quinta-feira, abril 21, 2011

CONTARDO CALLIGARIS - Estilos da vida


Estilos da vida
CONTARDO CALLIGARIS 
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/11

Nós todos adotamos ou inventamos um estilo singular para a história de nossa vida


VOCÊ SE lembra daqueles personagens de quadrinhos que são impiedosamente seguidos por uma nuvem preta, que é uma espécie de guarda-chuva ao contrário? Eles não têm para onde fugir: deslocam-se, mas a chuva os persegue, mesmo debaixo do teto de sua casa.
Claro, no outro extremo do leque há pessoas que são seguidas por um sol esplendoroso, mesmo quando estão no escuro ou no meio de um desastre que deveria empalidecer a luz do dia (se ela tivesse vergonha na cara).
Em suma, cada um de nós parece estar sempre numa condição meteorológica que lhe é própria e não depende nem da estação nem dos acontecimentos do momento.
Esse clima privado, como um pano de fundo que nos seria imposto, é uma consequência quase inevitável dos primórdios de nossa vida e das bênçãos ou maldições murmuradas ao redor de nosso berço.
Talvez sejamos um pouco mais livres para escolher o estilo da vida que levaremos, seja qual for nosso pano de fundo.
Geralmente, por estilo DE vida, entende-se um modelo que a gente imita para construir uma identidade e propô-las aos olhos dos outros. Mas o estilo DA vida, que é o que me interessa hoje, é outra coisa: é a forma literária na qual cada um narra sua própria vida, para si mesmo e para os outros. Um exemplo.
Acabo de ler (e continuarei relendo por um bom tempo) "The Book of Dreams" (o livro dos sonhos), de Federico Fellini (ed. Rizzoli). São mais de 400 páginas, em grande formato, que reproduzem fotograficamente os cadernos nos quais o diretor italiano registrou seus sonhos, em palavras e desenhos, de 1960 a 1968 e de 1973 a 1990 (ele morreu em 1993).
Tullio Kezich, que assina a introdução, conta que, em 1952, no seu primeiríssimo encontro com Fellini, o diretor lhe perguntou o que ele tinha sonhado no dia anterior. Tullio não sabia e ganhou uma filípica de Fellini sobre a importância de não perder o "trabalho noturno", que seria no mínimo tão significativo quanto o que pensamos e fazemos quando estamos acordados.
Fellini amava dormir e sonhar; ele vivia com um caderno ao lado da cama, onde registrava texto e visões imediatamente, ao despertar. E note-se que seu interesse pelos sonhos era anterior a seu primeiro contato com a psicanálise (que foi desastrado, com um freudiano, em 1954, e bem-sucedido com um junguiano, Ernst Bernhard, de 1960 a 1965, quando Bernhard morreu).
Vários amigos que me viram ler o livro me perguntaram se, então, os sonhos de Fellini serviam de material para seus filmes. A questão não cabe. O que o livro revela é que, para Fellini, o sonho era, por assim dizer, o gênero literário no qual ele vivia (e portanto contava) sua vida- nos cadernos da mesa de cabeceira, nos filmes e no dia a dia.
Cuidado. Fellini não especulava nem um pouco sobre, sei lá, a "precariedade" de nossa percepção, que pode confundir sonho com realidade. Ele nunca se perguntava se o que estava vivendo era sonho ou realidade, porque, para ele, o sonho era, propriamente, o estilo da realidade.
Esse estilo era o que fazia com que seu olhar estivesse constantemente maravilhado ou atônito: graças a esse estilo, ele atravessava (e contava) a vida como "um mistério entre mistérios" (palavras dele).
Pois bem, nós todos adotamos ou inventamos um estilo singular para a história de nossa vida -é o estilo graças ao qual nossa vida se transforma numa história.
Cada um escolhe, provavelmente, o estilo narrativo que torna sua vida mais digna de ser vivida (e contada). Há estilos meditativos, investigativos, introspectivos, paranoicos ou, como no caso de Fellini, oníricos e mágicos.
Quanto a mim, o estilo narrativo da minha vida é, sem dúvida, a aventura. Não só pelos livros que me seduziram na infância ("Coração das Trevas", de Conrad, seria o primeiro da lista). Mas porque a narrativa aventurosa sempre foi o que fez que minha vida valesse a pena, ou seja, não fosse chata, mesmo quando tinha toda razão para ser.
Quando meu filho, aos quatro ou cinco anos, parecia se entediar, eu sempre recorria a um truque, que ele reconhecia como truque, mas que funcionava. Eu me calava e me imobilizava de repente, como se estivesse ouvindo um barulho suspeito e inquietante; logo eu sussurrava: "Atenção! Os piratas!".
Nem ele nem eu acreditávamos na chegada dos piratas, mas ambos achávamos que a vida merecia um pouco de suspense.

ALEXANDRE HOHAGEN - Inovação sem segredo


Inovação sem segredo 
ALEXANDRE HOHAGEN

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/11

HÁ ALGUMAS semanas, tive o privilégio de me conectar com pessoas completamente diferentes, no entanto com ideias bastante alinhadas, que me fizeram pensar em como vivemos em um mundo tão dinâmico, disruptivo e aberto a transformações.
Um amigo e empreendedor que conheci na China há alguns anos me apresentou um consultor que mora em Londres, que me convidou a conhecer o líder da banda U2, Bono Vox, durante sua apresentação no Brasil, na semana passada.
Bono é um fã incondicional do Facebook. Ele estava interessado em saber mais sobre o crescimento acelerado da empresa no Brasil. Bono reservou uma sala privada para conhecer algumas pouquíssimas pessoas. Entre elas, estava o juiz maranhense Marlon Reis, um dos coordenadores do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), rede que congrega 50 entidades e foi responsável pelo projeto que deu origem à Lei da Ficha Limpa.
Marlon me encontrou e, entusiasmado, logo disse que o Facebook, juntamente com o Twitter, tinha sido o catalisador mais importante do movimento Ficha Limpa. Por meio dessas duas redes sociais, seu movimento tomou força e se transformou em tema de prioridade nacional. Bono se encantou com a força do movimento integrado por Marlon e por isso quis conhecê-lo.
Na mesma semana, jantei com o presidente mundial do eBay, John Donahoe, que durante reunião com empresários comentou sobre a importância que os usuários têm no processo moderno de inovação. E tanto o eBay quanto o projeto Ficha Limpa são exemplos muito distintos, mas absolutamente sinérgicos da inovação centrada nas pessoas.
Se pensarmos em como a inovação acontecia no século passado, as novas ideias eram geradas em pequenas salas, completamente protegidas, com segredos e patentes trancafiados a sete chaves. O grande diferencial era sempre fazer algo que não pudesse ser facilmente copiado.
Tudo era segredo, e o acesso estava restrito a pouquíssimas pessoas. Era o modelo de inovação baseada na manufatura. Na capacidade de produzir bens que fossem únicos.
A inovação ao longo dos últimos 20 anos sofreu uma mudança radical. As empresas perceberam que inovar também é um processo evolutivo e coletivo. Criar novos conceitos e deixar que os usuários os aprimorem é parte da filosofia das empresas mais inovadoras e modernas dos tempos atuais. Empresas como Amazon, Google, eBay, Facebook e Twitter se basearam na força da inteligência coletiva para tornar seus produtos muito mais relevantes.
E o melhor de tudo é que essa nova realidade está transpondo as fronteiras puramente digitais. Empresas mais tradicionais, como a Fiat, também perceberam que os usuários, por outro lado, estão amadurecendo e demandando produtos e serviços cada vez mais com a sua cara, em linha com seus interesses.
O Fiat Mio é uma ideia brasileira, reconhecida mundialmente como o primeiro projeto de construção de um carro-conceito, totalmente baseado em ideias coletadas de milhares de pessoas de todo o mundo.
Exemplos como o da Ficha Limpa, do eBay e da Fiat reafirmam que há em curso uma transformação na maneira como grandes ideias estão cada vez mais atreladas ao interesse dos usuários. Na internet, não é diferente. Imagine se a Amazon não tivesse a capacidade de entender quem é o usuário no momento em que ele entra na sua página. A internet está sendo reconstruída em torno das pessoas. Da conexão entre elas. Da maneira como as pessoas se comportam, de acordo com seus interesses e cada vez menos como um repositório frio de informações.
E as companhias começam a perceber essa mudança. A entender a importância de criar um diálogo constante com seus usuários. A era da comunicação de uma via, das ideias fechadas, está no fim. Terão sucesso aquelas empresas que entenderem como responder às demandas de seus usuários, discutindo abertamente novas ideias e oferecendo plataformas para se conectar com seus consumidores. Tudo de maneira aberta, sem segredos. 

