sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Ivete na Justiça - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 15/02

A grande cantora Ivete Sangalo está enfrentando um novo processo trabalhista de grande monta. Depois de fechar um acordo com o baterista Antônio da Silva, o Toinho Batera, agora é o percussionista Fábio Obrian, 35 anos, que acionou a Justiça do Trabalho contra ela. Segundo o advogado Odonel Vilas Boas Junior, Fábio não tinha carteira e recebia como pessoa jurídica. O processo corre na 31ª Vara Trabalhista de Salvador.

Trombose nas mãos
O percussionista, ainda segundo o advogado, era músico exclusivo há 14 anos da cantora e está com trombose aguda nas mãos, decorrente do trabalho. 

Data marcada
A ThyssenKrupp marcou para o dia 22 agora a entrega da proposta final dos pretendentes à compra da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA).

Aliás...
Não há muita boa vontade no Rio com Benjamin Steinbruch, um dos pretendentes para comprar a CSA. O empresário, que transferiu a sede da CSN do Rio para São Paulo, também não é muito popular em setores de Volta Redonda.

Casa das orquídeas
A irlandesa Lucinda Riley, autora de “A casa das orquídeas”, editado pela Novo Conceito, vem ao Brasil no fim do mês. Riley vai fazer pesquisa para seu próximo livro, cuja história se passa no Rio. Depois ela segue para Búzios, onde vai ficar escrevendo.

No mais...
A presença de bicheiros no carnaval que passou foi discreta. Melhor assim.

DOLCE FAR NIENTE APÓS A FOLIA
Depois do alvoroço do carnaval bem que dá uma vontade danada de mergulhar nessas águas límpidas da Cachoeira Bonita, no Parque estadual do Desengano, em Santa Maria Madalena, a 223 quilômetros do Rio. °O lugar”, garante o secretário Carlos Minc, °ganhou muito com a instalação da Unidade de Polícia Ambiental há cinco meses”. De lá pra cá, esta espécie de UPP florestal realizou 104 ações que levaram à apreensão de armas e motosserras e à prisão de caçadores, além de coibir invasões e destruir fornos de carvão. Que Deus proteja este paraíso e a nós não desampare jamais 

Calma, gente
Além das concorrentes, teve mais gente insatisfeita com a vitória da Vila Isabel. Circulou ontem nas redes sociais uma espécie de protesto assinado por Renato Martelleto, coordenador das Feiras Orgânicas do Rio e suplente de vereador pelo PSOL. Dizia que quem ganhou o carnaval “foram os dirigentes da G.R.E.S Vila Isabel e não o povo brasileiro”.

Segue...
É bronca antiga. Refere-se ao patrocínio que a escola recebeu da Basf, produtora de agrotóxicos. Martelleto diz que essas substâncias matam 10 mil brasileiros por ano.

Carnaval da UPP
O carnaval de 2013 provou que a paz dá o maior samba. No Grupo Especial venceu a Vila Isabel, do Morro dos Macacos. Na Série A ganhou o Império da Tijuca, do Morro da Formiga. E na Série D, a última divisão das escolas, a vitória foi da Mocidade Unida do Santa Marta, do morro de Botafogo, o primeiro a receber uma UPP. Eu apoio.

Santo filósofo
O Arcebispo do Rio, D. Orani Tempesta, autorizou a abertura do processo de beatificação do padre Maurílio Penido. A iniciativa foi da Academia Brasileira de Filosofia. Morto em 1970, padre Penido foi um teólogo de renome e fundou a Faculdade de Filosofia da UFRJ. Dedicou a vida à igreja. Morreu virgem.

Por falar em santo
O Círculo Monárquico do Rio reagiu à historiadora Mary Del Priore que, sobre o pedido de beatificação da Princesa Isabel, dsse que ela não era bem uma santa. O chanceler Ohannes Kabderian, lembra a frase da princesa, “mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos no Brasil”, e diz que a definição de santo é aquele que praticou as virtudes cristãs em grau heroico.

Que seja feliz
Alexandre Louzada, o carnavalesco, está deixando a Mocidade. 

Haja perna
Veja como é dura a vida dos coleguinhas da fotografia. Um deles instalou um aplicativo no celular para calcular quantos quilômetros percorre. Na Sapucaí, de sexta a segunda, andou, em média, 13,7 km por dia.

Contrato quebrado
Os atores Pérola Farias e Rafael Almeida serão indenizados pela loja Myddia em R$ 35 mil. A decisão é do desembargador Gilberto Dutra. Eles dizem que fecharam contrato de uso de imagem para divulgação da coleção da marca por quatro meses. No entanto, as fotos continuaram no site da empresa depois desse período.

Maricá no ar
A prefeitura de Maricá, a 60 km da capital fluminense, lançou edital para contratar um serviço de táxi aéreo. A razão é... não sei.

UMA MILITAR SEDUTORA
Thaíssa Carvalho vai voltar à TV em “Flor do Caribe”, próxima novela das seis. Revelada em “Viver a vida” como a sedutora empregada Cida, ela agora vai ser uma tenente. Mas sem perdera sensualidade, como dá para ver na foto aí ao lado. Prende eu

Oscar, câmeras pela paz - LUCAS MENDES

BBC Brasil - 14/02

Em Bilim, um vilarejo palestino com 1.100 habitantes, é fácil achar a casa de Emad Burnat. A porta de madeira é uma bandeira do Brasil. Numa de suas 5 câmeras quebradas há outra. O palestino Emad é cidadão brasileiro por casamento com Soraia, de 42 anos, muçulmana devota, mãe de seus quatro filhos. O português dele é tão quebrado quanto o árabe de Soraia.


A câmera com a minibandeira é uma das cinco usadas no documentário5 Câmeras Quebradas, concorrente ao Oscar neste domingo. Algumas foram quebradas mais de uma vez pelos soldados de Israel e consertadas. Uma delas salvou a vida de Emad. O tiro entrou pela lente quando ele estava rodando. A bala continua dentro da câmera.

Emad começou a gravar em 2005, quando nasceu seu quarto filho Gibril e Israel começou a construção de um muro no meio das terras dos moradores de Bilim. Os pequenos protestos nos fins de semana cresceram, atraíram israelenses e estrangeiros. Vieram os soldados e os conflitos.

A área foi designada "zona de segurança militar". Numa noite, os soldados entraram na casa de Emad. Ele começou a filmar e recebeu ordens do soldado: "Aqui é zona de segurança militar. Você não pode filmar".

"Aqui é minha casa e filmo o que eu quiser". Passou três semanas na prisão e seis semanas em prisão domiciliar, falsamente acusado de jogar pedras nos soldados. Na Justiça, o processo levou três anos para ser anulado.

Muitas das 700 horas filmadas durante sete anos são pela perspectiva do filho, que agora está com 8 anos, a caminho de Los Angeles com o pai e a mãe para participar dos Oscars.

O filme é uma pedrada em Israel. Guy Dividi, codiretor do filme, ativista israelense, tinha ido a Bilim fazer seu próprio documentário sobre os palestinos que trabalhavam na construção de um nova assentamento em Bilim. Conheceu Emad e convenceu o palestino a unir os esforços. Ele traria, além de talento, verba.

A edição e o texto final do filme, em árabe, lido por Emad, foram criações de Dividi, que recebeu dinheiro de Greenhouse, um projeto israelense que financia uns dez filmes por ano. Outra parte dos US$ 400 mil, custo do documentário, veio da França.

Porque Israel financia filmes contra Israel? Liberdade ou estupidez? O debate está nos ares americanos e israelenses.

5 Câmeras Quebradas não é o único filme israelense crítico do governo de Israel que concorre ao Oscar. Com mais chances ao prêmio, The Gatekeepers entrevista seis ex-diretores do Shin Bet, a agência antiterrorista israelense. Eles abrem o jogo como contiveram e sufocaram os palestinos. Os seis, que nunca tinham falado em público, são a favor de um acordo de paz.

O documentário, também financiado pelo Estado de Israel e premiado em vários festivais, foi ao ar na televisão israelense e, como 5 Câmeras Quebradas, exibido em cinemas comerciais. O primeiro-ministro de Israel, Bibi Netanyahu, não viu nem vai ver, anunciou o porta-voz.

5 Câmeras Quebradas não é o primeiro documentário campeão de prêmios e críticas dirigido por um alguém com ligações com o Brasil sobre o muro de Israel que divide cidades palestinas e destrói fontes de sustento da população. A brasileira Julia Bacha dirigiu e produziu Budrus, sobre um vilarejo de 1.500 habitantes onde a filha de um líder comunitário assume a liderança da resistência pacífica e vence a batalha.

No caso de Bilim, os moradores conseguiram reaver no Supremo de Israel um terço das terras perdidas pelo muro.

O Oscar tem um poderoso lobby judeu, um poder mais falado do que medido, mas é inédita e intrigante esta combinação de dois filmes críticos de Israel concorrendo a melhor documentário no mesmo ano.

