudência, não há termo de comparação entre o sistema bancário brasileiro e os sistemas americano ou europeu, infestados de "inovações" financeiras, com os quais são elaboradas essas avaliações.

Para começo de conversa, o controle exercido pelo Banco Central brasileiro sobre as instituições financeiras daqui é muito mais rígido, exigindo a observância de uma relação de pelo menos 11% entre os ativos e o capital mínimo, acima da norma internacional, que é de 8%. Nosso sistema bancário, um pouco também por essa razão, é pouco dado a "inovações" e mantém a quase totalidade dos empréstimos em carteira. Os esquemas de securitização são mínimos, assim como as possibilidades de contágio com o exterior, em virtude da inexistência de distribuição global de créditos securitizados. Se, enfim, é fato que a inadimplência vem crescendo e o crédito expandiu-se muito rápido nos últimos tempos, os atrasos ainda estão dentro de limites aceitáveis e as linhas de financiamento com maior aceleração - consignado e veículos - são as que demandam maiores garantias.

Exageros à parte, há, sem dúvida, uma mensagem que merece atenção nessas análises descabeladas. Os ventos que, nas asas de um excesso de liquidez internacional, em meio a crises potentes nos grandes mercados financeiros maduros, trouxeram para cá investidores e especuladores de todos os cantos do mundo podem estar começando a dar sinais de virada.

Não seria a primeira vez e os que têm tempo de estrada se recordarão de que, antes de ser exceção, essas viradas são uma regra no mundo financeiro global. Anos e anos de recorrentes crises da dívida externa, nas três décadas que vão da reciclagem dos petrodólares, nos anos 70, ao estouro de bolhas dos anos 90 e início do novo século, resultaram numa prosaica norma de seleção dos mercados, nos quais, a cada momento, era o caso de apostar todas as fichas ou abandonar de uma vez.

Na América Latina, Brasil, México e Argentina, as três maiores economias da região, se revezaram, nesse período, nas posições de "queridinho", "pária" ou "limbo", obedecendo a uma espécie de "teoria pendular da dívida". O pêndulo oscilava para o lado de uma enxurrada de dólares numa das três economias, em geral sob o impulso inicialmente favorável da aplicação de receitas do FMI. E virava para o lado do colapso prolongado de recursos externos e do estigma na comunidade financeira internacional quando, com o esgotamento das políticas antes louvadas, sobrevinha uma volta da inflação, muitas vezes seguida de moratórias.

É certo que as histórias não se repetem exatamente como já ocorreram, mas quando uma economia emergente em posição de "queridinha" começa a apresentar vazamentos, não custa colocar as barbas de molho. A economia brasileira pode estar vivendo, mais uma vez, agora numa escala mais global, a velha e incômoda situação de ver o pêndulo começar a virar para o outro lado. Até por questão de prudência, o governo não deveria ficar de braços cruzados, conformado com a falta de condições estruturais completas para evitar refluxos desastrosos numa virada do pêndulo - ou relaxado, a partir de análises estáticas, com uma quem sabe enganosa blindagem das contas externas.

Faz todo o sentido, portanto, o alerta do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em depoimento no Congresso, semana passada, a respeito da possibilidade de viradas abruptas no mercado cambial e da necessidade de reforço da proteção, pelas empresas e pessoas, contra eventos desse tipo. A decisão de induzir, com novas regras, uma redução das apostas dos bancos em novas valorizações do real frente ao dólar, anunciada em seguida, é uma indicação bem-vinda de que a autoridade monetária está atenta aos terríveis choques que possam ser provocados por alguma versão revista e atualizada da vetusta "teoria do pêndulo".

GOSTOSA

XICO GRAZIANO - Sinuca de bico


Sinuca de bico
XICO GRAZIANO 
O Estado de S.Paulo - 12/07/11

Dois grandes desafios, historicamente opostos, afligem a humanidade: alimentar a crescente população e preservar o meio ambiente. Nesse dilema civilizatório inexiste solução fácil. Tempos difíceis se aproximam.

Uma variável fundamental reside no crescimento da população. A crise ecológica que afeta o mundo somente passou a se manifestar quando os seres humanos ultrapassaram certo limite na pressão sobre os recursos naturais do planeta. Assim nasceu o conceito da pegada ecológica.

