domingo, fevereiro 20, 2011

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

Pela libertação da Presidência
ROBERTO POMPEU DE TOLEDO
REVISTA VEJA

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

A VOLTA DOS INOCENTES

A VOLTA DOS INOCENTES (MENSALEIROS)
REVISTA VEJA

CLIQUE NAS IMAGENS PARA AMPLIAR

ASSANGE SEM CENSURA

Assange sem censura
REVISTA VEJA

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

MAÍLSON DA NÓBREGA

Mitos econômicos da esquerda
MAÍLSON DA NÓBREGA
REVISTA VEJA

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

A OPRESSÃO EM NOME DO BEM - CARTA AO LEITOR

A opressão em nome do bem
CARTA AO LEITOR
REVISTA VEJA

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


6h - Mundial de Esqui Alpino - Slalom, Esportes de Inverno, Sportv, Sportv HD
6h20 - Mundial de Bobsled, Esportes de Inverno, Sportv
7h - Eliminatórias do Grand Prix de Judô, Esporte Interativo
7h30 - Mundial de Esqui Alpino, Esportes de Inverno, Sportv
7h50 - Mundial de Bobsled, Esportes de Inverno, Sportv2
8h30 - Lecce x Juventus, Campeonato Italiano, ESPN Brasil, ESPN HD, Sportv
9h30 - Mundial de Esqui Alpino, Esportes de Inverno, Sportv2
10h - Eliminatórias do Grand Prix de Judô, Esporte Interativo
10h20 - Mundial de Bobsled, Esportes de Inverno, Sportv2, Sportv HD
11h - Chievo x Milan, Campeonato Italiano, ESPN Brasil
11h - Manchester City x Notts County, Copa da Inglaterra, ESPN
11h - Lazio x Bari, Campeonato Italiano, ESPN HD
11h30 - Bayer Leverkusen x Sttugart, Campeonato Alemão, Esporte Interativo
12h - Flamengo x Bauru, NBB, Sportv
13h - Osasuna x Espanyol, Campeonato Espanhol, ESPN Brasil
13h - Nice x PSG, Campeonato Francês, Sportv2
13h - Semifinais do Grand Prix de Judô, Esporte Interativo
13h30 - Leyton Orient x Arsenal, Copa da Inglaterra, ESPN, ESPN HD, Esporte Interativo
15h - Sevilla x Hercules, Campeonato Espanhol, ESPN Brasil
15h - Marítimo x Beira-Mar, Campeonato Português, Sportv2
15h - Finais do Grand Prix de Judô, Esporte Interativo
16h30 - Napoli x Catania, Campeonato Italiano, ESPN
17h - Rodada final do PGA Tour, golfe, ESPN HD
18h - Final do Torneio de Memphis, ATP 500 de tênis, Sportv2
18h30 - Ponte Preta x Botafogo-SP, Campeonato Paulista, Sportv
19h - River Plate x Huracán, Campeonato Argentino, Esporte Interativo
22h30 - Seleção do Leste x Seleção do Oeste, NBA All-Star Game, ESPN, ESPN HD

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Sem muita novidade 
 JOÃO UBALDO RIBEIRO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/02/11

Já faz alguns dias que cheguei de volta das férias, mas ainda estou encontrando dificuldade em recuperar meu ritmo de jogo. Saí à rua para preparar o retorno a minhas habituais condições de temperatura e pressão e, ao ver os carros ziguezagueando pela avenida, entre ônibus desatinados e pedestres aos pulos e às carreiras, voltei para casa. Reflexos rateantes, juntas requerendo aposentadoria, não me senti à vontade para encarar a travessia de uma rua, assim logo no primeiro dia. Além disso, aonde ia aquele povo todo, com tanta pressa? A vidinha na ilha é insidiosa, vicia logo o indivíduo, ainda mais quando ele nasceu lá.

Consegui, em desempenho razoável, não fazer nada a maior parte do tempo em que permaneci na ilha, apesar de estar muito longe do virtuosismo de meu amigo Vavá Major. Não chegamos a nos ver pessoalmente desta vez, embora tivéssemos planos para isso. Desafortunadamente, ele não conseguiu abrir espaço em sua agenda de não fazer nada. É sutil, mas dá para compreender: tem uma hora de não jogar dominó, uma hora de não ir buscar água na Fonte da Bica, uma hora de não pintar a porta que ainda está na madeira crua e assim por diante, são inatividades diversas entre si. Uma coisa é não estar jogando dominó, outra coisa é não estar pintando a porta – afinem a filosofia e vocês perceberão o raciocínio de Vavá. E eu, ciente do muito que tenho a aprender com ele, segui seu exemplo. Não sei se ainda chego lá, duvido muito, ele é craque. Pouco antes de minha volta, um vizinho seu me disse que ultimamente ele tem tido preguiça de dormir e está até pensando em se consultar no posto de saúde, ou então, quem sabe, arrumar alguma alma caridosa que durma por ele.

De qualquer forma, não houve grandes acontecimentos durante minha estada, exceção feita à discutida operação de safena a que se submeteu Zecamunista, ora já em fim de convalescença e fazendo planos subversivos que esconde de mim, ao tempo em que me chama de porta-voz e marionete da imprensa burguesa, a soldo de Wall Street. A operação não afetou muito sua rotina. O pôquer, por enquanto, está proibido, mas não a Oficina Lenine de Carteado Dialético, que ele organizou e que já está recusando matrículas, apesar do alto preço das aulas. E, no carnaval, deverá estar de regresso à ilha, ainda a tempo de ajudar na saída do bloco Acumulação Primitiva, que ele garante ser de inspiração marxista, mas que umas popozudas que posaram com tudo de fora para o jornal de Roberto Gaguinho afirmaram entre risadinhas que é muitíssimo outra coisa.

Na área política, nada de grande impacto. Com a ausência de Zecamunista, o debate político no bar de Espanha se arrefece bastante. Mas creio que o exemplo de Marvadinho reflete a posição de parcela considerável da população da ilha.

- Eu soube que você está tirando voto pra saber quem é que está com ela – me disse ele, junto ao balcão do mesmo bar de Espanha. – Eu quero votar também, tire aqui meu voto.

- Você está enganado, Marvadinho, eu não estou tirando voto.

- Está, sim. Conversa com um, conversa com outro, depois bota no jornal o que quiser e não bota a voz de todos. Eu faço questão de botar a minha voz. É o seguinte: eu estou com ela e não abro.

- Com ela quem?

- Com d. Dilma, bote no jornal. E na popularidade também, eu voto na popularidade dela aí, bote meu nome aí. Ela vai saber logo?

No setor pesqueiro, tampouco há grandes novidades. Xepa continua a sustentar haver testemunhado dois tatus sendo fisgados, mas não há novos registros desse tipo de pesca, não sei se por falta de tatus aquáticos ou por medo do Ibama. O pessoal da ilha tem muito medo do Ibama e de vez em quando alguém diz a um desafeto “eu só não lhe dou um tiro, desgraçado, porque não quero que o Ibama me prenda”. Várias árvores na ilha estão precisando de podas radicais ou estão condenadas, mas dizem que o Ibama não deixa tocar nelas – e aí acontece o que aconteceu com Garrido, bem no largo da Glória, pertinho lá de casa. Um oitizeiro gigantesco e meio podre partiu-se em dois e a metade que caiu achatou o carro de Garrido. A voz corrente é que é bem pior negócio matar árvore ou tatu do que do que gente, o que, na opinião geral, torna a profissão de fiscal do Ibama muito perigosa. Matar bicho é crime inafiançável. Matar o fiscal, não. É inegável que nós temos leis interessantes.