O PT MENTE!

CORA RÓNAI - O Rio no cinema


O Rio no cinema 
CORA RÓNAI

O GLOBO - 21/04/11

Linda noite de lua cheia e temperatura agradável. O Cinépolis Lagoon estava cheio de gente. Gente muito grande. Tão grande que o Lucas, que tem quase dois metros de altura, reparou. Ficamos matutando sobre o fenômeno.
- Será por causa do filme?
Não me parecia provável. A seguir essa lógica, numa pré-estreia dos Smurfs predominariam as pessoas azuis. Sim, estávamos na badalada pré-estreia mundial de "Velozes e furiosos 5", e se vocês me perguntarem o que raios eu estava fazendo lá, terão feito uma boa pergunta, porque nem eu mesma sei a resposta.
O Lucas, que conhece todo mundo, era a minha boia de salvação.
- Está vendo aquele cara grandão ali?
Só havia caras grandões para onde ele apontava.
- O careca.
Só havia carecas.
- O careca grandão entre os dois grandões carecas.
Ah, agora sim.
- É o astro do filme. Vin Diesel.
Descobri, a partir disso, que todo careca grandão entre dois grandões carecas era alguma coisa no filme. Os grandões nas laterais eram seguranças. Uma fauna curiosa, que não costumo ver todo dia. Moças enormes também, com saltos vertiginosos. Eu estava me sentindo um cogumelo que entrou na receita errada. A sensação continuou quando fomos para a sala de projeção: caímos, ou, mais provavelmente, fomos gentilmente colocados, pela produção do evento, na sala onde se reuniam o elenco e a equipe do filme. Quando Vin Diesel fez o tradicional discurso de abertura e perguntou se havia brasileiros na sala, se uma dúzia de mãos se levantou foi muita coisa.
- Tudo bem, galera! - gritou o gigante gentil, sendo muito aplaudido por todos. A luz apagou-se e fomos ao filme.
Dia desses, Sérgio Sá Leitão, da RioFilme, escreveu um artigo na página de Opinião explicando porque a realização de um filme como "Velozes e furiosos 5" é importante para o Rio. Disse quanto dinheiro a cidade ganhou e quantos empregos foram gerados. Ora, quando o CEO de uma distribuidora municipal que promove a cidade no exterior se vê obrigado a dar este tipo de explicação, ninguém precisa assistir ao filme em questão para saber que lá vem chumbo.
Dito e feito. "VF5" perpetua todos os clichês dos quais a cidade tenta, a duras penas, se livrar. Ele começa com uma fuga espetacular nos Estados Unidos, depois da qual imagens de jornais televisivos mostram âncoras se perguntando onde estará o meliante. Corta. Linda aérea do Rio, com o Cristo em primeiro plano e todos aqueles etceteras que a gente já conhece. Na sequência, o bandido chega a uma favela onde todos andam armados e têm sotaque espanhol.
Claro: "VF5" foi filmado em Porto Rico. O elenco passou quatro dias apenas no Rio, só para dar um clima, mas para qualquer brasileiro em geral, e carioca em particular, a ambientação é mais falsa do que uma nota de três. Ao contrário de "Bossa nova", onde todo mundo tinha vista para a praia de Ipanema, mesmo quando morava no Flamengo, em "VF5" todo mundo tem vista para a favela, mesmo quando mora no Leblon. Tirando as famigeradas aéreas e algumas cenas de favela, nada mais é reconhecível como o Rio, a começar pelos veículos da polícia, uns carrões lindos, mas perfeitamente ridículos, diante da realidade.
O suposto dono da cidade é o ator português Joaquim de Almeida, fazendo o papel de um tipo chamado Hernan Reyes (!), sempre vestido de mafioso italiano de filme B. Hernan Reyes fala "Tudo bom" em vez de "tudo bem" e luta tanto contra o seu sotaque luso que consegue o prodígio de soar ainda pior em "carioquês" do que os porto-riquenhos com quem contracena.
Não entendo isso. Gastam-se milhões de dólares para fazer um filme como "VF5". Que diferença faria contratar um consultor brasileiro, e meia dúzia de atores locais? Aliás, já que estamos falando em dinheiro, eu gostaria que o Sérgio Sá Leitão me explicasse qual é a vantagem que um filme desses traz ao Rio, já que o grosso da grana fica em Porto Rico? Não seria melhor fazer ao contrário, filmar aqui e esculhambar com San Juan?
"Velozes e furiosos 5" é absolutamente idiota como dramaturgia, e não resiste a um mínimo de análise lógica. Sei que o público de filmes desse gênero não vai ao cinema para encontrar um bom roteiro, mas o que me espanta é que com os mesmos elementos se poderia fazer algo bem menos tosco. Os bandidos, que na verdade são os mocinhos da fita, moram mal e mal têm o que comer, mas isso não impede que convoquem comparsas do mundo inteiro, que consigam carros tunados, cofres que custam milhões e equipamento de rastreamento de última geração.
O tom da narrativa segue o clássico estilo "Me Tarzan you Jane" com que Hollywood trata o resto do mundo. Tudo é primário e acintoso, quando não ridículo. A polícia brasileira, mirrada e corrupta até o último homem, está toda no bolso do tal Hernan Reyes. Este, moço precavido que é, só faz negócios em dinheiro, para não deixar rastros. E quando suas bocas são estouradas, qual é a moeda que aparece? Dólar, naturalmente. Para que o espectador dos Estados Unidos, imagino, entenda que aquilo é dinheiro. Argh!
Todo mundo já disse, eu sei - mas "Rio", em compensação, é o filme mais lindo e engraçadinho dos últimos tempos. As ararinhas e demais bichos são ótimos personagens, a cidade é tratada com carinho - quem é que não gosta disso, de vez em quando? - o roteiro é simpático, competente e bem escrito. Mesmo que vocês não tenham crianças em casa como desculpa para ver filme de animação, não deixem de assistir. Poucas vezes o custo de um ingresso pagou tanta felicidade.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - Um Plano Real para os juros


