domingo, setembro 29, 2013

ÍNDICE DAS POSTAGENS DE HOJE NO BLOG

A sala de espera do analista - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 29/09

Sempre que saio da minha consulta no analista, há uma senhora na sala de espera aguardando sua vez. Antes, eu cruzava por ela e fazia um aceno educado com a cabeça. Com o tempo, passei a sorrir e dizer tudo bem?. Em breve, me sentirei tão à vontade que perguntarei : E aí, qual é a sua encrenca? Dificuldade de desapegar, síndrome do pânico, bipolaridade?

E tudo terminará num bistrô, entre boas risadas.

Obviamente, meu comportamento demonstra um desajuste. Não é por acaso que preciso frequentar um profissional que aperte meus parafusos frouxos.

Já quando sou eu que estou na sala de espera aguardando, a situação se inverte. O paciente anterior sai e nem olha para os lados. Cruza por mim como se eu fosse uma cadeira vazia. Nem uma espichada de olhos, nem um esgar, nem um grunhido. Não existo. Ele passa reto. Sou uma cadeira.

Eu poderia ficar com a autoestima abalada, ele não sabe o risco que está causando. Ou talvez saiba, mas não se importa com o que sinto. Será que ele não se importa com o que sinto? Acho que estou desenvolvendo um complexo de inferioridade. Mais essa agora. Desse jeito, minha alta não virá nunca.

Sempre que entro em uma pequena sala de espera, qualquer que seja, cumprimento quem ali está. Não saio distribuindo beijinhos, mas demonstro educadamente que percebi a presença de outros no recinto. Logo, é natural que eu faça o mesmo numa sala de espera que frequento toda semana à mesma hora, e onde eventualmente vejo as mesmas pessoas saindo ou entrando. Compartilhamos uma rotina, ora.

Só que não é simples assim. Ninguém fica com vergonha de ir ao dermatologista, ao oftalmo ou ao otorrino, mas consultar um analista ainda é algo extremamente íntimo. Os pacientes sentem-se constrangidos ao serem vistos num ambiente onde costumam confessar seus traumas e fraquezas.

Talvez não acreditem na eficiência do revestimento acústico das paredes, desconfiam de que aquela criatura ali na sala de espera escutou os detalhes de suas compulsões sexuais e de suas neuroses cabeludas. Era para ter ficado tudo em segredo, era para ter sido um momento privado, inviolável, confidencial – e é! – porém, em poucos minutos, aquele estranho sentará na mesma poltrona (ou deitará no mesmo divã) e privará dos cuidados do mesmo profissional, imediatamente depois de termos estado ali, e a sensação é de promiscuidade.

Queremos acreditar que o terapeuta é só nosso.

Mas não é: o paciente sentado na sala de espera revela que somos apenas mais um, que nossos problemas não são o centro da atenção de quem nos analisa e de que é provável que as paranoias dele sejam mais interessantes do que nossos questionamentos banais. Intolerável. Melhor mesmo fazer de conta que ali fora está apenas mais uma cadeira vazia.


Esqueça tudo isso - J.R. GUZZO

REVISTA EXAME

Ante a decisão do Supremo de rever sentenças do mensalão, a atitude mais sensata para quem vive no Brasil é cuidar da vida e ficar longe de litígios com o poder público, pois é inútil esperar que o Estado seja lógico

Esqueça o ex-ministro José Dirceu. Esqueça os deputados José Genoino, João Paulo Cunha e Valdemar Costa Neto. Esqueça os 12 réus do mensalão que estavam condenados em definitivo pelo Supremo tribunal Federal (STF) e que não estão mais. Esqueça que as sentenças do STF. pelo senso comum mais elementar, são definitivas, já que não existe nenhuma outra corte de Justiça acima dele; no Brasil não é assim que as coisas funcionam, e o tribunal supremo, quando lhe dá na telha, pode decidir que não é supremo e julgar de novo o que já tinha julgado. Esqueça os 15 minutos de fama conquistados pelos "embargos infringentes", coisa da qual ninguém tinha ouvido falar até hoje fora do mundo jurídico e que ultimamente era assunto debatido em balcão de padaria. Esqueça, sobretudo, esses momentos constrangedores para a história brasileira durante os quais a grande, imensa questão nacional era: José Dirceu vai dormir na cadeia ou vai dormir em casa? Esqueça-se tudo o que a antiga musa canta, pois um valor mais alto se alevanta. Esse valor estabelece que a atitude mais sensata para quem vive neste Brasil de 2013 é cuidar da própria vida e ficar o mais longe possível de qualquer litígio que possa ter algo a ver com o poder público - pois tornou-se perfeitamente inútil, hoje cm dia. contar com a esperança de que o Estado brasileiro se comporte dentro das regi as da lógica. Conseguimos virar um país imprevisível.

Bota imprevisível nisso, aliás. Como prever que a cama onde o ex-ministro Dirceu deve dormir a cada noite pudesse, um dia, tornar-se um supremo debate para o pais? Francamente, não dá. Causa mais espanto, ainda, a nova fronteira que divide esquerda e direita no Brasil: a esquerda é a favor dos "embargos infringentes". a direita é contra. O que diriam Marx e Lenin de um negócio desses? Pelo que está escrito, e portanto deveria valer, os 12 réus condenados a penas de prisão fechada pela mais alta corte de Justiça de nossa terra, numa ação penal por corrupção que chegou ao fim, teriam de ir para a prisão, não é mesmo? Teriam, mas agora não vão mais. Quer dizer, então, que ficaram livres de uma vez? Também não. Os "embargos" que lhes foram concedidos estipulam que vão ser julgados de novo - pelas mesmas acusações pelas quais o tribunal já os condenou, por considerar que sua culpa ficou provada, num processo que começou oito anos atrás e continua em aberto. Nada melhor, para revelar como funciona a cabeça de quem fez essa salada, que a pergunta do Ministro Ricardo Lewandowski durante os últimos debates no STF a um colega que achava que essa história toda já foi longe demais e precisa acabar um dia: '"Qual é a pressa?"

Lewandowski é o capitão do time da esquerda, e o presidente do STF, Joaquim Barbosa, o capitão do time da direita. nesse jogo que acabou empatado em 5 a 5 e teve de ser decidido pelo voto do ministro Celso de Mello - um monstro da direita pelas indignadas condenações que vinha fazendo ao longo do processo, agora transformado em herói da esquerda por desempatar a partida em favor dos réus. Mello precisou de 2 horas inteiras para dizer "sim" ao pedido de desfazer o que já estava feito, no patuá incompreensível que o "egrégio sodalício" considera prova de seu saber jurídico, mas na verdade serve apenas para ocultar a escassez, de sua atividade mental. ("Egrégio sodalício" é como os ministros chamam o STF.) Com isso. socou pelo menos mais um ano de duração no processo - e como a presidente Dilma Rousseff, nesse meio-tempo, fez duas novas contratações para o time da esquerda com a indicação dos ministros Teori Zavascki e Paulo Barroso, é muito plausível que, no fim de todas as contas, José Dirceu etc. durmam na cama que preferirem - e, principalmente, que acabem passando o dia inteiro onde quiserem.

Talvez., pensando bem. não faça diferença nenhuma. Dirceu, ou qualquer dos outros, vai ser presidente da República? Não vai. Já está de bom tamanho no Brasil que temos ai.


Punir é crime? - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 29/09

Para nossos juízes, punir é coisa retrógrada, resquício de um tempo que a modernidade superou


Evitei me manifestar de imediato sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu a pertinência dos embargos infringentes.

Evitei, primeiramente, porque, naquele momento, todo mundo tratou de dar sua opinião, fosse contra ou a favor daquela decisão. Como não sou jurista nem pretendo ser mais lúcido que os demais, preferi ler as entrevistas e artigos então publicados, para melhor avaliar não só o acerto da decisão adotada pelo STF, como as possíveis consequências que ela inevitavelmente provocaria no juízo da opinião pública em face de tão importante julgamento.

Passada a onda, a sensação que me ficou foi a mesma que, de maneira geral, a nossa Justiça provoca nos cidadãos: a de que este é o país da impunidade. Trata-se de uma sensação hoje tão disseminada na opinião pública que se tornou lugar-comum. Apesar disso, diante desse novo fato que chocou a nação, me pergunto: de onde vem isso? O que conduz a Justiça brasileira a inviabilizar as punições?

Não pretendo ter a última palavra nessa questão, mas a impressão que tenho é de que, para nossos juízes, punir é coisa retrógrada, resquício de um tempo que a modernidade superou. Em suma, punir é atraso --e o Brasil, como se sabe, é um país avançado, moderninho.

Não foi por outro motivo, creio, que certa vez um advogado me disse o seguinte: quando a sociedade condena alguém, quase sempre quer se vingar dele. Essa visão aqui evocada levou um célebre advogado, dos mais prestigiados do país, a propor o fim das prisões.

Pensei que ele estivesse maluco mas, ao falar do assunto com um outro causídico, ouvi dele, para minha surpresa, que aquela era uma questão a ser considerada seriamente. Só falta meter na cadeia os homens de bem e entregar a chave a Fernandinho Beira-Mar.

