terça-feira, setembro 13, 2011

TUTTY VASQUES - A saia-justa do elogio


A saia-justa do elogio
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 13/09/11

Como qualquer dona de casa que, ao ouvir elogios sobre a limpeza de seu lar, diz que não faz nada de mais para manter tudo ali um brinco, Dilma Rousseff segue se esquivando de aplausos pela faxina ética que uns e outros vislumbraram nos primeiros meses de seu governo.

Não há nada de errado com a falsa modéstia feminina mas, no caso da presidente - ao contrário de toda mulher que finge desvalorizar seu esmero doméstico só pra fazer charme -, a negação da própria virtude está ganhando contornos de patologia política.

De tanto desconversar quem vê nela uma liderança anticorrupção, a presidente ainda vai acabar perdendo a paciência com alguém que lhe dê parabéns por não compactuar com a ladroagem. "Ora, vai lamber sabão!"

Pode se tornar o primeiro caso no mundo de governante que, aclamado pela honestidade no trato com a coisa pública, reage com rispidez e indignação: "Ilibada é a vovozinha!"

Tomara que, só para ver onde isso vai parar, a chamada sociedade civil encolha um pouco mais a saia-justa da presidente quando voltar às ruas pela ética na política com a faixa "Obrigado, Dilma Rousseff, pelo combate à roubalheira!" Vai dizer que não, presidente?

Ponto fraco
Uma contusão no ombro é, oficialmente, o motivo do afastamento de Anderson Silva do UFC até 2012 mas, comenta-se em Las Vegas, o lutador brasileiro vai prolongar sua inatividade
para tratar de engrossar a voz com a fonoaudióloga americana que cuidou do Seu Jorge.

Governar é...
O prefeito Gilberto Kassab pretende gastar cerca de R$ 3,5 bilhões na construção de túneis em São Paulo. Periga bater o recorde de Muamar Kadafi em Trípoli!

Fala sério!

O técnico Felipão não sabe mais o que fazer para se livrar do Palmeiras! Nos últimos dias, liberou o clube de multa rescisória em caso de demissão, comandou o time na derrota por 3 a 0 em casa, deu razão às críticas da torcida, aplaudiu o adversário, assumiu toda a culpa? Será que vai precisar bater no presidente pra ser mandado embora, caramba?

Roda presa

Em conversa franca na reapresentação dos jogadores do Flamengo, Vanderlei Luxemburgo liberou o pum pra galera durante suas preleções no vestiário. Sem vencer há oito partidas, a turma está precisando relaxar!

Parceiro novo

Ao saber que, nos autos do mensalão no STF, José Genoino refere-se a ele como "pai da mentira" e "verdadeiro bufão", Roberto Jefferson sentiu pulsar no peito seus famosos "instintos mais primitivos".

José Dirceu vai acabar ficando com ciúmes dessa história!

Hora da saudade

Teve gente de meia-idade que conseguiu controlar a emoção na homenagem às vítimas do 11 de Setembro em NY até a participação de James Taylor na cerimônia.

O cantor de You"ve got a Friend já é quase um velhinho!

ANCELMO GOIS - Todo cuidado é pouco

Todo cuidado é pouco
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 13/09/11

Dilma costuma esconder os lábios com a mão quando conversa com pessoas a seu lado em cerimônias públicas.
Deve ser para evitar aquelas indiscretas leituras labiais como as feitas com Parreira na Copa de 2006.

TROCA NA CULTURA
A ministra Ana de Hollanda convidou Márcia Rollemberg, diretora de Promoção do Iphan, para o lugar de Marta Porto, ex-secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC.
Márcia vem a ser mulher do senador Rodrigo Rollemberg, do PSB de Brasília.

NA VERDADE...
A saída de Marta não foi bem recebida no Palácio do Planalto.
Houve quem fosse se queixar de Ana de Hollanda com Gilberto Carvalho, que em maio deixou seu gabinete para se reunir com a cúpula do Ministério da Cultura e pedir “coesão” em torno da ministra.

LÍBIA NA AGENDA
Dilma, que se encontra com Obama dia 20 em Nova York, marcou no dia seguinte um café com Sarkozy, no Hotel Waldorf Astoria.

COISA DE PELE
Do escritor Fernando Morais, a respeito do projeto de escrever um livro sobre Lula.
– Eu e ele não estamos namorando. Como diria a linguagem de hoje, estamos ficando...
Ah, bom!

VOO JJ 3913
Um parceiro da coluna pegou ontem o voo JJ 3913 da TAM, do Santos Dumont para Congonhas, e flagrou dois passageiros, nos assentos 1B e 1C, trabalhando num computador. Um deles era o advogado Marcos Motta.
Estavam adaptando do espanhol para o português o que seria o contrato de Neymar com o Real Madrid.

PARA DESPESA MIÚDA...
Nosso espião do ar conta que, pela papelada, o craque do Santos vai embolsar 8 milhões de euros por ano só em salários.

FATOR MURILO
Esse acordo da Vale com o forte sindicato Metalúrgicos Unidos (USW) do Canadá, onde explora níquel, é uma vitória pessoal de Murilo Ferreira, atual presidente da empresa.
Depois que ele deixou o comando da subsidiária canadense, em 2008, o clima azedou por lá, com três greves de mineiros.

BRANCO NO PRETO
Nas redes sociais, teve gente reclamando que uma obra do escultor americano Richard Serra, no Centro de Artes Hélio Oiticica, no Centro do Rio, foi desfigurada.
Os três círculos negros feitos pelo artista, que estão nas paredes do térreo, tinham sido pintados de branco.

SÓ QUE...
O secretário municipal de Cultura, Emílio Kalil, diz que a obra foi coberta por uma película plástica por causa da exposição Benin, em cartaz no Caho:
– Um técnico vai retirá-la após a exposição. A cobertura não prejudica a obra.
É. Pode ser.

FOLHETIM
Glória Perez já reservou dois nomes para sua próxima novela, que terá como tema a Turquia: os atores Rodrigo Lombardi, hoje em O Astro, e Domingos Montagner, de Cordel Encantado. Já é certo também que Vera Fischer terá um papel na novela.

RODRIGO BOTERO MONTOYA - Uma crise em câmera lenta


Uma crise em câmera lenta
RODRIGO BOTERO MONTOYA
O Globo - 13/09/2011

Estão se acumulando de forma preocupante as consequências de desequilíbrios macroeconômicos persistentes num conjunto de países industrializados. Até agora, nenhum dos problemas nacionais se reveste de características catastróficas. Sua importância relativa depende da respectiva capacidade para desestabilizar a economia mundial, seja pelo efeito de contágio, seja por constituir um grave risco sistêmico.

A incapacidade que demonstraram os organismos multilaterais de responder com eficácia e celeridade ante situações pontuais de menor tamanho contribui para criar um clima de incerteza que imprime volatilidade aos mercados financeiros. O que se percebe é a insatisfação generalizada com a liderança internacional e o descontentamento com os efeitos sociais de uma crise que se desenvolve em câmera lenta.

A vacilação das autoridades da zona do euro para implementar o resgate financeiro da Grécia colocou em xeque a viabilidade da união monetária, na ausência de uma política fiscal comum entre países com economias heterogêneas. O que não se quis reconhecer de maneira explícita é a impossibilidade de a Grécia pagar toda sua dívida soberana. A questão a decidir é a forma como se deve distribuir o custo de uma reestruturação de passivos entre os credores da dívida. A reticência que manifestam Angela Merkel e Nicolas Sarkozy para aceitar essa realidade está relacionada ao impacto que teria a reestruturação da dívida grega sobre os grandes credores - quer dizer, os bancos comerciais alemães e franceses. Mas, tratando-se de um país pequeno, sofrendo as consequências de sua própria irresponsabilidade fiscal, a crise econômica da Grécia não deveria constituir um problema de dimensões mundiais.

Algo semelhante pode-se afirmar a respeito das dificuldades que a Itália está experimentando, não obstante sua condição de membro do G8, o clube das grandes nações industrializadas. Por um lado, Silvio Berlusconi se encarregou de projetar a imagem da Itália como um país desprovido de um governo sério. No que diz respeito à credibilidade financeira, uma piada perversa sustenta que, para entender por que é tão deficiente o manejo da economia italiana, basta abrir a lista telefônica de Roma para constatar a proliferação de sobrenomes argentinos.

O que constitui uma ameaça sistêmica é a percepção de que a economia americana anda à deriva, sobretudo quando isto coincide com a turbulência europeia. Um grupo lunático conseguiu levar os Estados Unidos à beira da suspensão de pagamentos. O Tea Party é um movimento de protesto populista, motivado pelo rechaço da modernidade, pelo fundamentalismo evangélico e o convencimento de que um presidente americano que não seja anglo-saxão e branco carece de legitimidade.

Seus integrantes questionam a teoria da evolução, propõem medidas punitivas contra os imigrantes ilegais, depreciam os homossexuais e combatem o direito da mulher de receber serviços de saúde sexual e reprodutiva. Estimulam o racismo, a xenofobia e a intolerância.

Um elemento central de sua missão é o desmantelamento do sistema de seguridade social e proteção aos trabalhadores erguidos por Franklin Roosevelt durante a Grande Depressão dos anos 30.