Um Plano Real para os juros
 CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 21/04/11


Dilma pode dar uma virada como a de FH?
O Brasil subiu para a série A da economia mundial, em consequência dos êxitos de seu time e de uma boa ajuda dos parceiros internacionais. Não dá ainda para disputar o título, mas é possível conseguir uma honrosa posição intermediária - isso se a política econômica também evoluir. Não dá para jogar na primeira divisão com estrutura de segunda. Precisamos de um supertécnico, que não invente, mas saiba jogar à moderna.
Os sinais de que chegamos a uma nova divisão estão por toda parte. Um dos mais significativos, e curiosos, é um papel chamado CDS (Credit Default Swap). O investidor compra um título emitido pelo governo brasileiro e quer se prevenir contra o calote. Vai então ao mercado internacional e compra uma espécie de seguro, que é o CDS. Quanto menor o preço desse papel, logicamente, menor a possibilidade de calote daquele país.
Pois compra-se um CDS "brasileiro"pagando juros anuais em dólares de 1,1% - apenas um pouco acima do papel americano equivalente, para o qual se paga juros de 0,50%.
Por que diminuiu o risco de calote? Mudanças estruturais. A primeira foi na estrutura legal das contas públicas, postas sob o controle da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ela simplesmente exige que as receitas e despesas sejam calibradas de modo a reduzir o endividamento. O governo Lula, no seu final, fez diversas estripulias com a contabilidade, mas não mudou as bases legais, que estão enraizadas.
A segunda grande virada está nas contas externas. O Banco Central do Brasil tem hoje reservas de mais de US$300 bilhões, contra uma dívida externa, pública e privada, em torno dos 220 bilhões. Ou seja, de um país que quebrou várias vezes por falta de dólares o Brasil juntou-se ao grupo que tem sobra da moeda americana - é credor líquido em dólares.
A mudança de fundo está na conquista da estabilidade macroeconômica, com suas consequências admiráveis. Por exemplo, a volta do crédito especialmente às pessoas, aos consumidores, e mais especialmente ainda às novas classes médias.
E aqui já temos um exemplo de como algumas políticas básicas que nos trouxeram até aqui já não funcionam do mesmo modo. O BC eleva taxas de juros para encarecer e conter o crédito e, assim, impedir a alta da inflação, já que as pessoas gastam menos nos shopping e supermercados.
Mas o Brasil está em pleno processo de aumento estrutural do crédito, que era de 20% do PIB no início do século e já vai passando dos 50%. Normal, nos países estáveis as pessoas recorrem mais ao crédito. E os bancos competem para oferecer empréstimos.
Chocam-se, portanto, dois movimentos: um "natural", digamos assim, com a economia se adaptando a mais crédito, outro "conjuntural", que são as ações do BC na tentativa de esfriar esse mesmo crédito quando a inflação escapa, como ocorre no momento.
Ficamos com juros altos e crédito em expansão, mas muito caro, o que também pressiona preços.
O modo de encarar o dólar é outra esquizofrenia. Dólar caro é para países que sofrem com a falta da moeda internacional; para países cujos governos, empresas e pessoas pagam muito caro para tomar crédito lá fora; para países que não conseguem atrair investimentos externos.
Ora, o Brasil de hoje é o contrário disso tudo. Nessas circunstâncias, e considerando a economia de primeira divisão, o real será necessariamente uma moeda forte.
Assim, toda vez que o governo usa instrumentos antigos para tentar conter a valorização excessiva do real, só consegue gastar dinheiro (quando toma reais emprestados para comprar dólares) e encarecer os negócios das pessoas e empresas (quando aumenta o imposto sobre operações financeiras).
Uma nova política precisa olhar o seguinte: o que resta de segunda divisão na economia brasileira?
O mais evidente é a taxa de juros, absurdamente elevada. Tem caído ao longo dos anos, o que é uma prova de sucesso da política econômica e do regime de metas de inflação. Mas parece que a taxa real de juros empacou entre 5% e 6% ao ano, quando deveria ser no mínimo a metade disso.
O que o governo Dilma está fazendo, nisto numa continuação de Lula, sob a condução do ministro Mantega, é uma sucessão de quebra-galhos: promete cortar gastos e se compromete com gastos futuros, como um aumento de 14% para o salário mínimo em 2012; promete desindexar a economia e indexa o mínimo e a tabela do IR; promete reduzir a dívida e se endivida para emprestar dinheiro ao BNDES; Fazenda e BC encarecem e restringem o crédito, o BNDES aumenta empréstimos baratos a empresas selecionadas; e assim vai.
Nesses movimentos, só pioram outros dois fatores de segunda divisão: a carga tributária (elevada e custosa) e o gasto público, excessivo e de baixa eficiência.
Comparando, é como se em 1993 Fernando Henrique Cardoso, designado ministro da Fazenda, em vez de partir para a grande virada do Real, tentasse domar a inflação com expedientes como congelamento de preços, confisco de produtos, proibição de exportação e falsificação dos índices de preços.
Qual seria o Real de hoje? Dilma pode dar uma virada como a de FH?
Voltaremos ao assunto, mas um caminho se apresenta: aceitar um real valorizado e aproveitar isso para aplicar um violento golpe na inflação e daí, sim, derrubar juros para valer. Agora, não será possível para a indústria brasileira sobreviver com dólar barato e custo Brasil muito elevado. Vem daí a outra perna de uma nova política: uma revolução para reduzir o custo Brasil e colocar o ambiente de negócios também na primeira divisão.
Que tal? 

JAPA GOSTOSA



TUTTY VASQUES - Calcanhar de aquiles de Adriano é mais em cima


Calcanhar de aquiles de Adriano é mais em cima
TUTTY VASQUES

O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/04/11

Calcanhar de aquiles de Adriano é mais em cima
Como se não bastasse o nome de imperador romano, Adriano tem agora calcanhar de herói grego. Mas param por aí as semelhanças do jogador com personagens da História e da mitologia - a torcida do Corinthians não precisa recorrer aos livros para recuperar as aulas que matou por causa das peladas de rua. Basta saber que, diz a lenda, o coprotagonista da Guerra de Troia era invulnerável em todo seu corpo, exceto no calcanhar.
Não é, convenhamos, o caso de Adriano, que ainda se recuperava de uma lesão no ombro e já não escondia a barriga de ninguém quando rompeu o tendão da parte posterior do pé esquerdo, onde costumava ter tão somente bolhas. Seu calcanhar de aquiles, como se sabe, sempre foi a cabeça! Outra coisa que o difere do maior guerreiro da Ilíada, de Homero: Aquiles era lindo de morrer!
A fama de pegador que poderia aproximá-los esbarra numa fofoca mitológica incompatível com as tradições funk do atacante do Timão: na Atenas do século V a.C., Aquiles mantinha com o amigo Pátroclo uma relação comumente interpretada na época como pederástica. Deixa só a torcida do São Paulo saber disso!

Planeta dos homens
A Justiça do Rio negou habeas corpus ao chimpanzé Jimmy, enjaulado há 11 anos no zoológico de Niterói, e pôs na rua o animal que, no início do mês, degolou uma universitária em Campo Grande. Soltou, também, um bando de policiais corruptos presos em fevereiro na
Operação Guilhotina. A orientação, pelo visto, é só manter macacos atrás das grades.