Finalmente, o movimento do Mercado tem sido meio fraco, de modo que o que resta, para quem chega às cinco horas da manhã, é comentar passarinhos, recordar peixes famosos, exaltar craques do passado e saber a quantas anda o boroeste, palavra inventada para dar explicações meteorológicas a turistas, como, por exemplo, “se o boroeste arriar, vai chover”. E, claro, há o problema de Radiola, tradicional comerciante de mariscos e grande falador, renomado em toda a ilha. Radiola continua tão falador quanto antes, só que agora com a língua estranhamente presa ou quase imóvel, o que torna ininteligível o que ele diz.

- Foi um Viagra que ele tomou de mau jeito – me explicou Totó Vereador, quando procurei saber o que estava acontecendo.

- Foi um Viagra que fez isso nele?

- Ele pensou que era pra deixar derreter embaixo da língua e aí deu nisso, a língua empedrou que ele quase nem consegue mais comer. Agora está de língua dura aí tem mais de mês, quem quiser que facilite com Viagra.

FERREIRA GULLAR

 Aqui: um outrora agora

FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/11

Antes perambular pelas ruas que me deitar e ficar olhando a noite cair. O que me salvava era a poesia


É SÁBADO à tarde, cerca das 16 horas. Estou parado na esquina da avenida Rio Branco com a Araújo Porto-Alegre. Às minhas costas, o Museu Nacional de Belas Artes; à frente, à esquerda, a Biblioteca Nacional e, à direita, do outro lado da avenida, o Teatro Municipal.
Diante do teatro está a praça Deodoro, ladeada pelo prédio da Câmara Municipal e pelo bar Amarelinho e os edifícios da antiga Cinelândia. Fora o cine Odeon, os demais fecharam, como o Astória e um outro, o Vitória, que ficava lá atrás, na rua Senador Dantas.
Mas importa é que estou, ali, de pé, às quatro da tarde deste mês de fevereiro de 2011. E o que vejo diante de mim é exatamente igual ao que via em 1954. Passaram-se 57 anos e estou ainda aqui vendo os mesmos prédios, a mesma praça. E o passado inevitavelmente invade o presente e me arrasta com ele.
Estou, agora, num sábado de 1953 e cruzo a praça em direção à Biblioteca Nacional. Vim a pé da rua Carlos Sampaio, onde morava, próximo à praça da Cruz Vermelha. Sábado era um dia vazio. Nos dias comuns da semana, estava na Redação da "Revista do IAPC", ali perto, na rua Alcino Guanabara, onde passavam amigos que iam ali assinar o ponto, como Lúcio Cardoso ou Breno Acyoli. Lúcio era bom de papo e gostava de um chope; Breno, pirado, mastigava a ponta de um charuto no canto da boca. Além deles, apareciam ali Oliveira Bastos, Décio Victório e Carlinhos de Oliveira, todos entregues à aventura literária.
Mas, no sábado, ninguém aparecia e tampouco vinham, no final da tarde, para o encontro no Vermelhinho, que ficava em frente à ABI. Pior que o sábado só o domingo e dia feriado, quando nem a Biblioteca Nacional abria.
A BN era meu refúgio, meu amparo, minha salvação. Metia-me nela, buscava um livro, uma revista literária e entregava-me aos mais inesperados delírios. Nas revistas francesas, descobri Lautréamont, Antonin Artaud, André Breton, Paul Éluard, René Char. Ou eram seus poemas ou os ensaios sobre eles.
Mas, ao fim da tarde, quando saía de lá e daquele mundo feérico, encontrava-me de novo sozinho e desamparado em plena Cinelândia. Pessoas cruzavam a praça em direção aos pontos de ônibus, que os levariam não sei para onde. Flamengo, Botafogo, Copacabana? Só eu não tinha para onde ir, a não ser para o meu quarto, que dividia com dois desconhecidos e que só apareciam lá para dormir.
Antes perambular pelas ruas do que me deitar naquela cama estreita e ficar olhando, pela janela, a noite cair.
O que me salvava era a poesia, se ocorresse em determinado instante, se me surgisse um verso inesperado. Aí sim, entregava-me àquela viagem, esquecia o quarto, o mundo, a solidão. Pouco me importava, então, se anoitecia ou amanhecia.
Sucede que poema é coisa rara. No meu caso, sempre foi. Quem me dera escrever um poema por dia, alçar voo acima do vazio dos sábados, dos domingos e feriados! Sempre fui cismado com esses dias porque, além de me sentir sozinho, a poesia também preferia ir à praia a me visitar. Já nos dias normais, como disse, metia-me na BN, agarrava-me a uma "Nouvelle Revue Française" e valia-me dos poemas alheios.
Mas houve uma exceção. Foi numa Sexta-Feira da Paixão quando, ao me dar conta de que era dia feriado e por isso o Vermelhinho estava deserto e a Cinelândia também, encaminhei-me sem rumo para a rua do Catete e fui parar no Parque Guinle, entregue ao delírio de um poema louco, cuja erupção teve início exatamente quando cruzava a rua Santo Amaro: "Ô sôflu e luz ta pompa inova orbita". Naquele momento, em que violentava meu instrumento de expressão, vivia a ilusão de ter chegado ao inalcançável: fazer que a língua nascesse ao mesmo tempo que o poema. Só no dia seguinte, na Redação da "Revista do IAPC", ao passá-lo a limpo, dei-me conta de que ninguém o compreenderia e que, de fato, havia destruído minha linguagem de poeta... É nisso que dá fazer poema em dia santo.
Essa ocorrência, se não me engano, data de março de 1953. Depois daquele dia, muitas outras vezes me encontrei entre esses mesmos prédios -o teatro, o museu, a biblioteca, a câmara municipal- num sábado ou num domingo, sem ter o que fazer da vida. Exatamente como agora, nesta tarde de 2011.

ANCELMO GÓIS

Acabou em samba 
ANCELMO GÓIS 
O GLOBO - 20/02/11

O samba absorve tudo. Quem vai cantar sexta que vem na quadra do Salgueiro é o pernambucano Reginaldo Alves da Silva, 39 anos, autor do hit do verão, “Minha mulher não deixa, não”. 

Luta contra Aids...
Reginho, como é mais conhecido, vai abrir a campanha de carnaval do Ministério da Saúde contra a Aids. Este ano, o alvo da campanha são os jovens de 15 a 24 anos — principalmente, meninas. É que há mais casos entre garotas de 13 a 19 anos do que
entre garotos.

Aliás...
Na quadra da escola, Alexandre Padilha, 39 anos, ministro da Saúde, vai se submeter ao teste da Aids. O resultado sairá em 15 minutos. Mas é, naturalmente, confidencial.

Boi na linha
De um grande consultor, explicando as dificuldades financeiras do grupo Bertin, que deve vender sua participação em Belo Monte:
— Eles têm um problema de gestão familiar. São tantos irmãos tocando a empresa que já perdi a conta.

Reunião de pais

Do padre Lauro Palú, reitor do Colégio São Vicente de Paulo, um dos melhores do Rio, quinta, numa reunião de pais: — Fernando Collor estudou aqui. Nem sempre acertamos na tentativa de construir o caráter das crianças. É sempre necessária a colaboração da família. Faz sentido.

Lula e Maria
Lula contou a um amigo que se deliciou neste período de descanso com a leitura da biografia de Antonio Maria. O livro sobre o grande cronista e compositor foi escrito pelo gente boa Joaquim Ferreira dos Santos.