Um programa dessa natureza conduz a alienar as minorias e setores da população cujo apoio é necessário para ganhar uma eleição. Falta pouco mais de um ano para que esse grupo de extremistas conduza os republicanos a um descalabro eleitoral.

Enquanto se cumpre esse ciclo, é previsível que continuem utilizando sua capacidade de obstrução parlamentar para erodir a governabilidade dos Estados Unidos e frustrar qualquer esforço para reativar a economia americana.

RODRIGO BOTERO MONTOYA é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia.

ILIMAR FRANCO - A prioridade


A prioridade
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 13/09/11

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), recebeu ontem a tarefa de levar com urgência à votação em plenário o projeto que cria a Previdência Complementar dos Servidores. O ministro Guido Mantega (Fazenda) sustentou, na coordenação, que a aprovação desta lei "corresponde a uma reforma da Previdência", além de ser importante para o ajuste fiscal. Ela fixa um teto para o pagamento de aposentadorias para os servidores que entrarem agora no setor público.

O Pacote Anticorrupção do SenadoOs Senadores que integram a Frente Parlamentar Suprapartidária de Combate à Corrupção preparam um pacote de medidas contra a corrupção. Eles pretendem submeter ao plenário do Senado leis duras, tais como: responsabilização criminal das empresas corruptoras, sanções para servidores condenados por enriquecimento ilícito, supressão de foro privilegiado para autoridades e parlamentares em processos criminais, rito especial para processos de improbidade administrativa, o fim do voto secreto e o fim das emendas parlamentares individuais ao Orçamento. 
Além desses, outros 40 projetos estão em análise.

REUNINDO FORÇAS PARA A RIO+20. Ao participar ontem de uma solenidade do Ibama em Goiânia, a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) aproveitou para ir ao encontro do artista plástico Siron Franco (na foto) e convidá-lo para ser embaixador do Cerrado da Conferência Rio+20, que será realizada no ano que vem. A ministra pretende dar uma prioridade maior à preservação do Cerrado, a exemplo da Amazônia. Não dá para entender por que o voto no Congresso é secreto. O combate à corrupção e à impunidade começa por acabar com o voto secreto" - Paulo Paim, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado (PT-RS)

De olho no caixaOs prefeitos estão atentos aos efeitos do programa Brasil Maior. Ele socorre a indústria, mas vai diminuir receitas municipais com a redução do IPI. Os prefeitos querem que o governo federal reponha as perdas, como fez na crise mundial.

Gilberto e as mulheres no poderQuando a plateia feminina no IV Congresso Nacional do PT, na sexta-feira, 2 de setembro, interrompeu o discurso do ex-presidente Lula para pedir a paridade na composição de chapas e no preenchimento dos cargos partidários, um dos presentes no palanque ouviu o seguinte desabafo do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que agora vive entre mulheres superpoderosas: "Paridade já, no Planalto!".

ExplicaçãoPara aprovar o projeto do governador Sérgio Cabral, que abre a gestão da Saúde para as organizações sociais, o PT do Rio recebeu aval do ministro Alexandre Padilha (Saúde ) e dos governadores Jaques Wagner (BA) e Marcelo Déda (SE).

Outro ladoA CEF contesta temores quanto ao Minha Casa Minha Vida. Pelos seus controles, estão em obra 95,7% do 1.005.128 casas contratadas. Diz ainda que a meta da fase 2 prevê contratar e não construir dois milhões de casas.

ReciprocidadeO PMDB espera um gesto do PT nas eleições para o TCU. Em 2007, o partido retirou o nome de Osmar Serraglio (PR) para apoiar o petista Paulo Delgado (MG). Agora, Átila Lins (AM) é o nome do PMDB, e o PT não tem candidato.

SEIS EX-MINISTROS dos Direitos Humanos pedem hoje, junto com a ministra Maria do Rosário, ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que seja votado projeto que cria a Comissão da Verdade.

QUANDO falam de sua eventual candidatura à Presidência em 2014, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) costuma responder: "Tem fila. Estão na frente a presidente Dilma e o ex-presidente Lula."

O MINISTRO da Defesa de Angola, Cândido Pereira dos Santos Van-Dumem, propôs ontem ao ministro Celso Amorim que o Brasil reestruture a Marinha daquele país, a exemplo do que foi feito na Namíbia.

GILBERTO AMARAL - Copa na capital


Copa na capital
GILBERTO AMARAL
JORNAL DE BRASÍLIA - 13/09/11

Nesta sexta-feira, com a cidade toda iluminada de verde-amarelo, o governador Agnelo Queiroz fará uma grande festa para marcar a contagem regressiva dos 1.000 dias para a Copa 2014. Quem vai animar a noite é a cantora Claudia Leitte, que fará um show gratuito para toda a população, perto do estádio. O evento faz parte da campanha para Brasília sediar o Mundial.

No rádioNo programa "Conversa com o Governador" de hoje, que é transmitido pela Rádio Cultura toda terça-feira, às 7h, Agnelo Queiroz fala sobre a importância da capital do país sediar a Copa.

RodízioO governo tem um novo líder no Congresso, o senador José Pimentel. Só que a escolha não agradou alguns setores da Câmara. Para acalmar os ânimos, o vice-presidente Michel Temer já avisou que a presidenta Dilma fará um rodízio para o cargo.

Casa CorEliane Martins, Moema Leão e Sheila Podestá Martins promovem, às 19h, coquetel beneficente de abertura da Casa Cor Brasília 2011, tendo como tema "Dia a Dia com Tecnologia". O cardápio é assinado pela quituteira baiana Dadá, uma das atrações gastronômicas desta edição comemorativa de 20 anos.

EncontroO ex-presidente Lula se reuniu ontem com líderes do PT para discutir o andamento da reforma política no Congresso. O projeto deverá ser votado na comissão especial que trata sobre o tema no próximo dia 21. Para Lula, a adoção do sistema eleitoral proporcional misto é um avanço.

Com os líderesAinda para tratar sobre a reforma política, Lula também convidou a direção do PDT, PSB e PC do B para uma reunião, na próxima sexta-feira, em São Paulo.

Audiências Públicas IProsseguindo com o ciclo de audiências, proposto pelo senador Mozarildo Cavalcanti, a subcomissão da Amazônia e da faixa de fronteira recebe hoje os diretores do Dnit, Jorge Ernesto Pinto Fraxe e Adão Magnus Marcondes Proença.

Audiências Públicas IIEm outra iniciativa do senador, a mesma subcomissão ouvirá trabalhadores rurais do Pará, Amazonas e Rondônia, além de representantes do MPF, da Policia Federal, dos governos estaduais citados e da OAB, visando discutir e definir os trabalhos da comissão externa do Senado criada para visitar os locais onde ocorreram crimes contra trabalhadores rurais.

UM POUCO DE MUITA GENTE
O maestro Cláudio Cohen vai reger, às 20h, na Sala Villa Lobos, o concerto nº 2, em Dó Menor, op. 18, para piano e orquestra de Rachmaninoff. 
Às 11h, Amir Slama comanda a palestra de abertura do Capital Fashion Week. 
"Hereros Angola" é a mostra fotográfica de Sérgio Guerra, que inaugura, às 19h30, no Museu da República. 
Vai agitar o Hotel Royal Tulip Brasília Alvorada, nesta noite, o jantar de abertura do Festival Sabor da Índia. O evento vai até o dia 18. 
Às 19h, no CCBB, acontece o lançamento do livro do teatrólogo Hugo Rodas, que contará com bate-papo com Sérgio Maggio, crítico teatral, e Marcus Mota, autor de várias peças. 
Na mesma hora, Vitor Knijnik autografa no Bar Brahma, a obra "Blogs do Além". 
Gotan Project, uma das bandas mais cultuadas por seu estilo inovador, que une tango e música eletrônica, fará sessão de autógrafos, às 19h30, na Fnac. 
A visita da conselheira da Anatel, Emília Maria, ao Conjunto Educacional da Legião da Boa Vontade, é a pauta do programa Gilberto Amaral, às 13h15, pela BAND.