Para os conservadores americanos, o Oscar representa uma elite esquerdista que ignorou 2016: Obama’s America, de Dinesh D'Souza, recordista de bilheteria com US$ 34 milhões. Nem entrou nos semifinalistas.

Os dois filmes anti-Israel , 5 Câmeras Quebradas e The Gatekeepersque não vão faturar nem US$ 1 milhão nos Estados Unidos, vão dividir os votos e favorecer Searching for Sugar Man sobre um cantor, conhecido como Rodriguez, que lançou dois álbuns na década de 70, continuou desconhecido no cenário musical americano, mas se tornou um dos maiores ídolos na África do Sul. Graças ao documentário, Rodriguez rescussitou nos Estados Unidos.

Não existe a menor possibilidade de um dos dois documentários ressuscitar a paz no Oriente Médio.

Heróis sob suspeita - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 15/02

RIO DE JANEIRO - Morreu na semana passada, aos 71 anos, Walt Sweeney, famoso jogador de futebol americano e, como todos os famosos jogadores de futebol americano, justa e maciçamente desconhecido no resto do planeta. Mas Sweeney morreu atirando. Desde que pendurou as chuteiras, em 1975, e se viu dependente de remédios, começou uma campanha contra os treinadores e médicos de seus clubes, responsabilizando-os por isso.

Segundo Sweeney, ele e seus companheiros eram dopados para jogar: "Davam anfetaminas antes do jogo. Depois, sedativos, para acalmar, e analgésicos, para disfarçar as dores. E, o tempo todo, esteroides, que eles diziam ser vitaminas. Para mim, tomar essas drogas era tão normal quanto treinar. Quem não aceitasse era multado".

Ninguém pode ser culpado pela dependência de ninguém, e Sweeney, se não se desse bem com o que lhe davam, podia ter-se recusado, encerrado a carreira e se convertido à odontologia ou ao ventriloquismo. Talvez por isso, suas acusações, que ele levou aos tribunais, nunca lhe tenham rendido os milhões que pedia como compensação financeira. Não serviram nem para que a NFL (National Football League), uma espécie de CBF dos EUA, passasse a fiscalizar para valer as competições.

Não importa. O caso de Sweeney, que coincide com o do ex-ciclista Lance Armstrong e seu escandaloso histórico de doping, lança sombras retrospectivas sobre os grandes atletas americanos que quebraram recordes, viraram filmes e se tornaram nossos heróis. E por que os americanos, e não os bielorrussos ou os australianos? Porque, com raras exceções, só os americanos eram vendidos mundialmente.

Muhammad Ali, dizem as agências, está muito mal. Eu lamentaria saber que seus nocautes, pelos quais tanto torci, saíram de algum aditivo, e não de suas luvas.

Na moral - NELSON MOTTA

O Estado de S.Paulo - 15/02

"Parei minha moto no shopping, roubaram a tampa da válvula do pneu. Tinha uma ótima tesoura Tramontina para tosar cachorros, mas alguém que esteve na minha casa a trocou por uma de pior qualidade. O médico me mandou tirar radiografia desnecessária só para gastar dinheiro do plano de saúde. Minha revista semanal sumiu na portaria do prédio."

A prosaica semana de um leitor carioca, tão banal e parecida com a de milhões de brasileiros de todas as classes sociais que são vítimas constantes de pequenos (e grandes) roubos e malandragens públicos e privados, mostra como isto está arraigado na nossa cultura, atravancando o crescimento do nosso IDH, por mais que se invista em educação, tecnologia e infraestrutura.

Será que estamos condenados para sempre a essa cultura nefasta? Ou já foi pior e aos poucos está mudando por força da lei, da polícia e da Justiça? E dos bons exemplos que se espalham na mídia e nas redes sociais, embora os piores exemplos venham justamente dos que têm por obrigação a conduta exemplar: os políticos que fazem do Congresso uma das instituições mais desmoralizadas diante da população.

Tudo bem, o Brasil está rico, poderoso, solidário, mas 43% dos alfabetizados não sabem ler, mais da metade das cidades não tem esgoto tratado, 1/3 das Câmaras Municipais - e do Congresso Nacional - estão nas mãos de processados ou condenados pela Justiça. Não é uma questão de ideologia, é de uma cultura, que não muda com leis, programas ou verbas, mas com o tempo e os exemplos que vêm de cima e de fora, em casa e no trabalho. Moralismo otário? Ou exigência do desenvolvimento social?

Nos anos 60, acreditava-se que a revolução castrista não só transformaria a política, a economia e a cultura em Cuba, mas criaria o "novo homem cubano", limpo, livre e solidário, mas hoje os furtos, transgressões e malandragens se tornaram um modo de vida na ilha, pela nobre causa de comer todo dia.

Não bastam a economia, a educação e a tecnologia, é o exercício dessas leis não escritas - porque todos conhecem - que vai tornar melhor, ou pior, viver em um país rico e sem miséria. Na moral.

Resposta ao apocalipse - MICHEL LAUB

FOLHA DE SP - 15/02

Em que tempo, do Descobrimento a 2012, artistas de verdade não o foram?


Faça o teste: digite o nome de qualquer hit brasileiro dos anos 1980 no YouTube. Entre os comentários, 99% de chance de alguém ver ali os vestígios de uma era de ouro. A nostalgia inclui Rádio Táxi, Dr. Silvana, até o ursinho Blau-Blau, e pode ser resumida nas palavras do internauta Xreynato: "A mídia só dá valor para essas porqueiras de hoje".

Seria injusto dizer que foi isso, mas em alguns momentos pareceu isso o que fez a "Carta Capital" de 6/2. Sob a manchete "O vazio da cultura", nomes como Vladimir Safatle, Daniela Castro e Rosane Pavam diagnosticaram a situação da área no país. O tom geral é o de que não há mais grandes artistas, não há políticas públicas efetivas e a produção sucumbiu ao mercado e à vulgaridade.

Daria para responder de várias formas. Para começar, o passado sempre leva vantagem: é fácil citar três ou quatro mortos, pinçando-os entre centenas na vulgaridade de quando estavam vivos, e comparar suas obras hoje completas, de sentidos evidenciados por anos de distanciamento, com o caos fragmentário atual.

Também não enxergo a irrelevância brasileira, como defende Safatle, diante de equivalentes contemporâneos. Entre eles, a literatura chilena (unicamente Roberto Bolaño, que morava fora do país e lá situou seus melhores romances) e o cinema argentino (do qual só nos chegam os filmes importantes, alguns nem tão bons, quase todos sobre rescaldos da ditadura na vida de Ricardo Darín).

Mas gosto é discutível, claro. Interessa-me é outro ponto do artigo do professor: o que ele chama de "inibição do julgamento", que seria causa ou efeito de fatores como relativismo e condescendência populista. Sem crítica cultural rigorosa, diz o texto, não é possível consolidar uma cena com "capacidade de induzir novos artistas e dar visibilidade a problemas comuns".

O diagnóstico está correto em parte. De fato, o hábito de acompanhar a produção e medi-la sob a régua da elite pensante, no bom sentido do termo, está em crise. Um problema até quantitativo: quem consegue ler 50%, 30%, 1% dos livros publicados hoje? E quem está dando uma resposta analítica relevante nesse novo cenário?

Discordo é da conclusão de Safatle: a relação entre qualidade do que se produz e preparo e disposição de quem julga não é necessariamente direta. A primeira pode sobreviver sem a segunda. Da parte dos que se dedicam à tarefa de ser "antena cultural", e como colunista também integro o time, o embaralhamento de hierarquias parece se misturar à consciência melancólica da perda de poder.

Parece uma conclusão dura, mas só ela explica que -como faz Mino Carta no editorial da revista- se considere o atual panorama tão pior que o de décadas anteriores. Cresci entre o fim do regime militar e o governo Sarney, e sei o que é ficar a mercê de pouquíssimos canais de difusão cultural -Embrafilme, meia dúzia de gravadoras e editoras, TV aberta sem concorrência.

Se falamos em indústria cultural, é lógico que ela terá menos poder numa época de hiperprodução descentralizada. Nos anos 1980, quando se tinha notícia de uma parte bem maior do que era lançado, a "crítica de peso" até tinha elementos para dizer que nada prestava (e dizia, lembro bem). Hoje, diante de um panorama infinito de artistas, obras e gêneros, que vão dos quadrinhos aos instrumentistas eruditos, do rap ao vídeo experimental, fazê-lo requer limitar a análise ao "mainstream" ou cair num reducionismo pretensioso.

Ao avaliar os últimos dez anos, Safatle não cita a palavra internet. É ela que, com o barateamento dos meios de produção de conteúdo, num impacto análogo ao da invenção da imprensa ou da revolução industrial, tornou a nova era tão difícil de ser interpretada. O cânone crítico sofreu com isso, não há dúvida, o que posso até lamentar. Quanto à arte, que é capaz de superar limites mercadológicos, tecnológicos e sociais (ou a falta deles), não vejo motivo para tanto pessimismo.