A presidenta
Segundo especialistas, “presidenta” é espanholismo. O historiador e acadêmico José Murilo de Carvalho resolveu dar sua contribuição para um novo vocabulário Rousseff- hispano-português. A saber: “Presidenta; regenta; superintendenta; gerenta; suplenta; concorrenta; conferenta; dissidenta; sobreviventa; residenta; crenta; retiranta; etc.”. Pode ser.

Memórias de MM

Marco Maciel, 70 anos, político e acadêmico, começou a escrever suas memórias. Maciel iniciou sua vida pública em 1963, eleito presidente da União Metropolitana dos Estudantes de Pernambuco. 

Os brasileiros
A pesquisa é da UFMG: gari é profissão de maratonista. Eles andam atrás do caminhão a 15km/h, com sacos de lixo de 8kg a 10kg nas mãos. 

Cidade da Música
A Orquestra Sinfônica Brasileira tem agendado para agosto um concerto na Cidade da Música, no Rio. Resta saber se, até lá, a obra, ou seria a novela?, termina. 

Alô, povão 
Já se viu camelô vendendo quase tudo. Mas esta é novidade. Apareceu na esquina de Rua Raimundo Correia com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, sexta, um ambulante que vende... aparelhos de celular. Fez enorme sucesso. 

A terra treme

Veja como anda tenso o clima na polícia do Rio. O corregedor da Polícia Civil, Gilson Emiliano, vai ganhar um carro blindado por
causa das investigações internas na corporação. Uma delas, na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). 

Segue...
 
É a primeira vez que um corregedor de polícia usa um veículo assim. Antes do “presente”, Gilson havia procurado uma agência de carros blindados para tentar comprar, por conta própria, um usado. Desistiu por causa do preço. 

No pé de Sarney

Um dos sambas concorrentes do bloco Vem Cá Me Dá, da Barra, no Rio, diz assim: — Pica, pica, pica, picadeiro/ Nesse país tem marmelada o ano inteiro/Tem “Sarna” que não para de coçar/Não larga o osso e nem deixa de mamar”...

ZONA FRANCA
 Irene Ferraz abre as inscrições para a Escola de Cinema Darcy Ribeiro.
 A Dan-Hebert Construtora inicia suas atividades no Rio com a expansão do Shopping Nova América e o retrofit do Edifício Manchete.
 Morena Andrade ganhou o concurso de novos talentos da Zerozen. 
 Está no ar o site de doces da MMX (mmxdoces.com.br), de Monica Bloris.
 O professor José Galvão-Alves, presidente da FBG, mudará o seu consultório para o Real Medical Center, em Botafogo, em março.
 É terça o lançamento do livro “Linguagem harmônica do choro”, de Adamo Prince, no Bip Bip, às 20h. 
 O bloco Ensaio Geral! desfila hoje pela orla de Copacabana. A concentração será no Posto 6, às 10h.

DANUZA LEÃO

 Ronaldo e a Copa de 98
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/11

Muitos boatos surgiram; 13 anos se passaram e até hoje nada foi explicado. A gente tem o direito de saber


A SEMANA FOI DE RONALDO.
Quando o craque começou, dentuço, com 16 anos, tive a maior simpatia por ele. É sempre uma alegria ver uma pessoa de origem humilde conquistar o mundo. Fiquei triste com sua despedida, claro, mas confesso que em um determinado momento comecei a implicar com ele.
A primeira vez foi há anos, quando ele saltou de um jatinho no Kosovo e fez uma visita relâmpago a um hospital. Dava para ver que ele não sabia nem onde estava, mas tratava-se da construção de sua imagem.
Ronaldo começou a se vestir com roupas de Armani, a namorar manequins famosas e, excluindo suas atuações em campo, ficou sem personalidade alguma. Não era mais o menino de Bento Ribeiro, nem tinha vocação para se tornar o que os fazedores de imagem queriam que ele fosse. Como pessoa jurídica, um sucesso; como física, nada.
Impossível não comparar sua trajetória com a de outros craques que continuaram amigos dos companheiros de infância, gostando das músicas de que gostavam quando ainda não faziam sucesso, tendo vida própria, enfim. As pessoas podem mudar de amigos e de gosto, claro, mas com ele não aconteceu nem uma coisa nem outra.
E foi constrangedor quando ele se casou num castelo na França, com um aparato de segurança de fazer inveja a qualquer chefe de Estado. Esse casamento -cujo amor foi anunciado no "Fantástico"- não podia dar certo, como não deu.
Ronaldo foi o máximo como jogador, mas nunca se soube quem era o verdadeiro Ronaldo. Ele sempre foi quem mandaram ele ser, mas dá para entender; era uma criança, praticamente.
Como sua despedida foi a hora da verdade, quando ele contou até mesmo do distúrbio que o fez engordar, o jogador poderia ter aproveitado para esclarecer uma dúvida que ainda permanece: o que aconteceu no último jogo da Copa de 98, na França?
Para quem não lembra, vou contar: a partida estava marcada para as 21h, e era verão em Paris, portanto, ainda dia claro.
Havíamos derrotado a Holanda e estávamos -nós, brasileiros- certos da vitória. Antes do jogo começar houve um desfile com 400 manequins no gramado, vestindo roupas de St. Laurent, um luxo. Mas quando foi anunciada a escalação do Brasil, um susto: não se ouviu o nome de Ronaldo. Ninguém entendeu nada, mas quando a seleção entrou em campo lá estava Ronaldo, e naquele climão, 80 mil torcedores, último jogo da Copa, ninguém lembrou mais disso; queríamos era ver o jogo e ganhar, para sermos penta.
Mas o que vimos foi um Ronaldo parado, apático, sem em nenhum momento ser o jogador que sempre foi. Perdemos, é claro, o que poderia não ter acontecido se tivéssemos Romário em campo.
Romário que, segundo a boataria, foi cortado da seleção porque um ex-jogador fez pressão sobre Zagalo, uma baixaria.
Perdemos o jogo e a Copa, mas nunca soubemos, na realidade, o que aconteceu. Muitos boatos surgiram: que Ronaldo havia tido uma convulsão, teria tomado um tranquilizante, que um dos patrocinadores exigiu que ele jogasse, já que ele era garoto-propaganda dos seus tênis etc.; 13 anos se passaram e, até hoje, nada foi explicado.
Coragem, Ronaldo. A gente tem o direito de saber.

BRAZIU: O PUTEIRO

GAUDÊNCIO TORQUATO

A revolução (?) da geração pós-64
GAUDÊNCIO TORQUATO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/02/11

Na conversa, varando a noite, o governador revelava o sonho: o de ver reunidos na mesma frente os políticos da geração pós-64, em defesa do mesmo ideal, o de servir ao País sem as amarras do passado, sob a égide de partidos doutrinários e de índole democrática-parlamentar, limpos do viés personalista que caracteriza a organização partidária desde o Primeiro Império. A interlocução com o neto de Arraes, Eduardo Campos, ocorreu há bastante tempo, mas suas últimas movimentações sinalizam que ele não desistiu da meta de promover sua "revolução geracional", que consiste, em termos práticos, em agregar em torno do Partido Socialista Brasileiro (PSB) as mais promissoras e modernas lideranças do País, vinculando-as a um projeto de longo alcance, inspirado em profundas mudanças nos costumes e práticas da política. Desse intento sairia um ente partidário maduro e plural, denso e moderno para motivar as classes médias urbanas - profissionais liberais, núcleos da intelligentzia, contingentes do pequeno e médio empresariado - e, ainda, trabalhadores insatisfeitos com o novo peleguismo em expansão no País. A intenção de eleger a classe média como foco se justifica pelo caráter intrínseco ao grupamento - o de pedra jogada no meio do lago -, condição que a torna um polo por excelência de irradiação de influência.