ALON FEUERWERKER - O jogo a jogar



O jogo a jogar
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 13/09/11



Importa menos o que a presidente vai dizer quando perguntada. "Tem faxina ou não tem?" O povo vai estar de olho mesmo é no que a chefe do governo vai fazer. Doravante, perderá viabilidade o recurso ao "eu não sabia" e ao "todo mundo é inocente até ser considerado culpado em última instância"

Há certa comoção quando a presidente da República afirma não promover a decantada faxina no governo. Estranho seria se dissesse o contrário. Abriria uma conflagração intramuros em ampla escala, uma guerra sem limites e sem quartel. 
Previsivelmente, prefere oferecer à base o eventual colo carinhoso da mãe habitualmente severa, algo sempre operacional nas relações entre uma base e um governo. Como é também entre mães e filhos. 
Mas o que mudou de fato desde que as ondas começaram a balançar o barco governamental? Dilma livrou-se de alguns indesejados, mas não aceitou tocar fogo no paiol para assar o milho. 
No fim, ficou com o melhor de dois mundos. Reconcentrou um poder que recebera diluído e emplacou uma marquetagem favorável. 
A oposição diz que não, que o povo se frustrará por Dilma não levar a tal faxina até o fim. Mas é provável que a oposição esteja errada. É maior a probabilidade de as pessoas concluírem que a presidente não está tolhida pelos desejos dela, mas por circunstâncias. 
Se Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu tomar o papel de embaixador do povo no governo para promover justiça social " e essa persona rendeu-lhe e ao partido mais dois mandatos além do inicial ", Dilma Rousseff vai ocupando o espaço de representante do povo no governo para combater os malfeitos. 
O que conseguir fazer será mérito dela. O que não, será culpa das limitações colocadas por outros. 
Foi sintomático que as manifestações do 7 de setembro contra a corrupção tenham deixado Dilma completamente fora do alvo. A presidente passou batida. 
É um belo ativo, especialmente quando ela consegue afastar a marca da leniência. Armadilha na qual Lula, mesmo com toda a esperteza política, acabou deixando um pedaço do ativo político. 
Agora não tem volta. No terreno da chamada ética, Dilma logrou estabelecer um traço distintivo. 
O ônus? A bicicleta precisa ser pedalada. Importa menos o que a presidente vai dizer quando perguntada. "Tem faxina ou não tem?" O povo vai estar de olho mesmo é no que a chefe do governo vai fazer. 
Doravante, perderá viabilidade o recurso ao "eu não sabia" e ao "todo mundo é inocente até ser considerado culpado em última instância". Essa é a regra do jogo proposto por Dilma. Inclusive para ela própria. 
A Esplanada sabe, e vive uma paz armada. Um armistício. 
A calmaria no olho do furacão. Com todo mundo preparado para a guerra enquanto juram amar a paz. 

Atestado finalE o dólar sobe a ladeira, o que é ótima notícia para quem exporta. E portanto para o crescimento e o emprego. 
Os especialistas dividem-se sobre qual o novo patamar de equilíbrio do câmbio, mas isso é de menos. Importante é o país rasgar a fantasia. 
Não é razoável o brasileiro desfilar por aí como o povo mais próspero e perdulário do planeta. Não tem a ver com a vida real. 
A inflação? O Banco Central aposta que vai ser naturalmente contida pela desaceleração da demanda. A monitorar, mas existe mesmo a possibilidade. Só sair à rua e ver o ritmo declinante dos negócios. 
Da política do BC de hoje fica também o elemento que faltava para a definitiva condenação do BC de ontem. 
Se é possível reduzir hoje os juros em relativa segurança, teria sido facílimo fazê-lo três anos atrás, quando a demanda mais que desacelerou, caiu a zero. 
Fomos então vítimas de uma barbeiragem como nunca antes no Brasil. Juro alto para evitar supostas pressões inflacionárias, quando a demanda simplesmente desaparecera e o mundo passara a praticar juro negativo. 
Ao deixar o cargo, o presidente anterior do BC ofereceu palavras depreciativas a quem o criticava por ter perdido a maior chance da história recente de levar os juros brasileiros a patamar civilizado. 
Foi uma segunda infelicidade. Errou e reconheceu firma. Passou recibo. E o atestado final do erro virá exatamente do sucessor. 

GOSTOSA


ROSANE OLIVEIRA - Cobertor curto




Cobertor curto
ROSANE OLIVEIRA
ZERO HORA - 13/09/11

O abono de R$ 300 oferecido aos soldados da Brigada Militar não chega nem perto da reivindicação apresentada ao governo, de um aumento emergencial de 25% e de um cronograma para atingir o piso de R$ 3,2 mil, previsto na chamada PEC 300, que tramita no Congresso. A emenda não tem chance de ser aprovada tão cedo, mas passou a ser uma referência para os brigadianos.
Pelos cálculos do governo, cada 1% de aumento linear para os servidores da segurança pública tem um impacto de R$ 27 milhões anuais na folha de pagamento. Um reajuste de 25% significaria R$ 675 milhões a mais nos gastos. Como o Piratini está pressionado também pelos professores e por servidores de outras categorias, a solução foi oferecer um abono aos soldados e ganhar tempo para negociar com os oficiais, com os delegados e com todos os outros que batem à porta da Casa Civil pedindo aumento.
A preocupação com a aprovação, pelo Congresso, de medidas que podem abalar as finanças do Estado levou o secretário da Fazenda, Odir Tonollier, a pedir socorro aos três Senadores gaúchos. Tonollier ligou para Ana Amélia Lemos (PP), Pedro Simon (PMDB) e Paulo Paim (PT) e pediu que prestem atenção à repercussão de quatro propostas que estão em discussão em Brasília. Além das emendas que criam despesas na área da segurança, o governo gaúcho se preocupa com a regulamentação da emenda 29, que amplia os recursos para a área da saúde, as novas regras do Simples Nacional e as mudanças no Fundo de participação dos Estados.
As três emendas que tratam da área de segurança teriam, pelas contas de Tonollier, um impacto de R$ 2,53 bilhões na folha de pagamento. Uma estabelece piso igual ao do Distrito Federal para os PMs de todo o país. Outra estende esse piso a todos os operadores da segurança estadual e uma terceira atrela a remuneração dos delegados à dos promotores de Justiça.

MILITANTE DA REFORMA
Pouco antes de passar a faixa para Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula avisou que fora do Palácio do Planalto seria um militante da reforma política. Ontem, em reunião com líderes do PT na sede do instituto que leva seu nome, em São Paulo, Lula se comprometeu com o deputado Henrique Fontana a defender a proposta que ele apresentou como relator da comissão especial da reforma política e que prevê o financiamento público das campanhas. O anteprojeto será votado na comissão no próximo dia 21.
Lula, segundo Fontana, disse que o financiamento público é fundamental para o aperfeiçoamento da democracia brasileira e elogiou o sistema de voto duplo " um nominal e outro na lista " proposto por Fontana.
Lula convidou as direções do PDT, do PSB e do PC do B para uma reunião na próxima sexta-feira, em São Paulo, para tratar da reforma política.Nos próximos dias, o ex-presidente irá procurar a direção do PMDB.
Rui Dick, assessor técnico da Secretaria de Infraestrutura, deve assumir a direção-geral do Daer. O convite foi feito pelo titular da pasta, Beto Albuquerque. Dick coordenou a força-tarefa que investigou denúncias de irregularidades no Daer.

ALIÁS
Com a ação em que cobra a implantação do piso nacional do magistério, o Ministério Público tirou o pão da boca de advogados que estavam assediando os professores para oferecer seus préstimos.
Rui Dick, assessor técnico da Secretaria de Infraestrutura, deve assumir a direção-geral do Daer. O convite foi feito pelo titular da pasta, Beto Albuquerque. Dick coordenou a força-tarefa que investigou denúncias de irregularidades no Daer.
www.zerohora.com/blogdarosane--> Para homenagear o ex-governador Alceu Collares, que comemorou 84 anos em 7 de setembro, a deputada Manuela D"Ávila preparou um presente especial e ontem foi à casa dele entregar o mimo. É um CD com a gravação de um rap feito a partir do poema O Voto e o Pão, que Collares escreveu em 1977 e que recitou incontáveis vezes em entrevistas e programas de televisão. O refrão diz "O voto é tua única arma/ Põe teu voto na mão".
A produção e o arranjo são do músico White Jay.
Collares comemora o aniversário duas vezes: em 7 de setembro, data em que foi registrado, e 12 de setembro, dia de seu nascimento. Desta vez, não houve festa porque está se recuperando de uma cirurgia.
Veja a íntegra do poema e o vídeo do rap em 
www.zerohora.com/blogdarosane

Para ler nas entrelinhas
A carta na qual o PT responde ao convite do PC do B e do PSB para formarem uma aliança em 2012 é um exercício de marola. Diz que na eleição de 2012 o PT terá o protagonismo necessário de um partido com o seu tamanho e a sua história e que, "por seu acúmulo programático, experiência e capacidade de gestão pública, também se propõe a apresentar nome para constituir uma ampla aliança democrática e popular para 2012". Diz ainda que o PT dará continuidade ao diálogo com todos os partidos que dão sustentação ao governo Tarso Genro.
Traduzindo: o PT não se compromete com Manuela, avisa que vai colocar um nome na mesa e deixa a porta aberta para continuar a conversa com o PDT. Veja a íntegra da carta em www.zerohora.com/blogdarosane.

Vereador X
Nomeado corregedor do DEM, Adão Paiani definiu como primeira missão investigar o caso do vereador cujo nome e imagem os veículos do Grupo RBS estão proibidos por decisão judicial de divulgar em reportagens associadas à Farra das Diárias.
Paiani vai ouvir o vereador na próxima semana, mas está inclinado a encaminhá-lo ao Conselho de Ética do DEM, por ter atentado contra a liberdade de imprensa.
O corregedor diz que o ideário liberal do DEM não combina com censura.

MIRANTE
- O ex-secretário da Segurança José Francisco Mallmann assina hoje a ficha de filiação ao Partido Humanista da Solidariedade (PHS), para concorrer a prefeito da Capital.
- A propósito da queixa do prefeito de São Gabriel, Rossano Gonçalves, que reclama da demora na liberação da licitação dos serviços de saneamento, o Tribunal de Contas assegura que "o processo está tramitando com rapidez".