Afinal, nenhum contexto impede que a ele se reaja criativamente. Machado de Assis, um negro, surgiu no período escravocrata. A própria "Carta Capital" o cita e dá voz a nomes -como Kleber Mendonça, diretor de "O Som ao Redor"- que seriam exceções ao apocalipse. A pergunta é: em que tempo, do Descobrimento a 2012, passando pelo reinado do ursinho Blau-Blau, artistas de verdade não o foram?

Era melhor antes - HERMANO VIANA

O GLOBO - 15/02

‘Não é chique gostar das coisas, mas a oferta cultural brasileira atual é muito interessante’


Enquanto eu escrevia sobre a abundância (ver a coluna da semana passada), uma série de artigos decretou “o vazio da cultura” no Brasil. Fiquei me sentindo alienígena. Vivo em um planeta diferente daquele habitado por quem não enxerga nada potente em nosso país. Meu problema é oposto: não dou conta da quantidade de coisas interessantes que considero merecedoras de divulgação/debate neste meu pequeno espaço no jornal. Estou sempre em dívida com uma lista enorme de pautas que não perdem a atualidade. São trabalhos culturais brilhantes, que podem despertar vocações artísticas em muito mais gente se forem conhecidos melhor.

Sei que este meu otimismo desvaloriza meu passe. É mais chique falar mal de tudo. A maledicência nos garante aplausos calorosos em palestras. Atrai igualmente muitos seguidores no Twitter. Viramos heróis por causa de nossas opiniões do contra. Natural que assim seja: Lucien Jephargnon, historiador que já foi tema de uma coluna inteira por aqui, publicou um livro delicioso chamado “Era melhor antes”. Essa modinha pessimista já dura 30 séculos: ninguém pode pretender ser original dizendo que hoje tudo vai mal.

No século primeiro, Petrônio, autor de “Satyricon”, escreveu sem humor nenhum: “Fica pior a cada dia... Ninguém mais acredita que o céu é céu”. Plínio, o Jovem não gostava dos jovens de seu tempo: “Eles não respeitam ninguém, não imitam ninguém; são os modelos deles mesmos”. O poeta Juvenal afirmava que o problema vinha de longe: mesmo no tempo de Homero a raça humana já era decadente e “hoje a terra só alimenta homens perversos e atrofiados”. Temos sorte de estarmos vivos 21 séculos depois...

Vivos mas vazios? Penso que o vazio tem sido menosprezado nessas lamentações. Os budistas propõem um conceito precioso para sairmos bem desse niilismo paralisante: Shunyata — quer dizer vazio, mas também interdependência e abertura. Como fala o monge coreano Misan (que descobri por causa de “Gangnam style”): “O mundo vazio que inclui tudo”. Tudo conectado. Talvez aí resida a pista para compreender a distância entre o modo como percebo o que há de importante na dinâmica cultural contemporânea e aquele que denuncia nossa perdição. Contra o “era melhor antes”, digo que não é melhor agora: é diferente; as coisas estão mais abertas e interdependentes. No lugar do regime da escassez que produz gênios, temos um regime de criatividade distribuída em rede, e o processo criativo é mais aberto, à procura de obras abertas, permanentemente inacabadas.

Por isso não é útil tentar convencer os apóstolos do vazio não budista de que não estamos tão decadentes assim, apresentando exemplos de vigor nas artes de agora. Não vou convencê-los: Tom Jobim ou Guimarães Rosa vão ser sempre “melhores” do que meus interesses atuais, até porque são produtos de um mundo onde fazia sentido ser “melhor” assim, quando todos os olhares/julgamentos podiam apontar para a mesma direção. No mundo pós-internet, tudo está junto e misturado: a retromania (todo o passado cultural a um clique), a xenomania (toda a diversidade cultural a um clique), a facilidade de produção (todo smartphone vai se tornar rapidinho estúdio cinematográfico, além de distribuidora).

Não estou dizendo que obras geniais não existam. Por exemplo (correndo o risco de fazer o que eu disse que é inútil): tenho certeza de que “Daytripper”, de Fábio Moon e Gabriel Bá, é um dos grandes momentos da criação nacional, em qualquer gênero — e demonstra claramente a maturidade das histórias em quadrinhos brasileiras, com muito mais gente desenvolvendo trabalhos originais e reconhecidos mundialmente. Porém, seu público é bem específico, e mesmo que estabeleça seu cânone particular, dificilmente vai adquirir status de conhecimento/reconhecimento geral. Não por falta de qualidade, é claro.

Pensei nisso ao abrir link que Ronaldo Lemos (ele deveria ser coautor desta coluna) me mandou para a lista de 100 melhores discos brasileiros de 2012, seleção da Rockinpress (que se diz “a página bege da música brasileira”): nunca nem tinha ouvido falar de metade dos artistas listados. Digo isso envergonhado, plenamente consciente da seriedade do trabalho de quem fez a escolha dos “melhores”, todos nas minhas bookmarks para tentar escutar suas músicas depois, um depois que talvez nunca chegue.

É a mesma sensação que tenho ao abrir a página do Carlito Azevedo no caderno Prosa deste jornal. Fico alegre só de saber que há tanta gente nova escrevendo poesia com tanta qualidade (e intuo o debate crítico que torna possível essa produção). Anoto nomes para ler mais, quando der. Não fico angustiado com tanta oferta. É assim mesmo. Eta vazio gostoso!


Ueba! Brasileiro é papa tudo! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 15/02

E o importante não é que o papa seja um brasileiro, o importante é que não seja um argentino. Rarará!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Piada Pronta: "Assalto à geladeira pode ser distúrbio de Kamilla do BBB". Sabe como é o nome da comilona? Kamilla Salgado. E a psicóloga se chama Aline Sardinha. Ou seja, não vai ficar boa nunca!

E esta: "Dilma fratura o dedão do pé, diz Traumann". O porta-voz da Dilma se chama Traumann. Se eu fosse porta-voz da Dilma, meu nome também seria TRAUMA!

E os papáveis? Começaram os papáveis! Tem até papável argentino! Papa argentino não dá certo porque argentino pensa que é Deus! Acúmulo de funções!

E o Maradona ia ser coroinha! E iam beatificar a Evita, canonizar a Cristina e espalhar que o Pelé é o anticristo! Eu já avisei: se o papa for argentino, eu viro evangélico. Mudo pra umbanda! Rarará!

E atenção! Tem papável brasileiro: dom Odilo Scherer! Pelo nome dos cardeais brasileiros, o mundo vai pensar que o Brasil foi colonizado pelos vikings! Se o papa for brasileiro, a fumacinha vai ser verde amarela.

E vai ter trio elétrico. Com transmissão do Galvão: "ÉÉÉ do Braasil! Vai que é tua, dom Odilo! Vai, dom Odilo! Até o chão, dom Odilo! Mostra pra eles que Deus é brasileiro!".

E se o papa for brasileiro vai se chamar papa tudo! Rarará! E se o papa for argentino vai se chamar papa frita! Uma das melhores coisas da Argentina: papa frita!

E o importante não é que o papa seja um brasileiro, o importante é que não seja argentino. Rarará! E eu tenho uma foto do primeiro papável: o Inri Cristo de vespinha com a legenda: "Partiu, Vaticano!". O sotaque de papa ele já tem! Rarará!

E adorei a charge do Duke com a mulher perguntando ao marido: "O que é essa fumaça preta saindo da tua cabeça?". "Habemus Dívidas!" Rarará! É mole? É mole, mas é meu! Ops, é mole, mas sobe!

E o Carnaval? E o rescaldo do Carnaval? Tem um amigo meu que não tá de ressaca porque ainda tá bêbado! E diz que o trio mais animado de Curitiba foi o caminhão do Liquigás tocando "Pour Elise"!

E o site O Coco tá Seco fez a lista das coisas que se precisa recuperar depois do Carnaval: os pés, a carteira, o fígado, o juízo, o caráter e o bom gosto musical. Ah, e o pau com cãibra. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A oposição inerte - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 15/02

Quando um líder governista admite que a situação da economia é tal que os adversários poderiam “nadar de braçada”, e se surpreende que isso não tenha ocorrido, algo está errado com a oposição


Nunca antes na história deste país, a oposição foi tão inexpressiva quanto agora. Nem mesmo no auge do regime militar, tão poucas cadeiras foram ocupadas por parlamentares dispostos a cumprir o papel de fiscalizar criticamente a atuação do Executivo. Hoje, temos um Congresso funcionando sob pleno ambiente democrático – mas, dos seus 594 parlamentares (513 deputados e 81 senadores), apenas pouco mais de uma centena, se tanto, ocupa as bancadas dos partidos de oposição, o que também não é garantia de que, individualmente, exerçam seus mandatos com ânimo oposicionista.