Seu cálculo determina a extensão do território - em terra e no mar - necessária para sustentar uma pessoa, ou a sociedade, considerando o nível de tecnologia e o modo de vida. Calculado em hectares, o seu valor permite avaliar a sustentabilidade da civilização.

Os dados da Global Footprint Network, entidade que propôs originalmente a ideia, indicam que a pegada ecológica global atingiu 2,7 hectares por pessoa (2007). Multiplicando esse valor pela população mundial, resulta em 18,1 bilhões de hectares. Essa seria a área necessária para sustentar a demanda, ambientalmente falando, da sociedade global.

Acontece que a disponibilidade biologicamente produtiva no mundo soma 13,4 bilhões de hectares. Ou seja, a pegada ecológica da humanidade já ultrapassou a capacidade de suporte do planeta Terra em 35%. Das duas, uma: ou se modifica o modo de vida, tornando-o menos perdulário da natureza, ou se reduz a população humana. A primeira providência será dificílima; a segunda, quase impossível.

Vale o raciocínio: o nível de consumo médio da sociedade global estabelece uma pressão sobre os recursos naturais capaz de sustentar, no máximo, 5 bilhões de habitantes. Mas a população mundial, conforme estima a ONU, deverá atingir 9 bilhões de pessoas próximo de 2050. O colapso da sociedade, portanto, somente se evitará com a alteração do padrão civilizatório.

É bem verdade que essa trajetória rumo ao mundo sustentável vai afetar desigualmente as nações. Os países ricos detêm 20% da população mundial, mas consomem 80% dos recursos naturais do planeta. Mais populosos, os países em desenvolvimento lutam para escapar da miséria e atingir o invejado modo de vida dos povos ricos, europeus ou norte-americanos. É trágico perceber que dificilmente essa hora chegará para eles.

Mesmo com as esperadas inovações tecnológicas, que possivelmente elevarão a oferta de energia limpa, entre outros ganhos ambientais, é inimaginável supor que a totalidade da população humana possa vir a manter, no futuro próximo, um padrão de vida semelhante ao dos ricos de hoje. Um azar histórico se configura.

A visão antecipada da tragédia poderá ser, por outro lado, a sorte da humanidade. Decisões políticas, locais e globais, chegarão para consignar a mudança civilizatória. Esse necessário adeus ao sonho de consumo ocidental, entretanto, atormenta a imaginação. Como estaremos vivendo no final deste século?

Ninguém sabe direito. A incerta trajetória rumo ao mundo sustentável trabalha com raciocínios utópicos: novas tecnologias se combinarão com profundas mudanças culturais; os desejos de consumo e as expectativas de vida ter-se-ão modificado; os direitos e os deveres incluirão normas da sociedade global; a educação ambiental prevalecerá. Haverá harmonia entre homem e natureza.

Na dura realidade, para ser bem resolvida a equação sustentável dependerá do sucesso de uma variante fundamental: a segurança alimentar. Aqui o problema fica mais complexo. A necessidade crescente da produção de alimentos vai elevar a pressão sobre o território natural.

A alimentação humana navega no fio da navalha. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que a demanda mundial por alimentos cresça entre 70% e 100% até 2050, bem acima do aumento populacional. Isso porque a urbanização e a melhoria da renda familiar nas economias em desenvolvimento exigem mais proteína na mesa das pessoas. China e Índia que o digam.

É certo que a capacidade produtiva da agropecuária venceu, por enquanto, a disputa com a população. Todos reconhecem que tal êxito se deve à fantástica evolução tecnológica combinada com a queda na taxa de natalidade. Ponto pacífico.

Houve, porém, um terceiro fator decisivo: a farta disponibilidade de terras virgens. Nos últimos 200 anos, desde que Malthus publicou seu famoso ensaio sobre a população, o desmatamento progressivo de imensos territórios garantiu a expansão da base produtiva rural. Não faltou comida.

É dramático perceber que o processo exploratório sobre a natureza bruta se esgota. Anda no limite a capacidade da agricultura norte-americana e europeia, tanto quanto na China, Índia, Austrália. Pior: milhões de hectares de terras produtivas sofrem com a salinização, o rebaixamento do lençol freático e a desertificação.