Seja como for, a verdade é que há alguma coisa errada conosco. Punir não é vingança, mas a medida necessária para fazer valer as normas sociais. Comparei, certa vez, o ato de punir às decisões tomadas por um juiz de futebol. O jogo de futebol, como todo jogo, só existe se se obedecem as normas que o regem: gol com a mão não vale, chutar o adversário é falta e falta na área é pênalti. Se o juiz ignora essas regras e não pune quem as transgride, torna a partida inviável e será certamente vaiado pela torcida adversária. Pois bem, o convívio social, como o jogo de futebol, exige a obediência às regras da sociedade.

Quem rouba, mata ou trafica, por exemplo, está fora das regras, isto é, fora da lei --e por isso tem que ser punido. Punir é condição essencial para tornar viável a vida em sociedade. Se quem viola as normas sociais não é punido, os demais se sentem à vontade para também violar aquelas normas.

É o que, até certo ponto, já está acontecendo no Brasil, particularmente nos diferentes setores da máquina pública, tanto no plano federal, como estadual e municipal. E aí há os que praticam peculato como os que entopem os diferentes setores do governo com a nomeação de parentes e aderentes, sem falar no dinheiro que desviam para financiar o partido e, consequentemente, sua futura campanha eleitoral.

Às vezes os escândalos vêm à tona, a imprensa denuncia as falcatruas, processos são abertos, mas só para constar, porque não dão em nada, já que, neste país avançado, punir é atraso.

Mas um ânimo novo ganhamos todos com o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Durante meses, todos assistimos pela televisão à exposição dos crimes praticados contra a democracia brasileira e, finalmente, à condenação dos réus. Enfim, ia se fazer justiça.

Mera ilusão. Logo em seguida, passou-se a falar nos embargos declaratórios e nos embargos infringentes. Veja bem, durante a vida inteira ouvi dizer que das decisões do Supremo não cabem recursos.

Ainda bem, pensava eu, pelo menos há um momento em que a condenação é irreversível. Sucede, porém, que com a validação dos embargos infringentes, isso acabou. Nem mesmo as decisões da Suprema Corte, agora, são para valer. Os beneficiados com os tais embargos, que no dia daquela decisão eram 12, já se anuncia que serão 84. Isso, por enquanto.


GOSTOSA


Pelo Haroldo! - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O ESTADÃO - 29/09

Homem e mulher na cama.

– Foi bom? – Foi. – Muito bom ou só bom?

– Francamente, eu...– Está bem, está bem. Me dá uma nota. De zero a 10, que nota você me dá?

– Sete. – Sete?!

–Você quer que eu minta, Haroldo? Estou sendo franca. Você me pediu uma...

– Peraí. Que foi que você disse?

– Eu disse que estava sendo franca.

–Não, antes. Você disse: “Você quer que eu minta, Haroldo”.

– É. – O meu nome não é Haroldo!

–Não é? – Grande. Você me confundiu com outro. –Se você não é o Haroldo, então quem é?

– E eu vou dizer? Com nota sete, eu vou dizer quem eu sou?

– Mas...–Vamos de novo. Apaga a luz. Pelo Haroldo!

Disfarça, Disfarça

Dois homens tramando um assalto.

– Valeu, mermão? Tu traz o berro que nóis vamo rendê o caixa bonitinho. Engrossou, enche o cara de chumbo. Pra arejá.

– Podes crê. Servicinho manero. É só entrá e pegá.

– Tá com a máquina aí? – Tá na mão.

Aparece um guarda.

– Ih, sujou. Disfarça, disfarça... O guarda se aproxima deles.

– Discordo terminantemente. O imperativo categórico de Hegel chega a Marx diluído pela fenomenologia de Feurbach.

– Pelo amor de Deus! Isso é o mesmo que dizer que Kierkegaard não passa de um Kant com algumas sílabas a mais. Ou que os iluministas do século dezoito...

O guarda se afasta. – O berro, tá recheado? – Tá. – Então vamlá!

Para o maridinho

– Meu bem...Você está deslumbrante!

– Tudo para você, querido.

– Esse penteado...

– Fui a cabelereiro e pedi um corte novo para o meu maridinho me achar desejável. Fui ao maquiador e pedi que me deixasse sexy para atrair meu maridinho. Comprei esta camisola provocante para enlouquecer você.

– E conseguiu, meu amor. Você está...

– Não me toca senão estraga tudo!

Cada coisa

Rubenval tinha um lema: confidência em salão de beleza é sagrado. Segredos ditos a um cabeleireiro eram mais invioláveis do que os segredos do confessionário. Os ouvidos de um padre eram apenas os receptores de Deus, para quem os fiéis se confessavam diretamente. Trair uma confidência de confessionário seria como grampear o telefone de Deus. Rubenval não sabia exatamente com que entidade superior a pessoa falava quando falava com seu cabeleireiro, só sabia que merecia o mesmo respeito. E olha que ele ouvia cada coisa...

– Que coisas, Ru? Conta. – Jamais!

Mas Rubenval começou a ficar nervoso depois que seu salão virou, como ele diz, unisexi. Rubenval não sabia o que era confidência escandalosa até começar a fazer cabelo de homem também. Eram inimagináveis, as coisas que ouvia fazendo “boufands” em políticos e mechas em líderes empresariais. Os homens, muito mais do que as mulheres, pareciam perder toda a discrição depois de um xampu. Rubenval não se sente a vontade, com tanta informação acumulada e está até com um problema na pele, de tanta tensão.

– O que eles dizem, Ru? Dá uma amostra.

– O quê? Eu, derrubar a República?

Sonhos rebobinados - HUMBERTO WERNECK

O Estado de S.Paulo - 29/09

Um a um, em contagem regressiva rumo ao grand finale, as quatro meninas e o menino foram chamados ao palco, onde os esperavam uma placa, um cheque e o carinho consagrador da escritora Adélia Prado. Escolhidos entre os alunos de 21 escolas de Araxá, no Triângulo Mineiro, ali estavam como vencedores de um concurso de redação cuja cerimônia de premiação, na sua singeleza, foi um dos momentos mais simpáticos do Festival Literário de Araxá, o Fliaraxá, bolado e orquestrado pelo azougue cultural Afonso Borges. Simpático e também dos mais tocantes, inclusive para um calejado senhor que, sem qualquer parentesco ou relação com os premiados, muito se emocionou. Por um instante, na plateia, ele se pegou a lamentar o fato inelutável de que não vá estar aqui quando, daqui a não muitos anos, se saberá talvez o que foi feito dos jovens protagonistas daquela cerimônia. E não houve como não rebobinar enredos semelhantes, vividos na longínqua juventude.

Sim, este cronista, quem duvidaria?

Em 1964, aos 19 anos, entrei no Concurso de Contos da Prefeitura de Belo Horizonte, o mesmo certame em que brilhara repetidas vezes o craque Ivan Angelo. Certo de haver produzido uma pérola da ficção, inscrevi A Volta, conto no qual, entre outros horrores estilísticos, havia um telhado que "esplendia ao sol em iridescências feéricas". Paguei caro. Meses mais tarde, já curado de tamanha literatice, alguém a quem fui apresentado me reconheceu e, numa roda, espezinhou: "Ah, você é o cara das 'iridescências feéricas'"...

Pois bem: na empolgação de haver parido semelhante joia, perpetrei mais um conto, Aniversário de Formatura, que me pareceu menos bom que o precedente, mas ainda assim digno de concorrer ao prêmio. Levei os dois primeiros lugares - e o preferido dos jurados (aquelas antas, fulminei) não foi o tal do telhado iridescente.

Os contos foram publicados em domingos consecutivos no Estado de Minas, e na ansiedade por vê-los impressos fiz vigília na boca das oficinas do maior jornal mineiro, embriagado, devo admitir, não só de glória literária. Ganhei um cheque de 8 mil cruzeiros, e, ao descontá-lo no banco, a custo refreei a vontade de proclamar ao caixa, aos circunstantes, ao mundo inteiro, que aquele não era um dinheiro qualquer.

Mais adiante, venci um concurso universitário, e recebi das mãos de Alceu Amoroso Lima um cheque cujo valor já não lembro. Mas não esqueço o que considerei o maior prêmio: um dos jurados era o grande Murilo Rubião, que eu não conhecia e me mandou um exemplar de Os Dragões e Outros Contos, ofertado a um "contista que muito promete". Fiquei lhe devendo, Murilo, a você e a mim, o cumprimento da promessa.

Fez mais aquele que para mim seria um generoso padrinho: levou-me para trabalhar com ele no Suplemento Literário semanal que havia criado na aridez burocrática do Minas Gerais, o diário oficial do Estado, e que 47 anos depois sobrevive, publicado mais espaçadamente, sob o comando benfazejo do contista e romancista Jaime Prado Gouvêa. Ali botei os pés no jornalismo (os quatro, diria algum desafeto), ao preço de alguns tropeços - nenhum deles maior que uma desastrada entrevista, talvez a segunda na minha não premeditada carreira jornalística, com Clarice Lispector, episódio que para o aprendiz de repórter não foi menos que um "traumatismo ucraniano".