Semana passada, Campos convidou o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, a integrar a sigla, gesto que faz parte da estratégia para inseri-la no salão principal do jogo político. Recai sobre o projeto certa desconfiança, tendo em vista a índole individualista de operações políticas em curso no País. Vê-se o movimento como tentativa do governador em se cacifar ao pleito de 2014. Outros não chegam a apostar na proposta, em face da dissonância gerada pela identidade socialista da sigla. Mas essa dúvida é logo dirimida. O PT, mesmo quando detinha nitidez ideológica, não conseguiu ascender ao centro do poder? Ademais, o Brasil de hoje não é do ciclo getulista, caracterizado por intenso antagonismo de classes. O PSB de hoje só conserva mesmo a sigla do homônimo criado em 32 e fechado em 37 pelo Estado Novo. Os partidos socialistas há muito abandonaram a cartilha leninista, que os concebia como "vanguarda organizada e disciplinada do proletariado revolucionário, não podendo repartir a liderança com outros partidos". A névoa do tempo acabou dando ao matiz socialista configuração mais próxima aos escopos de partidos sociais democratas. Passaram a aceitar o jogo eleitoral parlamentar, renunciando à intransigência doutrinária.

Tal formatação serve ao propósito de iniciativas que visem a juntar, num mesmo barco, navegantes pareados pela idade e identificados com o espírito do tempo. É patente o vazio que se abriu na arquitetura partidária. Só mesmo a cegueira política não consegue perceber a oceânica distância entre a esfera social e o universo político, em razão da desconfiança e da incredulidade em políticos de todas as instâncias. Esse buraco se aprofunda e justifica a reunião de atores de faixas assemelhadas. Não é fora de propósito, portanto, integrar num mesmo empreendimento quadros como Aécio Neves, Ciro Gomes, Eduardo Campos, Paulo Bornhausen, Antonio Anastasia e Gilberto Kassab, para citar alguns. A dialética da mudança política obedece a um processo pelo qual os integrantes de uma ação de vulto formam um pacto para vencer resistências, assumir riscos e romper elos com o passado. Fica implícito um compromisso com reformas, sem as quais qualquer combinação fraquejará.

Nesse ponto, impõe-se a dúvida: não era essa a concepção que Jorge Bornhausen tinha quando fundou o DEM e cedeu o poder a um grupo jovem, capitaneado pelos deputados Rodrigo Maia e ACM Neto? Em termos. Os braços da sigla foram rejuvenescidos, mas o corpo permaneceu velho. O DEM continua exalando o perfume do velho PFL. Esse é o problema. Atrelado a grupos que se acomodam no extremo da margem direita, tem imagem de partido imune às ondas mudancistas sob empuxo dos movimentos sociais. Ligado aos fios do liberalismo ortodoxo, amarrado ao tronco de uma árvore decadente, vive um processo de corrosão. Na outra banda do espectro ideológico atuam o PSDB e o PT, este deixando as margens "revolucionárias", depois de locupletar a estrutura estatal, e aquele regendo a mesma orquestra que criou em 1988. Os músicos tucanos ficaram velhos, os maestros se multiplicaram e os espetáculos continuam sendo realizados apenas em praças centrais. Mao TSE Tung dizia que um partido percorre tanto quanto um ser humano os estágios da infância, juventude, idade adulta e velhice. Os tucanos chegaram à velhice mais cedo. Já o Partido dos Trabalhadores está dividido em alas, cada uma com muita sede de poder. Seu acervo doutrinário (?) é, isso mesmo, uma interrogação. O PMDB, no centro, sabe que terá papel decisivo, na medida em que seu peso faz a balança pender para um lado ou para outro. Age pragmaticamente ancorado na capilaridade de maior partido nacional. Outras siglas vagam como estrelas difusas na constelação partidária, ampliando ou diminuindo de porte, a cada pleito, e exibindo o selo de seus líderes.

Esse é o quadro que motiva Campos. Seu partido teve a melhor performance no último pleito, elegendo 6 governadores e 34 deputados federais. Ele próprio obteve a maior vitória de um governador na história de Pernambuco. Mas o sucesso de sua empreitada depende do Sudeste. Falta-lhe o contrapeso dos maiores colégios eleitorais, São Paulo e Minas, onde poderá construir fortaleza para enfrentar as guerras do amanhã. O arsenal tucano na região é ameaçado pelo efeito do tempo, a corrosão de material. E Eduardo Campos, com sua estampa de governante jovem e bem avaliado, pode ser o fiador do "choque de novidades". Que teria Gilberto Kassab como aríete para furar barreiras nas frentes do Sudeste. Claro, se o prefeito paulistano não for conquistado pelo PMDB.

JORNALISTA, É PROFESSOR TITULAR DA USP, CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO

DORA KRAMER

Casa grande e senzala

DORA KRAMER

O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/02/11

O leitor e a leitora sabem bem o que acontece com seres criados na dicotomia recompensa e punição: em geral não absorvem conceitos e princípios que lhes permitam distinguir naturalmente entre o certo e o errado; a referência de vida passa a ser uma conta de chegar entre o que é vantajoso ou desvantajoso. Passível de castigo ou merecedor de premiação.

Pois é essa pedagogia que a presidente Dilma Rousseff e seus conselheiros políticos parecem ter escolhido para controlar a imensa e inorgânica maioria governista no Congresso.

O governo teve uma vitória sem reparos na aprovação do valor do novo salário mínimo na Câmara. Como se diz popularmente, fez barba, cabelo e bigode.

Quase 74% dos parlamentares votaram na proposta de R$ 545, porcentual bem maior que o maior índice de fidelidade obtido pelo governo anterior: 63,3%.

Além disso, obteve dos deputados autorização para estabelecer os valores do mínimo dos próximos três anos por decreto, sem a chateação de precisar consultar o Legislativo e, portanto, de sofrer contestações.

Para qualquer governo seria motivo de satisfação. Mas a gestão Dilma quer mais: anuncia retaliações aos infiéis. Promete punições severas aos discordantes: castigos que vão desde a humilhação pública, de forma a qualificá-los como governistas de meia tigela (e, portanto, sem força junto ao Planalto), até a condenação à "geladeira", o que parece significar o degredo no campo da indiferença.

Fala-se também em cortes de emendas, destituição de cargos e veto a postos anteriormente almejados.

Linha dura. Não seria de todo mau o método, caso se estendesse para além das questões de estrito interesse do Planalto. Dilma pune quem não vota como ela acha que deve ser o voto, mas não exibiu desconforto algum em ter em seu ministério dois auxiliares que, oriundos do Parlamento, exorbitaram no uso de recursos públicos.

Pedro Novais e Ideli Salvatti continuaram sendo aptos a lidar com o orçamento público, respectivamente nos Ministérios do Turismo e da Pesca, apesar de ambos terem usado indevidamente as verbas extras a que tinham direito como parlamentares.

A dinâmica adotada pela presidente é a da intimidação. Pode dar resultado para o Executivo, mas põe o Legislativo numa posição infantilizada.

A ponto de um senador (Paulo Paim) ir à tribuna pedir licença e praticamente apresentar suas escusas por pensar diferente.