Conclusão: será cada vez maior o esforço para aumentar a produção de alimentos. Por outro lado, a pressão ambientalista requer novas áreas protegidas, em nome da biodiversidade planetária. No passado o desmatamento corria solto. Hoje é inaceitável na opinião pública.

Comete crasso erro de análise quem invocar o velho dilema malthusiano como desculpa para a inércia. O desafio alimentar que a humanidade enfrenta agora surge em outro patamar. A inédita demanda proteica, puxada pela queda progressiva da pobreza mundial, ocorre em tempos de reclamo preservacionista. Sinuca de bico.

Torna-se ridículo, nesse complexo cenário, verificar as querelas egoístas e sectárias entre ambientalistas e ruralistas, que brigam pelo Código Florestal olhando o próprio umbigo. Para vencer o grande desafio da humanidade, em vez de inimigos, necessariamente eles terão de se irmanar.

RUBENS BARBOSA - O modelo chinês de desenvolvimento


O modelo chinês de desenvolvimento
RUBENS BARBOSA
O Estado de S.Paulo - 12/07/11

O crescimento médio de 9% da China nos últimos 30 anos tem despertado a atenção de todo o mundo, em especial dos países em desenvolvimento. Qual é o fundamento do modelo chinês? O êxito econômico da China não decorre apenas da aplicação de políticas econômicas stricto sensu, mas de alguns princípios inspirados no pragmatismo de Deng Xiaoping, chefe do governo chinês nos anos 70: a importância da inovação, a rejeição a medir o desenvolvimento pelo crescimento do PIB e da renda per capita, a busca de melhoria na qualidade de vida e a crença na autodeterminação e soberania.

Recentemente Stefan Halper, no livro O Consenso de Pequim, procurou mostrar como o modelo chinês, classificado como "autoritarismo de mercado", começa a ganhar adeptos entre países em desenvolvimento. Embora sendo discutível se esse modelo pode ser replicado em outros países com o mesmo êxito, o sistema chinês oferece uma alternativa ao Consenso de Washington, que enfatizava a prevalência do mercado e da austeridade econômica doméstica, mas ficou associado às condicionalidades impostas pelas instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Segundo o economista chinês Ping Chen - que esteve há algum tempo na FGV em São Paulo -, o que ocorre na China não configura o aparecimento de um modelo de desenvolvimento econômico porque o país está em constante experimentação e mudança com o objetivo de se ajustar a um mundo em transformação. O Congresso do Povo está permanentemente modernizando leis e regulamentos, úteis no passado, mas obsoletos no presente. Ao contrário do Consenso de Washington, o modelo chinês parte do pressuposto de que cada país enfrenta desafios diferenciados e por isso não pode aceitar soluções padronizadas. Nas últimas três décadas a China descartou as barreiras ideológicas e históricas e testou as mais diferentes ideias, implementando-as e corrigindo os erros cometidos.

Não chega a ser surpresa constatar a forte presença do Estado, uma das características dos regimes comunistas, como o aspecto fundamental do modelo. O capitalismo de Estado é a sua marca registrada, combinado com a abertura a investimentos externos, com transferência de tecnologia e associação compulsória com empresas estatais e com o câmbio congelado.

Dada a natureza controvertida dos comentários apresentados por Chen, pareceu-me útil resumi-los, sem questionar suas premissas, pela limitação de espaço.

Refletindo as peculiaridades do sistema político e social chinês, Chen alinhou nove princípios responsáveis pelo êxito da China num mundo de incertezas e complexidades:

Buscar oportunidades para o crescimento da economia e adotar reformas ousadas para aproveitá-las. Nos países em desenvolvimento, os governos têm mais capital e recursos humanos do que o setor privado para ativar um mercado pouco sofisticado. A economia neoliberal tem pouca experiência nos países mais pobres e por isso frequentemente recomenda práticas de mercados desenvolvidos, de forma equivocada, aos mercados emergentes.

Necessidade de manter um sistema dual para a estabilidade e a inovação. A dualidade é representada pela atuação do governo e do setor empresarial. As regulamentações são adotadas por consenso entre a liderança política, empresários e a comunidade.

Clara divisão de trabalho entre o governo central e o local. O governo central é responsável pela segurança nacional e pela coordenação regional. O governo local lidera as experiências institucionais e de desenvolvimento. A experiência de descentralização é o motor das inovações, não a imposição de regras de cima para baixo por conselheiros externos.