RAIMUNDO COSTA - Juntando e contando as "garrafas"


Juntando e contando as "garrafas"
RAIMUNDO COSTA
VALOR ECONÔMICO - 13/09/11

Quem sabe contar e identificar as "garrafas" do PT está impressionado com a profundidade do desconforto do partido com a aproximação de Dilma Rousseff em relação a Fernando Henrique Cardoso. Incômodo que chega a ser palpável, mas nunca ou raramente declarado, mesmo nas conversas entre seus dirigentes. A carta de Dilma pelos 80 anos de FHC é considerada "uma traição às bandeiras do PT" entre gente graúda da sigla.
Por "bandeiras do PT" entenda-se o discurso eleitoral que Dilma tirou do PT, ao classificar FHC como "acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica". Ao reconhecer os méritos do governo FHC, entre outros elogios pessoais, Dilma tirou o discurso pronto e fácil da herança maldita deixada pelos tucanos.
Uma explicação: "contar as garrafas" é como o núcleo original que fundou o PT se referia aos votos que dispunham cada uma de suas tendências nos Congressos e eleições internas do partido. É o PT profundo, saído das fábricas de São Bernardo do Campo. O PT que não deixou de registrar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a encostar no PT, numa reação quase automática ao movimento de Dilma em direção a FHC.

Lula encosta no PT após aproximação Dilma-FHC
Exemplo: vindo de uma viagem pela América Central e Bolívia, Lula foi direto para o 4º Congresso Nacional do PT, realizado entre os dias 2 e 4 deste mês, em Brasília. Outro: o discurso de exaltação a José Dirceu que Lula fez no Congresso. Dirceu entrou na fala de Lula como o índio em samba enredo de Carnaval.
Lula encaixou Dirceu em meio a uma de suas costumeiras críticas à imprensa: "Eu li num jornal esses dias que ia ter a nota de apoio ao Zé Dirceu, com meu aval", disse o ex-presidente. "Ninguém pediu aval a mim. Portanto, o jornal mentiu. Mas já que ele [Dirceu] está aqui agora, tem o meu aval a nota", afirmou.
Dirceu foi ovacionado no 4º Congresso, numa demonstração de que a cada denúncias contra o ex-ministro o PT reage instintivamente a seu favor. Na semana do Congresso, Dirceu fora acusado de montar em Brasília uma espécie de "gabinete paralelo", onde despacha ministros, dirigentes de estatais e parlamentares.
Além de abraçar seu ex-chefe da Casa Civil, Lula ontem de manhã se reuniu com deputados federais e dirigentes do PT, em São Paulo, para discutir a reforma política - um arranjo casuísta entre PT e PMDB, que entre outras coisas prevê o financiamento misto (estatal e privado) das campanhas eleitorais e a convivência entre o voto em lista fechada, proposta do PT, com o "distritão", uma invenção do vice Michel Temer (PMDB).
Mesmo desconfortável com a distensão patrocinada por Dilma na relação com o principal partido de oposição, o PT de fato afinou na resolução de seu 4º Congresso Nacional. Nas discussões preliminares havia espaço para uma versão menos solidária com a presidente Dilma Rousseff. A ideia era apresentar uma "agenda própria", descolada do governo.
O PT fez uma "agenda própria", mas não tão descolada quanto pensaram dirigentes. Ainda assim o partido manteve na resolução a defesa da criação de um marco regulatório da mídia, assunto que esfriou durante o governo Dilma.
Antes da abertura do Congresso, o deputado Rui Falcão, presidente do PT, esteve com Dilma e avisou a presidente sobre a resolução. Saiu da conversa com a impressão de que, até o fim do ano, o governo manda ao Congresso um projeto de marco regulatório da mídia, conforme narrou depois a dirigentes petistas. Pode ser, mas deve-se registrar que essa não é a cadência da música tocada no Ministério das Comunicações, para onde foi enviado o projeto deixado por Lula de herança para Dilma.
Se causa desconforto no PT, a distensão de Dilma provoca alívio entre os executivos tucanos. Dilma vai a São Paulo esta semana para assinar o contrato pelo qual o governo federal se compromete em transferir recursos para o Rodoanel. Os governos federal e paulista também decidiram retomar a ideia de construção do Ferroanel. Em parceria. Animado, o vice-governador Guilherme Afif Domingos vislumbra a possibilidade da construção de uma linha para trens de média velocidade no trecho Campinas-Jundiaí- Guarulhos, unindo o aeroporto de Viracopos ao de Cumbica.
"O que nós precisamos é de um trem. Se não temos recursos para construir um trem de alta velocidade, o trem-bala, que trafega a mais de 300 quilômetros por hora, podemos fazer um que ande a 180 quilômetros por hora, a R$ 30 a passagem", diz Afif, que deve levar esta e outras propostas a Dilma. Entre elas, uma proposta de mudança na legislação atual das PPPs.
Segundo Afif, já não era sustentável o "tiroteio permanente entre petistas e tucanos". O "perfil de Dilma" permite a distensão, "o de Lula, não" - diz o vice-governador de São Paulo, que já não reza mais na cartilha do DEM, partido que trocou pelo PSD - e por isso perdeu a Secretaria de Desenvolvimento de São Paulo -, partido mais maleável aos projetos do governo federal. "O erro de DEM e PSDB foi querer repetir o PT numa oposição insana, o que o próprio FHC agora percebe e fala", diz.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília.

JOSÉ PASTORE - O divórcio entre salários e produtividade


O divórcio entre salários e produtividade
JOSÉ PASTORE
O Estado de S. Paulo - 13/09/2011

Nada mais desejável para um país do que ganhos crescentes de remuneração. É o que está ocorrendo no Brasil. Os sindicatos laborais estão tirando proveito de uma demanda interna que ainda está aquecida combinada com uma clara falta de mão de obra..

Grande parte dos pleitos sindicais vem sendo atendida. Para os metalúrgicos do ABC, as empresas concederam aumento real de salários de 5% para os próximos dois anos. Para os metalúrgicos do Paraná, a Renault acertou aumentos reais de 2,5%, 3% e 3,5% para o período de 2001 a 2013, mais Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de R$ 12 mil, R$ 15 mil e R$ 18 mil, além de um abono anual de R$ 5 mil, reajustável. Os metalúrgicos de São José dos Campos conseguiram aumento salarial de 10,8%, além do atendimento de várias cláusulas sociais.

Aumentos elevados são sempre bem-vindos quando acompanhados de ganhos de produtividade. Esse não é o caso, em especial, no setor manufatureiro. Um estudo realizado pelo Banco Central indicou que, entre 2007 e 2010, o salário real da economia em geral cresceu 11%, enquanto a produtividade aumentou apenas 3%. O abismo é colossal e está se agravando. Os dados referentes ao primeiro semestre de 2011 para a indústria paulista revelam que a folha de salários aumentou 3,5% em termos reais, enquanto a produtividade subiu apenas 0,1% (fonte: Fiesp).

Esse descasamento é preocupante. Quando ocorre, as empresas são forçadas a aumentar os preços, a reduzir o lucro ou a diminuir a produção. Vários ramos do setor manufatureiro vêm enfrentando forte pressão dos concorrentes (interna e externamente), não havendo espaço para aumento de preços. Para eles têm sobrado as alternativas de reduzir o lucro ou desacelerar a produção.

Uma análise dos balanços das cem maiores empresas industriais mostrou que, em 2010, a lucratividade ficou estável em relação a 2009, que foi um ano de recessão. Ao retirar desse grupo a Petrobrás e a Vale, o lucro médio caiu 1,4% (fonte: Valor-Data). A persistir nessa trajetória, isso comprometerá os investimentos futuros e a geração de empregos.

É verdade que o Brasil continua a bola da vez no cenário mundial. Os americanos e europeus estão com inveja do que ocorre nestas bandas. Mas o quadro está mudando, dando sinais de desaceleração. De julho a agosto de 2011, os estoques indesejáveis subiram de 6,5% para 9,5%. É intrigante ver que muitas das empresas que concederam aumentos generosos (em especial as montadoras) estão reduzindo a produção e concedendo folgas e férias antecipadas aos seus funcionários.

O crescimento do emprego também perde fôlego. Nos últimos dois meses foram gerados cerca de 340 mil empregos, ante 430 mil no mesmo período de 2010 - ou seja, 26% a menos. No setor manufatureiro, a redução do ritmo foi de 40%. O emprego industrial para 2011 deve crescer apenas 0,5%, bem abaixo dos 3,5% observados em 2010.

Com um quadro desse tipo, fica difícil entender a razão de reajustes tão elevados nas negociações coletivas e bem acima da inflação, que já está altíssima.

Teriam essas empresas uma margem de lucro tão grande que lhes permite aumentar as remunerações - impunemente - acima da produtividade? Ou estariam elas num beco sem saída por causa da forte escassez de mão de obra?

Se for o primeiro caso, elas poderão sobreviver enquanto durar a gordura. Se for o segundo, elas comprometerão o próprio quadro geral do emprego, porque, historicamente, primeiro, desaquece a indústria; depois, o comércio e serviços; e, por fim, o mercado de trabalho. Já há sinais de redução do ritmo de crescimento do emprego no varejo e nos serviços, assim como nas prefeituras e nos Estados.

Tudo isso é uma sugestão para ter mais realismo nas negociações salariais, pois em 2011 podemos estar gestando sérios problemas para 2012.

ANTONIO DELFIM NETO - Ciência ou aumento da incerteza?