Já tivemos no passado realidades bem distintas. Uma volta ao tempo nos levará à lembrança do radicalismo oposicionista que desembocou no trágico suicídio de Getúlio Vargas em 1954. Muitos viveram campanhas memoráveis como a das Diretas Já, de repúdio aos grilhões do regime militar. Testemunhamos também o impeachment do presidente Fernando Collor e, por fim, não se exclua o papel representado pela oposição até a chegada ao poder, em 2002, do ex-presidente Lula. Os traumas que eventualmente tenham provocado não tiram da existência de uma oposição organizada e consequente o mérito de ser instrumento de aperfeiçoamento da democracia.

Lamentavelmente, estamos hoje em tempos diferentes. Parece já não haver sequer disposição para o confronto político, ainda que limitado às ideias. Pelo contrário. Aos velhos e tão conhecidos métodos de cooptação de que o governo se utiliza para alargar ao infinito suas maiorias, somam-se os interesses particulares dos parlamentares, sempre ávidos em agradar para, em troca, gozar dos benefícios que o poder central lhes concede. É o resultado da reciprocidade tão bem explicitada há 30 anos pelo falecido deputado Roberto Cardoso Alves – líder de um tal “centrão” – que adaptou à política do adesismo sem fronteiras a frase de são Francisco de Assis: “É dando que se recebe”.

Como “é dando que se recebe”, o Executivo doa benesses na forma de liberação de emendas e cargos e, em compensação, recebe votos de apoio que lhe permitem aprovar o que bem quiser no Parlamento. Em sentido contrário, é dando seus votos em favor do governo que deputados e senadores recebem a contrapartida de que passam a se achar merecedores. Em nome desta “política”, nem se fala em votos, porque sequer ousam assumir a tribuna para simples críticas à atuação do governo.

A tal ponto a inação oposicionista é grave e profunda que foi preciso que, dia desses, um espantado líder governista se regozijasse com o fato de a oposição não ter aproveitado a oportunidade de “nadar de braçada” diante dos números ruins da economia brasileira recém-revelados – inflação em alta, PIB sem sinais de crescimento, câmbio descontrolado, combustíveis em alta, Petrobras em queda... Números, diga-se, de responsabilidade da gestão errática da economia sob a presidente Dilma Rousseff e que, portanto, mereceriam toda a atenção crítica da oposição. Mas nada. Nem mesmo discursos.

Trata-se de um mal que se faz à democracia – sobretudo por se tratar de uma omissão absolutamente injustificada. Afinal, não estamos sob o tacão totalitário-demagógico de um Hugo Chávez, que espalhou a moda por outros países da América Latina, nem sob regime policial e de partido único à moda de Cuba. Temos voto livre, imprensa livre, opinião pública livre, Constituição em vigor, poderes republicanos em pleno gozo de suas prerrogativas. Entretanto, não temos oposição congressual, embora não faltem motivos para que ela se expresse com vigor e dê sua contribuição para a correção de rumos.

Bento, o Arregão - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 15/02

Alguém se lembra de que Cristo padeceu na cruz? Que mensagem de resiliência Bento 16 nos deixa?


Fala a verdade: em latim? Mas justo o papa que abriu conta no Twitter, inaugurando uma via direta de comunicação com os fiéis, foi pedir demissão em uma língua morta, para que o menor número possível de pessoas na sala pudesse decifrar o que ele estava dizendo? Do que tinha medo, de que alguém gritasse lá do fundo: "Schettino, torni a bordo!", em alusão ao comandante do Costa Concordia que deu no pé enquanto seu navio naufragava?

Está certo que até o exorcista-chefe do Vaticano, monsenhor Gabriele Amorth (pois é, desdenham de Tupã e têm um espanta chifrudo de plantão), no cargo há 25 anos, andou dizendo que "o Diabo age dentro do Vaticano".

Já faz tempo que o inquilino mudou-se para lá. Não foi pouco escândalo a quebra fraudulenta do Ambrosiano em 1982, banco do qual o Vaticano era sócio, e que deixou um rombo de US$ 1 bilhão, um banqueiro encontrado enforcado em uma ponte de Londres e um mafioso envenenado na prisão.

Agora é a vez do "Vatileaks", padres pedófilos e um rombo de US$ 18,4 milhões nos cofres da igreja. E vem o papa lavar roupa suja no seu último dia de missa e querer nos convencer de que está muito cansado para continuar. Sinto muito, mas derrotismo por parte de quem deveria zelar por um rebanho de mais de 1 bilhão de fiéis tem limite.

E o poder simbólico da resiliência? Que mensagem de perseverança Bento 16 nos deixa? Muito conveniente exigir todo tipo de sacrifício do fiel e depois exibir publicamente tamanha frouxidão. Camarada não só abandona o voto feito (que deve ter sido bem ponderado, posto que João Paulo 2º não morreu exatamente do dia para a noite) como sai de cena mordido. Isso sim é intelectual. Que gosto!

E o pessoal ainda exalta seu gesto. "Nossa, que exemplo, que humildade!" Vem cá, será que alguém se lembra de que Cristo padeceu na cruz para salvar, entre outros, um certo religioso que ora aponta seu dedinho trêmulo e besunto de superioridade moral para falar em "hipocrisia religiosa"?

Sobre o tópico hipocrisia, vale lembrar, em vez de entregar os casos à justiça comum, o então arcebispo Joseph Ratzinger, que durante 23 anos comandou a Congregação para a Doutrina da Fé, entidade encarregada, entre outros, de investigar os crimes cometidos por padres, remanejou párocos que voltaram a repetir as mesmas ofensas contra novas vítimas, deixou famílias sem resposta ou indeniza­ção e simplesmente anistiou religiosos implicados em crimes.

A relação de confiança entre católicos e párocos ficará para sempre abalada por conta dessa política de abafa. E a questão indenizatória está longe de ser resolvida.

O antecessor de Bento, João Paulo, era um misógino que se autoflagelava para expiar suas culpas. Dificilmente um exemplo de equilíbrio, diria. Do jeito que esses senhores colocam, ou bem se é católico ou se é humano.

Bem, pessoalmente, opto por ser fiel a mim, da forma mais digna e transparente possível, caminhando no sentido contrário das farsas, da impostura e das trevas que me foram impostas pela herança de uma educação católica. O que significa impedir que esses malucos de batina queiram me afastar de Cristo sentenciando que minha homossexualidade não se encaixa no conceito que eles fazem de amor.

Na teoria, a prática é outra. Um sujeito que tanto pregou o resgate de valores tradicionais sai sob uma das bandeiras menos edificantes da contemporaneidade: a da transitoriedade que a tudo achata e iguala. E o exemplo de que, mesmo em tempos da transparência da internet, ainda há quem tome o caminho medieval de agir às escuras. Já vai tarde, Bento 16.

O tempo de cada um - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 15/02

A cada dia que um jornalista queria uma avaliação futura do então presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, ele se saía com essa: “Muita calma. A cada dia a sua aflição. Não vamos antecipar problemas nem podemos agir antes que cheguem”. É assim que os partidos estão hoje em relação à recandidatura da presidente Dilma Rousseff. A sensação na base é a de que talvez esteja tarde para Dilma colocar todos os partidos aliados dentro da bolsa sem fazer muito esforço.

Ela fez isso em 2010, quando, embalada pela popularidade de Lula, chegou ao Planalto. Repetiu a dose ao longo dos dois primeiros anos de governo. Agora, com a antecipação do calendário eleitoral, o jogo de 2013 começa invertido. Muitos partidos têm a sensação de que Dilma é quem precisa deles, e não eles do governo dela.

O PR, por exemplo. Desde que o senador Alfredo Nascimento deixou o Ministério dos Transportes e o partido se declarou independente, existe a conversa de retorno à base aliada — leia-se aos cargos. Os líderes da legenda estiveram recentemente no Planalto. Ouviram da presidente que o senador Blairo Maggi não será ministro pelo PR. Nem poderia. Blairo apresentou, no ano passado, uma consulta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para deixar o partido sem perder o mandato. Alegou problemas internos e sustentou que Valdemar Costa Neto, condenado no processo do mensalão, continua mandando na agremiação. O clima entre ele e o PR azedou de vez.

O partido, da sua parte, está hoje com aquele ar de superioridade perante o Planalto. Isso porque, conforme revelam alguns integrantes da legenda, ficaram tanto tempo fora do poder que podem perfeitamente ficar mais um pouco e tentar algo melhor num governo futuro. Afinal, se tem uma coisa que político sabe fazer é calcular o tempo. Uma nomeação em março, quando Dilma ficou de chamar o PR para uma conversa mais consistente sobre o retorno ao primeiro escalão, é praticamente 2013 perdido. Até o ministro assumir (seja ele quem for) e conhecer a máquina (seja ela qual for), o Orçamento já estará todo comprometido. E, 2014, ano eleitoral, é bem mais curto, não há tempo de fazer muita coisa por conta do prazo exíguo de liberação de recursos. Isso quer dizer, na avaliação de integrantes do partido, que Dilma perdeu o timing dessas nomeações.