Para o desenvolvimento regional a liderança política é mais importante do que o capital, recursos e infraestrutura.

Economias mistas (capitalismo de Estado) oferecem financiamentos públicos para favorecer reformas e desenvolvimento sustentável. Políticas liberais nunca funcionam em países com grande população, poucos recursos e frequentes desastres naturais. O setor estatal e coletivo serve de anteparo para os ciclos de negócios.

A disciplina da economia chinesa é alicerçada na competição em todos os níveis, e não na negociação com grupos de interesse, no estilo ocidental. A democracia na China não é uma competição verbal, mas uma corrida por ações concretas. A legitimidade do governo não deriva do eleitorado, mas dos resultados políticos e econômicos.

A coordenação entre governos, homens de negócios, trabalhadores e setor agrícola tende a gerar uma nova parceria.

Os governos podem criar e orientar o mercado, mas não devem ser conduzidos por ele. A condição fundamental é o fator humano.

As ações do governo devem focalizar o desenvolvimento econômico interno, sem perder de vista as turbulências externas.

Segundo Chen, a alternativa asiática de desenvolvimento é representada por valores compartilhados pelo governo e pelos cidadãos, tendo como pano de fundo crescentes pitadas de ensinamentos de Confúcio. O Consenso de Pequim, baseado no apoio familiar, na edificação da nação e no governo central que interage com a população, é a alternativa ao sistema ocidental, fundado no individualismo, no consumismo e no equilíbrio entre os grupos de interesse.

Para países como o Brasil, não se trata de tentar replicar o capitalismo de Estado, mas de reconhecer a influência da China no processo produtivo global e procurar melhorar a competitividade da economia para poder enfrentar o grande desafio que esse país coloca hoje ao setor produtivo nacional, sobretudo o industrial.

Temos de superar a visão ingênua derivada da percepção equivocada das vantagens que a China oferece e definir nossos próprios interesses.

ARNALDO JABOR - Queremos ser modernos ou eternos?

Queremos ser modernos ou eternos?
ARNALDO JABOR
O ESTADÃO - 12/07/11

Ando com fome de "universais". A frase é ridícula, mas ando mesmo. Não estou aguentando mais a celebração dos fragmentos, das irrelevâncias como portas da percepção para novas visões de mundo. Quero "sínteses", sim, caminhos mais claros a seguir sobre o Brasil como nos bons e velhos tempos. Ouço neste momento jovens filhos da web, os hackers da arte rindo de mim. Danem-se, twitteiros... Por isso, lembro a frase de Drummond: "cansei de ser moderno, quero ser eterno..." ("frase manjada", dirão meus inimigos...); tudo bem, mas eu quero o manjado, o óbvio, eu quero a volta do tempo em que alguma "síntese", mesmo ilusória, nos era oferecida.

No cinema então, não aguento mais ver a gostosa adesão de tantos filmes brasileiros a fórmulas cada vez mais escrotas do cinema norte-americano atual, feito de 3D, porrada, vampiros, comediazinhas românticas de bosta, tudo sempre com orquestras tocando plágios de Stravinsky e outros (quem diria, hein? Beethoven só serve hoje para musicar os "Transformers").

Falo isso porque, ontem, eu revi uma obra-prima: "Written in the Wind" (Palavras ao Vento), do Douglas Sirk, um filme de 1955 com Rock Hudson, Laureen Bacal e Dorothy Malone. Genial. E aí dá para ver como os filmes "comerciais" antigos eram muito melhores que essas bostas de hoje, pelas quais o público pós-utópico baba... "Palavras ao Vento" foi feito com o exclusivo desejo de faturar uma grana, como "Cantando na Chuva" ou "Sunset Boulevard" e tantas obras geniais.

Hoje é essa merda que está contaminando o cinema brasileiro e dividindo-o em blockbusters filhos da última safra norte-americana e em filmes que jamais serão vistos, com cineastas se enganando em pequenos festivais, na ilusão digital de que serão vistos para sempre na web - a nova forma de viver numa sociedade sem carne nem osso. Na maioria dos filmes norte-americanos de hoje, os produtores nem se preocupam mais com o babaca do diretor e não deixam sobrar nem um leve resquício de arte a invadir seus diagramas para faturar. O negócio é que minha geração sonhava com respostas para o mundo e não pode se contentar com mixarias, pequenos tweets, piadinhas inúteis e filminhos sem talento só porque estão na rede e são os arautos de um novo tempo de irrelevâncias.