Já não sei que uso fiz dos caraminguás de autor vitorioso naqueles torneios literários. Algo não muito diferente, imagino, do que estarão fazendo agora com seus cheques a Natália, o João Vitor, a Ashiley Caroline, a Marina e a Camilly, jovens confrades premiados no Fliaraxá, a quem mando daqui os meus melhores votos. Talvez algum deles tenha sido, como eu próprio aos 19, assolado pela vertigem de sobreloja - aquela sensação, ainda nos primeiros degraus, de haver alcançado o topo do edifício. Não faz mal se assim for. Será apenas um delírio a que todo aspirante tem direito, capaz de acionar o motor de sonhos legítimos, e de consolar o sonhador quando a realidade fizer baixar a fervura. Fico pensando no que disse, com humildade e sabedoria, alguém que foi muito além da sobreloja, o poeta e cronista Paulo Mendes Campos: "Na carreira literária, a glória está no começo. O resto da vida é aprendizado intensivo para o anonimato, o olvido".

Marina, ônibus e professores - CAETANO VELOSO

O GLOBO - 29/09

Educação é o tema mais importante dentre todos os que a sociedade brasileira fez questão de mostrar que a afligem e impacientam


A greve dos professores do Rio é um assunto que deveria estar sendo acompanhado com mais atenção. Educação é o tema mais importante dentre todos os que a sociedade brasileira fez questão de mostrar que a afligem e impacientam. O modo como os professores do Rio vêm sendo tratados pela prefeitura deveria despertar protestos mais audíveis e visíveis. A classe média (e não só a classe média) saiu às ruas muitas vezes recentemente para demonstrar que não está sedada. O clamor por melhoria no tratamento dado à educação, em todos os níveis, foi ponto central dessas movimentações. Que os professores continuem se manifestando, através da greve e de idas em grupo à Câmara dos Vereadores, é sinal de que o essencial do desassossego brasileiro não está amortecido. Levar uma palavra ou um gesto de apoio ao movimento dos profissionais da educação é, neste momento, uma mostra de coerência da parte de quem se mexeu para não deixar tudo como está. Estive viajando e trabalhando muito, por isso não pude ver melhor tudo o que se passa nesse drama. Mas não quero deixar de fazer aqui um aceno em direção os professores grevistas.

Em que pé ficou a CPI dos ônibus? Outro assunto que não se podia deixar morrer. Estive em Montevidéu e Buenos Aires, numa viagem que durou uma semana, com show ao ar livre na primeira das duas cidades, sob uma temperatura que tinha descido, com as chuvas de uma frente fria, de 30 para 8 graus. Os shows foram ótimos, as plateias do Rio da Prata sendo as melhores que se podem imaginar. Mas tudo isso me deixou sem tempo para acompanhar os desdobramentos desses episódios. E com um resfriado renitente que me impede de me mover um pouco mais. Meu amigo Arnaldo Brandão, o grande baixista, cantor e compositor, tinha me trazido um recado de Bia Provasi me convidando para cantar na Cinelândia, em frente à Câmara Municipal, como parte da ocupação do local por manifestantes que exigem limpeza no trato do tema transporte urbano. É assunto incontornável. Mas eu não pude comparecer. A boa viagem ao Cone Sul me tomou toda a energia de que dispunha. Mas sigo interessado em sentir os resultados da chacoalhada que o Brasil deu.

Acima de tudo, me pergunto o que acontecerá com o partido que Marina Silva se esforça para criar. (Enquanto escrevo, chega-me aqui o e-mail de um amigo professor que diz: “Os profissionais da educação tomaram a Câmara dos Vereadores”.) Será impossível para o grupo no poder (o PT de Dilma) evitar a desconfiança provocada pelas complicações legais criadas por cartórios na avaliação das assinaturas para a fundação do partido Rede Sustentabilidade. Muita gente que foi às ruas — e muita gente que não foi mas se sentiu inspirada pelos que foram — declara intenção de voto em Marina. Eu também. Por que tantos partidos são criados e justamente o da mais forte candidata em oposição à reeleição de Dilma se vê embargado? (Acabo de ler que o Ibope mostra larga vantagem de Dilma sobre Marina nas pesquisas. Será que assim os critérios de avaliação das assinaturas se tornarão menos esquisitos?) Li o artigo de Bechara sobre a estranheza das dificuldades apresentadas pelos cartórios à fundação da Rede. Mas o sentido mais profundo de tudo isso aparece com clareza total em outro artigo: o de Demétrio Magnoli. É que ali se discutem os próprios princípios que regem a criação de partidos. Em suma, a elite política fica com o poder de admitir partidos inócuos que possam servir de coadjuvantes de seus interesses, mas uma real liberdade política referente à fundação de agremiações partidárias, nem pensar.

Sou cantor de rádio. Meus modelos são Ângela Maria, Cauby, Nora Ney, Jorge Goulart, Dolores Duran, Maysa. Sou autor de canções. Meus mestres são Ary Barroso, Dorival Caymmi, Assis Valente, Tom Jobim, Carlos Lyra, Dolores Duran, Maysa. Nora Ney e Jorge Goulart eram comunistas. Em Santo Amaro víamos isso como uma prova da superioridade moral e intelectual deles. Dolores foi à URSS com o casal e não gostou do que viu. Jorge defendeu os comunistas das críticas de Dolores. Depois vi gente de teatro e cinema com a exigência de exibir consciência social. Pessoas sérias devem ler o que digo sobre política com um pé atrás. Não errei com a camisa preta. Errei sobre a autoria do filme em que aparece a máscara de Guy Fawkes. (Meu amigo acaba de me enviar link para Ninja sobre profissionais de educação da Câmara.) Quero escrever sobre Maria Rita cantando “Caminho das águas”. E ia escrever hoje menos samba-do-crioulo-doido. Mas não deu. Sigo vendo na Ninja os profissionais da educação em frente à Câmara. Me pareceu ver Rafael com um cocar de índio.

Vida após a morte - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 29/09

SÃO PAULO - Existe vida após a morte e ela influencia nossas ações de forma bastante profunda. Calma, espíritas, eu não me converti. Isso é só uma forma de descrever as ideias do filósofo Samuel Scheffler, que acaba de publicar "Death and the Afterlife", em que expõe provocantes experimentos mentais e tira conclusões que são em seguida comentadas por outros filósofos.

Num desses testes, você é informado de que viverá sua vida normalmente e morrerá de forma tranquila. Mas, 30 dias após seu passamento, um asteroide colidirá com a Terra destruindo todos os seus habitantes.

Acho que a maioria de nós concorda que esse é um cenário perturbador. Embora ele em nada altere a extensão de nossas vidas individuais, pode afetar decisivamente o modo como iremos vivê-las. Se você é um pesquisador de câncer ou um engenheiro que desenvolve técnicas para edificar usinas nucleares mais seguras, talvez desista desses projetos. O mesmo vale para romancistas e músicos tentando compor obras-primas e para ativistas políticos que buscam construir um futuro melhor.

O curioso é que essas pessoas dificilmente reagiriam da mesma forma se fossem só informadas do fim iminente de seus dias. A maioria dos que recebem diagnóstico de doença terminal não desiste de tudo. Mais, sabemos que a humanidade não é eterna e que em alguns milênios não haverá ninguém para contar ao vivo a história de nossa espécie. Isso, porém, não parece suficiente para nos roubar o sentido de propósito.

Para Scheffler, experimentos mentais como esse mostram que a existência de pessoas que ainda não nasceram e que jamais amaremos sob certos aspectos, notadamente no que diz respeito ao valor que atribuímos às coisas, significa mais para nós do que nossas próprias vidas. Segundo o autor, isso basta para relativizar pressuposições comuns sobre o egoísmo humano. É aí que o debate entre os filósofos fica interessante.

Um alvo irresistível - SÉRGIO AUGUSTO

O Estado de S.Paulo - 29/09

Buganvílias multicoloridas na saída do aeroporto de Nairóbi. Foi essa a primeira imagem marcante que tive, ao vivo, do Quênia. Não reconheceria agora sua capital, tantos anos se passaram e tão moderna-ou modernosa-ela ficou. Parecia, nos anos 1980, uma cidade do interior do Brasil de meados do século passado. Por ela passei ligeiro, abreviando meu curso para o que o Quênia e o resto da África têm de melhor: as savanas e sua vida selvagem. Nem sequer peguei em atividade seu mais antigo centro comercial, o Yaya (assim batizado em homenagem ao célebre blues de Lee Dorsey), cuja construção foi um dos primeiros sinais da forte urbanização que a antiga colônia inglesa experimentaria nas décadas seguintes.

Vinte e cinco anos atrás, menos de 30% dos africanos viviam em cidades. Daqui a 12 anos, mais da metade da população do continente será citadina. A África se cosmopoliza rapidamente, não quer ser apenas conhecida por seus parques nacionais e seus safáris, pelas minas de diamantes, por sua limitada agricultura, mas também por outras riquezas e atrações turísticas, como um polo comercial, financeiro e de serviços em sólida expansão.

Empreiteiras chinesas constroem estradas no Congo e Madagáscar. Companhias sul-africanas põem o alô-alô ao alcance de toda a vizinhança. Com a classe média que mais velozmente cresce no Hemisfério Sul, a África tem, hoje, mais assinantes de telefonia móvel que os Estados Unidos e a União Europeia. Nesse ritmo, creem os mais otimistas, só a miséria deixará de prosperar no continente. Por enquanto, isso não passa de uma quimera. Os contrastes ainda saltam à vista: 70% dos africanos moram em favelas, 40% dos quenianos vivem na pobreza absoluta.