Enquanto isso…

A ausência de grandes expectativas do PR em relação aos cargos que pode assumir no governo Dilma tem um outro ingrediente: o assédio de pré-candidatos a presidente. Tanto o senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, quanto o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tiveram conversas com integrantes do Partido da República. A conversa de Campos é de pré-candidatíssimo. Afinal, o PR tem dois minutos e meio de horário eleitoral gratuito na tevê, mais de 400 prefeitos, 37 deputados federais e sete senadores, uma estrutura nada desprezível. Se atrair o PR, Eduardo conquista ainda um nome com força em Campos, no Rio de Janeiro: Anthony Garotinho, líder do partido na Câmara. Garotinho já foi candidato a presidente da República pelo PSB. O relacionamento com a legenda esteve ruim, mas em política a necessidade faz mais milagres do que um bom anti-inflamatório.

Por enquanto, entretanto, o PR não pensa em largar Dilma. Afinal, o ano está começando e um carro oficial com bandeira verde e amarela na placa indicando que se trata de um ministro de Estado tem lá o seu charme. Os republicanos não esquecem as mágoas, mas também não vão largar o governo assim, rumo a uma aventura. Daqui para frente, essa turma, como todas as outras, vai é tratar de valorizar o passe, o que exigirá de Dilma uma paciência oriental. Resta saber se ela está disposta a adotar os velhos ensinamentos de Confúcio.

Um político a ser lembrado

Lá se vai mais uma grande estrela do passado recente do Brasil. O ex-ministro da Justiça e ex-deputado Fernando Lyra, importantíssimo na coordenação da campanha de Tancredo Neves dentro do colégio eleitoral em 1984, integrante do grupo dos autênticos do MDB, com passagens posteriores pelo PDT e pelo PSB, tinha a boa política no sangue. Fará falta neste momento em que a política parece cada vez mais desacreditada. A coluna deixa aqui as condolências à família e espera que seu exemplo inspire nossos jovens. Afinal, o tempo de Fernando Lyra se foi, e se os bons como ele não gostarem da política, outros ocuparão o lugar.

No ar, Dilma & Temer - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 15/02


O PMDB vai usar seu programa de TV no horário partidário, dia 28, para exaltar feitos do governo "Dilma e Temer" e reafirmar o "compromisso" com a presidente. Sob artilharia de Lula e do PSB, o partido quer mostrar força: ressaltará o fato de ter a Vice-Presidência e comandar Câmara e Senado -com direito a falas de Renan Calheiros e Henrique Alves. Por fim, ensaiará discurso social: Temer dirá que Dilma e ele cumprirão promessa de erradicar a miséria nos próximos dois anos.

Fechando... Em conversas recentes com ministros, Dilma Rousseff se disse disposta a abafar planos de aliados que ensaiam migrar para outros projetos políticos. Nas palavras de um interlocutor, a presidente quer "cortar a asa'' do PSB, que integra a base, mas ameaça lançar Eduardo Campos em 2014.

...o cerco O Planalto monitora conversas de PDT e PR com Campos e Aécio Neves (PSDB), outro potencial adversário de Dilma. Auxiliares defendem acomodação dessas siglas na reforma ministerial para evitar a debandada.

Vacina Aliados do governador de Pernambuco apontam que, ao tomar a iniciativa de tornar públicas irregularidades em sua pasta e as medidas que adotou para contê-las, Fernando Bezerra (Integração) está se antecipando a uma esperada devassa nos ministérios da cota socialista, tramada por governistas.

RSVP A propósito, Eduardo Campos recebeu convite para o evento que lançará o novo partido de Marina Silva, também presidenciável, amanhã em Brasília.

Carga pesada Porta-voz dos dissidentes pedetistas e crítico à medida provisória dos Portos, o deputado Paulinho da Força (PDT-SP) afirma que o projeto só beneficia os "amigos do governo". "Como só pode disputar quem tem terreno, ganham pessoas como Gilberto Miranda e Eike Batista", fustiga.

Prévia Antes de iniciar o road-show internacional para apresentar projetos de infraestrutura a investidores, Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Antonio Patriota (Relações Exteriores) e Bernardo Figueiredo (Empresa de Logística) expõem o plano segunda-feira a embaixadores estrangeiros no Itamaraty.

Companheiro 1 Lula abrirá, no dia 27, a primeira reunião do novo comando nacional da CUT, em hotel do centro de São Paulo. O petista fará uma saudação inicial aos 130 dirigentes da central e discorrerá sobre as cenas política e econômica do país.

Companheiro 2 O evento é preparativo para a Marcha dos Trabalhadores a Brasília, durante a qual sindicalistas cobrarão de Dilma Rousseff o cumprimento das promessas de campanha.

Todos por um Geraldo Alckmin convidou os 70 deputados da bancada paulista na Câmara para café da manhã no Bandeirantes na próxima terça-feira. O governador pedirá aos congressistas que votem em bloco nas medidas provisórias dos royalties e do comércio eletrônico.

In pectore Do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, sobre a sucessão de Bento 16: "Como a indicação do papa pode priorizar um negro e latino-americano, o escolhido poderia ser o Joaquim Barbosa. Seria bom para o Supremo e bom para a Igreja".

Codinome O advogado da União Jefferson Carús Guedes, ex-vice-presidente jurídico dos Correios e alvo de processo disciplinar sob acusação de envolvimento nos desvios da Operação Porto Seguro, se referia ao ex-diretor da ANA Paulo Vieira, em e-mails analisados pela comissão de sindicância da AGU, como "Paulo Grana".

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
Haddad tenta vender um conto de fadas, mas a realidade é que há intensa distribuição de cargos e verbas para a base aliada.

DE FLORIANO PESARO, líder do PSDB, sobre artigo em que o secretário João Antonio (Relações Governamentais) prega nova relação com os vereadores.

contraponto


Conclave da moda


Recém-empossado presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PDE) desembarcou em Roma em 2005 para o enterro do papa João Paulo 2º. Na recepção do hotel, foi cercado pelos repórteres brasileiros. Sem hesitar, chamou um grupo de jornalistas para ir ao seu quarto:
-Vocês me ajudam a escolher a roupa para amanhã?
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fingiu não saber da "consultoria" ao vê-lo na cerimônia:
-Presidente, o senhor está muito alinhado!
-A gente tem bom gosto, né, Renan? - respondeu o presidente da Câmara, todo prosa, sem notar a ironia.

No sal - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 15/02

Descontente com a atuação de Brizola Neto (Trabalho), a presidente Dilma sinalizou ao presidente do PDT, Carlos Lupi, em conversa semana passada, que aceita trocar o ministro, desde que o partido se comprometa em apoiá-la à reeleição. Lupi disse que não trataria agora de 2014, que não podia fazer essa promessa e ofereceu o nome de Manoel Dias para a vaga de Brizola Neto.

Crônica da morte anunciada
Interlocutores do governo contam que a presidente Dilma chegou ao limite com Brizola Neto porque ele teria prometido coisas que não cumpriu. O ministro não tem controle algum sobre as centrais sindicais e também não se relaciona bem com os deputados e senadores. Prometeu a Dilma um líder na Câmara da sua confiança, mas seu candidato, João Dado (SP), foi derrotado por André Figueiredo (PE) por 19 x 5. Além de Brizola não agregar o partido, a maioria dos deputados não faz questão de apoiar a reeleição de Dilma. Dos 26, só seis querem manter a aliança com o PT.

PDT de olho em Campos
Pedetistas se dividem entre a candidatura do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) à Presidência e o apoio a Eduardo Campos (PSB-PE). Há os que sugerem dobradinha com Campos a presidente e Cristovam a vice. 

“Juiz está longe de ser a categoria mais sacrificada. Férias de 60 dias são um privilégio inaceitável, que está mais do que na hora de acabar.”
Wadih Damous Conselheiro federal da OAB

Lobby
Em visita a Cuba no carnaval, o ministro Aldo Rebelo (Esporte) foi porta-voz de investimento de US$ 200 milhões. A FIA quer construir autódromo na ilha de Fidel para realizar corridas de Fórmula 1, em Havana. O governo cubano analisa a proposta. A dificuldade da FIA com Raúl Castro é garantir o direito de transmissão e propaganda.

Pressão total
A presidente Dilma está sofrendo pressão de todos os partidos para fazer uma reforma ministerial maior do que pretende. Ela vem resistindo bravamente à ideia. Para tentar dissuadir os aliados, passou a avisar que não indicará ninguém que vá concorrer a qualquer cargo eletivo em 2014. Não quer ministro com data para deixar a Esplanada.

Apagando o incêndio
Diretores da Santos Brasil, empresa que controla o Porto de Santos, telefonaram para ministros ontem e garantiram que não têm qualquer relação com as ameaças de greve nos portos, incentivada por centrais sindicais.

Para constranger
A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), geralmente discreta, decidiu convidar os jornalistas para a reunião com representantes dos trabalhadores que questionam a MP dos Portos. Acha que eles não têm do que reclamar.