Alguns intelectuais, com pânico de envelhecer, estão zelosamente garimpando besteiras e "faits divers" da cultura internacional pop, na esperança secreta de que elas encerrem uma "grande narrativa", uma revelação ainda oculta, ainda se formando de fragmentos. Talvez, talvez... mas, tenho saudades, sim, da esperança de sentido.

Por isso, me lembrei do Cinema Novo e de Glauber Rocha, que hoje não é sequer entendido por "descoladinhos", que acham a ignorância uma nova forma de ver o mundo. Lembro-me da primeira vez que vi "Deus e o Diabo na Terra do Sol", que fascinou até Buñuel e Visconti...

Às 8h30 da noite de 16 de março de 1964, eu não sabia que minha vida ia mudar. Às 9h, ia passar, pela primeira vez, o filme de Glauber. E estava ali no cinema Ópera, em Botafogo. A esquerda estava toda eufórica, achando que o socialismo ia vencer; isso, a 15 dias de sua grande derrota, com o golpe de 1964. Todos nos achávamos o "sal da terra" que venceria em breve nossa revolução imaginária. Claro que fomos esbofeteados pela verdade de uma sociedade reacionária que virou nosso sonho um pesadelo por 21 anos.

No entanto, houve, sim, uma revolução vencida ali, no cinema. Na época, as manifestações culturais importantes mexiam com nossas vidas. A cultura mudava qualitativamente e não era apenas esse labirinto de informações inúteis de hoje. "Deus e o Diabo" ficou e deu filhos como o tropicalismo, por exemplo, e dezenas de obras nossas no cinema.

Aí, o filme começou. Um plano aéreo muito alto do sertão de Cocorobó, com música de Villa Lobos. Corte súbito para um superclose do olho morto de boi, roído de sol. Nossos olhos eram feridos por imagens absolutamente novas. Não era apenas um bom filme que víamos; era um país que nascia à nossa frente. Era uma realidade já lida no "Os Sertões", em Graciliano, em Rosa, mas que, no olho, era a primeira vez.

Nosso vocabulário visual foi aprofundado nessa época: a lama, a fome, a favela, os presépios de miséria, a estupidez da classe média.

A realidade nos via. Ela nos incluía, éramos descobertos por esse mundo de secura e violência que aparecia na tela. A partir daquela noite, nós éramos personagens também de um Brasil que não estava "fora" de nós. Assim como em "Os Sertões", os miseráveis eram colocados pela primeira vez como sujeitos em nossa história; em "Deus e o Diabo", o herói era um pobre miserável e o matador não era um óbvio vilão. Bons e maus andavam num deserto metafísico, shakespeariano, em plena caatinga.

Quem partira para fazer filmes neorrealistas foi atingido pelo raio de um cinema épico. As personagens se contorciam numa danação de heróis e vítimas em uma complexidade que não conhecíamos ainda.

Nem sabíamos que essa ignorância seria a causa principal de nosso fracasso de 1º de abril de 1964. O Brasil, que analisávamos com linearidade óbvia duas horas antes, tinha virado um vórtice, um redemoinho com Deus e o diabo misturados.

Glauber fez a primeira crítica importante do pensamento fracassado da velha esquerda e por isso foi massacrado mais tarde, quando imaginou, desesperado, uma reviravolta progressista de alguns militares ligados a Golbery.

Depois, veio 1964, veio 1968, veio a luta suicida. Três anos depois, em "Terra em Transe", ele ataca a burrice dessas mesmas esquerdas. Passaram muitas ilusões, mas "Deus e o Diabo" não era ilusão. Aquela ficção era a realidade. Sérgio Augusto, na época, lembro-me, disse que precisávamos de algo que trouxesse de volta a ideia de "grandeza". Hoje, precisamos disso mesmo: de "grandeza" e de um novo filme como "Deus e o Diabo na Terra do Sol".