Ciência ou aumento da incerteza?
ANTONIO DELFIM NETO
VALOR ECONÔMICO - 13/09/11

Um velho companheiro, tecnicamente muito bem apetrechado e experiência prática indiscutível (comprovada por seu patrimônio), pelo qual nutro uma amizade e respeito que vêm dos bancos da FEA-USP, desde 1946, observou que tenho exagerado quando afirmo que "a teoria monetária que utilizam alguns competentes economistas ainda não existe". Respondo que talvez, apenas talvez...

Quando olho para os últimos 60 anos, desde quando estudamos, eu e ele, sob a severa vigilância do ilustre professor Dorival Teixeira Vieira, o sólido "Money" (Robertson, D., 1948), da coleção dos Cambridge Economic Handbooks, editada por J. M. Keynes, até o último livro que tive a oportunidade de ler, o sofisticadíssimo "Monetary Theory and Policy" (Walsh, C.E. 3ª edição, 2010), vejo um enorme avanço de modelagem matemática e um tremendo acúmulo de pesquisas empíricas.

Superficialmente, pelo menos, isso deveria negar a minha afirmação. O problema é que, no fundo, o "progresso" teórico e empírico foi apenas a perda contínua da nossa ingenuidade: jogamos fora nossas certezas, construindo novas que foram cada vez mais rapidamente destruídas. Esse movimento, que tem a aparência de um avanço "científico", esconde o que ele realmente foi: apenas um processo de substituir incertezas menores por incertezas maiores.

Apenas um festival de imaginação expressa em linguagem matemática
A primeira ilusão destruída foi a de que podíamos controlar a oferta da moeda (mesmo quando havia dificuldade de saber a que seria funcional para o controle da inflação) através da manipulação dos famosos "multiplicadores". Esses dependiam da decisão da autoridade monetária (a fixação das reservas bancárias obrigatórias), do comportamento do sistema bancário (a escolha da reserva "excedente" que lhe dava conforto) e da disposição do público de dividir sua liquidez entre dinheiro no bolso e depósito bancário.

A primeira era uma ação discricionária da autoridade, tomada provavelmente como reação à forma que ela via a "conjuntura". As outras duas dependiam de como o sistema bancário e os outros agentes econômicos a interpretavam. Em poucas palavras, não era o estado da "conjuntura" que era influenciado pela oferta de moeda, mas essa era resultado daquele. Além do mais, havia uma dúvida razoável se a oferta e a demanda de moeda que estabelecem a taxa de juro eram, mesmo, independentes.

O alívio a essa incômoda situação veio de W. Poole (1970), quando perguntou ao modelo macroeconômico então vigente (IS-LM) o que seria melhor para a estabilização do PIB (com preços fixados): controlar a taxa de juros ou os meios de pagamentos? Comparando as variâncias do PIB sob os dois regimes, ele mostrou que a flutuação do PIB seria menor com o controle da taxa de juros, o que acabou mudando toda a política monetária.

Trabalhos posteriores foram refinando e tornando mais incerta a conclusão simplista, principalmente numa economia aberta com câmbio flexível. A verdade é que ainda não podemos distinguir, por exemplo, se diante de uma alta de juros, ela é produto de um deslocamento para cima da curva de oferta global, ou de um deslocamento para cima dos meios de pagamentos, ou, talvez, de uma combinação dos dois.

Antes da crise de 2007-09, depois de superar a mistificação do século - a teoria das "expectativas racionais" -, o limite superior dos sucessivos "aperfeiçoamentos" da ciência e da política monetárias foi o modelo estocástico dinâmico de equilíbrio geral (DSGE) matematicamente sofisticado, mas de duvidosa utilidade, pois não incorporava o crédito. Uma simplificação desse modelo acabou no regime de "metas inflacionárias" construído com três equações que, implicitamente, supõe que o Banco Central conhece, verdadeiramente, como funciona o circuito econômico e, na prática, exige o conhecimento de variáveis não observáveis.

Depois de 2009, houve uma nova corrida teórica e empírica para incorporar ao DSGE os mercados financeiros, da qual o BC do Brasil participa. Mas mesmo aqui, o processo continua ampliando o número de variáveis não observáveis e o conhecimento de suas variâncias, como se a "estrutura temporal" fosse invariante (ergodica) e as variâncias conhecidas e constantes.

No fundo não se aumentou o conhecimento, mas sim o fingimento escondido na construção imaginária de novos parâmetros com variância estimável para o passado, mas incapazes de extrapolação para o futuro.
Trata-se apenas de uma nova versão da piada dos três náufragos, um físico, um químico e um economista, que numa ilha deserta encontram uma lata de feijão e precisam abri-la. O físico propõe abri-la com um golpe de pedra; o químico propõe esquentá-la e fazê-la explodir sob a pressão interna, ambos com riscos de perder o conteúdo. O economista logo corrige os dois. É simples e seguro, suponham que temos um abridor de latas...

A "ciência" monetária ainda não é. Por enquanto, é apenas um festival de magnífica imaginação expressa em linguagem matemática. Isso implica que devemos tomá-la com cuidado e precaução para o exercício da política monetária, mesmo com o "dernier cri" modelo do nosso Banco Central.

FERNANDO DE BARROS E SILVA - A poeta do toma lá, dá cá


A poeta do toma lá, dá cá
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 13/09/11
 

SÃO PAULO - Patrícia Poeta - "Como a senhora controla esse toma lá, dá cá, digamos assim, cada vez mais sem cerimônia das bancadas? Como é que faz esse controle?".
Dilma - "Você me dá um exemplo do dá cá e eu te explico o toma lá".
Poeta - (Fica muda, sem jeito).
Dilma - "Tô brincando contigo".
(Ouvem-se ao fundo as gargalhadas da claque que acompanhava a presidente no Palácio do Planalto).
Este foi o momento mais revelador da entrevista que o "Fantástico" levou ao ar anteontem à noite. É óbvio que a presidente não estava brincando quando, num impulso, inverteu os papeis e colocou Poeta numa saia justa. Diante da falta de reação da entrevistadora, com o domínio da situação, Dilma faz um gesto para tirá-la das cordas e retomar o tom amistoso da conversa.
As risadas dos áulicos da presidente, no entanto, funcionam como um eco da humilhação imediatamente anterior, amplificando-a.
No conjunto, beneficiada pelo clima ameno, dominical da entrevista, Dilma conseguiu uma proeza: agradar àqueles petistas para quem o discurso da faxina é uma conspiração dos conservadores contra o governo e, ao mesmo tempo, àqueles setores que acreditam que ela está, de fato, combatendo a corrupção, com o discurso de que isso é uma tarefa diuturna e sem fim, que não basta só "uma faxina".
Até quando Dilma conseguirá se equilibrar nesse personagem que é mais fictício do que real? Até quando terá êxito essa sua atitude ambivalente, de afirmar e negar a faxina, de querer se apropriar do bônus que isso traz à sua imagem sem arcar com o ônus que uma política mais séria traria ao seu governo?
A política brasileira está estruturada na base do toma lá, dá cá. O lulo-petismo universalizou a fisiologia que um dia quis enfrentar. A base aliada está repleta de saqueadores do bem público. Essa é a argamassa que lhe dá coesão. Combater essa gente a quem o PT se mistura com gosto não significa demonizar a política, mas o contrário.

GOSTOSA


CARLOS HEITOR CONY - O arco e a flecha


O arco e a flecha
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 13/09/11 

RIO DE JANEIRO - Do distante CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) que frequentei, guardei apenas uma definição de guerra: é o conflito violento de duas vontades. Perguntaram a um especialista como seria o próximo conflito mundial e ele respondeu: "a arco e flecha".
Mês passado, no aeroporto de Viena, precisei tirar os sapatos para provar que não tinha nem arco nem flecha escondidos. E confiscaram uma tesourinha de unha que levava na bagagem de mão.
Stefan Zweig se revoltava contra a exigência dos passaportes; ele usava um cartão amarelo dado por uma instituição internacional. Daí que nunca deixou de ser um pacifista radical e chegou a ser criticado por isso, mas não renunciou ao ideal de uma humanidade sem fronteiras e sem guerras.
O 11 de Setembro iniciou, de fato, um tipo de guerra que é o conflito de duas vontades antagônicas, duas visões de mundo que se chocam, uma não entendendo a outra. Não é uma medição de forças. A frota de porta-aviões da Marinha dos EUA pode destruir um continente inteiro em poucos minutos.
O poderio militar, econômico e tecnológico dos EUA levou dez anos para destruir um sujeito magro, que morava em cavernas e andava com um bastão como um pastor de ovelhas inexistentes. O terrorismo é antigo no mundo.
Lembro que uma vez, no metrô da Picadilly Circus (Londres), havia um cartaz com a foto de Menachem Begin, então procurado internacionalmente como responsável pelo atentado ao hotel King David, em Jerusalém, em que morreram diversos oficiais ingleses. Begin chegou a ganhar o Nobel da Paz, em 1978.
Os dois conceitos de mundo e de vida, mesmo para concepções religiosas monoteístas (cristãos, judeus e muçulmanos), esgotados os recursos da economia e da tecnologia, terminarão apelando para o arco e a flecha.