Proteção a jato
Logo que foi descoberta uma boate com oito mulheres exploradas sexualmente perto de Belo Monte, em Altamira (PA), a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) ofereceu proteção a elas e à conselheira tutelar que fez a denúncia.

NAS ASAS DA FAB. O governo cedeu ao embaixador Roberto Azevêdo, candidato a diretor-geral da OMC, um Legacy para a campanha.

MEDIDA CERTA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP -15/02

Três em cada dez paulistanos são obesos. É o que conclui uma pesquisa realizada com cerca de 15 mil pessoas no último trimestre de 2012. Desse grupo, 19% têm obesidade grau 1 (forma mais leve), 7,2%, o nível 2, e 2,7% sofrem de sobrepeso mórbido.

BALANÇA
No total, outras 5.600 pessoas estão "cheinhas" -totalizando 66,4% de paulistanos acima do peso ideal. Há mais mulheres obesas: 30% contra 24% dos homens avaliados. A obesidade é estabelecida quando o cálculo do IMC (índice de massa corpórea, que divide seu peso por sua altura ao quadrado) é maior do que 30.

BALANÇA 2
O estudo foi feito pelo programa Meu Prato Saudável, dos institutos do Coração (InCor) e da Criança do Hospital das Clínicas da Medicina da USP, em parceria com a LatinMed Editora em Saúde.

MERCADO DO RISO
Depois de perder Marcelo Adnet, Dani Calabresa e Tatá Werneck, a MTV traz de volta outra trupe: o grupo Hermes e Renato, que passou dez anos anos na emissora antes de ir para o programa "Legendários", da Record, em 2011. A estreia da atração está prevista para março.

TRILHA
Bruno Sutter, que faz o roqueiro Detonator, não estará no programa novo. Ele já havia voltado à MTV há um ano e segue para outro projeto.

BEIJO DE CINEMA
A atriz global Mariana Ximenes e o artista Vik Muniz curtiram o último respiro de Carnaval anteontem, no bloco Me Beija que Eu Sou Cineasta, no Rio. A comediante Dada Coelho, com uma faixa de Miss-Eráveis, o roteirista William Vorhees, a atriz Carol Fazu e Luiza Sperandio também pularam a Quarta-Feira de Cinzas

EM CASA
Gilberto Gil e Marina Silva conversaram anteontem por telefone. Ele vai gravar vídeo de apoio ao novo partido que ela lança amanhã. Mas não vai a Brasília. O cantor fica em Salvador porque sua mãe, dona Claudina, está internada na UTI do Hospital Português. Aos 99 anos, está com pneumonia.

CANÇÃO
No Carnaval, ao receber visita, dona Claudina, que adora cantar, celebrava o fato de "todos na família fazerem o que gostam". E se orgulhava de Gil viver exclusivamente da música.

TÔ NESSA
O ator Wagner Moura também prometeu enviar vídeo de apoio para ser exibido no evento liderado por Marina.

BALÃO
Parte da equipe da presidente Dilma Rousseff interpreta os movimentos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB-PE), como uma investida para que ela não concorra à reeleição em 2014.

BALÃO 2
Ministro paulista do PT disse à coluna que Campos, ao se lançar candidato à Presidência, estica a corda para que Lula se transforme no único político capaz de unir a base aliada. Por ele, e só por ele, o pernambucano retiraria a candidatura. Com uma condição: ser vice, transformando-se no herdeiro "natural" do lulismo.

BALÃO 3
O PMDB, sem a vice, teria candidato ao governo de SP com apoio do PT -balão de ensaio já lançado por Lula.

BALÃO 4
Nesse contexto, os dilmistas não estranham que Campos faça críticas a Dilma quando se encontra com empresários -poupando sempre o ex-presidente Lula.

SIGA O PAPA
Montagem com foto de Bento 16 sugerindo a Anna Cintra, reitora da PUC-SP, que renuncie já foi curtida e compartilhada por mais de 800 pessoas no Facebook: "Se eu que sou papa posso, você também pode", diz a sátira. Cintra, que assumiu sob protesto de alunos e professores, diz que respeita a manifestação. E que "lamenta" a "postura agressiva de alguns poucos" numa comunidade de 20 mil pessoas.

CURTO-CIRCUITO
O grupo Paranga inicia temporada com Renato Teixeira, Chico Teixeira e Gabriel Sater no Sesc Ipiranga, às 21h. 10 anos.

O Terno toca às 21h30 no projeto Estéreo MIS. 14.

O DVD de "Gonzaga - De Pai para Filho" será lançado na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, às 18h.

Mart'nália e Trio Preto +1 animam o baile do Glamurama, às 22h, no MAM-RJ.

O Instituto Inhotim teve 8.014 visitantes na terça de Carnaval -32% a mais do que na data em 2012.

Marcos Oliveira, o Beiçola de "A Grande Família", estreia a peça "Biografia Não Autorizada" em 1° de março, no MuBE. 16 anos.

Contas públicas - retrocesso plus - ALBERTO FURUGUEM

Valor Econômico - 15/02

Observando os malabarismos contábeis feitos pelo governo federal (Lula da Silva e Dilma Rousseff), nos últimos anos, caberia a pergunta: estamos voltando ao passado, em matéria de (falta de) transparências nas contas públicas? O problema atual nos parece mais preocupante pois, se há três ou quatro décadas a falta de transparência era resultante de um quadro institucional inadequado, agora ela resulta de atos deliberados do governo objetivando esconder a verdadeira situação. Na prática, o que se conseguiu foram matérias nos principais jornais do Brasil e do mundo, com sérios prejuízos para a credibilidade da economia brasileira. O custo será elevado, o benefício zero. Difícil entender a razão, portanto.

Nos anos que precederam a hiperinflação brasileira das décadas de 1980 e 1990 era realmente difícil saber a efetiva situação das finanças públicas brasileiras, já que havia verdadeira mistura entre as contas fiscais e as monetárias. Em consequência, as estatísticas referentes ao Tesouro Nacional costumavam mostrar saldos contábeis quase sempre superavitários. Não que o governo quisesse esconder a verdadeira situação das suas finanças. É que com as práticas contábeis então vigentes (sem qualquer intenção de maquiagem, é preciso que se diga) não era possível conhecer a real situação das contas públicas.

A dificuldade de leitura tinha origem no próprio quadro institucional confuso então em vigor. Valores substanciais de despesas (que deveriam ser computadas como fiscais), principalmente por conta dos elevados subsídios nas taxas de juros dos empréstimos do Banco do Brasil ao setor agrícola, simplesmente não constavam do orçamento federal. Tais despesas com subsídios eram financiadas pela então chamada "conta movimento" pela qual o Banco do Brasil sacava, praticamente sem limite, contra a conta do Tesouro Nacional no Banco Central. A conta do Tesouro Nacional era alimentada não somente pela arrecadação tributária, mas também pela ampla colocação de títulos da dívida pública, bem como pela emissão de moeda em ritmo cada vez mais acelerado.

Estamos reintroduzindo uma nova espécie daquela "conta movimento" que nos levou à hiperinflação

A dificuldade para se avaliar a verdadeira situação das contas públicas era tal que o presidente eleito, Tancredo Neves (1985), valeu-se de estudos realizados por consultores privados para inteirar-se da situação, já que os dados oficiais não permitiam conhecer a efetiva situação das finanças governamentais. Tancredo iria assumir consciente da necessidade de se praticar a austeridade, pois o grande desequilíbrio das contas públicas assim o recomendava. Lembre-se, a propósito, que a frase mais destacada, na área da economia, naquele que seria o discurso de posse de Tancredo Neves (lido por Sarney, em 15/3/85), dizia: "É proibido gastar".

Com a morte de Tancredo, seu vice, o presidente Sarney, não chegou a colocar em prática a austeridade fiscal. A austeridade nos gastos públicos tornara-se politicamente inviável, e a equipe econômica escolhida por Tancredo (liderada por Francisco Dornelles, como ministro da Fazenda) perdia espaço rapidamente. Em agosto daquele ano, a equipe econômica (ortodoxa, na avaliação de Roberto Campos) formada na expectativa de um suposto governo Tancredo era substituída pelos heterodoxos, liderados por Dilson Funaro.

A equipe de Funaro aceitava a ideia de que não havia déficit público a ser combatido. A nova orientação era a gastança pública, e a expansão do crédito, como forma de impulsionar o crescimento da economia. A inflação não teria origem nos desequilíbrios das contas públicas. O Tesouro Nacional seria superavitário, como apareciam nos dados contábeis (em razão das deficiências institucionais já mencionadas). A inflação seria puramente inercial, resultante da realimentação dos preços pela via da indexação generalizada.