Peralá!
O caso do Land Rover do Aécio Neves nem mal comparando tem qualquer coisa a ver com a história do Land Rover do Silvinho do PT. E não se fala mais nisso, OK?

Planeta dos homens
A Justiça do Rio negou habeas corpus ao chimpanzé Jimmy, enjaulado há 11 anos no zoológico de Niterói, e pôs na rua o animal que, no início do mês, degolou uma universitária em Campo Grande. Soltou, também, um bando de policiais corruptos presos em fevereiro na
Operação Guilhotina. A orientação, pelo visto, é só manter macacos atrás das grades.

Peralá!
O caso do Land Rover do Aécio Neves nem mal comparando tem qualquer coisa a ver com a história do Land Rover do Silvinho do PT. E não se fala mais nisso, OK?

Plano de marketing
Os marqueteiros de José Serra estão mapeando pelo Twitter a localização das blitze da lei seca no Leblon durante o feriadão. Calculam que pegaria muito bem para seu cliente
passar com louvor pelo teste do bafômetro em plena Páscoa.

Longa viagem
São Paulo vai ganhar um "city tour" em ônibus de dois andares. Dependendo do tamanho do engarrafamento, francamente, melhor seria fazer o passeio em ônibus leito, né não?

Agora vai!
O 6.º Congresso do Partido Comunista Cubano iniciou nesta semana o debate sobre a propriedade privada no País. É o primeiro passo para a implementação do MST na ilha.

CELSO MING - A crise dos países ricos


A crise dos países ricos
CELSO MING

O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/04/11

Como acontece em todos os processos históricos importantes, bons e ruins, os estudiosos se encarregarão de dividir em fases a grande crise financeira que eclodiu em 2008. Entre essas fases, registrarão as fortíssimas expansões monetárias colocadas em prática pelos principais bancos centrais com o objetivo de manter a liquidez, desobstruir os canais de crédito, garantir o consumo e o emprego.
Outra dessas fases será dedicada à deterioração fiscal. Também as autoridades administradoras dos Tesouros dos países ricos fecharam os ouvidos para reclamações de austeridade e, por vezes escoradas num falso keynesianismo, se encarregaram, elas próprias, de expandir as despesas públicas. Trataram prioritariamente de socorrer os grandes bancos (os grandes demais para afundar), de prover verbas especiais para reativar a indústria de veículos e, como acontece em toda grave crise, foram acionados os mecanismos automáticos cuja função é pagar seguros-desemprego.
Essa grande expansão das despesas não foi o único fator que estourou os orçamentos públicos. Os países ricos também distribuíram isenções tributárias e devoluções de impostos. E, mais do que isso, a própria retração da atividade econômica derrubou a arrecadação.
O desfecho da crise parece ter sido adiado graças à ação dos dirigentes. Mas o principal resultado líquido de todas essas providências é um estado generalizado de calamidade nas finanças públicas dos países ricos. Os rombos orçamentários estão aumentando e ameaçam sair do controle. Em consequência disso, a dívida pública deu um salto em toda parte a ponto de disparar sinais de alarme de risco de calote. (Na tabela, você tem uma foto da situação fiscal de um conjunto de 15 países. Em princípio, déficit orçamentário de mais de 3% do PIB e dívidas superiores a 60% do PIB constituem sinal de desequilíbrio.)
O cartão amarelo levantado segunda-feira pela Standard & Poor"s, agência de análise de risco, para a qualidade dos títulos de emissão do Tesouro dos Estados Unidos é apenas um episódio nesse afundamento fiscal generalizado que não dá sinais de reversão.
A área do euro sofre de mal semelhante, com a diferença de que atinge mais os países da sua periferia (Grécia, Irlanda e Portugal) do que seu centro duro (Alemanha e França). Nos países ricos, a inflação só não veio com mais força porque a atividade econômica segue em marcha lenta.
Como resposta natural, em toda parte, por caminhos e tensões diferentes, vai crescendo o apelo à austeridade. Na periferia da União Europeia, as populações relutam a aceitar os sacrifícios. Mas eles são inevitáveis, em pacotes variáveis de redução real de salários e de aposentadoria; e de aumento de impostos e fortalecimento da poupança.
Uma das novidades deste momento é que a diferença entre um país fiscalmente equilibrado e um fiscalmente desequilibrado não se limita às condições de saúde financeira. Transfere-se também para a área política.
A Alemanha, por exemplo, é o país da União Europeia que tem mais possibilidade de impor regras do jogo sobre os demais porque também é o que tem as finanças mais aprumadas. O mesmo se pode dizer dos emergentes cujas fichas cadastrais estão mais em ordem do que as dos países ricos. Ainda que não tivesse tomado nenhuma decisão importante, o primeiro encontro entre os dirigentes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), realizado na semana passada, em Sanya, no sul da China, levantou indagações sobre o que estão tramando esses recém-chegados ao cenário geopolítico. E não é sem razão que a boa fase fiscal e mais seu invejável índice de poupança, de 51% do PIB, dão à China mais preparo para determinar seu próprio destino. Assim, a melhora das condições de player político se apresenta agora como consequência da melhor situação fiscal. 

ILIMAR FRANCO - Massa falida


Massa falida
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 21/04/11
 
A cúpula do DEM chegou à conclusão que não tem como estancar a sangria provocada pela criação do PSD. Por isso, vai aguardar o registro em cartório do partido de Gilberto Kassab para decidir o que fazer. “Vamos mudar a embalagem e o conteúdo”, adianta o líder na Câmara, ACM Neto (BA). O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) quer rebatizá-lo de Partido da Resistência Democrática (PRD). Os demistas calculam que ficarão com uma bancada de 29 a 32 deputados, dos 43 eleitos.

Direita volver
Ao ser questionado sobre a falta de orientação ideológica do PSD por raros políticos preocupados com isso, o prefeito Gilberto Kassab
tem tentado justificar dizendo que seria autoritário de sua parte estabelecer um estatuto sozinho e que isso será feito pelos filiados. Kassab ressalta, no entanto, que a imagem do PSD estará associada aos políticos de maior envergadura que ingressaram na sigla. Até agora os nomes de maior peso, além de Kassab, são a senadora Kátia Abreu (TO) e o vice-governador paulista, Afif Domingos.
Os dois só aceitaram ir para o PSD depois que Kassab abandonou os planos de fusão com o PSB.

"Nada que atrapalhe os nossos aliados nós vamos votar na reforma política” — Luiz Inácio Lula da Silva, expresidente da República, na reunião com o PT paulista

MULHERES. A Comissão Especial do Senado sobre Reforma Política, ao aprovar o voto em lista, determinou que ela intercalasse um candidato homem e uma candidata mulher. O líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), concorda com o esforço para ampliar a presença de mulheres na Câmara. Mas defende que aqui seja adotado o modelo da Argentina, onde a cada dois homens há uma mulher na lista de candidatos.

Os nomes do PT

O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) quer disputar a prefeitura de São Paulo. No PT, no topo da lista estão a senadora Marta
Suplicy e o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia). Fernando Haddad (Educação) corre por fora.

Aposta
A grande expectativa em São Paulo para as eleições municipais do ano que vem é a ida do deputado Gabriel Chalita (PSB) para o PMDB. Próximo do governador Geraldo Alckmin, Chalita pode ter o apoio dos tucanos para disputar a prefeitura.