VLADIMIR SAFATLE - Exceção permanente


Exceção permanente
VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 13/09/11 

Dez anos após os ataques que destruíram o WTC, é difícil não se perguntar sobre o que tal acontecimento nos deixou.
Três processos interrelacionados parecem se destacar.
Primeiro, há dez anos o medo conseguiu aparecer como o afeto central do político. Depois da euforia do mundo sem fronteiras patrocinada pela queda do Muro de Berlim e pelas festas de Goa trance, a destruição do WTC conseguiu fazer com que discursos paranoicos de perseguição e violação iminentes de nossas formas de vida colonizassem as preocupações políticas.
Embora atos terroristas tenham sido uma constante desde o fim da Segunda Guerra, nunca eles serviram tão bem a martelar uma cultura generalizada do medo. Graças a tal elevação do medo a dispositivo central da vida social, o campo do político se limitou, em larga medida, à gestão (e produção) da insegurança. Na falta do que oferecer em termos de futuro e de reforma socioeconômica, bravatas securitárias vinham a calhar.
Com isto (e este é o segundo ponto), ficou fácil criar uma situação onde não era mais possível distinguir estado de paz e estado de guerra. A partir do 11 de Setembro, vivemos em um estado de guerra permanente, que permitiu a destruição sistemática de aparatos jurídicos que garantiam direitos civis de inviolabilidade.
Desde o "USA Patriot Act", que criava a suspensão legal de direitos individuais em nome da caça ao terrorismo, até a criação de bancos de dados gigantescos em países como a França, onde até mesmo sindicalistas e líderes estudantis foram fichados, o que se viu foi o uso descarado do 11 de Setembro como justificativa para a consolidação de uma lógica policial na relação entre Estado e sociedade civil.
Tal aparato jurídico, embora criado para situações "excepcionais", tende a permanecer e começar a ser utilizado para as mais diversas funções.
Por exemplo, a Inglaterra não teve pudor em usar leis contra o financiamento do terrorismo para procurar sequestrar ativos da Islândia quando este país decidiu não saldar dívidas, na crise de 2008.
Por fim, os ataques aos EUA produziram um longo processo de fortalecimento do racismo e da xenofobia. Hoje, mais do que nunca, temos a sensação de regredir à época das Cruzadas e de suas batalhas contra os mouros.
A proliferação de trechos da Bíblia e a repetição compulsiva do nome "Deus" nos discursos em homenagem às vítimas da destruição do WTC não é um acaso. Para a Europa, isso veio a calhar, já que um conflito de classe contra a massa pobre de imigrantes desprovidos de direitos pode se transformar em choque redentor de civilizações.
Para os EUA, Barack Obama pode agora ensaiar, sem complexos, o figurino "Ricardo Coração de Leão".

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Tubarões
SONIA RACY
O ESTADÃO - 13/09/11

O Gecep, seção do Ministério Público de São Paulo responsável exclusivamente por investigar corrupção policial, tem nova formação. Com a saída de Fernando Albuquerque de Souza, há pouco mais de um mês, o grupo agora é formado por três promotores substitutos: um com dois anos de MP e outros dois com cinco meses de carreira. Eles foram nomeados pelo procurador-geral.

Indagada sobre a possível inexperiência dos profissionais para desempenhar a função, a assessoria de imprensa responde: "São todos altamente qualificados". Mas avisa que a situação é "temporária".

Doutor candidato O PSDB convidou David Uip, diretor do hospital Emílio Ribas, para ser candidato a prefeito do Guarujá.

Força rosa

Mais um convite. Desta vez de Hillary Clinton para Wanda Engel, do Instituto Unibanco. A brasileira fará parte do recém-criado Conselho Internacional de Liderança Feminina em Negócios. O grupo se reunirá três vezes por ano, em Washington, e fornecerá ao Departamento de Estado dos EUA informações na área de comércio e políticas econômicas internacionais. A missão? Promover o papel da mulher na economia global.

Ensurdecedor

Fecha-se o cerco contra as vuvuzelas na Copa do Mundo de 2014. Ontem, em evento na Fiesp, Ben Groenewald, chefe-geral da polícia da África do Sul, criticou o uso do brinquedo nos estádios.

Sugeriu até que o Brasil proíba o cornetão. Entre outros inconvenientes, o zunido pode encobrir os avisos de segurança nos estádios.

Queijim

O queijo mineiro, quem diria, é tema de polêmica. Helvécio Ratton lançará, no fim do mês, documentário levantando uma questão sobre a iguaria.

Seus produtores, apesar de terem conseguido registro do queijo como patrimônio cultural do Brasil, não têm autorização para comercializar o produto fora do estado de Minas Gerais. Não atendem à legislação federal, criada em 1952.

Eu voltei

Quando o voo que trouxe Roberto Carlos de Jerusalém pousou em Guarulhos, domingo, passageiros gritavam declarações de amor ao Rei. Sem retorno: ele permaneceu recluso na primeira classe.

Bons fluidos

Prestes a ser chamado para falar em Brasília sobre o mensalão, Zé Dirceu decidiu se energizar.

Viajou para a Suíça. Foi ao encontro do amigo Paulo Coelho.

Recursos

Os advogados de Roger Abdelmassih entraram no TJ-SP com mais um pedido de habeas corpus. Querem anular as condenações a 278 anos de prisão. Alegam que, em casos de crime contra os costumes, as vítimas perderam o prazo (de seis meses) para denunciá-lo.

Alta voltagem

Tensão no Encontro Nacional dos Agentes do Setor Elétrico, em outubro. É o que promete a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia. A entidade alega que impostos e encargos - cerca de R$ 18 bilhões em 2011 - diminuem a capacidade competitiva das empresas nacionais. No ranking mundial, somente Itália e Eslováquia cobram mais pela energia.

O evento terá, na plateia, ministros de Estado e representantes de entidades do setor e da Aneel.

Com carinho

Antonio Lins, personagem de Tenda dos Milagres e ex-secretário de Cultura de Salvador, lança novo livro de poemas. Homenagem a Jorge Amado e sua mulher, Zélia Gattai. O escritor baiano faria 100 anos em 2012.

A bênção de Márcia Haydée

"Fazia muito tempo que a dança não me provocava tantas emoções", disse Márcia Haydée, sexta à noite, no camarim do Teatro Alfa, diante de uma Deborah Colker em lágrimas. Era a estreia da coreografia Tatyana, trabalho inspirado na obra Eugene Onegin, de Puchkin.

Estrela internacional da dança nos anos 1960 e 70 (foi a primeira solista do Balé de Stuttgart), Márcia veio especialmente do Chile, onde vive há sete anos, para assistir ao espetáculo. "Fiz justamente o papel de Tatyana na montagem coreografada por John Cranko para a companhia de Stuttgart, nos anos 1960, e me senti emocionada com a bela leitura feita pela Deborah."

Com um sorriso permanente, a coreógrafa sentia-se aliviada. "Se a Márcia não gostasse, eu cancelava a temporada agora", brincou ela, que, pela primeira vez, montou um espetáculo com narrativa. Em cena, Deborah vive o papel do escritor, o russo Puchkin, que acompanha as desventuras amorosas de Tatyana e Eugene.

Muito assediada por bailarinos que a reconheciam na plateia, Márcia Haydée confessou-se impressionada com a agilidade dos profissionais da atualidade. "A desenvoltura física, o trabalho com braços e pernas, tudo parece ser cada vez mais ousado e sem limites."

Em Santiago, ela dirige o Balé Nacional do Chile, cuja experiência internacional ainda é pequena. "Não temos patrocínio para viajar ao exterior; assim, a troca acontece quando recebemos companhias estrangeiras", conta. Foi desta forma que conheceu o trabalho de Deborah Colker, durante uma excursão de Cruel. "Sua passagem por Santiago foi muito útil para o nosso grupo."

Sem perspectivas de voltar a morar no Brasil, a carioca voltou sábado para o Chile. Antes, porém, participou de uma grande festa de confraternização da Companhia Deborah Colker, que festejou até as 4h da madrugada. UBIRATAN BRASIL

Na frente

Jorge Gerdau, Milú Villela e Viviane Senna, entre outros, debatem no Congresso Internacional Educação, promovido pela ONG Todos pela Educação. A partir de hoje, em Brasília.

Attilio Baschera e Gregorio Kramer abrem sua loja hoje, em Higienópolis, para Claudio Hirsch. Ele apresenta o empreendimento El Desafío Mountain Resort, na Patagônia argentina.

Cledorvino Belini, da Fiat, recebe prêmio Personalidade Mundial de Vendas. Segunda, no Clube Sírio.

Fernanda Marques inaugura, amanhã, seu e-commerce de decoração. O SDonline fará parte do Fhits* decòr.

Interinos: Débora Bergamasco, Marilia Neustein e Paula Bonelli.