Abstraindo-se o que de "sinhazinha" existe nessa atitude da presidente e da vocação do Congresso à subserviência, há um fato: governo algum se sustenta como uma casa grande que relega o Parlamento à condição de senzala.

Prática e fala. O ex-presidente Lula afirmou recentemente que o ajuste nas contas públicas anunciado pela presidente Dilma será "quase tão forte" quanto o que ele promoveu em 2003, quando assumiu pela primeira vez a Presidência da República.

Considerando que o aperto de 2003 foi justificado pela "herança maldita" recebida do antecessor, Fernando Henrique Cardoso, a conclusão óbvia é a de que Lula deixou para a sucessora uma herança tão maldita quanto a que assim qualificou ao recebê-la.

A propósito dos anunciados cortes de R$ 50 bilhões, registre-se declaração da então candidata Dilma Rousseff em setembro último, semanas antes das eleições.

"Com a economia visivelmente crescendo eu vou fazer ajuste para quê? De quem é esse pleito? Ao povo brasileiro não interessa. Tivemos de fazer ajuste em 2003 porque o Brasil estava quebrado. Agora não está quebrado", disse, a título de desmentido às notícias de possíveis cortes em seu governo, se eleita.

É a prática que desmente a fala.

Sempre assim. Dilma passou no primeiro teste de embate com o Legislativo. Cumpre lembrar, porém, que todo governo consegue o que quer no início. Fernando Collor de Mello, por exemplo, conseguiu aprovar o confisco da poupança dos brasileiros.

MÍRIAM LEITÃO

Trem para o passado
MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 20/02/11

O governo anunciou corte de R$50 bilhões no Orçamento, mas circulam notícias de que ele vai transferir para BNDES mais R$55 bilhões. Faz mais um cruzamento de ações dentro das estatais: ações da Eletrobras e da Petrobras foram dadas para capitalizar o BNDES, para o banco emprestar mais, e para ajudar a Caixa Econômica, que entrou numa enrascada panamericana.

A lista das trapalhadas, truques contábeis, ou "orçamento paralelo", como bem definiu no seu brilhante artigo o professor Rogério Werneck, parece interminável. Elas me suscitam duas dúvidas. Primeiro, o governo sabe o risco que o país corre? Segundo, onde está a oposição?

O petismo entrou no trem da estabilidade monetária na última estação. Não viu o que aconteceu antes. O PSDB não pode alegar desconhecimento: conhece cada parada do caminho. Ele sabe quanto custou descruzar ações de empresas estatais, desfazer o novelo de dívidas cruzadas e caloteadas entre entes do setor público, o risco de um orçamento paralelo. O PSDB abriu os armários onde estavam os esqueletos e os tirou de lá. Sabe o quanto a inflação baixa depende do saneamento básico das contas públicas. Ele é passageiro desse trem desde a primeira estação.

Uma das frases animadoras do começo do governo Lula foi a do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ele prometeu que o governo não erraria erros velhos. Hoje, já se sabe que sim, eles souberam cometer erros novos, mas voltaram, infelizmente, aos velhos. Esse descuido fiscal é velhíssimo. Foi com ele que o Brasil construiu as bases daquela superinflação crônica.

O governo Dilma poderia iniciar um novo tempo, mas neste ponto nem parece ter havido mudança de governo. Há uma desconfortável continuidade. E isso se viu na última semana, nessa nova troca de ações e no silêncio eloquente em relação à desastrada operação da Caixa Econômica Federal.

Saiu o balanço do banco PanAmericano e ele não deixa dúvidas: a CEF fez o pior negócio da sua vida quando criou o CaixaPar e decidiu entrar nesse banco furado. Deu R$780 milhões, em 2009, por metade de um banco que hoje revela ter fechado 2010 com um patrimônio de R$178 milhões. Ela deu R$8,76 em cada R$1 de patrimônio que comprou. Vamos esquecer que o banco revelou também um rombo de R$4,3 bilhões, sendo que R$3,8 bilhões foram cobertos com aquele maravilhoso empréstimo dos bancões que controlam o Fundo Garantidor de Crédito. Os bancos emprestaram primeiro sem juros, depois aceitaram quitar a divida por 15% do seu valor e liberaram as garantias dadas pelo tomador. Foi realmente um momento lindo: bancos bonzinhos. Nunca antes, jamais com o devedor comum. É bem verdade que fizeram bondade com o chapéu alheio, já que todo o custo de capitalização do fundo é repassado pelos bancos ao distinto público. Mas esse banco sem fundo que a Caixa comprou, e nem viu a qualidade dos ativos, precisará de mais dinheiro para operar. Aí é que entra o Tesouro. Dá para a Caixa, a titulo de capitalização, ações das empresas da Petrobras e da Eletrobras.

Ao BNDES, o governo parece não ter limites nas suas concessões. Primeiro, fez sucessivos "empréstimos" que ultrapassam R$200 bilhões. E a palavra empréstimos está entre aspas porque essa foi a fórmula criativa para não dizer que o dinheiro era aporte de capital. Se o fizesse, teria que entrar na conta da dívida líquida porque ele lançou títulos no mercado para dar o dinheiro ao BNDES. Há rumores de que fará novo "empréstimo" de R$55 bilhões.

No ano passado, o BNDES adiantou ao Tesouro um dinheiro que o governo teria a receber da Eletrobrás. Foi a compra de dividendos futuros. Foi uma das várias operações feitas pelo Ministério da Fazenda para aumentar o superávit primário. Em outro momento, o BNDES foi usado na capitalização da Petrobras. Ajuda essencial. O governo transferiu dinheiro para o banco que comprou ações na capitalização. A Petrobras devolveu o dinheiro e ele entrou nas contas como superávit primário. Foi um momento mágico. Pena que não foi suficiente para se atingir a meta de superávit primário no ano em que a arrecadação cresceu de forma estonteante.

Agora, o governo capitalizou o BNDES com R$6,6 bilhões de ações da Petrobras e Eletrobras. Assim, o banco poderá emprestar mais, porque o que se empresta tem que ser um múltiplo dos ativos. E para quem o banco empresta? Há boas operações, há operações arriscadas e há as péssimas. Uma arriscada vai ter um capítulo final nos próximos dias quando os credores disserem o que acontecerá com o frigorífico Independência. O banco comprou ações e emprestou dinheiro para o frigorífico que pode ir simplesmente à falência. Em algumas péssimas, o BNDES empresta para o próprio governo, ou para empreendimentos que o governo controla direta ou indiretamente, como o trem-bala e a hidrelétrica de Belo Monte. No trem-bala, haverá uma estatal e investidores privados. O empréstimo será dado com a garantia do Tesouro. Já o Tesouro terá como garantia as receitas do empreendimento, que, se fracassar, não terá receitas suficientes.

Enfim, mesmo sendo passageiro da última estação da estabilização da economia, o governo já viajou o suficiente para saber que o que anda fazendo pode descarrilar esse trem. Fico então apenas com a última dúvida: onde está a oposição brasileira? Na democracia, a oposição tem o fundamental papel de apontar os erros e os riscos e ter um projeto alternativo.

CLÓVIS ROSSI

Mais uma lenda ameaçada
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/11

Era uma vez a lenda da queda da desigualdade no Brasil, já desmontada.


Agora, todo mundo sabe que o que caiu foi a desigualdade entre salários, mas não entre a renda do capital e a do trabalho. E esta é a desigualdade de fato obscena.

Muito bem. Agora, surgem dados que põem em dúvida até a queda tão celebrada da desigualdade entre assalariados. São dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), organismo oficial e bastante empenhado, de resto, na propaganda do governo.