Governo e Sistema ‘S’ se acertam
O governo Dilma Rousseff vai antecipar receitas para a ampliação das escolas do Sistema “S”. As entidades empresariais que mantêm esses estabelecimentos de ensino dessa vez estão mobilizadas para participar do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico
(Pronatec), que será lançado em maio. O clima é contrário ao existente no governo Lula, quando o governo colocou em debate a gratuidade desses cursos.

Não levou
O governador Renato Casagrande (ES) vai ter que abrir licitação para as obras do aeroporto de Vitória. O Ministério da Defesa afirmou
que o Exército não tem mão de obra disponível, já que está envolvido em mais de 70 projetos.

No cárcere
No fim deste mês, o ativista italiano Cesare Battisti completa quatro meses de prisão desde que o ex-presidente Lula decidiu não extraditá- lo para a Itália. Battisti está sendo mantido de castigo pelo STF, que não encerra o caso.

 O SENADOR Clésio Andrade (PR-MG) apresentou consulta ao TSE para saber se um titular de mandato eletivo, para entar em um novo partido, precisa constar da ata de fundação ou pode ingressar até a obtenção do registro definitivo. Seu interesse é o PSD.
 NOVA BAIXA. Quem deixou o DEM ontem, rumo ao PSD de Gilberto Kassab, foi o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Julio Cesar (PI).
● MISSÃO. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), e líderes partidários vão para a Coreia do Sul, no mês que vem, para encontro legislativo do G-20.

JANIO DE FREITAS - Invasões aqui e acolá


Invasões aqui e acolá 
JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/11

É O MINISTRO da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, quem se ocupa, por preocupação e urgente intervenção da presidente da República, de impor ordenamento legal, racional e humanamente respeitoso às obras da hidrelétrica de Jirau, paralisadas no mês passado pela revolta eclodida entre os mais de 20 mil trabalhadores contratados pela empreiteira Camargo Corrêa. É ainda o ministro da Presidência que se ocupa de correções que previnam revolta também nas obras da hidrelétrica de Belo Monte.
A necessária entrada da Presidência da República no exame e na orientação das condições de vida nas duas obras dá-se em um governo que conta com um Ministério do Trabalho, um Ministério da Saúde, um Ministério da Justiça, um Ministério da Previdência Social, uma Secretaria Especial de Direitos Humanos, e incalculável quantidade de serviços e autarquias, tudo isso e ainda mais com responsabilidades de fiscalização, correção, impugnação e punição de irregularidades nas relações de trabalho. Sob o Congresso, e para fundamentar sua função constitucional de fiscalizador, há o Tribunal de Contas da União. E ainda existem os setores equivalentes estaduais.
Cá pelo meu lado, não há dúvida de que parte grande das causas dessa ineficiência retardadora, que é a administração pública, decorre da infiltração política para ocupar os postos de gestão em todo o organismo executivo do governo. Essa infiltração se ramificou mais a cada governo, extinguiu a carreira do serviço público (com a contribuição da teoria do Estado mínimo) e, nestes dias, mostra suas garras quando Dilma Rousseff tenta negar-lhe, e até consegue fazê-lo vez ou outra, um qualquer gabinete ali ou lá.
Bem, queira desculpar a escolha do assunto. Ninguém está interessado nele.
COMO SEMPRE
Ingleses, franceses e já também italianos vão desembarcar na Líbia "forças especiais" de instrutores. No Vietnã, tudo começou com esses instrutores, no caso, americanos. No Afeganistão, idem. No Iraque, para retirar (com atraso) soldados como prometera na campanha, Obama substituiu-os por instrutores mercenários. Hoje, além de 50 mil soldados, há um número indeclarado e crescente de mercenários. Em vão. A guerra subterrânea continua. E se os pretensos instrutores saírem, o risco é de explosão do país.
LIÇÃO
Surpresa não foi, porque Eduardo Paes tem sido um prefeito presente e ativo. Mas isso não dispensa registrar que a ação da prefeitura carioca, com destaque para a Secretaria de Educação, foi admirável no episódio de Realengo, cuja escola e suas crianças voltaram agora à atividade plena.
Ao que está prometido, as escolas municipais vão beneficiar-se do ocorrido em Realengo, com equipamentos de vigilância, mais funcionários e novos serviços. O programa é bom.

MÔNICA BERGAMO - O BRASIL NA AMÉRICA


O BRASIL NA AMÉRICA
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/11

O Brasil conseguiu assento num grande "fórum" internacional: a Disney. Representantes do maior complexo de parques temáticos do mundo procuraram o governo federal nesta semana para comunicar que vão instalar um pavilhão do Brasil no Epcot Center, em Orlando (EUA). O país figurará ao lado de nações como EUA, China, França, Alemanha, Itália, México e Canadá.

RECHEIO
Dois ministros vão escalar equipes para ajudar na empreitada: Helena Chagas, da Secom (Secretaria de Comunicação Social), e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento. Eles vão fornecer informações sobre o Brasil para ajudar o parque a erguer o pavilhão. A expectativa do governo é de um grande retorno na área do turismo.

QUASE LÁ
A diretoria do São Paulo aguarda as minutas do contrato que a TV Globo ficou de entregar ao clube ainda nesta semana para comprar os direitos de exibição do Campeonato Brasileiro. Já está praticamente certo que haverá entendimento. Os dirigentes chegaram à conclusão de que não poderiam se isolar dos demais times, que já fizeram acordo com a emissora. "A Globo foi uma parceira correta em todos esses anos", afirma o presidente, Juvenal Juvêncio, referindo-se a contratos anteriores firmados com a rede.

DILMA AUSENTE
Anunciada como a grande estrela do Lide, o encontro de executivos organizado por João Doria Jr. em Comandatuba, na Bahia, a presidente Dilma Rousseff não tinha confirmado oficialmente presença no evento até ontem. É grande a chance de ela não aparecer por lá.

VIA AÉREA
O ex-presidente Lula foi de helicóptero até Osasco, onde se reuniu com dirigentes petistas anteontem. Pousou no heliponto do Bradesco e foi recebido para um café por Lázaro Brandão, presidente do conselho de administração do banco, e por Luiz Trabuco, diretor-presidente da instituição. Na volta, Lula escapou novamente do trânsito, embarcando na aeronave.

UM PASSO

Carla Grasso, diretora de RH da Vale, deve deixar o cargo no dia 30.

Identificada com o executivo Roger Agnelli e com o PSDB, Carla estava há tempos na mira do governo.

NARDONI NO TRIBUNAL

O julgamento de Alexandre Nardoni, acusado de matar a filha Isabella, de cinco anos, foi marcado. Será no dia 3 de maio no Tribunal de Justiça de SP.

GOSTO DO FREGUÊS
Para marcar o Dia do Livro, no sábado, Galeno Amorim, presidente da Biblioteca Nacional, dará sete livros a Dilma Rousseff. Todos são escritos por mulheres -entre eles, "A Audácia dessa Mulher", de Ana Maria Machado. O governador Geraldo Alckmin ganhará "Tietê -Presente e Futuro", de Carlos Tramontina, e o prefeito Gilberto Kassab, "Patrimônio da Metrópole Paulistana", de Margarida Cintra Gordinho.