Até algum tempo atrás, o Quênia não passava, aos olhos de fora, de um imenso parque nacional, com seus sedutores lodges no meio da bicharada e o Mount Kenya Safari Club que o ator William Holden construiu para o smart set internacional. Suas reservas ainda atraem turistas aos magotes, mas a pergunta que mais fazem a quem acaba de chegar de lá é "você foi ao shopping mall em Nairóbi?".

O aludido shopping é o mesmo Westgate há dias invadido por terroristas do Al-Shabab. Aberto ao público em 2007, de pronto o perceberam como um símbolo conspícuo do novo Quênia, o mais vistoso cartão postal do cosmopolitismo de sua capital, o paraíso da classe média local, a meca dos flâneurs e consumistas estrangeiros, o point favorito da abonada comunidade asiática, e até mesmo de uma fração dos 450 mil somalis residentes no país.

Westgate tornou-se uma espécie de World Trade Center do Quênia, um alvo mais atraente para o jihadismo do que qualquer prédio público ou estação rodoviária justamente por seu valor simbólico, pela fragilidade de seu sistema de segurança e porque seus proprietários são judeus e representam, na visão xenófoba dos mujahedin do Al-Shabab, "o materialismo capitalista ímpio e malsão".

"Nem parece Nairóbi", seus visitantes mais deslumbrados costumam dizer. Confortável e luxuoso, com ar condicionado perfeito, cafés, restaurantes, butiques grifadas e áreas de repouso, refúgio igual os quenianos, especialmente os favelados de Kibera, jamais tiveram. Muitos dos seus visitantes nunca haviam visto um banheiro de perto. É o espaço realmente democrático da cidade, aberto a todas as classes sociais, sem inspeções e triagem na porta, guardas só para evitar acidente triviais, como tropeçar ou cair na escada rolante, por exemplo, como amiúde acontecia nos primeiros tempos do Yaya Mall.

O ataque da Al-Qaeda à Embaixada dos Estados Unidos em Nairóbi, 15 anos atrás, atingiu o plexo dos americanos; a chacina do Al-Shabab no Westgate Mall foi um direto no fígado do governo de Uhuru Kenyatta e um choque no coração dos quenianos ou onde mais eles guardem seu orgulho, suas fantasias de ascensão social e seus medos.

Nas Américas, shopping malls são tidos como recintos caretas, sem charme, assépticos, emblemas do conformismo. Na África, ao contrário, os centros comerciais promovem a sociabilidade, são pontos de aglutinação até de artistas e intelectuais. Limpíssimos, muito bem iluminados, decorados com discutível sofisticação e variada escala de delírios (rios, bulevares, praias, florestas artificiais, como em Las Vegas), oferecendo iguarias de todas as partes do mundo, funcionam como uma antessala do primeiro-mundismo. Sem as grades que segregam as residências dos ricos e mantêm os pobres a distância.

Em Johannesburgo, na África do Sul, todo mundo frequenta o Sandton City Mall, com a mesma assiduidade com que os personagens de Casablanca iam ao Rick's Café Américain. Os zambianos se vestem com esmero de festa quando aos sábados vão ver as modas (e xeretar as 11 lojas de eletrônicos) no Manda Hill Mall de Lusaka, único lugar público do país onde as moças podem desfilar de minissaia e stilettos (em geral dourados) sem o olhar reprovativo dos mais velhos. Na África, shopping mall é sinônimo de libertação.

E dinheiro em caixa. Investir no comércio varejista virou o melhor negócio do continente, mais lucrativo que a exploração de recursos naturais. Centenas de centros comerciais foram inaugurados nas duas últimas décadas. Só uma empresa sul-africana constrói no momento 50 grandes shoppings no Zimbábue, em Moçambique e nas Ilhas Maurício. Mas entrar neles, depois do último atentado em Nairóbi, neles e nos shoppings do mundo inteiro, poderá ficar tão complicado quanto embarcar num aeroporto.

O tornado de Taquarituba - TONY BELLOTTO

O GLOBO - 29/09

Poucos tiveram a sorte de viver em Paris, mas todos, onde quer que estejamos, carregamos cidades dentro de nós


Paris é uma festa

Na abertura de “Paris é uma festa”, último livro escrito por Ernest Hemingway e somente publicado depois de sua morte, o escritor americano afirma: “se você quando jovem teve a sorte de viver em Paris, então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante”.

Poucos tiveram a sorte de viver em Paris — jovens ou não —, mas todos, onde quer que estejamos, carregamos cidades dentro de nós.

Pauliceia desvairada

Semana passada participei de um evento literário em São Paulo, numa mesa com mais dois escritores — Maria José Silveira e Marçal Aquino —, em que se discutia a presença da cidade em alguns de nossos livros. O mediador da conversa, Manuel da Costa Pinto, observou que dos três escritores somente eu era paulistano, já que Maria José nasceu em Jaraguá, Goiás, e Marçal em Amparo, no interior do estado. Mas ao contrário de Maria José e Marçal, habitantes da capital paulista, eu vivo no Rio de Janeiro (que é como não cariocas se referem ao Rio) há mais de vinte anos. A São Paulo que aparece em vários dos meus romances é, portanto — como a Paris de Hemingway —, uma cidade que carrego comigo.

Memória da pedra

Vi na televisão um programa em que o poeta Ferreira Gullar narra uma viagem que fez a Santiago do Chile há pouco tempo, muitos anos depois de lá ter vivido. Em 1973, em fuga da ditadura brasileira, o poeta viveu em Santiago e testemunhou aterrorizado o golpe de Estado que derrubou o governo democrático de Salvador Allende e instaurou no Chile a tenebrosa ditadura de Augusto Pinochet. Ferreira Gullar conta que ao visitar recentemente a cidade, no momento em que reviu o prédio em que morara 40 anos antes, teve a impressão de que o edifício e as ruas de Santiago nada guardavam das sensações que ele experimentara naqueles dias passados. A pedra e a madeira não têm memória, observa o poeta. A Santiago de 1973 existe na memória de Ferreira Gullar, mas o poeta e as emoções que ele lá sentiu não deixaram rastros na Santiago concreta.

Cidades invisíveis

Quando escrevo histórias com meu personagem Remo Bellini, um detetive paulistano, descrevo a cidade de São Paulo como ela existe na minha memória. Escrevo meus livros no Rio, e muitas vezes, ao terminar uma história do Bellini, tenho de ir até São Paulo e caminhar pelas ruas que citei, para checar se minhas lembranças estavam corretas. Invariavelmente elas NÃO estavam. Nos meus livros São Paulo é uma cidade imaginária.

Pedro Páramo

Cidades reais são sempre imaginárias nas obras de ficção, assim como cidades inventadas guardam grande semelhança com cidades verdadeiras. A Macondo, de García Márquez, assim como a Gotham City, do Batman, são tão reais ou irreais quanto o Rio de Machado de Assis ou a Nova York de Paul Auster. No romance “Pedro Páramo”, do mexicano Juan Rulfo, o personagem narrador, depois da morte da mãe, vai até a cidade de Comala em busca do pai. Sobre a cidade, diz o narrador: “Eu imaginava ver aquilo através das recordações de minha mãe: de sua nostalgia, entre retalhos de suspiros. Sempre viveu ela suspirando por Comala, pelo regresso, porém jamais voltou. Agora venho eu em seu lugar.”

Logo o narrador descobrirá que Comala é uma cidade habitada unicamente por fantasmas, entre os quais ele se inclui.

O tornado de Taquarituba

Na canção “Futuros amantes”, Chico Buarque fala sobre uma cidade invisível: “E quem sabe, então, o Rio será alguma cidade submersa, os escafandristas virão explorar sua casa, seu quarto, suas coisas, sua alma, desvãos…”

Se tempos atrás alguém tivesse escrito, ou cantado, que um tornado se abateria sobre uma cidade no interior do estado de São Paulo seria provavelmente tachado de inventivo. Bem, o tornado de Taquarituba é real, assim como os prejuízos, mortes e danos que causou. Resta saber se a Taquarituba que cada um de nós imagina também é real. Machu Picchu, Pompeia e Brasília são cidades reais ou imaginárias?

Cidades não têm fim

Ao final de “Paris é uma festa”, Hemingway nos elucida: “Paris não tem fim, e as recordações das pessoas que lá tenham vivido são próprias, distintas umas das outras. Mais cedo ou mais tarde, não importa quem sejamos, não importa como o façamos, não importa que mudanças se tenham operado em nós ou na cidade, a ela acabamos regressando”.

Cidades não têm fim.

Sobre a autonomia do Banco Central - MAÍLSON DE NÓBREGA

REVISTA VEJA

Há sinais de interferência política no Banco Central, interrompendo a autonomia operacional que desfrutava nos governos FHC e Lula. Isso reduz tanto sua credibilidade quanto a capacidade de coordenar expectativas, o que é fundamental para o exercício de sua mais nobre função, a de preservar a estabilidade da moeda.

Até a primeira metade do século XX, era comum a adoção do padrão-ouro, no qual a moeda se expandia ou se reduzia conforme o estoque do metal. Eficaz no controle da inflação, esse regime não tinha a flexibilidade das atuais políticas monetárias. Por isso, alternavam-se momentos de crescimento com outros de forte contração do PIB. O desemprego aumentava, mas não havia proteção aos trabalhadores. O surgimento de sindicatos contribuiu para o fim do regime e da crença de que a recessão purgava distorções e preparava a reanimação da economia.