O que diz o estudo? Que o desemprego aumentou entre os 10% mais pobres no período 2005-2010. Exatamente o período em que tanta gente se ufanava de que a desigualdade diminuíra.

Vejamos a comparação: em 2005, 23,1% da população mais pobre estava desempregada. No ano passado, esse número saltou para 33,3%. Já entre a parcela da população de maior poder aquisitivo, o desemprego diminuiu 57,1% nesses cinco anos. Caiu de 2,1% para 0,9%.

Mais: o desemprego entre os mais pobres, que era 11 vezes maior em 2005, pulou para 37 vezes mais cinco anos depois.

A notícia colhida nesta Folha acrescenta a palavra de técnicos do Ipea: "A taxa de desemprego, que tende a ser mais elevada entre os trabalhadores de menor rendimento, tornou-se ainda mais um elemento de maior desigualdade no mercado de trabalho".

Se os mais pobres perdem emprego e, portanto, renda, e os mais ricos, ao contrário, obtêm mais empregos e, portanto, mais renda, como é possível que a desigualdade entre assalariados caia?

Deve haver alguma boa explicação, dada a qualidade técnica dos arautos da lenda, mas seria conveniente que eles viessem a público para explicar essa contradição aparentemente insanável, em vez de silenciarem como o fazem quando se aponta a outra lenda.

GOSTOSA

ELIANE CANTANHÊDE

À la Evita
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/11

Em São Paulo, absolutamente nada. Em Brasília, chatices protocolares e encontros com empresários. É no Rio que Barack Obama vai cair na farra.

O presidente da maior potência do planeta chega com um ano de atraso, mas, em compensação, vem com a mulher, Michelle, deve trazer as duas filhas e pretende dormir três noites no Brasil, duas na capital e uma no Rio.

Segue da cidade maravilhosa direto para o Chile, sobrevoando a Argentina e dando "tchauzinho" lá de cima para a presidente Cristina Kirchner. Isso ainda vai dar rolo.

A programação no Rio será em ritmo de "Domingão do Faustão", com comboio de dezenas de carros "escalando" o Corcovado até o Pão de Açúcar, uma passadinha na orla para se deslumbrar com a praia de Copacabana e uma turnê à la Madonna e Michael Jackson numa favela bem carioca -mas "pacificada". Pode apostar que vai ter batuque com passos de samba aí.

A apoteose será um discurso para 10 mil pessoas, com um script não mais de Faustão nem de Madonna e Michael Jackson, mas sim ao gosto do melhor populismo de... Evita Perón na Argentina.

Entre as possibilidades em análise pelo escalão "pre advanced" (pré-precursor, digamos) está a de Obama falar de uma sacada do histórico Teatro Municipal para o povo se espremendo na Cinelândia.

Ok. Mas, como cochicham amigos do governador Sérgio Cabral, quem vai arregimentar o povo? Como reunir 10 mil pessoas para ouvir um discurso em inglês? Os gringos já combinaram com os russos?

A ideia é Obama repetir no Rio o êxtase de Berlim, em julho de 2008, quando discursou para 200 mil pessoas antes mesmo de eleito, ou do Cairo, no ano seguinte, quando ganhou manchetes do mundo inteiro ao propor um reinício de conversa com os países islâmicos.

Que armas, ideias ou promessas terá o discurso, ainda não se sabe. Na forma, tudo vai bem. No conteúdo... surprise!

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Curva acentuada
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/02/11

As pistas vão tremer. A Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) está se articulando para exigir que todos os autódromos do País instituam diretoria médica própria. Atualmente, em dia de corrida, o atendimento é terceirizado.

Curva acentuada 2


E o Instituto da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) começa a formatar um curso mundial para treinar médicos para atuar na área.

Dino Altmann, médico da CBA, coordenará o treinamento na América Latina, que será sediado no Brasil. E previsto para o ano que vem.

Big Brother SP
Câmeras fotográficas de policiais foram muito usadas na quinta durante a manifestação contra aumento do ônibus.

As moças acorrentadas a catracas da Prefeitura que o digam. Mal conseguiram usar o balde disponível para se "aliviar" sob cabaninhas feitas por colegas no local.

Para todos
O MAC negocia para receber doação gigante. A coleção de arte que foi de Roger Wright.

Uma pena
Infiltrações, bolor e pintura descascada estão visíveis na marquise do Parque Ibirapuera. Onde brincam dezenas de skatistas e patinadores.

Imagem e açãoDe baixo astral por causa da briga jurídica com a Unilever, envolvendo marca de xampu com seu nome, Wanderley Nunes comprou um cachorro. Nome? Ele mesmo, Xampu.

Responsabilidade social
O Conselho de Curadores da Fundação Dorina Nowill para Cegos indicou um novo nome para a direção executiva da instituição: Adermir Ramos da Silva Filho assume nesta terça.

A TUCCA iniciou campanha para a compra do terreno onde será construído o ambulatório de oncologia pediátrica. A parceria é com o Hospital Santa Marcelina. E, para arrecadar fundos, a área foi dividida em lotes. Cada um vendido a R$ 2,5 mil.

A SIN- Sistema de Implante Nacional - doou 500 mil unidades de gel dental para as vítimas das enchentes da região serrana do Rio.

O Banco Banif irá patrocinar o projeto Ensaiando um País Melhor. Trata-se de ação cultural, focada no teatro, na periferia de São Paulo.

O Instituto Claro organiza sessão especial da animação da Disney Os Enrolados na terça. Para 400 crianças de escolas e instituições parceiras da operadora.

O GRAAC ganha novo prédio hospitalar para ampliar o atendimento no tratamento do câncer infanto-juvenil. O local? Onde eram armazenados os prontuários físicos, hoje digitalizados.

A quem interessar possa: as inscrições para o 2º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade terminam dia 28.

O Grupo EBX, de Eike Batista, dá inicio, amanhã, às aulas para Programa de Qualificação Profissional. A iniciativa, uma parceria com o Senai, visa capacitar moradores do município de São João da Barra para o mercado de trabalho.

Detalhes nem tão pequenos...

1. Quem acha que avental é algo fora de moda não acredita nas araras do Las Chicas.

2. São Paulo agradece: Lasar Segall chegou para embelezar ainda mais nossos museus.

3. Será que investir em arte contemporânea é boa ideia?

4. E quem não morre de paixão por belezinhas e mimos na hora de comer um prato delicioso?

5. Nunca é demais declarar seu amor pela Cidade Maravilhosa.

6. Em tempos de enchentes, o jeito é usar a criatividade para esperar a hora certa de sair.

VINICIUS TORRES FREIRE

 Sai por uma porta, entra por outra
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/11