CLÓVIS ROSSI - Enfim, a crise do capitalismo


Enfim, a crise do capitalismo
CLÓVIS ROSSI 
FOLHA DE SP - 13/09/11

O grave é que governantes insistem em medidas que inibem os tais pilares que justificam o capitalismo


A esquerda passou a maior parte do século passado prevendo a iminente "crise final do capitalismo".Aí veio a "crise final do comunismo" e o alerta, naturalmente, perdeu qualquer sentido.
Eis que ele ressurge agora, no bojo da crise econômica, exposto no mais insuspeito dos lugares -o "Financial Times", bíblia do capitalismo- e pela voz de alguém igualmente insuspeito, pela posição que ocupa. Trata-se de George Magnus, conselheiro econômico-sênior do UBS, o banco suíço que é também ícone do capitalismo.
"O modelo econômico que conduziu o longo 'boom' dos anos 80 a 2008 quebrou. A crise financeira de 2008/09 legou uma crise do capitalismo única em uma geração, cujas pegadas podem ser encontradas em disseminados desafios à ordem política, e não apenas nas economias desenvolvidas", escreveu Magnus.
O texto explica que se trata de uma crise do capitalismo "porque nosso modelo econômico e a definição de políticas não podem produzir crescimento sustentável, adequada formação de renda ou criação de emprego". São, como é óbvio, as três coisas para as quais serve o capitalismo.
Magnus põe números indiscutíveis para calçar sua ousada afirmação. Exemplo: o nível de emprego nos EUA não é maior hoje do que era em 2004. O grave é que, mesmo diante de evidências tão contundentes, os líderes políticos insistem em medidas que inibem crescimento sustentável, adequada formação de renda ou criação de emprego, os tais três pilares que justificam o capitalismo. Basta lembrar a Grécia, que acaba de dar mais uma machadada nesses pilares, ao inventar uma taxa extra no seu IPTU, que pode chegar a € 10 por metro quadrado para imóveis maiores. É escandalosamente óbvio que, com esse novo aperto, sobrará menos dinheiro para consumir/investir, o que só fará agravar a recessão, já estimulada pelo brutal ajuste imposto para que a Grécia receba ajuda europeia e escape do inescapável, o calote de sua dívida. A contração foi de 8,1% no primeiro trimestre e de 7,3% no segundo. Para o total do ano, a previsão agora é de menos 5,3% contra os 3,8% antecipados faz apenas quatro meses.
Alguma surpresa em que haja na Grécia, como escreveu Magnus, "disseminados desafios à ordem política"? Surpresa, na verdade, só com a tardia descoberta do ministro alemão de Economia, Philipp Rösler, de que, "para estabilizar o euro, não pode mais haver tabus. O que deve incluir, se necessário, uma quebra bem organizada da Grécia", escreveu para o "Die Welt".
Em março, o economista-chefe do Deutsche Bank, em conversa informal com um grupo de jornalistas estrangeiros, inclusive este repórter, já dizia que a maneira de enfrentar a crise grega era um corte - que imaginava então de uns 30% - na dívida pública grega.
É óbvio que calote, parcial ou total, organizado ou desorganizado, não vai resolver por si só nem a crise grega nem a crise mais abrangente do capitalismo. Mas, sem ele, tudo indica que esse inoxidável Freddy Krueger econômico que é a instabilidade nos mercados continuará assombrando o mundo e tornando o que era tabu em pauta obrigatória também para outros países.

BENJAMIN STEINBRUCH - BC responsável

 BC responsável
BENJAMIN STEINBRUCH 
FOLHA DE SP - 13/09/11

Deveríamos soltar rojões para comemorar o golaço marcado pelo BC ao cortar em 0,5 ponto a taxa de juro

QUEM FAZ crítica persistente à política de juros elevados colocada em prática pelas autoridades monetárias brasileiras tem a obrigação, mesmo que com duas semanas de atraso, de saudar a grata surpresa de 31 de agosto, quando o Banco Central decidiu cortar em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros.
A questão dos juros no Brasil virou um verdadeiro Fla-Flu, tamanhas são as divergências sobre o assunto. Muitos adjetivos foram atribuídos ao BC após a decisão, alguns ofensivos por parte dos defensores da manutenção da Selic em 12,5% ao ano. No meu caso, acho que o adjetivo mais apropriado para definir a atitude do BC é "responsável".
É muito difícil, quase impossível, encontrar analista no planeta que não preveja um novo período de estagnação econômica global, com recessões localizadas em muitos países desenvolvidos e em alguns emergentes. De forma responsável, o BC procurou olhar para o que vem pela frente, e não apenas para o retrovisor da economia. E viu tormenta.
Nos 17 países da zona do euro, o crescimento do último trimestre foi de apenas 0,2%. Até a resistente e eficiente Alemanha está com a economia praticamente estagnada (0,1% no trimestre), o mesmo ocorrendo na França.
Nesse contexto, seria temerário o BC repetir a atitude de 2008, quando houve a quebra do Lehman Brothers. Tudo apontava para a recessão global e, mesmo assim, o país teve de esperar quatro meses para que houvesse a redução dos juros.
Nesse período, a maioria dos países avançados cortou suas taxas para quase zero. O ex-ministro Delfim Netto estima, num cálculo que ele caracteriza como opinião apenas "impressionista", que esse vacilo custou caro ao país. Em vez da queda de 0,6% no PIB de 2009, poderíamos ter tido avanço entre 2% e 3%. Ou seja, houve perda do PIB que estimo, também de forma impressionista, em uns R$ 100 bilhões.
Internamente, o desaquecimento também já é bastante visível. O crescimento do PIB foi de apenas 0,8% no segundo trimestre, com a indústria praticamente estagnada. Depois de crescer mais de 10% em 2010, a produção manufatureira deve avançar pouco mais de 1% neste ano, segundo estimativas.
Muitos economistas já trabalham com taxa de 3,5% para o PIB deste ano. Para 2012, o desempenho da economia dependerá de decisões como a de 31 de agosto. Se prevalecer a atitude responsável, será possível evitar nova queda no PIB.
Injustificadas são as afirmações segundo as quais o BC teria abandonado o regime de metas de inflação em favor do regime de metas de crescimento.
Na verdade, a manutenção do regime de metas de inflação, que se mostrou eficiente ao longo do tempo, não impede a ação responsável do BC no acompanhamento do nível de atividade econômica, até porque o desaquecimento tem óbvio impacto na evolução dos preços.
Ninguém, em sã consciência, poderia sugerir negligência no combate à inflação. Mas também não se pode ignorar que os sinais inequívocos de que as pressões inflacionárias decorrentes de preços internacionais tendem a diminuir, apesar da resistência da demanda da China. Na Europa, a inflação anual está em 2,5%, ligeiramente acima do teto da zona do euro, de 2%.
Também é inadmissível a ideia de que a decisão de cortar os juros, na contramão da opinião do mercado, põe em xeque a credibilidade do BC.
O fato de o BC ter feito o movimento que o governo supostamente esperava não torna ilegítima sua decisão nem compromete sua autonomia. Da mesma forma, a credibilidade do BC nunca foi posta em xeque nas inúmeras vezes em que seguiu exatamente aquilo que queria e previa o setor financeiro.
Do governo, espera-se a continuidade no processo de austeridade fiscal, com corte de gastos de custeio, nunca de investimentos. A esterilização de R$ 10 bilhões de arrecadação adicional deve ser apenas o começo.
Da autoridade monetária também se espera a continuidade dessa atitude sensível aos efeitos que suas decisões solitárias na fixação dos juros podem ter no emprego e na vida das pessoas. Como num Fla-Flu, deveríamos soltar rojões para comemorar o golaço marcado pelo BC no último dia de agosto.

ROBERTO CARLOS EM ISRAEL


JOÃO PEREIRA COUTINHO - Um nome entre milhares

 Um nome entre milhares
JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 13/09/11 

David Angell mostrou o que somos em "Frasier". E que a nossa salvação não está no martírio; está na ironia