PELO, POR QUE TÊ-LO?

Dois dias depois de a Arezzo anunciar que ia retirar do mercado os acessórios feitos com pelo de raposa e de coelho, a marca seguia vendendo sapatos e bolsas com pele desses animais. As lojas de Mogi das Cruzes e de Jundiaí, no interior de SP, ainda ofereciam peças na manhã de ontem. A Arezzo diz que são casos de descumprimento de ordem e que vai fazer um pente-fino à procura de pele em todas suas lojas.

BRASA ACESA

O primeiro bar a ser fechado por descumprir a Lei Antifumo tentou reabrir antes de acabarem as 48 horas de fechamento obrigatório, diz a Vigilância Sanitária Estadual. A cervejaria Polo North, interditada na sexta, havia retirado no sábado à noite os lacres das portas. Agentes da vigilância fizeram vistoria-supresa e tornaram a fechar a casa, que será multada.

GERO EM CASA
O ator Gero Camilo estreou a peça "A Casa Amarela", com direção de Marcia Abujamra, no teatro Eva Herz da Livraria Cultura. A atriz Camila Pitanga assistiu ao monólogo, entre outros convidados.

CURTO-CIRCUITO

Tobias Biancone, do International Theatre Institut, ligado à Unesco, participará da abertura da Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo da Cooperativa Paulista de Teatro, no dia 26.

A Confederação Nacional da Indústria lançará em maio site de negócios e relacionamentos para atender a mais de 650 mil empresas.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

DORA KRAMER - Exercício de liderança


Exercício de liderança
DORA KRAMER

O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/04/11

O cientista político brasileiro Cesar Zucco disse uma coisa em entrevista recente ao Estado que só quem está longe do País como ele, atualmente dando aulas na Universidade Princeton (EUA), diz sem receio das patrulhas que tanto idiotizam o debate político.
Falava sobre a influência eleitoral de programas assistencialistas e lá pelas tantas resumiu a ópera: os pobres de um modo geral são governistas.
Votaram em Fernando Henrique Cardoso quando ele encarnava a solução de um problema que atingia mais cruelmente quem tem menos, a inflação. Votaram em Luiz Inácio da Silva e depois em Dilma Rousseff pela ampliação das políticas sociais que ambos representam.
O professor avisou que se tratava de uma simplificação. Claro que a questão contém variáveis mais complexas, mas o resultado prático no tocante ao ponto em destaque, a disputa de votos, é aquele mesmo.
Estivesse Cesar Zucco por aqui, perto da arenga produzida pelos esportes clubes tucanos e petistas, talvez fosse acusado de sórdido preconceito ao ousar pensar na hipótese de que a ideologia mãe dos pobres é a garantia da sobrevivência.
Distante, matou a charada que o PT já resolveu ao decidir partir para a conquista de setores de renda média, mas que o PSDB e área de influência ainda hesitam em compreender ao apontar equívoco no diagnóstico de Fernando Henrique sobre a necessidade de a oposição se organizar para disputar o mesmo público no lugar de se ater à batalha perdida junto ao "povão".
Eleitorado cuja recuperação só é possível, nas condições atuais, mediante a reconquista do poder e a posse dos instrumentos de decisão que possibilitam o acesso às camadas dependentes do Estado.
Enquanto os oposicionistas elaboram o exercício da dúvida permanente, o PT exercita liderança: com Lula à frente toma providências, orienta o partido a buscar o eleitorado economicamente ascendente, a ampliar alianças, a vencer resistências, a desbravar searas nunca dantes navegadas e hoje politicamente quase órfãs.
O confronto, nesse raciocínio, fica reservado ao adversário explícito, o PSDB, cujo principal território Lula e o PT se preparam para minar a partir da próxima eleição municipal mediante a incorporação de novos públicos aos seus domínios.
Exatamente o que propôs, com palavreado mais extenso e elaborado, Fernando Henrique ao sugerir um roteiro de ação aos correligionários.
A diferença é que Lula exerce liderança sobre o partido e FH não, atua como franco-atirador. E não só por responsabilidade do conjunto que não soube capitalizar as realizações da época em que governou.
Em boa medida por culpa do próprio FH, que à época da primeira eleição de Lula parecia mais preocupado em fazer as honras da casa ao sucessor operário do que em ir à luta para defender as mudanças que seu governo havia propiciado ao País.
Não trabalhou pela unidade do partido em torno da candidatura presidencial do PSDB e, com isso, autorizou a tropa a se dispersar.
O PT tem estratégia nacional que se sobrepõe às querelas regionais. Perseverou, conquistou o poder e faz de tudo para mantê-lo.
Já o PSDB, carente de comando nacional, é engolido por questiúnculas irrelevantes para o grande público. Chegou ao poder, não soube preservá-lo e desperdiçou o patrimônio amealhado.
Engalfinha-se em briga de vereador em São Paulo e não se ocupa de mais nada que possa lhe conferir o espaço que o PT ocupa discutindo eleições municipais e reforma política sem deixar que se disperse o capital acumulado por Lula em oito anos de poder.
Campo fértil. O MST é infrator, mas não é tolo. É só reparar: os Estados onde os governadores são tolerantes com invasão de terras e não garantem o cumprimento das reintegrações de posse são os alvos constantes das ações dos sem-terra: Alagoas, Pará, Pernambuco e Bahia.
Onde os governos são severos e pedem reintegração de posse até pela ocupação de áreas em margens de rodovias estaduais, como Mato Grosso do Sul e Tocantins, as ações dos sem-terra não prosperam. 

CLÓVIS ROSSI - Classes, ou falta dela


Classes, ou falta dela
CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/11

SÃO PAULO - Era uma vez uma coluna sobre o custo abusivo da avenida Água Espraiada no governo Paulo Maluf. Publicado o texto, logo de manhã toca o telefone em casa e um leitor que se identifica como malufista começa a reclamar.
"Como é que você critica uma obra tão importante? A avenida não está lá? O que você queria, que ela não fosse feita?", pergunta, indignado, o interlocutor.
Tento responder que queria, sim, que a obra fosse feita desde que o custo não excedesse o do túnel sob o canal da Mancha. Não consigo vencer a indignação do leitor que acaba decretando: "Ah, vocês jornalistas são todos petistas" (estamos falando de um tempo em que petismo e malufismo pareciam ser incompatíveis).
Retruco: "Só falta dizer que somos também todos bichas".
E o leitor fecha o educativo papo com: "Quer saber? São mesmo".
Não sou preconceituoso a ponto de achar que todo malufista tem a mesma cabeça de meu interlocutor de antanho. Mas uma parte importante do malufismo/quercismo com quem Lula quer casar seu partido está impregnada de uma mentalidade que, nos velhos tempos, Fernando Henrique Cardoso batizou de "lúmpemburguesia".
É inevitável, pois, que a aproximação à chamada nova classe média, defendida tanto por Lula como por FHC, caminhe para ser um reforço ao conservadorismo a que ambos se entregaram, em nome do acesso ao poder.
É bom ressalvar que essa história de classes sociais está mal contada, mas Vinicius Torres Freire, cada dia melhor, já pôs as coisas no lugar outro dia.
Voltemos, pois. No mundo todo, as classes médias estão se entrincheirando no conservadorismo em todos os aspectos. No Brasil em que o receio de uma recaída no lado D da vida deve ser maior, fico até com medo de imaginar como será o, digamos, ideário da aproximação

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Lé e cré
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/04/11

Tem gente maliciosa vendo pelo em ovo no fato de o Banco Bonsucesso ter patrocinado o Náutico, em jogo na semana passada. Fazem um link entre a generosidade do banco e a disputa na prefeitura do Recife pelo direito de emitir cartão de crédito consignado dos servidores municipais. Ganha anteontem pelo banco.