Com o abandono do padrão-ouro, a moeda e a taxa de juros passaram a depender do banco central. Havia o risco de irresponsabilidade na política monetária e de descontrole da inflação. Episódios de hiperinflação como o da Alemanha nos anos 1920 - que concorreu para formar o ambiente do qual emergiria Hitler -justificaram a atribuição, ao banco central, de autonomia para formular e conduzir a política monetária. Evitar-se-iam, assim, ações políticas para estimular artificialmente a economia com fins eleitorais o que depois traria mais inflação e menos crescimento.

Na América Latina, a visão sobre o papel dos bancos centrais demorou a se enraizar. Eles surgiriam apenas a partir dos anos 1930. Antes, suas atribuições cabiam a outras organizações. Aqui, esse papel era do Banco do Brasil. De 1945 em diante, o BB dividiria responsabilidades ;com a Superintendência da Moeda e do Crédito (Su-moc). O Banco Central seria instalado em 1965.

Em 1990, a Nova Zelândia criou o regime de metas para a inflação, seguida de outros países, inclusive o Brasil (1999). Um governo eleito fixa as metas, e o banco central tem autonomia, prevista em lei, para persegui-las. Seus diretores têm mandato fixo. Via relatórios, o banco presta contas ao Executivo, ao Legislativo e à sociedade. Seu presidente comparece periodicamente ao Congresso.

Na América Latina, era comum a interferência política na ação do banco central, considerado instrumento conveniente à disposição dos governos. Daí a inflação crônica e elevada, que em muitos países acarretou desarranjos econômicos, tensões sociais e crises institucionais. Em alguns casos, sobrevieram regimes autoritários. Na década de 90, em meio à democratização e a esforços anti-inflacionários, a maioria desses países aprovou leis de autonomia operacional de seu banco central. As exceções são Brasil, República Dominicana e Guatemala.

Por razões políticas, a lei se tornou letra morta em muitos lugares, com destaque para a Argentina e a Venezuela. No Brasil, o êxito do Plano Real fez do BC, na prática, um dos mais autônomos bancos centrais da região. Esse status dependia, entretanto, da vontade pessoal de FHC e de Lula, em virtude da percepção de ambos sobre o valor da estabilidade e do papel do BC em preservá-la. Constituía uma dádiva de dois homens movidos por razões pragmáticas ou convicção, e não um imperativo da lei. Com Dilma, esse compromisso foi abandonado.

O atual governo parece professar a crença, típica da velha esquerda latino-americana, de que a autonomia é uma ideia neoliberal, contrária aos objetivos de impulsionar o desenvolvimento. Convenhamos, a crença é abraçada pela maioria da classe política e por boa parte do empresariado e de formadores de opinião, que apoiam a interferência política no BC.

A experiência internacional prova que a autonomia por lei amplia a capacidade do banco de ancorar expectativas, o que reduz os custos do combate à inflação. Mesmo quando a autonomia existe na prática, a confirmação em lei eleva essa capacidade. Foi o que ocorreu no Reino Unido quando o primeiro-ministro trabalhista Tony Blair submeteu ao Parlamento, logo depois de eleito, em 1997, projeto de lei de autonomia ao Banco da Inglaterra. A taxa de juros caiu em seguida. Isso também precisa acontecer no Brasil.


A ciência, o bem e o mal - MARCELO GLEISER

FOLHA DE SP - 29/09

Cientistas podem ter liberdade total em suas atividades ou certos temas deveriam ser bloqueados?


Em 1818, com apenas 21 anos, Mary Shelley publicou o grande clássico da literatura gótica, "Frankenstein ou o Prometeu Moderno". O romance conta a história de um doutor genial e enlouquecido, que queria usar a ciência de ponta de sua época, a relação entre a eletricidade e a atividade muscular, para trazer mortos de volta à vida.

Duas décadas antes, Luigi Galvani havia demonstrado que a eletricidade produzia movimentos em músculos mortos, no caso em pernas de rãs. Se vida é movimento, e se eletricidade pode causá-lo, por que não juntar os dois e tentar a ressuscitação por meio da ciência e não da religião, transformando a implausibilidade do sobrenatural em um mero fato científico?

Todos sabem como termina a história, tragicamente. A "criatura" exige uma companheira de seu criador, espelhando Adão pedindo uma companheira a Deus. Horrorizado com sua própria criação, Victor Frankenstein recusou. Não queria iniciar uma raça de monstros, mais poderosos do que os humanos, que pudesse nos extinguir.

O romance examina a questão dos limites éticos da ciência: será que cientistas podem ter liberdade total em suas atividades? Ou será que existem certos temas que são tabu, que devem ser bloqueados, limitando as pesquisas dos cientistas? Em caso afirmativo, que limites são esses? Quem os determina?

Essas são questões centrais da relação entre a ética e a ciência. Existem inúmeras complicações: como definir quais assuntos não devem ser alvo de pesquisa? Dou um exemplo: será que devemos tratar a velhice como doença? Se sim, e se conseguíssemos uma "cura" ou, ao menos, um prolongamento substancial da longevidade, quem teria direito a tal? Se a "cura" fosse cara, apenas uma pequena fração da sociedade teria acesso a ela. Nesse caso, criaríamos uma divisão artificial, na qual os que pudessem viveriam mais. E como lidar com a perda? Se uns vivem mais que outros, os que vivem mais veriam seus amigos e familiares perecerem. Será que isso é uma melhoria na qualidade de vida? Talvez, mas só se fosse igualmente distribuída pela população, e não apenas a parte dela.

Outro exemplo é a clonagem humana. Qual o propósito de tal feito? Se um casal não pode ter filhos, existem outros métodos bem mais razoáveis. Por outro lado, a clonagem pode estar relacionada com a questão da longevidade e, em princípio ao menos, até da imortalidade. Imagine que nosso corpo e nossa memória possam ser reproduzidos indefinidamente; com isso, poderíamos viver por um tempo indefinido. No momento, não sabemos se isso é possível, pois não temos ideia de como armazenar memórias e passá-las adiante. Mas a ciência cria caminhos inesperados, e dizer "nunca" é arriscado.

Toquei apenas em dois exemplos, mas o ponto é óbvio: existem áreas de atuação científica que estão diretamente relacionadas com escolhas éticas. O impulso inicial da maioria das pessoas é apoiar algum tipo de censura ou restrição, achando que esse tipo de ciência é feito a caixa de Pandora.

Mas essa atitude é ingênua. Não é a ciência que cria o bem ou o mal. A ciência cria conhecimento. Quem cria o bem ou o mal somos nós, a partir das escolhas que fazemos.

O mundo segundo Mujica - MAC MARGOLIS

O Estado de S.Paulo - 29/09

Não foi o antecipado discurso de Barack Obama que comoveu o mundo na semana passada, na Assembleia-Geral da ONU. Nem tampouco o brado de Dilma Rousseff. As palavras que mais reverberam em Nova York, para depois acenderem as redes sociais na internet, foram as do presidente uruguaio, José Mujica.

Sua pauta pouco tinha a ver com os anseios da hora, como a guerra na Síria ou o escândalo da espionagem americana, que tanto indignou Brasília. Bisbilhotar o Uruguai? "Seria uma perda de tempo", diz. "Venho do Sul", abriu seu discurso. A referência foi ao seu país meridional, mas também remete ao posicionamento discreto que ocupa no enredo mundial, fora do radar e dos conflitos das grandes potências.

Assim, Mujica projetou sua pequena nação como uma espécie de reserva moral. Se hoje os países emergentes reclamam seu lugar ao sol, o Uruguai orgulha-se do seu paradeiro humilde, "esquina do Atlântico com o Prata", um portento só se for na agenda social.

Mujica esbanja o charme de um homem fora de seu tempo. A visão desse ex-guerrilheiro de 78 anos, que abriu mão da residência presidencial, que consome verduras cultivadas em sua própria horta e doa boa parte do salário para caridade, vem de mais longe. Uma visão dos anos 70.

Orador inspirado, Mujica desenhou na tribuna das nações um mundo melhor, sem o capitalismo selvagem e a cobiça. "Se aspirarmos a consumir como um americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para podermos viver." E como salvar o planeta, indagou, se "em cada minuto gastamos US$ 2 milhões em ações militares?". Sua receita: "Mobilizar as grandes economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas bens úteis, sem frivolidades, para ajudar a levantar os pobres do mundo."

O evangelho segundo Mujica soa tão belo quanto distante da América Latina real, onde a maioria dos "excluídos" anseia participar do capitalismo. "A América Latina hoje quer mais, não menos", diz Bernardo Sorj, estudioso uruguaio. Ao mesmo tempo, seu discurso anticapitalista é atual. Seu libelo contra a cobiça e os excessos do vil metal tem ampla ressonância, especialmente no jogo eleitoral.

Da Cidade do México a Santiago, os partidos políticos desfilam seu carnaval de siglas, mas nenhum ousa assumir a identidade liberal. Em 1992, quando o historiador Francis Fukuyama decretou o "fim da história", estava se referindo ao fim do embate ideológico da Guerra Fria que rachava os países entre comunismo e capitalismo. Vitória para o consenso liberal, disse Fukuyama, pois as alternativas dirigistas ruíram com o Muro de Berlim.

Menos na America Latina. Por aqui, a ojeriza ao liberalismo é consenso continental. Claro, a venda dos elefantes estatais, o fim do monopólio na industria de petróleo e a abertura comercial impulsionaram o comércio e criaram empregos, mas não se fala nisso em voz alta, muito menos no horário eleitoral gratuito. Assumir a bandeira liberal na América Latina de hoje é como confessar pedofilia. A historia política na região acabou. Somos todos social-democratas.

Há várias explicações para o conformismo latino. A desigualdade social é tachada como mazela dos mercados. O colapso do capitalismo global, em 2008, não ajudou. Pior, em muitos países, a direita, afeita ao discurso liberal, se fez sócia dos militares, mesmo quando os ditadores optaram por turbinar o Estado.

Mas também tem a ver com a força inercial de um Estado balofo, com gula de impostos, que ocupa o espaço da iniciativa privada, premia amigos e controla sindicatos e empregos. Reféns do gigante, com Síndrome de Estocolmo, nos afeiçoamos à sua sombra. Uma utopia claustrofóbica dos anos 70.

Fórmula para dar errado - CLÁUDIA VASSALLO

REVISTA EXAME

Uma mistura de incapacidade de planejamento com otimismo irresponsável está por trás do fracasso que se vê nas obras de infraestrutura no Brasil de hoje

Atenção, por favor, para os seguintes fatos, depois de poucas unhas, você verá que FIES revelam muito sobre o Brasil de hoje.

- As obras de ampliação do Aeroporto Internacional de Vitória, no Espirito Santo, estado que faz parte da região mais rica do país. foram oficialmente iniciadas em 2005. Três anos depois, foram paralisadas por determinação do Tribunal de Contas da União. A confusão se deu, entre outros motivos, porque uma regra básica das obras de engenharia não foi seguida. Até agosto deste ano, não havia um projeto executivo para ser seguido. É mais ou menos como construir uma casa sem planta. Agora, se tudo der certo e se Deus ajudar, as obras serão finalmente retomadas nos próximos meses e entregues em 2015. A ampliação do aeroporto de Vitória que. convenhamos, não é uma obrazinha de infraestrutura qualquer - será, na melhor das hipóteses, uma história de uma década.

- Hoje. é provável que não exista nada mais critico para dar alento aos investidores brasileiros e estrangeiros do que o sucesso do programa de concessões do governo federal. O próprio governo sabe disso. Assim, dá para explicar a enorme decepção com o fracasso do leilão de concessão da BR-262, que liga Minas Gerais ao Espírito Santo e que era vista pelos tecnocratas como um "filé mignon" do programa. O ovo da serpente, ao que parece, estava nas premissas fixadas para definir a remuneração das empresas privadas dispostas a assumir o trecho: um crescimento anual de 3,5% no tráfego durante todo o período de concessão - 30 anos. No caso da BR 262, ninguém acreditou. Agora, o governo promete refazer os cálculos.

- A cidade de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, terá o primeiro aeroporto internacional concedido á iniciativa privada. Pelo andar da carruagem, as obras ficarão prontas antes do início da Copa do Mundo, em meados do ano que vem. O problema é como chegar lá. Hoje. o acesso é feito por estrada de terra, que vem sendo vagarosamente transformada pelo governo estadual. No meio dos trabalhos, foram "descobertas" áreas de Mata Atlântica cortadas pelo trajeto. Pode? Não pode. O projeto original da obra foi entregue no início de 2012. Meses depois, já com a licitação definida, o governo quis melhorá-lo com a inclusão de mais um acesso. A empreiteira ganhadora não aceitou - e tudo teve de recomeçar nas mãos do segundo colocado. Entre os moradores das redondezas, gente simples entrevistada pelo jornal O Estado de S. Paulo, corre a piada de que o Rio Grande do Norte terá o único aeroporto-ilha do mundo.

Entre as muitas coisas que podem ser concluídas com base nos fatos relatados, uma salta aos olhos: nós. brasileiros, somos miseravelmente ruins quando chamados a planejar. Planejar qualquer coisa: de hidrelétricas de bilhões de reais ao orçamento de nossas empresas. É bem provável que essa falha - algo que está nos custando caro como nação -tenha suas razões culturais. Afinal, para que planejar se, desde os primeiros portugueses que aqui aportaram, somos vistos como uma espécie de terra prometida, onde abundam leite e mel? Pode ser também fruto de uma virtude brasileira que, mal dosada, rapidamente se transforma em maldição: somos otimistas - e nosso otimismo é teimoso. Adoramos pedir calma, pois, no final, "tudo dá certo". Adoramos acreditar que Deus é brasileiro. Adoramos deixar tudo para os 45 minutos do segundo tempo. Adoramos ignorar a realidade e ficar com a vontade. Claro que vontade é o motor de arranque de qualquer iniciativa. Mas não vai dar para ganhar o jogo cada vez mais pesado das economias globais com técnicas de automotivação, crença no jeitinho, premissas erradas, incapacidade para executar e - finalmente, quando nada parece resolver-grito e autocomiseração. Infelizmente, no mundo real, onde projetos saem do papel e se materializam, essa é a fórmula perfeita para tudo dar errado.


Partido dos Puladores de Cerca - ANDRÉ GONÇALVES

GAZETA DO POVO - PR - 29/09

Recém-nascidos, o Partido Republicano da Ordem Social (Pros) e o Solidariedade colocam os brasileiros mais uma vez diante da “pergunta Tostines”. Os políticos não estão nem aí para construir partidos de verdade porque a população é apartidária, ou a população é apartidária porque os políticos não estão nem aí para construir partidos de verdade? Quem acertar ganha um biscoito.

Com a criação das duas novas legendas, o país chegou a um total de 32. E deve passar para 33 com a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva (ainda não se sabe se dentro do prazo legal, 4 de outubro, para disputar as eleições de 2014). Quem souber de cabeça o nome de metade delas ganha outro biscoito.

Nos corredores

Fazenda forasteira

Com a saída iminente de Luiz Carlos Hauly da Secretaria de Estado da Fazenda, a seleção de substitutos está a pleno vapor. A primeira opção era “forasteira”: Mauro Ricardo Costa, que comandou a mesma pasta durante a gestão José Serra (2007-2010) no governo de São Paulo. Ele já teria recusado a proposta.

Outras opções

Com a recusa de Mauro Ricardo, há outras opções caseiras. A primeira delas é o chefe da Casa Civil, Reinhold Stephanes, que ficaria com o comando das duas secretarias ao mesmo tempo. Na sequência, estão o ex-secretário da Casa Civil Luiz Eduardo Sebastiani e o secretário de Assuntos Estratégicos, Edson Casagrande.

Onde e quando

Licenciado do mandato de deputado federal desde o começo de 2011, a tendência inicial era de que Hauly voltasse para a Câmara apenas em janeiro. Um dos possíveis substitutos, Stephanes também vive o impasse do retorno ao Parlamento. A tendência é de que, com o possível acúmulo de tarefas, a saída fique para 2014.

Para puxar o fio da meada, é necessário compreender o óbvio: se existem tantos partidos, é porque eles são sustentados de alguma forma. O simples fato de ser reconhecido legalmente garante acesso ao Fundo Partidário, ou seja, ao dinheiro público. No ano passado, esse bolo chegou a R$ 350 milhões e foi dividido entre 30 siglas.

Às contas. O fundo é alimentado majoritariamente por dotações orçamentárias da União, que correspondem ao número de eleitores inscritos em 31 de dezembro do ano anterior ao da proposta orçamentária, multiplicados por R$ 0,35. Em 2012, esse montante ficou em R$ 286 milhões. Além disso, há o aporte de multas eleitorais, que ficaram ­­­em ­­­R$ 64 milhões.

Quanto à partilha dos recursos, 5% são rateados igualmente entre todas as legendas. Os demais 95% são distribuídos de acordo com a proporção dos votos obtidos pelos partidos na última eleição para a Câmara dos Deputados. Graças a esse critério, o PT, que elegeu a maior bancada em 2010 (86 parlamentares), tem direito à maior participação – ficou com R$ 53 milhões no ano passado.

O nanico Partido Social Democrata Cristão (PSDC), sem deputados federais eleitos em 2010, ficou com R$ 1,3 milhão. Já o Partido Ecológico Nacional (PEN), criado em junho do ano passado, conseguiu R$ 343 mil. Ou seja, para se dar bem, um partido novato precisa atrair o máximo possível de deputados federais.

A estimativa é de que Pros e Solidariedade consigam a proeza de filiar 50 parlamentares. Se isso se concretizar, teriam direito, juntos, a cerca de R$ 36 milhões do fundo. Com a calculadora em mãos e na tentativa de atrair filiados, estariam oferecendo entre R$ 3 e R$ 3,80 por voto recebido pelos deputados em 2010.

Daí, fecha-se a conta. Os políticos buscam novos partidos para serem os caciques de suas próprias tribos. Mas, antes disso, para controlar a chave do cofre.

Quando a disputa fica muito acirrada dentro de uma legenda, a melhor opção é saltar para outra. Como o Supremo Tribunal Federal limitou a infidelidade partidária, em 2007, a criação de novas legendas tornou-se a solução mais prática. Enquanto isso, as carcaças das antigas vão ficando para trás, sobrevivendo vegetativamente com dinheiro público.

Toda essa engrenagem só funciona graças ao comportamento do eleitor, que pensa mais na figura do candidato que na proposta que o partido dele apresenta. Nessa toada, a bola de neve só faz crescer. Ou o número de siglas continua crescendo exponencialmente, ou todos se fundem no Partido dos Puladores de Cerca.


A equação Cabral - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 29/09

A cúpula do PMDB não moverá uma palha para o governador Sérgio Cabral (RJ) virar ministro. O único aliado incondicional de Cabral é o líder na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). No partido se avalia que a nomeação só acontece se for por iniciativa da presidente Dilma. Dizem que este desfecho também implica numa composição no Rio. Hoje, o PMDB e o PT têm candidatos ao governo.

Quem é o candidato?
Enquanto o governador Sérgio Cabral luta para melhorar sua imagem, abalada pelos protestos, e alavancar seu candidato, Luiz Fernando Pezão; no alto escalão do PMDB reina a indiferença. Alguns são contidos, mas a maioria deles define Cabral como “esnobe” e distante da vida partidária. Em viagem a Pernambuco, a presidente Dilma e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), conversavam sobre as eleições. Renan comenta: "Presidente, vamos ganhar no Rio, né?". Ela olhou para ele sobressaltada, mas não respondeu nada. Ao que Renan completou: "Lindbergh, nosso candidato, vai ganhar a eleição". Dilma deu uma sonora gargalhada.



“Quanto mais partidos se criam mais ministérios existem. Hoje são 39 ministérios, imaginem quando tivermos 60 partidos”
Valdir Raupp
Presidente do PMDB, no exercício, e senador (RO)

Debandada
Alguns dos poucos deputados que iriam para a Rede, de Marina Silva, com a falta da certificação do número mínimo de assinaturas necessárias para a criação do partido, já estão procurando outras legendas.

Esperneando
Ex-presidente do DEM, o deputado Rodrigo Maia (RJ) diz que todos os que foram contra a mudança da lei, que tirava o direito dos deputados levarem o tempo de TV e o Fundo Partidário, são responsáveis pela farra dos novos partidos. “Para proteger a Marina, estão todos pagando um preço: o Pros, o Solidariedade, o PPL e o PEN”, protesta.

É ele, é ele!
Semana passada, na votação da PEC da Música, Paula Lavigne fez as honras de apresentadora do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). "Esse é o senador da porrada, mas aquele que apanhou!", contava Paula, a cantores e compositores.

O ambiente é de euforia
O governo festejou o crescimento da presidente Dilma no Ibope. A expectativa é de um melhor desempenho quando entrar no radar o discurso na ONU. A presidente recebeu uma pesquisa do governador Jaques Wagner, na qual o candidato do PSB, Eduardo Campos, tem 0,9% na Bahia. O PT avalia, com base em outra pesquisa do Ceará, que o socialista só é forte em Pernambuco.

Deu pane
O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN) decidiu reformar o plenário para garantir acessibilidade. Dia desses, uma deputada cadeirante foi subir à tribuna para discursar e ficou presa no elevador de acesso.

Homenageados
O Congresso criou comenda pelos 25 anos da Constituição. Só cinco ganharão a distinção: Lula, José Sarney, Nelson Jobim, Bernardo Cabral e Michel Temer. Todos confirmaram presença no evento em 29 de outubro.

Virou piada. No Congresso, o que se diz é que quando um ministro põe o cargo à disposição é porque ele não quer sair da cadeira.

Tratamento de choque - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 29/09

O governo deve ingressar a partir desta semana com ações civis na Justiça Federal para responsabilizar os representantes dos Conselhos Regionais de Medicina que não estão concedendo registro para profissionais estrangeiros atuarem no Mais Médicos. A estratégia, a cargo da Advocacia-Geral da União, será paralela aos pedidos de liminar para forçar a concessão de licenças de trabalho. A AGU e o Ministério da Saúde vão se reunir para bater o martelo sobre a nova ofensiva judicial.

Para gringo 1 Aécio Neves fará a palestra de abertura da conferência do BTG Pactual para investidores no dia 8, em Nova York. O evento é tradicionalmente aberto por ex-presidentes, como Lula, o francês Nicolas Sarkozy e o colombiano Álvaro Uribe.

Para gringo 2 Há cerca de 600 investidores inscritos para a conferência, predominantemente interessados nos mercados da América Latina. Cerca de cem empresas estarão representadas no evento.

São Brizola De Carlos Lupi, presidente do PDT, sobre a intensa troca de partidos deflagrada pela criação do Pros e do Solidariedade: "O PDT é como uma igreja. Entra quem quer e sai quem quer, mas quem quiser ficar precisa ter profissão de fé".

Uns vão... Dilma Rousseff quer conversar com Eduardo Campos nesta semana, mesmo considerando irreversível a saída do PSB do governo. O senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) deve ser nomeado para o lugar de Fernando Bezerra (Integração).

... outros ficam Após falar com Campos, a presidente deve chamar Cid Gomes e acertar com ele como seu grupo será representado no governo. O ex-pessebista tem dito que não quer cargos.

Ascensão social O deputado Givaldo Carimbão (AL), um dos expoentes do chamado baixo clero, com passagem por diversos partidos, deve ser o líder do Pros na Câmara.

Repelente Dirigentes da Rede estão irritados com o assédio do presidente do PEN, Adilson Barroso. Dizem que o líder do partido divulgou versões fantasiosas sobre uma suposta aproximação de sua sigla com Marina Silva.

Ensaiado O deputado Fernando Francischini, que estava no PEN e ameaçava voltar ao PSDB, foi convencido pelo tucano Beto Richa a se filiar ao Solidariedade. O governador do Paraná fez a manobra para garantir o apoio da nova sigla a sua reeleição.

Balanço Wagner Montes (PSD-RJ) está com um pé no PMDB. Lideranças do Rio conversaram com Michel Temer, que deu aval para nova filiação. O deputado estadual deve tentar a reeleição e será o puxador de votos da sigla.

Sem... Articuladores da campanha de Alexandre Padilha (Saúde) ao governo de São Paulo levantaram informações sobre a cobrança de pedágio nas estradas paulistas, assunto considerado obrigatório na disputa com Geraldo Alckmin (PSDB).

... parar Os petistas pretendem levantar um debate sobre a redução da taxa de retorno das concessionárias.

Supersincero O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), decidiu interagir até aos eleitores mais críticos em sua página no Facebook, sem rodeios. "Felizmente os soteropolitanos não pensam como você", escreveu para um cidadão que reclamou do sistema de transportes.

Tour Ricardo Lewandowski receberá esta semana o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, que visita o Brasil. O ministro ocupa a presidência do Supremo Tribunal Federal devido a uma viagem de Joaquim Barbosa aos Estados Unidos.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

Tiroteio
"Mais uma vez, o PSDB busca um álibi para fugir das investigações e evitar a apuração de fraudes bilionárias no metrô e na CPTM."

DO DEPUTADO ESTADUAL LUIZ CLAUDIO MARCOLINO (PT-SP), sobre o pedido de investigação feito pelo PSDB sobre as relações entre o Cade e os petistas.

CONTRAPONTO


Adaptação urbana
Na votação do projeto de lei que regulamentou a profissão de vaqueiro, aprovado na quarta-feira pelo Senado, o plenário foi tomado por profissionais com indumentária completa: chapéu de couro, gibão e berrante.

O senador catarinense Casildo Maldaner (PMDB), ao ser convidado a colocar o tradicional chapéu, chamou o objeto de "capacete", sendo imediatamente corrigido pelo colega Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Maldaner não se fez de rogado:

--Não deixa de ser um capacete, já que o vaqueiro é o operário da caatinga --brincou.

Descida ao inferno - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA
A desgraça narrada a seguir é real, está da em fatos públicos e chegou, algur atrás, a causar certa comoção neste de hoje, que parece a caminho de se formar em um dos países a ser estudado maior atenção, algum dia, por possíveis pesquisadores de uma história mundial da infâmia. Trata-se de um episódio chocante por sua crueldade em estado puro, e o resultado inevitável de uma conspiração não declarada dos agentes do poder público para permitir a prática aberta dos delitos mais selvagens - por serem eles mesmos os autores dos crimes, ou pelo uso que fazem da letra da lei para livrar os envolvidos de qualquer risco de punição. Acontece quase todos os dias, em todo o Brasil, sob a indiferença absoluta das mais altas autoridades e a proteção de um conjunto de leis escritas com o objetivo de praticamente abolir a culpa na Justiça penal brasileira. Não há remédio conhecido contra isso.
Ainda recentemente a repórter Branca Nunes, da edição digital de VEJA, fez uma reconstrução passo a passo da tenebrosa descida ao inferno aqui na terra, entre outubro e novembro de 2007, de uma menina de 15 anos, L.A.B., presa sob a acusação de furtar um telefone celular numa cidade do interior do Pará, a 100 quilômetros de Belém, e punida segundo a hermenêutica que vale no Brasil real. O propósito da reportagem era mostrar, seis anos depois, que fim tinham levado os personagens centrais da história - um símbolo fiel de aberrações praticamente idênticas que acontecem a cada dia neste país, e do tratamento-padrão que recebem do poder público. A visita a essa tragédia "confirmou o apronto", como se dizia na linguagem do turfe. Nada de embargos infringentes para L.A.B. Nada de advogado "Kakay" pregando em seu favor. Nada de todo esse maravilhoso facilitário que faz da lei brasileira um milagre permanente em benefício dos ricos, poderosos e influentes -e transforma culpa em mérito, como Cristo transformou água em vinho. Tudo, naturalmente, em favor dos responsáveis por sua agonia.

L.A.B.. como relata a reportagem, foi apanhada na cidade de Abaetetuba tentando furtar um celular e uma correntinha de prata pertencentes, para seu azar, ao sobrinho de um investigador de polícia da delegacia local. Chamados pelo rapaz, o tio e dois colegas levaram a garota, um toco de gente com menos de 40 quilos de peso e 1,5 metro de altura, para a delegacia da cidade - onde foi trancada numa cela com mais de vinte homens. L.A.B. ficou 26 dias presa, durante os quais foi estuprada regularmente, cinco ou seis vezes por dia. Não se cogitou no seu caso na possibilidade, digamos, de uma prisão domiciliar, alternativa que o bondoso ministro Celso de Mello, do STF, acaba de abrir, em nome do cumprimento rigorosíssimo da lei, para gigantes de nossa vida política condenados no mensalão. Não se cogitou, sequer, no fato de que ela era menor de idade, que não podia ser presa nem, menos ainda, jogada num xadrez exclusivamente masculino. L.A.B., na verdade, foi presa dentro da prisão: arrastada para o fundo da cela. de onde não podia ser vista, tinha a sua miserável comida confiscada pelos outros presos, que só lhe permitiam comer se não desse trabalho durante os estupros. Não tinha direito a prato - precisava pegar sua comida direto do chão. À noite, era acordada por chamas de isqueiro ou pontas de cigarro, quando algum dos presos requeria os seus serviços.

A título de ilustração, um deles, o mais ativo de todos, respondia pelo apelido de "Cão". Que tal?

O mais interessante do caso, talvez, é que as autoridades locais legalizaram, a seu modo. todo o procedimento. A delegada Flávia Verônica Pereira autorizou a prisão de L.A.B. quando a menina lhe foi entregue pelos investigadores que a capturaram. Dois dias depois, a juíza Clarice Maria de Andrade assinou seu auto de prisão em flagrante, sabendo perfeitamente, como a delegada, o que iria acontecer na cela lotada de machos. O desfecho da história é um retrato admirável do Brasil de 2013. Quando o caso começou a fazer ruído na imprensa, L.A.B. foi solta - e desde então, nestes seis anos, nunca mais se ouviu falar dela. Os únicos punidos foram "Cão" e um de seus comparsas, que já estavam presos. A juíza Clarice, a mais graduada responsável pelo episódio, não sofreu processo penal. Foi apenas aposentada, mas recorreu até chegar ao STF - que anulou em 2012 a punição, por julgá-la "excessiva". Hoje a doutora Clarice é juíza titular em outra comarca do Pará.

Este é o Brasil que não muda.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 29/09

Exportação de bala cai 10,4% no 1º semestre
As exportações brasileiras de balas diminuíram 10,4% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2012, segundo dados da Abicab (associação dos fabricantes do setor).

Nos primeiros seis meses do ano passado, as vendas para outros países já haviam registrado queda de 8%.

"São vários fatores que dificultam [os embarques]", diz Osmar Chaves, vice-presidente da entidade.

"Tem o custo Brasil, a Argentina dificulta a entrada das mercadorias e não há data para isso melhorar, o câmbio oscila demais e até os conflitos no Oriente Médio atrapalham", acrescenta.

A logística, no entanto, é apontada como um dos principais entraves. "Quando vendemos para fora, aparece a incapacidade para escolar. O navio sempre fica esperando para atracar."

Do total fabricado no país no primeiro semestre, 13,4% foi exportado. Em 2012, foram 14,6%.

A produção de balas também se retraiu nos primeiros seis meses. Passou de 281,6 mil toneladas para 275,7 mil --declínio de 2,1%.

"O setor está em queda há três anos. Se fecharmos 2012 sem retração ou com um crescimento de 1%, já será bom."

De julho para agosto, houve um incremento de 3,5% na produção. O acumulado dos oito primeiros meses deve ter alta de 0,6%.

"Os últimos dois bimestres mostraram uma recuperação. É também um resultado dos R$ 600 milhões investidos pela indústria em 2012."

Vendas de seguros de pessoas crescem 19% em julho
O mercado de seguro de pessoas, que engloba o de vida, o prestamista e o educacional, entre outros produtos, movimentou R$ 2,1 bilhões em julho --alta de 18,96% em relação ao registrado no mesmo mês de 2012.

Números da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida) mostram que o educacional foi o que registrou a maior expansão: 106,74%.

"Esse seguro ainda tem uma base muito pequena. Em julho, o prêmio emitido [valor que os compradores pagam] foi de R$ 4 milhões", afirma o presidente da entidade, Osvaldo Nascimento.

"Mas é um modelo de seguro que cresce na medida que o desenvolvimento econômico e social se eleva."

O de vida teve alta de 14,69%, enquanto o prestamista avançou 31,65%.

"Os seguros de pessoas vendem quando há estabilidade de emprego. Acoplado a isso, temos a ascensão das classes D e E."

Ainda no mês de julho, o mercado segurador pagou R$ 567,3 milhões em indenizações, o que significou uma expansão de 7,95%.

MODA NACIONAL
A grife de moda feminina Thelure planeja abrir 25 lojas nos próximos cinco anos, dez até 2015. Para isso, investe em consultorias e busca um novo investidor que aporte R$ 25 milhões para agilizar a expansão.

"Uma possibilidade é a entrada de um fundo, de preferência, com experiência em varejo que agregue à gestão", diz Luciana Faria, que é neta de Aloysio Faria, ex-dono do Banco Real.

"Não engessamos o percentual [da venda], mas a ideia é ficar no negócio."

Só neste segundo semestre, da agenda de inaugurações constam três lojas próprias (duas em São Paulo e uma em Goiânia), além de três licenciadas (em Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis). Em fevereiro, abrirão franquias em Brasília e Belo Horizonte, quando a marca totalizará seis unidades licenciadas e seis próprias.

O maior crescimento veio de vendas em multimarcas pelo país. Hoje já estão em 150 delas. Neste ano, o faturamento será de cerca de R$ 15 milhões.

"Trazemos peças básicas da China. Dá dó", diz Stella Jacintho. "Queria fazer tudo no Brasil, mas a diferença de preço é muito grande. Preciso entregar produtos com preço justo, apesar de ter cliente de classe A."

SEM QUALQUER COBERTURA
A maioria dos riscos paras as empresas dos setores farmacêutico, eólico, têxtil e de bens de consumo não são seguráveis, de acordo com pesquisa da corretora Marsh com 800 companhias.

O levantamento mostra que apenas 30% desses riscos de operação têm algum tipo de cobertura.

"Há vários fatores para as seguradoras não oferecerem produtos", diz Roberto Zegarra, da Marsh.

"Em alguns casos, não há nenhum estudo ou histórico sobre a probabilidade de o evento ocorrer. Isso impede que sejam feitos os cálculos necessários para vender o seguro. Outras vezes, não é lucrativo para as seguradoras", acrescenta.

Entre os riscos sem proteção aparecem os de contaminação dos produtos no setor farmacêutico e o de contaminação do ambiente na indústria têxtil.

AGENDA EXPRESS
A Bradesco Saúde lançou um site para agilizar o agendamento de consultas e evitar que os segurados busquem os pronto-socorros.

"É comum as pessoas procurarem os atendimentos de urgência só pela praticidade", diz Marcio Coriolano, presidente da empresa.

Via web, o usuário pode ter acesso à agenda do médico e marcar uma consulta no mesmo dia ou em até 24 horas.

RESTAURANTE EM SÉRIE
O grupo Trigo, detentor das redes de alimentação Spoleto, Domino's Pizza e Koni Store, planeja ter mil unidades no país até 2017 --hoje são 419.

Para alcançar a meta, a companhia focará nos atuais franqueados. Serão oferecidos cursos para eles aprenderem a administrar um número maior de lojas.

"Nós já temos uma relação de confiança com eles, que estão alinhados com nossas práticas. É natural crescermos juntos", afirma o presidente do grupo, Mario Chady.

"Existe uma diferença entre o franqueador com uma ou duas lojas do que tem dez. Esses têm de se preocupar em capacitar pessoal para gerenciar as próximas unidades", acrescenta.

Os cursos estão sendo formatados e devem ser iniciados no próximo ano.

Para 2014, também está previsa a inauguração de cerca de 150 restaurantes. "Ainda temos muitas oportunidades no Sul, no Norte e no Nordeste", diz Antonio Leite, diretor de franquias.

Em cidades com menos de 100 mil habitantes, devem ser implementadas as lojas que compartilham mais de uma marca. "Elas têm um custo fixo menor e uma completa a oferta da outra", acrescenta Leite.

R$ 186 milhões
foi o faturamento do grupo no ano passado

R$ 665 milhões
foram movimentados por todas as redes da companhia

R$ 250 milhões
é o faturamento esperado só para o grupo neste ano

419
é o atual número de restaurantes das três marcas

Novo lar A irlandesa Brandtone, que utiliza celulares para fazer ações de marketing, inaugurou escritório em São Paulo. Especializada em emergentes, opera também na África do Sul, Rússia e Turquia.

Expansão A rede de escolas de idiomas Yes! abrirá 32 franquias até dezembro e fechará 2013 com 50 inaugurações.