O GOVERNO aumentou o capital da CEF e o do BNDES. Esses bancos públicos terão assim mais dinheiro para financiar investimentos. Em breve, o governo deve ainda emprestar mais dinheiro para o BNDES, algo em torno de R$ 50 bilhões. Nesse caso, o governo vai fazer dívida, tomar dinheiro no mercado a uma taxa de uns 12% (a Selic) e vai emprestá-lo a uns 8%. Parece bom. Para quem?
Esse mesmo governo prometeu que não vai gastar R$ 50 bilhões do Orçamento autorizado pelo Congresso. Os motivos básicos do corte são: 1) poupar um pouco do dinheiro dos impostos a fim de evitar o aumento da dívida pública (ou reduzi-la um tico mais); 2) reduzir o consumo total na economia, que anda excessivo e ajuda a causar inflação.
Contendo gastos e, pois, mais pressão sobre a inflação, o governo pretende evitar que o Banco Central eleve ainda muito mais a taxa de juros "básica" da economia (a Selic).
Mas o empréstimo do governo ao BNDES vai elevar a dívida pública e vai estimular a demanda e, de algum modo, a inflação.
Economistas mais liberais insistem no fato de que o BNDES emprestar dinheiro a juro baixo, subsidiado pelo governo, leva o BC a elevar mais os juros "básicos" -como a economia é estimulada por um lado, via juro do BNDES, o BC precisa apertar a corda no outro lado.
Não se provou tal coisa na ponta do lápis, mas é difícil contestar o argumento. Tanto que economistas não liberais nem tentam bater de frente com tal ideia. Dizem porém que, no médio e longo prazo, o investimento bancado pelo BNDES cria capacidade produtiva na economia, mais oferta, o que permite aumentos de consumo sem inflação.
Em suma, "tudo mais constante", a alta de juros do BC reprime algum consumo e induz empresas a conter investimentos, pois a economia vai crescer menos e o rendimento financeiro fica mais atraente que o retorno de um novo empreendimento. O pessoal com acesso ao BNDES continua a investir, a juro subsidiado.
O emprego cai um pouco ou cresce menos. A inflação mais alta por mais tempo corrói parte da renda do assalariado comum. Quem empresta dinheiro ao governo (classe média alta e ricos, empresas capitalizadas, instituições financeiras) leva mais dinheiro para casa. Há transferências de renda aí: do Tesouro (nós todos) para empresas, via BNDES, e para cidadãos e empresas capitalizados, via juros mais altos.
Note-se que é difícil o governo cortar R$ 50 bilhões sem recorrer justamente a um talho nos investimentos. Mas empresas na parceria público-privada com o BNDES terão dinheiro. Sim, não emprestar dinheiro extra ao BNDES provocaria um tranco talvez nocivo na economia. Mas os juros do BC subiriam menos.
Durante anos ainda o governo não terá muito mais como cortar gasto. Há muita despesa obrigatória; Lula contratou gastos permanentes, como aumento de salários; Dilma acaba de contratar outros mais, com a política de reajuste real do salário mínimo até 2014. A dívida e o deficit cairão, pois, devagar, assim como a taxa de juros; o investimento público crescerá devagar.
No conjunto, trata-se de uma política econômica incoerente, de morde aqui, assopra ali, café com leite, meio empurrada com a barriga, feita para amoldar muito interesse díspar, mas não interesses mais gerais. Não é coerente nem é neutra.

MARCELO GLEISER

Ciência, fé e as três origens
MARCELO GLEISER
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/11

A compreensão científica dos vários fenômenos da natureza deveria fortalecer a nossa espiritualidade


UMA EXCELENTE ILUSTRAÇÃO da intersecção entre a ciência e a religião ocorre quando refletimos sobre o que chamo de "as três origens": a do Universo, a da vida e a da mente.

Por milênios, mitos de criação de todas as partes do mundo vêm tecendo explicações para esses três grandes mistérios. No meu livro "A dança do Universo" (Ed. Companhia das Letras, 2006), explorei alguns dos temas míticos que reaparecem na ciência, em particular na cosmologia, no estudo do Universo.

Precisamos conhecer nossas origens. E, desde os primórdios, olhamos para os céus em busca de respostas. Hoje, sabemos que somos aglomerados de poeira estelar dotados de consciência. Para desvendar nossa misteriosa origem, precisamos saber de onde vieram as estrelas, como a matéria não viva se transformou em matéria viva e como essa virou matéria pensante.

Mitos de criação atribuem as três origens a forças sobrenaturais, capazes de realizar feitos que nos parecem impossíveis. Grande parte do conflito entre a religião e a ciência se deve à tensão entre esses dois modos antagônicos de explicação.

Qualquer entidade que, por definição, existe além das leis naturais está além da esfera da ciência.

Será que as três origens podem ser explicadas pela ciência, sem a interferência de entidades sobrenaturais? Em caso afirmativo, religiões baseadas em entidades que existem além das leis naturais teriam que sofrer revisões profundas.

Isso não significa que, caso a ciência venha a entender as três origens, não teremos mais uma conexão espiritual com a natureza. Pelo contrário, a compreensão dos fenômenos naturais, dos mais simples aos mais profundos, deveria apenas fortalecer nossa espiritualidade. A racionalidade e a espiritualidade são aspectos complementares.

Religiosos ou não, poucos resistem ao fascínio da criação. As perguntas que fazemos hoje foram já feitas há milênios de anos na savana africana, nas pirâmides do Egito, nas colinas do monte Olimpo e na selva amazônica. O que mudou foi a natureza da explicação.

A cosmologia nos mostra que o Universo surgiu há 13,7 bilhões de anos. Podemos reconstruir sua história a partir de um segundo após a criação -um grande feito do intelecto humano. Mas ainda não podemos ir até a origem. Podemos afirmar que todos os seres vivos na Terra, presentes e extintos, dividem um ancestral em comum, um ser unicelular que viveu em torno de 3,5 bilhões de anos atrás. Mas não entendemos a origem da vida em si e nem sabemos se a questão pode ser respondida de forma definitiva: talvez existam várias origens da vida.

Entendemos menos ainda o cérebro, esse fantástico aglomerado de cerca de 100 bilhões de neurônios que define quem somos. Porém, através da ressonância magnética, detectamos as atividades de grupos de neurônios que trabalham como numa orquestra sem maestro.

Se podemos ou não entender as três origens através da ciência é matéria para futuros ensaios. Precisamos destrinchar as questões relacionadas com a natureza e com os limites do conhecimento.

São as questões não respondidas que servem de motivação para os cientistas. O destino final importa menos do que o que aprendemos no meio do caminho.

BRAZIU: O PUTEIRO

FUMANTE

JOSÉ SIMÃO

Carnaval! É Mole Mas É Meu!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/11

E, depois do Ronaldo, o Sarney deu uma entrevista: "Sofro de uma doença chamada HIPERNEPOTISMO"


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Caseiro gaúcho rouba cinco galinhas e dois sacos de ração". Como é o nome dele? GARNISÉ! Rarará!
E, depois do Ronaldo, o Sarney deu uma entrevista para um grupo de jornalistas: "Sofro de uma doença chamada HIPERNEPOTISMO". E o Tiririca que errou o voto? Na primeira votação do Congresso ele vota errado. "Errei, abestado!" E sabe quanto ele ganha pra errar o voto? "Vimti e ceis miu e poucos mangus." Rarará! Hilário, viu!
E olha o anúncio de sexo: "Barbara travesti. Não sou o que você pensa, mas tenho o que você gosta". E esta: "Surda transexual". Programa sem áudio! E choveu tanto em São Paulo que nos semáforos não tinha mais malabarista, tinha aqualouco. Aqualouco de farol!
E o muso do verão: comandante Hamilton do Datena. Que devia ser entregador de pizza: "Comandante Hamilton, estamos ilhados, meia marguerita e meia calabresa com borda de catupiry". Essa semana eu fiquei humilhado: úmido e ilhado! E um amigo se salvou da enxurrrada porque na hora da enchente ela tava transando com uma boneca inflável! Rarará!
E o Berlusconi, hein? O Berluscome Todas! Ele todo enrolado com quengas e a manchete: "Berlusconi em maus lençóis". Rarará! E ganhou uma medalha. Medalha de honra ao meretrício. Por transformar a Itália numa zona! E vai ser julgado por três mulheres. Três Dilmas. E já imaginou se num ato falho ele chama a juíza de meretríssima? Rarará! Grosso e faxista! E já repeti mil vezes: O Berlusconi é um Maluf pornô! Rarará!
Blocos de 2011! Rio e Olinda são as cidades que mais têm blocos. Direto do Rio: O Negócio Tá Feio e o Teu Nome Tá no Meio! E outro do Rio: Perereca Sem Freio. Já imaginou numa ladeira? Sem freio e na banguela! E na Marginal engarrafada: lá vem a Perereca Sem Freio. Perereca Sem Freio causa engavetamento!
E eu tenho uma amiga que botou tanto botox que, toda vez que ela pisa no freio, dá uma gargalhada! E mais um bloco bombástico: É Mole Mas é Meu! Isso que é autoestima! E direto de Olinda: Cumero Mãe! E o famoso: Já Que Tá Dentro, Deixa. Isso! É Carnaval! E toda vez que eu vejo o céu negro de nuvens eu penso: "Hoje vai rolar um Datena". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