Lé e cré 2
Ano passado, o Bonsucesso patrocinou o América e faturou a prefeitura de Natal.

Popping-up
Silvana Tinelli e Bob Vieira da Costa, sócios da novaS/B, inauguram na semana que vem... a nova/batata. Trata-se da primeira agência pop-up do Brasil, que, até junho, oferecerá gratuitamente ações de publicidade aos comerciantes da região do Largo da Batata, em São Paulo.

Com investimento de R$ 1 milhão, a unidade tem a curadoria de Paula Rizzo e equipe de 16 novos talentos escolhidos entre 563 inscritos.

Popping-2
E mais: a nova S/B disputou concorrência internacional da Organização Mundial da Saúde com três agências europeias. Venceu e criará campanha mundial de doação de sangue.

Da vidaBarbaridade identificada pelo mutirão de defensores públicos que visitam cadeias no Estado. Depois de aguardar julgamento por um ano, uma mulher foi absolvida, mas não saiu da prisão por erro burocrático. A ordem do juiz para soltá-la não chegou à Cadeia Pública de São Bernardo do Campo. A falha durou... dois meses.

Ano bom
O Design São Paulo, salão que acontecerá em parceria com a SPFW, homenageará os Irmãos Campana como os melhores designers do ano. Com direito a exposição comemorativa na Oca.

Zé Carioca
Mais um brasileiro no filme Rio, em cartaz no País. Criado em Nova York, Bernardo de Paula dubla o capanga Silvio.

Fase
Em meio a polêmicas na OSB, Roberto Minczuk perdeu sete quilos. E o maestro está com casos de dengue na família.

Na frente

Com jet lag da longa viagem à China, Dilma estava ontem propensa a desistir de ir ao encontro do Lide em Comandatuba. Que começa hoje.

Antonio Grassi começou a restauração do Teatro Brasileiro de Comédia, em SP. E em junho reinaugura o Teatro Dulcina, no Rio.

O livro Coisas de Mãe Para Filhas será lançado dia 27 na Livraria da Vila da Lorena. Entre as autoras, Lygia Pereira da Veiga, Maria Ignez Barbosa, Marina Silva, Cláudia Costin e Monja Coen. Organizado e compilado por Hilda Lucas.

Syomara Crespi e Mariana Berenguer lançam suas coleções de joias dia 27, na Galeria Luisa Strina.

Eric Frechon, três estrelas Michelin e do requintado hotel Le Bristol de Paris, fará dois jantares no La Brasserie Erick Jacquin, dias 17 e 18 de Maio. É a primeira vez do chef no Brasil.

A Ford Models abre inscrições para o concurso Faces. Podem participar homens e mulher entre 14 e 25 anos. Até o fim de maio.

A Fundação Nelson Mandela publicará imagens históricas do ex-presidente sul-africano. E pede ajuda para identificar fotos que já estão no arquivo da instituição. As imagens estão sendo colocadas semanalmente no site.

O clima está cada dia pior para Walter Feldman no ninho tucano. Credo.

Foco na Síria


Rafik Schami nasceu em Damasco, Síria, e vive na Alemanha desde 1971. O escritor, mais conhecido por seu romance O Obscuro do Amor, comentou por e-mail os últimos acontecimentos de seu país natal.

Qual é sua opinião sobre a chamada "Primavera Árabe"?

Acredito que entrará para a História. Nunca houve uma revolução vitoriosa pacífica contra ditadores altamente armados. Estes civis corajosos lutam contra forças aéreas, mercenários, matadores profissionais, e ditadores como Kadafi numa luta heroica. Para mim, é um milagre isso tudo.

E sua expectativa em relação ao destino da Síria?

A Síria é um problema difícil. Assad e seu clã têm serviços secretos que são competentes em guerras civis. São tão refinados que sequer tentam libertar as colinas de Golan (ocupadas por Israel desde 1967). Entretanto, querem libertar tanto a Palestina -com o Hamas, a pior facção- quanto o Líbano -com a ainda pior, Hezbollah. Trabalham de mãos dadas com a CIA e com os rebeldes do Iraque, fazem aliança com a Arábia Saudita contra o Bahrein, e acham positivo o massacre dos sauditas.

O que dificulta a situação lá?

Os revolucionários precisam não só vencer um regime extremamente articulado, como resolver um grande problema: o regime é dominado por uma minoria religiosa (10%), os alauítas. No entanto, tenho confiança que os sírios vão conseguir. A população síria sempre foi mais civilizada que seus governantes.

Especialistas alertam para a subida de governos radicais islâmicos no lugar das ditaduras. Acredita nessa possibilidade? Este argumento de que caso uma ditadura árabe desapareça os islâmicos virão foi muito propagada pelos próprios ditadores. Os islamistas não têm nenhuma chance real na Síria. São impopulares porque sempre estiveram ligados à história da Arábia Saudita. Não têm programa para os problemas modernos. Querem o Califado da Idade Média. Sem dinheiro, os islamistas são ridículos. Só o dinheiro dos sauditas e a tecnologia da CIA têm tornado Bin Laden o que ele é. Mas o perigo existe, claro. Principalmente se o Ocidente não apoiar o desenvolvimento democrático.

Por anos, parte do Ocidente apoiou ditaduras nos países árabes. O que pensa disso?

É uma vergonha para as democracias ocidentais que tiveram conhecimento de depósitos de bilhões de dinheiro roubado em seus bancos. Mais de US$ 150 bilhões para Kadafi, US$ 80 bilhões para Mubarak. US$ 70 bilhões para o clã Assad e cerca de US$ 10 bilhões do Saleh iemenita. Só a família saudita tem nos EUA mais de US$ 500 bilhões, e na Suíça, outros US$ 300 bilhões. Dá para imaginar isso? É dinheiro da máfia.

Como avalia a intervenção desses países na Líbia?

O Ocidente hesitou longamente. Já era quase tardio quando Kadafi decidiu que o centro da revolução, Benghazi, deveria vir abaixo. Seus soldados marcharam com as armas mais modernas que tinham contra a cidade. Ele queria dar o exemplo. Depois veio a ajuda, graças a Deus, e dessa vez de forma inteligente. Não interferem em terra. Ela protege os civis e deixa Kadafi para o seu povo. Isso é muito esperto.

No seu livro O Obscuro do Amor o protagonista também se engaja contra um regime autoritário. Há esperança para o futuro dos países árabes?

Sim. Esta área é uma civilização muito antiga. Foram 8 milhões de egípcios a se manifestar em quatro cidades, sem um único incidente. A esperança é justificada, porque o petróleo traz milhões, e faz desta área um paraíso que precisa de recursos humanos e tecnologia do exterior. A paz com Israel será possível porque os acordos com os ditadores não resultavam em paz, apenas em cessar-fogo. Israel também aprenderá um modo de resolver o conflito de um século com a Palestina. Preservando o direito absoluto dos Estados à existência pacífica.