A inflação de "hoje" poderia ser inteiramente explicada pela inflação de "ontem". Se a inflação era inteiramente inercial, um congelamento geral de preços poderia ser a solução. Daí o lançamento do Plano Cruzado, em fevereiro de 1986, pelo presidente Sarney, de congelamento geral dos preços, que gerou uma grande euforia consumista, que, entretanto, durou poucos meses. Não demorou, entretanto, a que os mesmos economistas, que haviam embarcado na tese da "inflação puramente inercial", se dessem conta de que o diagnóstico sobre as contas públicas estava equivocado. Havia, de fato, um grande déficit fiscal, que precisaria ser combatido. Tarde demais. Não havia espaço para a prática da austeridade fiscal no cenário político então vigente.

A aceleração alucinante da inflação, que permeou os governos Sarney, Collor e Itamar, ainda motivou o lançamento de muitos planos de estabilização, que fracassaram. A inflação somente viria a ser efetivamente controlada, com o lançamento do Plano Real (junho/1994) no governo Itamar (FHC no Ministério da Fazenda), quando se aplicou um "muito bem formulado" plano de desindexação, seguido pela prática de uma política macroeconômica ortodoxa.

O governo federal, agora, parece ter "descoberto" uma fonte "sem limites" de recursos, via expansão dos créditos do BNDES, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, respaldados, em última instância, pela emissão de títulos da dívida pública. Parece que estamos reintroduzindo no Brasil, uma nova espécie da "conta movimento" dos anos 1970/1980 que acabou por nos levar à hiperinflação.

Vimos que a falta de transparência nas contas públicas nos levou a grandes erros de formulação e execução de políticas econômicas, no passado. O aperfeiçoamento na forma de se apresentar as contas públicas brasileiras passou por um longo e penoso processo. É fundamental preservar a qualidade de apresentação das contas públicas. Do contrário, corremos o risco de nos perder novamente nos mares, às vezes turbulentos, da conjuntura econômica nacional e internacional.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 15/02

RIO TEM R$ 1,4 BI EM PROJETOS NA ÁREA DE ENERGIA
Carteira de programas da Secretaria estadual de Desenvolvimento saiu de 35 para 40 projetos desde meados de 2012

Chega a R$1,4 bilhão a soma dos investimentos na carteira do Rio Capital da Energia, do governo fluminense. É quase o triplo dos R$ 500 milhões registrados no lançamento do programa, em meados do ano passado. O número de projetos, em seis meses, saiu de 35 para 40, informa Maria Paula Martins, coordenadora do RCE, que reúne de unidades empresariais a pesquisas acadêmicas. “Na fase atual, estamos concentrados em fomentar projetos que, na origem, não deslancharam',' avisa Maria Paula. Significa, por exemplo, ajudar a viabilizar parceria entre a Coppe/UFRI e uma universidade chinesa, que depende de acordo entre os governos de Brasil e China. UFRI, Uerj e PUC-Rio estão no programa, assim como Cepel e Cenpes, os centros de pesquisa de Eletrobras e Petrobras, respectivamente. Na carteira de projetos privados, há de uma usina de biogás em Xerém à ampliação do Light Recicla, no qual a distribuidora dá desconto na conta de luz de comunidades populares em troca de lixo reciclável. A ação estreou no Santa Marta e chegará a 11 comunidades pacificadas. Em Três Rios (RI), ficou pronto o projeto de eficiência energética de uma estação de tratamento de esgoto.

R$ 600 MILHÕES
É a estimativa de investimento na usina de biogás feito com o lixo recolhido em Caxias e Nova Iguaçu. Parceria de CPFL e Energia Ambiental, a empresa ficará em Xerém. Será anunciada em março.


FLORESTA DE PET
A Dress To, grife feminina, lança coleção de inverno terça que vem. A inspiração foi a floresta. Para a campanha, a cenógrafa Fabiana Barrocas criou uma mata de PET. Usou mais de 20 mil garrafas. Demian Jacob fotografou Mayara Fabri (foto) e Brisa Noronha. A rede tem 72 lojas próprias e 530 pontos de venda no país.

ESTRADA
A grife feminina Botswana põe na rua dia 28 a campanha de inverno. Terá fotos da modelo Lovani Pinnow, assinadas por Renata Dillon. As imagens vão circular em mídias on-line e nas lojas. A coleção “Na estrada”, inspirada em destinos de diversas partes do mundo, chega às araras mês que vem. A marca prevê crescimento de 20% nas vendas.

Julgamento 1
A CVM, xerife do mercado de ações, marcou para 2ª feira, 18, o julgamento de Ricardo Sacramento, ex-presidente da Telemig e da Amazônia Celular. O processo corre desde 2006, depois que a gestão das operadoras da telefonia móvel saiu do Opportunity para os fundos de pensão, Previ à frente.

Julgamento 2
A diretoria da CVM vai julgar se houve irregularidades em pagamentos feitos pelas empresas às agências DNA e SMP&B, de Marcos Valério.

É o caso do mensalão mineiro. A investigação cobre o período 1998-2005. A instância final, em caso de condenação, é o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro, em Brasília.

Julgamento 3
Em março, a CVM julgará oito ex-administradores da Brasil Telecom, entre eles, Carla Cico e Humberto Braz. São acusados de dificultar a transferência do comando para os fundos de pensão. No mesmo dia 5, Paulo Pedrão será julgado por possível desvio de recursos. A BrT foi incorporada pela Oi em 2008.

Sergipe
A Junta Comercial de Sergipe (Jucese) registrou abertura de 412 empresas em janeiro. Foi recorde histórico para um mês. Na comparação com um ano antes, houve alta de 42%, segundo a Secretaria de Desenvolvimento do estado.

De novo
A Herbalife, múlti de nutrição, renovou patrocínio com o Botafogo para 2013. É o 3º ano seguido. A renegociação começou em dezembro.

Aeroportos
A JCHEBLY e a TV Embarque, de mídia aeroportuária, se uniram. Criaram a RDA, que atuará em 74 aeroportos, atingindo 47 milhões de passageiros por ano. Prevê receitas de R$ 20 milhões em 2013, alta de 50%. Em grandes eventos esportivos, terá promoções para anunciantes.

Bem na foto
A Pixelhouse, operadora da Oi Fotos, imprimiu 20 milhões de fotos e 150 mil fotoprodutos (canecas, por exemplo) no ano passado. Foi o dobro de 2011. O faturamento também duplicou, chegando a R$ 20 milhões. Quer bater R$ 40 milhões este ano.

Duas rodas
A Michelin lançará quatro pneus de moto até dezembro. Planeja elevar as vendas no segmento em 30%. Só a participação de mulheres quintuplicou em dez anos. Elas já são 25% do mercado.

Limpeza
A Ciclus aprovou na ONU seu 1º projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Vai gerar crédito de carbono com a captura do gás da Central de Tratamento de Resíduos de Seropédica (CTR Rio). Em um ano, quer emitir 195 mil certificados de redução de emissões. É o mesmo que 195 mil toneladas de CO2.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 15/02

FedEx começa a operar no país em julho de 2014
A FedEx marcou para julho do ano que vem o início do serviço de entregas expressas dentro do Brasil. E sua chegada já agita o líder de mercado, Correios, dono do serviço Sedex.

A gigante americana comprou, em 2012, a brasileira Rapidão Cometa. A integração completa, com o fim da marca Rapidão, ocorrerá em 31 de julho de 2014, segundo o presidente da divisão para América Latina e Caribe da FedEx Express, Juan Cento.

Embora seja uma empresa de transporte principalmente aéreo, a companhia pretende usar a rede terrestre da Rapidão para crescer no Brasil, com uma logística parecida com a dos Correios -uso de espaço nos aviões de companhias brasileiras.

A diferença, diz o executivo, é que vão garantir o horário de entrega de maneira rigorosa, senão em 24h (o pacote mais caro), em um tempo mais alargado para atender as necessidades de preço local, e sem restrição ao tamanho e peso de encomendas.

A FedEx garante o horário da entrega ou devolve o dinheiro nos países onde opera.

"O Brasil tem uma rede boa por terra, considerando a infraestrutura ruim [condição das estradas]", diz Cento. "A logística está nas rodovias. Há mais caminhões de entrega no país que em qualquer outro latino-americano."

Nos Correios, o clima é de preparação. Líder de mercado, a estatal vê encolher seu mercado cativo -de correspondências- e quer manter a força no setor de encomendas.

Em 2011, o governo alterou a lei que determina as atribuições da estatal, permitindo operação no exterior e participação em outras empresas.

Com isso, os Correios abriram escritório de prospecção de negócios em Miami e, na semana passada, entregaram à Claro a operação de 2.400 linhas de "smartphones" para começar em maio o rastreamento on-line das encomendas do Sedex.

Essa tecnologia é padrão na FedEx internacional e será replicada no Brasil, diz Cento.

Nem 15% das boates têm padrão de seguro internacional
Menos de 15% das casas noturnas brasileiras devem seguir as práticas internacionais de avaliação de riscos e seguros, de acordo com Roberto Zegarra, especialista em gestão da continuidade de negócios da Marsh.