Aluguem em vídeo e vejam o que deveria ser o futuro de nosso cinema.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Ronda tucana
RENATA LO PRETE
RANIER BRAGON (interino)
FOLHA DE SP - 12/07/11

Embora manifeste contrariedade à PEC 300, que cria o piso dos policiais, Geraldo Alckmin anunciará reajuste salarial para a categoria, além de medidas administrativas que aumentarão a remuneração mínima de civis e militares. Com o anúncio, pretende desidratar o movimento de greve que emerge entre delegados e aplacar a insatisfação dos PMs.
Reeditando o enredo da negociação com os servidores da educação, que resultou em reposição escalonada para os professores, Alckmin busca reduzir o desgaste do PSDB no funcionalismo estadual, herança da gestão de José Serra. Em avaliações internas, tucanos identificaram no setor um dos flancos de avanço da oposição na campanha pelo Bandeirantes em 2010.
Vitrine Alckmin lança na quinta-feira o Via Rápida do Emprego, outra promessa eleitoral. Oferecerá 130 cursos de três meses de duração para 500 mil pessoas -quem estiver desempregado ganhará bolsa de R$ 330.

Veja bem 
Márcio França, presidente do PSB-SP, nega que tenha oferecido cargos a Marcelinho Carioca para estimulá-lo a reivindicar o mandato de Gabriel Chalita, agora no PMDB. Sobre o pedido do suplente Marco Ubiali, em análise na Justiça, diz que o considera natural. "Ninguém precisa de motivação extra. O estranho seria se ele abrisse mão da chance de virar titular."

Calças curtas 
Com a notícia, no início da noite, de que Dilma Rousseff efetivara Paulo Sérgio Passos nos Transportes, deputados e senadores do PR passaram a trocar telefonemas frenéticos para saber, diante do ocorrido, o que fazer.

Tenho dito 
Apenas três membros do partido foram procurados para serem informados do fato consumado: Blairo Maggi (MT), Magno Malta (ES) e Lincoln Portela (MG). Dilma determinou ainda ao novo ministro que corte a influência de Valdemar Costa Neto na pasta.

Para entender 

Depois de sinais recebidos, governistas se diziam tranquilos com o depoimento de Luiz Antonio Pagot hoje no Senado. E independentemente do que o diretor do Dnit venha a dizer, petistas afirmam que Hideraldo Caron, diretor de Infraestrutura Rodoviária do órgão, não deve se manter no cargo -ele é ligado ao deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

Encontro... 

No PP, pouca gente nutre esperança de que haverá boa relação entre os dois expoentes da legenda no Executivo, Mario Negromonte (Cidades) e Márcio Fortes (Autoridade Pública Olímpica). O último perdeu o cargo de ministro para Negromonte por pressão da bancada de deputados, mas foi reabilitado por Dilma.

...forçado 

Pepistas dizem que setores do PT e Fortes difundem a versão de que Negromonte anda em baixa com a presidente.

Foto 

Outro que também figura no rol dos pouco prestigiados, Pedro Novais (Turismo) terá uma espécie de desagravo de seu partido, o PMDB, que promete comparecer em massa à abertura do 6º Salão do Turismo, em São Paulo, amanhã.

Quem avisa... 
Foi Michel Temer quem sugeriu que Dilma viesse a público acalmar ministros temerosos de serem os próximos da lista. Horas mais tarde, ela negou, em evento no Planalto, ter em mente novas intervenções no primeiro escalão.

Trilhos 
O fracasso do leilão do trem-bala, ontem, motivou variadas piadas no Twitter. Desde as repisadas afirmações de que o projeto "descarrilou" e "micou", à de que o governo foi vítima de "trem-bala-perdida".
com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

"Espero que o novo ministro dos Transportes superfature uma ponte de ligação com a moralidade pública."
DO DEPUTADO RUBENS BUENO (PPS-PR), sobre as suspeitas de irregularidades que resultaram na saída de Alfredo Nascimento.

contraponto

Risco doméstico

A Câmara realizou em março sessão de homenagem aos 100 anos de nascimento do ex-governador de Santa Catarina Aderbal Ramos da Silva. Quase no final de sua fala, o deputado Esperidião Amin (PP-SC) negou a autoria do pedido de realização do evento.
-Na verdade, apenas secundei pedido formulado no ano passado -disse, informado que a autora era sua mulher, a ex-deputada Angela Amin (PP-SC).
-Tenho razões para mencionar isso, algumas de legítimo interesse da minha integridade física e mental!