Gostava de ser David Angell, dizia eu, anos atrás, quando assistia a "Frasier" na televisão. Admito que, para espíritos mais sofisticados, os ídolos sejam outros. Kafka. Borges. Talvez Saramago, o parente pobre dos dois.
Sou um rapaz modesto. David Angell chegava e sobrava.
Quem é Angell? Digamos apenas isto: encarnação moderna de Noel Coward na capacidade narcótica de escrever diálogos como Cole Porter escrevia canções. Não existe nada de cerebral na obra de Angell -por exemplo, um homem que acorda inseto e, sei lá, revela ao leitor a grotesca inadaptação do homem contemporâneo.
David Angell não é bicho de profundezas; é bicho de sutilezas. E as frases dele eram cinzeladas de tal forma que se diluíam no ar depois de escutadas. Puro prazer efêmero.
Basta assistir ao trabalho de Angell para televisão. Alguns especialistas citam "Archie Bunker's Place" e "Cheers" como exemplos maiores de uma pena maior.
Não nego. Quem não ri com as colocações do reacionário Archie Bunker deve analisar rapidamente o seu estado neurológico. O mesmo em relação a "Cheers", essa série de camaradagem etílica que quase fez de mim um alcoólatra feliz.
Mas a Capela Sistina é mesmo "Frasier" e sempre que posso volto a ela. Como voltei agora, nos dez anos dos atentados de 11 de Setembro. Coisa bizarra: o mundo repete o mesmo circo midiático sobre o horror -fotos, documentários, declarações, alguns delírios- e eu, deitado no sofá, com um sorriso de orelha a orelha, acompanhando as aventuras e desventuras do dr. Frasier Crane em Seattle. Terei desculpa?
Talvez tenha. Parafraseando a velha sabedoria judaica, se é verdade que salvar uma vida significa salvar a humanidade inteira, não deixa de ser igualmente verdade que relembrar uma vida é relembrar todas as outras.
Os fatos: se o avião da American Airlines onde David Angell viajava naquela manhã de setembro não tivesse batido contra a torre norte do World Trade Center, talvez não estivesse aqui assistindo a "Frasier".
Mas estou. Na contabilidade macabra do 11 de Setembro, temos números que nada dizem de essencial. O que são 3.000 vítimas quando nada sabemos de cada uma delas? A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística, dizia o camarada Stálin, que nesse particular sempre preferiu contribuir para as estatísticas.
Eu prefiro dar a minha contribuição para as tragédias. Como a morte de David Angell. Como a morte de cada vida inocente naquela manhã infame -vidas que David Angell retratou de forma magistral no seu trabalho.
Por isso "Frasier" merece ser visto e revisto. Não apenas para saborearmos -"saborear" é o verbo- o humor, a criatividade verbal, o espantoso ritmo de tramas e diálogos que a televisão americana nunca mais voltou a exibir.
Mas também porque acompanhar a vida de Frasier, psiquiatra e estrela radiofônica; as suas tempestuosas relações com o pai aposentado (e colega de casa); as suas competições profissionais e emocionais com o irmão Niles; as suas homéricas ilusões e desilusões amorosas -tudo isso é uma celebração gentil, urbana, por vezes absurda e absurdamente cômica, que sempre foi anátema para a mentalidade dos fanáticos.
O Ocidente é "Frasier": essa cultura de "perdão" e "ironia", como explicava o filósofo Roger Scruton tempos atrás. Uma cultura onde recusamos a literariedade do fundamentalismo para acomodarmos a imperfeição de que somos feitos. Para nos rirmos dela. E, pelo riso, para perdoarmos e nos perdoarmos a nós.
Sem "perdão" e "ironia", explicava Scruton, as liberdades da civilização ocidental teriam sido inalcançáveis. Como são inalcançáveis em culturas dominadas pela violência e pela intransigência de quem aplica comandos sagrados aos outros.
David Angell mostrou o que somos em cada episódio de "Frasier". E mostrou que a nossa salvação não está no martírio; está na ironia.
Lembrá-lo, nos dez anos do 11 de Setembro, não é apenas evocar uma das vítimas mais famosas daquela manhã.
É retirá-lo daquele avião funesto e permitir-lhe uma última gargalhada sobre o ódio e a escuridão.

JANIO DE FREITAS - Na base do problema


Na base do problema
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 13;09/11 

Assassinato de juíza é uma prova da mistura, sob a mesma farda, de disposição criminosa e função policial


A COMPROVAÇÃO de que são PMs os matadores da juíza Patrícia Acioli, já pressentida desde a hora mesma em que o assassinato foi conhecido, incide na ocasião em que as festejadas ações policiais militares em favelas do Rio são postas em dúvida por reincidências de tráfico e violência em áreas ditas pacificadas. A aparente dissociação de um caso e outro é enganosa: sua associação não é só no tempo, é também nas causas e nos fins.

A criminalidade carimbada como tal cumpre o roteiro previsto desde sua fuga parcial e preventiva, quando advertida de próxima invasão dos seus domínios. Espalhou-se por outras favelas da cidade e por outras cidades do Estado, consta que até do Paraguai. Restabelecida, com o passar dos meses, a calmaria relativa das suas áreas, a não ser por um ou outro evento propagandístico e efêmero, estavam dadas as condições para o retorno progressivo dos fugitivos.

A primeira consequência foram novos confrontos entre ocupantes militares e policiais, de um lado, e os velhos mandatários, de outro. Com o efeito colateral de denúncias de abusos e violências por parte dos ocupantes. E um efeito ainda maior, cuja constatação está sob o risco de ser apenas a primeira entre várias outras prováveis: nem mesmos todos os cuidados na seleção das equipes para as Unidades Policiais Pacificadoras, as UPPs guardiãs da pacificação e da legalidade, evitaram o empreendedorismo de (até agora) dezenas de PMs, que se associaram ao lucro dos traficantes, fornecendo-lhes omissão ou proteção. A gravidade desse desvio, que é também um retorno a práticas anteriores às UPPs, confirma-se pelo afastamento de oficiais em comando de UPP.

O plano simbolizado pelas ocupações e pelas UPPs não tem por que ser questionado. Apresenta resultados muito bons, de vários pontos de vista. Mas a ele subjaz o problema, em escalada, do material humano mais disponível para a função policial em novos moldes, da incógnita de seu desempenho futuro e, talvez ainda maior, da depuração dos contingentes que vêm de anos, tarefa inimaginável em massas de 20 mil, 25 mil homens. Problema nacional.

A morte de Patrícia Acioli foi uma obra a mais dessa composição que mistura sob a farda e a arma a função policial e a disposição criminosa. E não só sob a farda, também sob a deselegância paisana (o que foi que logo ocorreu a cada leitor, ao saber que a Polícia Civil paulista levou uma semana até sentir-se compelida a investigar o assalto aos cofres particulares no Itaú?).

Para tal problema não se vislumbra tentativa de solução. Muito menos se, à sua procura, voltarmos o olhar para duas conchas brasilienses. Mas talvez, aí, entendamos alguma coisa.

MÔNICA BERGAMO - PEÇA NACIONAL


PEÇA NACIONAL
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 13/09/11

O governo e as centrais sindicais devem se reunir nesta semana para discutir acordo para manter o nível de emprego nas montadoras em tempos de crise. Em pauta está a possibilidade de o governo diminuir o IPI para empresas que usarem maior número de peças fabricadas no Brasil.

PEÇA 2
As centrais defendem cota de 80% de peças nacionais.

DEPOIS DA ELEIÇÃO
Surpresos com a informação de que o ministro Joaquim Barbosa, do STF (Supremo Tribunal Federal), deve apresentar seu relatório sobre o mensalão em maio de 2012, os réus do processo refizeram cálculos. Concluíram que o julgamento só ocorrerá mesmo em 2013. É que Ricardo Lewandowski apreciará o caso como ministro revisor. Imagina-se que por seis meses.

LITERATURA 1
Barbosa pretende escrever um livro depois do julgamento do mensalão.

LITERATURA 2
Já José Dirceu lança livro no fim do mês: "Tempos de Planície". Prepara noites de autógrafo em Brasília e SP.

LITERATURA 3
E Delúbio Soares lança na sexta CD "interativo" para navegação em seu site. Com direito a trilha sonora com "O Trenzinho do Caipira", de Villa-Lobos, "Xote das Meninas", com Marisa Monte, "Volver a los 17", com Mercedes Sosa, e "Águas de Março", com Tom e Elis.

VISITA ILUSTRE
A pichadora Caroline Pivetta, condenada a quatro anos de prisão por ter invadido e sujado as paredes da Bienal de SP em 2008, foi convidada para pichar a Bienal de Berlim em 2012.

SENTENÇA
Pivetta, por sinal, passará por novo julgamento.

Na quinta, o Tribunal de Justiça de SP apreciará recurso em que ela pede a suspensão da condenação.

LARANJADA
O documentário "Il Était une Fois...Orange Mécanique" ("Era uma Vez...Laranja Mecânica", em francês), de Antoine de Gaudemar, será uma das atrações da Mostra Internacional de Cinema de SP, que começa no dia 21 de outubro. A produção traz entrevistas com atores, amigos e familiares de Stanley Kubrick, diretor de "Laranja Mecânica", longa que completa 40 anos em 2011.

SUPERAÇÃO
Bernardinho, técnico da seleção masculina de vôlei, diz que já tem alguns capítulos de seu terceiro livro sobre superação e motivação prontos. "Já virei algumas noites escrevendo. Mas só vou terminar depois da Olimpíada de 2012", diz.

MISSA CAMPAL
O DVD "No Meu Interior Tem Deus", que o padre Fábio de Melo gravará amanhã com show no Teatro Abril, em São Paulo, será só de clássicos sertanejos.

Ele vai cantar músicas como "Tocando em Frente", de Almir Sater, e "Disparada", de Geraldo Vandré.

MUITA LUTA
O evento de MMA Jungle Fight, que aconteceu no sábado no Ibirapuera, em São Paulo, assinou contrato com a prefeitura para mais cinco edições. A primeira será em 17 de dezembro; as outras estão previstas para 2012.

FLASH
Fotos de entrevistados ao longo de 30 anos de carreira de Amaury Jr. serão reunidas em um livro editado pela Décor para comemorar a data. A ideia do apresentador é lançar a obra ainda este ano, em novembro.

COCAR NO MUSEU
A antropóloga Betty Mindlin conferiu a abertura da exposição "ArteFatos Indígenas". A galerista Vilma Eid também foi ao Pavilhão das Culturas Brasileiras, no parque Ibirapuera.

FESTA TRIPLA
As atrizes Fernanda Paes Leme e Julia Faria foram ao aniversário de Marcos Maria, André Vasco e Cadu Mendes Caldeira na Disco. Anna Botelho do Amaral também circulou pela balada, no fim de semana.

CURTO-CIRCUITO

O chef Luciano Boseggia faz jantar degustação hoje, às 20h, no Le Tire Bouchon.

O programa "Cultura Livre" terá festa de dois anos hoje, às 21h, na Serralheria. 18 anos.

Fernanda Young e Renata Simões comandam hoje leilão do Move Institute, no Gorila Café.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY