quarta-feira, junho 12, 2013

O amor mais que romântico - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 12/06

Quando era criança, assistia a filmes e novelas românticas e pensava: será que um dia escutarei “eu te amo” de alguém? É bem verdade que ouvia todo dia da minha mãe, mas não era do mesmo jeito que o Francisco Cuoco dizia para a Regina Duarte. Eu sonhava com o “te amo” apaixonado, dito por um homem lindo, e com a voz um pouco trêmula, para deixar sua emoção bem evidente. Será que era invenção do cinema e da tevê, ou essas coisas poderiam acontecer mesmo?

Passou o tempo. Cresci, ouvi e retribuí. Clichê? Que seja, mas não há quem não se emocione ao escutar e ao dizer, ao menos nas primeiras vezes, em pleno encantamento da relação, quando a declaração ainda é fresca, pungente, verdadeira, a confirmação de algo estupendo que se está experimentando, um sentimento por fim alcançado e que se almeja eterno. Depois ele entra no circuito automático, vira aquele “te amo” dito nos finais dos telefonemas, como se fosse um “câmbio, desligo”.

O tempo seguiu passando, e me encontro aqui, agora, descobrindo que há outro tipo de “te amo” a ser escutado e falado, diferente dos que acontecem entre pais e filhos e entre amantes. É quando o “te amo” não é dito a fim de firmar um compromisso, para manter alguém a par das nossas intenções ou experimentar uma cena de novela. Ele vem desvinculado de qualquer mensagem nas entrelinhas, não possui nenhum caráter de amarração e tampouco expectativa de ouvir de volta um “eu também”. É singular. Estou falando do amor declarado não só quando amamos com romantismo, mas também de outra forma.

Explico: tenho dito “te amo” para amigas e amigos e escutado deles também. Uma declaração bissexual e polígama, que resgata esse sentimento das garras da adequação. Volta a ser o amor primitivo, verdadeiro, sem nenhuma simbologia, puro afeto real. Amor por pessoas que não conheci ontem num bar, e sim por quem já tenho uma história de vida compartilhada.

Amor manifestado espontaneamente àqueles que não me exigem explicações, que apoiam minhas maluquices, que fazem piada dos meus defeitos, que já tiveram acesso ao meu raio X emocional e sabem exatamente o que levo dentro – e eu, da mesma forma, tudo igual em relação a eles. Mais do que nos amamos – nos sabemos.

É um “te amo” que cabe ser dito inclusive aos ex-amores, ao menos aos que nos marcaram profundamente, aos que nos auxiliaram na composição do que nos tornamos, e que mesmo nos tendo feito sofrer, foram fundamentais na caminhada rumo ao que somos hoje. E indo perigosamente mais longe: esse ex-amor pode ainda ser seu marido ou sua mulher, mesmo já não fazendo seu coração saltar da boca. Pelo trajeto percorrido, e por ter alcançado o posto de um amigo mais que especial, merece uma declaração igualmente comovida.

É quando o “eu te amo” deixa de ser sedução para virar celebração.

A criação do mundo - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 12/06

Nas fotos de "Genesis", Sebastião Salgado parece construir o planeta com as próprias mãos


As florestas estão desaparecendo, as geleiras derretem, o aquecimento global preocupa, mas certamente uma coisa não falta no planeta. Refiro-me às fotografias da vida selvagem.

Nada contra esse tipo de fotos. São invariavelmente lindas: revoadas de colhereiros, visões aéreas da Amazônia, índias com filhos na rede e na escuridão.

Quem pensa já ter visto tudo a esse respeito vai mudar de ideia, provavelmente, se abrir o novo livro de Sebastião Salgado.

"Genesis" (editora Taschen) é um volume bem grande e pesado, com fotografias em preto e branco do artista mineiro, tiradas nos lugares mais remotos do mundo. Lá estão os índios, os baobás, as geleiras, os platôs e os pinguins.

Mas o que vejo nesse livro não tem comparação com nada do que eu conhecia. É como se, até agora, eu tivesse ouvido apenas uma caixa de música e descobrisse, ao vivo e na frente da orquestra, uma sinfonia de Beethoven.

Em vez de mostrar uma espécie de pureza idílica e bonitinha, as fotos de Sebastião Salgado surgem numa erupção de dramaticidade, de agonia, de poder.

Talvez nosso hábito seja o de pensar as reservas ecológicas como algo de "intocado", de perfeito em si mesmo, que se espraia na total ausência do homem.

Justamente, o livro de Sebastião Salgado não se chama "Éden" nem "Paraíso". O título "Genesis" dá a impressão de que algo está ainda a ser criado, de que forças gigantescas e, de certo modo, feitas à imagem e semelhança do próprio homem, estão sem descanso a fabricar o mundo.

A formação de cacto que nasce no meio de um derramamento de lava, nas ilhas Galápagos, não parece "estar ali", de forma "natural". É como se tivesse sido plantada por um jardineiro raivoso e enlouquecido, ainda exausto do esforço de derreter a pedra e movê-la, aos golpes, pela encosta do vulcão.

Viramos as páginas, e encontramos na África um grupo de elefantes. O que era bicho, entretanto, achata-se na foto, ganhando a simetria mineral de uma barreira de basalto.

O melhor modo de resumir o impacto dessas fotos seria dizer, acho, que Sebastião Salgado não parece trabalhar simplesmente com os olhos e a lente da câmera. É como se, em vez dos olhos, ele usasse as mãos.

Ele conta, no prefácio do livro, que depois de presenciar cenas de brutalidade extrema em países como Ruanda, tinha perdido a esperança na humanidade. Na mesma época (fim da década de 1990), foi cuidar de uma propriedade em Minas Gerais que, no passado, tinha sido a fazenda de gado de sua família.

Sebastião Salgado e sua mulher, Lélia Wanick Salgado, dedicaram-se (com sucesso) ao reflorestamento do lugar. Talvez venha daí a sensação de voluntarismo, de poder, de empreitada, que as fotos transmitem. O mundo natural surge como resultado de um trabalho titânico.

E, nas fotos de alguns bichos, não há como não reconhecer algum tipo de marca demasiado humana. Um tartarugão nos olha como se fosse James Cagney, num dos seus papéis de gângster, mandando-nos embora da região sob seu domínio.

A pata de um lagarto, cinco dedos sobre a pedra, ao mesmo tempo delicada e agressiva, vive uma inteligência própria --talvez porque sejam especialmente humanas as proporções do pulso e do antebraço.

Quando aos índios, vivam eles na América, na África ou perto do polo Norte, a visão de Salgado supera, sem negá-los, os pressupostos da antropologia. De um lado, em muitas fotos ele capta o que há de mais "diferente", de mais exótico possível.

Uma cultura africana, por exemplo, usa adornos no lábio inferior que fazem os batoques dos índios brasileiros um enfeitizinho de criança tímida.

Ao mesmo tempo, Sebastião Salgado não abandona um olhar "estético" e "ocidental" sobre muitas das pessoas retratadas. A beleza de alguns rostos e corpos é valorizada ao extremo em suas fotos. Em outra imagem, um grupo de velhos xamãs kamayurá posa solenemente, contra um fundo do mais absoluto negro --e não há dúvida de que o fotógrafo se inspirou, aqui, nos retratos coletivos de Rembrandt.

Ocidente, Oriente, norte, sul: não se trata, em "Genesis", da atitude paternalista de celebrar nossas "diferenças" ou nossa "fraternidade planetária". Sebastião Salgado humanizou tudo, na verdade, graças ao procedimento inverso. Vê o mundo como se estivesse de fora, como se fosse ele próprio uma força impessoal, cujo amor só se expressa em energia, em criação.

Herança de Hans Stern - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 12/06

Foi fechado o acordo sobre o espólio de Hans Stern, o fundador da multinacional das joias.
Depois da morte do empresário, em 2007, os irmãos Milton e Nelson Duarte reclamaram na Justiça sua parte na herança. Um exame de DNA comprovou que eles eram filhos do milionário, fora do casamento. Cada um receberá uns R$12 milhões.

Maioridade penal
Veja por que 92,7% dos brasileiros são a favor da redução da maioridade penal de 18 anos para 16, segundo pesquisa da MDA.

De acordo com a Polícia Civil do Rio, em abril foram apreendidos 246 adolescentes — 107 deles reincidentes. Em maio, foram 278 apreendidos, sendo 128 reincidentes.

Gente...
O menor reincidente não pode ser tratado como uma criança inocente e ser logo colocado na rua de novo.

Consumo de drogas
Uma centena de pastores e líderes evangélicos divulga amanhã, na Sociedade Bíblica do Brasil, manifesto a favor da descriminalização das drogas. Eu apoio.

Nada mudou
Grazi Massafera e Cauã Reymond negam que estejam se separando. Eles contrataram o advogado Paulo Cezar Filho para processar o jornal que publicou a notícia da separação.

Grande Zezé!
Zezé Motta, 64 anos, reproduziu ontem em seu Facebook a piada que corre na internet:

“Madonna tem 55 anos, e seu namorado, 22. Jennifer Lopez, 43, e seu namorado, 26. Se você não está namorando, relaxe! Vai ver ele ainda nem nasceu.”

Faz sentido. 

Na janelinha do ônibus
Escrito pelo jornalista Sandro Vaia, ex-diretor do “Estadão”, a editora Barcarolla lança semana que vem o livro “Armênio Guedes, sereno guerreiro da liberdade”. Armênio, 95 anos, foi dirigente do PCB.

Teje preso!
Num trecho, o livro relata a prisão em 1982 da cúpula comunista durante o VII Congresso, em São Paulo. Nisso, um curioso se dirigiu a Armênio na janelinha do ônibus que levava os presos:

— Bicheiros?

— Não. Comunistas.

Ah, bom!

Fator Neymar
A posse de Luís Roberto Barroso no STF foi antecipada para 14h30m do dia 26.

É que, às 16h, será disputada uma das semifinais da Copa das Confederações, em Belo Horizonte. Vai que dá Brasil...

O samba de Zico
Elymar Santos vai concorrer como autor do samba-enredo da Imperatriz que vai homenagear Zico.

Pastor Marcos
O pastor Marcos Pereira da Silva será julgado dia 1º de julho, na 2ª Vara Criminal de São João de Meriti, RJ.

Ele é acusado de ter estuprado uma fiel em um quarto do templo, em 2006.

Ney no Municipal
Gal Costa, que encerraria o Prêmio da Música Brasileira hoje, no Municipal do Rio, pegou um resfriado forte, e seu médico a proibiu de cantar.

Ney Matogrosso vai substituí-la e interpretará “Se todos fossem iguais a você”, um dos clássicos de Tom Jobim.

Morro da Viúva
O Flamengo concluiu esta semana a desocupação do prédio do Morro da Viúva, que será transformado num hotel cinco estrelas, de Eike Batista, até 2016. Foram 14 meses de negociações.

O advogado do Fla, Armando Miceli, conta que a última moradora a aceitar sair foi uma senhorinha de uns 90 anos, que há 50 morava ali.

Convidado ilustre
O astro do basquete americano Kobe Bryant chega ao Brasil semana que vem. Vem assistir a Brasil x Itália, em Salvador.

O armador do Los Angeles Lakers é fã de Ronaldinho Gaúcho, com quem se encontrará no Rio, dia 23.

Paes caiu na rede
Eduardo Paes brincou dizendo que se mataria se o Brasil perdesse a Copa para a Argentina. Uns gaiatos, na esperança de o prefeito cumprir a promessa, lançaram campanha... de apoio a Messi e cia.
A página no Facebook teve mais de cinco mil adesões em um dia. Fizeram até uma montagem, veja só, da bandeira argentina com o brasão do estado do Rio.

Acredite quem quiser - SONIA RACY

ESTADÃO - 12/06


Na bica para o Grupo Caoa fechar o acordo de compra do Banco BVA–tendo suado oito meses para renegociar quase R$ 5 bilhões de débitos de credores com o banco –, a coisa encalhou na segunda-feira. Por quê? Não houve entendimento justamente com o... Fundo Garantidor de Crédito.
Atenção: essa história está, assim, começando.

É ele
E o técnico argentino Marcelo Bielsa chega amanhã de manhã a São Paulo.
Para fechar contrato com o Santos, substituindo Muricy.

Nervosismo
O mercado financeiro está tão assustado com a rápida deterioração do cenário econômico que passou a defender, com uma certa dose de resignação, a permanência de... Guido Mantega no Ministério da Fazenda.
Por medo de que Arno Augustin, do Tesouro, o substitua.

No ninho
Vistos jantando anteontem, no restaurante Aguzzo, Fernando Henrique e Serra.
Foramtrês horas de conversa.

Eu voltei
Fora da TV desde 2012, Gabriel Chalita retorna às telas sábado, na hora do almoço, na Rede Vida. Dirigido a jovens, o programa Mundo Melhor terá banda fixa e um entrevistado por edição. Primeiros? Fábio de Melo e, depois, Júlio Lancellotti.
Candidato ao governo do Estado? Chalita diz que não é hora de pensar nisso.

Bye, bye Planalto
Dilma terá pelo menos uma baixa se reeleita. Antonio Patriota tem dito que não quer dobrar o turno no Itamaraty.
Visa embaixada na Europa.

Na boca do povo
E para Duarte Nogueira, do PSDB paulista, a alta aprovação de Alckmin nas classes mais baixas reflete que “os programas sociais em SP estão funcionando e bem”.

Novos frutos
Marta Suplicy voltou de Lisboa com uma ideia fixa: trazer ao Brasil exposição completa e cronológica da pintora Maria Helena Vieira da Silva.

Tequilada
E o Pão de Açúcar ficará com as cores do México, domingo. A confederação de futebol do país fechou o ponto turístico para festança logo depois do jogo contra a Itália, no Maracanã.

Direto de Paris
Maria de Medeiros deixou peça que está fazendo em SP e foi para Paris, coma comitiva brasileira. Comandará hoje a apresentação da candidatura de São Paulo à Expo 2020 para o BIE.
Sob direção de Toni Venturi.

Salve Jorge
A novela acabou, mas quatro produtos usados por suas personagens estão entre os mais cobiçados pelas telespectadoras, segundo a Globo: o batom pink de Lívia (Claudia Raia); o esmalte lilás de Aisha (Dani Moreno); o sutiã preto de Morena (NandaCosta); e o esmalte marrom da delegada Heloisa (Giovanna Antonelli).

Entre ou saia - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 12/06

Rapazes de saia e moças de gravata devem permanecer escondidos, na calada da noite, não em bairros familiares


Li anteontem, aqui na Folha: sexta-feira passada, um aluno apareceu de saia no Bandeirantes, foi proibido de assistir às aulas e mandado de volta pra casa. O diretor da escola, Mauro de Salles Aguiar, disse à repórter Juliana Gragnani que a atitude visava proteger o estudante: "É altamente irresponsável e leviano por parte dos pais expor o filho a esse laboratório de experiências sociais. Se eles não têm preocupação com a segurança, o colégio tem que ter".

Concordo em gênero, número e grau --principalmente em gênero, que é o que se discute aqui. Vejamos: se o mundo é machista e preconceituoso, qual é a função da escola? Ajudar os alunos a compreender e afirmar suas singularidades, mesmo que para isso desafiem os padrões e precisem mudá-los? Óbvio que não: o papel da escola é ensiná-los a se adequar a este mundo machista e preconceituoso, entrar nos eixos para, no futuro, conseguir uma boa colocação profissional. Jamais incentivá-los a se expor a um "laboratório de experiências sociais" --pois basta pensar na revolução sexual, na luta pelos direitos civis, nos EUA, ou na mudança do papel da mulher durante o século 20 para saber que isso nunca acaba bem.

Há quem pense, equivocadamente, que a adolescência é uma fase de experimentação, época na qual consideramos diversos caminhos, comportamentos, indumentárias, questionamos nossas heranças familiares, sociais, culturais, rejeitamos o que não nos serve, descobrimos o que nos apraz e, assim, inventamos os adultos que queremos (e podemos) ser. Nada disso. Como bem sabem os que não são "irresponsáveis" nem "levianos", adolescência é o período em que nos resignamos a aceitar as fôrmas pré-moldadas que aí estão: homem de calça, mulher de saia --e vamos nos concentrar na tabela periódica, pois o que realmente importa nesta vida é aprender que o xenônio é um gás nobre e que o número atômico do bário é 56.

"Um rapaz vestido de saia não é uma coisa que você espera ver na Vila Mariana, às dez e pouco da manhã", disse à repórter o diretor da escola, dando mais uma lição de pedagogia. Rapazes de saia, moças de gravata e outras esquisitices, caso existam, devem permanecer escondidos, na calada da noite, nos arrabaldes, não nos bairros familiares, à impoluta luz da manhã. "Ele não está numa galeria de arte. Está numa escola." Perfeito: afinal, nada mais antagônico do que uma galeria de arte e uma escola, certo? Dentro dos muros da primeira, a experimentação, a subversão, a bagunça. Dentro dos muros da segunda, as certezas, a reafirmação da tradição, a ordem.

Quem disser que esta é uma visão antiquada da educação está redondamente enganado. É uma visão bem de acordo com os dias correntes. Antiquada é aquela outra, criada há uns 2.500 anos, na Grécia, que colocava a dúvida como o princípio do saber, acreditando que só com o diálogo e com a confrontação das verdades estabelecidas se derrubariam os tapumes do senso comum, iluminando as sombras de objetos e de conceitos que tantas vezes tomamos pelos objetos e conceitos em si. Mas o que sabiam aqueles homens? Absolutamente nada --e a prova maior é que andavam todos de saia.

Como não perder no futebol? - ROBERTO DAMATTA

O GLOBO - 12/06

— Qual é o maior problema do “nosso” futebol?

— Todos! Não ganhamos nada!

— Mas exportamos o futebol do Brasil para todo o mundo. Todos jogam como nós.

— Tudo bem... Mas por que não conseguimos ganhar?

— Precisamente por causa disso. Todo sucesso vira fracasso. Quem ganha perde...

Ouvi isso na barca indo para o Rio, eu que continuo insistindo em morar em Niterói. Ora, morar em Niterói é como não saber que o futebol sofre de um pecado original: o nosso time não pode perder. E, no entanto, se um time fosse eternamente ganhador, os estádios ficariam vazios.

Num espaço de tempo que hoje engloba uns 100 anos, contabilizamos muitos jogos e, em consequência, muitas perdas e ganhos. As derrotas, contudo, são mais lembradas porque nossa memória retém — como dizia Freud — mais a ferida e o sofrimento (o trauma) do que o gozo, o encantamento e a beleza de céu estrelado das experiências transitórias (aliás, Freud tem um belíssimo ensaio sobre esse assunto). O belo passa e o feio fica? De modo algum. Mas o bom é amarrado com teias de aranha, ao passo que o ruim deixa cicatrizes. Pensamos a vida como uma escada quando, de fato, ela é uma bola que gira sem parar e corre mais do que nós.

Notei num ensaio presunçoso que, em inglês, existe uma diferença entre jogar e jogar. Entre to gamble e to play; entre ir a um cassino para apostar ou jogar tênis e tocar um piano. Num caso é necessário algum tipo de habilidade sem a qual não há música ou disputa, mas nos jogos de azar basta ter sorte. Mas, além de gamble e play, existe a palavra matchpara designar o encontro equilibrado entre dois adversários.

Veja o leitor. Na roleta não há um match porque as chances são da banca. É um jogo com aficionados, mas sem “atletas”. Ninguém compete com uma roleta, mas contra ela. No mundo do esporte, porém, a disputa se transforma em competição. A igualdade inicial é um ponto central da dualidade constitutiva do esporte. Ora, a dualidade é o eixo sobre o qual gira a reciprocidade contida das formulas da caridade, das boas maneiras, da vingança e do dar-para-receber como viu Marcel Mauss. A palavra "partida" designa isso e antigamente era usada para se falar do futebol que retorna com a força das paixões recalcadas.

Para nós, brasileiros, o verbo jogar engloba tanto o jogo de azar (como o famoso e até hoje milagrosamente ilegal "jogo do bicho" e as loterias bancadas pelo governo) quanto o encontro esportivo regrado e igualitário, essa disputa agônica constitutivamente ligada a probabilidade de vencer ou perder.

Mas se uma mesma palavra — jogo — junta o jogo de azar e a disputa esportiva — nem por isso lembramos que o futebol é imprevisível. Nossa leitura canônica do futebol é sempre a de uma luta na qual o time do nosso coração vai ganhar, dai as desilusões das derrotas. Podemos perder, sem dúvida, mas resistimos freudianamente a pensar nessa possibilidade. Temos perdido muito, sem dúvida, mas recusamos perpetrar a única coisa a acertada diante da derrota: aceita-la.

Surge, então, o problema cósmico do futebol no Brasil. Como admitir que perder e ganhar fazem parte da própria estrutura desse jogo, se nós — em principio — não lemos na palavra jogo a possibilidade de derrota? A agonia e o prazer do futebol estão ligados precisamente a essa possibilidade, mas isso é afastado do nosso consciente. Quando vamos ao jogo, vamos a vitória e há motivos para isso. Um deles eu mencionei na semana passada: o futebol foi o primeiro elemento extraordinariamente positivo de uma auto-visão que era permanentemente negativa. Como imaginar que um povo convencido de sua inferioridade natural como atrasado porque era mestiço pudesse disputar (e vencer) os brancos "adiantados" e "puros" que inventaram a civilização e o futebol?

Quando começamos a dominar o futebol dele fazendo um fato social total: algo com elementos econômicos, religiosos, culturais, morais, políticos, filosóficos e cósmicos — uma grande tela que projetava tudo — descobrimos que o que vinha de fora podia ser canibalizado e tornar-se nosso. Era possível inverter a lógica colonial. A digestão do outro pela sua incorporação ou englobamento sócio-político no nosso meio é o pano-de-fundo do roubo do fogo dos deuses pelos homens.

No entanto, é preciso uma nota cautelar. Roubamos o futebol, mas não a vitória perpetua. Confundir a atividade futebolista com o sucesso permanente é infantil. Na política, isso surge com o vencer a qualquer custo ou, como diz um professor de poder no poder, o Sr. Gilberto Carvalho, "o bicho vai pegar...". Ou seja: temos que vencer com ou sem jogo o que, lamentavelmente, mas graças a Deus, é bem diferente do futebol. Escrevi essas péssimas linhas antes da vitória de 3 a 0 contra a França! Somos de agora em diante somente vencedores? Um lado meu espera que sim...

Dilema shakespeariano - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 12/06

Freud disse, cem anos atrás, que não existe observador neutro, totalmente imparcial. Os filósofos de botequim e a ciência moderna falam o mesmo. Somos todos tendenciosos. Galvão Bueno, mais que os outros. Costumamos pensar, analisar e agir de acordo com nossos pré-conceitos, preferências e conhecimentos, às vezes, sem perceber.

O jornalista esportivo, diante das incertezas do futebol, corre atrás de fatos e explicações que justifiquem e aprovem suas opiniões. Torce por suas ideias. "Não falei", costuma dizer o orgulhoso comentarista de televisão, durante as partidas. Quando os fatos contrariam suas opiniões, diz que o futebol é uma caixinha de surpresas.

Hernanes é um bom jogador, uma opção nas posições de volante e de terceiro no meio-campo, como atuou contra a França, junto com Paulinho e Fernando. Mas dizer que o time melhorou, após a entrada de Hernanes, quando a França estava desfigurada e sem marcar ninguém, é uma opinião tendenciosa e/ou de quem não percebe as mudanças durante as partidas. Uma coisa é entrar no início, e outra, nessa situação.

Apesar da claríssima falta cometida por Luiz Gustavo, detalhe (acaso) que mudou a história do jogo, o primeiro gol só saiu porque o volante brasileiro pressionou para desarmar no campo da França, como foi bastante treinado.

Hulk, mais uma vez, foi o mais eficiente dos quatro jogadores mais adiantados. Quando erra, é chamado de grosso. Há também uma insistência em rotular Lucas de craque. Não é. É um bom jogador, coadjuvante no Paris Saint-Germain.

Marcelo foi o melhor atacante, o que criou mais chances de gol. Como dizia o saudoso mestre Armando Nogueira, "quem ataca é atacante". Sua atuação foi facilitada por Valbuena, que ia para o centro e deixava Marcelo livre para receber a bola. Mesmo assim, o treinador Deschamps não fez nada para corrigir o erro.

Escrevi, domingo, que Alex, se jogasse hoje, como fazia quando era jovem, seria titular da seleção. O mesmo serve para Zé Roberto, de volante, posição que atuou na Copa de 2006, quando foi escolhido para a seleção do Mundial. Mas não há nenhum motivo para os dois serem hoje convocados. Seria o mesmo se a Holanda chamasse Seedorf. Não dá mais para a seleção. O tempo passou. Como diz a letra de um tango, "não é o tempo que passa; nós é que passamos e não enxergamos o presente".

Aumentaram as esperanças com a seleção e, paradoxalmente, cresceram as preocupações com Neymar, que, se evoluísse, seria o principal responsável pela melhoria do time. Atuou, mais uma vez, como um jogador comum. Receio que a precoce celebridade o tenha perturbado, o colocado em um dilema shakespeariano, entre driblar e passar, entre fazer um gol de placa e jogar coletivamente, entre ser ou não ser um fenômeno.

Namorados! McRapidinha Feliz! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 12/06

E uma amiga vai passar o Dia dos Namorados em estado de coma. Coma-me, pelo amor de Deus! Rarará!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Acordei encafifado com a Fifa! Fifa quer dizer: "Faça Isso, Faça Aquilo!", "faça isso, faça assim!", "faça isso, faça agora!".

E esta charge na internet: "Dilma cai oito pontos e faz quadradinho de oito". Melhor que a Ticiane Pinheiro!

E a charge do Nani: "Alô, é da CIA? Vocês poderiam me dizer onde botei a chave do meu carro?". O Obama deve saber! Rarará!

É hoje! Dia dos Namorados! E já vou logo sugerindo um motel em Porto Alegre: "Motel Ceres! Entrada pelos Fundos!".

Ou então esta promoção num motel na Via Dutra: "Você dá quatro, a quinta é nossa!".

Vai dar overbooking em motel. Por isso recomendo o drive-thru do McDonald's: entra, pede um hambúrguer, dá uma rapidinha e sai. McRapidinha Feliz!

Hoje é dia dos diminutivos; quinha, quinho, tutuca, môzinho!

E na noite do Dia dos Namorados é assim: "Meu anjo, bebê, fofita, pudinzinho!". Aí acorda no dia seguinte, e o pudinzinho vira anta e vaca. "Onde tá o Sonrisal, sua anta?" "Cadê minha cueca, sua vaca?" Rarará!

E lembre-se de que amor começa em motel e termina em pensão!

E você quer que sua namorada continue gritando após a transa? Limpa o pingolim na cortina. Ela vai gritar por três dias! Rarará!

E uma amiga vai passar o Dia dos Namorados em estado de coma. Coma-me, pelo amor de Deus! Rarará!

E um leitor mandou a foto da namorada com a legenda embaixo: "Tá explicado por que eu bebo?".

E as recomendações de todo ano: se o seu namorado te trair, não se atire pela janela. Você tem chifres, não asas!

E você sabe quando o namoro tá indo pro brejo quando engole muito sapo e come pouca perereca.

E eu tenho uma ótima dica pra presente do Dia dos Namorados, uma loja em Campos do Jordão: Flores & Pinto. Nessa ordem, please!

E celebridade troca tanto de namorado que nem sabe com quem tá namorando. Tem que ligar pra "Caras": "Com quem eu tô namorando mesmo?". Rarará!

E o que você vai dar no Dia dos Namorados? Vou dar um chifre! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Desejo e possibilidade - ROSÂNGELA BITTAR

Valor Econômico - 12/06

Políticos, publicitários, pesquisadores contratados do partido, empresários, um ou dois banqueiros, executivos de fundos de pensão e de estatais, insatisfeitos no geral e tensos no particular com a forma como a presidente Dilma conduz o governo e ergue barricadas às bandeiras da campanha da reeleição, pressionam o ex-presidente Lula para que seja ele o candidato em 2014. É um desejo, permanente, constante e reiterado em momentos de crise como agora. Mas apenas um desejo que, se realizado, facilitaria a vida de todos.

Mais do que as pesquisas de opinião do eleitorado, porém, reveladoras de um declínio fora da margem de erro da popularidade da presidente e da avaliação do governo, por uma razão sabida, portanto fácil de ser revertida, é a situação do governo, seus resultados, e, principalmente, os métodos de atuação da presidente e sua equipe que fazem tornar insuportáveis as pressões sobre Lula, levando sua candidatura, em 2014, a ser mais que um desejo, a ser uma possibilidade. É o que há, hoje.

O ex-presidente tem feito um esforço grande para, segundo um amigo sempre presente a seu lado, afastar de si esse doce cálice. Tem dito que antecipou a campanha eleitoral, até em prejuízo da candidatura Dilma, porque o PT o empurrava a iniciar logo as caravanas pelo país e não tinha como fazê-lo sem parecer que estava em campanha eleitoral, por ele próprio e não por Dilma. Explica seu interlocutor que Lula retomou as viagens internacionais, em circuitos onde é rei, mesmo contrariando recomendações para falar pouco e poupar-se mais, para manter-se em cena, como quer, sem desafiar os planos da sua criatura.

O PT não ficará eternamente no poder

Lula explica ainda aos mais preocupados em garantir e antecipar a concretude da permanência no poder que saiu do governo em um patamar muito alto de aprovação, e realmente não gostaria de voltar, nem em 2018, porque qualquer ponto a menos de popularidade significará desaprovação e derrota.

Mas quando as sondagens ao eleitorado mostram que a candidata à reeleição ainda não conseguiu atingir o seu objetivo político número um, que é tirar os adversários do caminho para evitar a qualquer preço o segundo turno, quando o governo não acerta o passo na economia, a perda de poder passa a ser uma ameaça concreta e, com ela, a candidatura Lula transforma-se em muito mais possibilidade.

É com ela que se trabalha no momento. Tanto no PT quanto no empresariado mais chegado ao partido. Na campanha para evitar crescimento dos adversários e candidaturas que levem a disputa de 2014 para o segundo turno, o governo identificou uma reaproximação, que considerou perigosa, do empresariado com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Ao tentar saber se estão realmente se bandeando para o campo adversário, petistas ligados ao ex-presidente ouviram explicações que se traduzem em críticas ao estilo de Dilma.

Um deles ilustra suas explicações contando como foram todos conquistados por Lula após a primeira eleição, em 2002, na qual investiram em José Serra com medo da vitória do líder petista o que, se ocorresse, imaginavam, os levaria a deixar o país. Uma vez eleito, Lula chamou-os ao Palácio e de uisquinho em uisquinho, de tapinha em tapinha, em meio à intimidade dos palavrões, transformou a todos em amigos de infância.

Sabiam que não teriam isso da presidente Dilma, só faltava. Mas, relatam, esperavam ser recebidos sempre e não perder o lugar de comensais do poder. Perderam, e são os que mais pressionam a volta de Lula, já, em 2014.

O ex-presidente sabe que têm conversado com Eduardo Campos e muitos estão por ele seduzidos. Na estratégia de sufocamento da candidatura socialista, Lula já tomou a si a tarefa de resgatar os empresários e vai dizer a eles que Dilma mudou e será ela mesma a candidata. Dirá também que Eduardo seria seu candidato, em 2018, se saísse da disputa agora. O governador tem dito a quem lhe leva esse recado que não confia no PT. Jamais a legenda deixaria com o PSB a cabeça da chapa, mas Lula vai insistir.

A decisão de não se candidatar, diz um dos amigos do ex-presidente, é estrutural. O problema é, no conjuntural, ninguém acreditar nisso. Desde que saiu o ex-presidente diz, e os petistas diziam, que se Dilma não fosse bem, ele voltaria. Aliás, esta seria a única circunstância em que se candidataria no lugar dela, pois vinha recusando um terceiro mandato desde sempre. Esse não "ir bem" é a possibilidade, aí, de novo, presente.

Na segunda-feira haverá, em São Paulo, uma nova reunião do grupo chefiado pelo ex-presidente Lula que faz avaliações políticas e discute os rumos da campanha eleitoral do PT. Estarão presentes Lula, o chefe, e os que integram a equipe de pesquisa e marketing do partido, o jornalista João Santana e o cientista político Marcos Coimbra, o presidente da legenda, Rui Falcão. A presidente Dilma, que já compareceu a alguns desses encontros, ainda não está confirmada para a reunião desta segunda, quando a queda da sua aprovação pelo eleitorado será discutida e, como está estritamente ligada ao funcionamento do governo, ela receberá de volta recados e recomendações. Ontem, porém, ela reuniu-se com João Santana, no Palácio da Alvorada, para avaliação política, e tanto ele quanto Aloizio Mercadante, seu representante político nas reuniões de coordenação, poderão representá-la.

Outra tarefa que o ex-presidente se impôs, enquanto constrói a reeleição tentando exorcizar a possibilidade real de sua volta, foi a de começar a preparar o PT para o futuro. Lula tem dito, e começará a expandir essas considerações para mais líderes no partido, que o PT precisa entender que não ficará eternamente no poder. Pode ser uma conversa para dar segurança e convencer Eduardo Campos, mas argumenta o ex-presidente que com o segundo mandato de Dilma o partido completará 16 anos no Executivo Federal. Se insistir em ficar 24 anos, pode perder a eleição. É preciso abrir espaço a um aliado antes que seja atropelado pela oposição.

FIO DE OURO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 12/06

Os furtos de fios elétricos começam a ocorrer também em bairros centrais da cidade. Relatório técnico da Prefeitura de São Paulo mostra que, na semana passada, foram registradas ocorrências na avenida Angélica (Santa Cecília), na avenida da Aclimação, no bairro de mesmo nome, e até na marginal Tietê, perto da ponte da Vila Guilherme.

IDEIA ILUMINADA
Nos cinco primeiros meses do ano, 788 km de fios foram furtados na cidade. Só no sábado passado, foram nove ocorrências. Na segunda-feira, outras seis. Há alguns dias, o prefeito Fernando Haddad (PT-SP) creditou os roubos, em parte, ao fato de a capital estar mal iluminada, prejudicando a segurança. A PM rebateu dizendo que, nos mais de 600 pontos onde a iluminação é fraca, não houve registro de furto.

PLANO C
Eduardo Suplicy (PT-SP) candidato a deputado estadual: a ideia foi lançada em reunião da bancada do partido na Assembleia Legislativa, como alternativa caso ele não consiga legenda para ser candidato ao Senado pelo PT. E agradou: muitos deputados imaginam que Suplicy teria tantos votos que ajudaria a eleger vários parlamentares. Ele, no entanto, diz que confia que terá aprovação do partido para tentar se reeleger senador.

TRANQUILO
Em 6 de maio, Suplicy entregou carta a Lula dizendo que pretende até disputar prévias no PT para ser candidato ao Senado. O ex-presidente prometeu marcar um almoço. Até agora, nada. "Estou tranquilo. Ainda vamos conversar em profundidade", diz o petista.

VEZES OITO
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, mantém a estimativa de que os quatro novos tribunais federais a serem criados no país custarão R$ 8 bilhões por ano. Estudo divulgado anteontem pelo Ipea estima que eles custariam apenas R$ 1 bilhão.

CUSTO FIXO
A conta parte da seguinte premissa: se o STF, com 11 ministros, custa R$ 520 milhões por ano, as despesas das outras quatro cortes, que terão pelo menos o dobro de magistrados, não poderiam chegar a apenas o dobro. Nela estão contabilizadas despesas com informática, carros, motoristas, limpeza, manutenção e segurança.

TIJOLO POR TIJOLO
A conta é multiplicada quando se leva em consideração o custo de construção dos prédios que abrigarão os quatro novos tribunais.

RETA FINAL
Marina Silva fará festa no sábado para comemorar a marca de 500 mil assinaturas de apoio à criação da Rede. O evento será na sala Crisantempo, em Pinheiros. Até ontem, o movimento contava 479.700 adesões.

SAÍDA POR CIMA
Gugu Liberato deve levar um helicóptero da Record como parte do acordo de sua rescisão contratual. A multa do apresentador era da ordem de R$ 100 milhões. Uma cláusula de sigilo protege a negociação. A Record não se manifesta sobre o tema.

ROMARIA
A pouco mais de um mês da visita do papa Francisco a Aparecida (SP), surgiu projeto de lei que institui as diretrizes para o turismo religioso no Estado. De autoria de Fernando Capez (PSDB-SP), reivindica sinalização turística e melhorias de infraestrutura em Aparecida, Guará, Lorena, Canas, Cachoeira Paulista, Cruzeiro, Piquete, Roseira e Cunha, conhecidas por seus peregrinos.

ROMARIA 2
O texto, publicado no "Diário Oficial", também pede a conservação das rodovias estaduais que ligam esses municípios.

FOLIA DE REIS
A carioca Bianca Byington protagoniza "Noite de Reis" ao lado de Enrique Diaz. O filme, do diretor Vinicius Reis, estreia nesta sexta.

No segundo semestre, a atriz estará nos palcos de São Paulo com "Duas Peças". Ela atua e dirige o espetáculo de Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri.

QUANTO RISO
A comédia "Minha Mãe É uma Peça", estrelada por Paulo Gustavo e com direção de André Pellenz, teve pré-estreia para convidados anteontem. Os atores Ana Karolina Lannes, Mônica Martelli, Renata Ricci, Ronny Kriwat e Tiago Abravanel foram assistir ao filme no Cinemark do shopping Eldorado.

COMER, COMER
O Prêmio Melhores do Ano da Gastronomia, da revista "Prazeres da Mesa", foi entregue no domingo. Foram à cerimônia no hotel Renaissance os chefs Ana Luiza Trajano, André Mifano, Janaina Rueda e Paulo Yoller. O restaurateur Juscelino Pereira, do Piselli e do Zena, e a barista Isabela Raposeiras também participaram.

CURTO-CIRCUITO
O livro "Os Órfãos de Korczak: Vivências de uma Educação Transformadora", de Ana Szpiczkowski, será lançado hoje, às 18h30, na Livraria da Vila do Pátio Higienópolis.

A Trupe Chá de Boldo faz show hoje, às 21h, na Serralheria, na Lapa, para lançar o clipe da música "Belém Berlin". 18 anos.

Caetano Bedaque é o novo vice-presidente de comunicação e imagem da Associação Paulista de Imprensa.

Reflexões e sugestões sobre a energia no Brasil - DAVID ZYLBERSZTAJN E ADRIANO PIRES

FOLHA DE SP - 12/06

O governo usa as empresas estatais de energia como instrumento de política econômica. É de se esperar que percam valor


Não há melhor ocasião para propor uma reflexão sobre o setor energético brasileiro.

A transformação na área nos Estados Unidos é realidade. Em 2015, o país superará a Rússia como principal produtor de gás natural. Em 2017, ultrapassará a Arábia Saudita na produção de petróleo e, em 2035, se tornará exportador do óleo.

O pilar da política energética americana é o estímulo ao empreendedorismo, à inovação e às regras de mercado. Uma corrida em busca de novas tecnologias permite a competição entre produtores e a incorporação de formas de energia, com forte participação das renováveis.

O incentivo ao crescimento da oferta conduz, naturalmente, à queda dos preços. Lá, o papel do governo resume-se a garantir a competição por meio da regulação e incentivar o aumento da eficiência.

No Brasil, sabemos que apelar às regras do mercado causa fortes alergias a determinados setores políticos e econômicos. Aqui, o governo usa as empresas estatais de energia como instrumento de política econômica e para promover práticas populistas. Não é por acaso a enorme perda de valor das grandes estatais, como Petrobras e Eletrobras, vítimas da surrada, testada e reconhecidamente inócua justificativa de controle da inflação.

Esse breve "recordar é viver" nos leva à medida provisória nº 579, a MP do Setor Elétrico, que aumentou a intervenção estatal. Como toda solução populista, a redução de tarifas vem sendo comemorada. Mas, da forma como está sendo feita, quando há escassez de energia no mercado, caem a qualidade dos serviços e o investimento. E aumenta o risco de faltar energia no médio e longo prazo. O subsídio concedido para ocorrer redução de tarifas passa a ser pago pelo contribuinte em vez de ser pago pelo consumidor. Ou seja, a mesma pessoa paga. Só muda o bolso.

Isso já acontecia no setor de petróleo: longo período sem licitações e redução da área exploratória. Na Petrobras, projetos abandonados, não cumprimento dos planos de investimentos e das metas de produção, importações crescentes, necessidade de capitalização, piora expressiva dos resultados e vendas subsidiadas de diesel e gasolina.

O erro mais grave do governo no setor foi o de suspender os leilões em 2008. Eles acabam de ser retomados de modo bem-sucedido, utilizando-se os mesmos mecanismos anteriormente criticados. Da mesma forma, ao congelar os preços da gasolina, o governo acabou com a concorrência com o etanol. Consequentemente, levou o setor a uma crise para a qual, por enquanto, não se enxerga uma saída.

Até quando vamos ter de conviver com o uso das estatais como instrumento de política econômica? Até quando teremos de ver o governo desrespeitar acionistas minoritários e as agências reguladoras terem a autonomia limitada? Até quando a sociedade será confrontada com planos improvisados?

Urge uma política energética que leve em consideração a existência das forças de mercado e que imponha a estabilidade regulatória. A melhor forma de aumentar a oferta de energia e ter preços competitivos é estimular a concorrência.

Ou se resgatam as boas práticas de mercado ou viveremos num cenário permanente de incertezas e riscos. O paradoxo brasileiro é possuir tamanha diversidade de fontes primárias de energia --nosso diferencial-- diante de tanta ineficiência.

O combate à inflação se faz, primordialmente, com controle de gastos públicos e estímulos à oferta. O setor de energia não foge à regra e precisa de estímulo e confiança para investir.

Preços competitivos de energia são alcançados quando as políticas de governo levam em consideração as regras de mercado, que acabam por incentivar o uso racional e a segurança de abastecimento.

A conta chegou - CRISTIANO ROMERO

Valor Econômico - 12/06

O nervosismo do mercado nos últimos dias, com reflexos nos segmentos de juros, câmbio e ações, mostra que chegou ao fim, pelo menos para os países emergentes, a era de experimentalismos em matéria de política econômica. Começa a se fechar a janela de oportunidade, propiciada pelo excesso de liquidez no mundo, para realização de reformas estruturais. O Brasil está saindo do ciclo internacional de liquidez com inflação mais alta, crescimento menor, baixa taxa de investimento, déficit externo crescente, deterioração das contas públicas e credibilidade abalada.

Nos últimos dois anos, o governo Dilma Rousseff abandonou o tripé de política econômica que regia o país havia 12 anos, sob a justificativa de que a crise nas economias avançadas teria efeito desinflacionário no restante do planeta e abriria, assim, uma oportunidade para o Brasil mudar seu equilíbrio macroeconômico. O país substituiria o binômio juro alto-câmbio apreciado por um bem mais vantajoso: juro baixo-câmbio competitivo.

Numa apresentação feita em novembro de 2011 e intitulada "Além do Consenso de Washington", o então secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, deu a senha das mudanças. Segundo ele, "uma política pró-crescimento é consistente com a estabilidade macro, desde que se evitem escolhas extremas". Por escolhas extremas, ele denominava aquelas que prevaleceram durante a maior parte do governo Lula, a quem também serviu - em livro publicado pela Fundação Perseu Abramo em 2010, Barbosa tachara a gestão Antonio Palocci na Fazenda (2003-2006) de "neoliberal".

O fato é que o secretário, gozando então de grande prestígio junto à presidente Dilma, disse que, dali em diante, o tripé funcionaria da seguinte maneira: "Metas de inflação com redução na taxa real de juro e aceleração do crescimento; câmbio flutuante com acumulação de reservas internacionais e regulação dos fluxos de capital; metas fiscais com aumento nas transferências de renda e no investimento público".

A rigor, a taxa de câmbio passou a ser administrada, a conta de capitais foi parcialmente fechada, o superávit primário foi reduzido drasticamente e o Copom perdeu autonomia para fixar a taxa de juro, passando a viver sob forte cerco da Fazenda e do Palácio do Planalto. A primeira perna do tripé flexibilizado já mostrava que se tratava de um manifesto político, mais do que de uma decisão econômica, afinal, quem não quer reduzir juros e acelerar o PIB?

À medida que o "novo" equilíbrio macroeconômico foi resultando inútil do ponto de vista do crescimento econômico - o PIB médio anual do período Dilma é o menor desde a gestão Collor (1990-1992) -, o governo passou a adotar uma série de medidas pontuais para estimular o consumo. Mais uma vez, os estímulos não funcionaram. Diante da alta da inflação e da perda de credibilidade e previsibilidade da política, sem dúvida um desincentivo ao investimento privado, a Fazenda lançou mão de um sem-número de medidas fiscais para segurar os preços - o objetivo era impedir que o BC elevasse os juros.

Essa gestão macro contaminou o que o governo Dilma tem de melhor: uma agenda para estimular o setor privado a liderar os investimentos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Em que pese uma clara má vontade dos mercados em relação aos propósitos da presidente nessas áreas, além das idas e vindas do governo na definição das regras do jogo, trata-se de algo inédito - Dilma reconheceu, contra a vontade de seu partido, a incapacidade do Estado de tocar investimentos em infraestrutura e anunciou que o país não será socialmente justo se não tiver uma economia competitiva.

É impressionante como esse ímpeto liberalizante não combina com a gestão macroeconômica. Esta tem sido marcada por improvisos, pacotes a toda hora, malabarismos contábeis, desorganização do que estava organizado (o controle do endividamento dos entes federativos, por exemplo). Claramente, a presidente não teve sangue-frio para implantar sua agenda micro, cujos efeitos vão se dar no médio e longo prazo, enquanto assistia a um período, provavelmente temporário, de crescimento mais baixo da economia.

A conta chegou e veio puxada pela expectativa de investidores nacionais e estrangeiros de que o banco central americano acabará, antes do esperado, com a política de afrouxamento monetário iniciada em 2008. Ao respaldar o início de um novo ciclo de alta dos juros e a decisão do BC de deixar o câmbio flutuar, o governo Dilma reconheceu que o momento é difícil e que suas políticas precisavam de correção de rumo. É o que está ocorrendo.

Falta, agora, colocar de pé uma política fiscal que dê respaldo às políticas cambial e monetária. Não faz sentido o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentar a taxa básica de juros (Selic), enquanto o governo segue expandindo os gastos públicos. A dúvida está posta: o Comitê está subindo os juros para frear a demanda agregada ou apenas o consumo das famílias?

Em entrevista ao Valor, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo não aumentará os juros dos empréstimos com fundos públicos. Isto significa que o BC terá que aplicar uma dose mais forte de juros para conter o consumo das famílias e das pequenas e médias empresas, que têm acesso reduzido ao dinheiro subsidiado do BNDES. Para realizar a tarefa, portanto, o Copom terá que gerar mais desemprego para que as famílias consumam menos. É isso o que a presidente quer?

As últimas pesquisas de opinião mostram que Dilma já está começando a pagar, com perda de popularidade, a conta dos equívocos da política econômica. Com mais de 50% de aprovação, ela ainda é favorita à reeleição em 2014. Mas seu eleitorado está começando a encolher.

Para entender o governo Dilma - LOURDES SOLA

ESTADÃO - 12/06

Nas últimas semanas se acumulam as evidências de que o governo está numa encruzilhada, obrigado a definir novos rumos, que não se restringem apenas à revisão de sua trajetória econômica. O que chama a atenção são outros desdobramentos, que, somados ao quadro econômico, indicam uma reconfiguração das forças que compõem os cenários doméstico e internacional. Sim, há o PIB insignificante, a resiliência da inflação e a queda do superávit comercial, que de maio de 2012 ao de 2013 se reduziu em 72%, de US$ 27 bilhões para US$ 7,8 bilhões. O que surpreende são dois outros aspectos, subdimensionados pelos assessores do governo. Por um lado, a quantidade de tópicos em que a revisão de rumos se apresenta como uma ordem de comando do tipo "meia-volta, volver!". Por outro, multiplicam-se as frentes políticas e econômicas em que o governo é desafiado a exercer novas formas de autoridade política.

Vale a pena refletir sobre isso, pois, tomados conjuntamente, criaram condições quase experimentais para observar a capacidade do governo Dilma de reinventar-se, em resposta a novos desafios. As encruzilhadas são, por definição, conjunturas excepcionais, às quais não se aplica a expressão "ponto fora da curva", pois denotam uma confluência de vetores. Testam a capacidade dos governantes de pilotar a nau do Estado em condições em que o recurso ao piloto automático pouco ajuda - seja o da ideologia ou o das retóricas populista e/ou autocrática. Com razão os ingleses, cuja experiência naval é inconteste, definem esse atributo como statemanship, que define um tipo de autoridade que as condições variáveis, imprevisíveis e contingentes da navegação política exigem.

As meias-voltas do trimestre incluem alguns "cavalos de pau". Como o recurso às privatizações na área de infraestrutura, antes tratadas como anátema; a recomposição das tarifas impostas às concessionários das rodovias; a prioridade atribuída à inflação pelo Banco Central; e o foco na taxa de investimento como elemento propulsor do crescimento e da demanda. Tudo isso, somado às desonerações fiscais e à retomada (tardia) das licitações para exploração do pré-sal, aponta para um novo tipo de ativismo estatal, mais abrangente e mais amigável para com o capital privado. Pontos para o governo, não fossem outros sinais de exacerbação de práticas passadas, pelo alto teor de intervencionismo fadado a reduzir a confiança dos investidores. Entre eles: as manobras criativas da Fazenda para inflar ficticiamente o superávit primário; a indisciplina fiscal do governo; e o fato de que as desonerações fiscais respondam mais aos lobbies em Brasília do que a uma política fiscal sustentável e coerente com a nova política monetária. Há também a omissão do governo diante do dever de prestar contas à opinião pública e aos beneficiários do Bolsa Família pela insegurança provocada por um órgão subestatal, com apoio na retórica conspiratória de sempre.

Mas a súbita multiplicação de frentes nas quais o governo é desafiado a atuar preocupa: elas estão a exigir novas formas de autoridade política, e não um pouco mais do mesmo receituário. A contestação do poder de agenda do Executivo por um Congresso cujo poder de veto é mobilizado pelo principal parceiro do governo, o PMDB, é uma delas. Há uma segunda frente que torna incontornável a revisão profunda de uma das dimensões de maior peso geoeconômico da política externa, ou seja, a política comercial. O sinal mais claro é a súbita reversão de expectativas de uma parcela do empresariado doméstico, agora a favor de maior liberalização comercial, ou seja, da exposição aos ventos da concorrência internacional, porque confrontado com um duplo choque de realidade.

Por um lado, a perda de mercados na região, nos EUA e na Europa expõe os déficits de competitividade e a precariedade do tipo de proteção estatal que praticamos, numa economia internacional mais competitiva. Por outro, o desempenho do México, do Chile, da Colômbia e do Peru ilustra as vantagens de políticas liberalizantes que respaldam a proliferação de acordos bilaterais e de alianças regionais alternativas ao autarquismo do nosso maior parceiro no Mercosul e os do eixo bolivariano. A reconfiguração do contexto internacional se completa com os fatores que revigoram a força gravitacional dos EUA: a recuperação da economia; a valorização do dólar; os avanços tecnológicos na área energética; e a prioridade atribuída aos acordos regionais e bilaterais. Esses desdobramentos obrigam a repensar nossa política industrial e nossas parcerias, bem como a aposta exclusiva no multilateralismo.

Correções de rumo, quando coerentes e sustentáveis, atestam uma das virtudes da democracia, decantada pelos clássicos: sua capacidade de autocorreção. Os procedimentos democráticos precipitam mudanças que revigoram a autoridade pública e a qualidade das respostas aos desafios econômicos. Sob a condição de que seus principais motores - a concorrência política e a participação - não sejam inibidos como na Venezuela de Chávez e na Argentina dos Kirchner.

A julgar pelos desdobramentos do semestre, tenho poucas dúvidas sobre a eficácia politicamente persuasiva dos desafios econômicos. Minha dúvida diz respeito à forma pela qual o governo se posiciona diante da encruzilhada. Pois os bons ventos só serão úteis se seus formuladores procederem como em A volta ao mundo em 80 dias, de Julio Verne, em sua versão cinematográfica. Nela, Passepartout, o ajudante francês do aristocrata inglês Fogg, é representado por Cantinflas. Para chegar a tempo de cumprir com o prazo da aposta do patrão, vai jogando um a um os objetos acumulados no balão em que se encontravam, para aproveitar os bons ventos sem comprometer a leveza do veículo - e o sucesso da aposta. Pois, como lembra Montesquieu, "não há bons ventos para naus sem rumo".

À deriva - CLÁUDIO SLAVIERO

GAZETA DO POVO - PR - 12/06

O ministro Guido Mantega divulgou o seu “PIBinho” trimestral, de 0,6%, admitindo que a economia do país não terá o desempenho que ele previa para 2013, com um PIB de pelo menos 4%. Mas, sem perder a empáfia, alegou que esse é um crescimento sustentável dentro dos padrões estabelecidos e que a economia vai bem.

O patético episódio sobre o fim do Bolsa Família, que levou milhares de pessoas a sacar a que seria a última parcela do bolsa-esmola, reafirma que a opção do PT é mesmo pelos pobres: deseja manter 13 milhões de brasileiros na situação de pobreza em que se encontram. A prova é o desempenho de nossa economia. Parece que o (des)governo deseja mantê-la neste patamar para cultivar esse universo de pobres que lhe garanta a reeleição.

O governo petista tem raiva dos empresários e das empresas que têm lucros, daqueles que desejam o desenvolvimento e o progresso. Altos impostos, carga tributária absurda, emaranhado de leis trabalhistas e fiscais, dificuldade para se abrir ou fechar empresas, excesso de burocracia generalizada, corrupção, inflação e projetos do PAC empacados, além do caos na infraestrutura, mostram mesmo que a opção do PT é pelo atraso e pelo discurso ideológico.

Prova categórica disso é o Mercosul. Há mais de 20 anos somos os pretensos líderes de um tratado comercial de retorno econômico duvidoso com discursos vazios e orientados pelo viés ideológico terceiro-mundista, que reúne países piores que nós. Ele surgiu como uma aliança comercial objetivando dinamizar a economia regional, movimentando entre si mercadorias, pessoas, força de trabalho e capitais para gerar crescimento e riqueza entre os países; hoje, é um bloco que não serve para nada e não produz nada! É essa a opção do PT: juntar-se aos mais pobres, com os líderes mais fracos, consolidar a opção pelo atraso.

De que nos serve a Venezuela e seus chavismos, envolta no governo de Nicolás Maduro e a proclamada revolução implantada por seu antecessor? De que nos servem a Argentina, conduzida – às trapalhadas – por Cristina Kirchner, ou o Uruguai, com a quietude política do ex-guerrilheiro José Mujica? Há um exemplo bem nítido das distorções desse bloco: nos últimos anos, o Brasil perdeu exportações para tradicionais compradores da América Latina (que preferiram direcionar suas compras para outros destinos), perdendo US$ 5,4 bilhões em vendas, segundo a Confederação Nacional da Indústria. O Paraguai deveria exultar por ter sido expulso desse clube de incompetentes.

Os exemplos de blocos comerciais com sucesso poderiam ser copiados. Mas o que parece seduzir os governos do Mercosul é o modelo protecionista, retrógrado e escorado só em discursos. O Brasil e a Argentina são típicos deste perfil, fechados em medidas pseudoprotetoras da economia.

Ao mesmo tempo, enquanto a Argentina, por exemplo, impõe barreiras, regras e taxas ao Brasil, em vários produtos, a Aliança do Pacífico junta Chile, Peru, Colômbia e México (além do ingresso previsto de Costa Rica), que reduzem ou eliminam as tarifas aduaneiras de produtos comercializados entre suas fronteiras.

Especialistas entendem que a Aliança do Pacífico, formada por países com crescimento de PIB, inflação controlada, negócios estimulados e abertura (literal) ao mundo pelo Pacífico, busca a diversificação de suas relações comerciais com outros países e blocos para deter o avanço asiático na região. E, ao mesmo tempo, pretende se beneficiar da demanda dos asiáticos por commodities agrícolas e minerais.

Ninguém age de forma ineficaz, como faz o Brasil, negociando e/ou cooperando com a Etiópia e perdoando dívidas de países africanos, entre outros, pela simples simpatia ideológica ou olhando para as próximas eleições e/ou a chamada opção pelos mais pobres, subestimando alianças com países mais ricos, que possam nos alavancar para um futuro de prosperidade.

Idealizado desde o seu rascunho para facilitar a inserção do quarteto de países fundadores na economia global e o estímulo ao seu desenvolvimento econômico e social, o Mercosul parece cada vez mais virado de cabeça para baixo, tendo o Brasil do PT, aquele com a opção pela pobreza, como líder inconteste.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 12/06

Aeroporto de Cabo Frio terá obras de R$ 100 mi
Localizado entre as cidades turísticas de Arraial do Cabo e Armação de Búzios, no litoral do Rio, o Aeroporto Internacional de Cabo Frio planeja uma expansão para se tornar uma espécie de centro logístico na região.

O Grupo Libra, responsável pela administração do aeroporto, investirá R$ 100 milhões. Além de receber mais voos com turistas, a ideia é atender a dois tipos de demanda cada vez maiores.

O aeroporto passou a ser usado como base de helicópteros que seguem para plataformas de petróleo, pela proximidade com as bacias de Campos e Santos.

Outro uso é como centro de armazenagem de cargas, com a estrutura formada pelo regime aduaneiro do aeroporto internacional.

"Começamos a transformar a região num polo industrial, capaz de receber empresas que exportam muitos insumos, como a indústria farmacêutica", afirma Kleber Meira, presidente da Libra Aeroportos, braço do grupo.

O plano é ampliar o pátio de aeronaves cargueiras em 65 mil m² e ter mais 66 mil m² de espaço para helicópteros, o que permitirá o pouso de mais 30 por dia.

Também está previsto um novo terminal de passageiros, para que possam ser atendidas anualmente até 500 mil pessoas. As obras devem ficar prontas em três anos.

Inaugurado em 1998, o aeroporto foi transferido em 2001 à iniciativa privada pela Prefeitura de Cabo Frio.

RUMO AO NORDESTE
A catarinense Schaefer Yachts vai instalar uma fábrica de barcos na Bahia que ampliará sua produção em cerca de 25%. O empreendimento demandará aporte de R$ 28 milhões.

Hoje a empresa tem três estaleiros --todos em Santa Catarina--, que constroem 200 unidades por ano. A nova planta terá, inicialmente, capacidade para 48 barcos.

"No começo, serão quatro por mês. Depois, iremos crescendo conforme a resposta do mercado", afirma o presidente da companhia, Marcio Schaefer.

"A Bahia tem um potencial interessante e, como está no Nordeste, facilita a questão logística", diz.

A Schaefer Yachts vinha negociando com o governo baiano há três anos e assinou um protocolo de intenções ontem. Agora, espera começar a operar dentro de 20 meses.

No ano passado, a empresa faturou R$ 189 milhões.

NOVO CAMINHO PARA O TELES PIRES
Uma das principais hidrelétricas em implantação na Amazônia, a usina de Teles Pires se prepara para construir sua barragem principal no próximo mês.

O rio de mesmo nome, entre Mato Grosso e Pará, começou a ser desviado na semana passada. É uma das fases mais importantes, que levará ao pico da instalação da obra, orçada em R$ 3,7 bilhões.

Até o fim deste ano, serão cerca de seis mil operários em atuação (hoje, são 4.600).

"Fizemos até agora escavações e ficamos voltados à construção civil. Com a implantação da barragem, começa também a montagem de equipamentos, como condutores, até a chegada das turbinas", diz Celso Ferreira, diretor da usina.

A barragem de 70 metros de altura começará a ser feita assim que o desvio do rio for concluído. Deve ficar pronta em setembro de 2014.

A Companhia Teles Pires espera começar a geração de energia em dezembro do mesmo ano, cinco meses antes do previsto na concessão.

A hidrelétrica já está 39% concluída, segundo o último relatório do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

MAIS AO SUL
A rede de lojas de móveis e eletrodomésticos Schumann investirá R$ 35 milhões neste ano na construção de um centro de distribuições (CD) e na abertura de dez unidades na região Sul do país.

O CD, que demandará cerca de 70% do capital, terá 20 mil metros quadrados de área construída. Ele substituirá o atual, de 8.000 m2.

O empreendimento será instalado em Chapecó (oeste catarinense), cidade-sede da companhia.

Das novas lojas, duas serão no Rio Grande do Sul e oito em Santa Catarina, nas regiões de Joinville e Blumenau.

"O projeto é avançar em direção às capitais dos dois Estados", diz o presidente da empresa, André Schumann, que pretende inaugurar os dez pontos até o fim do ano.

Com a expansão, o número de funcionários deve passar dos 1.200 atuais para cerca de 1.500. Schumann também espera que o faturamento aumente 35%.

"De 2011 para 2012, já crescemos nessa faixa", afirma.

No ano passado, a empresa vendeu em móveis e eletrodomésticos aproximadamente R$ 220 milhões.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 12/06

OPERÁRIOS DO MARACANÃ VÃO PARA OUTRAS OBRAS
Em fenômeno incomum, demitidos estão sendo absorvidos por consórcios responsáveis por metrô, Porto e Transcarioca

Com o fim das obras do estádio, o Consórcio Maracanã Rio 2014 deu início à demissão de operários. No primeiro trimestre, pico da reforma, estima-se que mais de seis mil trabalhadores se revezavam nos canteiros. De maio para cá, cerca de três mil já foram desligados, segundo fontes do setor de construção pesada. A Odebrecht, líder do consórcio, que inclui a Andrade Gutierrez (AG), admitiu as demissões, mas não revelou o número. À coluna, a construtora informou que 600 empregados permanecerão vinculados nos próximos dois meses, para o trabalho de comissionamento do estádio. Mas, num fenômeno incomum, operários do Maracanã estão sendo recontratados por outros grupos, para reforçar equipes de outras grandes obras de infraestrutura na cidade. Há trabalhadores no Metrô Linha 4 (projeto de Queiroz Galvão, Odebrecht, Camargo Corrêa e OAS), Metrô Barra (Queiroz, Odebrecht e Constron), Transcarioca (AG) e até no Porto Maravilha (Odebrecht, Camargo e OAS). As empreiteiras já cogitam levar quadros qualificados para a reforma do Maracanã para a fase final das obras dos seis estádios da Copa do Mundo 2014, que ainda não estão prontos.

3 MIL TRABALHADORES
É a mão de obra que a construção civil necessita na cidade do Rio, para obras residenciais e comerciais. O Sinduscon-Rio diz que as empresas querem contratar pessoal do Maracanã.

DANÇOU
A Zurich, seguradora de origem suíça, estreia a campanha publicitária de 2013 hoje à noite, na TV. No filme, a Gray141 fez, novamente, opção pelo humor. Um engravatado faz uma dancinha no elevador; é filmado e flagrado por seus pares. A Paranoid produziu. A ação inclui impressos, web e rádio.

CORREÇÃO
Crianças brasileiras podem falar inglês melhor que adultos que têm o idioma como língua nativa?A resposta está em projeto da Red Balloon, escola de inglês para crianças. Alunos de8a 13 anos checaram ortografia egramática de seus ídolos no Twitter. E enviaram tweets com correções. Está no ar no YouTube. A Ogi lvy assina.

PARA CRESCER
A Rio Coaching, de treinamento pessoal, estreia amanhã campanha com foco em pequenos e médios empresários. É criação da 11:21. Espera faturar 25% a mais.

Empacou
Ficou para o início de julho a votação na CCJ do projeto do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), que libera a terceirização da mão de obra. Até lá, parlamentares esperam fechar acordo na Comissão, para que o texto vá direto ao Senado.

Em tempo
Um dos impasses do texto é a responsabilidade subsidiária. Se aprovada, o empregado só poderá acionar a contratante, se não tiver sucesso no processo contra a terceirizada. Hoje, ambas são responsáveis solidariamente.

Cultura
O BNDES estuda criar linha não reembolsável para financiar microempresas de comunicação, como blogs, TVs e rádios comunitárias.

A Comissão de Cultura da Câmara já debateu a proposta. Na 6ª, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) levou a ideia ao banco. A próxima reunião deve ser dia 21.

Antenas 1
Carlos Duprat, presidente do Sinditelebrasil, que reúne o setor de telefonia móvel, terá encontro com Eduardo Paes, na 6ª. Vai propor novo processo de instalação de antenas na cidade.

Antenas 2
Ele defende licenciamento diferenciado, por porte de instalação. “Há caso que não pede licença. É mais ágil”, diz Duprat, que falou sobre o tema na Rio Wireless.

Reforma
A GL events Brasil, gestora do Riocentro, reforma o Pavilhão 1. Investe R$ 50 milhões.

O espaço também terá o 1º restaurante fixo do Centro de Convenções, o Pax Delícia.

Debutante
O Downtown investe R$ 30 milhões em revitalização. É ação pelo 15º aniversário do shopping. Inclui reforma e pintura dos blocos, novo projeto de iluminação com LED e sinalização do estacionamento, que terá espaço vip, com valet.

Internacional
A American Express espera dobrar vendas e recarga do GlobalTravel Card, cartão pré-pago de viagens, para as férias de julho. É efeito do gasto recorde de brasileiros no exterior, em abril: US$ 2,1 bi.

Livre Mercado
O BarraShopping encerrou cinco dias antes a promoção do Dia dos Namorados. As 40 mil camisetas com imagens do Rio se esgotaram na 6ª. A previsão era hoje. Houve troca de R$ 10 milhões em notas.

ATIM fez parceria inédita com a Universal Music. O clipe de Paula Fernandes traz merchandising do aplicativo TIM music.

AJLT Re promove hoje, no Rio, o 4º Seminário de Óleo e Gás.

AToca do Biscoito abre a 15ª franquia, dia 17, no Centro. Aporte de R$ 145 mil.

A Lupo abre loja no aeroporto de Congonhas (SP), amanhã.

JOIA
A Gotti n, joalheria carioca, lança, na 6ª, a campanha pelo mês dos Namorados. Prevê alta de 15% em vendas. Terá catálogo e veiculação na internet.

Megaloja
A Centauro abre amanhã, na Barra, a 1ª unidade Full Size. O novo modelo de loja de rua da rede terá três mil metros quadrados e parede interativa da Adidas. É projeto de R$ 2 milhões.

O grupo planeja mais quatro do tipo em 2014. Este ano, abrirá 20 lojas tradicionais.

Cachorro grande
A Pet Center Marginal, rede de megalojas para animais, abre a primeira filial no Rio, amanhã. Ficará na Barra.
Terá mil metros quadrados, 15 mil itens à venda, clínica veterinária e centro de estética. Investimento de R$ 2 milhões, é a 20ª loja do grupo. Este ano, virão mais duas. A meta é faturar R$ 250 milhões em 2013.

Chinelo
A Kenner, de sandálias de dedo, lança coleção de inverno. Quer elevar vendas em 20%. A campanha estreia em redes sociais até domingo. A Ana Laet assina.

Mundão
O Mundo Verde já abriu 17 lojas este ano. Planeja mais dez até dezembro. A rede espera fechar 2013 com 270 filiais, contra 243 em 2012. O faturamento do grupo deve subir para R$ 300 milhões. No ano passado, foram R$ 267 milhões.

Quem vem
A cervejaria Hofbräuhaus, de Munique, está a caminho do Brasil. Após um ano de negociações, fechou contrato de franquia com um grupo de empresários de Minas Gerais. A alemã já está em Dubai, EUA e China. Aqui, o grupo teve assessoria do Bhering Advogados.

Suplemento
A Analítica, farmácia de manipulação, lança a linha Nutricional Care. Os suplementos consumiram R$ 200 mil de investimento e três anos de pesquisa com atletas de alto rendimento, como Rafael Feijão, do UFC. O 1º lote, de 1.400 unidades dos três produtos (Whey Protein, BCAA e Creatina Monohidratada) deve se esgotar em três meses.

Choque fiscal - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 12/06

O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, hoje notório consultor da presidente Dilma, vem recomendando que o governo se comprometa já a garantir um choque de responsabilidade fiscal na condução das contas públicas.

Se isso acontecer, o jogo hoje perdedor na economia poderá ser imediatamente virado: "Se ela (a presidente Dilma) disser 'eu vou buscar o déficit nominal zero nos próximos três anos', o efeito ocorre hoje, pois ela tem credibilidade".

Essa proposta foi feita pela primeira vez por Delfim em 2005, ao então presidente Lula. Quem mais resmungou contra ela foram aqueles que vivem de juros altos e a não aceitação dessa proposta foi então atribuída pelo economista Yoshiaki Nakano ao lobby dos bancos.

É preciso avaliar isso melhor. Déficit nominal é a situação de rigoroso equilíbrio das contas públicas. Acontece quando as despesas se equivalem às receitas (arrecadação), incluídas aí as despesas com os juros da dívida, que no Brasil não constituem desembolsos de caixa, porque o Tesouro os incorpora à dívida pública com emissões correspondentes de títulos.

Se o governo se determinar a produzir esse resultado, as despesas serão o que forem as receitas e a dívida encolherá em relação ao PIB. Isso significa que o Tesouro não terá mais de emitir títulos, a não ser para repor aqueles que estiverem vencendo.

O efeito de uma decisão desse tipo tenderia a ser poderoso. Devolveria a confiança na condução da política econômica, a inflação tenderia a cair e o crescimento aumentaria. Uma economia na terceira marcha reativaria a arrecadação e facilitaria o novo objetivo. Além disso, abriria largas avenidas para que o governo pudesse colocar em prática as políticas que bem entendesse: transferências sociais, redução dos juros, desvalorização cambial, etc.

A principal objeção no momento à política do déficit nominal zero é que, durante algum tempo, seria necessária forte austeridade e certo sacrifício da população. No entanto, os resultados imediatos tenderiam a compensar essa inconveniência.

Há duas outras objeções. A primeira é de que precisaria de alguns anos (pelo menos três, pelas contas de Delfim) para que o déficit pudesse ser zerado sem grandes traumas e, no entanto, a presidente Dilma tem apenas mais um ano e meio de mandato, portanto, não poderia agora prometer esse efeito. A segunda, a de que imporia mais sacrifício justamente às vésperas das eleições, quando a pletora por despesas aumenta.

Quanto à primeira objeção, a presidente Dilma poderia condicionar os resultados dos dois ou três anos seguintes à sua recondução ao governo para um segundo mandato. Funcionaria como a Carta ao Povo Brasileiro assinada pelo então candidato Lula em 2002, em que se comprometera a fazer uma administração responsável e a derrubar a inflação. Na ocasião, deu enorme credibilidade à sua campanha.

À segunda objeção, pode-se contra-argumentar que a atual deterioração das contas públicas e da própria economia brasileira já vem provocando estragos no poder aquisitivo da população e erosão nas intenções de voto, como as pesquisas estão mostrando.