REGINA ALVAREZ

Terceirização de risco na Petrobras
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 20/02/11
Para cada concursado existem 3,6 funcionários de empresas privadas, 80% em situação irregular


Embalada pelo aumento da produção e dos negócios, a Petrobras turbinou a contratação de funcionários terceirizados e está usando esse tipo de mão de obra de forma irregular em atividades estratégicas e de alto risco, como a fiscalização de serviços de prospecção de petróleo nas plataformas em alto-mar. Enquanto amplia a atuação dos terceirizados, trava uma batalha com o Ministério Público do Trabalho, por meio de recursos na Justiça, empurrando decisões judiciais que determinam a substituição desses trabalhadores por funcionários concursados nas chamadas atividades-fim.

Os terceirizados chegam perto de 300 mil funcionários em todo o sistema. Com base em cálculos do Ministério Público do Trabalho e do Tribunal de Contas da União (TCU), conclui-se que em torno de 80% estão em situação irregular, exercendo atividades-fim que só poderiam ser executadas por concursados, segundo determina a Constituição, no artigo 37.

Pelo último balanço oficial da estatal, relativo a 2009, para cada funcionário concursado a Petrobras tinha 3,8 terceirizados. Em 2010, a proporção teria sido de 3,6, segundo a estatal: 291 mil terceirizados para um quadro de carreira de 80 mil funcionários.

Confirmado esse quadro na divulgação do próximo balanço de sustentabilidade, a Petrobras terá contabilizada a contratação de 135 mil terceirizados desde 2005 - quando 92 mil foram aprovados em concurso - enquanto o quadro de concursados aumentou em 26 mil. Nos últimos cinco anos, para cada concursado admitido pela empresa, entraram cinco terceirizados.

Na contramão do Ministério Público do Trabalho, que fechou acordo com o governo federal em 2006 para a substituição dos terceirizados em situação irregular na administração direta até 2010, com a mesma recomendação para a administração indireta, a maior estatal federal não apenas ampliou o número de funcionários terceirizados no período, como as atividades desempenhadas por eles.

Concursados não são chamados

Pressionada pelo aumento da produção, a estatal está terceirizando serviços altamente especializados, como a fiscalização na prospecção de petróleo nas plataformas em alto-mar.

Isso acontece no Polo de Macaé, onde a empresa Bureau Veritas (BV) fornece os fiscais. Até pouco tempo, essa fiscalização era feita por engenheiros do quadro da Petrobras, mas com o aumento da produção, em vez de contratar mais engenheiros, ou incorporar os concursados ao quadro, a estatal optou pela terceirização.

Também reduziu o número de fiscais nessas atividades, com risco à segurança de pessoas e equipamentos. Os serviços de engenharia submarina feitos com embarcações estrangeiras, em alto-mar, estão sendo realizados sem fiscalização adequada.

Até poucos anos, eram mantidos dois fiscais do quadro da Petrobras por barco em período de 14 dias, em turnos de 12 horas. Assim, havia sempre um fiscal do quadro acompanhando a operação. Nos últimos anos, a estatal deixou só um fiscal no serviço; a partir de 2010 começou a utilizar fiscais terceirizados, que ficam sozinhos acompanhando os serviços.

A maioria das ações da Justiça contra a terceirização tem como objetivo a nomeação de concursados aprovados desde 2005. Eles estão em um cadastro de reserva criado pela estatal, que teria estoque de 87 mil aprovados sem nomeação, segundo uma comissão formada por esses aprovados e entidades ligadas a petroleiros. A Petrobras não avaliza o número nem reconhece o direito dos aprovados a partir de 2009. Segundo a estatal, o cadastro de reserva tem 1.375 nomes.

Respaldados por decisões favoráveis da Justiça, os aprovados em concursos desde 2005 estão organizados e se comunicam por meio de um site. Eles passaram por todas as etapas do concurso, inclusive exames médicos, mas não foram nomeados, sem qualquer justificativa da estatal. No lugar dos concursados, atuam terceirizados fazendo as mesmas funções, mas contratados por critérios pouco claros.

Muitas ações se baseiam em relatos de terceirizados aprovados no concurso e que não foram nomeados. Esses depoimentos não deixam dúvidas de que a situação dos terceirizados é irregular. Eles têm crachá da estatal, batem ponto, respondem diretamente a um concursado e não têm contato cotidiano com chefias da empresa que aparecem na carteira de trabalho.

O impasse entre a estatal e o Ministério Público do Trabalho é tão grande que os procuradores entraram na Justiça requerendo um mandado de busca e apreensão na sede da empresa para obter registros dos terceirizados, que não são fornecidos pela estatal. O repasse das informações foi determinado pela Justiça, mas a Petrobras mais uma vez recorreu de decisão.

- A Petrobras é uma caixa-preta. Não cumpre decisões. Comporta-se como se estivesse acima da lei e não tivesse de dar satisfação aos órgãos públicos - diz o procurador Marcelo José Fernandes da Silva, do Ministério Público do Trabalho do Rio.

Embora tenha reduzido o número de terceirizados na administração direta, entre 2006 e 2010, em cumprimento ao acordo com o MPT e seguindo recomendações do Tribunal de Contas da União (TCU), o governo federal tem feito vista grossa em relação às estatais. Decreto de 1997 que regulamentou a terceirização no serviço público, indicando quais atividades poderiam ser executadas por mão de obra sem concurso, as chamadas atividades-meio, determinou que as contratações na administração indireta seriam disciplinadas pelo Conselho de Coordenação das Empresas Estatais.

Isso nunca foi feito. Só depois de um acórdão do TCU de 2010, determinando a substituição de terceirizados irregulares, o Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest) trabalha nessa regulamentação. O TCU deu prazo de cinco anos para a substituição dos terceirizados em situação irregular. Na Petrobras, a auditoria considerou o quadro de 2006, identificando 143 mil funcionários nessa situação. No começo do mês, a Petrobras encaminhou ofício ao TCU, por meio do Ministério de Minas e Energia (MME), pedindo ampliação do prazo de cinco para sete anos devido à "complexidade do assunto".

O Ministério do Planejamento, a quem o Dest está subordinado, informou que em setembro o Departamento encaminhou ofício às estatais recomendando o cumprimento do acórdão do TCU. As empresas têm até outubro deste ano para informar quais atividades são fins e quais são meio. Também devem enviar um cronograma de substituição dos terceirizados em até cinco anos, segundo o Planejamento.