BUNDAS E O CARA DE BUNDA

MIRIAM LEITÃO - Indecisão do BC


Indecisão do BC 
MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 21/04/11

A decisão do Banco Central de aumentar os juros era a única possível, diante da elevação do risco inflacionário, mas fica a impressão de que recebeu uma autorização para a elevação menor possível. O BC ter um misto de políticas para conter o crédito e a demanda reforçará o movimento dado com a elevação dos juros. Mas o BC continua perdendo a batalha da comunicação.
Nos últimos meses, o país tem estado em pleno retrocesso na área da autonomia do Banco Central e da política anti-inflacionária. Há várias pressões, o problema é de natureza complexa, e o Banco Central tem de restabelecer a confiança em sua autonomia. As declarações conflitantes e, pior, as decisões contraditórias alimentam a sensação de que o BC não toma decisões técnicas, que está sempre pedindo licença em cada decisão.
Há muito a fazer no Brasil para construir um Sistema Financeiro Nacional forte, inclusivo, com juros estruturalmente mais baixos, com uma regulação mais eficiente. O debate ficou prisioneiro dessa conjuntura e de uma dúvida que já parecia estar sanada: se o BC é ou não autônomo. E ficou parado exatamente quando poderia estar se preparando para novos passos mais ousados.
Um livro de vários autores que será lançado na próxima terça-feira no Rio chamado "Desafios do Sistema Financeiro Nacional", da Campus Elsevier, mostra bem o tamanho da tarefa a fazer para o país aproveitar melhor e colher os benefícios da estabilidade monetária. Organizado pelos funcionários do Banco Central Alessandra Dodl e José Renato Barros, o livro, no qual escrevi o prefácio, traça um panorama detalhado e precioso de avanços necessários em todas as áreas da organização do SFN.
Os juros precisam cair de forma estrutural para níveis muito mais baixos, é preciso ampliar a oferta através de outros mecanismos como o cooperativismo, o microcrédito. É preciso ampliar o sistema de pagamentos, tornando os meios, como cartões de crédito, mais baratos. É indispensável usar a nova tecnologia de informação para ampliar as formas de pagamento. O Brasil e o mundo precisam definir que tipo de regulação para o mercado financeiro é mais eficiente: se a mais rigorosa ou a mais flexível. O livro permite uma reflexão ampla sobre os desafios que o país tem pela frente para tirar o melhor proveito da estabilidade.
Para essas tarefas é que o país deveria estar olhando agora, e a sensação que se tem é que retrocedemos várias casas num jogo que já estava ganho para rediscutir se deveremos escolher entre ter mais crescimento com um pouco mais de inflação; ou se a inflação é ou não de demanda. Um debate que parecia já ter sido encerrado após as provas concretas que tivemos dos estragos que a inflação pode produzir.
Esse túnel do tempo nos levará a perder oportunidades. A inflação está alta, ela precisa ser combatida com uma política coerente, a dissonância na equipe econômica só aumenta o volume dos ruídos que alimentam a inflação. Essa dissonância não pode ser sanada com o Banco Central sendo mais leniente com a inflação, e sim, com a Fazenda executando melhor seu papel de controle dos gastos públicos.
Podem ser feitos truques contábeis para criar um falso superávit primário como o do ano passado; mas não se engana a economia. Ela sente os efeitos do aumento dos gastos, dos incentivos aos créditos, do aumento da parcela do crédito que não é afetada pela política monetária.
O IPCA-15 divulgado ontem mostrou uma inflação acumulada em 12 meses muito perto do teto da meta, em 6,44%. Combustíveis tiveram aumento de 5,26%, apesar de o governo estar segurando o preço da gasolina cobrado pela Petrobras das distribuidoras, causando diversas distorções, como foi mostrado ontem aqui na coluna. O acumulado no ano já passa de 3%, e o centro da meta é de 4,5%. O índice de difusão aumentou, isso quer dizer que há um percentual maior de produtos subindo, que a inflação está se espalhando na economia.
A maioria do mercado apostou num aumento de 0,25%, não por considerar que esse era o número adequado, mas porque acha que o Banco Central não teria liberdade para um número mais alto. E é essa impressão que o BC tem de vencer. Na nota de ontem, explicou que prefere doses menores por mais tempo.
A autoridade monetária precisa convencer os agentes econômicos quando toma suas decisões. O BC parece que está tentando agradar a presidente da República, evitar qualquer discordância com o falante ministro da Fazenda, perseguindo duas metas ao mesmo tempo.
No regime de metas de inflação, convencer é parte da política econômica. Para convencer, tudo tem de parecer coerente. A taxa de juros, as atas, os relatórios de inflação, as declarações públicas, as medidas anunciadas. Adianta pouco conversar com alguns dos formadores de opinião do mercado financeiro para que eles façam declarações amigáveis se, a cada momento, o Banco Central emite um sinal diferente.
A inflação em doze meses subirá, depois pode cair no final do ano, mas já tem um impacto forte contratado para o começo do ano que vem com a fórmula do salário mínimo que subirá de acordo com o crescimento econômico de 2010 e a inflação de 2011.
O Banco Central tem de trabalhar com um horizonte longo, como bem sabe o presidente da instituição, Alexandre Tombini, um dos formuladores da política de metas de inflação, quando ela foi implantada em 1999, que foi capaz de domar o descontrole que veio após um colapso cambial. 

ELIANE CANTANHÊDE - Onde passa boi, passa boiada


Onde passa boi, passa boiada
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/11

BRASÍLIA - Há algo de realmente preocupante na articulação do governo para a Copa de 2014, quando o Ipea diz, por exemplo, que, ao mesmo tempo, a Infraero não conseguiu gastar 44% do orçamento previsto para as obras nos aeroportos e não conseguiu cumprir o cronograma. Se havia dinheiro e onde gastar, por que não foi gasto?
Há também algo estranho quando a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, anuncia a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para 2012 e ali não há nadica de nada para agilizar as obras e garantir que a Copa saia a contento. Aliás, nem a Copa nem a Olimpíada.
A oposição suspeita que tudo isso embuta uma grande jogada, não no campo do futebol, mas em outros campos bem mais pantanosos. Seria um chute na Lei das Licitações, que chateia e atrasa, mas é um freio para ambições descabidas e roubalheiras em geral.
O pretexto seria, ou será, que é preciso tirar burocracia e adicionar agilidade para reformar ou construir aeroportos, estradas, metrôs. Mas é aí que mora o perigo. Você flexibiliza o processo e acaba afrouxando os mecanismos de controle. Onde passa boi, passa boiada.
A oposição também teme que, além de jogar a Lei das Licitações para o alto, governistas estejam maquinando algo muito pior: usar a Copa para fazer caixa de campanha para o PT e os partidos aliados.
Longe da gente pensar uma coisa assim, não é mesmo? Mas, por via das dúvidas, é bom lembrar que o detalhe mais atordoante de todo esse campeonato é que 2014 não é só ano da Copa, mas também ano das eleições gerais. O que estará em jogo será um novo mandato para Dilma (ou Lula), além de todos os governos estaduais, Câmara e boa parte do Senado.
Dilma deve ter o máximo de cuidado. Não apenas para se prevenir contra escândalos, mas também para evitar suspeitas, porque elas são como coceira: quando começam, não passam. Já está coçando.