A demanda das pequenas e médias boates por serviços de seguro é dificilmente mensurável, aponta o executivo, e se enquadra no cenário brasileiro cujas condições favoreceram o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), no mês passado.

Fatores que elevaram a dimensão da tragédia, como o material usado no isolamento acústico e a precariedade das rotas de fuga, seriam recusados por peritos de seguradoras. As companhias pediriam ajustes antes de assinar qualquer contrato, indicam especialistas.

Os próprios donos das boates de menor porte se desinteressam diante das altas exigências feitas pelas companhias do setor para fechar seus contratos de cobertura.

"Quando uma seguradora observa que uma empresa se protege, conhece as normas e segue a legislação, sente-se mais à vontade e pode oferecer um seguro mais barato", afirma Zegarra.

"O que vimos na tragédia do Sul é uma bomba relógio que pode ocorrer em qualquer lugar pois poucas empresas têm preocupação com o risco"

'País tem um dos piores regimes aduaneiros'
O chefe de operações internacionais da FedEx Express, Michael Ducker, afirma que o Brasil deveria observar obstáculos ao investimento, como as regras aduaneiras.

"O Brasil tem um dos piores regimes aduaneiros do mundo. Levo 24 horas para trazer uma encomenda para São Paulo. Mas demoram três dias para liberá-la em Viracopos, não importa o melhor que façamos. Esses custos são importantes e deveriam ser enfrentados", diz.

Para o executivo, a solução desses problemas é tão importante quanto investir em estradas e aeroportos para receber investimentos.

Apesar dos problemas, o executivo vê como "brilhante" o futuro do país e sugere a investidores observar o retorno em prazo mais longo.

O chinês Gene Huang, da área de economia da empresa, começa a enxergar os primeiros sinais de recuperação do crescimento nos EUA, na China e no Brasil. Como a FedEx é uma empresa que atua em diversos países transportando cargas, diz ele, tem o pulso da atividade.

Para o Brasil e a China, Huang afirma que os estímulos dados pelos governos começam a surtir efeito e serão visíveis em 2013.

"A pior parte ficou para trás, especialmente no Brasil", diz. "Nós esperamos ver mais transações comerciais neste ano do que em 2012".

Velho Continente
As expectativas econômica e de renda melhoraram discretamente na União Europeia no último trimestre do ano passado, de acordo com índices da GfK que variam de -100 a 100 pontos.

O indicador que mensura a expectativa econômica do consumidor fechou 2012 em -42 pontos, após atingir -47 em setembro.

A expectativa de renda também teve uma leve recuperação nos últimos meses e passou de -57 em setembro para -51 em dezembro.

A Espanha ultrapassou Portugal na lista dos mais pessimistas. O índice de expectativa econômica espanhol terminou o ano em -53 (dois pontos abaixo do português).

Os consumidores alemães, que haviam começado 2012 otimistas, mudaram seu modo de analisar a situação econômica e o indicador chegou a -18 pontos.

A propensão a comprar no país, porém, continua positiva e registrou 20 pontos. O índice também é positivo na Áustria e na Bulgária.

Crédito... O Santander e a Telefônica Vivo fecharam acordo e terão cartões de crédito disponíveis nas bandeiras Visa e Mastercard.

...na linha A parceria ampliará a oferta de produtos e serviços do banco. A empresa de telefonia também tem cartões de crédito com o Itaú.

Onda... O segundo navio de uma frota de 20, da parceria logística entre a Fibria e a empresa sul-coreana STX Pan Ocean, já deixou a Coreia. A embarcação chega no fim de fevereiro ao Espírito Santo.

...coreana O contrato é de 25 anos. O primeiro navio, Arborella, deixou o Brasil no fim do ano com uma carga recorde de 53 mil toneladas de celulose rumo aos Estados Unidos, segundo a empresa.

Inflação preocupa, e muito, o governo - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 15/02

O governo conta com uma combinação de políticas para chegar ao fim deste ano com uma taxa de inflação menor do que a variação de 5,84% do IPCA no ano passado. Segundo fontes da área econômica, dificilmente o combate à elevação dos preços será centrado num só vetor. Os instrumentos ao alcance das mãos, hoje, são: mais renúncias fiscais decorrentes de desonerações da folha de salários e da cesta básica, menor reajuste do salário mínimo, expectativa de choques positivos advindos de uma boa safra e acomodação dos preços das commodities. No mercado de trabalho, a tendência é de uma certa estabilidade.

A variável chave para a inflação na última década, que foi a apreciação da taxa de câmbio, pode ajudar um pouco, mas o grau de liberdade que o governo tinha e usou nessa área, está se esgotando.

Assessores da presidente Dilma Rousseff asseguram que se for preciso elevar a taxa de juros (Selic), o Banco Central não está impedido de fazê-lo. O que não se tem é convicção de que essa seria a solução. Por enquanto, argumentam, a inflação e a atividade econômica estão sob "observação". Se as pressões sobre os preços vêm da escassez da oferta, de pouco adiantaria aumentar os juros para combatê-la, até porque a expansão da demanda está moderada e a atividade ainda não mostrou sinais inequívocos de recuperação, alegam.

BC não está impedido de aumentar a Selic. Seria a solução?

As últimas informações levadas pela área econômica ao Palácio do Planalto são de que o comportamento do IPCA neste ano será similar ao que ocorreu em 2011. Os índices mensais de inflação não serão ruins, mas a taxa acumulada em 12 meses vai demorar a ceder. Em 2011 a inflação foi a 7,1% em setembro e só depois começou a cair. Neste ano, a taxa acumulada só deve recuar da casa dos 6% também no segundo semestre.

Após o desconforto do IPCA de janeiro, de 0,86%, porém, as expectativas começam a dar sinais ainda que tênues de alguma melhora. A última pesquisa Focus trouxe um alívio das projeções de inflação para o chamado "Top Five" - grupo de economistas que mais acertam seus prognósticos. Visto como um indicador antecedente do que será a mediana das projeções, o "Top Five" aumentou ligeiramente a estimativa para a inflação de fevereiro - de 0,40% para 0,43% - mas reduziu a de março de 0,38% para 0,31%. São índices bem mais comportados do que o de janeiro, mas não necessariamente duradouros. O IPCA para o ano também recuou, segundo essas projeções, de 5,69% para 5,60%.

Hoje é possível afirmar que os rumos da inflação preocupam mais o governo do que o próprio baixo crescimento econômico, asseguram fontes graduadas. Mas um elemento que atuou a favor do controle inflacionário nos últimos anos - a valorização da taxa de câmbio - estaria chegando ao seu limite sob pena de destruir o parque industrial do país.

Durante a vigência do regime de metas para a inflação (excluído o ano de 1999 porque a meta só foi fixada no meio do ano), é nítida a influência da apreciação cambial. Por 13 anos, de 2000 a 2012, a meta de inflação foi cumprida (no seu intervalo de tolerância) em nove anos. Desses, o câmbio teve valorização em oito anos. A exceção foi no ano passado, quando a taxa de câmbio média anual teve depreciação de 16,7% e a inflação ficou no intervalo da meta.

Os dados de 2005 para cá, segundo fontes do governo, mostram de forma mais evidente o efeito da apreciação do câmbio sobre o IPCA. A desvalorização do ano passado - a taxa média nominal saiu de R$ 1,67 em 2011 para R$ 1,95 em 2012 - não foi suficiente para depreciar o real na proporção que o setor privado demandava.

O câmbio continua valorizado e isso leva a um novo cenário: o governo não teria mais como contar com uma apreciação importante como houve no passado para conter a inflação e estimular o crescimento. Portanto, precisa encontrar outras alternativas e essas estão na combinação de um pouco de cada coisa, com alvo especial na redução do custo Brasil e, como meta de mais largo prazo, o aumento da oferta.

O repasse (pass through) da taxa de câmbio para a inflação, segundo cálculos de economistas privados, varia entre 4% a 6% e seus efeitos ocorrem no período de até dois anos. A desvalorização que começou no fim de 2011, portanto, teria um impacto total de até 1 ponto percentual na variação do IPCA ao fim desse período, com forte concentração no primeiro ano.

Assim, segundo avaliação de assessores do governo, o câmbio pode até dar uma pequena contribuição para conter a inflação deste ano, mas sua maior colaboração será a de ficar razoavelmente estável ao redor de R$ 2,00 e não pressionar os preços.

O foco de atenção da presidente Dilma Rousseff, segundo assessores, está em viabilizar investimentos que aumentem a oferta de bens e serviços na economia - por meio de concessões para obras de infraestrutura e de medidas que aumentem a competitividade do setor privado.

A inflação - produto do descasamento entre oferta e demanda - é a grande preocupação deste ano e a ampliação da oferta é uma iniciativa de mais longo prazo.

Até lá, o governo vai andar sobre "o fio da navalha" para não deixar o IPCA escapar das rédeas nem comprometer a recuperação da atividade, de olho em 2014.